Jornal 360_ed. 210_julho2023

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ponto de vista_ Você é muito palpiteiro? Gosta de receber os palpites? Veja o que Leonardo Medeiros pensa a respeito

gastronomia Para equilibrar a gula típica do inverno, receitas de caldos para saciar o paladar e ajudar a manter a boa forma

agronegócio_ A resiliência é vital para quem quer se dedicar à produção agrícola, seja qual for o tamanho ou tipo da lavoura

O rock and roll se firma no interior com festivais para toda a família

Uma iniciativa originária em Santa Cruz do Rio Pardo há mais de 20 anos, a reunião de bandas de rock em eventos ao ar livre que começam a tarde e duram até a madrugada encontrou seu lugar nas pequenas cidades

do interior. Somente na região, os eventos já acontecem com regularidade em Espírito Santo do Turvo, Óleo, Fartura e Itaí, atraindo gente de diversas cidades, inclusive de outros estados, e reunindo amigos, jovens,

vetereranos e crianças. Transcorrendo no estilo paz e amizade, os festivais de rock, como são chamados, se destacam pelo caráter familiar, solidário e principalmente pelo comportamento impecável do público.

É num ambiente de nítida organização, diversidade de estilos de Rock’Roll, alimentação e boa educação (repare no gramado, mantido limpo pela produção e pelo público) que pais e filhos curtem o Rock Rio Pardo.

ANO 18 nº210
Grátis!
•p3
•p4 •p10 Jornal 360 foto: Flavia Rocha | 360
Jornal360_ Distribuição Mensal: • Avaré • Bernardino de Campos • Canitar • Chavantes • Espírito Santo do Turvo • Ipaussu • Ourinhos • Piraju • Santa Cruz do Rio Pardo •São Pedro do Turvo Rodovias: • Graal Estação Kafé • Graal Paloma • RodoServ • RodoStar 360 online: issuu.com/caderno360 facebook/jornal360
JULHO 2023
imagens: canva.com

Destino

do Latim de-, intensificador, mais stanare, derivado de stare. Destinare era “fixar, afirmar, estabelecer”. Passou a ser usado como “aquilo que é firmemente estabelecido para uma pessoa”. No dicionário, significa série de fatos a que supostamente estão sujeitas as pessoas e as coisas do universo, independentemente da vontade humana;  O que está por vir; o que acontecerá a alguém ou a algo; futuro; desfecho, resultado final

Quem acredita em destino? Você acredita? Eu acredito? Sinceramente, não sei. Nem mesmo da tal “lei do retorno” eu me atrevo a dizer que acredito, mas isso já é outro ponto. A questão é o rumo que as coisas tomam na nossa vida e a a história de vida que a gente escreve. Olho para a minha infância, o meu passado de estudante, minha vida fora da cidade onde nasci e não me lembro de pensar em viver como vivo hoje. Ou seja, como eu cheguei até aqui? Pelas minhas escolhas ou por obra do destino? A resposta continua sendo a mesma no meu caso: não sei. A única certeza que eu tenho mesmo é de que graças a Deus, em todos esses anos, fases, épocas, tenho me sentido feliz, realizada e disposta a continuar vivendo.

Esta edição traz dois temas importantes que parecem traçados pelo destino. Primeiro, o encarte de cobertura do Rock Rio Pardo, esse evento que surgiu da vontade de amigos de tocarem para um público não pagante, ao ar livre e hoje se consolidou como o mais admirável evento do calendário anual da nossa cidade, atraindo gente bacana de todo lugar e também as pessoas que hoje moram em lugares distantes. Todo mundo tenta se programar para estar aqui nesses três dias de muita música, muita alegria e, o que mais me chama a atenção, muita cidadania. Sabiam os amigos roqueiros 20 anos atrás que aquela ideia iria dar nisso? Não, claro que não. Obra do destino? Talvez.

Certeza mesmo é que não se espera o destino agir por conta própria. A gente tem que ter iniciativa. Atreverse a criar o novo, a arriscar uma atitude ainda não tomada, a estar onde não estivemos antes. Sem isso, ação, não tem destino que traga mudanças como essa.

É certo, ainda, que nem tudo depende de nós. E aí entre em cena o destino. E a fé. É o que vemos quando o assunto é a mais arriscada atividade humana, a agricultura. Você planta e depende de muitos fatores para colher não só o que plantou, mas o sustento para manter a atividade, para ir além ou pelo menos para dar conta da sua vida. E se chover demais? E se chover de menos? E se der praga? E se chover na hora errada? E se gear? E se o calor for exacerbado? E se o preço estiver baixo na hora da venda? São tantas variáveis no processo de produção e comercialização agrícola que o produtor rural tem que acreditar não apenas em si próprio, na ciência, na tecnologia... Tem que acreditar

que o destino lhe traga o melhor para todo o esforço que o trabalho no campo representa. É o que vemos em AGRONEGÓCIO, numa entrevista que busca também celebrar o Dia do Agricultor, comemorado em 28/07.

A edição também traz a visão de dois colunistas que hoje colaboram com o 360 por obra do destino. Maurício Salemme, que desta vez tem seu texto publicado em MENINADA, pois traz a boa ideia de que todos devem aprender a tocar um instrumento desde a infância, e Leonardo Medeiros, que traz mais uma provocação da melhor qualidade e com a melhor intenção, em PONTO DE VISTA, surgiram em nossas páginas há meses sem que eu pudesse prever ou programar. Desta vez, tenho que acreditar.

Para completar, receitas que anotei, testei e aprovei também por conta do inusitado. Num encontro familiar, numa necessidade de fazer algo saudável e rápido com o que tinha em casa. Quis o destino que ficassem boas e aí estão, para você replicar e degustar. Veja na página de GASTRONOMIA

Com a certeza de que seja por obra do destino ou por conta de minhas escolhas, sem a determinação de produzir esse jornal, não estaríamos sobrevivendo às mudanças do mercado, à desvalorização da informação e à transição que estamos vivendo entre a era do papel e da leitura virtual, informo que o 360 em PDF (veja em www.issuu.com/caderno360) está se transformando e trazendo novidas. A começar pelos links de acessos nas publicidades de nossos principais anunciantes e também nas reportagens, quando for o caso. A mudança se estente à variação de formato, adaptável às telas do celular por exemplo, e , por conta dessa amplitude de espaço, com um progressivo aumento no conteúdo, de textos e imagens. Acompanhe essa transformação, que vai acontecer aos poucos. Valerá a pena. E guarde seu exemplar impresso. Não demorará muito para isso se tornar algo bastante raro. O papel jornal, ao que parece, está com seu destino traçado. Boa leitura!

Flávia Rocha Manfrin

| editora

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• 360@jornal360.com

O jornal 360 é uma publicação da eComunicação. Todos os direitos reservados. Distribuição: gratuita. Tiragem: 3 mil exemplares. Circulação: mensa. Redação-Colaboradores: Flávia Rocha Manfrin ˙editora, diagramadora e jornalista responsávelMtb 21563˚, Fernanda Lira, Leonardo Medeiros, Angela Nunes e Maurício Salemme Corrêa ˙colunistas˚, Sabato Visconti ˙ilustrador˚, Odette Rocha Manfrin ˙receitas e separação˚, Camila Jovanolli ˙transcrições˚. Impressão: Fullgraphics. Artigos assinados são de responsabilidade de seus autores.

Endereço: R. Cel. Julio Marcondes Salgado, 147CEP 18900-007 - Santa Cruz do Rio Pardo/SP.

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Ora ação!
“E alegrar-me-ei deles, fazendo-lhes bem; e plantá-los-ei nesta terra firmemente, com todo o meu coração e com toda a minha alma.”
Jeremias 32 vs 41
2 • editorial
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Todo palpiteiro é chato

A mãe de uma coleguinha da minha filha de 13 anos contou que a filha sofre de TDAH, um distúrbio neurológico que tem afligido muito nossas crianças. Eu disse a ela que é uma doença nova que tem relação com o uso extensivo de smartphones e mídias sociais. Ela, psicóloga formada e praticante, disse que não, que a incidência maior do distúrbio acontece porque hoje temos mais condições de fazer o diagnóstico.

Como todo bom palpiteiro, eu gostaria de estar certo. Seria mais fácil negar o argumento dela e seguir feliz na sustentação do meu palpite. Ainda por cima eu sou homem, ela é mulher, seria mais conveniente pro meu ego. Como não sou besta, e acredito com fé que as mulheres são muito mais inteligentes que os homens, refleti, respirei fundo, engoli o orgulho e acreditei nela. Ela sabe o que está falando, é o assunto de estudo dela, ela trabalha com isso diariamente, eu estou palpitando na leveza. Meu chute até possui coerência, relaciona fatos para atingir uma conclusão tragável, mas é simplista e revela o mecanismo oculto na construção dos palpites.

Ter um palpite não é em si um pecado, o problema é sair por aí ostentando devaneios como se fossem verdades. Não seria

mais fácil deixar as opiniões para quem entende dos assuntos? Entende mesmo, não conspiracionistas e negacionistas, esses não valem. Parece que hoje todo mundo quer brigar por uma opinião como se a vida dependesse disso. E as mídias sociais, convenhamos, empoderou os palpiteiros. Eu pago pra sair de um grupo de whatsapp, se for telegram pago dobrado. Fala-se de tudo, tem argumento pra tudo, especialistas em qualquer assunto, como se a população do planeta fosse formada por bilhões de Aristóteles. Terra fértil para picaretas que

acreditam em si mesmos, influencers, youtubers, coachs, scooby-doos, boobaloos, etc.

Eu fico quieto, porque todo palpiteiro é um chato! Nunca discuta com um chato, quem está ouvindo pode não perceber a diferença. Quem navega nas confortáveis águas da certeza carrega na bagagem a soberba. Isso sim um pecado. Pecado capital, segundo as normas da santa igreja. Vou escutar mais e palpitar menos.

3 • ponto de vista
*Leonardo Medeiros * Ator, diretor e escritor imagens: canva.com

Caldos com proteínas para manter a boa forma

Quem não gosta de uma sopinha no frio? E quem não fica cheio de culpa por comer demais nessa época do ano? Sempre mais leves, por mais condimentos e acompanhamentos possam incluir, as sopas, ou caldos como agora usam chamar, são uma delícia que nos ajudam a dormir melhor e leves, literalmente.

Nesta edição receitas muitos simples de resul-

Abóbora com Shitake

receita: Flávia Manfrin

_Ingredientes:

• 1/2 abóbora (qualquer tipo)

• 100ml de leite de coco

• 1 bandeja de shimeji

• 1 colher de manteiga

• cebolinha picada bem fininha

• 1 ou 2 dentes de alho

• 1/2 cebola

• sal e pimenta a gosto

• 1 colher de chá de curry

• 1 colher cafpe de gengibre • shoyo

_Preparo1: Cozinhe ou asse a abóbora até ficar macia. Bata no liquidificador. Numa panela, refogue a cebola e o alho num fio de azeite e tempere com sal. Bata a abóbora com um pouco de água no liquidifiacdor e acrescente esse tempero refogado. A ideia é também criar um caldo aveludado, sem pedaços. Leve isso para o fogo e acrescente as especiarias (gengibre, pimenta e curry). Mexa até ficar bem curtido e depois acrescente o leite de coco. Mexa e cozinhe até ficar no ponto que você preferir,

tados ímpares pelo sabor que trazem ao paladar. A ideia é aliar o caldo a uma proteína. A primeira, uma sopa de milho verde fresco, recém colhido, de sabor delicado contrastando com o bacon. Na sequência, uma deliciosa sopa de abóbora, que ganha aromas e sabores do leite de coco, da pimenta e de um bem preparado shimeji, que aliás, é uma ótima pedida quando o assunto é proteína vegetal e bem leve.

Milho com Bacon

receita: Natal Camacho

mais ou menos rala. Na hora de servir, coloque o shimeji no centro.

_Preparo2: Demembre as hastes do shimeji fresco e coloque direto na frigideira já quente. Mexa e espere que ele murche e ganhe aquele aspecto chapeado. Só então acrescente alho e cebola e manteiga. Quando estiverem dourados, acrescente um pouco do shoyo. Se quiser, pode colocar um pouquinho de mel ou açúcar, mas não para ficar agridoce, apenas para realçar os sabores. Quando estiver bem chapeadinho tire do fogo. Sirva pequenas porções sobre a sopa, já no prato, e polvilhe com cebolinha fresca.

_Ingredientes para a massa:

• 6 a 8 espigas de milho verde (não muito granado)

• 2 dentes de alho

• 1/2 cebola

• 1/2 copo de água

• um bom pedaço de baco

• sal e pimenta a gosto

_Preparo1: Corte o milho das espigas e reserve. Numa panela, coloque um pouquinho de azeite ou manteiga e refogue o alho e a cebola, adicionando um pouco de sal. Coloque o milho cru no liqui-

dificador, junte a água e bata bem. Acrescente então o alho e cebola refogados. Bata um pouco mais. Passe o milho batido numa peneira fina. A ideia é uma sopa muito aveludada. Leve ao fogo médio e mexa até que o milho perca o gosto de cru. Acerte o sal e adicione uma pitada de pimentan(opcional). O ponto da sopa vai depender da sua preferência. Quanto mais a mistura ficar ao fogo, mais grosso ficará o caldo. Eu não gosto de sopa muito grossa. Deixei apenas até sentir o sabor de milho cozido. Dica: para evitar que empelote, use um mexedor (fouet).

_Preparo2: Numa outra panela, frite o bacon picado bem miudinho e reserve. Quando a sopa estiver no ponto, sirva e salpique o bacon frito por cima. *Coloquei salsinha picadinha

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• gastronomia
fotos: Flavia Rocha | 360

Três dias de rock’roll, diversão e cidadania

Com público cativo e recorde, o Rock Rio Pardo 2023 trouxe mais uma vez para o interior paulista uma realidade de harmonia, cidadania e diversidade.

especial rock Rio pardo 2023 HApresenta cobertura ROck Rio Pardo 2023 é um encarte da edição 210 do jornal 360_jul23. Todos os direitos reservados. •

Rock Rio Pardo é muito mais que um festival de bandas R’R

Tribos & Família

Respeito & Diversidade

Amor & Amizade

Diversão & Curtição

CIDADANIA

Novidade

Talento

Solidariedade
Alegria
FOTOS:Flávia Rocha & Marcos Zanette
Voluntariado Traballho 360 especial Rock Rio Pardo 2023 - Cobertura é um encarte da ed. 210 do jornal 360 ]jul/2023. Fotos: FLávia Rocha & marcos zanette • Diagrmação: Flávia Manfrin veja a cobertura completa e baixe sua foto na fanpage facebook/jornal360 Astral Sintonia Encontros Arte Coletividade comissão de bandas • PREFEITURA • imprensa • bombeiros • segurança • samu • polícia militar • EMPRESAS • FOTÓGRAFOS • COMERCIANTES

Vamos Pingo!

E lá vai ele correndo pra porta do carro, doido para se esbaldar tomando vento na cara.

Pega a bolinha!

E lá vai ela saltitante, correndo para alcançar o brinquedo e já pedindo para jogar de novo.

E de novo, e de novo!

Vem papar, Pingo!

E ele dispara atrás do pote de Special Dog.

Mas nem sempre é assim, com toda energia que Pingo passa o tempo. Aliás, o resto do tempo ele.... dorme. Dorme e coça. Deve ser daí que tiraram essa frase: só come, dorme e coça! Quando ficam com mais idade, os cães são assim, dorminhocos. Doidos por um cafuné e por um bom canto onde se espichar.

Eita vida boa, hein? Só que tem uma coisa, Pingo, você

pode viver na preguiça porque tem sempre um ser humano disposto a lhe dar o papá, criar cantinhos quentinhos quando fizer frio e lhe fazer muito, muito cafuné! Sem um tutor, só mesmo a Preguiça de verdade sobrevive dormindo até 20 horas por dia em cima de uma árvore, comendo folhas e descendo até o chão para fazer suas “necessidades” só uma vez por semana, e olhe lá!

Sua música faz o mundo mais feliz

Ache os instrumentos musicais

•ACORDEÃO •AGOGÔ •ATABAQUE •BANDOLIM •BANJO •BATERIA• BERIMBAU •BONGÔ •BUMBO •CASTANHOLA •CAVAQUINHO •CÍTATA •CLARINETE

•CHOCALHO •CONTRABAIXO •CORNETA •CUICA •FLAUTA •GAITA •GUITARRA

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•TUBA •VIOLA •VIOLÃO •VIOLONCELO •VIOLINO •XILOFONE •ZABUMBA

Nos anos 80, já tocava bateria no Grupo Florescência, que além de bailes, participava e realizava festivais de música em Santa Cruz e até em outras cidades da região.

Quando ainda criança, tive aulas de violão com o saudoso Prof. Giovani Lanfranchi e com o maestro Mário Nelli....

Meu avô, músico de extrema qualidade e técnica, tocava flauta transversal e, como amante da música, sempre incentivava aqueles que como ele, amavam a arte de tocar um instrumento. Brincava de tocar a flauta dele e com a ajuda e apoio, acabei conseguindo desenvolver alguma habilidade com o instrumento, sem saber nada de leitura musical.

Eu morava em São Paulo e meu querido vô

Dante disse: Aprenda a tocar um instrumento. Ele será seu companheiro pelo resto de sua vida...

O Dante, simplesmente era um cara muito, mas muito respeitado na música, e conhecia o famoso flautista Antônio Carrasqueira. E pediu a ele que me ensinasse a tocar flauta. Por consideração ao amigo que me indicou, tive a oportunidade de conhecer por algum tempo, o mestre e sua casa na Lapa em São Paulo.

Guardo com muito carinho as lembranças dele e da esposa, que levava um lanchinho e um sorriso que iluminava a sala de aula. Não me tornei um flautista de renome como eles, mas as lições recebidas, ainda estão em mim: Sua música por um mundo mais feliz...

C H O C A L H O B O R V A B M U B A Z L Ã V I T R O M P E T E T A B A L Ã P A O O L E C N O L O I V D O L B Ç A O R E C H N A C A S R O M U B A M R X L I R A I R E T A B R N A I E P I F E U N I E A O P C U I C A M H R L R B A G E E A T C A I T A V I O L Ã O E X L N T D B N A O A T P L P O G N O B I U A E A U G O T R U O A F A C A R A M C I
S T A N H O L A R
T A A I A V T O G O
L A Ç Ã C E P A R P H A V P A E A B U T U S E O L B D A A R Q E M E N L A O S B P A N D E I R O T U E A U O A N O U E F L T A P L R E D I J T Q F B J U N I X O R G Ã O N L A N C A A O A O O B I E P A H B R A T U H D N B L E F R A S L A B M V U I P L O F O A I O B H P L R O A A H A M N B U X N T X S I A R R A T I U G J A B T A N A A F A E V A U F E X V T A P S O D P S P U B L T H J P R O D A L C E T S A
I P O I U F E D C A
R G E D E P N E E U Q B
O R A
9 • meninada
arte: Sabato Visconti

A agricultura é uma arte que requer resiliência, inteligência, astúcia e fé

A agricultura segundo um produtor que planta há mais 30 anos e atua em uma cooperativa, onde acompanha os desafios de produtores da cidade e região

360: Zé, o que você planta?

José Sanches: Eu planto soja, milho e café. Esse ano, por exemplo, tô plantando soja e sorgo, ano que vem vou plantar trigo. Mas a soja continua sendo a principal cultura.

360: O café, é novidade?

Zé: É que eu tenho um intervalo entre o plantio de inverno que coincide com a colheita de café, então eu consigo otimizar em uma área pequena para fazer isso.

360: O que é uma área pequena?

Zé: Considero pequena até 30, 40 alqueires pra ser economicamente viável pra cultura extensiva, como soja, grãos, milho, café, cana. Áreas menores que isso tem que ser hortifrutigranjeiras.

360: O que é uma área pra hortifuti?

Zé: Pode ser a partir de 2, 3 até 5 alqueires.

360:Em qual área a cultura extensiva é viável?

Zé: Se é o proprietário que faz tudo, com 20 ou 30 alqueires ele consegue sobreviver. Se depender de terceiros, não tiver todos os equipamentos, tem que ser a partir de 40 a 50 alqueires pra valer a pena.

360: Quanto você planta de soja?

Zé: 50 alqueires. Eu planto as duas áreas todo ano. O plantio de verão, que é a soja e o de inverno, que faço a rotação com milho, sorgo e trigo, dependendo do clima.

360: Como é acordar e dormir todo dia com essa variável que você não tem controle?

Zé: O primeiro exercício é fé, você reza muito! (risadas). Tem que rezar desde o início do plantio. Tem que chover antes de começar a plantar, tem que chover depois pra você cul-

tivar, tem que rezar pra chover pra nascer e crescer. Aí você continua rezando pra desenvolver e no finalzinho você reza pra dar um pouco de sol pra poder colher. Só! (risadas)

360: Há quanto tempo você planta?

Zé: Planto há mais de 30 anos.

360: Você também tem comércio. Quanto a agricultura representa no seu resultado?

Zé: Essa atividade representa 20% do meu negócio, os outros 80% vêm do comércio.

360: Você participa da Associação Comercial e de Cooperativa Agrícola. Dá para comparar a agricultura com o comércio?

Zé: São atividades completamente diferentes. O comércio é um investimento que você tem o retorno com uma previsibilidade de 90%. Se

vendeu bem, você compra mais. Se parou a venda, deixa de comprar. Uma vez que você tem uma estrutura bem organizada, tem o seu capital pra manter o seu negócio, tem estabilidade e o risco é muito pequeno. Já na agricultura, você tem que investir tudo e esperar 6 meses pra ver o resultado. Já estamos planejando a soja do ano que vem, estamos colhendo o milho e já compramos tudo que vai seu usado pra plantação.

360: Sobra dinheiro?

Zé: Depende, porque cada ano é uma história. A gente vem de um ciclo longo muito positivo na agricultura, de vários anos, como nunca tivemos. Agora, ano passado e o momento atual tá muito crítico porque caiu mais de 30% o preço do produto final. Essa queda sai do lucro, porque o custo não vai mudar.

360: Qual a razão dessa queda?

Zé: São muitos fatores. Primeiro a oferta. Principalmente a soja, que teve uma grande produção. E tem a questão da armazenagem. Como não tinha espaço pra guardar a produção, os agricultores foram obrigados a vender a qualquer preço para países compradores, principalmente a China, e assim liberar espaço porque tá chegando uma boa safra de milho. É uma pressão total, na soja e no milho, do mercado internacional. Todo mundo sabe que no Brasil não tem espaço pra armazenar. Daqui a 30 dias começa a safra de milho, e daqui a 60 dias, uma nova safra de soja. O Brasil é um dos poucos países no mundo que tem 2 safras no mesmo ano, fora a irrigação que tem até 4 vezes no ano.

360: Você é um ativista ambiental, como é que você trata a sua lavoura em relação à preservação da mata nativa e o uso da água?

Zé: O pessoal acha que o agricultor é destruidor da natureza. Claro que cada caso é um caso, que pode existir quem destrua, mas não é a maioria, porque é preciso cuidar do solo, do ambiente, até por uma questão de sobrevivência. Ninguém joga água fora. Você usa a água quando é preciso, porque é caríssima, o custo da irrigação é muito caro. A água da irrigação é usada no momento certo, com controle pra não ter desperdício, até porque o excesso prejudica a planta. Eu não tenho irrigação, mas entendo que cada vez mais seja necessário porque hoje as variedades são altamente produtivas e têm um ciclo muito rápido. E em uma semana, se não chove, você perde 10% a 20% do seu lucro.

360: Quando você fala das variedades, são as sementes transgênicas?

Zé: As empresas investem muito em tecnolo-

10 • cidadania
foto: canva.com

gia e existe muita competição entre elas, uma quer oferecer uma variedade mais produtiva pra ganhar o mercado da outra. Outra coisa, a necessidade de alimentos é muito grande e a margem de lucro do agricultor é muito pequena, então ele produz muito pra sobreviver.

360: Como fica o pequeno produtor? Porque tem vários fatores, você produz, vende barato seu produto e quando vai ao supermercado, tudo que leva o produto tá caro, aí precisa de crédito, mas se não tem toda a documentação necessária (muitas vezes não tem por que é de família) não tem acesso ao dinheiro. Fazer o que? Arrendar?

Zé: Arrendar é praticamente desistir da atividade. Se o agricultor ficar 10 anos fora da atividade, ele não consegue voltar, vai ter que vender todos os equipamentos e reinvestir em maquinários novo, mas não vai ter capital pra isso porque as máquinas de hoje têm uma tecnologia muito cara.

360: Onde que tá a vantagem, tem uma ajuda para o agricultor ou sempre foi assim?

Zé: Não tem vantagem. Hoje é um pouco melhor. Muita gente perdeu propriedade e viveu o êxodo rural. E o agricultor também não conseguia sobreviver na cidade, porque não tem formação profissional e conhecimento do mercado de trabalho. Outra coisa, a nossa legislação trabalhista não é adequada pra agricultura. O ciclo da agricultura é totalmente diferente da atividade urbana. Não é ciclo de 8 horas com os finais de semana livre. Se chove uma semana, ninguém trabalha.

360: É muito difícil encontrar mão-de-obra?

Zé: Hoje é muito difícil porque o cara que nasceu na cidade não se adequa; Tem que acordar muito cedo, trabalhar até mais tarde, o serviço é bruto. Se não conseguem nada mesmo, é que vão trabalhar no sítio.

360: Com tantos desafios, falta de apoio logístico e financeiro, como é que tem tanta gente se dando bem na agricultura, muita gente crescendo, onde está a luz no fim do túnel, que dá o retorno financeiro?

Zé: É matemática. Tinha 5 mil produtores onde hoje tem 100. Só sobreviveu aquele que teve capacidade de fazer grandes investimentos. Você vê agricultor com caminhonete, mas ele tá contando com 4 ou 5 safras boas pra pagar, o que leva de 7 até 10 anos.

360: Então, o sono tranquilo é difícil...

Zé: É difícil. O que a gente vê é certa ilusão. Mas tivemos um aumento na produtividade.

Na produção de milho, por exemplo, de 80, 100 sacas por alqueire há 15 anos, hoje você consegue colher acima de 200 sacas.

360: Colhe mais por causa das sementes?

Zé: Não só isso. Tem também tecnologia e maquinário. Precisa de uma plantadeira com GPS, controle de adubo, de semente...

360: É a Agricultura de Precisão, né? E dá pra alugar ou é preciso ter os equipamentos?

Zé: Isso. Você tem que ter os equipamentos por causa do tempo. Se chove no meio do plantio, precisa esperar uns dias pra recuperar o solo, porque tem que ter a umidade ideal pra plantar. A janela do plantio é muito curta, então, tem que ter maquinário grande ou fazer 20, 30 alqueires em 2 dias, dia e noite. Eu tenho que ter o equipamento na minha mão porque se der pra começar 5 da manhã e ir até 11 da noite, eu vou fazer isso.

360: E quem opera esses maquinários?

Zé: A maioria dos grandes produtores, e isso é muito positivo, têm filhos agrônomos, técnicos agrícolas. Eles têm 30%, 40% de funcionários, o resto é da própria família. Aqui, em Santa Cruz, quem sustenta é o dono com 1 ou 2 filhos que são pessoas preparadas.

360: Em termos de insumos, há melhroas na toxicidade dos defensivos e dos nutrientes?

Zé: Melhorou muito. Até porque o próprio agricultor sabe do risco já que é ele que vai manipular. O fungicida, que é altamente tóxico, pra uso totalmente específico e controlado, deve ser aplicado na dose e no local específico porque é caríssimo, então ele não vai errar a dose pra não matar a planta.

360: E já tem muito produto bioecológico, o biodefensivo, eles são melhores?

Zé: A tendência é usar mais esses produtos por uma questão de ciclo. Porque as plantas têm um ciclo muito rápido e tenho que pensar na próxima safra. Se estou plantando milho, não posso usar alguns produtos porque vou plantar soja depois. Já os produtos naturais, vamos dizer assim, agridem menos, mas têm uma aplicação muito limitada. Se ocorre uma infestação momentânea de uma praga, você tem dois ou três dias pra resolver porque se ela tomar conta da sua área, adeus.

360: E rola de ter essas infestações?

Zé: Rola e, às vezes, você nem percebe, por isso, tem que estar todo dia no campo. Nos últimos 5 anos, apareceu uma cigarrinha no milho, que não tinha antes, e era uma quanti-

dade tão pequena que ninguém se preocupou. Mas a quantidade cresceu tanto que faz 2 anos que praticamente ninguém colhe milho. Foi um desastre. Este ano, nós tivemos um início de plantio de milho de inverno com uma chuva muito regular. A própria chuva mata a praga porque ela fica no gomo do milho. Então, este ano, não teve cigarrinha.

360: Agricultor tem que ser astuto, inteligente. Zé: Muito, porque ele tem que conhecer a sua área, as variedades adequadas para o tipo do solo da região dele. Porque o que planta no Paraná não é o mesmo que planta aqui ou em Minas. Hoje em dia, tem muita demonstração de campo, que indicam quais são as melhores variedades pra cada área. E tem que se atualizar. O milho que mais vendia há cinco anos, na nossa região, não tem mais um pé porque essa variedade é mais suscetível à cigarrinha.

360:: E tem que ter controle de informação?

Zé: Precisa ter porque a margem de lucro é muito pequena. Se você pega os produtores de milho, imagina que a quantidade média é de 180 a 300 sacos. O cara que produz os 180 produz com uma tecnologia média ou mais baixa, mas o custo é pra 150 sacos, ele está ganhando 30 de lucro. O que colhe 300 tem um custo de 200 sacos e está investindo pra ganhar 100 sacos, mas pode colher mais 200.

360: E sobre as cooperativas, qual sua visão?

Zé: Eu agradeço a oportunidade de falar disso

porque as pessoas não entendem o espírito cooperativista e a necessidade dela. Primeiro, a cooperativa é um balizador de preços, do preço final dos produtos e dos insumos. Sem as cooperativas, viria uma guerra entre indústrias e fornecedores, e quem sofreria mais seriam os pequenos produtores. Em segundo, a cooperativa financia tudo que o produtor precisa, para pagar só na colheita.

360: Como isso funciona?

Zé: O produtor compra uma cota, que é corrigida anualmente. A cota mínima, no caso da nossa cooperativa, que é a Coopermota, é de R$ 1.500,00. A nossa cooperativa tem R$ 100 milhões de capital, que é de todos os cooperados. Ela trabalha com esse montante. O dia que o cooperado sair da cooperativa, recebe todo dinheiro de volta, corrigido. Além disso, aos 75 anos você tem o direito de tirar seu capital e continuar como sócio, basta manter o valor mínimo. Então a cooperativa tem duas formas de compensar o cooperado. Primeiro é a remuneração do capital. Segundo é a participação dos resultados. Como o objetivo da cooperativa não é o lucro, quando chega no final do ano, o excedente, que nós chamamos de sobra, é distribuído entre os cooperados. O grande trunfo da cooperativa é esse: receber os produtos dos cooperados, cuidar e ir vendendo conforme o cooperado precisa, de acordo com o preço do dia. Ela ajuda produtor a produzir (com linhas de crédito e insumos), armazena e depois comercializa.

foto: acervo pessoal JS
* O produtor rural, José Sanches, confere de perto a lavoura, dividindo seu tempo entre a agricultura e o comércio *
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