jornal360_edição 178_novembro2010

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agronegócio_ Plantar com o cuidado de preservar o meio ambiente é mais lucrativo a médio e longo prazos. •p11

nº178

gastronomia_É tempo de

Novembro 2020

manga. A fruta cheirosa, macia, saborosa e suculenta usada em pratos doces e salgados. •p5

SOS Rio Pardo Vivo_O rio Pardo está com níveis abaixo do normal para esta época do ano. Saiba o que acontece!

ANO 15

! s i t Grá

A exuberância que só a natureza é capaz de criar

Jornal 360. Gostoso de ler. Circulação Mensal: 3 mil exemplares Distribuição: • Águas de Santa Bárbara •Areiópolis • Assis • Avaré • Bernardino de Campos • Botucatu • Cândido Mota • Canitar • Cerqueira César • Chavantes • Espírito Santo do Turvo • Fartura • Ibirarema • Ipaussu • Manduri

• Palmital • Pardinho • Piraju • Santa Cruz do Rio Pardo • São Manuel

Foto Vera Quagliato

• Óleo • Ourinhos

• São Pedro do Turvo • Timburi Pontos Rodoviários: • Graal Estação Kafé • RodoServ • RodoStar Versão On line:

jornal360.com

A maior riqueza é acessível a todos. Bastam algumas sementes e um pouco de terra para se colorir e ornamentar muros antes desbotados, até mesmo casas inteiras podem ser cobertas por plantas. O entorno também pode revelar a exuberância que só mesmo as plantas com todas as suas cores e formas é capaz de imprimir a um lugar, a uma foto, a uma paisagem. Dar espaço a elas é o que devemos pensar quando construímos nossas casas e planejamos nossos jardins e calçamentos. A foto que ilustra a capa foi feita na área residencial da Usina São Luiz, onde o vasto jardim é repleto de árvores de grande porte. Este resultado não é acessível apenas a quem tem recursos, mas a todos que valorizam a presença da natureza na própria vida.


2 • editorial

Zelar

Do latim “zelare”, significa velar; demonstrar zelo, carinho e preocupação; cuidar de algo ou de alguém com muita atenção; demonstrar excesso empenho na realização de algo; defender; expressar cuidado e precaução Foi tanto cuidado em colocar o máximo de tanto que ouvi a respeitos dos assuntos desta edição, que sobrou pouco espaço para esta nossa conversa. Zelar é algo que faço desde a primeira edição deste jornal, o qual zelo com muita dedicação, por amor à profissão e respeito ao leitor.

1 João 4 Vs 16

“E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele.”

Zelar é praticar o bem. É dar mais do que o habitual ou o esperado sem pedir nada em troca. Uma típica atitude de um bom pai, de uma boa mãe, de um bom Deus. Esta edição traz um ser que precisa mais do que nunca ser zelado por todos que vivem na região: o rio Pardo. Objeto de zelo de uma organização governamental, um movimento e até mesmo de uma cidade, porque Santa Cruz, por meios de suas autoridades e sua gente, sem dúvida zela mais por seu rio do que as outras cidades por onde ele passa, a mais importante riqueza da região continua sob ameaça. E é disto que trata o encarte que fizemos com muito zelo para que o leitor se atualize da situação. O zelo pela água, reconhecendo seu inegável valor e sua improvável substituição, aparece também nas seções MEIO AMBIENTE, com uma entrevista a respeito do uso da água na indústria; e em AGRONEGÓCIO, onde o entrevistado discorre sobre a aplicação e reposição da água no plantio de grãos. A edição também traz o zelo que transformou uma entidade que chega aos 70 anos neste mês de novembro totalmente revitalizada e capacitada a zelar por crianças e também por adultos que precisam ser acolhidos, como vemos em CIDADANIA. Para completar, nossas tradicionais seções,: MENINADA, com mais aventuras do Pingo e um passatempo sobre nossas águas; PONTO

Ora ação!

Código de Ética do Jornalismo

Artigo 16º

O jornalista deve pugnar pelo exercício da soberania nacional, em seus aspectos político, econômico e social, e pela prevalência da vontade da maioria da sociedade, respeitados os direitos das minorias. DE VISTA com as observações de nossos colunistas a respeito do comportamento humano; as delícias de manga, em GASTRONOMIA; e, para completar, mais uma matéria sobre algo que ao que parece está demando pouco zelo das pessoas em todo o planeta: a vida, que continua em risco, exposta ao imprevisível e agitado coronavírus, que está ai, em todo o globo, fazendo sua “segunda onda”, veja em ACONTECE.

Com a certeza de que vale a pena zelar pela sua vida, pela humanidade e pelo nosso planeta, mesmo que tantos atentem contra tudo e todos, desejo a você uma Boa leitura! Flávia Rocha Manfrin editora c/w: 14 99846-0732 360@jornal360.com www.jornal360.com

e xpediente O jornal 360 é uma publicação mensal da eComunicação. Todos os direitos reservados. Tiragem: 3 mil exemplares. Distribuição gratuita. Redação-Colaboradores: Flávia Rocha Manfrin ‹editora, diretora de arte e jornalista responsável | Mtb 21563›, André Andrade Santos e Paola Pegorer Manfrim ‹colaboradores eventuais›, José Mário Rocha de Andrade e Fernanda Lira ‹colunistas›, Sabato Visconti ‹ilustrador›, Odette Rocha Manfrin ‹receitas e separação›, Camila Jovanolli ‹transcrições› Impressão: Fullgraphics. Artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Endereço: R. Cel. Julio Marcondes Salgado, 147 — centro — 18900-007 — Santa Cruz do Rio Pardo/SP • contato: 360@jornal360.com • cel/whats: +55 14 99846-0732 • 360_nº178/Novembro2020


3 • bem

viver

Aprenda a conviver com o vírus enquanto não temos vacina A resposta é SIM. É perfeitamente possível conviver com um vírus que se prolifera sem dó nem piedade enquanto aguardamos a vacinação segura em toda a população. Isso é muito importante, aliás. Afinal, já vivemos uma segunda onda de contaminação em todo o mundo e há indícios de variantes do Coronavírus por aí, deixando povos alarmados e minando a esperança de podermos voltar a ir e vir tranquilos, abraçando e beijando nossos entes queridos, entrando e saindo dos lugares sem nos preocuparmos em esterilizar mãos, bolsas e sapatos. Em boca tapada, não entra vírus – Para conviver em paz com o vírus é preciso, no entanto, assumir algumas práticas que muitos teimam em evitar, como se elas fossem difíceis e incômodas. Na real, não são. Usar máscara é uma delas. Não há nenhum problema em usar máscara da maneira correta e não com o nariz pra fora ou como se fosse um babador, o que parece, com o perdão da palavra, nojento. Você olha aquele pano no pescoço da pessoa, imagina aquilo, suado, voltando a cobrir a boca e o nariz... Não dá!

Há máscaras de todo tipo, elásticos e formas de prender. Todo mundo pode achar a que mais lhe convém. A que menos incomoda. Não precisa tirar pra falar. Nem para fazer esforço físico. É um alívio quando você usa corretamente e vê que todos estão usando direito. Fica muito mais tranquilo ir e vir aos lugares, como bancos, supermercados e até mesmo restaurantes, que junto com academias é considerado o local mais fácil de pegar a doença, conforme estudos realizados nos Estados Unidos. Agora, só você usando máscara, com metade das pessoas sem usar outras tantas com a dita cuja pendurada no pescoço, lá se foi seu bem estar, sua segurança. Juntos e separados – Após cerca de 10 meses de isolamento, já deu para entender, também, que não dá pra deixar de tomar as medidas básicas de higiene. Ao sentar à mesa de um restaurante, por exemplo, tem que limpar as mãos antes de ir à mesa e não levá-las à boca ou aos olhos e nariz enquanto nos servimos. Ah,

Natal e Ano Novo – Dados mundiais e nacionais indicam que temos que redobrar os cuidados nas festas de final de ano. No início de novembro, chegamos ao ápice de 11 mil mortes por dia no planeta, índice superior aos períodos de mais alto pico da doença que já contaminou mais de 55 milhões de pessoas. No Brasil, já passamos de 164 mil óbitos (até 16/11), algo que corresponde a cerca de 4 vezes o total de habitantes de uma cidade como Santa Cruz, por exemplo. Mesmo diante de fatos dessa trágica rea-lidade, muitas pessoas supostamente esclarecidas têm se revelado arredias às práticas de isolamento e uso de máscaras da maneira correta, teimando em promover festas, inclusive em salões de igrejas, e se reunindo em ambientes fechados, com o ar condicionado ligado. Prepare-se. Teremos um novo aumento de casos. E não se trata apenas da potência do Coronavírus e da Covid-19. Trata-se da falta de educação de grande parte das pessoas. Evite ser uma delas. Afinal, 2021 vem aí, não perca!

imagens: Pixabay.com

e o local deve ser realmente ventilado, ter mesas grandes e promover um distanciamento razoável para que você possa se reunir com amigos e familiares. É arriscado? É. É algo novo? Sim! Mas qual o problema de se adaptar ao novo? Um vidro de spray de álcool misturado à água e tudo fica mais descontraído. Tocou alguém sem querer? Pôs a mão no nariz? Uma espirrada, um guardanapo e está tudo certo. Precisou ir ao banheiro? Use o spray e limpe tudo, antes e depois.


4 • ponto

de vista

*José Mário Rocha de Andrade

Ainda a velha vacina

Presente entre nós desde 10.000 anos A.C., um vírus originário do camelo causou a doença conhecida como “O horror”, a varíola, que matava 30% dos infectados e deixava a pele bexiguenta, cheia de marcas, nos que sobreviviam. Mas havia uma exceção. A pele suave, lisa, sem marcas, fazia das mulheres que ordenhavam as vacas na Inglaterra do século XVIII as mais bonitas do país.

Louis Pasteur, meio século depois, propôs que as doenças eram causadas por algum tipo de “vida diminuta” e o nome vírus somente foi criado na virada do século XIX para XX. O homem foi à lua, conversamos com imagem com o outro lado do planeta, fazemos cirurgias microscópicas, mas a medicina ainda não sabe curar a gripe, ou o resfriado e, frequentemente os médicos prescrevem o remédio da vovó para tratar essas viroses: chá e cama.

Em 1.808, quando Dom João VI chegou ao Brasil fugindo do exército de Napoleão Bonaparte, em sua comitiva estava sua esposa, Carlota Joaquina, com a pele de seu rosto marcado por cicatrizes das “bexigas” da varíola. Edward Jenner foi um médico da zona rural da Inglaterra do século XVIII e observou que as mulheres que ordenhavam as vacas pegavam a varíola bovina, uma doença mais leve do que a varíola humana infectando somente as mãos dessas mulheres que, curiosamente, não se contaminavam pela varíola humana preservando suas vidas e a pele de seus rostos. Edward Jenner não parou na observação e retirou o material de uma das pústulas da mão de uma mulher contaminada pela varíola bovina e o introduziu em um garoto de 8 anos, filho do jardineiro. Esperou 6 semanas e o contaminou com o material da varíola humana. Resultado: o menino não

Nunca em sua história os cientistas se puseram a trabalhar intensivamente para entender e aprender a lidar com essa “vida diminuta”. A história também conta que, toda vez que o ser humano se dispõe a trabalhar com afinco, ele conquista, e, por mais que estejamos esperando por uma vacina que nos proteja da SARS-COVID19 o mais rapidamente posImagem de mcmurryjulie por Pixabay sível e é isso o que temos agora, tenho confiança que, ao longo e ao fim dessa batalha sairemos com um conhecficou doente com a varíola humana. Repetiu a experiência em imento sobre o vírus muito além da vacina e teremos um remémais 21 pessoas com sucesso e, 100 anos antes da descoberta dio diferente e muito melhor, em nível de um smartphone top do vírus, foi criada a primeira vacina recebendo seu nome em de linha, do que o Dr. Edward Jenner descobriu 224 anos atrás. referência à vaca. *médico santa-cruzense radicado em Campinas

A Civilidade a 17km da Barbárie *Fernanda Lira

Quem costuma ler esta minha coluna sabe que amo o interior. Sou paulistana da gema, mas adoro percorrer, observar e saber o que acontece nas pequenas cidades por onde o jornal 360 circula.

deveria levar aquelas pessoas à prisão, inclusive mulheres que estavam ali, em torno, festejando a violência simulada em duas bonecas em tamanho natural, amarradas a uma caminhonete enquanto eram violentadas.

Estava eu comemorando a vitória do candidato que além de ser cria do PSOL é assumidamente gay em Santa Cruz – e a razão é simples: por mais natural que isso seja pra mim e deva ser pra todo mundo, ainda vivemos sob grandes e violentas ondas de homofobia. Então, constatar que essa questão não pesou para que o eleitor de Santa Cruz do Rio Pardo decidisse seu voto é motivo de aplausos. Parabéns!!! Vocês provaram que estão em dia com a lição de casa do bom cristão. Pelo que sei, essa questão também não foi usada pelos oponentes do candidato eleito. O que só aumenta minha admiração e meu grito de Bravo!!!!! ao povo santa-cruzense, sem exceção. Mas eis que minha alegria durou muito pouco. O mundo do jornalismo é assim mesmo, mal temos uma notícia boa, aparece outra danada de ruim. Nesta manhã de segundafeira, vejo um filme de uma carreata da vitória numa cidade vizinha, São Pedro do Turvo, que mostra eleitores comemorando a reeleição do candidato à prefeito sobre uma chapa

Naturalmente, a notícia se espalhou feito pólvora e eis que num dos jornais da região, a primeira dama do prefeito reeleito comenta a situação minimizando a atitude dos agressores ao informar que a prática de malhar bonecos é uma tradição da cidade que ela não apoia, mas que enquanto estes malhavam bonecos, uma candidata a vereadora da situação teria sido agredida pela oposição.

imagens: Dreamstime.com

feminina com cenas explícitas de violência contra a mulher. Inclusive simulando um estupro depois de açoitá-las veementemente com barras de bandeiras gigantes. Um horror que

Alguém pode avisar a essa senhora que muitas tradições que ferem os direitos humanos e a integridade feminina devem ser simplesmente abolidas? Sororidade é fundamental em toda e qualquer circunstância. *jornalista paulistana que adora o interior


5 • gastronomia

Delícias da fruta da época É tempo de manga. Essa fruta cheirosa que dá em abundância, tamanhas as suas árvores. Nas ruas, campos, beiras de estradas, lá estão elas, amarelando, suculentas. Com toda essa fartura, além do suco de manga bem madura, que fazemos aqui em casa com a polpa e o caldo da manga misturados apenas a um pouco de água e várias pedras, de gelo, sem adicionar açúcar, e de usá-las em tiras ou cubos nas saladas, ou, ainda grelhadas para acompanhar carnes de porco, fomo atrás de duas receitas para você aproveitar essa delícia até à casca!

Risoto de Manga, Banco & Parmesão Receita de “Cozinha Travessa” , feita por Aldine Manfrin

Mangada Receita de Rejane do Couto Rosa

fotos: Aldi ne

Manfrin

_Ingredientes • 2 xícaras de café bem cheias de arroz arbóreo • bacon frito o quanto baste • 1 manga madura, mas firme, picada em cubinhos • 1 colher de sopa bem cheia de manteiga sem sal • 1,5 litro de caldo (pode ser de carne ou legumes) • 1 cebola pequena picadinha • 1/2 taça de vinho branco seco • 1 xícara de café de parmesão ralado • sal a gosto • lascas de parmesão • cebolinha picadinha _Preparo: Comece fazendo um bom caldo de legumes ou de carne para preparar o risoto. Frite também o bacon picadinho e reserve. Em uma panela grande aqueça a manteiga e a cebola picadinha. Deixe refogar, aumente o fogo e acrescente o arroz arbóreo, mexa bem e deixe refogar mais um pouco. Acrescente também o bacon (já frito) e mexa constantemente para não queimar o arroz, que não deve ficar dourado, apenas incorporar na manteiga. Depois de 2 minutos, diminua o fogo para médio e adicione o vinho. Continue mexendo. O álcool do vinho vai evaporar. Quando o arroz começar a secar, acrescente as primeiras conchas do caldo quente. Acrescente duas conchas por vez e vá mexendo, cuidando para não grudar no fundo da panela. Conforme a água do caldo for secando, acrescente a manga e a cebolinha. Se precisar, acrescente um pouco mais de caldo e mexa até chegar ao ponto “al dente” do arroz. Para finalizar, acrescente o parmesão ralado e ½ colher de manteiga bem gelada no centro da panela. Misture bem e experimente para ver se precisa de sal. Acerte o sal e sirva com lascas de parmesão.

_Ingredientes: • 16 mangas médias (mais maduras se quiser mais doce, mais verdes se preferir mais cítrico) • 400gr açúcar cristal _Preparo: Retire somente a casquinha do fundo das mangas e coloque-as para cozinhar em uma panela com bastante água. Quando a casca das mangas rachar, significa que estão cozidas. Retire e deixe esfriar um pouco. Então raspe a massa das mangas e junte com a casca. Você só vai descartar os caroços. Passe essa massa de polpa e casca numa peneira. Leve essa massa cozida para um panela e acrescente o açúcar. A proporção exata é 400g de açúcar para cada 1kg de massa. Mexa sem parar até começar a desgrudar do fundo da panela. Sirva pura, com queijo ou acompanhando bolos, frutas frescas e sorvetes.


6 • meio

ambiente

A disponibilidade de água para abastecer a indústria é fundamental para a viabilidade do negócio. Executivos que respondem pela área ambiental e sustentável das empresas devem se envolver na questão que atinge o Rio Pardo, alvo de projetos de barragens que podem comprometer sensivelmente o volume de águas disponível para o setor. Veja o que diz sobre o assunto, o gerente de desenvolvimento sustentável da Special Dog, João Paulo Camarinha Fiqueira

360: A água disponível em Santa Cruz é um diferencial para a indústria? João Paulo: Sim. A gente não consegue, de forma alguma, pensar em outra forma de ter água disponível para os nossos processos e para o consumo de forma geral, em boa parte da cidade, senão pelo abastecimento das águas do Rio Pardo. Outra solução alternativa são os poços profundos, mas que também precisam da nossa preservação, para que a água esteja sempre disponível para ser captada. 360: Você diz que a indústria depende bastante da água e tem a maneira certa de devolvê-la ao meio ambiente. Como é essa devolução? João Paulo: Hoje, na Special Dog, 100% da água utilizada vem de poços profundos. É uma água pura, muito limpa e de excelente qualidade. Ela vem, em sua grande maioria, do aquífero Guarani. Somos privilegiados por estarmos sobre o Guarani. Depois de todos os nossos usos, seja consumo doméstico ou consumo industrial, toda essa água vai para a nossa Estação de Tratamento de Efluentes. Nós temos duas estações, uma que trata o efluente sanitário, doméstico, proveniente dos banheiros e do refeitório; e outra que é a estação do efluente industrial, que é a água que foi utilizada nos processos industriais. Nós temos controles bastante rigorosos sobre a qualidade dessa água e, hoje, trabalhamos com um índice de eficiência no tratamento acima de 98%. Então, aquela água que coletamos lá no início, é praticamente toda devolvida para o meio ambiente, no Ribeirão Mandassaia, que é um ribeirão classe II. Nós, inclusive, diluímos a poluição do ribeirão. Então, a nossa água, a água que colocamos no ribeirão, melhora sua classificação.

ainda não consegue usar essa água na produção, em contato com o nosso produto, mas utilizamos essa água para o lavador de caminhões, para irrigação, limpeza de pátios e, também, nas bacias sanitárias e descargas,.

Foto: Flávia Rocha | 360

360: João, você é gerente de sustentabilidade de uma indústria de alimentos em Santa Cruz do Rio Pardo. Quanto a água, e a sustentabilidade do abastecimento de água natural, são importantes para uma indústria? João Paulo Camarinha Fiqueira: Água é fundamental. Nós não desempenhamos nenhuma das nossas atividades sem água. Então, todo cuidado, toda preservação para que a gente mantenha esse abastecimento e, posteriormente, para que toda água que nós utilizamos seja devolvida da forma que a encontramos, também faz parte de uma relação consciente que preserva esse recurso natural tão importante para nós.

Água é a fonte de todo negócio

* João Paulo Camarinha Figueira teve toda disposição para conferir de perto e na companhia de espacialistas, a expedição para avaliar a situação do rio Pardo *

360: Vocês coletam a água de chuva? João Paulo: Sim. Nós entendemos que a gente tem, a todo momento, que mitigar o volume consumido. Então, hoje, 33% de todo volume de água consumido na Special Dog já vem de fontes alternativas. Uma delas é o Projeto Guarda Chuva, de captação e uso de água de chuva. A gente aproveita uma área grande de telhados e faz a coleta através de calhas que direcionam a água para reservatórios que totalizam 1,5 milhão de litros, o que, num período de estiagem, substitui, em até 40 dias, o uso de água potável. A gente

*. Á direita, o Projeto Guarda Chuva, que capta água de chuva para uso na empresa. Abaixo, a Estação de Tratamento de Efluentes da Special Dog * Fotos: acervo Special Dog

360: É muito caro ter toda essa estrutura para compensar a água, como coletar água de chuva e ter a água tratada da maneira que a Special Dog conseguiu implantar? João Paulo: Quando a gente fala de um bem fundamental para a existência, para a sobrevivência, qualquer investimento se torna baixo. E, por se tratar de uma empresa grande, nosso investimento acaba sendo maior. Mas é algo totalmente aplicável na nossa casa, no comércio e em empresas menores. A gente já vê isso acontecendo, existem formas bastante acessíveis de captação de água de chuva para o uso na irrigação, limpeza de calçadas. É muito viável em residências e pequenos comércios.


Rio Pardo chega ao mais baixo nível em pleno século 21 Água é essencial para gente viver. É óbvio. O óbvio ululante. Mas as pessoas precisam ser recorrentemente lembradas disso. Que a água é vital, que sem ela nada acontece. E lembrar também que isso é indiscutível. Óbvio, portanto.

Por que será, então, que o homem se preocupa tão pouco com isso? E, pior, por que não é capaz de zelar, resguardar e preservar a água que tem? Ourinhos, uma nobre cidade de mais de 100 mil habitantes é banhada por dois grandes rios. O Paranapanema e o Pardo. E vive sem água. Seus moradores, da periferia a bairros nobres, reclamam constantemente da falta de água em suas casas e empresas nas redes sociais. Por que será que ela falta? E por que será que não se luta por elas?

foto: acervo Caderno 360

Em casa precisa de água pra beber, para cozinhar, pra limpar (casa, utensílhos, roupas), para tomar banho. Como produzir um alimento sem água? Não dá. Nem a indústria, nem a agricultura são capazes de produzir um grão ou um grama sem água, muita água por sinal.

As águas do Rio Pardo estão bem abaixo dos níveis normais, mesmo em época de estiagem. As imagens foram feitas na ponte de Iaras, onde está prevista a construção de uma PCH que poderá comprometer ainda mais as águas

Até o século passado, gerar energia era uma grande necessidade para o país. E usar os fartos rios brasileiros, riquezas gigantescas, que nenhum lugar do mundo tem (quanto mais raro, mais caro) para gerar altas voltagens para abastecer todos os Estados, tornou-se o principal meio de produzí-la. Quando chegou o novo século, já se sabia que essa forma de gerar energia trazia consigo um enorme problema: ela compromete o curso natural da água, extingue extensas áreas de mata nativa, que não se recompõem nem a curto, nem a médio, nem a longo prazos, e promove o enfraquecimento do potencial aquífero de seus entornos. Ou seja, toda a água subterrânea, usada para abastecer as torneiras da cidade, as indústrias e todas as lavouras e criações, vai sendo mal alimentada. Enquanto se dava conta disso, o homem também descobriu que não é necessário sacrificar os rios com barragens para gerar energia. Para isso, há matérias-primas mais sustentáveis, ou seja, que não

se esgotam, como pode acontecer com a água. Então passou-se a usar o vento, o sol e até mesmo o movimento das marés, nos oceanos, para geração de energia elétrica. A mudança é tão grande e irreversível, que até telhas comuns com capacidade de gerar energia solar estão sendo fabricadas, inclusive no Brasil. Mesmo assim, homens que parecem não conseguir pensar em outra coisa senão em tirar alguma (ou muitas) vantagem financeira em tudo que fazem, mesmo que isso envolva agir com base na ignorância e na irresponsabilidade, insistem em fazer mau uso da água e, pior, a comprometer a permanência desse bem essencial, até então farto na nossa região e no nosso país.

Esta edição de SOS Rio Pardo Vivo vem atualizar os leitores sobre a situação crítica em que se encontra o rio Pardo, que abastece 15 municípios com suas águas limpas, e apontar soluções para evitar que isso se agrave e também para que possamos recuperar o potencial aquífero da nossa maior riqueza. Afinal, ele garante não apenas a água nossa de cada dia, mas também interfere – e muito – no volume de chuva que cai sobre nosso solo rural e urbano. Boa leitura! Flávia Rocha Manfrin Especial Rio Pardo Vivo - encarte da edição 178 do Jornal 360 [nov/2020]


O que podemos fazer pela recuperação do r

Com níveis de água muito abaixo do normal, mesmo considerando o período de intensa estiagem deste ano, o rio Pardo tem chamado a atenção da comunidade. Quem usa suas águas para produção, consumo ou lazer percebeu que algo estábem fora do normal.

Participaram da expedição Edson Pirolli, estudioso da bacia hidrográfica do rio Pardo, Cristiano Miranda, técnico em meio ambiente, João Paulo Camarinha Figueira, especialista em desenvolvimento sustentável. a jornalista Flávia Manfrin e o cinegrafista Leo Wagner, Veja qual a situação e o que fazer: Pessoas que convivem mais de perto com o Rio Pardo têm observado que o volume de água que corre em seu leito está abaixo do normal para esta época do ano. Daí surge o questionamento das causas desta situação e a busca por respostas. A primeira delas, está relacionada à redução da ocorrência das chuvas nos meses de agosto a outubro e no início de novembro, se comparadas com as médias históricas do período. Mas além deste fator, que é sazonal e imprevisível, há outros que precisam ser considerados e que podem ser manejados buscando-se a perenidade do rio e de seus afluentes. O primeiro a ser destacado diz respeito às mudanças no uso da terra da bacia hidrográfica do Rio Pardo. Até o início do Século XX ela era ocupada quase que totalmente por florestas dos biomas Mata Atlântica e Cerrado, mas progressivamente teve sua cobertura nativa substituída por culturas agrícolas e por pastagens para criação de bovinos. Esta troca da cobertura do solo de florestas por atividades agropecuárias trouxe como uma das consequências a redução das taxas de infiltração da água das chuvas no solo. E se infiltra menos água, há menor recarga do lençol freático, e consequentemente menor volume de água para brotar nas nascentes. Com menos água brotando nas nascentes a quantidade de água que escoa pelo leito do rio diminui

Fotos: Flávia Rocha | 360

Para reportar a situação, o Movimento Rio Pardo Vivo promoveu uma expedição nas proximidades da barragem Ponte Branca, que já está funcionando em Águas de Santa Barbara. Também esteve em Iaras, na altura do rio onde está prevista uma outra barragem.

O Rio Pardo no Balneário de Águas de Santa Bárbara, após a barragem, está inavegável. Em seu curso, pedras mostram das águas. Nas encostas, áreas assoreadas indicam estreitamento, possivelmente causado por resíduos das obras da PCH

Para onde vai a água que não infiltra no solo? A água que não infiltra escoa concentrada superficialmente, causando processos erosivos nas vertentes da bacia e assoreamento no leito do rios. Tais situações tendem a reduzir a profundidade da lâmina d’água, o que permite que os raios do sol aqueçam o fundo dos rios, aumentando as taxas de evaporação de água, além de modificarem seu leito, comprometendo a sobrevivência das espécies que ali habitam. Mas, não é só isso. O aumento da retirada de água do leito do rio para projetos de irrigação também contribui para a redução do seu volume de água. Além disso, a implantação de represas ao longo dos rios da bacia expõe a água aos raios solares o que aumenta os processos de evaporação e a perda de água via atmosfera. Somando-se as perdas em todas estas situações, o volume de água do rio tende a diminuir cada vez mais em períodos de estiagens mais prolongadas. em períodos de estiagens mais prolongadas.

Acima, a água do rio Pardo represada, ao lado da barragem. O enchimento do durante a estiagem pode ser a causa do baixo nível das águas em Santa Cruz supressão de área nativa e sem sinal de reflorestamento no entorno do lago perde a cor e padece. As consequências foram previstas e vêm sendo inform toridades desde 2012 pelo Movimento e pela ONG Rio Pardo Vivo. E também p


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m o baixo nível Ponte Branca

o reservatório z. Com visivel o, o rio Pardo ma-das às aupelo jornal 360

O que pode ser feito para reverter esse processo? Quem mora nas áreas urbanas também pode colaborar fazendo o uso consciente da água e compensá-lo com áreas permeáveis, como gramados no quintal, jardins e calçada, para que haja recarga do aquífero. A prefeitura deve agir expandindo as áreas verdes pelos bairros. Plantar grandes árvores e implantar bacias de infiltração cobertas com pedras, pedriscos e areia, que armazenam a água que escorre das chuvas, que por sua vez, infiltra no solo, recarregando o lençol freático. Em épocas de estiagem essas bacias podem ser usadas para a prática de esportes como vôlei e futebol de areia. As autoridades que atuam no setor, como o Ministério Público, as secretarias de Meio Ambiente e organizações de defesa do Rio Pardo, também devem agir no sentido de fiscalizar o uso da água, tanto em áreas rurais quanto nas áreas urbanas. Além disso, devem orientar proprietários rurais sobre a importância da preservação de matas nativas e das reservas legais, que ajudam a produzir chuvas regionais e na infiltração da água no solo. Deve haver rigor na preservação das matas ciliares, com a reposição nas áreas desprotegidas e a fiscalização das ações de mitigação ambiental previstas para a barragem do rio em Águas de Santa Bárbara. Nas áreas urbanas, vereadores e prefeitos devem elaborar leis definindo porcentagens dos lotes a serem mantidos permeáveis. Isto reduz a velocidade de escoamento superficial das águas diminuindo as inundações e ainda aumenta a infiltração de água no solo, recarregando o lençol freático. Se estas leis já existem, como no caso de Ourinhos, deve haver a fiscalização e a exigência do seu cumprimento. Também é fundamental que seja mantida arborização urbana com espécies adequadas a cada condição, pois sua existência auxilia nos processos listados acima. Se cada um fizer sua parte, a quantidade de água do Rio Pardo tende a ser estabilizada a médio prazo mantendo sua capacidade de atender aos múltiplos usos que atualmente suas águas permitem. Edson Pirolli

2010

Cronologia da luta pela preservação do rio Pardo

• A população toma conhecimento dos projetos de PCHs no Rio Pardo. Começa o movimento em Santa Cruz do Rio para avaliar os riscos desses projetos para a cidade e para a região. • Sem a mesma força comunitária e uma base técnica que lhes desse suporte, as prefeituras de Águas de Santa Bárbara e Iaras apoiam os projetos e lhes concedem a Certidão de Uso de Solo.

2011 2012

• Uma abrangente e longa reflexão toma conta de Santa Cruz e região. A ONG Rio Pardo Viveo assume importante liderança no movimento de conscientização da po-pulação e das autoridades.

• Em meio às Audiências Públicas realizadas em Santa Cruz, um grupo de representantes do setor produtivo [produtores rurais e empresários], técnicos, ambientalistas, educadores e imprensa se forma e obtém apoio do executivo, do legislativo e da comunidade em defesa do rio. Nasce o movimento em defesa pelo Rio Pardo Vivo.

2013

• A Câmara Municipal de Santa Cruz e o Executivo aprovam com unanimidade uma lei proibindo barragens no rio Pardo dentro dos limites do município. A prefeitura não concede a Certidão de Uso de Solo ao projeto. Por essas medidas, a CETESB veta os três projetos propostos situados na cidade. • As empreiteiras entram com recurso e, apesar de derrubarem na justiça a lei municipal, os projetos não obtêm autorização da CETESB pela falta da Certidão de Uso de Solo. Apesar da negativa, o caso ainda tramita na justiça.

2014

• Com a situação contornada em Santa Cruz, a ONG Rio Pardo Vivo promove reuniões em Iaras e Águas de Santa Bárbara. Apesar de terem concedido documentos autorizando as obras, gestores e a população são informados a respeito da destruição que as barragens significam para os municípios, para a agricultura e para o meio ambiente. • Um Projeto de Lei preservando o rio Pardo é proposto à ALESP. • Em Águas de Santa Bárbara, um novo governo e o Legislativo apoiam o movimento e criam lei municipal proibindo as obras, a exemplo de Santa Cruz. Também julgada inconstitucional, a lei é derrubada. As autorizações pré existentes prevalecem e o município não consegue conter as obras. Começa o desmatamento em Águas de Santa Bárbara.

2015

• Diante do desmatamento sem precedentes em Águas de Santa Bárbara, um grande movimento é iniciado. Com a liderança do movimento pelo Rio Pardo Vivo e da ONG Rio Pardo Vivo e apoio do ambientalista Fabio Feldmann, voluntários promovem uma série de ações em São Paulo, Santa Cruz e Águas de Santa Bárbara, num intenso esforço para conter o desmatamento. Até que um processo movido pelo GAEMA obtém liminar judicial suspendendo o desmatamento e qualquer obra na área do rio Pardo. • A empreiteira recorre e a Justiça de São Paulo exige que o processo seja transferido para São Paulo, derrubando a liminar. As obras começam.

2016 2017

• Apesar de autorizadas, as obras ficam paradas em Águas de Santa Bárbara até que no final do ano, são retomadas. Enquanto a ação movida pelo GAEMA não avança na Justiça, membros do Movimento Rio Pardo Vivo buscam as intâncias cabíveis para conter o desmatamento.

• Uma nova batalha marca este período, com ações públicas e junto às autoridades. As visíveis irregularidades das obras da PCH Ponte Branca, em Águas de Santa Bárbara, são alvo de denúncias do Ministério Público junto aos órgãos fiscalizadores. A CETESB apura as irregularidades e aplica multas e embargos, estes, não cumpridos. •Enquanto isso, mais um Projeto de Lei preservando o rio Pardo é apresentado e aprovado na ALESP, mas aguarda votação como o anterior.

2018

• A situação é crítica para o rio Pardo. Enquanto as obras avançam a passos largos em Águas de Santa Bárbara, a presidência da ALESP mantém os PLs em banho-maria,numa atitude nada condizente com o dicurso ambientalista do governo e dos deputados. • A justiça também emperra o processo do GAEMA com artimanhas burocráticas e a CETESB permite o atraso no acerto de contas dos crimes ambientais cometidos nas obras. É como se não estive em risco um rio limpo de 264 km. A obra é financiada pelo governo de São Paulo.

2019

• A justiça de São Paulo julga o processo do GAEMA improcedente e o órgão recorre. Enquanto isso, a obra avança em Águas de Santa Bárbara. • Uma nova ameaça surge para o rio Pardo com um projeto criado pela prefeitura de Botucatu, prevendo a construção de um reservatório de água formado logo após a foz do rio, em Pardinho, para suprir possíveis déficits de abastecimento de água da cidade. Apesar dos alertas da ONG Rio Pardo Vivo, o projeto é aprovado pelos órgãos responsáveis.

2020

• As obras em Águas de Santa Bárbara são concluídas e o reservatório começa a ser formado, comprometendo o fluxo de água do rio Pardo • O processo 5009579-65.2018.4.03.6100 é julgado improcedente na Justiça Federal de São Paulo e o GAEMA recorre • Resíduos abaixo da barragem de Águas de Santa Bárbara assoreiam as margens do rio, diminuindo seu potencial de navegação • Sistemas de irrigação são autorizados a funcionar fazendo uso de água do lençol freático e das nascentes dos efluentes do rio Pardo e proliferam na região • O desmatamento contínuo de matas e florestas nativas interfere no biossistema e a região se depara com grave estiagem. • A ONG Rio Pardo Vivo promove reflorestamento das cabeceiras do rio Pardo. • O Movimento Rio Pardo Vivo promove uma expedição para avaliar a situação do rio nas áreas da barragem Ponte Branca e em Iaras.


O que dizem as autoridades que podem zelar pelo rio Pardo municípios de Iaras e Águas de Santa Bárbara. O objetivo foi avaliar as razões do baixo nível de águas do rio. Em Iaras, visitamos o local onde está prevista a construção da PCH São Francisco e conversamos com alguns moradores locais. Preocupados com as consequências da obra, caso seja implantada, ele apontaram que o volume de água do rio tem reduzido nos últimos anos e temem que o uso excessivo de suas águas na irrigação de lavouras acabe com o Rio Pardo. Mostraram-se também preocupados com a destruição da natureza em torno do rio, que é bastante conservado, com amplas áreas de matas ciliares que protegem suas águas. Ao analisar tecnicamente as condições das matas ciliares, foi possível verificar que a maior parte do leito do rio encontramse relativamente bem preservada, com muitas espécies nativas adultas que compõem um ecossistema rico. Essas árvores oferecem abrigo para a fauna silvestre, composta principalmente por pássaros e também para espécies vegetais. Como exemplo, vemos um jequitibá ao lado da ponte, em Iaras, que tem um século de idade ou mais, com seus galhos e tronco abrigando um verdadeiro bioma composto por outras espécies que o usam como hospedeiro ou abrigo. Na sequência, visitamos a área onde foi construída a represa Ponte Branca em Águas de Santa Bárbara. No local verificamos que uma vasta área de mata ciliar foi suprimida para o alagamento. Também as margens da foz do Rio Novo que eram bem conservadas, foram ocupadas por água da represa, perdendo-se toda riqueza natural e ambiental que ali existia. À distância, observamos uma estrutura que indica a existência de uma escada para peixes. É importante apurar como ela está sendo operada. Outras questões foram surgindo, como o cumprimento de mitigações previstas no projeto da barragem, que inclui geração de empregos, acesso ao lago para lazer e reposição da mata ciliar no entorno da represa. Próximo à represa, foi possível observar que os produtores rurais fazem a sua parte, adotando técnicas agrícolas que promovem a recuperação das águas, como o plantio direto, que contribui para maior permeabilidade do solo, e os terraços em nível nas plantações, que evitam a erosão, trazendo benefícios ambientais e financeiros para os produtores. Seguimos para o Balneário Municipal de Águas de Santa Bárbara, que fica abaixo da represa. No local, observamos que além das águas do Rio Pardo estarem muito baixas, há notáveis assoreamentos ao longo de suas margens, que podem decorrer das obras da barragem construídas logo acima. Concluímos que é recomendado um estudo mais aprofundado sobre a origem destes problemas ambientais e a busca das responsabilizades e compensações por parte das autoridades competentes. Prof. Dr. Edson Pirolli, Engenheiro Florestal, Mestre em Engenharia Agrícola, Doutor em Agronomia e Livre Docente da UNESP. Autor do livro “Água: por uma nova relação” (Paco Editorial)

A ONG Rio Pardo Vivo se mantém atuante na defesa do rio Pardo e na busca de soluções para sua constante recuperação. Em relação ao bai-xo nível do rio, está acontecendo o que temíamos: a perda de 5 a 8% da capacidade do rio com a barragem de Águas de Santa Bárbara. O rebaixamento da calha do rio já está sendo sentido em toda a região abaixo da barragem de Santa Bárbara até Salto Grande. Além disso, faltou bom senso da administração da PCH, pois escolheram épocas errada para o enchimento de seu reservatório numa época de baixa de rio, que vai de março a setembro, quando não há chuva.

Teste de vocabulário hídrico 1: LENÇOL FREÁTICO

Locais de acúmulo de água na superfície terrestre.

2: BACIA HIDROGRÁFICA

Vegetação nativa ao redor de corpos d´água e nascentes.

Há cerca de três meses, entramos em alerta porque o o volume do rio nesta época de estiagem já é baixo e de repente a vazão em Santa Cruz caiu de 30 m3/s para 9 m3/s, prejudicando a captação nos municípios abaixo de Águas de Santa Bárbara. Por isso, acionamos o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), que averiguou o problema e notificou a PCH, que foi obrigada a a aumentar a vazão do rio.

3: LÂMINA D´ÁGUA

Área onde ocorre o acúmulo de água dentro do solo.

4: AFLUENTES ou TRIBUTÁRIOS

Capacidade do solo de infiltrar água.

5: NASCENTE

Superfície da água em reservatórios e rios.

Diante dessa situação e com a ameaça de construção de novas barragens, o que temos feito é promover o reflorestamento e a manutenção da fauna e da flora nas cabeceiras do rio. Em parceria com a UNESP de Botucatu, no último ano delimitamos uma grande área na cabeceira do rio, entre Pardinho e Botucatu, onde foram plantadas mais de 12 mil mudas de árvores. Também participamos, juntamente com outras organizações, da Sala de Situação, onde são copilados os dados das vazões de água de nossa região, acionando a hidrelétrica de imediato para manter a vazão sanitária do rio sem prejudicar o abastecimento, até o seu enchimento total da barragem.

6: MATAS CILIARES

Área de vegetação original típica da região.

7: MANEJO DO SOLO

Rios que contribuem com suas águas para um rio principal.

8: PERMEABILIDADE DO SOLO

Área onde a água escoa para um mesmo rio.

9: CORPOS D´ÁGUA

Local onde a água subterrânea brota na superfície da terra.

10: MATA NATIVA

Uso de técnicas adequadas para proteger solo e água.

É importante ressaltar que estamos sempre atentos quanto à qualidade das águas e da condição ecológica do rio. Hoje, as maiores dificuldades são a supressão de mata ciliar em vários trechos do rio, os corredores ecológicos, pontos de assoreamento, o lançamento de esgoto in natura em Ourinhos e os projetos de barramentos. Ou seja, há muito o que fazer para preservar o rio Pardo. Luiz Carlos Cavalchuki, Fundador da ONG Rio Pardo Vivo, Encarregado

de Produção de Água da Sabesp e Gestor Ambiental e de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas pela UNESP

Câmara Sta. Cruz

Acredito que o Rio Pardo seja o maior patrimônio de todas as cidades que ele atravessa. Estamos num momento de muita preocupação, nunca vi o rio tão baixo, com tanta pedra. Como vereador, tenho me movimentado, comunicando o MP de Meio Ambiente da cidade e instâncias superiores, como o GAEMA, através de ofícios, solicitando que a situação seja averiguada. Mas acho que precisa mais, do envolvimento de outras cidades incluindo poderes públicos e organizações, como a ONG Rio Pardo Vivo. Estamos vendo um prejuízo muito grande por causa da PCH,ela tem que dar a vazão que já existia do rio. E não estamos vendo isso. Cristiano Miranda, Vereador de Santa Cruz do Rio Pardo e

Técnico em Meio Ambiente pela ETEC

GAEMA

A ação movida pelo GAEMA em 2015 junto à Justiça Federal, solici-ta a suspensão de obras das PCHs no rio Pardo até que seja feita uma Análise Ambiental Integrada (AAI) a respeito do impacto das cinco obras previstas. O processo de número 500957965.2018.4.03.6100 foi julgado improcedente em março de 2020 pelo juiz da 10ª Vara Cível Federal de São Paulo. O GAEMA entrou com recurso e o processo encontra-se em trâmite no Tribunal Regional Federal desde 18/08/2020, aguardando julgamento. No final de outubro o Gaema recebeu ofício do vereador Cristiano Miranda, de Santa Cruz, solicitando inspeção na PCH de Águas de Santa Bárbara, para investigar suas possíveis responsabilidades sobre o baixo nível do rio. “O procedimento está em andamento, no qual serão investigadas as causas e as providências necessárias. Caso se conclua, que a atribuição é do GAEMA, as providências serão adotadas por este Núcleo Especializado e, em sendo de outra Promotoria de Justiça, será encaminhado àquela que possui atribuição para adotar as providências necessárias.

Dr. Luis Fernando Rocha, Promotor de Justiça

e Secretário do GAEMA (Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente) do Médio Paranapanema

Resposta: 9-6-1-8-3-10-4-2-5-7

último dia 03 de novembro, fizeProf. Pirolli No mos a expedição ao Rio Pardo nos


7 • agronegócio

Irrigação requer uso responsável da água

Cada vez mais comuns nas grandes lavouras, os pivôs de irrigação aumentam a produtividade, mas devem ser usados de maneira racional e sustentável. Veja como a Romalure, maior produtora de grãos de Santa Cruz do Rio Pardo, utiliza o sistema com eficiência. Entrevista exclusiva com Mateus Biazoti Ferrari, diretor da empresa e estudante de Agronomia

tem carbono orgânico ali para elas comerem. Ou seja, a palhada evita a evaporação e promove a diminuição da temperatura do solo, o que favorece o desenvolvimento dos micro-organismos que nutrem o solo. Hoje, com um teste delaboratório de análises biológicas comparando um grama de terra em solo de plantio direto e um grama de terra em solo de plantio convencional, você vê que ali a quantidade de micro-organismos no solo de plantio direto é muito maior. E esses micro-organismos são vida!

360: Tudo isso no município de Santa Cruz ou você pega também outros municípios? MATEUS: Em Santa Cruz, são cerca de 2.200 hectares. Também temos cultivo em Águas de Santa Bárbara e Óleo. 360: Onde que está tua área irrigada? MATEUS: Só em Santa Cruz. 360: Eu queria que você me falasse, comparando, por que você tem irrigação em uma área e em outra não. MATEUS: A irrigação, do ponto de vista de uso ou não uso, se refere, basicamente, a duas questões. Primeiro, a viabilidade econômica da área; depois, a viabilidade do recurso hídrico. Então, tem área onde o recurso hídrico não comporta o uso da irrigação e tem área onde a viabilidade econômica, devido à distância da energia chegar até o local, se torna inviável esse recurso. Esses dois pontos que limitam as áreas irrigadas. 360: Você tem uma diferença de resultado produtivo das áreas irrigadas e não irrigadas? MATEUS: Sim. O potencial produtivo das áreas irrigadas é, na maioria das vezes, maior. 360: Qual a porcentagem? MATEUS: Acho que, nas culturas de verão, em torno de 10% a 15%. Mas nas culturas de inverno, onde, geralmente, falta chuva, aí a gente fala de uns 60%, é um valor maior. 360: Como se implanta um sistema de irrigação no campo? MATEUS: O sistema de irrigação no campo se instala da seguinte forma: Primeiro, a gente define a área e vai atrás de um engenheiro florestal para que ele obtenha as licenças necessárias e avalie se o recurso hídrico do local é apropriado para tal. A partir dessa avaliação, a gente vai para a questão de energia elétrica. Então, o pessoal da concessionária de energia elétrica da região também faz um estudo de viabilidade elétrica da região. Tendo esses dois “OKs’”, vem a terceira parte que é o dimensionamento da irrigação propriamente dito. Dimensionamos a área que ela vai conseguir abranger e, enfim, a parte de orçamento. Depois disso tudo feito, a gente implanta a irrigação de fato.

foto: Flavia Rocha | 360

360: Qqual é o tamanho da sua área produtiva em Santa Cruz do Rio Pardo e região. MATEUS BIAZOTI FERRARI: Hoje, aqui em Santa Cruz, a gente cultiva grãos. Soja, milho, trigo e feijão são as nossas quatro principais culturas, em uma área de aproximadamente 2.500 hectares, sendo 500 hectares irrigado.

* Matheus Biazoti Ferrari, estudante de Agronomia da Esalq (USP de Piracicaba) e gestor da Romalure, produtora de grãos de Santa Cruz do Rio Pardo, em frente ao açude e ao campo de soja cultivada sobre palha de trigo e irrigada segundo normas do DAEE. Uso consciente da água em benefício do agronegócio e do meio ambiente * 360: Tem que ter uma outorga do DAE? MATEUS: É. Hoje, a gente precisa de uma outorga do DAE, Departamento de Água e Energia Elétrica, que controla o uso de recursos hídricos do Estado de São Paulo. 360: E como é que funciona isso? Por exemplo, ali na Fazenda Nossa Senhora Aparecida, a gente vê um grande reservatório, tem, também, perto do trevo, uma tubulação e mais para cima tem uma área grande, na sua fazenda mesmo. Como aquilo foi construído, qual o volume de água que você capta e de onde vem essa água? MATEUS: Então. O volume de água, de cabeça, não vou saber te falar, tenho que estudar e fazer a conta, mas os açudes que ali existem são da época da Fazenda Solange. Quando meu pai adquiriu a propriedade já vieram com os açudes, o que a gente fez foi reformá-los porque teve um açude que estava com risco de romper. A gente esgotou o açude de baixo em virtude da obra que estava sendo feita no de cima, que foi feito em cima do barro mole, que se fala, porque, para você fazer um açude, tem que fazer a base dele com rachão depois erguer com terra para ficar firme e não correr o risco de partir. Na época da Fazenda Solange, acho que não tinha essas técnicas. Então, ele tinha vários pontos de infiltração. Aí a gente limpou, colocou as pedras por baixo para firmar. 360: Como você repõe a água dos açudes no lençol freático e qual o controle que você tem disso dentro do seu negócio? MATEUS: Hoje, as nossas ligações são feitas em cima de um balanço hídrico agronômico. A gente trabalha com uma empresa de consultoria. Eles pegam os dados meteorológi-

cos, tem uma estação meteorológica na fazenda, em cima do estudo feito para aquela cultura implantada, por exemplo, o milho. Para cada dia de evolução do milho, quantos litros de água ele vai consumir em função das condições de tempo real do local. E vale em função de temperatura, velocidade do vento, umidade do ar, enfim, N fatores que são colocados numa fórmula para calcular a demanda hídrica. É o que eu falo, tudo culmina no desenvolvimento sustentável. E quais são as duas variáveis para esse balanço hídrico ser eficiente? Primeiro, eu não vou colocar água ali que não seja absorvida pela cultura, não vou jogar água fora. E segundo ponto, eu vou ser eficiente no uso da energia elétrica. Quer dizer, se eu jogasse água por jogar, eu ia ter um consumo de energia maior. São esses dois pontos que a gente se atenta para não exceder. 360: A reposição se dá pelo plantio direto? MATEUS:O plantio direto chegou na nossa região nos anos 2000. Na década de 80, começou no Brasil, na região Ponta Grossa e na região de Londrina. Por esses dois senhores, que estão vivos até hoje e têm cerca de 90 anos de idade, Franke Dijkstra e Herbert Bartz. O plantio direto consiste na implantação da cultura seguinte em cima da palhada, no revolvimento do solo da cultura anterior. E o que isso garante de benefício para o produto e para o meio ambiente? O fato é a questão ambiental, a gente usa a água de forma mais eficiente. Então aquela palha que revolve o solo não deixa o sol incidir diretamente sobre o solo, assim a evaporação é menor. Além disso, onde você tem palha, as atividades biológicas e microbiológicas ficam ativas porque tem alimento,

360: Segundo o professor Piroli, o plantio direto também permite que a água escorra para o centro e retorne para o lençol freático porque não tem compactação, é isso? MATEUS: Isso. Em áreas de plantio direto, o volume de raiz por metro cúbico de solo é muito maior também. Então, as raízes funcionam como micro túbulos que ligam a superfície ao lençol freático. O solo é um filtro e quando você joga uma água, por mais oportunidade que ela tenha, ela vai chegar ao lençol freático em condição de consumo de novo. Então, vamos pensar assim, quando a gente joga água, irriga ou quando a própria chuva chega na superfície do solo e se você tem esses micro túbulos que não deixam criar uma camada compactada entre a superfície do solo e o solo essa água vai percorrer e chegar ao lençol freático de novo. 360: Desses 2500 hectares, que você tem, quanto é plantio convencional e quanto é plantio direto? MATEUS: Hoje, 100% é de plantio direto. É uma evolução que a gente foi implantando. Eu costumo dizer que o desenvolvimento sustentável é muito, mas muito, economicamente viável no longo prazo. Você evita o efeito rebote, como a gente chama na agricultura, que é quando as pessoas aplicam determinado produto visando uma praga que está ali no campo hoje, mas esquecem que se aplicar esse produto determinada época do ano estão matando um inimigo natural que pode combater essa praga naturalmente amanhã. Então esse uso racional tanto de defensivos quanto do plantio direto pode ser, no curto prazo, algo oneroso. A planta é um ser vivo que interage com os micro-organismos do solo e quanto mais micro-organismos, mais produtividade. O solo do plantio tradicional não armazena água porque não tem uma rede de raízes no solo, não tem a palhada segurando a umidade. Então em cinco, seis anos de plantio direto, os custos da lavoura já se paga e sobra dinheiro no bolso. Então, costumo dizer que a gente tem que apostar nessa questão. (continua >


Fotos: Flávia Rocha | 360

* Mateus Ferrari nos mostra a área de reflorestamento em torno do ribeirão que passa pela Fazenda N. Sra. Aparecida e abastece seus açudes e o sistema de plantio. direto com manejo do solo usando trigo, que produz um herbicida natural e protege o solo retendo também a água que é filtrada e devovlida ao aquífero. “Mesmo quando o açude está com pouca água mantemos o mesmo nível de vazão determinado pelos órgãos competentes”, garante o agroempresário que está à frente da Romalure *

Permanente, que se enquadra em regiões onde a preservação é obrigatória, que são as beiras de rio, propriamente dita, e, também, os morros;

360: E, progressivamente, vai diminuindo o uso de herbicida, também? MATEUS: Isso. No longo prazo, é possível porque a gente tem que racionalizar os processos. Tem plantas que, ao serem cultivadas, têm efeito alelopático, que não deixam a daninha surgir. Então, a primeira coisa a fazer é identificar qual daninha é o problema na sua região. Depois, qual a cultura que tem efeito alelopático sobre ela. Um exemplo é o trigo, que a gente planta. A nossa região não planta muito trigo.

360: Por isso que a gente vê, por aí, nomeio de plantações, um tufo de árvores, que eu chamo de oásis? Aquilo é um APP? MATEUS: Isso, aquilo é um APP, também. Eu não tinha muito esse conhecimento, passei a ter em virtude de algumas aulas que tive de Reserva Legal. Hoje, as nossas Áreas de Preservação Permanente são todas demarcadas nesse sentido. Você deve ter visto, ali, na Fazenda N. Sra. Aparecida, não na parte que é açude, na parte que é rio, tem uma mata nativa que a gente plantou.

360: E por que você planta o trigo? MATEUS: Porque as raízes do trigo desprendem uma substância que são naturalmente herbicidas. Então, se em determinada área aparece uma planta daninha que não cresce por causa dessa substância, você planta o trigo para controlar essa planta daninha.

360: Você faz reflorestamento também? MATEUS: Nas regiões de APP, sim. Na área que é curso da água, está tudo reflorestado. Já nas áreas de açude, em virtude até da dificuldade de entrar com máquinas, é difícil fazer o reflorestamento.

360: E controla? MATEUS: Controla. 360: E ainda você vende o trigo? MATEUS: E ainda vendo o trigo. Então, o processo tem que ser racionalizado, a gente tem que identificar qual é o problema em determinada área. Tem uma frase de um engenheiro agrônomo, que já morreu, Dirceu Gassen, que eu gosto muito, fala assim: “O sucesso na agricultura é em função do conhecimento aplicado por hectare.” Acho que tudo se resume a isso. Então vamos botar tudo na mesa: quais as opções que a gente tem, os problemas com qual daninha, irrigação ou não irrigação, onde a gente pode fazer cada coisa, que área tem problema de escorrimento superficial; precisa fazer criogenia, não precisa... 360: O que são os degraus nas plantações? MATEUS: São curvas de nível. No Paraná, que é um Estado que tem uma declividade um pouco maior, é até lei ter curva de nível. Aqui em São Paulo, não é lei, mas é uma questão de conservação de solo. No Rio Pardo, as terras que margeiam o rio têm uma textura vermelha argilosa que quando chovia escorria essa terra toda dentro do rio. Então, quais foram os dois caminhos que os agricultores encontraram para evitar isso? Porque quando causa essa erosão toda, aquela camada fértil do solo também se vai, então todo

aquele adubo, aquele fertilizante vai para o rio, você tem um prejuízo econômico porque você está deixando de aproveitar aquele fertilizante. E para o rio tem um problema ambiental gigantesco. Então, como resolver esse problema? Primeira prática: curva de nível. Que são feitas de acordo com cada área, cada declividade e são projetadas para quebrar a velocidade da água. E o plantio direto também, porque a palha sobre o solo evita que a água percorra o solo muito rápido criando canais de preferência. 360: Conhecendo a região, todo mundo está aderindo ao plantio direto? Como é isso? MATEUS: As culturas de grãos, propriamente ditas, acho que, hoje, 90% das áreas cultivadas de grãos são adeptas do plantio direto. Outras culturas, eu já não tenho esse conhecimento da porcentagem que é utilizado. 360: Outro aspecto importante da questão dos nossos recursos hídricos, as matas que alimentam nossos recursos hídricos. Como é essa situação da Reserva Legal de mata nativa na sua propriedade? MATEUS: Dentro da Reserva Legal, os 20% exigidos por lei, a gente tem a parte da mata nativa e a parte de APP, Área de Preservação

360: Qual a relação do seu negócio com a CETESB, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, que é responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de poluição com a preocupação fundamental de preservar e recuperar a qualidade das águas, do ar e do nosso solo.? MATEUS: Na Fazenda Nossa Senhora Apare-

cida, a gente teve um processo de compensação com a CETESB, faz uns quatro anos, mais ou menos. A gente tinha cerca de 12 árvores isoladas que tivemos que reflorestar. Para cada árvore arrancada, a gente teve que plantar 20 árvores. Esse reflorestamento está em frente ao Posto Kafé. 360: Órgãos governamentais fazem a fiscalização? Como é aferido? Você tem que prestar contas? É computado pela CETESB? MATEUS: Tudo é computado. Temos que apresentar fotos, tem um engenheiro florestal responsável que fez o procedimento. 360: Vamos supor que daqui a 2 ou 3 anos tenhamos metade do volume de água disponível ou que você precise de mais recursos para extrair a água. O que a diminuição do volume considerável de água pode impactar no seu negócio? MATEUS: Essa é uma pergunta bem triste e difícil de responder. 360: Pode se tornar realidade, se a gente não agir. Santa Cruz é a única cidade da região onde há um movimento de pessoas conscientes sobre a importância do rio, nenhuma outra fez o que a fizemos nos últimos anos. Então, vamos ter que agir, porque senão a gente vai sim ter um problema sério no abastecimento de água porque, além da barragem de Santa bárbara, estão autorizadas uma barragem em Iaras e um reservatório de água em Botucatu. E segundo, os estudos do professor Pirolli, que é um mestre no assunto, pelas suas características, o rio Pardo pode não vai aguentar tanta interferência. Então, pergunto: o que aconteceria na agricultura local se começasse a faltar água? MATEUS: É difícil mensurar o prejuízo econômico para a cidade, mas travaria todas as esferas da agricultura. Tem muita gente que irriga suas hortas, estufas. Pequenos produtores como o senhor que vende alface, tomate na feira. E os grandes produtores também seriam impactados. A maior parte do PIB da nossa cidade vem dos alimentos. Sem água não tem alimento. Água é vida.


9 • meninada

AUTOestima em ALTA Quando Pingo nasceu, ele era um pingo de cachorro e nunca latia e, por ser um pingo, recebeu o nome de Pingo. Depois cresceu, cresceu e ficou grandão, mas continua silencioso. Só late quando percebe que é importante latir, como nós humanos que gritamos somente quando só o grito resolve. Onde Pingo mora há muitos cachorros bem pequenos que latem muito por qualquer coisa e até por coisa nenhuma. Pingo se diverte quando os cachorrinhos latem ardido ao vê-lo passar e, cada latido parece um chamado para outros cachorros latirem.

Solução

Quando toda a cachorrada está latindo, Pingo se põe de importante e Alvinho se diverte ao vê-lo desfilar garboso com tudo apontando para cima, o focinho, as orelhas, o rabo, silencioso, porque, nessa hora ele precisa se concentrar para não mostrar que está morrendo de rir por dentro pensando: eles devem achar que eu sou um príncipe, um rei, o senhor do universo e segue rindo porque ninguém imagina o que ele está pensando.

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Sobre o Rio Pardo

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O Rio Pardo tem sua nascente no município de Pardinho junto Serra do Limoeiro. O Rio Pardo desce rumo ao sudoeste do Estado de São Paulo, passando Botucatu, onde temos a Cascata Véu de Noiva e do Mandacaru. O Rio Pardo é a fluente do rio Paranapanema próximo às cidades de Ourinhos e Salto Grande. Seus principais afluentes são o Rio Claro, de 72 km, que tem sua nascente em Botucatu e se torna afluente do Rio Pardo na cidade de Iaras; o Rio Novo, que tem 72 km, com nascente em Itatinga e se torna afluente do Rio Pardo em Águas de Santa Bárbara; e o Rio Turvo, de 130km, com nascente em Agudos, que deságua no rio Pardo em Ourinhos.

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Em Santa Cruz, única cidade a levar seu g nome, o Rio Pardo é atração com o Salto k do Menegazzo, Saltinho e a tradicional Corrida de Boia.

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10 • cidadania

Criada por membros de uma congregação espírita no dia 19 de novembro de 1950, a entidade sem fins lucrativos se concentrou no acolhimento de meninos até 18 anos, o que levou a ser chamada de “Lar Espírita” por uns e “Lar dos Meninos”, por outros. Com a instituição do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), em 1990, o “Lar”, como é hoje conhecido, passou a abrigar também meninas menores de idade. Em 2019, com a necessidade de atender maiores sem condições de se estabelecer socialmente, a entidade criou a Residência Inclusiva “Fonte de Amor”, dedicada ao público masculino. Para tanto, o “Lar” cresceu e organizou-se. E caminha a passos largos para uma situação que lhe permitirá depender cada vez menos de donativos e verbas públicas. Administração e carinho – A mudança de ares da entidade, que vinha sofrendo com o desgaste de ter que abrigar até 80 crianças, começou em 2015 quando a diretora Alice Cabral Rheder Nardo convidou o empresário Mario Sérgio Manfrim, dono de uma das maiores empresas da região, para dirigir a entidade. Já frequentador da casa, que visitava para dar atenção às crianças, Mario assumiu a direção do “Lar” adotando seus internos da mesma forma com que trata os colaboradores de sua empresa, que, aliás, aceitaram participar da administração e manutenção da entidade: com amor e profundo respeito. Isso significou reestruturar e capacitar a equipe de profissionais que cuidam da entidade e dos acolhidos, reformar as instalações que estavam bastante depreciadas pelo tempo e pela falta sistêmica de recursos, e desenvolver um plano de ações para geração de renda a curto, médio e longo prazos. Para gerar os recursos imediatos, Mario agiu com duas fontes de captação. A primeira, levando a própria empresa a colaborar sistematicamente com a entidade e

* Mario Sérgio Manfrim e Cássia Campidelli (à direita) com duas voluntárias que por anos cuidaram do “Lar da Criança”: Odete Adorno (à esquerda) e Nadir Romualdo. Abaixo, o Bazar do Lar , abastecido com itens de qualidade doados por empresas e pessoas da cidade *

Fotos: Beto Magnani para o 360

Uma entidade beneficente, por sua razão de ser – ajudar os menos favorecidos – sempre está às voltas com o desafio de gerar recursos para o seu sustento. Ou seja, sofre com a questão da sustentabilidade, inerente a qualquer empreendimento, seja ele para interesses privados, públicos ou comunitários. O “Lar da Criança”, entidade que acolhe menores em situação de abandono, negligência ou risco de Santa Cruz do Rio Pardo, chega aos 70 anos com fôlego, renovado e devidamente encaminhado para o auto-sustento.

Foto: Flávia Rocha | 360

Foto: Beto Magnani para o 360

Lar da Criança faz 70 anos com fôlego e renovado

criando uma campanha de doação mensal junto aos colaboradores. Também fomentou o bazar de roupas e objetos seminovos e usados da entidade , que hoje funciona de forma muito bem organizada, como uma loja. Cuidar do presente com foco no futuro – Para completar a geração de renda, o novo diretor criou uma grande festa julina, realizada com a participação voluntária de empresas da cidade e profissionais de infra-estrutura e entretenimento. Reunindo milhares de pessoas num animado evento caipira em pleno centro da cidade, a festa tem muitas atrações, inclusive com a apresentação das crianças e internos da entidade, muitos quitutes e faz tanto sucesso que nos últimos dois anos foi estendida para o domingo, com a realização de um almoço que já começa com todos os pratos vendidos. “Este ano, por causa da pandemia, tivemos que cancelar e fizemos apenas um delivery do Yakissoba e sobremesas, mas ano que vem, se Deus quiser, o ‘Arraiá do Lar’ estará de volta”, faz questão de avisar o diretor da entidade. O tamanho do evento anual é proporcional à renda que ele gera. Os recursos gerados pelas festas são usados para custear o visionário plano de auto-sustento para médio e longo prazos: o aproveitamento imobiliário da grande área que circunda a entidade, onde já havia locação de espaço para uma grande horta, uma floricultura e uma academia, cujos alugueis revertem para o “Lar”. “A entidade possui alguns imóveis que estão alugados e ajudam nas despesas. Decidi então ir desmembrando o terreno em torno da casa e construir casas e pontos comerciais, que são alugados, aumentando a renda mensal da entidade”, explica o diretor.

Segundo ele, o projeto imobiliário se desenvolve de duas formas: com a renda das festas julinas – cada duas edições do “Arraiá do Lar” financiam a construção de um imóvel – ou por comodato, quando o inquilino arca com os custos da obra em troca de um período de isenção do aluguel, constituindo um investimento para ganhos no


Fotos: Beto Magnani para o 360 Fotos: Flávia Rocha | 360

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* Instalações reformadas com a renda do Arraiá anual e dos imóveis alugados *

A qualidade das edificações, a localização no centro da cidade e o caráter benemerente do aluguel, tornam os imóveis diferenciados. “É uma rua movimentada e com muito espaço para estacionar, não tem zona azul. Estamos muito felizes com o retorno que estamos tendo. Tanto que já fechamos mais um contrato de comodato para ampliar o empreendimento”, diz Letícia Crivelli, que abriu uma grande loja de presentes através do sistema de comodato e está muito satisfeita com o resultado. “Mesmo inaugurando em plena epidemia, estamos indo muito bem”, diz a comerciante que acredita que pagar um aluguel para uma entidade tem um diferencial de satisfação e sorte. “Se você perguntar para os outros comerciantes, todos vão concordar que aqui temos algo muito especial”, afirma. Aqui tem carinho – A sensação de caridade efetiva que permeia as palavras de uma das inquilinas dos imóveis do “Lar”, faz todo sentido. A exemplo do slogan da marca que estampa milhões de produtos da sua empresa, Mario levou para a casa de abrigo também o seu coração. Primeiro, passou a frequentar a casa com mais frequência e abriu também as portas da sua casa para todos. No Natal, é lá que que eles se reúnem, com direito a receber das mãos do Papai Noel exatamente aquilo que pediram. Sua visão humanitária também envolveu fomentar a presença das famílias das crianças na entidade. E o resultado desse esforço de reintegração familiar foi festejado por ele na missa que reuniu poucas (por causa da epidemia), mas importantes pessoas da história dos 70 anos do Lar. “Hoje temos apenas cinco crianças acolhidas na casa, além dos adultos. Isso para mim significa estarmos vivendo o melhor ano da entidade, pois nada é melhor para um criança do que viver com sua família”, destacou, claramente emocionado.

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futuro. “Atualmente temos neste terreno a horta, três casas residenciais e três pontos comerciais, sendo um consultório, um pet shop e uma grande loja e de presentes, que já alugou outro terreno para ampliação do empreendimento”, conta Mario.

O diretor da casa de acolhimento, aliás, acredita que este deve ser o objetivo de uma casa de acolhimento. “A entidade de abrigo é muito importante, mas os poderes públicos deveriam investir mais na formação e estruturação familiar, que com certeza seria muito mais barato e lucrativo para a sociedade”, avalia.

Para as crianças que continuam na entidade e as que precisarem de abrigo, o “Lar da Criança” permanece de portas abertas, com uma estrutura totalmente renovada e um espírito de solidariedade muito bem traduzido pela coordenadora administrativa, Cássia Amélia Campidelli Saito: afeto, carinho e muito amor. Todos os dias.



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