Revista Viração - Edição 65 - Setembro/2010

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a r i V a z a f m e Veja qu

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG)

Casa da Juventude Pe. Burnier Goiânia (GO)

Centro de Refererência Integral de Adolescentes Salvador (BA)

Girassolidário Campo Grande (MS)

Universidade Popular Belém (PA)

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência

Companhia Terra-Mar Natal (RN)

União da Juventude Socialista Rio Branco (AC)

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA)

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE)

Centro Cultural Bájò Ayò João Pessoa (PB)

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES)

Agência Uga-Uga Manaus (AM)

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA)

Bemfam - Recife (PE)

Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa Maceió (AL)

Fundação Athos Bulcão Brasília (DF)

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR)

Centro Cultural Escrava Anastácia Florianópolis (SC)

Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras Lavras (MG)

Grupo Cultural Entreface (Diversidade Juvenil, Comunicação e Cidadania) Belo Horizonte (MG)

Grupo Atitude - Porto Alegre (RS)

Jornal O Cidadão Rio de Janeiro (RJ)

Taba - Campinas (SP)


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m e v o j o d r e d o p O

Nacional Congresso o , te n e tituição , finalm ” na Cons ão jovem m ç e a v iz il jo “ b o o m o term tação de pós muita inclusão d implemen a a , o ra u lh g ju e em ass aprovou, conquista ós! E você to para n tica, essa n o rá p p a m N u l. Mais Federa no Brasil. suntos. os juventude outros as e s d o it a u , contarem c li m b ca pú e Notícias eada de d h c m re e v , a Jo uma políti ir a ostr ência o da V s e a 1ª M eio da Ag esta ediçã as Escola pa, por m n a confere n c o ã e ç d n u e m v e Pre que re niu ortage sília (DF), l da Saúde Para a rep ra a B n io m c e a a N d a rmas de realiza a 4ª Mostr discutir fo a Escola, ra n a p e d como foi e ú d a ú S ma de sa do Progra s na área Nacional pecialista s e e de . s re u ucado la de a la vem, rede jovens, ed Sul-Sul Jo ade em sa s d o li ç a a u L x o e a s iativ para tema e jovens, ém da inic abordar o r lescentes ntro tamb o e d d a r r o o ar de fala p p ix a Ficará formad amos de l, rí a e n d o io p c a o as ue nã o intern Nas págin . E claro q cooperaçã imo mês. o HIV/aids x d ró p to n o e n m em ia têm enfrenta e acontec Presidênc leições qu didatos à n a c s o sobre as e e qu , confira o saíram da seguintes ostas que p ro p s a bre unicação. a dizer so nal de Com io c a N ia c Conferên Até mais!

Conteúdo

Copie sem moderação! Você pode:

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Quem somos A

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 22 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses seis anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira de lima Coordenador Executivo da Viração – MTB 27.300

• Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Conheça os Virajovens em 22 Estados brasileiros e no distrito Federal Belém (PA) - pa@viracao.org Belo Horizonte (MG) - mg@viracao.org Boa Vista (RR) - rr@viracao.org Brasília (DF) - df@viracao.org Campinas (SP) - sp@viracao.org Campo Grande (MS) - ms@viracao.org Curitiba (PR) - pr@viracao.org Florianópolis (SC) - sc@viracao.org Fortaleza (CE) - ce@viracao.org Goiânia (GO) - go@viracao.org João Pessoa (PB) - pb@viracao.org Lavras (MG) - mg@viracao.org Maceió (AL) - al@viracao.org Manaus (AM) - am@viracao.org Natal (RN) - rn@viracao.org Porto Velho (RO) - ro@viracao.org Recife (PE) - pe@viracao.org Rio Branco (AC) - ac@viracao.org Rio de Janeiro (RJ) - rj@viracao.org Sabará (MG) - mg@viracao.org Salvador (BA) - ba@viracao.org S. Gabriel da Cachoeira - am@viracao.org São Luís (MA) - ma@viracao.org São Paulo (SP) - sp@viracao.org Serra do Navio (AP) - ap@viracao.org Teresina (PI) - pi@viracao.org Vitória (ES) – es@viracao.org

A Revista Viração é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pela ONG Viração Educomunicação, filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo (Sindjore); CNPJ: 11.228.471/0001-78; Inscrição Municipal: 3.975.955-5

atendimento ao leitor Rua Augusta, 1239 - conj. 11 - Consolação 01305-100 - São Paulo - SP Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 HoRáRio dE atEndimEnto Das 9h às 13h e das 14h às 18h E-mail da REdação E assinatuRa redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Revista Viração • Ano 8 • Edição 65

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Vitória nossa!

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Congresso Nacional aprova a inclusão do termo “jovem” na Constituição Federal

Visão urbana

como vivem algumas Em imagens, saiba um pouco cidade de São Paulo (SP) na rua de ção situa em oas pess

18 Sempre na Vira

Manda Vê . . . . . . . . . . . . . . . . 06 PCU (Plataforma dos Centros Urbanos) . . 10 De Olho no ECA . . . . . . . . . . . 12 Escuta Soh! . . . . . . . . . . . . . . . 28 Rango da Terrinha . . . . . . . . . 29 No Escurinho . . . . . . . . . . . . . 30 Que Figura . . . . . . . . . . . . . . . 31 Todos os sons . . . . . . . . . . . . 32 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

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Ilustra

mo de charges co iza concurso al re s da R) (P o a çã ib Curit e a preven over a saúde forma de prom ipar a como partic DST/aids. Saib

Laço jovem

UNICEF e governo brasileiro lançam versão jovem do Laços Sul-Sul, iniciativa conjunta de oito países da África, Ásia e América Latina para o enfrentamento do HIV/aids

Construção cole

tiva Com a participaç ão de educadores e da juventude, Br (DF) realiza a 4ª asília Mostra Nacional da Saúde e Preve Escolas e a 1ª Mo nção nas stra Nacional do Programa Saúde na Escola

22

Eleições 2010

A um mês das eleições, a Vira foi ouvir o que os candidatos a presidente pensam sobre as propostas que saíram da Confecom

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Cariri cultural

iárido; Encontro da Juventude do Sem Ceará foi palco do primeiro ra gale pela os utid m disc temas como agroecologia fora

Galera Repórter Ex-dançarina de TV, Lara Dee conta como conseguiu lidar com os problemas e fundar o Instituto Beleza e Cidadania, que oferece capacitação a moradores de comunidades de São Paulo

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Conselho Editorial

Direção Executiva

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Paulo Lima e Lilian Romão

Conselho Fiscal Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Consultivo Douglas Lima, Isabel Santos, Ismar de Oliveira e Izabel Leão

Presidente Juliana Rocha Barroso

Vice-Presidente Cristina Paloschi Uchôa

Primeiro-Secretário Eduardo Peterle Nascimento

Equipe Ana Paula Marques, Carol Lemos, Douglas Ramos, Elisangela Nunes, Eric Silva, Gisella Hiche, Luciano de Sálua, Manuela Ribeiro, Maria Rehder, Rafael Lira, Rafael Stemberg, Sâmia Pereira, Sonia Regina, Vânia Correia e Vivian Ragazzi

Administração/Assinaturas Fábio Elias, Danilo Asevedo e Norma Cinara Lemos

Mobilizadores da Vira Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amapá (Camilo de Almeida Mota), Amazonas (Cláudia Ferraz e Délio Alves), Bahia (Nilton Lopes), Ceará (Amanda Nogueira e Rones Maciel), Distrito Federal (Ionara Silva), Espírito Santo (Filipe Borges, Jéssica Delcarro, Leandra Barros e

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Wanderson Araújo), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Sidnei Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Maria de Fátima Ribeiro e Pablo Abranches), Pará (Alex Pamplona), Paraíba (Niedja Ribeiro), Paraná (Juliana Cordeiro), Pernambuco (Maria Camila Florêncio), Piauí (Anderson Ramos da Luz), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rondônia (Luciano Henrique da Costa), Roraima (Cleidionice Gonçalves), Santa Catarina (Celina Sales e Ciro Tavares) e São Paulo (Damiso Faustino, Luciano de Sálua, Sâmia Pereira, Simone Nascimento e Virgílio Paulo).

Colaboradores Analu Ferreira, Antônio Martins, Chiara Santamaria, Emanuela De Cicco, Emilia Merlini, Heloísa Sato, Lentini, Ivens Reis Reyner, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Pilar Oliva, Sálua Oliveira e Sérgio Rizzo.

Consultor de Marketing Thomas Steward

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação e Assinatura redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Preço da assinatura anual Assinatura Nova Renovação De colaboração Exterior

R$ 58,00 R$ 48,00 R$ 70,00 US$ 90,00


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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Diga lá

Fale com a gente! Fernanda Teixeira, por e-mail, de São Paulo (SP) Gostaria de agradecer a parceria de vocês. Aqui na escola, ETEC Profº Camargo Aranha, conforme as demandas que surgem, nossos encaminhamentos e orientações são tomados por meio das informações divulgadas na revista.

Que responsa a nossa, Fernanda! Mas é bom saber que os textos ajudam nos trabalhos da escola. Mande mais notícias. Abraços da equipe!

Fátima, vamos torcer para que gostem da revista. Caso dê certo, nos avise. Beijos!

Fátima S. Costa, por e-mail, de São Paulo (SP) Trabalho há 20 anos com educação e, em uma das escolas no município de Cubatão, sou coordenadora da sala de Leitura, que começou pequenininha há três anos e, como deu certo, o diretor resolveu mudá-la para uma sala maior, que é uma graça! Sugeri à direção da escola uma assinatura de revista voltada ao público jovem e, por sugestão de meu filho Lucas, resolvi indicar a Viração.

Amanda Proetti, por e-mail, de São Paulo (SP) Recebi o material que vocês prepararam sobre a nova licenciatura em Educomunicação (edição nº 64). Dez!!! Parabéns a tod@s! Agradeço demais a vocês pela importância que tem a Educomunicação hoje na minha vida. Vocês são os grandes responsáveis pela transformação absurda que tudo isso já provocou!

Maravilha, Amanda. Sinta-se parte dessa conquista. P.S.: A Amandinha já esteve em nossa equipe e agora nos ajuda como colaboradora.

Siga a Vira no Twitter! Nosso perfil é http://twitter.com/viracao

Ops! Erramos! Na edição nº 63, cortamos, sem querer, os nomes da galera que participou da reportagem “Cidade das diversidades”. Eles participaram da cobertura colaborativa do 1º Festival das Juventudes, realizado em Fortaleza (CE). Segue a lista completa agora: Alan Botelho, Alcindo Costa, Amanda Nogueira, Carol Lemos, Gerusa Rosa, Jan Belarmino, Miguel Cavalcante, Paulo Luiz, Rafael Mesquita e Rones Maciel.

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para nosso endereço: Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 Consolação - 0135-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!

Parceiros de Conteúdo


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Manda Vê Maria Camila Florêncio, do Virajovem Recife (PE)*, e Niedja Ribeiro, do Virajovem João Pessoa (PB)

Quatro anos após a promulgação e vigência da Lei nº 11.340 de 2006, conhecida como a lei Maria da Penha, o número de denúncias de mulheres que sofreram algum tipo de violência (física, sexual e psicológica, por exemplo) aumentou significativamente. No entanto, surgem questionamentos sobre a aplicabilidade da lei e, mais ainda, sobre sua efetividade, como ocorreu com a modelo Eliza Samúdio, que teve proteção negada pela delegacia da mulher quando registrou ocorrência de ameaças do amante, o goleiro Bruno. Na ocasião, a juíza que analisou o caso argumentou que o jogador não mantinha relações afetivas com a modelo. Desaparecida desde junho, Eliza foi considerada morta pela polícia e Bruno é um dos suspeitos pelo crime. Na primeira semana de agosto, a Secretaria Especial de

Políticas para as Mulheres (SPM) divulgou que o número de denúncias recebidas pela Central de Atendimento à Mulher, o 180 (leia no “Faz parte”), aumentou 112% entre janeiro e junho deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre os relatos de violência, 62 mil no total, 36 mil eram de violência física. De todos os casos, 72% das mulheres afirmaram viver com o agressor. Além de alterar o Código Penal e a Lei de Execução Penal brasileiras, a lei Maria da Penha criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, tais como a criação de delegacias especializadas no atendimento a mulheres, casas de abrigo e centros de referência para acolhimento e assistência jurídica, social e psicológica da mulher em situação de violência.

As mulheres estão perdendo o medo de denunciar? Taisa Ferreira, 26 anos, Salvador (BA) “Hoje a divulgação da lei está cada vez mais ampla. Assim as mulheres têm começado a compreender que existe um espaço na legislação que as fortalece”.

Karen Lúcia Queiroz, 27 anos, Brasília (DF) “Não. A conquista de maior visibilidade da lei não significa, necessariamente, a diminuição do medo de denunciar. Acredito que o medo pode diminuir à medida em que a lei traz junto a garantia de proteção, o que acontece parcialmente”.

Jucinalva Cardoso da Silveira, 35 anos, Salvador (BA)

Júlia Macarenna, 20 anos, João Pessoa (PB)

“Sim. As mulheres têm buscado mais informações sobre os seus direitos por meio da lei, que representa o fortalecimento das mulheres. Ainda é grande o desafio para erradicar a violência contra a mulher e é preciso promover ações efetivas para isso seja garantido”.

“Sim. Mas mesmo as mulheres estando mais corajosas, a deficiência está no sistema que incentiva a denunciar, mas que não toma as medidas cabíveis, deixando-as vulneráveis”.

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*Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (pe@viracao.org e pb@viracao.org)


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Filippo Almeida, 20 anos, São José Campos(SP) Jullyane Chagas Brasilino, 27 anos, Recife (PE) “Acho que as mulheres não estão perdendo o medo de denunciar, pois ainda temem pelo preconceito, descriminação e machismo. Contudo, agora elas têm tido muito mais apoio e suporte para efetivarem as denúncias”.

"O que vejo de positivo na lei é que a sociedade, em geral, tem visto a mulher como alguém que tem direitos. Também podemos perceber que a visão de uma vida mais livre de violências tem sido cada vez mais enxergada pelas mulheres".

Ieda Pádua, 28 anos, Mococa (SP)

Thainá Souza, 15 anos, João Pessoa (PB) “Sim. Por muitos anos, as mulheres não tinham seu espaço e sofriam caladas a violência doméstica. Hoje elas estão cientes de seus direitos e denunciam seus agressores”.

“Sim. O número de denúncias aumentou, mas observo que o avanço em relação à lei não se deve unicamente ao fato de as mulheres estarem denunciando mais. Acho que houve um aumento significativo dos espaços que dão esse respaldo às mulheres”.

Sobrevivi... posso contar (Maria da Penha) Editora Armazém da Cultura Inspiradora da lei que permite às mulheres formalizarem suas denúncias dos casos de violência, Maria da Penha lança sua biografia e torna pública toda sua história marcada por momentos de crueldade e covardia que teve durante seu casamento com Marco Antônio Viveros. Em 1983, ela levou um tiro do marido enquanto dormia, fato que a deixou de cadeira de rodas. Também foi submetida a cárcere privado e sofreu inúmeras agressões físicas. Marco, após recorrer das sentenças, ficou preso por dois anos e hoje está livre. Após esses episódios, iniciouse uma longa jornada na Justiça para que o marido, ex-professor universitário, fosse punido. Com a publicação, a autora espera contribuir com informações e, principalmente, encorajar a denúncia das mulheres.

Laísa Maíra Diniz Barbosa, 21 anos, João Pessoa (PB) “Sim. Vemos isso no aumento do número de denúncias de mulheres que sofreram ou sofrem algum tipo de violência. E isso acontece porque elas se sentem mais protegidas em função da lei e a criação da Delegacia da Mulher”. A Secretaria de Políticas para as Mulheres, do governo federal, criou o site Observatório Brasil da Igualdade de Gênero (www.observatoriodegenero.gov.br), que traz informações sobre os eventos realizados pelo Brasil e indicadores sociais relacionados a questões de gênero. A Secretaria também mantém um número especial para tirar dúvidas e oferecer orientações ao público feminino, além dos endereços dos serviços especializados no atendimento à mulher, como delegacias e casas de abrigo. A Central de Atendimento à Mulher funciona no 180 e a ligação é gratuita.

Faz Parte


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o Federal; em” na Constituiçã ov “j o rm te o ui cl ional in à juventude Emenda Constituc públicas voltadas as ic lít po s na ço ta avan conquista represen

Vânia Correia, da Redação

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egundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 50,5 milhões de brasileiros têm entre 15 e 29 anos. Todos eles têm agora um motivo muito especial para comemorar. O Congresso Nacional promulgou, no dia 13 de julho, a Emenda Constitucional de nº 65 que insere o termo “jovem” no capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais da Constituição Federal. A aprovação da PEC da Juventude (42/2008), como ficou conhecida, foi uma importante vitória e garante aos jovens acesso a direitos constitucionais já assegurados às crianças, adolescentes e idosos. Reivindicação histórica dos movimentos juvenis, a matéria, que tramitava há sete anos no Congresso Nacional, estava entre as 22 prioridades estabelecidas durante a primeira Conferência Nacional da Juventude, realizada em 2008. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) se tornou símbolo da luta juvenil pela garantia de direitos e implementação de uma política pública de juventude no Brasil. Desde então, foi realizada uma grande mobilização em torno do tema e milhares de jovens estiveram empenhados pela aprovação da proposta. “Esse momento é de extrema importância, porque mostra o compromisso do Estado Brasileiro com esse segmento da população e isso só fortalece a política de juventude”, comemora Rafael Lira, representante da Viração no Conselho Nacional de Juventude (Conjuve). Lideranças juvenis ressaltam que a aprovação da PEC coloca o segmento definitivamente na pauta política do País. “No aspecto prático, a Emenda dá "segurança jurídica" ao tema e possibilita o avanço das políticas juvenis”, diz Danilo Moreira, presidente do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve). Agora o jovem passa a ser também prioridade absoluta do Estado, Sociedade e Família na garantia dos direitos fundamentais.

Marco Legal A PEC integra um conjunto de três matérias importantes para a constituição de um marco legal, que consolidará uma política de Estado para a juventude. “Além do que pode ser

08 Revista Viração • Ano 8 • Edição 65

É uma emenda que altera o texto de algum capítulo da Constituição Federal e pode ser apresentada pelo presidente da República, por um terço dos deputados federais ou dos senadores. A PEC é discutida e votada em dois turnos, em cada Casa do Congresso, e é aprovada se obtiver, na Câmara e no Senado, três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49).

considerado simbólico, que é inserir o termo juventude junto às demais categorias sociais em alguns itens da Constituição, ela gera duas demandas de leis complementares, essas sim terão impacto mais direto por estarem na constituição”, analisa Alexandre Piero, Conselheiro Municipal de Juventude em São Paulo. A nova norma constitucional determina que se crie o Estatuto e o Plano Nacional da Juventude, ambos em tramitação no Congresso Nacional, em regime de prioridade. O Plano Nacional de Juventude estabelece um conjunto de metas que deverão ser cumpridas pelo governo nas três esferas (federal, estadual e municipal), num período de dez anos, para além das gestões, considerando perspectivas a médio e longo prazo. Apesar da ampla discussão, a matéria não deve mais ser aprovada neste ano. Já o Estatuto propõe a constituição de um Sistema Nacional de Juventude, a exemplo do Sistema Único de Saúde (SUS), que consolida as leis e regulamenta a política pública de juventude no Brasil, estabelecendo responsabilidades das três esferas governamentais. “O Estatuto detalha os direitos que devem ser assegurados e que não estão claros dentro das garantias gerais da população”, analisa Luciana Martinelli, coordenadora da Comissão de Articulação e Diálogo do Conjuve. A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2010 como ano internacional da juventude, deixando claro


Antônio Cruz/ABr

Antônio Cr uz/ABr

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assina decreto Inácio Lula da Silva O presidente Luiz cional de 2ª Conferência Na de convocação da 11 20 alizada em Juventude, a ser re

a relevância do tema e a necessidade de se articular ações voltadas para esse público, além de criar espaços propícios para a reflexão e debate sobre os desafios enfrentados pela população juvenil. A aprovação da PEC mostra que o Brasil está dando passos importantes nesse sentido, se empenhando em garantir direitos e promover oportunidades para os jovens brasileiros.

2ª Conferência O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, no dia 12 de agosto, um decreto convocando para 2011 a 2ª Conferência Nacional de Juventude. O evento deve impulsionar a discussão do Plano Nacional

e aumentar a pressão pela sua aprovação. “Queremos discutir o Plano Nacional, vai ser um espaço legítimo para isso”, comenta Edney Santos Mendonça, Conselheiro Nacional de Juventude. A primeira Conferência, que aconteceu em 2008, em Brasília (DF), mobilizou mais de 400 mil jovens em todo o Brasil e aprovou um conjunto de 70 resoluções e 22 prioridades, entre elas a PEC da juventude. V

Entenda a PEC O que é? A Proposta de Emenda à Constituição 42/2008, conhecida como a PEC da Juventude, foi promulgada em 13 de julho de 2010 pelo Congresso Nacional como a Emenda Constitucional de Nº 65. O que propõe? Altera a denominação do Capítulo VII do Título VII da Constituição Federal e modifica o seu artigo 227, incluindo o termo “jovem” no texto da Carta Magna. Como foi a tramitação? Aprovada pela Câmara dos Deputados com voto de 382 deputadas e deputados federais, nenhum

voto contrário e apenas uma abstenção, a PEC da Juventude passou, por unanimidade, pela Comissão de Constituição e Justiça e Redação do Senado Federal. Em seguida, passou para a votação no plenário, onde foi aprovada em primeiro e segundo turno também por unanimidade. Próximos passos Aprovação do Estatuto e do Plano Nacional de juventude para constituição de um marco legal e consolidação de uma política nacional de juventude. Realização da 2ª Conferência Nacional de Juventude.

Fontes: Publicação do Conselho Nacional de Juventude e site do Senado Federal (www.senado.gov.br)

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Diversão e arte Comunidades promovem eventos culturais e esportivos para chamar atenção sobre os direitos da criança e do adolescente Carlos Henrique Santos Lima, Donizete Aparecido da Silva, Isabela da Silva Santos, Jessica Madalena Teixeira, Joyce Alves da Silva, Taiguara Oliveira Cruz, adolescentes da Plataforma dos Centros Urbanos*, e Vânia Correia, da Redação Fotos: Divulgação Balaio Cultural

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esde março de 2010 o programa de auditório “Balaio Cultural” tem surpreendido pela capacidade de levar informação de qualidade a adolescentes e jovens, moradores do Jabaquara, bairro da zona sul de São Paulo. O show acontece no teatro do CEU Caminho do Mar (Centro Educacional Unificado), e aborda temas como drogas, sexualidade, violência e cidadania, de maneira dinâmica, moderna e interativa. Nas noites das primeiras segundas-feiras de cada mês, o jovem tem direito à voz ativa na periferia e a animação é garantida. “O Balaio é o protagonismo juvenil na prática. É onde os jovens discutem assuntos pertinentes à sua realidade”, diz Tereza Cristina Martins, professora de história e coordenadora de projetos educacionais do CEU.

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O objetivo do projeto é propor aos adolescentes novos caminhos e espaços onde possam refletir e dizer o que pensam, agir e transformar suas próprias vidas. “No Balaio o jovem é respeitado e encarado como público formador de opinião. Vemos que é possível encontrar melhores condições de vida, mesmo diante dos problemas que enfrentam”, diz Rodolfo Arantes, idealizador e um dos apresentadores do programa. A comunidade Sonho Azul, também na zona sul de São Paulo, realizou, em junho, o Sábado Articulado, uma ação que reuniu diversas atividades gratuitas, durante o dia inteiro. A ideia era mobilizar as pessoas do bairro, levá-las a conhecer mais a Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) e refletir sobre os direitos das crianças e dos adolescentes. “O Sábado Articulado foi um dia


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de lazer, saúde e diversão para a comunidade. Foi interessante que as pessoas logo acharam que era alguma coisa de político, mas explicamos que era algo feito pela própria comunidade”, explica Gustavo Gannan, um dos organizadores da ação. O evento contou com diversas atividades simultâneas como campeonato de futebol, palestras sobre prevenção ao vírus HIV/aids e combate à dengue, mutirão de exames de pressão e testes de diabetes, roda de leitura e contação de histórias. E ainda cortes de cabelo e escova para pessoas de todas as idades. “Tirei várias dúvidas sobre doenças sexualmente transmissíveis, métodos anticoncepcionais e ainda tive a oportunidade de renovar o visual. Foi muito bom conhecer pessoas que trabalham para melhorar a comunidade”, elogiou Marilda dos Santos, moradora do bairro.

Mobilização na rua O Evento Esportivo de Rua proporcionou um dia diferente no Grotão, região da comunidade de Paraisópolis, a segunda maior de São Paulo. Crianças e adolescentes puderam praticar diversos esportes como skate, frisbee, capoeira, rugby, tênis, basquete, vôlei, futebol, brincadeiras de rua e gincanas. Além disso, também teve contação de história e oficina de desenho.“Foi muito gratificante ver as crianças, que não têm muito lazer, felizes, se divertindo e chamando a família e amigos para participar”, conta Jéssica Teixeira, adolescente comunicadora da Plataforma. Na região da Pedreira, também na zona sul, cerca de 150 pessoas, na maioria crianças, participaram de uma caminhada num local conhecido como Sete Campos. “Ficamos surpresos com tantas crianças chegando. Ajudamos a organizar a criançada e elas formaram um círculo gigante”, contam os adolescentes comunicadores Donizete da Silva e Adriana dos Santos. Logo em seguida, a irmã Maria Guadalupe, uma das organizadoras da atividade, fez a abertura do evento, que começou com o hino nacional e um animado jogo de futebol. Para encerrar, foi feita uma caminhada pela comunidade para que os participantes apontassem quais deveriam ser as melhorias do local. “Foi um bom dia para as crianças fugirem da rotina e conhecerem mais o espaço”, comemorou Guadalupe.

*A Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) é uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas (UNICEF), desenvolvida com diferentes parceiros, que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes que vivem nas grandes cidades. A Plataforma está sendo implementada inicialmente nas cidades de São Paulo,

O programa de auditório “Balaio Cultur aborda com al” a juventude temas como drogas, sexu alidade e viol ência

Reciclar para conscientizar O Grupo Articulador LATA (Lapidando Talentos) realiza, desde fevereiro, oficinas de reciclagem de garrafa pet e de guarda-chuva, com o objetivo de conscientizar a comunidade a cuidar do meio ambiente e reivindicar uma melhor infraestrutura no bairro do Grajaú, localizado no extremo sul da cidade, às margens da represa Billings. Na região acontecem ainda aulas de capoeira e de futebol. A proposta é diminuir o índice de crianças e adolescentes envolvidos em atividades ilícitas. “A comunidade acredita que a melhor forma de motivar nossos jovens é trazer boas oportunidades para eles e é isso o que queremos”, diz o adolescente comunicador Taiguara Cruz. V

Itaquaquecetuba (SP) e Rio de Janeiro (RJ), com duração prevista até 2011. Os chamados adolescentes comunicadores são membros das comunidades que integram a PCU e são responsáveis por auxiliar na mobilização comunitária para a conquista das metas e comunicação de ações realizadas no âmbito de suas comunidades.

Esta é a última de uma série de três reportagens, pr oduzidas pelos adolescentes comunicadores da PCU, com o objetivo de mostrar o que as comunidades que integram essa iniciativa do UNICEF estã o fazendo nas regiões onde vi vem. Nas ediçõe s anteriores os adolescentes es creveram sobre experiências realizadas nas regiões leste, no rte e oeste. Nesta edição vo cê pôde acompa nhar ações promovidas na zona sul de São Paulo.

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Ivo S sa ou

A C E o n o De olh Equipe do Portal Pró-Menino*

Qual a idade do jovem brasileiro? E por que o tema juventude tem tido mais espaço na mídia nos últimos meses?

*O Portal Pró-Menino, parceiro da Vira, é uma iniciativa da Fundação Telefônica em conjunto com o Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS/FIA). Não deixe de visitar: www.promenino.org.br

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Juventude. Além de diferentes atividades e projetos em todo o mundo, o ano será marcado pela realização de uma série de fóruns e conferências internacionais em que os temas de juventude serão a prioridade das agendas. No final de agosto, por exemplo, foi realizada no México a Conferência Mundial da Juventude, cujo objetivo principal foi debater entre governos e sociedade civil – com a participação de muitos jovens, claro – formas de fortalecer a participação da juventude no desenvolvimento de seus países e na garantia de seus direitos. Sem dúvida, o momento é de comemoração. Mas não se pode deixar de lado o fato de que, apesar dessas conquistas, os jovens ainda são um grupo bastante vulnerável. Dificuldades como a conquista do primeiro emprego e a gravidez não planejada são comuns à juventude de diversos países. Além disso, essa é a faixa etária mais atingida pela violência. No Brasil, por exemplo, quase 70% das mortes violentas registradas em 2008 tiveram por vítimas jovens de 15 a 24 anos do sexo masculino. Ou seja, os avanços são importantes, mas a data também deve servir para mobilizar e conscientizar as pessoas para que esses problemas, tão comuns à juventude, possam ser combatidos diretamente. V Lentini

“U

ma lei federal de 2002 criou o Dia Nacional da Juventude, comemorado no dia 12 de agosto. Mas não há um consenso sobre qual é a idade do jovem brasileiro. Parte dos especialistas considera que a juventude vem depois da adolescência, ou seja, vai dos 19 aos 29 anos. Já o órgão oficial de estatísticas, o IBGE, define como jovem a população dos 15 aos 24 anos. Segundo ele, estamos falando de cerca de 34 milhões de pessoas em todo o País. Este ano, a data trouxe a oportunidade de celebrar algumas conquistas muito importantes. No dia 13 de julho de 2010, o Congresso promulgou a então chamada PEC da Juventude (leia reportagem nas páginas 8 e 9), hoje transformada em Emenda Constitucional n° 65. Essa lei alterou a Constituição Federal, incluindo o jovem entre os grupos cujos direitos fundamentais são reconhecidos e destacados por artigos da Carta, assim como as crianças, adolescentes, idosos, mulheres e indígenas. Direitos como a saúde, a alimentação e a profissionalização do jovem passam, com isso, a ser reconhecidos como prioridades pelo Estado. Além disso, a emenda aprovada reforçou uma ideia que já vinha sendo discutida há algum tempo: a criação de um Plano Nacional de Juventude. Essa iniciativa propõe a articulação de diferentes esferas do poder público – municípios, Estados e União – para a elaboração de políticas públicas específicas para esse grupo, além de estabelecer metas e diretrizes para esse trabalho. Vale a pena ficar de olho e acompanhar essa discussão, pois a eficácia desse Plano depende, e muito, da participação da sociedade civil. Outro motivo para celebração é a escolha pela Organização das Nações Unidas (ONU) de 2010 como o Ano Internacional da

A PEC da Juventude, além de reconhecer o grupo e sua vulnerabilidade, fortaleceu outra iniciativa que também já estava em debate: o Estatuto da Juventude. Um projeto de lei nesse sentido, com previsões específicas sobre os direitos dos jovens, já está tramitando na Câmara. Fique de olho e acompanhe em www.juventude.gov.br


Concurso pretende promover o debate sobre DST/aids em Curitiba por meio da ilustração Ariene Rodrigues, do Virajovem Curitiba (PR)*

U

m concurso de charges. Este foi o caminho que ONGs e a Secretaria Municipal de Saúde encontraram para sensibilizar adolescentes com idade entre 10 e 19 anos sobre a temática das doenças sexualmente transmissíveis e da aids em Curitiba (PR). Este grupo da população pode participar do 1º Concurso de Charges “Risque e Rabisque – arte adolescente na prevenção de DST/Aids”, que será promovido em setembro com adolescentes da capital paranaense. “O bacana é abordar a temática a partir do jovem, com uma conversa que parta deles mesmos”, afirma a gestora da Central Jovem de Comunicação do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (IDDEHA), Lizely Borges. Segundo a psicóloga do programa da Secretaria Municipal de Saúde “Adolescente Saudável”, Célia Pinheiro Benevides Gadelha Leite, o número de jovens que acaba contraindo essas doenças não tem sofrido aumento, mas ainda assim o fato é preocupante. “A intenção é criar dentro de Curitiba charges com enfoque positivo sobre prevenção. Embora a aids não tenha cura, ela tem tratamento e as pessoas acabam não se importando mais. Elas esquecem que podem estar vulneráveis e não se cuidam”, avalia. Os organizadores pretendem mobilizar a juventude por meio de uma iniciativa proposta por eles, aumentando o debate sobre o tema. “Sempre é bom falar, senão acaba no esquecimento”, ressalta Célia. Lizely concorda e afirma ainda que este é um “tema que se integra ao imaginário social, mas não pertence a uma pauta diária dos meios de comunicação. Tem jovem que não se apropria do tema”.

Prevenção Além de DST e aids, outro tema que entra nesse debate é a questão da prevenção. Segundo um estudo realizado pelo Ministério da Saúde em dez capitais brasileiras durante junho, 62,3% dos jovens heterossexuais, entre 13 a 24 anos, usaram camisinha na primeira relação sexual. Quando se fala em homossexuais, o percentual cai para 53,9%. Célia afirma que em Curitiba houve um leve aumento no caso de adolescentes com doenças, principalmente porque muitos deles não estão se preocupando com o auto-cuidado nem com o do parceiro por não usarem preservativo. A psicóloga indica que possivelmente os jovens se sentem desobrigados a usar o preservativo porque vivenciam um relacionamento fixo. “Pelo fato de achar que não está sendo promíscuo, não usar drogas, e estar num relacionamento estável, o adolescente acha que não precisaria usar camisinha. Só que ele é fiel nesse e no outro relacionamento. Muda-se de parceiro e é por meio desses múltiplos relacionamentos que ele pode acabar disseminando tanto as DST quanto o vírus HIV”, avalia. Trazer o lúdico, a criação de algo bonito para dar à prevenção um aspecto positivo é apontado pela psicóloga como um dos pontos principais no concurso. “A necessidade do cuidado: demonstrar que você se gosta e do outro também”, lembra. As inscrições poderão ser feitas do dia 1º até 30 de setembro. A divulgação dos premiados acontece em 5 de novembro, quando os 12 trabalhos selecionados serão expostos no 6º Encontro de Protagonismo Juvenil de Curitiba, no Salão de Atos do Parque Barigui. As charges vencedoras nas quatro primeiras colocações também serão expostas nas 107 unidades de saúde do município. Além disso, os autores das charges ganhadoras serão premiadas com um curso em ilustração digital. V

* Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (pr@viracao.org)

Saiba mais sobre o concurso pelo site http://iddeha.org.br/centraljovem

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Imagens que viram

Tudo o que este senhor possui é o que ele leva nas costas

Em frente à Catedral da Sé, na região central de São Paulo (SP), crianças observam a manifestação em protesto ao massacre do dia 10 de maio, quando seis pessoas em situação de rua foram mortas

Como muitos fazem, um pedaço de papelão serve como forro de chão durante o sono

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OS OLHOS DA RUA Texto e fotos: Pilar Oliva, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)

A

ndando pelas ruas de São Paulo (SP) encontram-se carros, trânsito, pessoas, multidões e muito mais coisas que sempre se falam sobre a Terra da Garoa. Mas foi apenas no primeiro ano de faculdade de Fotografia do Senac, que eu, Pilar Oliva, me surpreendo ao encontrar o que poucos se importam em perceber: a população em situação de rua. Comecei o trabalho em 11 de maio, um dia após a chacina que matou seis pessoas em situação de rua enquanto dormiam, na zona norte da cidade. Por conta disso, o clima no local era bastante tenso - fui acompanhada por integrantes da Associação Rede Rua de Comunicação. Com eles aprendi o que nunca pensei que fosse possível, ouvi o que nunca tinha ouvido e vi o que pensei que não existisse: a rua em sua forma mais crua, como apresento nas imagens a seguir, que tentam mostrar o mínimo das inúmeras histórias que acompanham aquelas pessoas.

Ao se perder dos demais companheiros, Seu José anda sem rumo pelas ruas do bairro da Lapa, na zona oeste

Dona Carlinda, que está há 15 anos em situação de rua, encontrou um espaço que fixou para ser sua “casa”

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Laços

pela vida

o para va Laços Sul-Sul, rede de cooperaçã UNICEF cria versão jovem da iniciati a Latina olve países da África, Ásia e Améric enfrentamento do HIV/aids que env Rafael Stemberg e Vivian Ragazzi, de Brasília (DF), a convite do UNICEF

C

om o objetivo de inserir adolescentes e jovens na discussão, elaboração e desenvolvimento de ações de prevenção às DST/aids, o Fundo das Nações Unidas pela Infância (UNICEF) realizou, nos dias 12 e 13 de junho, o primeiro encontro da rede Laços Sul-Sul Jovem, que é parte de uma iniciativa mais ampla voltada ao enfrentamento do HIV/aids, o Laços Sul-Sul, composta pelos governos da Bolívia, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Nicarágua, Paraguai, São Tomé e Príncipe e Timor Leste (ver box). O evento contou com a participação de 15 adolescentes e jovens de todos os países que compõem o Laços Sul-Sul, exceto Nicarágua, e de representantes de cada governo. Do Brasil estiveram presentes representantes do Ministério da Saúde, do Ministério da Educação, do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (UNAIDS), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), parceiros da iniciativa. Os participantes foram escolhidos por conta do histórico de protagonismo e participação social que já possuíam em suas regiões. Durante a abertura, Eduardo Barbosa, vicediretor do Departamento de DST/aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, ressaltou a importância do encontro ocorrer às vésperas da 4ª Mostra Nacional Saúde e Prevenção nas Escolas (veja a reportagem na página 18), oportunidade para que outros atores possam integrar o debate. "Os jovens precisam estar sempre nos espaços de definição de

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políticas públicas, articulando-se e formando redes. Acredito no protagonismo juvenil, pois só atuando conjuntamente conseguiremos respostas para enfrentar a epidemia”, falou. Na programação do Laços Sul-Sul Jovem foram feitas atividades de integração e troca de experiências entre os participantes. Em um dos momentos, cada jovem fez uma apresentação da situação do país de origem, assim como os trabalhos de enfrentamento à aids em que participam. Na primeira noite, uma festa multicultural foi organizada para que cada delegação participante mostrasse um pouco de seus costumes e danças tradicionais. À Vira, a representante do UNICEF no Brasil, Marie-Pierre Poirier reforçou a importância de inserir adolescentes e jovens nas ações de enfrentamento do HIV/aids. “Os jovens têm um papel nessa luta contra a epidemia, e para que isso dê certo, eles têm que ser ouvidos. A resposta nacional frente à epidemia não pode ser feita só dos adultos para os jovens. O nosso ponto é que o jovem, o adolescente, tem que construir a estratégia, e fazer isso não só com a experiência do seu país”, disse. O embaixador do UNICEF no Brasil e ator Lázaro Ramos também esteve presente no encontro. Acompanhado da atriz Taís Araújo, Lázaro ouviu as discussões feitas pelos adolescentes e jovens e organizou uma atividade em grupo. Na saída, Lázaro comentou sobre os desafios de se falar de sexo com a juventude. Lembrando do seu tempo de escola, ele disse ser, hoje em dia, mais fácil abordar o tema com os jovens. “Eu tinha vergonha de falar com meus primos mais velhos sobre isso (sexo), acabava aprendendo com a observação. Hoje, há uma mudança na postura do jovem, na forma como ele se coloca no mundo". No entanto, o ator destaca a necessidade do jovem selecionar as informações que recebe, pois muitas vezes o material pode não orientar de maneira adequada.

Próximos passos Carla Perdiz, que integra a equipe do UNICEF no Brasil, afirma que o encontro superou todas as expectativas por conta do


Rafael Stem berg

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forte envolvimento dos adolescentes e jovens, que já atuavam na luta contra o HIV/aids em seus países. “Agora, a principal demanda da rede será consolidar, nos espaços de governo, a participação dos jovens. Além disso, criar um canal de comunicação virtual para integrar as experiências de cada país”, disse. A coordenadora do Programa de Sobrevivência e Desenvolvimento Infantil e HIV/aids do UNICEF no Brasil, Cristina Albuquerque, conta que a ideia do Laços SulSul Jovem não é criar uma rede paralela à rede que já existe entre os governos, mas somar forças no movimento.“A gente tem muita esperança que essa rede cresça saudável, porque no discurso político dos governos, a cooperação Laços Sul-Sul é uma prioridade, e confiamos que realmente seja. Agora, essa cooperação recebe um oxigênio novo, que é a participação política dos jovens, não só junto a seus pares, mas no movimento como um todo”, afirma. Para encerrar o encontro, os participantes elaboraram uma carta de recomendações que oficializa a criação da rede Laços Sul-Sul Jovem, além de alertar sobre a vulnerabilidade da juventude diante das doenças sexualmente transmissíveis. Em

O que é o Laços Sul-Sul?

Durante o en contro, os jovens elab carta de co oraram um mpromisso a s que oficial iza a rede todo o mundo, segundo dados de relatório do UNICEF, 45% de todos os novos casos de infecção pelo HIV foram entre pessoas com idade de 15 a 24 anos. A carta, entregue durante a 4ª Mostra Nacional da Saúde e Prevenção nas Escolas e a 1ª Mostra Nacional do Programa Saúde na Escola, traz os compromissos assumidos pelos jovens e as reivindicações para garantir o fortalecimento da rede. O documento, após ser traduzido para outros idiomas, será encaminhado aos governos de cada país integrante da cooperação internacional.

V

HISTÓRIA DE VIDA

Lançada em 2004, a iniciativa Laços Sul-Sul é uma rede de cooperação que envolve os governos de oito países da África, Ásia e América Latina. O objetivo é promover o acesso universal à prevenção e tratamento do HIV/aids. Tendo como parceiros o UNAIDS, UNICEF, UNESCO, UNFPA e o CICT, a rede pretende mobilizar a sociedade e criar um ambiente de apoio para diminuir o estigma associado à epidemia e aumentar a eficácia das políticas públicas implementadas nos países participantes.

A partir desta edição, a Vira irá trazer histórias, produzidas durante o encontro de Brasília (DF), dos adolescentes e jovens que participam da iniciativa Laços Sul-Sul Jovem. Para começar esta série, você irá conhecer uma jovem da Bolívia. É preciso mudar Na cidade em que mora, a jovem Blanca Stela, de 14 anos, lamenta o fato dos adolescentes terem de começar a trabalhar cedo para complementar o sustento da família Considerado um dos países menos desenvolvidos da América Latina, a Bolívia conta com uma população de nove milhões de pessoas, sendo três milhões composta por jovens. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) está na posição 113, de um total de 182 países. Blanca Stela tem 14 anos e 16 irmãos. A jovem passa atualmente por uma fase de questionamentos e descobertas: a adolescência. Para ela, e muito de seus amigos, a juventude está desamparada pelos governos, situação que os levam a trabalhar desde muito cedo, como forma de ajudar no complemento das despesas de casa. Ela diz não gostar muito de política, porque é sempre preciso escolher um lado. “É melhor confraternizar”, diz. A jovem já sabe o que irá estudar quando ingressar na universidade. Se não mudar de ideia, pensa cursar Medicina e se especializar em Fisioterapia ou Psicologia. “Fico encantada em saber que posso cuidar das crianças, ajudá-las na reabilitação”, afirma. Mas enquanto isso não acontece, ela pretende se emprenhar para aprender a falar português, pois quer

muito socializar sua cultura com os brasileiros. Nos finais de semana, a adolescente prefere sair com os irmãos, sempre pela região onde mora. Vai a parques de diversões e praças. Não gosta muito de “bailar”, conta. Blanca foi uma das participantes do primeiro encontro Laços Sul-Sul Jovem, que aconteceu em Brasília (DF) nos dias 12 e 13 de junho de 2010. O evento, organizado pelo UNICEF, pretende criar uma rede de cooperação juvenil que ajude a construir, ao lado dos governos de oito países, políticas públicas voltadas ao tratamento e à prevenção do HIV/aids. Blanca foi escolhida para representar seu país, ao lado de outro adolescente, por meio de um concurso que elegeu os líderes jovens de sua região. “Eu fui uma das escolhidas para trazer e compartilhar os conhecimentos e Você pode ler a íntegra da carta ideias dos jovens produzida pelos adolescentes e de meu país”. jovens: http://tinyurl.com/2agnz72

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Capa

Juntos no

mesmo espaço

ra discutir ações, profissionais da saúde pa e s en jov , es or ad uc ed m l Mostras nacionais reúne drogas, DST/aids e álcoo às to en am nt fre en o ra , pa unindo saúde e educação Alaíde Castelani e Carolina Sena, adolescentes comunicadoras da Plataforma dos Centros Urbanos de São Paulo, Aneli Beloni, Artur Moreno e Marcela dos Santos, adolescentes comunicadores da Plataforma dos Centros Urbanos do Rio de Janeiro (RJ), Enderson Araújo de Jesus, Fabiane dos Santos Farias, Igor Francisco, Lilian Romão, Marla Soares, Rafael Stemberg e Vivian Ragazzi, da Agência Jovem de Notícias, em Brasília (DF)

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Agência Jovem

de Notí cias

Rafael St emberg

C

om o tema “Tecendo redes para a promoção da saúde e educação”, Brasília (DF) realizou, de 13 a 15 de junho, a 4ª Mostra Nacional da Saúde e Prevenção nas Escolas e a 1ª Mostra Nacional do Programa Saúde na Escola. Os dois eventos reuniram mais de mil profissionais de saúde, professores, estudantes e representantes de movimentos sociais para discutir questões fundamentais para a promoção de saúde integral em sala de aula. Durante a mesa de abertura das mostras, a diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, Mariângela Simão cumprimentou a representante da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/aids, Micaela Cyrino, como forma de demonstrar o reconhecimento do governo em relação à atuação da Rede. “Há algum tempo a gente vem construindo com o PSE (Programa Saúde na Escola) um trabalho de inserção de como lidar na escola com jovens que têm HIV. Espero que essa mostra seja como as outras, que ajude a melhorar (as políticas públicas de saúde), para continuarmos construindo juntos”, disse Micaela Cyrino, de 22 anos, que também participava da mesa. Outro jovem presente na cerimônia de abertura foi o estudante Antônio Carlos de Almeida Neto. Ele falou sobre o trabalho de prevenção às DST que ajuda a desenvolver na escola onde estuda. “Eu ajudo muito meus colegas de classe, amigos. Tenho grande experiência porque recebo apoio dos meus professores e dos meus pais. Sou do grêmio

Mesa de abertura do evento contou com a participação de jovens e de profissionais e gestores das áreas de saúde e educação

estudantil e o diretor da minha escola me dá apoio. E é isso que os jovens esperam: apoio”. O Programa Saúde na Escola (PSE) foi lançado em 2007 pelo governo federal com o objetivo de reforçar a prevenção à saúde dos estudantes por meio de ações realizadas pela rede básica de saúde e escolas dos municípios. Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, 6,5 milhões de estudantes em 37 mil escolas brasileiras são atendidos pelo programa. No PSE, os jovens participam de atividades de avaliação e atenção das condições de saúde, o que inclui o monitoramento do crescimento e desenvolvimento de acordo com as faixas etárias. Também são trabalhadas questões como drogas, violência, planejamento familiar,


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prevenção das DST e HIV/aids. Esses temas são inclusos nos projetos político-pedagógicos das instituições de ensino, estimulando a formação de profissionais da saúde e professores, além de incentivar a participação dos alunos. Já o Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE) é um projeto que integra o PSE por meio de ações conjuntas. Entre os objetivos do SPE está a contribuição para a promoção dos direitos sexuais e direitos reprodutivos de adolescentes e jovens e o desenvolvimento de ações articuladas no âmbito das escolas e das unidades básicas de saúde, de forma a envolver toda a comunidade. No evento, uma forma de proporcionar a troca de experiências entre os participantes foi a realização de diferentes atividades, como dez oficinas temáticas, catorze conversas afiadas, nove mesas redondas, nove trocas de experiência e vinte e seis mesas de comunicação coordenada. Também houve o lançamento de dois kits pedagógicos, as Histórias em Quadrinhos do SPE (leia texto na pág. 21) e o “Guia de

Adolescentes e Jovens para Educação de Pares”, materiais que irão auxiliar educadores no trabalho em sala de aula. As mostras são uma parceria dos ministérios da Saúde e da Educação com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA) e a Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil (OPAS).

Cobertura jovem Durante as mostras, a convite dos organizadores, uma equipe formada por adolescentes e jovens da Viração fez a cobertura jornalística do evento, por meio de textos, fotos e vídeos, para a Agência Jovem de Notícias, que pode ser acessada em www.viracao.org/spe. Nas próximas páginas, você confere um pouco das notícias produzidas por lá!

Ousadia e sucesso Curitiba (PR) já era referência nacional em saúde do adolescente, tendo em vista o trabalho desenvolvido por um programa da Secretaria Municipal da Saúde, que atua com foco na saúde integral dos adolescentes, o “Adolescente Saudável”. E, desde o ano passado, começou também a ser referência para o trabalho com a juventude. A convite do programa municipal, organizações governamentais e não governamentais agora trabalham juntas para promover e manter ações de protagonismo juvenil na capital paranaense. A ideia foi criar grandes parcerias entre instituições que já desenvolviam trabalhos com os jovens, bem como possibilitar que outras iniciativas surgissem. Para isso, foi necessário criar estratégias que permitissem o andamento eficaz dessa grande rede. O trabalho começou quando as secretarias municipais da Saúde e da Educação, em parceria com a Fundação de Ação Social, o Centro Paranaense da Cidadania, Rede de Mulheres Negras (PR), Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, Centro de Convivência Menina Mulher, Ciranda (Central de Notícias dos Direitos da Infância e da Adolescência), Grupo Dignidade e o Canal Futura, reuniram-se para pensar qual seria o primeiro passo a ser dado. O resultado? Reunir adolescentes e jovens, de escolas, unidades de saúde, ONGs e associações que já desenvolviam algum tipo de ação protagonista, e capacitá-los para mapear e diagnosticar outros grupos da região, que pudessem ser parceiros. Foram três dias de

capacitação, 117 adolescentes e jovens formados, que tinham a tarefa prática de mapear e diagnosticar os tais grupos. E eles, com a colaboração dos adultos parceiros, responderam à altura. Depois disso, era hora do passo dois. Cada regional deveria escrever um projeto de atuação comum, envolvendo as secretarias municipais e ONGs. Surgiram várias propostas, sempre de acordo com a realidade de cada região. Mas e aí, foi somente propor? Não! Uma nova reunião já estava marcada para apresentar o início das ações. Hoje, um ano depois, a rede está a todo vapor. Possui um grupo central – responsáveis pelas instituições listadas ao lado - que não tem como função dirigir a rede, visto que trata-se de um trabalho de horizontalidade, em que todos tem voz, mas sim de articular encontros, facilitar processos adotar uma regional. Cada componente do grupo de articuladores centrais é responsável por dar suporte técnico para uma região. O sucesso da Rede de Protagonismo Juvenil de Curitiba foi levado ao conhecimento nacional da 4ª Mostra Nacional da Saúde e Prevenção nas Escolas e a 1ª Mostra Nacional do Programa Saúde na Escola, em junho deste ano. Curitiba é a primeira cidade brasileira a reunir adolescentes e jovens em uma só rede e espera que a ideia possa ser replicada em mais localidades do País.

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Capa Comunicação pelos jovens Uma das mesas de debate da 1ª Mostra Nacional do Programa Saúde na Escola e 4ª Mostra Nacional Saúde e Prevenção nas Escolas abordou o tema “Participação juvenil- redes, comunicação e mobilização” e contou com a presença de Lilian Romão, da ONG Viração Educomunicação, Paulo Rogério, do Instituto Mídia Étnica, e Jeferson Sooma, do Ministério da Educação. Na mesa, Lilian falou sobre as experiências que a Viração desenvolve na área de

educomunicação. “A juventude quer falar de igual para igual. Com a comunicação eles se descobrem entre si”, disse. Paulo também seguiu na mesma linha e complementou ser preciso um acompanhamento de algum adulto para ajudar na orientação dos assuntos discutidos entre os adolescentes e jovens, como sexo seguro, drogas e álcool. “Os jovens têm que se comunicar com os mais velhos e ter uma troca de dialogo”, falou.

Agência Jovem

Oficina de quadrinhos chama a atenção dos jovens

de Notí cias

Reprodução

No segundo dia da 4ª Mostra Nacional da Saúde e Prevenção nas Escolas e a 1ª Mostra Nacional do Programa Saúde na Escola foi realizada a oficina sobre o material de histórias em quadrinhos do SPE, facilitada por Mariana Braga, da UNESCO, e Silvani Arruda, consultora da área de saúde e educação. As duas escolheram a história “A vida como está e as coisas como são” para fazer a dinâmica da oficina, interpretando duas personagens do conto, Cris e Gabi. Para complementar o trabalho, contaram também com a ajuda voluntária de um dos participantes da oficina, que interpretou o jovem chamado Felipe. Essa encenação foi realizada por meio da leitura das HQs, lançadas durante o evento, especificamente do trecho onde Cris tem uma relação sexual com Felipe sem o uso da camisinha. Em seguida, a personagem descobre que está grávida e decide dividir sua história ao pedir conselhos para a amiga Gabi. No decorrer da oficina, as facilitadoras organizaram os participantes em quatro grupos para que cada um pudesse dar um final à história, fazendo com que o tema “gravidez na adolescência” fosse discutido.

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s e Joven uído centes ” será distrib s le o d A s s e e la r d o a c P s es “Guia ucação de de e na d ú E a s a r e a d p stores para ge


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Oficina de participação juvenil aborda diferenças e semelhanças entre pessoas A oficina de “Participação juvenil e o Guia de Educação entre Pares”, conduzida por Cláudia Vasconcelos, do projeto Os Direitos de Jovens, de Salvador (BA), e Jeane Felix, do Ministério da Saúde, desenvolveu uma atividade capaz de provocar reflexão com os participantes por meio de uma dinâmica com espelhos.Cada participante, refletindo sua imagem no espelho, teve que descrever o que enxergava naquele momento. Quase todos os presentes falaram de sua profissão, o que fazem e por que estavam na oficina,

mas, dificilmente, as pessoas falavam de si, para falar de características pessoais.“Por exemplo, apenas uma pessoa falou sobre sua orientação sexual. Apenas uma pessoa disse ‘eu sou jovem, indígena e homossexual’, enfatizou Cláudia Vasconcelos, que classificou como “normal” esse tipo de apresentação. Porém, lembrou a facilitadora, para se iniciar um processo de educação para pares, é importante que as pessoas conheçam suas diferenças e descubram o que têm em comum.

Super HQs

PERGUNTA SPE ERESPOSTASS N1 O

Governo e UNESCO lançam guias, com histórias em quadrinhos com temáticas da juventude, que podem ser utilizado em sala de aula; Desenhista do Superman assina algumas das ilustrações Escolas públicas de todo o País, participantes do Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), irão receber um kit de HQs educativos para serem utilizados em sala de aula. As publicações trazem uma série de temas relacionados à juventude, como sexualidade, direitos sexuais e reprodutivos, aids e homossexualidade, e irão ajudar educadores e estudantes a refletirem essas questões de forma lúdica e sem preconceitos. As ilustrações que compõe as histórias foram feitas por desenhistas renomados internacionalmente, como o brasileiro Eddy Barrows, que atualmente faz os desenhos do Superman, famoso super-herói da agência Marvel Comics. Eddy já ilustrou HQs de outros personagens, como o Lanterna Verde e Spawn. Júlia Bax, Edh Muller e Yure Garfunkel também assinam ilustrações nos guias. Além do guia, com seis histórias em quadrinhos, o professor receberá um CD-ROM complementar, com jogos e sugestões para aplicação do material. O kit foi lançado durante a 4ª Mostra Nacional da Saúde e Prevenção nas Escolas e a 1ª Mostra Nacional do Programa Saúde na Escola com a presença do ministro da Saúde José Gomes Temporão. Na ocasião, ele falou que os guias ilustrados, por terem linguagem

partes

diferenciada de outros materiais do Ministério, ajudarão a alcançar um público com realidade diferente, que muitas vezes não são atingidos pelas mensagens de campanhas. “As revistas exploram temas importantes que são fundamentais para a construção da personalidade e da individualidade. Isso tem que acontecer nas escolas e nas famílias”, disse o ministro. Temporão também enfatizou a ajuda que os quadrinhos poderão contribuir para a educação. “Há muito preconceito, intolerância, cinismo. Nós estamos tirando o véu de cima desses temas e enfrentando-os da maneira como eles devem ser enfrentados”. Já o representante da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) no Brasil, Vincent Defourny, também presente na ocasião, destacou a importância da escola no debate sobre aids e DST com os estudantes. "Esperamos que a publicação seja um grande sucesso nas escolas e consigam atingir a realidade dos jovens", disse.

V

As seis histórias em quadrinhos podem ser baixadas gratuitamente neste link, do site da UNESCO: http://tinyurl.com/25hw4ag Revista Viração • Ano 8 • Edição 65 21

1e2

Reprodu ção

Ousadia de sucesso


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Os candidatos e a Confecom Silva e Plínio Sampaio, alguns dos A Vira foi ouvir de José Serra, Marina que ica, o que pensam das propostas candidatos à Presidência da Repúbl Comunicação; Dilma não respondeu saíram da Conferência Nacional de Alexandre de Oliveira Rocha, Carlos Henrique Santos Lima, Francielly Linares Sales, Marina Lenk Baltazar, adolescentes comunicadores da Plataforma dos Centros Urbanos, Rafael Stemberg e Vânia Correia, da Redação Fotos: Sálua Oliveira, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)

A

s eleições presidenciais deste ano contém todos os ingredientes necessários para, independente do candidato que seja eleito, ficar para a história como a mais acirrada de todas. Tendo, pela primeira vez, duas mulheres com reais chances de vencer a disputa, os partidos que fazem oposição ao atual governo - avaliado como ótimo e bom por quase 80% da população - lutam para convencer o eleitorado de que possuem as melhores propostas. Em todo o País, estarão aptos a votar mais de 135 milhões de brasileiros. Dessa soma, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 18,2% são jovens entre 16 e 24 anos, ou 24.728.674 eleitores. Ou seja, o jovem tem muita representação na escolha

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do próximo presidente, e os candidatos, sabendo bem disso, estão de olho nesse público. De Norte a Sul do Brasil, em entrevistas, debates ou mesmo no corpo a corpo, questões diretamente relacionadas e de interesse da juventude fazem parte da pauta dos políticos, como aborto, drogas e educação. No entanto, a abordagem reduzida dos presidenciáveis sobre um tema fez com que esta reportagem fosse produzida: a democratização dos meios de comunicação. Realizada em dezembro do ano passado, a primeira Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) reuniu em Brasília (DF) representantes da sociedade civil, do setor empresarial e do governo. Esses participantes foram escolhidos


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nas etapas municipais e estaduais da Conferência, que ocorreram por todo o País. Em quatro dias de discussão, os delegados da Confecom elaboraram 672 propostas que poderão servir de base para orientar as ações do próximo governo na área de comunicação. O objetivo da Confecom é a efetivação do direito humano à comunicação, garantido na Constituição Federal, como as prioridades que devem orientar a programação do rádio e da TV para que seja educativa e de qualidade e a proibição da concentração e domínio dos meios de comunicação por poucas empresas. Mas será que qualquer um dos candidatos que concorrem ao cargo de executivo brasileiro, se eleito, irá considerar as propostas que saíram da Confecom? Para responder a essa pergunta, a Viração foi ouvir deles próprios o que farão com o documento de resoluções elaborado em conjunto por representantes da sociedade civil, do setor empresarial e governo. O encontro com os candidatos aconteceu em diferentes momentos. Plínio Sampaio, que disputa o cargo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), recebeu o Virajovem São Paulo em sua casa, na zona oeste da capital paulista. Já Marina Silva, candidata pelo Partido Verde (PV), e José Serra, que concorre por meio do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), responderam à entrevista após o debate televisivo realizado em agosto pela TV Canção Nova e a Rede Aparecida, emissoras que também abordaram questões sobre liberdade de imprensa e controle da mídia. Apontada como favorita nas pesquisas de intenção de voto, Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), não respondeu às solicitações de entrevistas feitas pela Viração.

Divididos Marina Silva não descartou a possibilidade de avaliar as propostas que saíram da Confecom, caso seja eleita presidente. “As conferências não têm poder impositivo sobre as ações do governo, são recomendações. E tem recomendações que são muito boas. Eu fazia as conferências de meio ambiente e 70% ou 75% dos encaminhamentos que eram propostos na conferência, com participação de adultos, nós encaminhávamos (pelo Ministério). Na conferência infantojuvenil era diferente, as crianças e os adolescentes, em vez de pedir para o governo, eles apresentavam uma carta de compromisso do que iam fazer em benefício do País e até mesmo do governo”. Plínio Sampaio mostrou-se favorável à revisão do marco que regulamenta a comunicação no Brasil, mas disse que o governo deve dar total liberdade para que a sociedade realize o acompanhamento do trabalho da imprensa. “A Conferência Nacional de Comunicação defende a liberdade da comunicação. E isso eu defendo. Mas numa sociedade, numa República, nem o presidente, nem o cardeal, ninguém está fora de controle (do Estado). O que precisa é ter um controle social, não um controle do Estado. É isso o que eu defendo”. Já o candidato José Serra disse à reportagem da Vira ser contrário às propostas feitas na Confecom, pois acredita que elas ferem a liberdade de imprensa, condição necessária para

a democracia de um País. Para Serra, outro problema é o número de participantes que estiveram na Conferência, dizendo não ser o suficiente para representar a sociedade civil. “Eu sou contrário (às propostas). Na verdade, não eram da sociedade civil e sim de um agrupamento político que se autointitula da sociedade civil, que é o controle da imprensa, o combate à liberdade de imprensa, enfim, que é incompatível, ao meu ver, com a democracia”. No ano passado, a etapa estadual da Confecom em São Paulo não teve o apoio de José Serra, então governador pelo Estado. Participaram da Confecom 1.684 delegados, escolhidos em etapas municipais e estaduais. A Viração, ao lado de outras organizações da sociedade civil que lutam pela democratização da comunicação, participou de todos os processos para que a Conferência fosse realizada. Em dezembro, durante o evento, adolescentes e jovens participaram como delegados e foram autores de propostas sobre educomunicação e de combate à veiculação de propaganda voltada para crianças e adolescentes.

Dilma Até o fechamento desta edição, a campanha de Dilma Rousseff não havia se manifestado sobre os pedidos de entrevistas da Vira. No entanto, a candidata do presidente Lula teve, por diversos momentos, que responder a questões sobre a liberdade de imprensa em coletivas com os jornalistas. No primeiro documento contendo o programa de governo, apresentado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dilma se comprometia a considerar as propostas da Conferência Nacional de Comunicação em seu governo. Mas, após pressão dos principais veículos de comunicação, o partido entregou um novo documento, que não cita a Confecom.

Nesta eleição, um ótimo recurso para falar com o seu candidato é usando o Twitter. Nem sempre funciona, mas vale seguir, tentar e insistir na resposta! Dilma Roussef (PT): @dilmabr José Eymael (PSDC): @eymael José Serra (PSDB): @joseserra_ Levy Fidelix (PRTB): @levyfidelix Marina Silva (PV): @silva_marina Plínio Sampaio (PSOL): @pliniodearruda Zé Maria (PSTU): @zemaria_pstu Os candidatos Ivan Pinheiro (PCB) e Rui Pimenta (PCO) não possuem contas na rede social. Revista Viração • Ano 8 • Edição 65 23


Primeiro Encontro da Juventude do Semiárido reúne cem jovens no Cariri cearense Texto e fotos: Nut Pereira e Rones Maciel, do Virajovem Fortaleza (CE)*, Francismar Gonçalves, Monyse Ravena e Rosa Nascimento, comunicadores do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido

A

cultura popular do Cariri encanta a todos que por lá passam: suas belezas naturais, gente bonita e hospitaleira. E isso faz com que esses visitantes possam sentir e levar um pouco do local consigo. Tendo como cenário a cidade do Crato, no Cariri cearense, o Fórum Cearense pela Vida no Semiárido realizou de 28 a 31 de julho o primeiro Encontro da Juventude do Semiárido. O evento contou com a participação de cem jovens, de todas as regiões do Estado. O encontro contribuiu para a mobilização da juventude do semiárido cearense, possibilitando a construção de conhecimento e a troca de experiências, integração social, política e cultural. Uma das principais discussões levadas à frente pelos jovens participantes foi entender o importante papel que a juventude pode desenvolver no processo de sustentabilidade do semiárido. Para isso, foram discutidos temas como educação contextualizada, desenvolvimento comunitário, agroecologia, comunicação, etnias e sexualidade. Também aconteceram oficinas e visitas às comunidades que desenvolvem boas práticas de convivência na região.

Apresentações culturais complementaram a programação

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Comunicação colaborativa A comunicação foi outro elemento que se destacou durante o encontro. Durante os quatro dias, jovens estiveram à frente da cobertura colaborativa das atividades que permearam as discussões e a troca de experiência. Cobertura colaborativa? Nunca ouviu falar, né? Realmente não é algo comum. O mais corriqueiro, quando se trata da organização de eventos, é a contratação de uma produtora ou agência de comunicação para realizar a cobertura. Mas nesse encontro, todo o trabalho de comunicação, que incluiu a produção de vídeos, boletim impresso, rádio, releases para imprensa e um blog, foi realizado por jovens de diferentes regiões do semiárido. Comunicadores do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido e integrantes da ONG Catavento fizeram parte dessa equipe. Pensar em uma cobertura diferente é fruto, principalmente, da construção de um outro olhar para a comunicação. É pensá-la não só a partir dos meios, mas como um exercício dialógico, horizontal e coletivo. Para ousar quebrar os padrões hegemônicos estabelecidos é preciso preparação, discussão e reflexão, e isso foi feito em uma oficina de comunicação realizada um dia antes do encontro. Além da teoria, questões práticas relativas à cobertura foram definidas coletivamente.


Um dos pontos altos da cobertura foram os vídeos produzidos, diariamente, pelos jovens do projeto “Verde Vida”, que fica localizado no Crato e que tem como uma das atividades a formação na área de comunicação. Os jovens comunicadores o colaborativa do encontro Jovens fazem a comunicaçã não perdiam uma boa imagem, revezavam-se nas reportagens e apresentação, sem esquecer o registro fotográfico, inclusive o making off. O resultado? Muitos aplausos ao final de cada apresentação.

Sociedade mobilizada O Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido foi criado em fevereiro de 1999 com o objetivo de mobilizar a sociedade civil para trabalhar políticas públicas em favor da convivência com o semiárido. Nessa época, viam-se os desafios a serem enfrentados, como trabalhar a dimensão da informação, apropriar-se das informações sobre políticas públicas de recursos hídricos, pensar em eventos amplos para discutir políticas das águas, entre outras ações. Atualmente, o Fórum é composto por nove microregiões: Fortaleza, Sobral, Tiangua, Crateús, Iguatu, Sertão Central, Cariri, Limoeiro e Itapipoca e pode ser definido como uma articulação permanente de pastorais sociais, associações, sindicatos e ONGs, voltados para a reflexão, discussão e proposição de alternativas sustentáveis e de políticas viáveis e acessíveis à população que vive no semiárido cearense.

Entre as suas ações estão: a realização de audiências públicas, campanhas educativas, debates públicos, campanhas de mobilização da sociedade etc. O Fórum também é responsável por acompanhar o desenvolvimento dos Programas Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). V

* Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (ce@viracao.org)

Leia as reportagens produzidas no encontro em http://juventudedosemiarido.wordpress.com

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r e t r ó Rep

a r e l a G

Ex-dançarina de programas de auditório, Lara Dee conta como fundou o Instituto Beleza & Cidadania, ONG que capacita moradores de comunidades em cursos no ramo da beleza

Diego Pereira dos Santos, do Virajovem São Paulo (SP)*, Patrícia Gonçalves da Silva e Estefânia Sousa Silva, adolescentes comunicadoras da Plataforma dos Centros Urbanos, Rafael Stemberg e Sâmia Pereira, da Redação

E

dilara Lima Pacheco, ou Lara Dee, como é conhecida, teve muitos motivos na infância para ser uma pessoa revoltada com o mundo. De família pobre e analfabeta, Edilara já dormiu nas ruas e foi violentada sexualmente. Com 12 anos, saiu da Bahia, ao lado de sua mãe, para tentar trabalho em São Paulo. Hoje aos 55 anos, fala de sua história com muita tranquilidade, pois conseguiu mudar sua vida. Ainda adolescente, após ter sido doméstica, foi a inscrição num concurso de televisão que mudou radicalmente sua trajetória. O quadro, que iria escolher a mais bela empregada do Brasil, fazia parte do programa do Chacrinha, popular apresentador de TV dos anos 1970 e 80. Sua beleza lhe rendeu o convite para participar como dançarina do programa, que prontamente aceitou. Com o sucesso, foi também uma das musas de Osvaldo Sargentelli, outro famoso comunicador da época. Mãe de dois filhos, Roberta e Rodrigo, Lara Dee formou-se em Administração de Empresas, mesmo já sendo uma empresária bem sucedida. Fellow da Ashoka Empreendedores Sociais (organização mundial que apoia empreendedores sociais), fundou, há sete anos, o Instituto Beleza & Cidadania, organização que oferece cursos de capacitação na área de beleza a moradores de comunidades de São Paulo (SP). “O nosso foco é o de resgate humano e inclusão social produtiva, por meio da capacitação”, diz. Em São Paulo, a Vira recebeu Lara Dee para um bate-papo que você confere a seguir.

Viração: Por que você tomou a iniciativa de fundar a ONG Beleza e Cidadania? Lara Dee: Eu carreguei todo um histórico de vida muito simples, morava em uma comunidade, sou uma mulher negra. Minha mãe não sabia nem ler nem escrever e achava que, como nós éramos pobres, não teríamos nenhuma oportunidade. Além disso, fui mãe solteira, passei por toda forma de violência que você pode imaginar, não tinha onde morar e acabei morando na rua, passei fome. Mesmo assim, eu estive comprometida em vencer, ajudar minha mãe, meu irmão e minha filha (que teve aos 18 anos), as pessoas. E assim, muito tempo depois, nasce a ONG. O que te vem à mente quando ouve a frase “beleza é fundamental, cidadania é vital”, que é o slogan da ONG? Quando eu falo de beleza, falo como instrumento para nós, humanos, nos modificarmos e termos um olhar diferente sobre a vida. Muita gente pensa que o Instituto Beleza e Cidadania é só um lugar que oferece cursos de cabeleireiro, barbeiro e manicure. Não! A beleza de que falo é enquanto ferramenta, para que saibamos que somos belos apenas por sermos humanos e devemos conhecer essa nossa beleza interior. Se você se ama, também vai transmitir amor ao mundo. Quais são as comunidades de São Paulo que o Instituto atende? Existem muitas comunidades que participam do projeto. Na zona leste, zona norte... Trabalho em lugares próximos a grandes escolas de samba. O Instituto é muito grande hoje, tem um

Linha do Tempo

1967

Lara Dee participou como dançarina do Chacrinha e, mais tarde, do Sargentelli

Arquivo pessoal

Com 12 anos, nascida em Itabuna (BA), Edilara se muda para São Paulo em busca de emprego

2003

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1971 2006

Fundou o Instituto Beleza & Cidadania, em São Paulo (SP)

2009

2003


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Ana Paula Marques

Arquivo pe ssoal

“Comece i a agrega r pessoa s e dar id possíveis eias de a de desen ções que volver. No seriam a organiz dia em qu ação, nem e começam sabia que os seria uma ONG” L ara Dee

atendimento muito amplo. Temos o projeto de lapidação no vidro. Nele, trabalhamos o alcoolismo, principalmente com moradores em situação de rua. No projeto, as pessoas trazem suas garrafas de vidro e conversamos sobre o porquê deles estarem alcoólatras. Como foi participar do concurso “A mais bela empregada” e, de repente, receber o convite para ser chacrete? Quando fui doméstica, a minha patroa me mandou para a escola e dizia que me achava muito bonita. Ela me inscreveu no concurso já com o plano de me transformar em uma das dançarinas do Chacrinha. Quando cheguei ao programa, ele (Chacrinha) não me deixou concorrer e disse que me queria como chacrete (sua patroa havia conversado antecipadamente com o apresentador). Foi tudo muito bom pra mim. Sempre acreditei que iria vencer, tinha fé em Deus...

Mas você ficou como chacrete por pouco tempo? Não, não. Foram sete anos como chacrete. Me lembro que quando eu fiquei grávida da Roberta, minha barriga cresceu e eu não pude mais ser dançarina, então arrumei um trabalho. Passei a ajudar uma mulher a fazer cortinas. Depois de um tempo, guardei um pouco de dinheiro para poder pagar pelo parto de minha filha. Enfim, fui para o hospital sozinha e saí com uma cesárea de 20 centímetros. Como que uma chacrete teria uma cicatriz daquele tamanho no corpo? Nem sabia o que daria de comer à Roberta, mas, ainda assim, eu estava muito feliz. Depois voltei para o Chacrinha, quando comecei a ter um “boom” na carreira.

Foi eleita uma das fellows da Ashoka Empreendedores Sociais por conta do trabalho que realiza

2005

Lara Dee e os jovens Estefânia, Diego e Patrícia na Viração

Insistindo um pouco mais no seu tempo de vedete... Quando você decidiu que era hora de parar, passar para outra área? Eu comecei a dançar com 16 anos e fui até os 32. Com 23, tive o Rodrigo, casei dois anos depois e meu marido adorava o que eu fazia. Mas esse não era o meu caminho. Nasci pra montar um negócio, dar certo e ir montar outro... Fui morar no Rio de Janeiro e notei que as meninas que saíam para dançar usavam aqueles vestidos cheios de brilho, que eu achava muito feios (risos). Pedi para uma comadre que me ensinasse a usar a máquina de costura e criei um vestido que vendeu muito (dez mil peças). Então resolvi pensar em algo como uma cooperativa, com uma amiga e essa comadre, para fazer os vestidos. Foi um sucesso! Depois disso, criei uma confecção que durou dez anos. E, com isso, deixei de ser vedete. Por que decidiu fundar uma ONG, que não tem fins lucrativos, em vez de abrir uma empresa no segmento de cosméticos? Eu não digo que resolvi fundar uma ONG. Resolvi trabalhar em benefício das pessoas. Há 12 anos, eu já tinha cuidado da minha família e estava tranquila com a questão de dinheiro, em pagar contas, casa própria... Quando o Rodrigo se formou, estávamos em uma situação financeira muito confortável. Nos anos 1990, por exemplo, eu trouxe uma empresa estrangeira de venda de imóveis para o Brasil. Depois resolvi ir para as comunidades. Comecei a agregar pessoas e dar ideias de ações que seriam possíveis de desenvolver. No dia em que começamos a organização, nem sabia que seria uma ONG. V

Acesse o site do Instituto Beleza & Cidadania: www.belezacidadania.org.br

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (sp@viracao.org)

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Força jovem

teve forte Aids, realizada em Viena, de al ion ac ern Int cia rên Confe ntamento ao HIV te as discussões de enfre ran du e tud en juv da ão aç particip

Ivens Reis Reyner, colaboração para a Escuta Soh!, da Áustria

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global, Anthony Lake, e o diretor do Fundo Global de Luta contra Malária, Tuberculose e HIV, Michel Kazatchkine. Os dois participaram de um diálogo com os jovens ativistas sobre a responsabilidade de organizações estarem com a juventude na resposta ao HIV. Antes da Conferência, os jovens participaram de uma consulta on-line para a escolha de três palavras chaves que seriam usadas durante todo o evento como forma de demonstrar a atuação dos jovens no enfrentamento ao HIV. Foram elas: “Direitos Humanos”, “Redução de danos” e “Recurso de saúde”. Agora faça acontecer! V

©IAS/Steve Forrest/tWorkers' Photos

otos Workers' Ph cus Rose/t ©IAS/Mar

A

cada dois anos, especialistas, pesquisadores e ativistas, que atuam no campo de HIV/aids, reúnem-se no maior evento internacional para a discussão do assunto. Para o encontro que aconteceu neste ano, entre 18 e 23 de julho, a 18ª Conferência Internacional de Aids reuniu mais de 25 mil pessoas para debater formas de prevenção e tratamento do vírus. Para sediar o evento, a cidade escolhida foi Viena, capital da Áustria. O local possui alto índice, entre as regiões Leste Europeia e Ásia Central, de pessoas infectadas pelo HIV por meio do uso de drogas injetáveis. Na programação da Conferência o uso de drogas esteve entre os temas debatidos. Como forma de garantir uma participação forte e efetiva da juventude, várias organizações internacionais, lideradas por jovens e que trabalham com jovens, uniram forças para coordenar o grupo Força Jovem de Viena (VYF, na sigla em inglês), com o objetivo de aumentar a visibilidade das necessidades dos jovens, na área da saúde, dentro desse importante espaço de influência. Durante mais de um ano, a Força Jovem de Viena trabalhou para gerar várias atividades para a conferência. Dentre elas, a organização de uma pré-conferência de três dias para mais de 300 jovens de todo o mundo. Nesse pré-encontro, foram discutidos os temas mais emergentes, relacionados à juventude e HIV. Com isso, os jovens se sentiram mais preparados para participar da Conferência principal, realizada pela Sociedade Internacional da Aids em parceria com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS). A VYF também foi responsável pelo Pavilhão Jovem, área de encontro dos jovens onde, todos os dias, aconteceram sessões de debates sobre diversos assuntos. Para a abertura, o espaço contou com a presença da princesa da Noruega, Mette-Marit. Dentro do programa oficial da conferência foi realizada uma sessão especial para a juventude, em que participaram o diretor executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)

Evento reuniu 25 mil pessoas para debater formas de prevenção e tratamento da aids


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Rango da terrinha

Direto do rio é um alimento incluso em quase No norte do Amazonas, o peixe a, uma famosa sopa do local todos os pratos, como a mujec

Cláudia Pereira Ferraz, do Virajovem São Gabriel da Cachoeira (AM)*

S

ão Gabriel da Cachoeira é um município formado por 95% de população indígena. Localizado ao norte do Amazonas, a região também é conhecida como Cabeça do Cachorro, por conta do formato geográfico do local. Foi o primeiro município brasileiro a eleger prefeito e vice-prefeito de etnias indígenas. Outra curiosidade de São Gabriel é que, além do português, mais três idiomas são reconhecidos oficialmente desde 2006:

o Baniwa, Nheengatu e Tukano são línguas faladas por grande parte da população. Na cozinha, os pratos consumidos geralmente contém pimenta, peixe e até formigas. E a mujeca, ou sopa de peixe, é uma das especialidades típicas dessa região. Bastante saborosa e muito procurada por turistas, ela pode ser acompanhada de farinha ou beiju, além de um delicioso vinho de açaí. Veja, abaixo, como preparar essa refeição!

Como fazer a mujeca Na mujeca, o destaque é o sabor do peixe

Ingredientes 1 peixe fresco (de preferência piraíba) 1 litro de água 1 colher de sal Tucupi (tempero extraído da raiz da mandioca brava) Goma de mandioca Pimentas

Modo de preparo Pegue uma panela e acrescente um litro de água e sal. Leve ao fogo e deixe até levantar fervura. Em seguida, coloque o peixe (antes você deve tratar o peixe e cortá-lo em fatias) e deixe até cozinhar bem. Após isso, coloque o tucupi, as pimentas e a goma. Misture tudo com uma colher de pau até criar uma consistência e pronto. Sua alimentação está garantida! V

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (am@viracao.org)

Reprodução do site Estadao.com.br

Revista Viração • Ano 8 • Edição 65 29


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Integração pelo esporte Sérgio Rizzo, crítico de cinema

D

urante a Copa do Mundo da África do Sul, o ex-presidente Nelson Mandela quase não apareceu, às voltas com problemas de saúde (completou 92 anos em julho) e com a morte de uma bisneta. Mesmo assim, ele foi a personalidade extrafutebolística mais homenageada naquele período. Um dos estádios levava inclusive o seu nome, em Porto Elizabeth. No momento em que os sul-africanos voltaram ao centro das atenções no mundo inteiro, a participação de Mandela no processo pacífico que levou ao fim do regime de apartheid foi lembrada como evento crucial na história do país e um dos mais celebrados em todo o planeta no final do século 20. Na ocasião, a imprensa destacou que a consolidação da liderança nacional de Mandela - quando dava início a seu mandato na Presidência - havia envolvido outro campeonato mundial de seleções, o de rúgbi, disputado em 1995 na África do Sul. Os bastidores dessa competição e também seus melhores momentos nos gramados foram recriados pelo longa-metragem estadunidense Invictus, que o diretor Clint Eastwood (de Menina de Ouro e Gran Torino) e o roteirista Anthony Peckham extraíram do livro-reportagem Conquistando o Inimigo, do jornalista inglês John Carlin. Autor também do livro Anjos Brancos - Entre o Céu e o Inferno, sobre o Real Madrid (um dos mais ricos e tradicionais clubes de futebol do mundo, onde jogam Kaká e Cristiano Ronaldo), Carlin juntou em Conquistando o Inimigo seu gosto pelo esporte com a admiração a Mandela, que conheceu como correspondente do jornal britânico The Independent na África do Sul. Atraído pela inteligência política do ex-presidente, que aproveitou a Copa de 1995 para reduzir o preconceito racial no país, ele fez um rico apanhado de personagens e episódios políticos sul-africanos dos últimos 50 anos antes de reconstituir o torneio de rúgbi. O filme, no entanto, privilegia o período da competição. Mandela (Morgan Freeman) se indispõe com muitos de seus fieis apoiadores, inclusive na equipe presidencial, ao adotar com entusiasmo a seleção sul-africana de rúgbi, os Springboks - que eram (e ainda são) adorados pela população branca e, por sua associação com o apartheid, haviam se tornado alvo natural de ódio dos negros. Um

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Em Invictus, Mandela (Morgan Freeman) se indispõe com muitos de seus fieis apoiadores por conta da seleção de rúgbi

dos aliados de Mandela nessa operação de relações públicas é o capitão da equipe (Matt Damon). Mais do que a busca pelo título, o que estava em jogo era a possibilidade de todos os sul-africanos se considerarem representados simbolicamente pela mesma coisa. V

Divulgação Warner Bros

No Escurinho


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Que Figura!

Homem de asas Ele é considerado o Pai da Aviação e é reconhecido internacionalmente por seus inventos. Conheça um pouco da vida e obra de Santos-Dumont

Anderson Ramos, do Virajovem Teresina (PI)*

Novaes

O

sonho de voar sempre foi uma busca constante do ser humano, que superou seus limites para alçar voos distantes. Esse foi o perfil de Alberto Santos-Dumont, considerado o Pai da Aviação pelos brasileiros. Ele nasceu em 20 de julho de 1873 em Palmira, Minas Gerais, hoje cidade de Santos-Dumont. Filho do engenheiro Henrique Dumont e de Francisca de Paula Santos, o Pai da Aviação teve sete irmãos e passou parte de sua infância na Fazenda Dumont, de propriedade da família. Desce muito cedo, Dumont já demonstrava uma aptidão na área tecnológica e na engenharia. Começou construindo pequenos aeroplanos movidos por uma hélice acionadas por molas de borracha torcida. Em 1891, aos 18 anos, Santos-Dumont foi estudar na Europa a pedido dos pais. Em 1897, com 24 anos e herdeiro de uma imensa fortuna, foi morar na França, local fundamental para suas descobertas sobre as técnicas de aviação. Em Paris, teve contato com aeronautas profissionais que o ensinaram a arte de pilotar balões. O primeiro balão construído por Santos-Dumont foi batizado de “Brazil”, inflado a hidrogênio e considerado uma das menores aeronaves já construídas. Entre suas invenções, pode-se destacar a criação do primeiro dirigível, o N1, que foi inflado no Jardim da Aclimação, em Paris, no ano de 1898. Mas antes mesmo de ter iniciado seu funcionamento, foi rasgado devido a uma falha na manobra, causando um acidente que quase custou a vida do brasileiro. A partir do N1, surgiram o N2, N3, N4, N5, N6 e finalmente o famoso 14-BIS, um avião unido a um balão de hidrogênio que facilitava a decolagem. Em um feito inédito, o aparelho se ergueu a mais de dois metros do chão, num percurso de 60 metros, assistido pela multidão e pela imprensa. Com o feito do 14-BIS, Santos-Dumont ganhou o Prêmio do Aeroclube da França, em 12 de novembro de 1906. O grande reconhecimento da carreira do Pai da Aviação foi a disputa pelo do prêmio Deutsch de la Meurthe, em 19 de outubro de 1901, que consistia em dar uma volta na Torre Eiffel dentro do prazo de trinta minutos. Santos-Dumont foi o vencedor e ganhou um bom prêmio em dinheiro, que dividiu valor entre os pobres de Paris e os mecânicos que o haviam

ajudado na construção das engenhocas. Foi eleito membro pela Academia Brasileira de Letras passou a ocupar a cadeira nº 38, que pertencia anteriormente ao romancista Graça Aranha. Mas não chegou a tomar posse, dando o lugar ao escritor Celso Vieira. Mesmo com uma carreira brilhante e reconhecimento internacional como precursor na aviação, Santos Dumont suicidou-se em 23 de julho de 1932, no Guarujá (SP). Alguns biográfos acreditam que o motivo teria sido o fato de Dumont não concordar com o uso dos aviões em guerras. A Lei 3636, de 22 de setembro de 1959, concedeulhe o posto honorífico de Marechal-do-Ar. O certo é que para os brasileiros, Santos-Dumont sempre será lembrado como o Pai e criador do avião, e por sua grande contribuição no desenvolvimento tecnológico da Força Aérea Brasileira. V *Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (pi@viracao.org)

Revista Viração • Ano 8 • Edição 65 31


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Todos os Sons

Libertando o outro eu  banda que participam  No Acre, cinco jovens utilizam as redes sociais para divulgar a

aceitaram o desafio de conceber a banda. Para o nome do primeiro CD, que já está em processo de gravação, a ideia é fazer um concurso por meio do blog da banda (http://bandaalterego.blogspot.com). Todas as composições são de autoria do grupo. Logo no início da carreira, a Alter Ego emplacou nas rádios locais duas músicas, “Duplo Sentido” e “Bandida”. Atualmente,  a nova canção “Aquela de Amor”, também está adquirindo espaço. Com um estilo diferenciado e letras que falam de situações do cotidiano, como amor e decepção, os integrantes da banda não escondem o desejo de se firmarem no cenário musical. “Existem muitos eventos onde gostaríamos de mostrar o nosso trabalho. Mas entendemos que, por enquanto, não estar presente neles faz parte de quem está começando”, conta o baterista Tales, de 19 anos.  Para dar uma ajuda nessa divulgação, a galera aposta no uso das redes sociais, com contas no YouTube, Flickr e Twitter. “É uma via mais acessada pelo público que queremos atingir. Os jovens se comunicam por essas redes”, conclui Tales. V

A primeira apresentação da banda aconteceu no colégio em que estudavam

flickr - Cicciofarmaco

Na página da Vira do YouTube, você pode assistir a um vídeo feito pelo banda: www.youtube.com/revistaviracao

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em  22 Estados e no Distrito Federal (ac@viracao.org)

32 Revista Viração • Ano 8 • Edição 65

Divulgação

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ormada em outubro de 2008, a banda Alter Ego conseguiu, aos poucos, ocupar os espaços de música alternativa em Rio Branco (AC). Composta por cinco jovens que se conheceram por conta de uma amiga que tinham em comum, o grupo tem trabalhado para o lançamento do primeiro CD, previsto para dezembro deste ano.   A Alter Ego, que no latim significa “outro eu”, conta com uma mistura de influências musicais até chegar ao som produzido, com letras irreverentes. Os jovens Diego Alves (vocalista), Adonis Miranda (contra baixo), Tales Barros (bateria), Rerisson Lucas e Rômulo Chaves (guitarra) citam a falta de incentivo cultural como principal desafio para conseguirem fazer da música o ganha-pão.  A primeira apresentação da banda aconteceu em um colégio federal, onde estudavam. Depois disso, após muitas conversas, os jovens

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Leonardo Nora e Victória Sales, do Virajovem Rio Branco (AC)*


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Sexo e Saúde Jovens de São Paulo fizeram perguntas sobre direitos sexuais e direitos reprodutivos, que foram respondidas por Maria Camila ca Florêncio da Silva, estudante de Direito pela Universidade Católi de Pernambuco e militante jovem feminista. Confira!

É muito comum ouvirmos falar em gravidez precoce como analogia à gravidez adolescente, pois se imagina que exista um momento certo para se ter um filho ou filha, ou mesmo para começar uma vida sexual, e não há (não no sentido geracional/idade)! O importante é que a gravidez seja planejada. Isso implica dizer que o indivíduo ou casal tenha não só acesso a informações, bens e serviços de saúde reprodutiva, como também aos métodos contraceptivos, e que seja uma decisão autônoma, livre de coerção (pressão ou indução) e qualquer forma de discriminação (como o direito de uma lésbica ou de uma pessoa soropositiva de ter filhos).

Caso eu tenha um filho antes de completar 18 anos de idade, meus pais terão de assumir as responsabilidades desse filho? A. P., de 21 anos Como se sabe, os adolescentes e as adolescentes, em outras palavras, os maiores de 12 e menores de 18 anos, são sujeitos de direitos (por isso, às vezes são tutelados pelo Estado), mas também são sujeitos autônomos, de modo que podem exercer os direitos sexuais e reprodutivos, entre eles o direito e dever de assumir a maternidade e paternidade sem que haja a tutela de pai, mãe e/ou qualquer adulto. O que há, contudo, é a hipótese desse ou dessa adolescente (e isso poderia acontecer até mesmo com adultos) não poder assumir essa paternidade ou maternidade economicamente. Nesse caso, essa condição de dependente da criança se estende até a pessoa dos avós que, tendo condições, assumirão a responsabilidade por pensão alimentícia até que o ou a adolescente possa se manter. V

Para saber mais a respeito dos direitos sexuais e direitos reprodutivos, acesse a Cartilha Direitos Sexuais, Direitos Reprodutivos e Métodos Anticoncepcionais, do Ministério da Saúde: http://migre.me/1aVMS

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas pra você! O e-mail é redacao@viracao.org

Natalia Forcat

Qual é o momento ideal para se ter um bebê? D. M., de 22 anos

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Parada Social

Portal da Viração é invadido

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da Redação

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esde o dia 17 de julho, o portal da ONG Viração Educomunicação (www.viracao.org) foi atacado por piratas virtuais (crackers), impedindo a divulgação de notícias relacionadas aos direitos da infância e juventude. A imagem de uma caveira mordendo uma espada esteve no destaque do portal durante cinco dias com a mensagem “hacked site down” (site hackeado), porém, mesmo após a remoção da foto, o sistema de administração do site foi parcialmente afetado. Com a invasão, foram prejudicados espaços para comentários (Diga Lá), enquetes, o “Agende-se” e o rodapé de várias notícias já publicadas, que passaram a conter frases em inglês de conteúdo pornográfico. Por lutar pela democratização da comunicação no Brasil, a Viração tem trabalhado desde o início do ano na reestruturação do portal, que passará a ser hospedado em plataforma livre - uma maneira de incentivar a criação e adoção de novos modelos de programas para computadores, garantindo que qualquer pessoa possa ter acesso aos códigosfonte, sem a dependência de softwares proprietários.

Imagem esteve no destaque do site durante cinco dias

Reprodução

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Mas, por se tratar de um trabalho coletivo e com poucos recursos financeiros, o novo portal ainda não tem data prevista de lançamento. Com isso, a ONG Viração Educomunicação gostaria de contar com a colaboração e compreensão de todos os nossos leitores e colaboradores, enquanto solucionamos esse problema. Criada em 2003, a Viração é uma organização sem fins lucrativos que trabalha com educomunicação e seu espaço virtual é utilizado para a divulgação de notícias relacionadas à infância, juventude, direitos humanos e democratização da comunicação. Também funciona como extensão do conteúdo da revista imprensa, publicação produzida por adolescentes e jovens. Em sete anos, a Vira já impactou na vida de mais de 3,5 milhões de pessoas no Brasil, por meio da revista e de projetos especiais realizados em escolas e comunidades de todo o País.

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Roteiro produzido com a colaboração do Virajovem Goiânia (GO): go@viracao.org


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“Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure.” Novaes

Vinícius de Moraes (1913-1980)

Poeta e diplomata, foi parceiro de Tom Jobim, com quem cantou em versos a famosa “Garota de Ipanema”.


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