Revista Viração - Edição 118 - Jan/Jun 2023

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PROTAGONISMO JUVENIL SE INSPIRE E FAÇA A DIFERENÇA COM AÇÕES DE SUSTENTABILIDADE NA SUA ESCOLA

JUNTOS SOMOS

MELHORES

CONSTRUINDO UMA

CULTURA DE EQUIDADE DE GÊNERO E RAÇA NAS CIÊNCIAS, TECNOLOGIAS, ENGENHARIAS E MATEMÁTICA

MULHERES QUE

FIZERAM E FAZEM CIÊNCIA

JOGO DA MEMÓRIA

DIVULGA A TRAJETÓRIA

INSPIRADORA DE MULHERES CIENTISTAS E PESQUISADORAS

ANO 20 Nº 118 JAN/JUN 2023 www.viracao.org IMAGEM: PEXELS/COTTONBRO STUDIO
movimento #educastem2030
INICIATIVA GLOBAL DA UNESCO BUSCA DIMINUIR AS DISPARIDADES DE GÊNERO E RAÇA NA EDUCAÇÃO E NAS CARREIRAS EM STEM PARCERIA

O QUE É A INICIATIVA #EDUCASTEM2030?

Em resposta ao cenário desafiador que abrange a exclusão de meninas e mulheres nas áreas de STEM, em 2022, a UNESCO no Brasil, de forma inovadora, convoca diferentes parceiros e lança a iniciativa em âmbito nacional. Por meio de estratégias de formação de professores e estudantes, iniciativas de comunicação e advocacy e mapeamento de redes, a iniciativa contempla e tem como objetivo impactar de forma positiva os âmbitos identificados (Individual, Social, Escolar e Familiar), a fim de reverter o cenário de exclusão.

OBJETIVO DO PROJETO

Trazendo como premissa da Agenda 2030 a ideia de não deixar ninguém para trás, o projeto #EDUCASTEM2030 visa a contribuir para a sensibilização e a transformação, por meio de uma abordagem pedagógica da escola, a partir do estímulo aos projetos de vida de meninas e meninos, e priorizando os estudantes pertencentes aos grupos de maior vulnerabilidade social: negros, indígenas, quilombolas, LGBT+ e de baixa renda.

Para saber mais, acesse a página da iniciativa #EDUCASTEM2030 no site da UNESCO no Brasil.

EXPEDIENTE

A produção desta edição especial da Revista Viração foi viabilizada pela UNESCO Brasil no âmbito da iniciativa #EDUCASTEM2030. Por meio de estratégias de formação de professores e estudantes, ações de mobilização e advocacy, esta iniciativa tem como objetivoreverter o cenário de exclusão das meninas e mulheres nas áreas STEM, impactando positivamente os âmbitos individual, social, escolar e familiar. Sua distribuição eletrônica ou impressa é gratuita.

COORDENAÇÃO TÉCNICA DA VIRAÇÃO EDUCOMUNICAÇÃO

COORDENADORA EXECUTIVA

Ellen de Paula

GESTÃO DE PROJETOS

Jéssica Rezende

GESTÃO DE PROJETOS

Vania Correia

COORDENAÇÃO TÉCNICA DA REPRESENTAÇÃO DA UNESCO NO BRASIL

DIRETORA E REPRESENTANTE

Marlova Jovchelovitch Noleto

COORDENADORA DO SETOR DE EDUCAÇÃO

Maria Rebeca Otero Gomes

OFICIAL DE PROGRAMAS

Mariana Braga

OFICIAL DE EDUCAÇÃO

Bruna Pereira

CONSULTORIA TÉCNICA DA UNESCO NO BRASIL

Maria Rehder

© UNESCO 2023

EQUIPE DE FORMAÇÃO

LÍDER JOVEM STEM 2030 VIRAÇÃO EDUCOMUNICAÇÃO

EDUCOMUNICADORES

Jufania Santos, Marilia Gomes e Tarcisio Camelo

MONITORIA DE PROJETO

Camila Alves, Kaylanne Karine e Mariana Souza

PRODUÇÃO DE CONTEÚDO

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Esta revista foi criada a partir de um processo educomunicativo facilitado pela Viração, organização social sem fins lucrativos que realiza processos e produtos de comunicação para a promoção dos direitos de adolescentes e jovens.

EDIÇÃO EDUCOMUNICATIVA

Jéssica Rezende e Monise Berno

REVISÃO

Cristina Ramalho

DIAGRAMAÇÃO

Silvana Martins Costa

COPIE SEM MODERAÇÃO! VOCÊ PODE:

• Copiar e distribuir • Criar obras derivadas

Basta dar o crédito para a Vira!

A UNESCO não endossa qualquer produto, serviço, marca ou empresa. As ideias e opiniões expressas neste material são as dos autores e não refletem obrigatoriamente as da UNESCO nem comprometem a Organização.

RG DA VIRA:

REVISTA VIRAÇÃO

- ISSN 2236-6806

CONSELHO EDITORIAL

Rodrigo Bandeira, Vanessa Camargo e Marilda Santos

CONSELHO FISCAL

Marilda dos Santos, Rafael Alves Silva e Vanessa Vieira Camargo

CONSELHO PEDAGÓGICO

Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

PRESIDENTA

Simone Ferreira Nascimento

VICE PRESIDENTE

Bruno de Oliveira Ferreira

PRIMEIRA SECRETÁRIA

Áurea Gomes Ferreira Lopes

DIRETOR INTERNACIONAL

Paulo Lima

COORDENAÇÃO EXECUTIVA

Ellen de Paula

COORDENAÇÃO ADJUNTA

Vania Correia

EDIÇÃO

Jéssica Rezende

EQUIPE

Ana Paula da Silva, Audre Werneck, Camila Alves, Carolina Bernardes,

Cleide Agostinho, Ellen de Paula, Gustavo Souza, Jéssica Rezende, Jufania Santos, Juliane Cruz, Kalline

Lima, Kaylanne Paes, Mariana de Souza, Mariano Figuera, Marilia

Gomes, Monise Berno, Natalie Hornos, Patrícia Cavalcanti, Ramona Azevedo, Rhafaela Resende, Tarcísio Camelo, Thaynara Floriano e Vania Correia.

COLABORADORES

DESTA EDIÇÃO

Amanda Santos, Ana Paula da Silva, Arthur Ricardo, Bruna Pereira, Bruna Rocha, Camila Alves, Daniel Souza Araujo, Fabiano Araujo, Gustavo Souza, Helena Rachel da Mota, Ismael Ribeiro, Jéssica Rezende, João Isaías, João Victor Gomes, Juliane Cruz, Kauane de Souza Lessa, Lana Vergueiro,

Laura Kamylle Oliveira, Lívia Evellin Cavalcante, Luanderson Santana, Luísa Maria Diele, Margareth Novais, Maria Clara Brito, Maria Heloiza Rocha, Maria Rehder, Mariana Braga, Marianne Lavignne, Murilo Amorim, Rafaela dos Santos Araujo, Raika França, Raissa Vitória Ferreira, Ramona Azevedo, Rebeca Otero, Tábata Elise Ferreira, Tainá Caldas, Tarcísio Camelo, Thaynara Floriano, Vania Correia e Yasmin Pires.

JORNALISTA RESPONSÁVEL

Paulo Pereira Lima - MTb 27.300

DIVULGAÇÃO

Equipe Viração

CONTATO

contato@viracao.org

LUGAR DE MENINAS E MULHERES É ONDE ELAS QUISEREM, INCLUSIVE NAS ÁREAS DE STEM

Para quem não sabe, STEM é a sigla em inglês para as áreas de ciências, tecnologias, engenharias e matemática.

Em todo o mundo, apenas 28% dos pesquisadores são mulheres. Injusto, não? Esses dados são do relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) “Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM)”, que também chama atenção para a ausência e para um contexto de apagamento das pesquisadoras nas áreas de STEM.

As diferenças de gênero, em detrimento das meninas, na participação na educação nessas áreas de STEM já são visíveis na educação infantil e se tornam ainda mais claras nos níveis de ensino subsequentes.

Para a UNESCO, é inaceitável a exclusão de mulheres na educação e nas carreiras de STEM. Em 2022, em resposta a esse cenário desafiador, a UNESCO no Brasil lançou a iniciativa #EDUCASTEM2030. Por meio de estratégias de formação de professores e estudantes, iniciativas de comunicação, defesa (advocacy) e mapeamento de redes. A iniciativa teve e tem como objetivo impactar de forma positiva os âmbitos individual, social, escolar e familiar, a fim de reverter o cenário de exclusão e lançar luz às trajetórias inspiradoras de cientistas brasileiras que atuam nessas áreas.

Nessa perspectiva, uma das estratégias de sucesso para romper o ciclo de exclusão da participação feminina nas áreas de STEM é a formação e a mobilização de estudantes nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.

Desenvolvido em cooperação com a Viração

Educomunicação e implementado nos estados da Bahia e de Pernambuco, o curso UNESCO Líder Jovem STEM 2030 tem uma metodologia baseada na educomunicação e na alfabetização midiática e informacional (AMI), com ênfase em temas como projeto de vida, equidade de gênero, educação em STEM e Agenda 2030. Em 2022, aproximadamente 500 adolescentes – em sua maioria meninas –foram certificados, cujas atividades de mobilização impactaram mais de 2.400 pessoas.

Com um conteúdo alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o curso tem como objetivo sensibilizar meninas e mulheres quanto às oportunidades que elas podem ter nessas áreas, assim como envolver a comunidade escolar para acabar com estigmas de gênero, como a falsa premissa de que “STEM é coisa de menino”.

Nas próximas páginas, você vai ter acesso ao conteúdo produzido por adolescentes e integrantes da equipe da Viração Educomunicação que participaram da primeira edição do curso UNESCO Líder Jovem STEM 2030.

A partir de diferentes vozes, em especial de meninas e mulheres brasileiras inspiradoras que atuam nessas áreas, a iniciativa #EDUCASTEM2030, seus principais resultados, materiais de mobilização e histórias de sucesso serão apresentados a você, para que, juntos, em uma mobilização global, nós possamos traçar caminhos viáveis a serem percorridos para o fim do ciclo de exclusão de meninas e mulheres nas áreas de STEM.

PRONTO PARA SE ENGAJAR? NÓS PRECISAMOS DE VOCÊ!

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118 4 EDITORIAL REBECA OTERO*
* Coordenadora do Setor de Educação da UNESCO no Brasil.

VIAS

EXPRESSAS

NA VIRA
SEMPRE

O SONHO DE SER O QUE QUISER

MENINAS E MENINOS JUNTOS NO DEBATE CONTRA A DESIGUALDADE DE GÊNERO NAS ÁREAS STEM

TEXTO CAMILA ALVES, MONITORA DO PROJETO LÍDER JOVEM STEM 2030, EM SÃO PAULO (SP)

IMAGEM FREEPIK ACERVO PESSOAL

Da criação de um algoritmo que possibilitou o primeiro registro em imagem de um buraco negro até a construção de uma máquina capaz de produzir sorvete: estes são apenas dois exemplos de inúmeras conquistas alcançadas por cientistas mulheres que, com o seu trabalho, contribuem para o enfrentamento às desigualdades de gênero presentes nas carreiras em STEM.

Mas será que as meninas se sentem encorajadas para estudar e se desenvolver nas áreas de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática? A pergunta foi central para enriquecer os debates com os adolescentes que participaram da edição piloto do ciclo formativo Líder Jovem STEM 2030, uma iniciativa da UNESCO no Brasil, implementada pela Viração nos estados da Bahia e Pernambuco em 2022.

QUER SABER O QUE MAIS IMPACTOU

A TURMA DURANTE A EXPERIÊNCIA?

CONFIRA ALGUNS DEPOIMENTOS:

LANA CLARA VERGUEIRO

17 ANOS | BARREIROS (PE)

“Perceber quão desvalorizadas são as mulheres nas áreas de STEM, mesmo que elas tenham realizado feitos incríveis, foi impactante. Vi o quanto estamos acostumados com este cenário, mas também foi importante descobrir a raiz dos problemas para pensar em soluções que possam reverter ou, ao menos, diminuir essas desigualdades.”

MARIANNE LAVIGNNE

16 ANOS | JOÃO ALFREDO (PE)

“Pude descobrir a importância da presença feminina nessas áreas, principalmente no momento em que estamos. Vejo um novo conceito para meu futuro, e o curso me ajudou a decidir o que eu, de fato, quero para a minha vida. Afinal, nós podemos e devemos estar onde (e fazer o que) quisermos!”

RAIKA FRANÇA

17 ANOS | JAQUEIRA (PE)

“Para mim, como jovem, estudante e mulher, o principal impacto foi a reafirmação do entendimento de que estou inserida de forma ativa e constante nesta luta. Integrar o Líder Jovem STEM 2030 foi e é participar de uma juventude ativa e protagonista de uma mudança necessária na sociedade.”

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118 6 MANDA VÊ

ARTHUR RICARDO

17 ANOS | SÃO JOSÉ DA COROA GRANDE (PE)

“Mostrar que não existem apenas grandes nomes masculinos, mas que mulheres cientistas também fizeram parte da história. Isso é de extrema importância para alcançarmos uma sociedade mais justa e igualitária em um futuro próximo. Poder aprender sobre a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável também foi fundamental para formar indivíduos que querem tornar esse mundo um lugar melhor.”

TAINÁ CALDAS

18 ANOS | ILHÉUS(BA)

“O curso impactou a minha vida, principalmente na escolha de carreira. Eu tinha muitas dúvidas em relação à Engenharia. Sempre me diziam que era uma área mais direcionada para os meninos, mas, depois do Líder Jovem STEM 2030, isso mudou. Hoje eu curso Engenharia de Produção.”

JOÃO ISAIAS

17 ANOS | CÍCERO DANTAS (BA)

“O que mais me impactou foi a discussão sobre a construção do nosso projeto de vida, algo tão essencial e complexo. Sem dúvida, isso me ajudou a encontrar o caminho que eu quero seguir. Também gostei dos formatos de discussão sobre a inserção de meninas e mulheres nas carreiras de STEM, do incentivo para que isso aconteça e de conhecer exemplos reais de profissionais inspiradoras!”

FABIANO ARAÚJO

19 ANOS | ILHÉUS (BA)

“Chamou minha atenção a maneira de ensinar e mostrar ao jovem a importância das áreas de STEM, além da importância da representatividade negra nestes campos de conhecimento.”

AMANDA SANTOS

17 ANOS | ALAGOINHAS (BA)

“Transformação. É assim que descrevo o curso Líder Jovem STEM. Me sinto muito mais preparada para mudanças. Foi uma experiência intensa e integradora, que me fez alcançar outros patamares - além de ser ‘a aluna bem aplicada’.”

MURILO AMORIM

16 ANOS | IBOTIRAMA (BA)

“Participar dessa iniciativa foi uma oportunidade incrível! Me senti feliz em ajudar a impactar pessoas, além de ter aprofundado meus conhecimentos midiáticos e a construção do meu projeto de vida. Como um dos meninos que participaram, entendi que apoiar esta causa é uma forma de buscar equidade e contribuir com a Agenda 2030 da ONU.”

TEXTO POR MARIANA BRAGA, OFICIAL DE PROGRAMAS

DA UNESCO NO BRASIL, EM BRASÍLIA (DF); BRUNA PEREIRA, OFICIAL DE EDUCAÇÃO

DA UNESCO NO BRASIL, EM BRASÍLIA (DF) E MARIA REHDER, CONSULTORA DO SETOR DE EDUCAÇÃO DA UNESCO NO BRASIL, EM SÃO PAULO

ILUSTRAÇÃO SILVANA MARTINS

ALERTA: O MUNDO SOFRE UM “ APAGÃO” DE MULHERES PESQUISADORAS NAS ÁREAS DE STEM

PARA ROMPER COM A EXCLUSÃO FEMININA NESTAS ÁREAS, UNESCO BRASIL LANÇA A INICIATIVA #EDUCASTEM2030

PROVOCAÇÕES meninas” e “carreiras em ciência e engenharia são domínios masculinos”. Isso pode afetar negativamente o interesse, o envolvimento e o desempenho das meninas nessas áreas, bem como desestimulá-las a seguir carreiras em STEM. O relatório chama ainda atenção não somente para a ausência, mas também para um contexto de apagamento das pesquisadoras mulheres nesses campos de conhecimento.

Você já ouviu alguém na sua escola ou até mesmo na sua família dizer a frase “Isso é coisa de menino”? Falas como essa, principalmente quando vinculadas às carreiras e profissões, podem afastar as meninas e as mulheres de oportunidades incríveis que poderiam ter em áreas associadas a estereótipos de gênero - como é o caso das carreiras em STEM (sigla em inglês para as áreas de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática).

De acordo com o relatório da UNESCO “Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em STEM”, estudos baseados em desenhos e descrições de adolescentes sobre os profissionais de STEM evidenciam percepções de gênero estereotipadas dos cientistas como homens. Na prática, para você entender melhor, esta publicação exemplifica que existem dois estereótipos prevalentes com relação ao gênero e as áreas de STEM: “os meninos são melhores em matemática e em ciências do que as

Para romper esse ciclo de exclusão feminina nestas áreas, uma das estratégias da UNESCO no Brasil com a iniciativa #EDUCASTEM2030 foi de contar com a Rede Kunha Asé de Mulheres na Ciência para a criação de materiais e jogos em recursos educacionais abertos (de uso livre) voltados à quebra do estigma de gênero desde a educação básica, como o Jogo de Colorir com mulheres brasileiras inspiradoras, de diferentes raças e estados brasileiros, que são referências nas áreas em STEM.

UM PROBLEMA QUE NÃO É DE HOJE

Considerado uma das honrarias de maior prestígio do mundo, o Prêmio

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Nobel destaca, anualmente, pesquisas relevantes em diversas áreas do conhecimento e em negociações de paz. Desde 1903, apenas 44 mulheres receberam o referido prêmio e, especificamente, nas áreas de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática, de 589 prêmios, apenas 17 foram concedidos a mulheres - ou seja, menos de 3% do total. Trazendo a reflexão para os tempos atuais, no ensino superior, as mulheres representam apenas 35% das matrículas em STEM, percentual ainda menor nas Engenharias (de produção, civil e industrial) e na área de Tecnologia, não chegando a 28% do total.

A sub-representação das meninas na educação em STEM tem raízes profundas e coloca um freio que prejudica o avanço rumo ao desenvolvimento sustentável mundial. Como é sabido, o tema é uma das bases da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, e a educação nas áreas de STEM pode fornecer aos estudantes conhecimentos, habilidades, atitudes e comportamentos necessários para a construção de sociedades inclusivas e sustentáveis.

Segundo a UNESCO, para se trazer mais meninas e mulheres para a educação e as carreiras em STEM são necessárias respostas holísticas e integradas, que perpassem os diversos setores e envolvam as próprias meninas e mulheres na identificação de soluções para os desafios persistentes. Ao fazer isso já na educação básica, iremos em direção à igualdade de gênero, por meio da qual mulheres e homens, meninas e meninos poderão participar plenamente, desenvolver-se de forma significativa e criar um mundo muito mais inclusivo, igualitário e sustentável.

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118 9

TEXTO ORGANIZADO POR JÉSSICA REZENDE, COORDENADORA DE PROJETOS DA VIRAÇÃO EDUCOMUNICAÇÃO, EM SÃO PAULO (SP)

ILUSTRAÇÃO SILVANA MARTINS

NO MEIO DO CAMINHO HAVIA (MUITAS) PEDRAS

CONHEÇA AS PRINCIPAIS BARREIRAS QUE DISTANCIAM AS MENINAS E MULHERES DAS ÁREAS DE STEM

Quais fatores influenciam a participação, o avanço e o desempenho de meninas e mulheres na educação em STEM? Para responder a esta pergunta, a UNESCO identificou o que se considera como os maiores desafios neste processo e os categorizou em quatro eixos temáticos.

ÂMBITO INDIVIDUAL

As decisões das meninas a respeito de seus estudos e suas carreiras são influenciadas em grande medida por fatores psicológicos, os quais afetam o seu envolvimento, interesse, aprendizagem, motivação, persistência e compromisso com as áreas de STEM. Os estereótipos de gênero relacionados a STEM são predominantes ao longo do processo de socialização. Existem dois estereótipos principais com relação ao gênero e às áreas de STEM: “os meninos são melhores em matemática e em ciências do que as meninas” e “carreiras em ciência e engenharia são domínios masculinos”.

ÂMBITO FAMILIAR

As famílias em geral e os grupos de pares exercem papéis importantes na formação das atitudes das meninas em relação a STEM, por exemplo, ao encorajá-las ou desencorajá-las a seguir estudos e carreiras nessas áreas. Da mesma forma, exercem outras influências relacionadas ao ambiente doméstico e aos valores das crianças.

Fonte: Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). – Brasília: UNESCO, 2018. 84 p., il.

ISBN: 978-85-7652-231-7. Disponível em: https://bit.ly/3YPmS6C

GALERA REPÓRTER
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ÂMBITO ESCOLAR

Os sistemas educacionais e as escolas exercem um papel central quanto ao interesse das meninas em disciplinas de STEM, bem como ao oferecimento de oportunidades iguais para que elas tenham acesso e se beneficiem de uma educação de qualidade nessas áreas. Docentes, conteúdos de aprendizagem, materiais e equipamentos, métodos e mecanismos de avaliação, o ambiente de aprendizagem como um todo e o processo de socialização na escola –todos estes são fatores fundamentais para assegurar o interesse e o envolvimento das meninas nos estudos e, em última instância, nas carreiras de STEM.

ÂMBITO SOCIAL

Normas culturais e sociais influenciam a percepção das meninas sobre suas habilidades, seus papéis na sociedade, suas carreiras e suas aspirações de vida. O grau da igualdade de gênero na sociedade influencia a participação e os resultados das meninas nas áreas de STEM. As medidas específicas para promover a igualdade de gênero, como leis e políticas de integração –tais como cotas, incentivos financeiros e outras –, podem aumentar a participação de meninas e mulheres na educação e nas carreiras de STEM.

FALA, STEMIA!

Agora que você conhece as maiores dificuldades para a inserção de meninas e mulheres nas áreas de STEM, te convido a mergulhar nos conteúdos das próximas páginas com muita atenção, procurando refletir sobre como você pode contribuir para tentar mudar esse cenário das desigualdades de gênero, raça e classe nos próximos anos. Topa o desafio?

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TEXTO

VOCÊ SABE O QUE É A AGENDA 2030 ?

ILUSTRAÇÃO SILVANA MARTINS

Vocêjá ouviu falar na Agenda 2030? Criada em 2015 durante um encontro das Nações Unidas, ela é uma espécie de plano de ação a longo prazo, que busca assegurar sociedades inclusivas e sustentáveis para todas as pessoas. Composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável subdivididos em 169 metas a serem alcançadas até 2030, sua estratégia é fundamentada nas dimensões econômica, social e ambiental.

Por meio dessa parceria global, os países signatários se comprometeram a adotar ações para acabar com a pobreza e com a fome, protegendo o planeta da degradação e assegurando que todos desfrutem do progresso econômico, social e tecnológico em harmonia com a natureza. Além disso, devem promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas, livres do medo e da violência. Documento ambicioso, não?!

Mas a Agenda 2030 não surgiu de uma hora para outra! Foram dois anos de consulta pública, de envolvimento com a sociedade civil e com outros atores em todo o mundo para chegar aos objetivos e metas descritos no

OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) PODEM CONTRIBUIR DIRETAMENTE COM O AVANÇO NA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE E NA EQUIDADE DE GÊNERO NAS CARREIRAS STEM

Referências CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS (CNM). Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

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POR ANA PAULA DA SILVA, ANALISTA DE PROJETOS DA VIRAÇÃO, EM NITERÓI (RJ)

plano. A sua construção foi orientada por outros instrumentos igualmente importantes, como a Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, além de outros tratados internacionais de direitos humanos, a Declaração do Milênio e os resultados da Cúpula Mundial de 2005. Ela também reforça os resultados de todas as grandes conferências e cúpulas das Nações Unidas, tais como a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento; a Plataforma de Ação de Pequim; a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), entre outras.

Cada ODS exprime um cenário que deve ser alcançado, conjuntamente, por meio de ações e políticas públicas dos governos, bem como de organizações diversas, universidades, empresas, bancos e outros atores. Ou seja, você também pode e deve assumir essa responsabilidade! Temos, agora, menos de 10 anos para isso. Quer saber como contribuir com a superação desse baita desafio? Conheça, a seguir, dois objetivos que dialogam com os demais

NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Nações

Unidas Brasil, 2015. Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível

em: <https://bit.ly/43JGA7R>.

Acesso em: 20, fev. de 2023.

EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL NA ESCOLA: CADERNO

INTRODUTÓRIO / editado por Tereza

Moreira e Rita Silvana Santana dos Santos. – Brasília: UNESCO, 2020. 72 p. Disponível

em: <https://bit.ly/3IDWcR4>

FALA, STEMIA!

ODS 4 - EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

Pretende assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, bem como promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todosem consonância com o Plano Nacional de Educação (PNE). O ensino deve ser garantido de maneira igualitária em todas as etapas. A qualidade das instalações físicas nas escolas também deve ser um ponto de atenção, tendo compromisso com a diversidade cultural e o desenvolvimento sustentável.

ODS 5 - IGUALDADE DE GÊNERO

Busca alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas, acabando com a discriminação e a violência através de políticas de garantia de acesso a direitos iguais de propriedade, controle sobre a terra, recursos financeiros e naturais, além do uso de novas tecnologias de informação e comunicação. Para isso, a estruturação de políticas assertivas para que todas possam acessar serviços públicos, estrutura adequada e uma rede de proteção social (atendimento e assistência) às vítimas de violência doméstica devem ser prioridade.

pontos da Agenda 2030 e com o avanço na equidade de acesso para meninas e mulheres na educação e nas carreiras em STEM.

A efetivação de uma educação inclusiva e equitativa de qualidade, bem como da igualdade de gênero e do empoderamento feminino são contribuições essenciais para o progresso em todos os ODS. Alcançar o potencial humano e o desenvolvimento sustentável só será possível se houver investimentos e corresponsabilização nos âmbitos global, regional e nacional, incluindo o engajamento de toda a sociedade na implementação da Agenda 2030 para superar as desigualdades. As Nações Unidas reconhecem as juventudes como fundamentais para realizar diferentes ações de mobilização para os ODS em seus territórios e ‘tirar’ a Agenda 2030 do papel rumo ao desenvolvimento sustentável do planeta. Vamos juntos nessa?

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TEXTO POR RAMONA AZEVEDO, ANALISTA DE COMUNICAÇÃO DA VIRAÇÃO, EM SÃO PAULO (SP)

IMAGEM UNSPLASH

CARREIRAS EM STEM: MULHER, ESSE LUGAR TAMBÉM É SEU!

A INCLUSÃO DE MENINAS E MULHERES NAS ÁREAS DE CIÊNCIAS, TECNOLOGIAS, ENGENHARIAS E MATEMÁTICA CONTRIBUI PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MELHOR

Diante de um cenário de disparidades sociais cada vez mais complexo, fez-se necessário traçar uma estratégia de amplo alcance e efetividade visando alcançar o desenvolvimento sustentável a nível global e diminuir as desigualdades que se manifestam em diversos âmbitos das nossas vidas.

Para enfrentar os maiores desafios de nossos tempos, a Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu em 2015, com a contribuição de representantes e lideranças dos seus 193 Estados-membros, um verdadeiro plano de ação global. O prazo de implementação?

Quinze anos. Você já sabe do que estou falando, não é?

Como vimos em outros artigos desta edição especial da Revista

Viração, a Agenda 2030 tratase de uma proposta global composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A partir da construção e da implementação de políticas públicas, bem como de ações de impacto organizadas por outros atores da sociedade civil, esse documento tem como diretriz assegurar os direitos humanos para a população de todos os países. Acabar com a pobreza, lutar contra as desigualdades e injustiças, alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres e meninas e agir no enfrentamento das mudanças climáticas são apenas alguns exemplos. Mas, neste texto, vamos focar especificamente no mercado de trabalho e em como as carreiras em STEM são um caminho possível para a construção de

uma sociedade mais justa, próspera e diversa.

A nova era digital e a aceleração dos avanços tecnológicos criam oportunidades e promovem empregos, contribuindo para um maior desenvolvimento socioeconômico, fazendo com que os estudantes formados em profissões nas áreas de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática sejam os mais demandados em todo o mundo. Mas será que essas oportunidades são iguais para todos?

Alguns estudos revelam uma amostra do cenário para mulheres e meninas em STEM. De acordo com

o relatório Global Gender Gap 2022, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, a porcentagem de mulheres formadas em STEM é de 36,64% em comparação com 63,36% dos homens. Quando falamos em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), esse número cai bem mais: apenas 1,6% das mulheres formadas em STEM optaram por seguir essa área, enquanto 8,2% dos homens fizeram essa escolha. Já em relação à Engenharia e Manufatura, os dados revelam que 24,6% dos homens se especializaram nessas áreas, versus 6,6% das mulheres. Esses números mostram como a realidade atual é preocupante, afinal são áreas que representam

excelentes oportunidades de trabalho e de desenvolvimento, mas também são áreas em que as desigualdades de gênero criaram inúmeras barreiras, afastando e impedindo milhares de mulheres e meninas de acessarem um universo de infinitas possibilidades. Para alcançar o ODS 8, que estabelece metas no âmbito da garantia de trabalho decente, é preciso promover o crescimento econômico sustentável e inclusivo, com emprego pleno e produtivo para todas as pessoas - especialmente para mulheres, jovens e outros grupos em situação de vulnerabilidade.

E como ajudar a transformar esse cenário desanimador e garantir

que mais meninas e mulheres sigam carreiras em STEM? Uma das formas possíveis de atuação passa pelo apoio e divulgação de organizações, ideias e projetos que promovam diversidade e inclusão feminina - como os exemplos que foram citados na página 17, mapeados pelas equipes da UNESCO no Brasil. Lembrese que a Agenda 2030 foi criada pensando em um esforço coletivo e integrado entre o poder público, empresas privadas, organizações do terceiro setor e a sociedade civil. Ou seja, a ONU também conta com você para ajudar a criar ações de conscientização e de impacto voltadas para o desenvolvimento sustentável na sua escola, no seu bairro, em sua comunidade, entre outros espaços.

TEXTO POR CAMILA ALVES, MONITORA DO PROJETO LÍDER JOVEM STEM 2030, EM SÃO PAULO (SP)

POR UM MUNDO MAIS SUSTENTÁVEL

COMO JOVENS ESTUDANTES PODEM ATUAR NA CRIAÇÃO DE AÇÕES SUSTENTÁVEIS DENTRO DA ESCOLA?

Com certeza você já ouviu falar que “os jovens são o futuro”. Além da responsabilidade que esta afirmação carrega, não podemos negar que daqui a 10 ou 15 anos seremos nós que estaremos cuidando do nosso planeta e o preparando para a próxima geração. Então, por que não começar a fazer isso agora?

Há muitas formas de ajudar a (re)construir um planeta mais saudável e uma delas é por meio da criação de projetos sustentáveis nas escolas. Isso porque, além de propor ações coletivas junto aos seus colegas, você também pode ter o apoio do grêmio estudantil ou até mesmo da coordenação da escola. Música no intervalo das aulas, rodas de conversas, colagem de lambelambe, entrega de panfletos - são muitas as possibilidades e estratégias para conscientizar outros estudantes e até mesmo pessoas fora da escola sobre a importância de tornarmos a sociedade em que vivemos espaços inclusivos e sustentáveis.

Pode ser que você fique em dúvida sobre como começar ou qual tema abordar em suas ações, já que precisamos desenvolver diversas áreas para garantir que o mundo, o Brasil, seu estado, sua cidade, seu bairro ou a sua escola sejam lugares bons para se viver.

FALA, STEMIA!

Para ajudá-lo nessa missão, você pode pesquisar um pouco sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São 17 objetivos a serem trabalhados e melhorados até 2030, garantindo que todas as pessoas possam viver com prosperidade, paz e harmonia entre si e a natureza. Escaneie o QR Code com o seu celular e acesse mais informações sobre a Agenda 2030:

É claro que acabar com a pobreza, por exemplo, parece muito distante se considerarmos o nosso cenário atual. Mas é justamente por isso que toda a sociedade deve trabalhar em conjunto para alcançar os ODS: nós enquanto indivíduos, a nossa família, os nossos amigos, colegas da escola, as ONGs, as empresas privadas e o poder público. Afinal, todos

Lembre-se: qualquer ação é uma ação, independente da sua proporção! O mais importante é ter bem definido qual dos objetivos você mais se identifica, quem irá te ajudar e qual é o público que você deseja impactar. Mudar o mundo é o nosso grande objetivo, mas precisamos começar pensando nos ambientes ao nosso redor - a nossa casa, o nosso bairro, a nossa escola, entre outros espaços. Depois disso, é partir para a famosa “chuva de ideias” e usar a criatividade para arrasar no planejamento!

Na próxima página (olha o spoiler!) você lerá um exemplo de ação sustentável que aconteceu no colégio da Raika, uma das participantes do curso Líder Jovem STEM 2030, e poderá ter inspiração para criar o seu próprio projeto. Bora lá?

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118 16

OFICINA DE SAPONIFICAÇÃO: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESCOLAR E PROTAGONISMO ESTUDANTIL

NO MUNICÍPIO DE JAQUEIRA, EM PERNAMBUCO, UM PROJETO DE SUSTENTABILIDADE VEM CHAMANDO A ATENÇÃO

TEXTO

POR RAIKA FRANÇA, EDUCANDA DO PROJETO

LÍDER JOVEM STEM 2030, EM

JAQUEIRA (PE); CAMILA ALVES, MONITORA DO PROJETO

LÍDER JOVEM STEM 2030, EM

SÃO PAULO (SP) E TARCÍSIO CAMELO, EDUCOMUNICADOR DO PROJETO LÍDER JOVEM

STEM 2030, EM RECIFE (PE)

conversou sobre a produção de óleo de resíduo da cozinha da escola, descobrindo a ausência de um sistema adequado de descarte. O destino do resíduo? Rio Piranji.

Oficina de Saponificação. Fotos: Acervo pessoal.

Durante

uma aula eletiva na Escola de Referência em Ensino Médio Miguel Pellegrino surgiu a proposta que mais tarde seria escolhida para representar a instituição na I Feira de Iniciação Científica da GRE - que acontece em Mata Sul (PE). A partir das disciplinas de Ciências da Natureza, os estudantes puderam exercer práticas de educação ambiental de forma transversal e direta no ambiente escolar em um debate sobre Sustentabilidade. A turma

Pensando nessa problemática, os estudantes Chrystopher da Silva e Daniela da Silva, junto aos professores, desenvolveram a “Oficina de Saponificação” para a criação de sabões ecológicos, com o objetivo de conscientizar seus pares e diminuir a quantidade de óleo descartado no meio ambiente. Esta ação, além de contribuir com o ODS 12 - “Consumo e Produção Responsáveis”, incentiva os estudantes à prática de olhar com afeto e prioridade para o nosso planeta, mostrando que ainda há tempo de cuidar dele de forma coletiva e de respeitar o meio ambiente.

Edilânia Ferreira, pós-graduada em Química, é uma das responsáveis

O exemplo é um dos melhores incentivos para que mais meninas e mulheres possam ingressar nas áreas das ciências. Ser uma mulher em STEM nunca será ser apenas mais uma mulher em STEM. É ser inspiração, força, exemplo de luta e possibilidades para tantas outras.”

EDILÂNIA FERREIRA

pela eletiva escolar em que o projeto surgiu. Após a implementação da oficina, a educadora notou que “os alunos se sentiram satisfeitos em diminuir o impacto ambiental através da ação sustentável - já que cada quilo de óleo de resíduos da cozinha escolar, que seriam descartados em afluentes do município, foram transformados em 1,2 kg de sabão.” Como prova da importância e do impacto positivo que projetos como esse geram, a professora ainda conta que uma das estudantes passou a fazer o processo de saponificação em casa, mostrando que a conscientização pode virar uma prática que transcende os muros da escola.

Questionada sobre a sua atuação como professora na área de STEM, Edilânia afirma que mulheres em carreiras de STEM são essenciais para promover a igualdade de gênero e valorizar a diversidade nas escolas.

É PRECISO TER PÉS FIRMES NO CHÃO PARA PODER VOAR!

A EQUIDADE DE GÊNERO EM STEM DEVE SER UMA BUSCA, INCLUSIVE, DE MENINOS E HOMENS

Em toda a história, mulheres quase sempre estiveram em um plano secundário. Isso é visível desde as histórias bíblicas, que narram a sua criação a partir da “costela” de um homem, até os relatos de que mulheres não podiam seguir determinadas carreiras ou ocupar cargos e posições de destaque justamente por seu gênero.

Essa visão machista reverbera em todas as esferas da sociedade. Para as mulheres, conquistar reconhecimento é sempre difícil - sem contar que o fato de se manter viva já é uma vitória num país em que o feminicídio e outras formas de violência parecem ser uma epidemia. Mesmo diante disso tudo, nossa história é marcada por mulheres que foram e ainda são responsáveis por grandes avanços e descobertas que mudaram rumos, tendo ideias e construindo coisas que nenhum homem conseguiu. Como afirma Elza Soares, uma das mais brilhantes cantoras da história brasileira:

Ainda assim, a falta de referências femininas nas áreas de STEM, por exemplo, é uma das maiores desmotivações para que meninas sigam essas carreiras, acreditando que, como “não me vejo lá, realmente não é pra mim”. Nós, meninos, sempre somos questionados, na escola e em casa, sobre o que queremos ser quando crescermos. E as respostas são inúmeras: médicos, pilotos, engenheiros, cientistas - somos ensinados a sonhar com o nosso futuro. Me recordo de uma colega de classe que, ao ser questionada sobre seu futuro, respondeu: programadora de computador.

Todos riram dela, e seu semblante desfaleceu. Atitudes como essa desencorajam meninas e mulheres a seguirem suas vocações.

Justamente na escola, que deveria ajudá-la a conquistar seu objetivo, o seu sonho não teve crédito.

A equidade de gênero sempre

está em pauta nos debates, mas sinto que falta ação. É urgente que o poder público atue na criação de programas de inclusão de meninas e mulheres na ciência, por exemplo. Mas, também, é preciso mudar as percepções dentro da nossa casa e no nosso meio. Precisamos parar de achar que as meninas e mulheres nascem apenas para afazeres domésticos e serem cuidadoras. Precisamos apoiar nossas irmãs, primas, amigas e mães. A família, a escola, nós homens e a sociedade toda precisam incentivar e oferecer o chão para que essas meninas e mulheres mantenham seus pés firmes e possam voar.

Pensando em tudo isso, me veio outro questionamento: será que muitas mulheres não incentivam outras porque, quando meninas, elas não tiveram apoio e seus sonhos também foram destruídos?

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118 18 TEXTO POR GUSTAVO SOUZA, ESTAGIÁRIO
DE COMUNICAÇÃO DA VIRAÇÃO, EM SÃO PAULO (SP) IMAGEM JÉSSICA REZENDE
“Deus é mãe, e todas as ciências femininas”.

TEXTO POR VANIA CORREIA, COORDENADORA ADJUNTA DA VIRAÇÃO, EM BONITO (MS)

Imagina uma comunidade criada para promover o protagonismo feminino na tecnologia por meio da capacitação, mentoria e empregabilidade. Imaginou? Pois ela já existe! É a WoMakersCode, a maior comunidade de tecnologia formada por mulheres da América Latina. O projeto nasceu no Rio Grande do Sul com a missão de tornar as carreiras de tecnologia acessíveis para todas as mulheres e hoje é referência na busca por equidade de gênero na área.

A WOMAKERSCODE é uma das ações identificadas pela UNESCO em mapeamento inédito que revelou a existência de 217 iniciativas brasileiras que incentivam a participação de meninas e mulheres nas áreas de STEM. O levantamento é parte do seu esforço para valorizar essas ações e explicitar as demandas e desafios que persistem nesse campo.

Além dessas mais de 200 iniciativas, a UNESCO identificou algumas redes que reúnem e articulam várias pessoas, instituições e projetos que atuam para ampliar a presença de mulheres nas carreiras em STEM. Vamos conhecê-las?

MAPEANDO OPORTUNIDADES

LEVANTAMENTO INÉDITO IDENTIFICA CENTENAS DE INICIATIVAS BRASILEIRAS QUE PROMOVEM A PARTICIPAÇÃO DE MENINAS EM STEM

MENINAS DIGITAIS — Programa da Sociedade Brasileira da Computação que desperta o interesse de meninas do ensino médio e dos anos finais do ensino fundamental para a área da Computação.

MENINAS NA CIÊNCIAS — Programa de extensão do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que busca atrair meninas para as carreiras de ciência e tecnologia e estimular mulheres a persistirem na área.

PYLADIES — Comunidade mundial que foi trazida ao Brasil com o propósito de instigar mais mulheres a entrarem na área tecnológica.

TECHNOVATION GIRLS BRASIL — Programa internacional que mobiliza equipes de jovens mulheres ao redor do mundo para aprender e aplicar as habilidades necessárias para resolver problemas do mundo real por meio da tecnologia.

FALA, STEMIA!

Conheça o “Mapeamento de iniciativas de estímulo de meninas e jovens à área de STEM no Brasil”, da UNESCO. Acesse o conteúdo pelo QR Code:

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118 19

TEXTO POR CAMILA ALVES, MONITORA DO PROJETO LÍDER JOVEM STEM

2030, EM SÃO PAULO (SP)

REPRESENTATIVIDADE NAS

SALAS DE AULA: UM CAMINHO POSSÍVEL PARA A EQUIDADE

IMAGEM PEXELS A INVISIBILIZAÇÃO DE DOCENTES MULHERES EM STEM É MAIS UM SINTOMA QUE CONTRIBUI COM O AUMENTO DA DESIGUALDADE DE GÊNERO NESSAS CARREIRAS

Quando pensamos em mulheres que são referências nas áreas de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática, sempre lembramos dos nomes que têm maior projeção na mídia e acabamos nos esquecendo daquelas que exercem a importante vocação de educar.

O número de professoras no Brasil é maior do que o de professores em todas as etapas da educação básica, como revela o Censo

Escolar da Educação Básica (2022). Segundo o relatório, dos 657 mil docentes que atuam na educação infantil, 96,3% se identificam com o gênero feminino. Já no ensino fundamental, de mais de 1,4 milhão de profissionais, a disparidade começa a diminuir - apresentando uma relação de 77,5% de professoras mulheres versus 22,5% de docentes homens.

No ensino médio, do total de quase 546 mil professores, 57,5% se autodeclararam como sendo do sexo feminino e 42,5% do sexo masculino. Outra característica interessante de se observar ocorre em relação à presença das mulheres, com a grande maioria sendo responsáveis por lecionar disciplinas nas áreas de Humanas - cenário inverso em relação ao que se vê no campo das Exatas e das Ciências da Natureza. Isso acontece pelo fato de que, no ensino superior, elas representam apenas 35% das matrículas em cursos nas áreas de STEM, consequência de uma educação básica sem incentivo para que as meninas e mulheres sigam carreiras nesses campos de conhecimento.

Durante a formação Líder Jovem STEM 2030, os participantes foram convidados a entrevistar mulheres profissionais em STEM. O resultado foi a identificação e o reconhecimento dessas professoras nas escolas de seus territórios. Na maioria dos relatos, as docentes contaram sobre as dificuldades que enfrentaram para chegar onde estão atualmente, precisando quebrar inúmeras barreiras referentes

Revista Viração • A no 20 • Edição 118

à desigualdade de gênero. Para entender melhor as causas disso, precisaremos voltar às páginas 10 e 11 desta mesma edição, nas quais falamos sobre as quatro barreiras identificadas pela UNESCO que colaboram para a exclusão de meninas e mulheres na educação em STEM. São elas: Individual, Social, Familiar e Escolar. Você se lembrou? Então, podemos seguir.

É fato que, para alcançar uma educação de qualidade, precisamos de profissionais capacitados. No entanto, muitos professores ainda não estão familiarizados com o contexto no qual as áreas STEM estão inseridas e, por isso, podem ter algumas atitudes dentro de sala que reforçam estereótipos e preconceitos - como na interação entre docente e aluno e na relação do aluno com a matéria. Quantas vezes meninas ouviram que meninos têm mais facilidade com números e que elas deveriam se focar em outras disciplinas, como o estudo da Língua Portuguesa? Isso é mais comum do que parece, e acontece por causa da baixa expectativa que os professores têm em relação ao aprendizado das meninas. Ademais, é interessante pensar em como as mulheres são representadas nos livros e em

outros materiais didáticos, já que eles também têm um papel importante na promoção do interesse e do envolvimento das meninas em disciplinas de STEM. Trabalhar a igualdade de gênero e a importância de ver homens e mulheres exercendo as mesmas funções a partir de imagens e textos é fundamental para que os estudantes compreendam que há oportunidades para todas as pessoas, independentemente da área.

A presença de professoras dentro da sala de aula é essencial para incentivar as meninas a

partir do seu próprio exemplo, desmistificando rótulos e superando as expectativas de gênero que a sociedade ainda tem sobre a inserção de mulheres nas carreiras em STEM. Essas interações influenciam no envolvimento, na autoconfiança, no bom desempenho e na persistência das meninas. Afinal, lá atrás, alguém incentivou essas mulheres a seguirem os seus sonhos. Agora, indiretamente ou não, são essas mesmas mulheres que inspiram as meninas a ter uma vida acadêmica repleta de possibilidades a serem alcançadas no presente e no futuro.

A UNESCO no Brasil, em parceria com o Educadigital, lançou o curso Líder Docente #EDUCASTEM2030, que visa contribuir para o aumento da participação das meninas e mulheres brasileiras nas áreas de STEM a partir de uma formação pioneira de líderes educacionais com destaque para temas da contemporaneidade - como inteligência artificial, programação, ciências de dados, entre outros. Para a estruturação e planejamento de práticas, o curso contempla a abordagem do Design Thinking, que propicia uma nova forma de pensar e abordar problemas com base na empatia, na colaboração e na experimentação.

O curso veio para somar na minha vida profissional e pessoal, bem como colaborar com a famosa frase que diz ‘a mulher pode e deve estar onde ela quiser’. Eu sou nova na educação, então ainda sinto que eu estou voando nessa área bem desafiadora que é a Matemática.”

GLEICIANE MARQUES, PROFESSORA DE MATEMÁTICA

E PARTICIPANTE DO CURSO LÍDER DOCENTE STEM.

Fazer parte do Líder Docente STEM foi uma gratificação muito grande. É muito bom você ser desafiada e perceber o quanto os nossos alunos podem render nestas áreas - não apenas como componente curricular, mas como plano de carreira para o futuro.”

LUCIANA MARIA, PROFESSORA DE MATEMÁTICA

E PARTICIPANTE DO CURSO LÍDER DOCENTE STEM.

Escaneie o QR Code e saiba mais sobre a formação gratuita:

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118 21

TEXTO ELABORADO COLETIVAMENTE A PARTIR DE UM PROCESSO

EDUCOMUNICATIVO

COM OS ESTUDANTES DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO LÍDER

JOVEM STEM 2030

ORGANIZAÇÃO

CAMILA ALVES, MONITORA DO PROJETO LÍDER JOVEM STEM

2030, EM SÃO PAULO (SP)

ILUSTRAÇÃO

SILVANA MARTINS

ELIADE FERREIRA : A CIENTISTA QUE ALCANÇOU AS ESTRELAS

CONHEÇA A HISTÓRIA INSPIRADORA DA MULHER QUE ABRIU CAMINHOS PARA QUE MAIS MENINAS PUDESSEM SE TORNAR CIENTISTAS

Para proporcionar um contato mais próximo com mulheres que atuam nas áreas de STEM, a equipe do curso Líder Jovem STEM 2030 convidou cinco profissionais inspiradoras para serem entrevistadas pelos jovens do projeto. Nas turmas da Bahia, conhecemos um pouco sobre as trajetórias de Eliade Ferreira, doutora em Astrofísica; Ana Cecília Albergaria, doutora em Oceanografia Química e Geológica; e Luisa Maria, doutora em Ecologia. Já em Pernambuco, contamos com a presença da Rita de Cássia, mestre em Física, e da Giulia Silvério, aluna de Ciências Biológicas.

Nos encontros, percebeu-se as diferentes trajetórias dessas mulheres e como todas tiveram que passar por muitas barreiras, como a desigualdade de gênero, para conseguir alcançar seus objetivos. Ana Cecília, por exemplo, estava disposta a viajar para o lugar mais frio do mundo: a Antártica. Durante a sua trajetória, teve bastante incentivo e uma base sólida familiar para conseguir realizar os seus sonhos. Luisa queria ser bióloga desde os seus 11 anos e foi através da ajuda que recebeu de uma mulher que já tinha experiência na área que ela pôde continuar seguindo o

seu sonho de infância. Na pósgraduação percebeu a falta de representatividade feminina na Ciência e se uniu a outras colegas na criação da Rede Kunhã Asé, visando incentivar o ingresso de mais mulheres nessa área.

Enquanto Ana Cecília sonhava com a Antártica e Luisa sonhava com a natureza, Eliade sonhava com as estrelas. Em nossa conversa, ela nos contou um pouco sobre a sua trajetória, os desafios que enfrentou por ser uma mulher

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GALERA REPÓRTER
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negra e como ela se apaixonou ainda mais pelas estrelas.

REVISTA VIRAÇÃO - SABEMOS

QUE A SUA AVÓ E SEU PROFESSOR

TIVERAM UM PAPEL IMPORTANTE

NA SUA HISTÓRIA, MAS CONTA

PRA GENTE: QUANDO VOCÊ DECIDIU

SEGUIR CARREIRA NA FÍSICA E SE

APAIXONOU PELAS ESTRELAS?

ELIADE FERREIRA: Na verdade, a ordem é inversa. Primeiro eu me apaixono pelas estrelas e depois eu descubro que para estudar as estrelas eu teria de fazer Física.

A cada seis meses, nas férias, eu ia para a casa da minha avó e lá não tinha energia elétrica, então era um céu muito profundo, com muitos detalhes. Me lembro que ela ia dormir por volta das 19h, e eu, menina da cidade que deitava bem mais tarde, sentava na calçada para olhar o céu. Tinha muitas coisas diferentes e eu ficava louca para perguntar o que era tudo aquilo. Também lembro de perguntar ao professor de ciências “por que que o barulho dos raios chegava depois?”. Ele mostrou o que era velocidade do som e da luz, pediu para que eu contasse quantos segundos se passavam depois que eu via o raio e o som chegasse aos meus ouvidos e eu fui embora pensando assim “É isso que eu quero fazer.

Eu quero saber responder as coisas”. Aí me tornei uma pupila desse professor e foi ele que me instruiu e me deu exercícios a mais. A professora de matemática também percebeu essa afinidade e, aos 14 anos, me levou para fazer um curso de formação de professores na universidade. Foram essas pessoas que acreditaram no meu potencial.

R.V. - FALANDO SOBRE A SUA

GRADUAÇÃO: COMO ERA A QUESTÃO DE MULHERES, ESPECIALMENTE

MULHERES NEGRAS, NA SUA SALA?

E.F. - Acho que éramos 6 meninas e 34 homens na turma, mas não se cogitava falar que tinham poucas mulheres, porque isso era normal. Falar sobre questões raciais também era quase impossível, porque aquele não era visto como um lugar de pessoas negras, então “não tinha por que falar delas”. Eu me lembro de, bem depois,

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perceber que de negras tínhamos só eu e mais uma aluna. Meu curso era predominantemente masculino e eu não tinha referências de mulheres e, principalmente, de mulheres negras. Eu e a Socorro fomos as únicas a nos formar no tempo do curso e a reitoria até falou “Vamos fazer a formatura com todos os rituais, porque são duas meninas se formando e no Brasil isso não acontece muito”. Eu nunca percebi dos professores um tratamento diferente, pelo contrário, eles nos incentivaram demais a ir para o Mestrado. A Universidade em si me incentivou muito.

R.V. - VOCÊ COMENTOU QUE NA GRADUAÇÃO ERA “NORMAL” NÃO TER MULHERES NEGRAS OCUPANDO ESSES ESPAÇOS, MAS E DEPOIS - NO MESTRADO, POR EXEMPLO -, ESSA SITUAÇÃO CONTINUOU?

E.F. - Eu saio da Bahia achando que era assim em qualquer lugar e que os professores nos apoiariam em qualquer lugar. E eu vou para o Mestrado achando que também seria desta forma. No Rio Grande do Norte eu percebi a diferença de ser mulher. Lá foi horrível. Tive que ouvir um professor falar que, por ser mulher, eu era muito inteligente. Ali eu

percebi que a Ciência não era um lugar que esperavam que uma pessoa como eu ocupasse. Foi lá também que eu passei por uma situação de assédio sexual do meu ex-orientador. Eu faço uma denúncia e mudo dali para a Universidade Federal do ABC, em São Paulo, onde passo a estudar Física de partículas, com o apoio do professor Marcelo Leike, que na época me aceitou como orientanda. Mas foi bem difícil, porque o meu ex-orientador também me processou com a acusação de calúnia e difamação. A forma que eu encontrei para enfrentar tudo isso foi criar projetos que buscam dialogar com meninas mais novas que desejam seguir carreira na Ciência e dar consultorias para capacitar instituições a receber essas mulheres de maneira adequada, contribuindo para o enfrentamento do assédio moral e sexual nesses espaços.

R.V. - COMO VOCÊ SE SENTE AO VER ONDE VOCÊ CHEGOU HOJE?

E.F. - Eu nunca parei para pensar, apesar de falar muito sobre isso. A minha palestra mais pedida é “Como eu alcancei as estrelas?”, mas eu, Eliade,

não paro para pensar. Porque foram muitos “nãos”, com mais obstáculos do que coisas que ajudaram. E as questões sociais foram muito fortes: filha de pais separados, minha mãe tendo que mudar de estado para ser empregada doméstica. Passei por situações de insegurança alimentar, de não ter dinheiro, de viver de carona. Quando eu coloco na balança, a quantidade de prós parece ter sido menor, mas a intensidade com a qual eles aconteceram e a forma como contribuíram foram muito profundas e me marcaram muito.

R.V. - NO ENCONTRO PRESENCIAL DO LÍDER JOVEM STEM 2030, NA BAHIA, FOI NÍTIDO O IMPACTO QUE A SUA HISTÓRIA DE VIDA TEVE NA TURMA. VOCÊ TEM ALGUM RECADO PARA AS MENINAS QUE SONHAM EM SEGUIR CARREIRA NAS ÁREAS DE STEM?

De forma inovadora, a metodologia do Curso Líder Jovem STEM 2030 valorizou, a partir da Educomunicação, o desenvolvimento de habilidades de Alfabetização Midiática Informacional nos estudantes participantes, os quais tiveram aulas virtuais com cientistas inspiradoras que atuam nas áreas em STEM. Para estes encontros, os jovens foram convidados a realizar pesquisas sobre a entrevistada, elaboraram coletivamente a pauta e, na ocasião, realizaram perguntas as quais serviram de base para a elaboração deste texto – organizado por Camila Alves e cuja autoria coletiva é de: Bruna Rocha, Daniel Souza Araujo, Fabiano Araujo Rosa, Ismael Santos Ribeiro, João Victor Santos Gomes, Kauane de Souza Lessa, Laura Kamylle Oliveira, Luanderson Santana Araújo, Margareth Novais de Sa, Maria Heloiza Rocha, Rafaela dos Santos Araujo, Raissa Vitória Ferreira e Yasmin Pires Santos.

E.F. - Infelizmente, as áreas STEM ainda são dominadas por um público masculino, branco, cis, hétero. Isso contribui para que as meninas não se enxerguem nesses espaços, mas eu me enxerguei. Hoje eu entendo a minha importância nesse lugar. O conselho que eu dou para qualquer pessoa, independente da área, é: a palavra ‘desistir’ precisa ter outro significado. Quando a gente está em alguma situação que não está confortável para nós, mas é o nosso sonho, recalcula a rota, mas não desista. Desistir é o que querem que a gente faça. Se for realmente algo que você quer e que não esteja te machucando, continue. Busque outras alternativas, procure um lugar em que você vai ser feliz, para não desistir e depois dizer: “Eu poderia ter sido tanta coisa e não fui”.

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TEXTO POR ANA PAULA DA SILVA, ANALISTA DE PROJETOS DA VIRAÇÃO, EM NITERÓI (RJ)

IMAGEM PEXELS

INTERSECCIONALIDADE DE RAÇA NA INSERÇÃO DE MENINAS E MULHERES EM STEM

PARA ENFRENTAR AS DESIGUALDADES DE GÊNERO NAS ÁREAS DE CIÊNCIAS, TECNOLOGIAS, ENGENHARIAS E MATEMÁTICA É PRECISO BUSCAR, TAMBÉM, A EQUIDADE DE RAÇA

FALA, STEMIA!

Para te ajudar a entender melhor esse conceito e como ele pode ser aplicado na prática, separamos dois vídeos com especialistas no tema.

“O que é interseccionalidade e qual sua importância para a questão racial?”, produzido pelo NEXO Jornal em 2020.

Muito tem se falado em interseccionalidade, mas, afinal, você sabe o que isso significa? Com origem nos anos 1980, no contexto feminista, a palavra foi utilizada a primeira vez pela jurista e professora negra norte-americana Kimberlé Crenshaw, no âmbito das leis antidiscriminação. A interseccionalidade se tornou um conceito sociológico preocupado com as interações e os marcadores sociais nas vidas das chamadas “minorias”. Ela nos ajuda a perceber que cada um de nós é atravessado por diferentes marcadores e cruzamentos - seja em relação ao gênero, raça, classe, etnia, deficiências, sexualidade, entre outros - que geram, em algumas pessoas e grupos específicos, relações de subordinação, hierarquia social e exploração.

“O que é interseccionalidade? - com Carla Akotirene”, produzida pela Rede TVT em 2020.

CARLA AKOTIRENE, de Salvador (BA), é uma pesquisadora brasileira referência em estudos sobre gênero, raça e feminismo. Em seus escritos sobre o tema, ela desfaz a ideia de um feminismo global e hegemônico como única diretriz para definir as pautas de luta e de resistência, explicando que a interseccionalidade seria como uma encruzilhada de experiências analíticas. Ou seja, a sensibilidade analítica é determinante para compreender quais as condições estruturais e que ferramentas são necessárias para responder às opressões que sofrem as mulheres negras. Mas existem outras apropriações, como pontua Flavia Riosoutra importante pesquisadora sobre raça, gênero e justiça racial. Os movimentos sociais e organismos internacionais utilizam a interseccionalidade como uma ferramenta de intervenção política e de enfrentamento das desigualdades.

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118 26

As disparidades de gênero e raça são aspectos fundamentais das desigualdades sociais no Brasil. Suas dinâmicas de produção e reprodução afetam a grande maioria da população. Contudo, a situação é muito mais precária e perversa em relação às meninas e mulheres negras, revelando a urgência da criação de ações estratégicas e políticas públicas de enfrentamento às desigualdades de raça e gênero.

Esses fenômenos impactam as trajetórias de crescimento e de desenvolvimento social do país através, por exemplo, do acesso historicamente negado à participação e ao avanço de meninas e mulheres, principalmente as negras, na educação e carreiras em STEM. Por isso, precisamos criar condições para que, além de conhecer, elas também possam ocupar esses espaços e romper com os muros simbólicos que as afastam dessas possibilidades. É preciso alinhar a engrenagem da interseccionalidade a uma formação antirracista e antissexista, além de conhecer e consumir a produção intelectual negra, as histórias de nossas antecessoras e resgatar a nossa memória. Para que outras meninas e mulheres, principalmente negras, conheçam, tenham interesse e se envolvam em carreiras de STEM é necessário que famílias, escolas e toda sociedade se envolvam conjuntamente visando intervir e oportunizar a ampliação de seu repertório sobre as áreas de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática. Vamos juntos nessa?

FALA, STEMIA!

Vale conhecer a história inspiradora de ENEDINA ALVES MARQUES (1913-1981), considerada a primeira mulher negra engenheira civil no Brasil e a única de sua turma. Filha de lavrador e empregada doméstica, passou a ajudar a mãe na casa do patrão que, em troca, lhe dava instrução. Viveu em um período pós-abolição, que não se preocupou em construir políticas públicas ou de ofertar oportunidades educacionais e profissionais que contribuíssem para a ascensão social da população negra.

Leia a matéria completa, escrita por Thamiris Treigher para o blog do INBEC Pós-Graduação, sobre a trajetória de Enedina, suas conquistas e as homenagens póstumas recebidas:

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TEXTO POR VANIA CORREIA, COORDENADORA ADJUNTA DA VIRAÇÃO, EM BONITO (MS) IMAGEM RAWPIXEL

PLANEJAR O FUTURO

O PROJETO DE VIDA AJUDA A EXPLORAR AS POSSIBILIDADES DO PRESENTE E VISLUMBRAR UM FUTURO DE REALIZAÇÃO PESSOAL E COLETIVA

Construir um projeto de vida é um exercício tão desafiador quanto prazeroso, que nos conduz por uma jornada de descobertas sobre nós e sobre o mundo. Em síntese, nos ajuda a compreender ‘quem somos’ e ‘quem queremos ser’, ao passo que nos leva a investigar nossos anseios, valores e história e nos provoca a refletir sobre o contexto em que vivemos e as marcas que queremos deixar no mundo.

Em termos mais concretos, podemos descrever o projeto de vida como um planejamento que estabelece objetivos e metas de ordem pessoal, social e profissional, em busca de sentido e realização individual e coletiva. É um plano de futuro que ajuda a orientar nossa ação no presente. Sua elaboração articula as três dimensões da vida humana:

DIMENSÃO PESSOAL

Tudo começa com autoconhecimento. Projetar a vida leva a refletir sobre a própria identidade, valores, aptidões, anseios e, claro, investigar na própria história as relações e circunstâncias de vida que influenciam quem você é.

DIMENSÃO SOCIAL

Você não é uma ilha. Ao planejar o futuro, você terá a oportunidade de pensar sobre os impactos da sua ação no mundo e se comprometer com valores éticos como empatia, solidariedade e justiça.

DIMENSÃO PROFISSIONAL

O trabalho como realização pessoal e social: enquanto pensa em um projeto para a vida, você vai se indagar sobre interesses, habilidades e aptidões profissionais, bem como conhecer melhor os aspectos do mundo do trabalho e estabelecer metas para este campo da vida.

PROJETAR A VIDA NUM MUNDO EM

Como vimos, o projeto de vida tem implicações individuais e coletivas. Por um lado, é uma construção que você faz a partir da sua história, desejos e aspirações para alcançar realização pessoal. Por outro, essa construção influencia e é influenciada pelas relações e pelo contexto no qual está inserido.

O mundo contemporâneo tem passado por constantes e aceleradas transformações que afetam as formas tradicionais de aprender, trabalhar e conviver. A crise gerada pela pandemia da Covid-19; a quarta revolução industrial com suas diversas inovações tecnológicas; a desinformação e as mudanças climáticas são algumas das questões que estão postas. As implicações destes desafios são discutidas no relatório “Reimaginar nossos futuros

FALA, STEMIA!

Conheça na íntegra o relatório “Reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social para educação”, produzido pela UNESCO:

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118 28
TRANSFORMAÇÃO

juntos: um novo contrato social para educação”, produzido pela UNESCO, um dos mais importantes relatórios sobre Educação do mundo.

Ao criar um projeto de vida é preciso refletir sobre estes desafios, não só porque eles fazem parte da realidade global e local que impactam as nossas vidas no presente e no futuro, mas pelo chamado ético para orientar nossas escolhas no sentido de ajudar a superar essas crises.

AS VANTAGENS DE TER UM PROJETO DE VIDA

✓ Nos ajuda a conhecer melhor nossos desejos, potências e limitações;

✓ Dá uma perspectiva de futuro;

✓ Nos motiva a ir em busca dos nossos objetivos;

✓ Nos ajuda a traçar os caminhos para chegar aonde queremos;

✓ É importante para alcançarmos sentido de realização e felicidade;

✓ Contribui positivamente para a promoção da saúde mental, pois dá sentido à nossa existência e motivação para enfrentar os desafios.

ESCOLHENDO UMA PROFISSÃO

Como vimos, o campo profissional é uma das dimensões do projeto de vida, fundamental tanto para garantir as condições materiais da nossa existência, quanto para gerar realização pessoal.

Fazer uma boa escolha nessa área exige autoconhecimento — do que você gosta, do que você faz bem, quais as suas habilidades etc.—, e conhecimento sobre as profissões que te interessam e os mecanismos de ingresso na universidade, curso técnico e no mundo do trabalho.

VAMOS TESTAR EM QUE PASSO VOCÊ ESTÁ NESSE CAMINHO?

1. Você já fez algum teste vocacional?

2. Você sabe com quais áreas tem mais afinidade?

3. Você já pesquisou sobre as profissões que te interessam?

4. Você sabe qual o campo de atuação das profissões que te interessam?

5. Você sabe como funciona o ENEM?

6. Você conhece o SISU, PROUNI e o FIES?

7. Você conhece algum cursinho popular pré-vestibular na sua cidade?

8. Você sabe algo sobre o programa Jovem Aprendiz?

RESULTADO

14 a 16 – Parece que você descobriu o caminho das pedras para chegar até a profissão dos seus sonhos.

13 a 10 – Você já está adiantado no processo, siga em frente que o futuro é logo ali.

9 a 6 – Você tem um mundo para descobrir e isso pode ser incrível, vá em frente.

5 a 1 – Corre e vai pesquisar tudo o que você precisa saber para planejar seu futuro profissional.

FALA, STEMIA!

O projeto Tô no Rumo, realizado pela Ação Educativa, tem uma série de materiais incríveis sobre juventudes, educação e o mundo do trabalho. Aproveita!

SIM 2 pontos MAIS OU MENOS 1 ponto NÃO 0 pontos
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A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCOMUNICAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE CRÍTICA E JUSTA

EDUCAR COM E PARA AS MÍDIAS É FUNDAMENTAL PARA GARANTIR CIDADANIA PLENA

Emtermos técnicos, a Educomunicação surge no campo da Comunicação, a partir do diálogo entre a escola e a família (agências de socialização) com os meios de comunicação, uma vez que todas estão envolvidas na formação dos indivíduos para a vida em sociedade. Como um paradigma que busca unificar esse diálogo, ela enfatiza justamente a formação dos sujeitos, sem fazer distinção entre abordagens teóricas e práticas.

No entanto, a Educomunicação não deve ser confundida com toda

e qualquer mensagem que circula pelos meios de comunicação e que, porventura, gere algum tipo de aprendizado a alguém. Um exemplo claro disso são as fake news, que são disseminadas cada vez mais rapidamente e com refinamento, passando adiante informações que não condizem com a realidade, mas que têm atrativos suficientes para fazer as pessoas acreditarem nelas.

A Alfabetização Midiática e Informacional (AMI), conceito que também faz parte dos campos da Educação e da Comunicação,

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TEXTO POR JULIANE
E THAYNARA FLORIANO,
IMAGEM
CRUZ
ANALISTA DE EDUCOMUNICAÇÃO E ESTAGIÁRIA DE EDUCOMUNICAÇÃO DA VIRAÇÃO, EM SÃO PAULO (SP)
FREEPIK

vem se mostrando fundamental para garantir acesso digno à informação no nosso tempo. Uma análise sobre as práticas educacionais durante o período de isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19 é suficiente para atestar a importância de que cada vez mais pessoas saibam ler de forma crítica, interpretar e distribuir informação mais ativamente e perceber as armadilhas da guerra de narrativas na qual estamos inseridos. É a partir da AMI que podemos utilizar recursos comunicacionais para quebrar os ciclos de desinformação que cercam pessoas de todas as faixas etárias e escolaridades.

A prática educomunicativa, além de se apropriar dos meios de comunicação para fins educativos, preocupase também em estimular o pensamento crítico sobre esses

meios. Ou seja, preocupa-se com a alfabetização midiática e estabelece uma forma de pensar transdisciplinar, uma vez que a Educação só é possível através da Comunicação e todo ato comunicativo necessariamente gera algum aprendizado. É essencial estimular interpretações que discutam essa complexidade a partir das formas comunicacionais predominantes na sociedade contemporânea e buscar responder a inquietações legítimas sobre a estrutura da nossa sociedade e a respeito da forma como estudamos. Tais atitudes são fundamentais para a perspectiva educacional e para a transformação social promovida por sujeitos críticos, cívicos e autônomos.

Assim como não se estuda Política sem Geografia e História, não se transforma uma sociedade sem a análise de todos os campos que contribuem para a manutenção de seu sistema. O objetivo da Educomunicação é

FALA, STEMIA!

Escaneie os QR Codes abaixo e conheça duas publicações UNESCO sobre Educomunicação e Alfabetização Midiática e Informacional (AMI): Alfabetização midiática e informacional: currículo para formação de professores

Media and information literate citizens: think critically, click wisely!

(Disponível somente em inglês)

que possam ser utilizados de forma intencional e facilitadora dos aprendizados, amparados pelo pensamento democrático, participativo e horizontal, guiando-se por princípios educativos e se empenhando em trazer à tona reflexões amplas, complexas e transformadoras da realidade e enriquecedoras dos processos de aprendizagem.

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JAQUELINE GOES - EMPRETEÇA AS SUAS REFERÊNCIAS DE MULHERES CIENTISTAS

A CIENTISTA QUE PARTICIPOU DO SEQUENCIAMENTO DO GENOMA DO CORONAVÍRUS TORNOU-SE REFERÊNCIA E HOJE INSPIRA MENINAS NEGRAS DE TODO O PAÍS

Apandemia de coronavírus (Covid-19) trouxe um novo olhar ao trabalho de cientistas em todo o mundo. Além de correr contra o tempo no desenvolvimento das vacinas, também foi necessário um combate árduo contra as fake news. Frente a um vírus ainda desconhecido e com diversos temores sobre suas formas de transmissão, informações surgiram a todo momento e foi preciso muito conhecimento científico - além de comprometimento com a verdadepara separar o joio do trigo.

Como verdadeiros heróis saídos das telas do cinema, cientistas e profissionais da saúde resistiram bravamente aos cortes de orçamento e à falta de estrutura e de incentivo. Por vezes, dobrando ou triplicando suas jornadas de trabalho em busca de uma

solução para o momento cruel que estávamos vivendo, conseguiam enfim encontrar as respostas que estavam procurando.

Aos 31 anos, a biomédica baiana Jaqueline Goes de Jesus, mestra em Biotecnologia em Saúde e Medicina e doutora em Patologia, mostrou a todos que a ciência não só pode, como deve também, ser feita por mulheres negras. Em fevereiro de 2020, ela coordenou a equipe responsável pelo sequenciamento do genoma do vírus SARS-CoV-2. Isso tudo apenas 48 horas após as amostras do primeiro paciente infectado com Covid-19 no Brasil chegarem em suas mãos. Além desse feito histórico, Jaqueline já vinha trilhando uma trajetória de sucesso no campo da biomedicina: com pós-doutorado dedicado

TEXTO RAMONA AZEVEDO E THAYNARA FLORIANO, ANALISTA DE COMUNICAÇÃO E ESTAGIÁRIA DE EDUCOMUNICAÇÃO DA VIRAÇÃO, EM SÃO PAULO (SP)

IMAGEM RAISA MESQUITA/ CÂMARA DOS DEPUTADOS

ao estudo da dengue no Brasil, também encabeçou importantes estudos a respeito do HIV e Zika Vírus.

Em um merecido reconhecimento ao seu pioneirismo, Jaqueline foi destaque na lista das “20 Mulheres de Sucesso do Brasil”, da revista Forbes. Também foi escolhida pela fabricante de brinquedos Mattel para ser homenageada com uma edição da boneca Barbie e se viu transformada em personagem da Turma da Mônica, além de ser homenageada no desfile da escola de samba Beija-Flor, com o tema “Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor”, num enredo que enaltecia personalidades pretas que se destacaram na luta antirracista.

Atualmente, a cientista é um símbolo de resistência e representatividade, sendo uma grande inspiração para a juventude negra, em especial para as meninas que encontram em sua história a possibilidade de trilhar um caminho na ciência e tecnologia. Viva as mulheres negras na ciência, VIVA JAQUELINE GOES!

32 Revista Viração • Ano 20 • Edição 118
QUE FIGURA

TEXTO HELENA RACHEL

DA MOTA, EM SALVADOR (BA); LUÍSA MARIA DIELE, EM JEQUIÉ (BA) E TÁBATA

ELISE FERREIRA, EM ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS (GO), COFUNDADORAS DA REDE KUNHÃ ASÉ

REDE KUNHÃ ASÉ:

INTERSECCIONALIDADE E REPRESENTATIVIDADE DE TODAS AS MULHERES NA CIÊNCIA

A REDE KUNHÃ ASÉ OBJETIVA DEBATER A DISPARIDADE DE GÊNERO NAS CIÊNCIAS E OFERECER SOLUÇÕES PRAGMÁTICAS PARA A BAIXA REPRESENTATIVIDADE DAS MULHERES NESSA ÁREA

Onome da rede significa “mulher de poder” ou “mulher poderosa”, sendo uma mistura do Guarani (Kunhã, que quer dizer mulher) e do Yorubá (Asé, que quer dizer poder). Essa escolha se deu pelo desejo de homenagear os povos da floresta e o povo negro, historicamente oprimidos e não representados na ciência. Desta forma, reflete a preocupação da rede com a interseccionalidade e com a representatividade de todas as mulheres na ciência.

Nossa rede está sendo tecida a muitas mãos e não para de crescer! Tudo começou com um encontro: quatro pesquisadoras jovens, com histórias pessoais e trajetórias acadêmicas distintas, filiadas ao Programa de Pós-graduação em Ecologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Apesar das diferenças, havia entre nós um incômodo em comum: a baixa representatividade das mulheres nas ciências, sobretudo em posições de poder e destaque. Hoje somos mais de 70 pesquisadoras integrantes da rede, de diferentes institutos e instituições.

Em 2022, a convite da UNESCO no Brasil, a Rede Kunha Asé uniu esforços à causa da iniciativa #EDUCASTEM2030 e desde então tem contribuído com a produção de recursos educacionais abertos, em especial os jogos digitais, para a mobilização das meninas para as áreas em STEM. Conheça as criações realizadas no âmbito do projeto:

JOGO DA VIDA DE UMA CIENTISTA

Apresenta às crianças e aos adolescentes, de forma descontraída, os passos envolvidos para tornar-se cientista no Brasil. Será que as meninas sabem o que é e como se faz Ciência? Momentos simbólicos, como a graduação, a aquisição de uma bolsa de iniciação científica e a publicação de um artigo científico, foram transformados em “casas” deste jogo que aborda questões de disparidade de gênero nas ciências, demonstrando como, muitas vezes, as mulheres cientistas são prejudicadas na academia simplesmente pelo fato de serem mulheres.

JOGO DA MEMÓRIA

Dentro da iniciativa #EDUCASTEM2030, a UNESCO lança esse jogo com o objetivo de apresentar algumas das mulheres e meninas que fizeram e fazem Ciência no Brasil e no mundo. Além disso, visa demonstrar a diversidade entre essas mulheres cientistas e entre as suas áreas de atuação - sendo, assim, uma forma de reconhecê-las como inspiração para milhares de pessoas ao redor do mundo.

LIVRO DE COLORIR - “HISTÓRIAS INSPIRADORAS DE MULHERES EM STEM”

Além de uma homenagem para essas mulheres inspiradoras, o livro é uma forma de aproximar quem irá utilizá-lo do que é fazer Ciência. Nele são contempladas as histórias de 10 meninas e mulheres que fizeram ou fazem a diferença em suas carreiras nas áreas de STEM. O livro pode ser utilizado a partir da Educação Infantil.

Contamos com o seu apoio para rompermos, a partir da educação básica, com os estigmas de gênero na educação e nas carreiras em STEM. Acreditamos na força das juventudes para promover essa mobilização, em especial das meninas, por meio destes jogos e materiais, em todo território nacional como também em países de língua portuguesa.

FALA, STEMIA! Acompanhe o trabalho da Rede Kunhã Asé nas redes sociais!

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@kunhaase

TEXTO JÉSSICA REZENDE, COORDENADORA DE PROJETOS DA VIRAÇÃO, EM SÃO PAULO (SP)

PARA LEMBRAR SEMPRE

DAS MULHERES

QUE FIZERAM E FAZEM CIÊNCIA

REDE KUNHÃ ASÉ, EM PARCERIA COM A UNESCO NO BRASIL, LANÇA O JOGO DA MEMÓRIA #EDUCASTEM2030

OJogo da Memória #EDUCASTEM2030 é um Recurso Educacional Aberto (REA) produzido pelo setor de Educação da UNESCO no Brasil no âmbito da iniciativa, pela inclusão das meninas e mulheres na educação e carreiras STEM. Que tal convidar a galera para se divertir e aproveitar para conhecer a história dessas mulheres inspiradoras?

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FALA, STEMIA!

Para conhecer os jogos digitais produzidos para o #EDUCASTEM2030, acesse:

COMO JOGAR?

1. Recorte as cartas nas linhas indicadas.

2 . Embaralhe as cartas e as arrume em uma superfície plana, de modo que as imagens das mulheres cientistas e as suas minibiografias fiquem viradas para baixo.

3. Sorteie a ordem de participação dos jogadores na rodada.

4. A cada rodada, o jogador da vez escolhe duas cartas e as vira para cima. Caso as duas cartas escolhidas sejam correspondentes, a pessoa guarda a dupla de cartas e joga novamente. Caso sejam diferentes, o jogador as vira para baixo novamente - na mesma posição.

5. O jogo segue assim até que todas as cartas correspondentes sejam encontradas.

O OBJETIVO

É ACUMULAR

O MAIOR

NÚMERO DE COMBINAÇÕES

POSSÍVEL E, ASSIM, VENCER

O JOGO.

Escaneie o QR Code, baixe as cartas e divirta-se!

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TEXTO ELABORADO COLETIVAMENTE A PARTIR DE UM PROCESSO EDUCOMUNICATIVO COM OS ESTUDANTES DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO LÍDER JOVEM STEM 2030

ORGANIZAÇÃO JÉSSICA REZENDE, COORDENADORA DE PROJETOS DA VIRAÇÃO EDUCOMUNICAÇÃO, EM SÃO PAULO (SP)

FOTOS JÉSSICA REZENDE

EMPODERANDO A JUVENTUDE BAIANA: UM CHAMADO À AÇÃO PARA A TRANSFORMAÇÃO

MANIFESTO LÍDER JOVEM STEM BAHIA

Nós, adolescentes e jovens, estudantes da rede pública de ensino do estado da Bahia, reunidos em Salvador (BA), durante os dias 03 e 04 de novembro de 2022, para atividade do projeto #EDUCASTEM2030, queremos nos manifestar a respeito dos seguintes temas:

 A PARTICIPAÇÃO DE MENINAS E MULHERES EM STEM

 EQUIDADE DE GÊNERO

 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AGENDA 2030

 A ALFABETIZAÇÃO MIDIÁTICA E INFORMACIONAL

 MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PARTICIPAÇÃO JUVENIL

O que apresentamos a seguir é a síntese daquilo que juntos sonhamos e reivindicamos como direitos e oportunidades que nos permitam viver o presente e o futuro com dignidade e felicidade.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AGENDA 2030

Para garantir um futuro onde a sociedade e o planeta possam conviver em harmonia, queremos:

Ķ Paz, justiça e instituições democráticas, comprometidas com a criação de sociedades justas;

Ķ Zelo ao Estado Democrático de Direito;

Ķ Governos eficazes e responsáveis, que valorizem e promovam maior participação popular nas tomadas de decisão;

Ķ Igualdade. Sonhamos com um mundo onde, acima de tudo, seja normal ser diferente;

Ķ Ter acesso garantido aos nosso direitos, independente de classe, raça, gênero ou sexualidade;

Ķ Maior noção de coletividade;

Ķ Reciclar, recriar, multiplicar. Queremos uma sociedade comprometida com a preservação do meio ambiente;

Ķ Erradicar a fome e diminuir as desigualdades;

Ķ Equiparação de salários entre mulheres e homens. Que possamos seguir a carreira que queremos, sem duvidarem do nosso potencial;

Ķ Fazer do Brasil um país de referência para todo o mundo, transformar sonhos em conquistas para crescer na alma e na vida.

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EQUIDADE DE GÊNERO

Defendemos o direito à igualdade e o direito à liberdade de escolha como forma de combater todas as discriminações que atravessaram as meninas e mulheres durante suas vidas. Principalmente que elas tenham conhecimento de si e possam expressar suas necessidades de forma livre, rejeitando todos os estereótipos colocados pela sociedade. Por isso, sonhamos com:

Ķ A liberdade de meninas e mulheres;

Ķ O poder de escolher, duvidar e mudar;

Ķ Um mundo onde meninas e mulheres sejam tratadas com respeito, independente das interseccionalidade que as atravessem;

Ķ A presença e atuação de mulheres nos lugares onde elas queiram estar;

Ķ A criação de oportunidades de formação e trabalho para as meninas e mulheres, principalmente, para mães;

Ķ A realização de um mapeamento territorial de todas as meninas e mulheres inspiradoras, que atuem em STEM, e que não tenham visibilidade;

Ķ A quebra de estereótipos de gênero dentro dos 4 eixos: individual, escolar, familiar e social;

Ķ Ações de conscientização sobre os impactos negativos dos estigmas de gênero sobre adolescentes e jovens, inclusive para os meninos.

A PARTICIPAÇÃO DE MENINAS E MULHERES NAS ÁREAS EM STEM

A fim de uma participação mais justa e igualitária de meninas e mulheres nas áreas em STEM defendemos;

Ķ A desconstrução do sistema! Que as mulheres quebrem o preconceito estrutural que associa as áreas de STEM aos homens;

Ķ O reconhecimento e a valorização de mulheres pela sua atuação em STEM;

Ķ A criação de políticas afirmativas que favoreçam o ingresso e a permanência de mulheres indígenas, negras e trans em STEM;

Ķ A criação de cotas nas universidades para o ingresso de mulheres nas áreas em STEM, com prioridade para indígenas, negras, trans, periféricas e mães;

Ķ Que o Governo invista mais na educação em STEM, especialmente, nas escolas em comunidades periféricas;

Ķ Mais investimentos nas ciências.

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118
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ALFABETIZAÇÃO MIDIÁTICA E INFORMACIONAL

Defendemos o direito à comunicação e à informação, à inclusão digital e o acesso às tecnologias digitais como forma de combater a desinformação e as fake news, manter a população bem informada e garantir boas oportunidades de educação e trabalho aos jovens. Por isso, exigimos:

Ķ Que todas as escolas tenham conexão à internet de qualidade;

Ķ Que todos os adolescentes tenham o direito de utilizar tecnologias digitais, como tablets e notebook na escola;

Ķ Que as escolas ensinem a usar a internet de forma positiva;

Ķ Que sejam realizadas mais atividades sobre informática básica e sobre mídias;

Ķ Oficinas de alfabetização midiática a fim de desenvolver o senso crítico e a conscientização sobre fake news e a desinformação;

Ķ A realização de campanhas para a inserção das juventudes periféricas na discussão sobre comunicação.

MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PARTICIPAÇÃO JUVENIL

Muitos ainda duvidam da capacidade dos jovens de participar das decisões políticas e, muitas vezes, tiram nosso lugar de fala. Por isso, sonhamos que mais jovens tenham acesso a oportunidades como o #EDUCASTEM2030, onde é possível debater temas de extrema relevância para a sociedade. Em defesa do nosso direito à participação, queremos:

Ķ A criação de coletivos e fóruns juvenis para debater estratégias de ampliação do acesso de meninas às carreiras em STEM;

Ķ A criação de campanhas nas ruas e nas redes, que gerem reconhecimento, visibilidade e oportunidades para a atuação de meninas em STEM;

Ķ Que as escolas apoiem as lideranças juvenis na realização de debates e outras ações de mobilização em prol da maior participação das meninas em STEM;

Ķ Multiplicação entre pares — de jovem para jovem — sobre os conteúdos discutidos no #EDUCASTEM2030;

Ķ Ações que deem visibilidade e reconheçam a contribuição dos povos originários às áreas em STEM.

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TEXTO JÉSSICA REZENDE E TARCISIO CAMELO, COORDENADORA DE PROJETOS DA VIRAÇÃO E EDUCOMUNICADOR DO PROJETO LÍDER

JOVEM STEM 2030, EM SÃO PAULO (SP) E RECIFE (PE)

CORDEL, POESIA E STEM:

A ARTE DE TRANSFORMAR A CIÊNCIA EM VERSO

CONHEÇA ALGUMAS PRODUÇÕES ARTÍSTICAS FEITAS POR PARTICIPANTES DA PRIMEIRA TURMA DE JOVENS LÍDERES DO #EDUCASTEM2030

Oacesso ao direito à comunicação contribui, de forma significativa, para o exercício do direito à expressão, a fim de que as pessoas possam se expressar e contar as suas próprias histórias. O direito associado à livre expressão, à transmissão e à recepção de informações, está assegurado em diversas leis, declarações, diretrizes e normas sociais. Como, por exemplo, no Artigo 5º Inciso IX, presente na Constituição Federal do Brasil de 1988, que afirma: é livre a expressão da atividade intelectual, artística,

científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.

Durante o Líder Jovem

STEM 2030, as turmas foram estimuladas a se manifestarem artisticamente, como forma de fortalecer suas autonomias e empoderamentos como criadores dos seus próprios conteúdos de comunicação e artes. Entre as formas de manifestações artísticas podemos encontrar a literatura de cordel e a poesia.

Foi o caso de Lívia Evellyn Cavalcante Fernandes e de

Lívia escreveu sobre a necessidade de estimular a participação feminina em STEM, alertando sobre os principais desafios para aumentar o número de mulheres nas carreiras de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Maria Clara também apontou o quanto é fundamental conhecer referências de mulheres protagonistas nas áreas de STEM, a fim de inspirar outras meninas e mulheres a realizarem um futuro de renovação e transformação das suas realidades.

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Maria Clara Brito Campos, duas educandas de Pernambuco que participaram da edição-piloto do #EDUCASTEM2030.

A MULHER NO STEM

LÍVIA EVELLYN CAVALCANTE FERNANDES, ESTUDANTE DO CURSO LÍDER

JOVEM STEM

2030 - (PE)

Tudo bem meu caro

E renomado leitor

Venho lhe apresentar

Falar com muito amor

Sobre o que é STEM

A importância que tem No dia a dia do trabalhador

STEM é ciência

É também tecnologia

É o técnico, o mestre

É também engenharia

Do matemático ao doutor

Do celular ao computador

Envolve até a biologia

STEM é convívio

É lugar de oportunidade

É campo de pesquisa

Lugar de igualdade

Por isso venho falar

Um assunto sério a tratar Com toda comunidade

MENINAS E MULHERES EM STEM

MARIA CLARA BRITO CAMPOS, ESTUDANTE DO CURSO LÍDER

JOVEM STEM

2030 - (PE)

Na escola, tenho muito o que aprender, nesse trajeto educacional que tem a nos oferecer.

Nas formações STEM as mulheres se destacam, seja qual for a sua área: Física, biologia ou matemática.

Dando exemplo de identificação, meninas e mulheres todas juntas, fazendo papel de renovação.

Você sabia que existe

Uma baixa participação

De mulheres nas áreas STEM?

Isso é motivo de preocupação

O povo tem que entender

Que a mulher pode exercer

Toda e qualquer profissão

A mulher no STEM

É peça fundamental

Para enfrentar os desafios

Nesse mundo atual

Tem que ter sua participação

Para achar a solução

Pro trabalho não ser desigual

Por isso eu aqui encerro

No meu jeito de rimar

A importância da mulher

A importância de participar

Apresento o STEM

Faça parte você também

O mundo vamos transformar

Renovação, que vem com ação, protagonismo, idealização de um futuro, onde sejam todos conhecedores de seu papel como cidadão.

Ciência, tecnologia, engenharia e matemática na escola e o que tem, Meninas inteligentes tendo a capacidade de ingressar, tornando-se uma grande mulher STEM.

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EMPRETECENDO O ESPAÇO:

A HISTÓRIA DE CORAGEM DAS MULHERES DE “ESTRELAS ALÉM DO TEMPO”

CONHEÇA A HISTÓRIA DAS TRÊS MULHERES NEGRAS QUE DESAFIARAM O RACISMO E O SEXISMO NA DÉCADA DE 1960 PARA SE TORNAREM

PEÇAS FUNDAMENTAIS NA CORRIDA ESPACIAL AMERICANA.

TEXTO RAMONA AZEVEDO, ANALISTA DE COMUNICAÇÃO DA VIRAÇÃO, EM SÃO PAULO (SP).

Ano de 1961. Guerra Fria, corrida espacial, movimento dos Direitos Civis e a busca pela igualdade de gênero. Os Estados Unidos viviam um período de crescimento econômico e a NASA se consolidava como a maior empresa de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, empenhada em vencer a corrida espacial. Parecia um bom ano para morar nos Estados Unidos e trabalhar na NASA. Mas só se você não fosse uma mulher negra! Nesse caso, você seria tratada como um alienígena: confinada em uma área separada, sujeita a olhares e julgamento constante, sem a garantia de um bom tratamento.

Essa é a realidade retratada em “Estrelas Além do Tempo”, livro de Margot Lee Shetterly que foi adaptado para o cinema por Theodore Milfe e recupera a história de três matemáticas

negras responsáveis por avanços que até hoje são reconhecidos e usados no programa espacial norte-americano.

As atrizes Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe contam a história dessas mulheres pioneiras que estavam na interseção de movimentos definidores. Amigas que, além de provar sua competência dia após dia, precisaram lidar com o preconceito arraigado para que conseguissem ascender na hierarquia da NASA. Conhecer a trajetória de pioneiras na ciência e tecnologia nos ensina como é preciso insistir, acreditar, permanecer e ter forças para lidar e superar os desafios que encontramos. Estoure a pipoca e esteja pronta(o) para se emocionar!

Imagem: Divulgação

CINESOLAR: UMA JORNADA

SUSTENTÁVEL RUMO À DEMOCRATIZAÇÃO DO CINEMA

NO BRASIL

O CineSolar, que em 2023 completa 10 anos, é o primeiro cinema itinerante movido a energia solar do Brasil e transforma espaços públicos e abertos em salas de cinema, com o objetivo de democratizar o acesso às produções audiovisuais (principalmente as nacionais), promover ações e práticas sustentáveis, a inclusão social e difundir a tecnologia da geração de energia solar.

Em 2022, o projeto atuou nas ações do programa #EDUCASTEM2030 mobilizando o público participante das sessões com uma programação especial de filmes que abordaram meninas e mulheres nas ciências, além de levar a temática para as oficinas do projeto em escolas públicas do país. De julho a dezembro foram realizadas 114 sessões e debates, em 18 estados, para mais de 14 mil pessoas.

Acompanhe o trabalho do CineSolar pelas redes sociais: @cinesolar

youtube.com/CINESOLARBRASIL

Revista Viração • Ano 20 • Edição 118 42 NO ESCURINHO

35% no ensino superior, AS MUlheres representam apenas 35% das matrículas em stem

deixar meninas e mulheres de fora da educação e das carreiras em stem é uma perda para a humanidade

saiba mais em:

https://bit.ly/decifrarocodigo-unesco

realização:

cooperação técnica:

C M Y CM MY CY CMY Material_Unesco_Lambe-Praguinha.pdf 1 28/10/2022 17:47:07

ESCANEIE O QR CODE e baixe os 4 modelos de adesivos oficiais do movimento #EDUCASTEM2030 para distribuir na sua escola ou bairro. Nos ajude a alcançar mais pessoas embaixadoras da inclusão de meninas e mulheres nas carreiras e na educação em STEM!

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