Revista Viração - Edição 63 - Junho/Julho

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a r i V a z a f m e Veja qu

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG)

Casa da Juventude Pe. Burnier Goiânia (GO)

Universidade Popular Belém (PA)

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA)

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE)

Centro Cultural Bájò Ayò João Pessoa (PB)

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES)

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA)

Companhia Terra-Mar Natal (RN)

Agência Uga-Uga Manaus (AM)

Girassolidário Campo Grande (MS)

União da Juventude Socialista Rio Branco (AC)

Bemfam - Recife (PE)

Diretório Acadêmico Freitas Neto Maceió (AL)

Fundação Athos Bulcão Brasília (DF)

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR)

Centro Cultural Escrava Anastácia Florianópolis (SC)

Jornal O Cidadão Rio de Janeiro (RJ)

Grupo Cultural Entreface (Diversidade Juvenil, Comunicação e Cidadania) Belo Horizonte (MG)

Grupo Atitude - Porto Alegre (RS)

Centro de Refererência Integral de Adolescentes Salvador (BA)

Virajovem Vitória - Vitória (ES)

Taba - Campinas (SP)


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! e d e r Em

Conteúdo

ing ps e trend como scra s ra v e muitas la d a p o tempo, cotidian o o it ri u e, lá m u b z a voc ão fa do o Ibop sil, segun oraram ao ra rp B o c o ano in n e ó n s S rnet. tante, o topics rma cons zam a inte li fo ti e u d e r t, u io e q a intern mom pessoas acesso à países co m s ra o o e d v ti m u s ssoa s nem tud omos ões de pe Orkut. Ma e social, s e d k re o é o b e 67,5 milh to c Fa o assun a, nossos o Twitter, E quando em de cap ites como g s a passado. m rt e o p dicas de s re te so, na e, dando rticipan is d a r p re o e P a d n l. a s ro o irtu núme ntrad mbiente v cios enco a nesse a os benefí r a bre c s u b é coisa bo ampo Mundia so foram a c na Cúpula s u n e e c v a te jo n m a o ir te c v , que que a iladas. . O evento ém tudo o cair em c ia b c o m é ã u n ta S o z a a n m co ta tr tes nho, ões urgen , esta revis ceu em ju comendaç Além disso que aconte re s, u n o e ri v c Jo tiu e vens. Crianças e leira, discu entes e jo Mídia para s, adolesc tante brasi a n ç n se a re ri p c d re mo cida es al para Viração co o algumas mídia glob m a o c r r ra ri uso e o fe lh n o me irá co ate ao Ab sobre com tes, você l de Comb in a u n g io se c a s a N in , Dia Repórter, Já nas pág No Galera 18 de maio o s. te m n ra e ra sc dole os celeb anças e A o-Brasileir brasileiras xual de Cri studos Afr e E S e o d ã ç o le ra e c so d à Explo ra do Nú sobre o u una, direto goas, fala la A e d Clara Suass l ra e as idade Fed m de muit da Univers perior. Alé su o n si n e cotas no oa leitura! vidades. B outras no

Copie sem moderação!

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Quem somos A

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 22 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses seis anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira de lima Coordenador Executivo da Viração – MTB 27.300

Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Conheça os Virajovens em 22 Estados brasileiros e no distrito Federal Belém (PA) - pa@viracao.org Belo Horizonte (MG) - mg@viracao.org Boa Vista (RR) - rr@viracao.org Brasília (DF) - df@viracao.org Campinas (SP) - sp@viracao.org Campo Grande (MS) - ms@viracao.org Curitiba (PR) - pr@viracao.org Florianópolis (SC) - sc@viracao.org Fortaleza (CE) - ce@viracao.org Goiânia (GO) - go@viracao.org João Pessoa (PB) - pb@viracao.org Lavras (MG) - mg@viracao.org Maceió (AL) - al@viracao.org Manaus (AM) - am@viracao.org Natal (RN) - rn@viracao.org Porto Velho (RO) - ro@viracao.org Recife (PE) - pe@viracao.org Rio Branco (AC) - ac@viracao.org Rio de Janeiro (RJ) - rj@viracao.org Sabará (MG) - mg@viracao.org Salvador (BA) - ba@viracao.org S. Gabriel da Cachoeira - am@viracao.org São Luís (MA) - ma@viracao.org São Paulo (SP) - sp@viracao.org Serra do Navio (AP) - ap@viracao.org Teresina (PI) - pi@viracao.org Vitória (ES) – es@viracao.org

A Revista Viração é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pela ONG Viração Educomunicação, filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo (Sindjore); CNPJ: 11.228.471/0001-78; Inscrição Municipal: 3.975.955-5

atendimento ao leitor Rua Augusta, 1239 - conj. 11 - Consolação 01305-100 - São Paulo - SP Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 HoRáRio dE atEndimEnto Das 9h às 13h e das 14h às 18h E-mail da REdação E assinatuRa redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Revista Viração • Ano 8 • Edição 63 3


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Uma mídia ide

al Viração é repres entante brasile ira da Cúpula M sobre Mídia pa undia ra Crianças e Jo vens, realizada junho na Suécia. em

em alemão no Brasil Intercâmbio faz endo intercâmbio

11 16

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Anne-Sophie está a jovem A pedido da Vira, há quase um ano. vivido. tem e qu periências compartilha as ex

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Por mais espaços

Ceará realiza 1º Festival das Juventudes, que reuniu participantes da América Latina para discutir políticas públicas para os jovens.

Chega de impunidade

No dia de combate à explora ção sexual de crianças e adolescentes, açõ es de mobilização e denúncias acontecem pelo País.

Sinfonia aos ouvidos

Nas 24 horas da Virada Cultural , em SP, fomos conhecer os jovens que produzem música instrumental.

Sempre na Vira

22

Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 PCU . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 De Olho no ECA . . . . . . . . 24 Escuta Soh! . . . . . . . . . . . . 25 Que Figura . . . . . . . . . . . . 29 No Escurinho . . . . . . . . . . 30 Rango da Terrinha . . . . . . 31 Todos os Sons . . . . . . . . . 32 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

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Conexão Enviar e-mail, deixar recado pelo Orkut ou seguir alguém no Twitter. A internet reinventou a maneira de viver em sociedade. Saiba dicas para não ficar de fora.

Ponto polêmico

A discussão sobre o uso de cotas nas universidades está de volta. Para falar disso, ouvim os Clara Suassuna, da Universidade Federal de Alagoas.

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rtilhada Vida comLepanadra Barros, do Espírito Sarantelo, Is A virajovem é morar em agens como z. ut bb mostra em im ku e ad a comunid dentro de um

28 De dentro pra fora

Vocalista do AfroReggae fala que é preciso ter ajuda da comunidade para enfrentar a violência em regiões de conflitos.

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Conselho Editorial

Coordenação Executiva

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Paulo Lima e Lilian Romão

Conselho Fiscal Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Consultivo

Equipe Ana Paula Marques, Carol Lemos, Elisangela Nunes, Eric Silva, Gisella Hiche, Luciano de Sálua, Maria Rehder, Micaela Cyrino, Rafael Lira, Rafael Stemberg, Simone Nascimento, Sonia Regina, Vânia Correia e Vivian Ragazzi

Douglas Lima, Isabel Santos, Ismar de Oliveira e Izabel Leão

Administração/Assinaturas

Presidente

Mobilizadores da Vira

Juliana Rocha Barroso

Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amapá (Camilo de Almeida Mota), Amazonas (Cláudia Ferraz e Délio Alves), Bahia (Nilton Lopes), Ceará (Amanda Nogueira e Rones Maciel), Distrito Federal (Ionara Silva), Espírito Santo (Filipe Borges, Jéssica Delcarro, Leandra Barros e Wanderson Araújo), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão

Vice-Presidente Cristina Paloschi Uchôa

Primeiro-Secretário Eduardo Peterle Nascimento

Norma Cinara Lemos e Danilo Asevedo

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(Sidnei Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Maria de Fátima Ribeiro e Pablo Abranches), Pará (Alex Pamplona), Paraíba (Niedja Ribeiro), Paraná (Juliana Cordeiro), Pernambuco (Maria Camila Florêncio), Piauí (Anderson Ramos da Luz), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rondônia (Luciano Henrique da Costa), Roraima (Cleidionice Gonçalves), Santa Catarina (Celina Sales e Ciro Tavares) e São Paulo (Damiso Faustino, Luciano de Sálua, Sâmia Pereira, Simone Nascimento e Virgílio Paulo).

Colaboradores Amanda Proetti, Anne-Sophie Lockner, Antônio Martins, Carolina Cunha, Emilia Merlini, Juliana Giron, Heloísa Sato, Lentini, Marcelo Rampazzo, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Philipe Leonhardt e Sérgio Rizzo.

Consultor de Marketing Thomas Steward

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação e Assinatura redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Preço da assinatura anual Assinatura Nova Renovação De colaboração Exterior

R$ 58,00 R$ 48,00 R$ 70,00 US$ 75,00


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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Fale com a gente! @joycepeixoto_, via Twitter

Diga lá

Parabéns a todos da @viracao pelo prêmio conquistado! Abraços da turma do Instituto Recriando (Rede Andi Brasil)

Melissa Almeida, 17 anos, por e-mail – Cabo Verde

A boa notícia vem da Suíça! A Viração e seu diretor executivo Paulo Lima receberam o Prêmio em Educomunicação, concedida pela Internacional Catholic Union of the Press (Ucip). A premiação acontece em setembro e contaremos tudo em uma próxima edição.

Galera da Viração, sou a Mell, de Cabo Verde. @Sagaclaris, via Terminei o estudo secundário e agora pretendo Twitter fazer faculdade de medicina no Brasil. Escrevo para Viração ganha prêmio de parabenizar vocês pelo trabalho, que é muito Harrison Lopes, 23 anos, Educomunicação da União Inter. interessante, e amei a forma alegre e divertida de retratar via Orkut – Belém (PA) de Imprensa Católica, com sede temas delicados. Sou coordenadora de um Espaço de "Olá! Atuo com um grupo de sete jovens que em Genebra, na Suíça! Informação e Orientação (EIO), então resolvi mostrar produzem audiovisual com pautas da juventude, de @viracao, arrasou! um dos exemplares que trouxe de Brasíla (DF) para forma participativa e cidadã. O projeto, chamado os meus colegas, que se animaram com a força Núcleo de Produção “Vamo Que Vamo”, utiliza a jovem! Venham conhecer o EIO e Cabo educomunicação como metodologia de trabalho e conta Verde. É muito gostoso! Qualquer Harrison, com a participação das igrejas, escolas e ilhas da região, ajuda, estou às ordens! entramos no blog do de forma a estimular o adolescente e jovem a ser projeto e curtimos muito o Melissa, protagonista de sua comunidade, um agente de trabalho que vocês realizam na conhecer Cabo Verde transformação social. Conheça um pouco das região da Amazônia. Percebemos que é um convite tentador! Olha atividades em nosso blog: a galera sabe aproveitar bem o uso da só, estamos com projetos pela www.vamoquevamovqv.blogspot.com". tecnologia (mandam bem nos vídeos Viração Internacional e, quem de bolso) de forma simples e sabe, podemos fazer algumas colaborativa. É isso aí! coisas em parceria. Manteremos contato!

Ops! Erramos!

Siga a Vira no Twitter! Nosso perfil é http://twitter.com/viracao

Na reportagem “Na jambaque da Quilombaque” (edição nº 62) esquecemos o nome de uma das colaboradoras do texto, a Carolina Cunha. A mesma mancada foi feita na edição nº 61. Em “Corrida eleitoral” faltou o nome do virajovem Reynaldo Gosmão, de Lavras (MG). Aos dois, nossas desculpas!

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para nosso endereço: Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 Consolação - 0135-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!

Parceiros de Conteúdo


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Manda Vê Pablo Abranches, do Virajovem Belo Horizonte (MG)*, Nilton Lopes, do Virajovem Salvador (BA) e Rafael Stemberg, da Redação

Privilégio para poucos, a prisão especial no Brasil existe desde 1955 e pode ser usufruída por pessoas que possuem algum diploma de ensino superior, além de políticos, membros das Forças Armadas, integrantes do Ministério Público e dos tribunais de contas. O regulamento (decreto 38.016) permite que a pessoa, ao ser detida, permaneça em espaço separado dos demais presos enquanto aguarda julgamento da sentença (após a condenação, o detento passa a dividir a mesma cela que os outros presos). Só que a regalia tem seus dias contados. No início de junho, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou

proposta que acaba com a cela diferenciada. A redação da proposta, de autoria do deputado Marcelo Itagiba (PSDB/RJ), foi incorporada a um projeto de reforma do Código Penal, que já tramitava no Senado e foi sancionado pelo presidente Lula. Com a nova proposta, a cela especial só poderá ser concedida a presos que estiverem com a integridade física ou psíquica ameaçadas. Nesse caso, caberá ao juiz decidir esse direito, ou, no caso de prisão em flagrante, a uma autoridade policial. O Virajovem saiu às ruas para ouvir a opinião da galera se...

Quem tem ensino superior deve ter direito a cela especial?

Kleyton Timbur, 21 anos, São Paulo (SP) “Independentemente de a pessoa ter diploma, o crime que ela cometeu terá a mesma gravidade se cometido por alguém sem estudos. Mesmo porque nem todos têm a oportunidade de entrar na faculdade. Então, o julgamento acaba sendo pela classe social e não pela escolaridade”.

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Diego Lima, 25 anos, Salvador (BA) “Depende do crime cometido. Não acho que um preso comum tenha que ficar na mesma cela de pessoas que cometeram crimes mais graves. Na verdade, não me importa muito a formação e sim a gravidade”.

*Integrantes dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (mg@revistaviracao.org.br e ba@revistaviracao.org.br).


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Rafael Ramos, 27 anos, Salvador (BA) “O que uma pessoa com ensino superior tem de diferente de outro preso? Se cometeu crime, precisa pagar do mesmo jeito”.

Cláudia Cardozo, 24 anos, Salvador (BA) “Tem muita gente mau-caráter com diploma, então por que deixar separado de outros presos? Vide Congresso Nacional, cheio de corruptos”.

Ana Karolina, 15 anos, Belo Horizonte (MG) “A minha opinião é que eles não são melhores do que os outros. Só porque eles fizeram faculdade, não significa que têm direito a prisão especial”.

Celine Ramos, 22 anos, Salvador (BA) “Acho que não tem que ter nenhuma regalia. Se cometeu um crime tem de pagar como qualquer outro. Não dá pra rotular pela formação acadêmica”.

Diário de um Detento: o livro (Jocenir Prado) – Labortexto Editora Na obra, Jocenir Prado relata a vida que passou quando esteve detido, em 1994, por ter presenciado um roubo de carga que, apesar de não ter tido relação direta, assume a culpa pela omissão do crime. Por conta disso, recebeu uma condenação de oito anos, dos quais cumpriu quatro. Durante essa passagem, o autor esteve diferentes presídios de São Paulo, como o extinto Carandiru, onde conheceu o músico Mano Brown, dos Racionais MC's, com quem compôs o rap que recebe o mesmo nome do livro.

Faz Parte

Grazielle Moura, 15 anos, Belo Horizonte (MG) “Eu acho que não é porque a pessoa cursou uma faculdade que ela não possa ser punida numa prisão normal. Penso que todos devem ir para a mesma prisão”.

Durante o 3º Fórum da Aliança de Civilizações das Nações Unidas, realizado em maio no Rio de Janeiro, o ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto classificou como “problema gravíssimo” o sistema prisional do Brasil, que está entre os dez países com a maior população carcerária do mundo. Segundo relatório divulgado em 2009 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o número de presos cresceu 89% no período de 2000 a 2008 – de 232.755 para 440.013 de pessoas detentas. Luiz Paulo, no evento, disse também que o governo pretende investir até o fim do ano R$ 500 milhões para a criação de 30 mil vagas nos centros de detenção provisória. O evento da ONU reuniu chefes de governo e representantes de inúmeros países para discutir ações para a promoção da paz no mundo.


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Mídia para e com jovens eu em Crianças, Adolescentes e Jovens, que acontec Durante Cúpula Mundial sobre Mídia para o ifesto mundial por uma outra comunicaçã junho, na Suécia, participantes lançam man

Texto e fotos: Paulo Lima, enviado especial a Karlstad (Suécia)

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Paulo Lima, da Viração, e as jovens Anabela (centro) e Funmi, que realizam trabalhos de educomunicação

Evento teve representantes de 40 países de todos os continentes.

Divulgação

É

ramos em mais de mil pessoas de 40 países discutindo sobre a relação da mídia com os direitos de crianças, adolescentes e jovens. Também foram muitos os espaços criados para compartilhar experiências, como seminários, conferências, laboratórios e apresentação de pesquisas. Foi esse o clima que rolou na Cúpula Mundial sobre Mídia para Crianças, Adolescentes e Jovens, que aconteceu de 14 a 18 de junho, na ensolarada Karlstad, na Suécia. O tema que guiou os trabalhos desta sexta edição foi: Em direção a uma nova visão global para crianças, adolescentes e jovens – desafios no mundo da comunicação para os jovens. O encontro reuniu educadores, pesquisadores, empresários e agentes sociais que atuam com mídia-educação e educomunicação nos cinco continentes. Devido a um problema de organização, contou com uma escarsa participação de adolescentes e jovens. A angolana Anabela Pacheco, que participou da Cúpula do Rio de Janeiro, em 2004, avalia que apesar da pouca presença de adolescentes, ”o evento é importante porque representa um espaço para a partilha de experiências e visões diferentes de se trabalhar com educação e comunicação ao mesmo tempo”. Na Rádio Nacional, apoiada pelo governo de Angola, Anabela coordena o programa Radio Piô (Criança), que vai ao ar todos os dias e é tocado especialmente por crianças. Na avaliação da nigeriana Funmi Grace Ajumob, muitas das pesquisas e trabalhos apresentados tratavam muito ainda do impacto da TV sobre o público infanto-juvenil, ”enquanto que muitos jovens estão passando muito mais horas na internet do que assistindo a programas televisivos”. Funmi leva adiante o jornalVanguard Kiddies produzido por jovens na cidade de Lagos. Durante a cúpula, o Conselho Global de Juventude e Mídia (Global Youth Media Council – GYMC) lançou um manifesto com


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seis recomendações urgentes sobre como melhorar a mídia global para crianças, adolescentes e jovens. O GYMC, promovido pela Cúpula Mundial sobre Mídia para Crianças, Adolescentes e Jovens, foi composto por mais de 20 adolescentes e jovens com idade entre 13 e 24 anos. A boliviana Yorka Nicosio, de 13 anos, foi uma das que participou do Conselho. Ela precisou pegar quatro aviões diferentes totalizando 36 horas de voo e mais 13 horas viajando de ônibus para poder participar da cúpula. O pai de Yorka, que trabalha numa mina sem um contrato de trabalho adequado, perdeu uma semana de trabalho para acompanhá-la durante a viagem. Para outra participante do conselho, Uma Akhter, de 19 anos, do Reino Unido, “apesar de cada um de nós pertencer a diferentes países, nós temos consciência de que a mídia é uma importante ferramenta para a educação, participação e uma oportunidade de expressão para crianças, adolescentes e jovens.” As recomendações serão divulgadas pelo GYMC anualmente no Dia Internacional da Criança na Mídia. No Brasil, o conselho conta com o apoio da Viração Educomunicação, que se colocou à disposição para divulgar as recomendações e envolver outras entidades que atuam na área da educação, comunicação e direitos de crianças, adolescentes e jovens. E sobretudo engrossar o caldo para que na próxima Cúpula, a ser realizada em Bali, daqui a 3 anos, adolescentes e jovens possam participar em maior número. V

Outra comunicação é possível Questões e recomendações globais do Conselho Global de Juventude e Mídia: Acesso limitado à Internet Os governos, operadoras de telefonia móvel e meios de comunicação multinacionais devem trabalhar juntos para garantir acesso gratuito à Internet ou a preços acessíveis em todas as escolas e bibliotecas de todo o mundo. Compromisso com a segurança da criança ao usar a internet A conscientização sobre potenciais perigos na internet deve iniciar no Ensino Fundamental, incluindo educação sobre os direitos e responsabilidades ao usar a internet. Crianças e jovens não são envolvidos na tomada de decisões Jornais locais e nacionais devem oferecer mais espaço para publicar textos escritos por crianças, adolescentes e jovens. Cada país deve criar o seu Conselho de Juventude e Mídia. Representação negativa de crianças, Adolescentes e dos jovens nos meios de comunicação A mídia deve adotar diretrizes éticas vigentes em matéria de comunicação sobre crianças, adolescentes e jovens, de modo a oferecer uma representação justa e equilibrada.

Jovens produziram carta com recomendações para a mídia

Mais informações sobre as ações do Conselho Global de Juventude e Mídia você encontra no site: www.globalyouthmediacouncil.com.

Falta de competência midiática Educação aos meios de comunicação deve fazer parte do currículo escolar desde o Ensino Fundamental em todos os países. Interesse comercial versus responsabilidade social Apenas os produtos que estão relacionados com o desenvolvimento positivo de crianças, adolescentes e jovens devem ser associados com a mídia jovem. Deve haver mais jornal/ rádio / canais de TV não comerciais, financiados por fundações, governos e organizações.

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Cidade das diversidades cinco mil jovens para o Fortaleza (CE) recebe mais de es primeiro Festival das Juventud

Fortaleza foi o palco de cultura e mobilização jovem

Texto e fotos: Alan Botelho, Alcindo Costa, Amanda Nogueira, Carol Lemos, Gerusa Rosa Miguel Cavalcante, Paulo Luiz e Rafael Mesquita, do Virajovem Fortaleza (CE)* e integrantes da cobertura colaborativa do evento

J

ovens de todas as regiões do Brasil e demais países da América Latina marcaram presença no Primeiro Festival das Juventudes, realizado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza (CE) entre os dias 3 e 6 de junho. O objetivo do evento era possibilitar espaços para debater, propor e criar políticas públicas para as juventudes brasileiras e latinoamericanas.

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O evento também apresentou talentos por meio de atividades culturais e artísticas espalhadas por toda a Cidade das Juventudes, nome dado ao espaço que abrigou o festival, situado no Clube da Cofeco, em Fortaleza. As discussões abordaram temas como lutas juvenis, organizações e movimentos sociais e a conjuntura política na América Latina. Na programação, shows de bandas locais e nacionais como O Teatro Mágico, Alegoria da Caverna, Os Mutantes, Luiz Melodia, Zeca Baleiro, entre outras atrações, colocaram mais de 15 mil pessoas para dançar e pular nos quatro dias do Festival. Além dos debates e oficinas ao ar livre, outra atração foi a Feira de Economia Solidária, com mais de 12 barracas, com o objetivo de valorizar a cultura cearense e brasileira. A comunicação colaborativa foi um dos diferenciais do Festival, explica Clarissa Diógenes, coordenadora de comunicação do Festival: “A ideia era que o próprio jovem pudesse se expressar. Tivemos uma rádio que serviu para a comunicação interna do festival e assim as pessoas sabiam o que estava acontecendo. E quem frequentou o telecentro (área com internet) teve acesso ao blog e pôde ler o que estava acontecendo”. O evento foi avaliado como um espaço democrático e participativo. O cantor e compositor Luiz Melodia disse que o Festival tem o papel de fortalecer a participação juvenil nas discussões sobre as políticas voltadas para o segmento. Ele afirmou ainda que ele se soma ao encontro com a sua música e sua arte. O Festival das Juventudes chegou ao final da sua primeira edição com o lançamento da Plataforma da Juventude para as Eleições 2010. Construída de forma coletiva e coordenada pelo Fórum Nacional de Movimentos de Organizações Juvenis (Fonajuves), a Plataforma é um documento com reivindicações de movimentos e organizações autônomas que visa alterar a realidade vivida pela maioria das juventudes. A prefeita da cidade, Luizianne Lins, já confirmou uma segunda edição do evento para o ano que vem. Até lá, ficamos acompanhando o que as juventudes estão fazendo para mudar o mundo.

V

Acompanhe tudo que rolou no Festival em www.fortaleza.ce.gov.br/festivaldasjuventudes *Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (ce@revistaviracao.org.br)


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Olhar de fora Como a voluntária alemã Anne-Sophie descobre São Paulo durante seu estágio na Plataforma dos Centros Urbanos

Texto e fotos: Anne-Sophie Lockner

“E

u sou educomunicador, entendeu?”, explica-me Rafael Lira sorrindo. Eu faço que sim, mas interiormente me perguntando: “Um edu-que?”. Já faz semanas que estou estagiando na Plataforma dos Centros Urbanos e cada vez que eu tento entender sobre o que o projeto trata, aparecem mais termos, parceiros, metas e tarefas. Ainda bem Cores e sabores brasileiros que as equipes do Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (Cieds) e da me davam nem tempo, nem razão Viração, parceiros do Fundo das Nações para sentir saudade de casa. Junto Unidas para a Infância (Unicef) na com o pessoal da PCU, visitei plataforma, tem muita paciência comigo; muitas comunidades e conheci eu penso e anoto “educomunicador??” no meu caderno. Aquilo aconteceu há mais de a realidade delas, ajudei na assessoria dos Grupos nove meses. Entretanto aprendi bastante Articuladores e agora dou aula sobre a Plataforma e a Viração. Até virei de inglês para os Jovens educomunicadora também. Mas eu acho que vocês preferem que eu parta do início. Articuladores na Vira, entre outras Em agosto de 2009, assumi uma bolsa atividades. Adoro estar na Viração porque os dias nunca são iguais aos do governo alemão para trabalhar por um outros, pelo conceito de educomunicação ano no terceiro setor em São Paulo. e pelo espaço para criatividade que existe Naquela altura, o Brasil, na minha neste projeto. imaginação, era uma mistura de Tropa de A minha opinião sobre São Paulo Elite, Copacabana e bossa nova. Porém, mudou muito desde a minha chegada, chegando em São Paulo, não demorei graças ao meu trabalho empolgante, muito para perceber que aquilo tinha sido a minha família daqui e aos amigos que um engano. Parecia que a cidade só eu fiz. Com eles conheci um monte de consistia em prédios cinzas, muros de lugares, fui para praia, dancei samba condomínios, ruas engarrafadas e pessoas e maracatu, assisti shows e peças de cansadas. Além disso chovia canivetes. teatro, experimentei as comidas mais Lembro que sentia-me terrivelmente gostosas da minha vida, aprendi bastante pequena e insignificante nesta metrópole sobre o Brasil e me diverti muito. gigantesca. Felizmente dei muita sorte Sempre gostei muito de viajar. Visitei com a minha família hospedeira, que me mais de vinte países e tinha morado fora recebeu super carinhosamente. Tanto ela antes, mas para mim não tem cidade igual como o meu estágio na Plataforma não

A garoa é praticamente uma personagem de São Paulo

Anne-Sophie (à esquerda) e uma amiga em momento “relax” a São Paulo. Nenhum lugar que eu conheço dispõe de tanta diversidade de línguas, culinária, música, etnias, religiões e cores. Parece que o mundo inteiro está aqui. Já não posso imaginar ter que voltar para Alemanha em agosto. Como vou deixar todas as coisas e pessoas que se tornaram tão queridas? Infelizmente não posso ficar mais tempo porque começarei faculdade na Alemanha. Ficarão uma saudade imensa e a certeza de que vou voltar para o Brasil. Muito mais não sei sobre o meu futuro. Só que nunca vou deixar de ser “descobridora”... do mundo e de seus habitantes, dos sonhos e das realidades. Valeu Brasil! V Revista Viração • Ano 8 • Edição 63 11


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É hora de parar 18 de maio, Dia de casos de violência marcaram o Em todo o País, ações de denúncia se so e à Exploração Sexual de Criança Nacional de Enfrentamento ao Abu em alguns Estados Adolescentes; confira o que rolou

Jovens dizem não à exploração em Minas Gerais Andressa Barbosa, Fátima Ribeiro e Silmara dos Santos, do Virajovem Lavras (MG)*

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Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras (Mial) está engajado em várias paradas. Uma delas é a luta contra toda e qualquer forma de violência, como o abuso sexual de crianças e adolescentes. Sendo assim, não poderíamos deixar de participar de uma ação do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Lavras (MG), que marcou, lembrou e defendeu os direitos de crianças e adolescentes contra as violências. Caminhamos com passos firmes, com garra e coragem, com vontade e alegria rumo ao enfrentamento às violências, juntamente com o Conselho Tutelar, o Centro de Referência e Assistência Social (Cras) e o Centro de Referência Especializada em Assistência Social (Creas), a ONG Ciranda Entretecendo Caminhos, APAE, escolas públicas e adolescentes dos programas sociais de Lavras, ao lado de suas educadoras sociais. O 18 de maio é marcado por um violento crime contra uma menina de nove anos chamada Araceli Cabrera Sanches, morta em 1973. Ela foi estuprada, assassinada e teve o corpo esquartejado por jovens da classe média alta. O caso chocou o País, que lembra a data como o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração

Sexual de Crianças e Adolescentes” e, desde então, faz a sociedade se mobilizar com eventos que possam fazer do 18 de maio um marco, não pelo seu motivo, mas pela conquista em poder, de alguma forma, expressar a vontade de defender e proteger outras crianças e adolescentes. Em Lavras não foi diferente: o dia foi lembrado em frente à praça principal da cidade com uma passeata e exposição de trabalhos feitos por crianças e adolescentes que tiveram o objetivo de conscientizar a população, emitir um alerta contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes, crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O objetivo principal é enfatizar um problema que já faz parte da nossa realidade e que causa danos físicos ou psicológicos às pessoas que sofreram abuso. O Mial, que também é parceira da Vira, mais uma vez, encontra formas de sensibilizar a todos, promovendo ações de denúncias e lembrando que ocultar também é uma forma de crime. Por isso, caso saiba de algum caso de exploração sexual, faça sua denúncia, disque 100, o número do disque-denúncia nacional.

Em São Paulo, Viração realiza Ação da Juventude Texto e fotos: Sâmia Pereira, Janaína Leonardi, Lilian Lima e Verônica Mendonça, do Virajovem São Paulo (SP)* e equipe da Viração em São Paulo (SP)

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o último 18 de maio, o Brasil lembrou o Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Em todo o País, ações de denúncia e mobilização foram realizadas para conscientizar a população sobre a importância de fomentar o debate e a proposição de medidas de superação desse tipo de violência. Segundo estudo realizado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR) com o Unicef, 1/5 das cidades do Brasil possui redes organizadas de exploração sexual de adolescentes. Na data, a ONG Viração, em São Paulo (SP), realizou o 1º fórum da Vira: Ação da Juventude no Enfrentamento do Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O Fórum contou com a presença de Anna Flora Werneck, coordenadora de projetos do Instituto Childhood Brasil (WCF-Brasil), Carlos

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Bezerra Jr., vereador de São Paulo e relator da "CPI da Pedofilia", Elânia Lima, do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca Interlagos-SP), e Eric Silva, mobilizador da Viração e integrante da Rede de Jovens e Adolescentes Contra a Exploração Sexual. A mediação do Fórum foi feita pela diretora-executiva da Viração, Lilian Romão, que iniciou sua fala homenageando Neide Castanha, defensora dos direitos de crianças e adolescentes, que morreu no início do ano. Durante o bate-papo, os convidados discutiram formas de envolver os jovens no enfrentamento do problema. “É preciso conhecer o fenômeno para poder orientar outros jovens e adolescentes sobre o assunto, e assim poder alertar e saber como se defender”, disse Anna Flora Werneck. A atividade reuniu adolescentes, jovens e adultos para refletir, conhecer e propor ações de combate ao problema. No encontro, além da exposição e debate com ativistas e especialistas no assunto, adolescentes e jovens fizeram a cobertura colaborativa do evento, por meio de transmissão ao vivo pela web, Twitter e produção de fanzines. O Fórum da Vira teve o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Caminhada marca o 18 de maio no Ceará Texto e fotos: Raiana Carvalho e Rones Maciel, do Virajovem Fortaleza (CE)*

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rianças chegavam e se espalhavam pelo Parque das Crianças, localizado no centro de Fortaleza (CE). Jovens se reuniam em rodas para tocar os tambores. A agitação começava a aumentar, na medida em que mais pessoas chegavam e o barulho das batucadas aumentava. A frase "esse ponto não é meu, mas o problema é nosso" estava estampada na camiseta de muitos que lá se encontravam. Trata-se do tema da campanha deste ano. E são os jovens, na grande maioria, que marcaram presença na caminhada pelo fim do abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Para Hermênia Olímpio, de 19 anos, o evento é importante para conscientizar as pessoas sobre o problema da exploração sexual de crianças e adolescentes. "Acima de tudo, lembrar que isso é um fato que acontece em nosso dia-a-dia", disse. A jovem ainda falou que é necessário alertar todas as pessoas sobre o fato. "A gente tem que alertar mesmo o pessoal, tem que cutucar a ferida”, completou Hermênia, que também acha que a participação de jovens como ela nesses eventos "só vem para somar com a luta". Quem também estava lá na luta pelos direitos humanos eram os integrantes da ONG Barraca da Amizade, que possui programas de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes, por meio de atividades circenses que desenvolvem com crianças e jovens em situação de rua ou de exploração. Iara Lima, coordenadora pedagógica dos programas externos da Barraca da Amizade, conta que muitas vezes o problema da exploração sexual é encarado com naturalidade pela sociedade, por ser algo cada

Confira as entrevistas realizadas com os convidados do 1º Fórum da Vira: http://forumdavira.blogspot.com. Veja também a reportagem feita pelo canal Futura: http://migre.me/TyRw

vez mais comum na cidade, “justamente isso é o que não pode acontecer”, afirma. "Um dia desses (18 de maio) é muito importante para colocarmos a boca no trombone, botar na imprensa para que as pessoas comecem a perceber que isso é crime, e que nós temos que gerar outras possibilidades para esse público", defende Lima. Para ela, políticas públicas voltadas para a juventude que sofre com a situação se tornam cada vez mais necessárias. A caminhada, organizada pelo Fórum Cearense de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes, marcou o dia com uma manifestação que chamou a atenção da população para o tema. V

*Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (mg@revistaviracao.org.br, sp@revistaviracao.org.br e ce@revistaviracao.org.br).

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o ã ç la u ic t r A

dentro e fora s e d a id n u m o c das Adolescentes que integram a Plataforma dos Centros Urbanos em São Paulo saem às ruas pelos direitos das crianças e dos adolescentes

Texto e fotos: Vinícius Balduino, Kariny Sopranzi, Verônica Mendonça, Michael Vinicius de Oliveira, adolescentes comunicadores da Plataforma dos Centros Urbanos*

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om um ano de existência da Plataforma dos Centros Urbanos, as comunidades que fazem parte desta iniciativa do Unicef – voltada para a garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes que moram nas grandes cidades perceberam ao longo do percurso que poderiam aprender junto com seus adolescentes a fazer a articulação dentro e fora do local onde vivem. E aprenderam! Esse é o caso da comunidade Parada 15 de Novembro, que fica na zona leste de São Paulo, onde duas adolescentes tiveram a iniciativa de levar uma ação de difusão do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) até a escola da região. Com o objetivo de ensinar seus direitos e deveres aos alunos de diferentes idades, elas buscaram apoio do grêmio escolar e formularam um projeto com professores para que juntos pudessem levar conhecimentos ligados à infância e juventude para a comunidade. E claro, não deixando o concurso “Causos do Eca” (leia página 24) de lado, uma iniciativa que premia os autores das melhores histórias relacionadas à garantia dos direitos das crianças e adolescentes. O grupo decidiu motivar toda a comunidade escolar a escrever histórias relacionadas ao ECA e o melhor conto produzido pelos alunos será inscrito pela própria escola no concurso. Mas o objetivo não é apenas concorrer aos prêmios em dinheiro caso o conto saia vencedor, mas sim mostrar para todas as crianças e adolescentes da sua comunidade que se todos tiverem consciência do que podem ou não fazer ficará mais fácil lutar para exigir que todos os seus direitos sejam respeitados e cumpridos. Na Fazenda da Juta, comunidade que também fica na zona leste de São Paulo, os adolescentes estão ensinando os

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Acampamento foi realizado na comunidade Fazenda da Juta, em São Paulo moradores da região a trabalhar com mobilização por meio de diferentes projetos. Um deles é o “Projeto Recrear” que promove atividades recreativas na hora do intervalo, esportes educacionais e, aos finais de semanas, realizam acampamentos sócio educativos com vários adolescentes da região. Uma das conquistas recentes da Fazenda da Juta foi que os adolescentes que integram a PCU conseguiram fazer a articulação junto à Secretaria Municipal do Trabalho e levaram para dentro da comunidade cinco cursos profissionalizantes e de qualificação de jovens. Participaram em média 300 pessoas e se não fosse o esforço de articulação dos adolescentes, talvez os moradores da Fazenda da Juta nunca tivessem acesso aos cursos “Auxiliar de Crédito e Cobrança”, “Auxiliar de Departamento


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Pessoal”, Auxiliar de Almoxarifado”, “Organizador de Eventos” e “Operador de Caixa”.

Nas ruas Outra ação relacionada à luta por direitos que também merece destaque é a TV de Rua, realizada no Jardim Pantanal, também na zona leste de São Paulo. Representantes da comunidade organizam debates nas ruas e convidam representantes do poder público com o objetivo de discutir questões que atingem todos os moradores. Não tão distante dali, a comunidade Jardim Aricanduva também optou por levar às ruas questões ligadas ao ECA. Por meio do Grupo Arteiros, atores e membros da comunidade se vestem de palhaço e difundem questões ligadas aos direitos das crianças e adolescentes. Por meio de iniciativas como essas, é possível perceber que as pessoas dessas comunidades servem de grande exemplo de como os adolescentes podem desenvolver atividades de articulação dentro do lugar onde vivem. É a partir desse tipo de iniciativa que pessoas de toda cidade são beneficiadas fazendo e ensinando os adolescentes a terem compromisso e responsabilidade, dando espaço para terem voz ativa e participarem dentro das atividades desenvolvidas nas comunidades. As ações citadas nesta reportagem foram compartilhadas em encontro organizado pela PCU em maio, que contou com a participação das comunidades da zona leste de São Paulo que integram esta iniciativa do Unicef. Nas próximas duas edições da Vira, vocês vão poder conhecer as ações da Plataforma dos Centros Urbanos que estão rolando nas comunidades das zonas norte, oeste e central de São Paulo. V

“Foi muito legal poder criar um projeto para falar sobre o ECA na minha escola porque muitos alunos não conhecem seus direitos. Mas o fato de eu integrar a PCU ajudou a abrir portas. Também foi importante eu participar de uma formação sobre o ECA na Viração para eu me sentir segura para falar com a diretora da escola e outros alunos. Conseguimos envolver o pessoal do grêmio e agora está rolando na escola um mini-concurso sobre as histórias ligadas ao estatuto. Sei que não são todos os alunos que vão participar, mas é muito bom já ver alguns envolvidos e tomando conhecimento de seus direitos” Kariny Sopranzy, GA Parada 15 de Novembro "Eu me senti muito importante ao levar os cursos para minha comunidade e também ao realizar os acampamentos porque muitos adolescentes de lá não têm a mesma oportunidade que eu tive com a PCU. É por isso que eu abracei com tudo essa oportunidade" Janaina Leonardi, comunidade Fazenda da Juta, São Paulo

Adolescentes da comunidade Parada 15 de Novembro durante reunião do grêmio escolar

*A Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) é uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), desenvolvida em parceria com diferentes parceiros, que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes que vivem nas grandes cidades. A Plataforma está sendo implementada inicialmente nas cidades de São Paulo, Itaquaquecetuba (SP) e Rio de Janeiro (RJ), com duração prevista até 2011. Os chamados adolescentes comunicadores são membros das comunidades que integram a PCU e são responsáveis por auxiliar na mobilização comunitária para a conquista das metas e comunicação de ações realizadas no âmbito de suas comunidades.

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Divulgação

Música, mestra da vida

Os sons da juventude na Virada Cultural em

São Paulo (SP)

Juliana Sayuri, colaboradora da Vira

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ara quem pensa que a música brasileira é só ziriguidum, é melhor rever seus conceitos. Há muito a música clássica compõe sons da brasilidade e, nos últimos tempos, cada vez mais a juventude se envereda por essa trilha sonora de muitas vidas. A galera fez bonito na última edição da Virada Cultural, nos dias 15 e 16 de maio, na cidade de São Paulo (SP), com os Grupos Jovens da Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim (EMESP) e as jovens musicistas do Piano na Praça. Na Praça Dom José Gaspar, doze promissoras pianistas deram um show de sensibilidade no centro histórico paulistano. Quem abriu a noite foi a solista Marina Spoladore, de 26 anos, deslizando os dedos pelas partituras idealizadas por Claude Debussy, Franz Liszt e Ernesto Nazareth, entre outros. Na sua ainda breve estrada, Marina já teve o privilégio de tocar com a Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (OSUSP) e a Orquestra Sinfônica Nacional

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da Universidade Federal Fluminense (OSNUFF), além de participar do inovador grupo PianOrquestra. Na outra ponta da maratona cultural, a apoteose do Piano na Praça ficou por conta da carioca Maíra Freitas, de 25 anos. O recital agradou a gregos e troianos, contemplando desde os eruditos Bach, Chopin e Villa-Lobos aos populares Tom Jobim, Pixinguinha e Jacob do Bandolim. Além da formação clássica, na Escola de Música Pró-Arte e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pianista tem um pezinho na música popular brasileira, entre o choro e o samba, talvez uma bendita herança de seu pai, Martinho da Vila. Presença prestigiada nos grupos PianOrquestra e Victor Somma Trio, Maíra fez recentemente sua estreia como cantora no álbum Poeta da Cidade – Martinho canta Noel. Ao lado do pai, ela canta duas faixas em homenagem ao eterno poeta da Vila Isabel. “A música é a minha vida, sempre me iluminou. Sem ela, nada faz sentido.

Acredito que se todas as pessoas – entre jovens, adultos, crianças e velhos – tivessem contato com a música e o fazer musical verdadeiro e puro, o mundo seria diferente. A música nos faz conectar com nossos próprios sentimentos e nos permite trocá-los com os outros”, diz Maíra. Para o futuro? Daqui a dez anos, a pianista espera continuar viajando o mundo para espalhar seus sentimentos intimamente relacionados à musicalidade. “E se o mundo não acabar, pretendo estar feliz e continuar vivendo de música”, diz. Já no Memorial da América Latina, a Orquestra Jovem Tom Jobim, sob a regência do maestro Roberto Sion, contou com a presença do brasileiríssimo grupo Pau Brasil e convidou uma das mais expressivas intérpretes da atualidade, Mônica Salmaso. De Aquarela de Ary Barroso a Construção de Chico Buarque, passando por Melodia Sentimental e Ária Bachianas N.° 4 de Heitor Villa-Lobos, os 50 jovens instrumentistas fizeram imperar o silêncio na sala do Memorial, para que todos pudessem ouvir a expressividade da


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sinfônica bem temperada com a versatilidade rítmica à brasileira. O burburinho, um barulhinho bom de impressionantes decibéis, veio logo após o último acorde de Bye Bye Brasil, de Chico Buarque e Roberto Menescal, com os efusivos aplausos de uma platéia boquiaberta. Ainda no Memorial, os 75 jovens da Banda Sinfônica Jovem se apresentaram com o maestro convidado Roberto Farias, além de sua regente titular Mônica Giardini, com o concerto Le Banquet Celeste, reunindo obras dos compositores modernos Olivier Messiaen, Igor Stravinsky, Arnold Schoenberg e Vicente Moncho. O auditório do Museu de Arte de São Paulo (MASP) deu vez ao Coral Jovem do Estado, sob a regência de Naomi Munakata, com o memorialista grupo Ricordari como convidado especial. As 48 jovens vozes bailaram angelicalmente nos ares com a interpretação de canções antigas de Rossino Mantovano, Orlando de Lasso, Giovanni P. da Palestrina, Domenico M. Ferrabosco, Luca Marenzio, Juan Encina, Tomas Luis de Victoria e Andrea Gabrieli, além de composições do século 16, como peças espanholas da época renascentista. A Escola Tom Jobim reúne a galera nas Orquestras, na Banda Sinfônica e no Coral, geridas pela organização social Santa Marcelina Cultura, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura. Na capital paulista, a Escola está presente na histórica Estação da Luz e no Brooklin, bairro nobre na zona sul. A Escola renova anualmente seu elenco, oferecendo uma oportunidade para que jovens talentos de 14 a 28 anos possam estudar em uma das instituições mais conceituadas do Brasil. O edital para as audições é divulgado no início do ano, contemplando instrumentos como clarinete, flauta, guitarra, oboé, piano, sax, violino, viola, violoncelo, entre outros. Uma vez escalados, os jovens recebem uma bolsa de R$ 430 mensais e passam a ensaiar três vezes por semana a partir de março, com “gente grande” como a regente Naomi Munakata (além dos jovens, lidera a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), o maestro Roberto Sion (vanguardista na fusão sinfônica de elementos do jazz e da música brasileira) e a maestrina Mônica Giardini (antes Projeto

“A música é minha vida, sempre me iluminou”, diz a pianista carioca Maíra Freitas

Guri, Pró-Banda e Funarte), para quem a banda não é uma “porta de entrada” para o universo da música, mas uma “porta de saída”, pois prepara e profissionaliza os jovens músicos. Desde 1992/1993 na Banda Sinfônica Jovem, a regente conta que, entre os alunos que por ali passaram nos últimos 15 anos, 55% se tornaram músicos profissionais – entre eles, alguns integram a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) atualmente, o que é “uma honra” para a maestrina. Mônica ainda destaca que “a banda não seleciona os jovens pelo poder aquisitivo, mas pela capacidade musical”. Em poucas palavras, é fácil traduzir o que simbolizam tantas iniciativas culturais com foco nos jovens: uma aposta certeira na música como uma mestra da vida, na certeza de que essa juventude promete.como todo cidadão paulistano. V

Divulgação

iel

Fabio Mac

Orquestra Jovem Tom Jobim mistura MPB e música clássica

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Plugados ponto com

por meio de joga, estuda e se mobiliza ra, mo na e qu , em jov r se de cratizado A internet mudou o jeito ra que o acesso seja demo pa s ca líti po tam fal da s ain ferramentas virtuais; ma

Avanny Oliveira, do Virajovem Maceió (AL)*, Fernando Lana de Oliveira, Luciano de Sálua e Simone Nascimento, do Virajovem São Paulo (SP), Maria Camila Florêncio, do Virajovem Recife (PE), e Sheila Manço e Sara Manço, do Virajovem Goiânia (GO) Ilustrações: Marcelo Rampazzo, colaborador da Vira

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ompras, jogos, namoro, cursos à distância...se não quiser sair de casa, sem problemas. É possível fazer tudo isso por uma tela de computador. Aos que moram em grandes centros urbanos, por exemplo, torna-se complicado conciliar trabalho, estudos e vida pessoal se não estiver conectado a um espaço virtual. Hoje em dia, a sociedade está influenciada pelas novas ferramentas de tecnologia, quebrando barreiras de comunicação e possibilitando uma conexão simultânea com o resto do mundo. Graças à internet, uma notícia é compartilhada por todos em questão de segundos. Com um simples clique você pode viajar por diversos países, conhecer museus, bibliotecas e pessoas diferentes. E nem mais é preciso estar em casa ou em lan houses para se fazer isso. Basta ter em mãos um aparelho celular para abrir a porta desse gigantesco universo de informações. No entanto, esse caminho pode ter duas vias: a mesma rede que infla o número de amigos na lista de contatos é a mesma que pode responder por um isolamento social - que muitos especialistas explicam ser motivado pela sensação de segurança proporcionada pela internet (como não correr o risco de sair com dinheiro para fazer compras e ser assaltado no caminho). Pesquisa divulgada pelo Ibope no fim do ano passado mostra que 67,5 milhões de brasileiros, acima dos 16 anos, tiveram contato constante com a web em algum ambiente como trabalho, casa ou escola. O resultado, em comparação com o primeiro semestre de 2009, representou aumento de 1,9%. Já os que possuem acesso em casa somam 47 milhões de usuários, de um total de 193 milhões de brasileiros. Entretanto, para a efetiva integração dessa “sociedade da informação”, é importante o desenvolvimento de políticas e ações que promovam a democratização do acesso à internet.

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No Brasil, apenas uma pequena parcela da população possui esse acesso, colocando os demais na chamada classe de “info-excluídos”. No interior de São Paulo, um exemplo de democratização da rede é o que acontece em Sud Mennucci, cidade com pouco mais de 8 mil habitantes. Lá, todos os moradores podem ter em casa ou em locais públicos acesso grátis à internet banda larga sem fio (rede Wi-Fi). Para receber o sinal, é só comprar uma antena com custo médio de R$ 200. A partir daí, o uso é irrestrito, sem a necessidade de assinar um provedor ou pagar mensalidade. Algo parecido acontece desde julho de 2010 na zona sul do Rio de Janeiro, onde mais de 100 mil moradores da Rocinha também passaram a ter acesso gratuito à internet sem fio. O programa Rio Estado Digital, do governo estadual, pretende implantar a rede Wi-Fi nas maiores comunidades do Estado. Atualmente, outras três favelas já utilizam o serviço: Santa Marta, Pavão-Pavãozinho e Cidade de Deus. Além disso, o governo oferece cursos profissionalizantes aos moradores.

Habilidade, diversão e vício


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onques

Em Macéio (AL), evento reúne apaixonados por tecnologia e video games

Criada nos anos 90, na Coreia do Sul, as lan houses surgiram como espaços para reunir amigos e promover jogos em rede. Com a popularização da internet, as cabines incorporaram essa demanda, principalmente nas periferias, já que a maioria dos moradores não possuía internet em casa. Seja o famoso “Paciência” ou RPG, os jogos continuam dominando as lan houses, que organizam até campeonatos para atrair clientes. De positivo, os games virtuais podem ajudar na formação do jovem, desenvolvendo o pensamento lógico, a coordenação motora e potencializando o foco na atenção. Porém, essa relação, se não moderada, também se torna uma grande dor de cabeça, um vício. O problema é mundial. Afeta crianças, adultos e principalmente adolescentes. A Coreia do Sul é o país que tem um dos índices mais altos de vício em games online. No Brasil, não há estatísticas que meçam a compulsão. Jogadores passam até 30 horas seguidas em frente ao computador, perdem dinheiro, enfrentam problemas na escola, no trabalho e com a família. A dependência pode levar a casos extremos. Em 2005, sete pessoas morreram na Coreia vítimas de exaustão e ataque cardíaco enquanto jogavam. Segundo o psiquiatra Daniel Spritzer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), os jogos funcionam com recompensas. “Na medida que o jogador avança uma etapa, ele ganha créditos em ‘vida’ ou valores na moeda virtual do jogo. Os jogos atuam na parte do cérebro responsável por registrar a sensação de prazer, e isso pode levar ao vício, já que o jogador necessita continuar alimentando essa região. É o mesmo mecanismo da dependência do álcool e outras drogas”, alerta Daniel. O segredo para não cair no vício é equilibrar a vida. Manter atividades físicas, conversar pessoalmente com amigos, ler livros e ouvir músicas ajudam a afastar o pensamento dos jogos. Como toda atividade que promove o

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prazer, o ato excessivo pode causar danos a quem pratica. Mas o mundo dos games não é somente voltado para os jovens. Muitos adultos também acompanham todas as novidades dessa área. Em Maceió (AL), um grupo de amigos organiza desde o ano passado o Super Conquest, evento multitemático voltado para toda a família. Nesse encontro de apaixonados por tecnologia, o visitante encontra RPG (jogos em que se assumem as características dos personagens), shows de bandas, lançamentos de produtos, mangás (quadrinhos japoneses), exibições de anime (desenho animado japonês) e muitos videogames. A 4ª edição do Super Conquest tem a data marcada para agosto. “Faltam eventos de tecnologia na cidade, por isso, quando acontecem, o sucesso de público é grande”, comenta um dos organizadores, Ciro Rocha, de 23 anos.

Aproximando corações

Encontrar a cara-metade pela internet é outra situação bastante comum no meio online. Muitas vezes, o relacionamento vai além das janelinhas de messenger. Essa forma de namoro tem marcado a vida de muitas pessoas, devido à popularidade alcançada pelas redes sociais que, no início, restringiam-se às salas de bate-papo. Hoje não faltam opções de sites de relacionamentos, e os brasileiros sabem muito bem disso, já que são os internautas que mais acessam esse tipo de site em todo o mundo. E foi o caso de Janaina Lana, de 23 anos, que iniciou um romance virtual de 800 mil quilômetros de distância. Ela, no Brasil, conheceu pela internet seu então namorado Ernest Fortuño Vives, morador da Espanha. A jovem se Revista Viração • Ano 8 • Edição 63 19


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cadastrou num site de namoro, por onde conheceu a pessoa com quem agora é casada. Janaina conta que teve insegurança no início do namoro, pois havia troca de informações pessoais com alguém que nunca tinha visto. “Não foi fácil. É difícil saber que você tem alguém e ao mesmo tempo não tem, pois você sente a falta do contato físico. Por outro lado, considero que esse foi um período importante para desenvolver a confiança que temos um pelo outro”, conta ela, que hoje mora no país europeu. Após três meses de conversas por meio da internet, ele resolveu vir ao Brasil para conhecê-la pessoalmente. “Foi estranho, era uma pessoa que sabia tudo de mim e que tínhamos toda a intimidade do mundo, mas sempre com o limite do monitor”, diz Janaina. Quando se separaram novamente, perceberam que era impossível continuar com a distância e a saudade. Foi então que Janaina, após um ano de conversas pela internet, decidiu fazer sua pós-graduação na Espanha e ficar perto de seu namorado. Por conta dessa decisão, Ernest a pediu em casamento. Outra história, muito parecida, aconteceu com Patrícia, moradora de Recife (PE), que durante um intercâmbio na Espanha conheceu Pedro. Depois de muitos encontros entre amigos, os dois se apaixonaram. Mas Patrícia foi morar em outra cidade e a partir daí começou a entrar em contato com ele pela internet. “Nos falávamos todos os dias e, para isso, fazia loucuras, pois não tinha internet em casa e para chegar a uma lan house era preciso esperar um

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Sálua

Janaina, no Brasil, e Ernest, na Espanha, mantiveram um namoro de um ano pela internet e hoje são casados

ônibus que só passava de hora em hora, e às vezes nem passava”, conta Patrícia. Ao longo do tempo, os dois procuraram manter constantes contatos pela internet, além da troca de cartas. “A distância atrapalhou bastante, sempre teve aquele momento que fiquei desestimulada e tive vontade de pegar um avião e jogar tudo para o alto”, lembra Patrícia, que também optou pelo casamento. Mas não é só de amores e paixões que a internet sobrevive. Para quem pensa em ter boas amizades, a rede também responde por alguns casos. Carolina Santos, de 16 anos, tem muitos amigos em Santa Catarina, que os conheceu por intermédio da família. Mas a estudante, que mora em São Caetano do Sul (SP), só conversa com eles por meio da internet. “Tenho muitos amigos. Se não fosse a internet, não conseguiria falar com eles por conta da distância”, fala. Ela conta que grande parte do tempo que fica no computador é dedicado a redes sociais. As histórias acima, tanto de amizades como romances, se repete com inúmeras pessoas pelo mundo. No entanto, nem sempre com esse final de contos de fada. É preciso estar atento aos perigos que a internet oferece. Nunca passe informações pessoais (como endereço e dados bancários) a alguém que conhece apenas virtualmente e, caso resolva marcar um encontro presencial, escolha um local de muita movimentação, como shoppings e lanchonetes, informe o máximo de pessoas possíveis sobre o encontro e peça que alguém te acompanhe. Lembre-se: armadilhas existem. A web é acessada por pessoas de todos os tipos, com boas ou más intenções. Então, cabe a você saber selecionar o que há de bom, sem ter problemas futuros com isso. Não é raro ouvir alguém que já passou da casa dos trinta anos dizer que os jovens de hoje são menos mobilizados Luciano de

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Arquivo pe

Carolina Santos, que conheceu muitos amigos pela internet, dedica grande parte do tempo acessando redes sociais


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Mobilizando pessoas

politicamente que os da geração vivida por eles. Essa impressão talvez esteja ligada ao fato de, em décadas passadas, as pessoas saírem às ruas para passeatas e manifestações contrárias a decisões de governo, como o movimento das “Diretas já” , que reuniu mais de 300 mil pessoas em São Paulo para pedir eleições pelo voto direto para presidente da República (antes escolhido pelos votos de um Colégio Eleitoral formado por congressistas e membros da Assembleia Legislativa). Mas as coisas mudaram, e a tecnologia ajudou a modificar esse velho formato de “apenas” sair às ruas. Ou seja, as mobilizações continuam com toda a força. Um caso recente, foi a campanha “Ficha Limpa”, lançada em setembro de 2009, a partir de uma iniciativa popular, que levou à Câmara dos Deputados mais de 1 milhão de assinaturas pedindo que políticos que tivessem alguma condenação criminal ficassem impedidos de se candidatar nas eleições. Contando com o apoio de organizações da sociedade civil, o projeto teve grande adesão dos internautas que, por meio de sites, assinaram a petição de apoio. Meses depois, o “Ficha Limpa” foi aprovado e já está em vigor no País. Aliás, num ano de eleições como este, os candidatos que não se adaptarem ao uso das redes sociais carregam uma sentença antecipada de derrota. Mas com certeza, eles estão atentos a isso, já que 7 dos 9 candidatos que o Brasil escolherá como próximo presidente da República utilizam o Twitter como plataforma de campanha. O espaço é visto como a

oportunidade de ampliar o tempo de contato com os eleitores, já que muitos candidatos possuem pouco tempo de fala nas propagandas de rádio e TV. Segundo o estudo do Ibope, 31, 7 milhões de brasileiros acessam a rede para utilizar blogs, salas de bate-papos, redes sociais, fóruns e outros sites de relacionamento, representando 86,3% dos usuários ativos. Há duas edições, a Vira trouxe a reportagem M de mobilização, que mostrou como um movimento de mais de 1300 participantes têm se mobilizado por meio das redes sociais para construir propostas de melhoria a problemas relacionados a transporte, saúde e educação, por exemplo. Para chegar a esse resultado, eles criaram um site (www.cidadedemocratica.com.br) para que todos pudessem apontar seus problemas e, juntos, apresentar uma solução. Outro fato políticos que demonstrou o poder das redes sociais também envolve o Twitter. Em 2009, o Senado Federal viu seu presidente José Sarney no centro de muitas polêmicas. Envolvido em várias denúncias, como tráfico de influência e denúncias de irregularidades com a Petrobras, Sarney figurou por semanas como o assunto mais comentado do Twitter por conta das pessoas que pediam seu afastamento da casa, enquanto as manifestações nas ruas atraíam pouca gente. O movimento Fora Sarney mobilizou internautas para protestarem por meio da criação de sites, do envio de e-mails pedindo apoio de políticos e personalidades que ajudassem na causa. Mas o Fora Sarney não teve o resultado esperado pelos participantes do movimento, já que o presidente manteve-se firme no cargo. Mas são exceções. O fato é que a internet cativou seu espaço e mostra que será preciso muita tecnologia para deixá-la de lado. V

O Comitê Gestor da Internet no Brasil criou o site Antispam.br, que apresenta vídeos, animados e educativos, e textos com dicas de segurança para navegar na internet. No vídeo “Navegar é preciso”, você pode ver como surgiu a internet e aprende a identificar os tipos de vírus. Pelo site, também é possível conhecer o significado das palavras que estão no vocabulário dos internautas. Acesse: www.antispam.br

*Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (al@viracao.org, sp@viracao.org, pe@viracao.org e go@viracao.org)

Revista Viração • Ano 8 • Edição 63 21


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a r e l a G

r e t r Repó

l a i c o s o ã ç a r a p e R l A diretora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Universidade Federa de Alagoas, Clara Suassuna, fala sobre o uso de cotas no ensino superior

Avanny Oliveira, do Virajovem Maceió (AL)*

U

ma ação protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF) em julho do ano passado trouxe de volta uma discussão delicada no Brasil: a reserva de vagas nas universidades para pessoas que se declaram negras. A ação foi movida pelo partido Democratas (DEM) com a finalidade de garantir a declaração de inconstitucionalidade de todas as leis sobre sistemas de cotas raciais aplicadas no País, por compreender que o ensino deve ser universalizado sem a utilização de cotas. O sistema de reserva de vagas é destinado não somente para afrodescendentes, mas também para pardos provenientes de escolas públicas. A decisão está sendo aguardada por mais de 60 instituições de ensino do País, entre federais, estaduais e particulares, que têm implantado o Programa de Políticas de Ações Afirmativas. Atualmente, o sistema de cotas é uma política legal, contemplada pela constituição de 1988. Para falar sobre o assunto, a diretora e historiadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Universidade Federal de Alagoas, Clara Suassuna, conta sobre a experiência do uso de cotas em Alagoas. Qual o principal objetivo do Neab? Clara Suassuna: O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), da Universidade Federal de Alagoas, surgiu em 1981 como um

centro de pesquisa sobre o movimento negro no Brasil. Teve um papel muito interessante, junto com o movimento negro, na década de 1980, quando atuou pelo reconhecimento da Serra da Barriga, a 100 quilômetros de Maceió (região onde se encontra o Quilombo dos Palmares, que serviu de refúgio e de inspiração à resistência dos negros ao trabalho escravo). O Neab está junto nesta história, da questão da identidade afro-brasileira, não só em Alagoas, mas num conjunto de lutas nacionalmente. Isso veio a partir de colaborações e iniciativas de pesquisadores da universidade junto com as organizações da sociedade civil. Como surgiram os programas de ações afirmativas? Foi em 2001, quando o Brasil se auto-declara um País racista e se compromete politicamente a fazer ações afirmativas para amenizar disparidades de todas as formas de discriminação, seja ela xenofóbica (medo do desconhecido, outras culturas, por exemplo), homofóbica (discriminação a homossexuais), contra a mulher, a judeus, etc. Em 2003 tivemos a tarefa de incluir a história dos afrodescendentes nas disciplinas da escola e, em seguida, a questão da cultura indígena. Por exemplo, desconhecemos algumas palavras da língua portuguesa que utilizamos no cotidiano, como vatapá, naná (dormir), mimi, galalau, bambambã... palavras com influência afro e que não

Linha do Tempo O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros surge num momento efervescente de reivindicações dos movimentos negros em busca de espaço na academia para a produção e difusão de conhecimento.

Contemplado pela Constituição legal, o sistema de cotas é implantado no Brasil. Arquivo Viração - Giorgio D’onofrio

1981 2003 22 Revista Viração • Ano 8 • Edição 63

1988

O Brasil se auto-declara um País racista e se compromete politicamente a fazer ações afirmativas para amenizar disparidades de todas as formas de discriminação.

2006

2001

A história dos afrodescendentes e da cultura indígena entram nas disciplinas da escola.

2009

2003


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Arquivo pessoal

“O sistema de cotas não é um presente”

Clara Suassuna

universidade por acumular tarefas de casa, dificultando a continuidade dos estudos. podem ser perdidas. Isso é incluir quem está fora. Nós somos formados dentro de uma sociedade racista e preconceituosa e temos que desconstruir isso, um processo que pode durar anos. As políticas de ações afirmativas são um ponta-pé inicial e não podem ser entendidas só como um programa de um governo. As políticas de ações afirmativas não são um programa de um governo. É um processo de retratação histórica. Este programa é só destinado a negros? Todo mundo fala de cotas, mas o programa envolve formação de professores, conhecimento e capacitação, atendimento aos alunos. Além da cota, é um programa bem mais amplo, como o acompanhamento dos alunos que permanecem dentro do campus universitário, que são os que moram em repúblicas. Quem pode participar das cotas oferecidas pela Ufal? O nosso programa foi implantado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em 2003 e ele está vinculado a quem saiu de escola pública, o que não significa que os alunos dessas escolas não possam fazer o vestibular normal. O sistema de cotas não é um presente, os meninos passam pelo mesmo processo seletivo. O programa que realizamos aqui se diferencia de outros projetos espalhados pelo Brasil, já que as universidades têm autonomia para fazer seu próprio programa de acordo com a realidade local. Nós oferecemos 60% (dos 20% de vagas destinadas a cotas) das vagas para mulheres, e 40% para homens, pois percebemos que a mulher entra menos na

Natália Forcat

O primeiro processo seletivo do Programa de Políticas de Ações Afirmativas entrou em vigor na Universidade Federal de Alagoas, possibilitando a entrada de 776 pessoas pelo sistema de cotas.

2005

Um processo é movido para garantir a declaração de inconstitucionalidade de todas as leis sobre sistemas de cotas raciais aplicadas no País, reabrindo a discussão.

2009

O aluno cotista, quando entra na universidade, recebe educação diferenciada? Os professores não têm acesso sobre quem é ou não aluno cotista, a não ser que o próprio estudante queira se auto-declarar cotista. Então não existe divisão. O que diferencia o sistema da Universidade Federal de Alagoas das outras instituições do Brasil? Desde 2005, foram 3022 alunos cotistas. Sendo que no primeiro ano tivemos o ingresso de apenas 192 e neste ano entraram 766 alunos. A que se deve este crescimento? Os alunos passaram a conhecer o programa por meio das escolas, que ajudaram na divulgação. Percebemos que os estudantes de escolas públicas não tinham coragem de se inscrever no vestibular por não achar capacitado de passar e que a universidade era lugar pra gente rica, etc. Mas hoje o pensamento mudou e temos alunos que tiram os primeiros lugares no ranking geral dos vestibulandos. Existe algum apoio ou incentivo para o aluno egresso? Sim. O aluno pode se inscrever em bolsas de pesquisas com a orientação de um professor. Nós tivemos, de 2005 a 2007, um programa do Ministério da Saúde chamado “Afroatitude”, ligado à pró-reitoria de extensão da Universidade. De 2009 até o final deste ano, estaremos com o Programa Odé Ayê (para todos), voltado a professores e alunos cotistas, com projetos específicos de pesquisa de campo. Dentro desse programa, já tivemos 14 projetos aprovados.

V

Baixe a publicação Kulé-kulé, coletânea de artigos sobre a cultura afro-brasileira: www.ideario.org.br O blog do Neab é: www.nucleo.ufal.br/neab Informações sobre o núcleo: neabufal@hotmail.com

*Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (al@viracao.org)

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Ivo S sa ou

A C E o n o De olh Equipe do Portal Pró-Menino*

Os riscos do trabalho infantil “As dificuldades financeiras se acentuaram, e, aos 11 anos, Zeca começou a trabalhar prematuramente numa das olarias da cidade, tendo que largar seus cavalinhos de talo. Acordava às 4 horas da madrugada para, em dupla, espalhar as grades repletas de telhas no estaleiro (...) Prosseguia até as 11 horas realizando diversos serviços (...). À tarde, ia para a escola, mas, enfadado, sentindo muitas dores nas costas e com sono, tinha pouca disposição para as atividades. Quase largou os estudos, a sina de muitos meninos daquela época”. Causo de José Valmir Gomes, de Palhano (CE)

Lentini

“D

esde criança, queria uma vida melhor. Eu trabalhava na roça junto com minha família, pois era na agricultura que tirávamos o pão de cada dia. Eu sofria muito trabalhando na roça (...) o tempo que eu tinha para estudar era muito pequeno, já que a necessidade de trabalho era tão grande.” Causo de Raimundo Duarte de Lima, de Venha Ver (RN) “Karina começava sua rotina às 6h30. Eram pilhas de pratos do café da manhã para lavar, roupas para engomar, faxina na casa de dois andares para fazer e até sujeira de cachorro sobrava para a criança limpar. O serviço acabava às 15h, porque Karina seguia para a escola.” Causo de Marcionila Teixeira de Siqueira, de Paulista (PE) *O Portal Pró-Menino, parceiro da Vira, é uma iniciativa da Fundação Telefônica em conjunto com o Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS/FIA).

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Esses relatos verídicos foram enviados para o concurso Causos do ECA, que premia histórias de transformação envolvendo crianças e adolescentes por meio da aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Nos casos acima, essa transformação, ou seja, o fim da exploração da mão-de-obra infantil, só foi possível porque programas públicos de combate à prática baseados nos princípios e diretrizes do próprio ECA foram implementados. O ECA determina a proibição do trabalho a menores de 14 anos, como forma de garantir a prioridade à educação e ao desenvolvimento pleno de cada uma dessas crianças ou adolescentes. Além de ser ilegal, violar esses direitos é colocar essas crianças em risco e também prejudicar suas chances de se tornarem adultos profissionalmente capacitados e capazes de poder exercer plenamente sua cidadania. V

Participe você também do 6º concurso Causos do ECA, contando uma história de transformação por meio da aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Mande sua história até 30 de junho e concorra a prêmios. Veja mais informações no Portal Pró-Menino (www.promenino.org.br).


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Que jovem você quer ser?

tes e Jovens de Nacional de Adolescen Re da n, ya Ra é Jos , igo Neste art do jovem , debate o papel e a força A) JVH NA (R ids /a HIV m Vivendo co que luta por seus direitos José Rayan, da Escuta Soh!

S

ou sonhador, vejo o futuro se aproximar. Tenho um universo de ideias, um infinito de críticas, milhares de emoções explodindo dentro do meu ser. Sou forte, enfrento grandes problemas, fortes tempestades, violentas crises psicológicas, respiro a liberdade que às vezes sinto sendo ameaçada. Sou falho, cometo erros, sofro por não compreender ainda as peripécias da vida, sofro por não saber às vezes lidar comigo mesmo, sei que em alguns momentos me desconheço. Sou lutador, derrubo estigmas, brigo a favor do bem e de meus ideais, luto contra tudo, pois a vida é a pura surpresa. Sou desinformado, e nem me sinto culpado. Essa falta de conhecimento está dentro do meu coração, já que sempre as dúvidas perturbam meus pensamentos e as perguntas afogam minha alma em desespero. O que me angustia é que nem sempre sou ouvido. Eu também sei ser louco, pois não me conformo com certos modos, com costumes, com as etiquetas bobas, com as falsas “boas aparências”, e grito para o mundo me ouvir. Sou também um formador de ideias, tenho planos para o futuro e tenho medo do presente. Engraçado que vivo me lembrando do passado. Sou a crítica. Critico formas de pensar, critico atitudes, critico leis, critico os governantes do país onde vivo. Construo uma vida melhor criticando e mostrando erros. Sou artista, artista do cotidiano, artista do dia-a-dia. Eu faço das 24 horas do meu dia uma peça teatral cheia de adrenalina e emoções. Eu sei viver a vida da maneira que me sinto bem. Eu sou esperança de dias melhores, de mudança, de revolução. Muita gente acredita no meu potencial, afinal sou jovem, vocês são, somos importantes peças no quebra-cabeça de sistemas que precisam serem mudados. Há confiança em mim, em nós. Eu sou o agora, tenho voz, tenho necessidades, especificidades,

concepções, sede de justiça a todo momento, em qualquer instante, eu sou o presente. Eu sou eu, os jovens são os jovens, há a vontade de fazer a diferença, há a perspectiva de dias melhores, há a visão de partilha. Eu sou o questionamento, que faço a adultos de boa aparência, que são miseráveis na sensibilidade, a ricos que são pobres de espírito. Questiono os homens de paletó e gravata que são áridos em honestidade. Eu me questiono quem sou na verdade. E vocês, jovens como eu, que são pura atitude, que jovens querem ser? V

*Artigo publicado originalmente no encarte especial Jovens+, uma iniciativa para a formação de jovens vivendo com HIV/aids de todo o País em liderança e ativismo, visando a participação de novos atores na construção e controle social de políticas públicas. Além disso, estimula a inclusão social, por meio do primeiro emprego, vinculando a atuação e formação dos jovens a um contrato formal de trabalho. Esta iniciativa é fruto de parceria entre o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais e a Agência NorteAmericana para Desenvolvimento Internacional (USAID), contando também com o envolvimento das Agências das Nações Unidas e da Pact Brasil. Mais informações em: www.pactbrasil.org/jovens+ Revista Viração • Ano 8 • Edição 63 25


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IMAGENS QUE VIRAM

Seja livre sui uma história necessária aos que desejam Região independente desde 1948, Israel pos idade rtunidade de conhecer o local com profund compreender o Oriente Médio. E uma opo você kibbutz, como faz a virajovem Leandra, que é morando em uma das comunidades dos confere nas imagens a seguir Leandra Barros, do Virajovem Vitória (ES)*, em Israel

V

ocê acredita em Deus? Eu sim. E estou descobrindo que Ele também acredita em mim, mais do que eu mesma até. A última loucura que Deus me propôs foi sair de casa, sem saber exatamente pra onde, nem como, nem pra quê. Sem grana, sem papai e mamãe, e sem inglês suficiente, arrumei as malas e as ideias pra qualquer lugar e me joguei. No caminho tudo foi tomando forma e vim parar no kibbutz Bar'Am, ao norte de Israel. Os kibbutzim são comunidades coletivas auto-sustentáveis que vivem numa espécie de “super condomínio fechado”, com quase tudo dentro, de horta a fábricas, onde nós, voluntários de várias partes do mundo, trabalhamos pra ajudar uns aos outros. Tem sido uma experiência sensacional e muito libertadora confiar totalmente em Deus e ver que pra Ele não há fronteiras ou barreiras. Ele tem libertado de mim mesma e de tudo que me prendia a uma falsa segurança e tem me mostrado o que é ser livre de verdade. Sem câmera, busquei quem daqui poderia me ajudar a ilustrar com fotografias um pouco desse sentimento. Achei Louise Ohlsén, sueca, de uma sensibilidade ímpar. Vão também dois cliques meus, de máquina alheia. Espero que essas imagens te inspirem a buscar ser, realmente, livre! V

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Louise Ohlsén

Leandra

Barros

*Integrante de um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (es@viracao.org).


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hlsén

Louise O

Pessoas de várias partes do mundo participam como voluntários dos kibbutz

Não há idade para compartilhar as experiências nessas comunidades Leandra Barros

Louise O

hlsén

Louise Ohlsén

Louise Ohlsé

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O kibbutz é uma comunidade coletiva auto-sustentável

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Música e compreensão grante ão do Antídoto, inte Durante a quinta ediç a e é preciso envolver do AfroReggae diz qu lucionar conflitos comunidade para so

Ana Luiza Vastag, do Virajovem São Paulo (SP)*

“S

ó a música, a arte e a cultura podem mudar esses locais em conflito. Iniciativas como essa (do Antídoto), faz com que pessoas do mundo todo realmente encontrem ‘a luz no fim do túnel’, e a gente acredita muito nisso”. É assim que LG, Dinho e Jairo – três integrantes da banda e do Grupo Cultural AfroReggae, falam sobre a importância de uma iniciativa como a do Antídoto – Mostra Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito, parceria entre o Itaú Cultural e o AfroReggae, que aconteceu em maio, em São Paulo (SP). O objetivo de debater arte e cultura como ações de transformação em ambientes marcados pela violência social, étnica e religiosa. A banda contou quais os antídotos para tantos conflitos existentes nas comunidades de várias partes do mundo. “Para nós, essa Mostra é muito importante, porque no Rio de Janeiro nós vivemos em constantes conflitos. Quase todos os dias nosso telefone toca, é gente precisando de ajuda, gente envolvida com o crime e que está a ponto de perder a vida. O Antídoto é uma das maiores ferramentas que foram criadas para se discutir esses caminhos da mediação de conflitos. Hoje, não só a banda, mas tem muita gente no grupo que faz mediação. No início desse trabalho de mediação de conflitos, éramos nós mesmos da banda que íamos lá (na comunidade), e falávamos com os ‘caras’, até mesmo para acontecer um evento, para que nós pudéssemos entrar em uma comunidade. Nosso trabalho é pautado na transparência, nós não aceitamos nada que venha do tráfico. Aqui no Antídoto a gente troca experiências e espera que cada um que venha possa levar algo para aplicar no seu país, na sua própria cultura. A gente acredita que a solução para esses conflitos virá de dentro para fora”, diz LG, um dos vocalistas da banda. Segundo o AfroReggae, existem vários antídotos e vários caminhos para se mudar uma realidade em conflito constante. Basta você achar um caminho em que você se identifique e seguir nele até que você consiga mudar a sua própria realidade. Os antídotos para a violência étnica, social e religiosa são a arte, a cultura, a educação, e o direito de ir e vir tem de ser um pouco mais respeitado. Falta gentileza e compreensão nas pessoas que têm o poder nas mãos. “Primeiro você tem que quebrar muitas barreiras suas, pessoais; depois você tem que mudar a sua família; aí você muda

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AfroReggae diz que existem vários antídotos para se mudar uma realidade Francisco Va

ldean

Jovens fizeram a cobertura colaborativa do evento para o blog do Onda Cidadã a sua rua, a sua comunidade e vai mudando. O Afroreggae faz isso há dezessete anos. Eu tenho quinze anos de grupo e a minha vida mudou, a vida da minha família mudou, a vida dos outros integrantes do grupo mudaram. Na música que a gente toca, no nosso modo de agir, a gente começa a mudar muita coisa”, afirma LG. O AfroReggae trabalha em prol daqueles que estão envolvidos com o crime nas comunidades, mostrando que não é com um fuzil na mão que se é feliz. “Nós mesmos somos prova disso. Eu já fui envolvido com o crime, e hoje estou aqui. Viajo o mundo todo com os meus amigos, trabalho pra caramba dentro do AfroReggae, e a gente vive intensamente”, afirma LG. V

Confira no blog do Onda Cidadã mais notícias sobre o Antídoto - Mostra Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito: http://ondacidada.org.br


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Semeando gentileza Conheça José Datrino, mais conhecido como Profeta Gentileza, que pregava a paz no Rio de Janeiro dos anos 1980 Novaes

Gabriela Nunes e Alex Ferreira, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*

G

entileza parece ser difícil nos dias atuais. Mas José Datrino, ou Profeta Gentileza, como ficou conhecido, ousou falar sobre paz em pleno século XX. Nascido em Cafelândia (SP), em 1917, José Datrino teve uma infância de muito trabalho, lidando diretamente com os animais e a terra. Desde pequeno, tinha um comportamento atípico, com premonições sobre sua missão na Terra. Em 1961, houve um grande incêndio em um circo em Niterói (RJ), ocasionando a morte de 500 pessoas. José contou ter ouvido mensagens espirituais, que o diziam para largar a vida material e se dedicar apenas ao mundo espiritual. O profeta foi até Niterói para confortar os parentes das vítimas. No local do incêndio, ele plantou horta e jardim, onde residiu por quatro anos. É dessa forma que Datrino começa a levar mensagens de solidariedade e se tornou conhecido como “Profeta Gentileza”. Começou a fazer suas pregações nas barcas de Niterói e nas ruas, trens e ônibus do Rio de Janeiro. Com seus longos cabelos e túnica, levava estandartes com dizeres nas cores verde e amarelo, com seu estilo próprio de escrita. Mas foi nas pilastras do viaduto do Caju até a Rodoviária Novo Rio, a partir de 1980, que suas mensagens passaram a ter maior visibilidade. O Profeta Gentileza preencheu 1,5 quilômetros com inscrições com sua crítica de mundo e possíveis alternativas. Não utilizava a palavra “obrigado”, pois dizia que a palavra derivava de obrigação. Preferia usar “agradecido”, por isso ficou conhecido, também como José Agradecido. O lema do profeta, gentileza gera gentileza, foi usado na música Gentileza, da cantora Marisa Monte, considerada uma das maiores homenagens ao profeta: “Amor palavra que liberta/ já dizia o Profeta”, subtendendo-se que amor e paz são capazes de livrar o homem de suas angústias e dores.

Gentileza já foi tema de artigos científicos, crônicas (como a escrita pelo ator e diretor Miguel Falabella), monografias, sambas-enredo, entre outras coisas. José Datrino nos deixou no ano de 1996, provando que não são apenas os filósofos ou sociólogos que buscam um caminho melhor para a humanidade. V *Integrante de um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (rj@taviracao.org). Revista Viração • Ano 8 • Edição 63 25


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No Escurinho

Quando os fracos têm vez Fotos:

Sérgio Rizzo, crítico de cinema

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arece que foi ontem, mas os irmãos Joel e Ethan Coen, hoje com 55 e 52 anos, já estão na estrada há quase três décadas. Nesse período, foram aos poucos se estabelecendo entre os principais diretores americanos. Conhecidos por fazer filmes que se comunicam com a tradição dos gêneros, ele já se dedicaram ao policial (Gosto de Sangue), à comédia maluca (Arizona Nunca Mais) e ao filme de gângster (Ajuste Final). Além disso, eles realizaram também obras híbridas que combinam diversas referências, como Fargo (Oscar de melhor atriz para Frances McDormand, mulher de Joel, e roteiro original), Onde os Fracos Não Têm Vez (Oscar de melhor filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante para o espanhol Javier Bardem, como o tenebroso assassino serial Anton Chigurh) e Queime Depois de Ler. Os irmãos Coen nunca haviam exposto suas raízes judaicas, no entanto, com a eloquência de seu longa mais recente, Um Homem Sério (2009), que trabalha referências biográficas: a história é ambientada no lugar (Bloomington, no estado de Minnesota) e na época (final dos anos 1960) de sua juventude, vistos com o humor negro que caracteriza a obra de ambos (além de fazer filmes, Ethan também escreve peças teatrais). Na trama, que observa com sarcasmo os moradores de classe média de um subúrbio, acompanhamos um professor universitário (Michael Stuhlbarg) durante um período-chave de sua vida. Os fatos inesperados e incontroláveis que o envolvem simbolizam uma espécie de provação, como se Deus quisesse se certificar de sua firmeza de caráter, mas talvez eles representem apenas o caráter aleatório e injusto que determinaria a vida. Um dos diversos abacaxis descascados pelo personagem do título é profissional: vítima de suborno (e, depois, chantagem) por um aluno interessado em aumentar sua nota, ele aguarda ao mesmo tempo uma promoção. Angustiado, teme que uma coisa interfira com a outra. E que Deus, ainda por cima, esteja de olho nele. V

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Michael Stuhlbarg interpreta o professor universitário Larry Gopnik

Divulga

ção Un

iversal

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Rango da terrinha

Na pressão rápido e muito gostoso, Aprenda a fazer um prato pressão o macarrão de panela de

acarrão

Como fazer o m

ra - Tudo

Rose Minei

P

rato comum no Brasil e em todo o mundo, o macarrão tem origem controversa: chineses, árabes e italianos disputam sua “autoria”. E essa origem é de longa data. A história conta que, quando o homem aprendeu a moer cereais, misturar com água e cozinhar ou assar essa "pasta", o macarrão foi inventado. Há referências a alimentos cozidos a base de cereais e água em textos romanos do século III antes de Cristo. A versão mais comum da história, no entanto, afirma que o macarrão teria chegado ao Ocidente pelas mãos de Marco Polo, mercador de Veneza que visitou a China no século XIII. Mesmo sem termos certeza de quem inventou esta delícia, o certo é que foram os italianos que difundiram e criaram o maior número de receitas. Por isso, hoje o que não faltam são tipos e formatos de macarrão: nhoque, parafuso, rigatoni, fettucine, cabelo de anjo... uma infinidade, para todos os gostos! Os molhos também são um capítulo à parte: sugo, bolonhesa, quatro-queijos... Nesta edição, trazemos uma sugestão de um macarrão prático e econômico, feito na panela de pressão. Ele leva carne moída, que pode ser substituída por queijo e presunto picados. E o melhor: fica pronto em cinco minutos! Mas fique ligado: o prato é calórico, por isso, consuma-o com moderação.

V

o

Divulgaçã

Ingredientes 1 pacote de macarrão parafuso 1 lata de creme de leite 1/2 quilo de carne moída (você pode substituir por queijo e presunto picados) 1 lata de molho de tomate 1 litro de água Óleo 1 cebola 1 dente de alho Sal a gosto Modo de preparo Em uma panela de pressão coloque o óleo e a cebola para dourar. Em seguida, refogue a carne, com temperos a gosto. Acrescente o molho de tomate, o macarrão parafuso (cru) e coloque água até cobrir. Despeje todo o creme de leite (sem o soro) e tampe a panela de pressão. Após dada a pressão da panela, conte três minutos e desligue. Está pronto para servir! Bom apetite! Blog Sala e cozinha

Juliana Giron, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)

Gostoso

por queijo a carne moída ir tu ti bs su rença é que Você pode . A única dife to un es pr e mussarela refogá-los não precisa

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Divulgaç ã

O hip pop samba soul de Ellen Oléria

o

Todos os Sons

l da cantora brasiliense

Conheça o som multicultura

Carolina Cunha, colaboradora da Vira

“B

asalto que emana dos meus poros, a minha consciência é pedra neste instante”. Esses versos saem da voz da brasiliense Ellen Oléria. Com mais de 10 anos de estrada, Ellen tem um disco lançado, Peça (2009), no qual passeia pela levada do hip hop e por melodias mais delicadas. Faz música brasileira, com nuances de jazz e black music. O segredo da versatilidade, ela revela na lata: “Paixão”. Acompanhada por Rodrigo Bezerra (guitarra), Paula Zimbres (baixo), Célio Maciel (bateria) e Felipe Viegas (teclado), Ellen contou com os amigos e um edital do Ministério da Cultura para gravar o disco. “Muita gente comprou esse projeto. A música não precisa de CNPJ pra ser. Ela existe independente disso”, diz ela, que vem trabalhando bastante para fazer o disco acontecer. Nas letras, Ellen canta suas múltiplas identidades e considera-se simplesmente uma cantora de música brasileira. “Isso já abre tantas possibilidades que eu adoro dizer isso. Entre afoxés, forrós, carimbos, sambas, choros, bossas, maxixes, emboladas, toadas, eu estarei por aí. Sem esquecer o que a gente aprendeu de bom com a diáspora africana nas Américas e no Caribe como salsa, a cumbia, o merengue, o jazz, o funk, o rock, o hip hop”.Do Chaparral a GOG

32 Revista Viração • Ano 8 • Edição 63

Do Chaparral a GOG

Capa do primeiro CD de Ellen Oléria

Como muitas periferias brasileiras, o Chaparral, no Distrito Federal, é um lugar violento e um pouco esquecido. Foi lá que Ellen passou a infância e adolescência. Escutou o forró e o baião do pai sanfoneiro, cantou num coro de igreja batista, arranhou sozinha os primeiros acordes de violão e tomou gosto pelo rap. Formada em artes cênicas pela UNB, Ellen encarou a música como profissão bem cedo, aos 17 anos, e participou de algumas bandas até seguir voo solo. A força do maior trovador do rap made in Brasília, GOG, também ajudou Ellen. A parceria começou em 2006, quando ela participou da faixa Carta à mãe África, do disco Aviso às gerações. Hoje, a dupla realiza diversos shows juntos. GOG também participou do disco de Ellen e, com ele, ela se conectou definitivamente ao universo do hip hop. “Aprendi a respeitar o movimento hip hop. Muitas vezes fomos salvas por atitudes cantadas ao som daquele pancadão. O GOG me deu motivação pra acreditar na influência rap do meu som. Eu sou também fruto da transformação do hip hop nas periferias do Brasil”, finaliza.

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www.myspace.com/ellenoleria


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Sexo e Saúde ste mês para briela Lima é a convidada de Ga tra ste ob e a ist log eco A gin re métodos ens sobre sexo. Ela fala sob jov s do s nta rgu pe as er nd respo o, a seção sobre ejaculação. Nesta ediçã as vid dú as e is na cio cep on antic )*. ffra, do Virajovem Belém (PA ficou por conta da Sâmia Ma

É verdade que se o homem ejacular fora da vagina a mulher não engravida? Erick Costa, 15 anos

CUPOM DE ASSINATURA

Não. A mulher pode sim engravidar porque, antes da ejaculação, o homem libera espermatozóides, em uma quantidade menor, na lubrificação. Então, o sexo interrompido na hora da ejaculação, também é sinal de alerta para uma gravidez.

anual e renovação 10 edições

Minha irmã manteve relação sexual estando no fim da menstruação e o namorado dela gozou dentro da vagina. Ela pode engravidar? Láis Dias 16 anos A melhor defesa é a vigilância - a mulher tem que vigiar constantemente, principalmente depois da menopausa. Como? Fazendo seus exames preventivos, procurando um mastologista, pelo menos anualmente. Fazer o auto-exame também é importante. A alimentação tem importância na evolução ou na incidência do câncer de mama, sendo considerada por alguns autores como um dos fatores para que a mulher venha a desenvolver a doença. As mulheres sentem vontade de fazer sexo com alguém só de olhar para uma pessoa? Iago Gonçalves, 17 anos Isso depende de mulher para mulher. Alguns fatores influenciam, como a fase do ciclo menstrual e a fase reprodutiva. Se ela estiver bem, na fase reprodutiva, pode sim ter essa libido aumentada. Mas se estiver, por exemplo, na menopausa, essa libido vai diminuir. Outros fatores que diminuem a libido são a TPM, o estresse e a amamentação.

Natalia Forcat

Em relação aos anticocepcionais, qual o mais indicado: injetável ou em pílula? Carol Alencar 16 anos Não existe um anticoncepcional melhor que o outro, existe um adequado para cada pessoa. Cada um tem sua vantagem e desvantagem. Por exemplo, se uma adolescente é disciplinada o mais indicado é usar o anticoncepcional via oral, que é de baixa dosagem. Porém se ela não for disciplinada (esquecer de tomar a pílula todo o dia), o melhor é usar o injetável que é de maior dosagem e é usado uma vez por mês. E a eficácia dos anticoncepcionais chega a 99,9%. Qual a eficácia do método contraceptivo adesivo? Ellington Cavalcante, 17 anos Os anticoncepcionais têm eficácia de 99,9% e o adesivo é um deles que, nesse caso, libera o hormônio pelo adesivo na pele. A única diferença para os outros é a a via de administração.

V

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas pra você! O e-mail é redacao@viracao.org! *Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (pa@viracao.org)

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Cícera Silva, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)

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riada em 2008, a Lei seca teve o propósito de diminuir o número de acidentes de trânsito provocados por motoristas embriagados. Dois anos após a aplicação da Lei Federal nº 11.750/08, o resultado tem sido satisfatório. Em junho, o Ministério da Saúde divulgou dados que mostram redução do número de acidentes no trânsito. Em comparação com os 12 meses anteriores, a diminuição de acidentes esteve em 6,2%. O Rio de Janeiro foi o Estado que mais teve queda (32% menos mortes no trânsito), seguido do Espírito Santo (-18,6%). O único problema é que, se por um lado, está praticamente claro à população de que bebida e direção não combinam, há outros fatores que necessitam da mesma atenção. Muitos jovens aguardam ansiosos o aniversário dos 18 anos de idade, quando poderão tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). No entanto, essa expectativa pode “atropelar” algumas etapas necessárias para se ter a autorização de dirigir, como entender o Código Nacional de Trânsito, desconhecido por grande parte da população. Há muitas campanhas, estaduais e nacionais, alertando sobre os riscos do motorista ao volante. A ONG Criança Segura Brasil, que atua na prevenção de acidentes de crianças e adolescentes até

os 14 anos, lançou o guia “Criança Segura Pedestre” para ajudar a prevenir acidentes com crianças e jovens. O manual foi elaborado com base em estudos realizados em Curitiba (PR) e São Paulo (SP) que levantaram os problemas mais citados entre os pedestres. Já a seguradora Porto Seguro convocou artistas para o movimento Trânsito + Gentil, que promove a educação nas vias, conscientizando as pessoas a deixarem de xingar e buzinar para o motorista do carro ao lado, ou mesmo não se irritar quando alguém tomar sua vaga no estacionamento. Essas duas campanhas, e muitas outras, ajudam a complementar a formação das pessoas que desejam dirigir. Mas se você ainda não se sente seguro ao volante, a boa pedida é circular de bicicletas: um meio de transporte seguro, econômico, saudável e ecologicamente correto. V

Conheça o Guia do Programa Criança Segura Pedestre: www.criancasegurapedestre.org.br Por lá, também é possível ter acesso às leis de trânsito!


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Roteiro de Isabel Kelly Amorim, colaboradora da Vira em BrasĂ­lia (DF)


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“Se queremos alcançar a verdadeira paz neste mundo e desfechar uma verdadeira guerra contra a guerra, teremos de começar pelas crianças.”

Novaes

Mahatma Gandhi (1869 -1948)

Indiano, fez dos protestos pacíficos instrumentos de luta que culminaram na independência da Índia do domínio inglês, em 1947.


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