Revista Viração - Edição 93 - Fevereiro/2013

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O que é fundamental para ser um bom artista, principalmente pra quem se dedica às histórias em quadrinhos? Gostar de histórias em “Um profissional uma quadrinhos. Amar a vez me falou que o estilo é profissão. Não pensar em a forma como você encara o dinheiro. Pensar que talvez desenho. É como um edifício, não dê dinheiro. Pensar um alicerce, que você vai que talvez seu amigo veja construindo tijolo a tijolo.” sua história e goste e você ganhe um pagamento moral. É preciso praticar sempre. Se antigamente eu deixasse de desenhar por uma semana, eu demoraria meia hora para desenhar um novo quadrinho. Você perdia a prática rapidamente? Não é a prática em si. Você perde a segurança no traço, o que é muito importante. Para você fazer um quadrinho com qualidade você precisa de duas coisas: memória visual e um traço firme, seguro. Antes, trabalhávamos na própria página, marcando e pronto. Pegava o pincel e fazia o quadrinho.

Aos 82 anos, finaliza o seu mais recente trabalho Mangue Negro, de terror tipicamente brasileiro

O que você pensa sobre essa vertente mais alternativa dos quadrinhos? O trabalho desses meninos (Fábio Moon e Gabriel Bá, autores da HQ brasileira Daytripper) e principalmente o roteiro está muito bem feito. A impressão é boa. O problema que vejo, é o seguinte: se um camarada faz um trabalho desse por ano, quanto que isso rende? Eu duvido que esse material dê dinheiro para os rapazes. Então, eles estão fazendo por carinho, amor, por divulgação do trabalho bom. O que você acha do videogame, que populariza personagens e histórias que poderiam ser dos quadrinhos? Antigamente o personagem nascia no quadrinho, num fanzine. Hoje nasce de um videogame. Mas, por exemplo, o cinema vem depois do êxito do videogame, porque o cara não investe milhões de dólares só porque o cara é bonitinho. Os caras estão de olho em quanto uma história vendeu. Fizeram uma série na TV Bandeirantes, Walking Dead, que começou no fanzine, passou para o gibi e está fazendo sucesso na TV paga. Por isso estou fazendo o Mangue Negro, que deve sair agora em março. Qual o seu estilo, Zalla? Eu nunca me preocupei com estilo, porque tem um profissional que uma vez me falou que o estilo é a forma como você encara o desenho. Se você publica continuamente, se aperfeiçoando, isso é estilo. Mas se o cara primeiro procura o estilo pra depois desenhar, normalmente fracassa. É como um edifício, um alicerce, que você vai construindo tijolo a tijolo. V

Galera da Vira com Rodolfo Zalla

Marcelo Ro ssi

Ingrid Evangelista

O que você diria para esses jovens que enxergam nos quadrinhos uma possibilidade de expressão, mas não recebem incentivo, porque muitas vezes é marginalizado? Hoje em dia, o quadrinho não é tão marginalizado assim. Hoje é admitido por muita gente que não admitia esse conceito. Eu diria que hoje em dia, o problema de mercado é diferente. Antigamente vivíamos tranquilamente de quadrinhos, mas claro, tinha que fazer um trabalho bem feito para ontem. Grandes tiragens não existem mais, a não ser quando fazem filmes de super heróis. Os americanos têm como costume fazer filmes de super heróis. O X-Men vendia 125 mil exemplares. O Homem Aranha, quando saiu o filme aqui, fizeram uma revista junto com o filme, que vendeu 18 mil exemplares. O próprio cara da editora falou para mim. Se um filme como Homem Aranha, que faz sucesso mundial vende 18 mil exemplares, sendo bem impresso e colorido, imagina uma revista em branco e preto... Morreu!

2013 Revista Viração • Ano 10 • Edição 93 15


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