Revista Viração - Edição 92 - Janeiro/2013

Page 1

capa_92:Layout 1 10/01/2013 16:01 Page 33


2a capa_apoios_91:Layout 1 10/01/2013 16:11 Page 33

s o r i e c r a p s o s Nos

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Auçuba - Comunicação e Educação Recife (PE) aucuba.org.br

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência www.ciranda.org.br

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE) www.catavento.org.br

Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG)

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) www.soudeatitude.org.br

Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br

Mídia Periférica - Salvador (BA) www.midiaperiferica.blogspot.com.br

Amadora – Portugal www.buefixe.org

Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br

Oi Kabum - Rio de Janeiro (RJ) www.oikabumrio.org.br

Gira Solidário Campo Grande (MS) www.girasolidario.org.br

Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA - Fortaleza (CE) www.taconectados.blogspot.com

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR) grupomakunaimarr.blogspot.com

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA) www.cipo.org.br

Agência Fotec – Natal (RN)

Lunos - Boituva (SP) www.lunos.com.br

Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa Maceió (AL)

União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC) ujsacre.blogspot.com

Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) ocidadaonline.blogspot.com

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES) www.avalanchemissoes.org

Idesca - Manaus (AM) www.idesca.org.br

Coletivo Jovem - Movimento Nossa São Luís São Luís (MA)


editorial_92:Layout 1 08/01/2013 15:41 Page 3

Conteúdo

s O m A h n O que gAissO? cOm

Copie sem moderação! Você pode:

a sportivos eventos e s e d n a ra d g Copa s palco de e junho, a d 0 3 Brasil será e a 5 e1 ventos qu te ano. D de três e o ir e cidades partir des m ri a erá o p o. Muit s s d s to e õ o ç d n ra u om a do m Confede cumpra c e atletas ís s a P re o o s d s e o torc eon estádios, ilhares de s para qu trução de mudança atrairão m s n s o a C já . m e te b públicos ta gen s já perce amentos ceber tan rç re o brasileira e m s e o g s jo nça sediar os s e muda tarefa de ropriaçõe p a s e d ileiro já , s em via a do bras id v a . e u ra alteração do tra q rasil afo s, propon ição mos m pelo B melhoria desta ed e d a acontece p s a para c ra o b e o gem d deixarã io das eventos A reporta is do iníc s o e p d e n d ra a ses g is a mesm o que es não é ma do legad a rc e c a xão sobre a uma refle portagem re a m u País. confere ticas de o nosso também ças Climá ê n c a o d v u o M ã r. A bre Nesta ediç l do Qata Unidas so ha, capita s Nações o a D d m ia e c n u e sua Conferê e acontec sente em OP 18, qu steve pre e s ia fora c 2012, a C a tí ir o prime vem de N cional, a a rn Agência Jo te in ! 2013 cobertura um Feliz segunda leitura! E a o B . il s do Bra

O “

• Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Asso

quem somos A

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da ANDI - Comunicação e Direitos. Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 22 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses oito anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300

Conheça os Virajovens em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal Belém (PA) Boa Vista (RR) Boituva (SP) Brasília (DF) Campo Grande (MS) Curitiba (PR) Fortaleza (CE) Goiânia (GO) Lagarto (SE) Lavras (MG) Lima Duarte (MG) Maceió (AL) Manaus (AM) Natal (RN) Picuí (PB) Porto Alegre (RS) Recife (PE) Rio Branco (AC) Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) S. Gabriel da Cachoeira (AM) São Luís (MA) São Mateus (ES) São Paulo (SP) Vitória (ES)

ciazione Jangada

quem faz a Vira Evelyn Araripe

Os jovens Marina Mansilla, da Argentina, e Roberto Madera, do Equador, entrevistam o pesquisador alemão Christoph Bals, do GermanWatch, durante cobertura da COP18.

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 03


mapa_da_mina_92:Layout 1 18/01/2013 12:10 Page 4

09 Planeta em pauta

Seminário de Justiça Socioambiental de Mudanças Climáticas acontece em São Leopoldo (RS) para discutir desafios e compromissos com o planeta

12

Educação inovadora

Virajovens de Natal entrevistam coordenadora pedagó gica de escola estadual da capital potiguar que rompeu com o modelo tradicional de séries e grade curricular

14 Acordos do clima

Agência Jovem de Notícias cobre a 18ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 18, que aconteceu em Doha, capital do Qatar

24

18

País do esporte

eventos esportivos e muitos O Brasil se prepara para sediar importantes as obras e os atuais que são os questionamentos sobre o legado s que tudo acabar depoi iros brasile os para ão investimentos deixar

Direito à cidade Violência e criminalidade são os temas de maior preocupação entre a juventude do Pará, de acordo com pesquisa

26

Sempre na Vira

Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 Quadrim . . . . . . . . . . . . . . 08 Como se Faz . . . . . . . . . . 10 Imagens que Viram . . . . . 22 No Escurinho . . . . . . . . . . 30 Que Figura . . . . . . . . . . . . 31 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 32 Rango da Terrinha . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

Cultura de Paz

Colóquio em São Luís (MA) promove diálogo com entidades que atuam na promoção da cultura de paz no Brasil e no mundo

28 Juventude em cena

Elementos da cultura marginal e do hip hop fazem parte de peça de teatro que aborda o sonho e a identidade do jovem da periferia

29

Vai mal

Em um ranking que avalia a educação de 40 países, Brasil fica em penúltima posição. Reportagem indica possíveis explicações para este indicativo

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Revista Viração - ISSN 2236-6806

Primeiro-Secretário

Conselho Editorial

Eduardo Peterle Nascimento

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Diretoria Executiva

Conselho Fiscal

Amanda Proetti, Bruno Ferreira, Elisangela Nunes, Eric Silva, Evelyn Araripe, Gutierrez de Jesus Silva, Ingrid Evangelista, Rafael Stemberg, Sonia Regina e Vânia Correia

Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Pedagógico Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

Presidente Juliana Rocha Barroso

Vice-Presidente Cristina Paloschi Uchôa

Paulo Lima e Lilian Romão

Equipe

Administração/Assinaturas Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos

Mobilizadores da Vira Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amazonas (Jhony Abreu e Claudia Maria Ferraz), Bahia (Everton Nova e Enderson Araújo), Ceará (Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal

(Mayane Vieira e Webert da Cruz), Espírito Santo (Jéssica Delcarro), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Nikolas Martins e Maria do Socorro Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos), Pará (Diego Souza Teofilo), Paraíba (Manassés de Oliveira), Paraná (Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon), Pernambuco (Edneusa Lopes), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rio Grande do Sul (Roberta Darkiewicz), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos), Sergipe (Grace Carvalho) e São Paulo (Alisson Rodrigues, Verônica Mendonça e Vinícius Balduíno).

Arte Ana Paula Marques e Manuela Ribeiro

Colaboradores Antônio Martins, Caio César Ferreira, Gisella Hiche, Heloísa Sato, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes e Sérgio Rizzo.

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Revisão Izabel Leão

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTb 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação redacao@viracao.org


diga_la_92:Layout 1 11/01/2013 14:14 Page 5

A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Fale com a gente!

Diga lá A Viração Educomunicação recuperou o seu perfil original no Twitter. Volte a nos seguir pelo @viracao.

Via Facebook Queria saber como faço para participar da Viração. Faço atividades uma vez por ano em Barretos, no Hospital do Câncer. Gosto também de participar da Coletividade Ponto Certo e de ajudar quem mais precisa.

Que legal, Junior! Você poderia fazer um texto falando sobre a Coletividade Ponto Certo ou essa atividade que você faz em Barretos para ser publicado no site da Agência Jovem de Notícias (agenciajovem.org). O que você acha? Se topar, pode fazer essa matéria com outras pessoas. As nossas matérias são jovens e colaborativas.

E também confira a página da Viração Educomunicação no Facebok.

Junior de Paula

Ops! Erramos! Perdeu alguma edição da Vira? Não esquenta! Agora você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao

Na edição passada (dezembro/2012), saiu a seguinte chamada na capa da revista: “Escolha por onde começar! Edição ‘virada’ e com duas capas”. Ela saiu por engano, mas no arquivo final da revista, enviado para a gráfica que imprimiu as edições 90 e 91 em Brasília, a chamada havia sido apagada pela nossa equipe de arte. No entanto, a gráfica parece ter ignorado a correção e imprimiu a primeira versão enviada. As edições de novembro e dezembro de 2012 foram impressas na capital federal por conta de um acordo entre Viração e Ministério da Saúde, que se responsabilizou pela impressão desses dois números. Inclusive, os atrasos no recebimento das revistas foram causados por conta da logística do envio dos exemplares. Por tudo isso, pedimos desculpas!

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!

Parceiros de Conteúdo

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.


manda_ve_92:Layout 1 10/01/2013 15:28 Page 6

Manda Vê Bruno Ferreira, da Redação

O calendário Maia terminou no dia 21 de dezembro de 2012. Para muitos supersticiosos, isso era uma clara indicação do fim do mundo. Tragédias aconteceriam em todas as partes do planeta, levando à sua total destruição e, consequentemente, ao fim da vida na Terra. Mas o mundo não acabou! Nem um tremorzinho sequer foi noticiado pela imprensa mundial, que estava atenta ao mínimo sinal de tragédia em grandes proporções. A ideia de fim dos tempos é antiga e se renova com o passar do tempo, mas sempre há quem acredite que o planeta terá, futuramente, um último dia trágico e avassalador, ou então, que no mínimo algum fenômeno inesperado aconteça. Por isso, a Vira pergunta aos jovens:

Você acreditou que o mundo fosse acabar em 2012? Lucyomar França Neto, 18 anos, Cuiabá (MT) “Nunca acreditei que o mundo fosse acabar. No começo, fiquei um pouco assustado, mas depois de ler um pouco mais sobre o calendário Maia, vi que era apenas o fechamento de um ciclo, que seria como um final de ano.”

Sammy Eduardo, 24 anos, São Paulo (SP) “Acredito que se fosse realmente algo alarmante todos nós já saberíamos, e com a tecnologia que o mundo possui hoje possivelmente nos prepararíamos. Eu particularmente não conheço muito a crença Maia, mas precisava conhecer melhor para saber no que eles se basearam.”

06 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92

Aline Czezacki Kravutschke, 18 anos, Ponta Grossa (PR) “Não. Sempre fica um medinho de ser verdade, mas me distraí tanto que acabei nem me lembrando muito dessa história. No dia 21/12, só me liguei quando a minha mãe falou no carro. Senão nem teria lembrado.”


manda_ve_92:Layout 1 10/01/2013 15:28 Page 7

Karolyne Canuto, 16 anos, João Pessoa (PB)

Camila Rodrigues, 25 anos, São Paulo (SP)

“Não acreditei, mas acho que se um dia acontecer só Deus sabe. Muitas pessoas se preveniram para esse tal acontecimento, mas acho isso uma extrema babaquice.”

“Eu não acreditei não. Não sei se existe a possibilidade do mundo acabar. Não se pode prever isso.”

Érick Rocha, 17 anos, Boa Esperança (ES) “Não acreditava por duas coisas. Primeiro que Deus disse que não haveria dia e nem hora pra o fim, e segundo porque eu estudei história e os Maias deixaram bem claro no seu calendário que no dia 21/12/2012 seria o início de uma nova era e não o fim do mundo.”

Túlio Próspero, 26 anos, São Paulo (SP) Gleison Souza, 23 anos, Teresina (PI) “Eu não acreditei. Mas não por levar em consideração conhecimentos científicos e sim, bíblicos. Acho que algo criado com tanta grandeza, não teria um tempo limite para parar de existir e se houvesse, não seria o homem que determinaria isso e sim quem o criou, ou seja, Deus.”

“Não achei que o mundo fosse acabar por acreditar mais na ciência do que em superstições. Não havia nenhum fato concreto do campo científico prevendo esse fenômeno.”

Não é de hoje! Supersticiosos interpretaram profecias como a do alquimista francês Nostradamus, que viveu entre 1503 e 1566, com o fim dos tempos. A Bíblia Sagrada contém o livro do Apocalipse, palavra que apesar de significar “revelação”, de origem grega, fez com que muitos acreditassem ou ao menos temessem o fim do mundo no ano 2000. Alguns historiadores afirmam que por volta do ano 1000 depois de Cristo, muitas regiões do planeta viveram um momento de caos, por acreditarem que o primeiro milênio da era cristã representaria o fim de tudo. A crença apenas parece se reafirmar a cada mil anos...

Muitos são os filmes dos Estados Unidos que abordam um final trágico para todas as formas de vida da Terra. Em um dos mais recentes, 2012, do diretor Roland Emmerich, realizado em 2009, o núcleo do planeta sofre um aquecimento em ritmo acelerado, provocando inúmeros desastres, como erupção de vulcões, tsunamis e terremotos. Nesse contexto, uma família, heroicamente, escapa de todas as tragédias e chega à China, onde existem navios de alta tecnologia construídos para salvar uma parcela de pessoas e animais, para a construção de uma nova geração posterior à tragédia mundial.

Faz Parte


b

kMafalda, i quadrim_92:Layout 1 08/01/2013 15:49 Page 9

Quadrim

a garotinha argentina que conquistou o mundo

Por que é legal ler?

Nobu Chinen, crítico de quadrinhos

Imagens: Divulgação

B

aixinha, esperta, às vezes geniosa, quase sempre simpática. Assim é Mafalda, a mais famosa personagem dos quadrinhos latino-americanos, criada pelo desenhista argentino Joaquin Salvador Lavado, mais conhecido como Quino, que estreou em 1964 no semanário Primera Plana, de Buenos Aires, capital da Argentina. As tiras narram o cotidiano de um grupo de crianças típicas da classe média argentina, numa época marcada pela contracultura, o poder mundial dividido entre Estados Unidos e União Soviética e as ditaduras militares começando a dominar diversos países da América Latina. Mafalda é a idealista da turma: contestadora, rebelde, revolucionária. Manolito é filho do dono da mercearia e já demonstra um espírito reacionário e mercantilista. Felipe é o eterno sonhador, leitor inveterado de quadrinhos e grande fã do Zorro. Susanita é uma garota fútil e materialista. Posteriormente, Quino introduziria outros personagens como Miguelito e Libertad. São todos crianças que questionam o mundo adulto e suas contradições de forma nem sempre ingênua, em situações provocativas e cheias de humor. O sucesso de Mafalda atravessou fronteiras e a série foi publicada na Itália, França, Espanha, Portugal e em vários países da América Latina. Quino parou de fazer a série em 1973 para se dedicar a cartuns mudos de humor universal. No entanto, Mafalda continua sendo seu maior sucesso e vive sendo reeditada em diversos formatos. Há coletâneas em livrinhos horizontais, em livros de bolso e até em álbuns de luxo. Um deles, o volumoso Toda Mafalda, foi publicado no Brasil pela editora Martins Fontes e traz da primeira à última tira publicada da personagem. Mafalda, aparentemente, é uma das personagens prediletas dos elaboradores de exames vestibulares ou de avaliação de ensino como o ENEM, pois quase todos os anos, cai uma questão que tem como tema uma tira da personagem. V

08 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92

Mafalda e seus amiguinhos são, acima de tudo, personagens divertidos. Mesmo passados quase 40 anos desde que parou de ser publicada, a série continua mantendo a mesma graça e o frescor de uma criança que descobre o mundo, com questionamentos atuais.

Por que é legal ler? A série já se tornou um clássico que vale a pena conhecer por ser uma obra duradoura. Além disso, toca em temas e problemas sociais comuns aos países latino-americanos.

Para ler e refletir Muitas vezes, por trás de uma simples tira de inocente humor infantil se esconde uma crítica bastante ácida à realidade política e social de um país e até de um continente.


seminario_92:Layout 1 10/01/2013 15:30 Page 1

Responsabilidade socioambiental em pauta Mudanças Climáticas Seminário sobre Justiça Socioambiental e danos ao clima do planeta termina com propostas para amenizar os Douglas Moreira e Joaquim Oliveira Moura (RS), Danuse Queiroz (DF) e Reynaldo de Azevedo (MG), integrantes da Renajoc em São Leopoldo (RS)

D

esenvolvimento, sustentabilidade, consumo, justiça socioambiental entre outros temas orientaram o Seminário Justiça Socioambiental e Mudanças Climáticas: Desafios e Compromissos, que aconteceu entre os dias 20 e 22 de novembro de 2012 na Escola Superior de Teologia, em São Leopoldo (RS). A proposta do encontro foi refletir sobre o contexto de injustiças e de degradação ambiental, bem como perceber e assumir desafios para a promoção de justiça socioambiental. A mesa de abertura do seminário reuniu pessoas que atuam em prol da justiça Socioambiental e mudanças climáticas. Uma delas foi a representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, Maria Tugira da Silva, que falou sobre a importância de se realizar espaços como esses para que as pessoas de diversos grupos sociais e idades tenham acesso à informação sobre sustentabilidade, agricultura familiar, entre outros temas. Paineis, palestras e atividades em grupo levaram os presentes à reflexão sobre mudanças climáticas, com a abordagem de contextos históricos e das problemáticas da atualidade, como o consumo excessivo. Durante o seminário, foi entrevistada a socióloga Ana Mercedez Icazca, do Núcleo de Economia Alternativa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ela acredita que o termo “desenvolvimento sustentável” é contraditório. “Se entendermos que o desenvolvimento está pautado por uma perspectiva de crescimento, então não existe sustentabilidade. Mas na verdade, teríamos que falar mais em qualidade de vida, bem estar e bem viver do que no desenvolvimento sustentável, porque ele pode vir a ser usado como uma maneira de disfarçar a própria contradição de uma ideia em que o crescimento econômico está como o centro”, comenta a socióloga. Entre as principais atividades do seminário, destacam-se a elaboração de propostas pelos participantes. “Percebemos que há a necessidade de pluralizar o conceito de desenvolvimento e de exercitar novas formas de produção e outros modelos de economia. Práticas exitosas relacionadas à

justiça socioambiental e gestão de riscos a partir da sociedade civil confirmam que a vida se sustenta na diversidade, na reciprocidade e na pluralidade. Há várias formas de ser no mundo”, afirma a carta. O seminário contou com a participação de 120 participantes de seis Estados brasileiros. O evento foi realizado pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA), com o apoio de entidades da sociedade civil. V

Painel reúne participantes do seminário para a construção da carta final

Leia a íntegra da Carta Final do Seminário de Justiça Socioambiental no site da Agência Jovem de Notícias, pelo link: http://bit.ly/Carta_Final_Seminário

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 09


como_se_faz_92:Layout 1 10/01/2013 14:50 Page 11

Como se faz

Jornal Humano Ambulante Um jeito animado, interativo e criativo de coletar opiniões Elisangela Nunes Cordeiro e Bruno Ferreira, da Redação

O

Jornal Mural Ambulante, ou Jornal Humano Ambulante, foi uma ideia que a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores (Renajoc) teve durante a cobertura da 2ª Conferência Nacional de Juventude, que aconteceu em Brasília, em dezembro de 2011. Os jovens se inspiraram nos homens-placa, profissionais que vestem anúncios diversos e circulam nos centros de grandes cidades. Em uma reunião de pauta, um dos jovens sugere: “Que tal sair pela conferência de homem-placa com uma pergunta? Vamos nos vestir de papel craft”. Os mais tímidos usaram máscaras, também feitas de craft, para sair circulando com canetões em mãos. A intervenção chamou a atenção e passou a ser replicada em outros eventos e contextos. Com ele, foi possível a produção rápida de uma matéria e contou com a participação dos jovens presentes na conferência, que responderam perguntas como: “O que é ser jovem?”, “O que você traz na mala?”. O grupo sempre escolhia o horário do almoço para a atividade. Era nesse momento que os jovens deixavam sua opinião em diferentes formatos: poesias, frases, palavras, desenhos... Saiba como produzir um jornal humano ambulante para você coletar opiniões na sua escola e em outros locais! V

Passo a passo 1. Começando: recrute amigos que possam colaborar e fazer a discussão do tema de interesse do grupo. 2. Pensando a temática: elabore uma pergunta, de forma clara e direta. Pense qual será a utilidade do jornal ambulante e a quem vai se destinar. Isso é importante para elaboração da pergunta. 3. Produção da arte: recorte o papel craft ou cartolina em formato de uma grande camiseta. Pegue um bom pedaço do papel, dobre-o ao meio e recorte uma gola, por onde vai passar sua cabeça. É importante tirar a medida nas pessoas que forem vestir. Você pode ainda decorar sua camiseta de craft com desenhos e colagens. A pergunta pode ser escrita a mão ou colada, com letras recortadas de jornais e revistas. Lembre-se de deixar espaço para as pessoas responderem. 4. Hora da intervenção: defina com o grupo o local e o melhor horário para circular com jornal humano em lugares públicos como praças, escolas, estações de trens, aeroporto, rodoviárias ou eventos. É importante sempre pensar a pergunta relacionada ao público. 5. O contato: na hora da intervenção busque interagir com as pessoas para que elas possam convidar seus amigos a participar. 6. Finalização: ao final digite as respostas e publique-as com fotos da atividade no seu facebook, blog ou fanzine!



galera_reporter_92:Layout 1 11/01/2013 14:10 Page 26

a r e l a G

r e t r ó Rep

Educar para a transformação Saberes vai além do modelo Nada de séries ou disciplinas. A Casa de ão pública de qualidade escolar tradicional e dá exemplo de educaç Isadora Morena e Alessandro Muniz, do Virajovem Natal (RN)*

U

ma escola diferente das outras. Com capacidade máxima para 120 crianças, localizada em uma pequena casa cedida pela Maçonaria, no Bairro de Nova Descoberta, em Natal (RN). A Escola Estadual Hegésippo Reis possui apenas três salas, uma Biblioteca e um pátio, além da parte administrativa e cozinha. Mas nela se realiza uma educação transformadora, entre o 1º e o 5º ano do ensino fundamental, com o Projeto Casa de Saberes. A escola tem grande atuação no incentivo à leitura, com o projeto Bairro Leitor, vencedor em 2010 do concurso Escola de Leitores, do Instituto C&A. Integra a Rede Potiguar de Escolas Leitoras, tem parceria com o Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) e Instituto C&A. Possui ainda um jornal e uma rádio escolar, entre vários outros projetos. A coordenadora da escola, Cláudia Santa Rosa, nossa entrevistada, é também professora no curso de Pedagogia da Universidade Potiguar e fundadora do IDE. Confira o bate-papo a seguir! Como surgiu a ideia de mudar o modelo da escola? Quando cheguei na Hegésippo, em 2006, para assumir o cargo de coordenadora, me choquei com a realidade. Era um estado de penúria. Lembrava tudo, menos uma escola. As pessoas não se entendiam, não conviviam, disputavam entre si. Existia um quadro pouco favorável para um ambiente escolar harmonioso. Questionei se a escola tinha projeto político-pedagógico e como era a participação das famílias, e me disseram que fazia um ano e meio que não aconteciam reuniões com os responsáveis das crianças. A

Linha do Tempo Inicia-se o movimento de Escola Moderna, com a fundação da Escola Moderna de Barcelona por grupo de ativistas, pedagogos e apoiadores, entre eles Francisco Ferrer e Anselmo Lorenzo

1901 12 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92

O pensador francês Celestin Freinet criou uma cooperativa de trabalho com professores, que suscitou o movimento da Escola Moderna na França

1924

Cláudia funda juntamente com uma cooperativa de professores a Escola Freinet em Natal (RN)

1996


galera_reporter_92:Layout 1 11/01/2013 14:10 Page 27

partir disso e da necessidade de melhorar o espaço físico, fomos discutindo a questão pedagógica. Se os estudantes não estão aprendendo, se não estamos satisfeitos com os resultados, por que é que temos que insistir em um mesmo modelo? Dessas perguntas começamos a discussão sobre o modelo escolar.

números, projetos, linguagens e a biblioteca. De acordo com o horário, os grupos passam por essas salas. As crianças são divididas por equipes de responsabilidade e programam coisas para melhorar e organizar a escola. Também realizam conferências e seminários, participam de audiências públicas, fazem pronunciamentos e discursos. Por meio do programa Mais Educação, do MEC, ampliamos o tempo na Blog de Cláudia Santa Rosa Escola, oferecendo oficinas de dança, rádio escolar, letramento, desenho, judô e musicalização. Há atividades de interlocução com o bairro, durante campanhas educativas e eventos literários.

Alessandro Muniz

Quais são as diferenças entre o projeto pedagógico da escola e a educação tradicional? O projeto Casa de Saberes estimula o protagonismo das crianças, a vivência na cidadania, as práticas solidárias, o lidar com a informação de forma questionadora. Entendemos a Educação na perspectiva defendida pelo grande educador Paulo Freire, ou seja, educação como prática de liberdade. Isso envolve as dimensões política, técnica e Muitos escritores são convidados para visitar a ética. Orientamos para que as crianças se escola e conversar com as crianças sobre literatura relacionem eticamente, com um quadro de e leitura, entre eles, a poetisa Roseana Murray direitos e deveres para que lutem em defesa dos seus direitos e conheçam o acervo cultural capaz de empoderá-las na vida. Isso não é fácil, porque o projeto esbarra na formação autoritária e individualista que nós, os adultos, experimentamos. O modelo hegemônico de escola pensa de forma homogênia, imaginando os estudantes todos iguaizinhos, aprendendo do mesmo jeito de acordo com o que o professor verbaliza.

Como foi a resposta da Secretaria de Educação à mudança de modelo escolar? No início do projeto, em 2007, a Secretaria nos convidou para apresentar o projeto para professores, gestores e coordenadores das escolas de Natal. Anos mais tarde, uma secretária questionou sobre quem teria autorizado a escola a funcionar de um jeito diferente de todas as outras. Tivemos de remetê-la à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, uma das mais avançadas do mundo, que dispõe sobre a autonomia das escolas para gestarem os seus projetos e sobre as múltiplas formas de organização da escola.

Como isso funciona na prática? Trabalhamos em grupos, nos quais existem crianças de “O modelo hegemônico de escola diferentes idades. Elas podem pensa de forma homogênia, mudar de grupo em qualquer imaginando os estudantes todos época do ano. O estudante iguaizinhos, aprendendo do Como é realizada a formação dos professores tem cinco anos para circular mesmo jeito de acordo com o que para que estejam aptos a trabalhar na perspectiva pelos grupos. Existem do projeto? momentos em que todos o professor verbaliza.” De forma contínua. Temos uma jornada pedagógica fazem a mesma atividade, mas Cláudia Santa Rosa com alguns dias concentrados no início do ano letivo e em outros, cada um atua de os demais uma vez por mês. Além disso, trocamos acordo com os objetivos textos, indicações de livros. Ou seja, a formação individuais que querem atingir. acontece na escola, como deve ser. Também trazemos convidados, Em cada turno, todas as crianças passam por todos os inclusive de outros países, para nutrirem a equipe. V professores. Eles estão divididos por salas, em oficinas de

Início do projeto Casa de Saberes, da Escola Estadual Hegésippo Reis, no bairro de Nova Descoberta, em Natal (RN)

2007

Site da Casa de Saberes: http://www.casadesaberes.com.br/ Blog da professora Cláudia Santa Rosa: www.claudiasantarosa.com Confira ainda um documentário sobre Educação não tradicional: http://migre.me/cspSz

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 13


cop18_92:Layout 1 10/01/2013 13:33 Page 18

Uma conta difícil de ratear uldade dos países e Mudanças Climáticas revela a dific Conferência das Nações Unidas sobr aça o planeta a pagar uma conta ambiental que ame em assumir seus compromissos e aind Chiara Zanotelli (Itália), Danaé Espinoza (México), Evelyn Araripe (Brasil), Marina Mansilla (Argentina) e Roberto Madera (Equador), da Agência Jovem de Notícias Internacional na COP18

14 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92

I

magine a seguinte situação: você sai com os seus amigos para um bar ou restaurante. Vocês são um grupo grande, de muitas pessoas, que juntas consomem petiscos, comidas, bebidas... Alguns consomem mais e outros, menos. Aos poucos, algumas pessoas começam a ir embora e pagam parcialmente a conta com base no que julgaram consumir. No final, restam apenas algumas pessoas do grupo e na hora de pagar definitivamente a conta vem a surpresa: um valor altíssimo, que ninguém quer assumir. Você já passou por essa situação? Se sim, saiba que em se tratando de negociações do clima a situação é bem parecida com essa. Entre 26 de novembro e 7 de dezembro de 2012, negociadores de 193 países se reuniram em Doha, capital do Qatar, para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a chamada COP18. A sigla COP vem de Conferência das Partes, ou seja, dos países membros das Nações Unidas (ONU). O número 18 é porque esse foi o 18º ano em que esses países se reuniram para negociar a redução das emissões dos gases que causam o aquecimento do planeta e resultam em alterações climáticas que levam a desastres como furacões e alagamentos. Sim, já faz 18 anos que essas nações se reúnem para encontrar uma solução. No entanto, a situação é parecida com a citada no primeiro parágrafo. Países desenvolvidos como Estados Unidos, Canadá, Austrália e os da Europa consumiram historicamente muitos recursos da natureza em nome do crescimento econômico. Na época, sem grandes preocupações ambientais, esses países se desenvolveram a custa da destruição da natureza. Mas no início da década de 1990, perceberam que o planeta estava em risco e que era necessário chegar a um consenso.


cop18_92:Layout 1 10/01/2013 13:33 Page 19

O crescimento desenfreado aumentou drasticamente a emissão de gases poluentes que, por sua vez, estimularam o aquecimento da temperatura média do planeta. O derretimento das Durante toda a COP, campanha liderada pelos calotas polares, jovens convidava as pessoas a ser parte da solução aumento dos níveis dos mares e mudanças no clima com muitas chuvas em alguns lugares, muita seca em outros, são algumas das consequências desse fenômeno. Mas, assumir o problema não significa pagar a conta! E é esse cenário que percebemos nesta edição da COP 18: os países desenvolvidos sabem que, desde o início, são os grandes responsáveis pelas tragédias climáticas, mas na hora de pagarem pelo prejuízo, o diálogo não é tão fácil assim. De outro lado, estão os países em desenvolvimento, como o Brasil, que apesar de terem começado a “brincadeira” do crescimento acelerado posteriormente, hoje em dia crescem mais rápido que muitos países desenvolvidos, e também começam a figurar entre a lista dos maiores poluidores mundiais. Brasil, China e Índia, por exemplo, já pertencem ao grupo dos maiores responsáveis pelas emissões de gases poluentes do planeta. “Mas muitos países desenvolvidos, para reduzir as suas emissões, exportaram as suas empresas para os países em desenvolvimento como o Brasil e China”, explica o embaixador André Correa do Lago, um dos chefes da delegação brasileira na COP18. Ele ainda diz que a China produz hoje suprimentos para todo o planeta. “Não seria correto jogar toda a culpa das emissões na China, pois se ela está poluindo é para abastecer todo o planeta. Então, todos têm que assumir a responsabilidade na hora da China reduzir as suas emissões.” Assim, na teoria, tudo pode até parecer fácil. Mas é na hora da prática que os países revelam o seu lado mais egoísta. Adotar um modelo de “Desenvolvimento Sustentável”, que implica em reduzir emissões e se desenvolver sem agredir o meio ambiente, tem sido um grande desafio para o planeta. Em Doha isto ficou claro: em vez de negociarem e chegarem a um acordo comum, os países preferiram jogar a culpa de um para o outro. Era comum o diálogo: “Os países desenvolvidos foram os que começaram com o problema. Por isso têm que ser os primeiros a pagar pelo prejuízo”. Os países desenvolvidos, por sua vez, rebatiam: “Mas hoje, os países em desenvolvimento poluem tanto quanto nós e também precisam assumir seus

Chefe da delegaç ão filipina Yeb Sa ño participa de manifestação qu e cobrava mais ousadia nas nego ciações

compromissos”. E nesse jogo de ver quem é que assume a conta, as negociações não avançam.

O que estava em jogo Em Doha, eram três negociações diferentes que estavam em jogo. A primeira era o Protocolo de Quioto, acordo criado em 1997, em que os países desenvolvidos assumiam metas de redução de suas emissões. Na época, foi decidido que 2012 seria o último ano do acordo, ou seja, quando as metas deveriam ter sido alcançadas. Mas ao longo dos anos os países não levaram o Protocolo tão a sério. Estados Unidos, o maior poluidor na época (logo, o grande vilão), sequer chegou a ratificar o documento. Assim, chegamos em 2012 com pouco, ou quase nada, do dever cumprido, o que estimulou os negociadores a chegarem à COP18 com a proposta de criação de um segundo período do Protocolo. Nele, os países em desenvolvimento também teriam que assumir metas de redução. No entanto, as dúvidas que pairam sobre a segunda fase do Protocolo é sobre quando ele entraria em vigor e qual seria o prazo final para o cumprimento das novas

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 15


cop18_92:Layout 1 10/01/2013 13:33 Page 20

metas. As responsabilidades dos países em desenvolvimento também era objeto de questionamento, pois até então não tinham metas obrigatórias de redução. Para colocar ainda mais lenha na fogueira, havia ainda os países que não concordavam com o segundo período do Protocolo de Quioto. Paralelamente, aconteciam mesas de negociação que já acontecem há anos, em edições anteriores da COP. Uma delas foi a Long-term Cooperative Action (LCA), acordo criado em 2007, em Bali, capital da Indonésia, durante a COP13. Esse acordo criou, entre outras coisas, o Fundo Climático Verde, em que países desenvolvidos investiriam bilhões de dólares para que os países em desenvolvimento se adaptassem para um crescimento econômico sustentável. Rolou também a discussão acerca do GDP – Plataforma Durban, documento fechado na COP17, em Durban, na África do Sul, que resumidamente seria um novo protocolo para unir o Protocolo de Quioto e o LCA em um pacote só. Também foi definido via GDP que esse novo protocolo teria data limite para ficar pronto até 2015 e passaria a valer a partir ria íses suge jovens de vários pa de 2020. à s Manifestação com ido ert ser rev os que poderiam Enquanto l impostos bancári ve ntá ste su a economia mais isso, o transição para um segundo período do Protocolo de Quioto teria que dar conta do recado. Mas no fim das contas, muito pouco avançou. A segunda fase do Protocolo de Quioto foi aprovada, ainda cheia de brechas técnicas que precisam ser esclarecidas na próxima COP, que vai ocorrer em Varsóvia, na Polônia, em 2013. Do LCA, os países desenvolvidos se comprometeram a repassar 60 bilhões de dólares aos países em desenvolvimento via Fundo Climático Verde, mas não ficou evidente quando e como isso será feito. E a Plataforma Durban arrasta a sua missão também para a Polônia. Segundo Luiz Alberto Figueiredo, embaixador-chefe da delegação brasileira, apesar das decisões de Doha parecerem frustrantes, elas demonstram a dificuldade de um processo de negociação do clima. “Não é fácil fazer 193 países chegarem a um consenso, por isso as negociações são demoradas e elas sempre serão”, afirma. Figueiredo ainda destaca que muita gente fica insatisfeita com os resultados da COP, principalmente a sociedade civil, porque existe a expectativa de que as negociações assumam um viés e um comprometimento ambiental. “Em uma COP, nós discutimos desenvolvimento, economia, sob a ótica do desenvolvimento sustentável, do crescer sem comprometer o planeta, mas nós sempre estaremos aqui para discutir desenvolvimento”. V

16 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92

Nos bastidores da COP Youngo Latino Jovens latino-americanos começaram a construir uma plataforma latina de formação de jovens para as negociações climáticas. Com isso, eles passam a ter mais participação e representação dentro da Youngo – a constituição dos jovens dentro das Nações Unidas para defender e expressar as opiniões da juventude sobre as negociações.

Marcha Climática Jovens de países árabes organizaram a primeira marcha autorizada em um país árabe. A ação foi um marco e símbolo da abertura gradativa do Qatar para a democracia.

Super Fulanito O repórter mais famoso da Agência Jovem de Notícias na COP18 foi um personagem muito simpático. Durante duas semanas ele produziu vídeos, reportagens e fez entrevistas com gente muito importante na Conferência do Clima. Com linguagem simples e divertida, Super Fulanito foi referência para crianças e adolescentes latinoamericanos sobre o tema mudanças climáticas.


anuncio_site_vira:Layout 1 18/11/2012 22:03 Page 33


materiacapa_92:Layout 1 10/01/2013 15:32 Page 1

Capa

Vai valer a pena?

sediar eventos O governo tem investido pesado para ano. Mas será que esportivos internacionais a partir deste tivo para o Brasil? o legado desses investimentos será posi

Webert da Cruz, Bárbara Oliveira e Carolina Lima, do Virajovem Brasília (DF); Vinícius Balduíno, do Virajovem São Paulo (SP); Jackson Boa Ventura, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ); Joaquim Moura, do Virajovem Porto Alegre (RS)*; Rafael Stemberg e Bruno Ferreira, da Redação Ilustrações: Caio Cesar M. Ferreira

O

Carolina Lima

esporte traz muitos benefícios, tanto físicos, quanto cognitivos e sociais. E esses benefícios foram reconhecidos como direito por legisladores e pela sociedade quando Estádio Nacional, em Brasília, foram elaborados está sendo construído para dois importantes sediar partidas da Copa de 2014 documentos do Brasil: a Constituição Brasileira e o Estatuto da Criança e do Adolescente. O Brasil sediará grandes eventos esportivos nessa década. Momento mais que hábil para discutir esse direito, que não é tão levado a sério. Pretende-se ter o esporte como um dos principais temas debatidos no Brasil por conta dos eventos que o País sediará nos próximos anos, como a Copa das Confederações este ano; a Copa do Mundo, em 2014; e os Jogos Olímpicos, em 2016. E isso pode trazer ao esporte a seriedade e amplitude junto ao povo brasileiro, para a elaboração de políticas públicas, regulamentações e investimentos, que passem a beneficiar as pessoas comuns de todo o Brasil nas próximas décadas. “Precisa-se estruturar políticas para garantir, ano após ano, com monitoramento e avaliação, a prestação de serviços de esporte nos municípios. Garantir metodologias adequadas para cada público e recursos para viabilizar as ações na prática com as leis necessárias para integrar as instâncias federal, estadual e municipal da

18 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92

gestão pública, como também a integração entre os setores sociais: educação, saúde, segurança etc”, sugere Ana Moser, exjogadora de vôlei, que após deixar as quadras criou o Instituto Esporte e Educação, entidade de assistência a crianças e adolescentes e ainda auxilia na formação de educadores com a metodologia de esporte educacional. Mas as articulações que visam estruturar o País para sediar os eventos esportivos que vão acontecer em diversas cidades brasileiras não parecem que deixarão um legado social positivo. Corre-se o risco de gastar muita grana e energia somente para realizar eventos e não em desenvolver o esporte para brasileiros. “O fato de ter Educação Física nas escolas não significa que o direito ao esporte está garantido”, exemplifica Israel Victor, de 17 anos, morador da cidade Estrutural (DF). Ele diz que não é contra os megaeventos, mas contra a população sofrer com o orçamento público exclusivamente voltado para eles. O esporte também é educação e lazer. O governo precisa priorizar políticas públicas de esporte dentro das ações prioritárias de maior demanda social, conforme acredita a jovem Raquel


materiacapa_92:Layout 1 10/01/2013 15:32 Page 2

Ferreira, de 23 anos, também moradora de Estrutural (DF): “Não tem tido tanto investimento em crianças e adolescentes quanto em Copa”. Além da falta de políticas que estimulem a prática do esporte, a implantação dos projetos de infraestrutura (serviços de mobilidade urbana, hotéis, aeroportos e ampliação das redes de comunicação) exige velocidade recorde que, muitas vezes, pode violar e ameaçar direitos de muitos grupos sociais com a justificativa de ter que entregar as obras em 2014, a tempo de sediar o evento da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa). Em material produzido pelo Instituto Pólis sobre a violação de direitos durante a realização de megaeventos, a execução dessas grandes obras “desconsideram, muitas vezes, os impactos a serem gerados na comunidade atingida, além de não disponibilizarem informação aos envolvidos, intensificando problemas sociais e desrespeitando os direitos humanos.”

Pólis lança cartilha para ajudar grupos sociais ameaçados com megaeventos Para sensibilizar, informar e capacitar grupos sociais urbanos vulneráveis e ameaçados com os futuros eventos internacionais, o Instituto Pólis, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, criou a cartilha Conhecendo o direito: Proteção e garantia dos direitos humanos no âmbito de megaprojetos e megaeventos. Com linguagem acessível, o material traz informações sobre direitos humanos, participação popular, atores envolvidos, instrumentos para proteção e defesa de direitos. A cartilha também apresenta formas de reparação do que foi violado, como um modelo de representação que pode ser encaminhado ao Ministério Público e formas de propor uma ação popular. “Este material contribui no fortalecimento dos direitos humanos como instrumento transversal das políticas públicas e de interação democrática, e espera-se que a sociedade possa exigir, criticar, propor e fiscalizar as ações do Estado e da iniciativa privada, em consonância com as diretrizes constitucionais, do Estatuto da Cidade e do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos”, diz trecho da apresentação do material, que pode ser baixado gratuitamente no link bit.ly/CartilhaPolis.

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 19


materiacapa_92:Layout 1 10/01/2013 15:32 Page 3

Capa Na periferia de São Paulo...

caos tomou conta dessa região, tudo por causa de um estádio que não trará benefício "Itaquera" é um termo proveniente da língua tupi, que significa "pedra nenhum. Olha o tanto de moradia que vai ser dormente". Mas com a confirmação da Fifa de que a Copa do Mundo de desapropriada aqui. Será que um estádio é mais 2014 será no Brasil, a pedra dormente foi acordada e virou mais um importante que o ser humano?”, questiona. canteiro de obras na cidade de São Paulo. Marilda refere-se à Favela da Paz, que fica A região sofre com as modificações. Até então conhecida como nas proximidades do estádio, e será periférica e de baixa renda, movimentada apenas pelo caos dos desapropriada em breve pela Prefeitura de São transportes públicos e pela lotação do metrô Itaquera, hoje se vê como Paulo, para que seja feita a reformulação do a grande promessa de São Paulo para 2014, com a chegada do Estádio espaço voltado à infraestrutura local. do Sport Club Corinthians Paulista, que recebe alto investimento. Além A aposentada Norma de Freitas, de disso, estão em fase de construção um Carolina Lima 75 anos, mora na Favela da Paz há 12 terminal anos. Ela vê com maus olhos tudo o rodoviário, um que acontece na região: “Não vejo o parque linear e porquê de tudo isso. A Copa dura um uma escola mês e o povo é que paga o preço. Isso técnica federal. aqui mudou. Antes era mato e agora Todas essas vai ser estrada que vai passar por obras dividem cima do meu barraco e de todos opiniões de aqueles ali”, aponta com desespero. moradores. Há De acordo com moradores da os que acham região, apesar das desapropriações, que o a Secretaria Municipal de Habitação bairro está de São Paulo informou que já possui melhorando, mas um plano de urbanização para a outros acreditam favela localizada no entorno da que Itaquera Investimentos para os grandes área onde será construído o nunca mais será eventos esportivos que acontecerão Estádio em Itaquera. a mesma. Depois no Brasil geram debate sobre a valorização do direito ao esporte de cerca de um Controvérsias ano do anúncio Um dos pontos positivos de sediar eventos de que o Estádio do Corinthians será sede da abertura da Copa do esportivos internacionais é a reestruturação Mundo de 2014, a vida dos moradores mudou bastante, influenciando das cidades sedes. O Rio de Janeiro, por até mesmo no valor de imóveis. exemplo, se transformou num canteiro de “Um sobrado que custava 80 mil reais antes da divulgação da obras. Iniciativas para a melhoria do trânsito abertura da Copa em Itaquera, hoje é avaliado por 136 mil reais”, têm sido umas das prioridades. Novas lindas afirma Laelson Silva, dono de uma imobiliária da região. expressas são construídas, linhas do metrô Dentro de um micro-ônibus lotado que faz o percurso de um dos estão sendo ampliadas. Bairros e regiões da bairros da região até a estação de metrô Corinthians-Itaquera, o auxiliar administrativo Aristides Ribeiro, de 21 anos, é otimista e acredita que as mudanças vão melhorar o trânsito e valorizar o bairro. “Tudo indica que vai melhorar. Com mais estradas aqui o trânsito vai desafogar literalmente. Eu estou gostando de tudo, acho que o contexto da região e a chegada de tudo o que se constroi aqui é importante para o avanço do bairro e vai valorizá-lo muito”, diz o morador. Já a bancária Marilda Sousa, de 25 anos, diz estar irritadíssima com as obras, e preocupada com a situação da favela próxima à futura arena. “Tenho que acordar mais cedo, sair de casa pelo menos 30 minutos antes, porque é o tempo que fico parada aqui nas proximidades do metrô. Aí desembarco e paro nas filas para entrar na estação, o

20 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92


materiacapa_92:Layout 1 10/01/2013 15:32 Page 4

cidade estão sendo revitalizados. Há ainda um grande apelo turístico em elaboração, fato que tem interferência direta na economia da cidade. Um dos principais problemas enfrentados pela população carioca, a segurança pública, tem sido resolvido, com a diminuição dos homicídios e fortes ações contra o tráfico de drogas. As comunidades, antes dominadas pelo poder do tráfico, têm sido vistas hoje como pontos focais para desenvolvimento urbano e cultural, talvez um sinal que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), iniciativa do Governo do Estado para retomada das zonas mais pobres, tem cumprido seus objetivos, possibilitando a entrada dessas áreas no mapa econômico e turístico da cidade. Em Porto Alegre (RS), de forma geral, as coisas também parecem que vão bem. Estão sendo investidos 121 milhões de reais para melhorias urbanísticas e de transporte na capital gaúcha para a Copa de 2014. Especialistas indicam que a infraestrutura das cidades-sede vai melhorar, principalmente quanto ao sistema de transporte, ampliação dos aeroportos, novas avenidas e atrações turísticas. Mas é claro que existem controvérsias. Em Natal, por exemplo, de acordo com o Blog do José Cruz, do site UOL, cerca de 20 mil estudantes da rede municipal de ensino ficaram sem merenda neste fim de ano. Tudo indica que essa verba foi revertida para custear as obras em andamento. “A Prefeitura não repassou 84 milhões de reais à Secretaria de Educação. Por conta disso, muitas escolas anteciparam as férias”, afirma o texto do blog, publicado no dia 17 de dezembro de 2012. Natal será uma das 12 cidades-sede da Copa de 2014. Na capital do Rio Grande do Norte está sendo construído um estádio com capacidade para comportar 45 mil torcedores, com o custo de 417 milhões de reais.

“Legadinho” Uma das organizações mais críticas aos trabalhos de infraestrutura realizados pelo Brasil para a Copa de 2014, o Sindicato da Arquitetura e Engenharia (Sinaeco) vê como “legadinho” as obras que serão deixadas para o País após a realização do evento esportivo. A “previsão” foi feita pelo presidente do sindicato, José Roberto Bernasconi, em evento da revista Exame realizado no início de dezembro.

Acesse os sites do Sinaenco e do Instituto Esporte e Educação: http://www.sinaenco.com.br/copa_2014.asp http://www.esporteeducacao.org.br/

Bernasconi comentou que, faltando um ano e meio para a Copa, o principal ganho da população é que as obras, ao menos, saíram do papel, ao se referir às construções que serão entregues, mas bem depois dos jogos. “O Brasil fez pouca coisa. O tempo correu. Os três aeroportos (Guarulhos, Brasília e Viracopos) terão melhorias, mas há outros em relação a esses três. O legado vai ser legadinho, e poderia ser muito maior”, disse o presidente. Procurada para detalhar o assunto, a assessoria de imprensa da Sinaenco não respondeu até o fechamento desta edição. No mesmo evento (Exame Fórum), o ministro do Esporte Aldo Rebelo rebateu muitas das críticas que o governo federal têm recebido em relação ao andamento e fiscalização das obras, mas reconheceu muitos problemas que têm sido apontados. “Portos e aeroportos vão estar como os de Alemanha e Londres? Não. Não temos infraestrutura, tempo ou recursos para isso. Mas dentro dos nossos limites, vamos ter tudo isso. Vamos ter a Copa do Mundo à altura da expectativa do mundo e do Brasil”, afirmou. V

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 21


imagens_que_viram_92:Layout 1 18/01/2013 12:15 Page 10

IMAGENS QUE VIRAM

Catadores de sonhos Ensaio: Leonardo Duarte | Texto: Bruno Ferreira*

“N

ão me surpreendi com os catadores porque tenho uma história semelhante a deles. Eu já vivi na rua e morei, antes de ser fotógrafo, na casa de uma das famílias fotografadas”. Isso foi o que me contou Leonardo Duarte quando, em 2009, fiz uma rápida entrevista com ele por telefone para uma matéria que seria veiculada no portal da minha faculdade. Na época eu estudava jornalismo. O ensaio Catadores de Sonhos foi realizado em 2008, em São Paulo, e mostra o cotidiano de famílias que tiram seu sustento de materiais visto por muitos como lixo, sem qualquer utilidade. Durante dois meses, o fotógrafo não apenas registrou a rotina de dificuldades dos catadores, como mais do que isso, penetrou em suas almas, compartilhando os seus próprios sonhos. O resultado desse convívio você acompanha nestas páginas em algumas fotos do ensaio. V

*Conteúdo publicado originalmente na Revista Caravela (www.issuu.com/revistacaravela)

22 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92


imagens_que_viram_92:Layout 1 18/01/2013 12:15 Page 11

Conheรงa mais trabalhos de Leonardo Duarte no blog: http://www.duarteleonardo96.blogspot.com


cidade_que_queremos_92:Layout 1 10/01/2013 14:00 Page 18

Cidade, pra que te quero? preocupações e uma das maiores qu la ve re m lé Be a por jovens de Pesquisa realizad a criminalidade com a violência e é se en ra pa e ud da juvent

Breno Mendes, Débora Ribeiro, Diego Teófilo, Patrícia Cordeiro, Selli Rosa e Soraia Pinheiro, do Virajovem Belém (PA)*

A

Fotos: Virajove m Belém

na Praça da Jovens aplicam enquete

24 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92

República de Belém (PA)

pesar da grande diversidade cultural existente nas cinco regiões brasileiras, a realidade vivida nas cidades de norte a sul do País é uma só. Diante do caos da mobilidade urbana, do desemprego, da precariedade dos sistemas de saúde e educação, do aumento da violência e da pouca quantidade de espaços públicos de lazer, alguns questionamentos são necessários e urgentes: qual o lugar da juventude nessas cidades? Que direitos os jovens têm diante de tantas dificuldades? Quais devem ser as prioridades do poder público em um País que se encontra entre as principais economias do mundo? Foi a partir desta reflexão que o Instituto Universidade Popular (Unipop), por meio do programa Juventude, Participação e Autonomia (JPA), realizou, em conjunto com outras organizações, a Campanha Que Cidade Queremos para viver?. Um espaço interativo que incentiva a participação juvenil e prioriza os espaços de luta pelos direitos da juventude. “Nós, jovens, queremos viver uma cidade em paz, não queremos mais violência”, diz Diego Souza, jovem entrevistado pela Campanha Que Cidade Queremos Para Viver? Esses critérios nortearam a realização da campanha durante 2012, nas cidades paraenses de Belém, Ananindeua, Santarém e Marabá. O trabalho de sensibilização nas comunidades estimulou um olhar crítico e diferenciado sobre essas cidades. Essa experiência se concretizou com uma enquete realizada com 1.592 adolescentes e jovens, dos diversos bairros de atuação da campanha, que visava identificar os três principais problemas existentes nos municípios citados. Os resultados falam por si só: 25% dos entrevistados apontaram a violência e a criminalidade como o principal problema a ser enfrentado pelo Poder Público. Este percentual está em consonância com os dados do Mapa da Violência do Brasil 2012, que apontam um crescimento de 346% da taxa de homicídios de crianças e adolescentes nos últimos trinta anos.


cidade_que_queremos_92:Layout 1 10/01/2013 14:01 Page 19

No Pará, o índice de homicídios nessa mesma faixa etária passou de 4,3 assassinatos a cada 100 mil habitantes no ano 2000, para 19,2 em 2010. A pesquisa aponta ainda que mais da metade dos óbitos juvenis registrados no Pará são assassinatos. As vítimas, em sua maioria, são negras, pobres e moram na periferia, um indicativo de que esse problema tem endereço, cor e classe social. Geralmente são excluídas do processo de elaboração das políticas públicas e seus direitos são negados frequentemente. Nesse sentido, são impedidas de exercer plenamente a sua cidadania e de construir um projeto de vida com qualidade e perspectiva de futuro. Além da violência, a saúde e o lixo foram, respectivamente, o segundo e o terceiro problemas apontados pelos jovens, com percentuais de 18% e 13%. Apenas a Ilha de Cotijuba, em Belém, identificou a falta de infraestrutura nas escolas como principal dificuldade a ser enfrentada. Essa situação não é nova e sempre foi alvo de denúncias de entidades, pastorais, movimentos sociais, não governamentais e parte da imprensa. Para fazer eco aos anseios dos jovens entrevistados, os resultados da enquete foram apresentados em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Estado, no dia 27 de novembro, solicitada pela Deputada Estadual Bernadete Ten Caten (PT), a pedido da Unipop. O objetivo era cobrar das autoridades do Poder Público providências diante dos problemas elencados pelos jovens. Como resultado, as autoridades encaminharam a constituição de um Grupo de Trabalho, composto por representantes da sociedade civil, do governo estadual e do poder legislativo paraense. O grupo terá como principal tarefa para 2013, o planejamento e a execução de ações que enfrentem os problemas apresentados.

Audiência Pública Olhares da Juventude sobre o direito à cidade acontece em Belém

O sentimento de dever cumprido ficou evidente no semblante de satisfação dos jovens que participaram da audiência. Eles prometeram continuar vigilantes para que os encaminhamentos propostos sejam concretizados. Foi o que destacou o jovem Bruno Vito, do JPA, ao comentar a importância dos encaminhamentos conquistados na audiência. “Os encaminhamentos são de vital importância para a construção das ferramentas necessárias de enfrentamento aos problemas apontados pela pesquisa. Mas esses direcionamentos precisam ser concretizados, para que as nossas metas sejam realmente alcançadas”, afirma. “Gostei da audiência pública, pois encontrei vários jovens que estavam ali reinvidicando melhorias na estrutura da nossa cidade, dando alternativas e ideias para melhorar a realidade que vivenciamos. Agradeço a bancada que reservou um momento para nos escutar e também apresentar o que tem sido feito pelos jovens. Dedico salvas de palmas aos jovens que participaram da audiência para lutar por uma vida mais digna e melhor”, afirma Lucelia Santos, 21 anos, jovem participante da audiência pública.

V

Entenda a Campanha Que cidade queremos para viver? Trata-se de um espaço de reflexão com jovens sobre a cidade que temos e qual queremos para viver. Com atividades formativas, apresentações teatrais e ações sobre o tema da campanha em bairros e municípios, estimula-se um “outro” olhar pelo direito à cidade. As atividades buscam problematizar o contexto de cada comunidade e bairro, para que as discussões gerem propostas de reivindicação, junto aos governos municipais e estadual, por melhorias das condições de vida da população, na luta por acesso e garantia dos direitos básicos de todo ser humano.

m (PA) no município de Santaré enquete em uma escola Adolescentes respondem

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 25


coloquio_92:Layout 1 11/01/2013 14:12 Page 18

Tecendo redes de paz Evento em São Luís (MA) compartilha experiências brasileiras e internacionais de cultura de paz Maurício de Paula e Stephany Pinho, do Virajovem São Luís (MA)*

N

os últimos dias 27 e 28 de novembro, aconteceu em São Luís (MA) o 1º Colóquio Internacional de Cultura de Paz. Realizado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em parceria com a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e a École de La Paix (Escola da Paz, da França), o colóquio tinha como tema Tecendo redes de Paz. O encontro proporcionou um intercâmbio de experiências locais, nacionais e internacionais em torno da cultura de paz e para concretizar um convênio firmado entre a UFMA e a École de La Paix, em 2011. O evento contou com o apoio da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Cidadania (SEDIHC), da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e da Plan Internacional. Na manhã do dia 24, a comitiva francesa, constituída por professores doutores da Universidade Pierre Mendès e da École de La Paix, visitou o Núcleo de Extensão da Vila Embratel/UFMA (NEVE). O objetivo foi conhecer as ações desenvolvidas pelo Projeto Comunicapaz, que foi tema de uma matéria da seção Parada Social, da edição nº 86, da Viração. O projeto é coordenado pela professora Vera Salles, do Departamento de Comunicação Social da UFMA, e foi apresentado à comitiva francesa pelos próprios jovens atendidos, que realizaram apresentações culturais com música, dança afro e teatro do oprimido. Os professores franceses declararam estarem impressionados com o trabalho desenvolvido e que pretendem levar essa

26 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92

experiência para a França. Houve ainda uma intervenção artística apresentada pelos jovens do projeto Conexões de Saberes, da UFMA, e os alunos do Curso de Comunicação Social da universidade apresentaram a TV Vila Embratel (TVVE), também tema de matéria na Viração (edição nº 90). No dia 26, a comitiva francesa retornou ao NEVE para uma roda de diálogos que visava a troca de experiências, discursão sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os Direitos Humanos, a Cultura de Paz e o “tecer” de uma rede de paz. Fizeram parte do diálogo representantes da Matraca (Agência de Notícias da Infância), Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, Coletivo Jovem do Movimento Nossa São Luís, Comunicapaz, Conexões de Saberes, Pastoral do Menor, Plan Internacional e o Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão. Durante a tarde foi realizada uma visita aos projetos da Unidade de Cumprimento de Medidas Socioeducativas Alto da Esperança.

O Colóquio O Colóquio propriamente dito começou no dia 27, realizado no auditório da Faculdade de Arquitetura da UEMA (FAU). As atividades consistiam em debates, rodas de diálogos e apresentação de experiências similares, que se estenderam até o fim da tarde do dia 28. Os primeiros debates se originaram a partir das experiências relatadas pelos representantes da École de La Paix, que compartilharam a experiência da escola com a implantação dos


coloquio_92:Layout 1 11/01/2013 14:12 Page 19

São Luís Fotos: Virajovem

Mesa de abertura reúne autoridades do Estado do Maranhão e de outros países

Territórios de Paz. A ideia francesa consiste em criar ferramentas educacionais visando o desenvolvimento e o treinamento, fornecendo módulos acadêmicos, seminários, exposições e construindo uma rede de parceiros na França e em todo o mundo que se interessam em trabalhar a temática da não violência. O último dia foi marcado pela apresentação de experiências nacionais sobre cultura de paz. Patrícia Melo e José Roberto Bellintani, do Instituto São Paulo Contra a Violência, socializaram os trabalhos que a entidade vem realizando para diminuir os índices de violência na capital paulista, a mais populosa do Brasil. Na sequência, o representante do Instituto Pólis - Pontão de Convivência e Cultura de Paz, Hamilton Faria, relatou a importância de se promover a cidadania para, assim, combater a violência de maneira eficaz. No período da tarde, a programação ficou por conta das experiências locais, contando com a participação dos jovens alcançados pelas ações do projeto Educar para a Paz, da Plan Brasil e do Comunicapaz, que apresentaram alguns produtos resultantes do processo de sensibilização sobre a cultura de paz.

Itamatatiua O nome de origem indígena, traduzido como “Pedra, Peixe, Rio” é uma comunidade quilombola, a 90 km da capital maranhense e a 70 km de Alcântara, da qual faz parte. Possui 132 famílias,

Grupo artístico faz apresentação durante Colóquio

com uma economia baseada na agricultura de subsistência, programas sociais do Governo Federal, criação de animais e produção de artefatos cerâmicos. Itamatatiua tem 311 anos, mas sua origem ainda é discutida na comunidade. Documentos apontam para a comunidade como uma antiga fazenda pertencente à Ordem Carmelitana que, após o declínio do período escravocrata e sua extinção, deixou as terras para os negros que lá habitavam. Eles, então, povoaram o local por gerações. A comitiva francesa visitou a comunidade a fim absolver sua cultura e levar sua história para a França. Itamatatiua possui um Centro de Comercialização e Escola de Louça e Cerâmica, que mantém viva a história da comunidade, além de ser a renda de algumas famílias. A produção em cerâmica é desenvolvida há muito tempo na comunidade, referência internacional nesse ramo. No entanto, uma das moradoras da comunidade destaca a preocupação com a conservação dessa cultura, já que os mais jovens precisam sair da comunidade para dar continuidade aos estudos: “Os meninos não têm escola pra estudar. Quando vão para o Ensino Médio, têm que ir pra São Luís ou para Alcântara para terminar os estudos”, afirma. V

Participantes do evento tecem uma rede, simbolizando o tema do Colóquio

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 27


faz_cultura_92:Layout 1 10/01/2013 14:17 Page 1

Faz Cultura

Periferia

Hevelin Maia Vasconcelos, do Virajovem Curitiba (PR)*

nos Palcos Jovens de projetos sociais de Curitiba elaboram peça de teatro sobre os ruídos da comunicação

Cansados da noite de talentos, que ocorria todo fim de ano, os educadores do Projovem, da Rede Marista de Curitiba, iniciaram em 2010 o projeto Culturação. Em vez de realizarem apenas uma atividade de encerramento, os educadores passaram a criar com os adolescentes concepções dos processos culturais em que estão inseridos. Há dois anos, realizam o espetáculo Ruídos, criado pelos jovens a partir das discussões que rolam em oficinas de teatro, dança e educomunicação. No dia 11 de dezembro de 2012, 150 jovens envolvidos no projeto apresentaram em três atos os ruídos que impedem os jovens de sonhar. A proposta é discutir temas relacionados ao cotidiano cultural dos adolescentes. Além disso, busca-se criar um espaço de convivência com as famílias dos adolescentes. Na peça há uma valorização da cultura marginal, predominando o movimento hip hop e outros oriundos da cultura africana.

A figura do homem é transposta em expressões e movimentos que ressaltam a ação pelo instinto, consequência da cultura individualista que se criou na sociedade. A educadora Ana Terra, uma da responsáveis pela coreografia, explica que o objetivo do trabalho é fazer com que os jovens passem a refletir sobre a cultura e os ruídos da comunicação. "Discutimos na peça o excesso de informação que recebemos e como é dificil processar tudo isso", explica.

Nesse processo de formação, os jovens são convidados a pensar sobre o espaço social e quais são as formas de interferirem nele. "Os ensaios e a preparação para apresentação do projeto não foram fáceis, mas valeu a pena. Quisemos passar que não importa o que os outros falam, que apesar de existir ações que te deixam pra baixo, não se deve ligar para isso. Devemos seguir em frente, pois tudo vai dar certo", afirma a adolescente Damaris Ramos da Silva, de 16 anos.

A criação da identidade do jovem foi outro tema discutido na peça. Os adolescentes retrataram os jovens como um grupo diversificado, que lida a todo tempo com os esteriótipos e a cobrança do mercado de trabalho.

Os jovens que participam do projeto Culturação são moradores do Parolin e Vila Guaíra, bairros de Curitiba que sofrem com a falta de políticas públicas. Com a realização do espetáculo, o projeto conseguiu desenvolver mais responsabilidade nos jovens e senso de pertenciamento. V


e_eu_com_isso_92:Layout 1 10/01/2013 14:21 Page 1

E eu com isso?!

Na mira do ranking l em 39ªª posição. O Pesquisa que avaliou a educação de 40 países coloca o Brasi nças socioculturais problema é que os países avaliados apresentam grandes difere

U

educação, mas está caminhando a passos lentos. É necessário que os investimentos sejam direcionados para que a sociedade possa ter acesso a bens culturais, como bibliotecas públicas, teatros, cinemas, museus, para, dessa forma, promover a ampliação do seu capital sociocultural. A posição do Brasil no ranking, apesar de ser um indicador, não serve como referencial para a busca de uma melhoria por conta de toda a diversidade de cada país avaliado. V

us Virajovem Mana

ma pesquisa realizada pela Pearson, empresa de materiais e serviços educacionais, feita com base em testes de conhecimento nas áreas da Matemática, Ciências e Linguagens, divulgada em dezembro de 2012, aponta o Brasil como 39.° colocado em uma lista de 40 países, estando a frente apenas da Indonésia. Figuram na lista em primeiro lugar a Finlândia, seguida da Coreia do Sul e de Hong Kong. A pesquisa considera os resultados de três testes comparativos: o Progresso no Estudo Internacional de Alfabetização (PIRLS), o Tendências no Estudo Internacional de Matemática e Ciência (TIMSS) e o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, o mais famoso deles). Esses dados, de certa forma, chegam a chocar os brasileiros, porém ao se comparar a educação brasileira com a das nações que ocupam o topo da lista, pode-se perceber que as características socioculturais dos países avaliados são extremamente diversas, o que inviabilizaria a adoção de critérios de avaliação únicos para todos. Seria necessário que se levasse em consideração as diferenças socioculturais de cada país, não sendo possível avaliar a qualidade da educação escolar de sociedades tão diferentes, utilizando os mesmos referenciais. O Brasil é um país com dimensões continentais e tem, nos últimos anos, investido muito em políticas públicas na área da educação. Entretanto, há uma descontinuidade na aplicação dessas políticas, na medida em que a cada novo governo outras prioridades são eleitas e programas anteriores são descontinuados. De acordo com o professor Paulo Ribeiro, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Estado do Amazonas (SINEPE-AM), “existem fatores que evidenciam a realidade da educação brasileira, como: gestão ineficiente, baixo investimento na educação básica, pouca inovação na sala de aula, baixa participação da comunidade. Mas não basta apenas despejar mais dinheiro no sistema educacional brasileiro, é necessário fomentar políticas eficientes de gestão e formação de professores, além de proporcionar um ambiente escolar que seja motivador para o aprendizado”. O País precisa melhorar seus índices de qualidade na

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 29


no_escurinho_92:Layout 1 08/01/2013 16:35 Page 1

No Escurinho

Cláudio e seus irmãos Filme do diretor Cao Hamburger retrata de forma humana os irmãos Vilas Bôas, responsáveis pela criação do Parque Nacional do Xingu

Sérgio Rizzo, crítico de cinema*

Divulgação

A

gora disponível em DVD, a superprodução Xingu terá finalmente a oportunidade de chegar ao público que não o viu nos cinemas. Para desagrado de seus produtores (Fernando Meirelles chegou a manifestar à imprensa sua decepção), o filme teve menos de 400 mil espectadores, ou apenas pouco mais de 10% do que obteve a comédia Até que a Sorte nos Separe, o maior sucesso brasileiro de 2012. Merecia muito mais. Os irmãos Villas Bôas, cuja trajetória é recriada por Xingu, "compuseram as vidas mais extraordinárias e belas de que tenho notícia", segundo o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997). Para o lexicógrafo Antonio Houaiss (1915-1999), a devoção dos irmãos à "causa da redenção dos índios e do desenvolvimento do nosso Oeste" constitui "matéria que deve perdurar no nosso imaginário coletivo". Essas afirmações generosas estão em textos de apresentação do livro A Marcha para o Oeste, de Orlando e Cláudio Villas Bôas. O diretor e co-roteirista Cao Hamburger (Castelo Rá-tim-bum, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias) condensou, no filme, cerca de 20 anos na vida dos Villas Bôas. A trama tem início quando Orlando (1914-2002), Cláudio (1916-1998) e Leonardo (1918-1961) ingressam na expedição Roncador-Xingu, em 1943, e vai até a criação do Parque Nacional do Xingu, em 14 de abril de 1961, no governo Jânio Quadros. A estratégia de humanizar os personagens, evitando que eles fossem representados como super-heróis, ganha seu melhor exemplo no trabalho notável do ator João Miguel (Cinema, Aspirinas e Urubus; Estômago), que interpreta Cláudio. Graças às nuances de sua atuação, a epopeia dos irmãos é recriada como algo que lhes deu alegria e satisfação, mas que também provocou angústia, raiva e muitas dúvidas, inclusive de Cláudio em relação ao caçula Leonardo (Caio Blat) e, mais tarde, a Orlando (Felipe Camargo). V

* www.sergiorizzo.com.br

30 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92


que_figura_92:Layout 1 10/01/2013 14:26 Page 1

Que Figura!

JK: “Como valeu a pena” Criador de Brasília, pai de duas filhas, médico... Quem era o homem atrás da faixa presidencial?

B

rasília, capital da esperança de uma nação e sonho de um homem. No centro do Brasil brotava uma epopeia, o nosso “Faroeste Cabloco”, assim erguia-se o compromisso de um jovem presidente. Um país continental somente habitado no litoral agora se voltaria para sua imensidão do cerrado. Isso se fez graças ao que uns chamavam de loucura e outros de audácia, mas, sobretudo através da determinação de um presidente, “simpático, risonho e original”, chamado Juscelino Kubitschek de Oliveira. Criador de Brasília, pai de duas filhas, médico. Quem foi o homem por trás da faixa presidencial? JK nasceu em Diamantina, no interior de Minas Gerais, em 12 de setembro de 1902. Filho de João César, caixeiro viajante, e Júlia Kubitschek, professora. Sua infância e juventude foram marcadas pela morte de seu pai, vítima de tuberculose, e pelos esforços de sua mãe para arcar com os seus estudos. Aos 14 anos calçou seu primeiro sapato, e com essa idade já sabia que só os estudos podiam mudar aquela vida pobre. Após anos de Seminário, sobre qual desde o começo disse que não queria ser padre, foi a Belo Horizonte e de lá começou sua escalada. Formou-se em medicina, atuou como médico urologista, mas logo a política falaria mais forte. Foi prefeito de Belo Horizonte, deputado estadual e federal, além de governador de Minas Gerais. O País estava abalado com a morte de Getúlio Vargas, JK surge como um sopro de esperança e leva ao Palácio do Catete, então sede do governo no Rio de Janeiro, um novo modo de governo, sorridente, articulado, preocupado com o marketing político, expressão que décadas mais tarde seria conhecida. Sacudiu o País e cumpriu o prometido. “Farei o Brasil crescer 50 anos em cinco até o final do meu governo”. Assim o fez. Saiu da presidência com a sensação de dever cumprido. Os ventos que depois sopraram no Brasil trouxeram nuvens de uma “noite densa e negra” que duraram 21 anos. Juscelino foi vítima, assim como tantos, do regime militar. Preso, humilhado, exilado, esquecido, quem sabe morto, JK amargou anos na esperança de ver e cantar “mãe gentil” no alvorecer da democracia, morrendo, numa tarde fria, em um trágico acidente automobilístico, em 22 de agosto de 1976. Suas falhas não foram maiores do que aqueles que renegaram a democracia. Seus acertos, sim, foram uma demonstração de confiança e de que é possível crescer com a democracia. Em vez de julgar, perdoou seus adversários. Em uma das suas frases mais emblemáticas disse: “Deus me poupou do sentimento do medo”.

V

“Deus me poupou do sentimento do medo”. Juscelino Kubitschek de Oliveira

*Um dos virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 31


sexo_e_saude_92:Layout 1 08/01/2013 16:37 Page 1

Sexo e Saúde

O

herpes é causado por um vírus que fica incubado em um músculo do corpo e se manifesta quando há uma queda na resistência imunológica da pessoa. Pode surgir em decorrência de estresse físico ou emocional, febre, exposição prolongada ao sol durante a menstruação, entre outros fatores... É possível prevenir o tipo mais comum de herpes fortalecendo o sistema imunológico, evitando tomar muito sol e mantendo um estilo de vida saudável, com menos estresse, bebida alcoólica e cigarro. A enfermeira Adréia de Oliveira Ferreiro, que trabalha no programa Saúde da Família no posto de saúde Dr. Geraldo Siqueira, de São Gabriel da Cachoeira, respondeu algumas questões sobre o tema. Confira! V

Natália Forcat

Claudia Maria Ferraz, do Virajovem São Gabriel da Cachoeira (AM)* O herpes labial é uma doença sexualmente transmissível? Sim. O uso de preservativos ajuda a diminuir o risco de contágio. Por isso, informe o parceiro, quando souber que tem o vírus. Na gravidez, o herpes simples pode representar preocupação. Mantenha seu médico informado para devidas precauções. Como se transmite o herpes labial? Contato direto com lesões ou objetos contaminados, como talheres e copos. Quais são os tipos de herpes que existem? Temos dois tipos de herpes: o labial, mais comum, que aparece de vez em quando; e o herpes genital, que só ataca uma vez e imuniza a pessoa. Ambos causam dor, mas o segundo tipo provoca uma dor desesperadora porque destrói o nervo onde está alojado, que demora muito para se regenerar. O herpes simples é contagioso e geralmente aparece no contorno dos lábios, ao lado da boca, nos órgãos genitais, nádegas e até dentro dos olhos (casos mais raros), podendo levar à cegueira. Quais os cuidados que a pessoa deve ter para não infectar outras pessoas? Separar talheres, copos e toalhas de pessoas que estão com herpes. Na relação sexual, deve-se usar preservativo e evitar contato íntimo quando estiver com sintomas.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org

*Virajovem presente em 20 Estados do País e no Distrito Federal

32 Revista Viração • Ano 10 • Edição 92


rango_92:Layout 1 10/01/2013 15:45 Page 33

Rango da terrinha

Diferente de todos conhecido Pé-de-moleque do Acre não é igual ao il popularmente em outras regiões do Bras Débora Cristina Marinho e Leonardo Nora, do Virajovem Rio Branco (AC)*

D

evido à grande miscigenação no processo de povoamento do Acre, a culinária do Estado tem fortes influências dos povos indígenas e do povo nordestino. A mistura dessas culturas criou novas receitas que, em sua maioria, utilizam produtos nativos que as deixam com um gosto característico e bem exótico. O Pé-de-moleque é um prato de grande sucesso e faz parte de um típico café da manhã ou lanchinho da tarde de um acriano. Com uma mistura especial de vários ingredientes e especiarias da Amazônia, essa receita é uma das mais vendidas na feira do Mercado Municipal de Rio Branco. Com toda certeza, quem já está acostumado com o pé-de-moleque do sul e sudeste vai achar difícil imaginar um feito de mandioca e banana. Mas isso é bem característico aqui na região! Então, vamos agora aprender como fazer essa deliciosa receita, que rende 15 porções! V

Ingredientes

Modo de preparo

2 kg de farinha de puba (feita de mandioca); ½ dúzia de banana “bem madura”, amassada (preferencialmente banana Najá, podendo ser usada qualquer banana bem doce); 4 ovos; Cravo a gosto; Erva-doce a gosto; 300g de manteiga ou margarina; 1 lata de leite condensado; 1kg de açúcar; Castanha do Brasil a gosto.

Misturar a massa de farinha de puba, a banana amassada, os ovos a margarina e a castanha ao leite condensado. A mistura tem que ficar “grossinha”, não pode ficar rala. Na mistura acrescenta-se cravo e ervadoce a gosto. Se a massa não estiver suficientemente doce pode-se acrescentar açúcar. A massa é levada para ser cozida em forno pré-aquecido, com baixa temperatura ou na brasa. Ao sair do forno a massa sempre deve ser enrolada na folha de bananeira. Antes de enrolar é importante esquentar um pouco a folha com água quente para que fique mais flexível! Bom apetite!

Leonardo Nora

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

CUPOM DE ASSINATURA anual e renovação 12 edições ++ newsletter É MUITO FÁCIL FAZER OU RENOVAR A ASSINATURA DA SUA REVISTA VIRAÇÃO Basta preencher e nos enviar o cupom que está no verso junto com o comprovante (ou cópia) do seu depósito. Para o pagamento, escolha uma das seguintes opções: 1. CHEQUE NOMINAL e cruzado em favor da VIRAÇÃO. 2. DEPÓSITO INSTANTÂNEO numa das agências do seguinte banco, em qualquer parte do Brasil: • BANCO DO BRASIL – Agência 2947-5 Conta corrente 14712-5 em nome da VIRAÇÃO OBS: O comprovante do depósito também pode ser enviado por fax. 3. VALE POSTAL em favor da VIRAÇÃO, pagável na Agência Augusta – São Paulo (SP), código 72300078 4. BOLETO BANCÁRIO (R$2,95 de taxa bancária)


Arte promovendo inclusao FONE(COM.) E-MAIL

EST. CIVIL BAIRRO SEXO

Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior

R$ 65,00 R$ 55,00 R$ 80,00 US$103,00

Parada Social

DATA DE NASC. NOME ENDEREÇO CEP CIDADE REVISTA VIRAÇÃO Rua Augusta, 1239 – Cj. 11 Consolação – 01305-100 São Paulo (SP) Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687

Cheque nominal Depósito bancário no banco Vale Postal Boleto Bancário Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior

TIPO DE ASSINATURA:

FORMA DE PAGAMENTO:

FONE(RES.) ESTADO

em

/

/

/

PREÇO DA ASSINATURA

parada_social_92:Layout 1 11/01/2013 14:17 Page 34

Jéssica Delcarro, Virajovem de São Mateus (ES)*

C

Projeto de jovens do Espírito Santo mostra como cultura, lazer e esporte podem mudar vidas

riado em 2010, o Movimento Sama Jovem vem levantando a bandeira da juventude por meio de realizações e participações em eventos artísticos e culturais. Com o objetivo de promover a inclusão, o projeto oferece oportunidades para adolescentes e jovens artistas exporem suas opiniões e perspectivas de vida e sonhos por meio de suas habilidades. O Sama Jovem mostra que a juventude não gosta só de futebol, mas também tem diversos interesses artísticos, como dançar, grafitar, pular por cima de obstáculos, tocar berimbau, fazer piruetas no chão. O Movimento surgiu da união de dois projetos de grafite e break, elementos da cultura de rua e o hip hop, que promovem a inclusão de adolescentes e jovens de baixa renda. O acesso à cultura, esporte e lazer acontece por meio de oficinas de grafite e break, realizadas na Praça Mesquita Neto, ao lado do coreto Erinéia Lima, no centro da cidade de São Mateus (ES). O Sama Jovem foi crescendo, novos grupos foram se unindo, estreitando os laços culturais e suas diversidades, proporcionando a troca de experiências e ideias e contribuindo para o seu amadurecimento. Essa mistura promoveu a inclusão de adolescentes e jovens em grupos de manifestações culturais, educacionais e artísticas, além de esporte, lazer e turismo

alternativos. O projeto procura valorizar a arte urbana tradicional, regional e nacional, sem nenhum tipo de descriminação. Atualmente são oferecidas atividades de grafite (Graffiticidade), break (Sama Break), basquete de rua (Coisa di Preto), capoeira (Grupo Capura Raça e Pé da Capoeira), dança (Grupo Swing Mania, Kebra e Samba, Style Soldier, Molejo Sensual, Bonde dos Detentos e Elecktrobotics), hip hop (Pacific Rap e Mano ''S''), áudio e vídeo (Empreender Jovem, Liberdade Visual e Graffite Filmes), MC (Master G, Lil Rick e Mc Romálio) e Le Parkuor (Scorpions Le Parkuor). V Divulgação

Adolescentes e Jovens do Movimento Sama Jovem em atividade no centro de São Mateus

*Virajovem presente em 20 Estados do País e no Distrito Federal


35_rap_92:Layout 1 10/01/2013 16:24 Page 33


4a_capa_90:Layout 1 10/01/2013 16:29 Page 33


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.