Revista Viração - Edição 91 - Dezembro/2012

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Balanço 2012 Aos leitores da Revista Viração, Nesta edição, a Viração Educomunicação, organização social responsável pela produção da Revista Viração, publica o balanço anual de suas contas referentes ao ano de 2012, como forma de prestar contas aos seus leitores, amigos, parceiros e toda a sociedade. Acreditamos que práticas como essa tornam as relações mais transparentes. O balanço também está publicado em www.viracao.org.

Atenciosamente, Equipe Viração

BALANÇO PATRIMONIAL

8050 VIRACAO CNPJ: 11.228.471/0001-78 01/01/2011 A 31/12/2011

ATIVO ATIVO CIRCULANTE DISPONIBILIDADE BENS NUMERARIOS DEPOSITOS BANCARIOS APLICAÇOES FINANCEIRAS VALORES REALIZAVEIS A CURTO PRAZO CLIENTES IMPOSTOS A RECUPERAR ESTOQUES REALIZAVEL A LONGO PRAZO VALORES A REALIZAR A LONGO PRAZO CREDITOS E VALORES ATIVO PERMANENTE IMOBILIZADO BENS

32.381,78 D 2.156,82 D 74.269,20 D 11.015,60 D 358,27 D 8.800,00 D

12.241,95 D

1.586,05 D

(-)DEPRECIACAO ACUMULADA

61,07 C

TOTAL DO ATIVO

142.748,60 D

PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE VALORES EXIGIVEIS A CURTO PRAZO FORNECEDORES OBRIGACOES TRIBUTARIAS OBRIGACOES TRABALHISTAS E PREVIDE EXIGIVEL A LONGO PRAZO VALORES EXIGIVEIS A LONGO PRAZO EMPRESTIMOS E FINANCIAMENTOS PATRIMONIO SOCIAL PATRIMONIO SOCIAL REALIZADO PATRIMONIO SOCIAL RESERVAS DEFICIT ACUMULADOS RESULTADO DO EXERCICIO AJUSTES DE EXERCICIOS ANTERIORES

53.915,61 D 9.752,04 D 47.428,77 C

TOTAL DO PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO

142.748,60 C

1.556,00 C 881,31 C 8.647,07 C

133.771,85 C

14.131,25 C

Reconhecemos a exatidão do presente balanço encerrado em 31 de Dezembro de 2011 conforme documentação apresentada

Juliana Rocha Barroso Presidente


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? O d n A u q Aids... Até

la tituído pe o o Dia ro foi ins b m e z e 987, com d 1 e m d e º , 1 e d dia e Saú e unir a omento d Mundial d m ia o le b É . m s e Ass com o a Aid ue vivem ta Contra q u s L a e o d s s l e ia ue Mund m as p tudo porq edade co ção, sobre n a solidari e d v da o re to p rn n e e to e aum de em ações d ndência d humanida alecer as te rt a fo m u e d am e também aúde indic vírus HIV tério da S is in M Brasil e o d entes a Aids no ns. d e v o jo ri cê á e n s e dados rec az o c texto, vo scente esse con tre adole de capa tr N n e . m o o e e ã rn g ç e a c v rt H infe repo do go vírus IV e com o iniciativa ão, nossa iv iç e v d d e e o u ã ta q ç s n g Ne ve tin es de pre de marke sobre açõ m gerente u e d a indígenas ri reflexões poiar os r a histó a e c e ra h a n p o u c o l ainda vai se mobiliz ão judicia audável. juventude a feliz e s uma decis , a id v te o n a m e a o m m c n u e leva indíg s ecente onfere das pelos as ruas. R o, você c a s n ic is e d d is in m ia iv lé c o A as re a s redes s e das terr setores d aiowá, na o de poss ã ç diversos ra g Guarani-K m te e in e acatado e s re i o a fo ib a l tr inav Federa ntre as o e rn a e lt v o o v que determ G do de ou re processo iros caus m recurso tramita o utubro, u a fazende o a d e d in l a a , n ntanto e. No fi nsa. No e sociedad foi suspe o ã ç ra g dígenas. úde, os a reinte s terras in exo e Sa a S d o o ã ã ç ç e a s o demarc re, na ta sobre da confe specialis e Você ain ra a m u o e étod pa entos d ais um m m , o esclarecim in in tivo fem preserva T e Aids. o das DS prevençã ! Boa leitura

Conteúdo

O “

quem somos A

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da ANDI - Comunicação e Direitos. Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 22 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses oito anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300

Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Asso

ciazione Jangada

Conheça os Virajovens em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal Belém (PA) Boa Vista (RR) Boituva (SP) Brasília (DF) Campo Grande (MS) Curitiba (PR) Fortaleza (CE) Goiânia (GO) João Pessoa (PB) Lagarto (SE) Lavras (MG) Lima Duarte (MG) Maceió (AL) Manaus (AM) Natal (RN) Picuí (PB) Porto Alegre (RS) Recife (PE) Rio Branco (AC) Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) S. Gabriel da Cachoeira (AM) São Luís (MA) São Mateus (ES) São Paulo (SP) Vitória (ES)

quem faz a Vira Ewerton Maia

Equipe do Virajovem Manaus (AM) participa da reunião de pauta desta edição via Facebook

Revista Viração • Ano 10 • Edição 91

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10 Poesia na veia

Jovens do projeto Pira na Notícia fazem sarau na Vira em parceria com o escritor cubano Felix Contreras

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Cidade em pauta

Capital maranhense é tema de webrádio feita por adolesc entes e jovens que por meio da comunicação exercitam a cidadan ia

13 Cinema marginal

Jovens da periferia de São Paulo utilizam a sétima arte para abordar a realidade de quem vive à margem da sociedade

18

14

Em defesa dos indígenas Mobilização da juventude em favor dos Guarani-Kaiowá faz justiça voltar atrás na reintegração de posse que prejudicaria etnia

Na luta contra a Aids

Os desafios do combate à infecção pelo vírus HIV se redefinem continuamente pelo governo e sociedade, que acreditam na conscientização como melhor caminho para enfrentar a questão

24 Sempre na Vira

Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 Quadrim . . . . . . . . . . . . . . 08 Imagens que Viram . . . . . 16 Como se Faz . . . . . . . . . . 23 No Escurinho . . . . . . . . . . 30 Que Figura . . . . . . . . . . . . 31 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 32 Rango da Terrinha . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

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Expressão consciente

para as redes sociais, Prática de escrever diários é transferida encontram na escola que s lema prob am relat onde adolescentes

Compartilhando boas práticas

4º Encontro Brasileiro de Educomunicação acontece em São Paulo, reunindo profissionais, pesquisadores e estudantes da área

29

Fora da escola

A baixa renda das famílias brasileiras ainda faz com que muitas crianças e adolescentes abandonem as salas de aula do País

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Revista Viração - ISSN 2236-6806

Primeiro-Secretário

Conselho Editorial

Eduardo Peterle Nascimento

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Diretoria Executiva

Conselho Fiscal

Amanda Proetti, Bruno Ferreira, Elisangela Nunes, Eric Silva, Evelyn Araripe, Gisella Hiche, Gutierrez de Jesus Silva, Ingrid Evangelista, Rafael Stemberg, Sonia Regina e Vânia Correia

Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Pedagógico Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

Presidente Juliana Rocha Barroso

Vice-Presidente Cristina Paloschi Uchôa

Paulo Lima e Lilian Romão

Equipe

Administração/Assinaturas Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos

Mobilizadores da Vira Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amazonas (Jhony Abreu e Claudia Maria Ferraz), Bahia (Everton Nova e Enderson Araújo), Ceará (Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal

(Mayane Vieira e Webert da Cruz), Espírito Santo (Jéssica Delcarro), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Nikolas Martins e Maria do Socorro Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos), Pará (Diego Souza Teofilo), Paraíba (Manassés de Oliveira), Paraná (Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon), Pernambuco (Edneusa Lopes), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rio Grande do Sul (Roberta Darkiewicz), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos), Sergipe (Grace Carvalho) e São Paulo (Alisson Rodrigues, Verônica Mendonça e Vinícius Balduíno).

Arte Ana Paula Marques e Manuela Ribeiro

Colaboradores Antônio Martins, Carla Renieri, Heloísa Sato, Julia Daniel, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Rogério Zé e Sérgio Rizzo.

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Revisão Izabel Leão

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTb 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação redacao@viracao.org


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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Fale com a gente! Via E-mail

Diga lá Via E-mail Li a revista Viração n°87 e adorei. Percebi que no Estado do Piauí não se tem representante(s) da revista e da ONG. Gostaria de conhecê-la melhor e também saber como ter representante aqui no Piauí. Muito obrigado!

Tenho interesse de conhecer um pouco a ONG para colaborar de qualquer maneira, como contratada ou voluntária. Sou responsável pela Comunicação do Núcleo de Empreendedorismo na USP (NEU). Tenho 18 anos, faço Publicidade e Propaganda na ECA/USP e tenho facilidade em me comunicar! Os voluntários trabalham no sentido de enviar conteúdo para a Virajovem? Como funciona a Agência Jovem? Para trabalhar cobrindo eventos o que eu teria que fazer? Obrigada e abraços! Clara Souza

A Viração Educomunicação recuperou o seu perfil original no Twitter. Volte a nos seguir pelo @viracao.

Waldiney

Waldiney, agradecemos o seu interesse! De fato não temos atualmente colaboradores no Piauí. Todos os jovens que colaboram com a Viração pelo Brasil o fazem de forma voluntária. Em breve entraremos em contato para mais esclarecimentos!

Perdeu alguma edição da Vira? Não esquenta! Agora você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao

Clara, as coberturas são colaborativas. Você mesma pode articular uma com seus colegas da USP. Você pode ainda integrar a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores (Renajoc), que realiza as coberturas articuladas pela Viração, ou formar um conselho virajovem, que produz matérias para a revista!

Ops! Erramos! Na edição de novembro de 2012, mantivemos, na seção Manda Vê, o crédito da edição de outubro. Os autores da seção, cuja pergunta foi “Cultura custa caro?” foram: Fernanda Freire, Eric Silva e Ingrid Evangelista. Também erramos alguns dados da reportagem Uma iniciativa joia, também publicada na edição anterior, sobre a ONG Bué Fixe, de Portugal. O presidente da organização, Dynka Amorim, tem 28 anos, e não 29 como foi mencionado. Além disso, os jovens que idealizaram o projeto começaram em 2003, e não em 2002, conforme dito na reportagem.

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!

Parceiros de Conteúdo

E também confira a página da Viração Educomunicação no Facebok.

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.


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Manda Vê Roberta Darkiewicz, do Virajovem Porto Alegre (RS)*; Silmara Aparecida dos Santos, do Virajovem Lavras (MG)*; e Bruno Ferreira, da Redação

Vestir-se de branco, comer lentilha, pular sete ondas... Muitas são as formas de acolher um ano novo com boas vibrações. No final de cada ano, nos lembramos dos nossos desejos, sonhos, expectativas e realizações para traçarmos novos planos para o novo período de 365 dias que começa. E são inúmeras as formas de iniciarmos bem o Ano Novo. Muitas são as crenças, simpatias, lendas, emoções, sentimentos que alguns até se esquecem de que 1º de janeiro é o Dia Mundial da Paz. No Brasil, os que comemoram as festas de fim de ano no litoral, costumam ver a queima de fogos na praia. A mais famosa do País é a de Copacabana, no Rio de Janeiro. Em cidades que não são contempladas pelo mar, pessoas se reúnem para assistir a shows, como os que acontecem em toda virada de ano na Avenida Paulista, em São Paulo. Mas em todos os lugares há a contagem regressiva, o abraço caloroso e o desejo sincero de “Feliz Ano Novo”. Para conhecer mais o que a juventude faz nessa grande festa, perguntamos:

O que você faz na passagem de ano? Helena Carvalho, 19 anos, Lavras (MG) “Na virada do ano, comemoro com alguns amigos à beira mar, agradecendo a Iemanjá pelas graças concedidas no ano que se encerra e aproveito para pedir outras graças para o ano que se inicia.”

Andrielle Engel, 17 anos, Canoas (RS) “Sabe aquela passagem de ano monótona, que você já sabe o que vai fazer? Pois é, a minha é assim. Na minha casa, nunca fizemos algo diferente. Nunca passei a virada de ano na praia, festejando horrores com os amigos ou na casa de alguém. Sempre segui a rotina dos meus pais. Pra mim, a virada de ano é apenas o recomeço do calendário. Talvez 2013 seja diferente.”

06 Revista Viração • Ano 10 • Edição 91

Joaquim Oliveira Moura, 17 anos, Porto Alegre (RS) “Eu sempre tento fazer algo diferente. Gosto muito de passar na praia e ficar a noite inteira acordado para ver o sol nascer no mar e poder sentir o ano chegando, ou ir para um acampamento e ficar longe de tudo. Mas o principal é tentar fazer algo diferente e com as pessoas que eu gosto.” *Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (es@viracao.org e pr@viracao.org)


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Regina Cardoso, 17 anos, Canoas (RS) "Todo final de ano a gente passa na casa da avó, com mais ou menos 50 pessoas. Cada um deve estourar um foguete para seu orixá. Depois, minha avó faz a chamada de Bará a Oxalá, momento em que ela agradece as coisas boas e ruins que aconteceram no ano. Ao final de tudo isso, a festa é nossa! Música, churrasco, bebida, doces e muita bagunça até umas seis da manhã."

Rohana Carolina Reck, 17 anos, Canoas (RS)

Simone Aparecida dos Santos, 21 anos, Lavras (MG) “Na maioria das vezes, vou para uma cidade próxima com algumas amigas e o namorado para curtir um show de música e fogos de artifícios. É um momento de magia com diversas pessoas que muitas vezes não se conhecem, pois na hora da virada todo mundo se abraça e faz os votos de felicidades ao outro.”

Tobias Rosa, 24 anos, Porto Alegre (RS) “Eu gosto de acampar com meus amigos e tomar um revigorante banho de cachoeira. É um tipo de ritual que sempre me faz bem e me dá forças pra encarar o ano.”

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

“Eu vou para a praia com minha família e amigos e, sempre quando dá meia noite, agradeço a Deus pelo ano que passou e peço para que o próximo seja melhor ainda. Faço uma lista de objetivos a serem alcançados e vou pedido pra Deus me ajudar! Geralmente a gente fica em casa e perto da meia noite vamos ver a queima de fogos.”

“Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” Carlos Drummond de Andrade (Trecho do poema Receita de Ano Novo)

Não é de hoje! Nem todos os povos comemoram a virada do ano na mesma data. Isso porque nem todos possuem o mesmo calendário. A comemoração pela passagem de ano já era feita desde 2000 a.C, na Mesopotâmia. No entanto, os calendários dos povos da antiguidade eram diferentes do calendário gregoriano, assim, cada povo comemorava o ano novo em uma data. Os primeiros a determinar um dia fixo no calendário para esta comemoração foram os romanos em 753a.C. O ano tinha início em 1º de março, mas foi substituído em 153a.C. para 1º de janeiro e mantido no calendário juliano.

Desde a Roma antiga, o primeiro dia do ano era dedicado a Jano, o deus dos portões que têm duas faces: uma voltada para a frente, simbolizando o futuro; e outra voltada para trás, numa referência ao passado. É dele que vem o nome do primeiro mês do ano, janeiro. A passagem de ano, também conhecida como Réveillon, veio do verbo réveiller, que em francês significa ”despertar”.

Faz Parte


b

kFuga i para a liberdade quadrim_91:Layout 1 11/12/2012 11:08 Página 9

Quadrim

Nobu Chinen, crítico de quadrinhos

N

o dia 20 de novembro foi comemorado o Dia da Consciência Negra. A data lembra a morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, o maior movimento de resistência dos escravos negros no Brasil que, segundo França e Ferreira, durou cerca de cem anos. Palmares foi o maior Para mais informações, leia Três e mais famoso, mas não vezes Zumbi, de Jean Marcel o único quilombo, como Carvalho França e Ricardo Alexandre eram chamados os locais Ferreira, da editora Três Estrelas. onde se refugiavam os

escravos fugidos das fazendas e das cidades. Um lugar que, para muitos, simbolizava a possibilidade de viver em liberdade e de usufruir de condições de vida mais dignas. E é disso que trata o álbum O Quilombo Orum Aiê, de André Diniz, publicado sob o selo Galera, da editora Record. São quatro personagens que se aproveitam da confusão formada por ocasião da Revolta dos Malês, ocorrida em janeiro de 1835, em Salvador, na Bahia, para tentar se libertar e fugir do cativeiro e rumam, então, para o Quilombo Orum Aiê. Vinicius, ou Capivara, é o líder; Sinhana é a garota por quem ele é apaixonado; Abul, o malê, é um negro muçulmano que fala árabe e não se expressa em português. Também se junta ao grupo Antero, um branco foragido da justiça. Desde criança, Vinícius ouvia de sua mãe sobre o Quilombo Orum Aiê, um lugar maravilhoso para onde seu pai teria ido e cuja localização não faz a mínima ideia. No entanto, sem uma opção melhor, seus companheiros são convencidos a seguirem viagem. Durante a longa jornada, conhecemos a história de cada um dos fugitivos. Seu passado e seus sonhos para o futuro. O trajeto é marcado pelos perigos que os rondam no meio da mata. A fome, os animais selvagens e os capitães do mato que vasculham o território para capturar os escravos e devolvê-los a seus donos. O pior inimigo, porém, é a discórdia e a Por que é legal ler? desconfiança mútua. Chegar até o Orum Aiê A narrativa é cheia de ação e cria e, dessa forma, alcançar a liberdade, é o uma expectativa crescente enquanto se único objetivo que os une. acompanha o destino dos quatro fugitivos. O autor, André Diniz, vinha de outras Será que eles vão conseguir chegar? O experiências nos quadrinhos, principalmente desenho de Diniz também é muito original como roteirista. Em O Quilombo Orum Aiê ele e foge ao padrão comum das histórias começa a adotar um em quadrinhos. estilo único e original de desenho. Por que é importante ler? Inspirado nos padrões geométricos e nas Conhecer a história da escravidão figuras estilizadas da arte africana, Diniz no Brasil e das injustiças cometidas criou um universo de imagens muito dentro desse sistema de produção, interessante, compatível com as temáticas mesmo por relatos de ficção como que dizem respeito à história e à cultura esse, ajuda a compreender muitos afro-brasileira. aspectos da desigualdade social inesperados. V do nosso País.

Para ler e refletir Você sabia que nem todos os africanos que vieram como escravos para o Brasil eram analfabetos? Muitos deles eram muçulmanos e, como tal, tinham como hábito a leitura do Corão, o livro sagrado do islamismo.

Divulgação


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No mundo das estrofes Eric Silva, da Redação

G

eralmente, adolescentes e jovens vêm à Viração para participar de oficinas, palestras, ações, produzir conteúdos, fazer reuniões e mobilizações diversas, mas no último dia 18 de outubro foi diferente. A galera veio à nossa sede para mostrar seus dotes artísticos. Cada pessoa foi convidada a trazer algo com que pudesse mostrar um talento artístico. Podia ser um instrumento, um poema, uma música... O sarau foi apresentado por Felix Contreras, escritor cubano colaborador da Vira e do site Outras Palavras. Ele expôs aos participantes sua visão sobre poesia, contando sobre suas experiências como escritor e destacando os poetas que admira. O sarau, promovido pelo projeto Pira na Notícia, começou com um calhamaço de poemas pendurados em uma caixa no meio da sala, instrumentos e livros espalhados para galera ir chegando e entrando no clima do que seria esse dia. Cada um pegou um poema na caixa e fez a leitura para o grupo. Depois disso, foi aberta uma rodada para cada um apresentar o que trouxe. E teve de tudo! Teve gente que tocou violão, outras fizeram leitura de poemas próprios e de autores consagrados como Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa. Um trio mandou ver no freestyle de rima e na batida improvisada. Bianca Amancio, participante da turma de formação da Agência Jovem de Notícias deste ano,

colocou sua impressão sobre o que rolou o sarau: “Foi bem interessante, pois abriu nossas mentes para o lado poético. Existe um mundo dentro de cada uma das estrofes e existe um poeta dentro de cada um, basta inspiração e um pouco de dom.” Por fim, Felix promoveu uma performance de mímica e sugeriu que a os participantes do sarau escolhessem as melhores apresentações com salvas de palmas. Os três mais aplaudidos receberam diversos livros de poesias trazidos por Felix. O sarau foi encerrado com a entrega dos certificados de participação para os Escritor cubano Felix Contreras interage presentes. Foi um com jovens da Viração durante sarau momento muito inspirador, em que houve a possibilidade de conhecer melhor as habilidades e gostos artísticos do grupo. Que venham os próximos, que certamente serão muito bons também! V

Pira na Notícia O Pira na Notícia é um projeto de comunicação e cultura que promove a participação juvenil por meio de ações de comunicação e coberturas colaborativas jovens na cidade de São Paulo, que recebe apoio do Programa de Valorização a Iniciativas Culturais (VAI), da Prefeitura de São Paulo. O projeto tem duas frentes principais de atuação. Uma delas é o processo formativo junto a 40 adolescentes e jovens, que contempla temas diversos, além da formação técnica para produção de notícias, de mídias comunitárias e cobertura de eventos.

Visite o site Outras Palavras: www.outraspalavras.net Confira produções da galera do Pira na Notícia no site: www.agenciajovem.org

10 Revista Viração • Ano 10 • Edição 91

Fotos: Gutierrez de Jesu s Silva

Projeto de participação juvenil promove sarau para adolescentes e jovens de São Paulo


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Mídias Livres

Frequência cidadã Maranhão produzem Por meio de webrádio, adolescentes e jovens do a cidade” a seus moradores conteúdo local com o objetivo de “apresentar

Maurício Vieira de Paula, do Virajovem São Luís (MA)*

Adolescente da webrádio participa de atividade no estúdio

Fotos: Maurício Vieira de

Paula

O

Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão (ICEM/MA) lançou em outubro, em São Luís (MA), a webrádio Antena Jovem São Luís, que faz parte do projeto Nas Ondas da Cidadania, programa que atende jovens e adolescentes entre 14 e 20 anos que estejam em condições de vulnerabilidade social da comunidade do Jaracaty, além do e o Coletivo Jovem do Movimento Nossa São Luís. O projeto Nas Ondas da Cidadania tem como propósito capacitar adolescentes e jovens para o trabalho, promovendo o exercício da cidadania e o protagonismo juvenil, por meio de formação e vivência em webrádio, com foco no artigo nº 69 do Estatuto da Criança e Adolescentes, que trata sobre educação profissional. Para inserção dos jovens e adolescentes, foi levado em consideração a situação de risco e vulnerabilidade social, a frequência escolar e a renda do núcleo familiar. Como mídia alternativa, a Antena Jovem São Luís oferece como proposta uma programação musical de qualidade, informação e entretenimento, além de questões referentes à cidade. Tem como objetivo gerar interesse por assuntos públicos relativos ao desenvolvimento sustentável, como também divulgar as ações do ICE e oferecer espaço para divulgação e valorização da cultura local. Nesta primeira etapa, cerca de 20 jovens passam por formação em webrádio. As aulas teóricas, que incluem oficinas de formação cidadã e técnicas de rádio, acontecem no Centro Comunitário Elita Pinheiro. As aulas práticas são realizadas na rádio instalada na sede do ICE como também são realizadas visitas a grupos de comunicação local. Depois de concluída a formação, os jovens têm a oportunidade de criar e apresentar seus próprios programas.

Equipe da Webrádio Antena Jovem São Luís com patrocinadores do projeto

Otávio de Moraes, de 19 anos, membro do Coletivo Jovem do Movimento Nossa São Luís e participante da webrádio, destaca a influência da Webrádio na construção de seu plano de vida. "O projeto me abre horizontes e me permite conhecer uma realidade que não estava ao meu alcance. Começo a pensar no futuro como se fosse um comunicador profissional", conta Otávio, que ainda comenta sobre a contribuição do projeto para a participação juvenil e melhoria da cidade: "Eu entendo que o espaço da Antena Jovem São Luís abre portas para que os jovens possam dar sua opinião e divulgar o que acontece ao seu redor. Com a Antena Jovem São Luís também conhecemos a realidade de outros lugares, o que nos faz querer melhorar a nossa própria realidade.” V

Quer ouvir a Antena Jovem São Luís? É só sintonizar: http://antenajovemslz.com/ Curta também a fanpage: https://www.facebook.com/AntenaJovemSaoLuis Siga no Twitter: https://twitter.com/AntenaJovemSlz

12 Revista Viração • Ano 10 • Edição 91


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Faz Cultura Ingrid Evangelista, da Redação

Ingrid Evangelista

NÃO CONTAVAM COM NOSSA ASTÚCIA O cinema periférico vem ganhando força e novas formas desde 2003 com a criação do Coletivo Cine Favela, formado por moradores de Heliópolis, em São Paulo, com o objetivo de promover a inclusão sociocultural. Desde então, a iniciativa cresceu e alcançou outras periferias e patamares. O coletivo é responsável pelo Festival Cine Favela de Cinema, um dos maiores do mundo e totalmente dedicado à difusão de produções cinematográficas dos moradores das periferias de toda a América Latina, com baixo ou nenhum custo. Em 2012, o Festival, que está em sua 7ª edição, contou com o apoio do SESC-SP. Um dos filmes exibido este ano foi o Cohab, dirigido por Lincoln Péricles, do Coletivo Astúcia Filmes e morador no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo. Criado em 2006, o grupo nasceu da ideia de contar as próprias histórias e fazer cinema com sua visão de mundo, ultrapassando as barreiras que essa arte implica.

O grupo é composto, basicamente, por jovens moradores de periferia de várias regiões de São Paulo e no último trabalho contou com participantes de Roraima e Bahia, somando doze pessoas. “Estamos em processo de aprender a fazer filmes, então sempre transitamos nas funções”, diz um dos integrantes.

Embora o coletivo tenha ganhado alguns editais esse ano, a Astúcia é independente. “Independente no sentido do filme ser arte e não um produto”, diz Priscila Noronha. “Essa história de filme independente não existe. Existe filme sem concessão, onde o artista não se limita. No cinema somos sempre dependentes, principalmente no Brasil”, completa Lincoln Péricles.

A Astúcia Filmes ganhou o edital do VAI (Valorização de Iniciativas Culturais) da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo, esse ano, tendo como projeto a realização do filme Isso é uma comédia desgraçada. A obra está em fase de finalização e será distribuído gratuitamente em várias regiões e Estados. "Vamos distribuir o filme em festivais e mostras, mas além disso, vamos mandar ele também para lugares que estão exibindo de forma independente, principalmente espaços nas periferias. Nesse sentido, a grana que ganhamos vai ajudar bastante" , conclui Lincoln Péricles.

O Coletivo produziu até agora, sete filmes: Sobre minhas pernas; O traveco; As margens; Olhos de ressaca; Cohab; Isso é uma comédia desgraçada e Os sonhos. V

www.facebook.com/astuciafilmes http://www.festivalcinefavela.com.br/2012/

Divulgação

Moradores de periferia fazem do cinema um sonho possível


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Somos Todos Guarani-Kaiowá am nas redes e Jovens de todo o País se mobiliz ulação indígena nas ruas, pelos direitos da pop

Gustavo De Biase, colaborador da Vira em Vitória (ES) Imagens: Filipe Campos, do Virajovem Vitória (ES)*

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Brasil acompanhou nas últimas semanas o drama dos índios Guarani-Kaiowá e a luta pelo seu território, que está situado na Terra Indígena Pyelito Kue, no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul. A área é disputada por índios e fazendeiros latifundiários. Ora, quando os colonizadores portugueses aqui chegaram, encontraram cerca de cinco milhões de nativos, com cultura, língua e costumes próprios. Após cinco séculos, o genocídio que começou em 1500 continua. Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entre 2000 e 2011, 555 índios pertencentes à etnia Guarani-Kaiowá cometeram suicídio, fora os inúmeros homicídios que acontecem cotidianamente. Após ordem da Justiça Federal, que ordenava o despejo, os índios divulgaram uma carta em que afirmavam que ficou “evidente que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do Rio Hovy e próximo de nosso território tradicional”. Eles pedem para “decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviarem vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos”. A carta passou a ser interpretada como um anúncio de suicídio coletivo por parte da imprensa, entretanto, a mestre em História Sarah Nigri discorda da utilização do termo “suicídio”: “Diante do terrível drama vivido pelos Guarani-Kaiowá, pode parecer um detalhe irrelevante insistir na distinção entre os termos ‘morte coletiva’ e ‘suicídio coletivo’. Os indígenas não procuram a morte espontaneamente ou por falta de juízo. Eles não estão fazendo ‘chantagem emocional’ e ameaçando tirar a própria vida, caso não tenham suas reivindicações atendidas... Simplesmente, a morte tem sido o ‘desdobramento natural’ da resistência indígena há séculos. Eles sabem que, ao resistirem, irão morrer, serão assassinados (pela polícia, pelos pistoleiros, pela fome, pela omissão do Governo etc). Falar em suicídio dá a entender que os índios são responsáveis pela sua própria tragédia, quando, na verdade, estamos presenciando um genocídio”, explica. Esse massacre anunciado sensibilizou muitos jovens em todo Brasil, por meio das redes sociais, principalmente no

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Facebook, como há muito tempo não se via. Mensagens, fotos, frases e eventos começaram a circular na rede e em poucos dias, milhões de pessoas já sabiam do fato. No dia 30 de outubro, milhares de pessoas saíram das redes e lotaram as ruas com uma palavra de ordem: “Somos Todos Guarani-Kaiowá!” Nas cinco regiões brasileiras, em diversos Estados, a juventude levantou a voz a favor da causa indígena e no mesmo dia, a justiça revogou a reintegração de posse. Agora eles poderão permanecer na terra até que seja finalizado o processo de demarcação das reservas indígenas na região. Em Vitória, mais de 700 pessoas marcharam com a cara pintada, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) até a Assembleia Legislativa, e cobraram providências do governo e da justiça. Num percurso de pouco mais de cinco quilômetros foi possível perceber que a população capixaba também apoia a causa dos indígenas, seja acenando das janelas ou saindo dos pontos de ônibus e integrando o movimento. Ao chegar na Assembleia, o grupo foi recebido por dois deputados, Cláudio Vereza e Genivaldo Lievori, do PT, que se comprometeram a acompanhar o caso por meio da bancada federal. A imprensa local, que até o momento não havia tocado no assunto, fez uma cobertura completa do evento, explicando o motivo do manifesto e ouvindo pessoas nas ruas, que na sua maioria, declararam apoio à causa. Posteriormente, a presidenta Dilma Rousseff, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e a Ministra de Direito Humanos, Maria do Rosário, se pronunciaram


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alegando que estavam se esforçando ao máximo para solucionar a questão. Se não fosse a força da mobilização virtual, somada à pressão dos movimentos sociais, igrejas e apelos individuais, mais um genocídio na história recente de nosso Brasil poderia acontecer. A juventude volta a protagonizar a história deste País, como fez na ditadura militar, lutando pela democracia; como reagiu no início da década de 1990 à corrupção do governo Collor, pintando as caras e lotando as ruas; ou como no inicio do século 21, quando foi às ruas para protestar por melhorias no transporte público e também exigir que o Congresso Nacional aprovasse a Lei da Ficha Limpa. A participação dos jovens nas decisões do rumo da nação é cada vez maior e, felizmente, não se restringe ao Brasil. Recentemente, jovens derrubaram regimes autoritários que há décadas massacravam pessoas no Oriente Médio, num processo que ficou conhecido como Primavera Árabe. A tendência é que este processo se intensifique e, em breve, haja uma democracia mais fortalecida, com respeito às minorias, dando a elas voz e autonomia. Mais uma vez, o governo sentiu a pressão de uma juventude organizada e entendeu o recado: direito não se pede, se exige! A voz de Gandhi ainda ecoa em nossos dias: “Uma civilização é julgada pelo tratamento que dispensa às minorias." V

*Virajovem presente em 20 Estados do País e no Distrito Federal


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IMAGENS QUE VIRAM

BELEZAS DA CAATINGA Texto: Manassés de Oliveira, Virajovem de Picuí (PB)* Fotos: Anderson Dantas Caatinga é uma palavra tupi que significa “mata branca”. Com uma extensão de 844.553 Km, ela ocupa dez por cento do território nacional e é o único bioma exclusivamente brasileiro, localizando-se no semiárido nordestino. Anderson Dantas, de 17 anos, é blogueiro e astrônomo amador. Ele vive na caatinga e costuma apontar a objetiva de sua câmera fotográfica para a paisagem do lugar. A seleção de fotos desta seção é parte das imagens publicadas no blog Objetom42 (www.objetom42.wordpress.com). A caatinga se estende por dez Estados, expõe a beleza natural nordestina, sua biodiversidade e potencial turístico. Pouca gente conhece esse espaço despido da visão distorcida da grande mídia. E o jovem Anderson Dantas proporciona essa leitura imagética, autêntica e bela a partir de seu trabalho fotográfico. Confira as imagens que tirou na cidade de Picuí (PB), no semiárido paraibano!

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Festa da Ba nca

*Um dos Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Capa

Todos juntos nesta luta! cer entre adolescentes Infecção do vírus da Aids tende a cres a principal estratégia e jovens e a conscientização ainda é dos que lutam por seu combate

Amanda Campos, Emilae Sena e Thayane Fraga, do Virajovem Salvador (BA); Vinícius Gallon, do Virajovem Curitiba (PR); Alcindo Costa, do Virajovem Fortaleza (CE); Nikolas Brandão, do Virajovem São Luís (MA)*; e Bruno Ferreira, da Redação

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m 1º de dezembro o mundo se mobiliza pelo dia mundial da luta contra a Aids, data escolhida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1987 e, no Brasil, adotada a partir de 1988. A finalidade desta mobilização mundial é sensibilizar a população sobre a contaminação do vírus HIV e seu tratamento, a fim de combater o preconceito e a discriminação. Descoberto há mais de 30 anos, o vírus da Aids continua a ser uma das maiores preocupações da saúde global. Entre os diversos organismos e especialistas no assunto é unânime a ideia de que o HIV é um tema complexo, que exige esforços para enfrentar os desafios que se redefinem continuamente. O relatório de 2011 do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) aponta que em todo o mundo existem 34 milhões de pessoas infectadas pelo vírus, sendo que metade delas não sabe disso. Isso sem falar nos sete mil homens e mulheres que são infectadas pelo vírus todos os dias e nos 30 milhões que a doença já matou em três décadas. No Brasil, de acordo com dados do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, estima-se que 630 mil indivíduos brasileiros entre 15 e 49 anos vivam com HIV/Aids, dos quais 255 mil desconhecem a própria condição sorológica. Desse total de infectados, 30% (170 mil) são adolescentes e jovens na faixa dos 13 aos 29 anos de idade. Por ano, são registrados 35 mil novos casos e mais de 12 mil óbitos em decorrência da doença. A região com a maior concentração de casos da doença no País é o Sudeste, com 43,8% do total. Porém, na taxa de incidência por habitante, a doença aparece mais nos estados do Sul – o Rio Grande do Sul lidera a lista, com 40,2 casos para cem mil habitantes, seguido de Santa Catarina, com 36,4. O vírus é mais comum nas cidades maiores – acima de 500

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mil habitantes –, e tem seus menores índices nos municípios com menos de 50 mil pessoas. Essas estatísticas demonstram a necessidade de se investir em políticas públicas que diminuam o contágio e que facilitem o acesso ao tratamento. Emerge também como uma das maiores preocupações atuais a participação da juventude, não só enquanto foco das ações, mas como protagonistas da mudança social no cenário do HIV/Aids.

Realidade no Brasil A resposta brasileira de combate à Aids é compartilhada entre Governo Federal, Estados e municípios que, em 2012, investiram 1.183.500 reais em políticas de vigilância, prevenção e controle de HIV/Aids, hepatites virais e doenças sexualmente transmissíveis (DST), incentivo financeiro a Estados, Distrito Federal e Municípios para ações de prevenção e qualificação da atenção em HIV/Aids e outras DST, além de atendimento à população com medicamentos para tratamento dos portadores do vírus. Parte desses recursos foram destinados ao Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), cuja proposta é a de realizar ações de promoção da saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e jovens, articulando os setores da saúde e da educação. Dentre outras coisas, espera-se que o programa contribua para a redução da infecção pelo HIV/DST. “A escola é um espaço estratégico que deve acolher e promover direitos, inclusive os sexuais e reprodutivos. Por isso, o SPE incentiva que a sexualidade seja trabalhada mais precocemente e de forma interdisciplinar, adequando as temáticas à idade, incentivando sempre o protagonismo juvenil. Contudo, ainda enfrentamos algumas dificuldades nessa relação, pois as escolas falam pouco sobre sexualidade e algumas famílias ainda têm muita resistência ao tema”, explica Isabel Botão, assessora técnica do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.


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cortantes, ou Isabel aponta também os esterilizá-los principais motivos para a infecção devidamente. Utilizar do vírus entre adolescentes e sempre agulhas e jovens. "Entendemos que são seringas descartáveis múltiplas as razões, desde a para injeções, dificuldade de acesso aos insumos tatuagens e piercing. de prevenção e aos serviços de No caso de transfusão saúde, até o preconceito sobre o de sangue é preciso tema na sociedade. No entanto, o fazer os exames que mais nos preocupa é o fato Especialistas afirmam que o uso da necessários para que de que embora o jovem tenha camisinha ainda é o melhor método não haja risco de uma forte preocupação em não para evitar o contágio do vírus HIV contaminação. engravidar e seja o público que mais usa camisinha, não O diagnóstico é feito a partir de exames de sangue, que se sente vulnerável ao HIV. O que agrava essa realidade é que, busca por anticorpos contra o HIV e deve ser feito 30 dias além de terem maior número de parceiros eventuais, depois após a situação de risco ou manifestação dos sintomas. O que uma relação fica mais séria, o jovem tende a não usar teste é rápido, e pode ser realizado pelo Sistema Único de mais preservativo”, esclarece. Saúde (SUS) e nos Centros de Testagem e Acolhimento Outros dados do Departamento indicam uma tendência de (CTA), Além de fazer o exame o paciente recebe apoio de crescimento de infecção entre os jovens gays e em meninas profissionais responsáveis antes e depois do teste. Por de 13 a 19 anos. Nessa faixa, inclusive, existem mais meninas motivos éticos, o resultado é restrito ao paciente. Através infectadas do que meninos. Usuários de drogas e mulheres do Disque Saúde (136) é possível saber onde fazer o teste e profissionais do sexo também têm maior prevalência de o local mais próximo. contágio do vírus da Aids. “Por isso, precisamos facilitar o A pessoa infectada apresenta sintomas como febre acesso aos insumos de prevenção, facilitar o acesso dos alta, mal estar, diarreia, dor de cabeça, dor de garganta jovens à saúde, mudar a realidade do diagnóstico tardio, e calafrios. Trata-se do primeiro estágio da doença, a acabar com o preconceito, trabalhar o tema da sexualidade infecção aguda. A fase seguinte é chamada mais precocemente na escola, adequando os assuntos à idade, assintomática, período que pode durar anos, pois é a promover campanhas de forma continuada, não apenas em etapa na qual o vírus começa a atacar os linfócitos ou datas específicas e, por fim, erotizar a camisinha, incentivando glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do o prazer protegido”, explica Isabel. organismo. A baixa imunidade causa ao paciente a falta de proteção contra as infecções comuns como tumores, Conhecendo o HIV/Aids tuberculose, pneumonia, hepatites virais e câncer, O indivíduo pode se proteger ao usar preservativos sendo este o estágio mais grave da doença. (camisinha) nas relações sexuais, evitar A Aids não tem cura, porém pode ser tratada. Existe compartilhar materiais o tratamento com antirretrovirais, que consiste em um coquetel de medicamentos que reforça o sistema e dificulta a multiplicação do vírus HIV, melhorando a qualidade de vida do paciente. Ministrados diariamente com acompanhamento médico, aqui no Brasil esses medicamentos são distribuídos gratuitamente. O tratamento com o coquetel é considerado um momento muito difícil para o paciente, pois é preciso muita disciplina com os horários, doses dos medicamentos, além de precisar seguir uma alimentação restrita e prática de exercícios físicos. O tratamento causa diversos efeitos colaterais, que deixam de se manifestar com o passar do tempo. Se o infectado não tiver o acompanhamento correto ou desistir de continuar, o vírus pode se fortalecer, agravando ainda mais a doença. E para isso, é necessário que o portador esteja sempre em contato com grupos de apoio, com os quais é possível ter acompanhamento de médicos especializados e também de psicólogos.

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Capa Ele tira de letra! Gerente de Marketing é exemplo de que infectados com HIV podem ter qualidade de vida e felicidade Tomar conhecimento de que está infectado com o vírus HIV não é fácil para ninguém. Também não foi para o gerente de marketing João Geraldo Netto, de 30 anos, que aos 25, quando fez um exame casual, com o objetivo de iniciar atividades físicas em uma academia, acreditou que a infecção fosse uma sentença de morte. Após o desespero inicial, conseguiu encarar a situação com serenidade e hoje vive com qualidade e em paz consigo, com a família e com seu companheiro André, que não vive com o HIV, com quem estabeleceu união estável há cerca de um mês. João foi integrante da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo e Convivendo com HIV/Aids, uma organização nacional constituída por uma galera de 15 a 29 anos com sorologia positiva para o HIV, além de ter participado de uma campanha nacional de combate à Aids do Ministério da Saúde, em 2010. Em um bate-papo pelo Facebook, João abriu sua intimidade com muito bom humor e falou que viver com HIV não o impede de ser saudável e feliz. Confira a conversa a seguir:

Fotos: Arquivo pessoal

João, que vive com HIV, leva uma vida saudável com viagens e práticas de atividades físicas

Como descobriu estar com o vírus? Foi há cinco anos, quando fui fazer exames para entrar na academia. Meu médico sugeriu que fizéssemos um check-up, incluindo o exame de HIV. Eu já vivia "casado" com meu ex-companheiro há cinco anos e descobrir foi um baque! Por milagre divino ou por pura sorte meu ex-companheiro nunca se infectou. É claro que, após descobrir minha sorologia, só fazíamos sexo protegido. Eu considero que estou infectado há mais de dez anos porque nunca tive outra situação de risco enquanto estava "casado" e não existia a possibilidade de ter me infectado durante os cinco anos que estivemos juntos.

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E o que passou pela sua cabeça quando você descobriu? Pô, pensei que fosse morrer em três meses! Fiquei desesperado e chorei muito! Meu maior medo era de ter infectado meu ex-companheiro. Acabamos fazendo o exame Western Blot, que é confirmatório para o HIV e só eu estava infectado, graças a Deus! No mesmo dia, voltei a trabalhar e prometi pra mim mesmo que não iria perder minha vida por isso. Ele ficou do meu lado o tempo todo, uma atitude ímpar, porque a primeira coisa que vem na cabeça é que eu o tinha traído, mas eu não o tinha! O médico nos explicou que existem exceções em que anticorpos geneticamente modificados podem ficar imunes. Deve ter sido o que aconteceu com ele. João estabeleceu união estável com seu companheiro André, que não tem HIV

E como você passou a viver depois da descoberta? Em que sua vida mudou? Quando descobri, resolvi manter segredo de todos por um bom tempo. Só contei pra minha mãe e poucas outras pessoas, alguns meses depois. O restante da minha família só ficou sabendo três anos depois, quando eu fiz a campanha de 2010 do Ministério da Saúde e a sorologia acabou vazando de forma intencional. Minha relação com as pessoas passou a ser mais íntima, por incrível que pareça. Sempre levei a doença como algo comum que pode acontecer com qualquer pessoa. Deixei sempre bem claro que é a pior coisa que podia ter acontecido comigo, mas vivo dignamente. Namoro, trabalho, viajo, saio de noite, estudo, enfim, faço tudo normalmente. Minha vida ficou melhor após o HIV, porque passei a valorizar mais as coisas. Divulgação

Qual o papel da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo e Convivendo com HIV/Aids na sua vida? A Rede foi importantíssima, pois são jovens com o mesmo "drama", né? Compartilhávamos experiências, tristezas, alegrias e conhecimento. Quem estava há mais Em 2010, João participa de tempo, tirava as dúvidas dos que estavam começando a uma campanha do Ministério sofrer. A ideia da Rede é fantástica! Existe um grupo da Saúde de combate à Aids fechado no facebook (que eu mesmo criei) onde todos podem se relacionar sem que o "mundo exterior" interfira ou os conheça. É um grupo restrito, no qual só quem está lá pode ver o que rola. Também existe um grupo político de troca de e-mails muito importante. Deste eu não participo mais, pois são aceitos somente jovens até 29 anos. Já sou o que brincamos de HIVelho. A Rede pode ser acessada por qualquer jovem que conviver com HIV e tiver interesse, basta solicitar a participação no grupo.

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Capa Qual a diferença entre HIV e Aids? O HIV é o Vírus da Imunodeficiência Adquiria. É em decorrência da infecção por este vírus que a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) se manifesta. No entanto, nem todas as pessoas infectadas com o HIV apresentam queda na imunidade, não manifestando a doença. Essas pessoas são chamadas soropositivas, podendo transmitir o vírus a outras pessoas. O contágio pode acontecer com sexo sem proteção, transfusão de sangue, materiais cortantes contaminados, secreções vaginais ou até mesmo de mãe para filho durante a gestação e amamentação. O vírus não é transmitido pelo beijo, abraço, aperto de mão, compartilhamento de talheres, copos ou toalhas.

Quando tudo começou... Os primeiros casos de Aids ocorreram nos Estados Unidos, África Central e Haiti em 1977 e 1978. A nova doença foi chamada inicialmente de câncer gay. Entretanto, a Aids foi posteriormente constatada não apenas em homossexuais, mas também em hemofílicos, haitianos, dependentes de heroína injetável e profissionais do sexo. Somente após a descoberta da doença, em 1985, que foi descoberto o vírus HIV. No final dos anos 1980, o número de casos no Brasil já chegava a mais de seis mil. Em 1981 iniciou-se a distribuição de antirretrovirais e em cinco anos foi possível perceber uma queda da mortalidade por Aids em determinadas regiões do País. Apesar de muitos acreditarem que tratava-se de uma doença predominante entre homens gays, já na época as maiores vítimas da doença eram mulheres, além de pessoas de baixa renda e escolaridade. Em 1998, a lei garante a cobertura das despesas hospitalares de pessoas que vivem com Aids pelos seguros de saúde privados.

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Visite o site do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde: www.aids.gov.br Os jovens que quiserem entrar na Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo e Convivendo com HIV devem entrar no site: http://www.jovenspositivos.org.br/ e se filiar no campo correto.

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Como se faz

Flash Mob Surpreenda pessoas com uma intervenção inusitada em locais públicos Ana Luíza Vastag, Virajovem de São Paulo (SP)*

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ode ser uma guerra de travesseiros, um desfile de pessoas caracterizadas como zumbis ou uma grande dança coreografada com guarda-chuvas em meio a uma avenida movimentada. É cada vez mais comum e mais divertido encontrar milhares de pessoas mobilizadas para uma intervenção pública, os chamados flash mobs. De acordo com a definição encontrada na web, flash mobs representam “aglomerações instantâneas de pessoas em certo lugar para realizar determinada ação inusitada previamente combinada, dispersando-se tão rapidamente quanto se reuniram.” Ok. Mas, como se faz? Antes de tudo, é preciso entender que os flash mobs podem ter uma finalidade tanto de entretenimento como político. A manifestação causa uma confusão inofensiva e, muitas vezes, é usada para satirizar algo que o público deverá entender imediatamente. Mas, atenção: flash mobs não são desculpas para o uso da violência ou depredação de espaços públicos. Um artigo publicado na comunidade wikiHow ensina, passo a passo, como realizar um flash mob de sucesso. Você vai precisar de artistas dispostos a participar e, para isso, pode fazer bom uso de recursos online. Redes sociais, emails, mensagens de texto e sites são ótimas ferramentas para você encontrar pessoas para o seu flash mob. Aproveite as dicas e boa sorte! V *Virajovem presente em 20 Estados e no Distrito Federal

Passo a passo 1. Forneça instruções claras para o seu grupo. O sucesso do seu flash mob exige que os participantes saibam exatamente o que fazer. O ideal é ter um ensaio de antemão, mas se isso não for possível, pelo menos, forneça instruções muito claras sobre o que vestir, onde estar, a que horas e o que fazer quando chegar ao local. 2. Organize quaisquer adereços ou figurinos necessários. É melhor pedir aos participantes para levarem os seus próprios adereços e trajes, mas, às vezes, você precisa resolver as coisas para todo mundo. Na hora de planejar, opte por roupas simples e itens que as pessoas já tenham em seus guarda-roupas. 3. Locais públicos são mais fáceis e menos problemáticos. Faça uma verificação adequada da área que está propondo para realização do flash mob. Pense na segurança do local e nos limites legais para a utilização do espaço. Oriente os participantes sobre o que fazer caso a polícia ou qualquer outra autoridade intervenha na manifestação. 4. Filme e capture a reação das pessoas. Organize uma videografia de qualidade para o evento. Vale a pena filmar todo o flash mob e depois subir para o YouTube. Quem sabe pode até se tornar viral! 5. É hora de fazer acontecer! Faça todo o possível para que o flash mob saia de acordo com o planejado e se jogue na execução! 6. Prepare-se para finalizar o evento. Assim que o flash mob terminar, os participantes devem misturar-se com a multidão. Saia andando como se nada tivesse acontecido.


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Diários de cidadania diários dos adolescentes, que As redes sociais são os novos úncia e participação social utilizam a ferramenta para den

Josiane Amélia, do Virajovem Curitiba (PR)*

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uitos adolescentes, sejam meninas ou meninos, vivenciam a famosa fase em que se desenvolve o interesse por escrever um diário. A motivação surge da vontade de registrar um momento importante ou simplesmente do prazer em escrever. Muitas vezes, essa prática acaba sendo mais que um passatempo e se transforma num registro importante para a história. Um exemplo claro disso é o caso de Anne Frank, uma adolescente que relatou em seu diário os dias que viveu em um esconderijo com a família durante a Segunda Guerra Mundial, fugindo dos nazistas. Por trás de relatos corriqueiros se descobriu a angústia de uma adolescente por causa da perseguição aos judeus e o que seria só mais um diário se tornou parte da história da Segunda Guerra Mundial. Anne, uma jovem inteligente e corajosa, começa a entender os conflitos do mundo que a envolve e, em decorrência disso, sente a necessidade de relatar esse período turbulento em seu diário. No Brasil, crianças, adolescentes e jovens passaram a ter cada vez mais participação na luta pela qualidade na educação. Assim como Anne Frank, eles compartilham histórias e relatam situações de interesse público. Um dos principais espaços usados atualmente para registros como esse são as redes sociais, como o Facebook. Influenciada por Martha Payne, da Escócia, a adolescente Isadora Faber, de Florianópolis (SC), criou uma página para registrar denúncias e reflexões sobre a estrutura precária de sua

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escola. A iniciativa repercutiu tanto que muitos alunos se identificaram com a situação vivida por Isa, e também criaram suas próprias páginas em redes sociais. Ygor Dicastro, do colégio Rodolpho Zaninellle, de Curitiba (PR), é um dos jovens influenciados por iniciativas como essa. Ele criou o Diário de Classe e relata que ao desenvolver a página “o objetivo foi tentar transformar a realidade do meu Colégio, inspirado pela iniciativa, aqui no Brasil, da estudante Isadora Faber. Mas no meu Diário, tentei dar um olhar mais crítico, com uma visão mais ampla dos deveres e direitos tanto de alunos quanto dos professores e funcionários”, conta. O Diário de Classe e o diário de Anne são formas de expor a realidade do meio onde vivem a partir do olhar do adolescente. O Diário de Classe de Ygor é o desfecho da falta de qualidade predominante nas escolas públicas atualmente e da vontade de alguns estudantes em mudar esta realidade. Cansados do descaso existente, esses jovens agem por meio de uma rede acessível aos jovens de todos os gêneros, idades e países.


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Na rede surgem, a cada dia, novos jovens que acreditam em uma educação igualitária e utilizam as ferramentas virtuais para reivindicar melhorias nos seus colégios. No Brasil, existem mais de cem iniciativas como essa, criadas para relatar o dia a dia da escola, denunciar problemas e cobrar soluções. As reivindicações são feitas pelos próprios estudantes, pessoas que convivem todos os dias com goteiras no telhado, carteiras quebradas e merenda ruim. Outro exemplo é a página criada recentemente por Tonyel Novak, de Almirante Tamandaré (região metropolitana de Curitiba) com o intuito de “mostrar a situação crítica de uma escola estadual há dez anos e ver se uma boa repercussão incentiva alguma mudança”. Tony estuda no colégio Ambrósio Bini, que foi interditado por problemas sérios de estrutura, relacionado a uma reserva de água subterrânea. Além dos problemas físicos, há também os rotineiros. Ele acredita que a juventude está mais preocupada com a qualidade de ensino. “Agora não estão pegando tanto no pé dos

jovens para irem trabalhar, mas sim para focarem nos estudos. Nós podemos participar cada vez mais na luta pela qualidade da educação”, afirma. Os jovens do século 21, além de estarem por dentro das tecnologias, estão envolvidos em projetos sociais em suas comunidades, presentes no grêmio estudantil, enfim, buscando participar mais ativamente dos processos da sociedade. Estes são exemplos claros da importância da formação social e política da juventude nos espaços de ensino. Há jovens que confiam na educação como oportunidade de vida e a construção da cidadania vem também da contribuição de jovens que são formados para participarem como cidadãos.

Conheça Anneliese Maria Frank Assim como a escritora Stephenie Meyer com a saga Crepúsculo, ela atingiu todo o público jovem. Mas diferente de vampiros e lobisomens, ela conquistou o mundo com a sua triste história de vida. Não a conhecem? Ela é mais conhecida como Anne Frank. Judia, ela e sua família foram perseguidos pelo nazismo alemão no período da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945). Em seu diário, a adolescente relata os dramas e dificuldades que enfrentou confinada no esconderijo em que vivia com a família. Seus relatos repercutiram e são conhecidos mundialmente até hoje. Anne e a família fugiram da Alemanha para a Holanda, onde se esconderam em um anexo com mais quatro pessoas. Nele, passaram vários meses. Durante o ano de 1941, sua vida é virada de ponta cabeça. Amigos e escola só geram saudades e esperança. Perseguições aos judeus causam milhares de mortos, até de amigos de Anne. Em seu diário, a adolescente judia desabafa seus sentimentos, além de citar inúmeras situações de seu cotidiano. No ano de 1944, Anne e sua família são descobertos e deportados e nove meses depois ela morre com sua irmã Margot Frank, no campo de concentração, destinado aos prisioneiros judeus. Otto Frank, pai de Anne, sobrevive à perseguição nazista e ao saber da existência do diário da filha faz várias cópias e espalha pela cidade de Amsterdam. O Diário de Anne Frank vira livro e é publicado pela primeira vez em 1947.

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Educom Brasil afora para dores e profissionais de todo o País Em São Paulo, encontro reuniu pesquisa ra ertu cob nicação. Renajoc Sudeste realiza compartilhar experiências em educomu

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s práticas educomunicativas têm se multiplicado pelo País, transformando ou valorizando realidades, fortalecendo processos educativos em diferentes espaços. Ideias otimistas sobre educomunicação foram compartilhadas durante o 4º Encontro Brasileiro de Educomunicação, que aconteceu em São Paulo, entre os dias 25 e 27 de outubro, na sede da Editora Paulinas e no prédio da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professores, pesquisadores, estudantes e profissionais de Educomunicação tiveram a oportunidade para juntos refletir sobre esse campo que ainda procura definições teóricas, mas que se afirma por uma prática pungente, que desperta encantamento dos que se envolvem em seus processos dialógicos no trabalho com mídia e educação. No primeiro dia, antes do início dos trabalhos, aconteceu a cerimônia de entrega do Prêmio Mariazinha Fusari de Educomunicação, que tem como objetivo valorizar iniciativas e pessoas que desenvolvem processos educomunicativos. Foram homenageados diversos educadores e professores brasileiros e, pela primeira vez, uma figura internacional, o pesquisador Roberto Giannatelli, um dos criadores do MED – Associação Italiana de Educação para a Mídia e a Comunicação, do qual era presidente de honra.

4º Encontro Brasileiro de Educomunicação reuniu cerca de 300 pessoas entre profissionais, pesquisadores e estudantes da área

Mediação tecnológica e cultura A primeira mesa redonda foi marcada por diálogos sobre as tecnologias da informação e o papel da educomunicação nos espaços educativos e também no debate sobre cultura. Polêmico, o professor Muniz Sodré, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos integrantes da mesa, destacou o papel da informática e da Internet na valorização da cultura cotidiana e do saber não formal. Sobre as redes sociais, disse não acreditar que a simples existência desses espaços garante pluralidade e a democracia. “Ter voz é a capacidade que se tem de falar criticamente, criativamente e de um modo autônomo. Nada me garante, por exemplo, que o palavrório das redes sociais seja uma voz de autonomia dos jovens. Falar livremente (apenas) não configura democracia”, afirmou Muniz Sodré nos bastidores, à nossa equipe. O professor Fernando José Almeida, diretor de projetos educacionais da Fundação Padre Anchieta, falou sobre a busca por

Da Renajoc Sudeste: Ana Paula da Silva (RJ), Filipe Borges Campos (ES), Gisele Gomes (RJ), Jackson Boa Ventura (RJ), Jéssica Delcarro (ES), Reynaldo de Azevedo Gosmão (MG), Rodrigo Santos (SP), Saulo Fernandes (SP), Thalita Moreira (SP), Willian Braga (ES)• Da Agência Jovem 26 Revista Viração • Ano 10 • Edição 91


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conteúdos que contemplem a educação de forma democrática com uma mediação tecnológica efetiva. “O desafio que se coloca para as secretarias de educação e para o MEC é definir qual a real contribuição das tecnologias para a aprendizagem. Eu diria que é para criar seres críticos, cidadãos participativos, pessoas que compreendam e interpretem a realidade”, ressalta. O professor Ismar Soares finalizou a mesa destacando a importância de estudar educomunicação para ampliar as pesquisas da área. “A educomunicação não é necessariamente uma didática, mas uma metodologia em busca de novos paradigmas. Por isso mesmo, ela não é fechada, está sempre aberta para novas formas de criar.”

aprofundar a teoria e a prática do fazer, pensar e refletir e a oportunidade de estágio na área. Temos como experiência quase dois anos de curso em execução.” O Programa Mídias na Educação foi apresentado pela professora Patrícia Horta, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Com uma estrutura modular e oferecido virtualmente, o Mídias já formou só no Estado de São Paulo, aproximadamente sete mil pessoas nos cursos de extensão nos ciclos básico e intermediário. Dessas, 1.500 cursaram o nível de especialização.

Muniz Sodré: “Ter voz é a capacidade que se tem de falar criticamente, criativamente e de um modo autônomo” Coordenadora da especialização em Educomunicação da ECA/USP afirma que o entendimento das práticas midiáticas deve começar durante a infância

Painéis Durante todo o 4º Encontro Brasileiro de Educomunicação aconteceram diversos painéis nos quais foram apresentadas pesquisas acadêmicas sobre a inter-relação educação e comunicação e também experiências de projetos educomunicativos. Confira o que rolou em alguns deles! Ismar Soares: “A educomunicação não é necessariamente uma didática, mas uma metodologia em busca de novos paradigmas”

Formação Superior Professoras de universidades públicas brasileiras compartilharam experiências de formação superior em Educomunicação em outra mesa. A coordenadora da Especialização em Educomunicação da ECA/USP Maria Cristina Costa afirmou que “a Educomunicação não deve vir somente de uma formação superior. É importante que crianças e adolescentes entendam e conheçam as práticas midiáticas”. A Profa. Dra. Rosane Rosa falou sobre a formação em nível de cultura e extensão na Universidade Federal de Santa Maria (UFSMRS). A universidade dispõe de várias disciplinas que se relacionam com o tema da educomunicação, nas quais os estudantes desenvolvem projetos práticos em espaços comunitários, escolas públicas e outros locais de aprendizagem. Roseli Fígaro, professora da ECA/USP, abordou os objetivos da licenciatura em Educomunicação na USP. “Existem alguns desafios entre professor e alunos para

Reflexão Epistemológica sobre Educomunicação Dois painéis foram dedicados ao tema. No primeiro, pesquisadores da área apresentaram estudos sobre a origem de práticas educomunicativas e um mapeamento de teses da área desde 1998. O segundo painel, com o mesmo tema, foi no último dia do Encontro. O teórico Mário Kaplun foi mencionado como introdutor do nome “educomunicador”, do qual se originou a palavra “Educomunicação”. Uma experiência de educomunicação em aulas de educação física também foi compartilhada. Estudantes do ensino fundamental, a partir da saga Harry Potter, tiveram contato com jogos, textos e um esporte criado com base na história.

de Notícias: Carlos Eduardo Ferreira e Larissa Gomes • Equipe da Viração: Amanda Proetti, Bruno Ferreira, Elisangela Nunes Cordeiro, Eric Silva, Evelyn Araripe, Gutierrez de Jesus Silva, Ingrid Evangelista, Lilian Romão, Rafael Stemberg e Vania Correia Revista Viração • Ano 10 • Edição 91 27


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Diversidade e etnias O painel levantou diversas questões culturais, tanto afro-brasileiras quanto indígenas, e a importância destas culturas para a educação. Foram levantadas questões sobre as metodologias de ensino em escolas, universidades, até mesmo em outros países, como é exemplo da Colômbia, onde a forma de aprendizagem consiste em uma participação colaborativa, ativa no trabalho individual, mas também coletivo, como relatou Marta Lucia Isquierdo, professora da Universidade da Colômbia.

Pedagogia da Comunicação Vários temas nortearam as discussões apresentadas, como utilizar a educomunicação em outras disciplinas Educomunicação a serviço do currículo escolares para escolar foi tema de debate durante Encontro auxiliar nas atividades pedagógicas. “Temos que utilizar a educomunicação como ferramenta para construirmos uma educação de forma horizontal e de mãos múltiplas”, disse o professor Douglas Gregório.

Educom e Saúde Experiências sobre educação para a diversidade étnica no Brasil e na América Latina foram destaque do painel

Educomunicação Socioambiental Experiências educomunicativas em áreas de preservação ambiental deram a tônica das exposições. Débora Menezes, que atua no Parque Nacional do Pau Brasil, na Bahia, diz que a educomunicação auxiliou os moradores da região a compreender a função e a necessidade de uma gestão Painel mostra que a educomunicação promove a participativa para sensibilização para questões políticas e sociais que o Parque. E a envolvem áreas rurais e de preservação ambiental pesquisadora Vânia Beatriaz de Oliveira apresentou uma iniciativa que utiliza músicas em oficinas realizadas em comunidades tradicionais e assentamentos rurais na Amazônia. “Por meio da reflexão sobre as letras das músicas, pudemos discutir e analisar questões ambientais”, afirma.

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A roda de apresentações começou com a declaração da enfermeira Elda de Oliveira, que apresentou os artigos utilizados na defesa de sua tese A Contribuição da Educomunicação para a Educação sobre Drogas, comprovando a influência negativa das práticas midiáticas sobre os jovens. O jornalista Hércules Barros, coordenador da assessoria de imprensa do departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, falou sobre sua experiência em Botsuana, numa campanha de prevenção contra a Aids. A partir de uma proposta educomunicativa, Hércules, juntamente com a jornalista Maria Rehder, propuseram o envolvimento de outros setores e populações estratégicas, como os caminhoneiros. O objetivo era construir uma campanha em coletividade e fazer valer a voz dos seguimentos para qual a campanha foi pensada. V

Experiências de Educomunicação com as temáticas Drogas, DST e Aids foram relatadas em painel


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E eu com isso?!

Educação deixada de lado nças e adolescentes que No Brasil, ainda é alarmante o número de cria entar a renda da família deixam de estudar para ajudarem a complem

Elizabeth Lucena e João França, do Virajovem Manaus (AM)*

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evasão escolar é uma triste realidade que assola o nosso País, tornando um desafio para o sistema de ensino qualificar alunos, principalmente da rede pública, para um futuro promissor. Classifica-se como evasão escolar o abandono, por parte do aluno, das obrigações para com a escola, ou seja, ele deixa de frequentar as aulas durante o ano letivo, tornando-se repetente, ou fora da idade adequada para sua série, no ano seguinte. A falta de recursos financeiros é um dos principais motivos que levam o jovem a abandonar os estudos em pleno andamento do ano letivo. Por vezes, o estudante não tem dinheiro suficiente para a condução – no caso de alunos que estudam longe do local onde residem – pois custa caro ir e voltar todos os dias durante a semana. “Meu filho não tem como se deslocar para o outro lado da cidade. Não tenho o dinheiro do ônibus todos os dias e não consegui vaga aqui perto de casa”, diz Josefina de Melo, mãe de um aluno da rede pública municipal de Manaus. Porém, os casos mais lamentáveis são os de estudantes que precisam ajudar no sustento da família e estão sujeitos a largar a escola para trabalhar, muitas vezes, em serviços que não trazem qualquer tipo de esperança de uma vida melhor. “Se eu não fosse ajudar meu pai no serviço, eu e meus irmãos iríamos passar fome. Então, eu prefiro abrir mão dos meus estudos agora para não ver meus irmãos morrerem por falta de comida”, relata A.S, adolescente de 15 anos.

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Nota-se que esta é a triste realidade de muitos jovens que não enxergam a escola como um degrau para a melhoria de sua qualidade de vida. Ainda assim há quem deixe o ambiente escolar por inúmeros motivos: uso de drogas, gravidez precoce, maus tratos por parte de familiares, que impedem o estudante de ir à escola para evitar denúncias. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Evasão escolar durante o ensino Anísio fundamental é motivo de preocupação Teixeira para especialistas em educação (INEP), no Brasil, de cem estudantes que ingressam na escola na 1ª série, apenas cinco concluem o Ensino Fundamental. Em 2007, 4,8% dos alunos matriculados do 1º ao 9º ano abandonaram a escola. Embora o índice pareça pequeno, corresponde a quase um milhão e meio de alunos. Ainda existe esperança para que essa situação possa tomar um rumo diferente e positivo, porém, vai depender da união e colaboração de todos, da sociedade, famílias, escolas, governos em prol do combate à evasão escolar, identificando e tratando esta problemática com extrema seriedade e competência, desta forma podemos construir um Brasil melhor para todos. V

Virajovem Manaus


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No Escurinho

Desejos de infância s durante o divórcio dos pais, Em O Que Eu Mais Desejo, após serem separado partilhar suas novas experiências dois irmãos procuram manter contato para com

Sérgio Rizzo, crítico de cinema*

* www.sergiorizzo.com.br

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Divulgação

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japonês Hirokazu Kore-eda, 50 anos, é um dos diretores orientais de maior prestígio internacional na atualidade. Sua obra, que costuma circular em festivais e nos circuitos de arte das grandes cidades, o tornou um cronista da vida cotidiana e das relações familiares no Japão contemporâneo, ao explorar temas como a infância, a memória e a morte. Maborosi (1995) revelou seu talento, confirmado em filmes como Depois da Vida (1998), Distância (2001) e Ninguém Pode Saber (2004). Em O Que Eu Mais Desejo (2011), recém-lançado em DVD no Brasil, Kore-eda trata novamente do mundo segundo a perspectiva infantil e nos lembra que, para as crianças, a realidade se apresenta como um espaço repleto de mistérios. As relações entre os adultos, por exemplo, parecem nebulosas, uma vez que as motivações para certos comportamentos ainda são desconhecidas. Por decorrência, o mundo também se revela, na infância, como um espaço de descobertas inesgotáveis. Na trama, a separação provisória de um casal leva também ao distanciamento entre seus dois filhos. Koichi, de 12 anos, fica morando com a mãe e os avós. O caçula, Ryunosuke, passa a viver com o pai em outra cidade, ao norte. Muito ligados, os meninos procuram manter os laços e conversam por telefone sobre o que fazem na escola, com os amigos e em família. Koichi é um pouco mais capaz de entender o que está acontecendo, mas não deixa de ser criança: ao ouvir que milagres podem ser concedidos a quem presencia um encontro entre dois trens que seguem em rotas opostas, ele planeja uma forma de pedir a realização de seu maior desejo, a reconciliação dos pais. Os adultos são personagens secundários nessa história protagonizada por crianças e que busca se aproximar ao máximo da visão de mundo infantil. Seu convite ao espectador envolve um exercício para a percepção: a aventura fabular de Koichi, Ryunosuke e seus amigos, em busca do encontro mágico entre dois trens, ganha sentido à medida que o espectador deixa de lado o olhar adulto para recuperar um pouco da sensação de encarar o mundo como um lugar de mistérios e descobertas. V

Imagem de divulgação no Brasil do filme japonês O Que Eu Mais Desejo


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Que Figura!

O Anjo Pornografico -

Morto em 1980, no Rio de Janeiro, o escritor Nelson Rodrigues destacase pelo erotismo e pela crítica às instituições sociais em suas obras Edneusa Lopes, do Virajovem Recife (PE), e Nealla Machado, Virajovem de Campo Grande (MS)*

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ornalista, escritor, dramaturgo e uma das personalidades mais marcantes da cultura brasileira, Nelson Rodrigues nasceu em Recife, em 23 de agosto 1912. O quinto de 14 irmãos. Nelson mudou-se para o Rio de Janeiro ainda criança, onde viveria por toda sua vida. Seu pai, Mário Leite Rodrigues, também jornalista, foi dono do jornal A Manhã, local onde Nelson trabalhou quando adulto. O consagrado escritor começaria sua carreira jornalística na seção de polícia do jornal de seu pai com apenas 13 anos de idade. Os relatos de crimes passionais e pactos de morte entre casais apaixonados incendiavam a imaginação do adolescente romântico, que utilizaria muitas das histórias reais que cobriu em suas crônicas futuras. Em 1932, Nelson Rodrigues começa a trabalhar para o jornal O Globo, e ficou amigo de Roberto Marinho, que o ajudou no tratamento contra a tuberculose e contou com a gratidão do escritor pelo resto da vida. Neste jornal, foi editor do suplemento O Globo Juvenil. Além de editar, Nelson roteirizou algumas histórias em quadrinhos para o suplemento, dentre elas, destaca-se uma versão de O fantasma de Canterville, de Oscar Wilde. Em 1940, casa-se com Elza Bretanha, sua colega de redação, que o acompanharia até os últimos dias. A partir da década de 1940, dividiu-se entre o emprego em O Globo e a elaboração de peças teatrais. Em 1941, escreve A mulher sem pecado, que estreou sem sucesso. Pouco tempo depois assinou a revolucionária Vestido de noiva, dirigida por Zbigniew Ziembiński e que estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com estrondoso sucesso. Em fevereiro de 1946, o texto da peça Álbum de Família foi submetido à Censura Federal e proibido pelo governo ditatorial, por ser contra os valores da família. A peça só voltaria a ser encenada em 1965. Em abril de 1948, Nelson Rodrigues estreou a peça Anjo Negro, trabalho que deu possibilidade ao dramaturgo de adquirir uma casa no bairro do Andaraí, no subúrbio carioca. Em 1950, começou a escrever a série de crônicas A vida como ela é, o maior sucesso de sua carreia. Na década seguinte, passou a trabalhar na recém fundada TV Globo, participando da bancada da Grande Resenha Esportiva Facit, a primeira "mesa-redonda" sobre futebol da televisão brasileira.

"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico."

Nelson Rodrigues é considerado realista. Criticou a sociedade e suas instituições, sobretudo o casamento. O autor transpôs a tragédia grega para a sociedade carioca do início do século 20, e dessa transposição surgiu a "tragédia carioca", com fatos como adultério, incesto e traição com um tom contemporâneo. O erotismo também está muito presente na obra do pernambucano, que não tinha pudores com o corpo. V *Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal


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Sexo e Saúde

Vania Correia, da Redação

Durante a relação é possível que a camisinha entre e se perca no corpo da mulher? Não, de forma alguma. A vagina da mulher é um órgão fechado nas laterais por uma camada de músculos e membranas e no fundo pela presença do colo do útero e não tem comunicação com a cavidade do abdômen. Sendo assim, ela pode chegar só até o fundo da própria vagina, que é perfeitamente alcançável pelas mãos. Ela pode estourar? Pode acontecer, mas é muito difícil. Bem mais difícil acontecer isto com a camisinha feminina do que com a masculina A camisinha feminina gera incômodo ou tira a sensibilidade? Não, pelo contrário. Muitas mulheres relatam que a fricção do anel externo da camisinha feminina sobre o clitóris representa um estímulo a mais e aumenta a sensação de prazer. Quais as vantagens do preservativo feminino? É um método que pode ser melhor controlado pela mulher. Outra grande vantagem é que não precisa esperar o momento da ereção para colocar a camisinha feminina. É possível colocá-la horas antes de iniciar a relação sexual, e pode ter mais de uma transa seguida com a mesma camisinha. A mulher pode ficar com ela até algumas horas depois da relação. No entanto, depois de retirado, o preservativo feminino não pode ser usado novamente. Para as profissionais do sexo, que terão parceiros sexuais diferentes no mesmo dia, não se recomenda manter a mesma camisinha feminina, pois ela estará expondo seu parceiro ao contato com o esperma de um parceiro anterior.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org

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t rca Fo ia l á t Na

O

preservativo feminino é mais um método para se prevenir contra a Aids e as DST, além de também evitar gravidez não desejada. Vale lembrar que ela é tão segura quanto a camisinha masculina. No entanto, o uso da camisinha feminina ainda é pequeno se comparado à masculina. O preço, a estética, mas principalmente a falta de informação ainda a torna um tabu pra grande parte da sociedade. Para ajudar a acabar com a desinformação em torno do tema, a Dra. Naila Santos, médica da Gerência de Prevenção do Centro de Referência e Tratamento das DST e Aids de São Paulo (CRT DST/Aids), respondeu algumas dúvidas acerca do tema. Confira! V


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Rango da terrinha

Biscoito brasiguaio

ções da fronteira brasileira Prato sul-mato-grossense mantém viva as tradi

Fernanda P. Garcia, do Virajovem Campo Grande (MS)*

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Ingredientes

Modo de preparo

2 ovos 400g de polvilho doce 100g de margarina 10g de sal 15g de fermento em pó 500g de queijo curado ralado Leite para dar ponto

Em uma tigela, misture o queijo, os ovos, a margarina, o fermento e o sal. Use as mãos para transformar em uma massa. Em seguida, acrescente o polvilho doce e vá adicionando o leite até conseguir uma massa lisa e que solte das mãos. O segredo é amassar. Para modelar, faça rolinhos e corte do tamanho de um palmo. Dê o formato de ferradura e asse em assadeira untada e forno aquecido a 180 graus. O tempo depende de cada forno, mas geralmente 15 a 20 minutos são suficientes. Bom apetite!

*Virajovem presente em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Fernanda P. Garcia

cultura sul-mato-grossense é profundamente influenciada pelos países fronteiriços. Bolívia e Paraguai são os mais próximos e, consequentemente, os que mais contribuem para a culinária local. Sopa paraguaia, saltenhas, empanadas e chipas são corriqueiras no dia a dia do lado de cá da fronteira e já se incorporaram à cultura brasileira. A chipa é uma espécie de pãozinho ou biscoito, parecida com o pão de queijo mineiro, e sua principal característica é ser crocante por fora e macia por dentro, com o sabor do queijo mais acentuado. Hoje elas são encontradas em qualquer padaria, festinhas e comemorações do Estado de Mato Grosso do Sul. No Paraguai, a venda de chipas também dá conta da renda de muitas famílias, cujas mulheres as vendem pelas ruas em enormes cestos equilibrados na cabeça. Ao longo dos anos, a receita sofreu modificações e adaptações, mas ainda mantém sua essência e, principalmente, mantém viva a história da fronteira de um povo que, pela convivência, hoje é “brasiguaio”. A receita é simples, barata e rende muitas porções. Confira! V


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Parada Social

Reflexão além da UniveRsidade iversitários do Ceará Em programa de extensão, un viço dos direitos humanos colocam a comunicação a ser Fernando Girão e William Santos, do Virajovem Fortaleza (CE)*

“R

Divulgação

eflita sobre suas atitudes. Reinvente o seu comportamento. Realize uma mudança. Respeite as diferenças". Este é o convite que a Liga Experimental de Comunicação, programa de extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), faz à sociedade, por meio do projeto Ver pra Crer: comunicação pelo fortalecimento Crianças participam de atividade sobre direitos da infância dos direitos humanos. Durante todo o ano de 2012, a agência dos cursos de Jornalismo e Publicidade e desenvolvidas para disseminar os direitos humanos Propaganda da UFC desenvolve ações que relacionados às várias temáticas", esclarece. colocam a comunicação como ferramenta de As ações do Ver pra Crer vão do visibilidade e garantia dos direitos humanos. "A monitoramento de mídia à pesquisa acadêmica, partir dessa articulação entre a comunicação, da realização de minidocumentários à publicação compreendida como um direito humano e de um dossiê. Graziele explica que o projeto setores que veem seus direitos ameaçados, e trabalha com linguagens diferentes como que são direitos humanos também, a gente campanhas publicitárias, programas de rádio, propõem uma série de atividades onde essa jornal impresso, blog, entre outras. relação é fortalecida. É isso que o Ver pra Crer Firmar parcerias é o que a Liga vem fazendo faz", explica Edgard Patrício, professor da UFC desde 2007, quando foi criada no então curso de e orientador da Liga Experimental. Comunicação Social da UFC. Segundo Graziele, a Cerca de quarenta estudantes participam proposta da agência é trabalhar com o parceiro, do projeto, que é dividido em cinco eixos de atuação: educação e mídia, promoção e defesa oferecer-lhe uma formação, para que, após a dos grupos LGBT, direitos humanos de crianças parceria, fique ali uma semente resultante desse diálogo. "A Liga não faz e nem entrega um e adolescentes, direitos humanos da pessoa idosa e marco legal da pessoa com deficiência. trabalho de comunicação. Ela media essa conversa Para Graziele Barros, integrante da Liga, um para resultar em um produto que se adeque às expectativas do parceiro. Tudo na base da dos principais desafios propostos pelo Ver pra construção coletiva", conclui. Crer é trabalhar as interfaces entre V comunicação e direitos humanos de modo que não fiquem óbvias, que fujam dos formatos tradicionais. "A gente trabalha tanto na perspectiva da análise, tentando perceber www.liga.ufc.br como a comunicação pode ajudar a efetivar facebook.com/LigaUFC outros direitos, como também em ações V *Virajovem presente em 20 Estados do País e no Distrito Federal


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s o r i e c r a p s o s Nos

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Auçuba - Comunicação e Educação Recife (PE) aucuba.org.br

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência www.ciranda.org.br

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE) www.catavento.org.br

Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG)

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) www.soudeatitude.org.br

Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br

Mídia Periférica - Salvador (BA) www.midiaperiferica.blogspot.com.br

Projeto Araçá - São Mateus (ES) www.projetoaraca.org.br

Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br

Oi Kabum - Rio de Janeiro (RJ) www.oikabumrio.org.br

Gira Solidário Campo Grande (MS) www.girasolidario.org.br

Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA - Fortaleza (CE) www.taconectados.blogspot.com

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR) grupomakunaimarr.blogspot.com

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA) www.cipo.org.br

Agência Fotec – Natal (RN)

Lunos - Boituva (SP) www.lunos.com.br

Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa Maceió (AL)

União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC) ujsacre.blogspot.com

Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) ocidadaonline.blogspot.com

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES) www.avalanchemissoes.org

Idesca - Manaus (AM) www.idesca.org.br

Coletivo Jovem - Movimento Nossa São Luís São Luís (MA)


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