Revista Viração - Edição 106 - Maio/2014

Page 1


Gutierrez de Jesus

quem faz a vira pelo brasil

Adolescentes da Agência Jovem de Notícias, de São Paulo, fazem primeira roda de conversa do ano sobre a última edição da Vira durante formação

Conheça os Virajovens em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal: Aracaju (SE) Belém (PA) Boa Vista (RR) Boituva (SP) Brasília (DF) Campo Grande (MS) Curitiba (PR) Fortaleza (CE) João Pessoa (PB) Lavras (MG) Lima Duarte (MG) Macapá (AP) Maceió (AL) Manaus (AM) Natal (RN) Picuí (PB) Pinheiros (ES) Porto Alegre (RS) Recife (PE) Rio Branco (AC) Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) S. Gabriel da Cachoeira (AM) São Luís (MA) São Paulo (SP) Sud Mennucci (SP) Vitória (ES)

Auçuba Comunicação e Educomunicação – Recife (PE) • Avalanche Missões Urbanas Underground – Vitória (ES) • Buxé Fixe - Amadora (Portugal) • Camp - Uma escola de cidadania Porto Alegre (RS) • Casa Peque Davi – João Pessoa (PB) • Catavento Comunicação e Educação – Fortaleza (CE) • Cipó Comunicação Iterativa – Salvador (BA) • Ciranda – Central de Notícia dos Direitos da Infância e Adolescência – Curitiba (PR) • Coletivo Jovem – Movimento Nossa São Luís – São Luís (MA) • Gira Solidário – Campo Grande (MS) • Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA – Fortaleza (CE) • Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil – Boa Vista (RR) • Instituto de Desenvolvimento, Educação e Cultura da Amazônia – Manaus (AM) • Instituto Universidade Popular – Belém (PA) • Mídia Periférica – Salvador (BA) • Instituto Candeia de Cidadania – Lima Duarte (MG) • Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) • Lunos – Boituva (SP) • Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG) • Oi Kabum – Rio de Janeiro (RJ) • Projeto de Extensão Vir-a-Vila (UFRN) - Natal (RN) • Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa – Maceió (AL) • Rejupe • União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC)


Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

editorial Saldo negativo

quem somos

A

O

Brasil sediará, a partir de 12 de junho, a Copa do Mundo 2014. Para isso, muitas coisas aconteceram no País nos últimos anos e, acompanhando os fatos, a sociedade civil tem promovido debates e criticado as maneiras como os governos municipais, estaduais e federal têm conduzido o processo de “adaptação” das cidades para esse megaevento. Na edição nº 92 da Vira, de janeiro de 2013, publicamos uma reportagem de capa questionando se o legado deixado pela Copa do Mundo e os futuros eventos esportivos internacionais que acontecerão no País serão negativos ou positivos. No entanto, observa-se uma constante violação de direitos humanos, tornando possível afirmar, infelizmente, que o legado já é negativo para a população. Na reportagem de capa desta edição, você conhece a estimativa do retorno financeiro e social da Copa. E, ainda, uma matéria que mostra que a nossa polícia continua tão violenta e repressora (ou mais) do que a da época do regime militar. Boa leitura!

Viração é uma organização não governamental (ONG) de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da ANDI - Comunicação e Direitos. Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica, contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 20 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses dez anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá’í. E mais: no ranking da ANDI, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300

Apoio institucional

Asso

ciazione Jangada


d Resquício da ditadura

08

Em 1º de abril, o golpe militar de 1964 completou 50 anos, mas o autoritarismo ainda se faz presente nos dias atuais com a conduta violenta da polícia

10 16

24

Resgate cultural Manifestações folclóricas, genuinamente populares, caem no esquecimento pelo excesso de valorização da cultura globalizada e de massa

Desenvolvimento local Banco popular de Fortaleza adota os princípios da Economia Solidária para auxiliar e ensinar sobre empreendimentos sociais comunitários

18

Motivos para lamentar

Manda Vê Como se Faz Imagens que Viram Quadrim No Escurinho

RG da Vira: Revista Viração - ISSN 2236-6806 Conselho Editorial

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

06 12 14 23 30

Rafael Lira

Diretoria Executiva

Paulo Lima e Lilian Romão

Equipe

Conselho Fiscal

Bruno Ferreira, Carolina Ellmann, Elisangela Nunes, Filipe Campos Borges, Gutierrez de Jesus Silva, Irma D’Angelo, Manuela Ribeiro, Rafael Silva e Vânia Correia

Conselho Pedagógico

Administração/Assinaturas

Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

Presidenta

Susana Piñol Sarmiento

Vice-Presidenta Amanda Proetti

28

Cadu Ferreira e Norma Cinara Lemos

Mobilizadores da Vira

Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Alan Fagner Ferreira), Amapá (Alessandro Brandão), Amazonas (Jhony Abreu, Claudia Maria Ferraz e Sebastian Roa), Bahia (Emilae Sena e Mariana Sebastião),

Enfrentamento Projeto Navegando nos Direitos e rede de proteção de Paranaguá promovem ações de sensibilização para a questão da exploração sexual infanto-junenil

Entendendo direitos Seção E eu com isso? volta à Vira para explicar, a cada edição, aspectos do Estatuto da Juventude, começando pelo artigo que prevê o direito à participação

29

Que Figura Sexo e Saúde Rango da Terrinha Parada Social Rap Dez

Primeiro-Secretário

Virajovens de Curitiba entrevistam o jornalista Mauri König, autor de livro em que denuncia uma rede nacional de exploração sexual de crianças e adolescentes

26

A Copa será no próximo mês, em 12 cidades sede brasileiras, onde houve violação aos direitos humanos em nome do campeonato, que já manifesta seu saldo social negativo

sempre na vira:

Denúncia grave

Despedida No último artigo da seção Vale 10, secretário executivo da ANDI escreve sobre o papel da Viração na defesa do direito à participação de adolescentes e jovens

31 32 33 34 35

Ceará (Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal (Webert da Cruz), Espírito Santo (Jéssica Delcarro e Izabela Silva), Maranhão (Nikolas Martins e Maria do Socorro Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos), Pará (Diego Souza Teofilo), Paraíba (José Carlos Santos e Manassés de Oliveira), Paraná (Juliana Cordeiro e Diego Henrique Silva), Pernambuco (Edneusa Lopes e Luiz Felipe Bessa), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rio Grande do Sul (Evelin Haslinger e Joaquim Moura), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos), Sergipe (Elvacir Luiz) e São Paulo (Igor Bueno e Luciano Frontelle).

Colaboradores

Antônio Martins, Fernanda Papa, Heloísa Sato, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Nobu Chinen, Novaes, Sérgio Rizzo e Veet Vivarta.

Projeto Gráfico

Ana Paula Marques e Manuela Ribeiro

Revisão

Izabel Leão

Jornalista Responsável

Paulo Pereira Lima – MTb 27.300

Divulgação

Equipe Viração

E-mail Redação

redacao@viracao.org


diga lá!

O que é Educomunicação?

Drica Maria Pimentel

É comum, nas edições da Vira, encontrar a palavra “educomunicação” ou o termo “educomunicativo”. A educomunicação é um campo de intervenção que surge da inter-relação comunicação/educação para a transformação social. Dizemos que um projeto ou prática é educomunicativa quando adota em seus processos, especialmente do jovem, o caráter comunicacional, como o diálogo, a horizontalidade de relações e o incentivo à participação, fazendo com que os sujeitos exerçam plenamente o direito humano à expressão e à comunicação, em diferentes âmbitos e contextos. A Viração promove ações educomunicativas por meio da produção midiática, incentivando que adolescentes e jovens produzam reportagens coletivas em diferentes linguagens.

Resposta:

Como virar um virajovem?

Via Facebook Olá, vamos falar um pouquinho da cultura negra, da pele negra, da aceitação de identidade, raça, cabelo, história? Desde já, quero deixar minha colaboração. Aguardo retorno,

Legal, Drica! Os conteúdos da Vira e da Agência Jovem de Notícias são inteiramente colaborativos. Sinta-se convidada a encaminhar suas produções sobre cultura negra que teremos o maior prazer em publicá-las em nossos veículos de comunicação. Grande abraço!

Perdeu alguma edição da vira? não esquenta! Você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao

Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

@viracao

Virajovens são os integrantes dos conselhos editoriais jovens da Viração, que produzem conteúdos mensais em suas cidades. O conselho pode ser um coletivo autônomo de jovens ou um grupo ligado a uma entidade, organização, movimento social, escola pública ou privada, que dará apoio para que os virajovens produzam conteúdos. A parceria entre a Vira e entidade é oficializada com um termo de compromisso e com a publicação do logotipo da organização na revista Quer saber mais? Entre em contato com a gente: redacao@viracao.org.

Agência Jovem de Notícias

Ops... erramos Na última edição (nº 105), publicamos uma reportagem do Portal Promenino, nosso parceiro de conteúdo, cujo título, em adaptação para a Vira, foi Eles aprendem empreendendo, na página 26. No rodapé da última página da matéria, divulgamos um link errado do Portal. O endereço correto do Promenino é: www.promenino.org.br. Pedimos desculpas a você, leitor, e ao nosso parceiro, Promenino, pelo equívoco.

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração! Parceiros de Conteúdo


manda vê

Evelin Haslinger, José Guilherme Rizzo e Mônica Oliveira, do Virajovem Porto Alegre (RS); Emilae Sena, do Virajovem Salvador (BA); Luiz Felipe Bessa, Handryelly Ferreira e Scheyla Guthemberg, do Virajovem Recife (PE)* e Carolina Ellmann, da Redação

A realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, no Brasil, tem sido motivo de grandes polêmicas e levado muita gente às ruas em diversas Regiões do País. Desde a notícia de que a Copa seria no Brasil, fóruns, congressos, reuniões, rodas de diálogos e protestos emergiram pelos quatro cantos do País, como por exemplo, os comitês locais da Copa, que discutem desde a estrutura do evento até as várias formas de evitar que crianças e adolescentes não sejam exploradas sexualmente e submetidas a trabalho escravo. De um lado, há os que são a favor desse projeto, acreditando que grandes investimentos em infraestrutura das cidades e desenvolvimento de comércio e serviços para os megaeventos fortalecerão a economia e farão bem à sociedade. Já outros desacreditam no trabalho do governo e dizem que as transformações por conta dos eventos trarão prejuízos e violações de direitos, além de gasto de dinheiro público que poderia ser investido em setores importantes, como educação, saúde e transporte. E você? Qual sua opinião?

O Brasil está preparado para sediar os megaeventos? Hélio Oliveira 19 anos | Recife (PE)

Valmir Joaquim

“Sabemos que hoje o País tem outras prioridades, como saúde, educação, saneamento básico, transporte público de qualidade, entre outras coisas. Não podemos esconder uma verdade que é visível a todos: não temos estrutura para receber os megaeventos.”

“Não, pois os serviços básicos, como transporte e saúde, não têm a qualidade que se espera, e certamente não conseguirão atender de forma satisfatória os turistas que esses megaeventos trarão ao nosso País.”

Brenda Gomes 20 anos | Salvador (BA)

“Do ponto de vista que não conseguiram sequer preparar a cidade do Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, realizada em junho do ano passado, eu acredito que não. Ainda mais quando se trata de locomoção e segurança pública.”

06

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

22 anos | Paulista (PE)

Edjane Pimenta 24 anos | Salvador (BA)

“Não sei ao certo quanto aos investimentos, mas sei que os estádios, por exemplo, foram reformados, o que tirou uma boa grana para isso, sendo que nossos hospitais públicos estão cada vez piores, e nem vou falar na educação.”


Renata Lima

Samira Rosa

23 anos | Paulista (PE)

17 anos | Porto Alegre (RS)

“Bom, tem muitas coisas mais importantes para o governo se preocupar e investir. O Brasil não tem estrutura para sediar uma Copa ou outro evento de grande porte. A nossa segurança está em falta e muita gente está em situação de risco. Sou totalmente contra.”

“Temos visto uma falta de preparação dos responsáveis pela construção de estádios e obras de infraestrutura. Essa responsabilidade não é só dos governos, também tem a Fifa nessa organização, que não tem conseguido dialogar e construir um ambiente legal de mobilização nacional e local.”

Milena Gomes

Abel Massri

19 anos | Porto Alegre (RS)

20 anos | Porto Alegre (RS) “Por um lado tem toda uma emoção dos brasileiros de receber a Copa, de ter acesso a um evento de futebol. A Copa das Confederações rolou. Por outro lado, tem toda essa história de problemas que a Copa está gerando. Algumas remoções de famílias por causa das obras, transtornos no transporte público. Por esse lado, parece que não estamos preparados.”

“Há, cada vez mais, uma indignação da juventude com o descaso com a educação e só se vê investimentos na Copa. Assim, não tem como achar que o Brasil está preparado. Essa Copa só significa festa e não melhoria do esporte e na vida das pessoas.”

não é de hoje FAZ PARTE O Brasil já sediou a Copa do Mundo de Futebol em julho de 1950. Os jogos aconteceram nas cidades de Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Nessa edição, a taça ficou para a equipe do Uruguai. Foi a quarta edição da Copa organizada pela Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa), que completa 110 anos de existência.

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

No Qatar, a Anistia Internacional divulgou um relatório denunciando o uso de mão de obra escrava de imigrantes do Nepal nas obras da Copa do Mundo, que ocorrerá nos Emirados Árabes, em 2022. A descoberta dos trabalhadores escravizados veio após a investigação de 44 mortes de jovens, em apenas 66 dias, motivadas por exaustão. O relatório mostra que os abusos incluem a falta de pagamento de salários, condições de trabalho difíceis e perigosas, alojamentos em situação precária e trabalho forçado. Além disso, os imigrantes têm seus passaportes confiscados para evitar a saída do país.

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

07


Lembrar para não repetir retomado o regime Golpe militar completa 50 anos e, apesar de o Brasil ter nta e repressora democrático há 29 anos, nossa polícia permaneceu viole Bruno Ferreira e Carolina Ellmann, da Redação

H

08

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

Entulhos da ditadura Mesmo passados 50 anos do golpe militar, não é incomum encontrarmos notícias de civis mortos e torturados em nome da segurança nacional. Casos como o de Amarildo, Douglas e Claudia são versões atuais de crimes como os que vitimaram Vladimir Herzog, Tito Alencar e Aurora Maria, assassinados pelos militares. A professora e membro da comissão da verdade, Rosalina de Santa Cruz Leite, da PUC-SP afirmou que “não há nenhuma diferença entre a tortura praticada no regime militar e atualmente, pela Policia Militar – o que talvez exista de diferente é a classe social dos torturados, atualmente pessoas da periferia, negros e pobres, enquanto que naquela época, era o movimento de esquerda, majoritariamente estudantil e intelectual”. Do mesmo modo que no regime militar, existe uma ideologia por trás das mortes. Naquela época justificavase que os presos eram terroristas e que queriam transformar o País em comunista. Hoje, a ameaça é a Manifestantes questionam a conduta violenta e autoritária da polícia no atual regime democrático brasileiro

Fotos: Filipe Campos

á 50 anos, iniciava-se no Brasil um nebuloso período da nossa história, marcado por sistemáticas violações de direitos à população, especialmente a censura e a perseguição aos adeptos do socialismo ou aos que possuíam valores e crenças discordantes daqueles que, arbitrariamente, tomaram o poder em 1964. O País sofria um golpe de Estado com a deposição do então presidente João Goulart. De acordo com o calendário oficial, o golpe foi em 31 de março daquele ano. No entanto, historiadores e movimentos sociais defendem que tudo aconteceu em 1º de abril. “O golpe de Estado ocorre quando o processo democrático, ou seja, o processo de escolha dos governantes pela maioria da população é interrompido bruscamente”, define a historiadora Gabriela Pessoa, em artigo publicado na Revista Caravela. No texto, ela ainda afirma que “no passado, os golpes vinham com justificativas diversas, seguidos, muitas vezes, por regimes militares violentos”. Foi exatamente o que aconteceu no Brasil. O presidente João Goulart – conhecido como Jango – causou estranhamento aos setores mais conservadores da sociedade ao defender com rigor reformas de base, como a desapropriação de terras improdutivas e sua ocupação por camponeses, o que hoje conhecemos por “reforma agrária”. Ideias como essa fizeram com que militares e a classe média acreditasse que o então presidente tinha forte ligação com o comunismo, afirmando que o político tinha intenções de implantar o sistema no Brasil. E, para impedir o suposto projeto de Jango, os militares resolveram intervir. O regime militar durou 21 anos, caindo, definitivamente em 1985, com a eleição de Tancredo Neves para a presidência, final de um processo de pressão da sociedade civil por eleições diretas no País, conhecido como Movimento Diretas Já, que reuniu estudantes, intelectuais e militantes de esquerda. Tancredo, no entanto, não assumiu a presidência, pois morreu às vésperas da posse, assumindo o seu vice, José Sarney, em abril de 1985.


pobreza, que vira caso de polícia. Segundo Rosalina, “isso ocorre porque a unidade da classe trabalhadora é perigosíssima para os dominantes, mesmo que dessa primeira união não se faça com a consciência política de classes, só com o questionamento das condições de vida e trabalho”. Dessa instabilidade nasce a lei de segurança (o apartheid na periferia, onde se mata, rouba e o mais importante é que o pobre seja o inimigo do outro), constantemente difundida para a classe média. Também com relação ao triste legado consentido pelo golpe, as pessoas ficaram mais indiferentes à exposição da violência praticada pelo Estado. Em vez de lutar ao lado dos trabalhadores, a população preferiu não só criminalizar a pobreza, como também quem luta pelos direitos humanos. Como os movimentos lutam por justiça e igualdade, os meios de comunicação passam para a população que direitos humanos defendem pobres e, consequentemente, bandidos. Se os torturadores fossem punidos, haveria outro caminho para pensar uma nova concepção de segurança pública, que priorizasse mais os direitos humanos. Para Rosalina, “fica claro que não iríamos abolir totalmente essa política de tortura e de morte, isso não é possível em uma sociedade capitalista, em que a exploração do trabalho está tão forte e tão presente, que provoca desigualdade social”.

Desmilitarização da Polícia O tema da desmilitarização da polícia voltou ao debate no Brasil, impulsionado pelas discussões em torno da data que marcou os 50 anos do golpe militar e diversos episódios recentes de violência policial contra manifestantes. A ditadura militar colocou a PM nas ruas, sem a formação necessária para tratar com a sociedade civil. O resultado é desastroso. De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) e com o relatório divulgado pelo FBI, entre 2005 e 2009, a PM de São Paulo matou mais que todas as polícias dos Estados Unidos juntas. Movimentos sociais estão à frente desta campanha, que já concentra um grande número de manifestações, inclusive o recente ato, no último dia 1º de abril, contra a repressão policial e pelo direito à manifestação, que aconteceu em São Paulo, na Avenida Paulista.

Em São Paulo, a data dos 50 anos do golpe foi lembrada por manifestantes, na Avenida Paulista, que defendem a desmilitarização da polícia

Rota 66 – Caco Barcellos Considerado um dos melhores livros de jornalismo investigativo, a obra faz denúncias sociais e mostra a ação irregular da Polícia Militar em São Paulo. O autor desvenda as motivações e os métodos da polícia, assim como o aspecto incentivador do próprio Estado e o perfil dos assassinos e das vítimas. As riquezas das informações e a apuração dos fatos ilustram uma covardia, em que a maior parte das vítimas dos atos de crueldade são pessoas inocentes. Ser pobre, pardo ou negro, jovem e simples, se torna uma situação perigosa.


Museu vivo da nação Os efeitos da globalização têm consequências negativas sobre as manifestações culturais locais, esquecidas por conta da cultura de massa

Clara Wardi, Virajovem do Rio de Janeiro (RJ)*

Fotos: Clara Wardi

O

Brasil é um País marcado por diversas heranças culturais provenientes de diferentes povos que aqui colonizaram, imigraram ou já estavam de cocar e caras pintadas por essas bandas. Esse conjunto de heranças, sejam elas materiais ou não, formam a identidade de uma nação, conceito também chamado de folclore. De origem inglesa, o folclore é uma palavra originada pela junção das palavras “folk”, que significa povo; e “lore’’, que significa sabedoria popular. Entretanto, a atmosfera de globalização vigente tem como consequência a padronização de valores com vistas ao consumo. Dessa maneira, a valorização do folclore é uma tentativa de resgate de culturas diversas, responsáveis pela identidade do povo brasileiro. “Folclore não é apenas folguedos e festas. É a história construída pelos anseios, aspirações e esperanças de um povo, é uma linguagem na qual se manifesta a unidade que mobiliza multidões, que busca a sua verdade na identificação da cidadania, preservando seus valores e mantendo vivas suas raízes por gerações”, diz Claudia Maria Assis Rocha, pesquisadora cultural. Essa valiosa herança que compõe o ‘’museu vivo’’ de uma nação é dificilmente identificada e valorizada pela maioria das pessoas. Às vezes, elas dizem que não gostam de folclore por terem uma ideia limitada sobre o que ele significa. Pensam que se restringe às lendas do Saci e do Boto Cor de Rosa, e nem imaginam que o fato de terem uma colher de pau e uma rede em casa é um indício folclórico. Um dos principais fatores que conspirou para essa falta de

Arte de rua, de autoria de Emerson Agulha, exposta na Cinelândia, no Rio de Janeiro

reconhecimento cultural foi a elevação dos Estados Unidos à potência mundial, contexto em que o mundo passa por um processo de ocidentalização, disseminando e impondo suas formas de consumo, crenças e costumes. Segundo Eduardo de Freitas,


colaborador do site educacional Mundo Educação, isso ocorre por meio dos veículos de comunicação de massa. Seriados, músicas e principalmente o cinema transmitem valores e modelos a serem seguidos, ditando ao mundo o que se deve vestir, comer, comprar, assistir e ouvir. Com essa padronização de comportamentos que ameaça o sentimento de identidade local, nacional e de continuidade, muitas culturas próprias de um país foram quase esquecidas em razão da valorização do estrangeiro. Um exemplo desse descaso no Brasil é a incrível adoração dos super-heróis americanos, como o Super-Homem ou Homem-Aranha, em detrimento da rica cultura brasileira manifestada na figura de personagens genuinamente nacionais, como Macunaíma ou o Saci Pererê. Entretanto, a partir da habilidade do folclore de resistir às transformações do mundo globalizado em sintonia com as crenças próprias de uma nação, as lendas, por exemplo, quando ameaçadas pela desvalorização causada pelo abalo desse equilíbrio, são defendidas por movimentos intelectuais que atuam como “salvadores da pátria’’. Houve o Pau-brasil, do Modernismo, e as músicas do tropicalismo, que modificaram os padrões artísticos vigentes, introduzindo uma nova forma de expressão artística, que prezava pela linguagem natural e a originalidade nativa. Movimentos como esses proporcionam o retorno às tradições antigas e acabam também por reavivar o folclore brasileiro, resgatando a nossa cultura popular. Outro exemplo são as diferentes propostas e ensinamentos das temporadas do conto que virou série de televisão, O Sítio do Pica Pau Amarelo. Com isso, fica evidente que a massificação cultural não descarta o que é genuinamente popular, mas o descaracteriza, ressignificando seus elementos em novos contextos, numa tentativa de fazer com que a população se identifique melhor com eles. Além dos movimentos que lutam pela preservação do folclore, a própria Constituição Federal de 1988, nos artigos 215 e 216, que tratam da proteção do patrimônio cultural brasileiro, reforçam a necessidade de preservar a nossa identidade cultural, “os bens materiais e imateriais, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. Isso deixa claro que é de extrema importância que a sociedade tome consciência de que a cultura faz parte de um povo. E sem cultura o povo não tem identidade, sendo necessário resistir à padronização globalizante e ao preconceito.

Arte feita em ajulejo exposta na estação General Osório, também no Rio de Janeiro

Como diz o jornalista Luiz Antônio Barreto, “quando uma criança, homem ou mulher, faz sua iniciação no ambiente da cultura popular, garante a continuidade dos repertórios, aos quais, com certeza, um dia se precisará recorrer, para buscar a identidade”. Essas palavras são um pedido ao povo para que sinta todas essas heranças mutantes correndo em suas veias e cessar com o desperdício de não reparar que o candomblé, as panelas de barro e a capoeira transbordam de riquezas e que representam as cores e a diversidade que compõem o nosso País.

*Uma das virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

11


como se faz!

GRÊMIO ESTUDANTIL Participação política e cidadã pode começar na escola

Alcebino Silva, Virajovem de Sud Mennucci (SP); Reynaldo Azevedo, do Virajovem Lavras (MG)*; e Bruno Ferreira, da Redação

A

sua escola tem grêmio estudantil? Não? Então, que tal propor a ideia para a direção? O grêmio estudantil se compõe de um grupo de estudantes que pensam em ações de melhorias para a escola junto aos gestores, além de organizar eventos culturais e de lazer, que promovem a integração dos alunos e vivências educativas lúdicas, para além da sala de aula. Argumente com os diretores e coordenadores pedagógicos sobre a importância de estabelecer um grêmio na escola. Diga a eles que a Lei Federal nº 7.398, de 4 de novembro de 1985, assegura a existência de grêmios estudantis e os define como: “entidades autônomas representativas do interesse dos estudantes secundaristas com finalidade educacional, cultural, cívica, esportiva e social”. Trata-se de um espaço riquíssimo de possibilidades, em que os gremistas representam os alunos da escola e contribuem para a garantia de direitos e ações para a melhoria do espaço escolar. Nessa edição, indicamos um passo a passo de como organizar uma chapa para concorrer às eleições do grêmio estudantil.

Passo a passo 1. Inicialmente você precisará elaborar uma chapa para concorrer às eleições do grêmio. Para isso, é necessário reunir um grupo de pessoas interessadas em defender e representar os estudantes. O ideal é que esse grupo tenha um conjunto de propostas de ações para a escola e os estudantes, e que elas integrem um plano de ação do grêmio. Não se esqueça de pensar em um nome bem legal para a sua chapa. 2. Procure ouvir as demandas dos estudantes da escola, saber o que eles querem de melhoria para o espaço escolar, o que não inclui reformas, mas a promoção de eventos de integração, que visem o lazer, a cultura e a formação dos alunos. Depois, elabore um plano de gestão com base nas demandas dos estudantes e intenções do grupo.

3. Depois da chapa formada, nome escolhido e linhas de trabalho já estabelecidas, é necessário dar visibilidade às propostas. Produza cartazes, fanzines e jornais murais. Espalhe pela escola, bairro, pontos de ônibus, etc.. Você aprende a confeccioná-los nas edições 82 e 83 da Vira!

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal



imagens que viram

Ibitipoca, maravilha de Minas

Sandro Vinícius, do Virajovem Lima Duarte (MG)*

O

Parque Estadual do Ibitipoca localiza-se na Zona da Mata mineira, nos municípios de Lima Duarte e Santa Rita do Ibitipoca. Foi eleito como 3º melhor parque da América Latina pelo prêmio Traveller’s Choices 2013, do site de viagens Trip Advisor, que levou em conta a avaliação de milhões de viajantes. A palavra Ibitipoca é de origem tupi, em que “ybytyra” significa serra e “pok”, estouro. Em 2012, cerca de 55 mil pessoas visitaram o Parque. Sua vegetação compõe-se de campos arenosos, cerrado de altitude, manchas de florestas e campos rupestres. Uma característica interessante dos galhos das árvores é a presença do líquen “barba-de-velho”, que dá um aspecto único à paisagem. Tanto na fauna como na flora há grande diversidade, até mesmo animais em extinção. A área apresenta lugares lindos: mirantes, cachoeiras, lagos, grutas, cavernas e praias. Lá, a água tem coloração esverdeada por conta da matéria orgânica do parque e ainda por cima é potável. Esse conjunto de belezas faz de Ibitipoca um paraíso. Recomendo a visita!


*Um dos virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

15


Um banco para chamar de nosso Banco comunitário, na Grande Fortaleza, está mudando a realidade de comunidades na região Rones Maciel e Daniela Dias Landim, do Virajovem Fortaleza (CE)*

Q

ual a primeira palavra que vem à sua cabeça quando se fala em banco financeiro? Pelo menos em uma destas você deve ter pensado: dinheiro, taxas, juros, cheque ou cartão de crédito. Mas que tal conhecer e pensar em outro modelo de banco? Um que tenha uma atuação mais comunitária, social e transformadora? Estamos falando do banco popular ou banco comunitário. Eles ainda são poucos no Brasil, mas esse tipo de iniciativa já toma forma e transforma a realidade de muitas comunidades. Uma dessas experiências é o Banco Comunitário Paju, com sede na cidade de Maracanau, município na Região Metropolitana de Fortaleza, no Ceará. O Banco Comunitário de Pajuçara (Paju) surgiu em 2006 pela necessidade dos moradores e associações do Distrito de Pajuçara terem dentro da comunidade um serviço financeiro e bancário que incentivasse o desenvolvimento local. “Em síntese, o Banco Paju é um serviço financeiro de apoio à economia popular que tem como desafio articular simultaneamente a produção, comercialização, capacitação, bancarização e financiamento dos empreendedores locais, tendo por base os princípios da economia solidária”, explica Daniela Dias, coordenadora financeira. O Banco Paju durante toda a semana está com suas portas abertas para realizar diversos serviços financeiros e bancários à comunidade, como abertura de contas, recebimentos de boletos e benefícios sociais, e ainda o microcrédito produtivo orientado. “Realizamos também projetos na área do

16

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106


empreendedorismo como capacitação empreendedora, cursos e acompanhamentos. Para ter acesso ao microcrédito, a pessoa deve ter uma atividade econômica e ser moradora do município de Maracanau”, ressalta Daniela.

Oficinas com crianças transformam palito de picolé em objetos decorativos

Um dos projetos de atuação que o Banco Paju está desenvolvendo é o de casas populares para os moradores da comunidade indígena Pitaguarys. As novas casas irão substituir as antigas de taipa, já em estado precário. O projeto faz parte do Programa Nacional de Habitação Rural – Empreendimento Maracanaú I, uma linha do programa de habitação do governo federal Minha Casa Minha Vida. No total, serão entregues 300 casas de alvenaria construídas até o final do projeto. Outro projeto está voltado para o empreendedorismo e gênero: Mulheres Empreendendo na Comunidade. São cursos e financiamentos para cerca de 500 mulheres de baixa renda no município de Maracanau. Além do crédito, recebem capacitação profissionalizante de cabeleireira, preparação de doces e salgados, manicure e comércio varejista. Isso gera desenvolvimento local e geração de renda para suas famílias e, consequentemente, para a comunidade. O dinheiro acaba circulando pela comunidade e voltando para o banco para gerar novos financiamentos. Quem também recebe a atenção e o apoio do Banco Paju são as crianças de comunidades próximas. Um exemplo é o Projeto Resgatando Valores Perdidos. Crianças, moradoras da favela do Flamenguinho, em Pajuçara, aprendem a respeitar o meio ambiente e a gerar novos valores por meio da reciclagem de materiais como palito de picolé e garrafas pet, que iriam para o lixo, mas são transformados em arte.

Fotos: Banco Paju

Ideias que transformam

Comunidade recebe com festa a entrega das novas casas

Roda de conversa sobre acesso ao crédito

tá na mão Conheça mais: Fan Page: https://www.facebook.com/BancoPaju?fref=ts Blog: http://bancopaju.blogspot.com.br/

Confira os links sugeridos pelos QR Codes!

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

17


capa

para quem ?

iado no Brasil. No entanto,

O maior evento esportivo do mundo será sed

movimentos sociais e especialistas dizem que não há motivos para

comemorar

Sebastian Roa, do Virajovem Manaus (AM); Paolla Menchetti, do Virajovem Natal (RN)*; Bruno Ferreira e Carolina Ellmann, da Redação; e Guilherme Almeida, colaborador da Vira em São Paulo (SP)

Á

frica do Sul, 2010. Milhões de torcedores compareceram em massa aos estádios. Muita alegria, descontração e “segurança”. A mídia toda de olho nas estrelas do futebol mundial, elogios às cidades, reportagens mostrando as belezas locais. Esse foi o dia a dia do país que sediou um dos maiores megaeventos do mundo e apenas um dos tantos panoramas sociais que a Copa propicia em dias de jogos. Entre alegrias e vitórias dentro dos gramados, houve tristezas e violações fora deles. Enquanto as seleções jogavam pela vitória, muitos jovens e adolescentes lutavam pela vida. Este lado do megaevento, o governo africano e as mídias mundiais não mostraram; e como “entre céu e terra não há nada escondido”, diversas violações vieram à tona ao término do grande campeonato. Grupos de adolescentes e jovens vítimas de exploração sexual se manifestaram. Casas de prostituição localizadas ao redor dos estádios foram construídas, violações aos direitos humanos, entre tantas outras barbaridades que os dirigentes, tanto do governo, como da Fifa, jogaram embaixo do tapete, iludidos que esses problemas seriam esquecidos e nunca mais voltariam à tona. De fato, não voltaram, mas nunca foram esquecidos, sendo exemplos para outros países. Esse é o atual panorama de nosso País em relação à Copa. A maioria das estruturas e projetos andam em desvantagens com o cronômetro da Fifa. E é justamente

18

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

desse detalhe que vêm o grande problema: a preocupação com o término de todas as obras no prazo estipulado está deixando de lado o cuidado que se deve tomar com as crianças, adolescentes e jovens, tendo em conta que alguns Estados que sediarão os jogos já têm um índice de prostituição e exploração sexual infantojuvenil bastante elevado. Especialistas em direitos humanos indicam a falta de um plano de prevenção contra esses abusos por parte das esferas governamentais, principalmente municipais. As principais iniciativas têm surgido de organizações não governamentais que, preocupadas com o descaso das autoridades públicas, realizam atividades que sensibilizam a sociedade civil dos avanços e perigos que o megaevento trará. A África do Sul é um grande exemplo dos problemas que um megaevento acarreta para os cidadãos mais vulneráveis. Portanto, cabe ao Brasil perceber que com grandes eventos, sempre há muitos riscos, sendo que a violação aos direitos humanos é um deles.


Impactos econômicos e violações de diretos

Valter Campa

nato/Agênc ia

Brasil

Desde 2007, quando o Brasil foi anunciado como anfitrião da Copa do Mundo de 2014, muito foi falado em relação à necessidade e a capacidade do País de receber esse megaevento. Infraestrutura logística, turismo e exposição no cenário internacional são os temas mais comentados pelo governo. Depois da realização da Copa das Confederações em junho do ano passado, algumas desvantagens ganharam espaço no debate. A BBC Brasil publicou uma entrevista com especialistas britânicos que dizem que o evento pode ser mais negativo do que positivo ao Brasil. Simon Kuper e Stefan Szymanski, Soccernomics, apresenta uma pesquisa autores do livro Soccernomics sobre o impacto econômico da Copa nos países que a recebem. “Sediar uma Copa do Mundo não traz nenhum legado econômico. Se você quer impulsionar a economia com o dinheiro do povo, que paga impostos, é melhor investir em escolas e hospitais”, disse Kuper à reportagem. No Brasil, movimentos sociais se organizam para expor como a realização desse megaevento traz malefícios para a população. “O primeiro legado da Copa são as remoções forçadas. A Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa estimam em 250 mil o número de pessoas removidas ou ameaçadas nas 12 cidades sede”, denuncia Juliana Machado, membro do Comitê Popular de São Paulo. Representantes do governo brasileiro, como o Ministro do

Tomaz Silva/Agência Brasil

Esporte Aldo Rebelo (PCdoB), falam em números expressivos de avanço econômico relacionados à Copa, a partir de estudos de consultorias contratadas em 2010, como a Ernst & Young e a Value Partners. Divulgou-se, por exemplo, a geração de 720 mil empregos, atração de 600 mil turistas estrangeiros e impactos econômicos de até 142 bilhões de reais. Segundo Juliana Machado, esses números, ainda usados pelo governo, são superestimados. “O Comitê admite que o turismo é um setor que deve ter um avanço durante esse período. Por outro lado, a gente sabe que na África do Sul, na Copa do Mundo de 2010, a expectativa de crescimento do turismo não foi correspondida à estimativa do governo de lá”, diz. Juliana se refere a pesquisas de grandes universidades brasileiras para respaldar suas críticas. De acordo com o texto de Marcelo Proni e Oliveira da Silva, do Instituto de Economia da Unicamp, “estudos [usados pelo governo] introduzem hipóteses que simplificam demais as projeções e ignoram preceitos econômicos” com a intenção de “alimentar altas expectativas em relação aos efeitos positivos da Copa”. Segundo Proni, essa projeção “demasiadamente otimista” serve para justificar os investimentos públicos no projeto. Aproximadamente 85% dos 25,5 bilhões de reais que a Copa custará serão pagos pelo Poder Público ou com financiamento concedido por bancos estatais.

Em Brasília, manifestantes protestam contra o uso de dinheiro público em obras da Copa


No Rio de Janeiro, o “vale tudo pela copa” atinge os moradores do Complexo da Maré, o maior conjunto de favelas da capital fluminense. Os 130 mil moradores que habitam as 16 favelas do complexo sofrem com a intervenção militar, que conta com o apoio do governo federal. Tudo isso porque a Maré fica entre a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, importantes vias de acesso da capital, em especial ao Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, o Galeão. O governo quer demonstrar, para os turistas, que a favela está sob controle. Na última semana de março, a intervenção começou com a entrada do Bope na Favela, substituído pelo exército no último 5 de abril. Moradores da Maré reagiram por meio de um manifesto contra a ocupação militar, publicado no blog Maré Vive. No texto, um grupo de moradores afirma temer pela vida da população da Maré, uma vez que essa ação representa um ataque do Estado. “É visível que quem usa tanques de guerra contra a sua própria população não busca diálogo, ainda menos participação e tampouco está preocupado com os nossos direitos. O tanque apontado para nós é uma violação mais do que somente de direitos, é uma violação a qualquer ideia de Estado democrático de direito. A ocupação militar nem começou e o projeto já faliu pelo que é: mais um ataque brutal militar contra territórios populares urbanos”, diz trecho do manifesto. Os moradores manifestam ainda a indignação com o apoio da prefeitura e governo do Estado com essa ocupação das forças armadas e lembra que, mesmo passados 50 anos do golpe militar, a atitude de oprimir por meio do exército ainda é preocupante. “É inaceitável que governantes estejam muito mais preocupados com uma Copa do Mundo a ponto de priorizar e gastar valores absurdos da verba pública, no evento que durará um único mês, em vez de se preocuparem com boas escolas, bons hospitais, bom saneamento, bom transporte e que todos estes direitos sejam públicos e acessíveis, os quais precisamos 365 dias por ano. Em vez de melhorar o que nas favelas já construímos, continuam vindo para destruir, para remover, para torturar e para matar”, diz outro trecho do manifesto, que pode ser lido na íntegra em: http://marevive. wordpress.com/

20

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

Página Maré Vive/F ace

book

Moradores de comunidades cariocas sofrem com a intervenção militar por conta da Copa

Mail Online

Maré Vive

Confira o link sugerido pelo QR Code!


Lei da Copa cria Estado de Exceção

Mail Online

A Copa do Mundo é um produto de uma empresa privada sediada na Suíça, a Fifa. No entanto, quando um país se candidata a receber o evento, tem que garantir uma série de imposições da Federação Internacional na forma de leis. Os pontos regulados por essa nova legislação vão da concessão de vistos, direitos comercias de imagem e controle do ambiente interno e externo dos estádios. Em vigor desde 5 de junho de 2012, a Lei Geral da Copa muda em caráter excepcional a legislação do próprio País durante o período do campeonato. A integrante do Comitê Popular de Copa de São Paulo, Juliana Machado, destaca que além do Estatuto do Torcedor, essa norma interfere de forma abrupta na cultura do futebol brasileiro. “São Paulo tem mais de 138 mil trabalhadores ambulantes. Essas pessoas já têm suas condições complicadas há alguns anos pela prefeitura. Agora não poderão trabalhar nos estádios, nem nas exibições públicas dos jogos”, diz. O comércio ambulante no raio de dois quilômetros, assim como a publicidade de marcas que não sejam patrocinadoras da Copa, passa a ser crime punível com detenção de três meses a um ano ou multa. Juliana relaciona o perímetro de controle em torno das exibições públicas dos jogos – que acontecerão no Vale do Anhangabaú – com shopping centers. “A Copa das Confederações de junho foi um resumo do que a gente vai ver neste ano: o espaço público privatizado, cercado, securitizado e militarizado para impedir a presença de pessoas indesejadas, assim como a gente vê com os rolezinhos nos shoppings”, analisa.

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

21


q Na rota do tráfico e turismo sexual Dados da ONU em 2012 já apontavam que, com a vinda da Copa ao Brasil, o nosso País deixaria o segundo lugar no ranking de exploração sexual infanto-juvenil e ficaria no primeiro do mundo. As observações das Nações Unidas foram acertadas e hoje, especialmente nas Regiões Nordeste e Norte, estão mais evidentes. Além da exploração sexual de adolescentes e jovens, muitas mulheres também sofrem nas mãos de exploradores, em situações em que a prostituição é forçada ou em que as mulheres que vendem o corpo são agredidas física e moralmente. Em Natal, a ambulante Benedita Costa demonstrou sua preocupação com o tráfico de mulheres. Segundo ela, turistas estrangeiros as agridem com frequência. “Em Natal sempre teve muitas mulheres se prostituindo, aqui mesmo perto da praia, mais à noite, as esquinas ficam cheias. Mas é muito perigoso, tem muitas histórias de violência, de mulheres levadas embora por turistas, porque aqui no Nordeste sempre tem muito turista estrangeiro”, conta. A Câmara dos Deputados possui uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga o tráfico de pessoas no Brasil. A deputada federal Flávia Albuquerque Morais (PDT/GO), integrante da CPI do Tráfico de Pessoas, esclarece o papel dessa comissão: “Cabe-nos a competência de cuidar desses casos e os episódios de tráficos de mulheres serão encaminhados e investigados por nós.” A deputada Jô Moraes (PCdoB/MG), quando questionada sobre os trabalhos da CPI que trata da prostituição e tráfico de mulheres relacionadas à Copa, confessa que discussões mais polêmicas como essas não chegam em consenso entre os deputados da Casa, inclusive entre as deputadas, muitas das quais fazem parte *Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

22

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

de partidos conservadores. “A Casa possui muitas limitações e pautas como essas são difíceis. Os mascarados precisam sair da obscuridade e mostrar a cara. Tem coisas que só os movimentos sociais podem fazer. No ano passado, isso aqui tremeu, trazendo avanços. Mas ainda passamos por um momento de resistir para não retroceder”, afirma. As discussões sobre a legitimação das opressões sobre o corpo das mulheres é interminável, mas alguns dados já são o bastante para imaginarmos a dimensão dos problemas que a Copa pode trazer. As Copas anteriores dão margem para imaginarmos o que está por vir. Na Alemanha, por exemplo, a prostituição foi regulamentada às vésperas da Copa. Com isso, o aliciamento, o tráfico e até mesmo a escravidão de mulheres foi facilitada e permitida pelo Estado. Cerca de 40 mil mulheres foram levadas para bordéis instalados em cidades como Berlim, para servir aos turistas. Na África do Sul, o Governo Zuma não legalizou a prostituição, mas fez vistas grossas ao aumento exponencial das mulheres traficadas para o evento. Segundo dados da polícia de Maputo, mulheres chegaram a ser vendidas por 670 dólares. E no pós-Copa do Mundo, o trafico de mulheres aumentou em 70% no país.


quadrim

O meu nome é Severino Nobu Chinen, crítico de quadrinhos

E

mbora São Paulo e Rio concentrem o grosso da produção de histórias em quadrinhos no Brasil, fora desses centros também existe um efervescente movimento cultural e artístico que nos revela obras originais e inusitadas como é o caso da adaptação para os quadrinhos do poema Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, feita por Leugim, pseudônimo do cartunista Miguel Falcão, em edição lançada pela Fundação Joaquim Nabuco em conjunto com a Editora Massangana, de Recife. A história conta a trajetória do migrante Severino, em busca de melhores oportunidades de sobrevivência. Ele parte do sertão pernambucano, cheio de otimismo e de esperança, fugindo da seca, rumo à cidade de Recife, no litoral. No entanto, em sua jornada solitária, Severino vai se deparando com a miséria, a morte e a falta de perspectivas. A viagem de Severino é semelhante a de milhares de flagelados que, durante décadas, vinham para as grandes cidades brasileiras, atraídos pelo sonho de uma vida melhor. Alguns se deram bem, mas, para muitos, o que restou foi a desilusão.

Por que é importante ler? João Cabral de Melo Neto é um dos grandes poetas brasileiros e esse poema, especificamente, é sua obra mais conhecida. Já foi adaptado para o cinema e para a TV, com grande sucesso, mas a versão mais conhecida é a encenação teatral para a qual o compositor Chico Buarque musicou todo o texto.

Por que é legal ler? Além de publicar o poema Morte e Vida Severina na íntegra, o álbum traz soluções visuais muito bem sacadas, em um estilo muito peculiar e que combina com o tema.

Além da pobreza extrema, o poema denuncia a injustiça social, a violência e os desmandos dos grandes proprietários de terra que não relutam em mandar matar quem se interpõe em seu caminho. É um retrato dramático de uma realidade que ainda hoje marca certas regiões do nosso País. O poema foi concebido como um auto, um tipo de narrativa tradicional criado para ser encenado por ocasião do Natal. Pelo fato de ser composto em versos rimados impõe uma grande dificuldade para se adaptar sem alterar o texto. Os desenhos de João Miguel dão conta da tarefa com grande competência. As variações de ângulos, do recurso à alegoria e às metáforas, enriquecem o poema e contribuem para torná-lo ainda mais belo. Para ler e refletir! A saga de Severino reflete uma realidade social que aflige boa parte do mundo, que é o êxodo de pessoas entre países e continentes.

tá na mão O álbum em quadrinhos serviu de base para um desenho animado interessante e muito bem produzido. Ambos estão disponíveis gratuitamente no site da TV Escola, do Ministério da Cultura, nos links: http://bit.ly/PTZe6D e http://bit.ly/1fXTORZ.


galera repórter

Na linha do combate Jornalista investigativo Mauri König é reconhecido exploração por sua atuação na denúncia de redes de sexual infanto-juvenil no Brasil

Josiane Amélia, Rafaela Cortes, Toniel Novak, Paula Nishizima, Juliana Cordeiro e Flávio Freitas, do Virajovem Curitiba (PR)*

O

dia 18 de maio define o dia da luta contra a violência sexual infanto-juvenil no Brasil. O enfrentamento à violência e à exploração sexual acontece diariamente e há pessoas com trajetória reconhecida por sua atuação na promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Entre elas, o jornalista paranaense Mauri König, repórter especial do jornal Gazeta do Povo. Mauri König já realizou diversas matérias investigativas que denunciam violações de direitos humanos. Em 2003, recebeu o título de Jornalista Amigo da Criança pela Rede Andi Brasil, um reconhecimento pelas reportagens que denunciaram a exploração sexual infanto-juvenil. Sensibilizado pela causa da infância e adolescência, Mauri König percorreu as cinco Regiões do Brasil para revelar uma rede de exploração sexual de crianças e adolescentes em seu livro Brasil Oculto, lançado em 2013. Durante a conversa, o jornalista relata uma pesquisa feita pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2004, na qual se observa uma falta

24

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

de compreensão sobre o que se caracteriza como exploração sexual. “Entende-se como exploração sexual somente quando a criança tem idade igual ou inferior a dez anos. Porém, quando é uma préadolescente de 12 ou 14 anos, não é considerado crime. Predominando, assim, o conceito moral de exploração sob o legal propriamente dito.” Confira a seguir o bate-papo com Mauri Köning. O jornalismo investigativo envolve muitos riscos. Sabendo disso, o que o levou a não desistir? Confesso que eu era um pouco ingênuo. Não tinha noção dos riscos que implicariam uma investigação jornalística. Até que em dezembro de 2000, aconteceu uma represália da polícia nacional do Paraguai, durante a apuração de um assunto, em que sofri uma agressão. E ali, me dei conta realmente de que o jornalismo poderia ser muito perigoso se não houvesse uma série de precauções. Aprendi na prática e a duras penas de que o jornalismo pode ser perigoso para quem está instigando um assunto que outras pessoas querem esconder.


Quais dificuldades encontradas na produção de coberturas investigativas? É conseguir a informação fundamental. Ela pressupõe revelar algo que alguém ou algum grupo esteja querendo esconder, por estar tirando vantagem. Conseguir informações que comprovem a irregularidade, pois o jornalista depende de fontes e nem sempre a gente consegue convencer as pessoas que possuem a informação do quanto isso é importante para a sociedade, se vir a ser revelado. Eu mesmo tive algumas reportagens que não puderam seguir adiante por não conseguir convencer as pessoas. Em contrapartida, tive vários outros exemplos de boa vontade das pessoas que colaboram, apesar dos riscos que poderiam correr. Há uma dificuldade maior em reportagens relacionadas à exploração sexual infantil? O livro Brasil Oculto é resultado de 42 mil quilômetros de viajem pelos extremos do País. Era um trabalho de infiltração mesmo. Nós íamos não com os nossos crachás de jornalistas, mas como turistas eventuais, conversávamos com as fontes de informações sem revelar diretamente nossas identidades. Nós nos apresentávamos com os nossos nomes de batismos, porque, do contrário, não teríamos descoberto a maioria das informações. Nós, como parte integrante desse círculo, por exemplo, íamos a locais onde havia prostituição, como possíveis clientes, para descobrir se ali existia exploração de crianças e adolescentes. E quando essas fontes eram crianças e adolescentes? Vou citar um exemplo, isso pelas viagens nas fronteiras, em 2004, na cidade de Leste no Paraguai, na fronteira com Foz do Iguaçu, eu, Albari Rosa (fotógrafo) e o fotógrafo paraguaio Oscar Florentin estávamos voltando de madrugada de várias boates, paramos em uma barraquinha de periferia e encontramos uma criança de

“A exploração sexual de crianças e adolescentes é um tipo de crime negligenciado pelas autoridades brasileiras e há certa permissividade da sociedade com essa exploração.” Mauri König

12 anos de idade que estava sendo explorada por uma adolescente de 14 anos, que, por sua vez, era explorada sexualmente pelos pais. Essa menina ficara teoricamente “cuidando” da barraquinha, quando, na verdade, ela estava sendo obrigada pelos pais a fazer programas sexuais e ali nós encontramos a outra menina menor. E nos impactou de tal forma que, no dia seguinte, procuramos as autoridades paraguaias, e acompanhamos uma operação de resgate a essas meninas. Qual foi sua motivação na escolha do título do livro Brasil Oculto? O problema da exploração sexual de crianças e adolescentes ocorre em todo tipo de ambiente do Brasil. É um tipo de crime negligenciado pelas autoridades brasileiras e há certa permissividade da sociedade com essa exploração, por isso demos o nome do livro de Brasil Oculto. Acontece nos bastidores da sociedade, no submundo, mas também porque as pessoas não querem ver, preferem deixar o problema oculto. *Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

25


Em casa, nos hotéis e na rodovia O que um município portuário tem feito para enfrentar as violências sexuais contra crianças e adolescentes quando elas vêm de todos os lados Diego Henrique da Silva, do Virajovem Curitiba (PR)*

O

primeiro contato do “homem branco” com o que hoje é Paranaguá (PR) aconteceu por um motivo: a busca por ouro, em 1550. O tempo passou e, dessa vez, a preciosidade que tem sido buscada são os corpos de meninos e meninas para fins sexuais. A maior parte dessas violações não é realizada por um forasteiro e sim por alguém que divide o mesmo teto com a vítima. “Os casos de abuso sexual acontecem, principalmente, dentro de casa. A criança é silenciada pelo terror que o agressor põe na sua cabeça. Quando a mãe sabe da violência, o silêncio se dá por conta de o marido ser o provedor e existir uma relação de dependência financeira”, explica Jussara Ferreira das Neves, atual coordenadora do Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS) de Paranaguá. Uma menina de quatro anos, por exemplo, ficou com a genitália machucada pelas mãos do próprio pai, que a tocava de forma abusiva. Outro caso de violência na cidade foi o de uma menina de oito anos, estuprada pelo primo adulto. Ele dilacerou seus órgãos do sistema genital e a garota teve que ser submetida à cirurgia. Essas informações são de profissionais que trabalham no CREAS e no Conselho Tutelar de Paranaguá. A cidade tem um CREAS, quatro Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) e cinco conselheiros tutelares para atuar com 160 mil habitantes, quantidade que, apesar de estar dentro dos parâmetros nacionais, pode ser considerada insuficiente no cotidiano de trabalho. “A escola acaba sendo nossa parceira. É lá que se fica sabendo de muita coisa e de onde vem grande parte da demanda”, avalia Jussara. “O professor e a equipe pedagógica são o segundo grupo de pessoas que mais passa tempo com a criança. Quando ela é

26

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

vítima de violência, acaba contando para o professor, pois o vê como um colaborador”, explica Simone Rodrigues do Rosário, atual presidente do Conselho Tutelar de Paranaguá.

À beira da estrada, o perigo continua Dentro de casa não tem sido seguro para muitas crianças e adolescentes e na rua a história não é diferente. O último mapeamento (2011 – 2012) dos pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais brasileiras apontou a existência de 111 locais favoráveis a esse tipo de violência no Paraná. Em todo o Brasil, foram identificados 1.776 pontos. O Paraná é o sexto colocado nesse ranking, ficando atrás de Minas Gerais (252 pontos), Pará (208), Goiás (168), Santa Catarina (113) e Mato Grosso (112). O mapeamento foi fruto de parceria entre Childhood Brasil, Polícia Rodoviária Federal, Organização Internacional do Trabalho e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Hotéis facilitam a exploração A reportagem vencedora da Categoria Temática Especial do 6º Concurso Tim Lopes de Jornalismo


Investigativo, publicada em 2012, averiguou a conduta de 33 hotéis na hospedagem de um adulto acompanhado de uma adolescente sem documentação, em cinco cidades do Paraná. Dos hotéis investigados, apenas quatro não permitiram essa ação. Três estabelecimentos de Paranaguá foram “testados” e cederam à prática ilegal, pois não preencheram a Ficha Nacional de Registro de Hóspedes nem exige a autorização expressa dos responsáveis.

Adolescentes participantes da edição 2014 do projeto Navegando nos Direitos

Além de contar com as ações dos adultos da rede de proteção, é preciso apostar no potencial das próprias crianças e adolescentes. Em Paranaguá, o projeto Navegando nos Direitos é uma dessas iniciativas em que os jovens são agentes mobilizadores. Por meio de oficinas de educomunicação, promovidas pela ONG Ciranda – Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência, os integrantes do projeto discutem sobre o enfrentamento ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes e utilizam técnicas de comunicação para produzir materiais gráficos, blitz educativas, campanhas de conscientização na cidade, dentre outras ações. Com isso, o projeto também ajuda os participantes a se tornarem cidadãos atuantes. “Antes, eu não tinha nenhuma ligação com política, não gostava de interagir. Agora, melhorei como pessoa. Percebo um desejo de ajudar o próximo e de querer um Brasil melhor”, comenta Brenda Letícia, de 17 anos, que já participou do projeto. O CREAS busca distribuir materiais de formação para as escolas trabalharem o assunto com os estudantes e atua com o projeto Porto em Ação que, mensalmente, realiza trabalho de conscientização com os caminhoneiros no pátio de triagem do Porto de Paranaguá, o maior porto graneleiro da América Latina, que atrai grande número de veículos que ali descarregam suas mercadorias. A exploração sexual de crianças e adolescentes é uma das piores formas de trabalho infantil e o Brasil se comprometeu a erradicá-la até o final de 2016. Para 2020, a meta é acabar não só com as piores formas, mas com todo tipo de trabalho infantil e irregularidade no trabalho adolescente.

Fotos: Diego H. da Silva

E pra solucionar, #comofaz?

Oficinas de educomunicação prepararam adolescentes para a mobilização contra as violências sexuais

*Um dos virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

tá na mão Acompanhe as atividades do projeto Navegando nos Direitos pelo site: https:// facebook.com/navegandonosdireitos.73

Confira o link sugerido pelo QR Code!

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

27


Jovem, você tem direitos! O Estatuto da Juventude estabelece direitos de adolescentes e jovens. Nesta seção, saiba mais sobre direito à participação, prevista no documento Alcebino Silva, Virajovem de Sud Menucci (SP); Evelin Haslinger, do Virajovem Porto Alegre (RS)*; e Bruno Ferreira, da Redação

Direito a Cidadania, à Participação Social e Política e à Representação Juvenil O Artigo 4° diz que “O jovem tem direito à participação social e política e na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude”. Na prática, isso significa que podemos e devemos atuar como protagonistas nas ações que nos dizem respeito. Cabem aos jovens, a partir de agora, cobrar e ocupar espaços de participação e tomada de decisões, posicionando-se como sujeitos de direitos. *Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Estatuto da Juventude estabeçece direitos e diretrizes para políticas públicas voltadas aos jovens

No entanto, para o professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador em políticas públicas da juventude Rafael Barreiro, o Estado ainda peca na viabilização de espaços de participação política da juventude. “É difícil pensar em um instrumento legal como o estatuto que defende a participação dos jovens nos diversos cenários políticos sem estratégias efetivas, ações por parte dos órgãos públicos que seguem este documento, assegurando o acesso de qualquer jovem na reivindicação de seus direitos, independente de sua filiação a movimentos sociais, partidários etc”, afirma. Fabrício Lopes, ativista de políticas públicas de juventude, entende que faltam espaços permanentes para a participação e representação juvenil: “Alguns espaços específicos de participação da juventude existem. Porém, muitos deles, infelizmente, ainda possuem uma grande sazonalidade no seu funcionamento. O objetivo deste ponto do Estatuto é garantir que espaços como os Conselhos de Juventude, por exemplo, se tornem estruturas permanentes e adequadas para realizarem a avaliação e o controle social das políticas públicas de juventude”, diz.

Divulgação

O

ito meses após a aprovação do Estatuto da Juventude, muitos jovens ainda desconhecem os seus direitos. Sabendo disso, a seção E eu com isso? pretende discutir, a partir desta edição, aspectos do Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852/13), procurando compreender de que forma seus artigos podem ser colocados em prática. O documento estabelece os direitos dos jovens (de 15 a 29 anos), os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude. Trata-se de uma conquista que se deu em virtude da mobilização e participação de jovens num forte cenário político vivido no País, mais especificamente em 2005, a partir da criação do Conselho Nacional da Juventude (Conjuve) e a implementação da Política Nacional da Juventude (PNJ). Nesta edição, abordamos o artigo 4º do Estatuto. Confira a seguir!


Melhor do que isso... Veet Vivarta* são dez anos de uma atuação inovadora, construída com a participação ativa de adolescentes e jovens, em modelo de rede e em meio a um contexto desafiador. São, também, dez anos compartilhando informação de qualidade com milhares de leitores, alimentando nossa capacidade de pensar criticamente sobre esse mundo complexo e surpreendente que torna a bater todos os dias em nossa porta. Para a ANDI, poder estar junto nas comemorações por esses dez anos é motivo de alegria e orgulho. Mais do que isso, temos certeza de que a Viração seguirá insistindo na prática da comunicação participativa, multiplicando amigos e se reinventando – o que irá fazer valer, também, cada um dos próximos dez anos que estão à sua frente. Como dizem os mestres zen, melhor do que isso só dois disso... Natália Forcat

V

ocê que lê a Viração certamente já ouviu falar na Convenção sobre os Direitos da Criança e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Esses documentos são referência fundamental para quem quiser entender como – e quanto – a sociedade brasileira conseguiu avançar, nas últimas décadas, na garantia dos direitos da população infanto-juvenil. Mas o que nem todo mundo sabe é que o processo de implementação dos princípios estabelecidos pela Convenção e pelo ECA não avança de maneira uniforme. Há temas que recebem mais atenção dos responsáveis por cuidar das políticas e programas. Há outros tópicos que acabam ficando em segundo ou terceiro plano. Um exemplo claro desse grupo menos privilegiado está no Artigo 13 da Convenção. Vale conhecer o início de seu texto: “A criança terá direito à liberdade de expressão. Esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e divulgar informações e ideias de todo tipo, independentemente de fronteiras, de forma oral, escrita ou impressa, por meio das artes ou por qualquer outro meio escolhido pela criança...”. Um estudo sobre os relatórios que os países devem enviar regularmente às Nações Unidas prestando conta dos progressos realizados na implementação da Convenção faz uma avaliação dura: praticamente não são desenvolvidas políticas públicas com foco na liberdade de expressão, no direito à comunicação ou na participação de crianças e adolescentes na produção de conteúdos de mídia. E o problema não é só do Brasil – é universal. Um cenário assim tão grave só irá mudar se tivermos gente trabalhando de verdade por isso. E é exatamente esse tipo de missão que a Viração assumiu, desde o início de sua jornada. A Viração mais do que merece, então, celebrar esses dez anos de atividade. Não é pouca coisa:

*Veet Vivarta é Secretário Executivo da ANDI – Comunicação e Direitos

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

29


mai ro qua tur, sitae. u laccae minc ium suntemp orit et od alibusciis su ndebis que ve rupta tiaeru maxim istiis expla ditatu r eribus et fu et esectur, o ccumqu aec ulpa nos al ut pernam a iq s sima que n u m nulparu sum enis ma xime comnit a tiuntem r cusam, sant. dit molupic to officie nim agniae cone volut ati qu i o ccum lignih Sérgio Rizzo* ic tet remp tius alisto c uptatis illit ioreped endu ea plautem nt m Central do Brasil (1998), dirigido por Walter Salles, com experorest ut e roteiro de Marcos Bernstein e João Emanuel Carneiro, et ut ommo volorum har um culliqua vemos o significado do que representa não saber escrever m nostrum q no cotidiano de trabalhadores, sobretudo migrantes que foram pa consecab ui o . is s ed quo venda buscar melhor sorte no Rio de Janeiro. Para se comunicar com abo. atum eumquam ne seus parentes, nos velhos tempos em que isso não estava ao m o l e n t ia t voluptat a alcance de um toque na tela do celular, os personagens que parchiitt, verib si is aparecem no início do filme recorrem a uma “escrevinhadora us qui conse q u iae dignatis de cartas” (Fernanda Montenegro) que monta uma banquinha voluptatur s endae sequia na estação ferroviária cujo nome é o título do filme. Como m rem facep prorrum rem descobrimos mais tarde, ela é uma pilantra, mas uma pilantra en sitaquist fug que sabe escrever. a. exceped m quam re velit agn Em O Leitor (2008), dirigido por Stephen Daldry e baseado ate non nobit na adaptação do dramaturgo David Hare para o romance a t e e strum quia itatibus dolu homônimo de Bernhard Schlink, vemos o que representa não ptatem. es sa m dit volo e saber ler na vida de uma trabalhadora alemã (Kate Winslet) xpel m o l e s t r u m faccupt atio que, para o seu azar, só poderá se defender de uma severa nes nis estiu oles aut ut acusação dos tempos de guerra caso admita ser analfabeta. q u id Analfabetismo é retratado it ib e ra q eis sand Parece simples, mas não é, ao menos não para a personagem, em diferentes enredosu et elignia ve i derundit que prefere encarar a prisão e só vai aprender a ler ao cumprir litiscontextos, no cinema d ic a b o r a m e laut occab a pena. Os que a acusaram para que fossem inocentados são se ea venissi or moralmente condenáveis, mas sua imoralidade teve êxito alit, cumqu e p o r ibero consec vidusan tiae porque sabiam ler. cab oreptate É bem outra a situação em Ela, dirigido por Spike Jonze, vides ut mol est, sincium upta que construiu seu prestígio realizando vídeos musicais. No a c c um quia pel cinema, teve uma bem-sucedida parceria com o roteirista Charlie isinctiate et qui derferum Kaufman em Quero Ser John Malkovich (1999) e Adaptação u lit, sitatur io nectendem. e (2002). Desta vez, ele arriscou-se a escrever sozinho o roteiro, sser quidi necum baseado em argumento de sua autoria. Não deixa de ser a u t ib e u t ur curioso que o protagonista (Joaquin Phoenix) ganhe a vida, em s simusa ped modi om um futuro próximo, mas indeterminado, escrevendo cartas – m o ma ea ipsaep de venet licil principalmente de amor – para clientes que, diferentemente dos ta ac lorem qui do lupta tempo personagens de Central do Brasil e O Leitor, são alfabetizados. ea inverem v re que olesto verspe Eles preferem pagar pelo trabalho de escrever para as r u m v e llique vere, s pessoas que amam e assinar, como se fosse seu, um texto persperum au im t aut aditio carinhoso de um desconhecido. “Terceirizam” uma ação s s it is d a e r s o estet dol pid ma cus e eminentemente pessoal. Apenas por isso já seria possível xperchit ut enxergar em Ela uma tremenda distopia, ao apresentar um et voloria ve ntet mundo em que se renuncia a expressar o próprio afeto por meio inciae omnim o d quae labo. a de palavras, porque o ato de escrever... cansa. istrum re du tio. vendus s aut et, tem ilique ipsun *www.sergiorizzo.com.br pere volupist ti ncili acculparum fugit volupt idi velendi qu at a m d u c id e b Revista Viração • Ano 12 • Edição 106 it, int quis s incid quas verumqui om nimodi testia que nis ull

no escurinho

Escrever cansa?

Divulgação

E

30


itae it et odit pro beati a tiaerum liq ui nonse us et fuga os alique vo loriatu ulparum no net que untem remqu e alis

que figura!

Dedicação de mãe

ae conet vel ignime Dedicada à defesa de crianças e adolescentes em situação de rua, et rempost eo a psicóloga paraense Graça Trapasso transformou vidas s eo endunte cup taque Jorge ommo quate Anderson, do Virajovem Belém (PA) pero um qui aut as agravamento aut da realidade desfavorável de crianças Ainda na adolescência, aos 17 anos, sensibilizou-se pela o. atumquia e adolescentes em situação de rua de Belém do causa de meninos e meninas que trabalhavam nas ruas e tuPará m fez com que Raimunda das Graças Borges feiras de Belém. Percebendo o numeroso contingente de asi is minTrapasso moradores de rua e de jovens que então trabalhavam nas totaese dedicasse à defesa dos direitos humanos de meninos e meninas em situação de vulnerabilidade social. ruas, encontrou, numa parceria com o padre italiano Bruno gnatis si a a lia em Letras e Psicologia pela Universidade Formada Sechi e com um grupo de jovens, uma forma de minimizar acepe nos dFederal do Pará, em 1985, e servidora pública da Secretária triste realidade. Fundaram, então, a República do e tore do Estado por 30 anos, Graça contribuiu para essa de sEducação Pequeno Vendedor, na década de 1970. ed magnissaeformação Essa iniciativa consistia em promover atividades de quam de líderes na área da infância e adolescência. Foi coordenadora executiva do Movimento República de inclusão sociocultural, realizadas pelo grupo que pouco m quia a Emaús da Escola de Conselhos da UFPA e a pouco foi se fortalecendo. Com o passar do tempo, secteisconsultora c do Fórum DCA. o projeto se transformou no Movimento República de o expel incintegrante to mo Emaús, organização sem fins lucrativos localizada Novaes is estiunt na periferia de Belém e com ampla atuação há 40 anos. erunditiosa d Graça Trapasso, durante toda a sua vida de es militância, lutou bravamente pela garantia de ccabor empe políticas públicas que promovessem a retirada de dis crianças e adolescentes da situação de risco em consecerum que viviam. lupta tquian Mulher reservada e dedicada que foi, deixou t um grande exemplo de solidariedade, cuidado e ate et ut mo respeito aos valores humanos. Sua militância foi d necessária para garantir mais dignidade e respeito m. esseratum à condição de crianças e adolescentes.

O

epta accaepr o re que velitio ere, sim cons e stet dolum ventet res endu ti ncilique luptat id quasima ull

“A pobreza não é o grande mal. O problema é não ter uma vida digna. É não ter condição de sonhar”, dizia Graça, que morreu em 1º de março de 2014, aos 63 anos, vítima de complicações cardíacas.

“A pobreza não é o grande mal. O problema é não ter uma vida digna. É não ter condição de sonhar.”

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

31


sexo e saúde

S

e manchas avermelhadas aparecerem em todo o seu corpo, seguidas de lesões nos órgãos genitais, no ânus ou na boca, fique atento! Você pode estar com sífilis! Mas tenha calma. Não precisa se desesperar. Apesar de ser uma doença sexualmente transmissível, a sífilis é facilmente tratada e pode ser contraída em uma relação sexual desprotegida, seja ela oral, vaginal ou anal. Esses sintomas não devem ser ignorados pois, de acordo com a infectologista Rúbia de Oliveira, de Fortaleza, eles tendem a sumir com o tempo, no entanto, a pessoa continua infectada e a doença pode se agravar com o tempo. Confira o que diz a infectologista sobre a doença e os cuidados que uma pessoa infectada pela bactéria Treponema Pallidum, causadora da sífilis, deve ter.

Alcindo Costa, Brena Oliveira, Vládia Suerda, Patricia Leite e Jonathan Fernandes, do Virajovem Fortaleza (CE)*, e Bruno Ferreira, da Redação

Quais os primeiros sintomas da sífilis? Costuma-se classificar clinicamente a sífilis em três estágios, cada um dos quais apresentando sinais e sintomas diferentes. Na sífilis primária aparece o chamado “cancro duro”, uma pequena ulceração de bordas duras que ocorre no pênis, na vagina, na boca ou no reto. A sífilis secundária é caracterizada por uma erupção cutânea (manchas avermelhas ou rosadas), no tronco e nos membros, nas palmas das mãos e nas solas dos pés. A sífilis terciária pode levar alguns anos para se manifestar, fase que se caracteriza pela formação de tumorações amolecidas e deformidades. Manifestações ainda mais graves incluem sintomas nervosos (neurossífilis) e cardíacos (sífilis cardiovascular). As complicações neurológicas incluem a paralisia geral progressiva que leva a mudanças de personalidade e mudanças emocionais. Como o médico diagnostica a sífilis?

Natália Forcat

A estratégia existente é a oferta dos insumos, como preservativos e gel lubrificante nas Unidades de Saúde, além de oficinas sobre sexo seguro, campanhas de conscientização e adesão ao tratamento. Muito importante e que deveria ser realizada pelos governos são as campanhas na grande mídia. Como se trata a sífilis? A sífilis é facilmente tratável. É importante iniciar o tratamento o mais cedo possível, porque com a progressão da doença, os danos podem se tornar irreversíveis. A penicilina G benzatina, durante vários dias ou semanas, é o tratamento de escolha. Também pode ser usada a tetraciclina oral em indivíduos que tenham reações alérgicas à penicilina.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org

32

Revista Viração • Ano 12 • Edição 106

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal


De dar água na boca Rico em iodo, zinco, ferro, cálcio e vitamina B, o sururu é um fruto do mar bastante consumido no Nordeste brasileiro Maurício Vieira de Paula, do Virajovem São Luís (MA)*

O

sururu é um molusco bibalve, ou seja, possui duas conchas. É típico da Região Nordeste do Brasil, especificamente dos Estados do Maranhão e Alagoas. É um marisco filtrador, que concentra muitas pedrinhas de areia na região interna da concha, precisando, assim, de um cuidado especial no seu preparo. Após a coleta do molusco – uma tarefa pesada e artesanal –, é feita a limpeza para a retirada de lama e plantas que vêm emaranhadas às conchas. Depois desse processo, o trabalho é “sambucar” o sururu, que consiste em retirar um cordão negro que sai do molusco para fora da concha. É só puxar que o cordão sai com muita facilidade. Em seguida, deve ser levado ao fogo para que as conchas se abram e sejam retiradas. Depois, é hora de lavá-lo novamente em água corrente, para que não restem resquícios de areia. Vale lembrar que o sururu pode ser encontrado em feiras e supermercados já no ponto para preparar a receita.

Modo de preparo

1 kg de sururu; 4 colheres de sopa de extrato de tomate; 3 tomates médios; 2 cebolas picadas; 2 colheres de azeite; Alho socado; Cheiro verde; Sal e Pimenta a gosto; 250 ml de leite de coco (uma garrafa pequena).

Numa panela aquecida, junte o azeite e o alho socado até dourar. Em seguida, junte o extrato de tomate, os tomates, as cebolas, o cheiro verde, a pimenta e o sal. Deixe cozinhar até que o molho engrosse um pouco. Em seguida, junte o sururu e deixe cozinhar por 15 minutos. Junte o leite de coco e deixe cozinhar por mais cinco minutos. Depois, basta servir quente, acompanhado de arroz branco e farinha.

*Um dos virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Blog Jornal Primeira Fon te

Ingredientes


parada social Qualificação cidadã Projeto de formação profissional de adolescentes e jovens entra em sua segunda fase com foco no empreendedorismo Diego Teófilo e Élida Galvão, do Virajovem Belém (PA)*

A

entrada no mundo do trabalho é algo que sempre está presente na vida de adolescentes e jovens. Educação de qualidade, qualificação profissional e oportunidade são condições que milhares de adolescentes e jovens buscam Brasil afora, e na Região Norte não é diferente. A segunda fase do projeto Amazônia: Juventude urbana, fazendo sua opção pela vida continua gerando oportunidades para a juventude paraense. Em 2011 e 2012, cerca de 120 jovens receberam formação em vendas e, ao final do ciclo, inseriu 35% do público atendido no mercado de trabalho. Além do curso, o projeto executou ações de incidência em comunidades a partir da campanha Que cidade queremos para viver?. Em sua segunda fase, o projeto foi renovado e faz parte do Programa Petrobras Socioambiental e tem como foco o empreendedorismo. Ao todo, serão oferecidas 130 vagas para adolescentes e jovens com idade entre 16 e 21 anos, distribuídas nos municípios paraenses de Belém, Marabá, Santarém e Ilha de Cotijuba, os participantes passarão por um percurso formativo com acesso à formação sociopolítica, ambiental e educomunicação; leitura, produção e interpretação de textos; jogos matemáticos para o desenvolvimento de raciocínio lógico; linguagens artísticas com ênfase

no teatro popular; inclusão digital; empreendedorismo, elaboração e monitoramento de Plano de Negócios. De acordo com Patrícia Cordeiro, educadora social e coordenadora do Programa Juventude, Participação e Autonomia (JPA), da Unipop, responsável pela execução do projeto, “em sua segunda fase, o projeto possibilita uma vivência para o público que está à margem das políticas públicas voltadas para o processo de profissionalização juvenil. Realizar um processo formativo com um público residente em áreas periféricas se faz importante, porque agrega valor para uma qualificação que prima por construir coletivamente reflexões acerca das diversas realidades existentes em nosso País e em nosso Estado”.

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal



4a_capa_90:Layout 1 08/01/2013 16:41 Page 33


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.