Revista Viração - Edição 68 - Janeiro/2011

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a r i V a z a f m e Veja qu

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG) www.aic.org.br

Centro de Refererência Integral de Adolescentes – Salvador (BA) blogdocria.blogspot.com

Gira Solidário Campo Grande (MS) www.girasolidario.org.br

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE) www.catavento.org.br

Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES) www.avalanchemissoes.org

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência www.ciranda.org.br

Bemfam - Recife (PE) www.bemfam.org.br

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR) grupomakunaimarr.blogspot.com

Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG)

Grupo Cultural Entreface Belo Horizonte (MG) gcentreface.blogspot.com

Agência Fotec – Natal (RN)

União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC) ujsacre.blogspot.com

Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa Maceió (AL)

Instituto de Estudos Socioeconômicos Brasília (DF) www.chamadacontrapobreza.org.br

Taba - Campinas (SP) www.espacotaba.org.br

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) www.soudeatitude.org.br

Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA) www.cipo.org.br

Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) ocidadaonline.blogspot.com

Apôitcha - Lucena (PB) www.apoitcha.org


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! 1 1 0 2 a h n e v e Qu “C

é hora de . uma vez, is a m , o importa o n ada de a embro, nã ir z v e d a d té to a s certo omo em os para o Se darão er objetiv c s pedidos. le o er, e r b a a v o st n re ue percorr nte e e caminho q os em me o -l tê te n é a l d ra a a u g c a, d O le e o quanto Dessa form importante coletivos. rá e se is ria. a o to n ss e mome e sua histó projetos p ir anto cada capítulo d u e q ss o sa. A part e r d re ri b rp m esco bom fi boa su a m u m u ura, ra it você irá d a m e p o L c ária s de 2011 fará necess cas, Ponto iniciamos li , b a ú h p il s tr a c a pessoa se ess liote e mpero” d da em bib a novidad Brasil. Ess E como “te r encontra e o s o d rá rio da e to d té r o is do Min urais po , a Vira p lt o ra u ã u c lt iç s u d o C e ç a p Mais desta outros es blicações Conteúdo Cultura e as oito pu ódicos de tr ri u e P o s l e a Pontos de d it d do e os voltado ao lado por meio s conteúd al a Vira, u u e q s o e n d , acontece 0 e art 201 rem boa p público, o alizado em um novo das por te a la Cultura, re , p ir m d s n te a n p o x formam o e de e , foram c ortunidad teiro, que p in nacionais o ís a a m P U o . ,d e a artes s e jovens à cultura ncionar. dolescente a s lo revista fu e ito p ta o s d e a d m e o z , seja mu d a fa c re a Vira e meira vez d ri p s n la e v e p Jo a Conselhos ue lê a Vir oisas. ra você q fazer as c e d o it Então, pa je nosso o a esse o e 2.0. bem-vind ooperativ c , o mês! v ti ra o próximo Colabo té a e ra u Boa leit

Quem somos A

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 22 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses seis anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira de lima Coordenador Executivo da Viração – MTB 27.300

Conteúdo

Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Asso

ciazione Jangada

Conheça os Virajovens em 22 Estados brasileiros e no distrito Federal Belém (PA) - pa@viracao.org Belo Horizonte (MG) - mg@viracao.org Boa Vista (RR) - rr@viracao.org Brasília (DF) - df@viracao.org Campinas (SP) - sp@viracao.org Campo Grande (MS) - ms@viracao.org Curitiba (PR) - pr@viracao.org Florianópolis (SC) - sc@viracao.org Fortaleza (CE) - ce@viracao.org Goiânia (GO) - go@viracao.org João Pessoa (PB) - pb@viracao.org Lavras (MG) - mg@viracao.org Maceió (AL) - al@viracao.org Manaus (AM) - am@viracao.org Natal (RN) - rn@viracao.org Porto Velho (RO) - ro@viracao.org Recife (PE) - pe@viracao.org Rio Branco (AC) - ac@viracao.org Rio de Janeiro (RJ) - rj@viracao.org Sabará (MG) - mg@viracao.org Salvador (BA) - ba@viracao.org S. Gabriel da Cachoeira - am@viracao.org São Luís (MA) - ma@viracao.org São Paulo (SP) - sp@viracao.org Serra do Navio (AP) - ap@viracao.org Teresina (PI) - pi@viracao.org Vitória (ES) – es@viracao.org

A Revista Viração é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pela ONG Viração Educomunicação, filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo (Sindjore); CNPJ: 11.228.471/0001-78; Inscrição Municipal: 3.975.955-5

atendimento ao leitor Rua Augusta, 1239 - conj. 11 - Consolação 01305-100 - São Paulo - SP Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 HoRáRio dE atEndimEnto Das 9h às 13h e das 14h às 18h E-mail da REdação E assinatuRa redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Revista Viração • Ano 8 • Edição 68 03


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8 Na mira da violência

Morador do Co mplexo do Alem ão, jovem fala so operação policial bre a que ocupou a co munidade do Rio de Janeiro

12 20

Quem disse que ac

abou? O período eleitoral já foi, mas uma galer a de Natal (RN) nem importa; Eles coloc se am a mão na massa e querem participa forma direta, das de r, de cisões tomadas pa ra a região

zo Resultado a curto prautiliz am o cinema para Em Campo Grande (MS), jovens o trabalho infantil que conscientizar população sobre oas no País pess de atinge mais de 4 milhões

Sempre na Vira

Manda vê . . . . . . . . . . . . . 06 Plataforma dos Centro Urbanos . . 16 Rango da Terrinha . . . . . . 24 De Olho no ECA . . . . . . . . 25 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

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Jovens na pauta

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Seminário discute os desafios das políticas públicas do novo governo, voltadas à juventude

Galera Repórter

Diretor e produtora do film e 5 x favela, Cacá Diegues e Renata Magalhães batem um papo sobre a onda cinematográfica de retratar as comunidades brasileiras

Web colaborativa

Fórum de Cultura Digital reúne turma apaixonada por tecnologia e que trabalha por uma internet mais colaborativa

Viração World

ho humanitário na Há três anos, Sandra Guimarães realiza trabal poucas semanas; s apena r passa ava planej onde país ina, Palest iência em visita ao Brasil, ela conta como é essa exper

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Laços Sul-Sul

Neste mês, você irá conhecer a história de Renato Banjaqui, jovem de Guiné-Bissau que envia mensagens de paz a milhares de pessoas por SMS

32 Sexo e Saúde

Confira como foi a festa do Prêmio Educando para a Diversidade Sexual, com a presença de ativistas e educadores que lutam pelo fim do preconceito LGBT

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Conselho Editorial

Direção Executiva

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Paulo Lima e Lilian Romão

Douglas Lima, Isabel Santos, Ismar de Oliveira e Izabel Leão

Administração/Assinaturas Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos

Gerais (Maria de Fátima Ribeiro e Pablo Abranches), Pará (Alex Pamplona), Paraíba (Niedja Ribeiro), Paraná (Cláudia Fabiana), Pernambuco (Maria Camila Florêncio), Piauí (Anderson Ramos da Luz), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rondônia (Luciano Henrique da Costa), Roraima (Cleidionice Gonçalves) e São Paulo (Ana Luíza Vastag, Damiso Faustino, Sâmia Pereira e Virgílio Paulo).

Presidente

Mobilizadores da Vira

Colaboradores

Juliana Rocha Barroso

Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amapá (Camilo de Almeida Mota), Amazonas (Cláudia Ferraz e Délio Alves), Bahia (Nilton Lopes), Ceará (Amanda Nogueira e Rones Maciel), Distrito Federal (Pedro Couto), Espírito Santo (Jéssica Delcarro e Leandra Barros), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Sidnei Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas

Antônio Martins, Bruno Aguiar, Diego Pereira dos Santos, Emilia Merlini, Heloísa Sato, Karina Lakerbai, Lentini, Márcio Baraldi, Maria Rehder, Natália Forcat, Novaes e Sérgio Rizzo.

Conselho Fiscal Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Consultivo

Vice-Presidente Cristina Paloschi Uchôa

Primeiro-Secretário Eduardo Peterle Nascimento

Equipe Ana Paula Marques, Carol Lemos, Elisangela Nunes, Eric Silva, Gisella Hiche, Manuela Ribeiro, Rafael Lira, Rafael Stemberg, Sâmia Pereira, Sonia Regina, Vânia Correia e Vivian Ragazzi

Consultor de Marketing Thomas Steward

Projeto Gráfico

redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Desenvolvimento do Site Natsuo Slater e Orlando Libardi

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação e Assinatura

Preço da assinatura anual Assinatura Nova Renovação De colaboração Exterior

R$ 58,00 R$ 48,00 R$ 70,00 US$ 75,00


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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Fale com a gente! Maria Rehder – Guiné-Bissau - por e-mail

Diga lá Perdeu alguma edição da Vira? Não esquenta! Agora você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet. É só acessar www.issuu.com/viracao

Pessoal, só para compartilhar que foi uma delícia ler a matéria de capa sobre o projeto Segurança Humana (edição 66)! Ficou linda a diagramação. Parabéns! Já colei na parede da minha salinha de trabalho daqui. @edenvaladares, pelo Twitter A galera da @viracao sempre dá um banho, né? Parabéns pela iniciativa do Seminário Juventude em Pauta! ;-)

Direto do portal da Vira No final de 2010, o Rio de Janeiro enfrentou uma onda de violência em algumas comunidades, como arrastões, veículos queimados e ataques a moradores. O governo estadual disse que se tratava de uma reação do crime organizado à implantação de um programa de segurança local. Perguntamos aos leitores da Vira, na internet, se esses acontecimentos poderiam atrapalhar a organização das Olimpíadas em 2016? Para 46% dos leitores, a imagem do País fica abalada no exterior por conta dos últimos acontecimentos, enquanto 31% acham que ainda é cedo para afirmar qualquer coisa. Já 23% disseram que nada muda com os fatos, pois o governo estadual tem o controle da situação.

A Maria é uma querida colaboradora da Vira que agora atua como voluntária em Guiné-Bissau, na África. Por lá, ela também desenvolve alguns trabalhos em educomunicação. Em breve, traremos mais notícias.

Esse comentário do @edenvaladares foi sobre a cobertura jovem que fizemos durante o “Seminário Juventude em Pauta”, em São Paulo (SP). Você confere o que rolou por lá na página 10.

Siga a Vira no Twitter! Nosso perfil é http://twitter.com/viracao

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para nosso endereço: Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 Consolação - 0135-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!

Parceiros de Conteúdo


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Manda Vê Maria Camila Florêncio, do Virajovem Recife (PE)*

Presidente ou presidenta? Pelas regras da Língua Portuguesa, tanto faz. O fato é que, pela primeira vez na história brasileira, uma mulher inicia neste mês de janeiro o mandato de representante executivo do País. Durante a campanha eleitoral, Dilma Vana Rousseff não barganhou votos por ser mulher. Nem precisava. A grande mídia se encarregou de discutir a “condição” feminina da candidata antes e depois de ser eleita com mais de 55 milhões de votos. Dilma é uma das poucas mulheres eleitas para governar um dos 33 países que formam a América Latina. Desde 1974, foram 11 no total (a primeira foi Isabelita

Ter uma mulher como presidente faz alguma diferença? Amanda Nogueira, 24 anos, Fortaleza (CE) "Eu acredito que pode fazer diferença, sim! Aliás, é necessário que tenhamos essa alternância de pensamentos, de vivências. Ainda mais porque nós, mulheres, somos maioria no Brasil, e seria totalmente contraditório se não elegêssemos uma representante mulher para dar uma cara justa a essa alternância."

06 Revista Viração • Ano 8 • Edição 68

Perón, que assumiu a Argentina após a morte de seu marido Juan Domingo Perón). Atualmente, ao lado de Dilma, estão Cristina Kirchner, da Argentina, e Laura Chinchilla, da Costa Rica. Dentro do Brasil, o cenário não é diferente. Apesar da vitória de Dilma, a primeira mulher presidente terá de dialogar com governos estaduais formados, em peso, por homens. Dos 26 Estados mais o Distrito Federal, apenas dois elegeram mulheres. Isso em um País onde 52% do eleitorado é feminino, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Diante disso, fomos saber o que os jovens pensam sobre o assunto. Afinal...

Pablo Abranches, 24 anos, Belo Horizonte (MG) "Acredito que sim, faz a diferença. A forma de ver o mundo, em relação aos homens, é outra. A nossa cultura (em que o homem é durão e a mulher é sensível) leva isso para todos os espaços onde estamos: na escola, no trabalho, no convívio com os amigos e em todos os demais contextos onde haja socialização."

Edson Marques, 24 anos, Recife (PE) “Só o fato de ser uma mulher, não. Principalmente em se tratando de Dilma Rousseff que disse: 'meu peito não é de silicone e sou mais macho que muito homem!'"

Um dos Conselhos Jovens da Vira presente em 22 Estados e no Distrito Federal (pe@viracao.org)


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Letícia Santos, 22 anos, Uberaba (MG) "Creio que ter uma mulher como presidente pode ser o início de uma maior visibilidade para as mulheres no Brasil, a começar pela nomenclatura usada."

Sandemax Santos, 26 anos, Recife (PE) “Sim. Porque eu acho que a mulher é mais aberta nas negociações. É normal a mulher trabalhar mais as questões sociais do que o homem.” Enderson Araújo, 19 anos, Salvador (BA)

Havena Melo, 24 anos, Recife (PE) “Acho que a diferença dos gêneros estão superadas. O que há é o preconceito social. Presidente tem que agir com bom senso, não faz diferença se é homem ou mulher... Senão a gente volta para aquele discurso de que lugar de mulher é na cozinha.”

Marcos Eduardo Rodrigues, 17 anos, São Paulo (SP)

"Acredito que não, pois o PT deixou visível que o Lula, apesar de não estar na cadeira de presidente, continuará dando as ordens na casa. Por isso, não vejo diferença alguma, apesar da eleição de Dilma ser uma conquista para as mulheres e uma quebra de tabu para o Brasil."

"Muda sim, pois a mulher tem uma opinião própria mais forte. Consegue se impor e tomar decisões com maior facilidade."

Não é de hoje Ao contrário do que muitos pensam, Dilma Rousseff não será a primeira mulher a comandar o Brasil. Durante o século 19, a princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, ocupou o cargo do pai três vezes, sempre nas ocasiões em que ele viajava. Somados os três períodos, Isabel esteve no poder por quase quatro anos e foi a responsável por leis como a do Ventre Livre, em 1871, e a da abolição dos escravos, em 1888. No entanto, bem antes da princesa Isabel, a rainha de Portugal Dona Maria (de 1777 a 1816) também exercia sua influência no Brasil, então colônia portuguesa. Anos depois, Dona Leopoldina, tornou-se governante interina do País enquanto aguardava seu marido, Dom Pedro, retornar de Portugal após proclamar a Independência do Brasil, em 1822.

Faz Parte

Intolerância

Atribuindo a vitória ao número de moradores da região Nordeste que votaram em Dilma para presidenta do Brasil, milhares de mensagens foram divulgadas em espaços virtuais, como blogs e redes sociais, trazendo vocábulos repletos de preconceitos aos nordestinos. Mas o que ganhou grande repercussão foi a forma como a estudante de Direito Mayara Petruso manifestou sua indignação pelo resultado das eleições de 2010: “Nordestino não é gente, faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!”, postou no Twitter a estudante, que mora em São Paulo (SP). Essa atitude fez com que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Pernambuco encaminhasse para o Ministério Público Federal a abertura de uma ação penal contra Mayara por incentivar racismo e homicídio. O caso serviu para levantar um debate por todo o Brasil sobre a intolerância que ainda persiste, de forma velada, a vários tipos de preconceito.


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Politica das balas achadas

Durante a operação militar em comunidades do Rio de Janeiro, recebemos o depoimento de um jovem morador do Complexo do Alemão, que escreveu sobre a ação policial no local Depoimento de Bruno Aguiar, do Rio de Janeiro (RJ) Fotos: Marcello Casal Jr/ABr

M

ais de oitenta e quatro horas ilhado no Complexo do Alemão. Digo ilhado porque o dilema é o mesmo: opção por direitos e não a garantia de todos. Se optar pelo direito de ir e vir, não terei garantido o direito à vida e talvez nem mesmo à dignidade. Isso porque, ao tentar sair, há um grande risco de ser atingido por uma bala perdida ou, como já se popularizou, “bala achada”. Não é ironia o que tento fazer, mas é chamar a atenção para o fato de que “perdida” remete a uma ideia de ninguém. É como se a bala não tivesse uma origem e como se a vítima não representasse

Moradores do Alemão deixam bilhetes para policiais não arrombarem portas. A população denuncia possíveis abusos de policiais durante operação

08 Revista Viração • Ano 8 • Edição 68

tanto. Acredito que a expressão “achada” não representa muito, mas creio que dessa forma poderemos procurar os culpados e puni-los. Quanto à dignidade, irá depender de quem é você. Como você chega às tropas (policiais) e como reage aos procedimentos. O que se sabe é que elementos suspeitos serão autuados. E que todos ao saírem ou entrarem serão revistados. Entendo a necessidade? Não sei! Só sei que é desagradável. As sensações são as mais variadas. Não se sabe o que se sente. Só o que se sabe é que não é bem esse conto que contam. Heróis? Não é por aí... É fato que a polícia está fazendo seu trabalho, mas é dever. Segurança pública é um direito nosso, cidadãos brasileiros, moradores do Complexo do Alemão, enfim, sujeitos de direito. Ah, importante ressaltar, trabalhadores. Muito me incomodo com declarações públicas nas quais se diz: “Efetuamos uma 'retomada' do território do Complexo do Alemão para devolvê-lo aos moradores”. Como é possível falar em retomar o que nunca foi do Estado? Tal situação de domínio dessas áreas por narcotraficantes nada mais é que um reflexo da ausência do Estado durante todos esses anos, que permitiu a ocupação irregular do território, tanto em nível de habitação, quanto do próprio domínio armado.


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“Socienal” É importante destacar que a sociedade infelizmente é bipartida. Claro que podemos encontrar muitas subdivisões de nossa sociedade, mas focando para a favelização e os extremos socioeconômicos, por assim dizer temos de um lado uma sociedade e do outro uma “socienal”, ou seja, uma sociedade marginalizada. Afinal, ela está sempre à margem das políticas públicas, com exceção é claro da política de segurança. Mais especificamente, as operações policiais. Os integrantes da socienal é que sempre sofrem os reflexos da violência diretamente. O que ocorre aqui, na socienal, só incomoda a ‘sociedade’ porque o problema de segurança não se limitou ao perímetro do Complexo do Militares da Brigada de Paraquedistas do Exército Alemão. Conforme notícias da grande mídia, uma possível fazem revista em suspeitos no Complexo do Alemão, união entre facções foi a grande causadora atrás de traficantes, drogas, armas e munições dos chamados atentados Para finalizar, só queria destacar a reportagem terroristas, nos de uma jornalista de televisão, dessas emissoras que quais ônibus e cobriram exaustivamente o que chamaram de guerra outros veículos ao tráfico: “Apesar da guerra, as praias da cidade eram incendiados estão lotadas em um típico domingo de sol”. Quando na cidade. ouvi isso, pensei seriamente como eu queria estar em Em decorrência uma dessas praias, mas só de lembrar que teria de dos ataques, ocorre passar pela humilhante revista a cada entrada e saída a paralisação do da comunidade, desisti. Sem contar aqueles que setor público, sofrem algum tipo de agressão por parte dos nossos comércio e das ‘heróis’, com a simples justificativa de grandes empresas, que são abusados ou esquentadinhos. rendendo ao Rio de Sei que estou sendo duro, mas são Janeiro um prejuízo reflexos de um histórico de descrença, ou considerável em termos de descrédito no atual modelo de segurança economia e até de imagem que temos. Talvez por achar que a (marketing). Um problema como verdadeira guerra ao tráfico não deveria esse afeta “o resto do mundo”, começar dessa maneira, pois para além de principalmente, porque o Rio um simples aparar de pontas deve-se de Janeiro irá sediar uma Copa atacar a raiz, o verdadeiro coração do do Mundo (2014) e as tráfico de drogas e não necessariamente a Olimpíadas (2016). área do Complexo do Alemão, como se o Portanto o que entra na problema estivesse apenas por lá. Afinal, receita como prejuízo sempre nós não queremos o básico, mas a garantia acaba retornando, pois existem os reflexos pós-crise, como a dos direitos que de fato temos. V inflação. E novamente além de perder a sociedade, perdem também os integrantes da socienal, que vão encontrar preços mais salgados no mercado.

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falar

e o País para discutir os avanços Seminário reúne jovens de todo l para os próximos quatro anos desafios da política pública juveni Nilton Lopes, do Virajovem Salvador (BA)*, Elisangela Nunes, Eric Silva e Sâmia Pereira, da Redação

C

A jornalista Fernanda Papa, da Fundação Friedrich Ebert, explicou ser fundamental fazer uma análise capaz de identificar a construção da política da juventude brasileira nesse momento de transição do novo governo. “Conseguimos trazer vários jovens que participaram do primeiro seminário (em 2002) para fazer um balanço desses oito anos que passaram. Isso é muito importante como processo de fortalecimento e valorização da juventude nas políticas públicas”, destacou. O Brasil ainda não possui uma política capaz de ouvir cada jovem, então os modelos e espaços de representatividade ainda necessitam ser criados, fortalecidos e efetivados. Atuando na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, a socióloga Helena Abramo destacou ser necessário aprimorar os formatos de representatividade da juventude. “Precisamos entender as especificidades das demandas dos jovens para pautar os temas a partir dessas perspectivas. O debate da juventude ainda não está seccionado. Mas sabemos que a juventude tem demanda específica no mercado de trabalho, na saúde, na educação”, explicou. Uma das mesas de debate discutiu a participação dos jovens na construção das políticas públicas de juventude, suas demandas e bandeiras. Esse momento apontou para o fato de que, após uma década de debate, o assunto juventude ganha reconhecimento e espaço no Brasil. Hoje é possível falar da criação do Conselho Nacional de Juventude e do Plano Nacional da Juventude, entre outras ações importantes e representativas. Foram nesses espaços que a Durante três dias, participantes juventude passou a ser respeitada na sua diversidade, sendo discutiram formas de inserir a temática pautada em movimentos sociais e em outros ambientes juventude nas pautas dos governos onde não estavam integradas anteriormente.

omo aumentar a capacidade da juventude de dialogar e fortalecer políticas públicas? Como integrar as demandas dos jovens a outras políticas? Como entender e valorizar a diversidade e diferentes realidades de pessoas entre 15 e 29 anos? Como a política da juventude consegue incentivar que o jovem debata e construa sua própria política pública? Essas foram algumas das questões levantadas durante o segundo Seminário Políticas Públicas: Juventude em Pauta. O objetivo do encontro, que aconteceu no início de dezembro em São Paulo (SP), era mapear e fazer um balanço dos avanços e limites das políticas da juventude, além de identificar os desafios atuais nessa área. Durante três dias, cerca de 300 participantes trocaram experiências e elaboraram propostas para pautarem a nova fase do mandato federal, iniciado neste mês.

10 Revista Viração • Ano 8 • Edição 68

Divulgaçã o

Dá o que


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Divulg

“E precisamos garantir que os espaços de diálogo tenham esses diferentes atores, não podemos dialogar apenas com os iguais”, destacaram os participantes da mesa. Houve momentos em que foram montados grupos de trabalhos (GTs) para discutir a necessidade de criar especificidades para a juventude nas políticas de forma geral, como nas áreas de cultura e educação. O GT de comunicação foi mediado pelos educomunicadores Nilton Lopes, da ONG Cipó Comunicação, e Rafael Lira, da Viração Educomunicação, jovens integrantes da Rede de Jovens Comunicadoras e Comunicadores do Brasil.

O debate continua A novidade deste seminário foi a transmissão ao vivo feita pela internet, possibilitando a participação de adolescentes e jovens de todo o Brasil. “Recebemos cerca de 500 inscrições. Então resolvemos utilizar outras ferramentas capazes de favorecer a participação de outros jovens que não puderam estar presentes durante esses dias”, disse Maria Virgínia de Freitas, da Ação Educativa, uma das organizadoras do evento. Das participações virtuais que chegaram, a da cidade de Maranguape, no Ceará, questionou sobre a necessidade de garantir um olhar diferenciado à juventude no contexto rural. O Seminário Juventude em Pauta finalizou com a perspectiva de que há ainda muito a ser debatido. O debate foi rico e acalorado, além de ter sido acompanhado de perto por diversos internautas que participavam por meio do Twitter da Vira (@viracao) e no site da Ação Educativa. V

Os res u podem ltados do e nco ser vis tos no ntro deste www a blog d .acao educa o sem no tiva.o inário rg.br/ : juvent udeem pauta

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (ba@viracao.org)

Lembrando um pouco da história A primeira edição do seminário, realizada em novembro de 2002, reuniu cerca de 200 pessoas, entre jovens e adultos, que trabalham com a temática juventude, vindos de todas as regiões do País para debater políticas dirigidas aos jovens à luz de diferentes experiências, nacionais e internacionais. Foi um marco no processo de constituição do campo das políticas públicas de juventude no Brasil. Desde então, as conquistas não pararam. Foram criadas a Secretaria Nacional de Juventude e o Conselho Nacional de Juventude. Também foi realizada a 1ª Conferência Nacional de Juventude, aprovada a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Juventude e debatidos o Plano Nacional e o Estatuto da Juventude, que tramitam na Câmara Federal. Esta edição do Juventude em Pauta foi uma iniciativa da Ação Educativa e a Fundação Friedrich Ebert, em parceria com Ibase, Instituto Pólis, Instituto Paulista de Juventude, Núcleo e Análises em Políticas Públicas da UFRRJ, Observatório Jovem da UFF e o Observatório da Juventude da UFMG.

Revista Viração • Ano 8 • Edição 68 11


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Quem sabe faz a hora! Participação Direta: cidadania muito além das eleições Alessandro Muniz, Bruna Lopes, Daísa Alves, Eider Madeiros, Nadjara Martins, Philipe Barros, do Virajovem Natal (RN)*

“V

ivendo em coletividade, o bem estar de todos é responsabilidade de cada cidadão. E votar no período das eleições não é a única maneira de participar no cotidiano da sociedade em busca de sua constante melhoria. Podemos e devemos exercer a Participação Direta, fazendo parte dos processos de decisão e criando iniciativas que contribuem para melhorar nossa realidade, e muita gente faz isso no dia-a-dia. Vamos mostrar só alguns exemplos de como nossa atitude pode provocar mudanças concretas. Mara Farias, de 19 anos, é membro do Conselho Comunitário Padre João Maria, do bairro de Felipe Camarão, zona oeste de Natal (RN), como coordenadora de cultura e juventude. Esse é um dos dois conselhos que abrangem a região onde moram cerca de 80 mil pessoas. A jovem conta que as decisões da organização são feitas por meio de colegiado, com participação de todos os coordenadores, não só do presidente. O Conselho atua como parceiro e apoia as iniciativas existentes no bairro, como a Biblioteca Comunitária Fé e Alegria, promovido pela ONG espanhola de mesmo nome, o Projeto de Extensão da UFRN Saúde e Cidadania (Saci), grupos de capoeira, teatro, dança, de terapia e arte para idosos, escolas de samba locais, teatro de mamulengos etc. Além disso, cobra do poder público constantes melhorias para a comunidade. “graças ao

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Conselho, as ruas do bairro estão mais iluminadas”, comenta Mara sobre a intervenção na Secretaria Municipal de Urbanismo (Semurb) exigindo mais cuidado com os postes da localidade. Outro fato marcante foi a luta empreendida para conseguir por nome em uma rua que até então não conseguia receber cartas nem contas devido à situação irregular. Hoje os moradores da rua Nossa Senhora das Dores podem receber suas correspondências tranquilamente. Maria Suelha Teixeira, de 17 anos, participa da ONG inglesa Visão Mundial onde atua no grupo de jovens, que oferece palestras e realiza fóruns sobre os mais diversos temas. “A gente precisa correr atrás dos nossos ideais, desde uma iluminação legal até uma escola de qualidade”, afirma a jovem. Jucicleiton Silva do Nascimento, de 18 anos, mediador de leitura na Biblioteca Comunitária Fé e Alegria, conta que “nasceu para ser voluntário”, pois sente desejo de ajudar ao próximo. Essa atitude beneficia toda a

Grupo "Atitude Jovem" realiza discussões e palestras no bairro de Felipe Camarão (RN)


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SOS Ponta Negra Outra história de participação direta é a do movimento S.O.S Ponta Negra, que nasceu de uma indignação. Tudo começou em agosto de 2006, quando o jornalista Yuno Silva, de 36 anos, ao visualizar um anúncio imobiliário que tinha como proposta a construção de enormes edifícios ao lado do Morro do Careca (principal símbolo turístico da cidade de Natal, situado na praia de Ponta Negra) não se conformou com a situação ilegal, questionou moradores do bairro e a prefeitura da cidade sobre tal construção e constatou que ninguém sabia sobre o negócio imobiliário. Decidiu criar um blog (www.sospontanegra.blogspot.com) em protesto, que teve grande repercussão nacional e internacional, com cerca de 500 acessos diariamente de 130 países, com notícias publicadas em grandes jornais. O primeiro grande movimento foi o lançamento da campanha “Eu não sou palhaço”. Outras manifestações surgiram, como o Abraço ao Morro do Careca, que, em sua terceira edição contou com mais de duas mil pessoas. Outro efeito do S.O.S Ponta Negra foi a criação

Divulgação

Abraço ao Morro do Careca: Manifestação

comunidade, e para impedir a construção de cinco espigões consequentemente, a ele. ao lado do principal patrimônio natural e cartão postal da cidade O Conselho Comunitário criou ainda a Rede Social, articulação entre representantes de todas as iniciativas do bairro, desde ações artístico-culturais, políticas, religiosas, de juventude, que decidem por ações conjuntas para o bairro. Dois exemplos: um protesto em favor da 3ª Unidade Básica de Saúde, que enfrentava dificuldades de funcionamento, e a realização de um curso de formação em políticas públicas.

de outros movimentos, como o Filhos de Ponta. Criado há dois anos, o projeto discute a segurança pública do bairro, propondo a criação de um “território de paz”, projeto já executado em Bogotá, na Colômbia, e que teve bons resultados. Além disso, o Filhos de Ponta objetiva trabalhar com as áreas de educação, cultura, lazer, esporte, qualificação profissional e valorização da cultura. Yuno afirma que “a importância das pessoas participarem é de saberem que podem melhorar sua comunidade, a valorização da própria identidade cultural”.

Grêmio na escola O estudante de Ensino Médio Ayrton O estudante secundarista Ayrton Arruda decidiu que, enquanto cidadão, tinha o Arruda, de 17 anos, é direito e o dever de lutar pelo que acreditava líder de sala e exser o melhor para sua comunidade integrante do grêmio estudantil da Escola Estadual Winston Churchill. Ayrton sempre desejou ingressar em movimentos políticos, mas seu engajamento só aconteceu quando conheceu um integrante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública no Rio Grande do Norte (SINTE/RN) e ficou a par da realidade do ensino no Estado. Desde então decidiu que, enquanto cidadão, tinha o direito e o dever de lutar pelo que acreditava ser o melhor para sua comunidade. Além de promover projetos de incentivo à cultura na escola, como aulas de dança, teatro e palestras, o grêmio não se

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questionado sobre a tradicional atividade, na qual está limitava a ações dentro do ambiente escolar: aliou-se a envolvido há oito anos pelo 5ª Grupo de Escoteiros do manifestos sociais da cidade, como os protestos contra o Mar Humberto Lustosa. aumento da passagem de ônibus. “O grêmio é uma base Em Natal, o movimento escoteiro desenvolve aliada aos estudantes que mostra o poder que cada um tem atividades diversas como acampamento, técnicas de nós de exigir melhorias na sociedade, mas cabe a cada um e amarras, montagem de barracas e práticas náuticas. reivindicá-las”, afirma. Além disso, os grupos da região também se unem para A Presidente da dar apoio a eventos sociais de paróquias, para arrecadar Associação alimentos para instituições beneficentes e estimular a Comunitária de população infantojuvenil de comunidades carentes à Artesãos de Mãe prática de esportes, à busca de aventura e à valorização Luíza, Maria Luiza dos estudos com disciplina e respeito. Oliveira, de 42 anos, Milhares de outras pessoas estão agindo nesse é militante da momento para transformar suas realidades, promovendo economia solidária justiça, educação, consciência coletiva, respeito e desde 2004. É muitos outros valores importantes para um outro artesã, assistente mundo possível. Ninguém precisa esperar até as eleições administrativo e para decidir o futuro da comunidade em que mora. cursa Serviço Sejamos nós os protagonistas da sociedade. V Social. “Eu acredito que a economia “Eu acredito que a economia solidária é a alternativa real solidária é a à geração de renda com perspectiva de desenvolvimento alternativa real à e diminuição da desigualdade”, declara Maria Luiza, geração de renda com perspectiva de artesã e militante da economia solidária há 7 anos desenvolvimento e diminuição da desigualdade”, fala Maria Luiza. A economia solidária é uma outra forma de pensar a produção, pautando-se pelo bem estar dos envolvidos e não em lucros. Baseia-se em associativismo ou cooperativismo. As atividades de economia solidária são regularmente atualizadas na base de dados do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e abrangem desde capacitações na área de associativismo até organização financeira, administrativa e produtiva de um empreendimento. O educador do ramo Lobinho dos Escoteiros, Daniel Esmeraldo da Silva, de 21 anos, também atua junto a crianças e adolescentes e vê no escotismo uma alternativa de mostrar e construir valores para a juventude. “Os grandes benefícios que o escotismo leva para o jovem são: aprender a viver uma vida sem drogas e viver honestamente junto à sociedade”, diz ele ao ser Um dos Conselhos Jovens da Vira presente em 22 Estados e no Distrito Federal (rn@viracao.org)

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~ Mao na Massa diversas regiões de São Paulo Adolescentes comunicadores de para reduzir desigualdades unidos, mobilizando comunidades Texto e fotos: Michel Sanabio, Amanda de Paula, Stefany Andrade, Weslley Thiago, Liliane Alves, Nádia Oliveira, Odara Cancela, Henrique Souza, adolescentes comunicadores da Agência Jovem de Notícias, Elisangela Nunes e Carol Lemos, da Redação

J

á imaginou conscientizar pessoas por meio de um jornal num muro de uma casa no meio da comunidade? Pois é, um grupo de adolescentes não só conseguiu construir sozinho, como mobilizou a comunidade do Capão Redondo, zona sul da cidade de São Paulo (SP) a participar com depoimentos, mão de obra do grafitti e entrevistas. Essa é a proposta das oficinas itinerantes da Plataforma dos Centros Urbanos (PCU): ações de mobilização comunitária realizadas pelos adolescentes comunicadores. Cada oficina trabalha uma das mudanças da PCU e uma ferramenta de comunicação. Em outubro de 2010, os adolescentes comunicadores da PCU, da Agência Jovem de Notícias (AJN) e do grupo Cidadelos, projetos

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realizados pela ONG Viração Educomunicação, estiveram presentes na Oficina Intinerante do Capão Redondo que tinha como objetivo principal conscientizar e mobilizar a comunidade sobre o tema HIV/aids utilizando um jornal mural. Os adolescentes se dividiram em seis editorias: grafitti, entrevistas, enquetes, poesias, HQ (história em quadrinhos) e edição. Não era difícil encontrar um grupo de adolescentes em ação, com gravadores, câmeras digitais, bloco de notas e latas de spray nas ruas da comunidade. Para Maria Adrião, consultora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), “a iniciativa e a participação dos adolescentes dá mais prioridade ao projeto porque ninguém o


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mandou pronto. Os adolescentes constróem tudo desde o início. Além do mais, isso serve como incentivo à participação de outros jovens.'' O encontro deixou as pessoas mais informadas sobre sexo, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e com um amplo conhecimento sobre o assunto, que agora pode ser multiplicado.

Contra o racismo eu sou + 1 “Meus avós eram 100% racistas, não gostavam de negros. Eu achava horrível o que eles falavam e faziam na vila onde morávamos em São Paulo. Era um lugar só para brancos e se um negro chegasse lá era agredido. Meus avós morreram sem falar comigo, pois casei com um negro e tive um filho que eles nunca conheceram”, conta Leila, moradora da comunidade Parque Marengo em Itaquaquecetuba (SP), durante enquete sobre racismo realizada pelos adolescentes da Agência Jovem de Notícias (AJN). No dia 19 de novembro de 2010, os adolescentes da Plataforma dos Centros Urbanos se mobilizaram para a segunda oficina itinerante no Parque Marengo. Ao chegar lá, foram recebidos pelo Grupo Articulador (G.A) que preparou um café da manhã para todos na associação de moradores. Na abertura do encontro, houve uma fala acolhedora pelo grupo que estava organizando o evento. Após uma breve divisão de tarefas, os grupos foram para a Escola Municipal Alceu Magalhães Coutinho onde aconteceu a oficina de quadrinhos, facilitada pelos adolescentes comunicadores, com a temática “Diversidade Racial”. Os adolescentes da AJN conversaram com a professora Elizabete que assistiu a oficina. Ela achou muito interessante o trabalho, pois mostra a importância do quadrinho na abordagem de temas polêmicos. Acompanhando as ações desde o primeiro momento, o educomunicador Rafael Lira, da Viração, disse estar feliz com os adolescentes envolvidos e as crianças “superconcentradas” na atividade. E acrescentou que essa

é uma das principais metas da PCU: “participar, mobilizando as crianças e adolescentes”. Dona Maria, moradora do bairro também aprovou: “Meu filho está participando deste evento e está sendo muito bom para o desenvolvimento dele”. Após a oficina de quadrinhos todos os adolescentes se reuniram na associação para realizar a caminhada contra o racismo. Com muita animação, todos andaram pelas ruas da comunidade com o mote: “Contra o racismo, eu sou + 1”. Colaram quadrinhos com frases de conscientização em postes, comércios e casas. Ao final da caminhada, que foi debaixo de um fortíssimo sol, todos voltaram para a associação para finalizar o dia. V

No Capão Redondo, em São Paulo, jovens tiveram oficinas de comunicação e artes

* A Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) é uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas (UNICEF), desenvolvida com diferentes parceiros, que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes que vivem nas grandes cidades. A Plataforma está sendo implementada inicialmente nas cidades de São Paulo, Itaquaquecetuba (SP) e Rio de Janeiro (RJ), com duração prevista até 2011. Os chamados adolescentes comunicadores são membros das comunidades que integram a PCU e são responsáveis por auxiliar na mobilização comunitária para a conquistas das metas e comunicação de ações realizadas no âmbito de suas comunidades.

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a r e l a G

r e t r Repó

s o m s e m s ó Agora por n O cineasta Cacá Diegues e a produtora Renata Magalhães falam sobre cinema e ação policial no Rio de Janeiro

Jhonathan Pino, do Virajovem Maceió (AL)*

D

urante o 3º Seminário Internacional da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), realizado em novembro de 2010, um dos nomes mais aguardados pelo público foi o do cineasta Cacá Diegues. Ele veio com a sua esposa e também produtora, Renata Almeida Magalhães, para a divulgação do longa-metragem 5 x Favela: Agora por nós mesmos, feito pela produtora do casal e que reuniu cinco jovens cineastas e moradores de comunidades do Rio de Janeiro para atuarem no roteiro e na direção. Essa produção foi baseada em um filme de nome homônimo, rodado em 1961, dirigido por jovens da classe média do Rio de Janeiro, que ao focalizar a realidade das favelas cariocas em cinco diferentes histórias, acabou dando novos rumos ao cinema brasileiro e serviu de marco para o início do Cinema Novo no País. A segunda versão do 5 x Favela foi produzida por jovens cariocas moradores das favelas retratadas, que foram responsáveis pelo roteiro e direção de outras cinco histórias com a visão própria dos moradores. Foi por isso, e pela qualidade do longa-metragem, que a produção vem chamando a atenção em festivais de cinema consagrados no mundo, como os de Chicago e Cannes. Em sua última passagem por Alagoas, além de participar do Seminário na Ufal, Cacá madrugou no

Movimento cultural do cinema brasileiro, iniciado nos anos 1950, em que um grupo de pessoas começa a produzir filmes com mais realidade e com menor custo. “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, dizia Glauber Rocha, considerado um dos pais do Cinema Novo.

Corujão do Cine Sesi e recentemente recebeu a Medalha do Mérito da República Marechal Deodoro da Fonseca, cedida pelo governador Teotônio Vilela Filho no Memorial da República. Apesar de ter vivido em Alagoas só até os seis anos de idade, o cineasta não esquece as origens: filmou longas em Alagoas, como Deus é Brasileiro (2002) e Joana Francesa (1973) e abordou o Estado em vários outros filmes, como Ganga Zumba (1964) e Quilombo (1984). Atualmente Cacá e Renata estão iniciando uma produção inspirada na poesia de O Grande Circo Místico, de Jorge de Lima. Os dois concederam uma entrevista à Vira que, apesar de ter sido feita no começo de novembro, antecipa algumas questões que vieram à tona com a megaoperação policial que expulsou os narcotraficantes do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ). Viração: No início do filme 5 x Favela, uma mensagem diz que “depois dos policiais, agora é a vez dos moradores da favela falarem sobre a realidade deles”. Essa série de filmes com a linguagem das comunidades tem aumentado no Brasil. Esse tema gera certo incômodo nos produtores de filmes com o foco nos policiais? Cacá Diegues: Na verdade, existe hoje um certo estereótipo da favela carioca. Um clichê da favela. E é claro que o noticiário foca mais no lado emocional e escandaloso, ou seja, na violência. Mas isso não significa que a

Linha do Tempo Carlos Diegues, o Cacá, nasce em Maceió (AL) e se muda, com sua família, aos 6 anos para o Rio de Janeiro

1940 18 Revista Viração • Ano 8 • Edição 68

O primeiro filme que fez foi Ganga Zumba, que retrata a história de um dos líderes do Quilombo dos Palmares

1964


Jhonathan Pino

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"A UPP é o primeiro projeto de segurança pública válido para as favelas do Rio de Janeiro. É um passo importantíssimo, pois recupera um território ocupado pelas armas." Cacá Diegues, cineasta

violência está presente o tempo todo. Apenas 0,02% da população de uma favela está ligada ao tráfico, mas são eles que controlam o espaço. E o resto dos 99,98 %, que são pais de famílias, pessoas que querem estudar e crescer na vida, mas estão prejudicados por essa situação. Eles precisam ter voz também. Então, a ideia de 5 x Favela foi fazer com que os jovens fossem porta-vozes de suas próprias vidas e recuperassem a sua própria identidade. Você escreveu, no jornal O Estado de S.Paulo, sobre a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas comunidades do Rio de Janeiro. Você acha que essa ação trouxe grandes mudanças? Cacá: A UPP é o primeiro projeto de segurança pública válido para as favelas do Rio de Janeiro. É um passo importantíssimo, pois recupera um território ocupado pelas armas. Mas se o Estado não trazer saúde, educação, saneamento básico etc., não vai adiantar nada, porque os meninos que estão sem emprego e precisam de renda vão para o lado do crime. Acabamos de fazer um documentário (4 x UPP) sobre esse assunto, dirigido por quatro diretores do 5 x Favela para dizer que a UPP é o primeiro passo para a mudança da realidade carioca que realmente tem valor.

E o filme que faz referência à obra de Jorge de Lima? Renata: É só um poema e está dando um trabalho (risos)! A gente ainda está no começo. Ele vai ser filmado aqui no Estado? Cacá: Ainda vamos ver, pois só vamos começar a gravação no segundo semestre de 2011. Não tem muita coisa decidida. V

ão

Divulgaç

Qual a maior diferença da primeira versão do 5 x Favela (1961) para o filme atual, além da classe social dos diretores? Cacá: A diferença basicamente é essa mesmo, pois enquanto o filme original era um filme generoso, que acabou sendo um marco para o Cinema Novo, tinha um olhar de fora da favela. A versão atual não, pois tem um olhar de dentro da favela, das

pessoas que moram lá. Portanto é um olhar diferente. Não estou dizendo que a outra visão é inválida e acho perfeitamente legítimo que os cineastas de classe média queiram fazer filmes como o 5 x Favela. Mas é preciso que as pessoas de dentro das favelas também possam ter essa oportunidade. Renata: E isso só foi possível quase 50 anos após o nascimento do chamado cinema moderno. Eu acho que faz todo um sentido, é uma coisa que desenha um olhar muito bacana que o cinema tem. O número de filmes que vocês produziram sobre Alagoas é bem expressivo, e agora vocês estão planejando um longa a partir do poema O Grande Circo Místico, de Jorge de Lima. Por que esse grande interesse cinematográfico por Alagoas? Cacá: A minha família, com exceção dos meus pais, está toda aqui em Maceió, e até os meus 13 anos eu passava as minhas férias aqui na capital. Meu pai, um antropólogo e escritor, nos fazia ler sobre o Estado e, nisso, ganhei uma formação cultural. Também viajei muito por Alagoas com ele, conhecendo tudo muito bem. Tenho laços sentimentais aqui. Mas a base do meu trabalho é no Rio de Janeiro. O filme O Quilombo, por exemplo, foi gravado no Rio de Janeiro, mas cita uma história de Alagoas.

Casou-se com a produtora Renata Almeida Magalhães

1981

Iniciam a produção de quatro documentários sobre as UPPs no Rio de Janeiro

2010

Filmagem do filme 5x Favela

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (al@viracao.org)

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mudanca de hÁbito em de trabalho, mas ainda exist o çã ua sit em s ça an cri de ro iro, Brasil teve redução no núme as ilegais. No cerrado brasile rad ide ns co es ad vid ati do upan mais de quatro milhões oc o assunto para alertar população sobre a em cin er faz a m de ren adolescentes ap

Fernanda Garcia, do Virajovem Campo Grande (MS)*, e Rafael Stemberg, da Redação

Q

uando os cantores Arnaldo Antunes e Paulo Tatit compuseram o sucesso infantil “Criança não trabalha, criança dá trabalho”, em 1998, o Brasil tinha mais de seis milhões de crianças e adolescentes trabalhando, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na época. Quase treze anos depois, o último relatório realizado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2009, ainda indica um número alto de pessoas até os 17 anos ocupando alguma atividade no mercado de trabalho. São 4,2 milhões. Desse total, 1,2 milhão estão na faixa entre cinco e 13 anos. Os números, que apontam redução, interpretam um esforço da sociedade civil, organizações e governo para acabar com o trabalho infantojuvenil no País. E esse é o caso da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que, desde 1992, mantém o Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil (Ipec, na sigla em inglês), que tem como objetivo cooperar com a erradicação do problema nos países membros. O Brasil integra esse programa desde o início e, segundo o Ipec, apresenta o melhor desempenho entre as 90 nações que possuem grande quantidade de crianças e adolescentes em situação de trabalho. De 2004 para cá, a redução foi de 20,7 %. Mas essa queda nos indicadores ainda não é motivo de comemoração. No levantamento do Pnad, 30% das 4,2 milhões crianças e adolescentes que trabalham não recebem nada pelo que fazem. Entre os que ganham alguma coisa, a média salarial está em R$ 278 mensais.

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A jornada de trabalho fica em 26,3 horas semanais. Quando o assunto é gênero, das crianças entre cinco e nove anos (123 mil), 69% são do sexo masculino. Considera-se trabalho infantil quando meninos e meninas estão abaixo da idade mínima exigida no Brasil (16 anos) para ocupar atividades econômicas ou de sobrevivência, remuneradas ou não. Esses trabalhos, em grande parte dos casos, também expõem as crianças e os adolescentes a situações de risco ou condições desumanas. Apesar disso, vale ressaltar a existência da condição de aprendiz a partir dos 14 anos de idade. Nesse caso, o adolescente exerce uma função relacionada à qualificação profissional, sem interferência nos estudos.

ileira l bras alhar a r e d Fe ab , ição r a tr idade nstitu e começa as nessa eríodo o C a p N M od s em nos. em p o jov r dos 16 a rcer tarefa oso i t e g a par deve ex ráter peri de os s a ão ele n o ou de c tanto, de ontratado n c n e r r u e o t s .N no pode lubre e insa s, o jovem prendiz. o a 14 an dição de n na co


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Em cada região do País, o trabalho infantil apresenta diferentes características. No Sudeste, os casos mais frequentes são os de trabalho doméstico e ocupações na indústria, enquanto no Sul predomina a mão-de-obra na agricultura e o Norte apresenta relatos de trabalho artesanal, por exemplo. “Em termos numéricos, a região que mais apresenta crianças e adolescentes trabalhando em atividades consideradas perigosas é o Nordeste, principalmente nos Estados de Tocantins e Piauí. No Sul, temos o cultivo do fumo. Em casos como esse, a criança também pode ter sua saúde prejudicada, já que se utiliza química nas lavouras”, conta o coordenador nacional do Ipec, Renato Mendes, em entrevista à Vira. Renato diz que o maior desafio para erradicar o trabalho infantil no Brasil é garantir uma educação de qualidade que atenda às especificidades de diferentes públicos. “Antigamente, unir trabalho e estudo era inconciliável. Hoje isso mudou. Temos 97% das crianças na escola nos primeiros anos, mas esse número cai conforme a evolução de série, pois elas não permanecem na escola para ajudar no complemento financeiro da família. É preciso criar um contraturno escolar com atividades de reforço, culturais e esportivas. O desinteresse pelo estudo também ocorre por conta da dificuldade de acesso à escola, por não ter transporte, merenda escolar e ambiente adequados”, fala o coordenador. Questão cultural Apesar dos indicadores mostrarem redução no número de crianças e adolescentes trabalhando, a auditora fiscal do Trabalho em Goiás, Katleem Lima, considera a diminuição tímida para os esforços que são feitos. Para ela, é preciso que todos os órgãos da rede de garantias de direitos da infância reflitam sobre o enfrentamento do problema. Ela ressalta, ainda, a existência de armadilhas no combate à prática, relacionadas à cultura e a mitos consolidados, como o pensamento de que “criança e adolescente que trabalha não traz problemas”. A questão cultural reflete inclusive no entendimento do que é considerado trabalho infantil. Relatórios da OIT destacam que o fato de crianças e adolescentes trabalharem “em casa” ou “com a família” também caracteriza exploração de trabalho, pois há casos em que

acional Pesquisa N Segundo a e Domicílios (Pnad), ra d por Amost e crianças e sd e õ 4,2 milh 7 anos, s, até os 1 sil. te n e sc ra adole B o n alhando Pnad diz estão trab o s, o n a oe9 . Entre cinc o d trabalhan ter 123 mil

os jovens são submetidos a extensas jornadas de tarefas no negócio familiar ou nos serviços domésticos. E para enfrentar também os casos envolvendo familiares, o governo federal criou o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), que garante apoio e orientação às famílias que possuem crianças em condições de trabalho por meio de ações socioeducativas. Além disso, incentiva o estudo e a realização de atividades esportivas, culturais e de lazer. Integrado ao Bolsa Família, o programa oferece à família uma renda mensal para cada filho entre sete e 14 anos de idade que for retirado do posto de trabalho. Mas o empenho do Peti não tem sido suficiente para atender a todos os jovens que trabalham em condições desumanas. Segundo o acompanhamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), o Peti consegue impactar na vida de 1,1 milhão de jovens trabalhadores, deixando de fora as outras 3,1 milhões. Sem participarem de ações socioeducativas, as crianças e os adolescentes que trabalham têm de dividir o tempo com a sala de aula. Com isso, o rendimento escolar fica abaixo da média, desmotivando esses alunos a continuarem frequentando a escola. Em Ribas do Rio Pardo, interior do Mato Grosso do Sul, essa é uma realidade recorrente. Município pobre, de aproximadamente 13 mil habitantes, teve seu crescimento populacional com a vinda de pessoas em busca do trabalho em carvoarias. Ao passar dos anos, os filhos desses carvoeiros foram herdando as mesmas atividades.

EDUCAÇÃO CULTURA ESPORTES

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30% das 4,2 milhões crianças e adolescentes que trabalham não recebem por isso. Entre os que ganham alguma coisa, a média salarial está em R$ 278.

dário

No município de Ribas do Rio Pardo (MS), jovens produzem filmes para alertar os moradores sobre a exploração de crianças e adolescentes no trabalho

Gira Soli

Iluminando Pensando nesses dados e no desejo de transformar realidades, o projeto Lanterna Mágica, do município de Ribas do Rio Pardo, nasceu para incentivar o uso da tecnologia e a criação de produtos audiovisuais como ferramenta pedagógica em quatro escolas públicas. O projeto, que envolve 85 adolescentes, produz vídeos de ficção e documentários com o tema trabalho infantil. “Queríamos levar a educomunicação para o interior do Mato Grosso do Sul e que tivesse um sabor diferente. Por isso apostamos na tecnologia e na conscientização dos jovens para uma temática importante como a exploração da mão-de-obra infantojuvenil”, explica Juliana Feliz, idealizadora da ação. Os adolescentes passam por uma formação sobre todo o processo de produção de vídeo, sempre acompanhado por um profissional. “O objetivo é que esses vídeos conscientizem a comunidade sobre os riscos do trabalho na infância e adolescência e que abra os olhos da juventude para a importância de estarem na escola e em cursos que lhes garantam um futuro melhor”, ressalta Juliana. Uma das monitoras do Lanterna Mágica e conselheira municipal dos direitos da infância e adolescência, a jornalista Magnólia Ramos diz que “o projeto é uma opção de atividade no contraturno escolar e um alerta sobre a questão do trabalho”. Maguí, como é conhecida pelos jovens, conta que, durante os debates nas oficinas, a maioria dos participantes acham “correto” o adolescente trabalhar. Segundo sua avaliação, isso se deve pelo fato do trabalho infantil ser tão corriqueiro na cidade que acaba sendo uma situação banalizada. “Tomamos muito cuidado com a formação de opinião de cada um dos participantes. Nas oficinas de educomunicação trabalhamos para que eles entendam os riscos que correm e para que não sejam explorados”, comenta. Os resultados são visíveis no dia a dia e nas conversas de avaliação da atividade. “Por mais que eu queira ter dinheiro para


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comprar coisas, se eu não for à escola vou ficar sempre na mesma situação”, aponta Fran, que participa do projeto. “As filmagens, e todo o envolvimento com os vídeos é muito importante para a autoestima dos jovens e o contato deles com a tecnologia. Os olhos deles brilham quando veem o vídeo pronto”, lembra Magnólia. Isso porque as oficinas de educomunicação e o debate sobre a conscientização do trabalho infantil acontecem em atividades práticas. Os jovens atuam desde a criação do roteiro, escolha das locações de filmagens e a edição final do produto. São os diretores, atores, câmeras, roteiristas e cenógrafos. “Eles se envolvem em todo o processo de produção de um filme. E isso tudo aqui em Ribas do Rio Pardo, uma cidade onde eles nem tem acesso a cinema”, diz o coordenador pedagógico do projeto, Júlio Feliz. “É muito legal aprender como os filmes são feitos. É tudo como uma grande mágica. Os cenários, os sons, dá vontade de fazer isso para sempre”, empolga-se um dos adolescentes, Ademir. O Projeto Lanterna Mágica é uma iniciativa da Gira Solidário – Promoção e Defesa dos Direitos da Infância e Adolescência (www.girasolidario.org.br), em parceria com a EDP, empresa responsável pela geração e distribuição de energia elétrica em Estados brasileiros. Além disso, muitas organizações também apostaram nessa ideia e incentivam a realização de projetos que estimulem o envolvimento social, cultural e responsável dos adolescentes na sociedade, assim como a Vira. Pelo Brasil, muitas organizações realizam atividades como o Lanterna Mágica. Em Curitiba (PR), a Ciranda Comunicação realiza o Luz, Câmera...Paz na Escola. Em Aracaju (SE), o Instituto Recriando também aposta na produção audiovisual como ferramenta de inclusão. Ou seja, iniciativas e vontade de mudança é o que não faltam para ajudar na erradicação do trabalho infantil. E você também pode colaborar nessa ação, mapeamento as atividades de enfrentamento ao problema e vendo como se inserir na parada.

Se você co exploraç nhece algum ca ão de cri s anças e o de adolesce ntes no trabalho Secretari ,a a criou um de Direitos Hum anos a linha e sp receber denúncia ecial para s, o Disq Sua iden ue tid e o serv ade permanece 100. iço tamb em sigilo ém tipos de denúncia recebe outros s, exploraç ão sexua como o de l.

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Faça Vir

Reúna a turma da escola, da igreja ou os vizinhos de sua casa, e proponha um debate sobre o tema trabalho infantil. Procurem saber quantas pessoas conhecem alguma criança ou adolescente, com menos de 17 anos, que esteja em situação de trabalho irregular (pode ser doméstico, no campo, na indústria...) e iniciem um mapeamento para saber quais são os programas de governo ou de ONGs, próximos de sua região, que oferecem auxílio para reverter esse problema. Com o levantamento em mãos, avaliem a melhor forma de divulgar esses programas no bairro, sem expor ninguém, para que todos saibam como ter acesso a eles.

V

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (ms@viracao.org)

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem um site especial com informações e propostas para a erradicação do trabalho infantil: www.oitbrasil.org.br/ipec

EDUCAÇÃO CULTURA ESPORTES

Revista Viração • Ano 8 • Edição 68 23


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Rango da terrinha

O astro de Campo Grande é japonês Conheça o sobá, o queridinho das noites na Feira Central Fernanda Garcia, do Virajovem Campo Grande (MS)*

Q

uando os primeiros imigrantes japoneses desembarcaram no Brasil em 1908, fugindo da crise que abalou o Japão com suas guerras, desemprego e superpopulação, chegaram com grande capacidade de adaptação, vontade de uma vida melhor e coragem para desbravar o interior do País. Com esse espírito, 75 imigrantes, a maioria de Okinawa (província do Japão) partiram do Porto de Santos para Campo Grande, que na época pertencia ao Mato Grosso, para trabalhar na construção da Ferrovia Noroeste do Brasil. Depois da ferrovia pronta, criaram raízes em terras sul-mato-grossenses e formaram aqui a 3° maior colônia de imigrantes japoneses no Brasil. Trabalharam no desenvolvimento do Estado, influenciaram os costumes e hoje são parte fundamental da economia desta terra. Acostumado a muito churrasco e mandioca, o campo grandense não dispensa os sabores orientais como o sobá. Trata-se de um prato japonês, típico da região de Okinawa, que caiu nas graças da população. E que fique claro: não estamos falando de yakissoba. A receita é simples e leva macarrão japonês com carne suína ou bovina, cebolinha, omelete em fatias bem finas e o caldo de cozimento da carne. Já o tempero é um segredo milenar que ninguém divulga, mas vai molho de soja, gengibre e paciência. “O sobá é a maior contribuição da colônia japonesa para Campo Grande. Virou um símbolo cultural”, afirma a jornalista Maristela Yule, diretora do documentário Arigatô, que relata a história da colônia japonesa no Estado. Mais do que conhecido, o sobá é um verdadeiro astro da culinária local. Na Feira Livre de Campo Grande, conhecida como Feirona, existem 20 restaurantes especializados. E aos sábados o local reúne facilmente duas mil pessoas. Apesar dos muitos segredos que cercam essa iguaria, é possível fazer o sobá em casa com algumas adaptações e é um ótimo prato para comer com a galera. E fica o convite de uma visita a Campo Grande para provar o verdadeiro sobá de Okinawa. V

- 1 quilo de carne de porco (pode ser bisteca, que é fácil de cortar e limpar) ou carne de boi - 3 raízes de gengibre a gosto - 3 limões (pode ser vinagre) - 4 dentes de alho - sal - Shoyo (molho de soja) - 500 gramas de macarrão para sobá (pode substituir por macarrão japonês) - 6 ovos - Cebolinha picada a gosto

Como preparar o sobá Tempere a carne um dia antes e deixe descansar para pegar bem o tempero. Limpe a carne e lave com 2 limões. Bata no liquidificador o outro limão, junte o gengibre, o alho e um pouquinho de água para conseguir bater. Mas atenção: se vai colocar shoyo, coloque pouco sal no tempero e deixe para completar depois de cozido. Mergulhe a carne na mistura do liquidificador e leve à geladeira até o dia seguinte. Durante o processo de cozimento, vá acrescentando o shoyo para dar cor. Separe a carne desse caldo e monte o prato em cumbucas como na foto. Bata os ovos com um garfo e faça uma omelete como se fosse fazer uma panqueca. Depois enrole-os e corte em fatias bem fininhas. Coloque o macarrão cozido, o caldo, pedaços da carne, fatias da omelete e a cebolinha picadinha, mais um pouco de caldo e é só saborear.

Divulgação

Ingredientes

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presente em 22 Estados e no Distrito Federal (ms@viracao.org)

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Ivo S sa ou

A C E o n o De olh

Como crianças e adolescentes podem participar do processo de adoção? Jhonatan Freire de Oliveira, do Virajovem Brasília (DF)*

A

Outro ponto importante na lei é o reforço da importância da opinião da criança e do adolescente em todo o processo de definição do poder familiar, “respeitando seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida”. Essa mudança, na verdade, só reafirma o que já garante o ECA, em uma perspectiva de ver criança e adolescente como sujeitos de direitos, participando do seu próprio desenvolvimento e de toda a sociedade. Mas para que o artigo seja realmente efetivado, a Justiça vai ter que se esforçar bastante. Isso porque até recentemente não era costume nas práticas jurídicas considerar as concepções e experiências de crianças e adolescentes no desenvolvimento de um processo de adoção, restringindo-se apenas aos marcos regulatórios, desconsiderando assim toda a conjuntura social apresentada. Além disso, se faz necessária a instalação de uma equipe que reúna profissionais de diversas áreas e seja como uma “ponte” entre o Judiciário, o Ministério Público, o adotando e a nova família. Medida importante, pois apenas profissionais especializados em atendimento psicossocial poderão auxiliar esta participação infantojuvenil, principalmente quando envolve casos de violência no passado dos adotandos. Assim, é indispensável que os operadores do Sistema de Justiça participem de capacitações sobre participação infantojuvenil na garantia dos seus direitos, para compreender como é importante trazer para junto de si crianças e adolescentes, contribuindo no desenvolvimento de suas atividades, aprimorando, dessa forma, a Justiça da Infância e da Juventude. V

Lentini

garantia dos direitos da criança e do adolescente no Brasil está entrando em uma nova conjuntura, após a reformulação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com a promulgação da lei nº 12.010, em 03 de agosto de 2009. Tal legislação é um grande avanço, pois traz um ponto muito importante: tornar prioridade a criança e o adolescente no contexto familiar, elemento fundamental para o desenvolvimento psicossocial do indivíduo. Antes desta legislação era notória a descriminação dos procedimentos de adoção, em que, por exemplo, qualquer pessoa que gerasse uma criança e não a quisesse, deixava-a “disponível” no hospital para que qualquer outra pessoa a tomasse como filho. Bastava apenas, em seguida, efetuar o registro de nascimento. Agora essa prática é proibida, pois a nova lei prioriza o contexto familiar para o convívio da criança e do adolescente. E traz novos termos: “família extensa” (parentes próximos, como avós, tios, primos etc. têm prioridade), “família substituta” (que pertence à mesma família, mas que não teve laços afetivos) e, em última instância, a “família acolhedora” (previamente cadastrada para adoção de crianças e adolescentes em acolhimentos institucionais – antigos abrigos).

Um dos Conselhos Jovens da Vira presente em 22 Estados e no Distrito Federal (df@viracao.org)

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g a

Uma rede compartilhada Segundo Fórum da Cultura Digital Brasileira reúne gente que faz da internet ambiente de inovação e colaboração Textos e fotos: Carol Timotéo, Damiso Faustino, Gutierrez Silva, Liliane Alves de Freitas, Luciano de Sálua, Michel Sanabio Santos, Nádia Oliveira dos Santos, Vivian Ragazzi, Samia Perêira, Weslley Thiago do Nascimento, da Agência Jovem de Notícias

E

ntre os dias 15 e 17 de novembro, a Cinemateca Brasileira, em São Paulo (SP), foi cenário para o 2º Fórum da Cultura Digital Brasileira, evento que discute as políticas públicas relacionadas à internet e permite a criação de uma rede permanente de formulação e construção do ambiente virtual brasileiro. Esta edição reuniu as iniciativas de cultura e comunicação existentes no País, que estão conectadas pela rede social CulturaDigital (http://culturadigital.br), lançada em julho de 2009, além de possibilitar o encontro de redes, coletivos, ativistas e representantes de órgãos governamentais, durante uma semana, para a troca de experiências e ideias. Tendo o slogan “A rede das redes”, o fórum apresentou a mobilização dos trabalhos da articulação em rede, que partiram de ações no plano virtual para serem discutidas em encontros presenciais. Para contemplar esses debates, o fórum foi consolidado em cima de cinco eixos de discussão: arte, comunicação, economia, infraestrutura e memória. Nesta edição, ficou evidenciado o caráter colaborativo do evento, que a todo momento deu visibilidade a projetos novos na rede. Também houve espaço para quem quisesse apresentar pesquisas e iniciativas sobre cultura de rede. Quem compareceu pôde participar de diversos seminários, debates, oficinas, encontros de redes, trocas de experiências e projetos de web cidadania. André Deak, da Casa de Cultura Digital, organizadora do evento, afirma que está otimista quanto aos rumos da cultura digital no Brasil. “As discussões continuam rolando na internet. O fórum é um encontro presencial, mas é só um ponto. As redes continuam conversando e se articulando”.

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As atividades do evento eram realizadas, simultaneamente, em diferentes salas, além de três tendas que foram montadas especialmente para o fórum. A galera da Vira esteve por lá para conferir, participar das discussões e realizar a cobertura da Agência Jovem de Notícias. A seguir, você confere um pouco do que rolou. V


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Nossas impressões, em 3D!

Encontramos muitas coisas curiosas durante o evento. Mas, certamente, a impressora 3D (terceira dimensão) foi a nossa impressão mais diferente. Rodrigo Rodrigues da Silva, 24 anos, morador do interior de São Paulo, é o inventor da máquina. “O fórum é um evento único no País. Não são apenas palestras, nós estamos fazendo as coisas sobre as quais estamos falando”, conta Rodrigo. A impressora imprime objetos tridimensionais a partir de um filamento de plástico. Primeiro a impressora derrete o material, e em seguida o aplica em camadas até formar um objeto sólido. Rodrigo explica que a impressora é, também, um hardware (conjunto de componentes eletrônicos) aberto. “Este conceito é derivado do software livre, já que todo o projeto da máquina pode ser baixado da internet, compartilhado, modificado e redistribuído”, diz o jovem.

Cadê a liberdade de expressão? Com uma liminar emitida, a Folha de S. Paulo tirou do ar um blog que parodiava as notícias de seu jornal. Chamado "Falha de São Paulo", o blog humorístico não tinha como objetivo a ofensa, e sim “tirar uma onda”, como disseram os irmãos Mário e Lino Bocchini, donos do espaço virtual. A brincadeira resultou num processo de 88 páginas que pede R$1.000/dia de indenização por direitos morais. A Folha disse que os irmãos fizeram "uso indevido da marca". Desde que não haja uma condenação pública significativa, o jornal tem uma enorme chance de ganhar a causa. "Já apresentamos nossa defesa, mas com um esperto desvio de discussão para o campo da liberdade de expressão, a Folha tem grande chance de ganhar essa", lamenta Mário."Para nos ajudar, vocês, leitores, precisam acessar o site www.desculpeanossafalha.com.br e deixar comentários, escrever para nós, pois só assim podemos ter uma chance de vencer a falta de liberdade de expressão”, encerraram a dupla.

Um blog em aimará Com suas longas tranças negras e bolsa com as cores típicas dos Andes, a estudante indígena Victoria Tinta, moradora de El Alto (Bolívia), era uma presença marcante nas salas e lounges do Fórum de Cultura Digital Brasileira. Ela apresentou a experiência do blog Jaqi-aru (www.jaqi-aru.org), que tem o objetivo de divulgar e valorizar a língua aimará no ciberespaço. Cerca de 1,2 milhões de pessoas falam esse idioma na Bolívia, que também é utilizado no Peru, Argentina e Chile. Cerca de 30 voluntários produzem conteúdo e desenvolvem traduções para o blog, existente desde 2009. O projeto tem apoio do Voces Bolivianas, ONG que busca capacitar as pessoas para o uso das ferramentas da web 2.0 (blogs, fotos, vídeos e áudios). O blog está em espanhol, inglês e aimará. Em sua primeira visita ao Brasil, Victoria, que tem 30 anos, disse que participar do projeto é importante para ela por “fazer parte da cultura” e ter o aimará como língua materna. Disse também que a oportunidade de vir ao Brasil e compartilhar o que sabe é interessante, pois possibilita a troca de conhecimentos e novas vivências.

O jovem Rodrigo Rodrigues criou uma máquina que imprime imagens em 3D A boliviana Victoria Tinta veio ao Brasil participar do fórum

Você pode ler mais notícias produzidas pelos jovens em: http://culturadigitalbrasileira.blogspot.com/ Confira a linha do tempo da web: http://linhadotempo.culturadigital.org.br/

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O lado palestino s anos e humanitário na Palestina há trê ho bal tra liza rea s rãe ima Gu A brasileira Sandra rcitos” o guerras, pois “não há dois exé com ião reg da os flit con os r diz não classifica Andressa Vieira e Kassandra Lopes, do Virajovem Natal (RN)*

E

trata de uma ntender os delineamentos dos guerra, pois para conflitos no Oriente Médio sempre foi existir uma uma tarefa difícil. A mídia e os livros guerra são nos ensinam muito à respeito do tema, necessários dois mas talvez sem nunca registrarem o exércitos. “Não olhar dos que vivem na região. Árabes e há dois exércitos: judeus milenarmente se enfrentam no Há um exército local em busca de uma verdade israelense que religiosa, possivelmente nunca recrimina os encontrada. Um olhar de quem há palestinos.” alguns anos convive com o conflito Mesmo após pode nos aproximar de a criação do outras visões e realidades da Em visita ao Brasil, Sandra ministrou palestra Estado de Israel ocupação israelense sobre direitos humanos na Universidade pela ONU em 1948, a expansão na Palestina. Federal do Rio Grande do Norte israelense ainda continua pela A jovem Sandra região. Na Palestina, há 149 colônias de Guimarães, linguista natalense, Israel e mais 100 autoposts, que Sandra define como chefe de cozinha e voluntária, pretendia possíveis futuras colônias. O mais grave é que essa passar apenas três semanas na Palestina, expansão se sustenta, na maioria das vezes, pela agora já são três anos. Atualmente Sandra expulsão dos palestinos de suas casas. As casas são trabalha para uma ONG como monitora de demolidas por motivos ínfimos e o morador ainda tem higiene buco-dental e possui dois projetos que arcar com as despesas da demolição. Soma-se a independentes: um em que, em parceria com isso a proibição aos palestinos de construírem e uma voluntária americana, oferece aulas de reformarem suas residências sem a autorização do inglês e de nutrição para mulheres; o outro governo israelense, liberação essa que costuma levar destinado a mães que possuem filhos mutilados anos, já que não é interesse do governo a pelos conflitos que acontecem no local. O governo permanência dos palestinos. israelense não reconhece o espaço da Palestina como Além disso, Sandra explica que ainda são feitos território independente de Israel. diariamente checkpoints, postos militares de controle. Sandra reside na cidade de Belém, na Cisjordânia, Neles, os moradores palestinos são parados no meio e trabalha próximo à região. Mesmo com toda a das ruas e muitas vezes não têm a sua passagem instabilidade do lugar e os perigos eminentes de um permitida. Nessa situação, crianças palestinas são ataque, ela explica que não era possível se esconder dos impedidas de irem para a escola ou pais e mães de acontecimentos, um visível massacre social, cultural e família de retornarem para suas casas. territorial da população árabe na região. Para ela, não se

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Muro da Separação, iniciado em 2002 por Israel. Trecho situado próximo ao local de trabalho de Sandra

Sandra Guimarães

Como forma de consolidar essa expansão, Israel está construindo um Muro da Separação. Iniciado em 2002 e com 60% da construção concluída, o muro é ilegal e, assim como os checkpoints, priva a liberdade de transitar dos palestinos. Segundo Sandra, os palestinos ainda sofrem carência de itens essenciais “dos 3000 produtos considerados vitais para a sobrevivência, Israel só deixa passar 81 para a Faixa de Gaza”, explica ela. A água é outro enorme problema na região. Toda a água da Palestina é extraída para Israel a fim de ser tratada, contudo, 70% dela fica em Israel e os outros 30% são vendidos à Palestina. Sandra lamenta a visão equivocada feita do povo palestino, que ela acredita principalmente ser gerada pela mídia e pelos livros. “Os israelenses sofrem uma espécie de lavagem cerebral. Os livros de História são alterados e fazem com que o povo acredite que eles sempre moraram ali e que os palestinos são terroristas e tentam invadir os territórios israelenses.” E ainda afirma que “há uma forte ligação israelense com os EUA e a mídia geral acaba sendo manipulada por isso”. Contudo, Sandra alerta que não são todos os israelenses que hostilizam os palestinos. Há israelenses que militam pela causa árabe, sendo até renegados em suas famílias. Mas ela acredita que as soluções desse conflito estão bem longe de serem encontradas e ainda enfatiza “Não é uma Guerra Santa. É um governo que está colonizando um território há mais de 60 anos e ninguém faz nada”. V

Fique por dentro das novidades da Viração World: www.viracaoworld.tk (selecione o idioma no topo da página)

Famílias moram em barracas perto da faixa de Gaza

Mais informações sobre a situação palestina pode ser encontrado no site (em inglês) da Agência da ONU especial para os refugiados palestinos (UNRWA) http://www.unrwa.org

Um dos Conselhos Jovens da Vira presente em 22 Estados e no Distrito Federal (rn@viracao.org) Revista Viração • Ano 8 • Edição 68 29


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S M S o l e p z A pa estimula o engajamento Renato Banjaqui, de Guiné-Bissau, reza e por fim às guerras dos jovens para acabar com a pob

Vivian Ragazzi, da Redação

A

os 20 anos, Renato José Carlos Banjaqui, de Bissau, capital de Guiné-Bissau, fala como um veterano sobre política. Sua trajetória começou em 2000, quando participou de um concurso de redações na escola sobre o tema paz. Guiné-Bissau estava saindo de uma guerra civil, que durou um ano (entre 1998 e 1999), e Renato tirou o terceiro lugar. A premiação o deixou motivado para entender mais sobre seu país, o que fez com que ingressasse no Parlamento Nacional Infantil aos 10 anos. “Não é para esperar quando está adulto, deve-se começar muito cedo”, enfatiza. Depois de se eleger como deputado federal infantil, o jovem foi indicado pelo presidente do Parlamento

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como secretário-geral. O órgão é constituído por crianças que trabalham com advocacy sobre a infância junto ao governo. A partir daí, com gabinete no Parlamento e acesso fácil às autoridades, como o presidente do Parlamento, o presidente da República e o primeiro-ministro, Renato pôde entender melhor e exercitar sua paixão por política. Só que o entusiasmo do Por dentro rapaz não convenceu sua mãe, Advocacy é um que vive tentando dissuadi-lo de conjunto de ações, seguir carreira na área, junto ao governo e à considerada “muito perigosa”. sociedade como um Ela ficou especialmente todo, que visam preocupada com as escolhas do influenciar a filho quando, em 2008, o formulação e execução presidente do país, João de políticas públicas. Bernardo “Nino” Vieira, foi assassinado por militares das Forças Armadas. “O país ficou em estado de sítio. Minha mãe ficou tensa, desmaiou”, lembra Renato, que prossegue: “A Guiné-Bissau é um país muito pobre [é o 175º entre os 177 países avaliados pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU], mas os políticos só querem ganhar dinheiro, pensam num jeito muito capitalista de fazer política”. Ele avalia a experiência no Parlamento Nacional Infantil como válida e importante para seu


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rg

Renato também contribui com seu país de um jeito diferente: mandando mensagens de paz pelo celular para amigos e muitos desconhecidos. “Uma empresa de telecomunicações entrou em contato comigo e fizemos uma parceria. Mando as mensagens de paz todos os dias para centenas de pessoas”, conta, animado. Tudo isso com uma certeza: “Um dia Guiné-Bissau será um paraíso completo, sem guerras, um país de paz”. V

Rafael Stembe

crescimento, mas valoriza o trabalho voluntário das organizações não-governamentais e dos movimentos sociais. “São essas as pessoas que realmente estão com vontade de participar e fazer sua contribuição pelo país.” Renato é um desses voluntários. Trabalha diariamente, há seis meses, no Conselho Nacional da Juventude, organização do governo guineense que desenvolve cursos e campanhas nacionais de sensibilização para jovens sobre temas como prevenção às doenças sexualmente transmisíveis, HIV/aids, cidadania, paz, ativismo. Ele também cursa o primeiro ano de uma faculdade pública de Administração. Foi por meio dessa organização que Renato soube de um evento que reuniu em Brasília (DF) ativistas como ele, o encontro Laços Sul-Sul. O jovem veio ao Brasil para participar do primeiro Encontro Laços Sul-Sul Jovem, promovido pelo UNICEF, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, em junho de 2010. Ao lado de outros 14 adolescentes vindos de países da América Latina, África e Ásia, Renato representou a Guiné-Bissau na criação da rede de cooperação juvenil para o enfrentamento do HIV/aids, uma ação complementar à Rede Laços Sul-Sul, criada em 2004, num acordo conjunto entre os governos do Brasil, Bolívia, Paraguai, Nicarágua, Timor Leste, São Tome e Príncipe, Cabo Verde e Guine-Bissau para promover o acesso universal à prevenção, tratamento e cuidados na área de HIV/aids.

Mensageiro da paz Ainda na infância, Renato se deparou com a dura realidade da guerra. Entre 1998 e 1999, o país viveu uma guerra civil, provocada por um confronto entre tropas militares rebeldes e forças presidenciais. Milhares de guineenses se refugiaram por toda a África. Ele recorda um atentado a bomba em uma missão católica, que matou dezenas de pessoas. “Lembro de muita gente chorando, era triste”, conta. O local atingido ficava perto da casa de seu avô, que foi destruída. Renato é o único dos seis filhos que ainda mora com os pais – os outros estão estudando fora. A mãe cuida da casa e o pai é médico. O pai tem mais dois filhos, do primeiro casamento, quando morava no Senegal. Após a separação, foi para Guiné-Bissau para estudar medicina e de lá conseguiu bolsa de estudos para Cuba. Apesar de ter muitos amigos, a rotina de ativista dificulta encontrá-los para jogar conversa fora e matar a saudade. Tempo ele arruma para a namorada, que estuda na mesma faculdade que ele, mas em classes diferentes. “Gosto muito dela”, confessa, tímido. Casamento está em seus planos - “mas quero ter apenas dois filhos, a situação econômica de GuinéBissau é muitodifícil”, justifica.

Na infância, Renato presenciou uma guerra civil em seu país, que durou um ano.

A cada edição você acompanha as histórias de um dos jovens participantes do encontro Laços Sul-Sul Jovem, que ocorreu em Brasília (DF). A Vira esteve presente a convite do UNICEF.

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Sexo e Saúde

Saindo do armário isibilidade de acabar com o silêncio e inv er qu de ida ers Div a ra pa Prêmio Educando fobia no ambiente escolar práticas no combate à homo

boas

Lilian Romão, em Brasília (DF)

A

inda é muito complicado debater alguns assuntos na escola. Infelizmente, aqueles sobre sexualidade são os que enfrentam as maiores barreiras. Despreparo dos profissionais, falta de materiais adequados, de informação e compreensão sobre o que é sexualidade e diversidade sexual são os principais empecilhos para a redução da discriminação contra homossexuais no ambiente escolar, de acordo com a pesquisa qualitativa do projeto Escola sem Homofobia. O estudo foi realizado em seis diferentes capitais do Brasil para conhecer como e o que a comunidade escolar, isto é, professores, funcionários e estudantes, do 6º ao 9º ano da rede pública de ensino, pensa sobre a homofobia. Iniciativas importantes vem sendo desenvolvidas pela redução do preconceito. O ano de 2010 contou, por exemplo, com a criação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD), que terá o “nome social” de Conselho Nacional LGBT. Mas muitas ações positivas não conseguem ultrapassar os muros do silêncio social para serem conhecidas, reconhecidas e multiplicadas pela sociedade. A juventude invisível O Prêmio Educando para a Diversidade Sexual foi criado para reduzir a invisibilidade de boas experiências, que de formas diferentes e criativas falam sobre

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sexualidade, diversidade, preconceito, discriminação, homofobia e sua relação com a escola. Pessoas, universidades e organizações foram premiadas por ações para o combate ao preconceito na escola contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transsexuais. O livro Diversidade sexual na escola foi o destaque na categoria Publicação sobre educação e diversidade sexual. Seu coordenador, Alexandre Bortolini, dedicou a premiação aos jovens do Brasil. “É a juventude que está transformando a realidade das nossas escolas. Existe uma invisibilidade do jovem homossexual. Mas eles estão buscando seus direitos. Não há uma escola que a gente vá na qual algum jovem não tenha enfrentado a própria escola para combater o preconceito. Esse papel, e essa movimentação da juventude, a sociedade ignora”, contou durante a entrega do prêmio em dezembro, em Brasília (DF). Outro premiado que fala direto para a juventude é o espetáculo de teatro “Coisas de menina”, do Grupo de teatro do oprimido “Diversidade EnCena” (diversidadeemcena.blogspot.com). A produção conta a história de uma estudante com trejeitos masculinos que é perseguida pela diretora da escola por gostar de jogar futebol. Ao final, os “espectadores” são convidados a entrar em cena e propor alternativas para os problemas levantados. Estima-se que mais de 2000 alunos já tenham assistido à peça. Leandro Lopes do Nascimento, integrante do grupo, destaca que “a peça é uma forma lúdica de falar de um assunto tão pesado e tão difícil de ser tratado na escola e com a juventude”. Comunicação contra a homofobia Na categoria publicação sobre educação e diversidade sexual, a ECOS (Comunicação em Sexualidade), de São Paulo, foi homenageada pela iniciativa Boletins Escola Sem Homofobia (Bolesh). Para a coordenadora da iniciativa, Lena Franco, os materiais da escola ainda têm uma lógica violenta e desumaniza o outro. Os boletins são importantes instrumentos pedagógicos na abordagem de temas junto a adolescentes e jovens


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Divulgação

Prêmio foi criado para dar visibilidade a experiências que abordam o tema diversidade em ambientes educativos

estudantes. “Desnaturalizar a homofobia é papel da escola”, finalizou. Homenagem travestida Luma Andrade, que recebeu uma homenagem especial, é a primeira travesti a ingressar em um curso de doutorado no Brasil. Cearense da cidade de Morada Nova, filha de uma família de trabalhadores rurais, apanhava na escola dos colegas por ser considerada “fora dos padrões”. Nada, entretanto, abalou seu desejo de continuar estudando. Luma já foi professora, atualmente trabalha na 10ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação, da Secretaria de Estado da Educação do

Ceará, e ingressou na Universidade Federal do Ceará para fazer um doutorado em Educação. Ela luta para vencer o preconceito e deixa claro que seu maior objetivo é conseguir que as escolas públicas aprendam a trabalhar a diversidade.“Nem todo mundo pensa como a gente. Existem pessoas que ainda não tomaram consciência do que é violência. Tive que entrar na justiça para dar aula no Ensino Médio e estou com um processo contra a universidade que não quer me aceitar no concurso. Quero dizer que a gente não pode deixar de sonhar. Eu estarei lá, ensinando, mais do que a disciplina, as pessoas a amar e respeitar aos outros”, finaliza.

O que é o prêmio O Prêmio Educando para a Diversidade Sexual tem a finalidade de reconhecer, valorizar e incentivar a promoção do respeito à diversidade sexual no ambiente educacional no Brasil. O Prêmio foi idealizado pela Aliança Global para Educação LGBT (Gale), uma comunidade internacional de aprendizagem para educadores que visa promover a inclusão plena de pessoas que são prejudicadas por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero, identificando, aprimorando e compartilhando conhecimentos especializados na área da educação. Foi executado pela organização não governamental Centro Paranaense da Cidadania (Cepac). As iniciativas estão à disposição no Centro de Documentação Professor Doutor Luiz Mott, em Curitiba (PR).

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Lilian Romão

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Nova onda de Descol@dos Em Brasília (DF), adolescentes lançam revista de direitos humanos e orçamento público da Redação, com informações do Inesc

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iniciativa é fruto do projeto “Onda: adolescente em movimento pelos direitos”, realizado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e tendo como apoiadores a Kindernothilfe (KNH), organização alemã dedicada aos direitos da criança e do adolescente, e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). O processo de construção da revista é caracterizado por uma rica experiência pedagógica. Antes de conceber a revista, os estudantes participaram de oficinas em diversas áreas dos Direitos Humanos, como relações de gênero, diversidade sexual, desigualdades de raça, violência e exploração sexual com o objetivo de garantir olhar livre de preconceitos e de linguagem preconceituosa. Temas como orçamento público, direitos humanos, política nacional e internacional, transporte público e sexualidade foram discutidos em reuniões de pauta e os assuntos escolhidos se transformaram em matérias que compõem a revista Descol@dos.

Segundo a coordenadora do projeto, Márcia Acioli, a ideia da produção da revista surgiu há dois anos. “Conheci a Revista Viração, uma publicação concebida e feita por jovens de todo o Brasil. Percebi então o potencial comunicativo da proposta e entendi que poderíamos contribuir para alastrar nossos debates se os próprios adolescentes escrevessem as matérias e investigassem o orçamento público destinado à realização de seus direitos. Em cada escola observamos que havia temas diferentes que mobilizavam os estudantes. Daí foi bastante fácil motiválos”, afirma. Essa é a primeira edição da revista, que pretende ter um exemplar por ano. A publicação será distribuída gratuitamente nas escolas públicas do Distrito Federal (DF) e entre os movimentos sociais. Em outubro de 2010, o Inesc e a galera da Descol@dos passaram a integrar o Conselho Jovem da Vira em Brasília (DF). V

O projeto “Onda adolescente em movimento pelos direitos” pretende fortalecer a capacidade de atuação dos jovens no monitoramento das políticas públicas a eles destinados. Saiba mais sobre o projeto em www.inesc.org.br


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“Cabrocha prá sê bunita Bunita como os amô Basta um vestido de Chita Si chamá Maria Bonita E na cabeça uma frô” (autor desconhecido)

Novaes

Homenagem a Maria Bonita (1911 - 1938), a rainha do Cangaço, um dos principais movimentos de indignação social que marcou a história do Brasil.


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