Revista Viração - Edição 49 - Fevereiro/2009

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V iRAÇÃO Ano 7 · no 49 · Fevereiro 2009 R$ 5,00 · www.revistaviracao.org.br

Mudança,

atitude e ousadia jovem

IMERSÃO IMERSÃO na ARTE na TROPA TROPA de ELITE? ELITE? Quando aa proteção proteção vira medo

Ocupe o espaço Ocupe público, ele ele é seu! público,

VOLUNTARIADO VOLUNTARIADO JOVEM JOVEM Saiba o que move essa galera

Fórum Social Mundial2009

De braços abertos para o novo


Veja quem faz a

Brasil

pelo

Vira Centro Cultural Bájò Ayò João Pessoa (PB)

Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG) – www.aic.org.br

Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br

Catavento – Fortaleza (CE) www.catavento.org.br Ciranda Curitiba (PR) – www.ciranda.org.br

Casa da Juventude Pe. Burnier Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br

fen)

Companhia Terra-Mar Natal (RN) – www.ciaterramar.org.br

Centro de Referência Integral de Adolescentes Salvador (BA) – www.criando.org.br

Agência Uga-Uga – Manaus (AM) www.agenciaugauga.org.br

Diretório Acadêmico Freitas Neto Maceió (AL) Girassolidário – Campo Grande (MS) www.girassolidario.org.br

Fundação Athos Bulcão Brasília (DF) – www.fundathos.org.br

Centro Cultural Escrava Anastácia Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) – www.soudeatitude.org.br

Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) Grupo Atitude – Porto Alegre (RS)

Virajovem Vitória – Vitória (ES)


Palco de um novo mundo

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ntre janeiro e fevereiro de 2009, a cidade de Belém (PA) foi sede da nona edição do Fórum Social Mundial. Representantes de movimentos sociais, organizações nãogovernamentais, trabalhadores, estudantes, cidadãos do mundo e outros segmentos da sociedade estiveram reunidos para discutir alternativas ao modelo capitalista de produção. Durante uma semana, as universidades federais foram territórios de oficinas, seminários, debates, apresentações culturais, celebrações, denúncias e o mais importante: um grande intercâmbio de experiências vividas. Durante o mais importante evento anticapitalista do mundo, povos de todas as nações tinham um único propósito: contribuir para a construção de um mundo mais justo socialmente, assim como no slogan do FSM. E a Revista Viração não podia ficar de fora desse momento tão importante para a sociedade. Uma equipe jovem e motivada fez a cobertura das quase 2500 atividades autogestionadas com a participação de 80 virajovens de vários cantos do Brasil. Durante toda a semana do evento, a galera produziu matérias em tempo real de tudo o que acontecia no território livre do FSM 2009.

Valeu

Virajovens! VIRAÇÃO

é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pelo Projeto Viração da Associação de Apoio a Meninas e Meninos da Região Sé de São Paulo, filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo; CNPJ (MF) 74.121.880/0003-52; Inscrição Estadual: 116.773.830.119; Inscrição Municipal: 3.308.838-1

ATENDIMENTO AO LEITOR Rua Augusta, 1239 – Conj. 11 Consolação – 01305-100 – São Paulo – SP Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 / 9946-5584 HORÁRIO DE ATENDIMENTO das 9 às 13h e das 14 às 18h E-MAIL REDAÇÃO E ASSINATURA redacao@revistaviracao.org.br assinatura@revistaviracao.org.br

QUEM SOMOS

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iração é um projeto social de educomunicação, sem fins lucrativos, criado em março de 2003 e filiado à Associação de Apoio a Meninos e Meninas da Região Sé. Recebe apoio institucional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.revistaviracao.org.br), contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 21 capitais, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses quatro anos estão o Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá’í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, abaixo, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira Lima Diretor da Revista Viração – MTB 27.300 CONHEÇA OS 21 VIRAJOVENS EM CAPITAIS BRASILEIRAS • Belém (PA) – pa@revistaviracao.org.br • Belo Horizonte (MG) – mg@revistaviracao.org.br • Brasília (DF) – df@revistaviracao.org.br • Campo Grande (MS) – ms@revistaviracao.org.br • Cuiabá (MT) – mt@revistaviracao.org.br • Curitiba (PR) – pr@revistaviracao.org.br • Florianópolis (SC) – sc@revistaviracao.org.br • Fortaleza (CE) – ce@revistaviracao.org.br • Goiânia (GO) – go@revistaviracao.org.br • João Pessoa (PB) – pb@revistaviracao.org.br • Maceió (AL) – al@revistaviracao.org.br • Manaus (AM) – am@revistaviracao.org.br • Natal (RN) – rn@revistaviracao.org.br • Porto Alegre (RS) – rs@revistaviracao.org.br • Recife (PE) – pe@revistaviracao.org.br • Rio de Janeiro (RJ) – rj@revistaviracao.org.br • Salvador (BA) – ba@revistaviracao.org.br • São Luís (MA) – ma@revistaviracao.org.br • São Paulo (SP) – sp@revistaviracao.org.br • Teresina (PI) – pi@revistaviracao.org.br • Vitória (ES) – es@revistaviracao.org.br

Apoio Institucional


Equipe Pedagógica Aparecida Jurado, Cássia Vasconcelos, Isabel Santos, Juliana Rocha Barroso, Maria Lúcia da Silva, Nayara Teixeira, Roberto Arruda, Robson Oliveira e Vera Lion

MAPA da RG

Conselho Editorial Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Diretor Paulo Pereira Lima paulo@revistaviracao.org.br Equipe Adriano Sanches, Amanda Proetti, Camila Caringe, Carol Lemos, Gisella Hiche, Rafael Stemberg, Rassani Costa, Sálua Oliveira, Vitor Massao e Vivian Ragazzi Administração/Assinaturas Juliana Giron Midiadores da Vira Acássia Deliê (Maceió – AL), Alex Pamplona (Belém – PA), Gardene Leão de Castro (Goiânia – GO), Graciema Maria (Natal – RN), Ionara Talita da Silva (Brasília – DF), Ismael Oliveira (Teresina – PI), Ivanise Andrade (Campo Grande – MS), João Paulo Pontes e Bruno Peres (Porto Alegre – RS), Lizely Borges (Curitiba – PR), Maria Camila Florêncio (Recife- PE), Marcelo Monteiro de Oliveira, Maxlander Dias Gonçalves, Patrícia Galleto, Thiago Martins e Vitor Bourguignon Vogas (Vitória – ES), Niedja Ribeiro (João Pessoa – PB), Pablo Márcio Abranches Derça (Belo Horizonte – MG), Raimunda Ferraz (São Luiz – MA), Gisele Martins (Rio de Janeiro – RJ), Renata Gauche e Clarissa Diógenes (Fortaleza – CE), Scheilla Gumes (Salvador – BA) e Eric Silva e Ubirajara Barbosa (São Paulo – SP) Colaboradores Bianca Pyl, Cristina Uchoa, Lentini, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Paloma Klysis e Sérgio Rizzo Consultor de Marketing Thomas Steward Projeto Gráfico IDENTITÀ Adriana Toledo Bergamaschi Marta Mendonça de Almeida Fotolito Digital SANT’ANA Birô Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 27.300 Divulgação Equipe Viração E-mail Redação e Assinatura redacao@revistaviracao.com.br assinatura@revistaviracao.com.br Preço da assinatura anual Assinatura Nova R$ 48,00 Renovação R$ 40,00 De colaboração R$ 60,00 Exterior US$ 50,00 Revista ViRAÇÃO · Ano 7 · nº 49

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• A ESCOLA DOS NOSSOS SONHOS A galera soltou o verbo e trouxe ideias bem criativas para melhorar nossa educação. Se liga! • EXPERIÊNCIA IMERSIVA

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mina

Tati Cardeal

AMBIENTAL 8 O coletivo propôs um jogo para ocupar ruas, praças, parques, centro e periferia. A cidade era o tabuleiro e as pessoas, jogadores. • LITERATURA DA FLORESTA Um manifesto pela valorização

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da literatura indígena. • TEMPOS DE TARTARUGA 12 Voluntárias/os passam o Natal ajudando as vítimas das enchentes em Santa Catarina. • TIRO AO ALVO 16 A reportagem do Virajovem Rio de Janeiro fala sobre a política de (in)Segurança Pública praticada na cidade.

Legenda

• JUVENTUDE SOCIAL 18 Belém foi o palco do maior evento social do planeta em janeiro. Jovens repórteres estiveram lá e contaram as histórias do Fórum Social Mundial em mais uma edição da Agência Jovem de Notícias. • UMA CERTA COR DE LÁPIS 24 Refletindo sobre pequenos hábitos do cotidiano que revelam preconceito. • ETNOMÍDIA NA ÁREA 25 Indígenas mostram seu trabalho em internet na Campus Party. • SEXUALIDADE NUMA BOA 26 Você sabe o que são direitos sexuais e direitos reprodutivos? Saiba mais sobre o assunto na entrevista com Maria Adrião, a entrevistada do Galera Repórter deste mês!

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• DIGA-LÁ • MANDA VÊ

• SEXO E SAÚDE • NO ESCURINHO • TODOS OS SONS • VIRARTE • RAP DEZ

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QUEREMOS SABER SUA OPINIÃO! LEON PATRICK, 17 anos, do Programa Infância, Adolescência e Juventude da Cáritas Brasileira Regional (MG), via correio eletrônico

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ocês não sabem como fiquei encantado com a “dinâmica” da revista, eu leio e releio várias vezes. Dá gosto “saborear” o que a Vira tem e farei minha assinatura. E é justamente por ter me apaixonado por este trabalho que me atrevo a solicitar de vocês que eu possa ser um colaborador. Não sei se precisa de indicação de vocês ou se nem todos podem ser colaboradores/as. Mas eu gostaria muito de ser um colaborador. Como faço?

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Que bom Leon! Mande sua reportagem, entrevista ou ilustra pra gente! Seja bem-vindo!

LOUIZE OLIVEIRA, via portal da Vira

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i! A revista é muitoooo boa mesmo, amei a reportagem sobre empreendedorismo na edição de dezembro/2008-janeiro 2009. Mas escrevo por outro motivo: gostaria de saber por que não há matérias sobre acontecimentos em Minas Gerais, ou reportagens escritas por jovens deste Estado. Desde já afirmo que Minas Gerais é rico em inovação, projetos culturais e muito empreendedorismo. Já me candidato a contribuir com a próxima matéria de Minas Gerais. Tenho certeza que será um sucesso! Abraços! Parabéns pela revista!

Louize, todo mundo ficou super feliz com os elogios! Olha só, a Vira tem Conselhos Jovens em Minas, em Belo Horizonte e em Lavras. Escreva pra galera de lá (mg@revistaviracao.org.br). Aguardamos sua matéria! Um abração!

A Vira entra no debate de gêneros e levanta a bandeira da igualdade, que deve estar também na forma de escrever. Por isso, todas as palavras que tiverem variação de feminino e masculino iremos incluir os dois gêneros, e não somente o masculino. Por exemplo: a/o jovem, o/a professor/a e assim por diante, de forma que contemplaremos a todas e todos!

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PAULA CAMILOTTI, via portal da Vira

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ou transexual, e ainda nesse século sofro preconceito. Gostaria que me ajudassem com material de apoio e campanhas para acabar ou diminuir o preconceito que muitos sofrem. Obrigada.

Com certeza, Paula, a diversidade sexual é um assunto de extrema importância e que sempre estará contemplado na Vira.

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para nosso endereço: Rua Augusta, 1239 – Conj. 11 Consolação – 01305-100 – São Paulo (SP) Tel: (11) 3237-4091 / 3567-8687 / 9945-5584 ou para o e-mail: redacao@revistaviracao.org.br Aguardamos suanºcolaboração! 49 · Ano 7 · Revista ViRAÇÃO

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A EDUCAÇÃO TAMBÉM É PROBLEMA NOSSO! A educação no Brasil tornou-se, há muito tempo, motivo de chacota. As escolas públicas, em sua maioria, estão degradadas, os professores, desmotivados, e os alunos, exaustos. Para tentar mudar esta situação, o que deve ser feito? O que as/os estudantes podem fazer para transformar a realidade de suas escolas? Existe alguma solução? E tendo essa discussão como ponto de partida, que tal descobrir o que estudantes de São Paulo pensam sobre isso? LUCIANO DE SÁLUA e SIMONE NASCIMENTO, do Virajovem São Paulo * ERIC SILVA, da Redação

O que você pode fazer para melhorar a educação?

LISANA GODOY CANGUSSÚ, de 17 anos Os estudantes devem se unir e lutar pelos seus objetivos e pela melhora do ensino, pois os mais prejudicados somos nós mesmos.

RENAN HERNANDES, de 17 anos As escolas deveriam ter reuniões com os alunos e os professores sobre como aplicar as aulas de um modo que os alunos gostem do aprendizado. Não vale só os professores entrarem na sala e passarem lição como uns loucos!

YARA ARRUDA, de 17 anos As pessoas não vão mais na escola para estudar, vão para ver os amigos e tudo mais. Sei que é legal curtir, mas, em demasia, acabamos perdendo o que poderia ser extremamente importante num vestibular ou algo do tipo. Sempre fui da seguinte opinião: aprende quem quer. Você é dono da sua cabeça, você decide se vai prestar atenção na matéria que está sendo dada ou se vai ficar conversando no fundo da classe.

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FERNANDO HENRIQUE LANA DE OLIVEIRA, de 17 anos Participar ativamente do processo de ensino e aprendizagem, ocupando os espaços de protagonismo na escola, se apropriando dos problemas que envolvem a comunidade escolar e apontando soluções.

RAFAEL FÉLIX, de 19 anos Os estudantes deveriam, primeiramente, mudar seu modo de enxergar sua atual posição na sociedade, em que são vistos principalmente como o “futuro de uma nação”, adotando assim uma postura mais responsável e exigente, consciente de seus direitos e deveres. Acho importante a formação de uma instituição própria para isso, tal qual um grêmio estudantil, que se estendesse como um único grêmio principal para as escolas de uma região inteira. Quando procuramos mudanças, precisamos sempre de um porta-voz que conheça a situação vivida pelos estudantes brasileiros. Ninguém melhor do que eles mesmos para mostrar as dificuldades que enfrentam em seu cotidiano, para correr atrás de melhorias no sistema de educacional brasileiro. Assim, exigiriam de forma notável o respeito que realmente merecem.


NA LANTERNA YARLA ALVES DOS SANTOS, de 16 anos

Para aquecer a discussão, vale a pena ler o livro do pedagogo e poeta Rubem Alves, composto por crônicas inéditas e outras já publicadas em jornais. O fio condutor é educar para que o ser humano se desenvolva em sua plenitude.

Divulgação

O Brasil caiu do 76 o para o 80º lugar no ranking de desenvolUnião e interesse são um começo. vimento da educação, de acordo Todos devem estar realmente interescom o Relatório de Monitorasados e dispostos à mudança... mento Global de Educação Exigir da direção as mudanças desejadas, para Todos 2009. Na classifie, caso não sejam atendidas, procurar seus cação geral, o Brasil perde direitos em órgãos responsáveis pelo assunto. para países da América LaCom certeza, se for firmemente cobrado, isso dará resultados. tina como Equador, Bolívia, Venezuela e Paraguai. O primeiro lugar ficou RAFAEL CARDOSO PEREIRA, de 17 anos para o Cazaquistão, seguido por Japão, O aluno tem que lutar por aquilo que quer! Alemanha e NorueMuitas vezes nem é culpa de professores, e sim do aluno ga. O último da lisque vê tudo acontecendo e não faz nada! Se ele cobrasse ta de 129 países é do professor o conteúdo que merece receber, a situação Chade, na África. estaria bem melhor. Vai muito da força de vontade que o De 2005 para 2006, aluno tem para estudar, porque só ficar falando que a escola o Brasil foi ultrapasé um “lixo” e não cobrar, não vai mudar nada. sado por Turquia, com quem estava empatado, Colômbia e Emirados Árabes Unidos. Mas superou o Líbano e as ilhas de São Vicente BRUNO DA SILVA, de 18 anos e Granadinas, avançando duas posições. Os estudantes devem reivindicar O relatório “Superando a desio seu direito de ter uma educação digna, com o alto preço que pagam gualdade: por que a governança é por seus impostos! Devem reivindicar importante”, destaca que o Brasil é a contra essa política que, em vez de única nação na América Latina com investir em um bem igualitário para mais de 500 mil crianças em idade escoos estudantes de baixa renda nesse lar sem estudar. Em 2006, segundo o texpaís, entope seus cofres de dinheiro que deveria ajudar to, eram 600 mil. as escolas, sua estrutura e seus professores. Só assim O ranking é calculado com base no Índice vamos ter um país decente! de Desenvolvimento da Educação, que considera fatores como acesso à escola, desigualdade entre gêneros, analfabetismo adulto e qualidade (determinada pela proporção de alunos que completam pelo menos quatro anos de educação formal).

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 21 Estados do País (sp@revistaviracao.org.br)

nnºº 49 49 ·· Ano Ano 77 ·· Revista Revista ViRAÇÃO

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: : A A EII inventando o lugar do encontro o lugar do encontro

Coletivo propõe grande jogo para a vivência dos espaços públicos de São Paulo

FLORIANA BREYER, colaboradora da Vira, e GISELLA HICHE, da Redação fotos EQUIPE EIA

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ncaremos a cidade como um grande tabuleiro. Os bairros são pontos de encontro e as pessoas jogadores. Esta foi a proposta do EIA, Experiência Imersiva Ambiental, para 2008: um grande jogo. O EIA é um grupo de pessoas com trajetórias diversas, reunidas para ocupar a cidade de forma criativa, amigável e ao mesmo tempo crítica. A etapa principal do jogo aconteceu de 05 a 14 de dezembro de 2008. Vieram pessoas do Rio de Janeiro, de Fortaleza, de Minas Gerais, da cidade de Arujá, do Rio Grande do Sul para jogar na cidade de São Paulo. As jogadas aconteceram no espaço público: ruas, praças, parques, centro e periferia. Como nesses tempos não dá para saber exatamente o que é público e o que é privado, restou a esses jogadores descobrir ou, melhor, inventar lugares de encontro, criar juntos performances, situações, batucadas, festas, intervenções, vivenciar a natureza, debater sobre política e violência. As casas do jogo foram chamadas de territórios anfitriões, onde os jogadores eram recebidos por moradores, que apresentavam seus bairros, comunidades, coletivos ou projetos, aproximando o grupo do cotidiano local. Cada jogador preparou uma mochila de elementos para interagir com os territórios anfitriões e com os meios de locomoção, como trens, bicicletas, metrôs, ônibus e carros, batizados de territórios móveis. Os meios de transporte foram tão importantes que rolou até uma festa dentro do trem que vai até o bairro do Grajaú! A proposta foi do pessoal do “Atuando na Rua” e da galera do “Quartas Impressões” da Faculdade do Senac.


Olha só algumas ações do jogo: Morro do Querosene O EIA o se aproximou de artistas locais como o grafiteiro De Olinda, de Pernambuco, e de Tião Carvalho, que trouxe a festa do boi do Maranhão para terras paulistanas. As jogadas incluíram uma sopa comunitária com samba na rua, um muro pintado por todos jogadores e uma caçamba poética onde cada um escreveu um verso no entulho. Foi deixado no bar do Alonso uma caixa de correio para que moradores enviem poesias para um sarau. Grajaú O coletivo Imargem recebeu os jogadores e propôs um circuito de carro, bicicleta e a pé pelo Grajaú, região de represas e áreas de proteção ambiental. A galera do Imargem mobiliza a comunidade de lá e grafita histórias dos moradores pelos muros, além de fazerem várias atividades de educação ambiental junto à população. Deriva Florestal Deriva é quando saímos sem um destino certo. Neste dia, o EIA quis ficar perto da natureza e da água. Por meio de cartas, dados e informações dos amigos, os jogadores chegaram “Trilha dos Macacos”, no meio da Mata Atlântica para tomar banho na queda d’água, cantar, fazer massagem e performances. Itapecerica da Serra O EIA foi recebido pelo Seu Severino, sua mulher Roberta e família que moraram na ocupação Prestes Maia e lá montaram uma biblioteca comunitária; importante resistência cultural ao despejo de aproximadamente 468 famílias. Depois da desocupação do prédio, eles foram morar em uma chácara emprestada em Itapecerica, onde mais uma vez montou uma biblioteca. Juntos, Seu Severino e o EIA ocuparam uma praça pública e com apoio da Secretaria de Cultura da cidade foi feita uma grande celebração com grupo de teatro, artistas de rua, sarau de poesia e exposição de gravuras. Glicério O EIA jogou em parceria com integrantes do coletivo gestor do Espaço

Ay Carmela, espaço político-cultural autogestionado mantido por grupos, movimentos e indivíduos autônomos, no centro de São Paulo. Os jogadores conheceram várias iniciativas no bairro do Glicério: Cooperglicério (Cooperativa de catadores), Associação Minha Rua Minha Casa, entidade que trabalha com capacitação para geração de renda da população de rua, e a Oficina-escola a Arte que vem da Rua. No percurso, junto ao CEDECA Interlagos, foi realizada uma intervenção com bonecos de papel machê de tamanho natural, que despertam a reflexão sobre os meninos e meninas em situação de rua. Vila Sabrina Os jogadores foram recebidos pelo pessoal do Espaço CICAS. que ocupou um centro comunitário abandonado em um conjunto habitacional e passaram a ativá-lo com projetos culturais. O EIA jogou com o pessoal da banda Sinfonia de Cães, fez instalações e fechou o dia com uma roda de conversa que reuniu de crianças a adultos, todos com muita vontade de continuar a experienciar a cidade como um jogo. Parque da Aclimação O EIA, junto ao Ubu Banu, o mestre das possibilidades impossíveis, promoveu uma festa à fantasia no parque. Arrastando uma arara com fantasias, máscaras e acessórios, os visitantes do espaço puderam também celebrar a festa de ocupar a cidade.

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TÁ na MÃO • Para saber mais sobre o que rolou na semana, visite http:// mapeia.wordpress.com

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Boto literário VIVIAN RAGAZZI, da Redação foto JOSÉ FARIAS

Glauber Lopes

Literatura indígena produzida por quem conhece é a proposta de festivais como o Flifloresta, que rolou em Manaus no final de 2008 Literatura indígena produzida por por conhece é a proposta quemquem conhece é a proposta de de festivais como o Flifloresta, festivais como o Flifloresta, que que em Manaus rolourolou em Manaus no no final de 2008

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om todo o respeito a José de Alencar, autor de Iracema, avirgem dos lábios de mel e dos cabelos mais negros que a asa da graúna, e O Guarani, com seu Peri destemido e apaixonado, não pode haver alguém melhor para retratar as tradições, cotidiano e lendas do que escritores indígenas. O que ocorre é que na grande maioria das vezes, os livros que o grande público tem acesso foram

escritos por não-índigenas, que, com uma visão de fora, correm o risco de deturpar fatos e costumes das diferentes etnias. Com um feroz mercado editorial, os escritores indígenas enfrentam uma grande dificuldade para lançar seus livros, tanto por falta de espaço no mercado editorial, quanto por desconhecimento da mídia, que não divulga os títulos. Mas nem tudo está perdido, já que festivais, seminários e feiras pelo Brasil se encarregam de apresentar ao mundo um pouco do que é esse universo, ainda pouco desbravado. A escritora indígena e professora Eliane Potiguara, indicada em 2005 ao Prêmio Nobel da Paz, do Projeto Mil Mulheres pela Paz, é uma das grandes defensoras da literatura indígena. No manifesto abaixo, escrito por ela durante a Flifloresta, festival internacional que rolou no final de 2008 em Manaus (AM), ela traz à tona, de forma bastante poética e sensível, o que significa a literatura da floresta e o que deve ser feito para valorizá-la cada vez mais. Vitória-Régia aflorada: Uma Flifloresta em flor nos próximos tempos. Eliane Potiguara* A literatura dos excluídos ainda é uma pele de Boto que foi destruído ao longo dos séculos e que está esquecido e abandonado no fundo dos rios a precisar renascer – ardentemente – com a força da alma da natureza e humana. Mas essa natureza está envolta nas amarras dos séculos de dor, do obscurantismo, dos grandes enigmas e contradições da própria existência, do divino e do amor. A literatura ainda é um segmento cultural e político que não consegue chegar na totalidade das camadas

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menos privilegiadas, social e economicamente, do Brasil e do mundo. Esse Boto Literário precisa ser salpicado com as lágrimas emocionadas da natureza, muitas desvairadas lágrimas. Aí sim, essas feridas do mundo – que as mulheres indígenas as eternizaram com seus beijos de cura, bálsamos históricos, histórias não contadas e adormecidas no fundo do rio ou dos oceanos, essas sim – serão eternamente curadas, assim como o Boto Literário. A natureza clama para ser ouvida; o Boto despelado precisa ser ouvido; o grande estrondo do encontro das águas claras e escuras amazônicas suplica secularmente um minuto de audição. Assim é a mente humana: um mundo imaginário, místico e mítico deste ser que chamamos escritor, escritora. Um ser humano diferenciado cujas emoções transcendem a realidade brutal da vida. Este ser humano vestido de Boto traz sua alma dilacerada, repleta de feridas e almeja a compaixão do próximo na reconstrução das identidades em busca do ser digno, onde os direitos humanos sejam todos repletos de festas, pétalas de rosas, aromas mais adocicados pela flor do amor e da vitória-régia: a cura! A epiderme precisa ser epiderme e não couraça, casco e carcaça. A visibilidade da literatura é como a vida de uma mulher que viveu mais de trinta anos de dedicação a seu amado querendo ardentemente ter um filho e ele, finalmente,

Você sabia?

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as noites de lua cheia, o Boto transforma-se em homem e sai em busca de uma boa festa. Bonito, bem vestido e sobretudo bom dançarino, ele convida para dançar as moças mais bonitas da festa. Encantador, ele seduz a jovem e a acompanha na volta para casa. Para a moça, o resultado é que pouco depois ela aparece grávida: “é filho de Boto, senhor!” A lenda do Boto é tema para músicas, peças de teatro, poesia, óperas e fonte de inspiração para outras histórias. Fonte: Agência Amazônia (www. agenciamazonia.com.br)

foi ter um filho com outra, negando-lhe não só a maternidade como o próprio amor e a companhia. O útero ressecado e a pele depauperada dessa mulher foi parar no fundo dos rios e mares Oceânicos e Pacíficos. Ela precisa recuperar a pele de Boto, de foca, respirar o ar da luminescência e caminhar com a mulher guerreira a sua frente, nas terras, nos mares, nos rios e nos lagos e transformar esses quase quarenta anos perdidos em quatro dias de vitória e luz. De lá de cima, de onde ela estiver, ficará provado no seu âmago que ela poderá observar, sorrateiramente, o mundo e rirá das tempestades: ei-la nos marcos de novos ares! A literatura a que me refiro é assim: vem fazendo a caminhada passo a passo com as expressões de artistas do passado e da contemporaneidade, cantando e contando a cultura popular. São os escritos caboclos, indígenas, afrodescendentes, mestiços e todas as expressões que não tiveram VOZ. E a literatura indígena, que do estágio oral saltita pelas letras escritas na estratégia da sobrevivência e dos direitos autorais, dos conhecimentos tradicionais, perpetuam em saberes antigos de curas indígenas, a flamejar pelo território nacional e a desembocar na Flifloresta como as águas do Rio Amazonas. Assim será para os próximos tempos. A Mãe dos Deuses na defesa da floresta e do planeta, promovendo conhecimento e estimulando a leitura. O homem amazônico é aquele que anda com o guerreiro à sua frente. Tenório Telles, fundador da Flifloresta, acaba de florescer a cura desde a ancestralidade oral, sedenta pela escrita, e por isso ganha de presente parte dessa cura secular, da almejada, da sedenta visibilidade literária indígena. O I Festival Literário Internacional da Floresta aconteceu numa quintessência de grande luminosidade, num espaço de reinos e palácios áureo-populares, cravejados de pedras preciosas do amor, da contemplação, do respeito e, fundamentalmente, da grande

LUZ. Os escritores e as escritoras indígenas estavam lá. Tudo vimos! As mulheres guerreiras, as chamadas antigas Amazonas e as contemporâneas guerreiras, mulheres de todo Brasil, com seu PODER DE MULHER PELA CRIAÇÃO, seja qualquer criação, podem presentear a todos os seus homens e amados um MUYRAKITÃ como amuleto verde de proteção à vida eterna da alma humana, aquela que fez algo pelo bem caminhar da humanidade no ato da CRIAÇÃO!

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Você sabia?

O

Muiraquitã é um amuleto indígena. Segundo a lenda, era retirado sob a inspiração de Iaci (lua) do fundo de um lago denominado Espelho da Lua (Iaci-uaruá), e oferecido pelas guerreiras amazonas aos índigenas da aldeia vizinha, os guacaris, após fazerem sexo em noites de lua cheia. Uma versão da fábula diz que os rebentos do sexo masculino nascidos dessa união eram sacrificados. Outra, que eram entregues aos guacaris. As meninas permaneciam com o grupo de mulheres. O amuleto conferia fama e poderes mágicos ao seu possuidor. Bem pequenos e, por isso mesmo, alvo fácil de roubos e contrabandos, os muiraquitãs, quase sempre confeccionados em rochas esverdeadas, tinham em geral forma de sapos. Fonte: Portal Amazônia (www.portalamazonia.com)

TÁ na MÃO • Flifloresta: www.flifloresta.com.br • Sítio oficial da escritora Eliane Potiguara: http:// www.elianepotiguara.org.br Correio eletrônico: grumin@grumin.org.br

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DAMISO FAUSTINO, do Virajovem São Paulo* DENIS MARCHELLO e GIAN LUCA DI GREGORIO, colaboradores da Vira CAROLINA PAIVA, VITOR MASSAO e UBIRAJARA BARBOSA, da Redação fotos SESS SATO, UBIRAJARA BARBOSA e VITOR MASSAO

Dias de

Carregar caminhão de donativos, fazer triagem de alimentos e roupas e até derrubar e reconstruir casas. O trabalho pesado não assusta estes jovens voluntárias/os. Saiba o que motiva esse pessoal

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huvas devastadoras, muita água e desmoronamentos. Esse era o cenário que se apresentava em Santa Catarina no final de 2008, quando as chuvas de verão se iniciaram e viraram a vida das pessoas de ponta-cabeça. Nesses momentos sempre pensamos: “E aí? E se fosse comigo?”. Esse questionamento passa pela cabeça de muita gente, que se mobiliza para ajudar. Tanto que em poucos dias, muitos postos de arrecadação foram abertos em todo o país e as doações não pararam de chegar. Acompanhamos o dia-a-dia de jovens voluntárias/os, que em São Paulo e em Santa Catarina não hesitaram e fizeram sua parte para

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ajudar quem perdeu muito com a tragédia no Sul. Nós também estávamos entre eles. Confira nosso diário de bordo! TODOS TRABALHANDO JUNTOS Na capital paulista, quem puxou a iniciativa foi o Grupo Escoteiro Quarupe, localizado no bairro paulistano da Lapa. Em apenas uma semana de trabalho, conseguiu arrecadar um caminhão de donativos para a população de Santa Catarina. Além do Quarupe, também participaram das ações no galpão os Grupos Jabuti, Araguaçú e Falcão Pelegrino. Tudo isso foi possível com a dedicação das/os voluntárias/os, como Damiso Faustino, o D.A,

de 17 anos, que se envolveu bastante com a experiência. “A gente chegou lá e havia muita gente trabalhando. Confesso que realmente fiquei surpreso ao ver um galpão enorme com uma grande quantidade de doações. O trabalho foi cansativo, mas pudemos voltar pra casa com aquela sensação maravilhosa de solidariedade e com vontade de voltar lá. Claro, depois do descanso”. Mas com o volume de doações aumentando cada dia mais, faltava mão-de-obra para dar conta de tantas coisas que chegavam. Eram roupas, água, brinquedos, mantimentos... ”Foi difícil separar os materiais, pois eram poucas pessoas para ajudar, mas rendeu muito o dia. Tínhamos que separar todos os


voluntariado de voluntários permaneceu até o final. Uma situação calamitosa e desanimadora pra quem esteve lá uma semana antes, trabalhando por uma causa que acreditávamos que poderíamos ser um ‘pedacinho’ da solução. Terminamos o dia com mais de 10 sacos de roupas separadas, o que não fez nem cócegas naquela imensa pilha”, lembra D.A. Denis concorda com o colega, e se preocupa com o rumo das doações. “Ainda há muito a ser feito. As doações pararam ou diminuíram muito, mas ainda existe uma quantidade muito grande de mantimentos, roupas e outros objetos que agora correm o risco de serem perdidos pelo armazenamento não apropriado para tal”, reflete. Enquanto isso, em Santa Catarina... TEMPOS DE TARTARUGA tipos de alimento em caixas (bolacha, feijão, arroz, macarrão...) e antes de ajeitar os alimentos na caixa e fechar precisávamos conferir a data de validade de cada um”, conta Denis Marchello, de 14 anos, que também escreveu esta matéria, junto com o amigo Gian Luca Di Gregorio, de 17 anos. “Fui num domingo com meu amigo D.A. para ajudar na triagem dos alimentos. Quando cheguei ao depósito vi a imensidão do lugar e como estava lotado de roupa, alimentos e materiais de higiene pessoal. Logo associei o local a um lixão e vi que o trabalho não seria fácil e podia ter sérias conseqüências”, observa.

Ubirajara Barbosa e Vítor Massao foram até Santa Catarina e contam como foi levantar casas e ajudar pessoas

A CHEGADA Saímos de São Paulo rumo a Itajaí na manhã do dia 24 de dezembro de 2008, com o objetivo de fazer uma reportagem sobre a ação dos voluntários que estavam atuando na região.

SUMIÇO DE VOLUNTÁRIAS/OS A primeira impressão só não superava a segunda. Todas as vezes em que voltamos ao depósito, a cena tinha ficado mais abarrotada de coisas. As doações não paravam de chegar, mas o número de voluntários caía cada vez mais. “No terceiro dia que fomos éramos exatamente cinco pessoas, e esse número

Grupo de voluntários se dividiu em duas frentes de trabalho nº 49 · Ano 7 · Revista ViRAÇÃO

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Buscávamos mais do que fazer um trabalho jornalístico. Fomos com o desejo de participar, de colocar a mão na massa, de fazer parte do que estava acontecendo. Ficamos no apartamento de um amigo, na região central da cidade. Ela parecia recuperada do que tinha acontecido pouco mais de um mês antes. As ruas limpas davam a impressão de estar tudo tranquilo na cidade. À noite, perto da hora da ceia de Natal, descobrimos que a poucas quadras de nós estava reunido um grupo de voluntários, na sede do Sindicato dos Professores de Itajaí e Região (SINPRO). Corremos para lá apenas com essas informações, sem saber quem eram ou que tipo de atividade realizavam. Faziam parte desse grupo 12 pessoas vindas do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e dali mesmo de Itajaí. O grupo se dividia em duas frentes: uma ligada aos Pontos de Cultura do Ministério da Cultura, que foi para lá com a ideia de fazer atividades lúdicas, como teatro e contação de histórias nos abrigos, e a outra tinha como meta demolir e levantar uma casa em 11 dias. Preferimos nos unir ao segundo grupo, que se encaixava perfeitamente no que pretendíamos fazer: construir algo enquanto estivéssemos lá, literalmente. DERRUBANDO TUDO

Salesiano e eles têm um projeto chamado AJS (Articulação da Juventude Salesiana), que é mais envolvido com a população. Tinha muita gente desabrigada, um dia teve mil e poucas pessoas. Comecei numa segunda-feira e fiquei uma semana ajudando ali no colégio”, explicou Victor. Junto com ele atuaram cerca de 40 jovens da escola. “Cada um ajudava no que podia. Até mesmo pessoas que tinham perdido coisas em casa participaram.” AS MESMAS ÁGUAS Quem via Chico Braun serenamente levantando a casa de Dona Ana, dificilmente poderia imaginar que ele também estivesse numa situação parecida com a daquela senhora. Francisco Alfredo Braun Neto, de 36 anos, professor de História, foi atingido pelos mesmos dois metros de água que destruíram a casa que estávamos levantando. Ele morava do outro lado da rua. “A Adércia (Bezerra de Hostin, presidente do SINPRO), foi socorrer a gente (Chico é casado e tem um filho), e comentou conosco o que tinha acontecido com a Dona Ana, com a casinha dela, e queria fazer alguma coisa, tentar reconstruí-la”. Foi assim que começou esse projeto solidário. A promessa de Adércia foi cumprida após muita articulação junto a órgãos públicos e instituições onde conseguiu apoio e verba para levantar a casa.

No dia seguinte, levantamos cedo e nos encaminhamos para o local onde íamos demolir a casa feita de madeira. Já não tinha teto, mas tinha parede, chão e um fogão à lenha feito em cimento e pintado de vermelho. A única moradora era dona Ana, uma senhora pequena de cabelos brancos até os ombros, sempre com um par de brincos dourados nas orelhas, falante, animada e nunca diz sua idade. Documentos encontrados na casa dela datam seu nascimento de 1919, ou seja, ela tem 89 anos. Para ter uma idéia mais ampla do que realmente aconteceu em Itajaí e região, procuramos falar com outras pessoas que atuaram durante as enchentes. Nessa busca encontramos Victor Hugo de Oliveira Schoepping, de 17 anos, que atuou na Marejada, o centro de convenções da cidade, aonde chegavam e eram distribuídas as doações. “Sou ex-aluno do Colégio

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Diferentemente de Dona Ana, Chico Braun preferiu se mudar. Historiador que é, falou sobre o ciclo das enchentes. “Nós temos registros de cheia aqui em Itajaí desde 1868. Temos uma frequência de cheia a cada 20, 25 anos. Não é um evento tão isolado assim”, explica Chico na sala de sua casa nova, ainda com alguns livros e móveis por serem arrumados. Encerramos a entrevista rapidamente, pois Chico Braun tinha seus compromissos, entre ajudar a levantar a casa de Dona Ana e arrumar sua própria. COMPROMETIMENTO Das pessoas que trabalhavam no Projeto Casa da Dona Ana, Ivan Sanchez Bornes, um empresário de 38 anos, tinha uma história particular. Viera de Porto Alegre (RS) especificamente para participar dessa obra. “Eu não assisto muito à televisão, mas acompanhava mais ou menos pelos jornais, e fazia uma ideia do que poderia estar acontecendo numa situação dessas. Imaginava que depois desse pico de atenção e superexposição, haveria uma decaída geral, e aí sim seria o verdadeiro abandono. Mandei vários e-mails, para entidades, igrejas, todos os lugares onde achei que teria gente mobilizada, organizando algum grupo de trabalho. As respostas eram mais ‘macro’: ‘precisa separar roupas, carregar caminhões’, e eu desconfiava que esse tipo de voluntariado era como um turismo de tragédia. Achava que o importante era encontrar uma coisa bem objetiva para fazer, pelo menos para mim.” A resposta que mais interessou Ivan foi a de Adércia. Durante a semana que passamos lá, Ivan esteve sempre ativamente envolvido na construção da casa, em vários momentos tomando a frente do projeto. PAPEL DO VOLUNTARIADO Nos seis dias em que estivemos em Santa Catarina, nos deparamos com todos os tipos de experiências: derrubamos uma casa, conhecemos um abrigo, vimos a marca da água já constante em toda a cidade, celebramos um aniversário, dividimos uma ceia com outros voluntários, conversamos com as mais diferentes pessoas, das mais diversas realidades, com as mais diversas participações durante a enchente... e nos questionamos: afinal o que mobiliza todas essas pessoas? Algumas respostas encontramos com as pessoas com quem conversamos e convivemos nesse período em Itajaí. “Minha mãe fazia muito trabalho voluntário e eu a acompanhava desde muito pequena. Ela fazia trabalho social na pastoral, nas paróquias e nas favelas”,

lembra a sindicalista Adércia. Ela conta que seguiu um caminho diferente da mãe. “Por um longo tempo, fiz a militância política e não o trabalho voluntário. Foi a primeira vez que fiz isso de me entregar diante de uma questão pontual”. E se sentiu gratificada. O adolescente Victor acredita na solidariedade das pessoas. “Se eu precisar, se um dia meu apartamento cair, por exemplo, eu vou precisar de alguém para me ajudar também. Penso no futuro”. Já Ivan e Chico Braun não vêem o que fizeram como voluntariado. “Eu diria que está mais no campo da solidariedade. É um compromisso social, de poder auxiliar alguém, trazer um pouco de dignidade, de conforto. Ainda mais para ela (Dona Ana), para a idade avançada que tem… é um momento de compromisso social, de auxiliar o próximo”, comenta Chico.

Ivan tem uma opinião bastante crítica sobre trabalho voluntário. ”Voluntariado é que nem ecologia hoje em dia: parece que é um lance que tem que estar com ‘carteirinha’. Nunca fiz voluntariado desse jeito. Acho que tenho o privilégio agora de poder estar aqui. Mas não, não sou uma pessoa assim, voluntária ou ‘boazinha’”, argumenta. Para nós fica a satisfação de um bom trabalho, saindo de nossa área de conforto de sermos apenas observadores de uma reportagem para realmente colocarmos a mão na massa, realizar algo concreto. Quando pensávamos ter um tempo vago, dá-lhe escrever no nosso blog-diário Tempos de Tartaruga (http://temposdetartaruga.wordpress.com). O quanto disso é voluntário é complicado dizer, o que motiva as pessoas mais ainda. Mas que bom termos mobilizações concretas de ações!

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Vítimas do descaso policial, população carioca sofre com a violência

Política de (in)segurança no Rio de Janeiro

GIZELE MARTINS, SILVANA SÁ e RENATA SOUZA, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)* fotos: RENATO ROSA

M

atheus Rodrigues, de 8 anos, saía de casa, na Baixa do Sapateiro, Maré, em direção à padaria. Policiais que faziam ronda no local atiraram contra o menino, que nem sequer teve tempo de terminar de abrir o portão de sua casa. Seu corpo ficou caído nos dois degraus que separavam a casa da calçada. Esta já não é a primeira vez que isso acontece. Nos últimos dois anos, pelo menos duas crianças, assim como Matheus, morreram da mesma forma no Complexo da Maré. A moeda de R$ 1 no centro de sua pequena mão entreaberta era um sinal de que o tiro que o atingiu o matou na hora. A bala, de fuzil, desfigurou o rosto da criança. A polícia afirma que no momento havia confronto entre facções rivais e que os policiais quando chegaram trocaram tiros com os traficantes. Que tiros? Nem a família, nem vizinhos ouviu qualquer outro barulho. Que confronto? Onde estão as marcas

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de tiros nas paredes das casas, os projéteis caídos no chão? Qual mãe pediria que o filho fosse comprar pão durante um tiroteio? O único som que se ouviu naquela manhã foi o de um disparo. Apenas um, mas certeiro, capaz de roubar a vida de uma criança, marcando não só o rosto do criança, a calçada ensangüentada, mas a todos os familiares e moradores da região. Moradores inconformados gritavam por justiça. Faixas e cartazes foram confeccionados. Protestos foram realizados nas Linhas Vermelha e Amarela, um carro foi incendiado. Desespero e profunda tristeza acompanharam o caso. O enterro também foi acompanhado de muita emoção e de protestos. Cartazes com as inscrições: “Paz”; “Mais uma de nossas crianças foi assassinada”; “Até quando?”, acompanhavam o cortejo no cemitério do Caju. A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro colocou seu corpo jurídico à disposição da família. Infelizmente, essas duras histórias não param de se repetir em favelas do Rio de Janeiro. A Política Pública de (In)Segurança do Rio de Janeiro é uma política de extermínio do favelado que ceifa a vida de quem está pela frente, ou, no caso, de costas. A política de segurança pública deveria, por princípio, resguardar a vida. Entretanto, o que se vê, são policiais explicando e justificando o inexplicável e o injustificável. Trata-se de um sistema que não leva em consideração a cidadania e nem o direito humano à vida. MAIS CASOS SEM ACASO Não por acaso, essa fatalidade remete a outros casos de crianças que foram alvejadas em condições muito semelhantes à morte de Matheus. Claro que estaremos cometendo injustiça em não citar


Manifestação: o Rio revoltado com a violência

outras vítimas, mas as que serão citadas a seguir foram assassinadas brutalmente em menos de 15 dias do ano de 2006. São elas: Renan da Costa Ribeiro, 3 anos, morto dia primeiro de outubro de 2006, com um tiro de fuzil na barriga, na Nova Holanda, Complexo da Maré. Lohan de Souza Santos, 9 anos, morto por uma bala de fuzil na cabeça no dia 16 de setembro de 2006, no Morro do Borel. Guilherme Custódio Morais, 8 anos, morto dia 20 de setembro de 2006, por bala perdida na Favela do Guarabu, na Ilha do Governador. Paulo Vinícius de Oliveira Chaves, 7 anos, morto atropelado por uma viatura da Polícia Militar, dia 20 de setembro de 2006, em Vigário Geral. Moisés Alves Tinim, 16 anos, morto dia dois de outubro de 2006, com um tiro de fuzil, no Morro da Esperança, Complexo do Alemão. Não podemos esquecer essas vidas que para nós têm nomes, não são apenas números como tratam as estatísticas. Gabriela Prado, jovem de classe média assassinada em assalto no metrô da São Francisco Xavier em 2003, ganhou nome de rua na Tijuca. E os nomes das crianças da favela, onde serão lembrados? Nos nossos corações sempre serão lembrados, temos memória.

DEPOIMENTO DE VÂNIA BENTO, DENUNCIANDO O QUE VIVE...

MARÉ EM LUTO Obviamente os mareenses sentiram na pele a dor da perda de mais uma de suas crias. Nesse momento, importantes organizações da Maré se unem para gritar por justiça. Reuniões estão sendo realizadas, atos já foram feitos, um deles nos 60 anos dos Direitos Humanos, realizado dia 10 de dezembro, no centro do Rio. E o objetivo não é parar, é o de mover a Maré, o Rio e o mundo para lutar contra essas injustiças sociais, contra essas realidades cruéis que só nos deixam dor.

A fotógrafa Vânia Bento, de 24 anos, moradora da Maré, acompanhou todo o caso. Ela, por meio de seu olhar tentou demonstrar tudo aquilo que sentiu, que viu e vê todos os dias. “O assassinato do Matheus é mais um exemplo de injustiça. Me chocou enquanto ser humano, poderia ter sido meu irmão. Comecei a me interessar pela fotografia quando percebi que através dela poderia contribuir de alguma forma em minha comunidade. Denunciar injustiças e até mesmo mostrar que nós que moramos aqui temos os mesmos direitos que qualquer outra pessoa. Já que a imagem tem um papel também informativo, resolvi então me entregar ao mundo da fotografia. Quem mora nas favelas do Rio de Janeiro, ou em qualquer outra do Brasil, percebe que não existe, pelo menos para nós, uma política de segurança eficiente, que nos atenda”.

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FóruMix: debate e diversidade Tati Cardeal

Nona edição do Fórum Social Mundial agita a capital da Amazônia

CAMILA CARINGE, da Redação fotos AGÊNCIA JOVEM DE NOTÍCIAS

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final de janeiro e o início de fevereiro de 2009 marcaram para sempre a história de Belém (PA). A nona edição do Fórum Social Mundial, maior evento social do planeta, não-partidário e não-governamental, foi realizado novamente no Brasil (em anos anteriores, aconteceu em Porto Alegre (RS), e em países como Índia, Venezuela e Paquistão) e trouxe à tona temas que vão de política à educação, democratização da comunicação, regiões de conflito e respeito às diversidades.

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A cobertura jovem do Fórum Social Mundial foi promovida pelo Projeto/ Revista Viração em parceria com o Instituto Universidade Popular (Unipop), o Centro de Estudos e Práticas de Educação Popular (Cepepo) e a Ciranda Internacional de Informação Independente e se insere dentro da Comunicação Compartilhada do evento. Participaram da iniciativa cerca de 80 adolescentes e jovens dos Conselhos Jovens da Viração e do Curso de Comunicação Popular da Unipop, parceira da Vira em Belém. Eles produziram notícias em tempo real sobre os diversos temas ligados aos jovens e adolescentes que foram tratados nas mais de duas mil atividades do FSM 2009. Confira o que rolou!


Henrique Parra

CHEGAMOS! FÓRUM SOCIAL MUNDIAL – 2009 Ceila Rodrigues Não importa o horário. Seja de manhã, de madrugada, à noitinha... Já na chegada, no aeroporto da cidade de Belém, era grande a animação do pessoal. Um grupo de Carimbó recepcionou quem chegava, com um clima quente e agradável, acolhendo com alegria e simpatia as/os turistas que vieram participar do FSM/2009. A diversidade de temas e objetivos propostos para as atividades relacionadas ao tema da comunicação era animadora. Ao mesmo tempo em que se demonstrava a complexidade da tarefa de garantir o direito à comunicação para todas e todos, também se comprovava a apropriação cada vez maior da temática pelas organizações e movimentos sociais que constroem o processo do Fórum.

Moradores, comerciantes, estudantes e garis paraenses paravam para assistir a linda marcha. Uns até acompanharam, já outros ficavam de longe, apenas observando ou fotografando. O momento mais sublime foi quando uma escola, localizada na Avenida Nazaré recebeu A GRANDE MARCHA todas/os os militantes DOS 100 MIL com grandes músicas brasileiras, com gritos Gizele Martins de justiça, união e paz. Mas todas/os pareA marcha de abertura cem estar recepcionando Fórum Social Mundo 100 mil abrigadas/os Estrangeiros também trouxeram dial contou com mais muito bem. Uns dizem o debate sobre suas realidades de 100 mil pessoas. que tudo se transformou A caminhada percorreu as avenidas centrais da cidade de uma hora para outra, o engarrafamento aumentou, de Belém, onde foi realizado o grande encontro. as ruas estão cheias, o comércio nem se fala. Mas Nem mesmo a forte chuva fez o povo parar. todos parecem estar recepcionando a população muito Só de etnias indígenas eram mais de 40, clamando bem, indicando onde pegar o ônibus, locais mais seus direitos por terra. Todos com seus adereços, línguas fáceis para as refeições, dentre outras coisas básicas, e rituais. Muitos outros movimentos sociais também mas bem necessárias nas horas de aperto. estavam lá, cada um com seus gritos de guerra e, Vários encontros aconteceram todos os dias: de uma hora para outra, todos pareciam fazer palestras, palcos de discussões, feiras, músicas. parte do mesmo movimento. Foi perfeito. nº 49 · Ano 7 · Revista ViRAÇÃO

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Henrique Parra

DEBATES E FOLCLORES Manoela Moscoso e Ketlyn Feitosa O Boi de Parintins – Caprichoso, encerrou o primeiro dia do Fórum das Autoridades Locais (FAL) e do Fórum das Autoridades Locais da Amazônia (FALA) no Hangar, Centro de Feiras e Convenções da Amazônia. O boi, representado pelas cores azul e branca, verdadeiro guardião da Amazônia, foi fundado em 1913 pelos irmãos Raimundo Cid, Pedro Cid e Félix Cid, após uma promessa a São João Batista. Caprichoso conta as lendas e o folclore dos povos da Amazônia com criatividade, deixando sua torcida enlouquecida no “bumbódromo”. Uma das personagens que compõem a apresentação dos rituais do Boi Caprichoso é a sinhazinha da fazenda, representada pela estudante do curso de comunicação Tainá Rodrigues Valente, de 19 anos. Em entrevista exclusiva para a Revista Viração, Tainá conta que há três anos integra o grupo e que a alegria de interagir com pessoas de culturas diferentes engrandece seus conhecimentos, mas a satisfação maior é ter em companhia os amigos que integram o Boi Garantido. Isso mesmo! Quem pensa que os dois bois são rivais está enganado. Isso só ocorre na arena, fora disso todos são amigos. O respeito também é tradição no Festival Folclórico em Parintins. Um torcedor jamais fala o nome do outro Boi, e usa apenas a palavra “contrário” quando quer se referir ao opositor. São proibidas vaias, palmas, gritos ou qualquer outra demonstração de expressão quando o “contrário” se apresenta.

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DIÁRIO DE BORDO Karla Gouvea No Fórum Social Mundial 2009, o encontro de vários continentes deixou na mente das pessoas que não há barreiras para lutar pelos seus direitos, se conscientizar de que é interessante e importante a troca de experiência e de ideias entre os povos indígenas, quilombolas, partidos, movimentos sociais, governos de diversos países. É uma vida de ator, resgata o nosso outro eu. O respeito nos ajuda a lembrar de que todas e todos somos seres humanos, e a ampliação do conhecimento são virtudes que nos levarão a sermos melhores no mundo.


O fórum me deixou extasiada, me levou às nuvens. Sinto a minha alma igual à água potável. Sei que posso estar exagerando, mas não exagero no meu ego. Determinar o sucesso pelos próprios méritos. Vitoriosos os que assim procedem, porque o futuro pertence àqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos. O FÓRUM POR QUEM É DA TERRA FIRME Pedro Souza Mesmo morando há anos na Terra Firme, bairro de Belém, a galera jamais viu água nas torneiras de suas casas com tanta abundância quanto durante o Fórum. A maior parte das famílias tinha que abastecer suas casas a partir das 22h, que era o horário que a água chegava. Como a realização do Fórum Social Mundial foi em frente ao bairro, a coisa mudou. Outras raridades no bairro eram o policiamento, a pavimentação das ruas e as lixeiras em locais públicos, como praças, calçadas e vários lugares da cidade que sempre foram bem esquecidos. Será que só quando o FSM foi realizado em Belém que o governo lembrou da população? Ou será que é apenas pra mostrar que a cidade é limpa? Mas, afinal, como fica a população depois do Fórum?

TRILHA ECOLÓGICA Renata Cascaes O penúltimo dia do FSM começou com muita aventura na trilha ecológica do Parque Ambiental do Utinga. A atividade teve como objetivo fortalecer a luta de defesa da natureza como fonte de vida para o planeta Terra e afirmar a multiculturalidade dos povos originários da terra: indígenas, afrodescendentes, ribeirinhos, pescadores, extrativistas, entre outros, que se assumem enquanto sujeito de direitos para exigir e lutar por seus territórios, linguagens, culturas, identidades, e por buscarem ainda a justiça ambiental, a espiritualidade e o bem viver. A trilha ecológica aconteceu mesmo debaixo da chuva que caía em Belém desde o amanhecer. “Não devemos ter medo da chuva. Ela está nos abençoando e devemos agradecer por ela estar presente neste dia tão importante”, disse o professor Salomão, da Universidade Estadual do Pará (UEPA), que foi um dos responsáveis pela atividade. O passeio começou com uma apresentação de capoeira e do grupo paraense Quaderna, que reproduzia os sons da floresta por meio de suas músicas. Logo após os participantes foram divididos em grupos

SE LIGA • Um dos bairros mais populosos da capital do Pará, o Montese, conhecido como Terra Firme, ganhou esse apelido por ser formado por terras firmes e altas próximas à áreas alagadas pelo rio Tucunduba, no limite dos bairros de Canudos e Guamá. Concentrando boa parte da população de baixa renda da zona central, o bairro enfrenta problemas sérios como a falta de saneamento básico e a violência. Apesar dos altos índices de violência registrados, o bairro abriga instituições de ensino e pesquisa importantes, como: Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Escola de Aplicação da UFPA, Museu Emílio Goeldi (MPEG), Núcleo de Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). (Fonte: http:// pt.wikipedia.org/wiki/ Terra_Firme_(Bel%C3%A9m)

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entre os territórios: povos indígenas e da floresta, populações caboclas e ribeirinhas, populações negras e quilombolas e populações camponesa e assentadas. Eu, virajovem, acompanhei o grupo do território indígena. A etnia Kaiapó, de Orilândia-Pará, executou vários rituais junto com o grupo teatral Do Curro Velho, que fez uma apresentação sobre os povos da floresta. O clima dentro do parque ambiental estava tão bom que teve quem decidisse mergulhar de cabeça nessa experiência de vivenciar realmente a natureza. Foi o que aconteceu com a brasiliense Dani Neri, que decidiu experimentar a liberdade indígena tirando a roupa e pintando todo seu corpo, tornando-se assim uma verdadeira “índigena branca” que, por sinal, fez muito sucesso entre os fotógrafos. Becuai, da etnia Kaiapó, encerrou com uma mensagem de agradecimento a todos por estarem os prestigiando e pediu que a luta pela preservação da natureza, da cultura indígena, não termine com o encerramento da nona edição do FSM, mas sim que cada um de nós continuasse lutando para que as mantivessem vivas. Após as apresentações em cada território temático todos os grupos se uniram novamente e a trilha terminou ao som do Grupo Quaderna. Cada um dos participantes plantou uma muda dentro da reserva ambiental, contribuindo assim com o projeto governamental “Um bilhão de árvores para a Amazônia”.

o suficiente e o pior: muita gente nem tinha informação sobre a existência desses ônibus. Contudo, sobrevivemos ao teste, sem muitos traumas, quase ilesos e um pouco mais experientes. PRESIDENTES PARTICIPAM DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2009 Jean Philippe Fernandes Santa Rosa Em cerimônia realizada no HANGAR, Centro de Feiras e Convenções da Amazônia, a governadora do Estado do Pará, Ana Júlia Carepa, agradeceu a presença dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Hugo Chavez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), Fernando Lugo (Paraguai) e representantes das comunidades índigenas no Fórum. O encontro destacou a luta dos movimentos sociais e as conquistas desses povos, considerados marginais pela sociedade.

DIFICULDADE DE SE FAZER MÍDIA LIVRE Pedro Luiz Júnior Dificuldades no Jornalismo qualquer profissional encontra. E mais ainda nós, virajovens que tivemos a missão de fazer a cobertura do Fórum Social Mundial. Prova de fogo melhor que essa não haveria. As reclamações vão desde desinformação à falta de estrutura dos locais designados para imprensa livre, onde o aparato tecnológico inesperadamente conseguia dificultar o processo. Afinal, os virajovens não estão familiarizados com os computadores e teclados belgas (os mais de 400 utilizados no Centro de Comunicação e nas salas da Comunicação Compartilhada foram doados por uma organização belga). O acesso aos locais dos eventos também foi uma das reclamações de quem já havia reclamado da dificuldade de se participar dos eventos. Apesar de haver uma política de transportes, ela se demonstrou insuficiente para atender à demanda do Fórum. Os organizadores dizem que linhas de ônibus foram disponibilizadas para atender essa necessidade, mas apenas nos dois principais territórios do FSM. Segundo muitos participantes, não foi

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Na platéia, que teve alguns protestos, cerca de 20 mil pessoas. A imprensa ficou localizada entre os movimentos sociais e os povos indígenas da América Latina, que agradeceram pela participação em um evento tão grande. Os representantes das comunidades indígenas ficaram na mesa junto aos presidentes, que discursaram logo em seguida. Cada presidente teve 15 minutos para falar a respeito da importância estratégica de realizar o FSM na Amazônia. Um dos discursos mais aplaudidos foi o do presidente brasileiro. “Nenhum estudioso explica como um índio com cara de índio, um trabalhador, um jovem e um negro chegariam à presidência de seus países, e, no último caso, comandariam a maior potência econômica do mundo”, declarou o presidente Lula.

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Coordenação Paulo Pereira Lima, do Projeto Revista Viração Alex Pamplona, da UNIPOP

Crédito

EQUIPE DA COBERTURA JOVEM DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2009

Colaboradores Rita Freire, da Ciranda Camila Caringe, Ubirajara da Fonseca e Vitor Massao, do Projeto/Revista Viração Ionara Silva, do Virajovem Brasília Ceila da Silva Rodrigues, do Virajovem Goiânia Pedro Filgueira, do Virajovem Natal

Agência Jovem reunida para a discussão das pautas

Crédito

Equipe Adriana do Socorro M Xavier Alan Dílson da silva Nunes Alessandra dos Santos da Silva Aline de Cássia S. Brito Amanda Camila Belo de Sousa Amanda Thayana da S. Costa Adrielson Acácio de Lima Barbosa Camila Cristina Cruz Carla Valeria da S. Santana Carlos Augusto Ramos Brito Junior Carlos Elizeu da Silva Santana Carlos Adriel M. Carnairo Daniele Corrêa Fontel Diego do Nascimento Míglio Dorieldo Nahum da Silva David Wallace Alves Calandrine Dvanderson S. Almeida Eduardo Cristiano dos Santos Morais Edirley Maruzo Silva Costa Eliene Nunes da Costa Gleicy Angelimary Santos Pereira Pablo Almeida Jean Philipe César F. Santa Rosa Jéssica Corrêa Fernandes Jéssica Natasha Mackhno Oliveira Jordan K. da Silva José Carneiro Josué Tavares da Cruz Júlia Gabriela Leão Monteiro Karina Simão da Silva Kamylla N. Santos da Silva Karla Modesto Ketlen Silva da Costa Ketlyn Nogueira Kellven Modesto Barbosa Laila Adriene S. Costa Manoela Moscoso Marciane Borges da Cruz Milena de Amorim Carvalho Miquéias Bragas Santos Natalia Cristina dos Santos Moraes Patrícia Santana da Luz Priscila Lima da Costa

Notícia em tempo real! Renata Kelly Dantas Cascaes Ricardo Nunes Silva Thayna da Silva lima Igor Alessandro Almeida Alena Gabriale de Souza Pereira Andrei Leray dos Santos Angela P riscila Silva de Olivera Camila Alves Rezende Claudinalva Pereira Eliene Pereira Almeida Erica Cristina Ferreira da Silva Fabricia Araujo da Silva Icaro do Carmo Pereira Jayra Gleyds Lima Santana Lais Andresa Silva de Souza Levi Barros Gomes Marcus Yuri do Carmo Pereira Moises Monteiro de Olivera Pedro José Freitas de Souza

Pedro Paulo Souza de Souza Victor Junior dos Santos Brito Karina Cristina B. da Silva John Cley da Silva Costa Andre Luis Almeida Priscila de Araujo Mendes Carla Mayara Serrão Silva Mayara da Conceição Vieira Anderson Luiz Rodrigues Jorge Pedro Luiz da Silva Junior Demetrios Ramon B. Matos da Silva

TÁ na MÃO Para conferir tudo que rolou no FSM, acesse: www.revistaviracao.org.br/fsm nº 49 · Ano 7 · Revista ViRAÇÃO

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cor de pele? Lent

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SIMONE NASCIMENTO, do Virajovem São Paulo*

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uando éramos apenas crianças e aprendemos as cores, algo inconsciente ou bem consciente já despertava o preconceito nas pessoas: a forma como chamavam um certo lápis, o tal de cor de pele. Vocês já notaram qual é a cor dele? Hoje não sou mais criança e, refletindo melhor, comecei a fazer uma pequena relação disso com o preconceito racial, que de alguma forma nasce nas pessoas, por algum motivo que não sei entender por que nasce, mas sei que existe. Parei para pensar naquela pergunta que fiz à minha mãe: “Por que os meus amigos da escola pedem o lápis cor de pele se a pele não é

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apenas daquela cor?”. Não me esqueço dessa pergunta engraçada, de resposta muito fácil e complicada ao mesmo tempo. Desde pequenas, as crianças estão aprendendo que a cor da pele tem que ser aquela, a do lápis da caixinha, aquela que levávamos para o “prezinho”, lembra? Aquela que até eu, quando pedia emprestado, chamava por esse nome... e que de alguma forma, sei lá por quê, alguém deu o nome de lápis cor de pele, e assim aprendemos a chamar. Sim, aquele de cor clara, meio rosadinha... Por que os lápis vermelho, amarelo, marrom, preto e branco não se chamam também lápis cor de pele? Quem chamou aquele lápis de

cor de pele? Sim, nós chamamos, e sem perceber fomos preconceituosos conosco mesmos! Sei que aprendi também que ao me fazerem a pergunta “Ei... me empresta o lápis cor de pele?”, eu simplesmente irei responder: “Qual das cores você vai querer?” Percebi que ainda criança me ensinavam o preconceito racial, e que desde criança queriam fazer com que acreditássemos que a cor da pele era apenas uma, e podia se definir e limitar-se a um simples lápis de cor, o lápis cor de pele.

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*Um dos Conselhos Jovens presentes em 21 Estados do País (sp@revistaviracao.org.br)


Etnomídia na Campus Party

Segunda edição do evento tecnológico Campus Party no Brasil inova ao abordar mídia produzida por grupos indígenas texto e fotos: CAMILA CARINGE e VIVIAN RAGAZZI, da Redação

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quem poderia interessar um evento de inovação tecnológica e entretenimento eletrônico? A muita gente, claro. Por isso, não é de se estranhar que diversos grupos se misturaram entre as bancadas cheias de computadores estranhos. Um computador em formato de carro, outro com mãos de monstro saindo de dentro e luzes piscando foram algumas das novidades que pipocaram nos pavilhões da Campus Party em São Paulo. Mas o encontro não serve só para iniciados nos melindrosos cálculos de física e engenharia eletrônica. Índigenas Tupinambá Hã Hã Hãe fizeram questão de aparecer por lá para dizer que estão integrados, interagindo e se conectam ao mundo para defender suas causas e proteger sua cultura do isolamento e consequente esquecimento. Era com essa intenção que o baiano Anápuáka Muniz, de 34 anos, desfilava com seu cocar e rosto pintado entre os carapálidas. Ele trabalha com tecnologia da informação, faz projetos em design gráfico e dá oficinas de produção de conteúdos de rádio, vídeo e texto, além de divulgar a importância da etnomídia, ou seja, da divulgação de conteúdos por meio de mídias especializadas e segmentadas, produzidas para serem representativas de uma determinada etnia. Apesar de ter saído da comunidade há anos, Anápuáka continua fazendo esse serviço de mediar as relações entre os povos. “O indígena tem facilidade para lidar com as novas tecnologias. Têm curiosidade, ansiedade pelo saber”, ressalta. Anápuáka gostou tanto da idéia que até desenvolveu um site com tecnologia wordpress, onde veicula notícias de terceiros (sites de busca e notícias) sobre comunidades indígenas brasileiras. Ele diz que, em grande parte, as notícias são unilaterais (mostram apenas um dos

lados da história), e então ele produz algum texto de contraposição. “Dou um cutucão. Digo que não é bem assim. Eles estão de fora da história.” A oficina de etnomídia promovida pelos indígenas presentes teve como objetivo explicar que a forma como um indígena escreve e produz mídia em geral. “O diálogo é simples, é como nós falamos no dia, não temos manuais. Não é como a mídia que fala para um coletivo”, disseram. Eliete Pereira, historiadora e mestre em Ciências Sociais da Universidade de Brasília (UnB), acha o termo etnomídia curioso e diz que a criação de novas palavras faz parte da tentativa de compreender uma situação. “Vêm dos próprios grupos, não é um conceito definido por um pesquisador. As pessoas estão, ao mesmo tempo, atuando e refletindo sobre sua atuação.” De qualquer forma, a autenticidade é a marca registrada dessa galera. “Nós escrevemos como falamos. Por meio das mídias digitais a gente passou a mostrar a nossa cara”, finaliza o indígena Jaborandi.

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TÁ na MÃO • Confira a Rádio Brasil Indígena na internet: http:// webradiobrasilindigena.wordpress.com/ • Campus Party: http:// www.campusparty.com.br/ nº 49 · Ano 7 · Revista ViRAÇÃO

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GALERA REPÓRTER

a g e h C de tabu

BRUNO CASTRO, LUCIANO DE SÁLUA e SIMONE NASCIMENTO, do Virajovem São Paulo*; ERIC SILVA, CAMILA CARINGE e VIVIAN RAGAZZI, da Redação fotos LUCIANO DE SÁLUA e BRUNO CASTRO, do Virajovem São Paulo e MAÍRA SOARES, colaboradora da Vira

“Manifestar e exercer a sexualidade de forma plena, saudável e prazerosa é um direito individual, afinal de contas a gente nasce, vive e morre com ela”

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aria Adrião é uma pernambucana arretada desde pequena. Curiosa sobre o universo da sexualidade, formou-se em psicologia e trabalhou em organizações que lidam com o tema, como o Instituto Papai, em Recife, e a Ecos Comunicação em Sexualidade, em São Paulo. Maria também trabalhou no Programa Nacional Saúde e Prevenção nas Escolas, do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde. Com tanta experiência na área, mais recentemente Maria produziu, como consultora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Guia de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, em parceria com o Projeto Tecer o Futuro da Associação Nossa Senhora do Bom Parto e a Revista Viração. Confira a entrevista realizadas pelos virajovens de São Paulo com essa fera, que nos recebeu em sua casa nordestina e colorida, numa simpática vilinha. Por quê discutir a sexualidade com a família ainda é um tabu para a sociedade? Porque a ideia da sexualidade é muito ligada a uma noção de pecado e também não podemos perder de vista que isso é uma herança das religiões mais conservadoras e tradicionais, que ainda entendem a sexualidade numa visão muito do sexo, como algo feio. Ainda existe uma resistência muito grande em trabalhar com esse tema dentro das escolas, nos serviços de saúde, nas próprias comunidades. Não podemos perder de vista que você manifestar a sua sexualidade e exercê-la de forma plena, saudável e prazerosa é um direito individual, afinal de contas a gente nasce, vive e morre com ela. Ela não está ligada apenas ao ato sexual, à presença ou não de orgasmo. A sexualidade é a energia que motiva a encontrar o amor, é a forma como você se relaciona com as pessoas e que perpassa as questões culturais, dos costumes, os valores históricos naquele dado momento. Mas ainda assim é um grande desafio trabalhar com a sexualidade.

LINHA DO TEMPO Festejando o aniversário de seu irmão mais velho Newton, com os pais, em Limoeiro (PE).

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De dançarina de coco, com trajes típicos, para apresentação na escola, em Timbaúba (PE) Revista ViRAÇÃO ViRAÇÃO ·· Ano Ano 77 ·· nnºº 49 49

Aos 23 anos, participando dos ensaios do grupo de maracatu Nação do Engenho, em Recife (PE)


Então, quando a gente pensa em sexualidade, a gente tem que pensar também na perspectiva de gênero. O quanto, realmente, a gente reforça esse modelo.

Qual a importância de respeitar uns aos outros e a si próprio na questão da sexualidade? Esse respeito, na sua opinião, está em falta nos dias de hoje? Somos seres plurais e diversos. Na nossa forma de agir, de pensar, de ser, de nos despirmos, nossos gostos, escolhas e opções. Os direitos sexuais das pessoas são também direitos humanos. Só que, infelizmente, ainda hoje, existe muito preconceito no exercício dos direitos sexuais, que vai desde eu escolher com quantos parceiros eu quero manter relação sexual, como eu quero, se eu quero fazer com um menino, com uma menina, com meninos e meninas, com travesti, com transexual, porque a gente também tem que ampliar a visão das identidades. Não existem somente homens e mulheres, mas temos que ver a sexualidade com um olhar mais amplo. Agora, ainda hoje há os crimes homofóbicos. Em uma pesquisa que a Unesco fez em 2004, Juventudes e Sexualidade, tem um dado que é muito interessante sobre a porcentagem de alunos que revelaram que não queriam ter amigos, colegas na sua classe, que fossem homossexuais. Cadê o respeito à diversidade sexual? Ou, por quê será que durante a adolescência os meninos podem manter relações sexuais com um número

muito grande de parceiros ou parceiras e quando as mulheres fazem a mesma coisa, se tem uma visão completamente deturpada? Então, ela é a galinha, é a vagabunda... Eu acho que a gente precisa também ter um olhar sobre as relações de gênero que perpassam essas situações. Os termos “galinha” pra homem e pra mulher mudam bastante... Mudam. Até porque em alguns grupos sociais é valorizado o fato de o menino ser galinha, ter várias parceiras. É cultural isso. Mas eu sinto que, aos pouquinhos, as mulheres vêm ocupando mais esse espaço do exercício da sua sexualidade. Historicamente, a mulher que senta de perna aberta é deselegante. A menina que é flagrada pelo pai ou pela mãe se tocando é um grande estardalhaço na família.

Há quanto tempo você trabalha com sexualidade e por quê esse assunto te interessou? Santa Maria! Tinha uns 11 anos, estava na quinta série, aula de educação sexual que não era educação sexual, era educação reprodutiva, porque se discutia o aparelho reprodutivo da mulher e do homem. Era uma freira que me dava essa aula, irmã Clara. Aí eu levanto a mão e falo: “Ô irmã Clara, e o que é coito?” Porque eu tinha lido nos livros da minha mãe, que era uma enciclopédia azul de 1966, do Dr. Fritz, sobre a lua-de-mel. Então sempre me despertou muito a atenção por ser um tema polêmico e gerar muita discussão. Segundo porque foi também uma forma de me libertar desses valores mais conservadores, porque eu vivia, não somente na minha família, mas em um espaço social muito tradicional. Quando eu entrei na faculdade, fiz psicologia. A primeira vez que escutei um texto de Joan Scott (escritora feminista estadunidense) sobre gênero a minha vida mudou. Várias fichinhas foram caindo na minha cabeça. Foi quando eu comecei a entender a sexualidade num viés mais político também. Entrei no movimento social, no movimento feminista, e as coisas foram acontecendo. Existe uma forma para se tratar saudavelmente a sexualidade? Eu acho que falar em fórmula é difícil, porque a gente é muito diferente um do outro, é uma diversidade muito grande. Mas acho que é a gente se conhecer

Com a prima Karla, em João Pessoa (PB), ano de 2001. Primeiro encontro feminista. Em Cananéia, litoral sul de São Paulo, em 2004.

Com Letícia, amiga que conheceu quando foi morar em São Paulo. nº 49 48 · Ano 76 · Revista ViRAÇÃO

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de uma forma mais profunda. Quem somos, a que viemos, o que é que eu vim fazer neste mundo, o que é que eu quero fazer aqui? Cada um descobre a sua fórmula. Mas acho que a grande sacada é se conhecer e querer conhecer o outro, estar aberto para o outro.

Que o preservativo é um insumo universal. Todos nós temos direito no país. Mas ainda existe uma dificuldade muito grande. Então, eu acho que se a gente consegue instituir uma cultura permanente na escola, a gente consegue dar um salto qualitativo no debate sobre esse tema.

Você acredita que uma matéria na escola que versa somente sobre sexualidade ajudaria o tema a se difundir mais na nossa cultura? Lógico que contribuiria muito, agora, teria que se pensar. A gente sabe dos tabus, dos valores conservadores, os professores também têm uma dificuldade muito grande em falar desse tema. Porque a gente ainda tem uma noção de que quando você trabalha a reprodução humana você está trabalhando a sexualidade. Então, muitas vezes, a responsabilidade é do professor de biologia. Mas quem falou que ele é o mais preparado? O ideal seria que se pudesse constituir um espaço permanente na escola, onde se pudesse trabalhar de forma continuada, com a participação dos adolescentes e dos jovens, dos familiares, dos professores, de toda a unidade escolar. Eu trabalhei em projetos e a gente tinha uma dificuldade muito grande justamente com os pais. A gente recebia muitas cartas lá no Ministério da Saúde dos pais indignados com o projeto, reclamando da iniciativa, porque isso estaria estimulando o início precoce da atividade sexual do seu filho. E a nossa resposta sempre era na linha de que é dever do governo, é dever do Estado, prover o seu filho de informações, pra que ele possa fazer escolhas mais conscientes e mais responsáveis. É essa a grande sacada. Que ele saiba a forma correta do uso do preservativo. Que ele saiba que ele tem o direito de acessar esse preservativo em quantidade suficiente no serviço de saúde público.

O que são direitos sexuais e direitos reprodutivos? Pra quê eles valem? Os direitos sexuais se referem aos direitos que você tem como ser humano a exercer de forma plena e responsável a sua sexualidade. É um direito seu escolher com quem, como e quando você quer manter relação sexual. Então você tem, por exemplo, o direito de dizer “hoje eu não quero”. Não é porque você é homem que não tem o direito de falar isso pra sua namorada! Você tem o direito de escolher quantos parceiros você quer, como, se é homem, se é mulher, se é transexual ou se é travesti. Como também tem o direito de acessar informações qualificadas sobre o tema, acessar serviços de saúde que deem informações e métodos contraceptivos. Isso é direito sexual. E direito reprodutivo está mais relacionado ao campo da reprodução. Que é justamente entender que as pessoas têm direito de querer ou não ter filhos, com quem, o período de espaçamento desses filhos, a quantidade. E assim como no direito sexual, você tem que ter acesso a serviços de saúde de qualidade, que deem informação, que sejam um espaço de reflexão, onde você seja protagonista também. A gente ainda tem uma visão muito adultocêntrica de que os adolescentes não têm sexualidade ou que ainda não estão preparados e capacitados para assumirem de forma responsável sua sexualidade, sua vida sexual e reprodutiva. As relações sociais e culturais vêm se modifi-

Casamento com Fabio, em 2004, na vila onde moram.

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Revista ViRAÇÃO · Ano 7 · nº 49

cando, o estado e a sociedade têm que se adequar a esses novos comportamentos. Por isso que a ideia de se discutir direitos sexuais e direitos reprodutivos também é válida para os adolescentes. Qual a importância da vivência da sexualidade pelos jovens e pelos adolescentes? De transformação e de liberdade. Mas a gente não pode jamais perder de vista a responsabilidade. Tudo isso tem que ser exercido dentro de um contexto de respeito a si mesmo e ao outro, eu acho que isso é fundamental. Tem que ser uma escolha positiva pra você e para o outro. Parece que tudo é um “oba oba” tremendo, e não é. É de uma forma respeitosa. Agora, a gente precisa se livrar dessas amarras. É muito complicado você não poder exercer sua sexualidade, não poder expressar o seu carinho, o seu afeto. E o que você pensa sobre as máquinas de camisinha? A ideia é muito interessante, porque a gente sabe das barreiras institucionais dos adolescentes em acessar os serviços de saúde. Pensando nisso a proposta do Ministério da Saúde e do Ministério da Educação foi justamente ampliar o acesso ao preservativo por meio dos dispensadores, aliado a uma prática educativa em sexualidade. Não é puramente jogar a máquina de camisinha lá dentro, mas aliar a ações educativas permanentes nas escolas. E isso é uma estratégia do programa Saúde e Prevenção nas escolas. Então fizeram em caráter piloto a implantação do dispensador. Até pra ver a diferença regional entre sul e nordeste. E aí, depois, a ideia é a ampliação do projeto para outras escolas de outros estados.

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*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 21 Estados do País (sp@revistaviracao.org.br)


SEXO E SAÚDE

WILLIANE RODRIGUES DE MELO e KEURYN BÁRBARA LAZAROTTO*, JAMILE B. A. MACAGNAN**

CÂNCER DO COLO UTERINO: A PREVENÇÃO É A MELHOR AÇÃO!

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câncer do colo uterino é considerado um problema de saúde pública, causando graves danos à saúde da mulher. A doença ocorre por uma alteração das células superficiais do colo uterino que se tornam anormais. No início, essas alterações se caracterizam como células pré-cancerosas e não como câncer. Em seguida estas células modificadas se reproduzem, e posteriormente, passam a constituir parte considerável do colo do útero. Assim, o organismo não consegue mais “segurar” estas células e elas invadem o organismo. Quando as células invadem mais profundamente o colo uterino e passam a se instalar em outros órgãos e tecidos, a doença é chamada de câncer do colo uterino ou câncer cervical. Esta alteração celular é derivada de vários fatores, que são conhecidos como fatores de risco. Por exemplo,

o tabagismo, a idade, a infecção pelo vírus papiloma humano (HPV) e manter relações sexuais antes dos 16 anos. Por outro lado, também existem fatores de proteção que devem ser levados em consideração. Entre eles, a realização do exame ginecológico, ou papanicolau, conhecido popularmente como exame preventivo. Este exame proporciona à mulher um diagnóstico exato das condições das células do colo uterino, apontando ou não alterações, e assim o médico poderá indicar um tratamento pertinente para cada caso. Outra forma de prevenção é a vacinação contra o vírus do HPV, que deve ser realizada antes do início das relações sexuais, sendo importante ressaltar que este meio de imunização não é válido para todos os subtipos de HPV. Por isso, torna-se necessária a realização do exame preventivos periodicamente, mesmo por mulheres vacinadas. Esta doença pode ser assintomática no primeiro momento, sendo considerada esta fase como fase pré-clinica, ou seja, um período onde não há a manifestação de sintomas. A partir de um determinado período, com a progressão da doença, começam a surgir os primeiros sintomas, que podem ser sangramentos vaginais, corrimento e dor no momento da relação sexual. O tratamento varia desde cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou até mesmo terapia biológica, o que significa usar modificadores da resposta biológica do corpo frente ao câncer, podendo ser usadas drogas que melhoram a diferenciação das células tumorais, ao qual ainda está em estudo, porém promete excelentes resultados na ajuda ao combate ao câncer no futuro. Por se tratar de uma alteração celular que ocorre aos poucos, a cura se torna possível quando descoberta e tratada no início. O mais importante é que ela pode ser descoberta por meio da realização do exame preventivo. Por esse motivo, existe tanta insistência por parte dos profissionais de saúde em alertar as mulheres sobre este exame, que é simples, porém que pode preveni-las de um mal maior. Procure os postos de saúde mais próximos de sua casa e realize o seu exame. Ele é gratuito e pode salvar sua vida.

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Natalia Forcat

* Alunas do 5o semestre de graduação do curso de Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) ** Enfermeira e professora do curso de Enfermagem da UDESC nº 49 · Ano 7 · Revista ViRAÇÃO

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NO ESCURINHO

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SÉRGIO RIZZO, crítico de cinema

Capitalismo selvagem O

Fotos: Divulgação

alagoano Graciliano Ramos (1892-1953) é possivelmente o escritor brasileiro que teve mais sorte no cinema. Sua obra deu origem a três longas notáveis baseados em sua obra. Vidas secas (1964) e Memórias do cárcere (1984), ambos de Nelson Pereira dos Santos, continuam inéditos em DVD, mas S. Bernardo (1972), de Leon Hirszman (1937-1987), acaba de ser restaurado no segundo pacote de recuperação da obra integral do cineasta (o primeiro inclui Eles não usam black-tie, de 1981). Segundo romance de Graciliano, S. Bernardo foi escrito entre 1932 e 1934, em Maceió (AL). Sua recém-publicada 87a edição, pela editora Record, recupera as últimas correções do escritor, feitas para a 3a edição, em projeto supervisionado pelo professor Wander Melo Miranda, da Universidade Federal de Minas Gerais. Entre as diversas possibilidades de análise, uma das mais atuais conduz à exposição dos mecanismos brutais de transformação do homem em mercadoria pelo capitalismo de feição rural, baseado na propriedade e exploração da terra. Hirszman optou por uma adaptação que se mantém muito próxima do texto original. O eixo é o relato em primeira pessoa do fazendeiro Paulo Honório, 50 anos. Othon Bastos interpreta o personagem e, embora não corresponda fisicamente à descrição que Paulo Honório faz de si mesmo no romance, encontra um modo feliz de representar alguém de inteligência aguda e, ao mesmo tempo, extrema rudeza no trato com os outros – uma de suas

principais vítimas é a própria mulher, a professora Madalena (Isabel Ribeiro) – e na maneira de lidar com as engrenagens da sociedade. A grandeza de S. Bernardo reside, de maneira mais clara, na tentativa de traduzir a prosa original de Graciliano em imagens e sons, expressa também pelo rigor formal de Hirszman, que estruturou o filme em longos planos abertos e com poucos movimentos de câmera. Mas é do Brasil dos anos 70, sob regime militar, que também se fala, na mesma linha do que Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) fez, usando a Inconfidência Mineira como pretexto, em Os inconfidentes (1972), outro clássico brasileiro no qual o passado conversa com o presente.

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Revista ViRAÇÃO · Ano 7 · nº 49 Revista ViRAÇÃO · Ano 7 · nº 49


além das fronteiras... O

Mawaca lançou, no finalzinho de 2008, seu sexto CD, Rupestres Sonoros. O grupo, com mais de 10 anos de estrada, tem em seu repertório as diversidades de linguagens e sonoridades de povos e culturas, tempos e espaços do nosso planeta. Estivemos no show de lançamento no Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP), e conversamos um pouquinho com Magda Pucci, cantora, pesquisadora e apresentadora do programa Planeta Som da rádio USP-FM, sobre o grupo, o CD novo, música e juventude. O Mawaca apresenta, dentro desse contexto de globalização, produções musicais dos diferentes grupos humanos, de indígenas brasileiros a tradições judaicas e de grupos medievais, por exemplo. Recriando essas produções com uma linguagem mais urbana, mais “apressada”, o público entra em contato com acervos histórico e culturalmente riquíssimos. Especificamente com a produção de Rupestres Sonoros, a intenção é abordar a imensa diversidade dos grupos indígenas brasileiros, com seus mais de 200 povos, e ajudar na ruptura da imagem de que os

FERNANDA FORATO, colaboradora da Vira fotos DIVULGAÇÃO

índigenas são todos iguais e no preconceito ainda existente em relação aos seus hábitos de vida. Sobre música e juventude, Magda vê possibilidades interessantes com o uso da internet. “A ferramenta se torna uma possibilidade de busca por coisas novas, diferentes do que é imposto pela mídia e indústria cultural, permitindo a criação de ‘nichos’ e criando movimentos paralelos, pequenos, mas com espaço para fugir da mesmice”, observa. O show foi um espetáculo à parte. Figurinos, iluminação, projeção de imagens durante a apresentação e interação com o público criaram um clima de excitação constante. Imperdível! Quem puder prestigie o show, e de qualquer forma viaje e aprenda com o CD!

TODOS OS SONS

Música

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TÁ na MÃO • www.mawaca.com.br nº 49 · Ano 7 · Revista ViRAÇÃO

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VIRA R ARTE

ERIC SILVA, da Redação*

Comunicação e Arte para expressar nossas ideias Paz e Amor P

or meio da arte e da comunicação passamos nossa mensagem de diversas formas: camisetas, ilustrações, música, e outras formas artísticas. Elas são ferramentas para mostrar nossos pensamentos e sentimentos,

Eu vou fazer um chamado Escute óh meu amor Não quero mais violência, não Não quero um mundo de dor O tempo é criado na essência do amor De minha canção fiz este louvor O que me foi consagrado Pela inspiração, fui julgado Durma bem, anjo Mas antes, me dê um abraço forte Nos deseje sorte E que um dia, deste sonho, a gente não acorde Deixa te mostrar como a vida pode ser bela Se for preciso eu arrumo faixa amarela Ponho seu nome nela E grito ao pé de canto Que o verdadeiro amor É o que atravessa oceanos Eu não me engano Eu sei do que falo e falo certo Não sou dono da verdade Mas este é meu critério Eu sei que você está cansada de sofrer Venha para o meu acalanto Vou fazer você esquecer Que amanhã vai ser tão belo quanto esta cantiga Se acordares se sentindo feia, você é a mais linda Te levo na cama seu café da manhã Eu vou cantar Oceano do Djavan E mesmo que duvidares do meu amor Dê tempo ao tempo, porque o tempo é professor E toda noite antes de dormir Fique sabendo, estou orando por ti E eu fiquei Numa insônia danada Porque a menina dos meus olhos está apaixonada Eu vou fazer um chamado Escute óh meu amor Não quero mais violência, não Não quero um mundo de dor Eu quero paz e amor...

Eric Silva

Rap de Douglas Fane (São Paulo – SP) e Andréia de Sousa Santos (Brasília – DF)

Expressões artísticas expõem pensamentos e ideais

Criatividade

Rodrigo Sampaio, de Sorocaba (SP)

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Revista ViRAÇÃO · Ano 7 · nº 49


Eric Silva e Ingrid Cristina

Mudança, atitude e ousadia jovem

Camisetas produzidas na oficina de Arte do III Congresso Mundial de Enfrentamento Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

e juntas podem dar um resultado muito positivo. Todos os dias usamos a comunicação com as pessoas ao redor, de formas diferenciadas, e às vezes de maneiras que nem sabemos. Por exemplo, nos comunicamos pela fala, pela escrita, por gestos, e de outros jeitos diferentes, como por meio de camisetas, cartazes, penteados, expressões de rosto, enfim, de muitos outros jeitos. A arte é outra forma de expressar o que sentimos, nossas déias e manifestar algo. Por isso, é muito complicado julgar o que é arte ou não. Se alguém faz algo verdadeiro para si e considera arte, desde um simples rabisco no

papel a um grafite super elaborado na parede, deve ser considerado uma forma de expressão artística, já que naquele momento a pessoa se dedicou a fazer aquilo. Não tem melhor ou pior, é tudo uma questão de gosto. É por esse e outros motivos que devemos ser verdadeiros, tanto quando nos comunicamos quanto na hora de fazer arte. Não devemos nos preocupar se o outro vai achar ruim ou não, se vai gostar ou não, o que importa é você ser sincero e mostrar verdade naquilo que está fazendo. E foi isso que esse pessoal fez! Manifestou-se sem medo e mostrou do que são capazes!

e talento ...

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*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 21 Estados do País (sp@revistaviracao.org.br)

4. BOLETO BANCÁRIO (R$2,95nºde 49 taxa · Ano bancária) 7 · Revista ViRAÇÃO

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FORMA DE PAGAMENTO: TIPO DE ASSINATURA:

PARADA SOCIAL

VIVIAN RAGAZZI, da Redação

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onversas instantâneas, mensagens por correio eletrônico, perfil em sítios de relacionamento. Vai dizer que você não curte internet? É difícil não se apaixonar (e se viciar!) em navegar pela rede. Afinal, você descobre mil coisas com uma simples fuçada pelo buscador e conhece gente interessante por aí, certo? Mas, como qualquer espaço público, a internet não pode ser considerada uma “terra sem lei” e do “posso tudo e ninguém me acha”. Por isso, temos direitos e deveres na net que devem ser respeitados. É com o objetivo de promover um uso seguro e saudável da net que acontece anualmente o Dia da Internet Segura, uma iniciativa anual da INSAFE, rede de organizações europeias que desenvolvem campanhas para orientar o uso seguro da rede. A rede é patrocinada pelo Safer Internet Plus Programme, da Comissão Européia. No Brasil, as organizações que está liderando a iniciativa são a SaferNet Brasil (www.safernet.org.br) e pelo Ministério Público Federal de São Paulo, por meio do Grupo de Combate aos Crimes Cibernéticos. “Quando definimos a internet não apenas como rede de computadores interligados, mas como uma rede de pessoas conectadas por meio de computadores, adotamos um foco nas pessoas e não nas máquinas”, observa Rodrigo Nejm, diretor de Prevenção e Atendimento da SaferNet Brasil. “O uso das máquinas e o tipo de relação social estabelecida no espaço virtual precisa respeitar os direitos e deveres que também valem em outros espaços para todo e qualquer cidadão”, completa. Segundo ele, o trabalho de combate aos cibercrimes no Brasil, a exemplo do realizado pelo Ministério Público Federal de São Paulo em parceria com a SaferNet Brasil, é vital para garantir a justiça e a cidadania nas interações virtuais. No entanto, a segurança na internet depende também de um trabalho de educação e conscientização que possibilitem prevenir os crimes e promover o uso responsável. “Precisamos somar esforços para estimular o uso consciente e cidadão”, ressalta.

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TÁ na MÃO • Mais informações, pesquisas e materiais sobre Uso Segura da Internet disponíveis no Portal da SaferNet em: www.safernet.org.br/site/ sid/o-que-e


MĂĄrcio Baraldi

Roteiro produzido pelo Virajovem BelĂŠm (PA)



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