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Comunidades

Instituto Nossa Senhora Aparecida

Por Pe. Bruno Retore, sds

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Pe. Geraldo de Andrade, sds, em 1953

Nesta edição da revista “Missão Salvatoriana”, vamos abordar a origem do Seminário Nossa Senhora Aparecida de Conchas, segundo relatos das Crônicas e da revista a “Voz do Salvador”.

A revista inicia a sua edição de janeiro de 1953, número 100, com uma bela introdução.

“O SEMINÁRIO, NO DIZER DE UM GRANDE BISPO, DEVE NASCER NO CORAÇÃO DE TODO BOM CATÓLICO. A OBRA DAS VOCAÇÕES SACERDOTAIS E O SEMINÁRIO DEVEM SER A MENINA DOS OLHOS, com seminaristas paulistas, cariocas e de outros estados

NÃO SÓ DO BISPO, MAS DE TODOS OS

A Congregação, vencida as primeiras etapas e grandes dificuldades ao se estabelecer no Brasil, tratou de fundar vários seminários para a formação de futuros sacerdotes. Com o decorrer do tempo surgiram: o Seminário Menor do Divino Salvador, em Jundiaí e o Seminário Maior Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Em Videira-SC, Pacoti-CE, Piedade-RJ e em Parangaba-CE, surgiram os Seminários Preparatórios. Ao iniciar o ano de 1953, surgia o novo Seminário Preparatório Nossa Senhora Aparecida de Conchas, naquela época era a Diocese de Sorocaba. Continuando, a revista informa que em 1954 seria inaugurado o primeiro ano letivo do novo seminário SACERDOTES, DE TODOS OS FIÉIS”.

vizinhos. A construção do seminário foi dirigida pelo Pe. Geraldo de Andrade, sds, designado para este fim, não poupando esforços e merecendo sincera gratidão dos membros da Província Salvatoriana.

A pedra fundamental foi benzida no dia 30/09/1951, por Dom José Carlos Aguirre, bispo de Sorocaba. Consta a manifestação de gratidão ao Prefeito e à Câmara Municipal pela doação do terreno. Conclui a Voz do Salvador: “A todo o generoso povo de Conchas que, com suas esmolas e donativos, fez erguer o Seminário que irá abrigar tantas vocações conchenses, a gratidão perene de todos os Salvatorianos”.

Importante é reportar ao livro de crônicas, para sentir a beleza do nascimento do Seminário Preparatório Nossa Senhora Aparecida de Conchas. Atrevo-me, simplesmente, a transcrever o intróito da crônica de janeiro de 1953:

“...sendo por isso mesmo um tanto prolixa esta crônica, que reproduz o histórico desta fundação, que é a caçula da nossa Província. Em longínquas eras que remontam há séculos, levada por contínuas erosões e depressões em suas camadas sedimentares, a Serra de Botucatu deslizou de sua massa a formar ao sul este extenso planalto, modificado aqui e alí por regulares elevações do terreno, composto de rochas, graníticos, arenitos e xistos argiloso-calcáreos, desenhou-se, assim, o panorama do atual município de Conchas. Na qualificação isotérmica, Conchas possui clima temperado-brando, saudável, variando entre 20 a 19 graus de latitude leste, sendo ainda beneficiada de ventos regulares na direção sul-norte, amenisando-lhe, desta forma, o calor, e suavizando a temperatura depressiva do inverno.

Eis os dados que o lente da cadeira de geografia e cronista conseguiu reunir para a informação dos leitores e curiosos investigadores das novidades que ocorrem pelas residências salvatorianas. Concordam, no entanto, estes dados com a opinião de entendidos geólogos; longe, pois, de ser mero amontodado de palavras.

A 192 quilômetros, aproximadamente, distante da Capital por estrada de rodagem; servida pela E. F. Sorocabana, em seu tronco que penetra o “hinterland” paulista, eis a localidade a que, por caminhos que não são nossos, a Providência fez surgir o Seminário “Nossa Senhora Aparecida”.

Entra, pois, esta nova residência salvatoriana no concerto das demais casas que constituem a Província Salvatoriana Brasileira, que, em sua forma jurídica, tomou o nome de Sociedade Brasileira de Educação e Assistência.

Desta residência, pois, a partir desta data, periodicamente, virão as notícias a avolumar a oportuníssima crônica das Casas, irmanando-a às que, nestas plagas, visam tornar conhecido o Salvador e para Ele conduzir os filhos transviados “... ut cognoscant Te, et quem misisti...” (“Para que conheçam a Ti e a quem enviaste...”).

Humilde em seu início, como soem ser as obras divinas, o Seminário N. Senhora Aparecida, que hoje conta com uma comunidade salvatoriana de 3 padres, um irmão Coadjutor e 40 seminaristas, teve seus primórdios em 1951. Daremos, resumidamente, os informes quanto a seus primeiros passos.

Designado pelo então Conselho Provincial, sempre ao corrente das aptidões sempre demonstradas nos diversos postos que lhe haviam sido confiados anteriormente, foi o R. P. Geraldo de Andrade – atual Superior desta Casa – o pioneiro desta fundação. Propostas haviam sido apresentadas e a ocasião se apresentava, acorrendo à necessidade de se localizar um clima mais ameno que não o do Rio de Janeiro, o seminário para os preparatorianos. Foi a 20 de junho de 1951, que desembarcou em Conchas o P. Geraldo para estudos preparatórios à nova fundação. Teve êxito em seus primeiros passos. Já em 30 de outubro do mesmo ano, a população conchense assistiu ao lançamento da pedra fundamental, em cerimônia oficiada por S. Excia. Revma. o Sr. Bispo de Sorocaba, Dom José Carlos de Aguirre. E a bênção do pastor fez brotar prontamente a árvore que, em apenas num ano de trabalhos, a 22 de outubro de 1952, já realizava a festa da “cumieira”. Alcançara o alto o edifício. Sabem os entendidos e poderão avaliar os interessados quantas canseiras não terá custado ao P. Geraldo esse ano de labutas, à cata do material, ora aqui, ora ali, para desincumbir-se da tarefa que lhe assentaram aos ombros. E foi sempre feliz em suas buscas e em suas campanhas. Visivelmente amparado pela Mãe Celeste em tamanhas dificuldades, coberto o prédio, quis que a Ela fosse entregue esta casa. Ratificado o seu projeto pelo Conselho Provincial, tomou a nova residência salvatoriana o nome de “Seminário Nossa Senhora Aparecida”, Ela, que é a Rainha do Brasil, sente-se, desta forma, obrigada a amparar a casa que é sua, da qual nos orgulhamos, dirigindo assim os primeiros passos dos futuros levitas do Senhor, na grande seara que a Congregação do Divino Salvador recebeu para cultivar em terras brasileiras. – “Ipsa duce, non errabimus” (“Guiados por ele, não erraremos”).

Depois de coberta até ficar inteiramente aparelhada para a finalidade a que estava destinada, muito houve a fazer. E, ante este surto rápido, entusiasmaram-se os escolásticos e até os seminaristas de Jundiaí que, de boa mente, aqui passaram no mês de fevereiro deste ano de 1953, a exercer a profissão de “borradores”, nas diversas dependências. Muito trabalharam tambem os VV. Irmãos Antônio e José, que vieram a Conchas para assentar as portas e janelas, por eles fabricadas em Jundiaí. A todos agradece a Comunidade, e, se alguém foi preterido, inconscientemente o foi, porque a ninguém queremos excluir, repetindo como outrora São Paulo, querendo se justificar de não querer dever coisa alguma a quem quer que fosse...”.

Conferindo o Aviso Nº 101, consta sendo dia 30 de setembro o lançamento da primeira pedra do futuro seminário, como de fato foi. Às 10h, foi celebrada Missa Solene na Matriz do Bom Jesus de Conchas, cantada pelo coro dos escolásticos de Indianópolis. A cerimônia da bênção da primeira pedra foi marcada para a tarde, às 16h.

Ao longo do tempo, o nome Nossa Senhora Aparecida permaneceu inalterado, modificando apenas para “Educandário”, “Noviciado”, “Comunidade Salvatoriana” “Instituto”, “Casa de Encontros e Retiros”. Destacase ainda, a importância do Seminário ser uma casa de Noviciado por vários períodos, embora não sequenciais. A finalidade original e principal sempre manteve-se fiel quanto à formação dos seminaristas no seminário preparatório, do primeiro grau e do segundo grau. Houve época em que o Instituto Nossa Senhora Aparecida formou muitas turmas de seminaristas para o Supletivo do Primeiro e Segundo Graus, o famoso madureza Ginasial e Colegial, como era conhecido em outros tempos.

Por vários anos o Instituto foi destinado ao Noviciado. Em 1952 o Seminário acolheu primeiro jovens seminaristas. Até os anos de 1990, aproximadamente, foram 869 seminaristas em regime interno, que passaram e receberam formação humana, religiosa e acadêmica completas. Nem todos se tornaram irmãos religiosos ou sacerdotes salvatorianos, mas com certeza tornaramse cidadãos de respeito e exemplares na sociedade brasileira.

Tempo de seminário é um tempo de discernimento vocacional. Aqueles que não seguiram a vida salvatoriana, certamente ao deixarem o seminário, levaram consigo uma formação ética, humana e profissional sólidas inesquecíveis por toda vida. Queremos destacar que dos 869 seminaristas menores que passaram no Seminário de Conchas, temos a grata alegria de contar com cinco sacerdotes salvatorianos conchenses e mais 47 sacerdotes de outras cidades passaram pelo seminário ou pelo Noviciado, sendo este último a maioria. Além deles, temos seis irmãos religiosos que desfrutaram da formação ou do noviciado oferecido por esta casa formativa.

Nas últimas duas décadas, a Província e a Comunidade Local fizeram vários investimentos em reformas e adaptações internas e externas nas edificações para adaptações aos novos tempos e exigências que o mundo moderno exige, especialmente no tocante ao ambiente propício para os noviciados e aos encontros de formação e retiros.

Hoje, é considerada uma casa acolhedora e agradável para Encontros e Retiros, onde também é realizado o encontro de leigos e jovens, além dos retiros anuais salvatorianos, no mês de julho da Província Brasileira. Os nossos Capítulos e Sínodos Provinciais, as Assembleias da Província e da Associação Brasileira de EducaçãoABEA, onde são debatidos muitos assuntos, estudos profundos da caminhada salvatoriana, decisões, muitas vezes cruciais, são assumidas por todos nesta acolhedora casa, sob a proteção da Nossa Senhora Aparecida.

Conchas, 1980

Projeto da construção do Seminário de Conchas

Construção parcial do Seminário Nossa Senhora Aparecida, em Conchas, 1951