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Salvatorianos

Testemunho de vida como salvatoriano

Por Pe. Luiz Dalmolin Spolti, sds

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É com muita satisfação que manifesto meu testemunho a respeito de minha vida e vocação como Salvatoriano. Sou fruto do serviço vocacional que o saudoso Pe Wilfrido Wieneke, sds, realizava em suas visitas mensais às comunidades do interior da Paróquia Santo Antônio de Tangará, SC. Geralmente, essas visitas eram feitas a cavalo todos os meses. Já fazia alguns meses que o padre havia me convidado a ser coroinha para ajudar na celebração das missas na capela. Para tanto, eu e um outro menino, filho de uma família vizinha à minha, tivemos algumas orientações em dias marcados pelo Pe Wilfrido na Igreja Matriz de Tangará.

Nosso esforço foi relativamente grande, pois tratavase de decorar as respostas do celebrante em latim, do qual não tínhamos absolutamente nenhuma noção. Era, pois, tudo decorado e respondíamos de cor, como papagaio. No final do ensaio vinha a recompensa: um copo de suco de alguma fruta, muito doce e saboroso. Voltávamos para casa muito satisfeitos. Certa vez, como de costume, antes da missa, procurei o padre no confessionário. Terminada a confissão, veio a pergunta, um tanto quanto inesperada: “Luizinho você não gostaria de ser padre?”. E o padre foi logo acrescentando: “eu mesmo falarei com seus pais e com sua avó para preparar a roupa necessária”. Fiquei sem saber o que responder, pois nunca havia sequer visto o Seminário, que ficava na cidade de Videira, SC, onde eu nunca havia estado antes.

Os dias foram passando e nada acontecia, mas o padre não havia esquecido do convite que me fizera. Eu continuava ajudando nas missas na capela e, às vezes, o padre passava bem cedo lá em casa e me chamava para ir com ele para alguma outra capela, onde não havia ninguém preparado para ajudar na missa. Eu o acompanhava sempre com muita alegria, pois gostava de andar a cavalo. E as respostas da missa, com a mudança do missal de um lado para o outro do altar, eu já sabia de cor e salteado. E, além disso, após a missa,

havia sempre um café muito farto na sacristia junto com o padre. E assim chegou o dia em que o padre, após a missa, ao voltar para a cidade, entrou em minha casa para falar com a família do plano de me levar para o Seminário.

Não foi uma decisão tão óbvia e fácil, ao menos para meu pai. Como filho mais velho, ele esperava que eu o substituísse no trabalho da roça quando crescesse. Além do mais, meu pai perguntou sobre os custos dos estudos no Seminário. Tudo isso precisava ser esclarecido, pois a família era pobre e meu pai ganhava uns míseros cruzeiros fazendo fretes com a carroça de mulas e minha mãe ganhava mais um pouco trabalhando como costureira. Faltava falar ainda com minha avó, a pessoa mais religiosa da família que, além de “puxar o terço” à noite, do qual minha família participava, pois morávamos perto e, no inverno, depois da reza, não faltava pinhão e vinho quente. Meus tios gostavam de mim, porque eu era o menor da família e, alguns deles que ainda iam à escola, sempre me acompanharam. Assim, neste ambiente humilde e simples, nasceu minha vocação. Além da avó, os tios também apoiaram a ideia de que eu fosse estudar para ser padre.

Minha mãe preparou o enxoval previsto e, no dia 25 de janeiro de 1950, meu pai me levou de carroça com a mala até a estação da estrada de ferro, onde junto com mais 13 ou 14 meninos, esperamos o Pe.

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Wilfrido, que comprou as passagens e nos acompanhou até o Seminário Preparatório de Videira, SC. A alegre esperança de todos nós, era a de saber que depois de dois anos de estudo, se tivéssemos um bom desempenho, iríamos continuar os estudos em São Paulo. Para nós, crianças da roça, esse era um sonho e tanto! De fato, esse sonho foi se realizando aos poucos.

Os anos se passaram e após os estudos no Seminário Menor de Jundiaí, SP, no dia 1 de fevereiro de 1958, no então Sítio Salvatoriano de Jundiaí, hoje Várzea Paulista, com muita alegria recebi com outros 11 ou 12 colegas, das mãos do mesmo Pe. Wilfrido, o hábito salvatoriano e o nome religioso de Leonardo.

de acompanhar o restante da primeira sessão e, nos do Profeta Isaías: “Eis-me aqui! Envia-me”! No dia seguinte, mais uma viagem de trem, desta

dias. No restante de nossas férias, geralmente éramos vez até São Paulo, onde o meu grupo iniciava o ano de noviciado, orientado pelo Pe. Eurico Bous, sds. Foi assim que eu percebi que aquela sementinha da vocação, plantada em meu coração alguns anos atrás na capela de Santa Catarina, em Tangará, já começava a desenvolver-se numa árvore, como a semente de mostarda do Evangelho. Após os três anos de Filosofia, havia mais uma decisão a ser tomada: fazer ou não os votos definitivos. Alguns colegas já ficaram para trás, mas eu e outros poucos resolvemos continuar. Só que havia mais uma agradável surpresa pela frente: antes de continuar os estudos no Seminário Maior de Indianópolis, SP, o Diretor Provincial chamou-me e disse-me que eu iria fazer um ano de estágio no recém-inaugurado Seminário Jordaniano em Várzea Paulista. E lá fui eu.

Não demorou muito para chegar outra surpresa ainda maior. Um dia, o Pe. Kiliano Mitnacht, Diretor preparasse para atravessar o Atlântico para estudar em Roma. Isso aconteceu no ano de 1962. Lembro-me de ter embarcado em Santos, no dia 4 de outubro de 1962, no navio chamado “Eugênio C”. Durante a longa viagem de 15 dias, no dia 11 do mesmo mês, o capelão do navio comunicou-nos que, em Roma, estava acontecendo a abertura do Concílio Vaticano II, do qual, tive a alegria anos seguintes, as outras três últimas sessões. Esta, certamente foi a experiência mais marcante em minha vida de estudante, juntamente com minha ordenação sacerdotal no dia 26 de março de 1966, na Basílica de São João de Latrão, ao lado de três colegas da Província Colombiana. Escolhi como lema da ordenação a palavra

Não esquecerei de jeito algum da experiência de amizade com o Sr. José Biegger e família, do lugarejo de Obereschach, na Alemanha do Sul. Na época, era costumeque algumas pessoas da Alemanha doassem por meio de seu pároco uma soma de dinheiro para ajudar a custear as despesas dos nossos estudos em Roma. Nós chamávamos essas pessoas de “benfeitores”. Geralmente, essas pessoas eram amigas entre si e, uma vez por ano, faziam uma peregrinação a Roma. Assim, os estudantes que recebiam essa ajuda tinham ocasião de conhecer os doadores (benfeitores). Era uma ótima oportunidade para aprender um pouco de alemão, a fim de poder comunicar-se com essas pessoas. Além disso, nas férias de verão, tínhamos a possibilidade de visitar essas famílias e conviver com elas alguns Provincial na época, chamou-me e disse-me que eu me

acolhidos em algumas das comunidades da Província da Alemanha do Sul.