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"Quero que meu canto ecoe"

Aos 27 anos, Luan Santana se mantém há dez no topo do sertanejo e, para além das misturas com virtualmente qualquer estilo nacional, ensaia também seu salto para o mercado global

por_ Alessandro Soler ■ de_São Paulo

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Luan Santana ainda nem completou 27 anos e já celebra uma década de uma carreira bemsucedida. Talvez o maior nome do sertanejo hoje, ele se mantém há anos no topo graças a uma capacidade notável de se comunicar com seu público e de captar o zeitgeist, o espírito do tempo, no universo sertanejo, e que hoje se manifesta nas misturas e fusões com ritmos variados, de axé e funk a rock e hip hop. Luan inova ao se associar a nomes como Anitta ou Tiê, Péricles ou Nego do Borel, Zezé Di Camargo & Luciano ou (possivelmente) o fenômeno latino CNCO...

“Ele é um artista que as pessoas já enxergam para além de um segmento. Faz música para o Brasil, com sua identidade e personalidade. Então, sempre terá de tudo nas músicas, pois ele gosta de tudo”, descreve Dudu Borges, o principal produtor de sertanejo do país e um dos responsáveis por alavancar a carreira de um jovem Luan, surgido como tantos outros de sua geração: após o estouro espontâneo no YouTube e nas redes sociais.

“Luan é um dos poucos no mundo que conseguiram fazer a transição perfeita de fenômeno adolescente a artista adulto consagrado. Desde que o conhecemos, dez anos atrás, demonstrou uma grande clareza do que queria e uma visão artística muito consistente. Nunca teve medo de ousar”, resume Marcelo Soares, presidente da Som Livre, a gravadora do artista.

Num papo com a Revista, Luan fala sobre os rumos do sertanejo, suas próprias decisões na carreira e o inevitável passo rumo à internacionalização.

O sertanejo vive uma nova onda, talvez a maior depois do surgimento da vertente universitária. Com a incorporação maciça das mulheres e as misturas de estilos, virou um fenômeno de Norte a Sul do país. Essa expansão é positiva para os artistas, mas poderia ser vista como um afastamento das origens?

Não existe fórmula para o sucesso. O que existe é a vontade de fazer o que você mais ama e atingir o coração das pessoas. A música é a minha essência. Rótulos limitam. O sertanejo era visto como brega. Falar de amor antes era brega. O Brasil aderiu ao amor. Falar de amor, em todos os tempos, é o que nos move.

Qual a sensação de ter uma música sua (“Acordando o Prédio”) como a mais ouvida nas rádios brasileiras no ano passado?

Recebi a notícia através do meu divulgador, Kezinho, que enviou o relatório. Fiquei imensamente feliz. Além de todos os prêmios que “Acordando o Prédio” me trouxe, como o Prêmio Multishow, o troféu Melhores do Ano do Faustão, o Caldeirão de Ouro, o prêmio Nick, comecei o ano com o pé direito tendo essa notícia maravilhosa. “Acordando o Prédio” tem uma letra ousada, mas primamos por fazer um clipe que misturasse humor, para não explorar o apelo sexual. Gostei do resultado. Sem falar que gravar em Cuba, pedindo emprestada aquela alegria do povo e o colorido da ilha, foi inesquecível. Quero continuar acordando muitos prédios em 2018 com o sucesso desta música e outras tantas até ultrapassar 2050 ou a eternidade.

O sertanejo era visto como brega. Falar de amor antes era brega. O Brasil aderiu ao amor.”

Talvez já tenha tido a curiosidade de colocar seu nome em mecanismos de busca na web. Os resultados são variadíssimos, de “notícias” sobre seu eventual casamento à compra de carrões e jatinhos, passando por um desentendimento num bar dos Estados Unidos. Essa insistência de uma certa imprensa em destrinchar cada passo da sua vida o incomoda?

Sabe aquela história de 'preço da fama'? A fama não tem preço. Tem valor. O valor da conquista tem os seus prós e contras, como todo trabalho. E isso é bom, é o resultado de uma carreira reconhecida.

Uma óbvia expansão da sua carreira seria o exterior. Pensa nisso?

Sabe o que penso de verdade? Eu penso que é se limitar demais excluir todo esse ecletismo musical nosso, toda essa nossa brasilidade de sons e tons, de ritmos, de danças e de cores, do chamado mercado latino, do mercado internacional. A música latino-americana inclui desde os mariachis do México à salsa de Cuba, dos sons indígenas do Peru, da Bolívia e do Equador à flauta andina... E por que não as sinfonias de Villa-Lobos, a bossa nova de Tom Jobim, a Tropicália de Caetano, o axé de Daniela (Mercury), Ivete (Sangalo) e tantos, o pagode do Zeca (Pagodinho) ao Thiaguinho, o sertanejo nosso de cada dia? Também somos latinos, nossa música pede passagem. Como diz naquele samba: “chegou a hora de essa gente bronzeada mostrar o seu valor.”

Isso inclui gravar em outras línguas?

Não quero me sentir na obrigação de cantar em inglês ou espanhol para mostrar o meu trabalho ao mundo. Mas também posso cantar para que nos ouçam. Eu quero que o mundo nos veja pelo que de tão lindo temos: a nossa música, a nossa democracia musical. Acredito que Tom Jobim fez a bossa nova ganhar o mundo com o nosso sotaque e a sua talentosa arte. Roberto Carlos é mundo, é internacional, com o seu romantismo em português. Emoções não têm fronteiras e, sem parecer pretensioso, eu quero que o meu canto ecoe com a mesma força com que este Brasil abraça tantos povos e línguas.

LEIA MAIS! Um texto de Luan em primeira pessoa sobre os desafios, dores e delícias de fazer música na era digital.

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ubc.vc/LuanFuturo