Paper 37 :: Curiosidades sobre livros

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CURIOSIDADES SOBRE LIBROS

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CURIOSIDADES SOBRE LIVROS



Livros:

tudo o que vocĂŞ queria saber sobre eles


riado há mais de seis mil anos, o livro já possuiu diversos

formatos, tendo como suporte folhas de palmeira, na Índia,

tábuas, na Roma Antiga, e um delicado material localizado

entre a casca da árvore e sua

madeira, nas civilizações maia e asteca. Os egípcios

inventaram o papiro, feito com a união de tiras da planta de mesmo nome, que cresciam às margens do rio Nilo.

No século II, os chineses criaram o papel mais próximo do que usamos atualmente, produzido à base de uma

pasta de tecidos, plantas e fragmentos de rede de pescar. A fabricação de papel foi artesanal até o final do século XVIII. Com a criação da imprensa e o ressurgimento intelectual do período, o processo foi “mecanizado”,

como consequência da alta demanda. Por volta de 1797,

o francês Louis Robert criou uma máquina de produção contínua de papel. Confira, a seguir, outras curiosidades que envolvem os livros.


Você sabe quais são as datas comemorativas referentes aos livros? Desde 1996, o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor é comemorado em 23 de abril, por decisão da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Nessa data, faleceram dois dos maiores escritores da história: o espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616) e o inglês William Shakespeare (1564-1616). Anote na agenda as outras datas relacionadas aos livros:

2 15

18 de abril

28

Dia Nacional do Livro Infantil

de abril Dia mundial da Educação

23

de abril

de abril

Dia Mundial do Livro Infantil

Dia Mundial do Desenhista

de abril

29

Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor

de outubro

Dia Nacional do Livro


Quantos livros existem no mundo?

A pergunta é difícil de ser respondida. Mas, de acordo com uma pesquisa realizada pelo site de buscas Google, até agosto de 2010 haviam sido publicados cerca de 130 milhões deles. A contabilidade foi feita a partir de dados, da International Standard Book Numbers (ISBN), de bibliotecas e de sites de buscas de livros.

Quais são os países do mundo com mais livrarias?

Estados Unidos: 1 para 15 mil habitantes Argentina: 1 para 50 mil habitantes Brasil: 1 para 70 mil habitantes

México: 1 para 170 mil habitantes


Quais são os livros mais vendidos do mundo?

As listas apresentam algumas variações de obras mais vendidas. Mas a Bíblia sempre aparece como primeira colocada, com um número entre 2,5 e 6 bilhões de cópias comercializadas. O Livro Vermelho, escrito por Mao Tsé-Tung, figura na segunda posição, vendendo de 900 milhões a 2 bilhões de cópias. Também fazem parte das relações o Corão, livro sagrado do Islamismo, e Escotismo para Rapazes, de Robert Baden-Powell.


Quais sĂŁo os Estados brasileiros onde hĂĄ mais livrarias? Distrito Federal: 1 para 30.840 habitantes Rio de Janeiro: 1 para 44.415 habitantes Sergipe: 1 para 50.665 habitantes

SĂŁo Paulo: 1 para 59.171 habitantes

Tocantins: 1 para 181.131 habitantes


Qual é o maior livro do mundo?

4,18 por 3,77 metros, 1.420 quilos e 346 páginas. Essas são as medidas do maior livro do mundo, de acordo com o Guinness, livro dos recordes. Ele foi criado pelo húngaro Bela Varga, com a ajuda de sua esposa e outros 25 voluntários e, após a premiação, ficou exposto na cidade de Szinpetri, na Hungria.


Como eram os acervos das bibliotecas da Antiguidade? Acredita-se que a biblioteca mais antiga seja a do rei assírio Assurbanipal, que data do século VII a.C. Seu acervo era composto por placas de argila que davam suporte para a escrita, prática comum na época. Os assírios, chineses, egípcios e persas passaram a escrever em rolos de pergaminho. A mais famosa biblioteca desse tipo, sem dúvida, é a de Alexandria, no Egito. Ela existiu durante sete séculos: de 280 a.C a 416 d.C., e estima-se que seu acervo abrigaria entre 40 e 60 mil manuscritos em rolos de papiro, compondo o maior acervo de cultura e ciência da Antiguidade.

Qual foi a primeira biblioteca pública do País? A Biblioteca Pública do Estado da Bahia, em Salvador, é a primeira biblioteca pública do Brasil e da América do Sul. Fundada em 13 de maio de 1811 por Pedro Gomes

Ferrão Castelo Branco, o local abrigava três mil livros e seis funcionários. Após passar por cinco sedes diferentes, o acervo se instalou no atual prédio, localizado no bairro dos Barris, em 1970. Atualmente, a biblioteca abriga 120 mil volumes, mas tem capacidade para armazenar 3 milhões de livros.


Qual foi o primeiro livro publicado no Brasil?

O livro Marília de Dirceu, escrito por Tomás Antônio Gonzaga, foi o primeiro publicado no Brasil, em 1812, nas oficinas da Imprensa Régia de D. João VI. Trata-se de um poema composto por três volumes, sendo que os dois primeiros foram impressos em Lisboa, nos anos de 1792 e 1799, e apenas a terceira parte foi publicada no País. A obra relata o amor do autor por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a “Marília”, de quem era noivo.

Impressora Baby Reliance


Você sabia que São Paulo abrigou o primeiro acervo de livros infantojuvenis em braille do Brasil? Idealizado por Dorina Nowill, o primeiro acervo infantojuvenil em braille do País foi fundado em 1947, como uma sala da Biblioteca Infantil, atual Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato. As obras eram transcritas para o braille, com a supervisão de Dorina, e proporcionaram o acesso de milhares de crianças deficientes visuais aos livros. Em 1986, o acervo foi transferido para o Centro Cultural São Paulo, e atualmente contém 6.159 volumes entre livros e audiolivros, em acervo infantil e adulto.


Você sabia que São Paulo abrigou o primeiro acervo de livros infanto-juvenis em braille do Brasil? Idealizado por Dorina Nowill, o primeiro acervo infantojuvenil em braille do País foi fundado em 1947, como uma sala da Biblioteca Infantil, atual Biblioteca InfantoJuvenil Monteiro Lobato. As obras eram transcritas para o braille, com a supervisão de Dorina, e proporcionaram o acesso de milhares de crianças deficientes visuais aos livros. Em 1986 o acervo foi transferido para o Centro Cultural São Paulo, e atualmente contém 6.159 volumes entre livros e audiolivros, em acervo infantil e adulto.



Bienal Internacional do Livro de São Paulo Em agosto de 2012, a Bienal do Livro de São Paulo chega à sua 22ª edição. Nos 11 dias do evento, se reunirão as principais editoras, livrarias, empresários e distribuidoras do Brasil. A Bienal oferece uma grande programação cultural, como encontros com escritores e atividades especiais para as crianças. A 21ª edição do evento, realizada em 2010, contou com 743 mil participantes e, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, 80% dos entrevistados compraram livros, em um gasto médio individual de R$ 90,00. Confira, abaixo, alguns dos números da Bienal: Um dia exclusivo de visita para os profissionais do setor. Terceiro maior evento editorial do mundo. O primeiro é a Feira do Livro de Frankfurt e o segundo, a Feira Internacional do Livro de Turim. 350 expositores nacionais e estrangeiros. 900 ou mais selos editoriais. 60 mil m² de pavilhão de exposição. R$ 1,5 milhão de investimento na programação cultural do evento na 21ª edição.


Quais são os países da América Latina espanhola que mais produzem livros? Dados do Serviço de Informação e Estatística Regional (SIER), ligado à UNESCO, apontam que o país hispanofalante que mais lança títulos é a Argentina, com 27,1% da produção, seguido pelo México, com 19%, Colômbia, com 16,3%, e Peru, com 6,1% do total de livros.

Quantas editoras industriais existem nos países da América Latina? De acordo com um levantamento realizado em 2005 pelo SIER,

o Brasil conta com 512 editoras

industriais (cujo objetivo principal é

a edição e comercialização de livros), representando 33% da América

Latina. A Argentina tem 275 delas, o equivalente a 18% do continente. O terceiro colocado é o México,

com 240 editoras e 15% da América Latina. Já a Colômbia tem 103

editoras, com 7% do continente.


Q

ual o livro mais antigo?

A Epopeia de Gilgamesh é o livro mais antigo de que se tem notícia. O registro foi feito

em tábuas de argila, por volta de 2.600 a.C.,

em versos de forma narrativa. Atribui-se sua

origem ao povo mesopotâmio, e seu conteúdo seria composto por diversas lendas e poemas

sumérios que falavam sobre as aventuras do rei herói Gilgamesh, “aquele que tudo viu”.

A primeira tradução moderna de seu conteúdo foi feita, por volta de 1860, pelo inglês George Smith, e o professor Emanuel Bouzon foi o

pioneiro na tradução da obra do idioma original para o português.


Qual é a participação da IP no mercado editorial brasileiro?

A International Paper é uma das principais fornecedoras de papel para o mercado editorial brasileiro, atuando, principalmente, na produção de livros didáticos. Cerca de 50 mil toneladas de papel Chambril são fornecidas por ano, divididas entre dois produtos específicos: Chambril Book, com gramaturas de 45 g/m2 a 240 g/m2, e o Chambril Avena, disponível nas gramaturas 70 g/m² e 80 g/m², que abrange o mercado editorial não didático e, por sua tonalidade, proporciona uma leitura mais agradável. Um exemplo de utilização do Chambril Book são dicionários, que precisam de um papel de baixa gramatura, mas com opacidade adequada para que o verso da impressão não fique aparente. A última edição do dicionário Aurélio, produzida em 2010, foi impressa em papel Chambril 45 g/m² pela Posigraf. Mais de 50 clientes recebem os produtos da IP, entre os quais as editoras Saraiva, Moderna, FTD, IBEP e Posigraf. Também compõem o time de clientes as gráficas editoras Esdeva, Plural, Prol, Oceano, entre outras.


Você sabia que a IP apoia o 1º Prêmio Benvirá de Literatura? O escritor Oscar Fussato Nakasato foi o vencedor do Prêmio Benvirá de Literatura. Seu romance, intitulado Nihonjin, terá seus exemplares impressos em papel Chambril Avena. A premiação foi organizada pela Editora Saraiva, com o objetivo de promover a produção literária nacional, e teve 1.932 inscritos. Além da publicação de sua obra, o autor recebeu R$ 30 mil em dinheiro e uma noite de autógrafos organizada pela editora.



Don Quijote Cervantes

Dom Casmurro Machado de Assis



Machado de Assis (1839-1908) Nesta edição da Paper em que homenageamos o livro, escolhemos Machado de Assis para representar a literatura brasileira. Poeta, cronista, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário, Machado de Assis foi um dos principais intelectuais do Brasil. Nascido no Rio de Janeiro, o escritor era filho de um operário e sua mãe faleceu quando ele era criança. Apesar da condição econômica difícil, frequentou a escola e publicou seu primeiro trabalho literário – À Ilma. Sra. D.P.J.A. – aos 14 anos. Ocupou diversos cargos públicos enquanto ganhava notoriedade nos jornais da época e, mesmo sem ter cursado a universidade, foi presidente da Academia Brasileira de Letras. Machado de Assis publicou nove romances e peças teatrais, cerca de 200 contos e 600 crônicas, além de cinco coletâneas de poemas e sonetos. Passou a ser considerado o primeiro autor do Realismo do País após a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas. A chamada “trilogia realista” do autor foi completa com o lançamento de Quincas Borba, de 1891, e Dom Casmurro, escrito em 1889. O último foi escrito diretamente como livro, ao contrário de algumas obras da época que eram publicadas em folhetins. Confira os primeiros capítulos da obra Dom Casmurro.


I.

Do Título

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central

um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.

- Continue, disse eu acordando.

- Já acabei, murmurou ele.

- São muito bonitos.

Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto;

estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você.” - “Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo.” - “Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça.”

Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no

que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até o fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.

II.

Do Livro

Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os

motivos que me põem a pena na mão.


Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito,

levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Matacavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do teto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos bicos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do teto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de Matacavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa.

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência.

Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é cansativa.

Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos,

aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.

Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar,

e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios, menos seca que as memórias do Padre Luís Gonçalves dos Santos, relativas à cidade; era obra


modesta, mas exigia documentos e datas, como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras...?

Fiquei tão alegre com esta ideia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim,

Nero, Augusto, Massinissa, e tu, grande César, que me incitas a fazer os meus comentários, agradeço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo. Eia, comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo.

III.

A Denúncia

Ia a entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondi-me atrás da

porta. A casa era a da Rua de Matacavalos, o mês de novembro, o ano é que é um tanto remoto, mas eu não hei de trocar as datas à minha vida só para agradar às pessoas que não amam histórias velhas; o ano era de 1857.

- D. Glória, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no seminário? É mais

que tempo, e já agora pode haver uma dificuldade.

- Que dificuldade?

- Uma grande dificuldade.

Minha mãe quis saber o que era. José Dias, depois de alguns instantes de

concentração, veio ver se havia alguém no corredor; não deu por mim, voltou e, abafando a voz, disse que a dificuldade estava na casa ao pé, a gente do Pádua.

- A gente do Pádua?

- Há algum tempo estou para lhe dizer isto, mas não me atrevia. Não me parece bonito

que o nosso Bentinho ande metido nos cantos com a filha do Tartaruga, e esta é a dificuldade, porque se eles pegam de namoro, a senhora terá muito que lutar para separá-los.

- Não acho. Metidos nos cantos?

- É um modo de falar. Em segredinhos, sempre juntos. Bentinho quase que não sai de lá. A

pequena é uma desmiolada; o pai faz que não vê; tomara ele que as coisas corressem de maneira que... Compreendo o seu gesto; a senhora não crê em tais cálculos, parece-lhe que todos têm a alma cândida...


- Mas, Sr. José Dias, tenho visto os pequenos brincando, e nunca vi nada que faça

desconfiar. Basta a idade; Bentinho mal tem quinze anos. Capitu fez quatorze à semana passada; são dois criançolas. Não se esqueça que foram criados juntos, desde aquela grande enchente, há dez anos, em que a família Pádua perdeu tanta coisa; daí vieram as nossas relações. Pois eu hei de crer...? Mano Cosme, você que acha?

Tio Cosme repondeu com um “Ora!” que, traduzido em vulgar, queria dizer: “São

imaginações do José Dias; os pequenos divertem-se, eu divirto-me; onde está o gamão?”

- Sim, creio que o senhor está enganado.

- Pode ser, minha senhora. Oxalá tenham razão; mas creia que não falei senão depois de

muito examinar...

- Em todo caso, vai sendo tempo, interrompeu minha mãe; vou tratar de metê-lo no

seminário quanto antes.

- Bem, uma vez que não perdeu a ideia de o fazer padre, tem-se ganho o principal.

Bentinho há de satisfazer os desejos de sua mãe. E depois a igreja brasileira tem altos destinos. Não esqueçamos que um bispo presidiu a Constituinte, e que o Padre Feijó governou o império...

- Governou como a cara dele! atalhou tio Cosme, cedendo a antigos rancores políticos.

- Perdão, doutor, não estou defendendo ninguém, estou citando. O que eu quero é dizer

que o clero ainda tem grande papel no Brasil.

- Você o que quer é um capote; ande, vá buscar o gamão. Quanto ao pequeno, se tem de

ser padre, realmente é melhor que não comece a dizer missa atrás das portas. Mas olhe cá, mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo padre?

- É promessa, há de cumprir-se.

- Sei que você fez promessa.. mas, uma promessa assim... não sei... Creio que, bem

pensado... Você que acha, prima Justina?

- Eu?

- Verdade é que cada um sabe melhor de si, continuou tio Cosme; Deus é que sabe de

todos. Contudo, uma promessa de tantos anos... Mas, que é isso, mana Glória? Está chorando? Ora esta! Pois isto é coisa de lágrimas?

Minha mãe assoou-se sem responder. Prima Justina creio que se levantou e foi ter com

ela. Seguiu-se um alto silêncio, durante o qual estive a pique de entrar na sala, mas outra força maior, outra emoção... Não pude ouvir as palavras que tio Cosme entrou a dizer. Prima Justina exortava: “Prima Glória! Prima Glória!” José Dias desculpava-se:

“Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para

cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo...”


IV.

Um Dever Amaríssimo!

José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não as

havendo, servia a prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo. Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto, com um aro de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinquenta e cinco anos. Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagar arrastado dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da consequência, a consequência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!

V.

O Agregado Nem sempre ia naquele passo vagaroso e rígido. Também se descompunha em acionados,

era muita vez rápido e lépido nos movimentos, tão natural nesta como naquela maneira. Outrossim, ria largo, se era preciso, de um grande riso sem vontade, mas comunicativo, a tal ponto as bochechas, os dentes, os olhos, toda a cara, toda a pessoa, todo o mundo pareciam rir nele. Nos lances graves, gravíssimo.

Era nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de Itaguaí,

e eu acabava de nascer. Um dia apareceu ali vendendo-se por médico homeopata; levava um Manual e uma botica. Havia então um andaço de febres; José Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre.

- Quem lhe impede que vá a outras partes? Vá aonde quiser, mas fique morando conosco.

- Voltarei daqui a três meses.

Voltou dali a duas semanas, aceitou casa e comida sem outro estipêndio, salvo o que

quisessem dar por festas. Quando meu pai foi eleito deputado e veio para o Rio de Janeiro com a família, ele veio também, e teve o seu quarto ao fundo da chácara. Um dia, reinando


outra vez febres em Itaguaí, disse-lhe meu pai que fosse ver a nossa escravatura. José Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou confessando que não era médico. Tomara este título para ajudar a propaganda da nova escola, e não o fez sem estudar muito e muito; mas a consciência não lhe permitia aceitar mais doentes.

- Mas, você curou das outras vezes.

- Creio que sim; mais acertado, porém, é dizer que foram os remédios indicados nos

livros. Eles, sim, eles abaixo de Deus. Eu era um charlatão... Não negue; os motivos do meu procedimento podiam ser e eram dignos; a homeopatia é a verdade, e, para servir à verdade, menti; mas é tempo de restabelecer tudo.

Não foi despedido, como pedia então; meu pai já não podia dispensá-lo. Tinha o dom

de se fazer aceito e necessário; dava-se por falta dele, como de pessoa da família. Quando meu pai morreu, a dor que o pungiu foi enorme, disseram-me, não me lembra.

Minha mãe ficou-lhe muito grata, e não consentiu que ele deixasse o quarto da

chácara; ao sétimo dia, depois da missa, ele foi despedir-se dela.

- Fique, José Dias.

- Obedeço, minha senhora.

Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor. Copiou as

palavras, encaixilhou-as e pendurou-as no quarto, por cima da cama. “Esta é a melhor apólice”, dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma viagem que fizera à Europa, e confessava que a não sermos nós, já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo.

- Abaixo ou acima? perguntou-lhe tio Cosme um dia. - Abaixo, repetiu José Dias cheio

de veneração.

E minha mãe, que era religiosa, gostou de ver que ele punha Deus no devido lugar, e

sorriu aprovando. José Dias agradeceu de cabeça. Minha mãe dava-lhe de quando em quando alguns cobres. Tio Cosme, que era advogado, confiava-lhe a cópia de papéis de autos.


Tio Cosme VI.

Tio Cosme vivia com minha mãe, desde que ela enviuvou. Já então era viúvo, como

prima Justina; era a casa dos três viúvos.

A fortuna troca muita vez as mãos à natureza. Formado para as serenas funções do

capitalismo, tio Cosme não enriquecia no foro: ia comendo. Tinha o escritório na antiga Rua das Violas, perto do júri, que era no extinto Aljube. Trabalhava no Crime. José Dias não perdia as defesas orais de tio Cosme. Era quem lhe vestia e despia a toga, com muitos cumprimentos no fim. Em casa, referia os debates. Tio Cosme, por mais modesto que quisesse ser, sorria de persuasão.

Era gordo e pesado, tinha a respiração curta e os olhos dorminhocos. Uma das minhas

recordações mais antigas era vê-lo montar todas as manhãs a besta que minha mãe lhe deu e que o levava ao escritório. O preto que a tinha ido buscar à cocheira, segurava o freio, enquanto ele erguia o pé e pousava no estribo; a isto seguia-se um minuto de descanso ou reflexão. Depois, dava um impulso, o primeiro, o corpo ameaçava subir, mas não subia; segundo impulso, igual efeito. Enfim, após alguns instantes largos, tio Cosme enfeixava todas as forças físicas e morais, dava o último surto da terra, e desta vez caía em cima do selim. Raramente a besta deixava de mostrar por um gesto que acabava de receber o mundo. Tio Cosme acomodava as carnes, e a besta partia a trote.

Também não me esqueceu o que ele me fez uma tarde. Posto que nascido na roça

(donde vim com dois anos) e apesar dos costumes do tempo, eu não sabia montar, e tinha medo ao cavalo. Tio Cosme pegou em mim e escanchou-me em cima da besta. Quando me vi no alto (tinha nove anos), sozinho e desamparado, o chão lá embaixo, entrei a gritar desesperadamente: “Mamãe! mamãe!” Ela acudiu pálida e trêmula, cuidou que me estivessem matando, apeou-me, afagou-me, enquanto o irmão perguntava:

- Mana Glória, pois um tamanhão destes tem medo de besta mansa?

- Não está acostumado.

- Deve acostumar-se. Padre que seja, se for vigário na roça, é preciso que monte a

cavalo; e, aqui mesmo, ainda não sendo padre, se quiser florear como os outros rapazes, e não souber, há de queixar-se de você, mana Glória.

- Pois que se queixe; tenho medo.

- Medo! Ora, medo!

A verdade é que eu só vim a aprender equitação mais tarde, menos por gosto que por

vergonha de dizer que não sabia montar. “Agora é que ele vai namorar deveras”, disseram quando eu comecei as lições. Não se diria o mesmo de tio Cosme. Nele era velho costume e necessidade.


Já não dava para namoros. Contam que, em rapaz, foi aceito de muitas damas, além de partidário exaltado; mas os anos levaram-lhe o mais do ardor político e sexual, e a gordura acabou com o resto de ideias públicas e específicas. Agora só cumpria as obrigações do ofício e um amor. Nas horas de lazer vivia olhando ou jogava. Uma ou outra vez dizia pilhérias.

D. Glória

VII.

Minha mãe era boa criatura. Quando lhe morreu o marido, Pedro de Albuquerque

Santiago, contava trinta e um anos de idade, e podia voltar para Itaguaí. Não quis; preferiu ficar perto da igreja em que meu pai fora sepultado. Vendeu a fazendola e os escravos, comprou alguns que pôs ao ganho ou alugou, uma dúzia de prédios, certo número de apólices, e deixouse estar na casa de Matacavalos, onde vivera os dois últimos anos de casada. Era filha de uma senhora mineira, descendente de outra paulista, a família Fernandes.

Ora, pois, naquele ano da graça de 1857, D. Maria da Glória Fernandes Santiago contava

quarenta e dois anos de idade. Era ainda bonita e moça, mas teimava em esconder os saldos da juventude, por mais que a natureza quisesse preservá-la da ação do tempo. Vivia metida em um eterno vestido escuro, sem adornos, com um xale preto, dobrado em triângulo e abrochado ao peito por um camafeu. Os cabelos, em bandós, eram apanhados sobre a nuca por um velho pente de tartaruga; alguma vez trazia touca branca de folhos. Lidava assim, com os seus sapatos de cordavão rasos e surdos, a um lado e outro, vendo e guiando os serviços todos da casa inteira, desde manhã até a noite.

Tenho ali na parede o retrato dela, ao lado do do marido, tais quais na outra casa. A

pintura escureceu muito, mas ainda dá ideia de ambos. Não me lembra nada dele, a não ser vagamente que era alto e usava cabeleira grande; o retrato mostra uns olhos redondos, que me acompanham para todos os lados, efeito da pintura que me assombrava em pequeno. O pescoço sai de uma gravata preta de muitas voltas, a cara é toda rapada, salvo um trechozinho pegado às orelhas. O de minha mãe mostra que era linda. Contava então vinte anos, e tinha uma flor entre os dedos. No painel parece oferecer a flor ao marido. O que se lê na cara de ambos é que, se a felicidade conjugal pode ser comparada à sorte grande, eles a tiraram no bilhete comprado de sociedade.


Concluo que não se devem abolir as loterias. Nenhum premiado as acusou ainda de

imorais, como ninguém tachou de má a boceta de Pandora, por lhe ter ficado a esperança no fundo; em alguma parte há de ela ficar. Aqui os tenho aos dois bem casados de outrora, os bem-amados, os bem-aventurados, que se foram desta para a outra vida, continuar um sonho provavelmente. Quando a loteria e Pandora me aborrecem, ergo os olhos para eles, e esqueço os bilhetes brancos e a boceta fatídica. São retratos que valem por originais. O de minha mãe, estendendo a flor ao marido, parece dizer: “Sou toda sua, meu guapo cavalheiro!” O de meu pai, olhando para a gente, faz este comentário: “Vejam como esta moça me quer...” Se padeceram moléstias, não sei, como não sei se tiveram desgostos: era criança e comecei por não ser nascido. Depois da morte dele, lembra-me que ela chorou muito; mas aqui estão os retratos de ambos, sem que o encardido do tempo lhes tirasse a primeira expressão. São como fotografias instantâneas da felicidade.

É Tempo VIII.

Mas é tempo de tornar àquela tarde de novembro, uma tarde clara e fresca, sossegada

como a nossa casa e o trecho da rua em que morávamos. Verdadeiramente foi o princípio da minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pintar e vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia... Agora é que eu ia começar a minha ópera. “A vida é uma ópera”, dizia-me um velho tenor italiano que aqui viveu e morreu... E explicou-me um dia a definição, em tal maneira que me fez crer nela. Talvez valha a pena dá-la; é só um capítulo.

IX.

A Ópera

Já não tinha voz, mas teimava em dizer que a tinha. “O desuso é que me faz mal”,

acrescentava. Sempre que uma companhia nova chegava da Europa, ia ao empresário e expunhalhe toda as injustiças da terra e do céu; o empresário cometia mais uma, e ele saía a bradar contra a iniquidade. Trazia ainda os bigodes dos seus papéis. Quando andava, apesar de velho,


parecia cortejar uma princesa de Babilônia. Às vezes, cantarolava, sem abrir a boca, algum trecho ainda mais idoso que ele ou tanto; vozes assim abafadas são sempre possíveis. Vinha aqui jantar comigo algumas vezes. Uma noite, depois de muito Chianti, repetiu-me a definição do costume, e como eu lhe dissesse que a vida tanto podia ser uma ópera como uma viagem de mar ou uma batalha, abanou a cabeça e replicou:

- A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em

presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestração é excelente...

- Mas, meu caro Marcolini...

- Quê?...

E, depois de beber um gole de licor, pousou o cálix, e expôs-me a história da criação, com

palavras que vou resumir.

Deus é o poeta. A música é de Satanás, jovem maestro de muito futuro, que aprendeu no

conservatório do céu. Rival de Miguel, Rafael e Gabriel, não tolerava a precedência que eles tinham na distribuição dos prêmios. Pode ser também que a música em demasia doce e mística daqueles outros condiscípulos fosse aborrecível ao seu gênio essencialmente trágico. Tramou uma rebelião que foi descoberta a tempo, e ele expulso do conservatório. Tudo se teria passado sem mais nada, se Deus não houvesse escrito um libreto de ópera, do qual abrira mão, por entender que tal gênero de recreio era impróprio da sua eternidade. Satanás levou o manuscrito consigo para o inferno. Com o fim de mostrar que valia mais que os outros - e acaso para reconciliar-se com o céu -, compôs a partitura, e logo que a acabou foi levá-la ao Padre Eterno.

- Senhor, não desaprendi as lições recebidas, disse-lhe. Aqui tendes a partitura, escutai-a,

emendai-a, fazei-a executar, e se a achardes digna das alturas, admiti-me com ela a vossos pés...

- Não, retorquiu o Senhor, não quero ouvir nada. - Mas, senhor...

- Nada! nada!

Satanás suplicou ainda, sem melhor fortuna, até que Deus, cansado e cheio de

misericórdia, consentiu em que a ópera fosse executada, mas fora do céu. Criou um teatro especial, este planeta, e inventou uma companhia inteira, com todas as partes, primárias e comprimárias, coros e bailarinos.

- Ouvi agora alguns ensaios!

- Não, não quero saber de ensaios. Basta-me haver composto o libreto; estou pronto a

dividir contigo os direitos de autor.

Foi talvez um mal esta recusa; dela resultaram alguns desconcertos que a audiência

prévia e a colaboração amiga teriam evitado. Com efeito, há lugares em que o verso vai para


a direita e a música para a esquerda. Não falta quem diga que nisso mesmo está a beleza da composição, fugindo à monotonia, e assim explicam o terceto do Éden, a ária de Abel, os coros da guilhotina e da escravidão. Não é raro que os mesmos lances se reproduzam, sem razão suficiente. Certos motivos cansam à força de repetição. Também há obscuridades; o maestro abusa das massas corais, encobrindo muita vez o sentido por um modo confuso. As partes orquestrais são aliás tratadas com grande perícia. Tal é a opinião dos imparciais.

Os amigos do maestro querem que dificilmente se possa achar obra tão bem acabada.

Um ou outro admite certas rudezas e tais ou quais lacunas, mas com o andar da ópera é provável que estas sejam preenchidas ou explicadas, e aquelas desapareçam inteiramente, não se negando o maestro a emendar a obra onde achar que não responde de todo ao pensamento sublime do poeta. Já não dizem o mesmo os amigos deste. Juram que o libreto foi sacrificado, que a partitura corrompeu o sentido da letra, e, posto seja bonita em alguns lugares, e trabalhada com arte em outros, é absolutamente diversa e até contrária ao drama. O grotesco, por exemplo, não está no texto do poeta; é uma excrescência para imitar as Mulheres patuscas de Windsor. Este ponto é contestado pelos satanistas com alguma aparência de razão. Dizem eles que, ao tempo em que o jovem Satanás compôs a grande ópera, nem essa farsa nem Shakespeare eram nascidos. Chegam a afirmar que o poeta inglês não teve outro gênio senão transcrever a letra da ópera, com tal arte e fidelidade, que parece ele próprio o autor da composição; mas, evidentemente, é um plagiário.

- Esta peça, concluiu o velho tenor, durará enquanto durar o teatro, não se podendo

calcular em que tempo será ele demolido por utilidade astronômica. O êxito é crescente. Poeta e músico recebem pontualmente os seus direitos autorais, que não são os mesmos, porque a regra da divisão é aquilo da Escritura: “Muitos são os chamados, poucos os escolhidos”. Deus recebe em ouro, Satanás em papel.

- Tem graça...

Graça? bradou ele com fúria; mas aquietou-se logo, e replicou:

- Caro Santiago, eu não tenho graça, eu tenho horror à graça. Isto que digo é a verdade pura

e última. Um dia, quando todos os livros forem queimados por inúteis, há de haver alguém, pode ser que tenor, e talvez italiano, que ensine esta verdade aos homens. Tudo é música, meu amigo. No princípio era o dó, e o dó fez-se ré etc. Este cálix (e enchia-o novamente), este cálix é um breve estribilho. Não se ouve? Também não se ouve o pau nem a pedra, mas tudo cabe na mesma ópera...


X.

Aceito a Teoria

Que é demasiada metafísica para um só tenor, não há dúvida; mas a perda da voz explica

tudo, e há filósofos que são, em resumo, tenores desempregados.

Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini, não só pela verossimilhança, que

é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida se casa bem à definição. Cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um quatuor... Mas não adiantemos; vamos à primeira parte, em que eu vim a saber que já cantava, porque a denúncia de José Dias, meu caro leitor, foi dada principalmente a mim. A mim é que ele me denunciou.

XI.

A Promessa Tão depressa vi desaparecer o agregado no corredor, deixei o esconderijo, e corri à

varanda do fundo. Não quis saber de lágrimas nem da causa que as fazia verter a minha mãe. A causa eram provavelmente os seus projetos eclesiásticos, e a ocasião destes é a que vou dizer, por ser já então história velha; datava de dezesseis anos.

Os projetos vinham do tempo em que fui concebido. Tendo-lhe nascido morto o primeiro

filho, minha mãe pegou-se com Deus para que o segundo vingasse, prometendo, se fosse varão, metê-lo na Igreja. Talvez esperasse uma menina. Não disse nada a meu pai, nem antes, nem depois de me dar à luz; contava fazê-lo quando eu entrasse para a escola, mas enviuvou antes disso. Viúva, sentiu o terror de separar-se de mim; mas era tão devota, tão temente a Deus, que buscou testemunhas da obrigação, confiando a promessa a parentes e familiares. Unicamente, para que nos separássemos o mais tarde possível, fez-me aprender em casa primeiras letras, latim e doutrina, por aquele Padre Cabral, velho amigo do tio Cosme, que ia lá jogar às noites.

Prazos largos são fáceis de subscrever; a imaginação os faz infinitos. Minha mãe esperou

que os anos viessem vindo. Entretanto, ia-me afeiçoando à ideia da Igreja; brincos de criança, livros devotos, imagens de santo, conversações de casa, tudo convergia para o altar. Quando íamos à missa, dizia-me sempre que era para aprender a ser padre, e que reparasse no padre, não tirasse os olhos do padre. Em casa, brincava de missa, - um tanto às escondidas, porque minha mãe dizia que missa não era coisa de brincadeira. Arranjávamos um altar, Capitu e eu. Ela servia de sacristão,


e alterávamos o ritual, no sentido de dividirmos a hóstia entre nós; a hóstia era sempre um doce. No tempo em que brincávamos assim, era muito comum ouvir à minha vizinha: “Hoje há missa?” Eu já sabia o que isto queria dizer, respondia afirmativamente, e ia pedir hóstia por outro nome. Voltava com ela, arranjávamos o altar, engrolávamos o latim e precipitávamos as cerimônias. Dominus, non sum dignus... Isto, que eu devia dizer três vezes, penso que só dizia uma, tal era a gulodice do padre e do sacristão. Não bebíamos vinho nem água; não tínhamos o primeiro, e a segunda viria tirar-nos o gosto do sacrifício.

Ultimamente não me falavam já do seminário, a tal ponto que eu supunha ser negócio findo. Quinze

anos, não havendo vocação, pediam antes o seminário do mundo que o de S. José. Minha mãe ficava muita vez a olhar para mim, como alma perdida, ou pegava-me na mão, a pretexto de nada, para apertá-la muito.



MAIO 2011

• Diretoria Jurídica e de Assuntos Corporativos Ricardo C. Zangirolami • Direção do Projeto Alessandra Fonseca - Gerente de Comunicação e Marketing Institucional / e-mail alessandra.fonseca@ipaperbr.com • Coordenação do Projeto Tayla Monteiro - Comunicação e Marketing Institucional / e-mail tayla.monteiro@ipaperbr.com • Estagiária de Comunicação Fernanda Camargo • Criação e Produção Agência Ideal • Direção de Arte e Projeto Gráfico Tom Comunicação • Coordenação Editorial Marina Rodriguez • Redação Camila Gonçalves e Marina Rodriguez • Revisão Ricardo César • Impressão Ogra • Jornalista responsável Ricardo Cesar – MTB 33669 • Colaboraram nesta edição Ana Sarrão, analista de Marketing Sênior da IP; Camila Cruz, analista de Marketing Júnior da IP; Mariana Prado, coordenadora do Segmento de Mercado da IP; Sergio Canela, gerente-geral de Negócios da IP. • Ilustração Ana Tereza Carneiro • Sugestões e Correspondências Avenida Paulista, nº 37, 14° andar – CEP 01311-000

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CURIOSIDADES SOBRE LIBROS

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CURIOSIDADES SOBRE LIVROS

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Libros:

todo lo que usted querĂ­a saber sobre ellos


reado hace más de seis mil

años, el libro ha tenido diversos formatos, y fue teniendo como soporte hojas de palmera

en India, tablas en la Roma

Antigua y un delicado material que se encuentra entre la

corteza del árbol y su madera, en las civilizaciones maya y azteca. Los egipcios inventaron el papiro, hecho con la unión de tiras de plantas del mismo nombre, que crecían en las orillas del rio Nilo. En el siglo II, los

chinos crearon el papel más cercano a lo que usamos

actualmente, producido a base de una pasta de tejidos,

plantas y fragmentos de redes de pesca. La fabricación de papel fue algo artesanal hasta fines del siglo XVIII. Con la creación de la imprenta y el resurgimiento

intelectual del período, el proceso fue “mecanizado”,

como consecuencia de la gran demanda. En torno del

año 1797, el francés Louis Robert inventó una máquina de producción continua de papel. Entérese, a seguir, de otras curiosidades que tienen que ver con libros.


¿Sabía usted cuáles son las fechas conmemorativas que se refieren a los libros? Desde 1996, el Día Mundial del Libro y de los Derechos de Autor se conmemoran el 23 de abril, por decisión de la UNESCO (Organización de las Naciones Unidas para la Educación, Ciencia y Cultura). En esa fecha fallecieron dos de los mayores escritores de la historia: el español Miguel de Cervantes (1547-1616) y el inglés William Shakespeare (1564-1616). Anote en su agenda las otras fechas relacionadas a libros.

2 15

18 de abril

Día Nacional del Libro Infantil

28 de abril Día Mundial de la Educación

23

de abril

de abril

Día Mundial del Libro Infantil

Día Mundial del Diseñador

de abril

29

Día Mundial del Libro y de los Derechos de Autor

de outubro

Día Nacional del Libro


¿Sabía usted cuántos libros existen en el mundo?

No es fácil responder a esta pregunta. Pero, de acuerdo a una investigación llevada a cabo por el sitio web de búsquedas Google, hasta agosto de 2010 habían sido publicados cerca de 130 millones de libros. La contabilidad se hizo a partir de datos, de la International Standard Book Numbers (ISBN), de bibliotecas y de sitios web de búsquedas de libros.

¿cuáles son los países del mundo que tienen más librerías?

Estados Unidos: 1 para 15 mil habitantes Argentina: 1 para 50 mil habitantes Brasil: 1 para 70 mil habitantes

México: 1 para 170 mil habitantes


¿Cuáles son los libros más vendidos del mundo? Las listas presentan algunas variaciones de obras más vendidas. Pero la Biblia siempre aparece como la primera colocada, con un número entre 2,5 y 6 mil millones de copias comercializadas. El Libro Rojo, escrito por Mao Tse Tung, figura en la segunda posición, vendiendo de 900 millones a 2 mil millones de copias. También forman parte de las listas el Corán, libro sagrado del Islamismo, y Escultismo para Muchachos, de Robert Baden-Powell.


¿Cuáles son los estados (o provincias) brasileños donde hay más librerías? Distrito Federal: 1 para 30.840 habitantes Rio de Janeiro: 1 para 44.415 habitantes Sergipe: 1 para 50.665 habitantes

São Paulo: 1 para 59.171 habitantes

Tocantins: 1 para 181.131 habitantes


¿cuál es

el mayor libro del mundo?

4,18 por 3,77 metros, 1.420 quilos y 346 páginas. Esas son las medidas del mayor libro del mundo, de acuerdo al Guinness, libro de los récords. Fue creado por el húngaro Bela Varga, con la ayuda de su esposa y de otros 25 voluntarios y, tras la premiación, quedó en exposición en la ciudad de Szinpetri, en Hungría.


¿Como eran los acervos de las bibliotecas de la Antigüedad? Se piensa que la biblioteca más antigua haya sido la del rey asirio Asurbanipal, que data el siglo VII a.C. Su acervo estaba formado por placas de arcilla, que propiciaban el soporte de la escritura, práctica común en aquella época. Los asirios, chinos, egipcios y persas pasaron a escribir en rollos de pergamino. La más famosa biblioteca de ese tipo, sin duda alguna, es la de Alejandría, en Egipto. Existió durante siete siglos: de 280 A.C. a 416 d.C., y se calcula que su acervo alojaba entre 40 y 60 mil manuscritos en rollos de papiro, constituyendo el mayor acervo de cultura y ciencia de la Antigüedad.

¿Cuál fue la primera biblioteca pública del País? La Biblioteca Pública del Estado de Bahia, en Salvador, es la primera biblioteca

pública de Brasil y de América del Sul. Fundada el 13 de mayo de 1811 por Pedro Gomes Ferrão Castelo Branco, el lugar alojaba tres mil libros y seis funcionarios.

Después de pasar por cinco locales diferentes, el acervo se instaló en el actual edificio, ubicado en el barrio de Barris, en 1970. Actualmente, la biblioteca tiene 120 mil

volúmenes, pero tiene una capacidad tal que puede almacenar 3 millones de libros.


¿cuál fue el primer libro publicado en Brasil?

El libro Marília de Dirceu, escrito por Tomás Antônio Gonzaga, fue el primero que se publicó en Brasil, en 1812, en los talleres de la Imprenta Régia de D. João VI. Se trata de un poema compuesto por tres volúmenes, de los cuales los dos primeros fueron impresos en Lisboa, en 1792 y en 1799, y solamente la tercera parte fue publicada en el País. La obra relata el amor del autor por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, “Marília”, con quien estaba de novio.

Impresora Baby Reliance


¿Sabía usted que São Paulo tuvo el primer acervo de libros infanto-juveniles en braille de Brasil? Idealizado por Dorina Nowill, el primer acervo infanto-juvenil en braille del País fue fundado en 1947, como una sala de la Biblioteca Infantil, actual Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato. Las obras se transcribían al braille, bajo la supervisión de Dorina, y les proporcionaron el acceso a millares de niños deficientes visuales a los libros. En 1986 el acervo fue mudado al Centro Cultural São Paulo, y actualmente tiene 6.159 volúmenes entre libros y audio libros, en acervo infantil y adulto.


Que São Paulo tuvo el primer acervo de libros infantojuveniles en braille de Brasil? Idealizado por Dorina Nowill, el primer acervo infanto-juvenil en braille del País fue fundado en 1947, como una sala de la Biblioteca Infantil, actual Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato. Las obras se transcribían al braille, bajo la supervisión de Dorina, y les proporcionaron el acceso a millares de niños deficientes visuales a los libros. En 1986 el acervo fue mudado al Centro Cultural São Paulo, y actualmente tiene 6.159 volúmenes entre libros y audio libros, en acervo infantil y adulto.



Bienal Internacional del del Libro Libro de San de San Pablo Pablo En agosto de 2012, 2012 la Bienal del Libro de San Pablo llega a su Los 11 se reunirán las principales a22ª suedición. 22ª edición. Losdías 11 del díasevento del evento se reunirán las editoras, librerías, empresarios y distribuidoras de Brasil. La principales editoras, librerías, empresarios y distribuidoras Bienal ofrece una gran programación cultural, comocultural, encuentros de Brasil. La Bienal ofrece una gran programación con escritores y actividades especiales para niños. La 21ª para como encuentros con escritores y actividades especiales edición del evento, realizada en 2010, conto con 743 mil niños. La 21ª edición del evento, realizada en 2010, conto con participantes y, según una encuesta realizada por el Instituto 743 mil participantes y, según una encuesta realizada por el Datafolha, el 80% de los entrevistados compraron libros, Instituto Datafolha, el 80% de los entrevistados compraron gastando, como promedio individual, R$90,00. Verifique, a libros, gastando, como promedio individual, R$90,00. continuación, algunos de los números de lka Bienal: Verifique, a continuación, algunos de los números de la Bienal: Un día exclusivo de visita para los profesionales del sector. p 60 mil m² de pabellón de exposición. Tercero mayor evento editorial del mundo. El primero p 350 expositores nacionales y extranjeros. es la Feria del Libro de Frankfurt y el segundo, la Feria p 900 o más sellos editoriales. Internacional del Libro de Turín. p Terceiro mayor evento editorial del mundo. El primero 350 expositores nacionales y extranjeros. Feria del editoriales. Libro de Frankfurt y el segundo, la Feria 900esolamás sellos del Libro de Turín. 60 Internacional mil m² de pabellón de exposición. p millón inversión programacióncultural culturaldeldel R$R$ 1,51,5 millón dedeinversión enenla laprogramación evento la 21ª edición. evento en en la 21ª edición.


Cuáles los países de la América Latina española que más producen libros? Datos del Servicio de Informaciones y Estadística Regional (SIER), conectado con la unesco, apuntam que el país hispanohablante que más lanza títulos es Argentina, con 27,1% de la producción, seguido por México, con 19%, Colombia, con 16,3%, y Perú, con 6,1% del total de libros.

¿cuántas editoras industriales existen en los países de América Latina? De acuerdo a un levantamiento realizado en 2005 por el SIER, Brasil cuenta con 512 editoras industriales (cuyo objetivo

principal es la edición y comercialización de libros), representando el 33% de

América Latina. Argentina tiene 275

de las mismas, lo que equivale al 18% del continente. El tercer colocado es México, con 240 editoras y 15% de

América Latina. A su vez, Colombia tiene 103 editoras, con 7% del continente.


¿C

uál es el libro más antiguo?

La Epopeya de Gilgamesh (o Poema de

Gilgamech) es el libro más antiguo del que

se tenga noticias. El registro se llevó a cabo en tablas de arcilla, aproximadamente en

2.600 a.C., en versos de forma narrativa. Se le atribuye el origen al pueblo mesopotámico, y su contenido estaría compuesto por diversas leyendas y poemas sumerios que hablaban

sobre las aventuras del rey héroe Gilgamesh,

“aquél que todo lo vio”. La primera traducción

moderna de su contenido la hizo por vuelta del año 1860, el inglés George Smith, y el profesor Emanuel Bouzon fue pionero en la traducción de la obra del idioma original al portugués.


¿Cuál es la participación de IP en el mercado editorial brasileño?

La International Paper es una de las principales proveedoras de papel para el mercado editorial brasileño; se desempeña, principalmente, en la producción de libros didácticos. Cerca de 50 mil toneladas de papel Chambril son suministradas por año, dividas entre dos productos específicos: Chambril Book, con gramaturas de 45 g/m² a 240 g/m², y el Chambril Avena, disponible en las gramaturas 70 g/m² y 80 g/m², que abarca el mercado editorial no-didáctico y, por su tonalidad, proporciona una lectura más agradable. Un ejemplo de uso del Chambril Book son los diccionarios, que necesitan un papel de baja gramaje, pero con opacidad adecuada para que el reverso de la impresión no aparezca. La última edición del diccionario Aurélio, producida en 2010, se imprimió en papel Chambril 45 g/m² por la Posigraf. Más de 50 clientes reciben los productos de IP, entre los cuales están las editoras Saraiva, Moderna, FTD, IBEP y Posigraf. También componen el time de clientes las gráficas editoras Esdeva, Plural, Prol, Oceano, entre otras.


¿Sabía usted que la IP apoya el 1º Premio Benvirá de Literatura?

El escritor Oscar Fussato Nakasato fue el vencedor del Premio Benvirá de Literatura. Su novela, titulada Nihonjin, tendrá sus ejemplares impresos en papel Chambril Avena. La premiación ha sido organizada por la Editora Saraiva, con el objetivo de promover la producción literaria nacional; tuvo 1.932 inscriptos. Además de la publicación de su obra, el autor recibió R$ 30 mil (en efectivo) y una noche de autógrafos organizada por la editora.



Don Quijote Cervantes

Dom Casmurro Machado de Assis



Miguel de Cervantes Saavedra (1547 – 1616) En esta edición de Paper en que homenajeamos el libro, elegimos a Miguel de Cervantes para representar a los países hispanohablantes. El novelista, dramaturgo y poeta nació en Alcalá de Henares, en España. Considerado por muchos estudiosos el padre de la novela moderna, Cervantes finalizó la primera parte de El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha en 1605. La segunda parte fue publicada en 1615. Cervantes fue parte del ejército y luchó en la batalla naval de Lepanto contra el Imperio Otomano, y en África. Después de estar preso durante cinco años en Argel, volvió a Madrid y trabajó como “comisario para el acopio de víveres para la armada” del rey Felipe II. En esa época, empezó a escribir, pero sin obtener reconocimiento. Trabajó como cobrador de impuestos del gobierno y como sirviente de un cardenal. La consagración como escritor sólo se produjo después de la publicación de Don Quijote, cuando ya tenía 58 años. Con gran éxito de crítica y público, el libro permitió que el autor se dedicara exclusivamente a la literatura. Lea los primeros capítulos de la obra Don Quijote.


El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha

Tasa

Yo, Juan Gallo de Andrada, escribano de Cámara del Rey nuestro señor, de los que residen en su Consejo, certifico y doy fe que, habiendo visto por los señores dél un libro intitulado El ingenioso hidalgo de la Mancha, compuesto por Miguel de Cervantes Saavedra, tasaron cada pliego del dicho libro a tres maravedís y medio; el cual tiene ochenta y tres pliegos, que al dicho precio monta el dicho libro docientos y noventa maravedís y medio, en que se ha de vender en papel; y dieron licencia para que a este precio se pueda vender, y mandaron que esta tasa se ponga al principio del dicho libro, y no se pueda vender sin ella. Y, para que dello conste, di la presente en Valladolid, a veinte días del mes de deciembre de mil y seiscientos y cuatro años. Juan Gallo de Andrada.

Testimonio de Las Erratas Este libro no tiene cosa digna que no corresponda a su original; en testimonio de lo haber correcto, di esta fee. En el Colegio de la Madre de Dios de los Teólogos de la , en primero de diciembre de 1604 años. El licenciado Francisco Murcia de la Llana.

El Rey Por cuanto por parte de vos, Miguel de Cervantes, nos fue fecha relación que habíades compuesto un libro intitulado El ingenioso hidalgo de la Mancha, el cual os había costado mucho trabajo y era muy útil y provechoso, nos pedistes y suplicastes os mandásemos dar licencia y facultad para le poder imprimir, y previlegio por el tiempo que fuésemos servidos, o como la nuestra merced fuese; lo cual visto por los del nuestro Consejo, por cuanto en el dicho libro se hicieron las diligencias que la premática últimamente por nos fecha sobre la impresión de


los libros dispone, fue acordado que debíamos mandar dar esta nuestra cédula para vos, en la dicha razón; y nos tuvímoslo por bien. Por la cual, por os hacer bien y merced, os damos licencia y facultad para que vos, o la persona que vuestro poder hubiere, y no otra alguna, podáis imprimir el dicho libro, intitulado El ingenioso hidalgo de la Mancha, que desuso se hace mención, en todos estos nuestros reinos de Castilla, por tiempo y espacio de diez años, que corran y se cuenten desde el dicho día de la data desta nuestra cédula; so pena que la persona o personas que, sin tener vuestro poder, lo imprimiere o vendiere, o hiciere imprimir o vender, por el mesmo caso pierda la impresión que hiciere, con los moldes y aparejos della; y más, incurra en pena de cincuenta mil maravedís cada vez que lo contrario hiciere. La cual dicha pena sea la tercia parte para la persona que lo acusare, y la otra tercia parte para nuestra Cámara, y la otra tercia parte para el juez que lo sentenciare. Con tanto que todas las veces que hubiéredes de hacer imprimir el dicho libro, durante el tiempo de los dichos diez años, le traigáis al nuestro Consejo, juntamente con el original que en él fue visto, que va rubricado cada plana y firmado al fin dél de Juan Gallo de Andrada, nuestro Escribano de Cámara, de los que en él residen, para saber si la dicha impresión está conforme el original; o traigáis fe en pública forma de cómo por corretor nombrado por nuestro mandado, se vio y corrigió la dicha impresión por el original, y se imprimió conforme a él, y quedan impresas las erratas por él apuntadas, para cada un libro de los que así fueren impresos, para que se tase el precio que por cada volume hubiéredes de haber. Y mandamos al impresor que así imprimiere el dicho libro, no imprima el principio ni el primer pliego dél, ni entregue más de un solo libro con el original al autor, o persona a cuya costa lo imprimiere, ni otro alguno, para efeto de la dicha correción y tasa, hasta que antes y primero el dicho libro esté corregido y tasado por los del nuestro Consejo; y, estando hecho, y no de otra manera, pueda imprimir el dicho principio y primer pliego, y sucesivamente ponga esta nuestra cédula y la aprobación, tasa y erratas, so pena de caer e incurrir en las penas contenidas en las leyes y premáticas destos nuestros reinos. Y mandamos a los del nuestro Consejo, y a otras cualesquier justicias dellos, guarden y cumplan esta nuestra cédula y lo en ella contenido. Fecha en Valladolid, a veinte y seis días del mes de setiembre de mil y seiscientos y cuatro años.

YO, EL REY. Por mandado del Rey nuestro señor: Juan de Amezqueta.


Al Duque de Béjar, marqués de Gibraleón, conde de Benalcázar y

Bañares, vizconde de La Puebla de Alcocer, señor de las villas de Capilla, Curiel y Burguillos En fe del buen acogimiento y honra que hace Vuestra Excelencia a toda suerte de libros, como príncipe tan inclinado a favorecer las buenas artes, mayormente las que por su nobleza no se abaten al servicio y granjerías del vulgo, he determinado de sacar a luz al Ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha, al abrigo del clarísimo nombre de Vuestra Excelencia, a quien, con el acatamiento que debo a tanta grandeza, suplico le reciba agradablemente en su protección, para que a su sombra, aunque desnudo de aquel precioso ornamento de elegancia y erudición de que suelen andar vestidas las obras que se componen en las casas de los hombres que saben, ose parecer seguramente en el juicio de algunos que, continiéndose en los límites de su ignorancia, suelen condenar con más rigor y menos justicia los trabajos ajenos; que, poniendo los ojos la prudencia de Vuestra Excelencia en mi buen deseo, fío que no desdeñará la cortedad de tan humilde servicio. Miguel de Cervantes Saavedra.

Prólogo Desocupado lector: sin juramento me podrás creer que quisiera que este libro, como hijo del entendimiento, fuera el más hermoso, el más gallardo y más discreto que pudiera imaginarse. Pero no he podido yo contravenir al orden de naturaleza; que en ella cada cosa engendra su semejante. Y así, ¿qué podrá engendrar el estéril y mal cultivado ingenio mío, sino la historia de un hijo seco, avellanado, antojadizo y lleno de pensamientos varios y nunca imaginados de otro alguno, bien como quien se engendró en una cárcel, donde toda incomodidad tiene su asiento y donde todo triste ruido hace su habitación? El sosiego, el lugar apacible, la amenidad de los campos, la serenidad de los cielos, el murmurar de las fuentes, la quietud del espíritu son grande parte para que las musas más estériles se muestren fecundas y ofrezcan partos al mundo que le colmen de maravilla y de contento. Acontece tener un padre un hijo feo y sin gracia alguna, y el amor que le tiene le pone una venda en los ojos para que no vea sus faltas, antes las juzga por discreciones y lindezas y las cuenta a sus amigos por agudezas y donaires. Pero yo, que,


aunque parezco padre, soy padrastro de Don Quijote, no quiero irme con la corriente del uso, ni suplicarte, casi con las lágrimas en los ojos, como otros hacen, lector carísimo, que perdones o disimules las faltas que en este mi hijo vieres; y ni eres su pariente ni su amigo, y tienes tu alma en tu cuerpo y tu libre albedrío como el más pintado, y estás en tu casa, donde eres señor della, como el rey de sus alcabalas, y sabes lo que comúnmente se dice: que debajo de mi manto, al rey mato. Todo lo cual te esenta y hace libre de todo respecto y obligación; y así, puedes decir de la historia todo aquello que te pareciere, sin temor que te calunien por el mal ni te premien por el bien que dijeres della. Sólo quisiera dártela monda y desnuda, sin el ornato de prólogo, ni de la inumerabilidad y catálogo de los acostumbrados sonetos, epigramas y elogios que al principio de los libros suelen ponerse. Porque te sé decir que, aunque me costó algún trabajo componerla, ninguno tuve por mayor que hacer esta prefación que vas leyendo. Muchas veces tomé la pluma para escribille, y muchas la dejé, por no saber lo que escribiría; y, estando una suspenso, con el papel delante, la pluma en la oreja, el codo en el bufete y la mano en la mejilla, pensando lo que diría, entró a deshora un amigo mío, gracioso y bien entendido, el cual, viéndome tan imaginativo, me preguntó la causa; y, no encubriéndosela yo, le dije que pensaba en el prólogo que había de hacer a la historia de don Quijote, y que me tenía de suerte que ni quería hacerle, ni menos sacar a luz las hazañas de tan noble caballero. – Porque, ¿cómo queréis vos que no me tenga confuso el qué dirá el antiguo legislador que llaman vulgo cuando vea que, al cabo de tantos años como ha que duermo en el silencio del olvido, salgo ahora, con todos mis años a cuestas, con una leyenda seca como un esparto, ajena de invención, menguada de estilo, pobre de concetos y falta de toda erudición y doctrina; sin acotaciones en las márgenes y sin anotaciones en el fin del libro, como veo que están otros libros, aunque sean fabulosos y profanos, tan llenos de sentencias de Aristóteles, de Platón y de toda la caterva de filósofos, que admiran a los leyentes y tienen a sus autores por hombres leídos, eruditos y elocuentes? ¡Pues qué, cuando citan la Divina Escritura! No dirán sino que son unos santos Tomases y otros doctores de la Iglesia; guardando en esto un decoro tan ingenioso, que en un renglón han pintado un enamorado destraído y en otro hacen un sermoncico cristiano, que es un contento y un regalo oílle o leelle. De todo esto ha de carecer mi libro, porque ni tengo qué acotar en el margen, ni qué anotar en el fin, ni menos sé qué autores sigo en él, para ponerlos al principio, como hacen todos, por las letras del A.B.C., comenzando en Aristóteles y acabando


en Xenofonte y en Zoílo o Zeuxis, aunque fue maldiciente el uno y pintor el otro. También ha de carecer mi libro de sonetos al principio, a lo menos de sonetos cuyos autores sean duques, marqueses, condes, obispos, damas o poetas celebérrimos; aunque, si yo los pidiese a dos o tres oficiales amigos, yo sé que me los darían, y tales, que no les igualasen los de aquellos que tienen más nombre en nuestra España. En fin, señor y amigo mío -proseguí-, yo determino que el señor don Quijote se quede sepultado en sus archivos en la Mancha, hasta que el cielo depare quien le adorne de tantas cosas como le faltan; porque yo me hallo incapaz de remediarlas, por mi insuficiencia y pocas letras, y porque naturalmente soy poltrón y perezoso de andarme buscando autores que digan lo que yo me sé decir sin ellos. De aquí nace la suspensión y elevamiento, amigo, en que me hallastes; bastante causa para ponerme en ella la que de mí habéis oído. Oyendo lo cual mi amigo, dándose una palmada en la frente y disparando en una carga de risa, me dijo: – Por Dios, hermano, que agora me acabo de desengañar de un engaño en que he estado todo el mucho tiempo que ha que os conozco, en el cual siempre os he tenido por discreto y prudente en todas vuestras aciones. Pero agora veo que estáis tan lejos de serlo como lo está el cielo de la tierra. ¿Cómo que es posible que cosas de tan poco momento y tan fáciles de remediar puedan tener fuerzas de suspender y absortar un ingenio tan maduro como el vuestro, y tan hecho a romper y atropellar por otras dificultades mayores? A la fe, esto no nace de falta de habilidad, sino de sobra de pereza y penuria de discurso. ¿Queréis ver si es verdad lo que digo? Pues estadme atento y veréis cómo, en un abrir y cerrar de ojos, confundo todas vuestras dificultades y remedio todas las faltas que decís que os suspenden y acobardan para dejar de sacar a la luz del mundo la historia de vuestro famoso don Quijote, luz y espejo de toda la caballería andante. – Decid – le repliqué yo, oyendo lo que me decía – : ¿de qué modo pensáis llenar el vacío de mi temor y reducir a claridad el caos de mi confusión? A lo cual él dijo: – Lo primero en que reparáis de los sonetos, epigramas o elogios que os faltan para el principio, y que sean de personajes graves y de título, se puede remediar en que vos mesmo toméis


algún trabajo en hacerlos, y después los podéis bautizar y poner el nombre que quisiéredes, ahijándolos al Preste Juan de las Indias o al Emperador de Trapisonda, de quien yo sé que hay noticia que fueron famosos poetas; y cuando no lo hayan sido y hubiere algunos pedantes y bachilleres que por detrás os muerdan y murmuren desta verdad, no se os dé dos maravedís; porque, ya que os averigüen la mentira, no os han de cortar la mano con que lo escribistes. »En lo de citar en las márgenes los libros y autores de donde sacáredes las sentencias y dichos que pusiéredes en vuestra historia, no hay más sino hacer, de manera que venga a pelo, algunas sentencias o latines que vos sepáis de memoria, o, a lo menos, que os cuesten poco trabajo el buscalle; como será poner, tratando de libertad y cautiverio: Non bene pro toto libertas venditur auro. Y luego, en el margen, citar a Horacio, o a quien lo dijo. Si tratáredes del poder de la muerte, acudir luego con: Pallida mors aequo pulsat pede pauperum tabernas, Regumque turres. Si de la amistad y amor que Dios manda que se tenga al enemigo, entraros luego al punto por la Escritura Divina, que lo podéis hacer con tantico de curiosidad, y decir las palabras, por lo menos, del mismo Dios: Ego autem dico vobis: diligite inimicos vestros. Si tratáredes de malos pensamientos, acudid con el Evangelio: De corde exeunt cogitationes malae. Si de la instabilidad de los amigos, ahí está Catón, que os dará su dístico: Donec eris felix, multos numerabis amicos, tempora si fuerint nubila, solus eris. Y con estos latinicos y otros tales os tendrán siquiera por gramático, que el serlo no es de poca honra y provecho el día de hoy. »En lo que toca el poner anotaciones al fin del libro, seguramente lo podéis hacer desta manera: si nombráis algún gigante en vuestro libro, hacelde que sea el gigante Golías, y con sólo esto, que os costará casi nada, tenéis una grande anotación, pues podéis poner: El gigante Golías,


o Goliat, fue un filisteo a quien el pastor David mató de una gran pedrada en el valle de Terebinto, según se cuenta en el Libro de los Reyes, en el capítulo que vos halláredes que se escribe. Tras esto, para mostraros hombre erudito en letras humanas y cosmógrafo, haced de modo como en vuestra historia se nombre el río Tajo, y veréisos luego con otra famosa anotación, poniendo: El río Tajo fue así dicho por un rey de las Españas; tiene su nacimiento en tal lugar y muere en el mar océano, besando los muros de la famosa ciudad de Lisboa; y es opinión que tiene las arenas de oro, etc. Si tratáredes de ladrones, yo os diré la historia de Caco, que la sé de coro; si de mujeres rameras, ahí está el obispo de Mondoñedo, que os prestará a Lamia, Laida y Flora, cuya anotación os dará gran crédito; si de crueles, Ovidio os entregará a Medea; si de encantadores y hechiceras, Homero tiene a Calipso, y Virgilio a Circe; si de capitanes valerosos, el mesmo Julio César os prestará a sí mismo en sus Comentarios, y Plutarco os dará mil Alejandros. Si tratáredes de amores, con dos onzas que sepáis de la lengua toscana, toparéis con León Hebreo, que os hincha las medidas. Y si no queréis andaros por tierras extrañas, en vuestra casa tenéis a Fonseca, Del amor de Dios, donde se cifra todo lo que vos y el más ingenioso acertare a desear en tal materia. En resolución, no hay más sino que vos procuréis nombrar estos nombres, o tocar estas historias en la vuestra, que aquí he dicho, y dejadme a mí el cargo de poner las anotaciones y acotaciones; que yo os voto a tal de llenaros las márgenes y de gastar cuatro pliegos en el fin del libro. »Vengamos ahora a la citación de los autores que los otros libros tienen, que en el vuestro os faltan. El remedio que esto tiene es muy fácil, porque no habéis de hacer otra cosa que buscar un libro que los acote todos, desde la A hasta la Z, como vos decís. Pues ese mismo abecedario pondréis vos en vuestro libro; que, puesto que a la clara se vea la mentira, por la poca necesidad que vos teníades de aprovecharos dellos, no importa nada; y quizá alguno habrá tan simple, que crea que de todos os habéis aprovechado en la simple y sencilla historia vuestra; y, cuando no sirva de otra cosa, por lo menos servirá aquel largo catálogo de autores a dar de improviso autoridad al libro. Y más, que no habrá quien se ponga a averiguar si los seguistes o no los seguistes, no yéndole nada en ello. Cuanto más que, si bien caigo en la cuenta, este vuestro libro no tiene necesidad de ninguna cosa de aquellas que vos decís que le falta, porque todo él es una invectiva contra los libros de caballerías, de quien nunca se acordó Aristóteles, ni dijo nada San Basilio, ni alcanzó Cicerón; ni caen debajo de la cuenta de sus fabulosos disparates las puntualidades de la verdad, ni las observaciones de la astrología; ni le son de importancia las medidas geométricas, ni la confutación de los argumentos de quien se sirve la retórica; ni tiene para qué predicar a


ninguno, mezclando lo humano con lo divino, que es un género de mezcla de quien no se ha de vestir ningún cristiano entendimiento. Sólo tiene que aprovecharse de la imitación en lo que fuere escribiendo; que, cuanto ella fuere más perfecta, tanto mejor será lo que se escribiere. Y, pues esta vuestra escritura no mira a más que a deshacer la autoridad y cabida que en el mundo y en el vulgo tienen los libros de caballerías, no hay para qué andéis mendigando sentencias de filósofos, consejos de la Divina Escritura, fábulas de poetas, oraciones de retóricos, milagros de santos, sino procurar que a la llana, con palabras significantes, honestas y bien colocadas, salga vuestra oración y período sonoro y festivo; pintando, en todo lo que alcanzáredes y fuere posible, vuestra intención, dando a entender vuestros conceptos sin intricarlos y escurecerlos. Procurad también que, leyendo vuestra historia, el melancólico se mueva a risa, el risueño la acreciente, el simple no se enfade, el discreto se admire de la invención, el grave no la desprecie, ni el prudente deje de alabarla. En efecto, llevad la mira puesta a derribar la máquina mal fundada destos caballerescos libros, aborrecidos de tantos y alabados de muchos más; que si esto alcanzásedes, no habríades alcanzado poco. Con silencio grande estuve escuchando lo que mi amigo me decía, y de tal manera se imprimieron en mí sus razones que, sin ponerlas en disputa, las aprobé por buenas y de ellas mismas quise hacer este prólogo; en el cual verás, lector suave, la discreción de mi amigo, la buena ventura mía en hallar en tiempo tan necesitado tal consejero, y el alivio tuyo en hallar tan sincera y tan sin revueltas la historia del famoso don Quijote de la Mancha, de quien hay opinión, por todos los habitadores del distrito del campo de Montiel, que fue el más casto enamorado y el más valiente caballero que de muchos años a esta parte se vio en aquellos contornos. Yo no quiero encarecerte el servicio que te hago en darte a conocer tan noble y tan honrado caballero, pero quiero que me agradezcas el conocimiento que tendrás del famoso Sancho Panza, su escudero, en quien, a mi parecer, te doy cifradas todas las gracias escuderiles que en la caterva de los libros vanos de caballerías están esparcidas. Y con esto, Dios te dé salud, y a mí no olvide. Vale.


AL LIBRO DE DON QUIJOTE DE LA MANCHA Urganda la desconocida

Si de llegarte a los bue-, libro, fueres con letu-, no te dirá el boquirruque no pones bien los de-. Mas si el pan no se te cuepor ir a manos de idio-, verás de manos a bo-, aun no dar una en el cla-, si bien se comen las mapor mostrar que son curio-. Y, pues la expiriencia enseque el que a buen árbol se arribuena sombra le cobi-, en Béjar tu buena estreun árbol real te ofreque da príncipes por fru-, en el cual floreció un duque es nuevo Alejandro Ma-: llega a su sombra, que a osafavorece la fortu-. De un noble hidalgo manchecontarás las aventu-, a quien ociosas letu-, trastornaron la cabe-: damas, armas, caballe-, le provocaron de mo-, que, cual Orlando furio-, templado a lo enamora-, alcanzó a fuerza de braa Dulcinea del Tobo-. No indiscretos hieroglíestampes en el escu-, que, cuando es todo figu-, con ruines puntos se envi-. Si en la dirección te humi-,

no dirá, mofante, algu-: ‘’¡Qué don Álvaro de Lu-, qué Anibal el de Carta-, qué rey Francisco en Espase queja de la Fortu-!’’ Pues al cielo no le pluque salieses tan ladicomo el negro Juan Lati-, hablar latines rehú-. No me despuntes de agu-, ni me alegues con filó-, porque, torciendo la bo-, dirá el que entiende la le-, no un palmo de las ore-: ‘’¿Para qué conmigo flo-?’’ No te metas en dibu-, ni en saber vidas aje-, que, en lo que no va ni vie-, pasar de largo es cordu-. Que suelen en caperudarles a los que grace-; mas tú quémate las cesólo en cobrar buena fa-; que el que imprime necedadalas a censo perpe-. Advierte que es desati-, siendo de vidrio el teja-, tomar piedras en las mapara tirar al veci-. Deja que el hombre de jui-, en las obras que compo-, se vaya con pies de plo-; que el que saca a luz papepara entretener donceescribe a tontas y a lo-.


AMADÍS DE GAULA A DON QUIJOTE DE LA MANCHA Soneto

Tú, que imitaste la llorosa vida que tuve, ausente y desdeñado sobre el gran ribazo de la Peña Pobre, de alegre a penitencia reducida; tú, a quien los ojos dieron la bebida de abundante licor, aunque salobre, y alzándote la plata, estaño y cobre, te dio la tierra en tierra la comida, vive seguro de que eternamente, en tanto, al menos, que en la cuarta esfera, sus caballos aguije el rubio Apolo, tendrás claro renombre de valiente; tu patria será en todas la primera; tu sabio autor, al mundo único y solo.


DON BELIANÍS DE GRECIA A DON QUIJOTE DE LA MANCHA Soneto

Rompí, corté, abollé, y dije y hice más que en el orbe caballero andante; fui diestro, fui valiente, fui arrogante; mil agravios vengué, cien mil deshice. Hazañas di a la Fama que eternice; fui comedido y regalado amante; fue enano para mí todo gigante, y al duelo en cualquier punto satisfice. Tuve a mis pies postrada la Fortuna, y trajo del copete mi cordura a la calva Ocasión al estricote. Más, aunque sobre el cuerno de la luna siempre se vio encumbrada mi ventura, tus proezas envidio, ¡oh gran Quijote!

LA SEÑORA ORIANA A DULCINEA DEL TOBOSO Soneto

¡Oh, quién tuviera, hermosa Dulcinea, por más comodidad y más reposo, a Miraflores puesto en el Toboso, y trocara sus Londres con tu aldea! ¡Oh, quién de tus deseos y librea alma y cuerpo adornara, y del famoso caballero que hiciste venturoso mirara alguna desigual pelea! ¡Oh, quién tan castamente se escapara del señor Amadís como tú hiciste del comedido hidalgo don Quijote! Que así envidiada fuera, y no envidiara, y fuera alegre el tiempo que fue triste, y gozara los gustos sin escote.


GANDALÍN, ESCUDERO DE AMADÍS DE GAULA, A SANCHO PANZA, ESCUDERO DE DON QUIJOTE Soneto

Salve, varón famoso, a quien Fortuna, cuando en el trato escuderil te puso, tan blanda y cuerdamente lo dispuso, que lo pasaste sin desgracia alguna. Ya la azada o la hoz poco repugna al andante ejercicio; ya está en uso la llaneza escudera, con que acuso al soberbio que intenta hollar la luna. Envidio a tu jumento y a tu nombre, y a tus alforjas igualmente invidio, que mostraron tu cuerda providencia. Salve otra vez, ¡oh Sancho!, tan buen hombre, que a solo tú nuestro español Ovidio con buzcorona te hace reverencia.


DEL DONOSO, POETA ENTREVERADO, A SANCHO PANZA Y ROCINANTE A Sancho Panza

Soy Sancho Panza, escudedel manchego don Quijo-. Puse pies en polvoro-, por vivir a lo discre-; que el tácito Villadietoda su razón de estacifró en una retira-, según siente Celesti-, libro, en mi opinión, divisi encubriera más lo huma-.

A Rocinante

Soy Rocinante, el famobisnieto del gran Babie-. Por pecados de flaque-, fui a poder de un don Quijo-. Parejas corrí a lo flo-; mas, por uña de caba-, no se me escapó ceba-; que esto saqué a Lazaricuando, para hurtar el vial ciego, le di la pa-.



MAYO 2011

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