Terra das praias, do verão e da energia limpa

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REPORTAGEM

Domingo 30.1.2011 JORNAL ABC

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REPORTAGEM

Domingo 30.1.2011 JORNAL ABC Fotos Fábio Winter/GES

tramandaí

Terra das praias, do verão e da energia limpa Gabriel Guedes

Caminhões na Estrada do Mar durante obra

CATAVENTO Os aerogeradores já ganharam este carismático apelido da população e veranistas. Ao todo, são 31 equipamentos

A construção do Parque Eólico de Tramandaí exigiu lançar mão de algumas exceções. Uma delas foi a de abrir a Estrada do Mar (RS-389) para tráfego de caminhões na impossibilidade do uso da BR-101 devido às obras de duplicação na época. Durante 30 dias, entre 27 de abril e 27 de maio de 2010, motoristas conviveram com caminhões com carga de 4,6 metros de largura, no trecho entre Torres e Capão da Canoa da RS-389. Neste período, foram transportados materiais para elaboração das bases de sustentação das torres do novo parque eólico. Após este período, o transporte das peças voltou a ser feito via BR-101. O material, importado da Alemanha por via marítima, desembarcou no Porto de Imbituba, no sul de Santa Catarina, e seguiu até Gravataí, para os acabamentos finais, para então ser levado até Tramandaí, onde foram montados. Na montagem do Parque Eólico, conforme dados da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE/RS), chegaram a trabalhar 440 pessoas.

Com a inauguração cada vez mais próxima, o desafio da comunidade de Tramandaí, em especial a dos balneários da zona sul, é transformar a energia limpa gerada por seu novo Parque Eólico em inovação e desenvolvimento. O empreendimento, que deve ser inaugurado até dia 22 de maio, tem caráter revolucionário. Além de impactar na paisagem litorânea, espera-se um incremento no número de turistas e R$ 300 mil mensais na arrecadação de impostos pelo município, o que poderá acarretar nas melhorias tão esperadas pela população e veranistas. A instalação das 31 torres e seus respectivos aerogeradores foram iniciadas em abril e encerradas no final de dezembro. A portuguesa EDP Renováveis, que investiu R$ 300 milhões na construção da central eólica, preferiu não se manifestar para esta reportagem. No entanto, estará preparando para este mês de fevereiro uma apre-

sentação do empreendimento para jornalistas. Apesar do parque pronto, com aerogeradores funcionando e o canteiro de obras sendo desmontado, para a usina entrar em operação ainda será necessário concluir a subestação e os cerca de 20 quilômetros de linha de transmissão até subestação da CEEE, em Osório. Ainda não foi divulgada uma data para a conclusão desta etapa, que possibilitará a conexão ao Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia elétrica. RETORNO Segundo o prefeito de Tramandaí, Anderson Hoffmeister, a obra foi executada em tempo recorde. Para um dos líderes da zona sul e presidente da Associação das Imobiliárias e Corretores de Imóveis de Tramandaí e Imbé (Aicit), Carlos Garcia, é o fim de um período de luta. “É um sonho concretizado após seis anos acompanhando todo o processo”, pontua. A partir do momento em que

Mudança natural, quase despercebida Quem frequenta a orla entre Jardim Atlântico e Praia das Cabras, pouco estranha as mudanças na paisagem. Diferentemente de outros balneários de Tramandaí, que têm árvores e prédios, nestas praias o frequentador irá se deparar com os aerogeradores ao fundo. No mínimo, um cenário interessante, que remete alguns veranistas a recordar da importância das fontes limpas de energia. O engenheiro civil Paulo Freitas, 54 anos, que há quatro anos trocou Novo Hamburgo por Tramandaí, costuma pescar em Oásis do Sul na companhia da filha Viviane, de 13 anos. “O Parque Eólico aqui ao lado até acrescenta um fator de curiosidade à praia e o bom é que gerará energia limpa”, comenta. No Jardim Atlântico, o representante comercial Marcelo Moraes, 28, estranhou um pouco as enormes torres próximas à casa onde veraneia. “Mas espero que a infraestrutura melhore por aqui”, a g u a rda.

CENÁRIO Freitas e Viviane pescam em Oásis do Sul, com a usina ao fundo

Zona sul quer estrutura para receber turistas O anseio da comunidade da zona sul de Tramandaí pela implantação do Parque Eólico não para com o encerramento da obra. Uma das lideranças desta região, o corretor de imóveis Carlos Garcia defende a implantação de algo como um centro de visitação do empreendimento. “Nós queremos intensificar a transformação desta parte da cidade num atrativo turístico”, defende. Para a construção da usina, houve, inclusive, um abaixoassinado, com 4 mil assinaturas provando o engajamento da zona sul na causa, lembra Garcia.

a usina entrar em funcionamento, após 12 meses, explica Hoffmeister, é que o município começará a arrecadação de impostos do empreendimento. “Estamos projetando mais de R$ 3 milhões ao ano oriundos do empreendimento. Toda esta receita pretendo aplicar, no princípio, na zona sul”, aponta o prefeito, que planeja investir em saneamento básico, melhorias viárias e na infraestrutura de lazer. Tramandaí percorre o mesmo caminho que o município vizinho de Osório. Os Parques Eólicos de Osório (formados pelos parques Osório, Sangradouro e dos Índios), inaugurados em 2006, são formados por 75 aerogeradores, que juntos, totalizam 150 Megawatts em eletricidade. Ainda restam três centrais eólicas a serem construídas na região e que constam como outorgadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel): duas em Osório e uma em Capão da Canoa, com potencial para gerar mais 56.000 MW.

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“É um projeto que tem que trazer desenvolvimento”, reforça. O prefeito Anderson Hoffmeister afirma que o parque não terá estrutura para receber visitantes, como é no empreendimento existente em Osório. “Vamos construir um paradouro com mirante na beira da RS786. Mas estamos discutindo com a EDP Renováveis a possibilidade de se criar algo como um museu da energia limpa”, planeja o administrador, que pretende utilizar a arrecadação do Parque Eólico integralmente em investimentos na zona sul.

ESPERA A população da zona sul, com placas, já propagandeia como atrativo turístico o Parque Eólico, que é adjacente à Praia das Cabras

Energia ajudará demanda alta no veraneio Tramandaí tem cerca 40 mil habitantes, mas durante o verão, há cerca de cinco vezes mais pessoas na cidade. O prefeito Anderson Hoffmeister afirma que a central eólica no município ajudará a atender a alta demanda de energia nesta época do ano no litoral norte. “É energia para atender mais 200 mil pessoas. A nossa usina estará interligada ao sistema nacional”, salienta. No Brasil, o consumo de eletricidade foi de 7,8% no ano passado. A expectativa, segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, é que neste ano a demanda seja apenas 5,4% maior em relação a 2010. Tolmasquim explicou que a taxa de crescimento deste ano será menor do que a de 2010, porque em 2009 houve um baixo consumo, devido à crise econômica, e agora o setor está voltando à normalidade.

TRAMANDAÍ DOS VENTOS O EMPREENDIMENTO A concessão para geração foi arrematada pela Elebrás, subsidiária da alemã InnoVent, em 2005, em concorrência do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa) da Eletrobrás. Em 2009, a portuguesa EDP Renováveis adquire a Elebrás por R$ 6 milhões e torna-se a investidora do Parque Eólico

CIDREIRA

Galileu Oldenburg-PMT/Divulgação

Parque Eólico

TRAMANDAÍ

LOCALIZAÇÃO Situa-se entre a Praia das Cabras, na zona sul de Tramandaí, e Salinas, em Cidreira, na margem da RS786, e também da Lagoa Manoel Nunes. O parque está a menos de um quilômetro do mar, num terreno de 832 hectares com dunas e banhado DADOS TÉCNICOS São 31 aerogeradores, cada um gerando cerca de 2 MW, totalizando 70 MW. As torres tem 98 metros de altura e 82 de diâmetro. Com as hélices, totalizam 138 metros de altura

N

ndaí

rama T o i R

IMBÉ

O QUE É ENERGIA EÓLICA? É a energia do vento. O termo eólico vem do latim aeolicus, originado de Éolo, deus dos ventos na mitologia grega. A força do vento gira uma hélice

gigante ligada a um gerador que produz eletricidade. Quando vários mecanismos como esse – denominado aerogerador – estão agrupados numa área, formam

um parque eólico. O custo para a instalação deste parques ainda é alto, por isso ainda que não é uma popularizada fonte de energia elétrica no Brasil.


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