animação
NOVELAS
Vem aí um simpático supercão
Um casal em plena sintonia
u Bolt – Supercão é uma das atrações da HBO no primeiro dia de 2010. Página 26
u Flávia Alessandra e Otaviano Costa conseguiram conciliar suas rotinas. Página 24
ABC Nº 735 - R$ 1,75
Domingo
RS, 27/12/2009
Jornal NH - Diário de Canoas - Jornal VS - Jornal de Gramado
A OUTRA FACE de uma estrada Diego da Rosa/GES
Ah, o verão! Bruna Kirsch/Especial
Isto é
RS-239
DIA IDEAL PARA FICAR NA BEIRA DO MAR u Grazielle Wazlawick toma chimarrão acompanhada de sua irmã Giselle (foto). Naturais de Estância Velha, as duas estão na praia de Imbé desde a última sexta-feira. Página 7
MUNDO BRASILEIROS SOFREM ATAQUES NO SURINAME u Comunidade brasileira no Suriname foi atacada por moradores locais revoltados com um homicídio. Há pelo menos 25 feridos e uma grávida perdeu o bebê. Página 4
MODA w Sem asfalto e com muita poeira e buracos, mas com belas paisagens, os incríveis 40 quilômetros entre Riozinho e Maquiné reservam surpresas
w Em meio à Mata Atlântica, o percurso pode virar o acesso a um novo polo de turismo, com roteiros de aventura e pousadas integradas à natureza
w Para a ideia finalmente sair do papel são necessários pesados investimentos. A começar pelo asfaltamento. Páginas 8 e 9
QUANDO MENOS É MAIS u Já estamos na estação dos biquínis. Em diferentes cores, formas, tamanhos e estampas, eles são a marca registrada do verão brasileiro. Saiba quais serão as tendências que vão dominar os dias quentes de 2010. Página 18
REPORTAGEM
Domingo 27.12.2009 JORNAL ABC
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UMA aventura na estrAda
Comendo muita
poeira na RS-239 O ABC percorreu os 40 quilômetros de chão batido da RS-239 e descobriu em meio à poeira belas paisagens e um incrível potencial turístico que depende do asfalto para deslanchar. E tem mais: esse trecho, entre Riozinho e Maquiné, encurta o caminho para quem vai de Capão da Canoa adiante
Gabriel Guedes
Quilômetro 50 é um vilarejo situado em meio às montanhas da Serra Geral, onde nascem alguns dos afluentes do Rio dos Sinos. Lá moram cerca de 20 famílias, entre elas a do agricultor Mário Machado, 70 anos. O grande e último sonho de Mário é ver a chegada do asfalto àquele trecho de 40 quilômetros da RS-239, de Riozinho a Maquiné. Desejo que não é exclusivo do agricultor, um dos pioneiros na manutenção da estrada. Além de Riozinho, as comunidades de Maquiné e Rolante têm se mobilizado para tirar a estrada do passado, apostando na pavimentação para fomentar um roteiro turístico capaz de gerar ainda mais dividendos. E potencial há: a região é lindíssima, mas por enquanto só a conhece de perto quem tem espírito de aventura. Da ideia à prática, o caminho é tão tortuoso quanto o da própria RS-239.
Ainda não há um projeto para a pavimentação. Segundo o coordenador do 16o Distrito Operacional do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), de Osório, Rui Paim, esta etapa está próxima de começar. “Há uma mobilização dos prefeitos da região em torno da iniciativa. Agora o Daer irá assinar um convênio com Maquiné, Riozinho e Rolante para que o projeto executivo seja elaborado”, explica. Ele deverá ficar pronto em 12 meses, assim que iniciado, o que deve ocorrer em janeiro, conforme o prefeito de Riozinho, Airton Trevizani. COM A AJUDA DIVINA O esforço concentrado já resultou na oficialização da RS-239 como roteiro turístico, embora ainda seja um caminho um tanto alternativo para quem está acostumado ao asfalto, mesmo que seja o mais curto do Vale do Sinos para a praia a partir de Capão
da Canoa, reduzindo a viagem em cerca de 20 quilômetros. É a Rota Natur. “Riozinho, assim como Maquiné, tem no turismo uma vocação econômica natural”, ressalta Trevizani. Se a natureza é obra de Deus, a região foi muito beneficiada. Quem percorre este trecho da RS-239 se depara com vistas fantásticas, enxergando desde São Francisco de Paula, passando pela orla marítima, até mesmo algumas cidades da região metropolitana. Pelo caminho ainda há cachoeiras, campos e bosques com araucárias e outras espécies da Mata Atlântica. Além disso, há toda a história envolvida na abertura da estrada. Apesar de não haver estimativa sobre sua data de origem, envolve sagas de povos indígenas, imigrantes alemães e italianos, tropeiros e até mesmo presidiários, que teriam ajudado a erguer os muros de arrimo que hoje sustentam parte das curvas da Serra da Boa Vista.
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O TRAÇADO NADA CONVENCIONAL DA RS-239 O trecho de 40 quilômetros da RS239, entre Riozinho e o distrito de Barra do Ouro, em Maquiné,
atravessa a Serra Geral, uma área de relevo altamente acidentado, de clima hostil, Mata Atlântica intocada e pouco habitada. O ponto mais alto da RS-239 está a cerca de 900 metros acima do
nível do mar, enquanto Riozinho está a apenas 90 metros de altitude e Maquiné a 12 metros. No começo de 2010 deverá começar o estudo de viabilidade e a elaboração do projeto de engenharia para execução da obra, orçado em cerca de R$ 1 milhão, com recursos do Daer repassados aos municípios por convênio. A obra de pavimentação, incluindo os 40 quilômetros da RS-239 e os 14 da RS-484, entre Barra do Ouro e a cidade de Maquiné, é estimada em R$ 80 milhões.
um caminho rudimentar O trecho entre Riozinho e Maquiné nada lembra a versão moderna da rodovia, pavimentada com asfalto, duplicada e bem sinalizada entre
Novo Hamburgo e Taquara. A estrada de chão batido, com partes repletas de pedras, não possui placas. O caminho certo é sempre uma dúvida. Ou melhor, a única sinalização é a que está pintada em uma pedra (ao lado), indicando
o quilômetro e a distância que falta para percorrer até Maquiné. Também é preciso atravessar pequenos arroios sem contar com pontes e bueiros. Ainda há animais, como cavalos, que vivem soltos pela estrada.
REPORTAGEM
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Fotos Diego da Rosa/GES
Há cerca de 100 anos, tropeiros se mobilizavam Está registrado na história de Riozinho e Maquiné que o caminho incorporado ao traçado que hoje conhecemos como RS-239 foi uma criação dos tropeiros. Estes viajantes enxergavam na estrada uma possibilidade de melhorar o comércio entre o Vale do Sinos e o litoral norte. O vice-prefeito de Maquiné e morador de Barra do Ouro, Eder Rech, conta que os tropeiros atravessavam a Serra com tropas guiando varas de porcos até Riozinho, onde havia uma fábrica de embutidos. “Na volta, eles carregavam produtos coloniais, como queijos e os próprios embutidos, entre outras especiarias, e embarcavam no porto que existia em Maquiné, na margem do rio com mesmo nome”, conta Rech. O morador do Km 50 Mário Machado afirma que a localidade era utilizada para pouso de tropeiros. “Levava dois dias a viagem entre Riozinho e Maquiné”, recorda. A TESTEMUNHA - Machado (foto ao lado) assistiu às transformações do antigo caminho de tropeiros em RS-239. “Quando eu nasci aqui, já tinha estrada. Meus pais contavam muita coisa dela”, lembra. Por 50 anos trabalhou retocando o trecho, junto com um de seus irmãos, que morreu soterrado em dos trabalhos na estrada. “A gente tirava muita terra e colocava pedras para firmar os paredões. Usávamos burros e cavalos para carregar o material”, conta o agricultor, dizendo que só por um ano não cuidou da 239. “Foi quando eu fui servir no Exército, em Porto Alegre”, acrescenta. Machado revela que todo ano, no inverno, a RS-239 fica tomada pela OS PRIMEIROS - No Km 45 há uma aldeia de índios M’Byá Guarani. Um pequeno grupo remanescente que resistiu à ocupação da região pelos imigrantes europeus no século passado. Para as irmãs Rosa Maria Cabral, 55, e Maria Célia, 64 (ao lado), o asfalto não traria mudanças para a tribo, que vive da agricultura e do artesanato.
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neve. “Sempre branqueia tudo aqui. Mas teve épocas em que tínhamos de tirar da estrada.” O agricultor agora espera ver um sonho em troca de um futuro melhor para as outras gerações. “Já tô ficando velho, mas seria o maior prazer ver o asfalto chegar, para os mais novos terem uma nova vida.”
1 - Cena rara neste trecho da RS-239, um carro de passeio passa e deixa uma nuvem de poeira. 2 A Serra da Boa Vista, com suas sinuosas curvas, vence desnível de mais de 800 metros de altitude que separa a Serra Geral do litoral. 3 - A Cascata da Boa Vista, com 120 metros de queda, ornamenta a Serra da Boa Vista. 4 - Na comunidade do Km 50, já nos altos da Serra, a 850 metros de acima do mar, araucárias e hortênsias cercam a estrada.
IMPORTÂNCIA - O prefeito de Riozinho, Airton Trevizani, acredita que a obra irá beneficiar todo o Vale do Sinos. “Por isso estamos pleiteando os recursos do pedágio de Campo Bom para concluir o trecho que falta. Recursos da 239 têm que ser aplicados na rodovia, não na Avenida dos Municípios”, reclama.
“Isso tudo irá trazer um fomento ao turismo que, está adormecido na região”, salienta o prefeito de Rolante, Pedro Rippel. Para o prefeito de Maquiné, Alcides Scussel, será a melhor forma de integrar o litoral norte com o Vale do Sinos. “O pessoal aguarda com expectativa, pois hoje estamos isolados.”