REPORTAGEM
Domingo 9.1.2011 JORNAL ABC
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QUAL O DESTINO DEStA OBRA? Fotos Rafael Cavalli/GES
Em 1946, o presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu os cassinos no Brasil e interrompeu o sonho de Canela ter um dos maiores hotéis do gênero do País. A obra, abandonada, mantém de pé os alicerces da esperança de um dia o jogo retornar dos escombros da contravenção ou de transformar as ruínas na mais nova atração da região das Hortênsias
Nas ruínas, duas passagens semelhantes a túneis, interligando a rua ao subsolo do Cassino Palace Hotel, são como a porta de entrada ao passado de Canela dos anos 30 e 40 (foto acima). Naquela época, a “Vila” de Canela, onde moravam estancieiros, imigrantes alemães e italianos e seus descendentes, ainda pertencia a Taquara. Serrarias moviam a economia do lugar, que era caminho das cidades do alto da serra com a capital do Estado. Tropeiros desciam levando gado, queijo e couro com destino a Taquara, São Leopoldo e Porto Alegre e subiam os mascates com produtos manufaturados para as fazendas da região.
obra em ruínas Gabriel Guedes
Quando o presidente Dutra assinou a lei proibindo os jogos de azar no País, ao mesmo tempo sentenciou o Cassino Palace Hotel, de Canela, ao fracasso. A então vila já era um dos maiores destinos turísticos do Estado quando, em 1939, os empresários Pedro Sander e Willibaldi Rinaldo Dieterich começaram a empreender o audacioso hotelcassino. Do projeto, interrompido em 1946 por falta de dinheiro, restou apenas o alicerce camuflado entre os pinheiros. Testemunho da história canelense, no futuro, o local poderá ser centro cultural e jardim botânico, convertendo-se numa nova atração da região das Hortênsias. Nos anos 40, a cidade já era
frequentada por importantes nomes da sociedade, como, por exemplo, João Wallig, Henrique Trein e Arthur J. Renner. O filho de Dieterich, Rinaldo Dieterich, 65 anos, diz que o pai lhe contava sobre os eventos. “Havia muitas festas, concursos hípicos etc, em Canela”, confirma. Muitos aproveitavam, conforme Rinaldo, para fugir do calor passando o veraneio na Serra. O FIM O hotel-cassino foi concebido por Sander e Dieterich como uma estação de veraneio, segundo Antônio Olmiro dos Reis, um dos autores do livro Canela por muitas razões. De acordo com Rinaldo, a ideia era criar um centro de lazer com roleta e bacarat e parques e jardins, entre outras
ajuda da caixa econômica federal O Cassino Palace Hotel precisava de exorbitante aporte de capital para sair do papel. Estimativa inicial orçava a obra em 5.307 contos de réis. No começo do ano de 1939, em data incerta, os empresários Pedro Sander e Rinaldo Dieterich assinaram financiamento hipotecário com a Caixa, que emprestou 1.467 contos de réis. Foi uma das maiores operações financeiras no Estado na época
atrações. “Era algo para pessoas tops. Um empreendimento visionário para a época, que seria um dos maiores da América do Sul”, acredita Rinaldo. Contudo, se fazia necessário um maciço investimento. Dieterich, de Garibaldi, era filho de imigrantes alemães. Nem mesmo o robusto patrimônio herdado e adquirido o livrou da falência. “Terminou o jogo, começou a desmoronar tudo”, revela. Com dívidas, o pai adquiriu fama controversa. “Ele era campeão das ações trabalhistas na cidade”, admite. O empreendedor ainda entregou como pagamento uma dezena de áreas para a Caixa Econômica Federal e prefeitura, e vendeu outras, como a do Parque da Ferradura.
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NOVA DESTINAÇÃO Orsolin visita ruínas visando reaproveitamento da estrutura um lugar ermo e muito úmido. No entanto, o prefeito acredita que o projeto irá resolver este problema. “A estrutura está boa e será bem aproveitada”, assegura. Na parte inferior do prédio, es-
MAJESTOSO EMPREENDIMENTO
tão previstas salas para aulas de teatro e música. Também haverá uma exposição permanente de obras de arte. Na parte superior, um centro de eventos, com vários auditórios e o museu histórico da cidade. “O aspecto original do prédio, que seria revestido de pedras, será preservado”, detalha. Mas é o que está ao redor das ruínas que será melhor aproveitado. “A mata será o Jardim Botânico. Temos catalogadas cerca de 120 espécies da flora e que o turista poderá conhecer”, adianta. O Parque do Cassino, segundo Orsolin, é fundamental para implementar o Eixo do Turismo. “É um roteiro que compreende as vistas para o Vale do Quilombo, o distrito de Saiqui, onde está o Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio, e o Centro”, descreve.
Canela ainda pertencia ao município de Taquara quando, no ano de 1939, começou a sair do papel o audacioso projeto. Apenas a área construída ocupava 12.316 metros quadrados
Subsolo
Nesta parte do hotel estava previsto, junto ao solo, um jardim de inverno de 330 metros quadrados com um charmoso restaurante ocupando área adjacente. O subsolo ainda abrigaria salão de eventos, um amplo cinema, bares, lojas em geral. Haveria até mesmo uma sala do suicídio, para as pessoas que desejassem este fim após perder no jogo.
CASSINO PALACE HOTEL
Se o projeto estivesse concluído e em funcionamento, o hotel seria hoje um dos cartões-postais de Canela. Os mais de 110 metros de laje e fachada planejados caracterizam a suntuosidade por meio de vários detalhes, com destaque para os arcos de entrada, ainda hoje visíveis nas ruínas.
mão de obra As obras do Cassino Palace Hotel ficaram sob responsabilidade firma Sander & Dieterich, constituída para se dedicar ao empreendimento. Em 1939, iniciaram as obras, com cerca de 85 funcionários, mas que acabaram ficando desempregados em 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu os cassinos em território nacional. Sem o dinheiro dos jogos para custeio, a obra parou
Dieterich defende volta dos cassinos Defensor ferrenho do retorno do funcionamento dos cassinos no Brasil, Rinaldo Dieterich lamenta profundamente a forma como o jogo acabou. “Foi de uma forma cretina. Da noite para o dia”, critica. O empresário do ramo imobiliário já atuou no começo dos anos 90 no lobby pela reabertura das casas de apostas. “Imaginávamos
como cassino o que é no mundo hoje. Hotel, cassino e show”, descreve ele, que defende o projeto nos moldes do que foi apresentado pelo deputado catarinense Dércio Knop, em 1991, na Câmara dos Deputados. “Concordo inclusive com o recolhimento de todos os impostos. Com cassino, o turismo no Brasil crescerá de 50% para 200% ao ano”, justifica.
dos mais de 1 milhão de metros quadrados de terreno, o que equivale a cerca de 90 campos de futebol, na região leste da cidade, a cerca de 900 metros de altitude.
Apartamentos Em seis andares (acima do solo), seriam pelo menos 170 apartamentos. A meta do projeto era deixar espaço confortável aos hóspedes. Os aposentos também contariam com uma luxuosa linha de móveis e sistema de aquecimento.
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O INUSITADO Para quem perdia tudo no jogo, haveria a “sala do suicídio”
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Aproveitamento do local pode começar a sair do papel ainda em 2011 O terreno diminuiu em relação ao que pertencia originalmente ao Cassino Palace Hotel. Dos 1 milhão de metros quadrados, restam apenas 31.392,18 metros quadrados de área, pertencente à prefeitura. O prefeito de Canela, Constantino Orsolin, espera que em breve possa denominar o local como Parque do Cassino. Ele acredita que neste ano, com investimento de R$ 400 mil do caixa próprio, já será possível iniciar obras da futura Escola de Artes, Museu Histórico e Jardim Botânico, que funcionarão no parque. Estão sendo solicitados ainda mais R$ 4 milhões do Ministério do Turismo para as obras complementares. Para entrar nas ruínas não há mistério. O terreno, sem cercamento, facilita o acesso àqueles que querem consumir drogas sem serem importunados. O subsolo é
Cassino de Canela Escombros remetem à história de Canela
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Jogos
Segundo Rinaldo Dieterich, as salas de apostas estariam localizadas todas no pavimento térreo, com acesso facilitado pela escadaria principal do hotel, distribuídas de uma extremidade a outra do prédio