Olhos no futuro, pés no presente

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REPORTAGEM

DOMINGO 10.2.2009 JORNAL ABC

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REPORTAGEM

DOMINGO 10.2.2009 JORNAL ABC

Olhos no futuro... ...pés no presente Luís Félix/GES-Jul/07

GABRIEL GUEDES

O Vale do Sinos – e parte da Grande Porto Alegre – estará vivenciando, pelo menos nos próximos dez anos, uma profunda transformação. Obras aqui e ali, quase todas de grande porte, espalhadas por pontos estratégicos da região, mostrarão os novos rumos econômicos e sociais de cerca de 3 milhões de gaúchos que moram por aqui. São aguardadas a aplicação de R$ 1,7 bilhão de recursos – tanto da União quanto do Estado –, dos quais cerca de R$ 1 bilhão deverão ser investidos até 2012, em realizações como o metrô para Novo Hamburgo, a Rodovia do Parque (BR-448) e até mesmo a segunda ponte sobre o Delta do Jacuí, em Porto Alegre. E há inclusive interesse político para que as coisas não fiquem só no papel. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, também coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), estará em São Leopoldo nesta sexta-feira, dia 6, para abrir as obras do trem e, quem sabe, consolidar a região novamente nos trilhos do desenvolvimento. Os investimentos públicos em infraestrutura podem influenciar a economia das mais diversas maneiras, e nem sempre será possível contabilizá-los na sua totalidade. Segundo a economista da Unisinos Gisele Spricigo, isso se aplica para qualquer investimento feito pelos governos. “Uma vez que os impactos podem ocorrer no aumento do Produto Interno Bruto (PIB), uma série de outros indicadores pode ser impactada, tais como maior quantidade de negócios realizados e melhor qualidade de vida para a população.” SINAL VERDE Para o coordenador da Divisão de Infraestrutura da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), Darci Giovanella, a logística é fator imprescindível para instalação de novos empreendimentos e por consequência na geração de emprego e renda. “A primeira coisa a olhar é o fluxo. Se não tem fluxo, não tem empresa”, ratifica. Gisele salienta que a transformação já começa com as vagas de trabalho que as obras públicas devem gerar. Por exemplo, a extensão do trem de São Leopoldo a Novo Hamburgo gerará 1,2 mil empregos e 3 mil decorrentes dos reflexos diretos da obra. E mesmo que durante os trabalhos exista uma série de transtornos, a economista assegura que os resultados são positivos e, normalmente, apreciados pela população.

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Gabriel Guedes/GES-Especial

PORTO ALEGRE COMO ANFITRIÃ DO NOVO

PONTE FÉRREA: a antiga ponte da Estrada de Ferro, em São Leopoldo, em breve, terá que dividir espaço com a travessia da linha do trensurb

Expansão do trem deve corrigir distorções Em São Leopoldo e Novo Hamburgo a extensão de 9,3 quilômetros da linha 1 do metrô terá missões distintas, mas importantes para o urbanismo de ambas cidades. No lado hamburguense, a meta é expandir o desenvolvimento para o sul e oeste da cidade – esta última, com as obras complementares da BR-116. Aos leopoldenses, a integração do bairro Rio dos Sinos ao restante da cidade e sua revitalização. O secretário de Obras Públicas e Serviços Urbanos de Novo Hamburgo, Lino De Negri, afirma que o entorno do Arroio Luiz Rau e Avenida Nações Unidas ganhará melhor trânsito e mais áreas de lazer com a vinda do trem. A Nações Unidas, no bairro Rincão, se-

rá pavimentada e a cidade ganhará um novo acesso pelo viaduto que está sendo construído junto ao cruzamento da BR-116 com a Rua Rincão. “Os bairros mais prejudicados, são a oeste da cidade. Com a implantação do viaduto do Rincão e de um empreendimento privado no bairro Primavera, será feita também uma extensão da Avenida Sete de Setembro até o Boa Saúde”, prevê. O prefeito leopoldense, Ary Vanazzi acredita que até 2010 já estejam prontas duas das quatro estações na margem direita do Rio dos Sinos, junto com a quarta ponte, rodoferroviária, na Avenida Mauá. “Nossa pretensão é recuperar o bairro mais antigo de São Leopoldo”, anuncia. Para

isso, o município quer aproveitar as obras do metrô para reassentar 360 famílias. “Serão assentadas em duas áreas que a prefeitura tem no próprio bairro Rio dos Sinos. Elas vão ganhar casas e saneamento básico”, completa o administrador. Mas Vanazzi é cético. Ele mesmo não acredita que só as obras de infraestrutura serão suficientes. “O saneamento é tão necessário quanto as outras obras. Mas estamos com o consórcio Pró-Sinos com força. Em dez anos, 60% do rio estará recuperado”, aponta. São Leopoldo terá, até a metade do ano, 50% do esgoto tratado, com a ativação da Estação de Tratamento de Esgoto da Feitoria.

TRÂNSITO LIVRE PARA RETOMAR O DESENVOLVIMENTO Arquivo/GES

BR-116: situação insustentável

O que há em comum entre Sapucaia do Sul, Esteio e Canoas? A BR-448 deverá fortalecer a integração e fluidez do trânsito entre estas cidades, junto com a duplicação da RS-118 e a implantação da RS-010. Mas os municípios esperam mesmo é recuperar a auto-estima. Canoas pela criação de sua porta de entrada, Esteio pela aproximação com o Rio dos Sinos e Sapucaia do Sul, por um profundo reordenamento urbano que a obra na RS-118 provocará. O prefeito de Sapucaia, Vilmar Ballin, sabe que o município ficará em posição geográfica priveligiada depois das obras. “Mas até lá será muito conflituoso. Temos mil famílias para retirar da área de domínio da RS-118 e ainda corrigir o plano diretor, que tornou a

beira da BR-116 uma área mista, com residências e indústrias. No passado faltou um projeto para a cidade. Por isso o trem nos dividiu”, lamenta. Em Esteio, a Rodovia do Parque dará uma nova rendenção à cidade. “Poderemos desenvolver Esteio para trás do Parque de Exposições, criar um novo acesso que a cidade hoje não tem, e uma relação próxima com o Rio dos Sinos por meio de um parque ecológico”, projeta Rinaldi. O prefeito Jairo Jorge vê no futuro Canoas como uma cidade moderna. “Com a BR-448 teremos mais espaço de crescimento. Queremos ser um polo de tecnologia, serviços e turismo, que precisa ser implementado. Esta obra dará esta possibilidade”, pontua.

GOVERNOS INEFICIENTES, SOCIEDADE DESMOBILIZADA Gabriel Guedes/GES-Especial

Um dos símbolos da ineficiência do governo estadual é a RS-118 (foto), que há anos aguarda por melhorias, incluindo a sua duplicação. A Agenda 2020 é um movimento que organiza propostas concretas de interesse da sociedade riograndense frente à ineficiência dos governos. Tem entre suas pautas as melhorias na BR-116 na região metropolitana, por onde passa 65% do PIB gaúcho. O coordenador técnico da Agenda 2020, economista Paulo de Tarso Pinheiro Machado, acredita que para a sociedade cobrar as suas necessidades, ela precisa estar informada. O futuro, segundo Machado, só acontecerá se a sociedade continuar a se mobilizar e cobrar a aplicação dos recursos.

Porto Alegre não é o protagoO prefeito assegura que a cidanista dos investimentos no Esta- de está se preparando para receber do, que passam a se concentrar as obras da BR-448 e da segunda no seu entorno. Exatamente por ponte do Guaíba, mesmo que não ser a capital dos gaúchos, o pre- estejam atreladas à questão da Cofeito em exercício da capital, Jo- pa. “Tanto uma quanto outra obra sé Fortunatti acredita que o papel irão revitalizar o bairro Humaitá, de seu município é exatamen- um local degradado urbanisticate irradiar para os vimente. Teremos ainda a zinhos e até mesmo o Arena do Grêmio, que interior do Estado, iniserá o condão para que ciativas que projetem outros empreendimenestas cidades para o futos apareçam e criem turo. “Porto Alegre poempregos, além de vade sediar alguns jogos lorizar esta área da cida Copa do Mundo de dade”, acrescenta. 2014. E precisaremos A nova ponte do fazer investimentos em Guaíba, de acordo com infraestrutura. E quere- José Fortunatti Fortunatti, será integramos que nossa região do junto à malha viária metropolitana também entre nes- da cidade por meio da Rua Dose ritmo. Não dá para pensar de na Theodora, caminho que atualforma isolada. Tem cidades, co- mente liga até o Viaduto Leonel mo por exemplo, as da Rota Ro- Brizola, próximo ao Aeroporto mântica, que terão muito a ga- Internacional Salgado Filho. O nhar com o turismo daqui a cinco empreendimento promete causar anos”, explica. impacto aos olhos, justamente pe-

la altura da lâmina d’água – cerca de 40 metros – e pela plasticidade. A ponte será estaiada, sustentada por meio de cabos de aço, assim como a da Rodovia do Parque, que atravessará parte do bairro Niterói (em Canoas), o Rio Gravataí e a BR-290 (free way), saindo praticamente em frente à Arena tricolor. Com isso, Porto Alegre terá um novo eixo de acesso daqui a alguns anos. “Se tudo der certo, não será um milagre. Estamos trabalhando com os governos federal e estadual. Porto Alegre será parceira das cidades que queiram aproveitar esta nova onda de oportunidades”, convida. Pessoalmente, o prefeito em exercício acredita que no futuro a capital estará mais moderna, com maior qualidade de acesso e trânsito. Mas a principal aposta é no turismo. Até lá, quem sabe o Cais Mauá seja mais um cartão postal da cidade.

VÃO MÓVEL: na capital, esforços voltados para construção da nova ponte Arte Diogo Fatturi/GES


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