À espera de17 quilômetrosde asfalto

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ABC Nº 755 - R$ 1,75

Domingo

RS, 16/5/2010

Jornal NH - Diário de Canoas - Jornal VS - Jornal de Gramado

MODA Xadrez combina com o frio

charme felino u Termina hoje, às 18 horas, a 69a Exposição Internacional de Gatos de Raça, no Ginásio da Catedral São Luiz, em Novo Hamburgo. No local, podem ser adquiridos ou admirados 125 felinos de 12 raças diferentes, como o Maine Coon (foto ao lado). Página 9

VRS 873/373

A estrada Morro Reuter-Gramado

À espera de 17 quilômetros de asfalto

u As temperaturas estão caindo. E a estampa xadrez está de volta. Página 18

Divulgação

BELEZA Blush, um aliado das mulheres u Acompanhe as dicas de como usar esse produto para realçar seu visual. Página 19

Mostra imperdível

Rodrigo Rodrigues/GES

Investimentos na rodovia podem viabilizar outra importante rota turística no caminho até a Serra gaúcha. Páginas 10 e 11 Fábio Winter/GES

Sua carreira & VOCÊ u No livro Erros que um executivo comete ao redigir. Mas não deveria cometer, Laurinda Grion (foto) mostra os tropeços na gramática a que um profissional está sujeito. Página 12

SÃO PAULO Incêndio destrói acervo do Instituto Butantã u A maior coleção de cobras do mundo tropical – 85 mil exemplares – não existe mais. O fogo também liquidou com 450 mil aracnídeos. Página 6

Literatura Os aspirantes querem um lugar na livraria PÁGINAs 24 e 25

O álbum que seduziu adultos e crianças

loucos por figurinhas No embalo da Copa, a nova mania nacional. Páginas 30 e 31


REPORTAGEM

Domingo 16.5.2010 JORNAL ABC

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REPORTAGEM

Domingo 16.5.2010 JORNAL ABC Fotos Gabriel Guedes/GES-Especial

estrada Morro Reuter–gramado

A Serra cada vez

mais próxima O ABC Domingo percorreu o caminho mais curto entre Vale do Sinos e Região das Hortênsias, comeu poeira, se deparou com muita história e belos cenários na estrada que pode se tornar a mais promissora das rotas turísticas com a chegada do asfalto

OLHO NA ROTA

Gabriel Guedes

A estrada que liga Morro Reuter, Santa Maria do Herval e Gramado é caprichosa. Do alto das montanhas, o horizonte se descortina de forma singular a quem trafega por ela. Mas para quem mora próximo da VRS-873/VRS373, o asfaltamento entre Herval e a localidade de Serra Grande, em Gramado, é a chance de abrir novos panoramas para o desenvolvimento econômico, focado no turismo. Vocação é o que não falta ao longo do trajeto, que aproxima em cerca de 20 quilômetros o Vale das Hortênsias. A região desbravada pelas VRSs-873 e 373 tem na Cascata do Herval seu cartão-postal. Mas não apenas isso. Além das mon-

tanhas, pinheirais, campos e dezenas de cachoeiras, há ateliês de artistas e restaurantes coloniais germânicos. O grand finale, em Gramado, dispensa detalhes. “É um bonito acesso às Hortênsias. Representantes da Rota Romântica Alemã passaram por lá em 2009 e ficaram maravilhados”, atesta o presidente da nossa Rota Romântica, Claudio José Weber. PLANOS A vantagem de ter boas atrações num traçado que reduz de 83 para 59,5 quilômetros a distância entre Novo Hamburgo e Gramado, comparado à RS-115, faz municípios planejarem ações. Contudo, falta a pavimentação de 17 quilômetros pelo Departamento Autônomo de Estradas de Roda-

gem (Daer), obra que ainda pode sair do papel em 2010. “Esperamos deslanchar empreendimentos, como pousadas, que aguardam o asfalto para abrir”, anseia o secretário de Indústria, Comércio e Turismo de Herval, Everaldo Schneider. A chefe do departamento de Turismo de Morro Reuter, Vera Schneider, frisa que o município tem um dos trechos mais fascinantes da VRS-873. “Queremos mirantes para observação do Vale do Sinos e do Cadeia”, projeta. E quanto a Gramado, que já tem quase tudo no setor? Para o secretário de Turismo, Gilberto Tomasini, é uma aposta na maior permanência do visitante. “Porque, quanto mais o turista ficar na região, melhor para todos”, justifica.

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Entre o vale e a serra

Acima das nuvens Enquanto a neblina toma conta do Vale do Sinos, a comunidade de São José do Herval (Morro Reuter) vê tudo do alto das montanhas de 700 metros de altitude.

estreita. Mas com as roçadas feitas, ela foi alargando. Foi aberta pelos colonos”, revela Julita. A família, que mora ao lado da futura rodovia, vive da agricultura e venda de lenha. “Mas com a estrada, queremos vender produtos coloniais aos turistas”, planeja Rosimere. Entretanto, enquanto os planos não saem do papel, a família se desloca para Gramado ou Santa Maria do Herval, num valente Fusca. Isso porque o ônibus não passa todo dia pela localidade. “O marido não quis trocar de carro. É o preferido. Mas é um carrinho bom. Aguenta a buraqueira e as pedras e é fácil de consertar quando quebra por aqui”, justifica Julita.

Néia Dutra/GES

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Caminho centenário revela a história da colônia alemã O pedido da comunidade para pavimentação entre Morro Reuter, Santa Maria do Herval e Gramado já persiste há cerca de três décadas, desde um pouco antes do governador Jair Soares assumir. No entanto, a história da estrada é muito mais remota. Centenária. Moradoras de Alto Padre Eterno, as agricultoras Rosimere Sebackes, 38 anos, e Julita Comiotto, 59, asseguram que o trajeto tem mais de cem anos. “O pai tem 70 anos e já dizia que a estrada estava aberta anos antes dele nascer. Com certeza, tem uns cem anos”, afirma Rosimere. Antigamente, contam Julita e Rosimere, mãe e filha, a estrada era apenas uma “picada”. “Era

Uma obra ainda em execução e outra a começar 2

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Cascata do herval No Rio Cadeia, no Centro de Santa Maria do Herval, está uma cascata com 125 metros de queda. Junto, há a Usina Hidrelétrica Herval, da CEEE, que gera 1,52 megawatts/hora de energia. A eletricidade vem de duas turbinas movidas com a água que é represada numa barragem de 9,60 metros de altura, situada acima do salto.

Oportunidade para desbravar desenvolvimento Não há quem esconda a ansiedade pelo desenvolvimento que a nova estrada possibilitará. As belas paisagens e atrações compreendidas entre Morro Reuter e Gramado deixam claros a vocação turística de Morro Reuter e Santa Maria do Herval.

“O Herval vai ser dividido entre antes e depois da rodovia. Vamos ganhar espaço no turismo rural e de aventura”, se empolga o secretário Everaldo Schneider. Dono de um restaurante colonial em São José do Herval, Pedro Kieling, recebe por final

SITUAÇÃO DA ESTRADA VRS-873

Faltava 1 km de pavimentação, em Morro Reuter. Agora o trecho aguarda apenas o final das contenções de encosta e a aprovação pelo Dnit para interseção com a BR-116. Custo: R$ 3,1 milhões.

VRS-373

A pavimentação de 17,21 km entre Santa Maria do Herval e Serra Grande está sendo licitada. Orçada em R$ 19 milhões para execução em 660 dias, a obra deve começar ainda no segundo semestre.

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de semana, em média, 200 pessoas para almoçar, e teve que deixar engavetado um projeto de expansão, para as tardes. “O nosso café colonial está em stand by. Fizemos umas experiências e não obtivemos bom resultado. Mas, com a estrada para Gramado, vou retomar a ideia”, planeja.

1 - VRS-373 e a Igreja Evangélica de Boa Vista do Herval. 2 - O ateliê de Flávio Scholles na VRS-873, em Morro Reuter. 3 - Kieling é dono de restaurante colonial em São José do Herval. 4 - Um carro adaptado para transporte de carga é utilizado em Boa Vista do Herval. 5 Agricultoras Rosimere e Julita de Alto Padre Eterno.

A VRS-873, que liga Morro Reuter a Santa Maria do Herval, e a VRS-373, que completa a ligação da segunda até Gramado, duas denominações para praticamente mesma estrada, tem em comum também a longa espera pela pavimentação. O asfaltamento de 12 quilômetros da 873, que começou em 1999, ainda não terminou. Ficou restando um quilômetro, entre Morro Reuter e o acesso ao Walachai, que foi retomado ano passado e somente agora o Daer está concluindo. Enquanto isso, o trecho de 17,21 quilômetros, do Herval até Serra Grande, em Gramado, aguarda o fim da licitação para início da obra, encerrando uma demanda de mais de 30 anos da região. Segundo o superintendente regional de Esteio do Daer, Julio Porciúncula, a obra da 873 deve terminar em três meses. “A empreiteira está finalizando as contenções de encostas. É um trabalho artesanal. Depois, tem a sinalização e a interseção (trevo) com a BR-116”, explica. Dia 27 deste mês, segundo Porciúncula, o Estado receberá as propostas das empresas participantes da concorrência para a pavimentação da VRS373. Está em jogo contrato de R$ 19 milhões para execução da pavimentação. O superintendente não precisou o traçado, mas acredita que a opção é via Alto Padre Eterno. “Está sendo escolhido o que tem melhor custo-benefício. O relevo é menos acidentado e a estrada já está bem alargada”, adianta. Os recursos para o asfaltamento sairão do tesouro do Estado.

Comunidade dá respaldo ao asfalto, mas há ressalvas A troca da tranquilidade pela comodidade do asfalto terá um preço. Para as agricultoras Rosimere e Julita, de Alto Padre Eterno, que moram ao lado estrada, o fim da poeira deixará a casa mais limpa. Em compensação, o movimento e o barulho de veículos e o maior número de acidentes será um incô-

campos serranos Em Alto Padre Eterno, uma pequena comunidade rural situada entre Santa Maria do Herval e Gramado, a paisagem chega a lembrar São Francisco de Paula. Campos, velhos ranchos de madeira, com pinheiros espalhados ou agregados em capões. Por causa da altitude, de 750 metros, moradores dizem que todo inverno os campos ficam brancos de neve e geada.

modo. “Mas vai facilitar nossa ida até Gramado”, conta Rosimere. Um dos líderes comunitários de Serra Grande, o engenheiro civil Sandro Bazzan, 43 anos, recomenda que a comunidade preste atenção no projeto. “A VRS-373 nasce como uma rota alternativa. Mas por ser a mais curta ligação entre

Porto Alegre e Gramado, pode se tornar mais movimentada que a RS-115”, aponta. “Porque agora todos querem asfalto, mas depois vão querer redução de velocidade. Me preocupo com o impacto social, que pode acabar com as coisas boas do interior, como a paz e o sossego”, avalia.

montanhas da serra grande A chegada em Gramado é belíssima. Quem é acostumado a enxergar o Morro Agudo (875 metros de altitude) pela RS-115, até estranha vê-lo “pelas costas” na VRS-373.


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