Edição 90

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entrevista

Miguel Velasquez

“As pessoas só respeitam a lei quando têm medo da punição” Por Ca r i ne Fer na ndes

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consumo de bebida alcoólica pode ser visto por muitos como algo prazeroso, pois favorece a socialização, tornando as pessoas mais desinibidas e descontraídas. Mas na medida em que se olha para os efeitos nocivos que o álcool pode ter na vida do indivíduo e para uma sociedade, faz-se necessário repensar o seu consumo, mesmo que moderado. Além de trazer dependência e ser uma porta de entrada para drogas ilícitas, o álcool tem sido o responsável por um número cada vez maior de acidentes de trânsito no Brasil. Apesar da legislação punir quem bebe e dirige, a sensação de impunidade motiva muitos motoristas a ignorarem a lei e renderem-se a um ou muitos copos de bebida alcoólica. E essa atitude torna-se um problema ainda maior se servir de exemplo aos mais jovens, que daqui a poucos anos também estarão nas ruas dirigindo. Para o secretário-adjunto da Justiça e dos Direitos Humanos do Rio Grande do Sul e promotor de justiça de carreira, Miguel Velasquez, o álcool é um problema de saúde e de segurança pública. Ele defende leis mais rígidas para quem bebe e assume a direção, e alerta que é preciso fazer um trabalho para acabar com a indústria do álcool que toma conta da mídia, seduzindo os jovens com a falsa ideia de que a bebida está associada a diversão. Ele também acredita no papel da escola para formar cidadãos mais conscientes sobre os problemas do álcool. Velasquez fala sobre esses assuntos nesta entrevista concedida a Educação em Revista, confira:

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Culturalmente, o álcool é uma droga socialmente aceitável e as pessoas se mostram muito tolerantes ao seu consumo”


Educação em Revista- Nos últimos anos, a mídia tem aberto espaço para intensas e extensas campanhas de conscientização no trânsito, salientando para a importância de não misturar álcool com direção. Entretanto, essas iniciativas têm apresentado resultados tímidos, se olharmos os números alarmantes de acidentes no trânsito cuja causa esteve associada ao consumo de bebida alcoólica. Na sua opinião, o que é preciso fazer para conscientizar os motoristas e os jovens que daqui a poucos anos estarão assumindo o volante? Miguel Velasquez – Bom, em primeiro lugar, me parece que as questões de natureza educativa devem permanecer, sobretudo se nós começarmos a trabalhar o álcool como uma droga, desde cedo, com as crianças. Culturalmente, o álcool é uma droga socialmente aceitável e as pessoas se mostram muito tolerantes ao seu consumo. O que ocorre é que lamentavelmente as pessoas ainda não se deram conta de que o álcool é, sim, uma droga, mesmo que lícita a partir de 18 anos. É uma causa importante no fator violência, na criminalidade e também um problema muito sério de saúde pública. Os estudos, hoje, têm demonstrado que no Brasil, a cada ano que passa, os nossos jovens têm contato mais cedo com o álcool. Hoje está na faixa de 12 e 13 anos de idade. Essa é uma questão que tem que ser alertada aos pais. Muitos deles acham que os filhos bebendo em sua companhia estarão seguros. Isso não é verdade. Lamentavelmente, existe, hoje, toda uma indústria poderosa, que é a indústria do álcool, que patrocina todos os eventos esportivos. Você pode ver que a própria Fifa exige a liberação de bebida alcoólica para o evento esportivo, e a mídia faz propagandas belíssimas tentando seduzir o público jovem, como se aquelas pessoas que estão fazendo a propaganda fossem bebedoras de álcool, e não são. Quem bebe é inchado, não tem corpo sarado. Eu chego a brincar que é uma ironia, por exemplo, corridas automobilísticas serem patrocinadas pela indústria do álcool. A única coisa que aquele piloto não pode estar é sob efeito de álcool. São essas questões que temos de resolver...

Precisamos mostrar aos jovens que é possível se divertir sem o uso de bebida alcoólica”

A sociedade deve se conscientizar de que o Estado, hoje, tem tido preocupações importantes de inibir o consumo de bebida alcoólica por parte da criança e do adolescente e também por parte dos adultos que dirigem. Mas a sociedade não colabora, porque eles vão para o Twitter e dizem “não passem pelo lugar tal, está ocorrendo operação tal...”. Em alguns bares, quando a pessoa se recusa a beber porque está dirigindo eles dizem: “Se você quiser beber fica tranquilo que nós te avisamos o local em que está ocorrendo blitz”. Então, fica muito complicado se essas pessoas que fazem isso não se derem conta de que elas estão contribuindo para engrossar os números de pessoas mortas e feridas. E que todos nós, de alguma forma, pagamos este preço. Educação em Revista – Mas se existe uma legislação e há punição, por que as pessoas insistem em burlar a lei? Isto é um problema cultural? Miguel Velasquez - Em qualquer país do mundo todas as pessoas sabem que não podem ingerir bebida alcoólica e dirigir, todos sabem dos riscos e das consequências. O que leva a pessoa a praticar esse tipo de delito é a sua sensação de impunidade. Os países que punem severamente as pessoas, com relação a esse tipo de delito, tendem a diminuir o problema, pois as pessoas não respeitam a lei apenas por uma questão só de educação, mas também com medo da punição. Educação em Revista – Então esta seria a solução, termos leis mais severas?

Miguel Velasquez – Acredito que sim. Claro que também temos que continuar fazendo campanhas educativas de conscientização, sobretudo com o público jovem. Hoje, existe toda uma estratégia da indústria do álcool para seduzir esse público para o consumo de bebidas alcoólicas. Então, a gente tem que enfrentar essas questões com os jovens, nas escolas, desde criança, para que as pessoas comecem a ver o álcool como bebida, contar com a mudança da cultura dos pais e, sobretudo, com a punição exemplar. Certas questões não são só de natureza da educação, precisam de punição. As pessoas acreditam, muitas vezes, que só deve ser colocado na cadeia quem comete crime de estupro ou tráfico, por exemplo. Mas quem bebe e dirige também é criminoso. Se nós temos um alto índice de morte, decorrente da mistura álcool e direção, e um alto índice de pessoas que ficam deficientes físicas, significa que essa conduta social precisa ser modificada e as suas consequências são gravíssimas. As pessoas têm que identificar isso como se o indivíduo estivesse armado, no momento em que está utilizando o veículo dessa forma. Educação em Revista - O senhor fala bastante do papel da escola para uma mudança de cultura, mas gostaria que exemplificasse como ela pode ser mais atuante nessa campanha de prevenção a acidentes e, especialmente, ao uso do álcool para os jovens. Miguel Velasquez - Acho que temos que ter dois tipos de ações: uma visando a esses jovens que já tiveram contato com Educação 5


esta situação, sabem que o bêbado é chato e que o bom é aquele que sabe ganhar a guria, ou conquistar o cara, sem o uso de bebida alcoólica. Educação em Revista – E qual a linguagem mais adequada para falar sobre o assunto?

álcool, alertando-os para a gravidade do problema (é importante dizer que não são todos os jovens que bebem, 50% dos nossos jovens não bebem, e dessa metade dos que bebem nós temos outro grupo que bebe excessivamente). Nessa ação direta com quem já teve contato com álcool, mostrar o que significa essa relação com o álcool, para que tenham plena consciência da exposição deles para situações de violência. E a outra ação é trabalhar com os jovens em caráter preventivo (aqueles que não tiveram contato com o álcool), nossas crianças ou pré-adolescentes, para que eles já tenham na sua formação a consciência de que o álcool é uma droga e de que não deve ser glamourizada pelos problemas que apresenta. Acho importante que os professores conversem abertamente com os

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Miguel Velasquez - Essa linguagem deve ser menos repressora e mais leve para tratar de temas tão pesados, tão cruéis. Eu falo fazendo com que eles se divirtam, que enxerguem a situação de um guri bêbado, de uma guria bêbada, e lá pelas tantas, quando eles estão dando risada, eu puxo o freio e trago informações bem sérias, bem chocantes, para que eles possam se dar conta “opa, isso pode acontecer”. A gente tem que aprender a conversar com os jovens. Hoje em dia não cabe dizer “se tu beber, tu vai morrer”, ou “se tu beber eu não vou cuidar de ti”, a linguagem tem que ser outra. Eles tem que perceber que podem se divertir, ter uma juventude saudável. É como eu digo para as gurias, elas querem ter um corpo saudável, e eu digo “olha, não te preocupa com isso, cada um tem seu jeito de ser e a beleza não tem um determinado padrão. Mas se tu pensa que o padrão de beleza é a Juliana Paes e tu quer ter o padrão de beleza dela começa não bebendo, pois uma das coisas que ela faz é não beber”. Já estudantes sobre esse assunto, mostrem para o guri, é importante que ele saiba que para eles que é perfeitamente possível se divertir sem o uso de bebida alcoólica. A a virilidade dele fica comprometida com o bebida não pode estar associada a diver- álcool. Enquanto antigamente pouco se falava são. Eu sempre digo isso a eles: “É normal sobre esse assunto, hoje temos a obrigação as pessoas ficarem tímidas para chegar de falar, porque a ciência nos dá muitas innuma menina para dançar. É normal, faz formações sobre parte. Mas você o tema do álcool tem muito mais a A cada ano que passa, e, portanto, exige ganhar chegando ações de toda a nela sem estar os nossos jovens têm sociedade. Para bêbado (ninguém gosta de cara bacontato mais cedo com mim, o que a ciência nos revela fento, chato, babão, o álcool” e essa conivência cuspindo na tua da sociedade cara)”. Então, a frente ao consugente tem que ter mo do álcool faz com que acenda a luz amaesse tipo de conversa com eles, até de rela, se não a vermelha. Isso é um problema uma forma bem descontraída, fazendo de saúde pública e de segurança pública! darem risada, porque eles identificam


C A PA

O álcool longe dos jovens

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tendências

gestão

As relações em tempos de redes sociais

interdisciplinar

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Como administrar melhor o tempo

As lacunas na formação do professor universitário

op i n i ã o

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Escola, indisciplina e resolução de conflitos

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Futuro promissor para criação de polos tecnológicos nas universidades

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As histórias do ‘estudante’ Pedro Simon

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legislação

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Análise sobre a formação escolar realizada no exterior e o ensino da música no currículo

premiadas os projetos inovadores do 29 Conheça Colégio Anchieta, da Universidade de Passo Fundo e da PUCRS

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ensino pr i va do

po r o n d e a n d a

sala de aula

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Como escola, família e sociedade podem afastar os estudantes da bebida alcoólica

As novidades das instituições de ensino para 2012

cultur a

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Porque o carnaval é a maior festa da cultura popular brasileira

f i q u e po r d e n t r o

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Faça cursos nas melhores universidades do mundo sem sair de casa

Educação 7


EDIT O RI A L

A arte de se reinventar Ao folhear as primeiras páginas desta edição e chegar até esta seção, o leitor já deve ter percebido que a Educação em Revista mudou. O primeiro número de 2012 está repleto de novidades, a começar pelo novo projeto gráfico, que apresenta páginas mais limpas e arejadas, com maior destaque aos textos e às imagens. A proposta mescla soluções gráficas tradicionais com elementos contemporâneos, como os ícones inspirados na tela do iPad. Além disso, o conteúdo está recheado de novidades. Ampliamos o espaço para a abordagem de assuntos de destaque no cenário educacional tanto da Educação Básica quanto do Ensino Superior, com as novas seções Sala de Aula e Tendências. Já aqueles temas polêmicos, que merecem discussão com o olhar de diferentes opiniões, terão lugar na seção Em Debate. A publicação ganhou ainda um espaço de variedades, que apresenta conteúdos leves e descontraídos. É o caso da seção Interdisciplinar, que nesta edição está trazendo uma matéria sobre como administrar o tempo na correria dos dias atuais. Em Por onde anda, personalidades e figuras importantes no cenário gaúcho e nacional, que passaram pelo ensino privado, contam suas trajetórias de vida e curiosidades da sua época de estudante. Abrimos o espaço com uma conversa descontraída com o senador Pedro Simon, que revela os bastidores do início da sua vida política, ainda como estudante. E para auxiliar os educadores a atualizar-se a respeito das novidades da educação, lançamos a seção Fique por Dentro. Todas essas mudanças surgiram a partir da necessidade da Educação em Revista de se reinventar, de propor novos assuntos e encontrar diferentes formas de apresentar a informação. Tudo isto para que possamos continuar trazendo a você, leitor, um conteúdo que o auxilie na nobre missão de trabalhar por uma educação de qualidade e que atenda às necessidades e aos anseios dos estudantes de hoje! Ótima leitura. Carine Fernandes

Editora da Educação em Revista

Expediente Edição: Carine Fernandes Reportagens: Carine Fernandes, Gabriela Di Bella, Karine Ruy, Maicon Bock e Vívian Gamba Foto da capa: Divulgação/Colégio Farroupilha

DIRETORIA

Presidente: Osvino Toillier 1º Vice-Presidente: Hilário Bassotto 2º Vice-Presidente: Flávio Romeu D’Almeida Reis 1º Secretário: Vanderlei Langoni de Souza 2º Secretário: Maria Helena Lobato 1º Tesoureiro: João Olide Costenaro 2º Tesoureiro: Wilson Ademar Griesang Suplentes: 1º Suplente: Mônica Timm de Carvalho 2º Suplente: Oswaldo Dalpiaz 3º Suplente: Adélia Dannus 4º Suplente: Delmar Backes 5º Suplente: Olavo José Dalvit 6º Suplente: Bruno Eizerik 7º Suplente: Adelmo Germano Etges

CONSELHO FISCAL

Titulares: Ruben Werner Goldmeyer Luiz Fernando Felicetti Valderesa Moro Suplentes: 1º Suplente: Isaura Paviani 2º Suplente: Maria Angelina Enzweiler 3º Suplente: Anelori Lange Coordenador da Assessoria de Comunicação e Marketing: Prof. Osvino Toillier Assessora de Comunicação e Marketing: Renata Santayana Assessora de Imprensa: Carine Fernandes Relações Públicas: Luciana Moriguchi Jeckel Assistente de Comunicação: Cláudia Diniz de Farias

Missão:

Representar e congregar as instituições do ensino privado na promoção de sua qualificação permanente, diferenciação e sustentabilidade.

Visão:

FALE CONOSCO Redação Cartas, comentários, sugestões, matérias: educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br

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Informações Fones: (51) 3213-9090 | www.sinepe-rs.org.br Educação em Revista não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Por motivos de espaço e clareza, as cartas e artigos poderão ser resumidos.

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Ser referência como instituição no cenário educacional brasileiro, reconhecida pela eficiência na representação sindical e proposição de novos significados ao setor.

Valores:

• Compromisso com o Associado • Ética e Transparência • Competência • Cultura da Inovação • Responsabilidade Socioambiental


INTERN A CI O N A L

Touchdown, boas práticas devem ser reproduzidas Na sala de aula se enxergava apenas aquele homem de olhar sério e feições simplórias falando sem parar. Uma espécie de tela cobria toda a parede atrás dele, sobre ela gráficos e vídeos ilustravam os conteúdos de sua fala. Ao abordar o papel do consumidor no marketing 3.0, surgia de imediato o famoso vídeo ‘United Breaks Guitars’. Já, a análise da falta de efetividade de uma peça publicitária mal planejada era a deixa para surgirem na parede os comerciais exibidos ao valor de U$S 7 milhões por minuto e que mal foram compreendidos pelos telespectadores. Tudo parecia cronometrado. Os University California Los Angeles é o verdadeiro ‘Éden’ dos modelos ensino-aprendizagem alunos observavam os passos do mestre e admiravam sua capacidade de ensinar e resistência das entidades de classe sobre há o entusiasmo com a diversidade, com tornar simples tudo que outrora parecera qualquer avanço nesse sentido. O quadro o questionamento. Como bem salientara complicado. é agravado por um programa de ensino um dos diretores da Anderson School of O aparato tecnológico impressionava. O distante da realidade, cuja prática é ig- Management da UCLA, na cerimônia de conhecimento e a eloquência do profes- norada e não responde aos desafios da recepção aos alunos internacionais, “a sor encantavam. Mas era o interesse e o contemporaneidade. experiência educacional deve ser exataentusiasmo do grupo de educandos que Mas é na base do processo, dentre os mente assim: estudantes de origens difeditavam o ritmo das aulas. Assim que o alunos, que essas deficiências saltam rentes, formas de ver o mundo diferentes, professor indicava que era o momento aos olhos. O índice de evasão escolar é o tentando resolver juntos o mesmo problepara as dúvidas, mais de 40% da turma maior do Mercosul, segundo o Instituto ma”. No Brasil, por outro lado, em nossa erguia ansiosamente os braços e dispa- Brasileiro de Geografia e Estatística maior universidade, a USP, há apenas 2% rava pertinentes indagações ao satisfeito (IBGE), mais de 13%. Mais de 70% dos de alunos estrangeiros. professor. O interesse só aumentava alunos do 5º ano não dominam operações Deixar nosso país de lado, porém, não conforme o curso se encaminhava para o matemáticas e 48,4% não sabem ler ple- é a solução. Cada vez que conheço uma seu fim. Essa é a realidade na University namente. Sem falar na falta de motivação nova realidade reforço minha convicção California Los Angeles (UCLA), uma e de vontade de aprender. E o problema se sobre a importância de termos conscidas mais renomadas do mundo, que tive estende para o ensino superior. Enquanto ência do nosso tempo, do nosso entorno, oportunidade de frequentar para realizar sete dentre as dez melhores universidades para ver com mais clareza a realidade do mundo são norte-americanas, nenhu- nacional. Quanto mais observamos o dium curso de extensão de Estratégia e ma escola superior brasileira aparece ferente, maior será nossa capacidade de Marketing. Um verdadeiro ‘Éden’ dos nas cem primeiras posições. Uma série apontar nossas deficiências. Já é passada modelos ensino-aprendizagem. de fatores ajuda a entender nosso baixo a hora de inspirarmo-nos naqueles bons Enquanto isso no Brasil, no que diz exemplos que o mundo oferece. É hora respeito aos profissionais da educação, desempenho. Por lá todo o acervo das bibliotecas está desaparecendo, ou melhor, de marcar um ‘touchdown’ e virar o jogo. mais do que oferecer maiores salários há Sem preconceitos, deixando de lado as a necessidade crescente de qualificação, tendo seu acesso facilitado. Num futuro processo que passa pela conscientiza- próximo todo o conteúdo poderá ser aces- falsas impressões. E com humildade e sado online. Por aqui, por melhor equi- bravura exigirmos as transformações tão ção de docentes e instituições de ensino necessárias ao nosso sistema educacional. acerca da necessidade de formação peda- padas que sejam, as bibliotecas acabam subutilizadas. Seja pela falta do hábito gógica, além da avaliação do desempenho Yuri Vellinho de leitura, seja pela falta de empenho em desses educadores. Em dissonância com Estudante de Relações Públicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) torná-las mais atrativas. Em paralelo, lá as melhores práticas, contudo, há enorme

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Divulgação / Rede Marista

TENDÊNCI A S

Escola deve estar incluída na cultura digital

A nova geração se relaciona vi@ rede Por Vív ian Gamba

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ossa imersão na era digital é fato dado. Estejamos “conectados” ou não, fazemos parte desse processo. Isso porque os avanços extrapolaram a área das inovações tecnológicas nos mais diversos campos e chegaram ao que há de mais elementar entre as pessoas: o modo como elas se relacionam. Crianças e adolescentes estão crescendo com as redes sociais. Segundo a psicóloga e consultora organizacional Benne Catanante, estima-se que 11% da população brasileira com menos de 10 anos passam mais de quatro horas conectadas em redes sociais diariamente, enquanto que em outras partes do mundo essa proporção é de 7%. Se isso é bom ou não, não sabemos.

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Os impactos que vai sofrer essa geração, também não. Para a educadora e pesquisadora Léa Fagundes, que estuda a aplicação da informática na educação há 30 anos, a mudança cultural é tão rápida que os conceitos de espaço e de tempo se ampliam diariamente. “Nossa concepção de permanência, conservação e manutenção também. Há ilimitadas formas de se relacionar na web. E não é apenas um hábito que vai ‘impactar’ o desenvolvimento das novas gerações”, assegura. Para Benne, as redes sociais colocam os indivíduos mais rapidamente em contato com o cotidiano, com outras fontes de conhecimento, com a diversidade de pensamentos e interesses. “Isso é muito positivo para quem tem abertura e aceitação para com modelos diferentes dos seus métodos

e crenças. A força agregadora da rede social em torno de interesses coletivos é inquestionável e necessita ser estimulada para que o exercício democrático seja cada vez mais praticado.” Os limites, no entanto, são necessários, como em todas as áreas da vida. “Quando limites são entendidos como estabelecimento de valores que contrapõem atitudes e comportamentos prejudiciais ao indivíduo e à sociedade, fica mais fácil imaginar em que aspectos o uso das redes sociais necessita ser bem compreendido pelas crianças e até mesmo pelos adultos.” Ela dá o exemplo da filha de uma amiga, de nove anos, que ficou chateada porque o namorado da escola terminou o namoro (de três dias) pela internet, e dos dois irmãos dela, que acharam a atitude


“Limites são necessários como em qualquer área da vida” Valores devem ser o foco, não os meios de comunicação

do menino “grosseira”. A mãe já estava concordando com a avaliação das crianças quando Benne perguntou como o namoro tinha começado: pelo Facebook. Então, teve início uma reflexão conjunta: se ela aceitou namorar virtualmente e nem havia se encontrado com o garoto ainda, por que o rompimento haveria de ser feito de um modo diferente? Além disso, a menina estava mais chateada pelo fato de não poder falar para as amigas que tinha um namorado do que pelo “amor” não correspondido. “Evidentemente esse assunto nos levou a uma conversa mais longa e muito além do uso da rede social. Responsabilizei os adultos por lhes repassarem um valor equivocado, o de incentivar desde pequeno a considerar ‘namorado’ um colega com quem tem mais afinidade, mais amizade. Daí em diante a conversa versou sobre o cuidado em manter a privacidade e a integridade, e tudo mais que é importante preservar em relacionamentos presenciais e virtuais. Assim como os pais, os professores têm papel fundamental nesse processo. Para a psicóloga, um professor em sala de aula

pode ser “tão ou mais maléfico do que uma rede virtual, se ele não atua 100% consciente de que sua opinião, seus julgamentos e suas orientações irão marcar profundamente tanto para o bem quanto para o mal”. A mesma consideração cabe para o uso das redes e dos aplicativos disponíveis, a serviço de quem souber tirar o melhor proveito. “Então pergunto: onde está o professor hoje? Atuando em rede, contribuindo com seu saber, inspirando pesquisas e trocas de conhecimento ou acreditando que seu mundo se encerra na sala de aula?” Léa Fagundes alega que é preciso que a escola esteja incluída na cultura digital, de fato. “Isso cria a necessidade de passar a incorporar novos paradigmas. A escola precisa se organizar como uma instituição que privilegia os direitos humanos, que pratica em toda sua amplitude a participação, a solidariedade e a cooperação. Seus alunos podem escolher o que preferem estudar? Têm a liberdade de errar e receber colaboração para tentar acertar? Eles podem buscar entender melhor um problema cooperando com um pequeno grupo de

colegas?” Para a educadora, “muitas vezes o professor que quer mudar as atividades para transformar os alunos em pesquisadores (que fazem perguntas, pensam e desenvolvem a inteligência) sofrem porque os pais estão preocupados com a conteúdo (formal)”. Léa defende o uso irrestrito do computador. “Criança tem que ter computador, na rede. Tem que ser todo dia e disponível”. Benne dá outro exemplo, de duas crianças que tiveram dúvida sobre uma palavra. “Na minha infância eu teria pegado um dicionário, mas a menina correu para o computador, entrou numa página de pesquisa e digitou: ‘o que quer dizer incencivel?’ A resposta não demorou um segundo: ‘você quis dizer: insensível’ e mais de 500 mil citações sobre o significado. Se aquela criança fosse procurar no dicionário, com certeza não iria encontrar nada. Nem uma dica de que a grafia estava incorreta.” “As crianças exploram livremente”, defende Léa. “Precisamos deixar que elas usem a rede e acompanhá-las como um amigo, como uma pessoa em quem ela pode confiar”, ensina.

Educação 11


interdisciplinar

O tempo

pede tempo Por Gabr iela Di Bella

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aro leitor, quando foi a última vez que você fez algo de que realmente gosta? Tem a sensação de que não tem tempo para nada? Gostaria de ter mais tempo só para você, em um dia com 48 horas? Certamente essas questões já devem ter passado pela sua cabeça e de 99,9% da humanidade. Principalmente pelo fato de que vivemos numa sociedade onde o normal é não ter tempo. O estresse e a correria já são corriqueiros e parece que não temos como nos salvar dessa ‘falta de tempo’. O problema da falta de tempo atinge tanta gente que, atualmente, existem pessoas especialistas nessa questão. Uma delas é o empresário, consultor e palestrante especializado no tema da administração do tempo e produtividade pessoal, Christian Barbosa. Ele afirma que fácil não é, “precisamos mudar nossa forma de agir e de pensar. Demora algum tempo, é preciso exercitar muito. E é com a prática que se começa a ter mais o domínio sobre o tempo e com isso ter mais liberdade”. O próprio Christian quase se tornou uma

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O problema da falta de tempo atinge grande parte dos brasileiros

vítima do estresse e do excesso de funções. Tempo’. Christian desenvolveu um ‘sisteAos 14 anos ele passou numa prova da ma’ no qual a vida deve ser dividida entre Microsoft, aos 15 já trabalha na empresa, as questões urgentes, as importantes e as aos 17 tinha a própria empresa e dos 18 circunstanciais. Sendo que as questões para os 19 um tumor no aparelho digesti- ditas importantes seriam aquelas que realvo. E foi ali que ele começou a mudar a mente importam na vida da pessoa, cada própria vida e a ajudar os um tem as suas e o essencial outros a pensarem sobre é descobri-las. Podem ser O brasileiro o assunto. “Cheguei ao desde viajar para a Europa dedica fundo do poço, ali me como ter mais tempo para dei conta de que precisafamília ou ver televisão. apenas va mudar. Fiz um curso As urgentes são questões de gestão de tempo e importantes que as pessoas 30% do seu demorei seis meses para deixam tornarem-se urtempo para ter resultado na minha gentes. Um exemplo dado vida. Persisti, porque eu por Christian: agendar um os trabalhos sou um cara chato para check-up no cardiologista é essas coisas. Não é fácil, importante, se você não vai importantes eu era um viciado em e tem um ataque cardíaco, trabalho, eu não tinha isso torna-se urgente. E as hobby, tive que desenvolver um processo circunstanciais podem ser reuniões ou lude autoconhecimento.” A partir gares a que as pessoas vão mais por quesdisso ele criou o que chama de ‘Tríade do tões sociais ou porque os outros querem do


que por vontade própria e que não agregam muita coisa àquilo que é importante. Em suas pesquisas, Barbosa descobriu que o brasileiro dedica apenas 30% do seu tempo para os trabalhos importantes, deixando tudo para a última hora, ou seja, dedicando grande parte do seu tempo para as tarefas urgentes. Essa atitude pode trazer sérias consequências, como desenvolver

a síndrome de Burnout, que é também chamada como síndrome do esgotamento profissional, no qual a pessoa começa a sofrer sérios distúrbios de saúde relacionados ao trabalho. Ele afirma que o Brasil é o segundo país do mundo no índice da síndrome de Burnout, só perde para o Japão. Há alguns países que têm o nível de stress baixo, como a Suíça, por exemplo,

ou a Suécia, onde as pessoas costumam ser mais organizadas. A Ph.D. especialista no tratamento do stress e biofeedback e diretora da Clínica de Stress e Biofeedback, Ana Maria Rossi, também considera uma tríade na hora de administrar o tempo. Ela fala que o dia deve ser dividido em três partes, sendo oito horas dedicadas ao trabalho. “Normalmente as pessoas acabam dedicando muito mais que isso. Ficam muitas horas sentadas na mesma posição, o que provoca dores e estresse físico e mental”, diz ela. Esse estresse leva as pessoas a negligenciarem o que para elas realmente importa. Para manter esse foco bem presente ao longo do ano, Christian indica que o primeiro passo é usar agenda, um caderno, um bloco, qualquer coisa onde se possam agendar as atividades. “Não se deve fazer isso só na cabeça, ela é feita para pensar e ter foco. Agendar tudo nela é o pior modelo de gestão do tempo. Além disso, as pessoas não devem levantar de manhã pensando no que vou fazer hoje, o ideal é pensar e planejar três dias pra frente, no mínimo.” Mas ele também acredita que é necessário um tanto de criatividade: “Eu acho que a vida fica sem graça se a gente se torna um robô da execução e deixa nossos sonhos de lado, e principalmente, nosso equilíbrio. Vida de robô executor dá câncer para seres humanos”. Então, caro leitor, voltando à primeira pergunta dessa matéria, você lembrou quando foi a última vez que fez algo de que realmente gosta? Caminhou na praia, ou ouviu o disco do cantor que mais adora? Ou a lembrança da falta de tempo está bem mais presente? Que tal trocar o sonho do dia de 48 horas por uma agenda 2012? Com autoconhecimento (para identificar o que realmente é prioritário na sua vida) e organização para incluir as prioridades no seu dia a dia isso é possível!

saiba mais

O estresse leva as pessoas a negligenciarem o que para elas realmente importa

Confira na seção da Educação em Revista, no portal do SINEPE/RS, dicas práticas de Christian Barbosa sobre como administrar bem o tempo. Saiba mais em: www.sinepe-rs.org.br

Educação 13


sala de aula

Os desafios da docência universitária

A

Por Ma icon Bock

Educação (LDB), de 1996, é superficial ao abordar o processo de formação dos docentes universitários. O artigo 66 diz que o professor será preparado, prioritariamente, nos programas de mestrado e doutorado. Orientações diretas para a formação do professor universitário não são estabelecidas objetivamente, o que a deixa sob responsabilidade das universidades ou de iniciativas individuais. O problema é admitido por especialistas em educação, como José Carlos Libâneo, professor titular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás: “De modo geral, no Brasil, o professor do Ensino Superior não tem formação pedagógica. Ou seja, o docente não junta na sua profissão o conhecimento disciplinar e o conhecimento pedagógico. É assim

em muitos outros países. Mas isso não quer dizer que inexista a preocupação das universidades e faculdades em propiciar aos seus professores uma base de formação pedagógica”. Embora iniciativas de formação dos docentes possam ser encontradas em diversas instituições pelo país, Libâneo avalia que parte da culpa pela falta de didática recai sobre os próprios profissionais, que ainda mantêm atitude de descrédito em relação à didática e à pedagogia, como se pensassem que “para ensinar anatomia, basta saber anatomia”. Por trás desse pensamento pode estar a cultura instalada nas universidades em relação à atividade do ensino. “Muitos docentes universitários não assumem o papel de professor como profissão, ou seja,

Renata Stoduto / Unisinos

palavra docência surgiu nos primeiros dicionários de Língua Portuguesa há menos de cem anos. O termo tem origem na palavra docere, do latim, que significa ensinar, instruir, mostrar, indicar. Nesse período relativamente curto, quando se fala em educação, a docência se transformou. Já não basta ao professor conhecer o conteúdo como poucos e ser um expoente de sua área de atuação no mercado de trabalho. No Ensino Superior, é preciso aliar o conhecimento técnico com a didática. A docência requer formação profissional a quem pretende exercê-la adequadamente. Embora isso possa parecer óbvio, a realidade é outra. No Brasil, a lacuna começa na principal legislação. A Lei de Diretrizes e Bases da

Legislação brasileira apresenta lacunas quanto à formação pedagógica do professor

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Caroline Ferrari / UniRitter

não assumem que, na condição de professor, eles têm duas especialidades: são especialistas no conteúdo de sua matéria e especialistas no ensino dessa matéria. Mesmo os que se sentem vocacionados como professores e, por isso, gostam de ensinar, fazem prevalecer na sua prática a pedagogia tradicional: aulas expositivas, valorização da memorização, reprodução mecânica do conteúdo, exacerbação da prova”, analisa Libâneo. No Rio Grande do Sul, a realidade da docência no Ensino Superior é alvo constante de pesquisas. O Programa de Pós-Graduação (PPG) em Educação da Unisinos analisou ao longo de três anos o lugar da formação do professor universitário. De acordo com Maria Isabel Cunha, que esteve à frente do estudo, os resultados UniRitter investe na capacitação de professores para os novos desafios da docência evidenciaram alguns problemas, como a premissa equivocada de que há uma rela- Libâneo analisa que as aulas tradicionais, professor tenha mais ferramentas a ofereção de qualidade entre a pesquisa e o ensino, em que apenas se transfere o conhecimento, cer ao aluno. Nossos alunos são da Geração que induz à percepção de que a pós-gradusão insuficientes. Os professores precisam Y, que já cresceram com celular, notebook ação stricto sensu nas áreas específicas, ser incentivados pelas instituições a presta- e internet, fazem três ou quatro coisas ao ao formar mestres e doutores para a pesrem mais atenção às características indivi- mesmo tempo durante a aula. É diferente quisa, os qualifica para a docência. “Não duais, sociais e culturais de seus alunos.“O de anos atrás, por isso temos de olhar esse raras vezes as avaliações professor aluno de forma diferente de 20 anos atrás. realizadas pelos alunos universitário Não é só o conhecimento que se atualiza, A preparação para e reafirmadas pelos conecessita de mas a forma de aprender também”, comenordenadores de cursos de alternativas às ta Laura Frantz, pró-reitora de Ensino do a pesquisa não graduação indicam que aulas somente UniRitter. os mais prestigiosos pescontempla os saberes expositivas. O desafio que surge às universidades e quisadores não alcançam Ele precisa aos pedagogos na formação pedagógica de da docência” êxito como docentes. E criar situações seus professores é, nas palavras de Libâneo, essa não é uma situação didáticas que organizar uma estrutura de apoio que assoMaria Isabel Cunha esdrúxula; somente reamobilizem cie os aspectos da disciplina e da didática firma que a preparação a atividade com as características dos estudantes. para a pesquisa não contempla os saberes mental dos alunos”, alerta. Atento a esses da docência e, muitas vezes, desestimula os novos desafios, o UniRitter, de Porto saiba mais professores a essa função”, analisa.Diante Alegre, tem promovido encontros periódiNa página da Educação em dessas constatações e somado ao fato de cos abordando o uso da tecnologia na sala Revista no portal do SINEPE/ RS a professora Maria Isabel de aula. “Nós estimulamos os professores a que a realidade da sala de aula é cada vez Cunha aponta caminhos usarem vários recursos para que a aula não mais complexa a partir do novo perfil dos para aperfeiçoar a formação seja apenas expositiva. Sem tirar a imporestudantes, faz-se necessária uma reavaliadocente. Confira em: www.sinepe-rs.org.br tância desse tipo de aula, queremos que o ção da pedagogia universitária. José Carlos

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em debate

A polêmica lei da palmada Nina Furtado A “lei da palmada”, em muitas ocasiões discutida no ano que passou, em todo o país, merece ser sempre assunto. Ao meu olhar, este destaque já a justifica. Não entrarei no terreno jurídico da questão, que aponta, entre outros aspectos, a impossibilidade de se fiscalizar dentro das casas de pais violentos, irmãos agressores, mães alcoolistas ou doentes emocionalmente. Isto só para citar alguns exemplos frequentemente incontroláveis. Também sempre é ressaltado que tanto na Constituição Brasileira como no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já existem leis que contemplam punições para tais infratores. Como é de conhecimento público, a lei proposta pelo Congresso Brasileiro no ano de 2011 visa punir cidadãos que agridem crianças, que são causadores de maus-tratos físicos. As penas variam de leves (serviços prestados, multas) até a detenção. O que quero chamar atenção aqui é para a grande dificuldade que pressiona e confunde as pessoas que têm a tarefa de educar. A questão dos limites na educação de nossas crianças está em crise. É uma situação complexa demais para ser resolvida apenas por uma lei. Ela abrange, no mínimo, aspectos sociológicos, culturais, econômicos e psicológicos, além dos jurídicos. Não penso que possa ser simplificada com a criação de uma nova lei, por mais bem-intencionada que seja. Mesmo assim a criação da lei é

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mais um dos muitos alertas que devemos manter sempre acesos frente à violência doméstica. Destaco alguns pontos: Pais pressionados a crescer economicamente, obter bens de consumo, competir em uma sociedade de exigências, onde o “ter” suplantou o “ser” há muito tempo. A ideia é de que bons pais são aqueles que não frustram seus filhos. Engano, pois não permitem que eles tenham a oportunidade de reconhecer a realidade. O “não”, que muitas vezes é penoso, desenvolve tolerância, resiliência, capacidade de pensar e ter consideração pelo “outro”. Isto é crescer. Esses pais poderão ter dificuldades em lidar com limites e frente às suas próprias frustrações e culpas, agredirem a criança exigente. Sabemos que é uma situação construída com o tempo, que não se estabelece repentinamente e a agressão física é a última instância de um grupo estressado. Todos sofrem. Outro aspecto que destaco, pois chamou muito minha atenção, foi resultado de uma pesquisa que realizei em uma escola particular de Porto Alegre. Juntamente com uma professora, Tatiana Franarin, aplicamos questionários para serem respondidos por todos os alunos alfabetizados da instituição. Foram quase 400 questionários. Tratava-se de questões sobre suas atividades, uso do computador e da televisão, hábitos e preferências. Obtivemos informações valiosas e ricas, mas o que mais nos alarmou foi a solidão das crianças e

dos adolescentes. Eles passam, em média, de 4 a 6 horas por dia vendo TV ou usando o computador, sozinhos. Ou seja, não há alguém capaz, acompanhando esses momentos, que possa ajudá-los a discernir o que é adequado, moralmente aceito ou eticamente correto. Penso que com essa realidade os pais e educadores conhecem muito pouco suas crianças, e quando se surpreendem com atitudes inadequadas, aprendidas na solidão de seus quartos, despertam reações agressivas nos confusos e assustados pais. Desejo salientar que o fato de a chamada “lei da palmada” suscitar essas reflexões e alertar para os maus-tratos frequentes a que são submetidas nossas crianças já a justifica. Poderá ser mais uma ameaça restritiva ao uso da força e da agressão de adultos contra crianças indefesas. Penso que todas as medidas preventivas, como apoio e educação disponíveis às famílias, seriam úteis. Acredito também que é muito importante definir o que são maus-tratos, tais como agressões repetidas, surras, castigos humilhantes e pressões psicológicas, até para não sobrecarregar um pai dedicado e amoroso que, estressado, dá uma palmada leve em seu filho. Já tive oportunidade de acalmar pais que se sentiam eternamente responsáveis, causadores de “traumas” por terem uma vez dado um tapa na bunda do filho manhoso. Médica, psiquiatra, psicanalista, professora da Faculdade de Medicina da PUCRS, mestre e doutora em Comunicação Social.


Desde que foi aprovado na Câmara dos Deputados, no final de 2011, o projeto de lei que proíbe aos pais a aplicação de castigos físicos nas crianças tem gerado debate e polêmica entre autoridades e especialistas em educação. Conhecida como a Lei da Palmada, a proposta altera o artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente ao prever que “a criança e o adolescente têm o direito de serem educados e cuidados sem o uso de castigo corporal ou de tratamento cruel ou degradante”. Educação em Revista convidou duas especialistas para analisarem a proposta, confira:

Tania Zagury Quero esclarecer que as reflexões abaixo se referem somente ao projeto de lei da palmada. Sou contra qualquer tipo de agressão física, especialmente contra crianças, como venho reiterando há anos. A meu juízo, a chamada Lei da Palmada é desnecessária. Já temos leis para punir agressões físicas: o Artigo 129 do Código Penal diz que “ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem” dá pena de três meses a um ano de detenção. No Parágrafo 9º, completa: “se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade”, a pena variará de três meses a três anos. A nova lei é, portanto, redundante. Além disso, o legislador não projetou minimamente sua operacionalização: caso aprovada, o Estado necessitará contratar, não qualquer profissional ou burocrata, mas pessoas aptas a analisar com rapidez e eficiência os casos, de forma a que não se cometam injustiças e para evitar que centenas de processos venham a somar-se aos milhares que já se acumulam no Judiciário. O legislador parece acreditar que, por alguma misteriosa razão, nesses casos, tudo andará veloz e eficientemente. No entanto, desde a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, mais de 20 anos se passaram e não

temos ainda Curadores de Menores em todos os municípios. E em parte dos que os têm, o próprio governo admite, o cargo é utilizado politicamente, razão porque está estudando criar um esquema de profissionalização dos conselheiros. Estarrecedor... Por isso, acima de tudo, preocupa-me a delicadeza da tarefa. A não ser em caso de lesão física visível, separar adequadamente o que é agressão do que é sanção educativa não é para qualquer um – e a lei inclui “maus-tratos psicológicos e morais” em seu bojo. O próprio caminho que o projeto define como forma de acesso ao suposto agressor me parece perigoso: a denúncia. Qualquer um, invejoso ou mal-informado, poderá fazê-lo, e até o próprio filho. Ora, se nossa constituição define menor como “incapaz”, como lhe atribuir capacidade para julgar atos de seus responsáveis? A natural imaturidade da idade não os levará a ameaçarem seus pais simplesmente por lhes negarem o que desejam? Já não estão as novas gerações suficientemente sem limites e sem respeito pela autoridade? Encaminhado ao órgão competente, o pai será, de início, advertido. A pretensão é no mínimo ingênua: com um pito, acredita o legislador que irá transformar exitosamente o violento num carinhoso pai! Pais reincidentes terão que frequentar “cursinhos”. Nesse período as empresas nas quais trabalham relevarão suas faltas

– sem descontos ou demissões? A lei prevê isso? Se ainda recalcitrarem, poderão perder o pátrio poder – e a liberdade. Acredito que os legisladores, a essa altura, já providenciaram instituições de gabarito para amparar não apenas a criança, mas seus irmãos, que, obviamente, não poderão permanecer em casa de pai desalmado. Lembrando que quase 40% das crianças brasileiras vivem em lares sustentados por apenas um dos genitores, imagine-se a pletora... Ou se pretende conduzir essas crianças para locais tipo febens? Legislar não é apenas fazer leis, mas também ter responsabilidade sobre suas consequências sociais. Além de tudo, a Lei da Palmada faz parte de um grupo de medidas elaboradas por legisladores que consideram que estão habilitados, melhor do que ninguém, a determinar o que-fazer do cidadão comum, em áreas de âmbito da consciência individual. Com frequência preocupante tentam interferir no direito de cada um decidir como viver e agir. Tais projetos revelam subliminar crença na superioridade entre “a massa que precisa ser conduzida porque nada sabe” e seus dirigentes, “que sabem o que é melhor para todos”. Se tal visão prevalece, em médio prazo, estaremos caminhando para a efetivação, via legal, de um estado autoritário e antidemocrático. Filósofa, Mestre em Educação e professora adjunta da UFRJ

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André Seewald / Unisinos

gestão

Dentro das universidades empresas podem atrair profissionais capacitados para inovar e aprimorar seus produtos

Parques tecnológicos impulsionam universidades Por Ma icon Bock

O

s planos da HT Micron são ambiciosos. Até 2016, a empresa que nasceu de uma associação entre a sul-coreana Hana Micron Co. e a gaúcha Parit Participações pretende atingir o faturamento de R$ 1 bilhão e gerar 1,3 mil empregos diretos com a fabricação de chips para celulares. Instalado no Tecnosinos, dentro do campus da Unisinos, em São Leopoldo, o empreendimento é um símbolo do momento que vivem as universidades gaúchas

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que investem no desenvolvimento de parques tecnológicos. Uma fase promissora de crescimento. Empresas de tecnologia descobriram nos últimos anos a melhor maneira de atrair profissionais capacitados para inovar e aprimorar seus produtos: instalando-se dentro das universidades. Especialista em gestão universitária e coordenador do curso de MBA em Gestão da Tecnologia da Unisinos, Oscar Kronmeyer avalia que a existência dos parques tecnológicos é uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que ajuda as empresas a fisgarem

os melhores talentos da área acadêmica para seus quadros, permite às instituições de ensino terem recursos para investir na formação. “Há natural distanciamento entre empresas e universidades. Os parques tecnológicos criam uma aproximação entre as duas instituições capaz de transformar a ciência, algo abstrato, em tecnologia, que é o conhecimento aplicado a um produto”, analisa Kronmeyer. Uma vez instaladas dentro das universidades, as indústrias costumam oferecer bolsas a seus profissionais, sustentando cursos de pós-graduação


Gilson Oliveira / Divulgação PUCRS Implantação do Tecnopuc, na PUCRS, estimulou a inovação e o empreendedorismo no ambiente acadêmico

É necessário alinhamento entre o que o mercado quer e a área na qual a universidade é reconhecida” Oscar Kronmeyer

São Leopoldo, em 1997, o Tecnosinos, instalado na Unisinos, fez aumentar a procura pelos cursos de Engenharia, área em que há carência de profissionais no Brasil. No caso do Tecnosinos, ainda, houve a inclusão de um novo setor na economia regional, diversificando a área de atuação, antes caracterizada principalmente pelos setores coureiro-calçadista e metal-mecânico. Já a implantação do Tecnopuc, da PUCRS, em Porto Alegre, deu origem a um integrado sistema de estímulo à inovação e ao empreendedorismo baseado em projetos de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P,D&I)) cooperados, denominado rede Inovapuc. O foco da atuação da iniciativa é promover esforço multidisciplinar para buscar soluções e oferecer respostas às demandas da sociedade em termos de desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural. O governo do Estado reconhece e incentiva os 23 polos tecnológicos gaúchos. Para este ano, a Secretaria Estadual da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (Scit) tem previstos no orçamento R$ 17 milhões para investimentos nessas unidades. No fim do ano passado, o secretário Cleber Prodanov, que foi um dos gestores da Valetec, da Feevale, firmou convênio com cinco instituições e prometeu buscar mais recursos.

Gilson Oliveira/Divulgação PUCRS

e mestrados. É um ciclo. A universidade forma profissionais para o mercado. Este transforma o conhecimento em tecnologia, a tecnologia em produto. O produto gera recursos para acionistas, e uma parte volta a ser investida em pesquisa e formação de pessoal dentro das universidades. Kronmeyer define o ciclo como a “sustentabilidade” das instituições. Para ele, não há desvirtuamento da atividade-fim, que é o ensino. Pelo contrário, há um impulso da área acadêmica. Para as instituições, a existência dos parques tecnológicos tem ainda outro reflexo, a atração dos melhores alunos. “Para a organização, o parque possibilita alta sintonia com as demandas do mercado, garantindo de forma continuada a vitalidade do conhecimento”, avalia a socióloga Susana Kakuta, gestora executiva do Tecnosinos, o primeiro parque tecnológico do Rio Grande do Sul. Desde a criação, com o nome de Polo de Informática de

Atenção antes de abrir um polo tecnológico

Especialistas garantem que instituições de qualquer porte podem ter uma unidade tecnológica. Oscar Kronmeyer analisa que é necessário eleger áreas prioritárias atendendo a dois aspectos: “É necessário alinhamento entre o que o mercado quer e a área na qual a universidade é reconhecida”. Uma área com campo aberto, na avaliação de Kronmeyer, é a ambiental, como a área de despoluição. O diretor do Tecnopuc, Roberto Moschetta, avalia que a decisão estratégica de trilhar o caminho da inovação e empreendedorismo requer apoio incondicional da alta administração da universidade. “Além disso, um consistente sistema de governança, com claras definições de papéis executivos e alçadas de conselhos, necessita estar constituído para viabilizar contratos de gestão viáveis e desafiadores”, afirma. Com a consolidação dos primeiros parques tecnológicos gaúchos, instituições de ensino que ainda não entraram nesse segmento vivem um momento promissor para refletir sobre a implementação de unidades semelhantes. Inserir esse projeto em seus planejamentos estratégicos pode ser uma alternativa interessante, uma vez que há uma postura positiva do governo em apoiar esse mercado. Além disso, a sociedade necessita de desenvolvimento e profissionais capacitados para esse novo segmento.

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gestão

Case

São Judas Tadeu cresce acima do esperado com melhorias na gestão

Instituição conseguiu ampliar em 15% o número de alunos nas unidades e reduzir a evasão

A expansão do ensino superior no Brasil, na última década, trouxe novos desafios às instituições de ensino. Com o aumento da concorrência, os estabelecimentos têm buscado mecanismos para se diferenciar no mercado e atrair novos estudantes. Foi o que aconteceu com a São Judas Tadeu, de Porto Alegre. Frente à concorrência crescente, a instituição precisava revitalizar sua imagem e promover mudanças em sua gestão. Assim,

Estratégia da São Judas Tadeu Ampliação e qualificação da oferta de ensino, pesquisa e extensão Campanha de comunicação e criação de novos canais de comunicação e relacionamento Revitalização da marca e fortalecimento da imagem junto aos públicos interno e externo

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definiu como objetivos para o período de 2009 a 2011: ampliar o número de alunos do colégio em 15%; aumentar as inscrições no vestibular em 15%; aumentar o número de alunos das Faculdades Integradas em 10%; e reduzir a evasão de alunos em 15%. Para isso, foi definido um conjunto de estratégias que incluiu: revitalização da marca; expansão da qualidade da educação; integração entre as áreas de ensino pesquisa e extensão; otimização dos produtos oferecidos; consolidação de grupos de pesquisa; ampliação da oferta de cursos e programas de Educação a Distância; investimento no relacionamento com a comunidade acadêmica; melhora na infraestrutura; construção de uma nova proposta pedagógica para o Colégio São Judas Tadeu; e investimento em responsabilidade social. Uma das ações de maior impacto foi a revitalização da marca, que foi modernizada , valorizando a tradição e a qualidade da instituição. Esta nova mensagem foi levada tanto para o público externo quanto o interno. Além de uma campanha de comunicação e da criação de novos canais de comunicação e relacionamento dirigidos a alunos e potenciais alunos, o quadro de professores

e funcionários também foi alvo de uma série de iniciativas visando ao engajamento e à elevação da estima. O novo posicionamento foi comunicado não só em anúncios e mídia exterior, mas também na Web. O site da instituição foi reformulado, foram desenvolvidos vídeos para divulgação no YouTube e criados perfis nas redes sociais. Os esforços para ampliação e qualificação do ensino também mereceram destaque na estratégia da São Judas Tadeu. O estímulo às práticas pedagógicas inovadoras, o desenvolvimento de Programas de Educação Continuada, a reformulação da proposta pedagógica do Colégio, o investimento na infraestrutura educacional e a integração entre ensino, pesquisa e extensão são algumas das iniciativas estratégicas que apoiaram o movimento de revitalização da imagem da Instituição junto a seu mercado de atuação. A partir da implementação da estratégia, a São Judas Tadeu atingiu e superou os objetivos definidos para o período de 2009 a 2011. O número de alunos do Colégio cresceu em 26%. O número de inscritos no vestibular, 21,16% e o número de alunos das Faculdades aumentou 15,58%. A evasão foi reduzida em aproximadamente 20%. Os resultados alcançados permitem fazer projeções otimistas para os próximos anos.

saiba mais

A Instituição Educacional São Judas Tadeu foi fundada em 1946 por uma jovem imigrante húngara, Elisa Verinha Romak Alves, e hoje é uma sociedade civil, educacional, sem fins lucrativos, com a finalidade de manter estabelecimentos de ensino infantil, fundamental, médio e superior. A Instituição iniciou suas atividades por meio do Colégio São Judas Tadeu. Atualmente, além do Colégio, a São Judas mantém as Faculdades Integradas São Judas Tadeu, ofertando cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de Administração, Ciências Contábeis, Direito, Educação Física e Pedagogia.


op i n i ã o

Escola, indisciplina e resolução de conflitos A indisciplina é um tema recorrente nas escolas e tem sido objeto de estudo de muitos pesquisadores na área da educação. Pensar em indisciplina requer pensar na totalidade das relações que são estabelecidas entre todos os membros da instituição educacional – a escola, que, por sua vez, está inserida em um contexto histórico-social mais amplo. É no interior do ambiente escolar que podemos perceber as implicações e os reflexos dos embates que perpassam esses contextos, e, em decorrência disso, a indisciplina se apresenta como uma das principais questões que comprometem as relações, refletindo-se também sobre os processos de ensino e de aprendizagem. Nesse sentido, não se pode afirmar que a questão disciplinar seja uma temática contemporânea, mas sempre atual, tendo em vista que, para além das práticas educativas que são direcionadas ao desenvolvimento do intelecto, da motricidade e do convívio social, a escola também age em um nível que é o da correção, do disciplinamento e da normalização das condutas. Podemos considerar que alguns dos problemas contemporâneos – conflitos – culminem em atos de violência, indisciplina e falta de limites. Talvez tais práticas de violência sejam uma resposta para a falta de diálogo em uma sociedade em que os sujeitos se encontram cada vez mais isolados, privados do convívio cotidiano e escondidos atrás de seus perfis nas redes sociais. Além disso, esse comportamento de agressão pode ser também fruto do desconhecimento de outros modos/meios de resolução dos conflitos que devem surgir como rituais a serem seguidos, ensinados e desenvolvidos pela própria instituição escolar. Faz-se necessária, também, uma reflexão sobre o lugar que a escola, o jovem e a moral ocupam hoje na sociedade. A

crescente valorização da dimensão privada, em detrimento da pública, faz com que os alunos pouco considerem as funções de caráter coletivo e social. Além disso, a relação quase comercial que se estabelece entre a família e a escola também contribui para a existência desse quadro. Há uma diferença entre o perfil de aluno imaginado pelos educadores e aquele que encontramos, de fato, nas escolas hoje. Assim como há uma distância entre o papel imaginado pelas famílias e a escola que, de fato, elas encontram hoje. Será que realmente estamos preparados para solucionar conflitos criados por essa diversidade de pontos de vista? A educação para a cidadania supõe o preparo do aluno para o convívio social, que inclui o reconhecimento de direitos e deveres, o respeito aos limites, além da reflexão sobre as consequências das ações para o bem individual e coletivo. A educação precisa garantir a conquista da autonomia pelos alunos, mas também precisa ensinar a eles que tais valores não os liberam das exigências do convívio social. A forma como acreditamos que devam ocorrer as relações entre os diversos sujeitos envolvidos na vida da escola precisa estar clara não só nos documentos oficiais, mas no dia a dia da instituição. E também não adianta apenas estar clara e visível se não tiver sido construída por todos, se não tiver sua gênese e seus valores de base produzidos pelo diálogo e pela prática da convivência. A própria figura do professor é a representação da instituição escolar em sala de aula e, nesse sentido, constitui-se em extensão daquilo em que a instituição acredita e que propõe, tanto em termos educacionais quanto valorativos, para o desenvolvimento e as boas relações entre os sujeitos. Às vezes, quando não se consegue

estabelecer boas relações no âmbito escolar, há uma intervenção externa sobre a escola e os processos educativos: acontece um fenômeno denominado judicialização das relações escolares (ação da Justiça no universo da escola e das relações escolares). Esse tema se apresenta como mais um desafio às instituições de ensino, sejam elas públicas ou privadas. É fundamental que os profissionais que trabalham na educação conheçam, além da LDB, as atribuições que constam no Código Civil Brasileiro. Tais conhecimentos favorecerão a realização de um trabalho mais coerente e justo, vindo ao encontro da construção desse sujeito mais crítico e autônomo. É preciso entender o desenvolvimento moral, social e cognitivo das crianças e dos jovens com o objetivo de educar para a reflexão, a crítica e a participação. Para isso é necessário o envolvimento da comunidade escolar no processo de reflexão e construção das regras, promovendo uma conscientização acerca das obrigações legais, em consonância com a proposta pedagógica da escola. Este é o grande desafio a todos os gestores e educadores em conjunto com as famílias: é preciso promover boas relações na base do diálogo, estabelecendo processos claros e primando para que o ambiente escolar influencie o desenvolvimento moral dos alunos, resolvendo seus conflitos interpessoais de forma não violenta. Marícia da Silva Ferri

Diretora Educacional do Colégio Santa Inês e Doutoranda em Educação pela PUCRS

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Divulgação / Colégio Farroupilha

c apa

Escola pode auxiliar jovens a desenvolverem suas habilidades sociais para evitar o contato com o álcool

O ÁLCOOL LONGE DOS JOVENS

A

Por K a r i ne Ruy

proibição da venda de bebida alcoólica para menores de 18 anos é uma entre tantas outras leis brasileiras que ainda não conseguem provocar efeitos práticos. Os cartazes lembrando o requisito da maioridade costumam ornamentar as paredes de estabelecimentos comerciais, mas não impedem que cervejas, destilados e outros tipos de bebidas tenham se transformado em ingredientes usuais na vida social de muitos adolescentes. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, realizada pelo IBGE em 2009 com estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental de 6780 escolas brasileiras, coloca Porto

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Alegre e Curitiba como as capitais com maior percentual de consumo de bebida alcoólica entre os entrevistados, 36,4%. Outros dados similares aparecem na pesquisa realizada em 2009 pelo projeto Este jovem brasileiro, iniciativa do Portal Educacional. Dos 12 mil jovens participantes, mais de 37% afirmaram ter bebido pela primeira vez antes dos 13 anos. Segundo o levantamento, o local onde esses adolescentes experimentaram bebida pela primeira vez fica empatado entre baladas e a própria casa. (Confirma mais dados no quadro na página 25.) O hábito parece não causar o mesmo tipo de incômodo social que drogas ditas “pesadas”, mas nem por isso traz consequências brandas. Para uma

criança ou adolescente, o consumo de álcool pode representar danos severos à saúde: diminuição na produção de hormônios como estrogênio e progesterona, alteração na disponibilidade de oxigênio para o cérebro, prejuízos à formação de algumas estruturas cerebrais, principalmente o hipocampo, e comprometimento da memória – essencial para o aprendizado. Tão ou mais desafiador que a série de condicionamentos de ordem cultural é a fiscalização – e punição – de quem permite chegar às mãos de um adolescente menor de 18 anos a bebida alcoólica. O tema é destaque na pauta de trabalho do Fórum Permanente de Prevenção à Venda e ao Consumo de Bebidas Alcoólicas por Crianças e


Adolescentes, do Ministério Público do Rio Grande do Sul, e já motivou uma resolução inédita no Estado no início deste ano: um documento assinado pelo Procurador-Geral de Justiça, Eduardo de Lima Veiga, recomendando o posicionamento de que “a venda, o fornecimento e a entrega, de qualquer forma de bebida alcoólica, a crianças e adolescentes, é conduta incriminada pelo art. 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente”. O objetivo da recomendação é alinhar o posicionamento entre o judiciário e a polícia. Apesar de o Estatuto dizer claramente que o fornecimento de bebida alcoólica a crianças e adolescentes pode acarretar detenção de dois a quatro anos, as autoridades sabem que, na prática, esse tipo de punição é rara no Brasil. “O STJ dá pouca importância para uma conduta que causa muitos danos para o jovem”, afirma a procuradora de Justiça Maria Regina Fay de Azambuja. É dessa visão que começa no topo da estrutura da Justiça brasileira que o Rio Grande do Sul quer se diferenciar. “Se a polícia desvalorizar e disser que não é crime isso nem chega ao MP”, pondera a procuradora. Mas Maria Regina sabe que o trabalho de prevenção deve andar lado a lado com a Justiça. “A escola tem que abordar essa pauta. Tem que ser um trabalho educativo. Os jovens não sabem os prejuízos que o hábito de beber traz”, pondera. O impacto começa pelos números. Em 2011, levantamentos divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostraram que 2,5 milhões de pessoas morreram em função do consumo inadequado do álcool em 100 países. Dessas, 320 mil tinham entre 15 e 29 anos.

Álcool e Drogas (CPAD) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, chefiado pelo médico Flavio Pechansky, que motivou a recomendação do Ministério Público gaúcho. Segundo as pesquisas médicas, a exposição do cérebro a substâncias químicas como o álcool antes da completa formação do cérebro humano pode prejudicar o desenvolvimento intelectual. “A literatura científica atualmente é bastante clara quanto aos danos cerebrais, principalmente quando essas drogas de abuso acabam chegando no cérebro antes do seu amadurecimento, que seria em torno dos 21 anos. Está muito claro para nós, médicos, psiquiatras, neurocientistas, que se deve evitar ou prevenir o consumo de álcool antes desse amadurecimento”, alerta o psiquiatra Felix Kessler, vice-diretor do CPAD. Em função desse processo de amadurecimento cerebral, pesquisas sugerem que a ingestão precoce de álcool acaba se tornando um elemento facilitador para a dependência química. “Estudos apontam que quanto mais cedo se inicia o consumo de bebida alcoólica ou de praticamente qualquer outra droga, maior é a chance de a

pessoa desenvolver dependência. Essas substâncias afetam diretamente o cérebro e os mecanismos responsáveis pelo controle do comportamento impulsivo, que nos adolescentes ainda estão em desenvolvimento e podem ser prejudicados”, explica o médico Thiago Gatti Pianca, especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência e integrante do CPAD. Além disso, ele afirma que beber socialmente não reduz as chances de a saúde de um jovem enfrentar consequências sérias. “Isso vale para qualquer quantidade. Não há um nível seguro para o consumo de álcool nessa faixa etária”, alerta o médico. A orientação dos especialistas é no sentido de que os pais e a sociedade de forma geral sejam taxativos em relação ao consumo de álcool. A longo prazo, essa postura coletiva pode provocar uma mudança de paradigma cultural, da mesma forma como já ocorre com o cigarro, o uso de cinto de segurança e a não associação do álcool ao volante. O objetivo é mudar a ideia de permissividade em relação à bebida na adolescência, manifestada de forma clara na pesquisa feita pelo IBGE em 2009. No período pesquisado, a forma mais comum que os estudantes tiveram para

Uma questão de saúde Cada vez mais, pesquisadores buscam na ciência provas imbatíveis sobre os malefícios de se consumir álcool muito cedo. Foi inclusive o alerta feito pelos estudos do Centro de Pesquisa em

Pais e educadores devem auxiliar os jovens a fazer as escolhas certas

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Divulgação / Instituto Igor Carneiro

Marcos Daudt. Depois de fazer quase 60 palestras em escolas de Porto Alegre, Canoas, Santa Maria e Passo Fundo, ele já reconhece os pontos que sensibilizam os jovens para o tema durante os encontros. “O que impressiona mesmo é quando eu projeto o futuro para eles. Tem que assustar mostrando consequências como a doença, a falta de competitividade profissional e de realização pessoal”, conta Daudt. No Colégio Farroupilha, de Porto Alegre, a prevenção ao uso do álcool ou de drogas faz parte do projeto Cuidar é Básico, que busca orientar famílias e estudantes sobre a importância de fazer as escolhas certas em períodos de conflito e dúvida. O projeto é acompanhado pelo médico psiquiatra Sergio de Paula Ramos. Neste segundo ano do programa, uma das ações terá como foco o desenvolvimento de habilidades sociais Instituto Ficar sensibiliza os jovens com palestras que alertam para as consequências do álcool na vida adulta dos alunos por meio da arte cênica, da música e dinâmicas de grupo. adquirir a bebida alcoólica foi por meio Após perder o filho de 18 anos em um “Durante as aulas de artes cênicas, acidente de carro na Capital, Diza e de festas (36,6%), compra em mercapor exemplo, as crianças se preparam o marido Régis tornaram-se referêndo, loja, supermercado ou bar (19,3%), para enfrentar a timidez e também cias nas campanhas por um trânsito com amigos (15,8%) ou na própria casa para desenvolver o pensamento criamais seguro. “Não acreditamos em (12,6%). tivo, estético e de grupo”, explica a campanha pontual em véspera de “O fato é que devemos, como pais e diretora Magda von Galen. Conforme feriado. Acreditamos em educação. educadores, nos irresignar com esta ela, os estudantes precisam saber É um processo que deve começar na cultura de que beber na adolescência desde cedo que não educação infantil, é normal. Não, não é normal. Tem existe a necessidacom a linguagem consequências e é proibido por lei”, Devemos nos de de beber para adequada para a adverte o psiquiatra Sergio de Paula se divertir. Outra irresignar com esta idade”, afirma. Ramos. ação prevista pelo Também nascultura de que beber Colégio para este cido de uma A prevenção é o melhor caminho ano é de estabeletragédia pessona adolescência é cer uma parceria al, o Instituto Entre os alertas feitos pelos médicom a Fundação normal” Igor Carneiro, o cos e os hábitos dos jovens parece Thiago de Moraes Ficar, aposta na haver um muro invisível. Afinal, Sergio de Paula Ramos Gonzaga – Vida aproximação com como os próprios especialistas adverUrgente. Além disso, mensalmente os estudantes e em uma linguagem tem, adolescência é a fase em que o continuam sendo realizadas reuniões moderna para atrair a atenção aos juízo crítico ainda está em formação. com pais e equipe da escola configumalefícios do álcool. A liberação da Nesse período da vida, o desejo de rando um espaço importante de disbebida em festas frequentadas por ser aceito pelo grupo quase sempre cussão e troca de ideias acerca de temenores de idade é um dos pontos acaba falando mais alto. máticas e demandas que convergem combatidos pelo Ficar, que divulga Como transpor essa barreira? Para para a prevenção do uso de drogas. uma série de requisitos necessários a presidente da Fundação Thiago de Para a psicopedagoga Maria Julia para uma balada segura. “Bebida Moraes Gonzaga e do Programa Vida Girardi Dalmas, coordenadora eduliberada é sinônimo de excesso”, Urgente, Diza Gonzaga, o caminho é cacional do Colégio Dom Bosco, acredita o coordenador do Instituto, a abordagem permanente do assunto.

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Pesquisa ‘Este jovem Brasileiro – Álcool’ Realizada com 11.846 pessoas de 96 escolas de todo o Brasil em 2009.

Divulgação / Fundação Thiago de Moraes Gonzaga

também de Porto Alegre, levar aos jovens conhecimento sobre os danos do uso inadequado de bebidas alcoólicas é um caminho eficiente para uma mudança de comportamento. Nas palestras realizadas pela escola com especialistas em temas ligados à saúde, entre eles, neurologistas e psicólogos, a atenção da plateia costuma redobrar quando começam a ser abordadas algumas consequências práticas do consumo de álcool na juventude. “A gente percebe que o impacto é maior ao falar dos prejuízos neurofisiológicos, que envolvem perda de memória, prejuízo na aprendizagem”, observa Maria Julia. Essas e tantas outras iniciativas desenvolvidas por escolas gaúchas são amplamente apoiadas pelo SINEPE/ RS. A entidade realiza seminários voltados exclusivamente para debater a questão da drogadição e preparar os profissionais da educação a trabalhar essa temática. “O SINEPE tem orientado as escolas por meio de seminários específicos para diretores, professores e pedagogos com profissionais especializados para que consigam mobilizar toda a comunidade

Projeto Contadores de Histórias do Vida Urgente ensina comportamentos importantes à preservação da vida dos pequenos

educativa a debater o assunto”, destaca o vice-presidente do sindicato, Hilário Bassotto. Para ele, trata-se de um tema com presença obrigatória nos projetos educativos da escola, adaptados à proposta pedagógica de cada instituição. O principal, salienta Bassotto, é nunca ignorar situações que envolvem

o uso inapropriado de álcool ou consumo de drogas entre os estudantes. “Quando é um caso que não envolve drogas proibidas, o primeiro passo é chamar os pais e conversar com a família para tomar medidas corretivas que ajudem o aluno”, explica. Quando o assunto é bebida alcoólica, autoridades, médicos, educadores e pais percorrem caminhos diferentes para responder ao mesmo desafio. Aos olhos dos adolescentes de hoje, a turma que diz “não” é tachada de exagerada, careta. Para as gerações que vêm por aí, talvez, a fiscalização em rede consiga incentivar novos modelos de comportamento, transformando o consumo responsável de bebida num hábito tão comum quanto usar o cinto de segurança ao entrar num carro.

saiba mais Confira a pesquisa na íntegra na seção da Educação em Revista no portal do SINEPE/RS, saiba mais em: www.sinepe-rs.org.br

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P O R O NDE A ND A

Cristina Gallo / Agência Senado

“Tudo que eu sou devo à família, à escola e à igreja”

Fizemos uma montanha de coisas, só não tinha um tostão. Um dia fui lá no Juscelino (Juscelino Kubitschek), ele tinha um secretário de assuntos intelectuais, o Pascoal Carlos Magno, uma pessoa muito célebre na época, foi ele quem conseguiu uma audiência com o presidente. Aí chegando lá eu disse: “Olha, presidente, eu estou aqui porque temos um congresso mundial, que reunirá os maiores juristas e professores do mundo, vai ser a maior realização do seu governo”. E ele se vira para o Pascoal e diz: “Pascoal, a maior realização do meu governo e você não me conta nada?!”. Eu fiquei vermelho de vergonha e vi o ridículo que tinha feito, mas foi muito bacana, ele me deu uma montanha de dinheiro, pagamos o hotel, construímos uma sede nova para o Centro Acadêmico, foi um período muito bonito. Como o senhor avalia o ensino privado, hoje?

Aos 82 anos, o senador Pedro Simon é um homem respeitado e conhecido na política brasileira. É um dos quatro únicos senadores presentes em todas as 17 edições dos cem mais influentes parlamentares do Congresso Nacional, escolhidos desde 1994. Natural de Caxias do Sul, o advogado e professor universitário tem também uma história de lutas e conquistas na época de estudante, nos colégios La Salle Carmo, Marista Rosário e na PUCRS. Nesta entrevista concedida a Educação em Revista, ele conta um pouco dos bastidores da sua vida estudantil e fala da contribuição da escola particular para sua formação. Quais as lembranças mais marcantes da sua vida escolar? Tive uma vida difícil, sou órfão de mãe e meu pai veio do Líbano, não falava nada em Português, mas mesmo assim tudo que eu sou eu devo a três instituições: minha família,

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os colégios La Salle Carmo, de Caxias do Sul, e o Marista Rosário, de Porto Alegre, e à igreja católica. Como era o Pedro Simon aluno? Eu tinha uma vida intensa. Ainda em Caxias do Sul, aos 14 anos, criei o Grêmio Estudantil do Carmo, depois em Porto Alegre fui presidente do Grêmio Estudantil do Rosário durante dois anos. Na PUCRS, fui presidente do Centro Acadêmico Maurício Cardoso durante quatro anos e presidente do DCE. Também fui presidente do Conselho da União Estadual dos Estudantes, entre outros. Tive uma atividade muita intensa, me dediquei de corpo e alma. Por exemplo, pela primeira vez na História fizemos um debate público na PUCRS com os candidatos à presidência da República Juscelino Kubitschek, Ademar de Barros, Plínio Salgado e Juarez Távora. Também fizemos um congresso mundial da área jurídica, em Porto Alegre.

Hoje, a escola privada avançou muito, está muito boa, tem conteúdo, debatem, analisam e aprofundam os assuntos. Mas, infelizmente, em algumas (faço uma diferenciação com aquelas sérias e tradicionais) está acontecendo uma comercialização da educação, especialmente no ensino superior. É uma vergonha o Ministério da Educação conceder autorização para instituições de quinta categoria, que vendem diploma, e são inimigas das escolas particulares sérias. É uma negociação barata! Se o senhor voltasse hoje à sala de aula, como professor, qual seria a mensagem que deixaria a seus alunos? A primeira coisa que eu faria (e não teria sucesso nenhum) seria pedir aos estudantes que ligassem a televisão o menos possível, que não vissem a novela. E a outra: participe, não seja omisso, não imagine que porque você é filhinho de papai e que vai trabalhar na fábrica da família que tudo está bem. Se o Brasil vai mal, seu filho pode ser assassinado por um gurizinho de fora, então precisamos nos esforçar para buscar o bem comum. Colabore, não fique apenas criticando e deixando o tempo passar!


memória

75 anos do La Salle Carazinho: crescimento e tradição Na década de 30, o município de Carazinho, localizado a 284 km de Porto Alegre, destacava-se como um grande centro industriário de madeira do Rio Grande do Sul. Poucos anos após sua emancipação, em 1931, a cidade já comemorava uma fase de progresso e expansão. Foi neste cenário promissor que o padre João Batista Sorg, titular da Paróquia de Bom Jesus, mobilizou os irmãos lassalistas para a construção de uma escola em Carazinho. Da ideia do padre visionário para a concretização do projeto foi preciso união dos religiosos com a comunidade local e muito trabalho. No dia 12 de março de 1937 o sonho tornava-se realidade. As aulas se iniciavam em uma casa adaptada para duas salas de aula e dependências para a comunidade. A nova escola, que recebeu inicialmente o nome de Instituto La Salle, mostrou em pouco tempo que seria um projeto promissor: de 20 alunos matriculados em março, ampliou para 80 em apenas quatro meses. Já no segundo ano, devido ao grande número de rapazes com necessidades de estudar no turno da noite (muitos trabalhavam durante o dia), foi aberto o curso de Admissão noturno, e, em 1939, com a vinda do Irmão espanhol Raimundo Jorge, que trabalhava no colégio Gonzaga de Pelotas, foi organizado o curso Comercial. Ainda no mesmo ano, a escola ganhou uma chácara de 15 hectares, com o intuito de propor aos alunos internos a produção de frutas e legumes. Denominada de ‘Quinta São José’, mais tarde daria lugar à escola Vocacional Nossa Senhora de Fátima. Atualmente, o colégio atende 400 alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio e Curso Normal, e conserva a proposta pedagógica defendida desde a sua fundação: a formação integral do

aluno visando à transformação da sociedade por meio de uma educação humana e cristã de qualidade, solidária e participativa. Hoje, a instituição possui um espaço amplo que inclui salas de aula, ginásio, biblioteca, laboratórios, área verde e pátio. O trabalho pedagógico conta com metodologias e materiais diferenciados, como: uso do material do Sistema Positivo; novas tecnologias e kit multimídia presentes em cada sala de aula, possibilitando uma formação diferenciada e conectada com o mundo; formação continuada dos educadores; e atividades extracurriculares. Além disso, a formação para o exercício da cidadania, para a responsabilidade e para a autonomia são marcas da proposta pedagógica do colégio. A aluna Bruna Schmitt, que estuda há 13 anos na instituição, afirma que todo esse tempo que está na escola não aprendeu apenas conteúdos, “mas também o respeito e a lealdade”. No La Salle ela fez muitas amizades, que irá levar para a vida toda. “O colégio já faz parte da minha história, e quero parabenizar todas as pessoas que fazem da escola uma das melhores instituições de ensino, e também agradecer por ter me ensinado a ser cada vez uma pessoa melhor.” E essa satisfação também está presente no corpo de professores da instituição. Para a educadora Solange Folchini, que há 36 anos trabalha no colégio, ser uma professora lassalista representa uma forma de realização profissional. “Acredito muito no trabalho da instituição, pois ela sempre me oportunizou possibilidades de crescimento, abriu portas para que eu pudesse desenvolver os meus projetos educacionais, educou e orientou os meus quatro filhos, os quais hoje estão bem encaminhados pessoal e profissionalmente”, afirma. (Com informações do livro ‘História dos Irmãos Lassalistas no Brasil’ de Carlos Ivo Compagnoni)

Colégio foi fundado com a união dos religiosos e da comunidade local

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legislação

Formação escolar realizada no exterior e o ensino da música no currículo Resolução Ceed nº 317/2011 Regula a declaração de equivalência de estudos ao ensino médio e a revalidação de diplomas de cursos técnicos e de formação para o magistério em nível médio, concluídos ou realizados no exterior. A Resolução expressa que a declaração de equivalência é o reconhecimento de que estudos desenvolvidos em outro país conferem semelhante grau de conhecimentos e competências alcançados por alunos do ensino médio brasileiro e que pode ser declarada em duas situações: a) Estudos iniciados no Brasil e concluídos no exterior; b) Estudos inteiramente realizados no exterior. Diz-nos, também, que a revalidação é um ato oficial pelo qual certificados e diplomas emitidos e válidos em outro país tornam-se equiparados aos emitidos no Brasil, adquirindo validade nacional. O documento aborda uma situação bastante presente no mundo atual, pois hoje o número de alunos que realiza/conclui estudos no exterior é muito grande, principalmente os de escolas privadas, trazendo aos pais preocupações como: serão aproveitados tais estudos? Terão validade os diplomas/certificados obtidos no exterior? O Conselho Estadual de Educação, por meio dessa Resolução, vem responder a tais anseios. O portador de Certificado ou Diploma de escola/curso do exterior deve: trazer todos os documentos que dizem respeito aos estudos realizados autenticados por representação diplomática brasileira com sede no país de origem dos mesmos. Devem estar traduzidos oficialmente por tradutor juramentado, exceto documentos em língua espanhola. Ficam isentos também de autenticação consular os documentos oriundos da Argentina e França por força de tratados bilaterais, bem como os estudos realizados ou concluídos em país com o qual o Brasil mantenha acordo bilateral na área da educação. De posse de tais documentos, o portador deve dirigir-se ao Conselho Estadual de Educação para

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conferência dos documentos e preenchimento dos formulários para tramitação da solicitação. Revalidação de Diploma/Certificado de Curso Técnico realizado no exterior: podem ser revalidados Certificados/ Diplomas referentes a habilitações profissionais constantes do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, devendo ser entendida a correspondência em sentido amplo, para abranger estudos similares/afins. PARECER nº 1.098/2011 - Orienta o Sistema Estadual de Ensino do RS sobre a inclusão do ensino de Música nas instituições de Educação Básica. O Parecer orienta sobre possibilidades de incorporação, em definitivo, a partir de 2012, por meio do projeto pedagógico de cada escola, da inclusão obrigatória do ensino de Música nas escolas de Educação Básica, atendendo ao contido na Lei nº 11.769/2008 que alterou o art. 26 da Lei 9394/96 (LDBEN), determinando a inclusão do ensino de Música nos currículos escolares. A LDBEN coloca a arte como componente curricular obrigatório nos diversos níveis da Educação Básica e substitui a denominação “Educação Artística” por “Ensino da Arte”. Tal ensino deve ser entendido, em termos epistemológicos, numa abordagem integradora, que contempla diferentes linguagens: artes visuais, dança, teatro e música, em que cada uma das linguagens contribui com sua especificidade para a formação integral do indivíduo. Segundo o CEEd, a inserção da música como conteúdo obrigatório deve ser feita buscando-se as formas estimuladas nos artigos 23 e 24 da LDBEN: organização de grupos com base na idade, na competência e em outros critérios; organização de classes ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento. Permite que a ênfase em cada uma das áreas da Arte seja de forma alternada, durante o ano letivo; pode ser em forma de

projetos interdisciplinares, trabalhando as áreas concomitantes, sempre buscando o que está no PP da escola. Ela pode lançar mão de espaços alternativos, não limitados à sala de aula nem à escola. Quanto à distribuição dos tempos escolares, pode ser: semanal, semestral ou anual. Deve existir previsão de períodos específicos para a inserção dos conteúdos de música no currículo que cada aluno deva desenvolver ao longo da Educação Básica. O ensino dos conteúdos de música a serem trabalhados em cada etapa da Educação Básica deve considerar as especificidades: Ensino Médio: estimular a organização de oficinas de música, juntando os alunos que praticam instrumentos musicais ou o “Passo”, bem como pode agrupar alunos para canto coral ou audição de diferentes gêneros musicais. Ensino Fundamental - Anos Finais: a música deve ser trabalhada integrada às demais áreas do ensino de arte, com a ênfase e a forma estipulada no projeto pedagógico; Anos Iniciais: a música fará parte das atividades diárias de todos os alunos da turma, sob a orientação de seu professor, em programações desenvolvidas com os demais alunos, em diferentes ambientes. Educação Infantil: as crianças devem ser permanentemente estimuladas a ouvir, cantar e tocar, num ambiente preparado para este fim. Profissionais para atuar: o Parecer reforça o expresso no artigo 62 da LDBEN e sugere: escolas com mais de 300 alunos, um professor licenciado em Música; escolas com menos de 300 alunos, um professor licenciado em Música por zoneamento. Secretarias Municipais de Educação, um supervisor por equipe para acompanhar a inserção e o desenvolvimento dos conteúdos de música nos projetos pedagógicos. Sugerimos leitura do documento. Célia Silveira

Especialista em supervisão escolar


premiadas

Projeto de Equoterapia UPF: nesse páreo todos saem vencedores

Interação com o cavalo desenvolve novas formas de socialização, autoconfiança e autoestima

Os seres humanos vêm descobrindo cada vez mais benefícios proporcionados pela convivência com os animais. No caso dos cavalos, além de serem companheiros, podem ser aliados na melhoria da qualidade de vida de pessoas com necessidades especiais e em situação de vulnerabilidade social. É o que mostra o Projeto de Equoterapia da Universidade de Passo Fundo (UPF), desenvolvido há mais de oito anos. A iniciativa conquistou o Prêmio de Responsabilidade Social do SINEPE/RS, na categoria Participação Comunitária. Equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e necessidades especiais. Na UPF, a prática se iniciou em 2003, quando professores e acadêmicos de Educação Física e Medicina Veterinária começaram a refletir sobre o que poderia ser feito para promover a saúde e

prevenir doenças. Depois de receber apoio de entidades, instituições e voluntários da região e até de fora do Brasil, iniciaram as atividades. As atividades parecem simples, por vezes até disfarçadas de brincadeiras, mas isso não indica que seja uma simples recreação: tudo o que é proposto visa despertar capacidades e superar limites ou rótulos. Montada no cavalo, cada pessoa percorre um percurso durante mais ou menos 30 minutos, conforme a disposição de cada um. O ambiente foi organizado com características lúdicas, considerando que a maioria dos frequentadores são crianças. O caminho é repleto de sons, cores e formas, que estimulam a interação dos alunos. Participam alunos com síndrome de autismo, crianças e adolescentes com paralisia cerebral e síndromes neuromotoras, pessoas com deficiência visual e deficiência auditiva e com doenças mentais. Esse público é proveniente de Passo Fundo, Marau, Não-Me-Toque, Carazinho,

Estação Getúlio Vargas, Mato Castelhano, Floriano Peixoto, Nova Araçá, Rondinha, Pontão, Nova Pádua e outras localidades próximas. Em média, são realizados 50 atendimentos mensais. Para 2012, a expectativa é aumentar esse número. Os benefícios da Equoterapia não são novidade, uma vez que são descritos desde os anos 400 a.C. A atividade exige a participação do corpo inteiro, contribuindo com o desenvolvimento da força, tônus muscular, flexibilidade, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio. A interação com o cavalo desenvolve novas formas de socialização, autoconfiança e autoestima. Conforme o professor Péricles Saremba Vieira, coordenador do projeto, tudo isso vem sendo observado nas atividades desenvolvidas em Passo Fundo. “É possível perceber desenvolvimento neuropsicomotor com enorme melhora na coordenação, ritmo, equilíbrio, autoconfiança, cuidados com a postura e facilidade na realização dos movimentos”, relata. São apontados ainda melhoras no sono, disposição geral, interesse em ampliar o repertório de conhecimentos, maior sociabilização e iniciativas de mais independência e autonomia.

Receitas de sucesso: - Criação de um ambiente lúdico para a realização da equoterapia, permitindo uma abordagem interdisciplinar entre as áreas da saúde e da educação; - Melhorias no desenvolvimento neuropsicomotor dos participantes; - Oportuniza espaço para que os estudantes que trabalham no projeto possam aliar a teoria à prática.

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Divulgação / PUCRS

Incentivo ao empreendedorismo Desde que a PUCRS definiu que investir em empreendedorismo faria parte de seu planejamento estratégico, teve início uma mudança estrutural na formatação dos cursos de graduação e pós-graduação, na forma de oferecer esse tipo de conteúdo aos alunos e nas ações que abordariam essa temática. Uma delas foi a criação do Torneio Empreendedor, um concurso para avaliar planos de negócios, realizado pelo Núcleo Empreendedor da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia (Face), pela Rede de Inovação e Empreendedorismo (Inovapuc) e pela Fundação Irmão José Otão (Fijo). A iniciativa conquistou o prêmio Inovação em Educação do SINEPE/RS, na categoria Gestão Pedagógica - Ensino Superior. Mais do que um concurso de planos de negócios, o Torneio tornou-se um processo de evolução e amadurecimento do espírito empreendedor, permitindo a descoberta de vocações e eixos estruturantes do desenvolvimento local e global. O Torneio ocorre anualmente e as equipes participantes podem ser compostas de dois a quatro alunos e ainda há a opção da proposição de projetos individuais. Até a quinta edição, realizada em 2011, passaram pela competição cerca de 8 mil alunos de graduação e de pós-graduação regularmente matriculados, além de 800 professores. Os autores dos planos de negócio premiados foram contemplados com bolsas de estudos num montante que representa R$ 125 mil. Até 2011, oito empresas foram geradas a partir de projetos avaliados no Torneio Empreendedor. Naira Lobraico Libermann, coordenadora do projeto, aponta que entre as receitas para o sucesso dessa ação está o trabalho em sinergia com entidades de fomento e parceiros e com professores voluntários que assessoram e orientam alunos na sua trajetória empreendedora, além de incentivarem sua participação. “Trabalhamos para estimular a atitude empreendedora, principalmente do corpo discente, transmitindo o conceito de que a inovação é o fator principal para agregação de valor para a sociedade”, explica Naira. Desde a sua criação, o Torneio objetivou planejar ações integradas que permitissem o desenvolvimento da cultura empreendedora. Por isso, ao longo dos anos, o concurso foi sendo incrementado. Uma das novidades do ano passado foi a criação da Categoria Social, permitindo que diferentes áreas tivessem oportunidade de participar. Para 2012, a novidade será a simplificação do processo de participação. Os alunos entrarão com a ideia, e a equipe do Núcleo Empreendedor irá ajudá-los a construir o Plano de Negócio. Outra novidade será a participação de empresários e funcionários de empresas como mentores dos projetos. O Núcleo Empreendedor da PUCRS, que apoia e incentiva ações inovadoras e empreendedoras na Universidade, integra a Rede Inovapuc. Dela também fazem parte o Instituto de Pesquisa

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Instituição promove espaços para incentivar a participação dos alunos no projeto

e Desenvolvimento (Ideia), que estimula projetos de pesquisa científica e tecnológica e oferece infraestrutura laboratorial, espaço físico e prototipagem; a Incubadora Raiar, que atualmente abriga 30 empresas entre residentes e associadas e oito projetos pré-incubados; o Parque Científico e Tecnológico (Tecnopuc), que estimula a pesquisa e a inovação; a Agência de Gestão Tecnológica (AGT), que viabiliza a realização de projetos de pesquisa; o Centro de Inovação, uma parceria com a Microsoft que objetiva acelerar o uso de novas tecnologias e desenvolver programas de qualificação; e o Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT), que avalia a invenção e garante a propriedade intelectual. Juntas, as unidades atuam estimulando o processo de inovação e empreendedorismo da PUCRS.

Receitas de sucesso: - Investimento em empreendedorismo faz parte do planejamento estratégico da instituição; - Contar com parcerias com entidades de fomento; - Envolver os professores para incentivar o empreendedorismo dos estudantes e orientá-los na sua trajetória empreendedora; - Oferecer suporte para auxiliar os alunos a construir o Plano de Negócio.


Colégio Anchieta ganha prêmio com novo posicionamento Em 2010, o setor de Comunicação e Marketing do Colégio Anchieta, de Porto Alegre, tinha a sua frente um desafio: mostrar à sociedade o novo posicionamento da instituição, voltado à sustentabilidade. Era preciso comunicar isso de maneira efetiva para atingir todos os públicos a fim de gerar maior envolvimento e comprometimento, além de reposicionar a marca Anchieta. De uma maneira específica se pretendia: virar referência no assunto sustentabilidade, gerando mídia externa espontânea; potencializar a imagem do colégio, aumentando o número de matrículas; e, por último, mas não menos importante, promover o envolvimento com a causa, criando novos canais de cocriação de ideias e resultados com os diferentes públicos. A iniciativa teve êxito e conquistou o 9º Prêmio Destaque em Comunicação do SINEPE/ RS, na categoria Gestão de Comunicação e Relacionamento. O projeto teve início com a criação de dois subgrupos de trabalho: o administrativo e o pedagógico. Daí surgiu o Programa Caminhos da Sustentabilidade. Coube à Coordenação de Comunicação e Marketing realizar a mediação entre os diferentes públicos internos da escola no seu âmbito administrativo e pedagógico, e o público externo, como agência de publicidade,

escritório de design, gráficas, produtoras de vídeo, entre outros fornecedores. “Concluímos que, antes de divulgar, precisaríamos colocar a casa em ordem, assumindo um projeto maior, criando a sistematização do que já existia, organizando as informações, pois um novo posicionamento exige investimento humano e material, necessita envolvimento, capacitação, pesquisa, estudo, enfim, mobilização e motivação. O desafio, portanto, era desacomodar, avaliar, organizar e transformar!”, explica a coordenadora de Comunicação e Marketing do Anchieta, Ana Claudia Klein. Os caminhos por onde começar, como e o que fazer se desenharam a partir de um movimento de escuta, pesquisa interna e consultoria externa. Tudo isso respaldou a tomada de decisão. A comunicação passou a fazer parte da estratégia, além da operacionalização da mudança organizacional. “Entendemos que era necessário alimentar a comunidade interna com conteúdo, motivando professores e funcionários a serem multiplicadores da causa da sustentabilidade”, recorda Ana. Paralelamente, foi desenvolvida uma estratégia de assessoria de imprensa para ocupar os espaços editoriais, dando visibilidade ao novo posicionamento. Para mostrar o alinhamento das ações, a Agência Escala criou uma árvore de submarcas que passaram a compor as diferentes ações, materiais e espaços. Também se investiu na remodelação do saguão do prédio central onde se encontra a administração alinhada ao novo posicionamento da escola. A ideia é que ao chegar ao colégio já se perceba a intencionalidade da sustentabilidade. Ao final de 2010, o Colégio Anchieta já comemorava os resultados que se faziam sentir desde o início do Programa. Todos os públicos foram impactados sobre o novo posicionamento, mobilizando-se para a causa da sustentabilidade. Além disso, a iniciativa gerou significativa mídia espontânea e o aumento no número de matrículas. Outro resultado importante foi a inclusão do Programa Caminhos da Sustentabilidade no Planejamento Estratégico, o que alterou a missão do colégio, que passa a englobar o princípio da sustentabilidade.

Principais resultados em números: - Crescimento de 0,73% no número de matrículas, tendo como data de corte 30 de setembro. - 133 dicas de sustentabilidade enviadas pelos colaboradores e colocadas nos murais. - Mais de 37 inserções de mídia espontânea; - 13.347 cliques e lâmpadas, presumidamente, desligadas com a campanha www.acendaessaideia.com.br Tradicional evento da instituição, a Semana Anchietana foi pautada pela temática da sustentabilidade

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Divulgação / Assessoria de Comunicação CES

ensino pr i va do

Identificação Biométrica no Colégio Espírito Santo Até bem pouco tempo atrás, somente em filmes de ficção poderíamos visualizar uma cena em que, para ter permissão de chegada a um local, uma pessoa seria identificada por uma de suas características biológicas. Mas, longe da ficção, isso já é realidade no Colégio Espírito Santo, de Canoas. A instituição implantou um sistema de controle de acesso de entrada e saída da escola por meio de catracas com duas possibilidades de operação: o uso de cartões ou a identificação biométrica, por verificação digital.

Com a iniciativa, foi possível aumentar o nível de segurança, além de oferecer mais praticidade e agilidade na identificação de cada estudante. O controle de acesso biométrico permite a entrada somente de pessoas autorizadas e também realiza o registro de dados de acesso para futura verificação, caso necessário. “Colocamos a tecnologia a favor do ensino de excelência”, destaca a diretora do CES, Ir. Maria Sônia Müller.

Identificação biométrica: tecnologia a favor da segurança na escola

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Muitas histórias para contar nos 40 anos do Jardim de Infância do Colégio Farroupilha

IENH é parceira do programa Catavida

Na memória do ortodontista Mário Alexandre Morganti, as atividades artísticas e as brincadeiras desenvolvidas no pátio são as melhores lembranças do início dos anos 80, época em que foi aluno do Jardim de Infância do Colégio Faroupilha, de Porto Alegre. “Me lembro das músicas, dos hinos que cantávamos, das apresentações para os pais e das peças de teatro. Adorava brincar no pátio, ao redor das figueiras”, relembra. A preferência pelo modelo de ensino do Farroupilha acompanha a família Morganti desde a fundação do Jardim de Infância em 1972. Alexandre relembra também o pioneirismo da instituição, ao criar o primeiro jardim de infância do Rio Grande do Sul e o terceiro do Brasil. Quarenta anos depois de sua fundação, comemorada em 20 de março, o Jardim de Infância continua fiel aos seus princípios. Conforme o modelo de

A IENH – Unidade Fundação Evangélica assinou um Termo de Comprometimento com uma unidade do Catavida. O programa, desenvolvido pela prefeitura de Novo Hamburgo, proporciona aos catadores maior qualidade de vida e um espaço próprio para separação de resíduos. Com o termo, a instituição passa a ser um ponto de recolhimento de resíduos recicláveis, para posteriormente serem aproveitados pela cooperativa. O projeto da IENH faz parte do Programa de Conscientização Ambiental que se iniciou neste ano. O coordenador da iniciativa, Renzo Reggi, destaca que o desenvolvimento das atividades de mobilização e crescimento do projeto é responsabilidade dos alunos do 1º ano: “A proposta é de desenvolver a atividade de aluno para aluno, sem a interferência de um professor”, completa.

educação do Farroupilha, a criança tem um mundo a descobrir, no qual ela é um sujeito ativo na construção de seu conhecimento, na estruturação de sua inteligência. Ela passa a aprender a partir de suas ações e reflexões, em interação não só com o adulto e com outras crianças como com o meio ambiente, estimulada para que se desenvolva plenamente.

Tradição e inovação marcam as quatro décadas do Jardim de Infância do Farroupilha


UniRitter desenvolve trabalho pedagógico na Penitenciária Madre Pelletier Uma das atividades de extensão acadêmica de maior destaque do UniRitter é o Projeto de Atenção em Educação Infantil na Unidade Prisional Madre Pelletier. Por meio da iniciativa, alunas do curso de Pedagogia promovem atividades lúdicas e pedagógicas com crianças de 4 a 12 meses, filhos de apenadas. O objetivo é maximizar o desenvolvimento dos pequenos por meio da manipulação, transformação e combinação de materiais variados, proporcionando ricas aprendizagens pelo contato com diferentes linguagens (musical, literária, corporal, espacial, plástica, etc.). A atividade ocorre duas vezes por semana. De acordo com as regras do presídio, essas crianças podem “morar” com suas mães na prisão até completarem 12 meses de idade. A coordenadora do projeto e professora do curso de Pedagogia, Andrea Bruscato, lembra que apesar de a inserção dos bebês em ambiente prisional ser algo polêmico, é a única forma de contribuir para o vínculo materno e evitar o abandono e

a separação da mãe nessa etapa fundamental que é a infância. Para minimizar os efeitos das relações entre criança-mãe (que está sofrendo as consequências de uma transgressão social), o

UniRitter e a direção da Penitenciária Feminina construíram um espaço para a realização de ações educativas que oportunizassem melhores condições ao desenvolvimento dessas crianças.

São desenvolvidas atividades lúdicas e pedagógicas com crianças de 4 a 12 meses, filhas de apenados

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Educação 33


ensino pr i va do

Ano letivo começa com iPad no Colégio Americano Ao iniciarem o ano letivo, os estudantes do Colégio Metodista Americano, de Porto Alegre, encontraram uma grande novidade: a introdução do tablet iPad na sala de aula. A iniciativa faz parte do plano da escola no sentido de diversificar a metodologia de ensino e aprendizagem com o uso da tecnologia. Dispositivo certamente já conhecido dos estudantes, o iPad possibilita que os alunos administrem seus trabalhos, façam anotações e estudem para as provas. Ao mesmo tempo que os professores se organizam melhor, ministram aulas e monitoram o progresso dos alunos. Como a escola oferece laboratório de informática adequado, alunos que já possuem tablets poderão trazê-los para melhor desempenho de suas atividades escolares.

Tablet como importante ferramenta pedagógica

Rede La Salle traz escola de negócios para Caxias do Sul A La Salle Business School, escola de negócios da Rede La Salle, agora tem sede, também, em Caxias do Sul. A instituição oferece MBAs em Gestão de Pessoas e Liderança Coach; Gestão Estratégica e Inovação; e Logística Aplicada - Gestão da Cadeia de Suprimentos. Presente na Espanha, com unidades em Madri e Barcelona, a La Salle Business School traz para Caxias o conceito de mobilidade acadêmica, por meio da promoção e realização de parcerias nacionais e internacionais. A possibilidade de realizar intercâmbios acadêmicos, bem como as metodologias contemporâneas, dinâmicas e interativas, são alguns diferenciais dos cursos MBA. Alunos e corpo docente terão a oportunidade de desenvolver o seu potencial com a da troca de experiências e participação de

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módulos em outros países por meio da Rede La Salle Business School no Brasil e no exterior.

Business School foi apresentada à comunidade na Festa da Uva de Caxias do Sul

Centro de Voluntariado do Maria Imaculada completa 10 anos Auxilio a diferentes áreas da sociedade, conquista de premiações estaduais e nacionais e o envolvimento de aproximadamente 1.500 jovens. Esta é a trajetória do Centro de Voluntariado do Colégio Maria Imaculada, que completa 10 anos. Para o coordenador do projeto, Carlos Alberto Barcellos, a rede de parcerias que o Centro conquistou é um dos diferenciais do projeto, pois permitiu ampla ação de trabalhos comunitários, atingindo diferentes segmentos da sociedade. Entre os parceiros, ele cita: Instituto do Câncer Infantil, Asilo da Spaan, Educandário São João Batista, Creche do Imaculado Coração de Maria, Associação Riograndense de Proteção aos Animais e o Greenpeace. “Essa união dá o toque da diversidade de nosso projeto, garantindo que expressões como inserção e solidariedade fossem palavras vivas de uma juventude inquieta e com uma vontade imensa em fazer a diferença em seus trabalhos voluntários”, afirma. Para este ano, Barcellos afirma que o Centro dará continuidade às ações já desenvolvidas e ampliará o projeto ecológico chamado Gaia.


Para grande parte das mulheres que resolvem ser mães, o fim da licença-maternidade é sempre um momento de angústia e apreensão. É preciso encontrar um lugar seguro e de confiança para deixar o bebê. Quando não se tem um familiar por perto, muitas famílias recorrem a escolinhas infantis e creches. Em Bento Gonçalves, as mães podem optar também por deixar seus bebês no colégio. Isto porque, desde 2008, o Medianeira oferece o berçário, que atende crianças de 4 meses a 2 anos de idade. O projeto é diferenciado, pois oferece espaço para desenvolver as habilidades cognitivas desde os primeiros meses de vida da criança. Os espaços físicos e a rotina são pensados levando em conta as necessidades dos pequenos. Por exemplo, no momento do sono, o ambiente é preparado com música clássica e canções de ninar, cantadas pela professora. Na hora das atividades, as crianças são estimuladas a realizar tarefas que explorem seus cinco sentidos. Na sala multimeios, por exemplo, os bebês são colocados em frente aos espelhos para, aos poucos, se reconhecerem, percebendo seu corpo e o explorando. No chão dessa sala encontra-se o tapete de fotos das crianças, onde ao engatinhar elas se reconhecem e reconhecem seus colegas. É um momento importante para o desenvolvimento da sua identidade. O berçário do Medianeira conta com parque infantil, salas multimeios e de psicomotricidade, área coberta, biblioteca infantil, entre outros espaços. O local atende a 50 famílias, atualmente.

Feevale inaugura laboratório pioneiro no Rio Grande do Sul Leonardo Rosa / Feevale

Berçário é diferencial no Colégio Medianeira

Reproduzindo uma UTI, o Laboratório de Simulação conta com simulador humano mais completo do mundo

A Universidade Feevale de Novo Hamburgo irá inaugurar no primeiro semestre de 2012 o laboratório de simulação, que contará com um simulador humano, o SimMan 3G. Desenvolvido na Noruega pela empresa Laerdal, é o mais avançado simulador do mundo, capaz de reproduzir todos os sinais vitais de um ser humano, como batimento cardíaco, respiração e pressão sanguínea. O Laboratório de Simulação localiza-se no prédio Branco do Campus II da Feevale. Comandado por meio de um programa de computador, o SimMan 3G será usado nas aulas dos cursos da área da saúde, como Enfermagem, Fisioterapia

e Educação Física, possibilitando uma maior aproximação dos acadêmicos com a realidade. Segundo a professora Kelly Furlanetto, coordenadora do curso de Enfermagem, esse espaço possibilitará um ganho expressivo no ensino de graduação. “Os alunos se sentirão mais preparados, mais próximos do cenário real dos hospitais”, disse. Com o SimMan 3G, é possível criar quadros clínicos de pacientes, desde crises asmáticas até convulsões e paradas cardiorrespiratórias. O simulador reproduz todos os sintomas do quadro apresentado e reconhece se o acadêmico está atuando da forma correta para reverter a situação.

Rede Marista conquista Prêmio Aberje 2011

Desde os primeiros meses de vida, crianças são estimuladas com atividades pedagógicas

O case Aprender é o Nosso Jeito, sobre a Campanha de Fidelização e Captação dos Colégios Maristas de 2010, foi o grande vencedor do 37º Prêmio Aberje Nacional, na categoria campanha de comunicação e marketing. Os premiados foram conhecidos em novembro, em cerimônia realizada em São Paulo (SP). A Campanha de Fidelização e Captação é desenvolvida pela Comunicação e Marketing da Rede de Colégios e Unidades Sociais. Toda a concepção da proposta, assim como as estratégias, é

desenvolvida por um grupo que envolve mais de 30 profissionais de comunicação e outros setores da Rede, além dos gestores dos colégios. Após elaborada, a campanha é levada a todos os colégios, por meio de apresentações aos colaboradores e envolvimento dos próprios estudantes. O Prêmio criado pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial é considerada o maior reconhecimento de excelência para os trabalhos de comunicação organizacional do país.

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institucional

SINEPE/RS oferece programa de capacitação aos associados

Um dos eventos mais tradicionais e importantes do SINEPE/RS é o Seminário Matrículas, que neste ano chega na sua 10ª edição

O SINEPE/RS oferece uma série de cursos e seminários para seus associados ao longo deste ano. Com uma programação voltada para os diferentes públicos que atuam nas instituições de ensino, esses eventos têm como objetivo atualizar e capacitar os profissionais da educação. A programação se inicia com o 6º Seminário de Gestão Integrada: Formação de Gestores Educacionais. Os encontros ocorrerão nos dias 20, 27 de abril e 4, 11 e 18 de maio. Ainda em abril será realizado o 2º Encontro de Coordenadores Pedagógicos, no dia 24. Em maio, o primeiro evento será o 25° Encontro de Comunicação, no dia 15, e no dia 28 começa a 11ª edição do Curso de Formação de Líderes – A Gestão na Escola. O programa tem uma proposta inovadora ao desenvolver no participante habilidades para gestão, envolvendo estratégia, inovação, processos e pessoas, integrando cognição e comportamento preparando, assim, as lideranças para conduzir equipes de excelência. Serão

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três módulos realizados de 28 de maio a 1º de junho; 6 a 10 de agosto e 5 a 9 de novembro. No mês de junho, no dia 5, ocorre o 4º Seminário para Secretárias(os) da Educação Básica. Outro evento previsto para junho é o tradicional Seminário de Diretores, que ocorrerá no dia 21. Já no dia 27 será realizado o Sistema de Avaliação 2012 do PGQP: Interpretação dos Critérios de Avaliação (ICA), Avaliador do Sistema de Avaliação – Ciclo 2012. No dia 09 de julho começa a Formação em Coaching & Mentoring para Instituições de Ensino. O programa é inédito e busca desenvolver o gestor da educação na área pessoal e profissional com o objetivo de melhorar seu desempenho, atingindo a maximização de resultados. Serão dois módulos que ocorrem de 9 a 13 de junho e de 20 a 24 de agosto. Em 05 e 06 de julho ocorrerá o 5º Seminário de Identificação, Medição de Desempenho e Padronização de Processos em Instituições de Ensino.

No mês de agosto, será realizado, no dia 16, o 2º Seminário Pedagógico de Formação Continuada. Em setembro estão previstos dois eventos: o Curso de Seleção por Competências, oferecido pela primeira vez pelo SINEPE/RS, no dia 13, e no dia 27, o 9º Seminário de Cidadania. Para outubro, ocorrerá o tradicional Seminário Matrículas 2013, no dia 2, e em 23 de novembro o 65º Case de Práticas de Gestão. A programação de cursos e eventos do ano será fechada com as comemorações pelo 64º Aniversário do SINEPE/RS no dia 4 de dezembro. Na oportunidade serão entregues os troféus e certificados aos vencedores dos Prêmios do SINEPE/RS e homenageadas as instituições Jubilares.

saiba mais Mais informações sobre inscrições e programação dos cursos e eventos em www.sinepe-rs.org.br


cultur a

Carnaval brasileiro: uma expressão da cultura popular Não é por acaso que o Brasil é conhecido mundialmente como “O País do Carnaval”. Nenhuma outra nação do mundo se envolve tão intensamente com a festa carnavalesca quanto a nossa. Aqui, mesmo quem não “brinca carnaval” acaba, de um modo ou de outro, participando das atividades foliãs, seja seguindo um trio ou desfilando numa escola da samba, seja assistindo à festa pela televisão ou até reclamando do barulho. É exatamente esta característica inclusiva que diferencia nosso carnaval de outros e que nos permite entender a festa como um espaço importante da cultura popular. Aqui, vale um parágrafo sobre o que entendemos como cultura popular. Esta não se resume à cultura “feita pelo povo” ou àquela “feita para o povo”. Muito menos como cultura produzida por uma “indústria cultural” perversa que impõe os valores de mercado a uma população que, incapaz de reagir, consome o que lhe é oferecido de forma passiva e acrítica. Cultura popular, em seu sentido contemporâneo, é a dinâmica de tensões produzidas no encontro de múltiplos interesses (do “povo” ou da “elite”, “tradicionais” ou “modernos”, locais ou globais...) que se estabelecem nos espaços do cotidiano, ou seja, fora das insti-tuições de ensino e legitimação. A cultura popular se faz diariamente, nas trocas de informações, técnicas, estéticas, símbolos e significados que os grupos sociais realizam em suas atividades ordinárias de trabalho, deslocamento e lazer. Conjunto de festejos e comemorações surgidos na Europa Medieval Católica e trazidos ao Brasil pelos colonizadores portugueses pertencentes, em sua maioria, às camadas populares, o carnaval rapidamente se espalharia por todo o país. O contato com a cultura negra proveniente do tráfico de escravos e marcada pela ocupação ritual dos espaços públicos ampliaria a importância dos festejos que, por muito tempo, seriam reunidos no conceito de entrudo. O fato de ter surgido e se manter nas franjas das comemorações e festividades oficiais, quase totalmente controladas pela Igreja, ampliaria o caráter cotidiano (e portanto popular) das brincadeiras. Na virada para o século XIX, iniciava-se, na cidade do Rio de Janeiro, um movimento de repulsa ao en-trudo liderado pela elite da então capital do país que buscava na folia parisiense o modelo para a implantação de um carnaval em terras brasileiras. Entretanto, a “importação” dos bailes a fantasia e dos passeios de carruagens à francesa, visando ocupar o espaço da “antiga” brincadeira, não causaria o efeito desejado pela elite. Ao contrário, a brincadeira “grosseira” das ruas acabaria por incorporar as novas formas de diversão, fazendo surgir desse diálogo uma nova festa ainda mais “popular”, produto de interações ocorridas nas ruas da cidade, fora dos interesses institucionais. A partir desse processo inicial, “exportado” pela corte para

A festa importada da Europa recebeu novo formato o chegar no Brasil, a partir do contato com a cultura local

todo o Brasil, o carnaval ganharia cada vez mais fôlego no país, estabelecendo-se como momento supremo de “liberdade”, ou seja, como um espaço privilegiado (mas não oficialmente institucionalizado) para as trocas características da cultura popular. Ou seja, a “inconsequência” e a “displicência” que caracterizam o carnaval como um “momento de loucura” ou de “inversão” do cotidiano” facilitam as trocas de informação diretas e são a maior razão da força e importância da festa. Com a instauração do “reinado da folia”, coloca-se em segundo plano a vida oficial e valoriza-se o “descompromisso” com suas instituições. Abre-se espaço, desse modo, para um diálogo complexo em sua aparente simplicidade reunindo as diferentes camadas (e interesses) de nossa sociedade nos espaços onde se faz e se afirma nosso carnaval como expressão máxima da cultura popular do país. Felipe Ferreira

Professor do Instituto de Artes da UERJ e coordenador do Centro de Referência do Carnaval

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congresso

A neurociência como aliada da educação

N

esta edição, os participantes do 11º Congresso do Ensino Privado Gaúcho entrevistam a doutora em Educação e pesquisadora na área de Neurociências aplicada à Educação, Fernanda Antoniolo Hammes de Carvalho, sobre a relação da neurociência com as estratégias de ensino e a aprendizagem de crianças e adolescentes. Pesquisadores de todo o mundo reforçam a tese de que os primeiros anos são fundamentais para a constituição cerebral, mas há também estudos que apontam para os perigos desse determinismo científico e de uma visão que induza à hiperestimulação infantil. O que pensas sobre essas questões? No seu entendimento, quais seriam as principais contribuições das neurociências para as estratégias pedagógicas desenvolvidas pelos professores na Educação Infantil?

Lisiane Rossatto Tebaldi Orientadora pedagógica da Educação Infantil do Colégio Anchieta de Porto Alegre 38

Fernanda de Carvalho - Reconhecendo a existência de uma base biológica do comportamento humano e o potencial das interações sociais, concordo na importância científica atribuída à infância. Apesar de toda criança ter em comum o cérebro, é embasada na singularidade dos indivíduos que percebo a necessidade de qualificar a intervenção do educador infantil. Nesse sentido, entendo que informações científicas que abordem o funcionamento cerebral, a memória, a atenção, as emoções e o papel da multissensorialidade (inclusive o risco da hiperestimulação) na percepção do mundo, muito podem colaborar para rever concepções de infância e de criança. Exemplificando, hoje a neurociência traz contribuições acerca da moralidade, do apego, da linguagem, das aprendizagens motoras, das habilidades matemáticas apresentadas pelas crianças. A memorização mecânica é uma estratégia cognitiva que deve ser considerada uma aliada às didáticas multissensoriais, utilizadas em sala de aula, a fim de favorecer a construção dos esquemas

representacionais de cada aluno? Quais elementos qualificam a avaliação processual que utiliza tais didáticas multissensoriais ? Kátia Beppler Macagnan Coordenadora do Ensino Médio do Colégio Monteiro Lobato de Porto Alegre Fernanda de Carvalho - A memorização mecânica está envolvida na aquisição de hábitos motores e verbais que são facilmente evocados. ‘Decorar a tabuada’, por exemplo, é uma estratégia positiva na medida em que temos à disposição uma informação sem requerer esforço mental, permitindo que a atenção seja direcionada para uma tarefa mais complexa. Entretanto, diante de uma educação que tem como finalidade levar o aluno a construir conhecimento, é essencial a compreensão real do significado do processo matemático, e aí a exploração dos estímulos sensoriais é importantíssima. O envolvimento de diferentes canais sensoriais na aprendizagem contribui para aumentar o engrama (conjunto de memórias) do aluno, influenciando a construção do mapa cognitivo da mente.


Não temos o hábito de ensinar a ‘pensar sobre o próprio pensamento’ ”

Jogos, uso do ábaco e músicas contribuem para a construção de dicas de memória, as quais, articuladas, nos permitem lembrar o que foi aprendido. Podemos dizer que o cérebro: organiza as redes neurais; faz uma interação entre pensamento e o comportamento; desenvolve-se em todas as idades. Portanto, a aprendizagem é uma consequência natural dos estímulos que o cérebro recebe. Nessa perspectiva, como a neurociência pode auxiliar e/ ou prevenir as dificuldades de aprendizagem dos alunos, principalmente na adolescência? Scheila Guimars Rolim Orientadora educacional do Colégio La Salle de Canoas

quando ele adquire um novo conhecimento. Os estudos sobre metacognição

demonstram que não basta “ensinar a pensar ou a aprender”, mas pensar sobre o que se pensa e se aprende, ou seja, desconfiar sempre da própria reflexão, estabelecendo possibilidades diversas de organização desta desordem cerebral no ato de aquisição de qualquer saber. Os estudos sobre neurociência confirmam esta primorosa habilidade humana de pensar de certa forma, digamos, “ao quadrado”? Yuri Flores Machado Coordenação do Enem do Colégio Vicentino Santa Cecília de Porto Alegre Fernanda de Carvalho - Na verdade, a metacognição pode ser desenvolvida desde a infância. Entretanto, a maneira como as escolas geralmente desenvolvem seu currículo não favorece o desenvolvimento metacognitivo, não temos o hábito de ensinar a “pensar sobre o próprio pensamento”. Estudos da neurociência (Sowell et al., 2001; Bunge, 2002 ) têm mostrado que os indivíduos adolescentes, devido ao amadurecimento dos lobos frontais, são mais eficientes na capacidade de pensar sobre crenças e sobre seus próprios processos e estratégias cognitivas. Outros estudos (Chen e Khar, 1999; Barnett e Ceci, 2002; De corte, 2003) têm

apontado que indivíduos que recebem treinamento para avaliar e monitorar seu desempenho ao longo da tarefa a ser executada obtêm melhores resultados. Tratase de uma abordagem em que a aprendizagem é entendida como um processo ativo, recursivo e reconstrutivo. Aprender em situações novas é um bom exercício metacognitivo, o aluno aprende a avaliar e usar o conhecimento prévio em função das demandas de um novo objetivo.. Convém destacar que oportunizar o desenvolvimento metacognitivo nos alunos exige um professor que também tenha essa competência cognitiva desenvolvida. Venho defendendo há algum tempo a necessidade de desenvolver a metacognição nos acadêmicos das licenciaturas, em especial por meio da atividade de pesquisa.

saiba mais Nas próximas edições, a Educação em Revista trará outros conferencistas do 11º Congresso do Ensino Privado Gaúcho para responder a perguntas dos participantes do evento. Se você quiser participar desta seção, solicite mais informações pelo e-mail educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br

Fernanda de Carvalho - Retomo aqui a necessidade de reconhecermos a relevância da neurociência para a educação. Acredito que professores que têm ampliadas suas condições de compreender os mecanismos que influenciam a conduta cognitiva dos seus alunos, quer como sujeito aprendente, quer como sujeito social, têm possibilidade de melhor reconhecer e lidar com as dificuldades de aprendizagem por eles apresentadas. Os professores precisam estar aptos para isso. Sem dúvida que as intervenções do mundo adulto no desenvolvimento infantil originam memórias que são ponto de partida para comportamentos motores e emocionais na adolescência, entretanto a neurociência tem mostrado que, dependendo da situação, condições negativas são mutáveis diante de intervenções docentes e/ ou multidisciplinares eficientes. Você falou de uma “desordem” no cérebro Educação 39


f i q u e po r d e n t r o

Último ano para se adaptar ao acordo ortográfico A partir de 1º de janeiro de 2013, as novas regras do acordo ortográfico passam a ser obrigatórias. A partir dessa data, os professores são obrigados a ensinar as regras da nova ortografia e deverão contar com material didático atualizado com as mudanças. O novo acordo alterou 0,5% das palavras do vocabulário comum do brasileiro, menos que em Portugal, que teve 1,6% das palavras atingidas.

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Trabalho à distância reconhecido na CLT

Você conhece Salman Khan?

O Senado aprovou o projeto de lei 102/07 que iguala o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado na casa do empregado e o feito a distância. De acordo com o projeto, os meios como a internet, por exemplo - se equiparam aos meios pessoais e diretos. A proposta agora segue para a sanção da presidente da República. Na PUCRS, um grupo de pesquisa do Programa de PósGraduação em Direito, tornou-se referência nacional e internacional em estudos nesta área. Em 2011, encaminharam aos senadores gaúchos uma proposta de substitutivo, sugerindo, entre outros itens, sistemas de controle de horário do teletrabalhador, proteção ao ambiente (ficando claro quem arca com os custos, por exemplo) e revisão da reserva de vagas para pessoas com deficiência.

Formado em matemática, ciências da computação e engenharia elétrica, o americano Salman Khan seria um cidadão comum se não tivesse tido uma ideia revolucionária: oferecer conhecimento de alto nível sobre todos os assuntos e de graça, pela internet. Ele já publicou mais de 2.700 vídeos e exercícios gratuitos sobre mais de 40 áreas do conhecimento. O foco maior da sua produção é na área das exatas, mas já produziu conteúdo de história e arte. O grande diferencial das aulas de Salman é traduzir numa linguagem simples e acessível assuntos complexos e abstratos. Para isto, investe em desenhos, gráficos e exemplos. Suas aulas costumam não passar de 20 minutos. As videoaulas do professor estão disponíveis na Khan Academy, uma organização não governamental criada por ele para reunir toda a sua produção. O site ganhou uma versão brasileira e pode ser conferido neste endereço: http://www.fundacaolemann.org.br/ khanportugues Na Califórnia suas produções já chegaram às salas de aula de mais de 15 escolas. Os professores utilizam as aulas para introduzir ou reforçar conteúdos. No Brasil, a Fundação Lemann já planeja levar a ferramenta Khan Academy para as escolas públicas. Inicialmente, será um projeto-piloto em 6 turmas de 5º ano (antiga 4ª série) de escolas municipais de São Paulo.


Estude nas melhores universidades do mundo sem sair de casa Se você sonha em fazer uma pós-graduação ou um curso de especialização no exterior, saiba que as melhores universidades do mundo oferecem cursos a distância por valores acessíveis e outros gratuitos. Como é o caso da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, que oferece 16 cursos gratuitos em diferentes áreas. E o participante ainda recebe certificado de participação. Já os cursos pagos variam de US$ 400 a US$ 2 mil. Em Harvard, por exemplo, é possível escolher entre os mais de 150 cursos em áreas como história e biologia. No site do curso há um vídeo que explica a disciplina, apresenta o conteúdo e traz o programa das aulas por escrito. Já na Oxford são oferecidos cursos em

arqueologia, história da arte, escrita criativa, economia, literatura, história e filosofia. As capacitações duram dez semanas e não há pré-requisito para a matrícula, apenas é preciso comprovar o domínio da língua inglesa por meio de certificados internacionais.

Conheça as universidades www.extension.harvard.edu/about-us http://extension.berkeley.edu/online http://londoninternational.ac.uk/ www.conted.ox.ac.uk/courses/online/short/index.php http://scpd.stanford.edu/

Associação dos EUA cria padrão para citação de tweets em produções acadêmicas A Associação de Linguagem Moderna dos EUA reconheceu a validade do uso dos tweets (mensagens enviadas pelo Twitter com até 140 caracteres) em trabalhos acadêmicos. Para a instituição, essas mensagens são formas de opinião na literatura acadêmica. A orientação é que a citação tenha início com o sobrenome, seguido do primeiro nome do autor. Após, vem o username entre parênteses e, em seguida, o tweet em si, completo e entre aspas. Depois, a data e hora.

anúncio gráfica

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vitrine

Coleção da Editora Positivo ensina português a estrangeiros A Editora Positivo acaba de lançar a coleção Viva!, que visa ao ensino de português para estrangeiros. Viva! oferece a oportunidade de aprender a partir de situações baseadas no contexto social brasileiro, tendo como ponto de partida textos autênticos, voltados ao falante nativo. Dividida em quatro volumes, para alunos e professores, a coleção é totalmente escrita em português, apresentando diversos aspectos da cultura, considerando, inclusive, regionalismos. Os livros reúnem também textos em áudio e canções para mostrar e apresentar situações reais do cotidiano do brasileiro.

Smart cria centro de aprendizado interativo O Smart Table é o primeiro centro de aprendizado interativo multitoque e multiusuário que permite aos alunos das primeiras séries trabalharem simultaneamente em uma superfície. O equipamento conta um kit de ferramentas em que o professor pode personalizar atividades prontas ou criar novas tarefas, ampliando o grau de dificuldade, de acordo com a resposta da turma. O Smart Table ainda permite a transferência de arquivos do computador para o centro de aprendizado usando a unidade USB. Também é possível imprimir telas de atividades concluídas.

Mais informações: www.positivodireto.com.br

Emilia Ferreiro em DVD A revista Nova Escola lançou a coleção com quatro DVDs sobre a vida e a obra da psicolinguista argentina que revolucionou a alfabetização, Emilia Ferreiro. Além de trazer a biografia da especialista, o vídeo aborda a introdução à cultura escrita apresentada de forma interativa por meio de uma entrevista de Emilia, concedida a Telam Weisz. Também é possível conferir um rico material sobre a Psicogênese da língua escrita e a didática.

Material auxilia na abordagem da educação para o trânsito O projeto “Educando Crianças para o Trânsito”, da Tecnodata Educacional, oferece um conjunto de materiais pedagógicos, entre livros, vídeos, cartazes, CDs e DVDs, com o objetivo de auxiliar o professor a abordar a temática da educação para o trânsito em sala de aula. O material foi desenvolvido em diferentes mídias, proporcionando um real aproveitamento dos temas e facilitando o trabalho do professor e o aprendizado dos alunos. Mais informações: http://www.tecnodataeducacional.com.br

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Saraiva cria programa de avaliação para o Ensino Médio A Editora Saraiva lançou nova versão do programa Conecta, o Acompanha Aprendizagem, uma plataforma digital completa de avaliação e gestão da aprendizagem. O produto oferece aos professores a possibilidade de obter um diagnóstico preciso das dificuldades enfrentadas pelos alunos, além de mapear as habilidades e competências de cada aluno e da classe. O Acompanha traz milhares de questões que podem ser usadas na aplicação de testes, produzindo avaliações imediatas. Além disso, os professores podem criar as suas próprias questões.


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