Educação em Revista - Edição 137

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P.20 / PEDAGÓGICO

Metodologias ativas e a BNCC P.24 / GESTÃO

UMA PUBLICAÇÃO DO SINEPE/RS ›› Nº 137 ›› ANO XXIII ›› ABRIL/MAIO/JUNHO 2020

LIÇÕES DA QUARENTENA

Crise coloca as finanças em xeque

Instituições de ensino se reinventaram para enfrentar dificuldades inesperadas



Experimente aprender Positivo O Sistema Positivo de Ensino prepara gestores e educadores para os desafios do cenário atual e estimula a curiosidade dos alunos com ferramentas digitais. Positivo On

Tecnologia aliada à educação

Realidade Aumentada O mundo ao seu alcance

Livro Digital

Sustentável e off-line

Avaliações Positivo

Preparação para os melhores exames

PrepApp

O estudo no seu ritmo

gestaoescolar.editorapositivo.com.br


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››› Sumário

13 ENTRE ASPAS A relação entre aluno e professor na pandemia

14 INSPIRE-SE Aluna disponibiliza resumos na internet

16 COM A PALAVRA Fernando Schüler e o legado da pandemia

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‹‹‹ 8 CAPA Lições da quarentena: como as instituições de ensino se reinventaram para enfrentar dificuldades inesperadas

PEDAGÓGICO

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BNCC e a aplicação das metodologias ativas

28 INOVAÇÃO Uma rede de ajuda contra o bullying

GESTÃO Dentro do contexto do novo coronavírus, manter as contas em dia virou um grande desafio. Saiba o que é possível fazer

30 PESQUISA Os desafios do novo Ensino Médio

33 INTERNACIONAL Saiba como fazer internacionalização

38 DIVERSIDADE A inclusão de alunos com deficiência Educação em Revista | Nº 137 | Abril\Maio\Junho 2020

35 ››› RADAR

UFN, de Santa Maria (foto abaixo) e Setrem, de Três de Maio, são dois exemplos de instituições que se empenharam na ajuda à comunidade


Editorial ›››

DIRETORIA: Presidente: Bruno Eizerik, 1º Vice-

Presidente: Osvino Toillier, 2º Vice-Presidente: Oswaldo Dalpiaz, 1ª Secretária: Marícia da Silva Ferri, 2º Secretário: Iron Augusto Müller, 1º Tesoureiro: João Olide Costenaro, 2º Tesoureiro: Hilário Bassotto. Suplentes: Maria Helena Rodrigues Lobato, Ruben Werner Goldmeyer, Nestor Raschen, Carlos Roberto Milioli, Antônio Roberto Lausmann Ternes, Celassi Bernardete Dalpiaz, Bárbara Perlin Nissola. CONSELHO FISCAL: Titulares: Ademar Joenck, Inacir Pederiva, Guilherme Kühne. Suplentes: Isaura Paviani, Maria Angelina Enzweiler, Elenar Luisa Berghahn. DELEGADOS REPRESENTANTES: Bruno Eizerik e Osvino Toillier. Suplentes: Hilário Bassotto e Oswaldo Dalpiaz.

EQUIPE: Direção: Milton Léo Gehrke. Assessoria pedagógica: Naime Pigatto e Claudete Chiarello. Centro de Desenvolvimento em Gestão (CDG): Vera Lúcia Corrêa. Assessoria de Comunicação e Marketing: Luciana Moriguchi Jeckel Lampugnani, Carine Fernandes, Eduardo Oliveira, Tamara Stucky, Hermes Moura, Bruno Pinheiro e Alana Schneider. Financeiro: Matheus Philippi. Atendimento: Jaqueline Maria Rodrigues da Rosa e Suelen Schroeder Ferreira, Emília Pires e Joana Reni Vielhuber. Serviços Gerais: Ereni Souza da Silva e Naira Elizabetti Real. REVISTA: Supervisão: Carine Fernandes (MTB

15.449). Edição: Carlos Guilherme Ferreira (MTB 11.161). Reportagens: Pedro Henrique Pereira, Igor Morandi, Tatiana Bandeira. Capa: Deposit Photos. Diagramação: Padrinho Agência de Conteúdo. Revisão: Milton Gehrke. Gestão em produção gráfica: BTWOB Soluções em Comunicação. Impressão: Gráfica Comunicação Impressa. Conselho Editorial: Prof. Osvino Toillier, Prof. Hilário Bassotto, Prof. Flávio D’Almeida Reis, Profª Mônica Timm de Carvalho, Profª Naime Pigatto, Profª Raquel Boechat, Prof. Ruy Carlos Ostermann, Profª Ângela Ravazzolo, Profª Rosângela Florczak e Prof. Gustavo Borba. Antenas: Adriana Gandin, Alfredo Fedrizzi, Caio Dibi, Crismeri Corrêa, Fernando Becker, José Moran, Laura Dalla Zen, Márcia Beck Terres, Mauro Mitio Yuki e Rodrigo Capelato. FALE CONOSCO – Redação: Cartas, comentários, sugestões, matérias – educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br Comercial: Anúncios e assinaturas – comercial@sinepe-rs.org.br. Informações: Telefone (51) 3213.9090 e www.educacaoemrevista.com.br. ISSN: 1806-7123 A Educação em Revista não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam o pensamento dos respectivos autores.

Quando a reinvenção vira questão de sobrevivência CARLOS GUILHERME FERREIRA Editor da Educação em Revista

P

oucas palavras talvez possam resumir 2020 tão bem quanto reinvenção, aprendizado e adaptação. A pandemia provocada pelo coronavírus colocou por terra, em questão de dias, modelos tidos como consolidados nos mais variados campos – do econômico ao da saúde, passando também pela educação. Hábitos mudaram, as máscaras coloriram o cotidiano e o distanciamento social se tornou o novo normal. Até quando? Difícil prever. Por isso mesmo é que as instituições de ensino precisam aprender com a pandemia. E nossos repórteres foram a campo (de forma remota, que fique claro) para saber como o meio educacional reagiu diante da impossibilidade das aulas presenciais. Entre as medidas adotadas, duas se destacam: atenção personalizada ao aluno e capacitação permanente dos professores. Eles representaram a linha de frente, visto que transformaram as próprias casas em salas de aula virtuais, e são fundamentais com suas percepções no dia a dia. Buscamos esse olhar na seção Entre Aspas, com as palavras do professor Márcio Marangon, coordenador pedagógico do Colégio Notre Dame, de Passo Fundo. Ele aborda a relação com os estudantes através de um ponto de vista construído justamente por meio das atividades práticas: “neste turbilhão de novidades, os educandos também cansam, se frustram, sentem insegurança. É

preciso ouvi-los. Ouvir as famílias. Receber o feedback. Ter humildade de perceber que não sabemos tudo.” A última frase do professor sintetiza o momento. Não basta saber como aplicar as aulas on-line, agora com ferramentas já usadas anteriormente e outras inéditas até então. É preciso, também, gerir as finanças da instituição em um momento no qual as famílias dos estudantes (e a sociedade como um todo) experimentam uma queda brutal na renda. Preparação faz toda a diferença, portanto. Veja o que diz o diretor geral do Centro de Ensino Médio Pastor Dohms, Waldir Werner Scheuermann: “Utilizamos tecnologias e ferramentas próprias de gestão acadêmica e não precisamos fazer investimentos nestas áreas”. Quanto ao pedagógico, explica, as coisas passam pela retomada dos conteúdos. E aí entramos no campo da aprendizagem. A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foca no desenvolvimento das competências humanas e sociais – processo no qual os professores ocupam posição fundamental. Uma maneira de aprimorar este processo, segundo especialistas, é a implementação das chamadas metodologias ativas. Mas há de se ter cuidado. “Não podemos misturar a pandemia com metodologias ativas, porque nelas é importante estar presente, já que colocam o aluno no centro do processo”, avalia Debora Garofalo, finalista do Global Teacher Prize, considerado o maior prêmio de educação do mundo. Novos tempos vêm aí, e precisamos nos preparar o quanto antes. 

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››› Sinepe em ação

SINEPE/RS REFORÇA A ATUAÇÃO DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19 Confira nesta página algumas das ações adotadas pelo Sindicato para manter o atendimento constante aos associados e a comunicação com o público REPRODUÇÃO

REUNIÕES ON-LINE

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edições l Inclui 3 encontros regionais: Regiões Metropolitana, Centro e Noroeste. l Contato constante com a Secretaria Estadual da Educação (foto).

PORTAL DO SINEPE/RS

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matérias relacionadas à pandemia

PRESENÇAS DO SINEPE/RS NA IMPRENSA

537 PESQUISAS COM OS ASSOCIADOS

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pesquisas, com os seguintes temas: l Funcionamento das escolas no período de suspensão das aulas (duas). l Como as escolas desenvolvem as atividades domiciliares. l Situação econômica das escolas.

CANAL DO SINEPE/RS NO YOUTUBE

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vídeos produzidos para ajudar as instituições durante a pandemia l Informações atualizadas em 15/6.

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EVENTOS ON-LINE GRATUITOS

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edições. Entre as temáticas, estão: l Impactos jurídicos e pedagógicos com a suspensão das aulas presenciais. l Um novo planejamento de currículo para as atividades domiciliares. Palestrantes convidados: Priscila Boy e Paulo Fochi. l A gestão das emoções em tempos de pandemia. Palestrante convidada: Alessandra Gonzaga. l Orientações do Conselho Nacional de Educação para o ensino remoto. Palestrante convidado: Eduardo Deschamps, conselheiro do CNE.


Sinepe em ação ››› REPRODUÇÃO

››› Vídeos estão disponíveis no canal do Youtube do Sinepe/RS

CAMPANHA EM VÍDEO É LANÇADA PARA DIVULGAR BOAS PRÁTICAS Com a suspensão das aulas presenciais foi necessário que as escolas se reinventassem. Todas as instituições privadas do Rio Grande do Sul passaram a oferecer atividades domiciliares para dar continuidade ao ano letivo. Para

ajudar as escolas nesse momento, o SINEPE/RS lançou no Youtube a Campanha #CompartilheBoasPráticas. Um espaço para divulgar o trabalho do ensino privado e fortalecer as instituições por meio de uma rede colaborativa.

Divulgados semanalmente no canal da TV SINEPE/RS, os vídeos mostram a atuação das escolas nesse momento, com iniciativas de professores, recursos para aproximar os pais da rotina dos filhos, o uso de ferramentas tecnológicas e estratégias específicas para cada etapa de ensino. A campanha busca apresentar as boas práticas para ajudar as instituições durante a pandemia, um momento no qual todos estão aprendendo.

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››› Reportagem de capa

ARTE SOBRE IMAGEM DEPOSIT PHOTOS


(Re) aprendendo a ensinar A pandemia causada pelo novo coronavírus colocou as instituições de ensino diante de diversos desafios da noite para o dia. Mais do que isso: de alguma forma, deve impactar o setor educacional para sempre. Atenção individualizada e capacitação permanente estão entre as principais lições da quarentena.

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››› Reportagem de capa PEDRO PEREIRA

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consenso entre especialistas: a educação estará profundamente transformada após a quarentena. O toque de recolher imposto pelo surto do novo coronavírus exigirá atenção redobrada de gestores e educadores para entender como alunos e famílias voltarão às atividades presenciais. Mas, mesmo antes disso acontecer, o desafio já é inédito. Os esforços para manter o funcionamento das instituições precisam ser pensados com clareza para que não haja problemas. Assim como todo mundo, as instituições de ensino foram pegas de surpresa. Com exceção daquelas que oferecem ensino a distância, os projetos pedagógicos não previam atividades para o atendimento de todos os alunos com aulas remotas. Além disso, professores – e mesmo os alunos – não estavam preparados para desenvolver conteúdos e avaliações remotamente. “O planejamento foi feito pensando na normalidade. Hoje, foi para a gaveta – e logo deve ir para o lixo”, alerta o doutor em educação Paulo Tomazinho, especialista em aprendizagem e tecnologias educacionais. Vale ressaltar que essa falta de planejamento para atividades remotas é uma questão regulamentar: em situações normais não é permitido aplicar ensino a distância na Educação Básica. Já na Educação Superior, cursos presenciais tinham autorização para cumprir até 20% da carga horária a distância – a partir deste ano, até 40% para algumas

CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL Em vídeo na TV Sinepe/RS, veja o guia de orientações pedagógicas para as atividades domiciliares

PAULO TOMAZINHO, doutor em educação e especialista em aprendizagem e tecnologias educacionais

“O gestor deve achatar a hierarquia e aproximar quem está experimentando da tomada de decisão” IVO ERTHAL, coordenador pedagógico da Conquista Solução Educacional

“As pessoas estão abertas para se relacionar com novas formas de trabalhar dentro da escola” disciplinas, conforme portaria do Ministério da Educação. De qualquer forma, o escopo dos projetos pedagógicos nasceu e cresceu pensado de forma basicamente presencial e, de repente, todo mundo viu-se em casa.

Primeiro desafio: pedagógico Em uma situação emergencial como a do coronavírus, a primeira questão a ser resolvida é como continuar entregando o conteúdo aos alunos. As instituições de ensino seguiram caminhos ora parecidos, ora diferentes, considerando as particularidades e possibilidades de cada uma e os resultados apurados constantemente para corrigir o rumo das ações. ”Em termos de estrutura e atividades, ninguém estava preparado. O que a gente tem notado é que outro tipo de preparação está ajudando muito: as pessoas estão abertas para se relacionar com novas formas de trabalhar dentro da escola”, observa o coordenador pedagógico da Conquista Solução Educacional, Ivo Erthal. O primeiro gargalo, segundo ele,

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foi justamente a continuidade do processo de ensino. “Isso foi o que se resolveu mais rapidamente, até mesmo em função da necessidade”, acredita. O CEO da Hoper Educação, William Klein, concorda. “São muitas as questões em aberto, porém já é possível dar os parabéns aos gestores e professores que se dispuseram a isso. O processo da migração foi feito de modo surpreendentemente positivo e rápido”, elogia. Entre os fatores que contribuíram para essa agilidade está a existência prévia das tecnologias, embora ainda não empregadas em larga escala. Para Paulo Tomazinho, no entanto, é preciso deixar claro que não se trata de educação a distância, mas de uma solução emergencial. A EAD tem uma fábrica de conteúdo ou um professor conteudista, depois isso é levado a uma plataforma onde todos os alunos têm acesso e recorrem a um tutor, que funciona na intermediação, mas não é quem prepara o conteúdo – ao contrário do que se vê durante a quarentena. “Trata-se de ensino remoto emergencial, aplicado em situações de crise, como guerras ou tragédias climáticas”, explica.

Relacionamento fideliza, mais do que nunca Superada a primeira barreira, o obstáculo seguinte é tranquilizar alunos e famílias sobre a qualidade da entrega. É preciso estabelecer um canal direto e objetivo, a fim de que as adaptações sejam compreendidas por todos. Além disso, o educador deve entender que as famílias tiveram suas rotinas profundamente abaladas e os alunos dispõem de diferentes ambientes entre si para estudar e assistir às aulas. Outro aspecto que preocupa os gestores é o financeiro. Além do aumento da evasão, os pedidos de negociação de mensalidades se tornam cada vez mais frequentes. O principal risco é que uma condição de pagamento criada para um caso seja reivindicada por um grande


Reportagem de capa ›››

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número de alunos, inviabilizando o fluxo de caixa (leia mais à página 24). Segundo a consultora em gestão de crise e reputação Rosângela Florczak, este é o aprendizado que está em andamento: a aproximação dos gestores com a realidade das famílias. Isso já existe nas escolas, por meio das associações de pais e mestres e da presença mais frequente da família. “No Ensino Superior se perdeu muito, mas hoje nem mesmo o Superior pode abrir mão dessa proximidade. Não é só entender caso a caso: as instituições de ensino devem ter uma figura muito bem preparada para fazer o contato com o aluno”, adverte. “Um grande legado no meio educacional é a sensibilidade à questão das famí-

lias”, concorda Erthal. A reflexão é relativamente simples: assim como em uma sala de aula com 30, 40 alunos é preciso respeitar as individualidades, o perfil econômico também exige compreensão. “A economia brasileira está, agora mais ainda, em uma montanha-russa que dá muita insegurança aos pais. A escola que se abre para o diálogo consegue manter o aluno e o relacionamento após a quarentena”, prevê.

Pequenos passos, soluções eficientes Se algum professor ainda encontra dificuldades na mediação dos objetos de conhecimento com seus alunos, a dica é

rever o planejamento e focar nas aprendizagens essenciais, conforme a BNCC. Recorrer a ferramentas robustas a esta altura tem grande chance de ter efeito reverso e criar gargalos que afastem ainda mais os alunos. Acessos com senha, por exemplo, podem dificultar a entrada ou o registro de atividades. “Quando a instituição quer fazer isso presencial, demora de três a seis meses até que todos os alunos se acostumem. Em uma situação emergencial, sem ter esse tempo, é muito complicado entrar com uma plataforma grande. Pode ser um site com link para as aulas, tudo aberto. Ninguém vai entrar para atrapalhar. WhatsApp todo mundo tem, pode criar uma lista de transmissão e enviar o conteúdo”, simplifica Tomazinho. A rede pública do Paraná, por exemplo, trabalha com os objetos de conhecimento pela televisão, em canal aberto, e via aplicativo e outros canais digitais. A quantidade de acessos pela televisão se mostrou imensamente superior (cerca de 90%), o que Tomazinho credita à facilidade de acesso. No final de maio, o governo do Rio Grande do Sul também anunciou projeto semelhante, com a TVE, voltado à preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A capacidade de concentração também merece atenção. Se uma atividade presencial pode durar 50 minutos sem perda de foco, provavelmente no ambiente digital isso precise ser adaptado. A linguagem é outro ponto que pode sofrer alteração. Ao contrário do espaço educacional formal, que tem ritos bem definidos, a interação durante a quarentena se mostra caseira. “[O interlocutor] está dentro da casa da pessoa, muitas vezes de roupa à vontade, gato no colo, comendo. Isso acaba deixando as pessoas mais à vontade, tem a riqueza da informalidade”, acredita Florczak. O reflexo dessa nova relação pode impactar até mesmo na disposição das salas de aula após a quarentena. Segue ›››

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››› Reportagem de capa Ações coordenadas ganham força No ambiente da gestão, além do diálogo com alunos e famílias no quesito financeiro, é preciso manter a capacitação e o suporte permanente para os professores. Com a questão técnica resolvida, surgem problemas na interação, afinal, tudo é novidade. Brincadeiras inconvenientes ou situações embaraçosas demandam orientação da direção e ajustes no processo. Para otimizar as ações, é importante que todas as experiências sejam registradas e, pelo menos semanalmente, os professores troquem ideias sobre o que tem funcionado melhor. Essa memória ajuda a aprimorar a abordagem e alcançar resultados cada vez melhores. Acelerar e padronizar os processos que se mostram mais eficientes no momento da crise é a engrenagem para que tudo funcione: a entrega, a percepção de valor sobre ela e o relacionamento com alunos e famílias – que culmina na queda da inadimplência. Para o retorno, alguns pontos precisam ser muito bem pensados pelas instituições. Primeiro porque provavelmente os alunos não voltem todos na mesma data, já que as famílias ou eles próprios podem se sentir inseguros para isso. Depois, espaços de convivência terão que ser adaptados para respeitar normas de distanciamento social estabelecidos nos protocolos dos órgãos oficiais. Horários de intervalo, locais de acesso e concentração de pessoas, também.

O legado Abrupta, severa e abrangente. A crise causada pelo novo coronavírus fez com que a aprendizagem de gestores e professores disparasse em velocidade até então inimaginável. “Foram 20 anos em 20 dias. Os projetos de transformação digital não foram feitos por um CEO, pelo departamento de marketing ou o de tecnologia: foi o vírus que fez”,

aponta Tomazinho. Eis o grande legado da pandemia: em caso de nova crise, a exigência estará mais alta. Para completar essa herança positiva, o ideal é que a formação permanente entre de vez no radar das instituições de ensino. Uma universidade paranaense atendida por Tomazinho realiza cerca de 40 ações de promoção do conhecimento a cada ano. Resultado: em 48 horas a própria equipe tinha elaborado um plano para o desenvolvimento de atividades pedagógicas de modo domiciliar durante a quarentena. E funcionou. “O retorno sobre o investimento em programas de mentoria é muito maior do que palestras e treinamentos. Pega quem quer mudar e acelera. O gestor deve achatar a hierarquia e aproximar quem está experimentando da tomada de decisão”, conclui. 

Live do Sinepe/RS O Sinepe/RS promoveu um encontro on-line do qual participaram o presidente do Sindicato, Bruno Eizerik, e o presidente do Conselho Nacional de Educação, Eduardo Deschamps. l Para Deschamps, o momento é de superar processos engessados para atender a todos os alunos. “A escola precisa vencer a barreira do ‘eu não faço, eu não quero, eu não posso’ e pensar ‘de que maneira vamos garantir que o seu filho possa aprender?’”.

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Solução Design Thinking Como este processo pode ajudar as instituições de ensino: l Baseado em três pilares, este conjunto de ideias ajuda a enfrentar crises. Embora seja uma ação permanente, em momentos como o da pandemia suas premissas se mostram bastante coerentes com os desafios de gestores e educadores.

Empatia lÉ preciso entender o problema e, para isso, compreender as pessoas que estão envolvidas. Aceitar as condições em que cada aluno assiste às aulas e jogo de cintura para conseguir retenção.

Colaboração lDesenvolvimento das soluções em parceria com as pessoas e o próprio usuário. Professores e alunos, na parte de conteúdo. Gestores e famílias quanto ao aspecto financeiro.

Experimentação lTestar de forma permanente e colaborativa, ajustando a solução para que atenda cada vez melhor às expectativas dos envolvidos. Fonte: Gabriela Ferreira, consultora em inovação e empreendedorismo e professora da PUCRS.


Entre Aspas ›››

Márcio Luís Marangon Graduado em Filosofia, Mestre e Doutor em Educação, é professor de Filosofia e Coordenador Pedagógico do Colégio Notre Dame em Passo Fundo (RS).

Cada um vai encontrar seu caminho… Neste turbilhão de novidades, os educandos também cansam, se frustram e sentem insegurança. É preciso ouvilos. Ouvir as famílias. Receber o feedback. Ter humildade de perceber que não sabemos tudo

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lém dos problemas de saúde, os efeitos da pandemia revelaram muitas lacunas sociais, políticas, econômicas e existenciais no mundo. Nada de novo pela situação vivida. Em meados do século XVIII, Goethe já mencionava que não há situação mais perigosa para os indivíduos do que quando circunstâncias exteriores provocam uma grande alteração em seu estado, sem que se esteja preparado para isso. Certamente, o momento é umas dessas situações perigosas. Não há como estar totalmente preparado para algo de tamanha dimensão. Com a educação não é diferente. Por mais que a escola seja um espaço de construção de autonomia, ela precisa de determinadas características habituais que proporcionem possibilidades de planejamento e execução de um projeto formativo adequado. Para tanto, o caminho escolhido sempre foi o ensino pre-

sencial, pelo seu potencial dialógico. É assim que nossos educadores são formados nas universidades e é assim que nossos educandos são lapidados em nossas escolas. E, talvez, essa tenha se tornado a maior dificuldade que as escolas encontraram ao se deparar com a necessidade de isolamento social. Em um curto espaço de tempo e, sem um diagnóstico preciso, os educadores não puderam mais ensinar presencialmente e os educandos foram impedidos de frequentar as escolas. Assim, ambos foram obrigados a compartilhar a aprendizagem por ferramentas interativas, as quais, em grande parte, não dominavam. Entretanto, não podemos esquecer que a escola também é o espaço de criatividade, de construção e reconstrução de mundo. Nesse momento, a exigência é pela reconstrução da forma de educar. Primeiro, com um mapeamento das ferramentas que tanto os educadores quanto as famílias têm à disposição. Segundo, pela formação continuada e direcionada dos educadores, bem como pela constituição de espaços de diálogo e troca de experiências entre eles, para que cada educador encontre - em suas potencialidades - o caminho mais adequado para desenvolver, com segurança, suas atividades.

Terceiro, abrindo espaço para a infância e a errância – conceitos freirianos. A infância existencial, que nos faz abertos a escuta, ao aprendizado constante, a potencialidade de criar, experenciar o novo e nos reinventar. A errância, por sua vez, em um duplo sentido: de aceitar que, como humanos, podemos nos equivocar, mas que, frente ao equívoco, devemos continuar caminhando, reflexivamente, em busca de novas experiências e soluções para fazer sempre melhor. Por fim, em quarto, ouvindo. Neste turbilhão de novidades, os educandos também cansam, se frustram e sentem insegurança. É preciso ouvi-los. Ouvir as famílias. Receber o feedback. Ter humildade de perceber que não sabemos tudo, menos ainda em uma situação díspar como esta. Creio que, ao final de tudo, uma lição importante ficará: a experiência atual deverá fazer parte da práxis para a transformação e o aperfeiçoamento da educação, mas não será uma solução definitiva. Recursos tecnológicos são indispensáveis – estamos compreendendo isso –, mas não substituem (e certamente nunca substituirão) o carinho, o afeto e o olhar do educador. Nem mesmo o ócio criativo e o tempo de aprendizagem (kairós) que se desenvolve no ambiente das escolas. 

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››› Inspire-se

ARQUVIO PESSOAL

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››› Bruna está no 3º ano do Ensino Médio e faz questão de dar apoio a outros alunos com a sala de aula Resumindo

Empatia em meio à pandemia: quando todos aprendem juntos

Aluna do Colégio Farroupilha, Bruna Zanini disponibiliza seus resumos a todos na web IGOR MORANDI

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m momentos de fragilidade como o da pandemia do novo coronavírus, atos mais humanos são comuns. A empatia é instigada pelos sentimentos que nos deixam mais sensíveis ao presenciar a necessidade de ajuda ao próximo. E é isso que proporciona mais prá-

ticas solidárias como a da estudante Bruna Zanini, do Colégio Farroupilha, de Porto Alegre. Bruna está no 3º ano do Ensino Médio, e desde o 9º ano do Ensino Fundamental, produz resumos bem coloridos e visuais – como ela mesmo diz, o que facilita na hora de compreender os conteúdos. Com o distanciamento social, ela decidiu disponibilizá-los por meio da plataforma Google Classroom, uma sala de aula virtual que recebeu o nome Resumindo. Essa ideia não veio com a Covid-19. Bruna conta que a pratica há anos – no entanto, colocaria-a em ação depois que concluisse o Ensino Médio, mesmo

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já compartilhando com os colegas. Mas, pensando em uma forma de contribuição durante a quarentena, ela decidiu disponibilizar os resumos agora. “Este momento me fez refletir um pouco porque, como eu, muitas pessoas estão se preparando para o vestibular e, no fim do ano, vamos fazer a mesma prova. Então eu gostaria de dar apoio aos outros alunos e dizer que estamos juntos nessa”, explica Bruna. Hoje, o Resumindo já conta com pelo menos 125 resumos de disciplinas cursadas nos últimos três anos. A única não contemplada é matemática, porque, segundo ela, esse aprendizado necessita da prática de exercícios.


15 “Eu sabia que, agora, mais do que nunca, teríamos que nos ajudar de aluno para aluno, em especial os de escola pública, porque acredito que eles podem ter mais dificuldade para se adaptar à falta das aulas presenciais”, avalia Bruna. E é fato que, por falta de recursos ao ensino público, as aulas eram essencialmente presenciais nos tempos ditos “normais”. Mas, agora, por conta da pandemia, isso mudou. Desta forma, o Resumindo é, além de uma grande ajuda didática, uma adaptação às novas formas de aprender. A ideia inicial da estudante era colaborar somente com estudantes da rede pública. Inclusive o contato inicial se deu com professores do ensino público que, em meio à pandemia, estão trabalhando com o Google Classroom. Mas ela repensou e está disponibilizando a todos: “Acredito que este é um momento em que todo mundo, independentemente da escola, pode precisar de uma ajuda a mais e se beneficiar com o projeto.” Durante o período de produção desta reportagem, o Resumindo deu um salto de 68 para 85 estudantes, em um fim de semana, sendo mais de 80% alunos da rede pública. Número que pode crescer mais ainda nos dias que estão por vir, assim como o volume de resumos. Conforme Bruna produz os conteúdos do seu último ano na escola, fará a disponibilização no Resumindo. Ela sabe que não há tempo a perder.

Para participar A sala virtual é dividida por disciplinas, em que cada aba recebe resumos do 9º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, todos em PDF e disponíveis para baixar. l Você sabe de alunos que poderiam participar? l Mande um email para bruna.resumindo@gmail.com l Depois é só preencher o formulário recebido e ter acesso aos conteúdos.

››› Materiais da estudante vão para a plataforma Resumindo

BRUNA ZANINI, estudante

“Este momento me fez refletir um pouco porque, como eu, muitas pessoas estão se preparando para o vestibular e, no fim do ano, vamos fazer a mesma prova. Então eu gostaria de dar apoio aos outros alunos e dizer que estamos juntos nessa”. “Eu sabia que, agora, mais do que nunca, teríamos que nos ajudar de aluno para aluno, em especial os de escola pública, porque acredito que eles podem ter mais dificuldade para se adaptar à falta das aulas presenciais” Educação em Revista | Nº 137 | Abril\Maio\Junho 2020


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››› Com a palavra GREG SALIBIAN, DIVULGAÇÃO

››› Curador do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, Schüler é doutor em filosofia e mestre em Ciências Políticas

“Avançamos anos em poucos meses, em matéria digital” Professor do Insper, Fernando Schüler acredita em um redesenho dos modelos de educação, mas sem migração do presencial para o remoto

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timizar o tempo de alunos e professores e reduzir o custo das escolas e dos pais, com o uso da tecnologia, é um dos reflexos da intensificação de aulas em vídeo, imposta pela pandemia de coronavírus. Quem afirma é o doutor em Filosofia Fernando Schüler, mestre em Ciências Políticas e professor do Insper. Para ele, houve um avanço de alguns anos em poucos meses, em matéria

digital, o que também se aplicou à educação. Nesta entrevista concedida no final de maio, Schüler aborda aspectos econômicos e sociais, inclusive a tribalização amplificada pelas redes sociais. Um problema que, segundo ele, não será superado. Educação em Revista – Parece consenso tratar da pandemia de coronavírus como um processo de transfor-

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mação da sociedade. É uma premissa correta? Para qual lado estamos indo, nesse caso? Fernando Schüler – Nós estamos no auge da crise (em maio) e é razoável que um imenso pessimismo e mesmo pânico tome conta do ambiente. Mas esta crise terá um fim. Além de mais pobres, sairemos dela com algumas lições. Deixamos à mostra nossas mazelas. Ao menos para mim foi


Com a palavra ››› chocante assistir aquelas milhares de pessoas nas filas em frente à Caixa Federal, a maioria sem máscara no rosto, buscando seus R$ 600. Para estas pessoas não há glamour na quarentena. Acho que o melhor que o País pode fazer com esta crise é acelerar o programa de reformas e não desviar o rumo da modernização do Estado e da economia. Há um longo caminho pela frente, como sempre, e o pior desfecho desta crise seria um novo surto de populismo no País. A nova realidade forçou a adoção do trabalho de forma remota. Isso realmente é algo que veio para ficar? Teremos uma volta aos padrões pré-coronavírus assim que a pandemia for superada ou virão novas relações de trabalho? Schüler – Penso que avançamos anos em poucos meses, em matéria digital. Percebemos que muito do que fazíamos era perda de tempo, que inúmeras reuniões e encontros não demandavam presença física e que podemos utilizar o nosso tempo de maneira mais eficiente e prazerosa. As escolas estão aprendendo a fazer ensino remoto com qualidade, as empresas estão se adaptando ao home office. Muita coisa interessante está havendo nesta área. Não há um quadro completo sobre isto ainda. No caso da educação, já existia um crescimento na modalidade de ensino a distância. O cotidiano de aulas em vídeo, com interações entre alunos e professor, pode levar a um redesenho dos modelos de educação? Em caso positivo, poderia ser aplicado tanto aos alunos das universidades quanto aos das escolas? Schüler – Não tenho dúvida alguma sobre isto. Não acho que haverá uma migração do modelo presencial para o remoto. Mas não vejo por que uma parte relevante do ensino não possa ser à distância. Uma consequência positiva disso é o trânsito de ideias. Não posso convi-

soalmente considero de primordial importância o papel da escola. Penso que a grande pauta do País hoje é inserir a possibilidade de parcerias com escolas privadas sem fins lucrativos, como manda a Constituição, em seu Artigo 213, nos recursos de um fundo como Fundeb. Precisamos perguntar por que as crianças mais pobres não podem estudar, com o suporte do Estado, nas mesmas escolas ou em escolas com a mesma qualidade em que a classe média estuda. O ensino privado precisa atuar mais em políticas públicas de educação. Exigir seu espaço, como está escrito na Constituição. A educação pública brasileira era para ser mista, estatal e não estatal, mas foi tomada por um quase completo monopólio estatal, com péssimos resultados.

Não acho que haverá uma migração do modelo presencial para o remoto. Mas não vejo por que uma parte relevante do ensino não possa ser à distância. A tribalização vai fazendo com que cada vez estejamos mais convencidos sobre nossas próprias opiniões. Isto não tem cura. dar o Michael Sandel para vir ao Brasil conversar com os alunos, mas posso convidá-lo a conversar desde sua casa, em Boston. Posso integrar facilmente os alunos com estudantes de qualquer parte do mundo. Em Harvard, conheci um global lab, com uma sala preparada para receber simultaneamente alunos de mais de 60 países. No dia a dia, podemos otimizar o tempo de alunos e professores, reduzir o custo das escolas e dos pais, com o uso da tecnologia. Estamos também descobrindo as limitações a que estamos sujeitos. Fico imaginando as possibilidades que irão se abrir com a tecnologia 5G. Precisamos nos preparar. No Brasil já havia um movimento, antes da pandemia, para a regulamentação do homeschooling. O senhor acredita que esse novo cenário, no qual os pais precisam assumir parte do papel dos professores, pode resultar no crescimento do movimento pelo homeschooling? Ou a importância da escola no processo de aprendizagem fica ainda mais fortalecida? Schüler – Penso que o movimento pelo homeschooling é legítimo e expressa um direito individual, mas pes-

Houve quem se afastasse das redes sociais, nos últimos meses, em parte devido à divulgação de estudos que atribuíam efeitos nocivos ao uso prolongado de redes como Facebook e Instagram. Mas veio o distanciamento social, e o relacionamento virtual se impôs. No fim das contas, a pandemia pode redefinir o papel das redes sociais? De que forma? Schüler – As redes sociais vieram para ficar, e produzem um resultado ambivalente. Elas permitem a expressão de milhões de pessoas, fazem a informação circular, e isto é muito positivo. Por outro lado, incentivam a tribalização, estimulam a radicalização e a profusão de informação irrelevante. Umberto Eco tinha razão em seu pessimismo quanto às redes sociais, no fim de sua vida. Em termos de comportamento, o que é possível esperar para o pós-coronavírus? Faz sentido afirmar que poderemos diminuir as longas viagens, especialmente a trabalho, e valorizarmos a nossa aldeia e a proximidade física com as pessoas que agora estão afastadas de nós? Segue ›››

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››› Com a palavra Schüler – Penso que muita gente está experimentando novas formas de vida, em meio à pandemia. Estamos descobrindo novos hábitos, buscando maior interiorização e mesmo valorizando amizades que há muito havíamos esquecido. Apenas intuo que, quando tudo isto terminar, voltaremos à vida normal. Os velhos hábitos, imagino, irão ganhar o jogo. É apenas uma intuição. À época da gripe espanhola ocorreu algo parecido. E o que se seguiu foram os loucos anos vinte. Não vejo como uma crise irá mudar hábitos há muito enraigados. Mas podemos aprender alguma coisa. A pandemia derrubou mercados e criou aquela que pode ser a maior recessão dos últimos 100 anos, resultando em desemprego e em perda de poder aquisitivo. Nesse con-

texto, especificamente no Brasil, como o setor privado pode se recuperar e qual a responsabilidade do Estado nisso? Schüler – O caminho sempre será o mesmo, neste plano: criar segurança jurídica para atrair investimentos, reduzir a burocracia, abrir a economia, reformar o Estado, reduzir a carga tributária e apostar no crescimento da produtividade da economia. Gosto do conceito das “instituições inclusivas” de Acemoglu e Robinson. Instituições que garantam igualdade jurídica a todos, bloqueiem os “capturadores de rendas” e que sejam sempre abertas a novos competidores e novas tecnologias. Este deve ser o caminho brasileiro. O senhor escreveu recentemente sobre o aumento do ódio e da triba-

PREOCUPADO EM ACOMPANHAR A EVOLUÇÃO DO ENSINO? VÁ NA CERTEZA SISTEMA ETAPA O Grupo Educacional Etapa se dedica 100% à educação há 50 anos. É líder em premiações em olimpíadas culturais e aprovações internacionais. Toda essa experiência pode ser levada para a sua escola por meio do Sistema Etapa.

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lização durante a pandemia. Quando – e como – poderemos superar esse problema? Schüler – Não iremos superar. Podemos aprender a conviver com isto e nos defender, de alguma forma. Costumo dizer que o ódio será vencido pela irrelevância. A abundância de informação e de retórica levará a uma relativização de tudo isto. O ponto central a entender é que a internet sempre será um ecossistema de baixa empatia. Na internet não vemos o rosto, não sentimos a temperatura nem o estado de espírito das pessoas. Lidamos com avatares. Além disso, a tribalização vai fazendo com que cada vez estejamos mais convencidos sobre nossas próprias opiniões. Isto não tem cura. Minha recomendação continua a mesma: mantenham-se afastados das redes sociais. O mais possível. 


Educação em Revista pergunta ›››

Isabel Parolin Pedagoga, psicopedagoga, mestre em Psicologia da Educação. Psicopedagoga clínica e consultora de instituições de ensino públicas e particulares. Professora em cursos de pós-graduação na área da aprendizagem. Palestrante para profissionais da escola e seus familiares. Autora de diversos livros.

Como o acolhimento precisa ser pensado pelos educadores?

A

aprendizagem acontece quando o sujeito/aprendiz se mobiliza em direção ao objeto do conhecimento, ou seja, estabelece “um processo de interação entre aquele que aprende e o objeto a ser aprendido, em um movimento de significação e atribuição de sentido próprio, que o transforma, ” (BARBOSA att al. p. 53). Nessa perspectiva, a mediação no processo de aprender, além de necessária, deve acontecer na dimensão do conhecimento relacionado aos conteúdos da disciplina e na dimensão do campo socioafetivo, garantindo uma temperatura afetivaemocional favorável ao movimento de aprender. Ou seja, o ato de apropriação do conhecimento, e sua necessária significação, torna-se possível pela mediação do outro, com sua ajuda, com sua atenção, com seu conhecimento, com seu cuidado, constando em seu projeto de ensino, ou seja, com clara intencionalidade. A parceria cuidadosa, que se estabelece entre o aprendiz e o seu ensinante, encoraja o aluno diante da complexidade, da disciplina pessoal – autorregulação e das dificuldades que a jornada da aprendizagem oferta. O acolhimento, como um fato episódico, é amplamente compreendido como demonstração de compromisso e disponibilidade em gerar um bom

A mediação no processo de aprender, além de necessária, deve acontecer na dimensão do conhecimento relacionado aos conteúdos da disciplina e na dimensão do campo socioafetivo, garantindo uma temperatura afetivaemocional favorável ao movimento de aprender ambiente, com um clima sócioemocional favorável ao processo de ensinar e aprender. Causa sensação de bem-estar, de presença desejada e planejada. Para que esse clima afetivo emocional perdure, em suas sensações e repercussões, é fundamental que o programa escolar crie condições objetivas de acolhimento ao aluno, previstas no planejamento, além das subjetivas, que fazem parte da formação pessoal dos ensinantes, que resulta da qualidade das relações educativas produzidas entre educador e seu aprendiz. Portanto, entendo o acolhimento, como um compromisso de produzir respostas adequadas e eficientes às necessidades peculiares de cada aprendiz que nos procura. Seguindo o conceito de acolhimento, como o de entender a necessidade do outro, trago o conceito de cuidado como um par da proposta de se ofertar um espaço planejado de acolhimento, ao longo da formação. Leonardo Boff (2011,

p.33)[2] nos auxilia na compreensão da parceria acolhimento- cuidado no planejamento escolar, quando afirma: ”Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. Portanto, representa mais que um momento de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro.” O acolhimento, como uma categoria do planejamento escolar, precisaria ser pensado em grupo, pelos educadores: Como faríamos isso? Quem teria esse compromisso e contrato? Elege-se uma pessoa? Quando se poderia cuidar, objetivamente, da qualidade do processo educativo do aluno? Um calendário de encontros? Com qual frequência? Como criaríamos reciprocidade entre o que acolhe ao longo do processo e o que é acolhido? Sendo fundamental discutirmos o modo como acolhemos nossos alunos, essas e outras respostas, cada instituição tem de produzir, a partir da disponibilidade e compromisso de buscar melhores soluções, para garantir aprendizagens para todos.  REFERÊNCIAS [1] BARBOSA, CALBERG, PARLIN, PORTILHO. A instituição que aprende sob o olhar da Psicopedagogia. Rio de Janeiro: Walk, 2018. 2] BOFF, L. Saber cuidar: ética do ser humano – compaixão pela terra. Petrópolis Vozes, 2011.

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››› Pedagógico

O aluno é protagonista Desenvolvimento de competências humanas e sociais está no cerne da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Mas os professores precisam se adaptar e implementar metodologias que coloquem o estudante no centro do processo de aprendizagem – as chamadas metodologias ativas. PEDRO PEREIRA e TATIANA BANDEIRA

H

omologada nos últimos dias de 2017, a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da Educação Infantil e do Ensino Fundamental traz uma mudança substancial na abordagem dos objetos de conhecimento. Segundo o Ministério da Educação (MEC), o documento rege o conjunto de aprendizagens essenciais comuns a todos os alunos. Mais do que isso: ele preconiza que o foco agora esteja direcionado às experiências dos alunos, desenvolvendo competências socioemocionais por meio de metodologias ativas. Em outras palavras: o aluno passa a ser o centro do processo. Como se pode ver, não é uma transformação rápida, muito menos simples. O prazo para adequação foi de dois anos a partir da publicação da norma, portanto, a esta altura as escolas precisam estar com o processo de adaptação pelo menos em estágio avançado, se não concluído. Essa mudança passa por quatro pilares fundamentais: reelaboração dos currículos (até o fim de 2019, para entrar em vigor em 2020), alinhamento dos

materiais didáticos, formação dos professores e alinhamento das avaliações externas.

Educação integral Além de normatizar o que é essencial, indo além dos parâmetros apenas sugeridos até então, a BNCC estabelece que a Educação Básica brasileira promova a educação integral dos alunos. “Isso não significa tempo integral, mas uma educação que se preocupa em desenvolver novos aspectos intelectuais, acadêmicos, mas também sociais, culturais, emocionais e físicos. Antes o currículo estava muito focado em conteúdo e na parte acadêmica”, esclarece a diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido. Ir além do conteúdo significa que o aluno precisa desenvolver competências diversas para lidar com os desafios da carreira e da sociedade. É “aprender a aprender”, mas também aplicar esse conhecimento depois, ter disposição para usar esse cabedal de valores que garantam que isso seja feito da forma mais produtiva e positiva possível. “Que seja contributiva para você, para o outro e para a sociedade. Estamos falando de valores uni-

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versais”, completa Penido. Mas como fazer isso? As metodologias ativas prometem ser a principal resposta.

Saída do modelo unidirecional Para que o ensino-aprendizagem proposto pela BNCC tenha êxito, é preciso sair de um modelo quase unidirecional, ou seja, de transmissão do conhecimento dos professores para os alunos, para práticas que promovam vivências, experiências em que o estudante se desenvolva. O documento elenca 10 competências gerais para a Educação Básica, entre elas: valorizar e utilizar os conhecimentos para entender e explicar a realidade; exercitar a curiosidade intelectual; compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética; e argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias. “A BNCC não propõe uma forma de se trabalhar. Ela faz dimensionamento do que é importante para você introduzir o aluno nessa cultura digital, ou seja, o século XXI. Para isso, vamos trabalhar com diversas habilidades”, explica a assessora especial de tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE-SP), Debora Garofalo, finalista do Global Teacher Prize, o maior prêmio de Educação do Mundo. Ela concorda que o caminho para tirar o aluno da passividade e colocá-lo no centro da aprendizagem são as metodologias ativas. “Entende-se que, com esses novos tempos, com a configuração de novas habilidades, é necessário que o professor trabalhe de outra forma para que possa realmente cativar”, acredita.


Pedagógico ›››

São múltiplas as possibilidades de trabalho dentro das metodologias ativas. Cinco delas merecem destaque, segundo a jornalista e especialista em inteligência de mercado Natália Collor, em artigo publicado no site do Grupo A. O primeiro é a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), derivada do termo em inglês project-based learning (PBL). Nesta modalidade os alunos desenvolvem o conhecimento solucionando desafios e testando hipóteses a partir da própria vivência. Depois aparece a Aprendizagem Baseada em Problemas, que parte de um princípio similar (o dia a dia), mas trabalha mais a parte teórica. Para trazer o aluno da era digital para o centro do processo, nada melhor do que falar a mesma língua. Por isso, outro modelo que merece bastante atenção é a gamificação: utilizar elementos de jogos, desafios ou gincanas nas atividades. É uma das metodologias que desperta maior engajamento – e pode envolver jogos e eletrônicos de fato, para completar a experiência. Já a sala de aula invertida parece até óbvia, mas até hoje é mais popular em alguns modelos de ensino a distância. Nela, o aluno recebe o conteúdo para se preparar com antecedência e vai para a sala de aula praticar e tirar dúvidas, afinal, é justamente nessa hora que elas mais aparecem. Normalmente, ele estaria em casa fazendo a lição, sem ter o professor ou os colegas por perto para exercitar o conhecimento em conjunto. Por fim, Natália destaca um modelo relativamente comum nas atividades em aula: a aprendizagem entre pares, ou instrução pelos colegas. Ela conta que a ideia de trabalhar em duplas foi testada pela Universidade de Harvard, nos EUA, nos anos 1990. A experiência mostrou uma série de vantagens, como desenvolvimento do pensamento crítico e capacidade de respeitar opiniões. Segue ›››

DEPOSIT PHOTOS

Formas de fazer

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››› Pedagógico Metodologias ativas: por onde começar Confira exemplos que podem ajudar a dar os primeiros passos com esses novos modelos de aprendizagem na sala de aula. Aprendizagem baseada em projetos (ABP)

Aprendizagem baseada em problemas

l Os alunos são desafiados a encontrar soluções para situações diversas, trabalhando em conjunto e trocando experiências.

l Mesmo princípio da ABP, mas com foco mais teórico.

Gamificação l A mais adequada para adolescentes, pois se inspira em técnicas de jogos para ter engajamento. Sistemas de pontuação e competição estimulam a buscar conhecimento.

Sala de aula invertida l Em vez de receber o objeto de conhecimento na escola e ter dúvidas ao fazer a lição de casa, o aluno se prepara com antecedência e vai para a escola trabalhar em atividades que suscitem dúvidas, para logo esclarecê-las junto com professores e colegas.

Aprendizagem entre pares ou times l Do inglês peer instruction (PI) ou team based learning (TBL). Trabalha com turmas divididas em grupos para exercitar a troca de conhecimento e o respeito à diferença de opiniões.

PARA SABER MAIS: Confira o site da Base Nacional Comum Curricular:

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Leia artigo sobre as metodologias ativas em sala de aula:

DEBORA GAROFALO, assessora especial de tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo e finalista do Global Teacher Prize

“A BNCC não propõe uma forma de se trabalhar. Ela faz dimensionamento do que é importante para você introduzir o aluno nessa cultura digital, ou seja, o século XXI.”

Quarentena pode ter sido empurrãozinho O surto do novo coronavírus obrigou as escolas a se adaptarem rapidamente para não deixar de dar aulas, mesmo que remotamente. Algumas soluções estimularam os alunos a buscar conhecimento de forma mais ativa, mas Debora Garofalo alerta que este ainda não é o cenário esperado. Ela explica que, durante o período de distanciamento social, a maioria das aulas é mediada por tecnologias – e os professores também estão aprendendo a melhor maneira para sua voz chegar ao estudante. Isso pode ser aproveitado depois, com metodologias ativas, mas servindo como ponto de partida para que os alunos cheguem na sala de aula preparados para encontrar soluções e debater os assuntos relativos ao objeto de conhecimento. O fato de eles buscarem conhecimento em casa, por meio de atividades que exigem mais autonomia, deve ter reflexo positivo na retomada das atividades presenciais. Os alunos parecem estar preparados – já que a adequação tem como objetivo acompanhar a evolução de suas demandas. A tendência é que, tornando-se parte ativa do processo de aprendizagem, tenham mais interesse em fazer participar. Agora é escolher as ferramentas e promover situações de ensino-aprendizagens significativas. 


Pedagógico na prática ›››

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FOTOS DIVULGAÇÃO

Um mundo de possibilidades Atividades que provocam a participação dos alunos têm boa aceitação entre eles

O

››› Atividade do Imaculada Conceição,

MONDADORI, FARIAS OAB/RS 3436 & ORONOZ

ADVOGADOS

de Dois Irmãos (foto maior); acima, criação de blogs no Nossa Senhora Medianeira, de Bento Gonçalves

Colégio Israelita Brasileiro (CIB), de Porto Alegre, tem boas experiências com as metodologias ativas. Uma delas ensejou a criação de uma disciplina na primeira série do Ensino Médio, chamada Life – sigla para Laboratório de Inovação e Formação de Empreendedores, mas que também faz referência ao termo vida, em inglês. “Neste ano o empreendedorismo ganha o status de disciplina obrigatória para os alunos e se relaciona com os itinerários formativos da nova BNCC”, diz o coordenador administrativo-pedagógico do Ensino Médio, Rafael Korman. O colégio recrutou três professores de áreas distintas, mas complementares (filosofia/sociologia, criatividade e tecnologia). A metodologia mais usada é a aplicada em problemas, mas outras também aparecem nas atividades.

Já o Colégio Imaculada Conceição, de Dois Irmãos, aplicou as metodologias ativas para ajudar os alunos a compreenderem os efeitos da pandemia. O terceiro ano do Ensino Fundamental promoveu a valorização dos serviços fundamentais do município por meio de uma homenagem aos trabalhadores da limpeza urbana, colocando cartazes de agradecimento nas lixeiras de suas casas. Unindo a vocação digital dos alunos ao momento, o Colégio Scalabriniano Nossa Senhora Medianeira, de Bento Gonçalves, incentivou os estudantes do sexto ano a criar blogs. A intermediação pedagógica cuidou da análise dos textos – que deveriam ser adaptados a essa plataforma –, levantamento de suas particularidades, reflexão e motivação para a produção textual. Os alunos precisaram acessar a plataforma, criar e compartilhar as postagens. O resultado pode ser conferido no site blogdaquarentenamedianeira.wordpress.com. 

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››› Gestão

Soluções em tempos de crise

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Pandemia de coronavírus trouxe como um dos desafios a sobrevivência financeira das instituições de ensino. Veja o que é possível fazer


Gestão ››› TATIANA BANDEIRA

O

roteiro é conhecido: com o avanço da pandemia de coronavírus, governos nacionais, estaduais e locais sistematicamente caminharam – ou acabaram empurrados – para um cenário de distanciamento social, a fim de minimizar a curva de contágio pela doença. As medidas afetaram a grande maioria de serviços nos quais há concentração de pessoas, e incluiu as instituições de Educação Básica e de Ensino Superior. Com as salas de aula vazias, fica a pergunta: como encontrar soluções e adequar o orçamento para contornar questões como inadimplência nas mensalidades, investimento em tecnologia e despesas gerais? A Educação em Revista ouviu especialistas em educação e economia, que trazem dicas valiosas sobre como superar as dificuldades financeiras que o coronavírus impôs. Para o CEO da LEO Learning Brasil e mestre em Tecnologias Educacionais pela University of Oxford, Richard Vasconcelos, o ponto principal é controlar as despesas enquanto a receita cai por conta de inadimplência ou redução nas mensalidades. “É necessário reinventar seu modelo de um dia para o outro, investir em novas tecnologias, ao mesmo tempo em que não se consegue dispensar custos no mesmo ritmo. Acaba sendo economia de guerra porque a questão-chave que prevalece é manter o caixa em dia”, afirma Vasconcelos, que atua há 15 anos no mercado de educação. De acordo com ele, as instituições de ensino, tanto as de Educação Básica quanto as de Ensino Superior, devem buscar auxílios que os governos implementaram, com medidas que ajudam a flexibilizar o caixa em pontos como prorrogação de impostos e suspensão de contratos de trabalho. Por outro lado, todos os investimentos previstos em áreas que não são essenciais ou

para garantir a operação, como obras ou compra de equipamentos, devem ser eliminados. Vasconcelos aponta, no entanto, que o investimento em tecnologia para ensino a distância é fundamental, especialmente quando não se sabe até quando vai durar o isolamento social. “Às vezes, o colégio ou faculdade não tem plataforma de EAD e precisa melhorar seu servidor olhando para a oferta do seu produto, que é o ensino, e não para o aperfeiçoamento da estrutura interna”, explica. Professora do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Wendy Haddad Carraro coordena projetos de extensão e de pesquisa na área de Educação Financeira e Controles de Gestão. Ela vai na mesma linha. “Não basta enviar materiais on-line para serem consultados. É preciso ter um acompanhamento mais efetivo. A maioria das escolas não está preparada para este tipo de dinâmica, mas não é algo impossível de se adaptar. As instituições privadas devem canalizar sua energia para se manterem ativas e produtivas formando, talvez, um núcleo de educação a distância que possibilite explorar todas as possibilidades. Consultar outras escolas, universidades e formas de promover o estudo e usar plataformas disponíveis no mercado são um exemplo. Ferramentas alternativas, sem custo adicional, também são outras opções”, alerta. Segundo semestre exige planejamento detalhado Nesse contexto, Vasconcelos alerta para a necessidade de criar um planejamento detalhado para o segundo semestre. “Temos um cenário não só de pandemia, mas pós-pandemia. O que vai acontecer? Será que os pais vão cancelar o semestre? Será que o desemprego que pode atingir os pais vai gerar

um ciclo de inadimplência? Vão cancelar o semestre e buscar uma escola de nível inferior?”, questiona. A professora Carraro salienta que a retomada das aulas poderá exigir calendários diferenciados. Ela fala de pontos como ter informações das famílias, como estão, quais as principais mudanças que passaram, além de se pensar em projetos futuros nos quais a escola possa compensar e preencher lacunas que o isolamento causou, sejam emocionais, sejam em termos de conteúdo. A professora avalia ainda que as escolas privadas precisam envolver os alunos na temática tão atual da “pandemia”, indo além do que está previsto no plano de ensino. “É preciso se adaptar à realidade que estamos vivendo e reformular as aulas. Por que não inserir a família numa atividade? Até porque os pais estão ansiosos, estressados, alguns com redução de receita, em home office”. A importância do fluxo de caixa Para não passar por apertos financeiros tão grandes, Vasconcelos recomenda que é importante ter a mesma quantidade de dinheiro entrando e saindo, o famoso fluxo de caixa. No caso de não-pagamento por parte dos pais e de alunos nas faculdades, ele orienta avaliar caso a caso, conversar com as famílias, entender a situação e estabelecer regras e níveis de descontos, sempre tendo compreensão e empatia com as famílias e estudantes. Algo importante, nos casos em que há pedidos de redução de mensalidade, é mostrar entrega de valor. “O que a escola está fazendo de fato? Se tem um programa on-line com atividades com pouca consistência os pais não conseguem enxergar uma evolução do filho. E aí eles talvez pensem que o investimento não compensa. É preciso ter um projeto educacional sério e efetivo”, salienta. Segue ›››

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››› Gestão Em um segundo momento, Vasconcelos reforça que as instituições devem gerir contratos de colaboradores, sobretudo os que não estão “na ponta” do ensino. “Há auxílios governamentais, mecanismos que contemplam os funcionários. Assim, ao mesmo tempo em que a escola preserva seu caixa sem desligá-los, ela não tem diminuição na renda”. Outro ponto a ser avaliado com cuidado, conforme o especialista, é ser totalmente transparente com os pais e alunos. É essencial, segundo ele, informar por e-mail ou outros canais o que está acontecendo na instituição, como o orçamento está sendo gerido, que custos foram dispensados e onde foram feitos investimentos, como no caso das aulas a distância. Wendy Carraro defende ainda que o canal de comunicação das escolas com os pais deve ser estreitado. “Eu vejo que algumas escolas estão falhando e é necessário inverter isso, ver os pais como parceiros. Não dá para atacar o potencial pagante. Uma palavra-chave são as metodologias ativas, a sala de aula invertida. São formas que a gente faz com que o aluno se envolva mais no aprendizado e agora é uma oportunidade de implementar isso”. Se a escola desconhecia quem é seu cliente, vai ter que desenvolver esta habilidade, segundo a professora. Não dá para tratá-lo como demanda generalizada: é preciso cativá-lo e contar com o apoio dos pais. Se a escola não tinha esse controle de gestão de seus clientes, conhecer as famílias e se comunicar com elas agora é vital. Por fim, Carraro lembra que gestão não é só uma questão financeira e pedagógica. É lidar com uma crise. “Vejo uma preocupação das escolas em cumprir com o plano de ensino, mas a gente pode adequar essa realidade, envolver famílias e criar valor, mostrar como o aluno está crescendo nessa fase. Porque é um período difícil, que afeta todo mundo”, encerra. 

Onde buscar socorro Separamos uma lista de alternativas para movimentar o caixa. Confira: LINHAS DE CRÉDITO l Se a escola não tem uma reserva financeira, deve buscar outras opções para passar pela má fase econômica gerada pela pandemia de coronavírus, como linhas de crédito que tenham sido lançadas para este momento, orientam especialistas em finanças. O objetivo deve ser promover a continuidade das aulas e o desenvolvimento dos estudos. Negociações devem ser feitas caso a caso, em tratativas individualizadas, para poder contar com o apoio dos pais e pagamentos em dia. O Sebrae, por exemplo, criou linhas de crédito específicas.

MURAL DE DICAS

CURSOS SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS l A Secretaria de Educação a Distância (Sead) da UFRGS também oferece a plataforma Lúmina, com a oferta de cursos on-line abertos e gratuitos a toda a comunidade, inclusive para professores da Educação Básica. Há vários cursos sobre o uso de tecnologias digitais.

ACESSO À PLATAFORMA LÚMINA: ACESSE PELO QR CODE:

SOS VIA ASSESSORIA EMPRESARIAL l Já as escolas de Ensino Básico, que integram a categoria de média ou pequena empresa, podem acessar o projeto SOS-PME: Inscrições para atendimento via Rede de Assessoria Empresarial. Trata-se de um levantamento dos problemas e mapeamento das demandas. A partir das respostas, são definidas frentes de atendimento com times de professores e voluntários da Escola de Administração, outras unidades da UFRGS e parceiros.

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PARA ACESSAR O SOS:

CURSO EDUCAÇÃO FINANCEIRA EM TEMPOS DE COVID-19 l Para quem deseja dicas gerais sobre educação financeira em época de economia e vacas magras, a professora do curso de Ciências Contábeis da UFRGS Wendy Carraro, que coordena projetos de extensão e de pesquisa na área de Educação Financeira e Controles de Gestão, desenvolveu o curso “Educação financeira em tempos de Covid-19”. O projeto funciona como um mural colaborativo, em que qualquer pessoa pode incluir dicas e informações na coluna correspondente clicando no “+”.

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Gestão na prática ›››

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Quando as medidas funcionam Gestores de duas instituições gaúchas explicam como fizeram para superar as dificuldades causadas pela pandemia do novo coronavírus

P

ara ultrapassar a crise gerada pela pandemia de coronavírus, as escolas e faculdades tiveram que adaptar seus orçamentos, investir em tecnologia e operar cortes em atividades que não são consideradas essenciais. Em maio, a Educação em Revista conversou com dois gestores que explicam como resolveram problemas e como estavam se preparando para a retomada das aulas. Ademar Joenck é gerente administrativo e financeiro das Escolas São Francisco, que contam com quase 4,5 mil alunos em dez escolas espalhadas em Porto Alegre e Região Metropolitana. Segundo ele, a instituição fez investimentos em práticas pedagógicas a distância, para que todos os professores da rede pudessem dar aulas remotamente, comprando, em alguns casos, notebooks:

do Pastor Dohms, durante aula on-line

DIVULGAÇÃO

››› Professora Luciane,

“Nos adequamos à nova realidade. Os professores têm acesso, da sua casa, à videoaula, como se fosse uma videoconferência. Além disso, encaminhamos material via e-mail e fisicamente para os pais”. O dirigente cita como exemplo um livro para ser entregue, algum material impresso. Foram disponibilizados como se fosse por meio de um pegue e leve: os pais são recebidos nas unidades, em esquema de plantão. Tudo, é claro, com máscara, luvas, álcool em gel, respeitando os cuidados indicados pelas organizações de saúde. A rede conta com cerca de 450 trabalhadores nas áreas administrativa e pedagógica. Os docentes fazem as aulas em sistema de home office, já a maioria dos funcionários da manutenção entrou em férias. Nas unidades, há esquemas de rodízio para atendimentos presen-

ciais. Sobre orçamento, Joenck calcula que a receita reduziu em torno de 15% após o início da pandemia. De acordo com o diretor geral do Centro de Ensino Médio Pastor Dohms, Waldir Werner Scheuermann, a primeira medida foi seguir os procedimentos dos órgãos oficiais de saúde e educação, para enfrentar a pandemia e proteger a comunidade escolar. Em seguida, a relação com os pais foi estreitada via comunicados oficiais, por e-mail, com orientações pedagógicas e informações sobre como as escolas da rede estão sendo administradas. O Centro tem seis unidades e 3,7 mil estudantes. “Utilizamos tecnologias e ferramentas próprias de gestão acadêmica e não precisamos fazer investimentos nestas áreas. Também não demitimos funcionários nem realizamos redução de jornada ou salários. No retorno das aulas, o objetivo é focar num projeto pedagógico que priorize a aprendizagem dos alunos, com retomada dos conteúdos”, avalia Scheuermann. 


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››› Inovação FOTO

Colégio Xingu, de Santo André (SP), tem rede de ajuda antibullying em todas as turmas, com iniciativas dos próprios estudantes IGOR MORANDI

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combate ao bullying faz parte da realidade brasileira, principalmente desde o início dos anos 2000, época em que as primeiras pesquisas científicas foram feitas sobre o tema, como destaca um estudo da Universidade Feevale, de 2013. Mas combater algo que muitas vezes é invisível a quem

não sofre ou pratica é complicado. Pensando nisso, o Colégio Xingu, de Santo André, São Paulo, decidiu implantar urnas de denúncia anônima. Porque o bullying é assim, silencioso, às vezes porque quem sofre já tem um perfil retraído e, por medo, não conta à escola ou aos pais. No entanto, as urnas não foram o primeiro nem o último passo da escola do ABC paulista para combater o bullying.

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Essa história começa em 2011, quando o Colégio Xingu passa a fazer parte dos estudos de um Grupo sobre Educação Moral (Gepem), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “A partir do momento em que fomos aprofundando os estudos e entendendo as pesquisas, o bullying passou a ser compreendido por nós como um tema muito sério, que tem consequências de níveis individual e coletivo. Então começamos a pensar estratégias de trabalho”, afirma a diretora do Colégio Xingu, Viviane Gonçaves Passarini. Foi quando um método europeu apresentado pelo Gepem foi implantado: a rede de ajuda, em 2018, em que


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os estudantes são os protagonistas no combate e prevenção ao bullying. Após cerca de 10 aulas com todas as crianças do 6º ao 9º ano, onde trabalharam reflexão, sensibilidade e empatia para o autoconhecimento das habilidades socioafetivas dos alunos, os professores selecionaram os mais capacitados. Mas os selecionados ainda fizeram parte de uma eleição, em que quatro estudantes por sala foram efetivados como da rede de ajuda. E seguem o método desde a implantação, porque eles passaram por um dia de formação com dinâmicas e reflexões para saber como lidar com casos de bullying, além de reuniões quinzenais com a direção da escola. Por enquanto, são os únicos qualificados. Os estudantes precisam estar à frente da ideia O protagonismo passou a ser dos alunos, porque, segundo Viviane, o bullying não acontece na frente dos professores. “Ele é sempre de uma maneira velada, nos intervalos, na entrada e na saída da escola”, comenta. Nesse sentido, a rede de ajuda, além de observar e colaborar com a solução de conflitos internos nas turmas, faz campanhas que promovem a solidariedade e a empatia entre os estudantes da instituição. São os alunos da rede, inclusive, que apresentam as ideias. E, entre elas, surgiu a das urnas de denúncia, que foi muito bem recebida pela comunidade escolar e pelos pais, afirma Viviane. Os alunos colocaram as urnas em lugares estratégicos, para que, quem deseja denunciar, passe despercebido. É como uma denúncia anônima. E a diretora conta que, de início, quando abriam elas, estavam cheias. A abertura das urnas é feita sempre com a direção ou com a professora de convivência ética. O primeiro passo, após as urnas abertas, é ler as denún-

VIVIANE GONÇAVES PASSARINI, diretora do Colégio Xingu

“Ele (o bullying) é sempre de uma maneira velada, nos intervalos, na entrada e na saída da escola” “A gente nunca coloca autor e vítima frente a frente, porque a vítima está sempre muito fragilizada. É um exercício que requer muita reflexão e tempo para chegarmos a um resultado positivo, para que o autor se coloque no lugar da vítima” cias. Depois, checar a procedência de cada denúncia observando os envolvidos. E, com a confirmação do caso, o autor, a vítima e os espectadores são trabalhados separadamente. “A gente nunca coloca autor e vítima frente a frente, porque a vítima está sempre muito fragilizada. É um exercício que requer muita reflexão e tempo para chegarmos a um resultado positivo, para que o autor se coloque no lugar da vítima”, diz Viviane. E a resolução dos conflitos pode demorar até um ano, conta a diretora. Mas, desde a implantação das urnas, eles vêm diminuindo. Até a produção desta reportagem, a escola havia tratado 50 casos. E os resultados positivos estão aparecendo, também, com o número baixo de denúncias e com o ambiente escolar mais respeitoso, comenta Viviane. No entanto, não são só as urnas que colaboram no combate e na prevenção ao bullying. Nas aulas da disciplina de convivência ética são feitas rodas de conversa, além de que todos os professores do colégio são capacitados para

lidar com conflitos que possam surgir. Para isso, o Xingu segue três vias: a pessoal, onde os professores estudam habilidades para melhorar as relações com base na empatia; a curricular, em que são trabalhadas temáticas que envolvem valores, convivência e habilidades dos alunos – nesta, foram criados os projetos antibullying e expressão dos sentimentos; e a última via é a institucional, em que o colégio implanta ações em todos os níveis, da educação infantil ao ensino fundamental, para construir e consolidar uma boa convivência dentro da comunidade escolar. É um processo complexo, demorado e que necessita de muito envolvimento tanto de quem está à frente da escola, como dos alunos. Todos precisam vestir a camiseta da instituição e abraçar essa ideia que busca por um ambiente que preza o respeito mútuo. “Este trabalho possibilita ampliar uma convivência escolar mais leve, mais harmônica, combatendo a violência e a agressividade e efetivamente criar uma cultura de paz”, diz Viviane. O bullying é um tema discutido há décadas, mas há poucos anos recebeu a devida importância que merece no Brasil. No entanto, mesmo assim, dados mostram que 29% do estudantes brasileiros já sofreram ataques físicos ou verbais repetitivos, enquanto nos países da Organização para o Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 23%, de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2018. E o Colégio Xingu tem colaborado para mudar essa realidade. Tornou-se, por meio de uma ideia inovadora, um exemplo nessa luta, que pode servir de inspiração para outras instituições do país que buscam prevenir e combater o bullying de forma efetiva. Segue ›››

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››› Pesquisa

Maria Elisa Schuck Medeiros Doutoranda em Educação pela Universidade La Salle, onde é professora de graduação no curso de Pedagogia. Mestre em Educação pela UFRGS, coordena a Educação Básica da Rede La Salle Brasil.

Novo Ensino Médio: possibilidades e desafios Palavras-Chave: Ensino Médio; Flexibilização Curricular; Itinerários formativos.

Resumo

O

objetivo do artigo é abordar as principais alterações contempladas no Novo Ensino Médio e as possibilidades e desafios que a legislação propõe com as mudanças. O texto parte da análise sobre a legislação vigente e a experiência do projeto-piloto da Rede La Salle para a construção dos itinerários formativos, na busca de ressignificar este nível de ensino por meio de um currículo com aprendizagens significativas e compostas de sentido para os estudantes.

1. Introdução O Ensino Médio no Brasil é objeto de muitas pesquisas e diagnósticos. Segundo Silva (2016), os debates sobre a última etapa da Educação Básica, em particular no que se refere às políticas educacionais, se acentuaram a partir da década de 1990, devido ao crescimento do público que passou a frequentar este nível de ensino. Mesmo com os diversos movimentos do governo, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), os Parâmetros e as Diretrizes Curricu-

lares, além de programas como Ensino Médio Inovador, os dados atuais não são nada animadores. Tanto o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) quanto o Pisa demonstram que o Ensino Médio brasileiro está estagnado. A Lei Federal nº 13.415, de 2017, propõe uma reforma curricular com o objetivo de tornar o currículo mais flexível e melhor atender os interesses dos alunos do Ensino Médio. A universalização do ensino e, principalmente, a qualidade constante a ser oferecida neste nível de ensino, são mudanças que precisam acontecer em caráter urgente.

2. BNCC do Ensino Médio e currículo Conforme o Documento Orientador lançado pelo MEC, a aprovação da Lei nº 13.415/2017 alterou na LDB a carga horária mínima anual no Ensino Médio, ampliando-a de 800 para 1000 horas, no prazo de cinco anos, e estabeleceu uma nova organização curricular que deverá contemplar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a oferta de diferentes itinerários formativos, com foco em áreas de conhecimento e na formação técnica e profissional, o que possibilitará o fortalecimento do protagonismo juvenil no que se refere à escolha de seu percurso de aprendizagem e, também, à ampliação das ações

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voltadas à construção dos projetos de vida dos estudantes. O foco da BNCC não está nos conteúdos, e sim, no desenvolvimento de competências. Desse modo, define as competências gerais da Educação Básica, que são norteadoras do trabalho a ser desenvolvido nas áreas de conhecimentos, propondo mudanças para uma prática mais interdisciplinar. A proposição de currículo, conforme Sacristàn (2013), se constitui pelo cruzamento de práticas diferentes e se converte em configurador, por sua vez, de tudo o que podemos denominar como prática pedagógica nas aulas e nas escolas. Nesse sentido, a proposta de um currículo para o Ensino Médio precisa considerar a urgência da atualidade, por meio de projetos potencializadores de aprendizagens. Com autonomia para definir a proposta curricular, desde que atenda todas as demandas legais, a organização curricular deve favorecer a integração entre os saberes que se articulam e se complementam, composta pelas áreas do conhecimento e pelos projetos de vida. As novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, de 2018, definem algumas prioridades para o currículo, por exemplo, que evidencie a contextualização, a diversificação e a transdisciplinaridade ou outras formas de interação e articulação entre diferentes campos de saberes específicos,


Pesquisa ››› contemplando vivências práticas e vinculando a educação escolar ao mundo do trabalho e à prática social, além de possibilitar o aproveitamento de estudos e o reconhecimento de saberes adquiridos nas experiências pessoais, sociais e do trabalho. O Novo Ensino Médio propõe uma parte flexível do currículo, que são os itinerários formativos, definindo que 60% do currículo será composto pela BNCC, ou seja, 1.800 horas, e 40% do currículo será flexível, de acordo com as realidades locais, e serão oferecidos através de itinerários formativos, totalizando até o final do ensino médio 1.200 horas. O artigo 36, da LDB, aponta que os itinerários formativos devem ser organizados por meio de oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância do contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: I - linguagens e suas tecnologias; II - matemática e suas tecnologias; III - ciências da natureza e suas tecnologias; IV - ciências humanas e sociais aplicadas; V – formação técnica e profissional. O Art. 35 da LDB dispõe que “os currículos do ensino médio deverão considerar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais”, primando pelo desenvolvimento integral do estudante e o protagonismo juvenil. Sobre a metodologia e avaliação, Art.35 da LDB orienta que sejam organizados por meio de atividades teóricas e práticas, provas orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line. Já o Art. 24 das Diretrizes Curriculares propõe que “as instituições e redes de ensino devem utilizar avaliação específica, tanto para a formação geral básica quanto para os itinerários formativos do respectivo currículo, que consiga acompanhar o desenvolvimento das competências previstas”.

3. Itinerários formativos Segundo a BNCC, os itinerários formativos são um conjunto de situações e atividades educativas que os estudantes podem escolher conforme seu interesse, para aprofundar e ampliar aprendizagens em uma ou mais áreas do conhecimento e/ou na Formação Técnica e Profissional. No desenvolvimento dos itinerários estão quatro eixos estruturantes: Investigação Científica, Processos criativos, Mediação e Intervenção Sociocultural e Empreendedorismo. Esses eixos visam integrar e integralizar os arranjos formativos e proporcionar experiências contemporâneas aos estudantes.

4. Novo Ensino Médio na Rede La Salle A Rede La Salle iniciou, em 2019, um estudo para a implantação do Novo Ensino Médio, tendo presente as mudanças da Lei 13.415/2017. A partir desses dados, foi elaborada uma proposta de projeto-piloto que será implementado a partir de 2020 em quatro escolas lassalistas, nas regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Esse projeto faz parte de um processo de mudança do Ensino Médio e, por ser processo, estará em contínua construção, avaliação e reelaboração. Uma das possibilidades na elaboração dos itinerários é a escuta aos estudantes, gestores, professores e famílias para verificar como percebe-se a escola, o que precisa mudar e as perspectivas para este nível de ensino. Nesse sentido, a Rede La Salle aplicou uma pesquisa envolvendo 4.946 estudantes, do 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio das diferentes regiões do Brasil, e o resultado desafia a pensar num modelo que proporcione reflexões e sentidos para além do ingresso na universidade. Quando questionados sobre quais os principais motivos para cursar o Ensino Médio, 75,5% dos alunos dizem que é entrar na faculdade; 65,7% ter um bom emprego

futuramente, e 53,3% adquirir mais conhecimento. Percebe-se então, que o Ensino Médio no Brasil ainda não tem uma identidade em seu currículo, transitando entre a preparação para o trabalho e preparação para continuidade dos estudos, como entrar na universidade. Outra questão importante a destacar refere-se ao significado que veem naquilo que estudam no Ensino Médio. Somente 29,5% veem significado, 47,5% mais ou menos, 17,4% pouco e 5,6% não veem significado. Menos de 30% dos alunos conseguem perceber a utilidade dos conteúdos. Segundo Melo e Leonardo (2019), esse distanciamento entre motivos e fins tem impacto na postura que os adolescentes assumem em relação ao estudo e pode explicar o famoso “desinteresse” demonstrado pelos estudantes diante das atividades propostas pela escola. Isso porque a necessidade de aprender os conteúdos não se vincula à sua importância com o saber, mas apenas em seu uso restrito na aprovação em exames. Na pesquisa, constata-se também que projeto de vida é um tema que precisa estar contemplado no currículo do Ensino Médio, estando aqui um desafio para as escolas: construir um itinerário formativo que atenda às expectativas dos estudantes, auxiliando-os no seu desenvolvimento pessoal. Os estudantes reconhecem a importância desta temática, pois quando questionados sobre ter um tempo específico para desenvolvimento do projeto de vida durante o Ensino Médio, 61,8% dizem que é importante; 24,9% mais ou menos; 7,7% pouco e 5,6% nada importante. A maioria dos estudantes também acredita que o desenvolvimento de um projeto de vida auxilia a escolher os caminhos que irão seguir e no desenvolvimento de competências relacionadas à sua capacidade de se organizar, ser responsável, agir de forma cooperativa, compreender o ponto de vista dos outros, ter estabilidade emocional, entre outras. Segue ›››

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››› Pesquisa

5. A construção dos itinerários formativos na Rede La Salle A partir da pesquisa e de diversas reflexões e estudos do Grupo de Trabalho do Ensino Médio da Rede La Salle, os objetivos para os itinerários formativos ficaram assim definidos: a) Proporcionar ao educando o desenvolvimento de aprendizagens mais significativas, oportunizando a vivência teórico-prática, processos criativos, o empreendedorismo, a mediação e intervenção sociocultural e a investigação científica. b) Promover o desenvolvimento integral do educando, por meio de ações que articulem e mobilizem conhecimentos, habilidades, valores e atitudes contemplados na Matriz para as Competências da Rede La Salle. c) Incentivar a aprendizagem por meio da pesquisa, desenvolvendo a autonomia e o protagonismo do educando, para aplicar o seu conhecimento em outras situações do cotidiano. Serão oferecidos quatro itinerários formativos: Matemática e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, de livre escolha do estudante e desenvolvidos no decorrer do ano letivo, seguindo a trilha de aprendizagem: a) Estudantes são integrados por área de conhecimento, conforme a opção individual. b) Levantamento/brainstorming de assuntos/problemas que podem ser pesquisados e pautados num processo de investigação. c) Definição do problema de pesquisa. d) Definição da relevância das temáticas. e) Elaboração do Projeto de Pesquisa, detalhando os seguintes aspectos: tema, competências, habilidades, caracterização do estudo, problema, objetivos, relevância social, desenvolvimento do proje-

to com as ações previstas. f) Socialização do projeto de pesquisa através de um seminário proposto pela instituição de ensino, previsto para o término da definição do problema e outro no final do ano para a apresentação dos resultados e ação estratégica pensada para diminuição dos impactos do problema. No modelo do projeto-piloto proposto, os itinerários não estão fechados numa única opção de estudo, pois cada área de conhecimento pode contemplar variadas problemáticas a serem pesquisadas, desde que estejam pautadas num processo de investigação para elaboração do projeto de pesquisa, com destaque para a relevância social do estudo.

6. Conclusão O Novo Ensino Médio propõe uma metodologia fundamentada na construção de conhecimentos que façam sentido para a vida do educando. Desse modo, destaca-se a intencionalidade em proporcionar aos estudantes situações de aprendizagens que permitam produzir conhecimentos, criar, intervir na realidade e empreender projetos. É um modelo mais aberto, proporcionando às escolas a ampliação das possibilidades do estudante em ser protagonista, criar, interagir, aprimorar seus conhecimentos, empreender, pesquisar e auxiliar na construção de uma sociedade melhor. O percurso formativo é flexível e significativo, favorece a seleção dos saberes e a pesquisa para responder aos inúmeros interesses, necessidades e características dos educandos e a continuidade das aprendizagens (CASTRO, 2013). A Rede La Salle acredita que, por meio da construção dos itinerários, o currículo do Ensino Médio passa a ser um ativador da curiosidade, tornando ilimitadas as possibilidades de aprendizagem. Desse modo, a construção dos itinerários é um caminho que abre várias possibilidades para que educador e educando encontrem um sentido maior neste nível de ensino, desenvolvendo a pesquisa,

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o empreendedorismo, a criatividade, a inovação e a relevância social, atendendo assim, os eixos estruturantes previstos na legislação. O foco está na pesquisa, transformando a relação com a construção do conhecimento e rompendo com a centralidade do conhecimento no educador. Muitos são os desafios para a implantação do Novo Ensino Médio, mas é necessário iniciar a caminhada e abrir-se ao novo, refletindo, estudando e aprendendo com as experiências para, então, avançar os processos.  REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. 2017. BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. Brasília: Câmara dos Deputados, 2014. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. BRASIL. Lei nº 13.415. Diário Oficial da União, 17.2.2017a. BRASIL. Lei nº 13.467. Diário Oficial da União, 14.7.2017b. BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio. Brasília, DF, 2012. BRASIL. Resolução CNE/CEB 3/2018. Diário Oficial da União, Brasília, 22 de novembro de 2018, Seção 1, pp. 2124.CASTRO, M. Currículo Integrado para Ensino Médio. Brasília: Conselho Nacional de Educação (CNE); Unesco, 2013. MELO, L. C.. LEONARDO, N. S. T Sentido do ensino médio para estudantes de escolas públicas estaduais. 2019. Disponível: https://doi.org/10.1590/217535392019017542 SACRISTÁN, J.G. (Org.). Saberes e incertezas sobre o currículo. Porto Alegre: Penso, 2013. SILVA, M.R.(org). O Ensino Médio: suas políticas, suas práticas: estudos a partir do Programa Ensino Médio Inovador. Curitiba: UFPR, 2016.


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Internacional ›››

››› Temporada dos estudantes no Exterior tem como um dos pontos positivos o desenvolvimento comportamental

Mobilidade on-line Até o início deste ano, o formato mais clássico da internacionalização do Ensino Superior era o físico. Com a pandemia, deve haver adaptação TATIANA BANDEIRA

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m um mundo há tempos globalizado, muito se fala em internacionalização do Ensino Superior nas universidades tanto brasileiras quanto estrangeiras. Mas como funciona exatamente a internacionalização do ensino na graduação e na pós-graduação? Principalmente em um momento de pandemia, no qual o passaporte ficou na gaveta e deu lugar à tela de um computador? Antes de falar do contexto das restrições impostas pelo coronavírus, um preâmbulo. Quem explica o conceito de internacionalização é a professora titular

do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maria Leonor Alves Maia. Ela é presidente da Associação Brasileira de Educação Internacional (Faubai), órgão que reúne mais de 230 gestores ou responsáveis por assuntos internacionais. Conforme a professora, não pode ser considerada uma modalidade de aprendizado. Trata-se de um eixo transversal aos vários pilares da universidade que foca no ensino, na pesquisa e na extensão visando a ampliação da capacidade de diálogo entre os estudantes por meio de parcerias entre universidades de diferentes países. Na prática, no campo do ensino, o

formato mais clássico da internacionalização é a mobilidade estudantil. “É o movimento que até então, pré-Covid-19, era físico, em grande parte. É quando os alunos passam uma temporada fora ou a universidade recebe estudantes internacionais para troca de conhecimento, inclusive intercultural”, explica. Mas, além da forma presencial, há a colaboração on-line que, segundo Maia, é uma maneira de manter a “roda do conhecimento girando” em tempos de pandemia. “Não é EAD, são salas de aula em que você conecta, seja ao mesmo tempo ou de forma não sincrônica, estudantes para desenvolverem uma habilidade em comum. É possível trazer debates para dentro da instituição, participar de redes internacionais de pesquisa de educação superior e de redes de ensino e aprendizagem”, exemplifica. De acordo com a professora, as escolas que não se internacionalizam reduzem a importância estratégica como instituições de referência. E mais: perdem a capacidade de diálogo. Segue ›››

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››› Internacional “Ter um encontro com um professor estrangeiro, mesmo que a distância, ou uma trilha cursada em língua distinta da nossa, ou ainda um colega de aula, mesmo que numa sala virtual, constituem experiências internacionais valiosas que podem ser vivenciadas de casa. No contexto atual, duas realidades exigem nossa adaptação: a da quarentena e da expressão em língua e cultura estrangeira, o que pode trazer ainda mais riqueza”, complementa o diretor do campus da Imed em Porto Alegre, Marc Deitos. Conforme Deitos, a internacionalização tem também um aspecto muito mais enriquecedor do que o conhecimento técnico, que é o desenvolvimento comportamental. Morar em território estrangeiro, por exemplo, traz necessidades peculiares como criar uma rede local de apoio, reagir diante do desconhecido, desenvolver a empatia com expressões emocionais que se manifestam de forma nem sempre vivenciada no país de origem. Outro ponto é adquirir flexibilidade para responder a desafios ainda não tidos na cultura brasileira e, portanto, inesperados. “É o choque cultural que enriquece”, defende o diretor. Entre os tipos de internacionalização do ensino, os especialistas destacam o formato at home: aulas síncronas, ocorrendo simultaneamente numa instituição no Brasil e no Exterior. Geralmente os professores acordam qual é a disciplina, qual é o passo a passo, a ementa e colocam os alunos para estudarem juntos, ao mesmo tempo ou em tempos distintos (há a questão do fuso horário). A vantagem é cada aluno estar no seu país, mas podendo fazer atividades conjuntas e interagindo coletivamente, ampliando a capacidade de diálogo sem necessariamente ter todas as implicações de viajar e morar no exterior: a famosa colaboração on-line internacional. Além disso, no at home é possível atender uma quantidade muito maior de estudantes, oportunizar mais acesso ao conhecimento e promover mais igualdade no ensino. 

Estratégia de atração varia conforme a universidade Segundo a presidente da Associação Brasileira de Educação Internacional (Faubai), Maria Leonor Alves Maia, o cenário da internacionalização no Brasil conta com mais de 2 mil instituições de Ensino Superior. É muito variado, estabelece-se em diferentes níveis e conta com uma forma múltipla de atrair alunos, conforme a estratégia de cada universidade. “Em geral, em termos de mobilidade acadêmica, temos um perfil muito semelhante a alguns países da América Latina, em que cerca de 2% dos estudantes fazem. Pelo fato de o Brasil não ter uma segunda língua oficial, a mobilidade entre países da América Latina, que compartilham do espanhol, é mais fácil. Outra dificuldade encontrada nas universidades brasileiras são as questões financeiras, já que várias instituições no

Em Portugal, Reinaldo aprofundou conhecimentos Para o produtor musical Reinaldo Cerqueira Oliveira Filho, que cursa Psicologia na Imed, em Porto Alegre, o intercâmbio de um semestre que fez na Universidade do Porto, no Porto, em Portugal, em 2019, foi uma experiência valorosa. Por meio do projeto Mobilidade, da Imed, ele conseguiu aprofundar os conhecimentos numa modalidade chamada Mestrado Integrado em Psicologia. Ele só pagou as passagens de avião, a hospedagem e a alimentação e teve a oportunidade de conhecer a realidade da saúde mental em um outro país.

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Exterior cobram taxas dos estudantes, nem sempre baratas. E eles nem sempre têm estrutura econômica e emocional para morar no Exterior. No caso do Brasil, a gente tem poucas oportunidades de bolsas ou incentivo institucional nacional, como foi o programa Ciência Sem Fronteiras, que não existe mais, e colocou o Brasil no mapa do mundo”. Para ela, a situação da internacionalização do ensino é de incertezas, com grande impacto na mobilidade física, um dos carros-chefe do eixo, devido às novas regras sanitárias que os países devem estabelecer em função da Covid-19. “O desafio hoje é como acelerar com qualidade o ensino on-line, vendo nisso uma oportunidade de trabalhar com parceiros no exterior sem necessariamente ter a mobilidade física”, detalha.  ARQUIVO PESSOAL

“Vi como os portugueses tratam a saúde mental da população e fiz um paralelo com o Brasil. Esse comparativo foi bastante importante para poder vivenciar o dia a dia deles, acompanhar alguns atendimentos psicológicos e relativizar o conhecimento”, explica Oliveira, que pretende atender em consultório e se dedicar à psicologia clínica assim que se formar. 


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Radar ›››

DIVULGAÇÃO, UFN

››› UFN, de Santa Maria, faz testagem de casos suspeitos da doença na própria cidade e divulga resultados em 24 horas

Ciência e solidariedade: união no combate ao coronavírus UFN, de Santa Maria, e Setrem, de Três de Maio, são exemplos do envolvimento de estudantes e educadores de instituições de Ensino Superior com a comunidade

UFN está empenhada em testar a população Uma instituição de ensino superior com 65 anos de história no Rio Grande do Sul trabalha desde o começo de maio para ajudar a resolver um dos principais entraves do Brasil no combate ao coronavírus: a testagem da população. A Universidade Franciscana (UFN), de Santa Maria, foi habilitada pelo Laboratório Central do Estado (Lacen) como um centro de referência na Região Central do Estado para a realização de testes clínicos de identificação do vírus. Um levantamento da Rede BBC, a partir de dados compilados pela Univer-

sidade de Oxford, no Reino Unido, aponta o Brasil como um dos países que menos aplica exames para identificar casos da Covid-19, processo fundamental para evitar a proliferação da doença e planejar políticas de saúde. Um exemplo dessa dificuldade de contabilizar os casos está em Santa Maria, onde até abril todos os exames de casos suspeitos precisavam ser encaminhados para análise no Laboratório Central do Estado (Lacen), em Porto Alegre, o que atrasava o processo. Com a entrada em campo da UFN, em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), as análises passaram ser feitas na própria cidade, com resultados em 24 horas. “Nós já tínhamos toda a estrutura de laboratório porque trabalhamos com exames de biologia molecular. Adaptamos alguns processos e agora estamos contribuindo para dar uma resposta mais urgente sobre quem está ou não contaminado”, afirma o professor de biomedicina e coordenador do trabalho de

testagens da Covid-19 na UFN, Huander Felipe Andreolla. Segundo Huander, além da contribuição no combate à proliferação do vírus, os testes realizados pela UFN configuram uma grande oportunidade de formação para os estudantes da instituição. “Junto com os professores e os funcionários do laboratório, trabalham nessas testagens alunos do curso de biomedicina e do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Clínica Especializada”, explica.

Outras ações da UFN – Serviço para que pessoas com sintomas da doença possam receber orientação, por meio de videochamadas e que conta com a participação de estudantes de Medicina da UFN. Todos trabalham no projeto de forma voluntária. – Produção de máscaras de tecido e de protetores faciais para doação a profissionais da saúde.

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››› Radar DIVULGAÇÃO, SETREM

››› Parceria com o Clube de Mães permitiu a doação de máscaras e jalecos Setrem une a comunidade na prevenção à doença Enquanto boa parte das pessoas ainda tentava assimilar os efeitos da pandemia do coronavírus, um grupo de mulheres deixou de lado o medo de tudo o que estava por vir e se mobilizou para ajudar no combate ao vírus. O trabalho coordenado pelo Clube de Mães da Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem) resultou na doação de mais de 1,2 mil máscaras, além de jalecos, para profissionais de saúde apenas no mês de abril. E o trabalho não parou desde então. Coordenadora do Clube de Mães, criado há 25 anos, Marli Aparicida Soares de Almeida conta que o grupo discutia por meio de mensagens como poderia contribuir, quando uma delas lembrou de um rolo de tecido que seria utilizado na confecção de jalecos para alunos do curso de Enfermagem. Era a matéria-prima necessária para a produção de materiais aos profissionais da saúde. A Setrem doou o tecido e outros materiais, e um ex-aluno contribuiu com aviamentos e equipamentos. “Montamos a estrutura na garagem da minha casa. Chamamos uma médica da cidade para nos orientar sobre todos

os cuidados que precisávamos ter na confecção e também para nos proteger, distanciamento, revezamento de pessoas. Além de contribuirmos com os profissionais da saúde, aquilo tudo foi um alento para nós. Descobrimos que estávamos fazendo algo útil no combate à doença”, conta Marli. Além das doações para as equipes de saúde, o clube também produziu máscaras para distribuição gratuita a estudantes e familiares. “Esta ação foi uma maneira de ajudar a comunidade de Três de Maio, principalmente os profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate da pandemia da Covid-19”, afirma o diretor-geral da Setrem, Sandro Ergang.

Outras ações da Setrem – Produção, em parceria com empresas, protetores faciais para doação a profissionais da saúde. Os equipamentos foram confeccionados nas impressoras 3D disponíveis no Espaço Maker do campus da Setrem. – Estudantes dos cursos técnicos e superiores da instituição doaram 2,2 mil quilos de alimentos, 3,1 mil peças de roupas e R$ 6 mil em dinheiro para instituições como Apaes, hospitais e lares de acolhimento de crianças e idosos. 

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Eles também colaboram Confira outras iniciativas de instituições de Educação Superior: INSTITUTO IVOTI l Com o objetivo de auxiliar os gestores municipais de educação a trabalhar com atividades remotas durante a suspensão das aulas, professores do Instituto Ivoti realizaram encontros virtuais com representantes das prefeituras sobre novos modelos pedagógicos e ferramentas tecnológicas para atender os estudantes. UNIRITTER E FADERGS l As instituições da rede Laureate em Porto Alegre disponibilizaram mais de 100 cursos on-line gratuitos para que a população possa se capacitar em diversas áreas durante esse período. FEMA l Alunos e professores do curso de Enfermagem das Faculdades Integradas Machado de Assis (Fema) participaram de barreiras sanitárias montadas em Santa Rosa para alertar a população sobre os cuidados de prevenção do coronavírus. A ação envolveu medição de temperatura e orientação para pessoas com sintomas da doença. UNIFTEC l O Centro Universitário UNIFTEC aderiu a uma campanha voluntária para a arrecadação de fundos em benefício das Associações de Catadores de Caxias do Sul, que enfrentavam dificuldades desde o início da pandemia. Alunos de diversos cursos se envolveram na ação e a instituição instalou pontos de coleta para doação de alimentos e produtos de higiene.


Em destaque›››

FACTUM pratica resiliência e altruísmo

D

e uma hora para outra, hábitos mudaram. Planos, gestão do tempo, habilidades para o processo de estudar e de ensinar, estilos de se comunicar e se relacionar, foram repensados. Nesse período de diversas transformações, foi necessário praticar resiliência e, mais do que nunca, o altruísmo. Apesar de tudo isso acontecer, algo não mudou pa-

vemos em tempo recorde mais de 90% dos alunos acessando as aulas ao vivo no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Entendemos que para dar continuidade ao nosso trabalho também demandaria suporte e DIVULGAÇÃO criatividade, além das práticas ra nossa instituição de ensino, a nossa pedagógicas. Por esta razão, ofertamos essência. Em pouco tempo, nossos es- à comunidade acadêmica atendimenpaços de ensino foram alternados para to psicológico de apoio à saúde mental; o ambiente virtual, nossos professores, promovemos através das plataformas corpo técnico e alunos, com maestria e virtuais formação com especialistas da dedicação, desafiaram-se a aprender área da Enfermagem, da Psicologia e da novas ferramentas e a seguir em frente. comunicação para dialogar sobre as meCom essa mudança de atitude, obti- lhores formas de trabalhar e viver.

BERNOULLI atende da educação infantil ao pré-vestibular

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om presença nacional, o Bernoulli Sistema de Ensino oferece soluções educacionais de excelência a mais de 550 escolas parceiras e a mais de 150 mil alunos. Nove das escolas parceiras estão entre as 50 melhores do Brasil no Enem (entre as escolas com mais de 60 alunos participantes, conforme o Enem 2018).

São livros com soluções digitais integradas, que acompanham o estudante em cada etapa da trajetória escolar, com coerência pedagógica e consistência teórica. O Bernoulli Sistema de Ensino está ao lado da escola em todos os momentos da parceria, oferecendo assessoria pedagógica continuada a professores e gestores, com atendimento personalizado e consultores próprios. Inteligência logística com entrega pontual em todo o Brasil. Tudo para facilitar a vida da sua escola e gerar resultados de verdade.

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MFO está junto das entidades educacionais

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s profissionais da MFO Advogados atuam há 12 anos com demandas educacionais das mais variadas: acompanhamento do credenciamento nos órgãos respectivos, elaboração de contratos de prestação de serviços educacionais, contratação com fornecedores, auxílio na condução de temas envolvendo pais, alunos e escola, consultoria e representação trabalhista, relações sindicais, recuperação de ativos e assessoria para obtenção e manutenção do CEBAS, dentre outras.

Neste momento de pandemia, os desafios se multiplicaram. Os estudos não presenciais, a apresentação de aulas on-line, bem como as discussões relativas às anuidades exigem grande adaptação por parte das instituições. As atividades dos profissionais que integram o grupo de risco e o seu gradual retorno às aulas presenciais são situações que exigirão bom senso e firme orientação jurídica. Por isso, nunca foi tão importante estar ao lado não apenas como consultores, mas como parceiros estratégicos.

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››› Diversidade

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Quando o professor do AEE faz a diferença Profissionais são fundamentais no processo de desenvolvimento e de inclusão dos alunos com deficiência Educação em Revista | Nº 137 | Abril\Maio\Junho 2020


Diversidade ››› IGOR MORANDI

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papel do professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE), é fundamental para a inclusão de estudantes com deficiência no ambiente escolar. Ele avalia as capacidades e habilidades dos estudantes para planejar e promover ações na sala de recursos multifuncionais e na sala de aula regular. Nesse trabalho, algumas vezes, surge o papel dos monitores, que também contribuem para, por meio de intervenções pontuais, para que os alunos se desenvolvam e possam ir construindo suas aprendizagens. A professora do AEE do Colégio Santa Teresa de Jesus, Maria Helena Valente Ramis, afirma que as funções do professor e do monitor são diferentes, mas se completam. “O monitor é da turma, é quem vai apoiar o professor. Em alguns momentos, ele poderá estar focado no estudante com deficiência. E, em outros, vai dar suporte para os demais alunos enquanto o professor faz alguma intervenção específica”, explica. Ou seja: cada caso é um caso, como pontua a psicopedagoga e responsável pelo AEE do Colégio La Salle São João, Aline Manzoni. “Devemos avaliar a necessidade desse acompanhamento, porque nosso objetivo deve ser que os alunos adquiram conhecimentos e autonomia”, explica. Segundo ela, o contato com as famílias se dá uma vez por mês ou no trimestre, a depender da necessidade. E aí está um ponto importante: os monitores são convidados para colaborar e para ajudar os professores da sala de recursos multifuncionais e da sala de aula regular a pensar em questões como o currículo adaptado. A parceria desses professores com os monitores é fundamental, pois para esse trabalho é preciso de características como a paciência e a resiliência para enfrentar os desafios, bem como estar aberto à

busca do conhecimento e também colocar-se na condição de aprendiz. Nas palavras de Aline, “é um perfil muito aberto à diversidade e a construir uma caminhada com os alunos”. De fato, os estudantes ocupam a figura central da sala de aula, como lembra Maria Helena. Os monitores também auxiliam o professor, pois também fazem, em alguns momentos, uma intervenção comportamental. No trabalho com os alunos com deficiência a ênfase não é só a construção do conhecimento. A sociabilidade também faz parte”, reforça. Nesse contexto, a capacitação e o aperfeiçoamento precisam fazer parte da rotina do monitor. De acordo com Aline, do La Salle, muitos monitores são formados em Pedagogia ou estão concluindo o curso. Na escola ocorre uma orientação por mês, em que se atualizam a situação do aluno e o planejamento do monitor com o professor. Em paralelo, há formações com palestrantes on-line e presencial (quando possível) sobre deficiência. Ao menos uma vez por trimestre, afirma, ocorre essa capacitação. Todo esse trabalho se dá devido à importância da inclusão, que tem como objetivo unir a todos, sem distinção, em um só grupo, com a busca pelo desenvolvimento da autonomia dos alunos. Além disso, o trabalho com alunos com defici-

Quando a turma colabora l Professora do AEE do Colégio Santa Teresa de Jesus, de Porto Alegre, Maria Helena Ramis conta que, num trabalho inclusivo, todos os colegas da turma buscam ajudar uns aos outros, como o caso de uma aluna com paralisia cerebral. Ela precisava apresentar um trabalho sobre clima e tempo, e o seu grupo decidiu que seria em flanelógrafo para incluir a colega. Enquanto os outros explicavam, a menina colava os objetos no quadro.

ência requer o envolvimento de dos colegas da turma, direção, funcionários da escola, especialistas e os pais dos alunos público-alvo do AEE. E as ações começam com o acolhimento para conhecê-los e entender qual é o melhor projeto de trabalho para ser realizado com cada um deles. Em muitas escolas o monitor acompanha e também busca fazer a mediação com esses alunos e seus colegas. A psicopedagoga Aline salienta que as ações podem ser de estruturais a curriculares. “A inclusão escolar é um desafio de esperança, aposta, persistência e trabalho com comprometimento e dedicação. Respeitamos o desenvolvimento e desempenho de cada um e trabalhamos no seu potencial”, sustenta. Os estudantes com deficiência participam de toda a rotina escolar – com adequações, claro – e, assim como com os outros alunos, passam pela leitura do processo de aprendizagem. Nesse caso, com provas adaptadas, provas orais, trabalhos com diferentes formas de apresentação. O importante é garantir que eles expressem suas ideias e possam mostrar o que estão aprendendo. “Se é um trabalho avaliativo, permite replanejar para o estudante”, diz Maria Helena. Ou seja: a partir das avaliações, é possível entender como o plano de desenvolvimento individualizado está colaborando para a promoção da aprendizagem e o que pode ser readaptado nele. Mas essa evolução não é pensada nem ocorre só com eles. Isso porque um trabalho inclusivo deixou de ser para esses estudantes e passou a ser por eles. De início, as pessoas entendiam-no como uma adaptação dos alunos com alguma deficiência aos que não as possuem, conta Maria Helena. No entanto, trabalhar de modo inclusivo é muito mais do que ter empatia, possibilitar acesso a tecnologias assistivas ou partir de ferramentas pedagógicas. É expandir o conhecimento e a promoção da alegria desses estudantes. 

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AULAS ON-LINE EM FARROUPILHA

Em virtude da pandemia, o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, de Farroupilha, atendeu a seus alunos de forma remota, por meio do Google Classroom e Google Meet. Após fazer uma revisão sobre tipos de gráficos e tabelas na aula de Matemática, os alunos do 1° ano do Ensino Médio realizaram uma pesquisa sobre produtos comestíveis de maior preferência do público determinado por eles. Esta deveria ser realizada por meios virtuais como Facebook, Instagram, WhatsApp ou Google Forms. Após, realizou-se a coleta de dados, os cálculos referentes as porcentagens e ângulos encontrados e a construção do gráfico de setores usando um recurso tecnológico. Alunos e familiares colocaram a mão na massa e construíram o gráfico de setores comestível com os elementos e dados da sua pesquisa. 

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ALUNOS DA MONTEIRO LOBATO PRODUZEM MAÇÃ MUMIFICADA  Projeto integrado entre química e

história do Complexo Educacional Monteiro Lobato, de Porto Alegre, produziu uma maçã mumificada. O projeto foi realizado de forma transdisciplinar, ao vivo e virtual, usando apenas materiais que os alunos possuíam em casa. Mesmo a distância, é possível aprender e se divertir com aulas dinâmicas e diferenciadas. Ao fim da experiência, a maçã mumificada ganhou o nome de “Mumiaçã”, a partir de votação

realizada pelos alunos. Além de aula de civismo e política, com a votação democrática do nome do novo “mascote da turma”, foram trabalhadas as disciplinas de História (relacionando a mumificação que era praticada no Egito Antigo) e Química (com o conteúdo sobre mistura de substâncias e substâncias puras). Participaram os alunos do 1º ano do ensino médio, orientados pela professora Roberta (Química) e Alexandre (História).

MARISTAS POTENCIALIZAM O APRENDIZADO DOMICILIAR Santa Maria, as práticas pedagógicas, reorganizadas para serem realizadas em casa, envolvem a realização de lives, videoaulas, uso da plataforma Marista Virtual 3.0 e a adaptação de projetos presenciais voltados para a Formação Humano-Cristã e a preparação para o Enem e Vestibulares. Dessa forma, além dos conteúdos do currículo escolar regular, os estudantes participam de palestras on-line, como a realizada para o Ensino Médio com a psicanalista e doutora em psicologia social, Carla Froner, sobre inteligência emocional e construção de projetos de vida em tempos de distanciamento social. Outro projeto da Rede é o Marista em Casa, criado para ajudar estudantes e pais com matérias, vídeos e tutoriais educativos. 

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 No Colégio Marista Santa Maria, de


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MADRE IMILDA USA O GOOGLE CLASSROOM  O Colégio Madre Imilda, de Caxias

do Sul, da Rede ICM de Educação, iniciou suas atividades on-line no dia 23 de março. O Google Classroom já era adotado e, desde a primeira semana, os alunos tiveram aula com o auxílio do Hangout Meet. A ferramenta vem sendo essencial para a interação em sala de aula, transformando o ambiente on-line em uma prática muito parecida com a presencial. Os professores enriqueceram suas aulas com plataformas digitais como cogle.it, Jamboard, Canva, Tik Tok e Khan Academy. Todas possibilitaram a realização de atividades em grupo e de alguns projetos, como a Mostra Científica. “Estamos vivendo um novo mundo. Todos juntos, aprendemos a aprender. Nos adaptamos e continuamos com a vocação de ensinar”, explica a coordenadora pedagógica Gisele Mazzarollo.

LA SALLE DE CARAZINHO FAZ RECITAL DE POESIAS ON-LINE Alunos do 3º ano do Ensino Fun-

damental da Escola La Salle, de Carazinho, realizaram um Recital de Poesias on-line. Esta atividade foi proposta por meio do aplicativo Google Meet. O objetivo foi trabalhar com a poesia, um

gênero textual desenvolvido em aula de forma interdisciplinar, desenvolvendo o ritmo, a entonação de voz, expressão corporal, desinibição e o prazer de ouvir e fazer poesia. O mundo do faz-de-conta, a magia e a fantasia de contar e

ouvir poesias desenvolve o hábito e o gosto pela leitura. A curiosidade, a criatividade e a imaginação tão latentes nas crianças representam um papel importante na formação da identidade e da autoestima delas.

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PROFESSORES RECEBEM ESCUTA PSICOLÓGICA  Pensando na saúde emocio-

REALITY SHOW MOSTRA FAMÍLIAS NA QUARENTENA  A Rede de Ensino Caminho do Sa-

ber estreou a série de vídeos “Confinados - o reality” em 6 de maio. A produção conta com 4 episódios disponibilizados no Instagram da escola (@redecaminhodosaber). O reality mostra a rotina de pais e alunos da Rede no período de quarentena e como eles estão se ade-

quando à fase de pandemia. Além disso, os participantes foram desafiados a cumprirem algumas tarefas, que têm por objetivo mostrar o trabalho em equipe das famílias, num momento em que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é ficar em casa. “Confinados - o reality” foi produzido, editado e disponibilizado pela Rede de Ensino Caminho do Saber. Seguindo as recomendações da OMS, os vídeos foram gravados pelos próprios participantes, a fim de evitar aglomerações e visitas. 

nal do professor em tempos de pandemia, o Colégio Regina Coeli, de Veranópolis, criou um espaço de escuta. A proposta começou em abril e teve como objetivo estimular o profissional a falar e a refletir sobre o momento, as dificuldades e os sentimentos envolvidos na educação a distância. As conversas ocorreram com a psicóloga, de forma on-line e individual, com duração de 30 minutos. Sabe-se que o professor é uma peça fundamental para a educação de excelência, deve ser valorizado em qualquer circunstância e, neste contexto, ainda mais. 

MEDIANEIRA ABRE UMA SALA DE AULA PARA A COMUNIDADE tiago, oportunizou uma sala de aula virtual aberta a toda comunidade, tanto da esfera pública como privada. Trata-se de uma live disponibilizada semanalmente, via Facebook institucional, por meio das salas do Google Meet, com divulgação dos dias, dos horários e dos temas nas mídias digitais, com antecedência. Jovens e adolescentes sedentos por uma educação eficiente, inovadora e de qualidade têm a oportunidade de ingressarem num ambiente rico em recursos didáticos e metodologias geradoras de aprendizagem. 

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 O Colégio Medianeira, de San-




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