Edição 124

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Uma publicação do SINEPE/RS

Nº 124 / Ano XXI / Setembro-Outubro 2017

O IMPACTO DA TECNOLOGIA NO CÉREBRO

ENTREVISTA

Criador da “sala de aula inver tida” fala sobre o método de ensino

GESTÃO

Como driblar a inadimplência


ENTREVISTA

Jonathan Bergmann

“Sala de aula invertida ajuda os alunos a aprender melhor”

V

Por Ca r i ne Fer na ndes

ocê já ouviu falar em sala de aula invertida? A ideia central desse novo método de ensino é que o aluno assista previamente, em casa, às principais explicações gravadas pelo professor ou estude o material indicado. Na sala de aula, o professor aprofunda o aprendizado com exercícios, estudos de caso e conteúdos complementares. Além disso, esclarece dúvidas e estimula a troca entre os alunos, fixando a aprendizagem. Um dos criadores dessa metodologia, o americano Jonathan Bergmann,

esteve recentemente no Brasil, onde participou do FlipCon Brasil, promovido pelo GEN Educação, em São Paulo. Educação em Revista conversou com o especialista para entender melhor o método e como pode ser aplicado na realidade da educação brasileira. Confira os principais trechos da entrevista: Educação em Revista – O aluno aprende de forma mais eficaz na sala de aula invertida? Por quê? Jonathan Bergmann – Quando bem feita, a sala de aula invertida ajuda os alunos a aprender melhor (a nota dos estudantes aumenta), proporciona mais tempo com o professor durante o horário da aula, menos lição de casa e a capacidade de pausar e rebobinar o professor na pré-aula (quando o estudante está assistindo ao vídeo em casa). Há diferenças na aplicação da metodologia em escolas e faculdades? Quais? As universidades têm estruturas diferentes. Geralmente, os professores não veem seus alunos todos os dias, então há algumas modificações. Isso torna o tempo de aula ainda mais valioso nas universidades. Outra questão para muitas faculdades é que, tipicamente, possuem tempos de aula mais longos. Isso torna mais desafiador passar da aprendizagem passiva para a ativa. Algumas estratégias de aprendizagem ativas, como a instrução entre pares, funcionam melhor com grupos maiores.

A sala de aula invertida é um trabalho árduo. É preciso professores que se dediquem a oferecer o melhor para seus alunos”

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E na escola, o método funciona em todas as faixas etárias? Com as crianças menores, não se esbarra na imaturidade dos alunos com relação aos hábitos de estudo em casa? Como criar esse hábito desde cedo? A sala de aula invertida funciona em todas as idades. Do Jardim de Infância ao Primário, ensinos Fundamental e Médio, ao Ensino Superior, inclusive na aprendizagem corporativa e adulta. Mas existem características diferentes para estudantes mais jovens. O que muitas vezes acontece nos primeiros estágios da educação escolar é que o professor faz uma “inversão interna” (In-Flip). Os alunos assistem aos vídeos na escola em estações ao redor da sala. Eles, então, alternam para outras estações, onde vão praticar. Isso também resolve o problema daqueles estudantes que possuem acesso à internet limitado em casa. Mas, para os nossos alunos mais jovens, é mais difícil que saibam como fazer login, onde clicar, etc. Afinal, muitos deles têm apenas 5 anos.


A sala de aula invertida exige do Há várias dicas que podem ajudar: use aluno um tempo maior para os estu- o In-Flip; ensine os alunos a interagir dos em casa. Na realidade brasileira, a com o conteúdo; use vídeos curtos (3-7 maioria dos alunos do ensino privado minutos); nunca passe o conteúdo de concilia os estudos com o trabalho, e o vídeo na aula aos estudantes que não tempo para o estudo fora da universi- fizeram a pré-aula. Descobrimos que dade é bem reduzido, não se tem fortes essas estratégias fazem grande diferenhábitos de estudo. Como aplicar a me- ça na implementação bem-sucedida da todologia nessa realidade? sala de aula invertida. Vi a sala de aula invertida implementada em áreas de baixa renda ao redor O senhor defende que essa metodolode todo o mundo. Normalmente, o que gia deva ser aplicada em todas as disacontece nessas escolas é um modelo ciplinas ou o currículo deve ser misto, “inversão interna” (In-Flip), ou seja, com aulas tradicionais? as tarefas individuais são realizadas A sala de aula invertida é o equilíbrio durante o dia escolar. Assim, no In- perfeito entre o antigo e o novo. Pense no Flip, os alunos dedicam algum tempo “antigo” como palestra e no “novo” como na própria universidade para assistir centrado no aluno. A sala de aula inveraos vídeos e, em seguida, o tempo de tida ainda valoriza a apresentação de aula é usado como um ambiente para a conteúdos, a instrução direta. Os alunos aprendizagem ativa. Temos uma orien- não dominam o que desconhecem, os tação específica sobre como lidar com professores sim. A sala de aula invertida estudantes que não fazem a “pré-aula”. é um caminho para que os professores

sigam ensinando seu conteúdo, mas em momentos diferentes. Assim, o tempo de aula pode ser mais centrado no aluno. Que papel o professor passa a ter na sala de aula invertida? Os professores são ainda mais importantes em uma classe com sala de aula invertida porque ele muda a dinâmica da sala de aula. O foco da classe já não é mais a entrega de conteúdo nem a responsabilidade principal do professor, é a disseminação do conhecimento. Em vez disso, os professores assumem o papel de facilitador da aprendizagem. Eles podem trabalhar com alunos em pequenos grupos e ter mais interações um a um. O simples ato de remover a instrução direta de todo o grupo muda a dinâmica da sala e permite ao professor mais tempo para personalizar e individualizar a aprendizagem para cada aluno. Cada aluno obtém sua própria educação adaptada às suas necessidades

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individuais. Em vez de um tamanho único, todos os alunos recebem exatamente o que precisam, quando precisam. Quais são as maiores resistências ou dificuldades que o professor precisa vencer para adotar o método? Cito cinco questões importantes: mudar seus pensamentos sobre o que acontece no horário da aula; obter treinamento de qualidade (nossa equipe criou um programa de certificação); familiarizar-se com a tecnologia; eles precisam de tempo (a liderança pode fornecer isso); precisam realmente fazê-lo – muita mudança causa medo e, embora gostem da ideia, eles realmente não mudam o modelo de ensino. A sala de aula invertida é um trabalho árduo. É preciso professores que se dedicam a oferecer o melhor para seus alunos. Minha experiência com mestres em todo o mundo é que eles querem o que é melhor para seus alunos. Quando a maioria dos professores compreender bem o conceito de sala de aula invertida, a transformação começará. Um dos maiores desafios nesse modelo é que os professores precisam ser bem treinados. Como um pesquisador disse: “É um método fácil de errar”. Por isso, incentivamos os educadores a aprenderem profundamente antes de começarem. Essa é a razão pela qual criamos o programa de certificação da sala de aula invertida.

Para os professores O movimento mais tradicionais, o método pode assustar do aprendizado por parecer que dá passivo para mais trabalho. Quais os ganhos do professor com o ativo muda essa nova metodologia? o modelo de A pesquisa agora está clara, a sala de aula inavaliação. Eles vertida ajuda os alunos a estão interessados aprender melhor. Assim, qualquer professor que em aprender, e sabe disso deve abraçar não nas provas” o modelo. Os alunos são, afinal, o motivo pelo qual temos escolas. Isso exigirá que os professores trabalhem mais por um tempo, mas os benefícios para os alunos ultrapassam em muito o trabalho extra. Eu percebo que a mudança é difícil para os professores, mas muitos já começaram a sala de aula invertida e notam que dá certo, que gera ótimos resultados. O senhor afirma que a sala de aula invertida é muito mais do que exposição de vídeos. Quais são as ferramentas que o professor deve utilizar? Com certeza! Muito mais que a exposição de vídeos. O que será feito: um projeto? Uma experiência? Uma discussão? Simulações, jogos? Há muito para fazer na aula, de forma mais ativa e envolvente.

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Qual o papel da tecnologia nessa metodologia? A sala de aula invertida é uma solução pedagógica, não tecnológica – embora exista uma parte tecnológica. Portanto, é importante que as escolas escolham uma boa tecnologia ao implementá-la. Graças à tecnologia, por exemplo, os estudantes podem dar “pausa” e “voltar” a explicação do professor. Quantas vezes, na aula, um aluno ouve e tenta anotar tudo, mas se perde? A mágica não está na tecnologia, e sim em melhorar o que se faz com a turma. O conceito de avaliação muda com a sala de aula invertida? Como ela deve ser feita? Essa é uma grande pergunta. No começo, você não precisa mudar a maneira como você avalia os alunos. No entanto, pela minha experiência pessoal, quando inverti a sala de aula, comecei a repensar a forma de testar os estudantes. E então, como observamos com outros professores que inverteram a sala de aula, essa evolução quase sempre acontece. Acho que o movimento do aprendizado passivo para o ativo muda o modelo de avaliação. Eles estão interessados em aprender, e não nas provas. Confira o canal de Jonathan Bergmann no Youtube, com mais informações sobre o método, e o site do especialista, com vários artigos sobre o assunto.


ESCOL A S I NOVA DOR A S Uniamérica radicalizou forma de ensinar

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da o t c pa O im ogia no ol tecn ro dos céreb antes d estu

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INCLUSÃO Como identificar a deficiência intelectual

SAL A DE AUL A Por que falar sobre o projeto de vida no currículo

TENDÊNCIAS Tecnologia na comunicação com as famílias

OPINIÃO 10 lições sobre gestão de riscos e crises

GESTÃO Inadimplência, a vilã da saúde financeira das escolas

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IN TERDISCIPLINAR Família engajada representa até 70% do aprendizado do aluno

INSTITUCIONAL SINEPE/RS cria grupo de estudos sobre inclusão

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DICA DE MESTRE Spinner como ferramenta pedagógica em sala de aula

ARTIGO CIEN TÍFICO Como transformar nossas escolas em instituições inovadoras?

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EDITORI AL

A tecnologia e o cérebro dos nossos alunos O fato de as crianças e os jovens estarem 100% conectados não é uma novidade, mas a grande dúvida é: qual a consequência dessa imersão tecnológica no cérebro dos alunos? Será que a tecnologia está mudando a maneira como eles aprendem? Tem impacto na sua interação social? Afinal, o uso da tecnologia é positivo ou negativo? Com esses questionamentos, fomos a campo para saber o que se tem de estudo científico sobre esse assunto. Já posso adiantar que as nossas dúvidas são também dúvidas dos cientistas e, por enquanto, não se tem certezas, já que tudo é muito recente (estamos falando de menos de 20 anos). Mas já há alguns indícios e preocupações dos pesquisadores com relação a possíveis prejuízos causados pela tecnologia. Também há sinais de benefícios e não há um consenso entre os especialistas. Enfim, vale conferir a reportagem de capa para saber um pouco mais sobre esse assunto. Ainda sobre tecnologia, em ‘Tendências’ mostramos como as escolas têm utilizado esse recurso para comunicarem-se com os pais e dicas de uma advogada sobre os cuidados que se deve ter nessa relação digital. Outro destaque desta edição é o case da Uniamérica, de Foz do Iguaçu, no Paraná, que radicalizou a forma de ensinar, abolindo disciplinas e aulas expositivas. O gestor da instituição conta detalhes de como foi essa transformação e os resultados obtidos até agora. Em ‘Gestão’, o assunto é inadimplência. Trazemos dicas de especialistas sobre como enfrentar o problema e contamos a história de uma escola de Porto Alegre que inovou na forma de negociar as dívidas com as famílias e teve bons resultados. Nos temas voltados à sala de aula, abordamos a importância de incluir o assunto “projeto de vida” no currículo escolar e como fazer esse trabalho. Outro assunto importante para professores e equipe pedagógica é a inclusão. No nosso especial dessa edição, falamos sobre os alunos com deficiência intelectual, como identificá-los, as diferenças em relação à dificuldade de aprendizagem e como trabalhar com esse aluno em sala de aula. Como você pode ver, a revista está recheada de assuntos que permeiam os diferentes setores da instituição. Compartilhe essa publicação com a sua equipe e lembre-se de que a revista também está na íntegra no site, acesse: www.educacaoemrevista.com.br. Carine Fernandes Editora da Educação em Revista

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Expediente Edição: Carine Fernandes (MTB 15449) Produção: Carine Fernandes, Patrícia Gastmann (MTB 15336) e Wagner Figueiredo (MTB 18739) Reportagens: Carine Fernandes, Manoela Andrade (MTB 13648), Tatiana Reckziegel e Vívian Gamba (MTB 9383). Capa: Istock Photo Diagramação: Prya Estúdio de Comunicação Revisão: Rosane Vargas e Milton Gehrke. Conselho Editorial: Prof. Osvino Toillier, Prof. Hilário Bassotto, Prof. Flávio D’Almeida Reis, Profª Mônica Timm de Carvalho, Profª Naime Pigatto, Profª Raquel Boechat, Prof. Ruy Carlos Ostermann, Profª Ângela Ravazzolo, Profª Rosângela Florczak e Prof. Gustavo Borba. Antenas: Adriana Gandin, Alfredo Fedrizzi, Caio Dibi, Crismeri Corrêa, Fernando Becker, José Moran, Laura Dalla Zen, Márcia Beck Terres, Mauro Mitio Yuki e Rodrigo Capelato. Impressão: Comunicação Impressa

DIRETORIA

Presidente: Bruno Eizerik 1º Vice-Presidente: Osvino Toillier 2º Vice-Presidente: Oswaldo Dalpiaz 1º Secretário: Marícia da Silva Ferri 2º Secretário: Iron Augusto Müller 1º Tesoureiro: Hilário Bassotto 2º Tesoureiro: João Olide Costenaro Suplentes: 1º Suplente: Maria Helena Rodrigues Lobato 2º Suplente: Ruben Werner Goldmeyer 3º Suplente: Joacir Della Giustina 4º Suplente: Laura Coradini Frantz 5º Suplente: Nestor Raschen 6º Suplente: Jacinta Maria Rothe 7º Suplente: Carlos Roberto Milioli

CONSELHO FISCAL Titulares: Ademar Joenck Inacir Pederiva Cátia Teresinha Lange

Suplentes: Isaura Paviani Maria Angelina Enzweiler Guilherme Kühne

Coordenador da Assessoria de Comunicação e Marketing: Prof. Osvino Toillier Assessora de Comunicação e Marketing: Luciana Moriguchi Jeckel Lampugnani Assessora de Imprensa: Carine Fernandes Relações-Públicas: Bruna Ricardo Jornalista: Wagner Figueiredo Criação: Hermes Moura Estagiário: Bruno Pinheiro

Missão:

Representar e congregar as instituições do ensino privado na promoção de sua qualificação permanente, diferenciação e sustentabilidade.

Visão:

Ser referência como instituição no cenário educacional brasileiro, reconhecida pela eficiência na representação sindical e na promoção da inovação do setor.

Valores:

• Compromisso com o Associado • Ética e Transparência • Competência • Cultura da Sustentabilidade e da Inovação • Responsabilidade Social

FALE CONOSCO Redação Cartas, comentários, sugestões, matérias: educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br Anúncios e assinaturas E-mail: comercial@sinepe-rs.org.br Informações Fones: (51) 3213-9090 | www.educacaoemrevista.com.br ISSN: 1806-7123 Educação em Revista não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Por motivos de espaço e clareza, as cartas e artigos poderão ser resumidos.


IN TER NACIONAL

Semelhanças e diferenças entre Brasil e Portugal No ano passado, participei, com os alunos de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Faccat, de uma viagem de estudos à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em Vila Real, Portugal. O objetivo foi apresentar aos alunos portugueses as características da região do Vale do Sinos e o nosso sistema de ensino. Relatamos como funciona o sistema de ensino no Brasil em todos os níveis, apontando os números que fazem parte da nossa realidade, como índices de aprovação, reprovação, abandono dos estudos e as principais causas que levam os alunos a deixar a escola. Pode-se perceber que os ouvintes ficaram intrigados com a realidade do estudante brasileiro, que, muitas vezes, enfrenta um dia exaustivo de trabalho e à noite ainda se dedica aos estudos, buscando obter melhores oportunidades no mercado de trabalho futuramente. Essa não é uma prática comum dos alunos de Portugal, que se mostraram surpresos com esta peculiaridade brasileira. Diferença apontada, inclusive, pelo professor que estava com a turma durante nossa apresentação. Esse foi um dos pontos que nos levou a refletir sobre as diferenças enfrentadas pelos brasileiros se comparados com os portugueses, por exemplo, e necessidade de valorização desses alunos, que enfrentam o cansaço e as mais diversas dificuldades no campo da aprendizagem. Além dos problemas já conhecidos, há outros, como escolas com problemas de infraestrutura, falta de recursos didáticos, professores desestimulados e mal remunerados e a falta de professores com formação mínima necessária dentro das salas de aula. A universidade portuguesa visitada é pública, destacando-se a qualidade da infraestrutura, o ambiente conservado, agradável e acolhedor. Ponto que também

Vanuza percebeu reflexos da cultura portuguesa nas características da cultura brasileira

apresenta diferenças com algumas escolas e universidades públicas no Brasil. Frente a isso, podemos concluir que o Brasil precisa sim, de melhorias no setor educacional. Faz-se necessário escolas em bom estado de conservação, seguras e apropriadas para receber nossos estudantes, locais que tenham a capacidade de oferecer um ambiente que favoreça sua aprendizagem, com profissionais qualificados e dispostos a contribuir com a formação desses jovens. Como sabemos, a educação é a base fundamental para o progresso e a superação das dificuldades de qualquer país. E nós, brasileiros, possuímos a garra e a determinação para caminharmos rumo ao crescimento; porém, faz-se necessário um olhar dos nossos governantes e sua dedicação para possibilitar aos nossos estudantes oportunidades semelhantes às das de outros países. Com essa viagem de estudos a Portugal, nós, alunos do Mestrado e eu, como professora de História do Colégio Santa Teresinha, de Taquara, pudemos

compreender e conhecer mais sobre a história de Portugal, país com o qual nossa própria história possui relações diretas. Muitas das nossas características são reflexos da cultura portuguesa. Da mesma forma, pudemos observar a nossa presença em Portugal. Lá estão presentes muitas das riquezas oriundas do nosso país, seja pelo ouro nas decorações das Igrejas, seja pela presença dos brasileiros, que parecem se sentirem em casa, devido à familiaridade da língua portuguesa, mesmo com um sotaque diferente e charmoso. Destacamos também as ruas das cidades de Porto e Lisboa, que, por vezes, nos remetem à similaridade com as ruas de Porto Alegre, sinal de que um coração brasileiro bate no peito repleto de saudade e orgulho da nossa gente, que tanto luta e deseja uma vida melhor. Vanuza Alves Mittanck

Graduada em Licenciatura em História, mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) das Faculdades Integradas de Taquara (Faccat).

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SAL A DE AUL A

Professor deve investir em atividades didáticas intencionais que busquem o autoconhecimento

Mais que carreira, projeto de vida

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Por Tat i a na Reck z iegel

em médicos, nem arquitetos nem publicitários. De acordo com especialistas, mais da metade da geração dos estudantes de hoje vai seguir carreiras que ainda nem foram inventadas. Nesse cenário, o que surge como opção para as escolas é auxiliar os alunos com seus projetos de vida, desenvolvendo habilidades e competências que podem ser úteis independentemente da profissão que eles escolherem. O processo de planejamento do projeto de vida é uma jornada, primeiramente, de autoconhecimento. “São atividades didáticas intencionais para que cada pessoa consiga se conhecer melhor, descobrir seu potencial, suas dificuldades e caminhos mais promissores para o seu desenvolvimento e realização em todos os campos e dimensões”,

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define o professor da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador de Projetos de Inovação na Educação José Moran. Esse turbilhão de incertezas, também conhecido como adolescência, cobra uma série de decisões de um jovem que pouco sabe de si. É natural que ele fique mais vulnerável às pressões externas e sinta dificuldades de enxergar além do que familiares e amigos esperam dele. Vem daí a importância de as instituições de ensino investirem em trabalhos de projeto de vida. “Se não houver este tipo de reflexão, fica muito fácil o aluno ser levado pela vida e não ser o condutor do seu próprio destino”, alerta o psicoterapeuta especializado em orientação profissional Leo Fraiman. Mas o ideal é começar a pensar nesse processo bem antes da puberdade. Ainda pequena, uma criança já pode ser estimulada a desenvolver sua inteligência emocional

e seu caráter. De forma lúdica, é claro. O projeto pode iniciar-se por atividades como a elaboração de narrativas de origem, uma espécie de “conhecendo nossas famílias”, e evoluir respeitando o ritmo de cada aluno. O importante é que a educação voltada para o projeto de vida caminhe sempre paralelamente ao ensino formal. Mesmo que autoconhecimento, caráter e valores pareçam temas para se trabalhar em casa, o colégio tem um papel fundamental nesse processo. “Nem sempre a família consegue ter uma visão global sobre aquele indivíduo”, comenta a escritora, doutora em educação e diretora do GEN Educação, Andrea Ramal. “A escola sempre pode ser o outro lado, que vai ouvir e orientar esse jovem e que também vai conhecer talentos e aptidões dele que aparecem nas disciplinas”, complementa.


tratar o assunto é muito particular, porque depende de uma série de fatores, como realidade local, perfil dos alunos, projeto pedagógico... O fato é que o assunto precisa ser trabalhado, especialmente agora, com o novo Ensino Médio, em que o jovem definirá o seu tipo de formação. Os alunos devem ser estimulados, desde os primeiros anos da vida escolar, ao autoconhecimento, para identificarem suas habilidades, perceberem

quais áreas com que mais se identificam e, assim, construírem um projeto de vida que os realize pessoal e profissionalmente. Confira as competências que são desenvolvidas ao se trabalhar o projeto de vida do aluno na escola e a entrevista completa com Andrea Ramal.

Wagner Figueiredo

Como trabalhar o assunto na prática? Uma das dificuldades na hora de trabalhar com projeto de vida é contar com professores devidamente capacitados para isso. “É importante que a coordenação e a direção pedagógica façam um plano de desenvolvimento continuado, pois o próprio professor não teve, via de regra, nem na sua faculdade nem na pós-graduação, oportunidade de repensar o seu projeto de vida”, explica Fraiman. A dica é investir em uma formação imersiva, para que o próprio docente tenha uma experiência pessoal com a metodologia. Outro desafio é fazer a família participar ativamente do desenvolvimento do projeto de vida do aluno. A primeira etapa é comunicar o novo direcionamento adotado pela escola e angariar o apoio dos responsáveis. Na infância, os pais são um elemento central do aprendizado das crianças sobre si mesmas e devem estimular a troca por meio de filmes, livros e conversas. Já na adolescência, pode ser um pouco mais difícil essa conexão. Por isso, escola e professores devem incentivar ações para que o jovem veja na família agentes facilitadores para que ele alcance seus objetivos. Mas como inserir o projeto de vida na escola? Aula, disciplina ou componente curricular transversal? A resposta divide os especialistas. Na maioria das escolas que já adota o método, esses ensinamentos permeiam os componentes curriculares obrigatórios. A forma como cada escola vai

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ESPECI A L ESCOL A S I NOVA DOR A S

Todos os semestres, o aluno tem um problema real para resolver, que se transforma num projeto

Uniamérica radicalizou a forma de ensinar

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Por Vív ian Gamba

isciplinas foram abolidas. Aulas expositivas também. O próximo passo? Desconstruir a semestralidade. É esse o ritmo da inovação na Uniamérica, instituição de educação superior de Foz do Iguaçu, no Paraná, que, segundo o diretor, Ryon Braga, não está fazendo nada que não foi visto ou estudado. “Se a gente tem alguma originalidade, é o fato de estar aplicando isso intensamente no dia a dia, de forma institucional.” Foram dois os principais elementos motivadores da mudança: as estatísticas que mostram que após um ciclo de 4 a 5 anos de curso, os estudantes lembram apenas 40% do que lhes foi ensinado e conseguem

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aplicar, na prática, menos de 10%; e a experiência nos bastidores de inúmeras instituições de educação superior, com estudos e avaliações de como o processo de ensino-aprendizagem poderia ser diferente. “As pessoas investem muito tempo para um retorno de aprendizado muito pequeno. Tivemos vontade de aplicar (essa nova metodologia) num projeto experimental para ver o resultado e, se positivo, colaborar com outras instituições”, afirma Braga. O planejamento foi feito ao longo de muitos anos, mas depois da compra da faculdade, em 2013, levou um ano para ser implementado. Os 22 cursos de graduação tiveram seus currículos mudados e duas metodologias ativas – a aprendizagem baseada

em projetos e a sala de aula invertida – são os carros-chefe do novo modelo. “Todos os semestres, o aluno tem um problema real para resolver, que se transforma num projeto (em quatro anos, são oito grandes projetos), e boa parte do tempo acadêmico é usada nisso, dentro e fora do campus”, explica o diretor. Na sala invertida, o aluno estuda a teoria em casa, por meio de uma plataforma virtual, e vem para a sala de aula para aplicar o que estudou junto com o professor. Na Uniamérica, não tem aula expositiva. “Essa foi uma mudança bem radical. Eliminamos a divisão da matriz curricular por disciplinas e temos os chamados temas geradores, em que os alunos buscam todo o conteúdo necessário para


fazer determinado projeto.” É um modelo híbrido de educação, define Braga, com uso de mais de 40 metodologias diferentes em sala de aula, mas duas, em especial, que dão o norte ao trabalho. “Apesar de ser híbrido, com a integração do EAD (ensino a distância) com o presencial, não abrimos mão de uma parte presencial intensa e diária.” São pelo menos 8 horas semanais de estudo na plataforma – esse é o tempo mínimo considerado para um bom acompanhamento – e atividades presenciais de segunda a sexta-feira. Não há provas bimestrais ou exame final. Há avaliações semanais, toda segunda-feira, do material que foi estudado na plataforma na semana anterior. O aluno faz a prova antes da aula. Ela é corrigida em conjunto com todos os alunos e as lacunas são trabalhadas posteriormente, na aplicação das atividades. “A ideia é que o aluno tenha conhecimento de todo o conteúdo. Não existe aquela história de tirar nota 5 e passar. O que você precisa saber, você vai saber, em algum momento, senão não vai para frente”, justifica o diretor da Uniamérica. Ao longo do trabalho nos projetos, são feitas as demais avaliações. Resistência O MEC, que seria, para o diretor, um provável problema, foi a parte mais fácil. O maior obstáculo na aplicação do novo modelo foram os professores. “Eles têm muita dificuldade de se adaptar a algo diferente do formato em que eles sempre foram ensinados”,

MBA em Gestão de Aprendizagem foi criado para capacitar os professores

demais (35 pediram demissão e 25 foram alega Braga. Para vencer esse impasse, foi feita uma intensa capacitação, dentro do pró- demitidos por inadaptação ao modelo) foram substituídos. prio modelo. “A ideia era replicar com eles o O s alunos também não compraram a ideia que a gente queria que eles fizessem com os alunos em sala.” Essa formação foi transfor- tão logo. No primeiro ano, o percentual de evasão foi o triplo da média do mercado. mada numa pós-graduação latu sensu, com “Muitos alunos têm dificul450 horas, intitulada dade de se adaptar porque MBA em Gestão de Instituição não acham que é possível se Aprendizagem. Hoje, sem estudar. Há inspara ser professor da tem disciplinas formar tituições que permitem isso. Uniamérica, o pronem aulas Ele assiste às aulas, decora fessor tem que passar o caderno, faz a prova e por esse MBA. “Foi o expositivas, passa. Aqui isso não é posúnico jeito que enconsível. Ou ele estuda ou ele tramos de fazer dar alunos não passa, e muita gente se certo.” Ainda assim, trabalham por ressentiu dessa necessidade dos 140 professores de estudar semanalmente”, da antiga faculdade, projetos diz Braga. apenas 80 ficaram. Os

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O perfil dos alunos da instituição é classe C e D, e 92% dos estudantes trabalham durante o dia e estudam à noite. A universidade ajuda-os a se organizar. “No primeiro semestre, trabalhamos técnicas de estudo, que ensinam esses alunos a estudar, depois a interpretar o que estão lendo, e então a fazer um calendário de estudos, para que consigam tirar de 30 a 40 minutos por dia, ao longo da semana, e 3 horas no sábado e domingo. Parece pouco, mas para quem trabalha é um desafio muito grande.” Além da prova antes da aula, que foi uma “sacada genial”, segundo o diretor da Uniamérica, outra inversão metodológica promissora é começar o conteúdo pela prática e depois chegar à teoria. “Todos fazem o contrário. Nosso modelo exige que você tenha um problema real e só a partir dos elementos que esse problema gera, buscar a teoria. O resultado é incrível.”

Instituição ensina técnicas de estudo aos ingressantes para que se adaptem bem ao sistema de ensino

Como não existe sistema de disciplina, ou semestre, o valor pago mensalmente, que os alunos chamam de mensalidade, são, para Braga, as parcelas do curso. “São 48 meses, 48 parcelas do curso. Não é possível fazer mais ou menos do curso.”

Semestre, o quê? “A gente já desconstruiu a disciplina e estamos trabalhando para desconstruir também Resultados a semestralidade”, afirma o diretor. Dessa Apesar de o Enade dessas novas turmas forma, o aluno se matricula em grandes ocorrer só no final de 2019, quando Braga temas, os temas dos projetos. Não existe acredita poder comprovar a eficiência do subdivisão. O aluno terá que cumprir os oito modelo, já é possível ver a diferença dos projetos ao longo dos quatro anos de curso. alunos que estão no novo modelo para “Como não há aulas expositivas, mas atividaaqueles que estão terdes de orientação em sala, minando a faculdade no eu arbitro a forma de agruMuitos alunos modelo tradicional. “É par esses alunos”, alega Braga. O ideal, segundo têm dificuldade perceptível o (melhor) desempenho, a performance ele, é que não se ultrapasde se adaptar e o desenvolvimento do sem 40 alunos por sala – hoje a instituição trabalha porque acham aluno. A mudança no nível de leitura, na comcom 35, para aumentar o que é possível preensão.” O ponto forte rendimento do aprendido modelo para o aluno é zado. Se num curso, ao se formar sem o projeto, acredita Braga, longo do ano, há 80 alunos, que faz com que ele saia abrem-se duas salas, se estudar. Há curso com uma experitem 120, abrem-se três. instituições que do ência prática profissional “Mesmo um curso com 20 alunos é viável, porque os permitem isso”, muito maior do que em outras instituições de próximos 20 (que seriam Ryon Braga ensino superior. “Ele tem de outro semestre, origique se relacionar com nalmente) vão ficar junto pessoas, resolver problemas de todas as deles.” Alguns dos projetos são integradores, ordens, então esse aluno desenvolve comreúnem alunos de cinco cursos diferentes, petências, habilidades socioemocionais, mas nas atividades específicas de sala os de relacionamento, de solução de conflitos, cursos não se misturam.

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ele busca novos conhecimentos para muito além daquilo que o professor traz para ele em sala.” Isso tem atraído os alunos que entendem que esse modelo é mais motivador e pertinente do que o da aula expositiva. “Temos uma quantidade de transferências incrível, inclusive de outros estados do Brasil. Esse movimento está compensando a evasão, tanto do primeiro ano quanto a dos desavisados, que entraram no curso sem conhecer a proposta”, afirma Braga. Atualmente com alunos de 13 países, a meta da universidade é chegar a 50 países, tornar-se internacional e ser uma pequena instituição vitrine, “para que as pessoas possam utilizar a nossa experiência para inovar e enriquecer a qualidade de ensino das suas instituições.” Pelo menos 100 universidades visitam a Uniamérica por ano desde que o novo modelo foi colocado em prática, e o objetivo da universidade, que é uma associação comunitária, é justamente ajudar outras instituições a fazerem inovações no setor de educação. “Conhecemos mais de 150 instituições no Brasil que aplicam uma ou outra coisa, em um ou outro curso ou disciplina. Até onde sabemos, somos a única que faz isso de forma institucional. Esse é o modelo da instituição. Radicalizamos. Inovamos em tudo.” E ajudar significa testar para ver o que dá certo e depurar o que dá errado, poupando outras instituições de passar pelos mesmos erros, para que inovem com mais eficiência.


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TENDÊNCIAS

Tecnologia na comunicação com as famílias

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Por Manoela A ndrade

s bilhetes na agenda e a entrega do boletim com data marcada fora do horário escolar, situações bem comuns nas escolas, estão dividindo espaço com as ferramentas digitais. Cada vez mais as instituições de ensino apostam no desenvolvimento de aplicativos e formas de comunicação instantâneas com as famílias para otimizar tempo e melhorar o acompanhamento da rotina dos filhos. Em 2014, a Rede Marista lançou o aplicativo Marista Virtual, cujo objetivo é o de facilitar o acompanhamento das famílias da vida escolar dos filhos. A ferramenta, que pode ser baixada nos sistemas Android e iOS, permite rematrícula online, acesso à agenda escolar, consulta financeira, boletim – do 6º ano do Ensino Fundamental ao Ensino Médio –, pareceres descritivos, circulares direcionadas e publicação de notícias. Nas escolas da Rede que possuem catraca de acesso, os pais recebem notificações no celular via aplicativo com o horário de entrada e saída dos filhos. No Colégio Marista Champagnat, por exemplo, são quase 24 mil acessos por ano ao aplicativo e uma média diária de cem consultas, principalmente na leitura das circulares enviadas pela instituição e nas informações sobre o cotidiano das turmas. No Monteiro Lobato, as famílias têm à disposição diferentes formas de comunicação no formato virtual, como envio de e-mail, postagem de informações no Portal do Aluno e envio de avisos via Whatsapp. Diariamente e de forma automática, os pais recebem comunicados sobre faltas e atrasos dos estudantes. Já o Portal do Aluno permite o acesso a notas, presenças, agenda, conteúdos de aula e central de downloads. A diretora de projetos da instituição, Flávia Eizerik, salienta que, embora tenha

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Rede Marista utiliza aplicativo para facilitar o acompanhamento da vida escolar dos filhos

uma comunicação digital bastante consolidada, a escola também utiliza o contato presencial, tanto para o aluno quanto para os seus responsáveis. “Pretendemos cada vez mais aumentar a nossa presença digital. Quanto mais informações passarmos, mais próximo o aluno e a família ficam da escola”, analisa. O Colégio Nossa Senhora

de Lourdes também utiliza um portal para informar os pais sobre frequência, datas e notas das avaliações, ocorrências disciplinares, bem como planos de aula. Formas de comunicação virtual mais ousadas estão sendo desenvolvidas em escolas pelo país. É o caso da Escola Meu Castelinho, de São Paulo. Ao perceber as


de Oliveira. Ela ressalta que os encontros dificuldades em atender às disponibilidades individuais com as famílias seguem sendo de horários das famílias, a instituição represenciais, pois fortalecem os vínculos de solveu inovar nas reuniões de pais para as confiança e parceria. crianças do Berçário e da Educação Infantil: implementou a videoconferência. Desde Cuidados 2016, em todos os encontros em grupo que A advogada, assessora de instituições de abordam assuntos pedagógicos ou relacionaensino e professora Cláudia Bressler destados a outras pautas, como a Associação de ca que as ferramentas digitais são uma boa Pais e Mestres (APM), são disponibilizados forma de comunicação ambientes virtuais de pare que já há consenso ticipação. “Acreditamos A escola tem o da utilidade do seu uso que a parceria entre pais entre a escola e a famíe escola é fundamental ‘poder-dever’ lia. Ela chama a atenção, para o desenvolvimento de fazer uso contudo, para que esses das crianças e, por isso, canais sejam utilizados sempre procuramos criar refletido e para comunicações oportunidades para as gerais, não se estendenfamílias participarem de consciente das do para as reuniões com encontros que envolvem ferramentas as famílias. “Existe na diversas questões educaatualidade um perigocionais”, comenta a oriendigitais”, so distanciamento no tadora educacional da insCláudia Bressler trato de questões, e os tituição, Andrea Caram

meios virtuais podem significar a adoção de estratégia que não contribui para o efetivo encaminhamento das dificuldades. Existem demandas em que somente a presença pode permitir encaminhamentos adultos e maduros. As soluções tecnológicas não podem colocar em segundo plano a humanidade do diálogo presencial, em que existem componentes emocionais que podem ser identificados e encaminhados”, ressalta. Além disso, existem alguns cuidados que as escolas devem ter ao implantar comunicações online com os pais. “Todo o registro digital pode ser utilizado em situações futuras, sejam textos escritos, sejam fotografias, sejam vídeos, sejam outras mídias. Também deve estar presente a lembrança de que qualquer informação que estiver lançada na rede mundial de computadores não pode mais ser retirada. A mídia nem sempre reproduz o contexto, a intenção, de modo que a escola tem o ‘poder-dever’ de fazer uso refletido e consciente das ferramentas digitais.”

Educação 15


OPINIÃO

10 lições sobre gestão de riscos e crises Não restam dúvidas de que, ao longo do dinâmicas redes tiraram de pessoas e de tempo, pensar a comunicação de escolas organizações o direito ao esquecimento. e universidades se tornou sinônimo de se Se o episódio mais recente não afetou suas ocupar com trabalhos prazerosos, como matrículas nem fez sua escola/universidade produzir lindos espaços na internet, pensar perder alunos, pode ter certeza de que chaem narrativas convincentes para captação muscou sua reputação. E reputação é um de alunos, preparar informativos, apresen- ativo construído de forma lenta e trabalhosa. tações e vídeos ilustrados com imagens que Ao longo do tempo, a sociedade vai acumuemocionam. Aos gestores que demandam lando más recordações de sua marca, vai essas iniciativas e aos profissionais de armazenando desconfianças e colocando comunicação que ocupam todo o tempo de- em xeque suas práticas. Então, o que fazer senvolvendo esses trabalhos, temos uma má para evitar o passivo dos eventos críticos e notícia. A efetividade dos canais de comu- das crises que vão deteriorando a reputação nicação está cada dia menor, especialmente construída ao longo dos anos de trabalho quando dissociados da realidade desses sério e honesto? Entre as iniciativas, estão tempos de incertezas, cercado de riscos e 10 pontos que não podem ser ignorados: de crises que podem destruir em segundos 1. Compreender que a reputação se consa reputação criada com trói a cada dia, não mais apoio das bonitas peças pelas campanhas persuÉ hora de de comunicação. asivas nas quais a marca direcionar É hora de gestores e fala bem dela mesma, mas equipes de comunicação pelas atitudes de gestores, esforços para direcionarem seus escolaboradores e parceiros. os riscos forços para os riscos que 2. Buscar, obsessivapodem comprometer a remente, a coerência entre que podem putacão das organizações. propósitos e atitudes. São incontáveis os eventos comprometer a 3. Perceber que a comucríticos vividos na área nicação mudou. No lugar reputacão das de educação nos últimos da emissão/divulgação de anos. Desde vazamento de organizações” mensagens está o diálogo, dados cadastrais e regisa construção colaborativa tros de anotações de equie a intensificação dos relapes pedagógicas até casos de violência com cionamentos nos momentos bons e nos maus. vítimas fatais, passando por descuidos com 4. E atenção!! Não esperar a tempestade causas sociais e de minorias. São episódios chegar, ou seja, não dá para gerenciar os que abalam o cotidiano da aprendizagem e eventos críticos quando eles acontecem. afetam a relação de confiança de famílias, A organização educacional deve ter um estudantes e até mesmo da comunidade. rigoroso mapeamento dos riscos que Em tempos marcados pela intolerância podem afetar sua reputação. diante das contradições, o maior pecado 5. Depois de mapear, gerenciar os riscos da escola e da instituição de ensino su- para evitar que eles virem realidade, moniperior é não aprender com os episódios torar e educar seus públicos para que conhevividos. Já não é mais tempo de esperar çam os riscos e não sejam vítimas do efeito o evento desfavorável passar e cair no dos problemas que podem vir a acontecer. esquecimento. Hoje, a internet e suas 6. Preparar, com antecedência, as suas

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mensagens-chave para os momentos críticos. Quando a crise chegar, você não terá o discernimento necessário para produzir um bom conteúdo de esclarecimento ou perderá tempo com as milhares de aprovações necessárias e se manifestará no timing atrasado. 7. Preparar porta-vozes para dar explicações para a comunidade educativa, para a imprensa e para a sociedade. Eles devem ter perfil comunicacional adequado, mas também devem ter sido capacitados previamente. 8. Ter uma política clara sobre o pedido de desculpas. Quando e como ele deve ser feito e para quem. 9. Preparar a política e o processo de gerenciamento de riscos e crises com antecedência é minimizar os prejuízos da crise sobre as pessoas e sobre a organização. 10. E, mais importante, não pensar que nada de ruim acontecerá com a sua organização educacional. Todas as empresas, por mais corretas e adequadas que sejam, viveram suas crises. E ao vivê-las, não espere passar sem fazer nada ou não imagine que o episódio será esquecido. Estar atento aos 10 pontos listados afasta o perigo das crises? Certamente, não. Os riscos continuarão existindo. Entretanto, você estará preparado para gerenciá-los, minimizá-los e, no mínimo, para não agravar a crise com atitudes equivocadas que amplificam seus efeitos. Rosângela Florczak

Professora universitária e consultora. E-mail: roflorczak@gmail.com





GESTÃO

Colégio Murialdo investiu na mediação para reduzir os altos índices de inadimplência

Inadimplência, a vilã da saúde financeira das escolas

O

Por Vív ian Gamba maior desafio administrativo financeiro enfrentado pelos diretores das escolas brasileiras é a inadimplência. Está no topo da lista de 26% dos gestores, conforme o estudo ‘O cenário da gestão escolar no Brasil’, realizado em 2015 pela Comunidade Internacional de Cooperação na Educação Mind Group. Segundo pesquisa realizada pelo SINEPE/RS, em 2016, a inadimplência média do setor foi de 7,4%. O índice desejável de inadimplência é zero, é claro, mas o especialista em gestão financeira Luiz Otávio Silva afirma que o percentual de 3% a 5% é aceitável, sempre levando-se em conta uma boa política de adesão aos serviços da

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instituição. “Precisa-se ter uma política clara na hora de fazer a matrícula para não gerar a inadimplência”, alerta o especialista. De acordo com o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Jefferson Colombo, a inadimplência geral é um pouco maior no Rio Grande do Sul em comparação com dados nacionais. Em 2016, houve uma pequena redução, de 4,5% para 3,9%, um patamar ainda relativamente alto. Mas as perspectivas para o futuro são otimistas. “Viemos de um período recessivo, mas houve uma melhora razoável da atividade econômica, com dois semestres seguidos de alta no PIB. No Rio Grande do Sul, com mais intensidade, no setor agropecuário e no de serviços também.

Então, parece que essa tendência de arrefecimento da taxa de inadimplência tende a se manter e a se intensificar.” E o que fazer quando esse índice chega a 30%? Esse era o tamanho do “desafio” do Colégio Murialdo, de Porto Alegre. O diretor da instituição e presidente da Rede Murialdo, padre Joacir Della Giustina, afirma que no final do mês esse percentual chegava a aumentar. A solução encontrada pelo Colégio Murialdo foi a mediação, uma abordagem diferenciada em relação a uma empresa de cobrança ou um escritório de advocacia. “Como método de resolução de inadimplência escolar, a mediação atinge uma dimensão mais extensa e profunda do que o mero acordo de quitação de dívida.


Ela tem efeitos pedagógicos e otimiza o vínculo de confiança, além de ter um custo emocional, financeiro e temporal reduzido”, afirmam as mediadoras de conflito da Mediar Fernanda Balen Susin e Marta Bettanzo da Costa. A assessoria externa se mostrou mais eficiente que as comunicações e os contatos telefônicos realizados pela instituição de ensino até então. Em menos de dois meses, 60% dos inadimplentes já tinham negociado com a escola para saldar pelo menos em parte a sua dívida. Para o diretor do Colégio Murialdo, a maior satisfação é o agradecimento dos pais pela forma como foram abordados. “O grau de satisfação a respeito de como o processo é conduzido é um ponto muito positivo. Pesquisa feita com os pais entre junho e setembro deste ano mostra que 87,5% deles consideraram a abordagem muito apropriada e 91,67% afirmaram que houve acordo em todas as questões propostas”, destaca o diretor. “Personalizamos e customizamos o atendimento, pois cada caso envolve necessidades distintas; afinal, estamos lidando com seres humanos. É um trabalho diferenciado, no qual a matéria-prima principal é o diálogo”, falam Anuncio-Bis-Sinep-21x13.pdf

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que tiver diferença entre as mediadoras. No caso faturamento e recebimento. do segmento de ensino, o Precisamos cobrar tudo o trabalho também resgata que faturamos, com pacio reconhecimento da imência, atenção e foco.” portância do investimento, Uma alternativa para que faz parte da construminimizar o impacto ção do futuro dos filhos. desse problema na saúde Silva orienta as escofinanceira da escola e las a trabalhar em duas compensar a inadimplênfrentes: a preventiva e a cia é buscar outras fontes reativa. “O primeiro são de receita, orienta Silva, as aplicações das políticom a ponderação de que cas da instituição no moessas devem ser sempre mento da matrícula e da aderentes ao compromisso rematrícula, o segundo é institucional da escola. “As tratar o problema. Neste unidades de EAD são uma caso, é preciso uma boa fonte de receita que podem assessoria de cobrança, Luiz Otávio Silva compensar algum tipo de interna ou externa, e perda. Hoje, as escolas muita negociação.” A meestão recebendo até 40% dição do faturamento e do do faturamento dos cursos e podem vir a ser recebimento nas datas de vencimento deve ser polos de EAD para instituições de Ensino constante e, se a diferença for superior a 5%, Superior.” Além disso, tentar diminuir despea escola já está em alerta vermelho, explica sas via inovações e reavaliação de contratos. o especialista. “O gatilho é acionado sempre

O gatilho é acionado sempre que tiver diferença entre faturamento e recebimento. Precisamos cobrar com paciência, atenção e foco”,

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C A PA

O impacto da tecnologia no cérebro

A

Por Vív ian Gamba

conexão dos jovens às novas tecnologias é um caminho sem volta. Smartphones, tablets e games são o básico da vida online da nova geração. Será que isso influencia, de fato, o modo como eles aprendem? E a escola precisa mudar radicalmente o seu script se quiser ser efetiva no aprendizado dessas crianças e jovens? Um artigo publicado em junho deste ano na revista ‘Teaching and Teacher Education’ intitulado ‘Os mitos do nativo digital e do multitasker’ fala, a partir de uma série de trabalhos científicos sobre o tema, que o nativo digital é um mito. Eles nascem, sim, numa nova realidade, podem desenvolver novas habilidades, mas não há evidências científicas de que a forma como eles pensam ou aprendem mudou. Conforme a pesquisadora do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul Cristiane Furini, estudos indicam que os jogos de videogames podem contribuir para a melhora de funções como raciocínio, criatividade, melhora da coordenação e tempo de reação, atenção visuoespacial e atenção dividida. “Em crianças com dificuldades de aprendizagem, a utilização de videogames parece colaborar na melhora de suas habilidades espaciais, matemáticas, de resolução de problemas e de motivação”, afirma. Entretanto, alguns aspectos do desenvolvimento cognitivo e emocional, tais como processos ligados à imaginação, vocabulário, pensamento crítico e resolução de problemas, podem ser diminuídos, além de se observarem diversos sintomas, como obesidade, dores de coluna e prejuízo no desempenho escolar.

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Estudos indicam que a atenção pode ser afetada com as novas tecnologias


“É importante a gente pensar que essa é uma questão complexa. Podemos identificar aspectos positivos e negativos do uso da tecnologia”, pondera o doutor em neurociências, neurocientista e professor da Universidade Federal do Paraná Fernando Louzada. “Por um lado, sabemos que pode ser importante para desenvolver algumas habilidades, como raciocínio lógico espacial, percepção visual relacionada a formas e movimento, e às vezes pode ser usada para auxiliar no desenvolvimento da criança. Por outro, existem consequências, principalmente relativas ao uso precoce e excessivo.” Entre as principais razões para não defender o uso precoce, pelo menos até os 2 anos de idade, é que o cérebro se desenvolve por meio da interação social. “Crianças e adultos aprendem melhor interagindo com outras pessoas, e o uso dessas tecnologias está associado a uma redução dessa interação social. Isso é mais preocupante do que a dependência, por exemplo.” Para Cristiane, as redes sociais complementam a interação social cara a cara em vez de substituí-la, possibilitando às pessoas expandir seus horizontes sociais, aprofundar suas conexões com o mundo e tornar as relações próximas ainda mais próximas. “Até mesmo os jogos de videogame podem contribuir para a interação social, quando se trata de grupos com um mesmo interesse em discutir sobre jogos ou estratégias relacionadas aos jogos. Entretanto, quando a tecnologia se torna a única forma de diálogo entre amigos e famílias, podemos, sim, ter prejuízos na vida escolar, social e familiar, pois nada substitui a habilidade para falar ou se comunicar frente a frente, olho no olho.” Tecnologia e memória Com o maior acesso à tecnologia e à internet, um dos aspectos que se modificaram nos últimos anos foi a importância dada a determinada informação. O acesso à informação é maior e mais rápido, e as pessoas sabem mais sobre onde a informação se encontra e como buscá-la do que a informação em

Videogame contribui para o raciocínio, mas diminui a capacidade de resolver problemas

si. “Podemos fazer uma busca rápida por qualquer tema de nosso interesse, o nome de um cantor, o endereço de um lugar que gostamos de frequentar; não precisamos armazenar essas informações, pois sabemos que elas estão a um clique de nós. Assim, o bom uso das tecnologias, só tende a favorecer o acesso ao conhecimento e a materiais de leitura”, defende Cristiane. O que os estudos indicam que pode ser afetado com as tecnologias, segundo a pesquisadora, é a atenção. Alguns exemplos são a dificuldade cada vez maior de se concentrar em uma única fonte, como um livro ou um artigo, a diminuição da capacidade de atenção em uma tarefa específica quando se está com o celular, as notificações dos smartphones que podem tirar o foco da tarefa que se está executando ou causar preocupação e, assim, prejudicar o desempenho na execução. “Nesse sentido, as tecnologias podem indiretamente afetar as memórias, pois a atenção é muito importante quando se está aprendendo algo. Se os estudantes realizarem a tarefa de casa simultaneamente a outras atividades, por exemplo, é bem provável que eles entendam e armazenem menos informações do que se eles estivessem com toda

a atenção voltada para a tarefa.” Louzada acredita que devemos usar a tecnologia a favor da memória. “Até alguns anos atrás, trabalhávamos com informações que não estavam disponíveis, então era preciso memorizar. Agora a gente tem que ‘liberar’ o nosso cérebro de lembrar tudo isso. Hoje é mais fácil ir ao Google. Devemos desonerar esse tipo de memória e usá-la para competências mais relevantes, que não tem como delegar a um computador. Isso que a educação tem que priorizar, e está mais no discurso que na prática”, afirma.

Quando a tecnologia se torna a única forma de diálogo, podemos, sim, ter prejuízos”, Cristiane Furini

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Comportamento Muitos professores relatam casos de alunos cada vez mais desatentos em sala de aula, que só querem fazer o que lhes dá prazer. Esse comportamento poderia, em parte, ser resultado do uso intensivo de novas tecnologias? Louzada diz que não é fácil estabelecer essa relação direta, já que houve muitas outras mudanças paralelas ao uso das novas tecnologias na sociedade. E tal conduta não se aplica apenas à sala de aula. “A interação, de forma geral, é muito mais fragmentada, recortada, e é inevitável que tenha efeito sobre a atenção, sobre o foco. Se antes era comum ficar duas horas diante de uma tela de TV ou lendo um livro, hoje não é isso que acontece.” E ele não fala apenas de crianças e jovens. A literatura científica ainda não estabelece consequências do uso das novas tecnologias na interação social. O que existe são preocupações, relacionadas ao que se entende sobre o funcionamento cerebral, frisa Louzada. Como o desenvolvimento de algumas habilidades relacionadas à interação social – o que se chama de teoria da mente, a capacidade da pessoa de se colocar no lugar do

pessoa que tem mais sucesso na vida, outro – depende do contato presencial possivelmente, é aquela que veio de faentre as pessoas, a partir do momento mílias em que esse tipo de contato foi esem que essa nova forma de se relacionar timulado.” Um exemplo dessa situação: reduz esse tipo de interação, pode haver uma criança chega em casa chorando e algum prejuízo. “Estamos iniciando o pai pergunta o que houve. Ela responestudos para avaliar isso. Fizemos pesde: “Joãozinho bateu quisas exaustivas. Por em mim”. Há duas posora, são preocupações A literatura sibilidades de resposta. bastante cabíveis, A dos pais mais acomas ainda não temos científica ainda lhedores: “Mas, filho, uma resposta. No não estabelece o que você fez para o entanto, quando esJoão agir dessa forma?”, tamos diante de um consequências uma forma espontânea fenômeno, uma transdo uso das novas de ensinar a criança a formação tão rápida, se colocar no lugar do não custa ter cautela”, tecnologias na outro. E há outro tipo de coloca o professor. Para o psicólogo interação social” família que fala para a criança voltar lá e bater Cristiano Nabuco, cono Joãozinho porque ordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do PRO- “filho meu não apanha”. A capacidade de entender a emoção alheia, não necesAMITI (Ambulatório de Transtornos do sariamente concordar com ela, reitera o Impulso) do Instituto de Psiquiatria da especialista, está na base das relações. Faculdade de Medicina na USP, o uso “Se olharmos um bufê infantil, hoje, intenso das novas tecnologias “impacta percebemos que boa parte das crianças de uma forma terrível” as habilidades não está interagindo com outras criansociais. “Sabemos que grande parte da ças, mas com os smartphones dos pais. aprendizagem se baseia na capacidade Numa festa, se uma criança pega o brido indivíduo de se colocar no lugar do gadeiro de outra, que responde com um outro. É a inteligência emocional. A tapa, é esse o treino que vai criando a musculatura para que ela tenha a capacidade de se colocar no lugar do outro. Então, quanto mais a criança ficar voltada para esses recursos tecnológicos, menos prática ela vai desenvolver. Ela tende, com o passar do tempo, a ficar mais afunilada, achatada nas questões de relacionamento humano.”

Dependência digital Acessar redes sociais ou jogar videogame repetidamente, assim como outras atividades repetitivas, liberam neurotransmissores ligados à sensação de satisfação. Pais e professores devem estar atentos a alguns sinais que indicam que essa satisfação já passou o limite da dependência. O primeiro deles, segundo Nabuco, é a incapacidade dos jovens de ter um controle “razoável” do uso – ele explica o uso do termo porque até os 21 anos não se tem o desenvolvimento pleno da capacidade do

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cérebro, o que significa que mesmo que os pais expliquem que é prejudicial, o jovem não é capaz de usar o freio comportamental. A tecnologia pode, sim, ser usada em determinados momentos do cotidiano, mas não pode ser prevalente. Em relação ao celular, alguns comportamentos que indicam dependência são mostrar incapacidade de desligar o telefone; verificar de forma obsessiva chamadas e mensagens; ficar preocupado com a duração da bateria; ficar incomodado quando vai a locais em que o aparelho não funciona; o indivíduo pensar que o celular está vibrando (o chamado toque fantasma); e nomofobia (medo de ficar sem telefone móvel). Um estudo realizado no Reino Unido mostra que as pessoas olham o telefone em média 1500 vezes por semana e que 4 em cada 10 usuários se sentem perdidos sem o celular. O Brasil é o país onde mais se navega em redes sociais e se trocam mensagens pelo WhatsApp no mundo, “o que sugere que as coisas vão muito mal”, lamenta Nabuco. Ainda não há consenso sobre o número de horas conectado que determine essa dependência. O psicólogo (UniCEUMA) e mestre em Psicologia pela UFMA Rodrigo Oliveira, que estuda a relação entre dependência tecnológica e performance acadêmica, fala que essa é uma das dificuldades dos estudos sobre o

A gente pode terceirizar a culpa para a tecnologia, mas os pais estão cansados, estressados e pouco disponíveis”, Luciana Tisser

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Tecnologia pode prejudicar a capacidade de interação social

tema. Há 15 anos, por exemplo, oito horas por semana conectado a qualquer mídia era considerado dependência. Hoje qualquer pessoa usa esse tempo em frente a alguma tela. Alguns dos indícios que Oliveira destaca como preocupantes são prejuízos na educação e no rendimento escolar; negação em participar de eventos sociais em detrimento de mais tempo conectado; e um que merece especial atenção: negar o que se faz online. Na escola, a sonolência, que pode indicar que a criança ou jovem ficaram conectados (com ou sem supervisão) até tarde da noite. Uma orientação que ele dá às escolas é que tenham uma aliança forte com os pais. “No momento em que a escola, o professor, tem um olhar apurado que sugere um risco (de dependência), é necessário colocar essa discussão em pauta com os alunos e procurar os pais. O inverso também vale: quando o pai observa um caminho indesejado, também alertar a escola.” Funções pedagógicas A interatividade com uma tela ativa regiões do cérebro mais ligadas ao raciocínio indutivo, como jogo dos sete erros, o que é verdadeiro ou falso. Esse

tipo de ativação mental é diferente daquelas ligadas com a memória de longo prazo, usadas quando se lê um livro e se ancoram informações a outras já “arquivadas” para que se tenha determinada compreensão do que se está lendo ou ouvindo. “O que tem se observado é que quanto mais o jovem passa a ter acesso a tecnologias, menos profundo e capaz de fazer associações mais produtivas ele se torna, comprometendo, então, a inteligibilidade das coisas. Com o raciocínio indutivo, ele pode ganhar agilidade mental, mas ela está correlacionada com maior capacidade de raciocinar? Não”, critica Nabuco. O especialista alerta que as escolas não devem incluir a tecnologia no seu cotidiano sem que se pense nela como um todo. Não usar apenas para a pesquisa do furacão Irma, por exemplo, mas para o debate – um grupo busca os aspectos físicos, outro o impacto econômico... A psicóloga especialista em neuropsicologia Luciana Tisser acredita que as novas tecnologias são uma oportunidade de dar mais espaço a uma educação mais ativa, atrativa, inclusive com a gamificação. “A educação parou no tempo e agora tem o desafio de propor uma nova forma de ensinar. Essa geração tecnológica já está


chegando às faculdades. Não é qualquer coisa que prende a atenção dela.” Os chamados nativos digitais não são mais habilidosos, apenas têm algumas habilidades que as gerações anteriores não tinham (como deixaram de ter habilidades natas dos seus antecessores), mais adequadas ao momento em que vivem, como usar o caixa eletrônico, fazer pesquisa na internet. “As novas tecnologias vieram para ficar, mas a escola e os professores ainda precisam aprender a usá-las. Se não podemos impedir os alunos de usá-las em aula (pelo menos na universidade), vamos trazê-las para a aula. Enquanto ficamos olhando para o que ‘não pode’, perdemos a oportunidade de usar e trabalhar com eles de forma mais construtiva e saudável”, defende Louzada. Essa geração digital é reflexo, também, de uma família cada vez mais conectada e com menos tempo para dar atenção aos filhos. Luciana falou disso quando

questionada a respeito do possível aumento de crianças e jovens em terapia. “Não percebo um aumento específico em função da tecnologia, e sim pela falta de pais presentes. A gente pode terceirizar a culpa para a tecnologia, mas os pais estão cansados, estressados e pouco disponíveis.Não estranho eles se relacionarem com o celular”. A chave, tanto em casa como na escola, é o equilíbrio. Como qualquer novo recurso, até que seu potencial e a demanda sejam averiguados a fundo, não é possível determinar exatamente seus benefícios ou malefícios. “Quando surgiu a TV, houve muitos questionamentos, de que seria uma influência ruim... Fomos descobrindo como lidar com aquilo e derrubando algumas teorias. Em relação às novas tecnologias, estamos no limbo agora. Existe, sim, um potencial muito grande de auxílio que elas podem oferecer, mas, como tudo o que é novo, existe um potencial nocivo,

e precisamos pensar sobre ele”, afirma Oliveira. O que não é possível, para o psicólogo, é ficar em polos. “Precisamos nos debruçar sobre esse fenômeno de um jeito muito crítico, para descobrir como utilizá-lo melhor. Isso vale para os pais e todos os profissionais engajados com a educação.” A pauta desta reportagem foi construída em reunião realizada na Regional Serra, no Colégio Murialdo Caxias, e contou com a participação dos seguintes educadores: Anagilda Zanella (Escola Santa Maria Goretti), Bernadete Chiesa, Pedro Paulo Junior e Simone de Oliveira (Faculdade Murialdo), Camila Costa e Rochele Censi (Escola Caminho do Saber), Daiane Brustolin e Sandra Tartarotti (Colégio Farroupilha Ângelo Antonello), Daiana de Morais (Colégio Murialdo Ana Rech), Ingrid Courtois (Colégio La Salle Caxias), Juliana Bohn (Colégio São José), Lisiane Braga, Maria Terezinha Marques, Marino Menegat e Terezinha Stefani (Colégio São João Batista), Marcia Lorandi, Marlei Trevisan, Poliana Carla Molon e Raimundo Pauletti (Colégio Murialdo Caxias) e Vanessa Lazzaron (Colégio La Salle Carmo).

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IN TERDISCIPLINAR

Pais precisam entender que o erro faz parte de um processo de construção de conhecimento

Família engajada representa até 70% do aprendizado do aluno

A

Por Vív ian Gamba

falta de tempo é comum à maioria das famílias hoje, e um dos desdobramentos de uma rotina corrida é a supervisão inadequada dos filhos em relação ao seu desenvolvimento educacional. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (IBGE) mostra que apenas 55,6% dos pais de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental têm o hábito de verificar seus deveres de casa. Na faixa etária entre 16 e 17 anos, esse percentual baixa para 44,6%. “Essa dinâmica de gestão do tempo passa por saber organizar as prioridades. Obviamente, os filhos encabeçam essa lista”, acredita a gerente pedagógica do Sistema Positivo, Cleia Farinhas. Seja muito, seja pouco, esse tempo dedicado às crianças deve ser de qualidade, com

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disposição para tal, orienta a especialista. As relações governamentais do Todos pela Educação, Carolina Fernandes, afirma que o mais importante é conseguir estabelecer uma rotina. “Não adianta perguntar como foi a escola uma vez por mês. A ideia é que sejam aproveitados os momentos em que a família se reúne (café da manhã, quando os pais chegam do trabalho...), mesmo que sejam cinco minutos.” Se não é possível fazer isso todos os dias, a ideia é compensar esse tempo no final de semana. O estudo ‘Atitudes pela Educação’, realizado pelo Instituto Paulo Montenegro e pelo IBOPE Inteligência, em parceria com o Todos pela Educação, mostra que conversar sobre a escola e valorizar a educação influenciam no desempenho escolar. Os resultados, ao longo da vida escolar e no futuro, são compensadores: “Quando você

tem uma família engajada, que demonstra que a educação é importante, isso chega a representar até 70% do aprendizado do aluno”, explica Carolina. Numa realidade contrária, o aluno pode ter dificuldade na aprendizagem porque não há continuidade, em casa, do que é dado na escola. E isso não significa ajudar a fazer o tema. Acompanhamento também é a proximidade afetiva e relacional do toque, da conversa, do olho no olho. “Quando você ouve seu filho, ele se sente apoiado e prestigiado, tem motivação para aprender e aproveitar todas as oportunidades que a escola oferece”, fala Cleia. A parceria com a escola é muito importante nesse processo: professores, orientadores e diretores abertos, que recebam essa família e a ajudem nessa orientação. A psicopedagoga e doutora em educação Cristina Pinto Gomes Mairesse alerta, no


entanto, que os pais não devem sufocar os filhos, com a ânsia de que esteja tudo perfeito. “Eles têm que deixar claro que o erro faz parte de um processo de construção de conhecimento. Muitos tiveram um modelo de escolarização no qual o erro era punido. Mas é preciso ensinar às crianças que não há respostas prontas.” Para ela, é preciso desenvolver a vontade de conhecer, de saber mais. “Uma criança que aprende por medo de uma nota baixa acaba não se arriscando no futuro.” Rotina de estudos Os melhores incentivos para a criação de uma rotina de estudo, para Cleia, são o exemplo dos adultos da família e do espaço físico adequado. “A criança habituada a conviver

num ambiente onde valorizam e priorizam momentos dedicados à concentração e de acesso à leitura e outros recursos informativos (vídeos, jornais), por exemplo, age por imitação, encontrando prazer nessas atividades.” O espaço físico não precisa ser exclusivamente dedicado ao estudo. “Isso depende da realidade de cada família. Nem sempre existe o cantinho da tarefa. O importante é a criança ter um espaço que, em determinado momento, ela possa se concentrar, fazer uma leitura sem a TV ligada, que ela consiga focar nessa atividade”, explica Carolina. Em relação à leitura, a dica é separar cinco minutos ao dia e ir gradativamente aumentando, até chegar a 30 minutos diários, para haver resultado efetivo. “Dessa forma, ela

aprende no dia a dia, e o conteúdo realmente fica, não dá aquele ‘branco’ comum quando a prática é parar um dia antes da prova para estudar toda a matéria”, diz a relações governamentais do Todos pela Educação. Cleia concorda: “É importante exercitar disciplina suficiente para não desenvolver o hábito nocivo de postergar ‘o que se deve fazer hoje’, coisa que vemos frequentemente atrapalhando a vida profissional e pessoal de muitos adultos”. Introduzir a criança desde cedo no aprendizado de um instrumento musical, por exemplo, desenvolve a postura e a disciplina adequadas, e também coopera para o desenvolvimento do pensamento lógico-matemático e para a ampliação da cultura, aspectos tão necessários para a educação integral dessa geração, sugere Cleia. E, por fim, lembrar sempre aquele aprendizado não formal, ao dar o exemplo nas pequenas ações do dia a dia. “Muito importante não desautorizar o professor ou desmerecer a educação, dizendo que não há problema em chegar atrasado à aula ou faltar por causa da chuva ou de um jogo de futebol”, aponta Cristina. Isso inclui ensinar a importância do respeito aos colegas, de acolher um amigo diferente, de ser coerente no discurso e na prática. “Não adianta dizer que sou solidário e estacionar em fila dupla”, comenta a psicóloga. ERRAMOS: A matéria “Adolescência, fase de complexidades e fragilidades” (edição 122) foi produzida por Manoela Andrade.

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PREMIADAS

Desde 2014, o programa de Gestão e Prevenção de Crises de Imagem instrumentaliza as equipes do Colégio Marista Rosário, de Porto Alegre, para atuarem em diferentes tipos de cenário. A iniciativa tem o objetivo de prevenir, reduzir e, se possível, eliminar os impactos causados por meio de uma série de etapas sistematizadas. O programa conquistou o 14º Prêmio Destaque em Comunicação, na categoria Comunicação Institucional. As medidas são tomadas a partir dos encontros de um comitê – formado por integrantes da Direção, da Coordenação, da Comunicação e do Serviço de Orientação Educacional – que se reúne regularmente para debater o tema. Foi criado ainda um sistema de prevenção que contempla o mapeamento de potenciais crises, comunicados padronizados para as diferentes situações e estudo de materiais. Dessa forma, a instituição aperfeiçoou seus processos para enfrentar turbulências, diminuindo os riscos que podem afetar sua reputação e o grau de confiabilidade de seus públicos. O colégio publicou um manual para orientar os educadores sobre as melhores maneiras de prevenir e contornar eventuais crises. O guia detalha conceitos e planos, além de esmiuçar as etapas de resolução de diferentes casos. Outro material similar, mas com conteúdo resumido, foi divulgado entre todos os colaboradores, a fim de esclarecer os principais tópicos e orientar sobre quem deve ser acionado durante eventuais incidentes. Para ir além da parte teórica, uma iniciativa importante foi a formação em media training, que capacitou 12 porta-vozes da escola em 2015 e foi realizado novamente em 2017, capacitando 20 educadores. Além de compreender melhor o trabalho dos veículos de

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Guilherme Severo

Programa orienta sobre gestão e prevenção de crise

Profissionais da escola receberam treinamento para atender à imprensa

comunicação, o grupo realizou atividades práticas como uma simulação de crise. Na avaliação pós-evento, 100% dos respondentes se consideraram mais bem preparados para atender aos veículos de comunicação. Nas formações de media training, algumas das ações previstas dentro do programa de gestão e prevenção de crises de imagem foram os exercícios práticos propostos com a finalidade de criar planos de contingência. Segundo a orientadora educacional Suzana Diemer, o programa de ‘Gestão e Prevenção de Crises de Imagem’ foi uma grande inovação para a escola. “O media training ampliou a visão sobre uma área que não é a nossa, tivemos de desenvolver habilidades que não utilizamos no trabalho do dia a dia. A experiência foi muito produtiva, pois nos preparou melhor para representarmos a instituição”, afirma. Dessa maneira, as ações de prevenção

desenvolvidas pelo Programa continuam tendo validade no Colégio, pois o cuidado com as decisões organizacionais tem um olhar para os possíveis impactos.

Receita de sucesso • Trabalhar de forma sistematizada e permanente para a prevenção de crises. • Criar um sistema de prevenção de crise. • Orientar os educadores por meio de um manual com as melhores práticas para contornar eventuais crises. • Qualificar os profissionais de diferentes áreas com formação em media training.


Projeto prepara jovens de baixa renda para o mercado O município de Sapiranga, que já foi grande polo calçadista, tem investido em outros segmentos, entre eles a área de informática, com diversas empresas surgindo na cidade e gerando empregos. Percebendo a necessidade de encontrar jovens preparados para o mercado de trabalho, a Escola Duque de Caxias, da Rede Sinodal, implantou um projeto para atender a essa demanda crescente na cidade. A iniciativa, em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e a Prefeitura Municipal de Sapiranga, oferece formação pessoal e profissional para os jovens. O projeto conquistou o 11º de Responsabilidade Social, na categoria Participação Comunitária. A iniciativa contempla estudantes das escolas públicas do município, em um processo de inclusão no ambiente escolar. São oferecidos cursos de Designer Gráfico & Cidadania para adolescentes encaminhados pelo Conselho Municipal, pelo Conselho Tutelar, pela Promotoria Pública e pelas escolas do município. São atendidos no projeto 25 estudantes de 14 a 17 anos, que recebem capacitação para o mercado de trabalho no ambiente de uma escola particular. O curso conta com 760 horas e é oferecido no turno inverso ao da escola, de segunda a sexta-feira. Esses alunos aprendem a usar as ferramentas da computação em laboratório equipado com 26 computadores, internet e professores habilitados, envolvendo 60% das aulas. No restante, aprendem sobre Cidadania, Direitos e Deveres, Empreendedorismo, Oratória, Orientação Profissional, Solidariedade, Voluntariado, Sustentabilidade e assistem a palestras com diferentes profissionais do mercado de trabalho. Participam do projeto adolescentes

Curso com 760 horas é oferecido no turno inverso ao da escola

comprovadamente carentes em seu contexto familiar, profissional e social e cuja oportunidade pode ser o divisor de águas em suas vidas. Com a iniciativa, eles desenvolvem habilidades e atitudes por meio do conhecimento, tornando-se protagonistas de sua própria história. São encaminhados ao mercado de trabalho confiantes e preparados para os desafios naturais de quem ingressa nesse mundo informatizado, exigente e competitivo. O Projeto Construir um Futuro Melhor está inserido no contexto de execução e planejamento estratégico da instituição desde 2009 e está na décima turma, com apoio de parcerias com o COMDICA, a Prefeitura Municipal, a FEEVALE, a FACCAT e profissionais voluntários. Em 2013 e 2015, contou com a parceria da SJDH, por meio de Editais FECA dos respectivos anos. Em 2016, com a

premiação do SINEPE/RS, a Escola teve a prova incontestável de que o trabalho tem transformado vidas e feito a diferença na comunidade.

Receita de sucesso • Identificar a falta de profissionais em determinada área e focar na qualificação. • Oferecer o projeto para estudantes de baixa renda, mostrando a preocupação social da instituição. • Parceria com órgãos do município para fortalecer o projeto. • Inserir o projeto no planejamento estratégico da escola.

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INSTITUCIONAL

SINEPE/RS cria grupo de estudos sobre inclusão Desde junho, o SINEPE/RS reúne representantes de instituições de ensino interessadas na troca de experiências sobre inclusão. O grupo foi formado durante o primeiro módulo do Curso de Educação Inclusiva na Educação Básica e é aberto a todas as instituições associadas ao Sindicato. As reuniões ocorrem na sede do SINEPE/RS, mensalmente. Dois temas são recorrentes nas discussões: Sala de Recursos e a atuação do professor no Atendimento Educacional Especializado (AEE). Para melhor organização, os participantes criaram um grupo no aplicativo WhatsApp, onde dão continuidade à troca de informações e constroem a pauta do encontro seguinte. “Queremos engajar mais as nossas escolas para participarem desse momento rico e importante para a troca de experiências”, destaca a assessora pedagógica e de legislação educacional do SINEPE/RS, Naime Pigatto. A assessora jurídica do SINEPE/RS, Josi Farias Jandrey, que também integra o grupo, reforça a importância da iniciativa:

Associados podem participar dos encontros que são mensais e gratuitos

“Os inúmeros questionamentos jurídicos que decorrem dos relatos sobre a implantação e desenvolvimento do AEE nas instituições são plenamente discutidos e analisados no grupo. Colocamos os parâmetros legais que orientam a matéria e construímos as possibilidades que muitas vezes o arcabouço normativo não aborda explicitamente”. Josi explica que a orientação da assessoria jurídica do SINEPE/RS

visa dar amparo ao grupo na interpretação do grande número de normas que regulam a inclusão, principalmente no sentido de possibilitar os conhecimentos para a aplicação prática desses mandamentos”. A data do próximo encontro, em novembro, ainda não foi definida. Mais informações pelo e-mail pedagogico@sinepe-rs. org.br ou pelo telefone (51) 3213-9090 com Naime Pigatto.

Escolas vão receber guia sobre inclusão O SINEPE/RS produziu um guia de orientação aos gestores no atendimento aos alunos com deficiência. Cada escola associada ao Sindicato receberá um exemplar gratuitamente, em outubro. O material foi construído pelo Comitê Pedagógico do Sindicato (composto por membros da diretoria e dos setores pedagógico e jurídico), e organizado pela assessora pedagógica Naime Pigatto e a assessora jurídica Josi Jandrey. Dividido em 16 tópicos, o guia aborda o Atendimento Educacional Especializado, partindo do conceito e dos princípios, passando pelo público-alvo até chegar na Sala de

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Recursos Multifuncionais. Também são tratados temas como a personalização do currículo da sala de aula regular e os estudos domiciliares. O conteúdo foi elaborado a partir dos principais questionamentos sobre o tema que chegaram aos setores pedagógico e jurídico do SINEPE/RS nos últimos meses. Segundo a assessora pedagógica e de legislação educacional do SINEPE/RS, Naime Pigatto, o material tem a finalidade de mostrar caminhos ao gestor que conduzirá a sua equipe na hora de desenvolver o Atendimento Educacional Especializado (AEE) na instituição.


DICA DE MESTRE

Spinner como ferramenta pedagógica em sala de aula Vanessa Magnani

Este ano se iniciou e eu ganhei um presente: uma turma de 1º ano com crianças amorosas. Sempre uma brincadeira diferente, um olhar sobre um ponto da sala de aula que ainda não conheciam, onde as cortinas muitas vezes viravam esconderijos. Crianças de 6 anos geralmente são assim, curiosas e, acima de tudo, criativas! E é exatamente isso que me encanta na educação: a capacidade das crianças de verem o mundo com olhos de magia e encantamento. Certo dia, surgiu em minha sala um objeto que ainda não conhecia. Girava sobre si mesmo e chamou a atenção dos Em vez de proibir o uso do objeto, professora criou atividades pedagógicas com ele alunos. A curiosidade, que já era intrínseca aos alunos, me contagiou. As crianças, eufóricas, diziam “É o spinner! Meu irmão apoiar o spinner e girá-lo. Teve brincadeira dos alunos, tendem a não atrair a atenção de tem um”, ou ainda “Vou pedir para minha no “finger”, “shoulder”, “nose”... As risadas maneira significativa. E é isso que a escola mãe comprar um para mim também”. e a aprendizagem foram garantidas! deve ser: atrativa! Para que possamos conAos poucos, cada vez apareciam mais Vivemos num mundo em que tudo muda correr com toda a tecnologia e a informação “spinners” na sala. O objeto acabou tomando num piscar de olhos, com tecnologias que de fácil acesso que temos hoje em dia. Quem conta de todos os momentos livres. Apesar facilitam. Mas, infelizmente, temos uma não gostaria de ter o brinquedo favorito da alegria das crianças ao manusear o educação ainda embasada no século passado, como uma forma de alfabetizar? brinquedo, o uso começou a atrapalhar o na qual o professor determina o conteúdo e a Ao girar o spinner no centro da roda e andamento das aulas. A concentração nas forma de dar aula. Precisamos repensar isso. dizer uma letra, a turma toda se unia ao falar atividades propostas O aluno que ama o que aprende, que sente e palavras que iniciassem não era mais a mesma questiona não esquece jamais! Como forma com essa letra. Quem não O aluno que ama lembrava era sempre aju- de confirmação de como essa proposta foi e sempre havia um spinner em cima envolvente para todos, tive retornos muito dado por um amigo. Afinal, o que aprende, da mesa, distraindo positivos das famílias. Alunos de inclusão quanto mais palavras ditas quem estava por perto. começaram a trazer o spinner como mais enquanto o spinner girava, que sente e Isso me fez refletir uma forma de interagir com os amigos. Mães mais o grupo ganhava! Já questiona não sobre como solucioque disseram que as viagens de carro se torconseguimos que toda a nar esse “problema”. esquece jamais!” turma dissesse palavras com naram mais agradáveis, pois faziam a brinPensei, claro, em proicadeira de nomear objetos com determinada a letra sorteada em um único bir. Dizer que não era letra. Receber elogios das famílias e sorrisos tempo de giro do spinner. um objeto que acrescentava em sala de aula. orgulhosos são a garantia de que estou no caEnvolvemos outras áreas do conhecimenAinda bem que eu não o fiz, porque eu estava minho certo! E tudo isso só é possível numa to. Na Matemática, fazer pequenas somas muito errada! Foi então que resolvi trazer o escola que acredita na mudança e que sabe no tempo do objeto ou, ainda, colocando-o brinquedo como forma de aprendizagem. que a educação do futuro começa agora. sobre uma roleta com numerais de 0 a 10 Sempre acreditei que a educação deveria que deveriam ser adicionados ou subtraídos. ser diferente. Assuntos como meios de trans- A teacher de inglês também participou. Ao Daiane Câmara Machado Professora do Colégio São Judas Tadeu. porte, cores e profissões, quando não surgem dizer as partes do corpo, os alunos deveriam

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ESPECIAL INCLUSÃO

Toda criança com atraso na aquisição da linguagem tem que ser avaliada o quanto antes

Como identificar a deficiência intelectual Por Vív ian Gamba

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aracterísticas genéticas, problemas no parto e outras causas ainda não passíveis de diagnóstico – muitas vezes, o atraso é identificado, mas não o gene – respondem pela deficiência intelectual que atinge de 3% a 5% das crianças em idade escolar no Brasil. Os sintomas podem ser percebidos bem cedo, quando a criança demora para engatinhar, para andar ou há atraso na fala, alerta o neurologista infantil do Hospital Pequeno Príncipe (Curitiba) e doutor em neurociências Antonio Carlos de Farias. A escola pode ajudar a identificar alguns

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sinais e orientar os pais a buscar um especialista. “Geralmente, quando a criança começa e frequentar a creche ou escola, é possível perceber marcos do desenvolvimento atrasado em relação às outras crianças da mesma faixa etária. Toda criança com atraso na aquisição da linguagem, por exemplo, tem que ser avaliada o quanto antes.” Segundo o neurologista, em função desse descompasso de desenvolvimento, ela também pode ser mais infantil para a idade, ter problemas de comportamento, ser mais impulsiva ou ter dificuldades de ordem comportamental mais significativas, apresentar ansiedade ou agressividade.

O pediatra é quem, via de regra, faz a primeira avaliação e encaminha ao neurologista, que faz investigações genéticas, entre outras análises. O diagnóstico de deficiência intelectual tem que ser baseado em testes psicométricos, afirma Farias. O neurologista aponta que quase 10% das 1.500 crianças que os médicos do Instituto de Pesquisa Pelé – do qual ele faz parte – acompanharam nos últimos dois anos estavam já no 3º ou 4º ano do Ensino Fundamental sem saber da doença, muitas vezes confundida com dislexia. Para não haver erro: falar com os pais sobre a importância de procurar um médico.


portal do MEC. “O que falta são profissioComo incluir? nais que façam a diferença e que entendam Após a identificação das potencialidades e que lugar de criança é na escola, independas dificuldades das crianças com deficiêndentemente da necessidade.” cia intelectual, é possível elaborar um plano Para Farias, a inclusão deve ser feita de de ação com as intervenções possíveis em acordo com o potencial da criança e com o sala de aula e também na sala de recursos grau de comprometimento da doença; deve da escola, sempre respeitando o nível cogser proporcional ao nível da deficiência. “A nitivo da criança e fazendo as adaptações maior parte das crianças é possível incluir, necessárias, orienta a neuropsicopedagoga mas aquelas com deficiência mental proDaniela Alonso Vieira. “Na inclusão não funda não têm condições de podemos generalizar a frequentar o ensino regular”, mediação, porque as neCrianças alega. A criança deve ter cessidades são únicas. A capacidade de se beneficiar equipe interdisciplinar que possuem com o trabalho desenvolvido precisa constantemente deficiência em sala de aula, defende o avaliar o desempenho do aluno em relação intelectual têm neurologista. “Muitas necessitam de um trabalho indivia seu progresso ou a inteligência dualizado e, num ambiente mesmo reorganizar o com 30 alunos, algumas planejamento quando abaixo da não conseguem. A inclusão ele não atinge os objeé, muitas vezes, uma linguamédia”, tivos de aprendizagem. gem política. Não adianta ir Na sala de recursos, são Daniela Alonso para a escola e ficar olhando as crianças que apresenpara a parede”, argumenta. tam mais limitações e Farias afirma que toda criannecessitam de recursos ça com deficiência intelectual tem capacidafísicos diferenciados para mediar a aprende de aprender alguma coisa, mas isso requer dizagem e um profissional especialista na um nível de dedicação, paciência e métodos área de inclusão.” A especialista afirma que adequados de ensinar. “É preciso trabalhar há uma série de materiais para adaptação com orientação técnica. O neurologista ajuda escolar, tanto físico quanto pedagógico, e na orientação dos pais e da escola.” que muitos deles o governo disponibiliza no

Características específicas dos deficientes intelectuais Físicas

Pessoais

Falta de equilíbrio. Dificuldades de locomoção. Dificuldades de coordenação. Dificuldades de manipulação.

Ansiedade e falta de auto-controle. Tendência para evitar situações de fracasso. Possível existência de perturbações da personalidade. Fraco controle das emoções.

Sociais

Atraso evolutivo em situações de jogo Atraso evolutivo em situações de lazer

Fonte: Daniela Alonso/Espaço Conviver e Aprender

Deficiência intelectual x dificuldade de aprendizagem Muita atenção aos diagnósticos antecipados e equivocados em relação a crianças que têm dificuldade de aprendizagem. “Sobram diagnósticos e rótulos, mas crianças que possuem deficiência intelectual têm a inteligência abaixo da média se comparada a outras da mesma idade e ano escolar, que interfere diretamente no funcionamento das funções cognitivas e gera grandes dificuldades”, explica Daniela. Essas limitações dizem respeito à compreensão, generalização, falta de entendimento sobre comandos acadêmicos simples para aprendizagem e necessidade de um tempo muito maior para aprender. Já crianças com dificuldades de aprendizagem geralmente apresentam problemas mais pontuais, como a dislexia, a dificuldade de codificar e decodificar letras, sons e palavras, dando um exemplo bem simplista, conforme a psicopedagoga. Para diferenciar deficiência intelectual e dificuldade de aprendizagem, é preciso uma avaliação multidisciplinar: um pediatra para avaliar questões biológicas que podem interferir no ato de aprender; um oftalmologista para verificar as habilidades visuais e um otorrinolaringologista para avaliar a parte respiratória e também a audição, afirma Daniela. “Todos esses especialistas são de suma importância para descartar várias hipóteses que interferem na aprendizagem. Depois disso, o profissional que estiver acompanhando o caso – um psicólogo ou psicopedagogo – poderá fazer uma avaliação e verificar memória, linguagem, escrita, psicomotricidade, comunicação, aptidões sociais, autonomia, questões pedagógicas e aspectos emocionais e comportamentais.” O uso de recursos tecnológicos em detrimento dos recursos pedagógicos, como jogos – quebra-cabeça, memória, monta-monta, encaixes – brinquedos não eletrônicos e muitos outros que favorecem a aprendizagem e sinapses, é, na opinião de Daniela, uma das razões que têm contribuído para uma série de diagnósticos. “São recursos impróprios para a idade. As crianças não desenvolvem a coordenação motora global, tão importante para o início da alfabetização. Elas precisam correr, pular, brincar, ser crianças.”

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E NSI NO PR I VA DO

Israelita é destaque por inovação

Colégio foi selecionado por desenvolver projetos inovadores em sala

O Colégio Israelita, de Porto Alegre, está participando do programa Edumission, que selecionou 22 escolas inovadoras em todo o mundo, com o desafio de criar uma rede global de cooperação e troca de conhecimentos em educação. A proposta conta com um comitê internacional de avaliadores, composto por nomes como Ken Robinson, conselheiro internacional em educação e Sugata Mitra, cientista ganhador do Prêmio TED 2013. Durante o programa, o Israelita receberá delegações de outros países e visitará escolas participantes para compartilhar experiências. Conheça o programa completo no link: www.edumission.world/#Edumission

Colégio Ipiranga recebe homenagem da Assembleia Legislativa O Colégio Ipiranga, de Três Passos, foi homenageado na Assembleia Legislativa, pelos seus 85 anos, com a Medalha de Reconhecimento da 54ª Legislatura. O reconhecimento foi feito pela deputada estadual Zilá Breitenbach (PSDB). A parlamentar destacou que o Colégio, integrante da Rede Sinodal de Educação, é respeitado e reconhecido por sua qualidade no ensino. O evento contou com a presença de representantes da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, da Rede Sinodal de Educação, do Colégio Ipiranga, de representantes do governo do Estado, entre outras autoridades.

Instituição recebeu a Medalha de Reconhecimento

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Atividades auxiliam nas avaliações externas e no mercado

Projeto Horizontes prepara alunos para o futuro A partir do 9º ano, os alunos da Escola Salvador Jesus Cristo, de Alvorada, participam do Projeto Horizontes, criado para auxiliar na preparação para o Enem, o vestibular e o mercado de trabalho. As atividades são registradas e carimbadas em um passaporte, que acompanha os estudantes em todas as atividades: 12ª Feira de Oportunidades, teste vocacional, palestra ‘Sexualidade: saúde e segurança’. Um dos destaques do projeto foi a atividade Interdisciplinary Classroom, aula sobre os ‘Conflitos na Síria’, com a participação do grupo de teatro da escola encenando um ataque de armas químicas. Em agosto, houve a palestra ‘Mercado de Trabalho’ e uma conversa com Eduardo Tevah sobre ‘Como Preparar a Nova Geração para Vencer’.


INFORME COMERCIAL

Murialdo incentiva a leitura por meio das estátuas literárias A maior atração da Feira do Livro do Colégio Murialdo Caxias, de Caxias do Sul, neste ano, foi a apresentação das estátuas literárias. Alunos do 3º ano do Ensino Médio se caracterizaram como autores ou personagens de clássicos literários, como Monteiro Lobato, Ziraldo e Cecília Meireles e oportunizaram o conhecimento literário por meio da arte e da poesia. Eles apresentaram aos visitantes um breve histórico da vida dos autores, suas principais obras e falas marcantes de seus personagens.

Estátuas vivas de grandes autores foram novidade da Feira do Livro

Alunos inauguram cisterna no Pindorama Terra, mudas de plantas, instrumentos de jardinagem e dedicação. Esses foram os materiais de aula utilizados pelos alunos dos 2º e 4º anos do Ensino Fundamental Bilíngue da IENH – Unidade Pindorama, de Novo Hamburgo, no dia 29 de agosto. Com o objetivo de colocar em prática os estudos das turmas, foi proposta a construção colaborativa de uma horta escolar. O diretor-geral da IENH, Seno Leonhardt, esteve na Unidade e, com os seus conhecimentos de técnico agrícola, orientou os alunos na atividade. As turmas efetuaram o plantio de pequenas mudas e, concluído o plantio, a horta foi irrigada, com a utilização da água da chuva captada pela cisterna construída pelas próprias turmas. A missão dos alunos agora é cuidar da horta, cultivando os chás, os temperos e as hortaliças plantados.

Gerenciamento de Risco – Plano de Seguros Analisando a atividade escolar de forma mais minuciosa, percebemos a diversidade de riscos existentes dentro das instituições de ensino. Muitos desses riscos podem causar perdas financeiras de valores vultosos, assim como danos à imagem da instituição de ensino, os quais, muitas das vezes, geram prejuízos incalculáveis. Esse novo cenário econômico e social faz com que os gestores educacionais necessitem buscar uma gestão mais profissional de sua operação. Com um processo de mapeamento e gerenciamento desses riscos, poderão adotar todos os protocolos de segurança necessários para minimizar a possibilidade de perdas patrimoniais e danos a terceiros. Esse processo deve ser abordado de forma multidisciplinar, envolvendo o auxílio de diversos profissionais, tais como advogados, contadores, engenheiros e consultores/corretores de seguros. O consultor/corretor de seguros deve participar não somente do processo de mapeamento e gerenciamento de risco, mas, principalmente, do processo de elaboração do Plano de Seguros Ideal. Dessa forma, caso ocorra alguma falha nos protocolos de segurança, a instituição de ensino poderá contar com um grupo de apólices de seguros que a estarão resguardando de perdas patrimoniais e financeiras. O plano de seguros ideal para uma instituição de ensino é formado por quatro apólices de seguros, as quais possuem um custo total de contratação que gira em torno de apenas 0,60% do custo da mensalidade. Ou seja, um percentual que pode ser facilmente incorporado à planilha de custo das instituições de ensino, enquanto possíveis perdas patrimoniais e financeiras, decorrentes de sinistros, podem gerar um sério desequilíbrio financeiro, uma vez que não foram orçadas. Assim, não perca tempo e busque já uma orientação profissional a respeito do processo de gerenciamento de risco e formatação do plano de seguros ideal para a sua instituição de ensino. Rafael Rocha

Administrador e sócio-diretor da Rocha Corretora de Seguros e Consultoria.

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E NSI NO PR I VA DO

Pallotti mobiliza alunos na Semana da Pátria

Alunos fizeram caminhada e entregaram mensagens à comunidade

A Semana da Pátria, além das comemorações, traz muita reflexão. Com o propósito de mostrar o significado dessa data, os professores e os alunos do Instituto Vicente Pallotti, de Porto Alegre, fizeram uma caminhada pelas ruas próximas à escola, com cartazes, apitos e acessórios verdes e amarelos. Os estudantes produziram mensagens que foram entregues à comunidade do bairro Passo d’Areia, com o tema ‘O que posso fazer para melhorar o meu país?’. A escola acredita que é necessário levar ao conhecimento dos alunos a situação social e política do país e, ao mesmo tempo, a responsabilidade e a esperança, fazendo com que os alunos se sintam realmente filhos da Pátria Amada e corresponsáveis na construção de um país mais ético e justo.

Colégio São José comemora 145 anos O Colégio São José, de São Leopoldo, foi fundado no dia 5 de abril de 1872 e, neste ano, comemora 145 anos. Na data do aniversário, ocorreu uma celebração eucarística na capela, presidida pelo Frei Inácio Dellazari, reunindo grande número de alunos, familiares, ex-alunos, Irmãs e colaboradores. No mês de agosto, o professor Leandro Karnal, ex-aluno do Colégio, esteve na escola para uma palestra reunindo mais de 700 pessoas. Outras atividades ocorreram durante o ano para celebrar a data, como gincana comemorativa, almoço festivo, autógrafos de livros e recreios culturais. A escola também inaugurou novos laboratórios de Química, Física e Biologia com tecnologias interativas que favorecem as práticas inovadoras.

Pequenos autografaram a obra na noite de lançamento

Alunos do Rui Barbosa lançam livro Os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental do Colégio Sinodal Rui Barbosa, de Carazinho, orientados pelas professoras Rafaela Graeff e Solange Staffen, produziram o livro ‘Pequenos Escritores do RUI’. A obra reúne textos e desenhos de 58 alunos sobre histórias com príncipes e princesas e até contos de terror. O lançamento da publicação contou com sessão de autógrafos para familiares e amigos dos estudantes. O projeto contou com a parceria da editora Os Dez Melhores.

Celebração de aniversário lotou a capela da escola

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Alunos recebem sobreviventes do Holocausto

Palestrantes contaram as experiências vividas no campo concentração

O Colégio Marista Champagnat, de Porto Alegre, recebeu três sobreviventes da 2ª Guerra Mundial, que deram seus depoimentos sobre as experiências vividas em campos de concentração. O painel faz parte do projeto interdisciplinar ‘O Mundo dos Extremos: análise da intolerância na contemporaneidade’, realizado pelos estudantes do 3º ano do Ensino Médio, que envolve as disciplinas de História, Ensino Religioso, Filosofia, Geografia e Sociologia. Os alunos participaram de atividades para analisar aspectos históricos e questões sobre direitos humanos, discriminação, relação entre religião e política, bem como impasses e conflitos atuais entre nações.

Alunos do Medianeira espalham poesia pelas ruas de Cerro Largo Os estudantes da 2ª série do Ensino Médio do La Salle Medianeira, de Cerro Largo, levaram a poesia do poeta gaúcho Mario Quintana para além dos muros da escola. O projeto ‘Esqueça uma Poesia’ foi proposto pela professora Simone Rossetto na disciplina de Literatura e teve como objetivo espalhar cultura por diversos pontos da cidade e homenagear o poeta. As poesias foram colocadas em locais públicos e postes de rua. Junto com o poema, foi anexado um bilhete com a explicação do projeto, convidando a pessoa a levar o poema ou oportunizar a outra pessoa essa experiência.

Textos foram fixados em locais públicos e postes da cidade

Jornalista Juremir Machado da Silva palestrou para os alunos

Feira Literária e Cultural no La Salle Pão dos Pobres O La Salle Pão dos Pobres, de Porto Alegre, promoveu a segunda Feira Literária e Cultural. A abertura contou com apresentação de dança artística de um grupo de alunos, inspirada nos livros de Harry Potter. A autora Kiusam de Oliveira batizou a biblioteca com seu nome e conversou com os estudantes. Dentro da biblioteca, foi criado o Espaço de Política e Cidadania Juremir Machado da Silva. O jornalista esteve presente e proferiu uma palestra para os alunos, destacando a ‘Influência da Mídia na Política’. A Feira teve também apresentações teatrais, oficinas, presença de livreiros, contação de histórias, roda de conversa com diversos autores e parada da leitura.

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E NSI NO PR I VA DO

Estudantes do Rosário promovem práticas solidárias

Alunos do Santa Clara: travessuras do bem Para a turma do Nível II do Centro de Educação IDEAU – Colégio Santa Clara, de Getúlio Vargas, o cuidado com os outros e com o mundo está sempre presente nas rodas de conversa e envolve desde atitudes simples, como escutar alguém falar, até doar um brinquedo. A partir do trabalho de exploração da lenda do Saci Pererê, surgiu a ideia de realizar a atividade chamada de ‘Travessuras do Bem’. No final de semana, cada criança deveria praticar uma, juntamente com sua família, e registrá-la em uma folha, em forma de desenho, colagem, fotos ou frases, para depois compartilhá-la com os colegas. Segundo a professora da turma, Luana Carla Toazza, as ações foram muito significativas, encantando a todos.

Projeto da Bom Pastor incentiva a leitura A Escola Jesus Bom Pastor, de Caxias do Sul, realiza o Projeto de Leitura para os 5º anos do Ensino Fundamental. A iniciativa prevê leituras semanais em casa e, uma vez por semana, a socialização com os colegas sobre o livro lido, usando-se fichas de leitura, exposição oral, encenações, mesa redonda, entre outros. Também são feitas trocas de livros, com rodízio semanal entre os alunos em sala de aula. O projeto contou com o apoio das famílias, que contribuíram para a aquisição dos livros.

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Vanessa Cuenca/Divulgação

Alunos visitam a ONG Patas Dadas como tarefa da gincana

Desde 2007, o Grupo de Voluntariado do Colégio Marista Rosário, de Porto Alegre, é uma das iniciativas que proporcionam experiências aos alunos na realização de ações sociais. Atualmente, cerca de 60 integrantes se reúnem semanalmente para visitas nas instituições que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade social, além de encontros de formação e planejamento das atividades. Além do Grupo de Voluntariado, outras iniciativas são promovidas na escola, como o ‘GincaClube’, uma gincana promovida pelo Clube de Ciências do Colégio, em parceria com a Faculdade de Biociências da PUCRS, envolvendo estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental. Entre as atividades estão a visitação à ONG Patas Dadas e a produção de um material midiático para incentivar a adoção de animais.

Alunos foram inspirados a escrever mensagens de paz

Colégio Santa Inês promove ação pela paz Para marcar a passagem do Dia Internacional da Paz, o Colégio Santa Inês, de Porto Alegre, promoveu a campanha ‘Cartas pela Paz’. A iniciativa reuniu, de forma espontânea, mais de 1.200 cartas com atitudes e mensagens capazes de promover a cultura de paz. Na ‘Tenda da Paz’, que foi instalada próxima ao Auditório Madre Teresa, cartões-postais foram disponibilizados, para que a comunidade pudesse escrever sobre experiências e atitudes transformadoras capazes de inspirar outras pessoas a promoverem a paz. Os postais foram distribuídos no dia 21/09 à comunidade escolar, na PUC, nas sinaleiras nos arredores da escola, nas portarias e na Praça Parobé.


Sagrado é destaque nos XXI Jogos Clelianos

Alunos da instituição conquistaram o 1º lugar geral na competição

Os alunos do Colégio Sagrado Coração de Jesus, de Garibaldi, conquistaram o 1º lugar geral nos XXI Jogos Clelianos, realizados de 12 a 16 de julho, em Curitiba. O Colégio conquistou o 1º lugar no vôlei feminino, consagrando-se bicampeão na categoria, 1º lugar no vôlei de duplas feminino e masculino e 1º lugar no judô, categoria meio leve. No xadrez, o Colégio obteve o 3º e o 9º lugares e, no tênis de mesa, 4º, 5º e 6º. Os jogos têm por objetivo a integração entre os alunos do Sagrado – Rede de Educação, além do aperfeiçoamento do trabalho em equipe, da convivência solidária, do respeito mútuo e do fortalecimento do ser humano por meio do esporte.

Instituto Ivoti promove VI Congresso Sala de Aula e Sentidos Mais de duzentos professores, profissionais da área da educação e estudantes dos Cursos de Licenciatura estiveram reunidos no Instituto Ivoti, em Ivoti, nos dias 31 de agosto, 1 e 2 de setembro para o ‘Congresso Sala de Aula e Sentidos: O que aprender?’. Os temas que permearam as reflexões foram a Educação 3.0 e as metodologias ativas e interdisciplinaridade. O evento contou com a palestra ‘Sentir para dar sentido’, apresentada por Celso Gutfreind, além de oficinas em diferentes áreas e a apresentação das comunicações temáticas, espaço para acadêmicos e pesquisadores apresentarem seus trabalhos.

Gutfreind encerrou evento com a palestra ‘Sentir para dar sentido’

Crianças fazem o plantio de mudas

Contato com a natureza em Farroupilha O Colégio Nossa Senhora de Lourdes, de Farroupilha, conta com uma horta destinada a atividades da Educação Infantil e do 1º ano. No espaço, os alunos trabalham a preparação do solo e plantam vegetais como alface, rúcula e cenoura. O contato com a terra proporciona às crianças uma vivência rica da natureza, experiência que na atualidade está cada vez mais distante. Além disso, elas podem acompanhar todo o desenvolvimento das mudas até a colheita, fazendo observações e aplicando os cuidados necessários. Para que essa atividade tenha ainda mais significado, a ideia é que parte da colheita seja consumida pelas próprias crianças numa atividade de culinária.

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LEGISLAÇÃO

As mudanças com a reforma trabalhista Desde a tramitação do Projeto de Lei 6.787/2017 até a efetiva sanção da Lei 13.467/2017, em 13 de julho – Reforma Trabalhista, que tem por escopo a adequação dos contratos de trabalho com a realidade econômica que assola o país, muito se falou a respeito das principais mudanças; porém, as mais significativas não foram abordadas ainda. Confira os pontos que serão alterados e os impactos nos contratos de trabalho vigentes: 1. Trabalho em regime de tempo parcial A partir da Reforma, o trabalho em regime de tempo parcial será aquele exercido por até 30 horas semanais, sem a possibilidade de prestação de horas extras, ou, ainda, aquele cuja duração semanal não exceda a 26 horas, com a possibilidade de realização de até 6 horas extras semanais e compensação destas até a semana imediatamente posterior. Caso contrário, o empregador deverá efetuar o pagamento das horas suplementares. O empregado poderá solicitar o abono pecuniário, convertendo um terço de suas férias em pecúnia, sendo que o período de férias passa a ser regido pelo artigo 130 da CLT. 2. Teletrabalho O teletrabalho é aquele exercido fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e comunicação (computadores, tablets, celular, etc.) que não caracterizem trabalho externo. É necessário o ajuste desta modalidade por contrato individual escrito, com a devida descrição das atividades desempenhadas pelo empregado, sendo este excluído do controle de jornada. Será possível a transferência do

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empregado do regime presencial para o teletrabalho, por meio de acordo escrito entre as partes. O contrário também será permitido (teletrabalho para presencial), por determinação do empregador, com a concessão de um prazo de 15 dias de transição. 3. Trabalho intermitente O trabalho intermitente ocorre quando há alternância de períodos de prestação de serviços com inatividade, independentemente do tipo de atividade do empregado e do empregador. É permitida a estipulação desta modalidade de trabalho até para as atividades disciplinadas por legislação específica. Para sua validade, este contrato será firmado, necessariamente, por escrito, contendo o valor da hora do trabalho, que não pode ser inferior ao valor hora do salário mínimo ou aos valores devidos aos empregados que laborem na mesma função em contrato intermitente ou não. A convocação para o trabalho deverá ocorrer por qualquer meio eficaz, com antecedência mínima de 3 dias corridos, com 1 dia útil para resposta do empregado. Será devida multa à parte que descumprir, sem justo motivo, a oferta para comparecimento ao trabalho no valor de 50% da remuneração que seria devida, permitida a compensação. 4. Equiparação salarial e quadro de carreira A Equiparação Salarial será verificada quando o empregado exercer trabalho com mesma produtividade e perfeição técnica, entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço para o mesmo empregador não seja superior a quatro anos e a diferença de tempo na função não seja superior a dois anos. É possível a estipulação do quadro

de carreira, que obsta o direito à Equiparação Salarial, por meio de norma interna da empresa ou de negociação coletiva, dispensada a homologação ou registro. 5. Integração da gratificação de função A gratificação de função é devida, em regra, aos empregados que ocupam cargo de confiança, no percentual mínimo de 40%, e passa a incorporar o salário do empregado quando este permanece no cargo por 10 anos ou mais. A partir da Reforma, não há mais o limite temporal para incorporação no salário do empregado. Assim, o empregador poderá promover a reversão a qualquer tempo, sem que tal gratificação incorpore o salário do empregado. 6. Jornada de trabalho O banco de horas pode ser instituído por acordo individual, com compensação dentro do prazo de 6 meses, bem como será possível a negociação a respeito dos intervalos, com a assistência da entidade sindical. O tempo de deslocamento do empregado para o local de trabalho e seu respectivo retorno, qualquer que seja a forma de transporte, não será mais computado como tempo de trabalho efetivo, ou seja, deixam de existir as “horas in itinere”. Diego Muñoz Donosco

Assessor jurídico da Federação Nacional das Instituições Privadas de Ensino – Fenep.


MEMÓRIA

Gustavo Adolfo celebra 50 anos com inovação Localizado no bairro São Cristóvão, em Lajeado, o Colégio Sinodal Gustavo Adolfo é um departamento da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Lajeado, ligada à mantenedora ISAEC, que integra a Rede Sinodal de Educação. Sua história iniciou-se em 1960, quando foram adquiridos os terrenos para construção do Centro Social Gustavo Adolfo. A instituição foi inaugurada em 5 de novembro de 1967 e leva esse nome em homenagem ao rei da Suécia, que fundou a obra Gustavo Adolfo para beneficiar crianças necessitadas; daquele país veio o financiamento para a construção da unidade escolar. A instituição foi construída com o intuito de atender crianças de Educação Infantil da classe operária do bairro, que também recebiam atendimento médico e odontológico gratuitamente. O serviço era extensivo a crianças de escolas próximas, onde eram sediados cursos para jovens agricultores, visando à formação de líderes rurais. Com o crescimento do bairro nos anos 80 e a necessidade de uma escola de Educação Básica que atendesse à comunidade, foi

Escola atende 600 estudantes da Educação Infantil ao Ensino Médio

fundado o Colégio Sinodal Gustavo Adolfo. Nesses 50 anos de atuação e contribuição para o ensino da cidade, é referência em educação, atendendo atualmente 600 estudantes desde a Educação Infantil ao Ensino Médio. A preocupação com a tecnologia e um projeto pedagógico arrojado têm sido alvo de investimentos em estudos e pesquisas. São oferecidos espaços confortáveis e

Gustavo Adolfo é a primeira escola de ensino da região com ênfase em língua estrangeira

de alto desempenho para que os trabalhos pedagógicos possam ser desenvolvidos com excelência, além de qualificação a seus profissionais com formação continuada. No contraturno, são oferecidas atividades esportivas, culturais, línguas estrangeiras, atividades de reforço escolar e projeto de turno integral, para que o estudante possa buscar sua formação plena e global. A escola também oferece projetos sociais, viagens de estudo, mostras e eventos pedagógicos e culturais dentro e fora de seus espaços. Em comemoração aos 50 anos, a instituição entrega à sociedade mais um diferencial: torna-se a primeira escola de ensino do Vale do Taquari com ênfase em língua estrangeira. Oferece um currículo ampliado, com ênfase nas línguas inglesa e alemã, as quais passam a qualificar seus estudantes no final do Ensino Médio. Também é oferecido o espanhol. Hoje o colégio Sinodal Gustavo Adolfo é para a sua comunidade escolar uma instituição de ensino à frente do seu tempo, mostrando sempre que pode ser melhor e mais significativa em suas ações na educação para as gerações futuras.

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ARTIGO CIEN TÍFICO

Como transformar nossas escolas em instituições inovadoras? José Moran*

RESUMO Como a escola pode tornar-se relevante para ensinar e aprender em um mundo tão rápido e desafiador? O que podemos trazer do dinamismo das transformações digitais, econômicas e sociais para o redesenho dos espaços, dos currículos e das metodologias das nossas escolas? Cada escola tem sua história, peculiaridades, público, cultura e enfrenta uma série de dúvidas e desafios complexos, que exigem muita discussão, consenso e planejamento de ações viáveis no curto e no médio prazos. Algumas escolas reúnem condições para realizar uma transformação profunda mais rapidamente, enquanto muitas outras só conseguem planejar pequenos avanços pontuais.

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Palavras-chave: Escolas inovadoras, mudanças, metodologias ativas, projetos, personalização. Como a escola pode tornar-se relevante para ensinar e aprender em um mundo tão rápido e desafiador? O que podemos trazer do dinamismo das transformações digitais, econômicas e sociais para o redesenho dos espaços, dos currículos e das metodologias das nossas escolas? Há um forte embate entre escolas predominantemente conteudistas – que preparam bem para o Enem e o vestibular – e escolas predominantemente progressistas – com currículos por competências, metodologias ativas, projetos, personalização, mo-

delos híbridos. O questionamento para as escolas conteudistas é como preparar para ir bem nas provas e nos rankings oficiais e, também, desenvolver outras competências além das cognitivas. Para as progressistas, o questionamento principal é: a metodologia de competências e projetos valoriza suficientemente os conteúdos e prepara também os alunos para ir bem no Enem e entrar nas melhores universidades? Há uma concordância crescente de que a escola precisa evoluir, redesenhando os espaços (mais flexíveis e acolhedores), as metodologias e o currículo, motivando intimamente os alunos para que gostem de aprender, para que sejam protagonistas e capazes de enfrentar desafios cada vez mais


complexos em todas as dimensões da vida. Mudar a cultura de escolas convencionais não é simples. Escolas tendem a repetir modelos conhecidos, diante do risco de perda da identidade e do mercado já consolidado. É importante conhecer os modelos das escolas muito inovadoras, porque sinalizam uma tendência irreversível para as demais no médio prazo. Uma primeira aproximação pode ser feita analisando-se a série do Canal Futura sobre Escolas Inovadoras, com diferentes propostas para a Educação Básica . Só que cada escola tem sua história, suas peculiaridades, seu público, sua cultura e enfrenta uma série de dúvidas e desafios complexos, que exigem muita discussão, consenso e planejamento de ações viáveis no curto e no médio prazos. Algumas escolas reúnem as condições para uma transformação profunda mais rápida, enquanto muitas outras só conseguem planejar pequenos avanços pontuais. Ninguém consegue mudar uma instituição sem enfrentar obstáculos. Mudanças rápidas ou lentas precisam de apoio político para prosperar, de pessoas de visão e de ação. Por onde começar a mudança? O que faz sentido fazer? Penso que as escolas precisam trabalhar em dois planos: o de curto e o de médio prazos. Há mudanças que são facilmente implementáveis em um ou dois anos, enquanto há outras que precisam ser cuidadosamente preparadas para serem bem-sucedidas, evitando-se possíveis retrocessos e reviravoltas. O que fazer no curto prazo? O primeiro passo e o mais importante é o da mudança mental, da mudança cultural, da discussão ampla, do envolvimento de todos, mostrando que essas novas formas de aprender fazem mais sentido, que os alunos se engajam mais e obtêm melhores resultados. É preferível demorar um pouco mais para chegar a consensos possíveis a copiar um modelo que só faz sentido para um grupo pequeno dentro da instituição. O trabalho de sensibilização com exemplos concretos é fundamental, e po-

todas as etapas do processo, experimendemos começar conhecendo escolas que tando, desenhando, criando, com orientaestão mais avançadas e que fizeram um processo de reengenharia bem-sucedido. ção do professor. A aprendizagem híbrida O passo seguinte é engajar muitos prodestaca a flexibilidade, a mistura e o comfessores e gestores na promoção de mupartilhamento de espaços, tempos, atividadanças significativas nas suas práticas des, materiais, técnicas e tecnologias que pedagógicas, no relacionamento com os compõem esse processo ativo (HORN; alunos, nas metodologias utilizadas, na STAKER, 2015). avaliação, no diálogo constante com as As aprendizagens por experimentatecnologias digitais. ção, por design, a aprendizagem maker Um começo sobre o qual há maior são expressões atuais da aprendizagem consenso é focar, principalmente, em ativa, personalizada, compartilhada. A metodologias ativas, ensino híbrido e combinação de aprendizagem por desacompetências digitais. Envolver mais fios, problemas reais, jogos, com a aula os alunos, torná-los mais protagonistas, invertida, é muito importante para que os aprender experimentando, desenvolver alunos aprendam fazendo, aprendam junprojetos, aprendizagem em times, aula tos e aprendam, também, no seu próprio invertida, jogar de forma inteligente, ou ritmo (BENDER, 2014). Os jogos e as seja, há mil formas de mobilização dos aulas roteirizadas com a linguagem de joeducandos que fazem sentido, que dão gos – gameficação – cada vez mais estão resultados imediatos, presentes no cotidiano que mexem com as escolar e são importanMudar a cultura tes caminhos de aprenaulas convencionais. O investimento em dizagens para gerações de escolas técnicas de aprendizaacostumadas a jogar. convencionais gem ativa é importante, As metodologias com porque aponta formas tecnologias podem conão é simples. concretas de começar meçar dentro de uma Escolas tendem a disciplina e ir agregane ver resultados (BACICH, TANZI; TREdo progressivamente repetir modelos VISANI, 2015). áreas de conhecimenconhecidos, Uma parte do proto. Vários professores cesso de aprendizagem planejam projetos imdiante do risco (apresentação de conportantes junto com de perda da teúdos e pesquisa báos alunos, chegam a sica) pode ser feita de consensos viáveis e os identidade e forma individual com realizam de forma indo mercado já tecnologias digitais, tegrada. São os projetos fora e dentro da escola, integradores, com apoio consolidado” enquanto o aprofundas tecnologias digitais. damento acontece em O processo de avaliasala por meio de métodos ativos pelo ção pode ser ampliado, dando maior ênprofessor. Podemos, mesmo no modelo fase à construção de portfólios digitais, disciplinar, sair da aula igual para todos à avaliação por pares e à autoavaliação. rumo a aulas com várias atividades proCom o domínio das metodologias atipostas, com vários ritmos de execução vas, o avanço dos projetos integradores, possíveis, com integração entre tempos o passo seguinte é dar maior atenção de conhecimento prévio (aula invertida) às competências socioemocionais e ao e tempos de aprofundamento diferenciaprojeto de vida do aluno. Isso possibido em sala (BERGMANN; SAMS, 2016). litará planejar posteriormente um curAs metodologias ativas dão ênfase ao parículo por competências, áreas de copel protagonista do aluno, ao seu envolvinhecimento, mais personalizado e com mento direto, participativo e reflexivo em modelos híbridos.

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Preparando as transformações neces- implementar um novo projeto inovador. sárias na educação Um exemplo interessante de transição As escolas que nos mostram novos progressiva para a inovação está aconcaminhos estão mudando para modelos tecendo em oito colégios dos Jesuítas da mais centrados em aprender ativamente Catalunha, Espanha, no Projeto Horizonte com problemas reais, desafios relevantes, 2020. Apesar dos excelentes resultados nas jogos, atividades e leituras, valores fun- avaliações oficiais, docentes e dirigentes damentais, combinando tempos indivi- constataram um alto grau de insatisfação duais e tempos coletivos; projetos pesso- dos estudantes com o ensino convencional ais de vida e de aprendizagem e projetos e discutiram com toda a comunidade proem grupo. Isso exige postas para uma escola uma mudança de que fizesse sentido para Ninguém configuração do curos alunos. Realizaram consegue mudar rículo, da participaconsultas amplas, que ção dos professores, duraram dois anos e uma instituição da organização das que chegaram a um sem enfrentar atividades didáticas, modelo de escola por da organização dos competências e projeobstáculos. espaços e dos tempos tos. Esse modelo vem Mudanças rápidas sendo implementado (GOUVEA, 2016). Ao mesmo tempo que progressivamente desou lentas precisam de as escolas vão amplian2014 (mantendo, side apoio político do o domínio das memultaneamente, o motodologias ativas, dos disciplinar para os para prosperar, de delo projetos integradores, demais alunos) e estará pessoas de visão e totalmente implemendas competências amplas, do projeto de vida tado em 2020, dando de ação” e da aprendizagem-sertempo para que toda viço, também precisam comunidade aprenda e, planejar o médio prazo: onde querem estar concomitantemente, realizando uma avaem cinco ou dez anos para se transformarem liação contínua dos resultados. em instituições relevantes? Há vários caminhos para a transformaQual o melhor caminho? Pensamos ção profunda das escolas, mas ela somenque é envolver toda a instituição no te acontecerá com planejamento, ampla projeto de inovação: gestores, docentes, discussão e avaliação contínua. Podemos estudantes, famílias e organizações par- fazer as mudanças possíveis hoje, placeiras. Todos realizam sessões de design nejando transformações mais profundas de soluções (design thinking), conhecem para um futuro próximo. projetos mais inovadores (benchmarking) e chegam ao consenso sobre um Conclusão modelo viável (protótipo). Vivemos um período histórico, de rupUma forma de acelerar as mudanças tura e de reinvenção em todas as dimensem pôr em risco a cultura da instituição sões da vida e da sociedade, que desafiam, é começar a inovação em pequena escala, também, nossa educação em todos os níem uma área que tem maior abertura, com veis, do básico ao superior, formal e inforgestores e professores mais empreende- mal, ao longo de toda a vida. dores. Esses projetos são acompanhados Para realizar as mudanças de curto e por todos, avaliados para depois incorpo- médio prazos, o fundamental é investir rar mais rapidamente os demais cursos. Ir nas pessoas transformadoras, em bons da experiência focada e avaliada para a gestores e educadores, apoiando-os, esestrutural é um caminho que tem muitas timulando sua participação nas decisões vantagens: todos aprendem com o grupo estratégicas, investindo na sua atualização. experimental e se preparam melhor para Olhar para os que estão mais avançados é

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um caminho indispensável. Hoje, há experiências bem sólidas de inovação, em universidades e escolas que estão abertas para intercâmbio e mentoria, inspirando os que querem aprender com elas. Para transformar nossas escolas, precisamos de coragem e de perseverança. Alguns projetos ficam pelo caminho, porque, depois de um tempo, algumas pessoas-chave saem, alguns apoios institucionais se perdem, e o impulso inicial se esvai. É comovedor, por outro lado, ver escolas em lugares simples que conseguem desenvolver projetos inovadores porque conversam muito, apoiam-se sempre e persistem, apesar das dificuldades. Destino Educação – Escolas Inovadoras: Canal Futura: Disponível em: <https://www.youtube.com/playlist?list= PLNM2T4DNzmq5hxMqb1TpvSm0Qu6QgqbE>.

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* Educador e pesquisador de projetos de inovação (www2.eca.usp.br/moran) PARA SABER MAIS BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015. BENDER, W. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014. BERGMANN, J & SAMS, A. A Sala de Aula Invertida: uma metodologia ativa de aprendizagem. Rio: LTC, 2016 Canal Futura: Escolas Inovadoras. Link: <https://www.youtube.com/playlist?list=PLNM2T4DN zmq5hxMqb1TpvSm0Qu6QgqbE>. FUNDAÇÃO TELEFÔNICA. Inovaeduca – Práticas para quem quer inovar na educação. Disponível em: <http://fundacaotelefonica.org.br/wp-content/uploads/ pdfs/INOVA-ESCOLA.pdf>. GOUVÊA, Tathyana B. O Movimento Brasileiro de Renovação Educacional no início do Século XXI. Tese (Doutorado) – FE-USP, São Paulo, 2016. HORN, M. B.; STAKER, H. Blended: usando a inovação disruptiva para aprimorar a educação. Porto Alegre: Penso, 2015. ______. Designing a Blended Learning Program (Projetando um Programa de Blended Learning). Disponível em: <http://thejournal.com/ Articles/2015/01/28/Designing-a-Blended-LearningProgram.aspx?Page=2>. MORAN, J. M. Como transformar nossas escolas. In: CARVALHO, M (Org). Educação 3.0: Novas perspectivas para o ensino. São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS; Porto Alegre: SINEPE RS, 2017. p. 63-91. YOUNG DIGITAL PLANET. Educação no século XXI: Tendências, ferramentas e projetos para inspirar. São Paulo: Fundação Santillana, 2016. Disponível em: <http://new.smartlab.me/ baixe-gratis-nosso-livro-educacao-no-seculo-21/>.

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VITRINE

Sodexo oferece serviços integrados para escolas O dia a dia em uma escola envolve muito mais do que a rotina da sala de aula e do aprendizado. Muitas vezes, os serviços e a estrutura que giram em torno de todos os públicos, incluindo alunos, professores, colaboradores e até os pais, podem ser um desafio para as instituições, que precisam manter o foco nos métodos de ensino, nas relações professor/aluno, nas novas tecnologias e tendências, ou seja, cuidar do que realmente importa para uma escola: ensinar e desenvolver os cidadãos do futuro. Para todas as outras áreas, existe a Sodexo, líder mundial em Serviços de Qualidade de Vida, que tem uma equipe pronta, preparada e disponível para cuidar da alimentação dos alunos, da recepção, da limpeza, da telefonia, da manutenção, da jardinagem, da gestão dos resíduos e de outras atividades, até mesmo as específicas de uma escola. Conheça mais em: www.sodexoservicos.com.br

Conexia traz soluções inovadoras para colégios

Soluções didáticas que promovem a autonomia A geração que hoje está na escola nasceu imersa na tecnologia. Independência, autonomia e curiosidade são algumas das características desses estudantes. A escola deve considerá-las para fomentar a busca autônoma do conhecimento, já que os momentos presenciais talvez não sejam mais suficientes para as necessidades dos alunos. É preciso integrar tecnologia e educação para estimular a autonomia e aproximar o aluno do ambiente acadêmico. Por isso, o Bernoulli Sistema de Ensino investiu nessa integração, desenvolvendo soluções como o Meu Bernoulli, uma plataforma AVA (ambiente virtual de aprendizagem). A solução oferece diferentes recursos multimídia, possibilitando ao aluno conhecer e revisar o conteúdo e tirar suas dúvidas. Acesse: meu.bernoulli.com.br/conheca

O Grupo SEB, que atua há mais de 50 anos na administração de escolas que são referência pedagógica, de inovação e de gestão em todo o Brasil lança a Conexia, empresa que oferece soluções de gestão escolar e pedagógica, além de tecnologia educacional, material didático e EAD. Os serviços buscam auxiliar as escolas a lidar com os grandes desafios da atual Educação Básica, apresentando um portfólio que atende a diversas necessidades de forma personalizada, de acordo com a realidade de cada escola. A Conexia conta com a expertise do Grupo SEB, um dos principais conglomerados nacionais do setor de educação, que agora coloca todo esse conhecimento na área de administração, gestão e tecnologia à disposição de outras escolas, por meio do desenvolvimento de soluções educacionais inovadoras.

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