Edição 109

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Uma publicação do SINEPE/RS

Nº 109 / Ano XIX / Abril - Maio 2015

O QUE MUDOU COM O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS Tempo maior para aprender e alunos mais maduros estão entre os benefícios da mudança

SA L A DE AUL A

Os desaf ios da coordenação de curso nas IES

TENDÊNCI AS

Relação professor e aluno nas redes sociais


Livros digitais Ç© ƒXGLRV Y¯GHRV MRJRV H LQWHUDWLYLGDGH para os alunos. Ç© 9¯GHRV H VXJHVW·HV SDUD SODQHMDU DXODV Ç© 5HVROYHVW SDUD R DOXQR UHYLVDU VHXV HVWXGRV Ç© $FHVVLELOLGDGH LQWHJUDO HP TXDOTXHU computador conectado à internet ou baixando o aplicativo para tablet.

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ENTREVISTA

Luiz Dourado

Um novo paradigma para a formação de professores Por Ca r i ne Fer na ndes

É Divulgação/CNE

consenso entre educadores e especialistas da área que um dos grandes desafios da educação brasileira é atualizar currículo e método de ensino dos cursos de licenciatura. A mudança na formação de professores é a base para uma reforma no sistema de ensino do país e, consequentemente, para a melhoria da qualidade. O assunto está na pauta do Conselho Nacional de Educação (CNE) onde um grupo de trabalho está elaborando as novas diretrizes para formação de professores

das licenciaturas. À frente do processo está o professor Luiz Dourado, doutor em Educação e integrante da Câmara de Educação Superior do CNE. Ele é o relator da proposta, que inclui, entre outras medidas, a aproximação entre escola e a academia, interdisciplinaridade curricular e a valorização da vivência investigativa. Nesta entrevista concedida a Educação em Revista, Dourado explica como estão sendo estudadas as novas diretrizes e fala dos desafios na formação de professores. Confira os principais trechos da entrevista:

Educação em Revista – A formação de professores nas licenciaturas tem sofrido duras críticas de especialistas em educação e de quem está nas escolas, por não preparar os docentes para a prática de sala de aula e por não acompanhar as mudanças tecnológicas e de comportamento dos estudantes. Qual a sua avaliação sobre o currículo e os métodos de ensino nas licenciaturas? Luiz Dourado - Inicialmente, é preciso situar de quais instituições e projetos de formação falamos. Hoje, temos várias instituições de educação superior que se ocupam da formação inicial e continuada de professores; algumas dessas instituições são universidades e outras, grande maioria, são faculdades isoladas que oferecem formação prioritariamente no turno noturno. É importante destacar, ainda, IES que oferecem cursos na modalidade a distância. Desse cenário, é possível compreender que

A articulação entre as instituições de educação superior e básica se constitui em condição inegociável nas novas diretrizes nacionais”

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temos na educação superior brasileira um processo marcado pela diversificação e diferenciação na oferta de formação. De um lado, boas instituições com projetos estruturados, e de outro, IES que apresentam projetos sem grande institucionalização, além de problemas diversos. Entendo que é preciso avaliar o cenário atual da formação de professores e, ao mesmo tempo, estabelecer Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) aliadas a uma política nacional de formação inicial e continuada para a educação básica que contribuam para o avanço da formação desses profissionais. Os desafios são muitos e para avançarmos nesse cenário é preciso intensificar as relações de cooperação entre os sistemas de ensino, escolas e instituições de educação superior. Essa compreensão implica a rediscussão dos atuais marcos formativos, na busca de maior organicidade institucional e na efetiva articulação entre as instituições de educação superior e as instituições de educação básica.

O senhor é o relator do grupo de trabalho que está elaborando as novas diretrizes para formação de professores das licenciaturas. Como estão sendo construídas estas novas diretrizes e o que podemos esperar de mudanças? O trabalho está focado somente na formação de professores para os anos iniciais? As novas diretrizes curriculares nacionais para a formação dos profissionais do Magistério da educação básica direcionam-se à formação inicial e continuada de professores. Ou seja, a todos os profissionais do Magistério para a educação básica nas diversas etapas (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e nas diferentes modalidades educativas (educação indígena, campo, quilombola, técnica e educação a distância). Temos no Conselho Nacional de Educação uma comissão bicameral, envolvendo conselheiros da educação básica e superior, que busca avançar na institucionalização de um projeto de formação de professores por

meio de diretrizes curriculares nacionais. O trabalho dessa comissão está focado na formação inicial e continuada de professores, e a minuta de resolução que propomos aponta princípios basilares para a Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica. A seguir alguns deles: a garantia de padrão de qualidade dos cursos de formação de docentes ofertados pelas instituições formadoras nas modalidades presencial e a distância; a articulação entre a teoria e a prática no processo de formação docente, fundada no domínio de conhecimentos científicos e didáticos, contemplando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; o reconhecimento das instituições de educação básica como espaços necessários à formação inicial dos profissionais do magistério; a importância do projeto formativo nas instituições de educação que reflita a especificidade da formação docente, assegurando organicidade ao trabalho das diferentes unidades que concorrem para essa formação e garantindo

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Como está sendo pensada a formação dos professores para os anos finais e para o Ensino Médio? Considerando a diversidade de áreas e profissionais que atuam nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, as diretrizes nacionais enfatizam a formação em núcleos que garantam os conteúdos específicos das áreas de conhecimento, a docência como ação educativa e processo pedagógico intencional a partir das dimensões técnica, política, ética e estética; a articulação entre educação básica e educação superior; a integração e interdisciplinaridade curriculares e a valorização da vivência investigativa e aperfeiçoamento da prática educativa com base nos princípios, anteriormente, indicados. É preciso, ainda, valorizar o repertório sociocultural do estudante, as novas tecnologias de informação e comunicação, bem como as múltiplas linguagens que permeiam a formação e o exercício dos profissionais do magistério. As condições objetivas em que se efetivam a atuação desse profissional devem ser avaliadas, bem como garantidas condições para a efetiva profissionalização desses profissionais (formação, carreira, salários e condições de trabalho). O professor que chega à sala de aula, hoje, precisa estar preparado para lidar com uma série de adversidades, como atender a casos de inclusão, saber utilizar as novas tecnologias da informação, ter conhecimento de gestão da sala de aula, saber administrar conflitos... A

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Rafael Lima

sólida base teórica e interdisciplinar; a articulação entre formação inicial e formação continuada, bem como entre os diferentes níveis e modalidades de ensino; a formação continuada entendida como componente essencial da profissionalização docente, devendo integrar-se ao cotidiano da instituição educativa e considerar os diferentes saberes e a experiência docente, bem como o Projeto Pedagógico da Instituição de Educação Básica.Compreender esses princípios e articulá-los ao projeto de cada instituição é fundamental.

atual formação da academia dá conta dessas demandas? É importante considerar as mudanças sociais e seus impactos na realidade social e educacional brasileiras. Nessa direção, um grande desafio para o profissional do magistério é ter uma sólida formação inicial e participar da formação continuada, como base para o seu exercício profissional. Essa formação sólida requer uma visão ampla de currículo entendido como o conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção, a socialização de significados no espaço social e contribuem para a construção de identidades socioculturais dos educandos. Um grande desejo de quem atua na educação é ver uma aproximação maior da academia com a escola, para se discutirem desafios e oportunidades e formar um profissional mais capacitado para a realidade do ambiente escolar. O senhor considera possível esse trabalho? De que forma poderia acontecer? A articulação entre as instituições de educação superior e as instituições de educação básica é fundamental para a melhoria dos cursos de formação inicial e continuada e se constitui em condição inegociável nas novas diretrizes nacionais. Para que essa articulação se efetive é preciso, entre outros: definição clara de projeto institucional de licenciatura, construído a partir da relação com os sistemas de ensino e suas instituições; rediscussão das matrizes curriculares em articulação aos projetos pedagógicos das escolas e redes; valorização dos espaços de articulação e formação (prática como componente curricular, estágio supervisionado, didáticas e práticas de ensino); rediscussão dos conteúdos específicos das diferentes áreas de conhecimento, a partir da articulação com as diretrizes curriculares nacionais para a educação básica; fortalecimento dos mecanismos e processos de participação e gestão democrática, entre outros. Nos cursos de formação de professores percebe-se que o estudante recebe pouco conhecimento sobre o aluno de escola particular e as particularidades

deste sistema de ensino. O problema é que os estudantes que buscam estágio nas escolas particulares chegam com pouco conhecimento da realidade do setor privado, com defasagem na preparação. Na sua avaliação, tem como mudar essa situação? O conhecimento da realidade das instituições de educação básica, nos setores público e privado, é fundamental e deve fazer parte de todo o projeto educativo envolvendo os diferentes componentes curriculares, desde os específicos das diversas áreas de conhecimento até os relativos às políticas e gestão da educação e da escola, as didáticas e práticas de ensino, as modalidades educativas, entre outros. O estágio supervisionado é um espaço estratégico para o conhecimento e para a formação de profissionais para as instituições de educação básica, mas não deve ser o único espaço e só faz sentido se articulado com o projeto pedagógico como um todo. Nas diretrizes curriculares nacionais enfatizamos tais necessidades como basilares para a construção do projeto institucional de formação e destacamos que o mesmo deve dialogar com a realidade concreta dos sistemas de ensino e instituições de educação básica para as diversas etapas e modalidades da educação básica.


Rafael Lima

O que mudou nas escolas com o Ensino Fundamental de 9 anos 22 SALA DE AULA Os desafios da coordenação de curso

TENDÊNCIAS Relações em rede

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LEGISLAÇÃO Autismo e escola regular: combinação que dá certo

GESTÃO O futuro do FIES

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OPINIÃO Avanços para uma educação transformadora

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ESPECIAL CEED garante autonomia da escola e ressalta importância das normas de convivência

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PREMIADAS Colégio Gustavo Vieira de Brito apresenta projeto em evento do PGQP

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CULTUR A

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Além do que se vê

INTERDISCIPLINAR Internet com acesso seguro e responsável

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INSTITUCIONAL 13º Congresso do Ensino Privado Gaúcho divulga programação

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EDITORIAL

Um ano a mais para aprender Desde 2006, as escolas vivem um momento diferente: a transição dos oito para os nove anos no ensino fundamental. A mudança foi grande nas instituições de ensino, que analisaram e readaptaram seus currículos à nova realidade e prepararam seus professores para um novo conceito de ensino fundamental. Superadas as inquietações e incertezas, o momento continua de muito trabalho para analisar os resultados e fazer ajustes necessários a cada nova turma, mas também já é possível comemorar os primeiros resultados. As escolas estão percebendo que este “ano a mais” trouxe amadurecimento e melhor preparo dos estudantes para o Ensino Médio, além de tempo maior para a aprendizagem e um novo conceito de 1º ano, mais lúdico, com maior valorização da infância. Na reportagem de capa, mostramos esse cenário, contando experiências de escolas de diferentes regiões do Estado sobre o processo de mudança, os desafios, preocupações e os resultados obtidos até o momento. Esperamos que novas reportagens sejam apresentadas nesta revista sobre mudanças governamentais que deram certo e melhoraram o ensino e a aprendizagem! Isso porque nem todas as mudanças são positivas. Na seção Gestão apresentamos uma matéria sobre o impacto das novas regras do FIES na educação superior, trazendo, inclusive, alternativas para as IES, já que não se sabe qual será o futuro desse programa. Ainda no ensino superior, na seção Sala de Aula discutimos sobre o perfil do coordenador de curso e os desafios da função. Sobre o ambiente digital, duas matérias são destaque nesta edição. A seção Interdisciplinar traz dicas de como podemos garantir o acesso seguro na Internet e em aplicativos no celular; e em Tendências abordamos um tema polêmico mas importante para reflexão: o relacionamento de alunos e professores nas redes sociais. Afinal, professor tem que ser amigo do aluno nesse ambiente? Quais os limites dessa relação? Trouxemos a opinião de psicólogos, especialistas em educação e comunicação e, claro, do próprio professor, que trouxe sua experiência. Também nesta edição apresentamos a programação completa do 13º Congresso do Ensino Privado Gaúcho, artigo científico sobre autoridade de pais e professores, uma análise do novo parecer do Conselho Estadual de Educação sobre transferência assistida de alunos, entre outros assuntos. Ótima leitura! Carine Fernandes Editora da Educação em Revista

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Expediente Edição: Carine Fernandes (MTB 15449) Produção: Carine Fernandes e Patrícia Gastmann (MTB 15336) Reportagens: Carine Fernandes, Carolina Leal (MTB 9567), Larissa Freitas (MTB 16872), Manoela Andrade (MTB 13648) e Vívian Gamba (MTB 9383). Capa: Divulgação/Istock Photo Diagramação: Prya Estúdio de Comunicação Conselho Editorial: Prof. Osvino Toillier, Prof. Hilário Bassotto, Prof. Flávio D’Almeida Reis, Profª Mônica Timm de Carvalho, Profª Naime Pigatto, Prof. Ruy Carlos Ostermann, Prof. Pedro Luiz da Silveira Osório, Profª Ângela Ravazzolo, Profª Rosângela Florczak e Prof. Gustavo Borba.

DIRETORIA Presidente: Bruno Eizerik 1º Vice-Presidente: Osvino Toillier 2º Vice-Presidente: Hilário Bassotto 1º Tesoureiro: João Olide Costenaro 2º Tesoureiro: Maria Helena Rodrigues Lobato 1º Secretário: Oswaldo Dalpiaz 2º Secretário: Flávio Romeu D’Almeida Reis Suplentes: 1º Suplente: Iron Augusto Müller 2º Suplente: Ruben Werner Goldmeyer 3º Suplente: Marícia da Silva Ferri

CONSELHO FISCAL Titulares: Luiz Fernando Felicetti Adelia Dannus Valdir Ludwig Suplentes: 1º Suplente: Isaura Paviani 2º Suplente: Valderesa Moro 3º Suplente: Maria Angelina Enzweiler Coordenador da Assessoria de Comunicação e Marketing: Prof. Osvino Toillier Assessora de Comunicação e Marketing: Luciana Moriguchi Jeckel Assessora de Imprensa: Carine Fernandes Relações Públicas: Marcele Wolf Estagiários: Diego Biracy e Lucas Laux.

Missão: Representar e congregar as instituições do ensino privado na promoção de sua qualificação permanente, diferenciação e sustentabilidade.

Visão: Ser referência como instituição no cenário educacional brasileiro, reconhecida pela eficiência na representação sindical e proposição de novos significados ao setor.

Valores: &RPSURPLVVR FRP R $VVRFLDGR eWLFD H 7UDQVSDUrQFLD &RPSHWrQFLD &XOWXUD GD ,QRYDomR 5HVSRQVDELOLGDGH 6RFLRDPELHQWDO

FALE CONOSCO Redação Cartas, comentários, sugestões, matérias: educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br Anúncios e assinaturas E-mail: comercial@sinepe-rs.org.br Fone: (51) 9330-6763 Informações Fones: (51) 3213-9090 | www.sinepe-rs.org.br ISSN: 1806-7123 Educação em Revista não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Por motivos de espaço e clareza, as cartas e artigos poderão ser resumidos.


INTERNACIONAL

Vivenciando o ensino bilíngue no Canadá De outubro a dezembro de 2014, tive a oportunidade de estudar e estagiar na McGill University em Montreal, no Canadá. Como tenho interesse especial em autonomia na aprendizagem de língua e ensino bilíngue, busquei o Canadá como país de interesse para aprimorar meus conhecimentos. Nesse período, realizei atividades como estagiária de pesquisa sob supervisão do professor doutor Roy Lyster. Tive a oportunidade de visitar algumas escolas bilíngues onde o professor e sua equipe geram seus dados de pesquisa.

Daniele optou pelo Canadá porque lá o bilinguismo está muito presente no sistema educacional

É possível perceber que o conhecimento Outro fato de destaque é a quantidade de alunos na Pós-Graduação que trabalha de línguas e a preocupação com um ensino na Universidade em cargos como assistende qualidade são valorizados pelo meio te de pesquisa. A maioria dos alunos do educacional canadense, em especial na Doutorado ministram aulas, sob supervisão província do Quebec onde estive, em que de seus orientadores, para turmas da graduo bilinguismo francês/inglês está muito presente no dia a dia das pessoas. As esco- ação. Essas oportunidades proporcionam ao Doutorando experiênlas bilíngues que visitei, cia prática no Ensino todas públicas, pertenO conhecimento Superior, além de ser ciam a diferentes School também uma fonte Boards, ou Conselhos de línguas e a de rendimento que Educacionais, depenpermitirá ao aluno perdendo das línguas de preocupação manecer mais tempo instrução da escola. Por com um ensino na Universidade dediexemplo, a escola St. John cando-se à pesquisa. Fisher recebia alunos de qualidade são A McGill University falantes de inglês como língua materna e oferecia valorizados pelo é a 21ª no mundo (QS World University imersão na língua franmeio educacional Rankings) e, dessa cesa. Já a escola Pierre forma, emprega renoTrudeau recebia alunos canadense” mados pesquisadores franco-canadenses e a como os professores língua da instrução era a Roy Lyster e Fred Genesee, oferecendo inglesa. Por fim, a escola de Ensino Médio Heritage Village recebia alunos de dife- aos seus alunos palestras e eventos como o lançamento do livro The Sense of Style rentes línguas maternas e oferecia a todos instrução em língua inglesa. de Steven Pinker que tive a oportunidade de assistir. Desta forma, a Universidade Nos programas de Pós-Graduação, as aulas são no estilo seminário, e costumam recebe diversos alunos internacionais como visitantes ou alunos regulares. ser curtas, em geral levando em torno de Considero que essa vivência acadêmica 1h45min. Eles entendem que as aulas não e cultural tenha sido muito enriquecedora precisam ser mais longas do que isso se para minha formação não só como pesquios alunos vierem com suas leituras feitas sadora, mas também como professora do e trouxerem seus questionamentos para Ensino Básico. E ao contrastar as diferendiscussão. Eles preferem proporcionar aos tes realidades do Brasil e Canadá no cenáalunos mais tempo fora da sala de aula para que se dediquem à leitura. De fato, rio educacional, pude aproveitar o melhor de cada uma e aperfeiçoar minha prática o número de alunos que permanecem no campus, nas bibliotecas e salas de estudos, acadêmica e docente. preparando-se para suas aulas, chama a Daniele Blos Bolzan atenção. Achei essa forma de pensar bem interessante, pois coloca mais responsabi- Coordenadora da Área de Língua Estrangeira e Professora da IENH. Doutoranda em Linguística lidade no aluno e lhe dá mais autonomia Aplicada pela UFRGS, onde realiza pesquisa na área de Ensino e Aprendizagem de Segunda Língua. em relação aos seus estudos.

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SALA DE AULA

A própria instituição deve ser o lócus da formação do coordenador

Os desafios da coordenação de curso Por Vív ian Gamba

C

hegar à coordenação de um curso de educação superior não é tarefa fácil. A função exige experiência profissional, em docência superior e gestão acadêmica. Reunir os requisitos necessários significa capacidade para incorporar os mundos acadêmicos e de negócios e estar disposto a assimilar, no dia a dia de trabalho, questões jurídicas e normativas pertinentes ao cargo. Para o consultor jurídico do Instituto Latino-Americano de Planejamento Educacional (ILAPE), Gustavo Monteiro Fagundes, o coordenador deve ser visto como o gestor de uma ‘unidade de negócios’, que é o curso pelo qual se responsabiliza. “Esta visão compreende todos os aspectos da condução do curso, desde o atendimento

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a estudantes e demais professores até o planejamento estratégico, o acompanhamento da evasão e, principalmente, condições de qualidade na oferta do curso.” O primeiro passo da preparação desse profissional é o seu próprio curso de graduação, que, segundo Fagundes, deve ser de qualidade e levado com seriedade e dedicação. “Depois disso, ele deve obter as experiências nas áreas necessárias (profissional, docência superior e gestão acadêmica) e conjugá-las, como forma de promover a indispensável articulação entre teoria e prática, entre a academia e o mundo profissional.” Além disso, estar aberto a oportunidades de qualificação e aperfeiçoamento profissional, seja por meio de programas de pós-graduação lato sensu ou stricto sensu,

seja por outros cursos de qualificação. A professora Rosana Cesar Arruda Fernandes, que estudou o perfil de coordenadores de curso da educação superior para sua tese de doutorado pela Universidade de Brasília – Coordenação de curso de graduação: das políticas públicas à gestão institucional –, afirma que o fato de a função ser temporária traz algumas dificuldades. “Os coordenadores de curso de graduação ‘estão’ gestores e não ‘são’ gestores. Pela transitoriedade da função, esses profissionais não fazem investimento na formação continuada. Nem na formação para a docência nem na formação para a gestão do curso.” De acordo com a sua pesquisa, a própria instituição deve ser o lócus da formação do coordenador, em função da cultura institucional.


pontos fortes e robustecer os pontos fracos Atributos Para Rosana, os coordenadores ainda ende seu perfil profissional.” Na Faculdade Estar atento a funções políticas, gerenciais, frentam uma “cultura acadêmica fortemenMurialdo, Roberta faz o acompanhamento acadêmicas e institucionais é o ideal para a te marcada pelo trabalho individualizado; constante dos coordenadores de curso, com coordenação de um curso em toda e quala sobrecarga de trabalho administrativo e atendimentos individuais constantes e for- de demandas emergenciais em detrimento quer instituição, acredita a coordenadora mação coletiva a cada acadêmico-pedagógica das outras dimensões da gestão do curso; seis meses. da Faculdade Murialdo, o desafio de fazer a gestão do curso sem Estar atento a Roberta Lopes Augustin. perder o vínculo com os colegas; e a necesDesafios funções políticas, “Nessas funções, o coordesidade de atender às exigências institucioEntre os desafios do nador consegue articular e nais externas relacionadas à produtividade gerenciais, coordenador, de acordo dinamizar o que realmenacadêmica e manutenção dos cursos, no com o consultor do te um curso de graduação caso das IES privadas”. acadêmicas e ILAPE, está “transitar, necessita desse cargo. É O coordenador de curso também é figura institucionais é com segurança, pelo o que a instituição visucentral no processo de avaliação dos cursos denso emaranhado de aliza. E ainda melhor se superiores. Na autoavaliação, procedimeno ideal para a normas que o MEC assessorado por um bom to interno cada vez mais valorizado pelo edita com velocidade grupo de professores.” MEC, o coordenador deve atuar em estreita coordenação de impressionante e co- colaboração com a CPA, afirma Fagundes, Rosana alega que esse um curso”, nhecer com razoável suporte depende muito da assegurando a efetiva participação de todos desenvoltura o compleinstituição – há diferença os integrantes do curso nas atividades do Roberta Augustin xo normativo aplicável entre a pública e a privaprocesso de autoavaliação, bem como, a ao desempenho de sua da – e do tamanho e perfil partir do diagnóstico elaborado pela CPA, atividade”. Outro é conduzir o curso pelos do curso. “Nas instituições que observei, comandar, em seu curso, o processo de improcedimentos avaliativos levados a efeito há cursos com alto nível de investimento, plementação de melhorias e incrementos. pelo MEC, seja nos procedimentos de avaonde o coordenador conta com uma equipe A lista de atribuições e responsabilidades liação in loco, seja nas atividades inerentes de apoio, e outros de menor prestígio, nos do coordenador de curso parece infindável, ao Enade e seus desdobramentos. “Soma-se quais o coordenador atua sozinho”, aponta e possivelmente é uma das razões da difia esses desafios, que não são simples, a re- culdade de encontrar um profissional pronto a pesquisadora. alidade econômica da grande maioria das Um dos desafios da instituição, conforme para assumir essa função. No entanto, é o instituições de ensino, onde as demandas por Roberta, é encontrar um profissional com as empenho desses profissionais e das instituiinvestimento são cada vez maiores, ao passo quatro funções. “Para as funções políticas, ções no seu aperfeiçoamento um dos ingreque as fontes de recursos usualmente não são às vezes o profissional tem uma boa repredientes para a melhoria contínua dos cursos suficientes para cobrir os custos de operação.” de graduação e das próprias instituições. sentatividade na sua área de atuação, mas não tem liderança interna no curso. Em relação às funções gerenciais, é preciso visão de infraestrutura, administração docente, supervisão da evasão. Nas atribuições acadêmicas, elaborar e executar o projeto pedagógico, atividades de sala, avaliação setorial, estimular a iniciação científica. Além disso, a função institucional: um bom preparatório para o Enade, acompanhamento contínuo de egressos, alocação de recursos alternativos para pesquisa. Essas funções demandam muito tempo e articulação desse profissional”, explica a coordenadora. Para Fagundes, “é certo que, salvo exceções, nenhum candidato atenderá, a pleno, às pretensões da instituição, de modo que é importante perceber quem são os candidatos efetivamente dispostos a encarar o processo de qualificação permanente para o exercício da coorNa Faculdade Murialdo, os coordenadores de curso têm atendimentos individuais e formação coletiva denação, sempre buscando aprimorar seus

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GESTÃO

Cerca de 15 mil alunos foram afetados pelas novas medidas

O futuro do FIES Por Carol i na L eal

A

comunidade acadêmica anda em polvorosa e não é para menos: as novas regras do Programa de Financiamento Estudantil (FIES) restringiram o acesso de milhares de alunos às instituições de ensino superior em todo o país, obrigando-se a pensar em alternativas para o setor. Somente no Rio Grande do Sul, cerca de 15 mil alunos foram afetados pelas novas medidas, que incluem o atingimento mínimo de 450 pontos na prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). “Em função destas mudanças e indefinições do governo, muitas instituições podem desistir do programa”, afirma o

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presidente do SINEPE/RS, Bruno Eizerik. Ele acrescenta que os maiores prejudicados serão os estudantes, especialmente das classes baixas, que não conseguem cumprir com a nova exigência de pontuação do Enem. “Em média, o aluno oriundo da escola pública atinge 380 pontos na prova”, complementa. Criado em 1999, o FIES permite ao estudante cursar uma graduação em uma instituição particular para, depois de formado, pagar as mensalidades com uma taxa de juros pré-determinada. Até 2010, esse valor era de 6,5% e caiu para 3,4% por ano. Além disso, o prazo para o pagamento da dívida foi estendido de seis

para 18 meses após a formatura, aumentando, assim, a procura pelo financiamento. Segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o volume de contratos assinados passou de 76.170, em 2010, para 1.029.107, em 2013. Atualmente, o FIES já acumula mais de 1,9 contratos em andamento. A importância do programa vai muito além desses números. De acordo com estudo do Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior de São Paulo) e Fundação Getulio Vargas (FGV), desde sua implantação, houve um acréscimo significativo no número de estudantes na universidade (66%), sobretudo das classes C,D e E, bem


como na abertura de centros de ensino, com 400 novas faculdades em funcionamento (26% de crescimento). Outro dado da pesquisa publicada pela revista Ensino Superior revelou que, a partir do acesso ao financiamento e à educação superior, o aluno consegue incrementar significativamente sua remuneração média após a conclusão do curso, mais do que duplicando seus rendimentos mensais. Alternativa ao programa As instituições de ensino superior devem estar preparadas para o impacto dos cortes no Fies, que refletirá na redução de matrículas, uma vez que 20% das vagas são preenchidas por alunos do programa do governo federal, segundo a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep). Uma alternativa é abrir espaço maior a empresas privadas que oferecem financiamento estudantil. Esta prática é comum nos Estados Unidos, onde um terço dos estudantes

o estudo, mas tinham limitações financeiutilizam financiamento privado. Dados do ras. Depois, vieram novas faculdades com The Project on Student Debt (Projeto sobre a mesma necessidade e, por muito tempo, Dívida Estudantil), ligado ao Institute For essa atuação concentrouCollege Access & Success -se na concessão do crédito (Instituto para Acesso e Instituições educativo. “A principal vanSucesso Universitário), pudevem estar tagem de nossas soluções é blicado na Revista Ensino respeitar a autonomia da insSuperior, indicam que, em preparadas tituição. A gestão estratégica 2012, 71% dos estudantes que das decisões e informações se formaram em cursos de para a sempre é da instituição de quatro anos de duração conredução no ensino. Nosso papel é ser traíram dívida relacionada uma extensão da instituição ao financiamento estudantil. número de de ensino, apoiando na susForam 1,3 milhão de alunos tentabilidade e expansão do endividados. alunos negócio”, explica o Diretor No Brasil, entre as opções Adjunto da Fundaplub, Nivio de empresas privadas está a Júnior Lewis Delgado, que comenta que as Fundaplub, que atua há mais de 40 anos no alterações do FIES prejudicam justamente mercado e atende 70 mil alunos em todo o a questão da autonomia, uma vez que o país. A empresa surgiu junto com uma deprograma quer também limitar o aumenmanda da Pontifícia Universidade Católica to das mensalidades, algo questionável do Rio Grande do Sul em atender uma juridicamente. parcela crescente de jovens que buscavam

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TENDÊNCIAS

Relações em rede Por Manoela A ndrade

É

professor e tem perfil em alguma rede social? Se sim, você já deve ter se questionado se os seus alunos podem ser seus amigos no meio digital. Recentemente, o Observatório Jovem, grupo de pesquisa vinculado ao Programa de PósGraduação em Educação (POSEDUC) da Universidade Federal Fluminense (UFF) do Rio de Janeiro, divulgou o documentário “Uma escola entre redes sociais”, um dos resultados do estudo “Redes Sociais na Escola”, que retrata o cotidiano do uso das redes por docentes e estudantes de uma escola estadual de ensino médio carioca. O coordenador do Observatório Jovem e professor da Faculdade de Educação da UFF, Paulo Carrano, acredita que ainda é necessário fazer novas pesquisas para saber o que as escolas estão fazendo para lidar com esse novo mundo: do jovem que está na sala de aula e conectado. “A gente não tem um perfil unitário de relacionamento com o mundo das redes sociais. Não dá para dizer que os alunos são hiperconectados, porque são nativos digitais, e que os professores estão atrasados. Encontramos muitos docentes preocupados com essa nova realidade, antenados e procurando conhecer mais e se aproximar dos alunos”, analisa. O diretor do curso de Publicidade e Propaganda da ESPM, Alessandro Souza, lembra que as redes sociais digitais tiveram o seu auge na última década e que, portanto, tudo é um processo novo. “Estamos aprendendo uma nova forma de socialização. Como é um processo novo de aprendizagem, há exemplos de uso mais adequados e outros nem tanto.” Ter claros os limites das relações virtuais e presenciais é fundamental para que os alunos e seus professores sejam amigos nas redes sociais, de acordo com Simone Bampi, coordenadora do Núcleo de Educação do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS).

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Tanise vê uma série de benefícios na amizade com os alunos nas redes sociais

“Os limites são para ambos os lados, de respeito ao espaço do outro, diálogo claro e pautado pela ética profissional, no caso do professor”, explica. Muitos professores estão usando as redes sociais para compartilhar assuntos relativos aos conteúdos da sala de aula e, para isso, criam um perfil só para se relacionar com os estudantes. Outros adicionam os alunos em seus perfis pessoais, tentando construir um

relacionamento com limites. “O professor tem que decidir se ele tem um perfil de rede social público, que é mais favorável à troca de saberes, ou não. Se ele publica muitas coisas de sua vida, ele tem que pensar muito antes de adicionar os seus alunos. E cabe ao aluno respeitar também, isso é uma troca”, salienta. Alessandro aponta que ter dois perfis numa rede social é uma boa alternativa para selecionar os conteúdos, mas destaca: cada caso


ĂŠ um caso. “O professor separa aquilo que deve ser procurado em cada um dos espaços. É bom para o professor, para ele direcionar o que posta, e para o aluno entender que ĂŠ um lugar de diĂĄlogo com ele.â€? A boa relação com os alunos em sala de aula faz com que a professora de teatro do ColĂŠgio Sinodal SĂŁo Leopoldo e PortĂŁo, Tanise Rosane Pacheco, tenha um perfil em uma rede social lotado, com mais de 5 mil pessoas, na sua maioria atuais e antigos alunos. Ela jĂĄ tentou ter dois perfis – um pessoal e outro profissional –, mas admite que teve dificuldade em acompanhĂĄ-los, e optou por ter apenas um. “NĂŁo ĂŠ difĂ­cil lidar com isso, inclusive tornou-se essencial essa extensĂŁo, como educadora que nĂŁo se limita ao espaço fĂ­sico da escolaâ€?, afirma. Tanise vĂŞ na amizade com os alunos nas redes sociais uma sĂŠrie de benefĂ­cios. “Por trabalhar com teatro e arteterapia, acompanho como os alunos se expĂľem nas redes, o que dizem estar sentindo e suas percepçþes dos acontecimentos, desde os

que parecem sem importância (como uma prova recente) atĂŠ os da atualidade (tragĂŠdias, manifestaçþes, etc.).â€? Uma nova forma de aprendizagem As redes sociais estĂŁo se tornando mais uma alternativa para adquirir e compartilhar conhecimento. “Podem permitir a criação de comunidades de aprendizagem que ampliam a capacidade de educação da escola, onde o conhecimento ĂŠ algo a ser compartilhado e os professores podem ser mediadores importantes. O desafio hoje ĂŠ que o processo de ensino e aprendizagem se dĂŞ nessa grande roda de compartilhamentosâ€?, acredita Carrano. Ele cita, tambĂŠm, que as redes sociais trouxeram outro tipo de autoridade, bem diferente do modelo tradicional de ensino, em que o professor detĂŠm o saber e o aluno aprende. “O professor estĂĄ lidando com possibilidades de estar diante dele um aluno que tambĂŠm ĂŠ um sujeito potente de saberes.â€? Para Simone, o uso adequado das redes ĂŠ uma ferramenta interessante para o

complemento do ensino da sala de aula. “As redes sociais cada vez mais tĂŞm sido um canal de comunicação e de acesso Ă s pessoas de todas as faixas etĂĄrias. Desse modo, o uso delas como mais uma ferramenta no processo de aprendizagem pode trazer bons resultadosâ€?, avalia. Tanise aconselha os professores a despirem-se de preconceitos para perceber o lado bom das redes sociais contextualizadas com a vida escolar. “Se o professor deve ser sempre atualizado, as redes sociais se tornam aliadas no seu trabalho na educação. O importante ĂŠ abrir os olhos e perceber que o mundo digital ĂŠ instantâneo e rĂĄpido, e isso ĂŠ uma virtude, nĂŁo um problema.â€?

‡ $VVLVWD DR GRFXPHQWiULR ²8PD escola entre redes sociaisâ€? ‡ &RQILUD GLFDV SDUD HQVLQDU FRP ajuda das redes sociais ‡ 4XHU VH WRUQDU DPLJR GH seus alunos nas redes sociais? Confira algumas dicas

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INTERDISCIPLINAR

Crimes digitais já atingiram 8 em cada 10 brasileiros

Internet com acesso seguro e responsável Por L ar issa Freitas

A

s pessoas passam cada vez mais tempo conectadas e divulgando um grande volume de informações na internet. Com tanta exposição de dados é fundamental tomar precauções para garantir uma navegação segura e não ser vítima de crimes. Conforme relatório da Symantec, empresa que trabalha com segurança na internet, os crimes digitais já atingiram oito em cada dez brasileiros usuários da internet, enquanto 57% dos usuários de smartphones foram vítimas de crime virtual móvel. O relatório considera os ataques feitos por vírus para captura de dados. Como o brasileiro tem perfil de

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baixar muitos aplicativos, principalmente quando são gratuitos, fica mais vulnerável a este problema. Ofertas de produtos também merecem atenção. Atrás do que parece ser um grande desconto estão fraudadores e estelionatários que buscam obter vantagem financeira e pegar dados de cartão de crédito. Além do roubo de dados bancários, outra prática crescente é o compartilhamento de fotos íntimas, denominado nude selfie e sexting, em sites e aplicativos de smartphones. Tal prática atinge principalmente as mulheres, que representam 77,4% das vítimas, 35,71% possuem idade entre 13 e 15 anos. Os dados são do levantamento

feito em 2014 pela ONG Safernet Brasil, entidade que monitora crimes e violações dos direitos humanos na internet, em parceria com a Polícia Federal e o Ministério Público. Na internet nenhum lugar é considerado seguro, portanto é necessário tomar todas as precauções possíveis. Para manter seus dados protegidos, o analista de sistemas Gélson Luiz Wolf procede com cautela ao acessar o ambiente digital. “Nunca me aconteceu nada, ainda bem, mas eu busco sempre manter o sistema operacional e o antivírus atualizados, que é o básico, além de manter ativadas as atualizações automáticas do próprio navegador. Para


cada aplicativo, procuro utilizar senhas diferentes e fortes. Nas redes sociais ou e-mail, evito clicar em links suspeitos (instituiçþes bancĂĄrias, ĂłrgĂŁos governamentais e promoçþes absurdas). Na dĂşvida, nĂŁo clicoâ€?. No acesso via dispositivos mĂłveis os cuidados sĂŁo os mesmos, porĂŠm GĂŠlson salienta que tem atenção ao baixar aplicativos gratuitos e evita instalar os de fontes desconhecidas. TambĂŠm mantĂŠm habilitado o recurso de localização remota e limpeza do aparelho. â€œĂ‰ Ăştil ter o recurso de bloqueio ou destruição dos dados do smartphone em caso de perda ou roubo, evitando assim ficar expostoâ€?. Para orientar a população sobre a navegação segura, foi lançado no dia 10 de fevereiro deste ano, data em que ĂŠ comemorado o dia mundial da internet, a campanha #celularseguro. A ação ĂŠ desenvolvida pelo movimento FamĂ­lia Mais Segura do Instituto iStart e tem coordenação da advogada e especialista em direito digital Patricia Peck Pinheiro. A campanha aborda segurança na internet por meio de um guia rĂĄpido com 9 dicas e de um questionĂĄrio. AlĂŠm dessas açþes, estĂĄ previsto para junho o

lançamento nos cinemas de uma animação que relata o primeiro dia de um jovem com celular, mostrando as situaçþes de perigo e o que fazer para evitĂĄ-las. Educação digital AlĂŠm de tomar as medidas necessĂĄrias para garantir sua segurança digital, os adultos devem ensinar tambĂŠm as crianças. Hoje, no Brasil, uma criança ganha seu primeiro celular em mĂŠdia com 9 anos de idade. E, assim como os pais tĂŞm dever de vigilância, de saber em que locais seus filhos vĂŁo, essa responsabilidade tambĂŠm se estende Ă s atividades na internet. “Uma criança navegando sozinha na internet ĂŠ um menor abandonado digital, estĂĄ sujeito desde a facilmente acessar conteĂşdo nĂŁo apropriado para sua idade atĂŠ a ser abordado por um pedĂłfilo, e isso sem sair de dentro de casa.â€?, destaca Patricia. Os pais devem ficar atentos ao conteĂşdo que os filhos compartilham, ver vĂ­deos e fotos, se possĂ­vel, antes de serem publicados, e saber quem sĂŁo os amigos com que eles conversam por redes sociais. Outra medida que ajuda no monitoramento ĂŠ fazer buscas pelo nome dos filhos e incluir

as dicas de segurança na internet como parte do diĂĄlogo familiar. Patricia alerta que antes de permitir que o filho faça uso de redes sociais os pais leiam os termos de uso e observem a faixa etĂĄria mĂ­nima exigida para acessar aquela ferramenta ou serviço, alĂŠm de instalar software de controle parental e habilitar os recursos de controle de conteĂşdo adulto. “O Facebook, por exemplo, exige 13 anos, assim como o Youtube exige 18 anos para criar um canal prĂłprio, mas tem muita criança nesses ambientes sozinha, sem qualquer assistĂŞncia ou supervisĂŁo parentalâ€?, explica Peck. Assim como dentro de casa os pais devem monitorar as crianças, na sala de aula esse dever de vigilância ĂŠ dos educadores. O uso dos recursos tecnolĂłgicos para o processo de ensino-aprendizagem torna a aula mais interativa e interessante para os alunos. PorĂŠm, os professores devem sempre avisar a famĂ­lia de quais atividades serĂŁo realizadas e que ferramentas serĂŁo utilizadas, alĂŠm de solicitar que seja feito o acompanhamento de tais tarefas no ambiente familiar. Os educadores tambĂŠm precisam estar cientes dos termos de uso das ferramentas utilizadas e garantir que o seu uso seja exclusivamente voltado Ă s atividades, sem envolver a vida Ă­ntima do aluno. “Uma coisa ĂŠ criar um perfil da turma no Whatsapp para tratar de uma excursĂŁo escolar, tendo feito o aviso prĂŠvio da necessidade de uso deste recurso aos pais. Outra ĂŠ o professor manter relaçþes digitais com alunos por este canal, tratando de assuntos que nĂŁo sejam relacionados com a sala de aula.â€?, exemplifica Patricia. ‡ &RQILUD GLFDV SUiWLFDV SDUD garantir a segurança digital ‡ 7HVWH VHXV FRQKHFLPHQWRV sobre segurança digital

GĂŠlson Wolf acessa o ambiente digital com cautela

ERRAMOS Na matĂŠria “Terceira idade com orgulho H YLJRUÂł HGLomR ° )HYHUHLUR 0DUoR o curso de inglĂŞs citado no texto nĂŁo fica em Caxias do Sul, mas em Porto Alegre.

Educação Ed du ucaaçã ção o 17


LEGISLAÇÃO

Autismo e escola regular: combinação que dá certo Este texto se propõe a conversar sobre garantem a inclusão escolar nas instituia inclusão de crianças autistas em esco- ções educacionais, as quais devem prolas de ensino regular, indicando os as- mover o atendimento especializado aos alunos com necessidades educacionais pectos legais que garantem sua matrícula específicas. e permanência. Em 2012, a presidente Dilma Rousseff O autismo é uma condição definitiva do sujeito, ou seja, a criança nasce au- sancionou a lei nº 12.764/2012 que instituiu a Política Nacional de Proteção tista e permanece assim por toda a sua dos Direitos da Pessoa com Transtorno vida. O autismo faz parte de um grupo do Espectro Autista, atendendo aos chamado TEA (Transtornos do Espectro princípios da Política Autista), que inclui, além Nacional de Educação do transtorno autista, o Pessoas com Especial na Perspectiva transtorno desintegratida Educação Inclusiva vo da infância, o transTEA podem (MEC/2008) e ao protorno generalizado do se destacar em pósito da Convenção desenvolvimento não essobre os Direitos das pecificado (PDD-NOS) e habilidades Pessoas com Deficiência Síndrome de Asperger. A visuais, (ONU/2006), de modo criança com TEA possui assegurar os direitos desordens complexas música, arte e ainscritos na constituição, do desenvolvimento promovendo o respeicerebral, mas nem por matemática” to pela dignidade das isso está impossibilitacrianças autistas. da de aprender. Muito Um dos objetivos dessa política foi pelo contrário: pesquisas indicam que possibilitar a construção de processos as pessoas com TEA podem se destacar significativos de experiência escolar, em habilidades visuais, música, arte e matemática! (Já existem várias biblio- reconhecendo a escola como um espaço de aprendizagem que desenvolve a autografias sobre autismo traduzidas para o português. O site “autismo e realidade” nomia da criança e promove relações sociais e de novas competências por meio apresenta uma lista completa de livros e publicações. Confira: http://autismoere- de atividades pedagógicas, brincadeiras e outras ações relacionadas ao cotidiano alidade.org/livros-sobre-autismo/.) escolar. A lei determinou que os sisteAlém da vasta legislação sobre a educação como um direito de todos - mas de ensino efetuassem a matrícula dos estudantes com TEA em classes Constituição Federal 1988; ECA, Lei comuns de ensino regular, assegurando n°.8.069/90; LDBEN Lei nº 9394/96 -, temos ainda os Decretos nº 5.296/2004, nº o acesso à escolarização, bem como a oferta de atendimento educacional espe6.949/2009, nº 7.611/2011 e a Resolução cializado e o profissional de apoio (art. CNE/CEB nº 4/2009, que também

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3º, IV, a); que o currículo estivesse adaptado às singularidades de cada criança, de forma a promover as relações sociais, incentivar a comunicação e oportunizar novas experiências cognitivas e afetivas na vivência entre os pares. Diante disso, precisamos retomar a discussão sobre inclusão: o que é e como as instituições de ensino devem proceder. Segundo Mantoan, no livro Caminhos Pedagógicos da Inclusão (2001), inclusão é acolher todas as pessoas sem exceção, para que ocupem o seu espaço na sociedade, exercendo sua cidadania de forma plena. Logo, os programas e ações escolares, na perspectiva da educação inclusiva, devem promover o acesso e a permanência da criança no ensino regular, superando a segregação e exclusão educacional e social das pessoas com deficiência. Com certeza, autismo e escola regular é uma combinação que dá certo! Para tanto, é preciso eliminar as barreiras no processo de aprendizagem visando à plena participação dos alunos com necessidades especiais. É preciso oportunizar igualdades de condições no ensino regular de forma a garantir o desenvolvimento cognitivo e social dos educandos por meio de currículos flexíveis, respeitando suas características individuais. Andrea Bruscato Professora da Faculdade de Educação do UniRitter e doutoranda em Políticas Educacionais pela UFRGS.


DICA DE MESTRE

Ferramenta para desenvolver hábitos de estudo Acompanho o trabalho do professor há muitos anos e tenho verificado, ano após ano, que um dos principais desafios no cotidiano escolar é o de gerar estratégias, organizar o currículo e buscar ferramentas para auxiliar os alunos a manterem sua atenção. Busca-se que o aluno tenha uma postura ativa com o tema desenvolvido em sala de aula, ao mesmo tempo que haja momentos indispensáveis de reflexão e de ‘diálogo’ interno. Os alunos referem que as aulas que mais aproveitam são aquelas em que há equilíbrio entre momentos de interações e de silêncio. A inquietude dos jovens não necessariamente precisa ser uma adversidade, pode ser nossa aliada. No Colégio Evangélico Alberto Torres Integra o projeto uma reunião de avaliação com os alunos (CEAT), voltamos nossos esforços para trabalhar o estudo como um hábito a ser praticado concentração da turma em grupo e individue concentração. Fizemos O estudo desde a educação infantil, almente. Um exemplo das conclusões a que alguns jogos e desafios assumindo caraterísticas também é um mentais para que vivenciem chegamos foi constatar que o último períopróprias de diferentes do de aula foi o com resultado mais baixo, no corpo, especialmente no hábito e, como campo dos sentidos, o que assim como o segundo período aquele de faixas etárias e da capacidade cognitiva de cada maior nível de concentração e participação. afeta a concentração positiva todo hábito, uma delas. A partir da Essas hipóteses foram orientando o grupo e negativamente. quinta série, a mudança a estabelecer coletivamente novos presEm seguida, propusemos pode ser por áreas do conhecimento supostos sobre atitudes de grupo, visando um desafio mais elaboradesenvolvido e do: cada um recebia uma contribuir para maior envolvimento e partie a incorporação de novos professores requerem dos aperfeiçoado” planilha em que teria de cipação. Além disso, em nossas reuniões de alunos maior organizaprofessores, pudemos organizar o planeja“graduar” sua atenção após ção e sistematização. Por mento pedagógico diferenciado, atendendo cada período de aula. Os isso, desenvolvemos nesta etapa escolar um às necessidades atencionais dos alunos. estudantes avaliavam a atenção propriamente trabalho específico de Rotina de Estudos, O estudo também é um hábito e, como todo dita, a participação em aula e a capacidade de envolvendo professores, coordenação e orien- lembrar o que foi tratado. Posteriormente, o hábito, pode ser desenvolvido e aperfeiçoado. tação educacional. Realizamos uma gama de A escola, o aluno e a família possuem papéis resultado dessa análise era inserido em uma atividades para desenvolver a rotina de estudo distintos e complementares no auxílio ao detabela tendo por base graduações numéricas e os hábitos saudáveis. Os professores são senvolvimento de hábitos de estudos saudáveis crescentes que variavam de um a quatro. protagonistas em várias atividades. e eficientes. Com essa proposta, conseguimos Depois de transcorrida uma semana, os dados Uma das ações de grande repercussão trabalhar uma das bases do aprendizado de da planilha foram convertidos em gráficos de entre alunos foi a elaboração do “Mapa da modo lúdico e interativo, além de fazer uso de Excel, resultando em um “mapa”. Os alunos Concentração”: por meio de jogos e ativida- ficaram satisfeitos em apresentar na turma um recurso gráfico atraente para o aluno. des os alunos foram estimulados a expandir um gráfico sobre suas próprias habilidades. Laura Oppermann Elter a auto-observação. O primeiro momento foi Fizemos uma série de reflexões e dePsicóloga, psicopedagoga e orientadora educacional do trabalhar com os estudantes o que é atenção senvolvemos algumas hipóteses sobre a Colégio Evangélico Alberto Torres de Lajeado.

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OPINIÃO

Avanços para uma educação transformadora física, psicológica e/ou sexual. Segundo Na sociedade atual, brasileira e mundial, dados do IPEA de 2013, no Brasil, cerca de é possível detectar estudos, pesquisas e es5,6 mil mulheres são vítimas de feminicítatísticas que demonstram a situação de dedio por ano. Entre elas, 40% são vítimas de sigualdade que marca a vida das mulheres e seus parceiros ou ex-parceiros. as separam dos homens na igualdade de diNesse sentido, a escola, como instituição reitos. Por mais que devêssemos reconhecer social, não está imune a essa realidade. ambos como seres humanos, com caracteMuitas vezes, o ambiente escolar ou mesmo rísticas físicas variadas, e assim iguais nas universitário reflete e reproduz as desigualsuas diferenças, continuamos convivendo dades. A formação docente continua defasae reproduzindo práticas pedagógicas que da e a maioria dos cursos de reafirmam e naturalizam licenciatura não conta com o preconceito, a hierarquia É importante disciplinas curriculares do masculino sobre o feque abordem o assunto. minino, contribuindo para que o debate O combate e a construção a perpetuação da desigualsobre as de novos valores sociais dade entre os sexos. Nossa educação, desde a desigualdades passam pela elaboração de novas práticas no ambiente infância, dentro e fora da entre homens escolar, nos currículos de escola, busca demarcar e diferentes cursos univerdelimitar comportamentos, e mulheres sitários e na formação dos posturas e escolhas esperaprofessores. Ao mesmo das de homens e mulheres. esteja na tempo, não podemos aguarNão nos questionamos agenda das dar fórmulas prontas e resobre as consequências ceitas. É importante pensar dessa criação diferenciainstituições” e praticar uma educação da, muito menos por que libertadora e que combata reproduzimos modelos as opressões. que se mostram falidos diante dos estudos A partir dessa reflexão, neste ano de 2015, realizados e da demanda de uma sociedade a Escola de Ensino Fundamental Jesus mais fraterna e justa. Bom Pastor, de Caxias do Sul, promoveu Para ilustrar a situação de desigualdade atividades que buscaram a reflexão da reapodemos observar dois exemplos signifilidade de homens e mulheres na sociedade. cativos. O primeiro relacionado ao mundo Inspirado pelo Dia Internacional da Mulher, do trabalho. A diferença salarial no Brasil em março, o assunto foi debatido e problecontinua ainda com as mulheres ganhando matizado pelo 9° ano da Escola, que a partir 30% a menos que os homens, em mesma da pesquisa e do diálogo em sala elaborou função e escolaridade; assim como a atual em grupos cartazes que pretendiam abordar e ainda pouco debatida dupla jornada de as desigualdades atuais entre mulheres e trabalho. Um segundo exemplo são os altos homens na sociedade. O trabalho ampliou índices de violência contra a mulher, seja

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a reflexão da data do oito de março, ou seja, de uma data de festejos e flores para uma data de observação crítica de uma realidade que ainda é desigual e que possui muitos pontos para serem superados. Os resultados das pesquisas realizadas pela turma apresentaram dois pontos principais em comuns: a desigualdade no trabalho e a violência contra a mulher. Um dos objetivos do trabalho foi a construção de uma consciência entre os jovens para que, no futuro, não sejam reprodutores da desigualdade e/ ou da violência. É importante que o debate sobre as desigualdades entre homens e mulheres esteja na agenda das diferentes instituições de ensino e nas práticas docentes para caminharmos na construção de uma educação transformadora, que combata todas as opressões, como o machismo. As bases de uma educação de futuro são valores de solidariedade, de respeito, de trabalho coletivo, de divisão de tarefas domésticas, de diálogo, de igualdade de acesso à educação, de remunerações iguais sem distinções entre os sexos. Para isso, não existem fórmulas e receitas prontas. Mas é importante que os educadores possam pensar novas estratégias para sua atuação cotidiana, estando assim em consonância com as diretrizes da educação brasileira e internacional, e também com a construção de um novo homem e uma nova mulher. Camila Tomazzoni Marcarini Professora de Língua Portuguesa do 9° ano da Escola de Ensino Fundamental Jesus Bom Pastor de Caxias do Sul.


Prêmios SINEPE/RS 2015

Quem ganha é o ensino

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C A PA

Até 2016, as escolas privadas fecharão o ciclo do ensino fundamental de nove anos

O que mudou com o ensino fundamental de 9 anos Por Vív ian Gamba

O

s próximos dois anos – 2016 para a maioria das escolas privadas – são de fechamento do primeiro ciclo do ensino fundamental de nove anos, ampliado pelo governo em 2006, após intensas discussões. A mudança foi grande nas instituições de ensino, que analisaram e readaptaram seus currículos à nova realidade e prepararam seus professores. “Esse processo de implantação do ensino de nove anos ainda está em andamento, estamos aprendendo a implantá-lo. De um modo gradual, foi construído ano a ano.

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As escolas fizeram reuniões periódicas no decorrer desse período para retomar o que vinha sendo desenvolvido no sistema de oito anos e que deveria e foi melhorado para o novo sistema. Não foi meramente uma troca de nomenclatura, uma adequação daquilo que se trabalhava numa 6ª série para um 7º ano. Foi feita uma avaliação e reflexão dos componentes curriculares e das competências desenvolvidas para esse novo aluno do sistema de nove anos”, avalia a assessora pedagógica e de legislação educacional do SINEPE/RS, Naime Pigatto. Tão logo a lei 11.274/2006 foi aprovada,

o Colégio Evangélico Augusto Pestana (CEAP), da Rede Sinodal de Educação, em Ijuí, fez a opção de implantar a nova proposta de ensino fundamental. O procedimento inicial foi o levantamento das idades das crianças da educação infantil e a elaboração de um plano que considerou como critério principal os vínculos socioafetivos, explica a orientadora pedagógica do ensino fundamental, Mariluza da Silva Lucchese. “A partir disso, os níveis da educação infantil foram reorganizados e as adaptações curriculares puderam ser planejadas prevendo uma estrutura conceitual mais atualizada à realidade social,


aos aspectos cognitivos em acordo com as faixas etárias compreendidas desde a educação infantil até o final do ensino fundamental (9º ano).” Também foi feito um trabalho especial com os professores. “Desenvolvemos um programa sistemático de formação que envolveu uma profunda releitura de suas ações docentes ao que se relaciona às metodologias, seleção do conteúdo programático e processos de avaliação”, afirma Mariluza. O aprofundamento dos estudos da neurociência foi um dos subsídios teóricos para a troca do sistema de ensino no Colégio Mauá, de Santa Cruz do Sul. “Para melhor compreender como as crianças aprendem, voltamos a estudar sobre as fases do desenvolvimento, o processo de alfabetização, a construção do número... Estudamos e debatemos com o intuito de aproveitar esse momento para realizar uma mudança significativa no projeto educativo para o novo ensino fundamental, deixando de lado o que não seria mais usado e possibilitando espaços para aquilo que, de fato, é importante e imprescindível no desenvolvimento das estruturas cognitivas”, coloca a coordenadora pedagógica Ana Santos. Essa mudança também considerou o que o colégio entendia por

“novas demandas”: o perfil das crianças contemporâneas, suas necessidades e capacidades nos aspectos sociais, afetivos, físicos, cognitivos e espirituais. Naime acredita que os alunos estão “diferentes” não apenas em função de terem entrado mais cedo no ensino fundamental, aos seis anos, mas pelos estímulos que têm hoje na sociedade, como o acesso a aplicativos na internet. “Eles são extremamente atentos à informação, e as escolas vêm se preocupando com isso, proporcionando uma série de atividades de formação continuada, para fazer a reflexão com os professores dos anos finais do ensino fundamental e também do ensino médio, já que esses alunos estão ingressando agora nessa nova etapa.” No Colégio Gaspar, de Venâncio Aires, foram três anos de preparação – 2005, 2006 e 2007 –, com encontros promovidos pela rede Sinodal e reuniões internas, inclusive para “aceitar a nova legislação, que previa um primeiro ano com seis anos, fase ainda muito lúdica”, recorda a professora aposentada Glacy Mohr Reck, coordenadora pedagógica da instituição nesse período. “Entendíamos que não seria apenas implementar mais um ano, mas redimensionar toda a educação infantil, para que esse aluno de seis anos

Colégio Mauá investiu nos estudos da neurociência para a troca do sistema de ensino

Entendíamos que não seria apenas implementar mais um ano, mas redimensionar toda a educação infantil”,

Glacy Reck

pudesse ser atendido com um currículo diferenciado, levando em conta as demandas trazidas para a sala de aula, respeitando diferentes ritmos e formas de aprendizagem. Várias questões foram elencadas para a construção desse novo currículo.” A professora conta que houve, no início, preocupação, questionamentos e muita angústia dos pais com essa nova proposta, já que eles sempre esperam que dentro de dois ou três meses (do primeiro ano) os filhos apresentem algum resultado em relação à leitura e à escrita. “Por que meu filho não sabe ler, não sabe escrever, como está sendo construída essa fase de letramento? Naquele primeiro ano precisamos de um atendimento muito minucioso para a comunidade. Mas, para nossa surpresa, ao final do ano e início do seguinte, esses pais davam depoimentos positivos sobre o desenvolvimento dos filhos.” Impacto positivo Para a coordenadora pedagógica geral do Colégio Monteiro Lobato, de Porto Alegre, e professora da gradiação e pós-graduação da Pedagogia da UniRitter, Silvana de Bôer Waskow, as mudanças podem causar, sim, algum impacto, mas nesse caso o saldo está sendo positivo. “Houve preocupação de coordenadores, gestores, direção e professores com a legislação nova. Mas, no meu ponto de vista, de acordo com os documentos que começamos a receber do MEC (Ministério

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da Educação), a fundamentação teórica era muito boa e vinha ao encontro de algo que as escolas já tinham (em discussão): a preservação da infância, com um currículo mais longo, as crianças entrando com seis anos num novo primeiro ano, com caráter mais lúdico.” De acordo com Silvana, tudo isso tranquilizou os educadores. Era algo novo, mas que as escolas vinham questionando, como o fim de um tempo rígido de alfabetização e o entendimento de que essa etapa do aprendizado não precisava ter um tempo tão estanque, assim como não acontece ao mesmo tempo para todas as crianças. A unidocência do quinto ano foi outro benefício do novo ensino fundamental, alega Silvana. “Trabalhar de uma forma interdisciplinar é sempre bom para a criança.” Toda a dinâmica e o envolvimento geral dos profissionais das instituições de ensino, e o estímulo à renovação por parte de todos os setores da escola foram alguns dos pontos que mereceram destaque nessa jornada, destaca Glacy. “Tive a satisfação de participar dessa construção, um processo que foi bastante desafiador e gratificante, que resgatou e valorizou muito o pedagógico. Todo o grupo – professores, pedagógico, administrativo – buscou novas leituras, reflexões sobre a prática do saber pensar, do aprender, da construção de novos conhecimentos a partir desse

Temos que pensar no professor que vem da Pedagogia, o quanto o ensino superior traz esse olhar de concepção da infância”,

Silvana Waskow

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Na Escola Fátima, o trabalho realizado com os professores foi fundamental para a mudança

processo que estava sendo implantado. Hoje temos pais bastante satisfeitos, a instituição com credibilidade na comunidade. Agora é só revisitar e revitalizar esse trabalho.” Após a revisão, ano a ano, da nova proposta para inclusão de novos elementos e práticas, o Colégio Gaspar fez uma reconstrução geral do currículo e o concluiu, no ano passado, quando a professora se despediu da instituição. Novos professores Na escola privada, os gestores tiveram uma grande preocupação em promover a formação continuada para os professores que trabalham no sistema novo, assegura Naime. “A formação ajuda a entender melhor o novo ensino. Não houve uma mudança por mudar. Esse novo ensino tem que ser diferente. E o professor também: ousado, com criatividade para fazer a releitura do seu trabalho.” O empenho das escolas acabou resultando, então, na mudança da dinâmica desses profissionais, que não são professores novos, mas novos professores, que tiveram a oportunidade de reinventar suas práticas. Na Escola Fátima, de Sapucaia do Sul, um dos fatores fundamentais para toda a mudança é o trabalho realizado com

os professores e a mudança do seu olhar sobre sua expectativa de aprendizagem, acredita a vice-diretora Flávia Costa Mentges. Ela concorda com Silvana ao ver a relação de coerência entre o processo de alfabetização e a ludicidade como uma grande vantagem. “Ao mesmo tempo que transformou essa etapa de escolarização em um processo muito mais prazeroso, deu-se ênfase ao respeito das condições cognitivas e psicológicas da criança e do adolescente. Com isso, o 9º ano é alcançado de forma mais amadurecida e significativa. Mudou o olhar do professor sobre as turmas no sentido de compreender as maturidades.” Para a diretora do Colégio La Salle Santo Antônio, Silvana Maria Menegat, é importante provocar a reflexão dos professores sobre o conceito de ensino-aprendizagem em todas as disciplinas. “Para os anos finais do ensino fundamental, especificamente, cabe questionar: para que serve o ensino de ciências (ou português, matemática, geografia)? Temos consciência da importância do componente com o qual trabalhamos no cenário de uma cultura técnico-científica? O que é mais importante: o conteúdo pelo conteúdo ou levar o aluno a gostar de aprender a aprender, utilizando a(s) disciplina(s)


e ensino médio do La Salle Santo Antônio. e suas inserções nas grandes áreas de O processo de uma produção pedaconhecimento como uma ferramenta gógica diferente trouxe um pouco mais de aprendizagem? Quais conteúdos são de autoria e autonomia no trabalho em prioritários? Quais habilidades, comsala de aula, aponta Mariluza, “o que petências e valores serão trabalhados?”, ainda não está pronto, questiona Silvana. muito há pela frente”. Para a coordenadora O que é mais No CEAP, a avaliação pedagógica do Mauá deste processo é conCláudia Kroth, por meio importante: o tínua e garante que os de um trabalho contíconteúdo pelo ajustes sejam feitos a nuo entre professores cada nova turma que indos vários níveis, foi conteúdo ou gressa no 1º ano e no 5º possível elaborar estraano, principalmente. “A tégias pertinentes aos levar o aluno estrutura dos nove anos processos estruturais a gostar de em três blocos (1º ao 3º do pensamento. “A foranos, 4º ao 6º anos, 7º ao mação do corpo docente aprender a 9º anos) com vocações foi vital. Conseguimos aprender?”, diferenciadas está ainda aproximar os conheciem construção.” mentos de professores da Silvana Menegat Silvana Waskow acreeducação infantil com os dita que “a consolidação das séries iniciais, bem e a compreensão de todos os envolvidos como os dos anos finais. Tivemos maior no processo de toda concepção diferenclareza de que nem sempre as crianças te que está sendo construída é um desacompreendem de fato aquilo que penfio num país tão grande como o Brasil”. sávamos que ensinávamos em outros Ela fala também da formação de protempos. Fomos aprendendo que essas fessores. “Temos que pensar na relação crianças precisam de tempo para acomodar as suas aprendizagens.” Cláudia diz que, com os estudos e experiências, os professores perceberam que as vivências dos alunos precisam ser multiplicadas, que eles precisam ser desafiados, provocados para pensar.

Desafios O educador Fávaro Alex Menger Lummertz estudou a implantação do ensino fundamental de nove anos em sua dissertação do mestrado, avaliando cerca de 40 trabalhos realizados em todo o Brasil. Ele conclui que não existia um eixo, uma sistematização, um norte das secretarias de educação e mantenedoras sobre o que fazer com esse ano a mais. “O Brasil estava dividido e o maior desafio que o ensino fundamental nos traz é fazer com que essa ampliação seja a garantia de uma aprendizagem mais efetiva. Era preciso fazer um estudo da metodologia, ver a questão de mobiliário, de rotina”, destaca o especialista, que também é coordenador pedagógico dos anos finais

do professor que vem da Pedagogia, o quanto o ensino superior traz esse olhar de concepção da infância, para que o ensino fundamental de nove anos não seja apenas questão da lei, mas de realmente dar um significado diferente ao ensino, que não seja mais conteudista, fragmentado...” Naime aponta na mesma direção ao afirmar que as licenciaturas ainda não conseguem trabalhar com esse futuro professor numa visão mais abrangente. “Falta oxigenar os cursos para esse perfil de aluno mais interativo. Temos profissionais que saem da graduação muito reticentes, com a visão do aluno que depende do professor, quando ele dialoga e, na verdade, ‘coloca o professor na parede’. Ainda há muita teoria e pouca prática nos cursos de licenciatura.” Resultados O tempo para reorganizar e reestruturar os currículos foi generoso, e possibilitou muita reflexão. E a implantação gradativa facilitou a formação dos professores, analisa a coordenadora pedagógica do Monteiro Lobato. “Aqui

Primeiro ano tornou-se mais lúdico

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grau de maturidade e responsabilidade no colégio temos uma integração bem grande dos professores dos anos ini- que a turma de 9º ano apresenta, bem como a melhora na compreensão e desenciais com a educação infantil e essa volvimento das habilidades. Percebemos preparação, essa troca, foi acontecendo. um maior preparo cognitivo dos alunos Os professores dos anos finais, que são ano a ano”, declara Flávia. Glacy acredo 1º ano, também têm uma formação dita que os alunos estão mais críticos. continuada, porque vai haver diluição de conteúdos, com tempo maior de “Nenhuma classe é homogênea, mas num aprofundamento no 9º ano.” Em re- contexto geral, os estudantes têm mais possibilidades, têm espaços maiores para lação ao perfil de aluno, Silvana não expressar sua criatividade. Essas (novas) sabe se houve mudança, mas aposta turmas estão melhores, com mais capaque esse novo ensino fundamental é a cidade de criação, de desenvolvimento e construção para um novo ensino médio, inovador, que relaciona mais as disci- de argumentação.” O CEAP é um dos poucos colégios do plinas, voltado à interpretação da reaEstado que já concluíram o ensino funlidade, à resolução de problemas. “Não damental de 9 anos. Mariluza afirma que é só pra fazer uma prova e passar no é perceptível uma qualificação significavestibular, mas com essa construção tiva na produção escrita, na capacidade do ensino com certeza vamos ter um e formação leitora. “As formas de exaluno com relação muito mais efetiva pressão dos conhecimentos trabalhados/ com o conhecimento.” aprendidos ampliaram-se. Componentes No Santo Antônio, a primeira turma do 9º curriculares foram se conectando uns ano será formada em 2015. “Percebemos aos outros, o que tem permitido amdurante esse período que com um ano pliarmos os projetos de trabalho em a mais é possível desenvolver várias sala de aula. O desafio questões antes limique temos agora é buscar tadas pelos oito anos, A produção a exploração de temas como a autonomia, a em diferentes níveis de responsabilidade, a pedagógica profundidade, de modo possibilidade de amdiferente trouxe a garantir uma aborpliação dos conceitos, dagem mais completa a pesquisa científica, um pouco mais a respeito de alguns que faz com que temas selecionados para o estudante pense, de autoria e cada bloco, fazendo a levante hipóteses, a autonomia no espiralidade esperada instrumentalização para uma aprendizagem dos alunos, novos trabalho em sala significativa permitir métodos de estudo...” uma melhor elaboração A diretora disse que de aula”, de conceitos por parte a turma passou por Mariluza Lucchese do aluno.” A primeira crises de amadureci“nova” turma do 9º ano mento, de confiança, ingressou no Ensino Médio em fevereide empenho, mas que ao longo do tempo ro. “Temos uma grande expectativa em tudo foi superado com bastante entusiastorno desta resposta, partindo da motimo. “Houve crescimento, sem dúvida, e vação dos alunos. De um modo geral, o colocar em prática algo que até então não que se percebe neste momento, alunos era possível nos faz vislumbrar um Enem mais questionadores, com uma boa com maior segurança e maturidade”, deexpressão oral dos conhecimentos em clara Silvana. A Escola Fátima também tem a pri- discussão. Com relação às avaliações formais específicas de conhecimentos meira turma concluinte do novo ensino por componentes curriculares, ainda fundamental em 2015. “Sentimos que o não temos resultados mensurados em melhor resultado nesta mudança foi o

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A unidocência do quinto ano foi outro benefício do novo ensino fundamental

função do 1º trimestre do ano estar transcorrendo.” Sejam quais forem os resultados, certamente são melhores que os obtidos no antigo sistema de ensino. Naime diz que, “por ser gradual, a implantação do ensino fundamental vem promovendo algo maravilhoso na escola: a possibilidade de poder olhar o que vem sendo realizado e está dando certo e o que pode ser melhorado”. Isso quer dizer que esse processo não está nem perto do fim. Como afirma Silvana Waskow, é um trabalho contínuo e dinâmico. “Temos que estar sempre revisitando currículos e buscando alternativas. Senão daqui a oito ou nove anos vamos ter que implantar outra mudança. Temos que implantar e consolidar essas ideias, essa troca entre escolas e educadores. Não de forma superficial, mas realmente refletir o que queremos alcançar com isso.” A pauta desta reportagem foi construída em reunião realizada na Delegacia Regional Vale do Rio Pardo, no Colégio Mauá em Santa Cruz do Sul, e contou com a colaboração dos seguintes educadores: Ana Maria Lopes dos Santos, Martin Brackmann Goldmeyer e Nestor Raschen (Colégio Mauá) e Tiago Becker (Colégio Gaspar Silveira Martins).


ESPECIAL

CEED garante autonomia da escola A decisão do Conselho Estadual de Educação (CEED), no dia 25 de março, de preservar a autonomia da escola em relação a normas disciplinares trouxe alívio às instituições de ensino e um novo enfoque às discussões que ganharam espaço na mídia, desde o ano passado, sobre a possibilidade ou não de expulsão do aluno. Conforme o conselheiro e vice-presidente do SINEPE/RS, Hilário Bassotto, o novo parecer (282/2015) é uma manifestação referente às normas de convivência que devem ser arregimentadas, aos direitos e deveres dos alunos e à garantia de acesso à educação. “O conselho realçou a autonomia da escola para mediar e buscar a solução dos conflitos, mas respeitada a legislação vigente. É outro foco de interpretação”, pontua o professor, ao afirmar que “prevaleceu o bom senso”. A assessora pedagógica e de legislação educacional do SINEPE/RS, Naime Pigatto, acredita que o parecer chama a atenção da instituição para o compromisso com a qualidade do trabalho desenvolvido na área das relações humanas, e traz a reflexão de que é fundamental ela estar preparada para estabelecer diálogos. “Além do desenvolvimento de atividades de sala de aula, que envolvam direitos e deveres, a instituição precisa estar preparada para a mediação de conflitos. Família, alunos, professores e equipe pedagógica da instituição precisam estabelecer um canal de comunicação que envolva respeito, ética e cuidado com a vida. E isso requer o trabalho integrado da instituição, à luz de seu projeto pedagógico. “ Para a psicopedagoga do Centro Lydia Coriat Raquel Alvarez Sulzbach é importante estabelecer regras. “A escola deve deixar claro e inclusive entregar por escrito – o regimento –, para que os pais assinem e se comprometam com aquilo que é lei dentro da escola. Numa entrevista, no momento da matrícula, mostrar que é aliada à família na educação do seu filho, mas que os limites são necessários para

Documento mantém autonomia da escola para mediar e buscar a solução dos conflitos

que se tenha uma vida coletiva harmônica.” A especialista explica que muitas das situações de quebra de regras acontecem em função de uma inabilidade social de lidar com o que é lei, contravenção. De forma geral, as escolas trabalham as normas de convivência na sala de aula, desde a pré-escola, afirma Raquel, e também acrescentam pontos em relação à educação formativa do aluno. “A questão da intolerância às diferenças, por exemplo, que por vezes na família é mais acirrada, a escola pode e deve ajudar essa criança a ter outro prisma de olhar. A escola tem o papel de contraponto com o senso comum, de dar a possibilidade para a criança de entender como se formam certas relações sociais e de formar esse aluno, antes de qualquer coisa, num cidadão ciente e capaz de conhecer as razões dos movimentos sociais. Assim muitos conflitos seriam evitados.” A formação constante dos professores, para que se entenda que sanções são permitidas, é outro ponto necessário para garantir a boa convivência, aponta a psicopedagoga. “A escola é um reflexo da sociedade. Ela prepara, projeta, mas está a serviço. E às vezes tem o mesmo

limite que a sociedade tem de identificar o que pode e o que não pode em relação ao outro.” Há situações que extrapolam, que às vezes o trabalho da sala de aula não atinge de modo satisfatório, explica Raquel, ao dar como exemplo alunos que passam por situações traumáticas e precisam de atendimento fora da escola. O extremo das medidas disciplinares, ou seja, a transferência assistida do aluno, é a última instância de um processo na busca da resolução para o problema estabelecido, segundo Naime. “De acordo com a gravidade de cada caso, depois de passadas por todas as etapas como aconselhamento e advertência escrita, reunião com os pais e encaminhamento ao conselho tutelar, o papel da escola é auxiliar a família na busca de uma instituição que atenda às suas necessidades. O importante é que a criança não pode ficar fora do sistema de ensino.” Para Raquel, “o papel das instituições de ensino é insistir o tempo todo”, e o ideal é que a medida da saída de um aluno de determinada escola seja o conjunto da avaliação da escola, da família e do terapeuta, que concluem que o espaço não beneficia mais a criança.

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PREMIADAS

Prêmio para quem cria, inova e compartilha Reconhecer a excelência dos trabalhos realizados pela rede privada de todo o Rio Grande do Sul e mostrá-los às demais instituições é o objetivo dos Prêmios do SINEPE/RS. Entre os pré-requisitos para concorrer não se destacam, necessariamente, o tamanho da escola, estrutura, recursos financeiros, ou se está vinculada a alguma rede, mas o ineditismo e o resultado, pontua a coordenadora de Comunicação e Marketing do SINEPE/RS, Luciana Jeckel. “É possível ser criativo sem um grande investimento, conseguir envolver as pessoas, causar impacto. É isso que vale. Construir algo novo e fazer a diferença na vida de alguém, no entorno da instituição, na comunidade, e, claro, obter resultados.” Duas das escolas que tiveram destaque em 2014 no Prêmio Responsabilidade Social – categoria Desenvolvimento Cultural são exemplo dessa premissa: são do interior do Estado e participaram pela primeira vez da premiação. O Colégio Gustavo Vieira de Brito, de Vacaria, ganhou o Ouro com o projeto Festival Estudantil de Cinema, que propõe a criação de filmes por alunos da 8ª série do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio. A diretora da instituição, Luciana Vieira de Brito, afirma que a decisão de participar ocorreu pela relevância do projeto, já na sétima edição, que ultrapassou os limites do município. “É uma iniciativa inovadora, que contribui para construir conhecimentos, desenvolver talentos, vivenciar a arte e produzir cultura. Era importante mostrar esse trabalho. Concorremos com escolas de grande porte, centenárias, e conquistamos com muito orgulho o troféu Ouro”, comemora. Para a diretora, o prêmio representa o “reconhecimento do comprometimento da escola em realizar um trabalho educativo de qualidade, que possibilita

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Gustavo Vieira de Brito, de Vacaria, participou pela primeira vez do Prêmio e conquistou o Ouro

fazer a diferença na comunidade”. O Colégio Regina Coeli, de Veranópolis, que ganhou Prata com o projeto Sarau Artístico Literário, decidiu participar após a sugestão de alguns professores que “acreditavam que uma obra de tamanha excelência não deveria ficar restrita à comunidade veranense”, coloca a equipe coordenadora. “Alice em Terras Gaúchas”, que reuniu 1500 espectadores na cidade, em julho do ano passado, teve início dois anos antes, com a proposta de que os alunos, com base na leitura de obras clássicas, fizessem pesquisas e análises críticas e comparativas para criarem o seu próprio espetáculo. De acordo com os professores que elaboraram o projeto, não houve dificuldade no desenvolvimento do projeto escrito, seguidas as diretrizes disponibilizadas no hotsite dos Prêmios SINEPE/RS (www.sinepe-rs.org. br/premios). E deu certo. “Fazer parte da elite da educação gaúcha, através da indicação e posterior premiação, tornou-se motivo de orgulho para o Colégio Regina Coeli”,

afirma a equipe coordenadora. A coordenadora de Comunicação e Marketing do SINEPE/RS lembra que, para participar da premiação, o projeto deve ter pelo menos um ano de vida, que é o tempo de uma instituição aplicá-lo e obter resultados. A estrutura deve conter a apresentação do projeto, justificativa, metodologia e apresentação de resultado. “A ideia tem que ter sido posta em prática”, alerta Luciana, visto que chegam ao Sindicato alguns bons trabalhos que ainda não saíram do papel. “São ótimos candidatos a premiações futuras.” O Coordenador dos Prêmios do SINEPE/ RS, Osvino Toillier, incentiva todas as instituições de ensino a participar e assegura que a condição de premiação é “absolutamente igual” para todas. “A escola deve se preocupar em documentar o que faz, reunir dados e participar. Nosso objetivo é dar visibilidade aos projetos maravilhosos que são desenvolvidos por nossas instituições, independentemente do seu tamanho ou dos seus recursos.”


Colégio premiado apresenta projeto em evento do PGQP proposta de levar o cinema para dentro da escola. Alunos da 8ª série do Ensino Fundamental até a 3ª série do Ensino Médio, juntamente com professores e coordenadores, criam e produzem filmes que são apresentados para toda a comunidade. O objetivo é motivar a sociedade a refletir sobre a realidade, revelar talentos, provocar um novo olhar, a sensibilidade e a afetividade dos alunos, conforme os coordenadores. O cinema foi a forma escolhida para integrar e educar com diversão. Mas o trabalho que já era inovador ganhou novas dimensões: além de estimular o turismo regional com a divulgação de aspectos culturais e belas paisagens da Região dos Campos de Cima da Serra, virou ele próprio atração turística, ao entrar como evento cultural no calendário de Vacaria. A instituição conta, hoje, com o apoio da Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer do município e das prefeituras dos municípios vizinhos

Mathias Cramer/temporealfoto.com

O Festival Estudantil de Cinema do Colégio Gustavo Vieira de Brito, de Vacaria, vencedor do 9º Prêmio de Responsabilidade Social do SINEPE/RS, foi apresentado no 2º Fórum Educação que Dá Certo, do Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP), dia 28 de abril, em Porto Alegre. A coordenadora pedagógica da instituição, Cláudia Adriana Zamboni Rossi, apresentou o case “Os bons exemplos do saber: impulsionando o aprendizado dos alunos”. O trabalho foi o único do interior do Estado, e dividiu espaço com a Escola Municipal de Ensino Fundamental Marcírio Goulart Loureiro, de Porto Alegre, e a Escola Municipal São Francisco, de Luzerna (SC), vencedora do 2º Prêmio RBS de Educação 2014. “Nosso trabalho foi valorizado primeiramente pelo SINEPE/RS, e agora nos sentimos gratificados com a participação nesse evento, que fala de práticas educacionais que dão certo.” O projeto nasceu há oito anos, com a

Painel apresentou práticas de sucesso de escolas do RS e de SC

Cláudia: “Visibilidade vai qualificar ainda mais o projeto pedagógico”

para a realização do festival. Na edição de 2014, o evento teve três sessões diárias ao longo de quatro dias e reuniu cerca de 5 mil pessoas. “A comunidade acreditou no projeto da escola e estamos muito satisfeitos com os resultados”, comemora Cláudia. Apresentar o case para todo o RS no fórum do PGQP é, para a coordenadora pedagógica, a possibilidade de demonstrar que a escola tem que extrapolar os muros da instituição e mostrar que é possível trabalhar um processo educativo voltado à realidade local, regional, tendo em vista os acontecimentos sociais. “A visibilidade que o Fórum Educação que Dá Certo traz para o Colégio Gustavo Vieira de Brito vai qualificar ainda mais o projeto pedagógico e mostrar que a nossa instituição prioriza a participação social e a qualidade do ensino.”

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ENSINO PR I VA DO

La Salle Carmo promove capacitação para pais No dia 18 de março ocorreu a palestra inaugural do programa de capacitação para pais ‘Educar é Ensinar a Viver’, no Colégio La Salle Carmo, de Caxias do Sul. A iniciativa é desenvolvida pelo Instituto Anima Mundi, uma organização não governamental atuante em diversos Estados. O Programa faz parte de um grande projeto mundial em Educação para a Paz, e já foi vivenciado por mais de 30 mil pais e educadores de diversas instituições.A palestra foi ministrada por Keivan Saberin e abordou o tema “A Comunicação do Amor entre Pais e Filhos:o Olhar e o Toque”. A atividade foi realizada no auditório da escola e contou com espaço para as crianças.

Palestra inaugural abordou a comunicação do amor entre pais e filhos

Alunos dizem não à desigualdade entre mulheres e homens

Parte do grupo de alunos que integram o projeto com as professoras responsáveis

CEAT incentiva alunos a participar de ações solidárias Identificar, compreender e contribuir para a transformação de vidas são objetivos do CEAT Social, atividade optativa oferecida aos estudantes uma vez na semana em ambas as unidades do Colégio Evangélico Alberto Torres (CEAT), em Lajeado e Roca Sales. Coordenada pelas professoras Elise Giongo e Ana Cristina Kirschehheim, a ação propõe que os estudantes se tornem agentes de transformação ao participar de ações solidárias. Na Páscoa, os alunos de Lajeado produziram coelhinhos que foram entregues à Liga Feminina de Combate ao Câncer de Lajeado para posterior distribuição a pacientes. O grupo também reciclou papel e fez cartões de Páscoa para os colaboradores do CEAT. A oferta do CEAT Social é uma das atividades vinculadas ao planejamento estratégico do colégio de 2015 a 2020, que busca qualificar os serviços optativos e ampliar programas sociais, ambientais e culturais.

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Lembrando a trajetória das mulheres e o Dia Internacional da Mulher, o 9° ano da Escola Fundamental Jesus Bom Pastor - Pastorinhas, de Caxias do Sul realizou uma pesquisa sobre a atual situação das mulheres na sociedade. O objetivo foi refletir sobre a desigualdade entre os gêneros e expandir o olhar diante dessa importante data, muitas vezes vista apenas como comemoração ou usada para incentivar o consumo. A pesquisa foi a base para a troca de opiniões em sala e para a produção de um cartaz, feito em grupos. Os estudantes tiveram autonomia para escolher o tema que iriam trabalhar. Do total de seis grupos, cinco abordaram o tema da violência contra a mulher, e um dos grupos sobre feminismo, duas das principais reivindicações das mulheres ao longo da história.


Colégio Israelita inova com o ensino 3.0 O Colégio Israelita Brasileiro, de Porto Alegre, criou o projeto Israelita 3.0, com o objetivo de promover o desenvolvimento integral dos estudantes, potencializando suas competências cognitivas, físicas e emocionais. A ideia é constituir uma escola judaica de excelência e, para isso, não se limita a contemplar apenas as bases do currículo brasileiro. Inclui o estudo e vivência do judaísmo e mais de 6 horas semanais de trabalho em Língua Inglesa. Conforme a diretora geral, Mônica Timm de Carvalho, as novas metodologias educacionais, pautadas pela valorização aos diferentes tempos e estilos de aprendizagem, têm como propósito o desenvolvimento máximo das capacidades de cada um dos estudantes. Ela destaca que com essa iniciativa é possível favorecer e qualificar a Proposta oferece mais de seis horas de Língua Inglesa e atividades extracurriculares inserção da criança em uma sociedade de complexas mudanças comportamentais, intenso desenvolvimento tecnológico para acolher alunos em momentos de lanche e almoço. Ao final do e significativos avanços na ciência. turno, os estudantes podem ainda participar de Clubes: Esportes, São oferecidos serviços de alimentação, com monitoria para o Arte, Robótica, Musicalização, Capoeira e Patinação, além de atendimento às crianças, em num ambiente especialmente concebido contar com a alternativa da Recreação, esta sem custo adicional.

Ex-aluna do Maria Imaculada é indicada a prêmio nacional

Colégio Martin Luther contra a corrupção

A ex-aluna do Colégio Maria Imaculada, de Porto Alegre, Joana Lopes foi indicada para o Prêmio Claudia 2015, na categoria Revelação, para mulheres com menos de 30 anos. A premiação é a maior na América Latina e tem como objetivo descobrir e destacar mulheres competentes, talentosas, inovadoras e empenhadas em construir um Brasil melhor. Joana, que concluiu o Ensino Médio no ano passado e Joana atuou no Centro de atualmente cursa Relações Voluntariado por cinco anos Internacionais na UFRGS, estará representando o Colégio por meio de sua participação ativa no Centro de Voluntariado. Ela ingressou no projeto em 2009, quando cursava o 7º ano do Ensino Fundamental.

O Colégio Martin Luther, de Estrela, iniciou a campanha ‘Pequenas Corrupções – Diga Não’, inspirada pela campanha de mesmo nome criada pela ControladoriaGeral da União (CGU). O objetivo é conscientizar os cidadãos para a necessidade de combater atitudes antiéticas e ilegais que costumam ser culturalmente aceitas e ter a gravidade ignorada ou minimizada. Ações como pegar o que não é seu, riscar classes, colar na prova, jogar lixo no chão, entre outras, serão combatidas e analisadas sob o ponto de vista ético. Ao longo do ano, cada ação que compõe a campanha será trabalhada mensalmente com os alunos, que serão envolvidos em discussões, palestras, entre outras atividades.

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ENSINO PR I VA DO

La Salle Caxias alia saberes e tecnologia Os alunos do Colégio La Salle Caxias participam do projeto “Matemática através de games e desafios”. Com a iniciativa, os estudantes fixam os conteúdos trabalhados em sala de aula e verificam os conhecimentos adquiridos por meio da utilização de uma plataforma digital. A ferramenta favorece a avaliação diagnóstica permanente do desempenho dos alunos e possibilita a intervenção imediata. O Projeto é oferecido no formato extracurricular para os alunos de 6º e 7º Anos do EF II e foi inserido no currículo de 8º e 9º Anos, em uma aula de Matemática semanal. Os jogos educativos favorecem a aprendizagem e a construção do pensamento lógico-matemático, despertam o interesse, a persistência e a habilidade de resolver desafios.

Plataforma digital torna a Matemática mais interessante

Alunos da IENH na Febrace

Entrega contou com a presença de Laura, aluna que venceu o câncer

Sinodal doa R$ 9,5 mil à AMO Após arrecadar R$ 9.523,00 na Feira de Uniformes Usados do Colégio Sinodal, de São Leopoldo, o Círculo de Pais e Professores da escola (CPP), que organizou a venda das roupas, realizou a doação de todo o valor arrecadado para a Associação de Assistência em Oncopediatria (AMO). A Associação dá apoio a crianças com câncer nas cidades de São Leopoldo, Novo Hamburgo, Estância Velha, Campo Bom, Portão e Sapiranga. A verba foi entregue pelo diretor do Colégio Sinodal, Ivan Renner, e pelo presidente do CPP do Colégio, Yuiti Katsurayama, ao presidente da AMO, Valdir Marques de Souza, na sede da entidade em Novo Hamburgo. Durante a visita, Laura Malmacedo, aluna do Colégio Sinodal, que enfrentou e venceu a leucemia recentemente, doou à AMO a peruca que utilizou durante as sessões de quimioterapia.

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Os alunos Bruno Hansen Schein e Fernando Kuntze Cassel, do 3º ano do Ensino Médio da IENH – Unidade Fundação Evangélica, de Novo Hamburgo, participaram da 13ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, a Febrace. A feira ocorreu entre os dias 17 e 19 de março em São Paulo. Acompanhados do professor Leonardo Kuhn, que orienta o trabalho, os alunos apresentaram o projeto sobre a utilização de satélites artificiais na produção de energia elétrica. Foi por meio da XXXVIII Feira de Ciências da IENH, que ocorreu durante a Semana CIARTEC de 2014, que os alunos receberam o credenciamento para a Feira de São Paulo.

Estudantes apresentaram trabalho sobre o uso de satélites artificiais na produção de energia


Colégio Dom Bosco celebra 63 anos O dia 19 de março foi de festa para o Colégio Dom Bosco, de Porto Alegre: a comemoração dos 63 anos. Para festejar a data, os alunos confraternizaram com cachorro-quente e refrigerante no recreio. Em sala de aula, realizaram atividades relacionadas ao tema, como painéis, colagens e pesquisa histórica. A trajetória do Colégio começou em 1942, com a chegada na capital gaúcha, do salesiano P. José Mássimi, fundador da Casa do Pequeno Operário. O espaço, inaugurado em 1952, tinha como objetivo acolher jovens e iniciá-los em alguma atividade, como fabricação de brinquedos, sapataria, tipografia, marcenaria e cerâmica. Hoje, a escola é referência no RS, com uma estrutura extremamente organizada e moderna.

Comemorações entre os estudantes marcaram a data

La Salle Dores realiza Projeto Acolhida

Alunos fizeram várias atividades com a letra inicial de seu nome

Alfabeto de um jeito diferente no São Carlos No dia 27 de fevereiro, o Colégio São Carlos, de Caxias do Sul, realizou o projeto “O Aniversário do Seu Alfabeto”. Os 1os anos do Ensino Fundamental fizeram uma festa com atividades relativas ao alfabeto, a fim de estimular o processo de desenvolvimento quanto à leitura, à escrita, à criatividade e à oralidade. Os alunos produziram chapéus com a letra inicial de seus nomes, fizeram docinhos e ensaiaram uma música para ser apresentada ao Seu Alfabeto. Vestindo uma cartola, óculos coloridos e uma capa com todas as letras, chegou em grande estilo o aniversariante. As crianças ofereceram a festa e o personagem retribuiu o agrado com um chaveiro com a letra inicial de cada criança.

Estudantes que ingressaram este ano no Colégio La Salle Dores, de Porto Alegre, participaram do Projeto Acolhida. O objetivo da atividade foi promover a integração, a valorização e a partilha de sentimentos dos alunos novos nesta nova etapa de suas trajetórias. Mediada pela orientadora educacional Marcia Moraes, a proposta procurou fortalecer as relações interpessoais, para que os recém-chegados lassalistas se sentissem acolhidos. A oportunidade também serviu para que compartilhassem suas experiências anteriores com os demais colegas, expressassem suas expectativas em relação à nova escola e manifestassem o que esperam para este ano letivo.

Novos alunos falaram sobre suas expectativas

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ARTIGO CIENTÍFICO

A legitimação de pais e professores como figuras de autoridade Mariane Inês Ohlweiler*

RESUMO O tema central deste artigo é o conceito de autoridade e suas implicações nos âmbitos familiar e escolar. Com o intuito de pensar histórica, filosófica e socialmente questões atreladas ao conceito, bem como demais aspectos atrelados ao mesmo, o referencial teórico abarca autores como Hannah Arendt e Michel Foucault. Para pensar questões pertinentes da contemporaneidade que dizem respeito à infância, serão trazidas algumas percepções de crianças de seis a onze anos entrevistadas para uma pesquisa de mestrado sobre o exercício da autoridade vinculado à parentalidade e à docência. Palavras-chave: Autoridade. Relações de poder. Transmissão Introdução Este trabalho tem enfoque nas discussões sobre infância e as relações entre adultos e crianças. De forma recorrente temos escutado e acompanhado reportagens, queixas e conclusões de ordem diversa acerca dos impasses entre alunos/as e filhos/as e seus pais e professores/as. Especialistas de diferentes áreas são convocados a falar sobre as possíveis causas das relações conflituosas entre crianças, adolescentes e adultos da contemporaneidade. Dada a amplitude de questões imbricadas nesta problemática que merecem aprofundamentos de diferentes áreas e sob aspectos diversos, irei deter-me aqui em um elemento específico, conforme já anunciado acima, qual seja, o exercício da autoridade vinculado à parentalidade e à docência. É frequente, entre adultos, a percepção de que durante a sua infância havia uma atitude respeitosa das crianças em relação aos adultos. Se realmente assim o era não sabemos dizer, pois é próprio da rememoração do passado o tom de enaltecimento e otimismo. Intrigada com a afirmação reiterada de que as crianças não obedecem mais, ou ainda de que não há mais autoridade, senti-me motivada a interrogar os sujeitos tão “presentes” nestas falas e constantemente nomeados como indisciplinados.

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a (in)disciplina escolar é necessário cuidado para não confundir autoridade com um sinônimo ou garantia de ordem e respeito no espaço escolar, pelo contrário, é pertinente inclusive questionar como se construiu essa ideia. Autoridade diz respeito à educação, tanto no âmbito familiar quanto no escolar, e claro, não se limita a estes espaços. Pensar, falar, pesquisar e analisar o tema da autoridade envolve questões de subjetividade, e as relações que se estabelecem entre os sujeitos do processo de ensino-aprendizagem. A relação de autoridade, se legitimada, O conceito de autoridade e as relações pode potencializar e otimizar a relação entre educacionais os envolvidos, mas cabe a ressalva de que O conceito de autoridade é oriundo do termo muitas vezes o que se estabelece é o autoem latim augere, que significa aumentar. ritarismo ou formas de “obediência cega”. Esta denotação pode se tornar mais clara se Em linhas gerais, não basta que o professor, tomarmos como exemplo a delegação de reis em uma relação pedagógica, por exemplo, a partir da Igreja. Ou seja, embora os reis já simplesmente deseje e procure instaurar-se possuíssem poder, era a Igreja que aumentava como figura de autoridade através de um esse poder a partir da nomeação e coroação. exercício árduo de disciplina. Para que uma Assim, durante o período da Idade Média era relação de autoridade se estabeleça é sempre a Igreja que possuía a autoridade e autorizava necessário que o Outro (Alter) da relação, o poder dos Estados. (ARENDT, 1997). nesse caso, o aluno, legitime Paulatinamente, essa o professor como tal, ou seja, autoridade passou a ser A autoridade quem confere autoridade é disputada pelas monarpode legitimar aquele que desejamos que quias, e ao se criarem os Estados Nação, a partir do o exercício de nos reconheça como tal. Para dialogar com a conperíodo da Modernidade, poder mas ela ceituação de autoridade de supôs-se uma analogia Arendt, de algo que se dá e se entre os chefes de Estado em si não é constrói em relação, agrego e os chefes de família. Em as contribuições de Foucault, outras palavras, passou sinônimo de autor que teoriza profunda e a constituir-se em autopoder” densamente sobre as relações ridade aquele que sabia de poder. Foucault (2008) gerir com sabedoria um destaca que o poder se dá em relação e não se Estado e/ou uma família e era reconhecido constitui como posse, aquisição ou conquista pelas suas ações. Cabe aqui a ressalva de que de alguém. Não há como possuir o poder, ele muitos são os “mandatos” cujo autoritarismo sempre ocorre em relação, em redes difusas e é confundido com autoridade; eis um dos capilares, produzindo-se a cada instante, “em motivos pela conotação negativa com que o todos os pontos, ou melhor, em toda relação conceito de autoridade pode ser interpretado. entre um ponto e outro. O poder está em toda Segundo as palavras de Arendt (1997), a parte; não porque englobe tudo e sim porque autoridade é algo que se legitima, que não deprovém de todos os lugares” (FOUCAULT, pende de coerção, persuasão ou uso da força 2007, p. 103). para tornar-se reconhecida. A autoridade Assim, torna-se pertinente atentar para as pode legitimar o exercício de poder mas ela críticas que se dão de forma “muito gratuita”, em si não é sinônimo de poder. No entanto, e que buscam um responsável em específico, para que haja formas legitimadas e reconhecomo por vezes ocorre com a figura do/a cidas de autoridade, é necessário “alguém” professor/a ou das famílias consideradas “deque por ela se responsabilize. sestruturadas”. Para Cabistani (2007), falar Ao falar de autoridade e na sua relação com Nesse sentido, em uma pesquisa cujo objetivo era analisar as percepções infantis sobre relações de poder e autoridade e os seus reflexos no espaço escolar, questionei crianças de seis a onze anos sobre situações de mando e obediência, relações entre alunos/a e professores/as, pais e filhos/as, contestação de atitudes de adultos, entre outros. Na sequência trago algumas dessas percepções para potencializar a discussão sobre o conceito de autoridade.

em crise de autoridade não é o mesmo que dizer fim da autoridade: Uma crise revela que as respostas que tínhamos para determinadas questões tornaram-se insuficientes. No que diz respeito à parentalidade, a crise da autoridade terá que ser pensada à luz das problemáticas que o nosso tempo coloca (CABISTANI, 2007, p. 98). Relações intergeracionais e transmissão A autoridade e atrelada a ela as relações de poder são temas que nos remetem a mudanças dignas de nota ocorridas a partir da metade do século XX, como: as relações entre as gerações; a inserção da mulher no mercado de trabalho e a consequente reconfiguração da organização familiar – no sentido das implicações disso no cuidado e na educação dos filhos; o direito à palavra – negado em outros tempos às crianças; as formas de transmissão intergeracional e suas possibilidades e formas de legitimação. Cabe aqui a ressalva de que longe da conotação de uma mera “transposição de conteúdo”, compreendo a transmissão, e mais especificamente a transmissão intergeracional (ou seja, entre diferentes gerações) como aquilo que de alguma forma, por vezes até não intencional, passa de um sujeito para outro. Para além dos processos intencionais de educação, daquilo que enquanto adultos desejamos transmitir para as gerações mais jovens, estamos implicitamente, transmitindo formas de pensar, de agir, enfim, de compreender, ser e estar no mundo. Arendt (1997) afirma que ao introduzir as crianças no mundo, os adultos assumem uma dupla responsabilidade educativa: a de gerir a vida e o desenvolvimento da criança e possibilitar a continuidade do mundo, ou seja, educar a nova geração de forma que possa viver em sociedade e dentro das normas e regras do sistema social de sua cultura. Responsabilidade educativa que assume, segundo a autora, a forma de autoridade. Acrescento às palavras de Arendt a afirmação de Cabistani (2007), que destaca o fato de uma autoridade depender do laço social que a organiza, fator este, que nos impulsiona a “perguntar o que legitima uma autoridade atualmente, pois a hierarquia não é mais

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eles “tinham que respeitar” os pais. Torna-se suficiente para assegurar sua efetividade” perceptível que as crianças incutem em si (CABISTANI, 2007, p. 94). e constituem sua subjetividade a partir da Ou seja, para que haja formas legitimadas afirmação de que “as crianças não respeitam e reconhecidas de autoridade, é necessário mais e estão cada vez mais desobedientes”; “alguém” que por ela se responsabilize; por para, além disso, está o fato de que muitos isso, torna-se pertinente também pesquisar pais justificam isso devido à forma como a concepção atual do próprio conceito de seus pais impunham os limites antes. Ou responsabilidade. Ao partir do pressuposto seja, como se justificassem às crianças a inde que a legitimação e o reconhecimento viabilidade de uma relação de autoridade na de figuras de autoridade implica “alguém” contemporaneidade, uma vez que os castigos que se responsabilize pela criança, infiro de outra época não são mais permitidos. que pais e professores se responsabilizam Em outras palavras, é como se nós adultos pelas crianças, mas tal responsabilidade destacássemos para as crianças a existência parece concentrar-se mais nas demandas de uma hierarquia que financeiras e de cuidado, resó é possível através de lacionadas respectivamente Há novas castigos e punições físicas. ao sustento da família e à configurações Nesse caso, volto à conceiresolução de problemas na tuação de Hannah Arendt, escola. de figuras de não se trataria nesse A maioria das crianças caso, de uma relação de entrevistadas, quando interautoridade” autoridade, pois esta seria rogada sobre as diferenças imposta através da coação entre ser criança e ser adulto, e persuasão. Dessa forma, ao fundamentar a se haveria diferenças, falou sobre as responimpossibilidade do respeito – o qual parece sabilidades relacionadas ao mundo do trabater existido em “plenitude” no passado dos lho e ao sustento da família, como exemplifiatuais adultos, é como se instaurássemos co a seguir: Tem que trabalhar pra sustentar um “não lugar” para as relações atuais entre a família; Ai, é chato; Tem que pagar conta, adultos e crianças, e adultos e adolescentes pagar aluguel, luz, água. Destaco ainda se estabelecerem. algumas respostas ao perguntar o porquê Nas palavras de Arendt (1997), a autoriser filho seria melhor: A gente não precisa dade, juntamente com a tradição, desaparepagar contas; Eles tem muita preocupação; ceu do mundo moderno, “o próprio termo Tu pode mandar no teu filho, mas tu tem que tornou-se enevoado por controvérsia e contrabalhar pra sustentar a família; Não deve fusão” (p. 127). Mas, como todas as crises ser bom ser pai, (...) tem que enfrentar um são inerentes à criação, questiono, não atramonte de problema; Eu não queria ser adulto. vés de um porquê, mas de um como e de que A conscientização em relação ao cuidado modo as subjetividades vêm se constituindo, por parte das crianças é extremamente imem diferentes discursos e práticas, especifiportante, mas questionamos como tem se camente quanto ao conceito de autoridade. construído discursivamente as figuras de Saliento a pertinência deste tema, preautoridade para as crianças, quando a parenmente na área de pesquisa em educação, e talidade e a docência são caracterizadas por a respeito do qual – longe de um sentido elas como algo dispendioso e sofrido. saudosista, “é preciso sempre examinar as Podemos supor que o lado que sobressai do condições de possibilidade em que a escola sentido da autoridade é o do cuidado, talvez moderna se gestou e tentar compará-las às nem tanto proteção, mas cuidado no sentido condições de possibilidade que hoje estão aí.” mais latente de preservação da vida, daquilo (VEIGA-NETO, 2003, p. 123). Condições de que diz respeito principalmente à alimentapossibilidade que emergem da sociedade que ção e à moradia. tem gestado novos modos de existência nos Mas também não há como fugir de uma mais variados espaços, para além da escola conclusão: os pais reforçam em suas falas e da família. a “crise na educação e de autoridade”; o Para Arendt (1997), os adultos se eximem quanto “era diferente antigamente”, o quanto

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cada vez mais da responsabilidade de educar os “novos” que vêm ao mundo. Se de fato assim o é, questiono de que modo a responsabilidade pela educação vem perdendo seu “efeito de verdade”. E afinal, o que tem sido passível de transmissão quanto às significações do mundo adulto? Para além do “peso” da necessidade de sustento da família? O que se transmite? De que forma? Há lugar para a palavra? De que modo as gerações de pais e professores têm gestado a educação das gerações atuais? Ou ainda: de que modo estas têm concorrido com as outras, variadas formas de socialização presentes na sociedade? Quais os efeitos de verdade produzidos acerca dos modos de educar que ganharam força e visibilidade a ponto de tornarem-se enunciados presentes nos processos educacionais? Trago essas questões para exercitar a suspensão dos modos já muito formatados com que temos pensado sobre questões relativas à Educação. Concluo que há novas configurações de figuras de autoridade e que estas se constituem a partir das demais conjunturas, sejam estas relativas a questões de gênero, de economia, de política, enfim, a elementos vários que, como afirma Foucault, compõem o tecido e a ligação entre os diferentes pontos que nos sujeitam e pelos quais somos subjetivados. *Doutora em Educação – UFRGS, professora em cursos de Licenciatura e Pedagogia do Centro Universitário Univates. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Tradução: Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1997. CABISTANI, Roseli Maria Olabarriaga. Sentidos da função paterna na educação. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação – UFRGS. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I – A vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Albuquerque. Rio de Janeiro (RJ): Edições Graal, 2007. _____. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro (RJ): Edições Graal, 2008. VEIGA-NETO, Alfredo. Foucault, um diálogo. In: Revista Educação & Realidade. Porto Alegre: UFRGS, v. 29 n.1. Jan/Jun 2004, p. 7-25.

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CULTUR A

Além do que se vê como estatuto de verdade e deixar claro que e fatos documentados pelo fotógrafo, dono de um olhar sutil e alegre. O livro apresenta são apenas representações feitas por deteressa diversidade em quatro seções. E em minados sujeitos que ocupam determinado lugar na história. Na contramão, ao realicada uma delas é possível perceber o fio de resistência que atravessa zarem imagens próprias, a obra do documentarista. os fotógrafos populares Fotógrafos Fotografando e viajando, acabam se transformando populares em “sujeitos da represenele conta as histórias de um Brasil que persiste, resiste e tação da sua própria históacabam se reinventa o cotidiano com ria”, conforme argumenta o pesquisador Milton transformando alegria, beleza e paixão. Guran em seu artigo “O A você, educador, fica o em ‘sujeitos da convite para trazer o debate olhar engajado: inclusão visual e cidadania” (2007). dentro da sala de aula e, representação apara partir da fotografia, incenUm dos frutos que começam a emergir de todo esse da sua própria tivar seus alunos a buscarem um olhar mais crítico trabalho chama-se “Em história’” Foto”, o primeiro livro do acerca das fotografias que fotodocumentarista Ratão eles veem nas revistas, jorDiniz. Morador do conjunto de favelas da nais, internet, etc. A alfabetização visual é Maré - e formado pela Escola de Fotógrafos tão importante quanto a escrita, pois é por Populares do Observatório de Favelas -, Ratão meio dela que se desperta o senso crítico já participou de exposições e projetos fotográpara “ler/interpretar” todas as nuances de ficos no Brasil e no Exterior. uma imagem - em meio a tantas que circuA obra reúne mais de 200 imagens prolam a nossa volta. duzidas por ele ao longo dos últimos dez Bruno Alencastro anos, além de muitas histórias, depoimentos, Repórter fotográfico do jornal Zero Hora, mestre em Comunicação e professor da Unisinos. entrevistas e relatos de lugares, personagens

Ratão Diniz

Historicamente, as comunidades populares existentes no Brasil – favelas, quilombos, tribos indígenas – foram (e são) representadas, muitas vezes, de maneira estereotipada pelos veículos de comunicação. No contexto específico de regiões periféricas das cidades, o discurso utilizado por essas mídias é marcado por aspectos negativos que fazem parte do cotidiano desses lugares: falta de segurança, alto índice de mortalidade, tráfico de drogas e pobreza. É nesse contexto que emergem projetos como o da Escola de Fotógrafos Populares, desenvolvida no Complexo de Favelas da Maré (RJ). O projeto busca “materializar uma fotografia engajada e solidária, capaz de denunciar as dificuldades das populações economicamente excluídas, sem deixar de destacar sua altivez, alegria e beleza”. A escrita fotográfica, democratizada (e popularizada) pela tecnologia digital, desde a virada do século XXI, é proposta como aliada para o exercício de um olhar cúmplice sobre os que enfrentam dificuldades de toda ordem, imersos em um cotidiano marcado por adversidades, porém, rico em criatividade e ações solidárias. A utilização de fotografia para inclusão social de crianças e jovens ganhou força com a exibição do documentário Born into Brothels: Calcutta’s red light kids (no Brasil, Nascidos em Bordéis), ganhador do Oscar do melhor documentário em 2005, de Zana Briski e Ross Kauffman. Interessada inicialmente em documentar o dia a dia das prostitutas no bairro Sonagachi (distrito da Luz Vermelha), em Calcutá, a fotógrafa Zana foi descobrindo a possibilidade de trabalhar com os filhos dessas mulheres em oficinas de fotografia para que elas registrassem o seu cotidiano. A partir dessa experiência, foi fundada a ONG Kids with cameras, tornando-se popular na utilização da fotografia em projetos de inclusão social. Ao participarem de projetos sociais voltados para uma formação fotográfica crítica e autoral, os jovens alunos aprendem que é preciso desconstruir as imagens hegemônicas

Ratão conta em fotografia histórias de um Brasil que persiste, resiste e reinventa o cotidiano

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MEMÓRIA

Santa Teresinha completa 75 anos de história O Colégio Santa Teresinha, situado na cidade de Santo Antônio da Patrulha, nasceu em 06 de outubro de 1940, da iniciativa do Cônego Wunibaldo Backes e da Madre Maria Theóphora Krzonkalla, que contou com apoio de colaboradores e de um grupo de pais, que acreditavam que a educação era indispensável para o progresso de Santo Antônio da Patrulha. A instituição pertence à Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, fundada em 24 de outubro de 1833. O colégio começou suas atividades educacionais com 76 crianças que ocupavam classes do 1º ao 5º ano. Abrigava, também, um internato para meninos e meninas. A instituição foi crescendo rapidamente, sendo criados os cursos Primário, Ginasial, Curso Normal, Técnico em Análises Químicas, Auxiliar de Escritório, Científico e Magistério. Atualmente, o colégio oferece da Educação Infantil ao Ensino Médio. Os pais podem contar com turno integral na Educação Infantil e Turno Inverso para Educação Infantil e Anos Iniciais. Ao todo são 359 alunos, 43 professores e 25 funcionários.

Colégio começou suas atividades com 76 crianças que ocupavam classes do 1º ao 5º ano

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Hoje, a instituição conta com 359 alunos, 43 professores e 25 funcionários

A instituição tem uma estrutura física privilegiada com um Ginásio de Esportes, quadras esportivas, praças de recreação, ampla área verde e laboratórios. Também abre as suas portas para a comunidade, oferecendo cursos de ballet, jazz, pilates e inglês. Conta também com ações solidárias através da Pastoral Escolar e da Ação Voluntária Escolar Santa Teresinha (AVEST), aonde os participantes desenvolvem solidariedade, atitude participativa, responsabilidade, espírito empreendedor, criatividade e o reconhecimento de outras realidades. Buscando inovação e diferenciação, o colégio vem oferecendo projetos e espaços diferenciados pensando em uma maior qualificação no processo de ensino e aprendizagem. Entre eles destacam-se: projeto específico para os alunos do Ensino Médio, contemplando atividades pedagógicas e inovadoras para esse segmento, com uma sala equipada propiciando conhecimento, entretenimento e conforto; construção de laboratórios de

aprendizagens para Educação Infantil e Anos Iniciais; implementação da sala de Inglês; saídas pedagógicas; investimento na formação continuada dos professores; e formação humano-cristã. A professora aposentada, Teresinha Bier, que trabalhou na instituição de 1951 a 1998, recorda do Santa com grande carinho. “Ser professora do Santa Teresinha era um prazer, uma honra enorme. Era uma delícia estar na escola trabalhando, ensinando, aprendendo, sonhando, realizando, vendo aquela meninada, aquela juventude crescer e se tornar adulta, realizando então os seus próprios sonhos nos caminhos por eles escolhidos”, afirma. “À Escola, a sua Direção, aos seus Professores e alunos, os meus cumprimentos pelo aniversário e minha eterna gratidão por tudo que dela recebi”, acrescenta. Durante todo o ano, a instituição estará realizando atividades em comemoração aos 75 anos. A culminância será no dia 03 de outubro com jantar baile para toda comunidade.


INSTITUCIONAL

13º Congresso do Ensino Privado Gaúcho divulga programação A pedagoga Fernanda Sobreira, a professora Emília Cipriano e o psicólogo Cristiano Nabuco são alguns dos destaques da programação do 13º Congresso do Ensino Privado Gaúcho. O evento será realizado nos dias 22, 23 e 24 de julho no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre, com o tema “Paradoxos na Educação”. Além de sete grandes conferências e um painel, o evento terá uma novidade nesta edição, o Espaço Mover, aonde serão apresentadas quatro palestras de até 20 minutos. As inscrições estão abertas e devem ser feitas no hotsite: www.sinepe-rs.org.br/congresso. São oferecidos descontos para quem se inscrever até o dia 31 de maio.

Cristiano Nabuco falará sobre os riscos do uso da tecnologia

A pedagoga Fernanda Sobreira abre a programação do evento na quarta à noite

Conheça a programação completa: Quarta-feira – 22 de julho 18h - Credenciamento e Abertura da 13ª Expoeducação 19h - Solenidade de Abertura 19h30min às 21h - Educar hoje: Novas posturas diante dos paradoxos do mundo moderno - Fernanda Sobreira Quinta-feira – 23 de julho 8h30min - A revolução na comunicação - Flávia Moraes 10h - Intervalo 10h30min - Na educação, antes de tudo, o prazer de acolher - José J. Camargo 12h - Intervalo 14h - Espaço MOVER 20’ (20 Minutos para Olhar, Viver,

Escutar e Refletir) Desenvolvimento econômico e sustentabilidade: Paradoxo do consumo consciente (Saulo Chielle); Autonomia estudantil: Alicerce para a descoberta do conhecimento (Fábio Ribeiro Mendes) ; Por onde navegar: Competição ou cooperação? (Iara Caierão) ; Tenho fundamento, mas não sou fundamentalista! (Marcos Sandrini). Apresentação: Gustavo Borba 16h - Intervalo 16h30min às 18h - Do dialógico ao digital: E agora? - Martha Gabriel Sexta-feira – 24 de julho 8h30min - O mundo digital: Entre o prazer e a doença

- Cristiano Nabuco 10h - Intervalo 10h30min - O futuro depende do passado? - Marco Simioni 12h - Intervalo 14h - Painel: Sobre paradoxos e perspectivas na educação. Participantes: Ana Lúcia S. de Freitas, Beatriz T. Daudt Fischer e Danilo R. Streck. Mediação: Adriano Naves de Brito 15h30min - Intervalo 16h - Apesar dos paradoxos, o prazer de ser professor - Emília Cipriano 17h30min às 18h - Encerramento Carga horária: 22 horas

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FIQUE POR DENTRO

Campanha orienta famílias para uso seguro do celular Vamos criar uma internet melhor juntos? Esse foi o tema do Dia Mundial da Internet, celebrado em 10 de fevereiro. Em apoio a essa data o Movimento Família Mais Segura na Internet e o Instituto iStart lançaram a Campanha #CelularSeguro. Para testar o nível de segurança das pessoas em relação ao manuseio de seus aparelhos, o Movimento criou um Quiz, composto por nove perguntas, que descrevem situações do dia a dia e analisa qual a comportamento das pessoas diante delas. Para orientar sobre uso seguro do celular foi criado um Guia Rápido com nove dicas para o usuário desenvolver mais o hábito de segurança digital e também disseminá-la. Faz parte da Campanha o lançamento do filme “Faça #UsoSeguro de seu celular!”, em breve nos cinemas do Cinemark e no Canal Cartoon. Para responder ao Quiz acesse: http://www.familiamaissegura.com.br/uso-seguro-do-celular/

Dia da Síndrome de Down revela evolução da inclusão no Brasil No dia 21 de março, o mundo comemorou o Dia Internacional da Síndrome de Down. Dados do Censo Escolar revelam que houve um crescimento nas matrículas de pessoas com deficiência na educação básica regular. Em 1998, cerca de 200 mil pessoas estavam matriculadas na educação básica, sendo apenas 13% em classes comuns. Em 2014, eram quase 900 mil matriculas e 79% delas em turmas regulares. Dados do Ministério da Educação revelam que houve um aumento de 198% no número de professores com formação em educação especial. Em 2003, eram 3.691 docentes com esse tipo de especialização. Em 2014, esse número chegou a 97.459.

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A diferença no aprendizado de meninos e meninas Um estudo divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) ressalta as diferenças de gênero que afetam o rendimento e desempenho de meninos e meninas em relação aos estudos, levando em conta questões comportamentais, de aptidão e confiança. Chamado de The ABC of GenderEquality in Education: Aptitude, BehaviourandConfidence (ABC da igualdade de gêneros na educação: aptidão, comportamento e confiança), mostra que as meninas são melhores que meninos em leitura, em todos os países, de acordo os dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). Já os meninos se destacam em matemática, apresentando melhores resultados na disciplina em seis de cada dez países.


Forbes lista 30 jovens mais influentes na educação A revista norte-americana Forbes anunciou uma lista com os mais influentes empreendedores na área de educação com menos de 30 anos. Segundo a publicação, os 30 jovens listados serão responsáveis por uma mudança no jeito como se aprende e se ensina em 2015. A maioria deles é criador de plataformas e ferramentas tecnológicas no setor. No topo da lista estão Alex Klein (foto), 24 anos, criador do Kano, computador que você pode construir e programar; Karim Abouelnaga, 23 anos, fundador da PracticeMakesPerfect, empresa que oferece orientação para alunos em recuperação, e Abena Agyemang, 29 anos, diretora da Families for Excellent Schools, que mobiliza famílias por um ensino público de qualidade.

Fundação alemã oferece bolsas a empreendedores brasileiros A fundação alemã Alexander von Humboldt oferece dez bolsas de pesquisa para empreendedores brasileiros com projetos inovadores. Podem se inscrever profissionais que trabalham em áreas que envolvam política, economia, comunicação, administração e cultura. Para participar, os candidatos devem ter concluído curso de graduação em qualquer área do conhecimento, domínio do idioma inglês ou alemão e comprovar a participação em atividades de liderança. São 50 vagas em todo o mundo e os bolsistas poderão desenvolver seus projetos em universidades alemãs pelo período de um ano. As inscrições vão até o dia 15 de setembro e podem ser feitas no site https://www.humboldt-foundation.de/ web/german-chancellor-fellowship.html

Universidade precisa responder ao ‘vai lá e faz’ Para entender melhor quem é o estudante que chega hoje ao ensino superior e quais são suas aspirações, o grupo Anima Educação e a BOX1824, agência especializada em comportamento jovem, ouviram 200 jovens de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Participaram jovens de 16 a 24 anos, das classes A, B e C que demonstram ter projeto de vida, capacidade para inspirar seus pares, sonhar grande e, claro, vivem imersos na cultura digital. Como ponto de destaque, o trabalho aponta para um comportamento “vai lá e faz” do jovem que ainda não encontra espaço para se manifestar no período que passa na universidade, muitas vezes somente à espera do diploma.

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VITRINE

Programa auxilia na melhora da atenção O treinamento Cogmed, um programa baseado em evidências, está disponível em todo o mundo e chega ao Brasil neste ano como uma ferramenta inovadora que auxilia crianças, adolescentes e adultos a melhorar a atenção de forma sustentável. O programa contempla exercícios que treinam a memória operacional e pode ser utilizado por qualquer pessoa que queira melhorar sua atenção e os resultados acadêmicos. Os benefícios percebidos envolvem melhoras na atenção, na interpretação de textos, na tomada de iniciativa e lembrança de instruções, assim como na execução de atividades planejadas e de forma mais independente, concluindo as tarefas já iniciadas. Além disso, pesquisas publicadas em revistas científicas de nível internacional têm indicado benefícios substanciais para alunos com TDAH. Há melhora evidente em vestibulandos e profissionais que trabalham com planejamento e pressão.

Baseado em sólidas evidências científicas, o Programa é realizado e apoiado por um Tutor Qualificado Cogmed que conduz o treinamento. Composto de 25 sessões de 30-40 minutos diários, com duração de 5 semanas (no caso de crianças com menos de 7 anos o tempo diário se reduz para 15 minutos), o usuário/família acompanham todos os resultados do treino e do nível de progresso atingido. O software desafia o usuário a cada novo exercício e se ajusta à capacidade máxima do treinando. Com três versões de software (JM – pré-escolar, RM - escolar e QM - adulto), o programa é fácil de usar e realizado por meio de um computador, em casa ou em qualquer ambiente apropriado. Mais informações com a Projecto Centro Clínica Cogmed - Fones: (51) 3330.4000 (51) 84560855 / E-mail: atendimento@projecto-cogmed.com. br. Site: www.projecto-cogmed.com.br / Cel. Lucas de Oliveira, 1580 – Petrópolis – Porto Alegre-RS.

Sistema Etapa no Educar e no 13º Congresso O Sistema Etapa está completando 25 anos e, para comemorar, estará participando de uma maneira especial no BETT BRASIL EDUCAR 2015, a maior feira do segmento na América Latina, que ocorrerá entre os dias 20 e 23 de maio, em São Paulo. O Sistema, que contempla soluções educacionais desde a educação básica até o ensino superior, oferecerá uma programação especial durante o evento, como palestras e outras atividades em seu estande. A instituição também será patrocinador diamante do tradicional encontro educacional, que na última edição recebeu mais de 14 mil visitantes. Outra participação importante do Sistema Etapa ocorrerá em julho, no 13º Congresso do Ensino Privado do SINEPE/RS, onde a instituição participará com estande e como patrocinadora do evento. O Sistema integra o Grupo Etapa, que completa também, em 2015, 45 anos de trajetória dedicados à educação. Para mais informações, acesse www.sistemaetapa.com.br ou ligue 0800 727 8080.

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"A Educação em Revista está sempre atenta às inovações, trazendo excelente conteúdo, de acesso facilitado, através das plataformas digitais, nos momentos de estudo e lazer. Professor atualizado é professor comprometido com a educação."

Gabriela Xavier Busatto Professora do Colégio Regina Coeli de Veranópolis.

Além dee confer feriri a edição da revv ista na íntegra, gra ú d o eexclus xclusiiivo vo.. voccê acessa conteú conteúdo


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