Vicariato em Ação Social e Política

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Índice

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Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política: um chamado à Ação

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Central de Acolhida Social De portas abertas para receber você

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Conhecendo melhor o trabalho pastoral

Projeto Providência Transformando vidas

Casa de Apoio NSa. da Conceição Abrigo e assistência às pessoas vivendo com HIV/AIDS

Fazenda Renascer Espiritualidade e trabalho no tratamento da dependência química

Centro de Apoio aos Sem Casa Moradia digna para quem não tem onde morar

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Pós-Morar

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Casa do Brincar

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APAC

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NESP

Casa nova com mais qualidade de vida

Onde brincar é um direito

A reeducação social demaneira humanizada

Despertando a consciência política

34 Toda ação pastoral tem uma dimensão social. A diversidade sociopolítica da Arquidiocese de BH

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Desafios na construção de uma sociedade mais justa Definir políticas para transformar a sociedade

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Núcleo de Apoio Social Paroquial Atuação efetiva nas paróquias, foranias e regiões


Editorial

Estou convicto de que investir na continuidade do trabalho do Vicariato para a Ação Social e Política é, sem dúvida, testemunhar o Evangelho em verdade e vida.

Opção preferencial pelos pobres As realizações do Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política, de acolhimento e apoio, são uma resposta concreta e muito bonita ao compromisso assumido pelos bispos na III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em Puebla, em 1979, e reafirmados na V Conferência Geral, em Aparecida, no ano de 2007. Num contexto social, em que ainda se verifica uma grande distância entre os que têm muito e os que nada possuem, as ações da Arquidiocese de Belo Horizonte em defesa dos menos favorecidos reafirmam o compromisso dos bispos do Regional Leste 2 da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, congregação das arquidioceses e dioceses de Minas Gerais e Espírito Santo, com a opção preferencial pelos pobres. É gratificante constatar que nossos projetos contribuem significativamente para a promoção pessoal, social e espiritual daqueles que, em determinados momentos da vida, encontram dificuldades para caminhar rumo a dias melhores. Os resultados concretos e animadores obtidos pela Arquidiocese, na capital e na região Metropolitana de Belo Horizonte, por meio do Vicariato para a Ação Social e Política, nos dão a certeza de que estamos trilhando o caminho certo, e que nossa aposta num futuro mais digno para nossos irmãos não foi e não está sendo em vão. Os bons frutos desse trabalho fecundo são visíveis no sorriso e olhar de um jovem recentemente recuperado da dependência química na Fazenda Renascer, que hoje tem a nossa plena e completa atenção em todos os aspectos, da administração ao

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Editorial

processo terapêutico. Um importante resultado que também podemos ver na face das crianças assistidas pela Pastoral da Criança, fundada pela saudosa doutora Zilda Arns, e no acolhimento fraterno dos adolescentes que recebem formação escolar e profissional no Projeto Providência. São muitas ações, difícil enumerar todas. Destaco, entretanto, o resgate da dignidade daqueles que já haviam desistido de si e por meio da Pastoral de Rua encontraram sentido para a própria vida; e também o apoio dado por essa mesma pastoral à criação da Asmare, instituição que reúne catadores de papéis, hoje famosa no Brasil e no mundo pela arte da reciclagem, fonte de geração de renda que transforma a vida de centenas de famílias. Para além das questões que envolvem riscos sociais iminentes, estamos atentos também à construção da cidadania do nosso povo enquanto sujeito político da história. Um bom exemplo dessa frente de atuação é o trabalho bem fundamentado do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (NESP), uma instância de formação e capacitação de agentes pastorais, lideranças comunitárias, sacerdotes, religiosos e lideranças cristãs em funções públicas para a construção de uma consciência crítica de fomento, ampliação e fortalecimento de ações sociais transformadoras nos 28 municípios da Arquidiocese de Belo Horizonte. Estou convicto de que investir na continuidade do trabalho do Vicariato para a Ação Social e Política é, sem dúvida, testemunhar o Evangelho em verdade e vida. Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte


Santa Ceia de Portinari

A fé na vida ou a vida na fé “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Um dos versículos mais belos e contundentes da Bíblia. O ‘mistério da encarnação’ de Jesus até nos assusta: o Cristo, em pessoa, próximo, muito próximo, ensinando, rezando, pregando, exortando, perdoando, amando. A partir daí tudo se modifica. Ainda não levamos totalmente a sério a encarnação. Por isso “a fé sem obras é morta”; por isso “é mentiroso quem diz que ama a Deus, que não vê; e não ama o irmão, que vê”; por isso é preciso “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”; por isso o recado enviado a João Batista para confirmar que Jesus é o esperado diz: vai falar a João que cego está enxergando, surdo ouvindo, mudo falando, coxo andando e os pobres são evangelizados; por isso próximo é aquele que usou de misericórdia para com o homem caído e ferido. A Igreja crê. As pessoas que formam a comunidade dos discípulos, na luz do Espírito, professam a fé em Jesus Cristo, caminho para o Pai. O resto é consequência. É neste horizonte que a Arquidiocese de Belo Horizonte desenvolve ações sociais e políticas, pois ela não deseja poder, nem riqueza, não pode ter status nem privilégios. Ela, tão somente, trabalha, alegremente, para dar continuidade à missão de Jesus, que aqui veio para que “todos tenham vida e a tenham em abundância”. Isto faz a Igreja livre, pobre e dialogante na sociedade contemporânea, como sabiamente quer o papa Bento XVI. As grandes ações sociais e políticas do Vicariato condensam, de certa forma, as inúmeras pequenas ações sociais e políticas praticadas em muitas comunidades da Arquidiocese de Belo Horizonte. Refletindo as comunidades e ao mesmo tempo inspirando-as, o Vicariato para a Ação Social e Política é um indicativo da beleza do ‘mistério da encarnação’ para o mundo; é a expressão da fé na vida e o testemunho da vida de fé.

“É neste horizonte que a Arquidiocese de Belo Horizonte desenvolve ações sociais e políticas, pois ela não deseja poder, nem riqueza, não pode ter status, nem privilégios”

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães
 Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte

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Vicariato em Ação Social e Política Revista do Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política Ano I - Número 1 - Novembro de 2010

Fiel aos princípios O Vicariato para a Ação Social e Política procurando ser fiel aos princípios orientadores de seus caminhos, quer chegar até você no intuito de aprofundar os laços que solidificam a ação social em nossa Arquidiocese. Interagindo conosco, você poderá perceber o quanto se constrói em vista de nossos irmãos e irmãs mais necessitados. Esse empenho missionário da Arquidiocese de Belo Horizonte é a resposta às nossas Assembleias do Povo de Deus - APDs, que ouvindo o apelo dos pequeninos quer ser, e de fato o é, “Igreja Viva Sempre em Missão”. Com apreço, fica nosso desejo de que a fidelidade experimentada e vivida cresça sempre mais.

Rua Além Paraíba, 208 - Lagoinha Belo Horizonte - MG - CEP 31210-120 Secretaria geral: (31) 3422-4430

Expediente Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Belo Horizonte Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte Pe. Ademir Ragazzi Vigário Episcopal para a Ação Social e Política Conselho Diretor: Pe. Ademir Ragazzi Pe. Cássio Ferreira Borges Pe. José Geraldo de Souza Pe. Paulo César da Silva Ana Maria Andrade Antônio Claret Chaves Martins Gestor Técnico Operacional

Pe Ademir Ragazzi Vigário Episcopal para Ação Social e Politica Arquidiocesana

Regina Célia Melgaço Malta Costa Gestora Administrativo-financeira Projeto gráfico e diagramação: Bernardo Vaz Fotos: Mary Lane Vaz e Bernardo Vaz Jornalista responsável: Hugo Pirez - SJP12105/MG Produção Editorial: Frederico Santana Rick Tiragem: 5000 exemplares Impressão: Gráfica e Editora O Lutador

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Editorial


A sociedade nos interpela como cristãos, discípulos missionários do Senhor Jesus Cristo, a construir o Reino de Deus, “reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”. 3ª Assembleia do Povo de Deus.


Apresentação

Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política: um chamado à Ação O Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política foi criado em 1º de dezembro de 2004, a partir da necessidade detectada na 2ª Assembleia do Povo de Deus de uma presença mais efetiva no campo social, com a finalidade de reunir todas as ações existentes no setor social e político na Arquidiocese de Belo Horizonte e articular o trabalho de maneira integrada, para que seja mais eficaz e reforce a presença pública da Igreja.

Princípios de atuação e inserção social da Igreja »» A pedagogia de Jesus »» Atuação profética frente à opção preferencial pelos pobres e no combate à injustiça »» Defesa e promoção da vida humana

Missão

»» Atitude de serviço

Organizar, integrar e animar a ação social e política da Arquidiocese de Belo Horizonte à luz do Evangelho e da opção preferencial pelos pobres, sendo presença profética na construção de uma sociedade justa, igualitária e plural, fortalecendo o protagonismo dos empobrecidos.

»» Cultura da solidariedade

»» Ecumenismo, diálogo interreligioso e intercultural »» Relações igualitárias de gênero, raça, etnia e geração »» Protagonismo dos excluídos e excluídas »» Mística e espiritualidade libertadora »» Projeto de sociedade solidária e sustentável »» Democracia participativa

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Apresentação


Objetivos Específicos » Criar, fomentar e fortalecer as atividades de promoção, atendimento e defesa dos direitos dos cidadãos, especialmente daqueles que se encontram em situação de maior vulnerabilidade pessoal e social » Apoiar e articular os trabalhos das pastorais sociais e núcleos visando o fortalecimento das ações e a construção de uma atuação conjunta dos mesmos » Despertar na comunidade cristã a responsabilidade que ela tem em relação ao compromisso com a transformação da sociedade

» Formar redes de comunidades paroquiais para melhor intervenção e atuação no atendimento, promoção e defesa dos direitos dos assistidos pelas ações sociais ligadas às paróquias da Arquidiocese » Fortalecer a comunicação cidadã com fins de mobilização social » Investir na participação e no controle social de política pública » Consolidar o papel do Vicariato Episcopal como órgão articulador das ações sociais e políticas na Arquidiocese

Organograma Arquidiocese de Belo Horizonte Vicariato Episcopal para Acão Social e Política Providência Nsa. da Conceição Coordenação Executiva

Conselho Social e Político

Sec. Comunicação e Marketing

Sec. Alianças Estratégicas

Gestão Administrativo Financeira

Gestão Técnico Operacional

Recursos Humanos

Núcleo de Políticas Sociais

Central de Acolhida Social

Contabilidade

Núcleo de Saúde e Meio-Ambiente

Núcleo das Pastorais Sociais

Núcleo de Promoção de Eventos e Gereção de Trabalho e Renda e EPS

Núcleo Habitacional

Financeiro

Logística

Núcleo de Apoio Social Paroquial

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Pastorais Sociais

Na Arquidiocese de Belo Horizonte existem 13 pastorais sociais que promovem a dimensão sociotransformadora da Igreja

Conhecendo melhor o trabalho pastoral As pastorais sociais integram, juntamente com outros organismos e setores, a exigência do serviço na ação evangelizadora da Igreja no Brasil. Elas têm como finalidade concretizar em ações todo o cuidado da Igreja diante de situações de marginalização. Os textos bíblicos destacam que Deus tem predileção pelos marginalizados, que em função dos trabalhos pastorais, vão recuperando o nome e a história na medida em que são assumidos com amor. Pode-se assim compreender que essa dimensão contribui, à luz da Palavra de Deus e das Diretrizes Gerais da CNBB, para a transformação das velhas estruturas e para a construção de uma nova sociedade. Na Arquidiocese de Belo Horizonte existem, atualmente, 13 pastorais sociais articuladas que promovem a dimensão sociotransformadora da Igreja, constituídas nos aspectos complementares e indissociáveis: sensibilidade para com os fracos e indefesos, solidariedade frente às demandas emergenciais, promoção da justiça e da espiritualidade libertadora. Desde o início, elas têm sido ação e palavra proféticas nos diferentes conflitos sociais, sempre em favor e em conjunto com os grupos e classes sociais que lutam pelo direito de viver com dignidade, numa sociedade que numa sociedade que gera exclusão.

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A Igreja assume este serviço e, sem preconceitos, acolhe, acompanha e defende os direitos daquelas pessoas que foram infectadas pelo vírus HIV

Pastoral da AIDS Compromisso pela vida A epidemia da AIDS é uma realidade desde 1980. Muitas pessoas, organizações e setores da sociedade empenham suas energias, há muitos anos, no controle da doença e assistência às pessoas com HIV/AIDS. Esta realidade e a necessidade de envolver um número sempre maior de forças para lutar contra a doença a Igreja Católica, com finalidade de contribuir na luta contra a epidemia. No Encontro Nacional de ONGs (ENONG) de Belo Horizonte (MG), em abril de 1999, houve o primeiro anúncio oficial da criação da comissão de DST/ AIDS da Pastoral da Saúde. Posteriormente a comissão foi elevada à Pastoral de DST/AIDS – CNBB, comprometida com o trabalho de prevenção e assistência as pessoas com HIV/AIDS. Um compromisso da Igreja para que a vida prevaleça, segundo o ensinamento de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida”. A Igreja assume esse serviço e, sem preconceitos, acolhe, acompanha e defende os direitos daquelas pessoas que tem AIDS. Ela também trabalha com a prevenção e a conscientização, baseadas nos valores do Evangelho. Na Arquidiocese de Belo Horizonte, a Pastoral da AIDS teve sua primeira capacitação para agentes pastorais em 2005. Cerca de 400 voluntários foram

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capacitados. Em 2007, a pastoral foi oficializada junto ao Vicariato para a Ação Social e Política. O trabalho é desenvolvido em três dimensões: cuidado, assistência e prevenção. O trabalho é focado na capacitação de agentes para atuarem nas comunidades. Para a Pastoral prevenir significa trabalhar o respeito pelas pessoas e a mudança de comportamento, mostrando que todos (as) somos vulneráveis.

“Consideramos de grande prioridade fomentar uma pastoral com pessoas que vivem HIV/Aids, em seu amplo contexto e em seus significados pastorais: que promova o acompanhamento integral, misericordioso e a defesa dos direitos das pessoas infectadas; que implemente a informação, promova a educação e a prevenção, com critérios éticos, principalmente entre as novas gerações, para que desperte a consciência de todos para o controle desta pandemia”. (Documento de Aparecida)

Atendimentos realizados 10 mil pessoas por ano


Pastoral Carcerária Oferecendo novos caminhos “Quando estive preso foste me visitar”. É com base neste versículo do Evangelho de Mateus que a Pastoral Carcerária vem desenvolvendo ao longo de 14 anos o trabalho de assistência às pessoas privadas de liberdade. Com cerca de 250 agentes, a Pastoral Carcerária atende 21 unidades prisionais na Arquidiocese de Belo Horizonte. Pelo menos 12 mil pessoas privadas de liberdade são evangelizadas com o trabalho missionário dos agentes. O número de voluntários ainda é um fator que dificulta o trabalho dessa pastoral, pois são poucos para a demanda. Por causa disso, as cadeias de Nova Lima, Caeté e Santa Luzia ainda não contam com o apoio oferecido pela pastoral. Ao visitar os sentenciados, os agentes fazem orações, leituras bíblicas, serviço de escuta e a promoção da cidadania. Os agentes também desenvolvem trabalhos de acompanhamento com as famílias dos condenados, uma ação que possibilita maior aproximação do preso com seus familiares. Além disso, esse acompanhamento permite que dúvidas sobre direitos e deveres sejam esclarecidas. A Pastoral Carcerária conta com o trabalho de um grupo de advogados voluntários que oferecem assistência jurídica gratuita, aos condenados. A Pastoral também proporciona ao encarcerado a possibilidade de ganhar uma quantia em dinheiro, vendendo

produtos artesanais feitos pelos sentenciados em feiras. Assim que cumprem a pena, as portas para o mercado de trabalho não se abrem, e o motivo maior é o preconceito. Para ajudar que essas pessoas tenham trabalho e evitar que elas voltem à marginalidade, a Pastoral Carcerária desenvolve o serviço de apoio ao egresso, ajudando às pessoas que se encontram nessa situação a se reinserir socialmente. A Pastoral Carcerária foi criada na década de oitenta e rearticulada em março de 1996. Em 1997 ela teve seu trabalho intensificado e ganhou forças quando a Igreja do Brasil colocou como tema da Campanha da Fraternidade “A Fraternidade e os Encarcerados”, cujo lema era “Cristo Liberta de todas as prisões”. Hoje a realidade prisional começou a mudar e algumas penitenciárias já adotam o sistema das APACs, Associação de Proteção e Assistência ao Condenado, que oferece tratamento humanizado aos sentenciados, tendo como finalidade recuperar o preso através de políticas educativas e não punitivas, possibilitando que os internos desenvolvam atividades de geração de renda. Atendimentos realizados 12 mil pessoas por ano

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A Pastoral da Mulher procura resgatar a dignidade e oferecer novas perspectivas de vida à mulher marginalizada.

Pastoral da Mulher Resgatando vidas Segundo a última estatística da Prefeitura de Belo Horizonte, pelo menos três mil mulheres ganham a vida se prostituindo nos quartos de “hotéis” localizados na Rua dos Guaicurus, no hipercentro de Belo Horizonte, conhecida como a zona do baixo-meretrício da cidade. Muitas são chefes de família e algumas sofrem violência física e psicológica de clientes, maridos, policiais e cafetões. O enredo que embala a vida delas é o alto índice de miséria, violência, tráfico e consumo de drogas, doenças, exclusão, discriminação social e até mesmo a morte. Na perspectiva de reverter esta situação e oferecer condições mais dignas a essas mulheres, a Pastoral da Mulher Marginalizada, associação vinculada ao Vicariato para a Ação Social e Política, proporciona, há 27 anos, a possibilidade de melhores condições de vida a essas mulheres por meio de um trabalho evangelizador, de formação social e profissional. O trabalho dessa Pastoral começa com o trabalho de campo, quando os agentes pastorais visitam os “hotéis” no hipercentro e fazem o primeiro contato com elas. Por ano, cerca de 1.500 delas são visitadas e algumas aceitam o desafio de enxergar a vida de outro ângulo. No espaço da Pastoral da Mulher são desenvolvidos trabalhos que visam melhorar as condições de vida das atendidas. Elas são orientadas sobre

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como cuidar da saúde, sobre os direitos de cidadã que elas têm e sobre a possibilidade de encontrar outras alternativas para a sobrevivência, que não seja a prostituição. Atualmente a Pastoral oferece a elas, cursos na área de informática e corte e costura, procurando reinseri-las no mercado de trabalho e, ainda fomenta a iniciativa da economia solidária. Segundo José Manoel, que acompanha o trabalho da Pastoral da Mulher Marginalizada, a causa básica que leva uma mulher a se prostituir é a situação socioeconômica, que traz consigo a desestruturação familiar e problemas conjugais. “Muitas dessas mulheres começam nessa vida acreditando ser algo temporário, mas na verdade não é. Da mesma forma que o dinheiro vem fácil ele também vai embora fácil. Então a mulher se vê novamente com problemas financeiros”. A Pastoral da Mulher de Belo Horizonte foi fundada em 1982, pelas irmãs Oblatas, no bairro Bonfim, após o estudo de um documento da CNBB - Prostituição, desafio à sociedade e à Igreja. Após a análise, a equipe deu início às visitas nos prostíbulos do bairro, visando a aproximação das mulheres que ali trabalhavam ou moravam. Em agosto de 1987, a Pastoral da Mulher foi oficialmente constituída e em 2000, devido às obras de revitalização do bairro Bonfim, a pastoral mudou para a Rua dos Guaicurus, se fazendo ainda mais presente e próxima das mulheres marginalizadas.

Atendimentos realizados 1200 mulheres por ano


Pastoral do Trabalho Na luta pela dignidade Há 30 anos a Pastoral do Trabalho de Belo Horizonte vem lutando por melhor inserção social da classe operária. Seus encontros são momentos de partilha entre cristãos que querem refletir como se dá a relação entre Fé e Vida no âmbito profissional do ser humano. Por se preocupar com a situação trabalhista dos que integram a sociedade, grande parte dos participantes é também engajada em movimentos populares como sindicatos, partidos políticos, associações de bairros, comissões de saúde etc. A reflexão, que parte do método tradicional Ver, Julgar, Agir, vai muito além do propósito que a Pastoral traz em seu nome. Ela abrange, principalmente, as questões sociais e políticas. A Pastoral do Trabalho foi impulsionadora no desenvolvimento de atividades na economia popular solidária, quando, há alguns anos, havia uma taxa de desemprego relativamente alta e um grande número de pessoas na informalidade. A Pastoral Mundo do Trabalho surgiu há 40 anos na região do ABC Paulista, quando o movimento sindical estava quase parado em consequência das intervenções da Ditadura Militar. Na Arquidiocese de Belo Horizonte a pastoral surge durante a oposição sindical dos metalúrgicos de Betim, nos anos 80. Atualmente, está articulada, além de Betim, em Belo Horizonte e Santa Luzia. Hoje, mesmo tendo a base formada de muitos empregados de metalúrgicas, ela deixou de ser a Pastoral Operária para se tornar a Pastoral do Trabalho. Isso aconteceu em decorrência de muitos membros que a integram serem profissionais de diversas outras áreas como a da saúde e a da educação. Atendimentos realizados 1800 pessoas por ano

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“Apoiar e incrementar o ecumenismo e o diálogo interreligioso a partir das lutas sociais. Descobrir caminhos novos nessa direção.” 3ª Assembleia do Povo de Deus.


Projetos Sociais

Projeto Providência Transformando vidas Em 22 anos de existência, a Associação Projeto Providência fez pelos pobres de Vila Maria, do Taquaril e da Fazendinha, aglomerados da região metropolitana de Belo Horizonte, o que muitos governantes e o poder público de maneira geral não conseguiram fazer. Com o empenho dos profissionais que atuam no Projeto, a situação de miséria e desesperança vivida pelos moradores desses locais vem sendo combatidas. Hoje, eles têm possibilidades de vida digna, por meio de formação humana e profissional.

Nova esperança nas comunidades

Criado em 1988, pelo padre Mário Pozzoli com o apoio da Arquidiocese de Belo Horizonte, o Projeto Providência conta atualmente com 200 educadores e atende cerca de três mil crianças, adolescentes e jovens. Em cada uma das unidades são oferecidas duas refeições diárias, além de atendimento odontológico, reforço escolar, biblioteca, momentos de recreação, canto, teatro, esporte e ainda formação humana, espiritual e profissional.

A transformação social dessa comunidade inspirou a criação de uma segunda unidade do Projeto. Em 1994, foi criado o Projeto Providência Páscoa, no Taquaril. Com isso muitas crianças passaram a ter bom desempenho na escola, vários jovens aprenderam uma profissão e arrumaram emprego com carteira assinada.

Os recursos financeiros vêm de contribuições de pessoas físicas, convênios com o poder público e outros sensíveis à causa da criança e do adolescente de baixa renda. Mas, como os custos diários são elevados, a manutenção do Projeto é um desafio permanente.

A primeira unidade do Projeto Providência criado em Vila Maria. Com a abertura do Projeto, as crianças, adolescentes e jovens que viviam em meio à pobreza e à falta de esperança, passaram a receber apoio escolar, formação humana e espiritual, além refeições.

A terceira unidade foi criada em 2000, na Fazendinha, aglomerado da Serra. Nessa unidade, a história das anteriores se repetiu, bons frutos brotaram. Depois de 22 anos de existência, o Projeto Providência se tornou referência de formação humana e profissional nas comunidades onde se faz presente.

Atividades realizadas por faixa etária
 De 3 a 6 anos: Educação Infantil e brinquedoteca. De 6 a 14 anos:
Apoio pedagógico, oficina de trabalhos manuais, horticultura. De 14 a 16 anos:
Oficinas de educação pelo trabalho. De 16 a 18 anos:
Informática, formação socioprofissional – oficina de arte culinária, oficina de eletricidade, oficina de corte e costura, oficina de arte em madeira. Atividades abertas à comunidade:
Curso de informática, Pacto Nutricional, Grupo de Apoio e Reunião de Pais.

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Casa de Apoio Nossa Senhora da Conceição Abrigo e assistência às pessoas vivendo com HIV/AIDS Preocupada em oferecer abrigo e assistência a adultos vivendo com HIV/AIDS a Arquidiocese de Belo Horizonte inaugurou em dezembro de 2008 a Casa de Apoio Nossa Senhora da Conceição que busca promover a reintegração social do doente na família e na sociedade. O atendimento é feito a homens e mulheres atendidos pelo Sistema Único de Saúde, SUS, que estejam em período de recuperação física e mental. Os assistidos são encaminhados à Casa de Apoio após alta hospitalar e dos Centros de Referência. O atendimento é preferencial para aquelas pessoas em condições de vulnerabilidade socioeconômica ou falta de apoio familiar. Os usuários contam com acompanhamentos espiritual e fisioterapêutico.

Os assistidos pela Casa de Apoio contam com assessoria jurídica para ajudar nos requerimentos de seus benefícios junto ao poder público, como indenizações e observância na violação de direitos. A Casa de Apoio Nossa Senhora da Conceição tem um importante papel de oferecer apoio e orientação aos pacientes sobre os cuidados com a saúde, promovendo a adesão ao tratamento e o uso correto, fortalecendo os laços sociais e familiares, além de reintegrá-los na sociedade. A Casa de Apoio é um projeto do Vicariato para a Ação Social e Política e conta com o apoio do Núcleo de Apoio à Saúde e ao Meio Ambiente e Pastoral da AIDS.

A abertura da Casa foi viabilizada através de recursos provenientes do governo do Estado de Minas e do Município de Belo Horizonte. Trinta leitos são disponibilizados.

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Projetos Sociais

Fazenda Renascer Espiritualidade e trabalho no tratamento da dependência química Mais do que uma clínica para tratamento para dependentes químicos, a Fazenda Renascer é uma escola de vida que a Arquidiocese de Belo Horizonte assumiu este ano dando continuidade ao trabalho desenvolvido por 28 anos pela irmã Margarida Savastano. Em abril, aos 88 anos, a religiosa entregou ao Arcebispo Metropolitano, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, a obra dedicada ao tratamento de dependentes químicos e alcoólicos e, desde então, o trabalho de apoio à Fazenda é realizado pelo Vicariato para a Ação Social e Política. A Arquidiocese assumiu a administração da Fazenda Renascer e se colocou atenta e sensível para com as pessoas que sofrem com a dependência química. Segundo o Bispo Auxiliar Dom Joaquim Mol, isso levou a Igreja de Belo Horizonte a se responsabilizar pela obra. “A Arquidiocese percebeu que faltava no patamar das ações sociais de compaixão para

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com as pessoas, o atendimento aos dependentes químicos com desejo de se recuperarem”. A dinâmica do atendimento se dá através de atividades físicas, religiosas e psicoterapêuticas. Os pacientes chegam à Fazenda Renascer, na zona rural de Pedro Leopoldo, informados sobre o regulamento. A rotina começa com o despertar às seis da manhã, e após espiritualidade os internos vão desenvolver atividades do campo, pois com o esforço físico acontece a desintoxicação. Eles também realizam atividades de lazer e esporte e têm momentos de oração, reflexão e terapias O objetivo da Arquidiocese é atingir a capacidade máxima de internação que hoje é para 80 pessoas. As vagas femininas estão suspensas temporariamente para reestruturação do espaço físico e do quadro de pessoal.


Regiões Episcopais

Toda ação pastoral tem A diversidade sociopolítica da Arquidiocese de BH A Diocese de Belo Horizonte foi criada em 11 de fevereiro de 1921 pelo então Papa, Bento XV, sendo elevada a Arquidiocese em 1º de fevereiro de 1924, pelo Papa Pio XI. A então nova Arquidiocese foi instalada para atender à nova capital, transferida de Ouro Preto. Sendo assim, Belo Horizonte foi desmembrada da Arquidiocese de Mariana. Desde a sua criação, a Arquidiocese de Belo Horizonte é a segunda maior do país, ficando atrás apenas da de São Paulo. Com sua atuação tem contribuído, de forma significativa, para o desenvolvimento social e cultural da capital mineira. A Arquidiocese de Belo Horizonte abrange uma população de cerca de 4 milhões de habitantes e possui quatro Regiões Episcopais: Nossa Senhora da Piedade (RENSP), Nossa Senhora da Conceição (RENSC), Nossa Senhora Aparecida (RENSA) e Nossa Senhora da Esperança (RENSE), formadas por foranias, paróquias e comunidades. Devido ao crescimento da capital e da grande demanda, a Arquidiocese não descarta a possibilidade de criar uma quinta região episcopal. Todas as regiões são densamente povoadas e possuem valiosos e diversificados patrimônios culturais, constituídos de

34 Regiões Episcopais

igrejas e capelas, resultado da devoção popular que vem desde o início do século XVIII. Cada Região é coordenada por um vigário episcopal, que é um colaborador imediato do arcebispo no governo da Arquidiocese. Inserido na realidade social, cultural e religiosa, o vigário procura concretizar o Projeto de Evangelização Igreja Viva, Sempre em Missão. O primeiro bispo, que veio a se tornar arcebispo, foi Dom Antônio dos Santos Cabral, que administrou a Arquidiocese de 1922 a 1967, sendo sucedido por Dom João Resende Costa, de 1967 a 1986. Em seguida veio Dom Serafim Cardeal Fernandes de Araújo, de 1986 a 2004 tendo como sucessor, o atual Arcebispo Dom Walmor Oliveira de Azevedo. Cada Região Episcopal, pelo seu histórico e particularidades, guarda grandes saberes sociais e uma rica caminhada. Cabe ao Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política valorizar essas diferentes culturas políticas e saberes, e contribuir para o intercâmbio e troca de experiência entre as regiões.


uma dimensão social

Região Episcopal NSa. Aparecida Região Episcopal NSa. da Conceição Região Episcopal NSa. da Esperança Região Episcopal NSa. da Piedade

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