Nossa uenf 20 anos para web

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Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Ano 6 - Nยบ 1 - Junho/Julho 2013


Nesta Edição A criação da UENF foi um parto

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Uma “rainha” com visão de futuro

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A marca de Niemeyer

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A Universidade do Terceiro Milênio

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Autonomia: momento histórico da UENF

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Trabalhando duro

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Ensino, Pesquisa e Extensão

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Foco na pesquisa

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Ciência na Graduação

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Entrevista: Gustavo Tutuca

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Artigo: Reitor Silvério de Paiva Freitas

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Expediente Governador do Estado Sérgio Cabral

Diretor do CBB Gonçalo Apolinário de Souza Filho

Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia Gustavo Tutuca

Diretor do CCT Edmilson José Maria

Reitor Silvério de Paiva Freitas

Diretor do CCH Sérgio Arruda de Moura

Vice-reitor Edson Correa da Silva

Diretor do CCTA Henrique Duarte Vieira

Diretor de Informação e Comunicação Vanildo Silveira Equipe – Gerência de Comunicação (ASCOM) Fulvia D’Alessandri e Gustavo Smiderle (jornalistas responsáveis) Alexsandro Cordeiro, Felipe Moussallem e Marcus Cunha (projeto gráfico e diagramação) Elizabeth Cordeiro Silva (auxiliar técnico-administrativo), Nilza Franco Portela (técnica de nível superior), Pedro Alves Cabral Filho (assistente técnico administrativo) Mariane Pessanha, Lara Tavares, Bárbara Pimenta, Lucas Lins, Paulo Damasceno, Álvaro Sardinha, Daniella Costantini (bolsistas Universidade Aberta) Rebeca Picanço, Thais Peixoto, Letícia Barroso, Tiago Elias, Ana Clara Vetromille (estagiários) ASCOM: (22) 2739-7119 / 2739-7813 / 0800-025-2004 / uenf@uenf.br Reitoria: (22) 2739-7003 www.uenf.br

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Tiragem: 10 mil exemplares – Distribuição – gratuita e dirigida Impresso por: Didática Editora do Brasil Ltda.

Vinte anos de lutas e glórias Enfim, chegamos aos 20 anos! Esta edição histórica da Revista Nossa Uenf procura resgatar um pouco desta trajetória, marcada por momentos de luta e dificuldades, mas também de muitas glórias. Começamos relembrando a mobilização popular que, no final dos anos 1980, conseguiu inserir na Constituição Estadual uma emenda criando a Universidade Estadual do Norte Fluminense, com sede em Campos dos Goytacazes. Dois personagens importantes na história da UENF são focalizados nesta edição: Finazinha Queiroz, que na década de 1970 doou a própria casa para a universidade a ser instalada em Campos dos Goytacazes -- quando o projeto da UENF ainda nem existia --, e o mestre Darcy Ribeiro, que ao ser incumbido de idealizar a UENF usou toda a experiência que possuía na criação de universidades no Brasil e exterior e criou um modelo completamente novo para a instituição - a qual carinhosamente batizou de “A universidade do terceiro milênio”. A Revista mostra também o legado de outro personagem importante para a história da Universidade: Oscar Niemeyer, autor do projeto arquitetônico da UENF. E chama a atenção para um momento crucial na história da Universidade: a autonomia administrativa, ocorrida em 2001 após intensa mobilização da comunidade universitária. Nesta edição, a Revista Nossa UENF traça um panorama das três áreas que, segundo a Constituição Brasileira, devem nortear as ações das universidades: ensino, pesquisa e extensão. E dá uma amostra da produção científica da instituição, mostrando algumas das suas principais pesquisas. Enfoca ainda a iniciação científica, área forte da UENF que vem ajudando a despertar vocações entre os jovens estudantes. Mas uma Universidade não se faz só de alunos e professores e nesta edição lançamos luz sobre o importante trabalho dos servidores técnicos-administrativos que atuam na instituição. Na seção Entrevista, o personagem é o secretário de estado de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca, que promete novidades para a região. Desejamos a todos uma excelente leitura! Silvério de Paiva Freitas Reitor da Uenf


Presença da UENF no RJ

Pós-Graduação

Graduação Administração Pública Agronomia Ciência da Computação e Informática Ciências Biológicas Ciências Sociais Engenharia Civil Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo Engenharia de Produção Engenharia Metalúrgica Licenciatura em Biologia

Mestrado e Doutorado Licenciatura em Ciências Biológicas a Distância Licenciatura em Física Licenciatura em Matemática Licenciatura em Pedagogia Licenciatura em Química Licenciatura em Química a Distância Medicina Veterinária Zootecnia

Biociências e Biotecnologia Ciência Animal Ciências Naturais Ecologia e Recursos Naturais Engenharia de Reservatório e de Exploração Engenharia Civil Engenharia e Ciência dos Materiais Genética e Melhoramento de Plantas Produção Vegetal Sociologia Política

Mestrado Cognição e Linguagem Engenharia de Produção Políticas Sociais Matemática - Mestrado profissional PROFMAT

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A criação da UENF Universidade nasceu de um vigoroso e persistente movimento cívico e popular Chegar aos 20 anos já seria motivo de comemoração, mas muito mais quando se conhece a história da UENF e o quanto esta universidade deu trabalho para “nascer”. Embora o sonho com uma universidade remonte a muitas décadas, o pontapé inicial para o surgimento da UENF foi uma grande campanha popular realizada em Campos em 1989. Aproveitando os ventos democratizantes da nova Constituição Federal, promulgada em 1988, cidadãos campistas se mobilizaram para apresentar uma emenda popular prevendo a criação da Universidade na Constituinte Estadual. Um total de 4.141 assinaturas qualificadas (com dados de identificação completos) embasou a emenda pró-UENF, afinal aprovada e inserida no Artigo 49 das Disposições Transitórias da Constituição Estadual. Antes disto, outro episódio importante deixaria marcas na história: viúva e sem filhos, a senhora Maria Tinoco Queiroz, conhecida como Dona Finazinha, deixou em testamento o seu casarão, erguido em zona nobre da cidade, para sediar a Reitoria de uma futura universidade. Falecida em 1970, Finazinha legou à cidade o que viria a ser a Casa de Cultura Villa Maria. Antes do nascimento da UENF, a Casa chegou a ser restaurada pelo governo do antigo estado do Rio em 1974, mas o projeto da sonhada universidade não foi adiante. Ainda na década de 1970, o prédio abrigou a Prefeitura de Campos, até que fosse definitivamente transferido para a UENF em 1995. De acordo com Mário Lopes Machado, na ocasião dirigente do Sindicato dos Professores de Campos e Macaé e um dos líderes do movimento pela implantação da Universidade, seria necessário reunir ao menos 3 mil assinaturas qualificadas. Com ampla mobilização e apoio da Prefeitura, tendo à frente o prefeito Anthony Garotinho em seu primeiro mandato, conseguiu-se alcançar o número de 4.141 assinaturas. — Eu era professor da Faculdade de Filosofia e diretor do Sindicato dos Professores de Campos. Então, na condição de diretor do Sindicato, nós elaboramos, com a União dos Diretórios Acadêmicos, com a Prefeitura, com a Associação dos Professores da Faculdade de Filosofia, uma minuta de emenda constitucional, com uma série de justificativas, e terminava pedindo que se incluísse onde coubesse um artigo: “O Estado criará a Universidade Estadual do Norte Fluminense, com sede em Campos, num prazo de três anos da promulgação desta Carta.” E a gente conseguiu, num prazo muito rápido, ultrapassar o número de assinaturas necessárias — conta Mário Lopes.

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foi um parto...

Acima, reprodução da primeira página do abaixo assinado que deu origem à emenda popular


Darcy Ribeiro, Gilca Wainstein e Wanderley de Souza são apresentados por Oscar Niemeyer à planta da UENF. Abaixo, o terreno onde hoje é o campus Leonel Brizola

Fotos: Acervo da Fenorte

Brizola é acompanhado por Darcy e várias autoridades locais e estaduais nos jardins da futura casa de Cultura Villa Maria. Abaixo, alunos, professores e membros da comunidade abraçam a UENF

Através da Comissão Pró-Emenda Popular pela Universidade Estadual do Norte Fluminense, o ofício foi entregue ao presidente da Comissão Constitucional da Alerj, deputado Josias Ávila. Durante a audiência na Comissão de Constituição e Justiça da Constituinte Estadual, Mário Lopes pôs na mesa a proposta de fusão da Fundação Cultural de Campos (responsável pelas faculdades de Filosofia, Odontologia e Direito) e da Fundação Benedito Pereira Nunes (mantenedora da Faculdade de Medicina de Campos). Até então, esta era a concepção que norteava o projeto da UENF. Na mesma época, conta Mário Lopes, a deputada Ivete Vargas propôs o monopólio do ensino superior estadual para a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, à época a única universidade estadual). A iniciativa, também ancorada em proposta popular, contava com mais de 50 mil assinaturas. Porém, segundo Mário Lopes, acabou sendo aprovada a previsão de criação da UENF, com a ressalva de que, se o artigo não fosse regulamentado no prazo de 18 meses, os novos cursos previstos seriam implantados pela Uerj. De acordo com o artigo 49 das Disposições Transitórias da Constituição Fluminense, a UENF teria sede em Campos e cursos de Medicina Veterinária em Santo Antônio de Pádua, de Agronomia em Itaocara e de Engenharia em Itaperuna. Lutas e prazos - Uma vez promulgada a Constituição Estadual, o desafio era tirar do papel o Artigo 49 antes que perdesse a vigência pela passagem dos 18 meses. Durante um debate entre candidatos à eleição de deputados de 1990, Mário Lopes fez um apelo a que o candidato mais próximo do então governador Moreira Franco o convencesse a editar uma lei regulamentando o artigo constitucional antes de vencer o prazo. Quem se incumbiu da tarefa foi José Carlos Vieira Barbosa, o Zezé Barbosa, que fora prefeito de Campos por três mandatos e na ocasião disputava uma vaga na Assem-

bleia Legislativa. E a estratégia deu certo: no dia 08/11/90 o governador Moreira Franco sancionava a Lei 1.740, que autorizava o Poder Executivo a criar a Universidade Estadual do Norte Fluminense. Segundo Mário Lopes, houve uma solenidade no auditório do colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde foi apresentado o projeto de lei de apenas um artigo em que dizia: “Fica criada a Universidade Estadual do Norte Fluminense nos termos do Artigo 49 das Disposições Transitórias”. A festa contou com a presença de políticos dos mais variados perfis, incluindo o então governador Moreira Franco, o então prefeito Anthony Garotinho e os ex-prefeitos Rockfeller de Lima e José Carlos Vieira Barbosa. Com a lei aprovada, era necessário estudar a implantação da UENF. Uma Comissão nomeada pelo governo elaborou a proposta do Estatuto e a entregou ao governo em dezembro de 1990. Em fevereiro de 1991, o Decreto 16.357 criava do ponto de vista formal a UENF e aprovava seu estatuto. Mas era preciso tirar a Universidade do papel, e esta foi uma promessa de campanha do então candidato a governador Leonel Brizola, que assumiria em 1991. Ao dar cumprimento a sua promessa, Brizola delegou a Darcy Ribeiro a tarefa de coordenar os trabalhos. Ao assumir a função, Darcy rejeitou a ideia de união entre as faculdades pré-existentes na cidade e propôs o desafio de fazer uma universidade focada em pesquisas, à qual deu o apelido de “Universidade do Terceiro Milênio”. Membros dos grupos mais diretamente envolvidos na luta pró-Uenf, sobretudo professores das antigas instituições de ensino superior de Campos, se sentiram alijados do processo diante do modelo concebido por Darcy, que previa, por exemplo, a exigência do doutorado para todo o quadro docente. Mas os horizontes que se abriram para a cidade puseram Campos e o Norte Fluminense no mapa da ciência e das melhores universidades brasileiras.

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Uma

Foto:Felipe Moussallem

‘rainha’com visão de futuro


Muito antes do movimento popular que lutou pela criação da UENF, a Universidade já era sonhada pela professora campista Maria Tinoco Queiroz, a ‘Finazinha’. Tanto que, em seu testamento, deixou a própria casa — o palacete Villa Maria, nos jardins do Liceu — para ser doada à “futura” universidade. Vinte e três anos após a sua morte, o sonho se transformou em realidade, com a inauguração da Casa de Cultura Villa Maria. Destinada a sediar o centro cultural da UENF, a Casa de Cultura Villa Maria foi inaugurada em 08 de dezembro de 1993. Casada com o engenheiro Atilano Chrisóstomo de Oliveira, Finazinha recebeu o apelido devido à data de seu nascimento: 02 de novembro de 1887, Dia de Finados. No final da vida, Finazinha não possuía herdeiros dire-

Foto:Felipe Moussallem

Finazinha Queiroz doou o palacete Villa Maria para a universidade a ser instalada em Campos muito antes que a UENF fosse cogitada

Fotografia do portrait que decora o salão de entrada da Casa de Cultura Villa Maria

tos, uma vez que sua única filha, Alice, faleceu prematuramente, sem deixar descendentes. Viúva, sozinha e com muitas posses, Finazinha se dedicava à filantropia, sendo conhecida no meio social

campista como “Rainha da Bondade”. Também ajudava os jovens, o que lhe rendeu o título de “madrinha dos estudantes”. Professora da antiga Escola Normal de Campos, que funcio-

nava no Liceu, Finazinha ficou encantada com a estudante Ângela Maria Sarmet quando esta recitava uma poesia. Ângela, que hoje é pediatra, conta que Finazinha a convidou para passar um

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— No Natal ela distribuía caminhões de presentes e gostava de receber a visita dos estudantes em sua casa. Nas formaturas dava anéis aos formandos que não podiam comprar. Tratava muito bem a todos e pensava no bem geral da cidade, tanto que teve o cuidado de deixar sua casa para a universidade que se instalasse em Campos. Um dado interessante é que ela se envaidecia muito com as homenagens que recebia nos programas de rádio. Era muito receptiva — lembra o radialista. Quem também se lembra de Finazinha é a professora Ana Peixoto. — Não a conheci pessoalmente, mas como eu estudava no Liceu, que fica próximo à Villa Maria, muitas vezes tive a oportunidade de vê-la. A generosidade era uma característica bem visível nela — diz.

Vista do centro da cidade a partir do mirante do Palacete Finazinha Queiroz, atual Casa de Cultura Villa Maria.

Na história de Campos, consta ainda que Finazinha fez outra grande doação em vida: a área onde hoje está localizada a comunidade do Tamarindo, no Parque Tamandaré. Sabendo de sua generosidade, um grupo de famílias pobres, que não tinha lugar para morar, pediu que Finazinha doasse uma área onde pudessem construir suas casas. O pedido foi aceito e a comunidade existe até hoje. Uma cena comum em Campos, no Natal, era a formação de enormes filas em frente ao portão da Villa Maria para receber presentes doados por Finazinha. Muitas entidades também foram beneficiadas financeiramente por ela, que se tornou madrinha também da Associação de Imprensa Campista e da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Finazinha faleceu em 18 de dezembro de 1970, aos 83 anos de idade.

Foto:Felipe Moussallem

dia inteiro em sua casa. — Foi inesquecível. Ela era muito atenciosa, carinhosa e acolhedora. Lembro dos criados, que eram muitos, todos uniformizados. Uma coisa que me chamava muito a atenção era a forma como Finazinha acenava. Não era como a gente costumava fazer. Era como se a mão dela fosse fazendo um espiral. Geralmente quando passo em frente à Villa Maria me recordo que tive o privilégio de brincar naquele jardim — conta. O radialista José Sales também manteve contato estreito com Finazinha. Ele conta que em épocas especiais, como o Natal, ela costumava pedir a alguém para fazer um levantamento nas comunidades mais carentes para saber quais as necessidades dos moradores, com o objetivo de presenteá-los.


A

marca de

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Ilustração: Baptistão - Reproduzida do site: baptistao.zip.net


Prédios que compõem o campus da UENF levam a assinatura do mestre Oscar Niemeyer e se destacam na paisagem de Campos dos Goytacazes O arquiteto Oscar Niemeyer, faleciprédio ocupa uma área aproximada de do em 05/12/2012, deixou um legado expressivo em Campos dos Goytacazes. Sua marca está no projeto arquitetônico do campus da UENF, formado por um conjunto de prédios que se destacam na paisagem do município. Um deles é o Centro de Convenções, que a partir deste ano — por decisão unânime do Conselho Universitário — incorporou o nome de Oscar Niemeyer. Considerado um dos cartões postais de Campos dos Goytacazes, o Centro de Convenções Oscar Niemeyer foi inaugurado em 2007. Suntuoso e original, o

8,3 mil m2 logo na entrada do campus universitário. Além de abrigar eventos da própria UENF, também serve à comunidade externa para congressos, simpósios, exposições, espetáculos musicais, entre outros eventos. Outra obra de arte de Niemeyer que chama a atenção no campus da Uenf é o prédio do Hospital Veterinário, inaugurado em 2006. O prédio, que ocupa uma área de aproximadamente 7,9 mil m2, concentra atividades de ensino, pesquisa e extensão do curso de Medicina Veterinária das UENF.


Os prédios mais antigos, em forma de CIEPs — nos quais se encontra grande parte dos setores administrativos, salas de aula e laboratórios da Universidade — estão dispostos de tal forma que, vistos do alto, formam um grande “cocar”. Foi a forma que Niemeyer escolheu para homenagear os primeiros habitantes de Campos, os índios Goitacá. Dois prédios projetados por Niemeyer para a UENF ainda não foram construídos: a Biblioteca Central e o Espaço da Ciência. A primeira deverá ocupar o espaço onde hoje há um campo de futebol, entre o Centro de Convenções e o estacionamento do Centro de Ciências do Homem (CCH). Já o Espaço da Ciência ficará entre o Centro de Convenções e o Hospital Veterinário (mesmo local onde o Espaço já funciona, dentro de uma tenda). Ainda não há previsão para as obras destes prédios, que deverão concluir o projeto

original da UENF elaborado por Niemeyer. Segundo o prefeito da UENF, Gustavo Xavier, os valores estimados para as duas obras totalizam R$ 29,6 milhões (R$ 5,6 milhões para o Espaço da Ciência e R$ 24 milhões para a Biblioteca Central). O assunto tem sido discutido entre o reitor da UENF, Silvério de Paiva Freitas, e o secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca, com boas possibilidades de concretização das obras. — Temos um projeto preliminar básico dos prédios da Biblioteca Central e do Espaço da Ciência, deixados por Niemeyer. Faltam os projetos executivos arquitetônico e de engenharia. O primeiro compreende a urbanização, humanização, estudo de mobilidade interna e paisagismo. Já o segundo inclui o projeto estrutural, elétrico, hidrossanitário, redes de internet e telefonia etc — explica Gustavo Xavier.


A Universidade Terceiro

MilĂŞnio Ao projetar a UENF no inĂ­cio dos anos 1990, Darcy Ribeiro criou um novo modelo de universidade

Fotos: Acervo da Fenorte

do


“Em lugar de mais uma universidade regional formadora de pessoal do tipo comum, aproveitamos a oportunidade para criar a Universidade Nova de que o Rio e o Brasil precisam. Uma Universidade do Terceiro Milênio (...). Seu tema é o estudo do Brasil como problema. Seu objetivo é dominar todo o saber humano, especialmente as novas tecnologias de ponta, para nessa base diagnosticar as causas do nosso atraso e abrir linhas para o desenvolvimento nacional pleno e autônomo”. Com estas palavras, Darcy Ribeiro apresentou o projeto da UENF ao então governador Leonel Brizola em 1991, como lembra a professora Yolanda Lobo, do Centro de Ciências do Homem da UENF (CCH/UENF), estudiosa da obra de Darcy. Após uma vida de muitas realizações no campo da educação, a UENF foi o último grande projeto de Darcy, que faleceu em 17 de fevereiro de 1997. Segundo Yolanda, a criação da UENF foi encarada por Darcy como um “privilégio extraordinário”, “honroso” e “o mais gratificante” de sua vida. Era a oportunidade, segundo escreveu, de “repensar as universidades em suas estruturas e funções”, para que pudessem corresponder às “novas exigências dos tempos modernos”. — A experiência de Darcy na criação de ou-

tras universidades teve papel preponderante na idealização da UENF. Ele dizia que a criação ou modernização das universidades brasileiras deveria ser feita a partir da experiência nacional e internacional acumuladas, para beneficiar-se tanto dos seus erros, não os repetindo, como de seus acertos — diz Yolanda. Na avaliação de Darcy Ribeiro, um dos erros teria sido a departamentalização das universidades brasileiras, a partir do modelo da Universidade de Brasília (UnB). Yolanda observa que, na opinião de Darcy, este sistema resultou improdutivo, porque se distanciou de seus objetivos fundamentais: promover a integração entre professores responsáveis por matérias curriculares e anular o peso dos catedráticos. — Ele avaliava que o departamento, em vez de se constituir órgão acadêmico, transformou-se em órgão burocrático, promotor de regras administrativas que sufocam o ensino e aprisionam a pesquisa — diz a professora. Para a UENF, Darcy propôs um modelo inovador, no qual os departamentos são substituídos por laboratórios temáticos e multidisciplinares como célula da vida acadêmica. A partir de estudos sobre modelos de universidades e das mudanças provocadas pela globalização e pelas Ciências, ressalta Yolanda, Darcy Ribeiro

dizia que era preciso avançar no sentido de criar. Darcy afirmou: “É com base nessa compreensão do que é e do que deve ser a universidade que concebemos a Universidade Estadual do Norte Fluminense como uma Universidade do Terceiro Milênio. Vale dizer, uma instituição acadêmica plenamente consciente de que seus alunos já irão operar depois dos anos 2000. No corpo da Civilização Emergente, cujas características mal podemos imaginar”. Yolanda observa que, para Darcy, essa “Civilização Emergente” tem um “traço distintivo”, definível: “o seu humanismo não será apenas o cultivo das letras e da filosofia clássica. Será, isto sim, o novo humanismo fundado nas ciências básicas, nas tecnologias decorrentes e em novas questões sobre a vida e sobre o homem que elas estão suscitando”. Segundo Yolanda, o modelo estabelecido para a UENF deveria, na sua concepção, ser capaz de vencer os obstáculos que se apresentavam à universidade brasileira, notadamente “a orgia de formalismos” revestidos numa burocracia inoperante. — Para Darcy, a Universidade do Terceiro Milênio é a universidade da Civilização Emergente que dá origem a uma nova ordem de coisas: é a era digital, dos satélites, das redes sociais, das teleconferências, da internet.

Um novo modelo de universidade Antropólogo, Darcy deu início a seus trabalhos na área de educação em 1954, quando formulou o primeiro curso de pós-graduação em Antropologia Cultural na cidade do Rio de Janeiro. A partir daí começa sua amizade com o educador Anísio Teixeira, que no ano seguinte o convida para dirigir a Divisão de Pesquisas Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE). — Na direção do órgão, Darcy forma uma equipe composta por sociólogos e antropólogos para realizar pesquisas sobre a situação educacional do país e transforma o Brasil num grande

Laboratório -- diz Yolanda. Mais tarde, como diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), Darcy cria uma universidade “livre e aberta a qualquer pessoa”, formadora de seres humanos capazes de descobrir, criar e inventar em ciências, artes e técnicas: a UnB. — Nos anos de exílio, Darcy Ribeiro ocupou-se em reestruturar universidades em vários países: no Uruguai, na Venezuela, no Chile, na Costa Rica e na Argélia -- afirma Yolanda. No retorno ao Brasil, no primeiro governo Brizola, Darcy Ribeiro ocupa-se intensamente da

educação pública, com o projeto de criar a escola de tempo integral para crianças e adolescentes: os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs). Convidado por Brizola em 1991 para projetar a UENF, Darcy se licencia do Senado para dedicar-se à tarefa. — Darcy mobilizava redes de referências institucionais no Brasil e exterior para discutir o perfil das universidades. Daí nasceu o modelo de universidade que ele chamou de universidades “dos povos pobres”, que expressaria um novo humanismo fundado nas ciências básicas e nas tecnologias delas decorrentes — diz.

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NOTÍCIAS

CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ 23 DE OUTUBRO 2001

Foto: Acervo pessoal

Autonomia: momento histórico na UENF

Ato público pró-autonomia na escadaria da Alerj

Um dos momentos mais marcantes da história da UENF foi a conquista de sua autonomia administrativa, ocorrida em 2001. A autonomia significou, na prática, o desligamento entre a UENF e a Fundação Estadual do Norte Fluminense (Fenorte), até então sua mantenedora. Foi a partir desta data que o nome do idealizador da UENF, Darcy Ribeiro, passou a figurar também no nome da instituição, como já era previsto na Lei nº 2.786, de 15 de setembro de 1997. A autonomia da UENF foi precedida de uma grande mobilização da comunidade universitária, que cobrava do então governador Anthony Garotinho o cumprimento de sua promessa de campanha. O programa de governo estabelecia, como medida prioritária, a sanção da chamada Lei Edmilson Valentim, que previa a autonomia administrativa da UENF. A lei — que es-

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tabelecia a incorporação da Fenorte pela UENF — havia sido aprovada pela Assembleia Legislativa (Alerj), mas não fora sancionada pelo governador anterior, Marcello Alencar. A luta pela autonomia uniu todos os segmentos da comunidade universitária — professores, alunos e servidores técnico-administrativos — nas duas primeiras greves da história da Universidade. A primeira durou um mês, entre 14/10 e 14/11/00, e foi interrompida pela nomeação e atuação de uma Comissão Paritária com três membros da UENF e três membros do governo para propor o modelo da autonomia. Os trabalhos duraram cinco meses (dezembro de 2000 a maio de 2001) e, ao final, ficou decidido que o governo deveria enviar à Alerj um projeto instituindo a UENF com personalidade jurídica e autonomia. A comissão embasava-se no artigo 207 da Constituição,


que diz: “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. No entanto, um mês após o término dos trabalhos da comissão paritária, o governo ainda não havia dado encaminhamento ao projeto de autonomia. Em meio à ameaça de uma nova greve, o Conselho Universitário da UENF elaborou uma moção cobrando do governo o cumprimento dos compromissos firmados na comissão. Diante da falta de resposta por parte do governo, a greve foi retomada, impedindo a abertura do segundo semestre letivo de 2001, e durou até outubro de 2001. Nem mesmo o corte de ponto dos grevistas conseguiu dissolver o movimento. Também foi iniciado um movimento visando à obtenção de apoio externo à causa da autonomia da UENF. O professor Helion Vargas, chefe do Laboratório de Ciências Físicas (LCFIS) do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT), acredita que o apoio da Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi decisivo para a autonomia, uma vez que levou a questão para fora dos limites de Campos dos Goytacazes, onde a UENF está situada. Para o professor Antônio Constantino de Campos, que hoje ocupa o cargo de diretor administrativo da UENF, também pesou o progressivo esgotamento das razões do governo para não cumprir o compromisso de campanha. A lei de autonomia (Lei Complementar nº 99) foi aprovada em 23/10/01. A lei não estabeleceu a incorporação da Fenorte pela UENF, conforme havia sido pensado anteriormente. A autonomia também não engloba a gestão financeira, uma vez que a Universidade ainda depende do repasse dos recursos do governo do estado.

LEI COMPLEMENTAR Nº 99, DE 23 DE OUTUBRO DE 2001. DISPÕE SOBRE A ÁREA DE ATUAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO - UENF, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. O Governador do Estado do Rio de Janeiro, Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF, instituída em conformidade com a autorização constante da Lei nº 2043, de 10 de dezembro de 1992, fica integrada à Administração Estadual Indireta, sob a forma de uma fundação com personalidade jurídica de direito público. § 1º - A UENF terá duração indeterminada, sede e foro na cidade de Campos dos Goytacazes e outros campi ou unidades de ensino, de atuação científica ou de pesquisa nas Regiões Norte, Noroeste e dos Lagos do Estado do Rio de Janeiro.

§ 2º - A UENF gozará de autonomia didático-científica, administrativa, e de gestão financeira e patrimonial.

Primeiras eleições diretas para reitor Ao invés de sancionar a lei da autonomia logo após tomar posse, como havia prometido, o governador Anthony Garotinho optou por nomear um reitor pro-tempore com a missão de organizar as primeiras eleições diretas para reitor da UENF, bem como elaborar o Estatuto da Universidade. Professor titular de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Adilson Gonçalves ocupou o cargo de reitor da UENF nos primeiros seis meses de 1999. Ele lembra que as divergências com a Fenorte começaram a surgir ainda no governo de Leonel Brizola e estavam ligadas basicamente às competências envolvendo decisões sobre a Universidade. Adilson, que já havia atuado

na UENF na fase de implantação, recorda que muitas decisões prioritárias para alguns laboratórios muitas vezes deixavam de ser implementadas a critério da Fenorte, gerando muita insatisfação. A comunidade da UENF esperava que as eleições diretas para reitor fossem o primeiro passo rumo à autonomia, mas os passos seguintes não viriam na mesma velocidade. O professor Salassier Bernardo, do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), foi o primeiro reitor eleito da UENF, tendo tomado posse em 06/07/99. No entanto, até 2001 a Fenorte — cujo presidente é indicado pelo governador — continuaria a ocupar papel primordial dentro da Universidade.

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Trabalhando duro Servidores técnico-administrativos constituem uma força de trabalho imprescindível para a realização das atividades-fim da universidade Quando se fala em universidade, é comum que o pensamento da maioria das pessoas se volte para suas atividades-fim — ensino, pesquisa e extensão. Poucos se dão conta de que, por trás de tudo aquilo que a universidade realiza, existe um corpo técnico que trabalha diariamente para o funcionamento de toda esta engrenagem. Um trabalho que, embora muitas vezes não apareça, é imprescindível para que a universidade possa alcançar seus objetivos. A UENF possui 538 servidores técnico-administrativos, que atuam nas mais diversas funções. Gente como Célio Leandro de Araújo, que trabalha no protocolo da Reitoria desde 2002 como assistente administrativo. Célio conta que o trabalho na universidade veio em um momento difícil

de sua vida. Três anos antes de fazer o concurso público para a UENF ele sofreu um acidente automobilístico e ficou paraplégico. — Peguei dinheiro emprestado com minha mãe para fazer a inscrição através da cota de deficiência e passei. O trabalho acabou me ajudando a encarar esta nova etapa da minha vida. Comecei a me sentir útil novamente e isso aumentou minha autoestima. Passar no concurso e voltar para o mercado de trabalho me fez tão bem que acabei esquecendo um pouco a minha deficiência. A UENF me estimulou ainda a fazer uma faculdade porque você acaba se impregnando com toda essa atmosfera acadêmica — conta Célio, que se formou em Administração pelo Cederj. A auxiliar de serviços gerais Claribel Silva dos Santos, que trabalha na Claribel Silva dos Santos

Beatriz Moraes

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UENF desde 1993, também garante que o trabalho na Universidade tem sido fundamental em sua vida. Funcionária mais antiga do setor de Limpeza, ela participou de momentos importantes na Universidade. Um deles foi o primeiro vestibular, realizado em 03/06/1993. O outro foi a aula inaugural da UENF, ocorrida em 16/08/1993 — data definida como a de implantação da Universidade. — Quando eu entrei aqui havia apenas o Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias

(CCTA). Vi tudo isso mudar e aprendi muito. A maior mudança que o trabalho trouxe para mim foi interior. Por exemplo: aprendi a ouvir mais e falar menos — diz. Quem também viu a universidade crescer diante dos olhos foi Beatriz Moraes, que atua no setor de Pós-graduação do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da UENF. Beatriz era estudante de Publicidade na Faculdade de Filosofia de Campos (Fafic) quando entrou na UENF, em 1993. Concluiu o curso de graduação,

mas não quis seguir a profissão, optando por continuar trabalhando na UENF. — Eu tinha 18 anos quando comecei a trabalhar aqui. Cresci junto com a universidade e trabalho com prazer porque quando não estou bem dou uma volta pelos bosques e recupero minhas energias. Estou orgulhosa por participar destes 20 anos de história da UENF, pois vejo que o conceito de Universidade do Terceiro Milênio, imaginado por Darcy Ribeiro, está se concretizando com sucesso — afirma.

Fotos:Felipe Moussallem e Alex de Azevedo

Célio Leandro de Araújo

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Ensino Pesquisa Extensão

Pró-reitores falam sobre os avanços obtidos nestas três áreas ao longo dos 20 anos da UENF e o que ainda precisa ser feito

Ensino, pesquisa e extensão. Este é o tripé que, segundo a Constituição Brasileira, deve nortear as ações das universidades. Em seu artigo 207, a carta magna estabelece “a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão”. Mas qual o panorama destas três áreas dentro da UENF? Que avanços foram obtidos nestes 20 anos e o que ainda falta alcançar? A Revista Nossa UENF ouviu os pró-reitores de cada uma destas áreas para encontrar estas respostas. A professora Ana Beatriz Garcia, pró-reitora de Graduação, destaca uma série de avanços na área de ensino, dentre eles a oferta de cursos de ponta, como é o caso do curso de Engenharia de Petróleo, considerado o melhor do país no último Enade. Ela também chama a atenção para as Licenciaturas, que hoje formam profissionais altamente qualificados para atuar na educação básica em todo o Norte/Noroeste Fluminense.

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Outro avanço importante, segundo a pró-reitora, foi a oferta de cursos na modalidade semipresencial, em parceria com o Cederj. Na sua opinião, estes cursos têm cumprido o importante papel social de levar o ensino superior de qualidade a cidadãos que, de outro modo, não teriam a oportunidade de cursar uma universidade. — Também podemos destacar, dentre os avanços obtidos ao longo destes 20 anos de história da UENF, a internacionalização da graduação, principalmente através dos programas Ciência Sem Fronteiras e Licenciaturas Internacionais. Uma medida que nos permitiu avançar muito foi a adesão ao Sisu/MEC, que deu visibilidade nacional para a Universidade, aumentando a procura e a ocupação das vagas em sua totalidade — afirma. Para os próximos anos, uma das metas é melhorar a infraestrutura necessária para a oferta

de atividades práticas e de integração com o campo de atuação do futuro profissional. Outra meta é fomentar a participação dos estudantes em programas de mobilidade estudantil, dentro e fora do país, bem como apoiar a criação de novos cursos de graduação. Já foram aprovados os novos cursos de Filosofia e Engenharia Meteorológica e encontra-se em discussão a criação dos cursos de Letras, Licenciatura em Ciências Sociais e Engenharia Mecânica. Também deverá ser ampliada a oferta de cursos na modalidade semipresencial, abrangendo além das licenciaturas também cursos na área de Engenharia. — Para além das avaliações efetuadas pelos órgãos públicos, a melhor medida que temos da qualidade de nossos cursos é a boa inserção de nossos egressos no mercado de trabalho — diz a pró-reitora.


Referência na pesquisa Nascida com forte vocação para a pesquisa, a UENF chega aos seus 20 anos como referência em várias áreas da ciência. O pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UENF, Antônio Teixeira do Amaral Júnior, observa que o nível das pesquisas realizadas pela UENF pode ser aferido pelas publicações de artigos científicos, que têm elevado a qualidade dos programas de pós-graduação da UENF. A força da pesquisa também produz reflexos na crescente captação de recursos junto às agências de fomento. Junto à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Ciência e Tecnologia (Faperj), por exemplo, a UENF praticamente dobrou o volume de recursos captados nos últimos seis anos, passando de R$ 11,5 milhões em 2007 para R$ 24 milhões em 2012.

A UENF vem atuando também na proposição de novos editais. Partiu de sugestões da UENF a criação de dois novos editais lançados recentemente pela Faperj: Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (DCTR) e Infraestrutura para as Universidades Estaduais. Na primeira versão do DCTR, em 2008, dos 67 projetos aprovados, 43 eram da UENF. Dos R$ 10 milhões disponibilizados, a UENF ficou com R$ 5,8 milhões para investir em suas pesquisas. Diversas ações vêm sendo desencadeadas, segundo o pró-reitor, para melhorar o conceito dos programas de Pós-Graduação da UENF. Uma delas é o apoio da PROPPG à tradução de artigos científicos para o inglês, através da American Journal Experts (AJE) com o uso do Programa de Apoio à Pós-Graduação

(Proap/Capes). Outra ação é a internacionalização das pesquisas e da pós-graduação. Recentemente, a UENF inseriu-se no Programa de Bolsas de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) da Capes, o que já permitiu a saída de alunos da UENF para universidades conceituadas de França, Austrália, Estados Unidos, Portugal, Alemanha e Japão. Alunos do Pibic também têm sido incentivados a realizar estágios de graduação sanduíche no exterior, através do programa Ciência sem Fronteiras. Diversos alunos já passaram por universidades como Michigan State University (EUA), Pennsylvania State University (EUA), Universidade do Porto (Portugal), University of Adelaide (EUA), University of Western (Austrália), dentre outras.

Avanço na Extensão Desde a implantação da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PROEX), a área de extensão vem crescendo significativamente dentro da UENF. Segundo o pró-reitor Paulo Roberto Nagipe da Silva, em 2013 foram consolidados convênios bastante promissores. Um deles, de cooperação técnica, foi firmado entre a UENF e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) visando a atuação de pesquisadores da Universidade nas unidades de conservação regionais: Parque do Desengano, Parque de Guaxindiba e Parque da Lagoa do Açu. Também está sendo implantado no assentamento Josué de Castro uma unidade demonstrativa ecossustentável, envolvendo a construção de um biodigestor acoplado a uma granja de suínos com capacidade para 750 animais. — O biodigestor vai gerar biogás a partir dos dejetos suínos e da glicerina, que é resíduo da produção de biodiesel. Teremos também a pro-

dução de biofertilizante para a lavoura. O biogás será usado na geração de energia elétrica e no abastecimento dos fogões dos assentados. O projeto está sendo financiado pela Queiroz Galvão Energia — explica. Segundo Nagipe, o apoio da Reitoria tem sido fundamental para alavancar a área de Extensão na Universidade. Foram criados programas de apoio, como o Universidade Aberta, que permite a contratação de profissionais externos para atuar, junto com alunos e profissionais da UENF, em projetos e programas de extensão. — Os valores das bolsas de extensão têm acompanhado os mesmos valores das bolsas de iniciação científica, valorizando aqueles que desenvolvem trabalhos de extensão. Além disso, as pessoas envolvidas têm sido valorizadas no sistema de avaliação interno. No entanto, a extensão ainda encontra restrições por parte de algumas pessoas. Necessitamos urgente-

mente de fontes governamentais de fomento para a extensão universitária — diz. Um grande avanço nestes 20 anos, segundo o pró-reitor, foi a criação da Escola de Extensão. A Escola começou com a oferta de um curso para técnicos com formação em Química com o objetivo de qualificá-los para trabalhar na indústria de petróleo (Promimp). Em agosto deverá ser iniciado um curso de pós-graduação lato sensu em Petróleo e Gás. — No entanto, ainda há muito o que avançar, principalmente quanto ao entendimento da necessidade de manter o tripé ensino, pesquisa e extensão. Trata-se de um conjunto harmônico e indissociável, pois é impossível trabalhar numa sem a parceria da outra. A composição equilibrada deste tripé permite a formação não apenas de bons profissionais mas de indivíduos capazes de exercer a cidadania plena — diz.

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Foto: Felipe Moussallem

Foco pesquisa na

Uma Universidade que nasceu com o foco na pesquisa não poderia fazer diferente. Em seus 20 anos de existência, a UENF vem contribuindo com excelência para o crescimento da ciência nacional em suas mais diversas áreas. Grande parte das pesquisas desenvolvidas pelos pesquisadores da Universidade busca contribuir para a solução de problemas locais e regionais. É o caso, por exemplo, do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV), cujas pesquisas tiveram início em 1994, um ano após

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a UENF ter sido implantada. O primeiro protores regionais — diz o chefe do LMGV, professor duto obtido pelos pesquisadores da UENF foi Alexandre Pio Viana, lembrando que também o milho UENF 506-8, em 1999. O coordenador estão em processo de registro no Ministério da das pesquisas foi o professor Messias Gonzaga Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) cultivares melhoradas de pimenta, desenvolviPereira, que também desenvolveu o mamão UENF Calimã, em 2003, e se prepara para landas pela professora Rosana Rodrigues. çar duas cultivares de feijão preto: UENF São Ele observa que, para obter o registro no Tomé e UENF Rioparaíba. Ministério da Agricultura e, consequentemen— As pesquisas na área de melhoramento te, poder ser comercializada, a variedade deve vegetal têm por objetivo desenvolver cultivares passar pelo chamado ensaio de valor de cultivo que sejam adaptadas ao Norte/Noroeste Flumie uso (VCU). Trata-se de um experimento feito no campo anos, com o objetivo de nense, servindo assim de alternativa aos produ- Cidoval Professor Moraispor dedois Sousa durante o Minicurso


mia de divisas que a variedade desenvolvida na UENF está permitindo ao país. Até então todos os pomares de mamão formosa eram plantados com semente importada de Taiwan, na Ásia, causando uma evasão de divisas da ordem de US$ 2 milhões anuais. A variedade agrícola lançada mais recentemente foi o milho-pipoca UENF-14, lançado no final do ano passado. O produto possui capacidade de expansão e rendimento acima do recomendado pelo Mapa. Enquanto a base para o lançamento de novas cultivares de milho-pipoca é de no mínimo 3 mil quilos por hectare e capacidade de expansão de pelo menos 30 miligramas por litro, o milho UENF-14 apresenta produtividade de 3.047 quilos por hectare e capacidade de expansão de 35,69 miligramas por litro. — O UENF-14 é um material bastante competitivo, tendo superado materiais considera-

Fotos: Acervo LMGV

mensurar as características da nova cultivar a ser registrada. O relatório é enviado ao Ministério da Agricultura, que aprova ou não a nova cultivar, dependendo dos resultados alcançados na pesquisa. No momento, estão em VCU cultivares de pimenta e de maracujá. — As pesquisas nesta área demandam muito tempo. São necessários de oito a dez anos para concluir uma nova variedade — diz Alexandre. O mamão UENF, conhecido pelo nome fantasia de “Calimosa”, foi feito em parceria com a Caliman Agrícola S.A., empresa do Espírito Santo voltada para o mercado de exportação. A fruta chama a atenção pela qualidade. Tem em torno de 20% a mais de sólidos solúveis, sendo portanto mais saborosa que as frutas comuns. O produto já está no mercado da Europa, principalmente na Alemanha, Inglaterra e Holanda, além dos Estados Unidos. Mais importante que a exportação dos frutos é a econo-

dos muito bons como o IAC-112. É importante dizer que a cultivar UENF-14 é variedade de polinização aberta, portanto o agricultor poderá reutilizar as sementes para fazer novo plantio — diz o coordenador das pesquisas, Antônio Teixeira do Amaral Júnior. Mas, segundo Alexandre, o aproveitamento destas variedades ainda é pequeno na região. Na sua opinião, grande parte dos agricultores ainda se dedica à cana-de-açúcar, apesar da pouca valorização do produto. — A distribuição agrária em Campos e região é muito complexa e isso produz reflexos na questão agrícola. Nossa linha de ação é mais forte na formação de recursos humanos. Estamos fornecendo a nossos alunos formação científica para que atuem com melhoramento genético. Muitos dos que por aqui passaram estão hoje atuando como pesquisadores desta área em outras instituições — afirma.

Ao lado, teste de qualidade da polpa do mamão calimosa ; acima, lavoura de milho-pipoca UENF-14;


Foto: Felipe Moussallem

Ferramentas diamantadas de corte produzidas no LAMAV

A UENF é a instituição pioneira na América do Sul a produzir diamantes sintéticos em escala industrial. O feito se deu em 1998, quando o Laboratório de Materiais Avançados (LAMAV ) do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da UENF produziu os primeiros diamantes a partir do uso de tecnologia russa adaptada às condições brasileiras. Em 2004, a UENF contabilizou a produção de 10 mil quilates de diamante, o equivalente a dois quilos do material. Segundo a professora Ana Lúcia Diegues Skury, chefe do Setor de Superduros do LAMAV, a produção de diamantes já estava nos planos de Darcy Ribeiro quando ele idealizou a UENF. Ele formou um grupo que, logo no início da Universidade, tratou de viabilizar as pesquisas. As primeiras prensas chegaram da Rússia em 1994, no entanto ficaram três anos encaixotadas devido a questões burocráticas. As pesquisas só começaram em 1997, quando as prensas foram finalmente instaladas. — Começamos desenvolvendo as cápsulas, depois os dispositivos, ou seja, tivemos que adequar a tecnologia russa ao material que iriamos utilizar. Então começamos a desenvolver pesquisas de mestrado e doutorado, cada uma a respeito de um destes itens. Cada aluno ficava responsável por uma parte. No total, foram desenvolvidas três teses de doutorado e seis de mestrado. Ana Lúcia foi uma destas alunas. Ela conta que em 2004, quando foram anunciados os primeiros 10 mil quilates de diamante sintético, muitas empresas procuraram a Universidade interessadas no material. - Mas as conversas não foram adiante porque naquela época não sabiamos ainda as propriedades do diamante que tínhamos aca-

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Diamante Radartátil

artificial

bado de produzir. Foi aí que conseguimos o primeiro grande aporte de recursos para as pesquisas, proveniente da Faperj. A continuidade das pesquisas, visando agora à caracterização do diamante produzido na UENF, mostrou que ele era mais friável do que o dos russos, ou seja, mais adequado ao polimento que ao corte. Uma vez sintetizado o diamante, iniciaram-se as pesquisas com o objetivo de desenvolver processos de sinterização. Em outras palavras, a fabricação de pequenas peças de diamante e liga metálica visando à produção de ferramentas de corte, polimento e perfuração. Já foram obtidas duas patentes, ambas para dispositivos de alta pressão. Outras tecnologias ligadas ao processo de produção do diamante ainda estão sendo patenteadas. — Para perfuração o diamante se mostrou inviável. Ele é mais eficiente para o corte de rochas ornamentais. Segundo Ana Lúcia, a tecnologia russa foi aperfeiçoada para as condições brasileiras. Ela afirma que hoje as prensas da UENF são mais eficientes que as russas porque tudo foi automatizado. — Temos condições de controlar melhor todos os parâmetros, diretos ou indiretos, da produção. Não tem nenhuma prensa deste tipo que seja melhor que a nossa. Isso abriu para a gente um campo de aplicação muito grande. Com a descoberta de uma imensa jazida de diamante em um meteoro que caiu na Rússia, o interesse pelo diamante artificial no mundo praticamente acabou, produzindo reflexos também nas pesquisas. Na UENF, as pesquisas foram direcionadas para a produção de outro material de extrema dureza, que pode ser fabricado com a mesma tecnologia dos diamantes: o nitreto cúbico de boro.

Um dispositivo que permite a deficientes visuais se locomoverem com mais independência e segurança. Este é o Radar Tátil (RT), dispositivo desenvolvido na Universidade de Tóquio cuja eficácia foi testada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Neuropsicologia Cognitiva (NEPENC) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF, coordenado pela professora Sylvia Joffily. Com o apoio da Faperj, a pesquisa “O Radar Tátil: um guia e uma proteção para as pessoas cegas” buscou avaliar e aprimorar o dispositivo desenvolvido pelo professor Álvaro Cassinelli, da Universidade de Tóquio. Também integra a pesquisa a professora Eliana Sampaio, do Conservatoire National dês Arts et Métiers/Paris CRA Laval – França. Segundo Sylvia, na versão brasileira o RT adquiriu o formato de faixa de cabeça, na qual estão localizados cinco módulos idênticos, cada um abrigando um telêmetro (Instrumento óptico que serve para medir distâncias em tempo real) infravermelho (três sobrepondo-se à região cranial frontal e dois às regiões temporais). — Os experimentos, realizados no Instituto Benjamin Constant, Rio de Janeiro, tiveram por objetivo avaliar se o RT é capaz de amenizar o sentimento de ansiedade decorrente da dependência e insegurança locomotora dos deficientes visuais, bem como sua eficácia na locomoção autônoma de cegos precoces e tardios — explica a professora. A pesquisa, segundo Sylvia, constatou uma significativa melhora nos sentimentos de segurança e de independência experimentados pelos participantes, sobretudo no que se refere aos cegos tardios. A capacidade para detectar obstáculos aéreos foi também significativamente aumentada quando eles portavam o Radar Tátil. — Os resultados não só comprovaram a eficácia do dispositivo como também estimularam a realização de novas pesquisas e aprimoramento da tecnologia — conclui Sylvia.

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Progressão da

Aids

crianças em

Estudo da UENF mostra que determinadas variantes genéticas podem retardar ou evitar a doença em crianças Filhos de mães com Aids nem sempre nascem infectados ou desenvolvem a doença. Algumas crianças infectadas pelo HIV podem desenvolvê-la após os dez anos de idade ou jamais apresentarem os sintomas. Um estudo inédito feito por cientistas do Núcleo de Diagnóstico e Investigação Molecular (Nudim) da UENF sugere que determinados genes podem retardar o desenvolvimento da doença em crianças ou evitar que elas sejam infectadas, mesmo quando expostas ao vírus. A pesquisa mostra que a portabilidade dos alelos (formas alternativas de um mesmo gene) HLA-B*27 e HLA-B*57:01 é uma predição de que a criança terá uma evolução mais lenta para a Aids. Já o alelo IL10.G-129 é um fator protetor da transmissão materno-infantil, pois as crianças expostas ao vírus, mas não infectadas, possuem esse alelo em maior frequência do que as crianças infectadas. A pesquisa foi feita por Thaís Louvain de Souza, sob orientação do professor Enrique Medina-Acosta, coordenador do Nudim, e coordenada pela professora Regina Célia de Souza Fer-

nandes, pós-doutoranda no Nudim. — No estudo encontramos quatro crianças infectadas portadoras dos alelos HLA-B*27 e HLA-B*57:01, sendo que três dessas crianças possuem um ótimo controle da viremia (manutenção das cargas virais indetectáveis). Portanto elas têm um melhor prognóstico da doença. Essas crianças permaneceram livres da Aids e do uso de antirretrovirais por oito anos ou mais — explica Thais. Segundo a pesquisadora, a progressão para a Aids pediátrica é muito variável. Um percentual entre 20 e 40% das crianças infectadas pelo HIV progride para a Aids antes mesmo do primeiro ano de vida, enquanto 1-10% só irá apresentar os primeiros sintomas após os 10 anos de idade. O que diferencia os dois grupos são as diferenças genéticas, tanto do vírus quanto das crianças. — Nas crianças, as diferenças genéticas em genes codificadores de proteínas atuantes na resposta imunológica podem ser os responsáveis em determinar quando essas crianças irão progredir para a Aids. Isso porque as diferenças possibilitam que um indivíduo tenha uma Foto: Ascom

resposta imunológica mais eficaz do que o outro — explica. A pesquisa contou com a participação de 138 crianças, filhos de mães soropositivas para o HIV — 65 crianças infectadas e 73 não infectadas. Também participaram da pesquisa 70 mães soropositivas para o HIV. Tanto as mães quanto as crianças são atendidas no Serviço de Atendimento Especializado (SAE) do Programa Municipal de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids de Campos dos Goytacazes, RJ. O acompanhamento clínico das crianças é feito pela médica Regina Célia de Souza Campos Fernandes, pesquisadora associada ao Nudim e coordenadora da pesquisa clínica. O DNA genômico para o estudo foi extraído de esfregaço bucal, um método não invasivo. O estudo de associação foi realizado com marcadores já conhecidos, que têm sido associados à proteção da transmissão materno-infantil ou à progressão mais lenta para a Aids pediátrica, como o CCR5-32 e CCR2-V64I. Também foram investigados mar-

cadores que só foram genotipados (caracterizados geneticamente) em pesquisas com adultos infectados, como os alelos HLA-B*27 e HLA-B*57:01, e marcadores ainda não relacionados com a infecção pelo HIV, como os TLR2int2 e o IL10.G. — É preciso aprofundar os estudos sobre o benefício da portabilidade desses alelos e sobre o controle da replicação viral, tendo em vista a obtenção de subsídios que possam ajudar, no futuro, na formulação de medicamentos e/ ou vacinas contra a Aids — afirma Medina-Acosta. Dados da pesquisa da professora Regina Célia indicam que a taxa de transmissão materno-infantil do HIV em Campos é bem menor do que a de algumas cidades brasileiras, principalmente as do Nordeste: foi de 5,3% no período entre 2008 e 2011, enquanto cidades nordestinas apresentaram taxa acima de 10% de transmissão. No entanto, está acima da meta de redução da transmissão proposta pelo Ministério da Saúde, de 1%.

Professor Enrique Medina, coordenador do NUDIM

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Ciência na

graduação Iniciação Científica estimula jovens estudantes a ingressar na pós-graduação

Foto: Arquivo Pessoal

Adriana Jardim na época em que era bolsista da IC.


Doutorado

Pós-Graduação Lato-Sensu

Curso Técnico

Pós-Graduação Stricto-Sensu

Foto: Alex de Azevedo

Livre Docência

Infográfico: Demonstração das estapas da Carreira Científica

Pós-Doutorado

Graduação

Escola

Adriana Jardim, hoje Coordenadora do PIBIC/UENF

Dos cerca de 4 mil alunos de graduação da UENF, 419 participam de projetos de pesquisa através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). Concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e por verba estadual, a bolsa de Iniciação Científica (IC) tem por objetivo despertar no estudante de graduação o gosto pela ciência. Na UENF, os resultados não poderiam ser melhores — grande parte dos estudantes que participam de projetos de IC resolve continuar a carreira científica depois de formados. Prova disso foram os dois prêmios Destaque do Ano na Iniciação Científica que a UENF conquistou nas únicas duas vezes em que pôde concorrer — 2003 e 2009. Conferido pelo CNPq, o Prêmio é dado às instituições que possuem o maior número de ex-alunos de IC concluindo cursos de mestrado e doutorado. Por força do regulamento, a instituição vencedora é obrigada a cumprir um intervalo de cinco anos sem concorrer à premiação.

— A UENF é uma grande incentivadora à participação de seus alunos na Iniciação Científica. Esses prêmios são um reflexo deste incentivo, que vem se ampliando ao longo do tempo — diz a coordenadora do PIBIC/UENF, professora Adriana Jardim de Almeida. Além do PIBIC, a UENF também oferece a seus alunos o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI). O primeiro foi criado em 1995, enquanto o segundo surgiu em 2006. Os programas são gerenciados pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPPG), e as bolsas são concedidas através de seleção após divulgação de um edital. — A Iniciação Científica possibilita que o aluno troque experiências com outros pesquisadores e colegas, já que há parcerias entre laboratórios e instituições, e isso lhe traz amadurecimento. É uma experiência científica de extrema importância para um aluno de graduação — afirma a professora.

Adriana pode falar por experiência própria. Graduada em Medicina Veterinária pela UENF, ela ingressou na Universidade no mesmo ano em que o PIBIC foi iniciado e, um ano depois, já estava inserida como aluna de iniciação científica no Laboratório de Sanidade Animal (LSA) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da Universidade. — Eu nunca tinha pensando em seguir uma carreira científica. Foi a Iniciação Científica que me despertou para isso — conta Adriana, que permaneceu no laboratório até a conclusão do curso, em 2000. Ela conta que ocorreram muitas melhorias no Programa, bem como na estrutura da Universidade, além das transformações geradas pelo rápido avanço das tecnologias de informação. — Quando eu era aluna os banners para a apresentação do trabalho ainda eram confeccionados em cartolina. Hoje o espaço físico melhorou bastante, o numero de bolsas aumentou e o evento ganhou maior proporção — diz.

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apresentados no

CONFICT Foto: Sessão de Posters do II CONFICT

Julio Cesar Fiorio Vettorazzi e Renato Santa Cantarina, do curso de Agronomia. Os dois começaram a frequentar as reuniões da Comissão no final do ano passado. A ideia inicial era que apenas um aluno participasse, mas o interesse demonstrado pelos alunos fez que a coordenação do evento ampliasse a participação dos estudantes no CONFICT. — Agora vemos como o programa funciona e sabemos do esforço e da preocupação que a Comissão tem conosco. Por isso contribuímos com ideias que facilitam a visão deles em relação aos alunos e trazemos soluções alternativas para os problemas que surgem — diz Renato.

Foto:Felipe Moussallem

Trabalhos são

Os trabalhos de pesquisa desenvolvidos no âmbito do PIBIC são apresentados anualmente durante o Encontro de Iniciação Científica da UENF, que este ano chegou à sua 18º edição. Desde 2009, o Encontro integra o Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica (CONFICT), reunindo também o Circuito de Iniciação Científica do Instituto Federal Fluminense (IFF) e a Jornada de Iniciação Científica da Universidade Federal Fluminense (UFF). A Comissão do PIBIC/UENF é uma das forças que atuam na realização do CONFICT, que este ano contou com a colaboração de dois alunos do Programa na organização do evento:

Nome: xxxxxxxxxx Curso: xxxxxxxxxx


de

Exemplo

dedicaçao A participação na Comissão do CONFICT não é a única conquista de Julio e Renato. A dedicação dos alunos à iniciação científica rendeu outros bons frutos, como premiações no V CONFICT, realizado em junho deste ano, e a participação no 7º Congresso Brasileiro de Melhoramento de Plantas, marcado para agosto deste ano em Uberlândia, Minas Gerais. — A iniciação científica é um meio de chegar mais perto da pesquisa e dos alunos de pós-graduação. Como trabalhamos em equipe, cada um sai de lá sabendo um pouco mais sobre o trabalho do outro — diz Júlio. Renato afirma que o trabalho prático exercido durante o programa possibilita que o aluno tenha um melhor rendimento em sala de aula e no mercado de trabalho.

— Meu desempenho da disciplina de Melhoramento Genético foi superior ao dos colegas que não tiveram a experiência que eu tive. Além disso, também me sinto mais preparado para o mercado de trabalho, pois a iniciação científica já é uma prática profissional, estamos fazendo ciência de verdade — afirma. Orgulhosos de suas conquistas, os alunos pretendem dar continuidade à pesquisa através do ingresso na pós-graduação, mesmo que isso signifique mais tempo longe de casa. Julio é de Castelo, no Espírito Santo, e Renato é de Anchieta, em Santa Catarina, cidade que fica a quase 2 mil quilômetros de distância de Campos.

Julio Cesar Fiorio Vettorazzi

Fotos: Alex de Azevedo

Renato Santa Cantarina


Foto: Divulgção SECT

ENTREVISTA

Novidades a caminho

Em breve o Estado do Rio de Janeiro poderá contar com um plano diretor do ensino superior, envolvendo instituições estaduais, federais e privadas. A informação é do secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca, que nesta entrevista exclusiva à Revista Nossa UENF promete boas notícias para o Norte/Noroeste Fluminense tanto em relação à expansão das Universidades quanto do Cederj. As perspectivas também são otimistas no que se refere ao financiamento à pesquisa.

Gustavo Tutuca, secretário de estado de Ciência e Tecnologia

Veja a entrevista:

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Nossa UENF - A UENF foi considerada a

Nossa UENF - Em entrevista à Revista da

melhor universidade do Estado do Rio de Janeiro no último Índice Geral de Cursos (IGC). A que o senhor atribui este resultado, tendo em vista o pouco tempo de existência da UENF em comparação às outras instituições de ensino superior sediadas no estado? Gustavo Tutuca - O que faz a diferença em qualquer instituição são as pessoas. A UENF foi criada a partir de um modelo original, quando comparamos com as outras universidades fluminenses e, hoje, certamente, se beneficia disso. O Governo do Estado também teve uma participação importante, já que a cada ano aumentam os recursos que estamos destinando para a UENF. Mas o grande mérito por este resultado deve ser creditado na conta dos professores, funcionários e alunos.

Faperj, o senhor afirma que vai lutar por mais recursos para a ciência e inovação, buscando parcerias com a iniciativa privada e o governo federal. Levando em conta as áreas em que a UENF atua, podemos ter a expectativa de maior aporte financeiro às nossas pesquisas? Gustavo Tutuca - Os recursos destinados às universidades fluminenses têm acompanhado o crescimento dos orçamentos do Governo do Estado e da Faperj e aumentam a cada ano. Nunca é demais lembrar que esta evolução só foi possível porque o governador Sérgio Cabral, a partir de 2007, garantiu o repasse de 2% da receita tributária líquida para investimentos em ciência e tecnologia via Faperj. Foi o primeiro governador a fazê-lo. E as perspectivas são boas para os próximos anos. Ao contrário do que ocorreu em

2012, o orçamento do MCTI não sofreu contingenciamento de recursos. Pelo contrário, o governo federal está fazendo o maior investimento da sua história em C&T. Temos que fazer bons projetos: governo, universidade, alunos, professores e empresários. Há muito dinheiro disponível para a integração entre empresas e universidades. A bola está em nossas mãos. Nossa UENF - Já há algum tempo a UENF vem tentando expandir seus cursos para o Norte/ Noroeste Fluminense, onde há pouco acesso ao ensino universitário. Para tanto, é fundamental a abertura de concurso para professores e técnicos. Como o governo vem tratando esta questão? A população destas regiões pode ter uma expectativa positiva em relação a isso? Gustavo Tutuca - Estamos preparando um projeto para a elaboração de um plano dire-


“Ainda este ano teremos novidades em relação ao Plano Diretor para o Ensino Superior Fluminense”

Foto: Divulgção SECT

tor para o ensino superior fluminense, tentando envolver as instituições estaduais, federais e privadas nessa discussão. Nossa meta é definir os objetivos estratégicos para o estado e evitar o desperdício de recursos e esforços em iniciativas desalinhadas. Mas, ainda este ano, teremos novidades para anunciar na região. Nossa UENF - Grande parte das pesquisas da UENF tem por objetivo a melhoria das condições socioeconômicas regionais e estaduais. Apesar dos nossos esforços na área de Extensão, este conhecimento nem sempre chega à sociedade. Na sua opinião, é possível tornar a pesquisa uma aliada do governo na formulação de políticas públicas? Gustavo Tutuca - Acho que em muitos casos essa colaboração já ocorre. Se pegarmos algumas das pesquisas financiadas pela Faperj na UENF, veremos diversos exemplos desta integração. Durante muitos anos, as universidades estiveram muito focadas em suas questões internas. Hoje, quando dizem que esta situação está mudando, respondo que, pra mim, já mudou. É o que sinto em todas as conversas que tenho com professores, dirigentes e alunos. Nossa UENF - O senhor vem defendendo também maior impulso ao ensino a distância, do qual o estado do Rio é um dos pioneiros. A UENF tem atualmente dois cursos em parceria com o Cederj: Biologia e Química. Quais são as perspectivas de mais cursos do Cederj na região Norte/Noroeste Fluminense? Gustavo Tutuca - Estamos desenvolvendo diversas ações através do Cederj. Vamos entrar com força na área de Engenharia, num formato pioneiro em todo o país, em parceria com a UENF. Estamos desenvolvendo estudos para um projeto especial para a terceira idade e nosso planejamento para 2013/2014 ainda prevê a construção e ampliação de diversos polos no estado. Seguindo a recomendação do governador Sérgio Cabral e do vice-governador Pezão, a região Norte/Noroeste vai continuar recebendo a atenção da Secretaria. Teremos boas surpresas ainda este ano.

“Há muito dinheiro disponível para a integração entre empresas e universidades”

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Escolha

Certa

Estar à frente da UENF no momento em que ela completa 20 anos de existência é algo que me traz muito orgulho e satisfação. Não só pela data tão significativa, mas, sobretudo pelo fato de ocupar o posto de reitor de uma Universidade que, apesar de tão pouca idade, já produziu frutos comparáveis às mais antigas instituições de ensino superior do país. Como professor e pesquisador da UENF há 16 anos, sinto-me ainda mais feliz por ser um dos que contribuíram, com o seu trabalho, para que a Universidade chegasse ao patamar de melhor Universidade do Estado do Rio de Janeiro e 11ª do país, segundo o Índice Geral de Cursos (IGC) do Ministério da Educação (MEC). Olhando para trás, percebo que fiz a escolha certa quando, em março de 1997, abandonei outras propostas e decidi dar vazão às boas expectativas que tinha em relação à nova Universidade que tinha sido implantada quatro anos antes em Campos dos Goytacazes. Havia terminado o doutorado em Fitotecnia na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e poderia

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escolher voltar ao meu trabalho de origem ou aceitar convite de outras instituições. Mas a ideia de vir para Campos falou mais alto. Naquela época, a UENF já era conhecida como uma Universidade de alto nível. Além disso, a proximidade com o local em que meus pais viviam, Pedra Redonda, no município de Viçosa (MG), favoreceu a minha escolha. Passei a integrar a equipe de professores do Laboratório de Fitotecnia, como bolsista, após ser aprovado em uma seleção com entrevista e análise de currículo. Em 2001, fui aprovado no concurso público para professor associado na área de Manejo de Culturas. E em 2010 passei no concurso para professor titular da UENF. Dificilmente alguém que tivesse me conhecido ainda criança imaginaria que a minha vida tomaria este rumo. Não foram poucas as dificuldades que enfrentei para poder estudar. Como filho de agricultor, desde muito cedo tive que ajudar nos afazeres cotidianos da pequena propriedade rural do meu pai. Nos finais de tarde, quando enfim podíamos descansar, minha mãe aprovei-

tava para nos ensinar as primeiras letras. Só aos oito anos de idade é que passei a frequentar a escola pública de Viçosa, localizada a 11 quilômetros de nossa casa. O trajeto era feito andando ou, quando possível, a cavalo. Apesar de todos os sacrifícios, considero que vivi em uma época de muita felicidade, com um papel primordial na minha formação como cidadão. Fiz o curso primário no Grupo Escolar Coronel Antônio da Silva Bernardes. O Ginásio e o científico, até o segundo ano, foram cursados no Colégio de Viçosa, enquanto o terceiro ano científico foi feito no Colégio Universitário da Universidade Federal de Viçosa (Coluni). A opção pelo curso superior em Agronomia veio de forma muito natural, uma vez que a agricultura fazia parte da minha vida desde que nasci. Meu objetivo era claro: queria ajudar a ampliar os conhecimentos até então existentes na área de ciências agrárias, melhorando a vida dos pequenos agricultores. Quase no final do curso, tive uma experiência que reverberou em meu futuro profissional: a participação


para a escolha da área de pesquisa: Fitotecnia com especialização em Manejo de Plantas Daninhas. Como filho de agricultor, eu sabia que grande parte da energia humana gasta pelos agricultores era no manejo das plantas daninhas. Além disso, o problema impunha severos sacrifícios aos trabalhadores rurais. Ao fazer o mestrado, meu sonho era buscar novos conhecimentos que pudessem minimizar o problema e assim dar mais qualidade de vida ao pequeno agricultor. Após a aprovação, em junho de 1991, da dissertação de mestrado, intitulada “Controle químico de plantas daninhas na cultura da batata-doce”, cheguei a regressar ao Amazonas, mas por pouco tempo. Queria colocar em prática os conhecimentos assimilados no mestrado, mas a política de trabalho da Emater, naquele momento, não me possibilitava atuar na referida área. Em março de 1993, retornei a Viçosa para tentar uma vaga no doutorado em Fitotecnia, com especialização em Manejo de Plantas Daninhas, Herbicidas e Resíduos. A tese, defendi-

da e aprovada em janeiro de 1997, intitulava-se “Efeito de resíduos da suinocultura sobre a produção de batata-doce, incidência de plantas daninhas e atividades de herbicidas”. Pouco tempo depois, como já mencionei, estava morando em Campos dos Goytacazes, atuando como professor da UENF. Hoje não tenho dúvidas de que a vinda para a UENF foi a melhor escolha que eu poderia ter feito. Posso dizer que tenho uma relação de amor com a UENF e com a cidade que me acolheu, Campos dos Goytacazes. No futuro, tudo o que desejo é poder continuar dando minha parcela de contribuição a esta grande Universidade, para que os próximos 20 anos sejam ainda mais fecundos do que os que já se passaram.

Foto: Felipe Moussallem

no projeto Rondon, que me levou até Altamira, no Pará, por um período de um mês. Gostei tanto que, ao terminar o curso, optei por trabalhar como extensionista na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do Estado do Amazonas. A ideia era ficar no Amazonas por um ou, no máximo, dois anos, e depois voltar para fazer o mestrado em Viçosa. Mas me envolvi tanto com a comunidade local que prolonguei as atividades além do tempo planejado. Trabalhei em diversos municípios amazonenses, tais como Itacoatiara, Parintins, Nhamundá, Barreirinha, Rio Preto de Eva e Manaus, participando de diversos programas como o do Guaraná, da Juta, da Borracha, da Pecuária, das Culturas Alimentares e do Planejamento Participativo. Em 1977, junto com a Fundação Nacional do Índio (Funai), integrei uma equipe que tinha por objetivo prestar assistência aos índios da nação Sateré Maué, composta por 17 aldeias. Foram 15 dias convivendo com os indígenas - uma experiência que considero uma das mais gratificantes da minha vida. Por outro lado, sempre quis dar continuidade aos estudos e, dez anos depois de ir morar no Amazonas, decidi que era hora de voltar para fazer o mestrado. Minha vida familiar foi decisiva

Silvério de Paiva Freitas Reitor da uenf

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O Governador Leonel Brizola fez erguer esta Universidade Estadual do Norte Fluminense para que no Brasil floresça uma civilização mais bela, uma sociedade mais livre e mais justa, onde viva um povo mais feliz. Há 20 anos esta inscrição marcava o obelisco central da Uenf. Até hoje a ideia permanece inspirando aqueles que fazem parte desta história.

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