Frente.Verso.Inverso | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Page 1

exposição

Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal



catálogo da exposição

Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal


FICHA TÉCNiCA da exposição Curadoria:

Adelaide Ginga

Direção: Vítor

Ramalho,

Secretário­‑Geral da UCCLA Coordenação Geral:

Rui Lourido

Coordenação:

Filomena Nascimento produção:

Raquel Carvalho

com a colaboração de:

Carmen Frade João Carvalho Laura Cabeça Mafalda Couto Shaowei Cai

Edição e revisão de textos:

Filomena Nascimento Maria do Rosário Rosinha Arquitetura de Exposição:

Carlos Brito

Design gráfico:

Catarina Amaro da Costa Montagem da Exposição:

setup ­‑ Associação

de Apoio às Artes

Comunicação:

Anabela Carvalho Carmen Frade

FICHA TÉCNiCA do catálogo Fotografia Capa:

Kiluanji Kia Henda Curadoria: Direção:

Adelaide Ginga

Vítor Ramalho,

Secretário­‑Geral da UCCLA Coordenação Geral:

Rui Lourido

Coordenador Cultural da UCCLA Coordenação:

Filomena Nascimento Raquel Carvalho com a colaboração de:

Carmen Frade

Edição, elaboração de textos:

Laura Cabeça Maria do Rosário Rosinha revisão de textos:

Anabela Carvalho Design gráfico e paginação:

Catarina Amaro da Costa fotografias de:

Ana Luisa Alvim,

Dep. Marca e Comunicação ­‑ CML e de Arquivos de colecionadores

Colectivo Multimédia Perve DMF, Lisboa Guide, Artes Gráficas ISBN: 978­‑989­‑54173­‑0­‑8 Impressão:

Imprensa Municipal ­‑ CML

Lisboa, agosto de 2018




Agradecimentos: À Câmara Municipal de Lisboa

Aos Colecionadores: Associação de Coleções The Berardo Collection CAMB ­‑ Centro de Arte Manuel de Brito Coleção da Caixa Geral de Depósitos, Lisboa Coleção de Fotografia Contemporânea do Novo Banco Coleção Figueiredo Ribeiro ­‑ Quartel da Arte Contemporânea de Abrantes Coleção Lusofonias | Casa da Liberdade ­‑ Mário Cesariny Coleção MNAC ­‑ Museu Nacional de Arte Contemporânea Coleção privada | ACCA by CL Coleção privada | AM Coleção privada | Carlos Gomes Fundação Carmona e Costa Fundação Oriente Fundação PLMJ

Aos Patrocinadores Associação de Coleções The Berardo Collection Coleção de Fotografia Contemporânea do Novo Banco Innovarisk, Lda Pastéis de Belém setup­‑ Associação de Apoio às Artes Um especial agradecimento à Dr.ª Manuela Costa, ao Sr. Manuel Rocha, à Dr.ª Maria João Martins Pardal, à Dr.ª Isilda Marcelino e a todos os que, direta ou indiretamente, colaboraram para a produção do catálogo e da exposição.


Índice pág.

7

Textos Introdutórios Vitor Ramalho (Secretário-Geral da UCCLA) Rui Lourido (Coordenador Cultural da UCCLA) Adelaide Ginga (Curadoria) Luísa Soares de Oliveira (Crítica de Arte)

24

Obras em Exposição

86

Artistas.Biografias


P

ara a UCCLA – União das Cidades Capitais de Lín‑ gua Portuguesa é uma grande honra proceder à divulgação de obras de artistas plásticos contem‑ porâneos dos países de língua oficial portuguesa.

rigor, como pode ser percebido pela visualização e leitura do catálogo, demonstrando ainda fácil articulação com todos os colaboradores da UCCLA que trabalharam diretamente para a montagem da exposição.

A presente mostra, denominada FRENTE, VERSO, INVERSO, insere­‑se na linha da procura de excelência que tem carateri‑ zado as exposições que, nas suas novas instalações, a UCCLA tem levado a efeito.

A UCCLA exprime o seu reconhecimento a todos os cola‑ boradores, sem exceção, merecendo o Senhor Dr. Rui Lou‑ rido uma referência particular.

FRENTE, VERSO, INVERSO só foi possível mercê da disponi‑ bilidade prontamente manifestada pelos Museus e grandes colecionadores de arte a quem nos dirigimos, solicitando o empréstimo de obras de referência, e a quem muito agrade‑ cemos. A curadora da exposição, Senhora Dra. Adelaide Ginga, de‑ senvolveu, desde a primeira hora, um trabalho de grande

As obras em exposição são testemunho vivo da dimensão dos povos e países de língua oficial portuguesa, entrecru‑ zando culturas e afirmando­‑se com uma conceção univer‑ salista. Num mundo crescentemente global, aberto e sem fronteiras, esta é seguramente uma força não negligenciável de tolerância, que reforça a esperança num mundo melhor face à incerteza dos dias de hoje. Vitor Ramalho Secretário­‑Geral da UCCLA

|7



“Frente, Verso, Inverso Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal”

D

esejamos que esta exposição, de mais de meia cen‑ tena de artistas contemporâneos originários de todos os Países de Língua Portuguesa, com obras em importantes coleções públicas ou privadas em Portugal, possa contribuir para um melhor conhecimento das múltiplas expressões, tendências e conexões da produ‑ ção artística, mas também que o visitante formule interroga‑ ções, questionando­‑se a si próprio e às diferentes realidades que nos rodeiam, à sua representatividade, ou às expressões oníricas subjacentes. A UCCLA dá continuidade a um novo rumo estratégico cultural, com iniciativas de qualidade internacional (como os oito Encontros de Escritores já realizados, no Brasil, An‑

1

gola, Cabo Verde, Macau/China, e as três edições do Prémio Literário UCCLA - Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa), e com o atual programa de exposições coleti‑ vas de artes plásticas dos países de Língua Portuguesa, como no caso das duas anteriores exposições (Conexões Afro­ ‑Ibero­‑Americanas, em 2017, e Artes Mirabilis, no primeiro trimestre de 2018), ambas inauguradas pelo Presidente da República de Portugal, e com grande impacto entre as dife‑ rentes comunidades presentes em Portugal. Nos próximos anos daremos seguimento a exposições sobre os restantes Países de Língua Portuguesa. Quando organizamos este conjunto de exposições temos em conta a relação imanente e natural entre a arte e a po‑ lítica1. Não pretendemos ocultar ou branquear a violência, os conflitos e as guerras do passado de domínio das ex­ ‑colónias, pelas potências colonizadoras. Ao reconhecer o papel da resistência organizada dos povos sob o jugo do

“A imagem (desenhada, pintada, impressa, esculpida, fotografada…) surge como um dos meios preferenciais de divulgação de ideias e conceitos que enformam as representa‑ ções ideológicas e as práticas políticas, servindo­‑se de processos específicos de seleção, exclusão ou enfatização” (Teresa Matos Pereira, “Lusofonia e artes plásticas: Discursos, práticas e trânsitos”, citando Massironi, M., Ver pelo Desenho. Lisboa, Edições 70, 1989).

|9


10 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

fascismo, que a todos oprimia, e do regime colonial portu‑ guês, queremos contribuir para a reflexão crítica desse pas‑ sado e destacar as potencialidades da construção conjunta de um futuro partilhado e do papel fundamental da mul‑ tiplicidade de abordagens artísticas na problematização de caminhos, na criação de pontes, de identidades partilhadas e/ou reinventadas. Sabemos, igualmente, que os comple‑ xos mecanismos de circulação e legitimação das obras de arte se inscrevem, como diria Pierre Bourdieu, numa esfera mais alargada das relações de poder2. Assistimos atualmente, em alguns países, ao surgimento de ameaças à multiculturalidade das sociedades e aos mo‑ vimentos migratórios exacerbados dramaticamente por guerras e conflitos. Seja pela propaganda de valores isola‑ cionistas e xenófobos, seja pela construção de sucessivos muros e políticas segregacionistas e repressivas contra minorias. Estas dificuldades levam a UCCLA a reafirmar o respeito pela diversidade cultural e a pugnar pela criação de laços culturais como uma mais­‑valia no presente e no futuro, considerando­‑as uma grande riqueza dos nossos Povos. O arco­‑íris refletido na paleta cromática e as conceções inerentes às obras apresentadas, permitem­‑nos igualmente percecionar a importância dos valores democráticos, da participação cívica, do desenvolvimento pacífico e susten‑ tável, do aprofundamento da convivência multicultural e da tolerância na resolução das naturais tensões que se re‑

fletem nas sociedades, enquadrando muitas das obras aqui expostas e que são a base da liberdade criativa! Com a qualidade artística das obras apresentadas nas ex‑ posições UCCLA, pretendemos contribuir para promover e divulgar obras de autores originários de todos os países de Língua Portuguesa, dos mais conceituados aos mais jovens, cujas obras reflitam quer os diferentes mundos oníricos quer a realidade das respetivas sociedades e as in‑ terinfluências exercidas pela circulação de ideias, técnicas e diferentes sensibilidades do nosso mundo globalizado. Tendo sempre em conta a pluralidade de subjetividades dos artistas, enquanto homens e mulheres com experiências individuais diferenciadas, para além das tradições artísticas decorrentes das suas diferentes raízes étnicas. O programa artístico de “Frente, Verso, Inverso” é da respon‑ sabilidade da curadora Adelaide Ginga (do Museu Nacional de Arte Contemporânea), a quem muito agradecemos a cria‑ tividade e o empenho. Este programa pretende contribuir para a reflexão sobre os conceitos de Frente (o que se apresenta aos nossos olhos, ou a primeira leitura duma obra), Verso (a outra face, ou aquilo que se pode intuir como oculto) e o Inverso (o que se contrapõe ou o contrário de Frente)3. Apresentamos mais de 60 obras, propriedade de 13 colecio‑ nadores4, a quem estamos muito reconhecidos pela genti‑ leza da cedência dessas peças, da autoria de 54 artistas5 de diversas gerações, tradições e correntes artísticas, de com‑

Bourdieu, Pierre, O Poder Simbólico, Lisboa, Difel, 1989. Ver o texto da curadora Adelaide Ginga neste catálogo. 4 Ver a lista com o nome dos colecionadores na página 5 e repetida na contracapa. 5 Ver a lista com o nome dos 54 artistas na página 86, repetida na contracapa, e as respetivas bibliografias – pp. 89/113. 2 3


plexa e dialética relação entre a afirmação identitária e a afir‑ mação de espaços ancestrais e contemporâneos, refletindo as respetivas conexões, sejam elas africanas, americanas, asiá‑ ticas ou europeias, que saem reforçadas na partilha do Por‑ tuguês como língua comum. Presentes diferentes formas de expressão artística, nomea‑ damente, da pintura à fotografia, da cerâmica à escultura, instalação e vídeo. Podemos assim assistir, num percurso expositivo previamente planeado, à pulsão individual dos artistas influenciando a renovação da criação artística e ao lançamento de múltiplas propostas, por vezes de contradi‑ tórias perceções, mas sempre projetando no Futuro novas linhas de desenvolvimento artístico. Neste contexto, algumas obras questionam o observador pela utilização de materiais não nobres ou clássicos que, retirados do seu uso quotidiano através de um processo criativo, dão origem a novas obras de arte. É o caso, nomea‑ damente, de 4 obras de angolanos: o rosto composto por chinelos, da autoria de Fernando Lucano, de 2017; o quadro de Yonamine (Coco seco, de 2013), a composição de Lino Damião (Esta época será diferente, 2010) ou ainda a utiliza‑ ção de sementes, espelho e caricas sobre uma folha de jor‑ nal, da autoria de Paulo Kapela, de 2008. O questionar do visitante pode também ser feito pelo tema ou conteúdo escolhido pelo artista. Veja­‑se a obra da brasi‑ leira Adriana Varejão, com o seu impressionante quadro de denúncia da violência esclavagista e sexual (Filho Bastardo II, de 1997), ou a denúncia da opressão colonial, no quadro de Malangatana (de 1970, com a representação de rostos ne‑ gros sofridos, silenciosos mas vigilantes e resistentes, mesmo após serem baleados). A arte como uma forma de resistên‑

cia ao racismo e de orgulho na negritude, pode ser um outro olhar sobre as obras do guineense Nú Barreto (Black colour, de 2011) e do moçambicano Ricardo Rangel (“Sanitários onde só o negro podia ser Servente e só o branco podia ser Homem”, 1957). Um manifesto contra a guerra pode ser a interpretação da fotografia do angolano Kiluanji Kia Henda (“Balas e saté‑ lites”, 2009); do moçambicano Gonçalo Mabunda (“Trono” feito de balas e petardos, 2016); ou a denúncia da trágica perda de vidas e do estropiar de corpos causados pela guerra e pelas minas, é manifesta no quadro do português Francisco Vidal (“ZAP Explosion”, 2009). Noutras obras a arte assume­‑se como alerta comportamental contra epidemias mortíferas, como a Sida, o que pode ser observado no quadro da auto‑ ria do moçambicano Pinto (“Proliferação da Sida II”, 2005); ou pela defesa do meio ambiente na provocatória fotografia do santomense René Tavares (“The next future project”, 2014); ou obras de denúncia da demagogia ou desonestidade de alguns políticos, como no quadro de Toy Boy (o angolano Adalberto Ferreira, “Políticos e as suas mentiras”, 2016). A perda de iden‑ tidade ou descaracterização das cidades modernas pela glo‑ balização do mercado de consumo e das suas marcas é uma reflexão possível sobre as fotografias de Macau da autoria do português José Maçãs de Carvalho (8 fotografias do Casino Wynn em Macau, 2011). O universo onírico de alguns artistas está igualmente repre‑ sentado em obras como as do português Rolando Sá No‑ gueira (de 1982­‑85), do angolano Nelo Teixeira (“Estrutura urbana”, 2016 e 2017), ou do cabo­‑verdiano Abraão Vicente (com referência à data histórica do achamento “1460”, 2012). O projeto de um Timor em paz e sustentável pode ser uma das leituras da idílica aguarela do líder da resistência timo‑ rense Xanana Gusmão (“Aldeia típica de Timor”, 1996, à data preso na Indonésia).

| 11


12 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

“É possível fazer tábua rasa do passado, por muito doloroso que ele seja? Todos estes artistas parecem responder­‑nos implicitamente, mais ou menos conscientemente, que não”. É a questão levantada por Luísa Soares de Oliveira (crítica de arte), no texto mais à frente neste catálogo. Texto esse que, juntamente com o da curadora Adelaide Ginga, ficarão como a justa memória e referência para reflexão sobre esta exposição. Pelo que a UCCLA lhes fica muito reconhecida.

Fotografia Novo Banco, seguros Innovarisk, Lda, e setup ‑­ As‑ sociação de Apoio às Artes. “Frente, Verso, Inverso” apresenta aos nossos olhos a pro‑ fundidade de diferentes formas de expressão de artistas dos Países de Língua Portuguesa que, na diversidade das suas perspetivas, são um enriquecimento do património imate‑ rial da Humanidade!

Gostaria, ainda, de agradecer a toda a equipa de colaborado‑ res da UCCLA que, com grande profissionalismo, permitiu organizar esta exposição6. Finalmente, agradecemos o apoio da Direção­‑Geral do Pa‑ trimónio Cultural e do Museu Nacional de Arte Contem‑ porânea do Chiado, da Câmara Municipal de Lisboa, bem como os patrocínios de: The Berardo Collection, Coleção de

6

Rui Lourido Coordenador Cultural da UCCLA

Que estão identificados na ficha técnica deste catálogo, mas dos quais gostaria de destacar na coordenação e produção a Dr.ª Filomena Nascimento e a Dr.ª Raquel Carvalho.


“Frente, Verso e Inverso na Arte dos Países Lusófonos”

O

presente projeto expositivo é a terceira mostra coletiva organizada pela UCCLA com o obje‑ tivo de dar a conhecer a criação artística com origem nos países de língua portuguesa.

A proposta curatorial sob o título “Frente, Verso, Inverso – Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal” reúne trabalhos de artistas da Lusofo‑ nia e traduz a sua representatividade em relevantes coleções de arte em Portugal. Um sortimento de propostas artísticas que tem por denominador comum o facto de serem obras escolhidas de coleções institucionais e privadas.

A importância de um conceito agregador

Organização público­‑privada fundada há mais de 30 anos, a UCCLA tem trabalhado no sentido do associativismo in‑ termunicipal entre cidades, em que a língua portuguesa tem expressão, sendo pioneira na cooperação e desenvolvimen‑ to lusófonos. O acesso recente a um espaço expositivo con‑

tribuiu para um maior conhecimento das artes destes países, com a língua portuguesa como ponte entre cidades e cultu‑ ras tão distintas, inerentes à estrutura desta exposição. Etimologicamente, o termo de origem grega que exprime a noção de som, “fonia”, traduz o instrumento desta ligação, ao qual se junta o termo “luso”, que significa relativo a Portugal, por ser esse o ponto de partida. O português, a par de ou‑ tros idiomas, como o francês, o inglês ou o espanhol, é uma das línguas universais. Se lusofonia traduz o conjunto dos falantes de língua portuguesa, composto por diferentes paí‑ ses, cidades e comunidades, tem obviamente uma dimen‑ são político­‑cultural, geoestratégica, e, como todas as coisas vivas, tem um passivo, um histórico com fatores positivos e negativos1. O passado existe, importa conhecê­‑lo, ter cons‑ ciência dele e não o negar; porém, evitando a negatividade, criadora de muros. Em tudo podemos esmiuçar cargas, pro‑ jetar desconfianças, vaticinar, mas também podemos apro‑ veitar e explorar os ativos. Neste caso, a possibilidade de criar pontes entre geografias e identidades distintas, nas palavras de Fernando Pessoa, «Minha pátria é a língua portuguesa»2 que, com a globalização, “É um mundo em expansão”, como diz José Eduardo Agualusa3.

Vide revista Letras com Vida, do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (Clepul), da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, n.º 2, do segundo semestre de 2011. 2 Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Lisboa, Ática, 1982 vol. I, pág. 16. 3 https://www.rtp.pt/noticias/cultura/a­‑lusofonia­‑e­‑um­‑mundo­‑em­‑expansao_n465761. 1

| 13


14 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Esta reflexão prende­‑se com o subtítulo da exposição “Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas cole‑ ções em Portugal”, opção institucional por ser a mais politi‑ camente correta. Parece­‑me que vale a pena insistir na Arte Contemporânea da Lusofonia, por ser este um conceito que traduz ligação e isso faz a diferença. A Lusofonia nas Coleções de Arte em Portugal

Dos oito países representados, Portugal e Brasil são os países com maior número de artistas, maior representação nas co‑ leções em Portugal e que mais visibilidade têm tido nas ex‑ posições realizadas em território nacional. Contudo, optou­ ‑se por não estabelecer essa correspondência no número de artistas selecionados para esta exposição, a favor de uma maior expressão dos restantes países. No caso do Brasil, a preferência recaiu em obras que estabelecessem uma ligação formal ou conceptual mais próxima com o restante universo partilhado. Relativamente a Portugal, consideraram­‑se artis‑ tas que tenham nascido, vivido ou trabalhado nos restantes países lusófonos. Estas duas situações bastariam para preen‑ cher a galeria de arte da UCCLA, pelo que muitos artistas e obras foram preteridos. Cabe assim a Angola e a Moçambique a presença mais ex‑ pressiva neste projeto, devido, por um lado, à crescente vi‑ talidade do meio artístico nestes países e ao incremento de interesse por parte do meio/mercado português e interna‑ cional, aumentando o número de artistas contemporâneos nas coleções portuguesas.

4 5

Na esfera das coleções, há a destacar, a nível institucional, a da Caixa Geral de Depósitos que, no início do século XXI, assumia a opção de “internacionalizar a Coleção a partir de obras de artistas brasileiros e africanos de expressão portu‑ guesa, com todas as dificuldades que a aquisição de obras destes últimos oferece, dada a inexistência de circuitos de informação, de circulação de obras, de mercado de dificul‑ dade de acessibilidade aos artistas”.4 Ainda que este intento inicial tenha perdido fulgor, é a coleção pública com maior representatividade de artistas lusófonos. No setor privado evidencia­‑se a coleção da Fundação PLMJ, sociedade de advogados que, desde 1998, tem vindo a cons‑ tituir o “maior acervo de iniciativa privada do nosso país nes‑ te domínio, à exceção do Brasil”5. Outra coleção a salientar é a do Centro de Arte Manuel de Brito, que detém nomes históricos e se tem atualizado com artistas mais contempo‑ râneos. Situação semelhante é a da coleção Lusofonias, Casa da Liberdade – Mário Cesariny, possuidora de um vasto con‑ junto de obras de artistas ligados à Lusofonia. Importa ainda ressalvar as coleções particulares, algumas dedicadas quase em exclusividade a artistas africanos, que têm dado apoio a artistas mais jovens ou em processo de afirmação. Face às condicionantes do espaço, ao tempo diminuto de preparação e ao período do ano em que esta produção teve lugar (julho e agosto), não foi possível contar com a repre‑ sentação de várias outras coleções e respetivos artistas. Não obstante, dentro do leque disponível, procurou­‑se ter uma obra por artista, reunindo o maior número de autores com reconhecimento internacional e novos nomes com criações

Fátima Ramos e António Pinto Ribeiro, Arte Contemporânea. Coleção Caixa Geral de Depósitos, novas aquisições, Culturgest, Lisboa: 2002, p.17. Miguel Amado, Idioma Comum, PLMJ, Lisboa: 2011, p.13.


surpreendentes. Esta mostra apresenta um total de 61 obras, de 54 artistas, dos diversos países da CPLP. Frente, Verso, Inverso

A comunidade internacional de pessoas que partilham a lín‑ gua portuguesa e que comungam aspetos culturais semelhan‑ tes congrega também uma pluralidade que importa conhecer. Através do conceito desdobrado, “Frente, Verso, Inverso”, que denomina esta mostra, pretende­‑se dar uma visão alargada da arte desenvolvida por artistas de várias gerações do século XX que, em momentos e contextos díspares, com recurso a múltiplas linguagens artísticas, nos trazem essas abordagens distintas. A proposta curatorial recentra a arte na sua dimensão de ex‑ pressão, revelação ou crítica, dentro do domínio interno do processo artístico, e na relação do artista com o mundo, os outros e o seu próprio “eu”. O olhar de frente na interpretação do que se deseja registar, numa dimensão crua ou poética; o verso, a face posterior que tende a ser ocultada, o outro lado que importa revelar; e tam‑ bém o inverso, que alude para o contrário pois, como todos sa‑ bemos, o inverso nem sempre é verdadeiro, muito menos literal. Na arte, todas as posições são válidas, os próprios artistas, ao longo do tempo, assumem diferentes posturas, desígnios e ma‑ nifestações na prática artística, pelo que não existe uma catego‑ rização estanque, nem uma divisão linear nesta exposição. Até

6

porque, em muitos casos, está presente a dualidade da frente e do verso, ou a hibridez, frente, verso e inverso, consoante a intenção do artista e a interpretação de quem vê a obra. Da primeira geração, destacada durante o contexto da Arte Moderna, cuja expressão artística surge no final do século XIX e se estende na primeira metade do século XX, encontram­ ‑se vários artistas históricos, que assumiram um engajamento sócio­‑político de denúncia e combate aos contextos políti‑ cos da época. Sá Nogueira nasceu em Lisboa, em 1921, e vi‑ veu os seus primeiros cinco anos em Angola. Na pintura que se apresenta nesta exposição, já dos anos 80 (na fase final da sua vida) é interessante ver como as memórias de África se evidenciam numa neo­‑figuração que expressa um universo mais pessoal. Figura de relevo na história da arte de Moçam‑ bique, Bertina Lopes (1924) revela em África Imensa, 1980, a sua raíz africana, por via de uma abordagem poética numa linguagem de um cromatismo intenso e diversificado que ex‑ pressa a multiplicidade de África na sua génese cosmogónica. Outros três nomes maiores da arte moçambicana são Shikhani, Alberto Chissano e Malangatana, nascidos nos anos de 1930, que revelam a interpretação moderna de uma estéti‑ ca de matriz étnica através de uma linguagem expressiva e de vanguarda no contexto africano. No caso de Chissano e Malangatana as peças apresentadas são da década de 1970 e atentam para uma dimensão social mais crua e de sofrimen‑ to ou violência. ‑2009) é um autor incontornável Ricardo Rangel (1924­ na história da fotografia em Moçambique6 que alcançou

Com Kok Nam e Rui Knopfli desenvolveu uma ação pioneira na fotografia, deixando como legado um centro de formação fotográfica que permitiu o desenvolvimento da fotografia em Moçambique.

| 15


16 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

reconhecimento internacional. Através do seu trabalho ex‑ pôs a situação colonial, dando a conhecer a realidade da sociedade de então. É o caso da fotografia patente na expo‑ sição que, numa linguagem estética minimalista e fortemen‑ te conceptualista, denuncia a frente, o verso e o inverso do colonialismo: Sanitários. Onde só o negro podia ser servente e só o branco podia ser homem, de 1957. Outro histórico é Paulo Kapela (1947). Mestre e referência para uma nova geração de artistas, dada a sua irreverente forma de ser e criar. O seu carisma estende­‑se à obra artística, onde mistura a colagem com o desenho, a pintura, a escrita, adicionando materiais ligados à cultura tradicional, popular ou quotidiana. No retrato de Agostinho Neto (primeiro Pre‑ sidente de Angola e personalidade política emblemática), apropriado da capa de um jornal, recorre a uma amálgama de materiais, como sementes, caricas, cartas de jogar, etc., que resulta numa excêntrica obra de retrato. As gerações nascidas a partir da segunda metade do século XX beneficiaram de outras condições ao nível da formação, bem como do processo de globalização iniciado no final do sécu‑ lo XX. Com a possibilidade de estudar em escolas de arte em Portugal ou noutros países da Europa ou nos EUA, muitos emi‑ graram e vivem hoje noutros países. O que importa acentuar é o acesso a uma amplitude de conhecimento e horizontes que conduz ao desenvolvimento de uma prática com maior auto‑ nomia dos referentes e ao apuro de uma identidade própria nas linguagens artísticas individuais. António Ole (Angola, 1951) é exemplo de um dos primeiros artistas com formação nos EUA, com vasta carreira inter‑ nacional. Um dos “históricos da contemporaneidade” que se afirmou na segunda metade do século XX numa ação

multifacetada da criação artística. No campo da fotografia, a sua obra expressa a intensidade urbana e cosmopolita bem patente na identidade do artista. No caso do trabalho da presente exposição, de 1998, um díptico montado em suporte único, somos transportados para o interior de zo‑ nas de habitação em ruínas, através do olhar do artista, que explora a crua plasticidade das composições cromáticas e formais fortuitas na arquitetura dos musseques. A fotografia revela­‑se como um meio de expressão artística particularmente interessante em Angola e Moçambique. José Cabral (Moçambique, 1952), da geração seguinte à de Ricardo Rangel, está presente com um trabalho metafóri‑ co em que um nu feminino de meio corpo surge com uma máscara étnica a tapar o rosto, evocando as questões da identidade e subjetividade que se evidenciam igualmente nas fotografias de dois mais jovens artistas moçambicanos apresentados na exposição, Mauro Pinto e Mário Macilau. Mauro Pinto (1974) transporta para uma linguagem con‑ temporânea, na sua dimensão formal e temática, a visão direta sobre o interior das sociedades africanas e a resiliên‑ cia das conjunturas periféricas. Em O meu rosto é Sagrado, de 2012, a questão da identidade ressalta na dialética entre a composição estética e a sua vertente conceptual. Numa dimensão autobiográfica, Mário Macilau (Moçambique, 1984) trabalha a sociedade de rua e a realidade de sobre‑ vivência das famílias africanas, que ele próprio viveu. O gos‑ to pelo retrato, pelo registo documental, pelo ressalvar da beleza em contexto adverso, está na base da composição ficcional da fotografia selecionada. Na nova geração angolana do pós­‑independência de Ango‑ la, que chegou a confrontar­‑se com a guerra civil terminada em 2001, a crítica sócio­‑política tem acentuada expressão


na produção artística. A fotografia Balas e Satélites, 2009, de Kiluanji Kia Henda (Angola, 1979), escolhida como rosto desta exposição, é emblemática desse conceito. Uma pa‑ rede da cidade do Huambo cravada de marcas de balas é rosto da guerra que devassou Angola. Esta imagem literal do real é, conjuntamente, metáfora de resistência humana no verso interior dessa realidade e registo documental do inverso, em que a existência de duas antenas satélites colo‑ cadas na parede remete para o dualismo entre o isolamen‑ to da guerra e a ligação ao exterior e ao mundo global. Por outro lado, as duas sombras projetadas das antenas criam a imagem de um par, aludindo, numa leitura mais distante, a uma quase irónica alegoria romântica de quem namora o porvir e anseia pelo futuro, alheio à realidade à sua volta. Do mesmo ano de 2009, é Lisbon Style, de Délio Hasse (An‑ gola, 1980), que alude de forma satírica ao estilo português, ridicularizando­‑o ao colocar um personagem masculino com bigode e mãos na cintura, vestido com roupas tipo cowboy e uma bolsa de vendedor de rua. No trabalho de Binelde Hyr‑ can (1982) a reprodução fotográfica de uma “barbershop” de rua em Angola é personalizada com desenhos do artista. Num registo mais humorístico e mordaz, René Tavares (São Tomé e Príncipe, 1983) destaca­‑se em The Next Future Project, 2014, um trabalho centrado na questão da pegada ecológica. Uma composição fotográfica que afirma uma crítica ácida ao comportamento humano e aos subterfúgios que se é capaz de inventar para ignorar uma situação devastadora. Na ligação a outras geografias da Lusofonia, encontramos os trabalhos de fotografia de José Maçãs de Carvalho (Portugal, 7

Esta escultura/estudo faz parte do projeto prático de doutoramento de Ângela Ferreira.

1960), com uma perspetiva da globalização, num olhar re‑ petido sobre sequentes anúncios de marcas de moda oci‑ dentais no emblemático edifício Wynn (Hotel e Casino). António Júlio Duarte (1965) retrata o verso de uma figura feminina com tradicionais trajes chineses sob o título su‑ gestivo #58 Pingyao, da série We can’t go home again, 2003. Noutra latitude, Inês Gonçalves (Portugal, 1964) traz­‑nos, em Sem Título, na casa da D. Telma Gonçalves em Guirim, 2000, uma imagem do interior de um quarto em Goa que nos lembra as casas coloniais, enquanto a fotografia de Rita Magalhães (Angola, 1974) retrata uma figura feminina com trajes do início do século XX que poderia ser um persona‑ gem da época colonial. Dentro da reflexão crítica em torno do colonialismo há dois nomes incontornáveis. Ângela Ferreira, artista portuguesa nascida em Moçambique (1958), tem refletido sobre as ques‑ tões do colonialismo e consequências do pós­‑colonialismo, com base na investigação histórica de matérias sociais e polí‑ ticas em articulação com a arquitetura em África. É o caso da escultura Study for viewing cabinet for Margot and Jorge Dias II, 20137, que reproduz a forma do antigo edifício do Minis‑ tério do Ultramar em Lisboa, acrescentando­‑lhe uma estru‑ tura de visionamento de filmes onde é colocado um “tablet” que apresenta uma sequência de imagens documentais rela‑ cionadas com a ação desenvolvida pelos antropólogos Jorge Dias e sua mulher, Margot. Adriana Varejão (Brasil, 1964) é autora da obra Filho Bastardo II, 1997, uma pintura sobre um medalhão de ma‑ deira que recria uma cena de interior dos tempos antigos do colonialismo e retrata o domínio sexual do colonizador

| 17


18 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

sobre os nativos. A cena é rasgada no centro pela reprodu‑ ção matérica de uma ferida aberta que lhe incute uma forte dimensão simbólica da violência e crueldade desses tempos. Em referência ao período da guerra colonial, o desenho de Manuel Botelho (Lisboa, 1950), Aqui não há absolutamente nada, 2009, lembra­‑nos a desolação de certas zonas de África devastadas pela guerra colonial. Outro flagelo social é abor‑ dado por Pinto (Moçambique,1980), em Proliferação da Sida II, 2005. Um desenho de traço enérgico e irregular que cria uma narrativa dentro de uma estética neo­‑surrealista. Yonamine (Angola, 1975) vem desenvolvendo um trabalho num registo de humor crítico, articulado com uma cultura neo­‑pop. A gravura patente nesta exposição tem inscrito em folhas de jornais o símbolo da marca Neo Blanc e imagens de pugilistas, mensagem que remete para as questões da corrup‑ ção/lavagem de dinheiro e da violência social. A violência do poder e da guerra em África estão na origem das esculturas de Gonçalo Mabunda. O Trono, 2016, é uma das inúmeras realizadas pelo artista, com recurso a material bélico obsoleto, em enfática crítica ao desejo de ascender ao poder pela força das armas. No âmbito da crítica aos políticos, somos interpelados pela pintura de Toy Boy, que retrata, numa linguagem de formas estilizadas e cores primárias, as figuras dos políticos, Politicans and their lies, 2016. Kwame Sousa (São Tomé e Príncipe, 1980) surpreende em Animals colour 2400KG, 2015, obra de grande formato onde retrata dois chimpanzés de mãos dadas. Um trabalho con‑ ceptual, subtilmente provocador, dado que, de acordo com a

teoria da seleção natural de Charles Darwin, a cor (do) animal pode ser uma vantagem. As duas únicas obras em movimento pertencem a Berenice Bickle, Moçambique/ Zimbabué, 1959, Between Moment: Red, Green, Black, 2010, e Caetano Dias (Brasil, 1959), O Mundo de Ja­ niele. Os vídeos destes dois artistas aludem ao universo de ado‑ lescentes que crescem em bairros pobres de ambiente adverso. Num outro registo mais plástico e menos politizado, encontram­‑se os trabalhos de Ângelo de Sousa (1938­‑2011), artista português nascido em Moçambique, com uma pin‑ tura de grandes dimensões de monocromia amarela, e os de um conjunto de artistas nascidos nos anos 40, com obras da‑ tadas de períodos mais tardios dos seus percursos artísticos e que evocam universos pessoais: Mucavele (Moçambique, 1941), retrata Duas irmãs montanhas, 2001, um olhar para a paisagem que não deixa de conter um registo dúbio na suges‑ tão de comparação com o corpo feminino; Xanana Gusmão (Timor­‑Leste, 1944) mítico político de Timor­‑Leste, que revela a sua vertente artística retratando o enquadramento paisagís‑ tico de uma casa típica numa aldeia do seu país; e Manuela Jardim (Guiné­‑Bissau, 1949) num trabalho de interseção com gravura, colagem e têxteis, onde inscreve formas e compo‑ sições de cor de raíz tradicional. Leda Catunda (Brasil, 1961) recorre também a materiais e técnicas menos usuais, como tecidos e bordados de cores alegres, criando uma forma enig‑ mática que evoca uma figura de flora ou fauna exótica. Materiais insólitos estão também presentes no trabalho do brasileiro Vik Muniz (1961), artista de grande projeção inter‑ nacional que cria obras figurativas, como Hands,1997­‑98, a partir de composições efémeras que depois fotografa numa estética realista.


Com introdução de referências históricas encontramos as pinturas de Nú Barreto (Guiné­‑Bissau, 1966), que presta ho‑ menagem a Nelson Mandela em Black Colour, 2011, e Abraão Vicente (Cabo Verde, 1980) que assinala no trabalho intitula‑ do 1460, 2012, a data da descoberta de Cabo Verde. Ainda no registo da pintura e desenho, encontramos vá‑ rias obras de linguagens díspares. Paulo Jazz (Angola, 1957) que prolonga a estética modernista. Pedro Paixão (Angola, 1971),apresenta­‑nos um delicado desenho abstrato com lápis de cor vermelha que cria uma malha irregular de forte den‑ sidade orgânica. Celestino Mudaulane (Moçambique, 1972) oferece uma narrativa em torno da realidade popular quoti‑ diana de Moçambique. Ricardo Angélico (Angola, 1973), com The Broken Bible III, 2007, uma pintura de fundo branco que evoca um espaço com ausência de gravidade onde pairam fi‑ guras humanas. Laurissilva, 2013, de Pedro Vaz (Moçambique, 1977) com uma paisagem esbatida de um tipo de floresta sub‑ tropical presente em alguns países, como Cabo Verde. Por fim, Eugénia Mussa (Moçambique, 1978) apresenta três obras da Série Retrospectiva, 2013, com bonitos fundos cromáticos re‑ tratando a negro numa das pinturas, a figura de perfil de uma mulher em movimento. Numa linguagem mais expressiva que afirma uma estética ur‑ bana, ressaltam as obras de Ihosvanny (Angola,1975) com a pintura Wara, 2010, que retrata a imagem de um jovem africa‑ no, em ligação a Wara Wata, um grafiteiro angolano; e de Fran‑ cisco Vidal (Portugal, 1978), autor de Zap Explosion, 2009, com um conjunto de referentes figurativos, como um “zapping” de imagens resgatadas entre sonhos e memórias. No plano da tridimensionalidade, encontramos a escultura de Anselmo Amado (São Tomé e Príncipe, 1964), em madeira e

metal, alusiva à mestiçagem entre raças. Daniela Ribeiro (An‑ gola, 1972) recria, com recurso a pedaços de telemóveis sobre fotografia e resina, a estrela da constelação Triangulum Austra­ le, que se supõe ser formada por um disco de detritos. Eduar‑ do Malé (São Tomé e Príncipe, 1973) está representado com uma vultuosa instalação escultórica de parede de uma cabeça feita em arame numa linguagem contemporânea expressiva e informal. Num vocabulário mais feminino, e utilizando uma mistura de materiais e técnicas não tradicionais, Ana Silva (Angola, 1970) expõe uma instalação bidimensional e outra tridimensional. Rita GT (Portugal, 1980), que viveu e trabalhou em Angola, apresenta cerâmica. Há a mencionar ainda os trabalhos realizados exclusivamente com materiais reciclados da autoria de um conjunto de ar‑ tistas angolanos nascidos nos anos de 1970. Dois portões de metal de Thó Simões (1973) com grafitis e retratos pintados a spray de uma figura tribal e de uma criança. Instalações de pa‑ rede, compostas por múltiplas caixas pintadas com pequenos elementos escultóricos de Nelo Teixeira (1974), as esculturas Lego I e Lego II de Toy Boy (1977) e, de Lino Damião (1977), uma colagem mista sobre madeira. Por fim, a peça em que reconhecemos o rosto de uma criança negra pintada num suporte composto exclusivamente com chinelos de borracha sem par, da autoria de Fernando Lucano (Angola,1989), o artista mais jovem da exposição. Uma última palavra de agradecimento às coleções patentes nesta exposição, à colaboração de Luísa Soares de Oliveira e à equipa da UCCLA pelo seu empenho. Adelaide Ginga Curadoria

| 19



Falar a mesma língua

E

m 1964, o paleontólogo francês André Leroi­‑Gourhan publicava uma obra que teria consequências inimagi‑ náveis na altura. Le Geste et la Parole – assim se cha‑ mava o livro – colocava, pela primeira vez, em para‑ lelo, a evolução dos hominídeos, a capacidade tecnológica e a existência de pensamento. Se hoje sabemos bem que a ra‑ cionalidade já não define o homem por oposição ao animal, o que ficou bem estabelecido na altura foi o facto de que o pensar, e consequentemente a linguagem (já que não existe pensamento sem linguagem), está implicitamente ligado à possibilidade de fazer. Leroi­‑Gourhan, um homem de ciência que o foi exemplar‑ mente, nunca tentou destrinçar a questão sobre o que teria surgido primeiro, se a tecnologia, se o pensamento. Nos dois volumes desta sua obra seminal vai demonstrando passo a passo, desde os primeiros hominídeos até ao homo sapiens, como o aumento do volume craniano liberta o rosto para o olhar em frente e para a palavra, por um lado; e como a pos‑ tura ereta, sobre as duas pernas, liberta ao mesmo tempo a mão para a criação. Na realidade, esta é a questão que não tem resposta possível (como essa outra pergunta, in‑ timamente relacionada com esta, a de saber onde termina o animal e onde começa o humano, também nunca terá resposta), tanto a argumentação que nos vai apresentando mostra uma imbricação estreita, quase em diálogo, entre

os dois elementos, o fisiológico e o simbólico. Uma coisa é certa, e remata brilhantemente as conclusões da obra: sem linguagem, sem pensamento, não existe criação. Esta reflexão vem a propósito da extensa exposição conce‑ bida pela curadora Adelaide Ginga para a UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, que recebe o tí‑ tulo de Frente, Verso, Inverso – Arte Contemporânea dos Paí­ ses de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal, e reúne uma impressionante seleção com dezenas de artistas que têm em comum este denominador universal, a língua por‑ tuguesa. A curadora adotou um critério simultaneamente biográfico e temático, escolhendo artistas que, sendo oriun‑ dos das antigas colónias portuguesas, se debruçam sobre questões tão importantes para as nações recentes como a identidade própria, social ou nacional; ou, por outro lado, selecionando autores que, nascidos nessas mesmas colónias – inclusive antes da independência, ou seja, antes da possi‑ bilidade teórica, pelo menos, de uma tentativa de definição de uma arte nacional modernista ou contemporânea que se pudesse exprimir em liberdade – desenvolveram toda a sua carreira e obra no continente africano, chegando mesmo a incluir pelo menos um caso, o de Manuel Botelho, portu‑ guês nascido em Portugal, que é o único a ter desenvolvido obra sobre a Guerra Colonial. Como o título indica, todas estas obras pertencem a coleções, públicas ou privadas, sediadas em Portugal. Treze instituições,

| 21


22 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

de entre as mais importantes em território português, algu‑ mas das quais já com projeção internacional, acederam par‑ ticipar nesta exposição que é, desde já, uma das mais com‑ preensivas do género a realizar­‑se em Portugal. A exposição atesta bem da diversidade de estilos, disciplinas, técnicas, períodos históricos e linguagens próprias, de tal forma que a primeira, ou uma das primeiras impressões que, perante uma realidade historicamente dada – a da existência de uma época colonial na história de todos os países de origem destes artistas, quer como autores, quer como recetores –, guardou dela não apenas as memórias dramáticas e dolo‑ rosas, mas também uma série de testemunhos concretos, materiais e percetíveis, dos quais a língua é apenas um entre muitos. Usar aqui a palavra apenas é obviamente uma força de ex‑ pressão. De facto, e para retomarmos o pensamento que enunciávamos no início deste ensaio, a fala, como instru‑ mento de comunicação, está também intimamente ligada ao fazer. Não cairemos na tentação de querer esboçar uma característica comum a todas estas práticas artísticas. Na realidade, pensamos e defendemos que é na diversidade que todas elas revelam, umas em relação às outras que reside a riqueza do trabalho destes artistas. E, no entanto, acredita‑ mos, na linha dos estudos pós­‑coloniais mais recentes1, que a arte pós­‑colonial, apropriando e re­‑apropriando exaustiva‑ mente as formas artísticas matriciais, questiona sobretudo a permanência e o fim da colonização. Será que a colonização tem um fim? Ou as formas exportadas, artísticas e simbó‑ licas, não se continuam a reproduzir e metamorfosear in‑

definidamente? É possível fazer tábua rasa do passado, por muito doloroso que ele seja? Todos estes artistas parecem responder­‑nos implicitamente, mais ou menos consciente‑ mente, que não. Por outro lado, se o mundo simbólico é apenas um, in‑ cluindo a língua mas também a produção artística em todas as suas formas, ele existe numa sociedade e num meio que subtilmente, a partir da década de 70, em diferentes lugares do mundo, volta a atribuir ao objeto artístico uma função social. No caso português, isto significa que existiu um hiato importante entre a Revolução de 74, que foi também pro‑ dutora de uma iconografia poderosa (os cravos de Abril são, em primeiro lugar, uma imagem), e a arte dessa época e mesmo da década seguinte, ainda concentrada na auto‑ nomia modernista do objeto artístico2. Um caso emblemá‑ tico é o da peça aqui presente, assinada em 1988 por Ângelo de Sousa, moçambicano de nascimento mas que viveu em Portugal desde a década de 60 até à sua morte: trata­‑se de uma pintura que se dá a si própria como sujeito, revelando o trabalho paciente e visualmente encantatório de camadas sobre camadas de transparências coloridas que produzem um espaço abstrato, apenas referenciável a si próprio. Dife‑ rente é, por exemplo, o trabalho de Ângela Ferreira, também nascida em Moçambique e que viveu na pele o processo de descolonização e de independência. Assina aqui uma escul‑ tura de 2013 que pertence a uma série realizada sobre os tra‑ balhos de investigação etnográfica feitos pelo casal Margot e Jorge Dias em África. Neste caso, a forma escultórica (um “Cabinet for viewing”) duplica­‑se já com uma série de cono‑

Por exemplo, no ensaio de Helen S. Tiernan, Transculturation: Sublime and Surreal Encounters of the First Contact in the Antipodes, redigido para uma exposição na Cooee Gallery de Sydney, em 2017. [http://www.artandaustralia.com/online/discursions/decolonising­‑%E2%80%98postcolonial%E2%80%99 (acesso 04/09/18)] 2 Já mencionado por Miguel Amado no texto do catálogo da exposição “Confidencial/Desclassificado”, Lisboa, Fundação PLMJ, 2012. 1


tações políticas muito precisas, visto que o olhar ocidental sobre o indígena, mesmo o olhar científico, nunca é inocente. É sempre um olhar predador. Ângelo de Sousa e Ângela Ferreira pertencem a duas gera‑ ções distintas e muito diferentes. Mas, de certo modo, assi‑ nalam os dois polos entre os quais as obras e os artistas aqui reunidos, se manifestam. Os tempos em que trabalham, que representam a montante o fim de uma modernidade con‑ fiante e de certezas intransigentes e absolutas e, a jusante, a liberdade total, quase ingénua, de um Toy Boy ou de Nelo Teixeira que marcam justamente a apropriação contempo‑ rânea da arte pós­‑colonial nos jovens países africanos. Que, neste último caso, tiveram já os seus momentos fundadores em tempos modernos: lembremos, no Brasil, em 1928, o “Manifesto Antropofágico” de Oswald de Andrade, que re‑ cuperava uma pureza primitiva brasileira para a identificação do seu país – identificação essa de que ainda encontramos ecos longínquos na obra colorida de Leda Catunda, por exemplo. E em África, os artistas revelados nos anos 60, no‑ meadamente Malangatana, Bertina Lopes, Alberto Chissano e Estêvão Mucavele, que encontram no gosto surrealista da época ambiente favorável para a eclosão e o desenvol‑

vimento de linguagens modernizantes de sabor etnográfico. Fora de todo este discurso situa­‑se a única peça que surge aqui pelo seu valor político, muito mais que artístico: a agua‑ rela pintada por Xanana Gusmão quando cumpria pena de prisão em Cipinang, em 1996. Trata­‑se de uma paisagem in‑ génua que revela bem a multiplicidade de vias artísticas que é possível encontrar nesta comunidade linguística. Que não se pense que a arte dos países de língua portuguesa se fica por aqui. A sua riqueza é imensa, cobrindo áreas tão importantes como o cinema e a arquitetura, ganhando pré‑ mios internacionais, estando presente nas mais importantes exposições e feiras do mundo. De certa forma, a arte dos paí‑ ses que falam português é hoje tão internacional como os que não a falam. Dito de outro modo, este é o melhor meio para que esta linguagem plástica, a que é criada por artistas que têm em comum a língua – e, se calhar, pouco mais – seja ouvida por quem não a fala. Nem como primeira língua, nem como segunda ou terceira. Luísa Soares de Oliveira Crítica de Arte

| 23


Coleções presentes na exposição: Associação de Coleções The Berardo Collection CAMB ­‑ Centro de Arte Manuel de Brito Coleção da Caixa Geral de Depósitos, Lisboa Coleção de Fotografia Contemporânea do Novo Banco Coleção Figueiredo Ribeiro ­‑ Quartel da Arte Contemporânea de Abrantes Coleção Lusofonias | Casa da Liberdade ­‑ Mário Cesariny Coleção MNAC ­‑ Museu Nacional de Arte Contemporânea Coleção privada | ACCA by CL Coleção privada | AM Coleção privada | Carlos Gomes Fundação Carmona e Costa Fundação Oriente Fundação PLMJ UCCLA ­‑ União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa


OBRAS EM EXPOSIÇÃO


Fotografia de: Guide­‑Artes Gráficas

26 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Abraão Vicente 1460, 2012 Óleo, acrílico, stencil e tecido sobre cartão colado sobre madeira, 201 x 178 cm

Fundação PLMJ


| 27

Adriana Varejão Filho Bastardo II, 1997 Óleo sobre madeira, 100 x 140 x 10 cm Associação de Coleções The Berardo Collection


28 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Alberto Chissano O Grito de Ngonhama, 1971 Escultura em madeira, 63 x 30 x 23 cm CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito


| 29

Alberto Chissano Grito, 1974 Escultura em madeira, 33 x 29 x 11 cm CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito


30 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Ana Silva Sem Título, 2017 Instalação em madeira e tecido, 230 x 56 cm Coleção Privada | ACCA by CL


| 31

Ana Silva Sem Título, 2015 Instalação em tecido e tinta­‑da­‑china, 95 x 49 cm Coleção Privada | ACCA by CL


32 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Ângela Ferreira Study for viewing cabinet for Margot and Jorge Dias II, 2013 Alumínio, MDF, balsa, apresentação de slides 3´em ecrã LCD, 100 x 165 x 72 cm

Coleção Figueiredo Ribeiro ­‑ Quartel da Arte Contemporânea de Abrantes


| 33

Ângelo de Sousa Sem Título, 1985 Acrílico sobre tela, 200 x 170 cm Associação de Coleções The Berardo Collection


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

34 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Anselmo Amado Mistissagem, 1990 Escultura em madeira e metal, 69 x 34 x 20 cm UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa


| 35

António Júlio Duarte “#58 Pingyao” da série We can’t go home again, 2003 Prova por destruição seletiva de corantes (Ilfochrome), colada sobre alumínio, 51 x 51 cm ‑­ Edição 1/5 Coleção de Fotografia Contemporânea do Novo Banco


36 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

António Ole Sem Título, 1998 Prova a cores montada sobre alumínio, (2x) 135 x 100 cm ­‑ Edição 2/5 Coleção de Fotografia Contemporânea do Novo Banco


| 37

Berry Bickle (Berenice Bickle) Between Moment: Red, Green, Black, 2010 Vídeo multi­‑canal, cor, som, 15’31”

Fundação PLMJ


38 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Bertina Lopes África Imensa, 1980 Óleo sobre tela, 150 x 200 cm CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito


| 39

Binelde Hyrcan Barbershop, 2003 Fotografia, 109 x 133 cm Coleção Privada | ACCA by CL


40 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Caetano Dias O Mundo de Janiele Ed. 5, 0 Video loop

Associação de Coleções The Berardo Collection


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

| 41

Celestino Mudaulane Sem Título, 2014 Mista sobre papel, 61 x 85,5 cm CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito


42 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Daniela Ribeiro Beta Trianguils Australis 3735, 2010 Mista de fotografia com resina,116 x 116 x 35 cm Coleção Privada | ACCA by CL


Fotografia de: Guide­‑Artes Gráficas

| 43

Délio Jasse Lisbon Style, 2009 Prova de gelatina e prata, 100 x 70 cm Fundação PLMJ


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

44 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Eduardo Malé Sem Título, 2013 Escultura em arame e verniz marítimo, 195 x 85 cm Coleção Privada | Carlos Gomes


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

| 45

Estevão Mucavele Duas irmãs montanhas, 2001 Acrílico sobre tela, 67,5 x 79,5 cm

Coleção Caixa Geral de Depósitos


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

46 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Eugénia Mussa Sem título, da Série Retrospectiva, 2013 Óleo sobre papel, 42 x 29,7 cm

Coleção Figueiredo Ribeiro ­‑ Quartel da Arte Contemporânea de Abrantes


| 47

Fernando Lucano Sem Título, 2017 Instalação com acabamento a acrílico sobre metal, 172 x 142 cm Coleção Privada | ACCA by CL


48 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Francisco Vidal Zap Explosion, 2009 Óleo sobre tela, 150 x 150 cm CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

| 49

Gonçalo Mabunda Trono, 2016 Metal e armas recicladas, 119 x 86 x 64 cm Coleção Figueiredo Ribeiro – Quartel da Arte Contemporânea de Abrantes


Fotografia de: Guide­‑Artes Gráficas

50 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Ihosvanny Wara, 2010 Acrílico sobre tela, 100 x 100 cm Fundação PLMJ


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

| 51

Inês Gonsalves (Inês Gonçalves) Untitled, na casa da D. Telma Gonçalves em Guirim, 2000 Fotografia, 92 x 92 cm

Coleção Privada | Carlos Gomes


Fotografia de: DMF, Lisboa 2009

52 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

José Cabral Sem Título, Mueda, Cabo Delgado, 1998 Prova gelatina sal de prata, 30,3 x 40,6 cm

Coleção Caixa Geral de Depósitos


| 53

José Maçãs de Carvalho S/Título (wynn´s macau), 2011 Ink jet, (8x) 50 x 70 cm

Coleção Privada | AM


54 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Kiluanji Kia Henda Balas e Satélites, 2009 Fotografia, 86,5 x 130 cm

Coleção Privada | ACCA by CL


| 55

Kwame Sousa Animals colour 2400KG, 2015 Acrílico sobre tecido industrial, 267 x 237 cm Coleção Privada | Carlos Gomes


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

56 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Leda Catunda Amoroso II, 2008 Bordado e acrílico sobre tecido, 54,4 x 42,5 cm CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito


| 57

Lino Damião Esta época será diferente, 2010 Colagem mista sobre madeira, 230 x 53 cm

Coleção Privada | ACCA by CL


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

58 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Malangatana Sem Título, 1970 Desenho a tinta da china, 47 x 32 cm Coleção MNAC Museu Nacional de Arte Contemporânea


Fotografia de: Guide­‑Artes Gráficas

| 59

Manuel Botelho Aqui não há absolutamente nada, 2009 Lápis e aguarela sobre papel, 66 x 50,5 cm

Fundação PLMJ


Fotografia de: Colectivo Multimédia Perve

60 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Manuela Jardim Reencontros, 2008 Técnica mista sobre pasta papel artesanal, 50 x 50 cm Coleção Lusofonias | Casa da Liberdade ­‑ Mário Cesariny


| 61

Mário Macilau Sem Título, 2017 Fotografia, 93 x 140 cm Coleção Privada | ACCA by CL


62 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Mauro Pinto O meu rosto é sagrado, 2012 Impressão a jato de tinta em papel ne art. 100% algodão Hahnemuhle Photorag 310 g, 80 x 120 cm CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

| 63

Nelo Teixeira Estrutura Urbana, 2016 Mista: acrílico, madeira e objectos encontrados, 200 x 281 cm Coleção Privada | ACCA by CL


64 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Nelo Teixeira Sem Título, 2017 Mista: acrílico, madeira e objectos encontrados,133 x 217 cm Coleção Privada | ACCA by CL


Fotografia de: Guide­‑Artes Gráficas

| 65

Nú Barreto Black Colour, 2011 Colagem, acrílico e pastel sobre tela, 58 x 85 cm Fundação PLMJ


66 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Paulo Jazz Sem Título, 2006 Mista sobre cartão, 43 x 34 cm Coleção Privada ACCA by CL


| 67

Paulo Kapela Sem Título, 2008 Colagem mista sobre papel, 48 x 31 cm Coleção Privada | ACCA by CL


68 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Pedro Paixão Sem Título, 2010 Lápis de cor sobre papel, 29 x 42 cm CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito


| 69

Pedro Vaz Laurissilva, 2013 Acrílico sobremadeira, 200 x 140 cm CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito


Fotografia de: Guide­‑Artes Gráficas

70 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Pinto Proliferação da Sida II, 2005 Pastel sobre papel de aguarela, 52 x 50 cm Fundação PLMJ


| 71

René Tavares The next future project, 2014 Modelo de penha; Fotografia digital, 100 x 148 cm Coleção Privada | Carlos Gomes


72 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Ricardo Angélico The Broken Bible III, 2007 Guache sobre papel, 140 x 152 cm CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

| 73

Ricardo Rangel Sanitários. Onde só o negro podia ser servente e só o branco podia ser homem, 1957 Prova gelatina sal de prata, 30,2 x 40,5 cm

Coleção Caixa Geral de Depósitos


74 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Rita GT Studies on Viana’s Blue, 2016 Cerâmica com grés porcelânico azul cobalto, 20 x 13 x 13 cm Coleção Privada | ACCA by CL


| 75

Rita Magalhães “Sem título” #87, 2004 Prova cromogénea de ampliação digital (Processo LightJet Lambda), 70 x 50 cm ­‑ Edição 2/5 Coleção de Fotografia Contemporânea do Novo Banco


76 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Rolando Sá Nogueira Sem Título, 1982­‑85 Óleo sobre tela, 120 x 103 cm Associação de Coleções The Berardo Collection


Fotografia de: DMF, Lisboa 2013

| 77

Shikhani Sem Título, 2001 Acrílico sobre papel, 60 x 39 cm Coleção Caixa Geral de Depósitos


78 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Thó Simões Sem Título, 2014 Acrílico sobre metal, 168 x 86 cm Coleção Privada | ACCA by CL


| 79

Thó Simões Sem Título, 2014 Acrílico sobre metal, 160 x 84 cm Coleção Privada | ACCA by CL


80 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Toy Boy (Adalberto Ferreira) Lego I, 2015 Escultura em metal, 187 x 56 x 25 cm Coleção Privada | ACCA by CL


| 81

Toy Boy (Adalberto Ferreira) Lego II, 2015 Escultura em metal, 200 x 82 x 49 cm Coleção Privada | ACCA by CL


82 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Toy Boy (Adalberto Ferreira) Sem Título, 2016 Óleo sobre tela, 139 x 118 cm Coleção Privada ACCA by CL


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

| 83

Vik Muniz Hands, 1997­‑1998 Impressão em prata coloidal, 57,5 x 49 cm Fundação Carmona e Costa


Fotografia de: Ana Luisa Alvim

84 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Xanana Gusmão Aldeia Típica de Timor, 1996 Aguarela, 82,5 x 66 cm

Fundação Oriente


| 85

Yonamine Coco Seco, 2013 Gravura sobre papel, 116 x 99 cm Coleção Privada | ACCA by CL


Abraão Vicente Adriana Varejão Alberto Chissano Ana Silva Ângela Ferreira Ângelo de Sousa Anselmo Amado António Júlio Duarte António Ole Berry Bickle (Berenice Bickle) Bertina Lopes Binelde Hyrcan Caetano Dias Celestino Mudaulane Daniela Ribeiro Délio Jasse Eduardo Malé Estevão Mucavele Eugénia Mussa Fernando Lucano Francisco Vidal Gonçalo Mabunda Ihosvanny (Angel Ihosvanny Cisneros) Inês Gonçalves José Cabral José Maçãs de Carvalho Kiluanji Kia Henda Kwame Sousa Leda Catunda Lino Damião Malangatana Manuel Botelho Manuela Jardim Mário Macilau Mauro Pinto Nelo Teixeira Nú Barreto Paulo Jazz Paulo Kapela Pedro Paixão Pedro Vaz Pinto René Tavares Ricardo Angélico Ricardo Rangel Rita GT Rita Magalhães Rolando Sá Nogueira Shikhani Thó Simões Toy Boy (Adalberto Ferreira) Vik Muniz Xanana Gusmão Yonamine


ARTISTAS . BIOGRAFIAS



¬

ABRAÃO VICENTE 1980 / Cabo Verde

Abraão Vicente nasceu a 26 de fevereiro de 1980, no interior da ilha de Santiago, em Cabo Verde, numa família numerosa, sendo o sexto de oito irmãos. Em casa, encontrou no pai e no avô, estudiosos da língua crioula e da cultura da ilha, o gosto pela literatura e pelas artes. Estudou na Vila de Assomada e na cidade da Praia e, com 18 anos, fixou­‑se em Lisboa, onde se licenciou em Socio‑ logia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (2003), com uma tese sobre a construção do campo artístico em Por‑ tugal durante o século XX. Entre exposições individuais e coleti‑ vas, passou um período em Barcelona, onde foi um dos programadores e artista do espaço de experimentação artística Miscelânea. No campo literário é autor de O Trampolim (romance), E de Repente a Noite (poesia), Traços Rosa Choque (coletânea de crónicas) e 1980 Labirintos (poesia). Também participou na coletâ‑ nea Dez contos para ler sentado (contos). Abraão Vicente é um artista multifa‑ cetado. Foi apresentador de televisão e, a partir de 2011, assumiu funções de de‑ putado pelo Movimento para a Demo‑ cracia. Atualmente vive em Cabo Verde

onde, a par com o desenvolvimento do seu trabalho nas artes plásticas, já exerceu a função de jornalista. É um ativista social e cronista, escrevendo regularmente para vários jornais cabo­‑verdianos. É o atual Ministro da Cultura e das Indústrias Cria‑ tivas do Governo de Cabo Verde.

¬

ADRIANA VAREJÃO 1964 / Brasil

Adriana Varejão nasceu no Rio de Ja‑ neiro, Brasil, em 1964, e começou a sua carreira nos anos 80, ainda muito jovem. Entre 1981 e 1985 frequentou cursos livres na Escola de Artes Visuais do Par‑ que Lage, no Rio de Janeiro, e fez a sua primeira exposição individual em 1988, na galeria Thomas Cohn. Filha de um piloto da aeronáutica e de uma nutricionista, licenciou­‑se em Engenharia, enquanto integrava cursos temporários de artes visuais. “Acho que um dia eu acordei e virei artista”, brinca a carioca Adriana. Na década de 90 foi incluída em inú‑ meras mostras importantes, onde foi revelando o amadurecimento da sua obra. Destacam­‑se as suas participações na Bienal de São Paulo, em 1994 e 1998; nas Bienais de Havana (1994), Joanes‑ burgo (1995) e Liverpool (1999). Adriana

também foi uma das figuras centrais da Bienal de Sydney (2000) e nas coleti‑ ‑2002), vas “UltraBaroque” (EUA, 2000­ “TransCulture” (Veneza, Tóquio, 1995), “New Histories” (ICA, Boston, 1996), “Mapping” (MoMA, Nova Iorque, 1994). A sua obra reproduz elementos his‑ tóricos e culturais, com temas ligados à colonização, ao barroco e à azulejaria. Adriana investiga também a utilização do corpo humano, da visceralidade e da representação da carne como elemento estético. Apesar de remeter ao barroco, adquire uma forte contemporaneidade em consequência da acumulação ex‑ cessiva de materiais, camadas de tinta e informações. As suas obras integram as coleções dos principais museus do mundo e tem alcançado recordes de preço em lei‑ loeiras de Londres e Nova Iorque, o que atesta o seu alargado reconhecimento internacional.

¬

ALBERTO CHISSANO 1935 ­‑ 1994 / Moçambique

Alberto Chissano nasceu em Manja‑ caze, Moçambique, em 1935. Iniciou­‑se na escultura nos anos 60 e fez a primeira exposição em 1966, em Lourenço Mar‑ ques. Em 1972 expôs na Sociedade Na‑

| 89


90 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

cional de Belas Artes, em 1986 no Casino do Estoril e no Clube 50, em Lisboa. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulben‑ kian em 1968 e em 1981/82. Expôs individualmente em Maputo, Lisboa e Roma. Participou em exposi‑ ções coletivas na Alemanha, Itália, Mó‑ naco, Portugal, Rússia, Índia e Nigéria. Em 1967 recebeu o prémio da Cruz Ver‑ melha Internacional, na área das artes, em Washington. Em 1981 participou no Simpósio Internacional de Escultura de Belgrado, onde foi galardoado com o primeiro e o segundo prémios. Criou na sua própria casa, na Matola, a Fundação Alberto Chissano. Está representado em diversos museus e coleções particulares, entre as quais a coleção Manuel de Brito. Chissano faleceu em 1994, em Maputo, Moçambique.

¬

ANA SILVA 1970 / Angola

Ana Silva nasceu em 1970, no Calulo, Angola. Realizou a sua primeira expo‑ sição individual, na Alliance Française, em Luanda, em 1999, ano que dedicou também à escultura, pintura e cerâmica. Nos anos seguintes continuou a expor em Angola, destacando­‑se a Coletiva de Pintura, no Banco Africano de Investi‑

mentos, em 2000, e a Exposição de Pin‑ tura e Escultura, na Embaixada de Itália em Angola, em 2001. A artista foi responsável pelas capas de livros do escritor Ondjaki, como Bom dia camaradas e Há Prendizagens com o Xão (Ed. Caminho, Portugal), bem como pelo vestuário e cenografia do espetáculo de teatro e dança Yeux bleus, Cheveux noirs, de Margarite Duras, adaptado por Fabri‑ zio dal Borgo, em Luanda, em 2001. No mesmo ano, conquistou o 2.º lugar no Concurso de Beers, Luanda. Em 2002, Ana Silva viajou para Por‑ tugal, onde frequentou o curso de for‑ mação artística em Desenho, Pintura e História de Arte, no Ar.Co, em Lisboa, onde realizou a sua primeira exposição individual “Dizer que somos pessoas”, em 2002 e, em 2003, a exposição “Seres suspensos”, na Perve Galeria. Em 2004 participou na Feira de Arte de Lisboa, no stand da Perve Galeria, com uma composição de 8 chapas me‑ ‑iluminadas, projeto com tálicas retro­ a curadoria de Carlos Cabral Nunes, que foi considerado pelo jornal Público como a “Melhor Obra” em exposição nessa feira. Dessa composição, duas obras foram integradas na Coleção Lu‑ sofonias, juntando­‑se a outras duas telas, de sua autoria, incorporadas anterior‑ mente nessa coleção.

¬

ÂNGELA FERREIRA 1958 / Moçambique

Nascida em Maputo, Moçambique, em 1958, Ângela Ferreira formou­ ‑se em Escultura pela Michaelis School of Fine Arts da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, em 1983. É dou‑ torada pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, onde é professora assistente desde 2003. A artista explora as rela‑ ções interculturais e identitárias entre o mundo ocidental e o mundo africano. Do formalismo das primeiras escultu‑ ras, os seus trabalhos são hoje marcados pela confrontação de objetos, memórias e arquiteturas, recorrendo à fotografia, ao vídeo e à instalação. Ângela Ferreira já recebeu vários pré‑ mios, como o Prémio de Escultura na Bienal das Caldas da Rainha (1995) e o Prémio Novo Banco Photo (2015) e a distinção “Mulheres Criadoras de Cul‑ tura” (categoria Artes Plásticas). Foi a representante de Portugal na Bienal de Veneza de 2007, com a obra Maison Tro­ picale, e esteve presente nas Bienais de Istambul (1999), São Paulo (2008) e Bu‑ careste (2010). O seu trabalho tem sido apresentado em inúmeras exposições nacionais e internacionais e está repre‑ sentado em diversas coleções públicas e privadas, como as Fundações EDP e


Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e Ser‑ ralves, no Porto; South African National Gallery, Cidade do Cabo, África do Sul; Museum of Modern and Contempo‑ rary Art, Bolzano, Itália e The Walther Collection Neu­ ‑Ulm/Bulafingen, Ale‑ manha. Tem esculturas em espaços pú‑ blicos em Lisboa, Guimarães, Londres, República Democrática do Congo, entre outros. Pan African Unity Mural, a sua mais re‑ cente exposição, inaugurada no MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnolo‑ gia, em junho de 2018, parte da reflexão da artista sobre as causas e condições das movimentações dos africanos e as interseções que daí resultam. Pelo mural, inspirado nos murais de Diego Rivera, cir‑ culam personagens, entre eles a autora, a cantora sul­‑africana Miriam Makeba, e George Wright, que pertenceu ao Black Liberation Army, e surgem mensagens e reivindicações de trabalhadores sul­ ‑africanos.

¬

ÂNGELO DE SOUSA 1938 ­‑ 2011 / Moçambique

Ângelo de Sousa nasceu em Maputo, Moçambique, em 1938 e iniciou o seu percurso artístico na cidade do Porto, onde frequentou a Escola Superior de

Belas­‑Artes (1955­‑1963), formando­‑se em Pintura. A sua nota final de curso (20 valo‑ res) junta­‑o a outros colegas que obtive‑ ram a mesma classificação, constituindo o grupo “Os Quatro Vintes” (1968­‑1972). Integrando o corpo docente da escola durante quase quatro décadas, tornou­‑se o primeiro professor catedrático em Pin‑ tura daquela faculdade. Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e do British Council, bene‑ ficiou, entre 1967­‑1968, de uma esta‑ dia em Londres, onde frequentou a St. Martin’s School of Art e a Slade School of Fine Art. A apresentação pública do seu trabalho teve início em 1956, desen‑ volvendo a partir de então uma ativa in‑ tervenção artística através de diferentes meios: desenho, pintura, escultura, filme e fotografia. A cor e o formalismo, que parecem nascer organicamente através do movimento do traço, são elemen‑ tos marcantes do seu processo criativo, que se situa numa esfera minimalista e se estende à escultura. Na pintura, o gesto colorido dá lugar, a partir dos anos 70, a grandes planos cromáticos, gerando jogos geométricos, ou formando espa‑ cialidades ambíguas. A sua produção artística foi reconhecida internacional‑ mente em 1975, na Bienal de São Paulo, onde foi premiado. A partir dos anos 90 realizaram­‑se várias exposições re‑ trospetivas na Fundação de Serralves,

Centro Cultural de Belém e Fundação Calouste Gulbenkian. Ângelo de Sousa foi distinguido com o Prémio de Pintura na III Exposição de Artes Plásticas da Gulbenkian (1986), Prémio EDP de Pin‑ tura (2000) e Prémio Amadeo de Souza­ ‑Cardoso (2007).

¬

ANSELMO AMADO 1964 / São Tomé e Príncipe

Anselmo Amado nasceu em 1964, em São Tomé e Príncipe. No seu país traba‑ lhou como professor do ensino primá‑ rio durante 10 anos. Em Portugal, onde viveu durante mais de uma década, fre‑ quentou o Curso de História de Arte no Ar.Co (Lisboa) e licenciou­‑se em Direito pela Universidade Lusófona de Humani‑ dades e Tecnologia de Lisboa. No mundo das artes, Amado, que é membro da Associação dos Artistas Plásticos Santomenses, optou pela es‑ cultura, sendo a madeira o seu material de eleição, embora tenha feito várias obras em pedra. A sua escultura insere­ ‑se numa tipologia de arte contemporâ‑ nea, fortemente inspirada no imaginário popular africano e santomense. Já integrou diversas exposições co‑ letivas, nomeadamente no Centro de Documentação Técnica e Científica

| 91


92 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

de São Tomé e Príncipe (1991); Expo 92, Sevilha, Espanha (1992); Brazzaville, Congo (1994); Comemorações da In‑ dependência de São Tomé e Príncipe, Centro Cultural Português, São Tomé e Príncipe (1994); “Artistas dos Países Lusófonos”, Rio de Janeiro, Brasil (1995); Pavilhão de São Tomé e Príncipe, Expo 98, Lisboa (1998); no Interculturas, Car‑ cavelos (2000), em apoio às vítimas das cheias em Moçambique; no Festival Mu‑ sidanças, realizado no espaço Santiago Alquimista, no Castelo de São Jorge em Lisboa (2005); no Centro Cultural da Malaposta, Odivelas, durante a Semana Cultural Africana (2006); no Espaço Santa Catarina, Palácio Cabral, em Lisboa (2008) e na Embaixada da República de Moçambique em Lisboa, na Homena‑ gem aos Heróis Moçambicanos (2009). Anselmo Amado realizou também exposições individuais: no Hotel Mira‑ mar, São Tomé e Príncipe (1993, 1994); na Sede da UCCLA em Lisboa (1994); no Chapitô, ao Castelo de São Jorge, em Lis‑ boa (1994), e na Galeria Moira, em São Bento (1995) e está representado nas co‑ leções permanentes do Centro Cultural Português, da UNEAS (União Nacional dos Escritores e Artistas Santomenses) e do Museu Nacional de São Tomé e Prín‑ cipe; no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; na UCCLA e na Câmara Municipal de Lisboa.

¬

ANTÓNIO JÚLIO DUARTE 1964 / Portugal

António Júlio Duarte nasceu em Lis‑ boa, Portugal, em 1965. Fez o Curso de Fotografia no Ar.Co (Centro de Arte de Comunicação Visual), que concluiu em 1989. Nesta escola de Lisboa foi profes‑ sor convidado. Foi também colaborador do semanário Expresso entre 1989 e 1992 e do jornal Público desde 1990. Ganhou o 1.º prémio na 1.ª Bienal de Vila Franca de Xira, em 1989, o Kodak Award/Portugal em 1990 e, em 1991, ob‑ teve uma menção honrosa na 2.ª Bienal de Vila Franca de Xira. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian para um projeto no Royal College of Art (1991) e da Fundação Oriente para o Projeto fotográfico no Japão (1997). Já realizou várias exposições indivi‑ duais e participou em diversas expo‑ sições coletivas, em Portugal e no es‑ trangeiro. A sua obra está presente em diversas coleções, tais como a da Câ‑ mara Municipal de Vila Franca de Xira, nos Encontros de Imagem de Braga, no Musée de la Photographie de Charleroi, na Câmara Municipal de Oeiras, no Ar‑ quivo Fotográfico Municipal de Lisboa, na Association Photographie, nos En‑ contros de Fotografia de Coimbra, no

Centro Português de Fotografia e em colecções particulares. António Júlio Duarte é igualmente au‑ tor de vários livros­/catálogos de fotogra‑ fia. O seu livro White Noise (2011) foi um dos selecionados como melhor livro de fotografia desse ano pela revista norte­ ‑americana Photo Eye, e foi nomeado para melhor livro de fotografia do Pho‑ toespaña 2011.

¬

ANTÓNIO OLE 1951 / Angola

Nasceu em Luanda, Angola, em 1951. Vive e trabalha em Luanda. Estudou cultura afro­ ‑americana e cinema na UCLA, Universidade da Califórnia, Los Angeles, EUA, como bolseiro da Gulf Foundation e é licenciado pelo Center for Advanced Films do American Film Institute, naquela cidade. Expõe desde 1967. Realizou inúmeras exposições em diversos países, as mais recentes no Quénia, Líbano, Alemanha, em 2007 na Galeria 111, Lisboa, Portugal. Em 2015 foi o curador e um dos artistas convidados para representar o Pavilhão de Angola na 56.ª Bienal de Veneza. Em 2016, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian realizou uma das maiores retrospetivas consagradas a António


Ole. A mostra incluiu pintura, desenho, escultura, colagem e instalação produzi‑ dos ao longo de vários anos, para além de filmografia, uma área menos conhe‑ cida deste artista multifacetado que tem uma extensa produção cinematográfica, desde 1975. António Ole recebeu diversos pré‑ mios em Angola, Portugal e Cuba. A sua obra encontra­‑se em inúmeras coleções públicas e privadas em Portugal, Angola, África do Sul, EUA, Alemanha e Cuba.

¬

BERRY BICKLE (BERENICE BICKLE) 1959 / Zimbabué

Nasceu em 1959, em Bulawayo, Zimba‑ bué. Bickle pertence a uma geração de artistas africanos surgidos no início dos anos 90, quando os discursos teóricos sobre o pós­‑colonialismo, identidades transculturais e globalização começa‑ ram a desafiar o monopólio artístico ocidental. Foi educada no Instituto de Tec‑ nologia de Durban e na Universidade de Rhodes, na África do Sul. Trabalha atualmente entre o Zimbabué e Mo‑ çambique, abordando a longa história do colonialismo na região, em parte documentada e perpetuada através da

palavra escrita dos colonizadores. Bickle opõe­‑se a esta tendência e procura ofe‑ recer, através da sua obra, perspetivas inovadoras e críticas. Os seus trabalhos variam desde cria‑ ções multimédia a cerâmicas extrava‑ gantes, instalações em tamanho de sala, incorporando trechos de anotações manuscritas em diários, poemas e de‑ poimentos, como vídeos, por exemplo. A dança africana contemporânea che‑ gou também a servir de inspiração aos seus projetos. As suas obras já foram expostas in‑ ternacionalmente, como na Bienal de Havana, Cuba, em 1994, na Bienal de Joanesburgo, África do Sul, em 1995, no Africa Remix, em Paris, em 2006, e na Bienal de Dacar, no Senegal, em 2006. Bickle foi galardoada com o Creative Arts Fellow, da Fundação Rockefeller, em 2010.

¬

BERTINA LOPES 1924 – 2012 / Moçambique

Nasceu em Maputo, Moçambique, em 1924. Estudou pintura e desenho na Escola António Arroio e frequentou o curso de pintura na Escola Superior de Belas Artes em Lisboa. Em 1953 regres‑ sou a Moçambique onde, durante 9

anos, lecionou desenho artístico. Em 1963 foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, onde expôs individual‑ mente em 1972. Em 1965 fixou residên‑ cia em Roma. Expôs individualmente em Maputo, Luanda, Cabo Verde, Lis‑ boa, Porto, Madrid, Luxemburgo, Bres‑ cia, Roma, Salerno, Veneza e Bagdad. Participou em exposições coletivas em Maputo, Joanesburgo, Luanda, Brasília, Havana, Ohio, Espinho, Estoril, Sevilha, Bolonha, Roma, Corfu, Londres e Oslo. Em 1974 recebeu o primeiro prémio da Exposição Internacional de Dusseldorf. Em 1975 obteve o primeiro prémio de pintura de Corfu. Em 1988 teve o grande Prémio de Honra e, em 1991, o Prémio Rachel Carson da União Europeia dos Críticos de Arte. Em 1998 recebeu em Roma o prémio internacional Fra Ange‑ lico. Bertina Lopes está representada em várias coleções públicas e privadas, entre elas a Fundação Calouste Gulbenkian e a coleção Manuel de Brito. Faleceu em Roma, em 2012.

¬

BINELDE HYRCAN 1982 / Angola

Binelde Hyrcan nasceu em Luanda, Angola, onde vive e trabalha. Estudou artes plásticas no Mónaco. Artista mul‑

| 93


94 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

tidisciplinar, a sua produção passa pela escultura, pintura, desenho, design, vi‑ deoarte, performances e instalações. Utilizando os mais diversos suportes e materiais, o artista pretende com os seus projetos chamar a atenção para os paradoxos, complexidades e o absurdo de costumes e atitudes político­‑sociais, numa crítica às estruturas do poder e à vaidade humana. Um exemplo foi a per‑ formance King, em que o artista, sentado dentro de uma jaula no centro da cidade do Mónaco, exigia que os transeuntes o empurrassem. Usou igualmente gali‑ nhas embalsamadas, vestidas como reis, rainhas, soldados e juízes, para ridiculari‑ zar os excessos do poder e os delírios de grandeza. A sua curta­‑metragem Cam­ beck mostra, através de uma brincadeira de “faz de conta” de quatro crianças enfiadas num “carro” imaginário feito de areia, numa praia de Angola, os sonhos e visões que falam da desigualdade, da pobreza e da migração, de famílias des‑ feitas pela guerra e de um sonhado fu‑ turo melhor. Binelde Hyrcan tem exposto em várias cidades por todo o mundo. Das suas ‑se: exposições individuais destacam­ “No Restriction”, II Columbia Gallery, Mó‑ naco (2014) e a abertura da 2.ª Trienal de Luanda, Angola (2016). Uma seleção das suas exposições coletivas inclui: “How to Live Together”, Kunsthalle Vienna, Áus‑

tria (2017); “Gran Turismo”, Centre Pom‑ pidou, Paris; “Capital Debt – Territory – Utopia”, Nationalgalerie, Hamburger Bahnhof, Berlim (2016); 56.ª edição da Bienal de Veneza, como representante de Angola, com “Cambeck” (2015); “No Fly Zone”, Museu Berardo, Lisboa, e “Tran­ sit”, Bienal de São Paulo, Brasil (2013). Binelde Hyrcan é considerado pela crítica um promissor autor da nova ge‑ ração de artistas plásticos angolanos.

¬

CAETANO DIAS 1959 / Brasil

Alberto Caetano Dias Rodrigues nasceu em 1959, em Feira de Santana, Brasil, e in‑ gressou no curso de letras vernáculas na Universidade Católica de Salvador, entre 1985 e 1987. O início da sua carreira no mundo das artes foi marcado pela par‑ ticipação no Grupo Interferências, com a realização de murais em espaços públi‑ cos de Salvador. Em 1988 realizou a per‑ formance “Hormónios de uma Cidade”, no Teatro do ACBEU e uma pintura mural na Praça de Oxum/Terreiro Casa Branca. Desde 1995 leciona o curso de pintura nas oficinas do Museu de Arte Moderna da Bahia ­‑ MAM/BA, em Salvador. Atual‑ mente, a obra de Caetano Dias não privi‑

legia um suporte ou técnica, trabalha de variadas formas, destacando­‑se o vídeo, pintura, obras tridimensionais, instalação multimédia e fotografia digital.

¬

CELESTINO MUDAULANE 1972 / Moçambique

Nasceu em 1972 em Maputo, Moçam‑ bique. Licenciou­ ‑se em História pela Universidade Eduardo Mondlane e em 1992 concluiu o curso de cerâmica na Escola de Artes Visuais de Maputo. Em 1993 lecionou cerâmica e desenho na Escola Nacional de Artes Visuais. Anos mais tarde tornou­‑se membro do Nú‑ cleo de Arte e membro fundador do Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique (MUVART). Em 2014 integrou a exposição coletiva “Cata­‑Ventos”, na Galeria 111 e “Artistas Contemporâneos? Talvez”, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Em 2015 foi um dos artistas presentes na 56.ª Bienal de Veneza. Recebeu, em 2003, o 1.º Prémio de Cerâmica da Bienal TDM e o Prémio Consagração da Fundação Alberto Chissano, em Maputo. Está pre‑ sente em coleções privadas na África do Sul, Alemanha, Dinamarca e Portugal, tais como nas coleções Manuel de Brito e Fundação PLMJ.


¬

DANIELA RIBEIRO 1972 /Angola

Daniela Ribeiro nasceu em 1972, em An‑ gola, onde estudou no Liceu Francês de Luanda. Aí viveu até aos vinte anos, altura em que se mudou para Portugal, onde se formou em Design, Imagem e Criação por Computador na Universidade Lusíada, em Lisboa, e se licenciou em Relações In‑ ternacionais na mesma universidade. Fre‑ quentou o curso de Pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa (2000) e o Curso de Escultura no Ar.Co (2005). Daniela Ribeiro iniciou o seu trajeto no mundo das artes plásticas com o uso de acrílicos mas, aos poucos, foi descobrindo outros métodos, mais ao seu gosto e, em 2006, especializou­‑se em moldes de resina e silicone na Escola Pascal Rosier, em Paris, tendo sido convidada pelo Mestre Pascal Rosier para dar aulas em Lisboa. A partir daí assume a sua carreira de artista. Depois de abdicar do trabalho admi‑ nistrativo para se dedicar totalmente à arte, integrou várias exposições cole‑ tivas, em Luanda e em diversas capitais europeias. Por Portugal passaram, entre outras, “Multiverso I” (2004); “Multiverso II” (2005); “Multiverso III” (2005); “Nós Sempre os Mesmos” (2006); participou na Feira de Arte em Lisboa (2008); “Artes Mirabilis” – Colectiva de Artistas Plásticos

Angolanos, UCCLA, Lisboa (2018). A título individual, a sua primeira exposição teve lugar na Galeria António Prates (2008), a que se seguiram a Feira de Arte de Ma‑ drid (2007); “Dream City” (2008), “Planets” (2008), “Dancarte Scenery” (2009); “Olho Biónico” (2010); “A nossa cultura” (2014); “Andar nas Nuvens”, no Centro Cultural Português/Camões, em Luanda (2015). Em 2005 criou, em colaboração com diversos estúdios, a Associação Ar‑ tinPark, para apoiar jovens artistas em início de carreira. Daniela Ribeiro pretende continuar com o processo de internacionalização da sua carreira e a divulgação da arte africana.

¬

DÉLIO JASSE

analógicos que Jasse utiliza conferem às suas obras um caráter monotípico, sub‑ vertendo a reprodutibilidade do meio fo‑ tográfico através da intervenção direta em suportes não convencionais, e também da aplicação de emulsões com traços gestuais ou com notas cromáticas. Exposições recentes de Délio Jasse incluem o show do grupo “Recent His­ tories: New Photography from Africa” no Walther Collection Project Space, em Nova Iorque, a seleção oficial da 12.ª Bienal de Dakar (2016), a 56.ª Bienal de Veneza (Pavilhão de Angola, 2015), Expo Milão (Pavilhão Angolano, 2015), a Fun‑ dação Calouste Gulbenkian, Portugal (2013) e o 9.º Encontro de Fotografia de Bamako (2013). Foi um dos três finalistas do BES Photo Prize, em 2014, e ganhou o Iwalewa Art Award, em 2015.​

1980 / Angola

Nasceu em 1980, em Luanda, Angola. Atualmente vive e trabalha entre Lisboa e Milão. No seu trabalho fotográfico, Jasse en‑ trelaça imagens encontradas com pistas de vidas passadas (fotos de passaporte, álbuns de família) para estabelecer liga‑ ções entre a fotografia e a memória. Jasse também é conhecido por experimentar processos de impressão fotográfica ana‑ lógica, bem como por desenvolver técni‑ cas próprias de impressão. Os processos

¬

EDUARDO MALÉ 1973 / São Tomé e Príncipe

Nasceu em 1973, no distrito de Água Grande, em São Tomé e Príncipe. Co‑ meçou desde novo a explorar o mundo da expressão artística, experimentando muito cedo diferentes disciplinas. Apesar de bem sucedido na pintura e no desenho, é na escultura que Malé parece acabar por “condensar as suas experiências plásticas”.

| 95


96 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Fez o curso de Design de Equipa‑ mento na Escola de Artes António Ar‑ roio, mestrado em Artes Plásticas pela Escola Superior de Arte e Design do Ins‑ tituto Politécnico de Leiria, nas Caldas da Rainha, e Formação Artística na Socie‑ dade Nacional de Belas Artes, em Lisboa. Paralelamente ao seu percurso e forma‑ ção artística, Malé exerce funções de do‑ cência e desenvolve ações de formação, oficinas e workshops para jovens e crian‑ ças entre Portugal e São Tomé e Príncipe. Em 2008 foi escolhido para coordenar o Serviço Educativo da V Bienal de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe. Algumas exposições individuais in‑ cluem: Galerie IPSAA, Aix­‑en­‑Provence, França, e Espaço Degusto Português, em Barcelona, ambas em 2011. Em termos coletivos, Malé participou em variadís‑ simas mostras e exposições em Macau, Portugal, Holanda, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Brasil.

¬

ESTEVÃO MUCAVELE 1941 / Moçambique

Estevão Mucavele nasceu em 1941, em Manjacaze, Moçambique, no seio de uma família de camponeses. Estudou numa escola de missionários católicos, mas não foi além do 3º ano da instrução

primária. Aos 16 anos, juntamente com outros moçambicanos, Mucavele partiu para as minas da África do Sul em busca de uma vida melhor. Um ano depois, em 1958, Mucavele deixou as minas e conse‑ guiu um emprego como varredor numa galeria de arte de Joanesburgo. Em 1966, foi para a Cidade do Cabo, onde arran‑ jou emprego como porteiro, um traba‑ lho que lhe deixava muito tempo livre. Decidiu então fazer uso desse tempo e começou a pintar. Dois anos depois, rea‑ lizou a sua primeira exposição individual na Cidade do Cabo. Em 1971 Mucavele integrou uma exposição coletiva e, face à crítica favorável que o seu trabalho mereceu, resolveu dedicar­‑se exclusiva‑ mente à pintura. Em 1976, um ano depois da indepen‑ dência de Moçambique, Estevão Mu‑ cavele regressa ao seu país de origem. Aí colaborou com outros pintores no mural da Praça dos Heróis e participou no grupo itinerante que se deslocou a Angola, à República Democrática da Alemanha e à União Soviética. Estevão Mucavele pinta principal‑ mente paisagens: as que ele viu na África do Sul, as minas, o mar e, muitas vezes, suas “paisagens imaginárias”. Nas palavras de Malangatana, a arte de Mucavele é “intransigente”.

¬

EUGÉNIA MUSSA 1978 / Moçambique

Nasceu em Maputo, Moçambique, em 1978. Iniciou os seus estudos em artes plásticas na City & Islington College, em Londres e formou­‑se em Pintura no Ar.Co, em 2009, ano em que foi uma das finalistas do Prémio Anteciparte. Em 2010 recebeu uma Menção Honrosa na exposição comemorativa do 25.º ani‑ versário do Banco de Moçambique. Em 2013, em Lisboa, realizou uma exposição individual no Espaço Arte Tranquilidade, expôs na Fundação Calouste Gulben‑ kian e na Galeria João Esteves Oliveira, onde continua a expor regularmente. Eugénia Mussa esteve igualmente pre‑ sente nas seguintes exposições coletivas: “Regresso ao Acervo”, na Galeria João Es‑ teves Oliveira em Lisboa, em 2015, e no projeto “Lisboa Futura”, em Lisboa, em 2017. Na sua prática artística podemos en‑ contrar uma preocupação constante com o repensar a história dos movimen‑ tos artísticos da pintura. Atualmente, vive em Lisboa e as suas obras fazem parte de coleções particulares e institu‑ cionais.


¬

FERNANDO LUCANO Final da década de 1980 / Angola

Fernando Lucano nasceu em Luanda, Angola, no final da década de 1980, e entrou no mundo das artes inspirando­ ‑se em Nelo Teixeira e António Ole, de quem é assistente, desde 2012. Lucano apresentou os seus trabalhos ao público, pela primeira vez, na exposição coletiva “Ponto de Partida”, no Instituto Camões – Centro Cultural Português em Luanda, em abril de 2016. As 30 obras expostas, de Fernando Lucano e Wilson Oliveira, incluem pintura, técnica mista, colagem, escultura, instalação e recicla‑ gem, ligadas ao quotidiano da cidade. No âmbito do projeto E­‑estudio, desti‑ nado a dar a conhecer e promover a arte angolana e estimular jovens criadores, Lu‑ cano recebeu, nos últimos anos, uma for‑ mação mais sistematizada no domínio das artes plásticas, particularmente técnicas de pintura, escultura e instalação e utilização de materiais recicláveis. No E­‑estudio, para além dos ensinamentos, teve oportuni‑ dade deconviver e partilhar experiências com artistas, como Francisco Vidal, Rita GT e o mestre António Ole. Em janeiro de 2018, Lucano integrou uma coletiva, “Impressões & Expressões”, na Galeria Tamar Golan, da Fundação Arte e Cultura, projeto que visa apoiar

jovens artistas angolanos. Em junho de 2018 participou em “Ser.Cidade”, uma exposição com curadoria da This is Not a White Cube Gallery, que juntou quatro dos mais conceituados artistas contem‑ porâneos de Angola ­‑ Cristiano Man‑ govo, Nelo Teixeira, Ricardo Kapuka e Paulo Kussy ­‑ em torno de uma reflexão sobre o conceito existencial de cidade.

¬

FRANCISCO VIDAL 1978 / Portugal

Filho de mãe cabo­‑verdiana e pai angolano, Francisco Vidal nasceu em Lisboa, Portugal, em 1978. Para a sua formação fez o curso de Iniciação à Pintura na Sociedade Nacio‑ nal de Belas Artes e o curso de Pintura no Ar.Co, ambos em Lisboa, estudou Escultura na ESAD, Caldas da Rainha, e fez um curso avançado em Artes Visuais na Maumaus, Escola de Artes Visuais de Lisboa. Viveu du‑ rante algum tempo em Nova Iorque, onde obteve o mestrado na Escola de Artes da Universidade de Columbia, em Nova Ior‑ que. Atualmente dá aulas de desenho em Luanda e trabalha nas áreas do desenho, escultura e instalação. Em 2006 foi finalista dos prémios EDP – Novos Artistas e, em 2013, foi um dos dez artistas incluídos na série de docu‑ mentários “Geração 25 de Abril”, de Abí‑

lio Leitão e Alexandre Melo. Começou a expor com regularidade a partir de 2005, destacando­‑se: “Ex­ changing Glances”, Instituto Camões, Cabo Verde, Angola e Moçambique (2007); “AIR – African Industrial Revolu­ tion”, UNAP, Luanda (2012), “Água e Luz”, Instituto Camões, Luanda (2014). Em 2014 apresentou o projeto de pin‑ tura “UTOPIA LUANDA MACHINE” na 56.ª Bienal de Veneza, no Pavilhão de An‑ gola, com a curadoria de António Ole, e na Expo Milão, também no Pavilhão de An‑ gola, com a curadoria de Suzana Sousa. Em 2015 apresentou este projeto, “UTOPIA LUANDA MACHINE”, na Galeria Tiwani Contemporary, em Londres, e na feira de arte The Armory Show, em Nova Iorque. Em 2016 apresentou em Luanda o projeto “ESCOLA DE PAPEL, Kiekelela” (em colaboração com a Galeria Wozen e a Andaime Cooperativa Cultural) e, em 2017, em São Tomé e Príncipe. Em 2018 integrou a exposição “Artes Mirabilis, Colectiva de Artistas Plásticos Angola‑ nos”, na UCCLA, em Lisboa.

¬

GONÇALO MABUNDA 1975 / Moçambique

Nasceu em Maputo, Moçambique, em 1975. Mabunda está interessado na me‑

| 97


98 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

mória coletiva do seu país, que só recen‑ temente emergiu de uma longa e terrível guerra civil e por isso trabalha com as armas recuperadas em 1992, no final do conflito de dezasseis anos que dividiu Moçambique. Optando pela escultura, Mabunda dá formas antropomórficas a AK47s, lançadores de foguetes, pistolas e outros objetos de destruição. Embora se possa dizer que as máscaras se baseiam numa história local da arte tradicional africana, o trabalho de Mabunda adquire uma impressionante vantagem modernista à semelhança das imagens de Braque e Picasso. As armas de guerra, desativadas, possuem fortes conotações políticas, mas, simultaneamente, as belas peças que Mabunda cria transmitem uma reflexão positiva sobre o poder trans‑ formador da arte e a resiliência e criativi‑ dade das sociedades civis africanas. Mabunda é mais conhecido pelos seus “tronos”. Segundo o artista, os tronos funcionam como atributos de poder, símbolos tribais e peças tradicionais da arte étnica africana. São sem dúvida uma forma irónica de comentar a sua expe‑ riência infantil de violência e absurdo e a guerra civil em Moçambique, que isolou o país por um longo período. O trabalho de Mabunda já foi exposto no Museu Kunst Palast, em Dusseldorf, na Hayward Gallery, em Londres, no

Centro Pompidou, em Paris, no Museu de Arte de Mori, em Tóquio, e na Galeria de Arte de Joanesburgo, entre outros espaços museológicos.

¬

IHOSVANNY (Angel Ihosvanny Cisneros) 1975 / Angola

Nasceu na província do Moxico, Angola, em 1975. É autodidata, pertence ao Movi‑ mento Artístico Os Nacionalistas (grupo não oficial de artes plásticas em Angola) e integra­a nova geração de artistas ango‑ lanos nascidos depois da independência. Ihosvanny começou as suas experiências artísticas em Cuba, onde viveu alguns anos, mas atualmente divide o seu tempo e atividade entre Barcelona e Luanda. O foco do seu trabalho centra­‑se nas principais questões ligadas ao urbanismo, tanto físicas (infraestruturas, poluição vi‑ sual e sonora, consumismo), como psicoló‑ gicas (comunicação, relações interpessoais, pobreza). A paisagem urbana de Luanda é uma fonte constante de material para o trabalho de Ihosvanny: cenas de desordem e prisão servem como fonte de inspiração. A obra de Ihosvanny foi apresentada em diversas exposições, individuais e coleti‑ vas, em Angola, Portugal, Espanha, Brasil, Itália, Uganda, EUA e França, das quais se

destacam as realizadas no Museu Judaico de Nova Iorque (2014), no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador (2012), a 11.ª Bienal de Arte de Havana (2012), a Trie‑ nal de Luanda (2010, 2007) e o Pavilhão Africano na 52.ª Bienal de Veneza (2007), a “1:54 Contemporary Art Fair”, em Nova Iorque (2017), entre outras. Os seus trabalhos fazem parte de vá‑ rias colecções institucionais e privadas, entre elas a Fundação Sindika Dokolo, Fundação Ellipse e Fundação PMLJ.

¬

INÊS GONÇALVES 1964 / Espanha

Nasceu em 1964 em Málaga, Espanha. Fotógrafa, realizadora e produtora, vive entre Lisboa e São Tomé e Príncipe. En‑ tre 1985 e 1988, estudou Fotografia no Photographic Training Center, em Lon‑ dres. Em 2004 frequentou o curso de Realização de Cinema Documental dos Ateliers Varan, Programa Gulbenkian de Criatividade e Criação Artística. Entre os anos 1988 e 2004 trabalhou como fotógrafa em vários jornais e re‑ vistas. Entre muitos outros projetos na área do cinema documental, em 2005, fundou, com Kiluanje Liberdade, a Produtora NO LAND. No cinema, em 2005/2006, participou como diretora de


fotografia em “Oxalá Cresçam Pitangas”, um documentário sobre Luanda, com realização de Kiluanje Liberdade e Ond‑ jaki; em 2012 coproduziu, com Kiluanje Liberdade o filme “A Minha Banda e Eu”, um documentário que traça o retrato de uma nova geração de angolanos que vê no Semba e na Kizomba a expressão da sua identidade cultural. As suas obras foram expostas no “Lusi‑ tânia”, Círculo de Bellas Artes de Madrid, em 1992; na exposição “Cabo Verde”, na Cidade da Praia, em Cabo Verde (1998); “Dialogues, La Photographie Portugaise Contemporaine”, Galerie Municipale du Château D ‘Eau, Toulouse (1999); “Agora Luanda”, na Galeria Plataforma Revólver, em Lisboa (2009), entre outras exposições. Os trabalhos de Inês Gonçalves foram também incluídos em livros, entre os quais, Obras do Metro, do Metropolitano de Lisboa; Goa: História de um Encontro, de Catarina Portas; Moderno Tropical: Arquitectura em Angola e Moçambique, em co­‑autoria com Ana Magalhães e recebeu o prémio DAM Architectural Book Award 2010.

¬

JOSÉ CABRAL 1952 / Moçambique

José Cabral nasceu em 1952, em Maputo,

Moçambique, e iniciou­‑se no mundo da fotografia com o pai, fotógrafo amador e projecionista de filmes. Entre 1975 e 1978, trabalhou no Departamento de fotografia do Instituto Nacional de Ci‑ nema, seguindo­‑se alguns anos como repórter fotográfico no Notícias e no Domingo e, em 1983, ingressou no Mi‑ nistério da Agricultura como responsá‑ vel pelo Departamento de Fotografia. Em 1996, José Cabral publicou o seu primeiro livro, A Guerra da Água (Ed. Ébano Multimédia), associada ao filme de Licínio de Azevedo com o mesmo nome. Elogiado pelo seu talento nas áreas do vídeo, cinema e fotografia, parti‑ cularmente de cenários urbanos, José Cabral conta já com muitas realizações e exposições, entre as quais “A Guerra da Água” (1995), “Moamba, o Homem e a Seca” (1984), “Os Americanos» (1996), “Itália 87” (1987), «Mueda, Planalto Ma‑ conde» (1998), «As Linhas da Minha Mão» (2006), «Anjos Urbanos» (2009) e «Espelhos Quebrados» (2013), para além das presenças destacadas em exi‑ bições coletivas como “Karingana ua Karingana” (1990), “A Árvore” (1997) e “Iluminando Vidas” (2002­‑05). A mais recente exposição da obra de Cabral, “Moçambique – José Cabral”, foi inaugurada em abril de 2018, em Ma‑ puto, resultando de uma parceria entre

o Camões – Centro Cultural Português em Maputo e a Associação Kulung‑ wana, com curadoria de Filipe Bran‑ quinho e Alexandre Pomar. Trata­‑se de uma apresentação antológica inédita do trabalho do fotógrafo moçambicano. A exposição é acompanhada do livro Moçambique – José Cabral, uma edi‑ ção bilingue (português/inglês) da XYZ Books e da Associação Kulungwana, coordenada por Alexandre Pomar. O li‑ vro reúne mais de 100 fotografias de José Cabral e inclui textos do coordenador e de Drew Thompson (EUA). Grande parte do espólio do artista é detido pela coleção da Caixa Geral de Depósitos (CGD) em Lisboa.

¬

JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO 1960 / Portugal

Nasceu em Anadia, Portugal, e vive e trabalha em Coimbra. Estudou Literatura nos anos 80 na Universidade de Coimbra e fez uma Pós-Graduação em Gestão de Artes nos anos 90, em Macau, onde trabalhou e viveu. Doutorado em Arte Contemporânea - Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, em 2014. Em 2003 comissaria e projeta as expo‑ sições temporárias e permanentes do

| 99


100 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Museu do Vinho da Bairrada, Anadia, assim como todo o projeto museoló‑ gico; em 2005 comissaria “My Own Pri‑ vate Pictures”, na Plataforma Revólver, no âmbito da LisboaPhoto. Nomeado para o prémio BESPhoto 2005 (2006, CCB, Lisboa) e para a “short-list” do prémio de fotografia Pictet Prix, na Suíça, em 2008. De 2011 ao presente realizou várias ex‑ posições individuais em torno do tema da sua tese de doutoramento (arquivo e memória), no CAV, Coimbra; Ateliers Concorde, Lisboa; Colégio das Artes, Coimbra; Galeria VPF, Lisboa; Arquivo Municipal de Fotografia, Lisboa; Museu do Chiado-Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa; Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), Lis‑ boa; Sputnik the window, Porto; Galeria MCO, Porto e Espaço MIRA, Porto. No âmbito da conclusão do seu dou‑ toramento publicou o livro “Unpac‑ king: a desire for the archive” que foi editado pela StolenBooks, em 2014. Em 2015, foi publicado o livro de fotogra‑ fias suas “Partir por todos os dias”, na Editora Amieira. Já em 2016, participa no livro “Asprela”, fotografia sobre o campus universitário do Porto, edi‑ tado pela Scopio Editions e Esmae/IPP. Na sequência da exposição “Arquivo e Democracia” (MAAT, 2017) organizou e publicou o livro “Arquivo e Intervalo”

que reúne textos sobre quatro dos seus vídeos sobre a matéria do arquivo, edi‑ tado pela Stolen Books. A sua obra está representada em várias coleções de arte institucionais e privadas.

¬

KILUANJI KIA HENDA 1979 / Angola

Nasceu em 1979, em Luanda, Angola. Nas áreas de fotografia, vídeo e per‑ formance, Kia Henda conferiu à sua abordagem multidisciplinar um forte sentido crítico e demonstra um sur‑ preendente sentido de humor no seu trabalho que, muitas vezes, discute te‑ mas de identidade, política e percepções do pós­‑colonialismo e do modernismo em África. Além disso, a sua vantagem conceptual foi acentuada por uma rela‑ ção próxima com a música, o teatro de vanguarda, e diversas colaborações com um coletivo de artistas emergentes no mundo artístico de Luanda. Kia Henda realizou exposições indivi‑ duais em galerias e instituições em todo o mundo, e os seus trabalhos foram apresentados nas bienais de Veneza, Dacar e São Paulo, para além de grandes mostras itinerantes, como o “Making Africa: Um Continente de Design Con‑

temporâneo” e “A Divina Comédia: Céu, Inferno, Purgatório”, numa revisitação de artistas africanos contemporâneos. Entre outros prémios, Kia Henda ga‑ nhou o Frieze Award 2017, com o pro‑ jeto “Under the Silent Eye of Lenin”. Kia Henda vive e trabalha atualmente entre Luanda e Lisboa.

¬

KWAME SOUSA 1980 / São Tomé e Príncipe

Nasceu em 1980, em São Tomé e Prín‑ cipe. Descobriu o gosto pela arte no final do ensino pré­‑universitário, sob a influência de alguns colegas, e começou a desenhar como autodidata. Em 2001 foi um dos vencedores do projeto “Experimentação 01”, o que mar‑ cou a sua apresentação ao público na galeria Teia d’Arte, em São Tomé, onde viria a frequentar vários workshops com artistas de diversas partes do mundo. Esta experiência permitiu a Sousa co‑ nhecer e trabalhar com diferentes lin‑ guagens artísticas. Em 2002 integrou, com o artista san‑ tomense João Carlos Silva e outros, o grande projeto da II Bienal de Arte de São Tomé e Princípe. Ainda no mesmo ano, expôs no Instituto Politécnico do Porto, a que se seguiram várias exposi‑


ções a título individual e coletivo na sua terra natal e em diversos outros países. Atualmente, é colaborador do pro‑ jecto CACAU – Casa das Artes Criação Ambiente e Utopia, em São Tomé e Princípe, da Galeria Zero Point Art (gale‑ ria e espaço de arte contemporânea), no Mindelo, em Cabo Verde, da Fundação Roça Mundo, em São Tomé, e do Portal BUALA, uma plataforma que atua sobre questões pós­‑coloniais nas áreas da cul‑ tura, comunicação, arte e educação.

¬

LEDA CATUNDA 1961 / Brasil

Nasceu em 1961, em São Paulo, Brasil. Fez o curso de Artes Plásticas na Funda‑ ção Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, entre 1980 e 1984, onde foi aluna, entre outros, de Regina Silveira, Julio Plaza, Nelson Leirner e Walter Zanini. Desde 1986, leciona na FAAP, e no seu atelier, até meados dos anos 1990. Desde o fim dos anos 1980 administra também workshops e cursos livres em várias ins‑ tituições culturais no Brasil e, ocasional‑ mente, no exterior. Recebeu o Prémio Brasília de Artes Plásticas/Distrito Federal, em 1990. Em 2003 fez o doutoramento em Artes, com a tese Poética da Maciez: Pinturas e Obje­

tos Poéticos, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com orientação de Julio Plaza. Leda tem tido, ainda, uma atuação relevante enquanto docente, lecionando pintura e desenho no curso de Artes Plásticas da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, entre 1998 e 2005. Algumas das suas exposições indivi‑ duais incluem: “Panorama da Obra de Leda Catunda”, Estação da Pinacoteca de São Paulo (2009); Galeria 111, Lisboa (2008); Galeria Fortes Vilaça, Brasil; e Ra‑ mis Barquet Gallery, Nova Iorque. Entre as exposições coletivas em que partici‑ pou refere­‑se: “Um Século de Arte Bra‑ sileira”, Coleção Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna da Bahia, Sal‑ vador; “Volpi e as Heranças Contempo‑ râneas”, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo; Art Institute, Miami, EUA, e XXII Bienal de São Paulo.

¬

LINO DAMIÃO 1977 / Angola

Nasceu em Luanda, Angola, em 1977. Encorajado pelo pai começou, desde cedo, a desenhar e pintar, tendo rece‑ bido o seu primeiro Prémio de Pintura em 1989 – União Nacional de Artistas Plásticos (UNAP). Fez o Curso de De‑

senho e Pintura no Barracão – Escola Experimental de Arte de Luanda (1985). Formou­‑se em Artes Plásticas no INFAC ­‑ Instituto Nacional de Formação Artís‑ tica, Luanda (1997–2000) e fez o Curso de Desenho e Gravura na Oficina de Gravura da UNAP – União Nacional de Artistas Plásticos (1988). É membro fun‑ dador da Cooperativa Pró­‑memória dos Nacionalistas. Tem participado em várias exposições individuais e inúmeras cole‑ tivas, em Angola, Cabo Verde, Macau e Portugal. De entre as exposições, destacam­‑se, “Restos” (última da trilogia “Restos, Ras‑ tos e Rostos”), Camões, Centro Cultural Português, Luanda (julho 2018); “Rostos”, Centro Cultural Português, Luanda (2017 e 2016); “Comutting, Os das Bandas”, no Espaço Espelho D’Água, Lisboa (2016); “La Paragem”, Lisboa (2012); participou no I Festival Literário Rota das Letras, de Macau (2012); Feira de Arte Contem‑ porânea de Lisboa (2010); I Trienal de Luanda (2007); “Março Mulher”, Museu Nacional de História Natural, Luanda (2003). Em agosto 2008 partilhou a curadoria com o sul­‑africano Loyiso Qania na se‑ leção de artistas angolanos para a Bienal de Cape Town de 2009; em fevereiro de 2018 foi curador da exposição “Artes Mirabilis, Colectiva de Artistas Plásticos Angolanos”, UCCLA, Lisboa.

| 101


102 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Lino Damião possui obras em várias coleções públicas e privadas em África, Europa, Ásia, América do Sul e EUA. En‑ tre outras integra coleções particulares no Banco Nacional de Angola, Luanda | Sonangol, Luanda | Teatro de S. Tomé | Museu de África, Havana | j.j.jazz Produ‑ ções, Luanda | Escola de Cegos Mudos, Óscar Ribas, Luanda | Banco de Desen‑ volvimento Africano, Luanda | Associa‑ ção 25 de Abril, Luanda | A. Costa Lopes, arquitectos, Luanda e Lisboa | Consu‑ lado Geral de Angola, Macau.

¬

MALANGATANA 1936 – 2011 / Moçambique

Nasceu em 1936, em Maputo, Moçam‑ bique. Estudou na Escola Primária da Matalana e, posteriormente, em Ma‑ puto, nos primeiros anos da Escola Co‑ mercial. Foi pastor, aprendiz de medicina tradicional e empregado no clube da elite colonial de Lourenço Marques. Tornou­ ‑se artista profissional em 1960, graças ao apoio do arquiteto por‑ tuguês Pancho Guedes, que lhe cedeu a garagem para usar como atelier e que lhe adquiria dois quadros por mês. Detido pela polícia colonial, acusado de ligações à FRELIMO, ficou preso du‑ rante cerca de dois anos, tendo conse‑

guido pintar alguns trabalhos na prisão. Após a independência do país, foi um dos criadores do Museu Nacional de Artes de Moçambique, onde procurou manter e dinamizar o Núcleo de Arte. Malangatana destaca­‑se não só como artista plástico, mas também como poeta. A sua obra é hoje reconhecida em Moçambique e internacionalmente. Com a Perve Galeria participou em diversas mostras coletivas com as ex‑ posições “Maniguemente Ser”, em 2001, e “Da Convergência dos Rios”, em 2004. Esteve representado por esta galeria na Feira da Arte Contemporânea de Lisboa, em 2004 e 2005, e na Feira de Arte Con‑ temporânea de Madrid, em 2006 e 2008. Malangatana foi galardoado com vários prémios, tais como o 1.º Prémio de Pintura nas Comemorações de Lou‑ renço Marques, 1962; Diploma e Me‑ dalha de Mérito da Academia Tomase Campanella de Artes e Ciências, Itália, 1970; Medalha Nachingwea pela con‑ tribuição para a Cultura Moçambicana, 1984; prémio da Associação Internacio‑ nal de Críticos de Arte, Lisboa, 1990. Em 1995 foi condecorado, em Por‑ tugal, como Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e, em 1997, foi nomeado pela UNESCO como “Artista pela Paz” e galardoado com o prémio da Fundação holandesa Príncipe Claus. A sua vasta obra encontra­‑se presente em

vários museus e galerias públicas, bem como em coleções privadas em várias partes do Mundo. Malangatana faleceu em 2011, em Matosinhos, Portugal.

¬

MANUEL BOTELHO 1950 / Portugal

Nasceu em Lisboa, Portugal, em 1950. O final dos anos 60 foi crucial para Manuel Botelho, que se iniciou no combate con‑ tra a política do seu tempo, ao mesmo tempo que se dedicava à sua educa‑ ção artística formal. Em 1968 começou a estudar desenho com Sá Nogueira, na Sociedade Nacional de Belas Artes, estreando­‑se em exposições coletivas e ingressando no curso de Arquitetura da Escola Superior de Belas­‑Artes. Apresentou desenho na sua primeira mostra individual (1977), mas trabalhou como arquiteto até partir para Londres, em 1983, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian na Byam Shaw School of Art, frequentando o estúdio de Image Painting de Wynn Jones. Fez a seguir uma pós­‑graduação na Slade School of Art, onde conheceu Ken Kiff, e teve como tutores a compatriota Paula Rego e Jeffrey Camp – em 1992 reuniria todos estes amigos na exposição Friends of Botelho, em Londres .


Botelho assumiu cedo o compro‑ misso artístico de dar a ver os seus terro‑ res pessoais, sem nunca perder o sentido ético da intervenção política. Mas, no re‑ gresso a Portugal (1987), a violência des‑ sas inquietações foi temporariamente atenuada por uma investigação mais formalista em torno da herança cubista. Usou, nesta altura, a sua experiência de professor do ensino secundário nos subúrbios (1995­‑1998), numa série de imagens que despertaram o ideário de temas profanos que proliferam na sua obra: cenas de violência, escândalos se‑ xuais e políticos, com crianças­‑soldados, santos, ministros ou arrumadores, que tanto adoptam poses tiradas da televi‑ são e de periódicos, como de modelos de Botticelli ou Poussin – fazendo con‑ viver, algo expiatoriamente, aquilo que é pessoal com o universal, a modernidade com a tradição, ou o popular com o eru‑ dito. Esta tensão entre opostos invadiria os seus desenhos e as suas pinturas, fosse em auto­‑representações como Cristo, ou em composições neo­‑maneiristas de temas religiosos ou de acontecimentos mediáticos, combinando formas, espa‑ ços e linguagens artísticas contraditórias com implacável expressividade.

¬

MANUELA JARDIM 1949 / Guiné­‑Bissau

Nasceu em Bolama, Guiné­‑Bissau, em 1949. É licenciada em escultura pela Fa‑ culdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Frequentou os cursos de gra‑ vura, têxteis e decoração da Fundação Ricardo Espírito Santo e de serigrafia no Institut National d’ Éducation Populaire de Paris. De 1984 a 1989 exerceu funções de técnica de artes plásticas no Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis, para o qual produziu vários cartazes de divul‑ gação cultural. Integrou a equipa de re‑ presentação de Portugal na Bienal dos Artistas dos Países do Mediterrâneo, na Grécia, em 1986, e em França, em 1990. É autora de dois selos de um bloco filatélico comemorativo da visita de Sua Santidade o Papa João Paulo II à Guiné­ ‑Bissau, em 1990, da serigrafia comemo‑ rativa do Centenário do Aquário Vasco da Gama, em 1998, e ainda autora do quadro que serviu de divulgação ao Co‑ lóquio “Oceán: Archipel d’Archipels” do Instituto Franco­‑Portugais, em 1999. Nos anos de 2002/2003 Jardim fez um estágio sabático no Museu Nacional de Etnologia de Lisboa para estudar a cole‑ ção de panaria cabo­‑verdiana e guineense do museu. Integra a equipa do serviço

educativo do MNE, desde 2008, no âm‑ bito do protocolo de colaboração entre os Ministérios da Cultura e da Educação.

¬

MÁRIO MACILAU 1984 / Moçambique

Nasceu em Moçambique, em 1984. É uma figura de destaque de uma nova geração de fotógrafos africanos. Iniciou o seu trabalho artístico em 2003 nas ruas de Maputo. Em 2015, participou na 56.ª Bienal de Veneza, com um projeto inesperado sobre a vida das crianças de rua de Maputo, exposto no Pavilhão do Vaticano. Macilau venceu recentemente vários prémios, nomeadamente The FP Ma‑ gazine’s Global Thinkers e foi finalista da UNICEF Photo of the Year, em 2009. O seu trabalho tem sido largamente apre‑ sentado em exposições individuais e coletivas, tanto no seu país de origem, como a nível internacional, nomeada‑ mente em Pangea: New Art from Africa and Latin America, Saatchi Gallery (2014), Making Africa, Vitra Design Mu‑ seum (2015), Bienal de Veneza (2015) e Museu Guggenheim, Bilbao (2015­ ‑2016). A obra de Macilau integra as coleções institucionais da Daimler Art Collection,

| 103


104 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Berlim/Estugarda, da Fundação PLMJ em Lisboa, do Banco Comercial e de Investimentos de Maputo, da Embai‑ xada Francesa em Maputo e da African Artists’ Foundation em Lagos, Nigéria. Está ainda presente em várias coleções privadas portuguesas e internacionais (Alemanha, França, Espanha, Estados Unidos, etc).

¬

MAURO PINTO 1974 / Moçambique

Nasceu em 1974, em Maputo, Moçam‑ bique, onde vive e trabalha. Fez as suas primeiras fotografias com o fotógrafo português Alexandre Júnior. No final dos anos 90 fez um curso de fotografia na Monitor International School, em Joanesburgo, e, na mesma altura, um estágio com o fotógrafo José Machado, assumindo como profissão a atividade fotográfica. Realizou a primeira expo‑ sição individual, em 2002, na Fortaleza de Maputo. Ainda em Maputo, no Centro Cultural Franco­‑Moçambicano, apresentou, em 2004, “Mulher­‑Mãe” e, em 2005, “Portos de Convergência”. Em 2007 fez, em Lubumbashi (República Democrática do Congo), a exposição “Lubumbashi ­ ‑ Interiores Exteriores”, seguindo­‑se, em 2010, “Uma Questão

de Estado”, na Rua D’Arte, em Maputo, em 2011, na Galeria Influx, em Lisboa, “Maputo ­‑ Luanda – Lubumbashi” e, em 2015, no Palácio Cadaval, em Évora, a exposição “Dá Licença ?”. Mauro Pinto integrou ainda as exposições coletivas “Present Tense”, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris e Lisboa (2013), “Cata­‑Ventos”, na Galeria 111, em Lisboa (2014), e “Às Margens dos Mares”, em São Paulo, no Brasil (2015). Pinto expôs também em bienais e festivais de foto‑ grafia em Moçambique e no estrangeiro, como Paris Photo (Paris), Joburg Art Fair (Joanesburgo) e “1:54 Contemporary African Art Fair”, em Londres. Recebeu, em 2004, o 1.º Prémio do Museu Nacio‑ nal de Arte, em Maputo, em 2005 o Pré‑ mio Ricardo Rangel – Fundac, Maputo, e o Prémio BES Photo 2012, Lisboa.

¬

NELO TEIXEIRA 1974 / Angola

Nelo Teixeira nasceu em M´Banza Congo, Angola, em 1974 e vive atual‑ mente em Luanda. Estudou pintura e es‑ cultura nos workshops promovidos pela União dos Artistas Plásticos Angolanos (UNAP). É ainda formado em carpinta‑ ria e cenografia, tendo já participado em diversos filmes e peças de teatro, como

cenógrafo. Da sua família, herdou a arte de criar máscaras. Nelo Teixeira trabalha essencialmente com material reciclado e resíduos de metal, plástico, alumínio, vidro, tintas, porque, diz o artista, “Luanda é muita rica em resíduos, além de toda a inspira‑ ção que nos alimenta”. Desde 2000 tem exposto regularmente, como aconteceu com a 2.ª edição do JAANGO Nacional, no Museu Nacional de História Natural de Luanda; no Pro‑ jeto “Ponte Cultural Angola – Israel”; nas exposições coletivas “Sobumba” e “Arte 100 Fronteiras”, ambas em Angola. Parti‑ cipou ainda na componente Reciclarte, no projeto “Orgulho em ser Angolano” e no leilão da Bonham’s de Arte Africana, Londres (Reino Unido). Integrou também a exposição “Artes Mirabilis, Colectiva de Artistas Plásticos Angolanos”, na sede da UCCLA, em Lisboa (2018). Nelo Teixeira tem desempenhado igualmente um papel importante na comunidade artística de Luanda, onde ensina à geração mais nova algumas das suas técnicas.

¬

NÚ BARRETO 1966 / Guiné­‑Bissau

Nasceu em 1966, em São Domingos,


no norte da Guiné­‑Bissau e, em 1989, mudou­‑se para Paris, onde atualmente vive e trabalha. Inicialmente interes‑ sado em fotografia, estudou por algum tempo na Escola de Fotografia AEP em Paris, em 1993, e na École Nationale des Métiers d’Image au Gobelins (1994 ­‑1996), onde terminou os seus estudos de fotografia. Nú Barreto é um artista multidiscipli‑ nar, que utiliza desenho, objetos encon‑ trados e colagem, procurando desper‑ tar o espetador para a sua mensagem através da pintura, desenho, fotografia e vídeo. O seu leitmotif tem sido a conde‑ nação da repressão, denunciando espe‑ cialmente a miséria e o sofrimento que assola o continente africano. A obra de Barreto já foi apresentada em várias exposições individuais, em França, Portugal, Espanha e Nova Ior‑ que. Em 1998 expôs o seu trabalho na Exposição Mundial de Lisboa (Expo 98). Em 2013 participou pela segunda vez na exposição “Arte pela Paz” da UNESCO, em Paris. Em 2016 realizou a exposição “Funguli Sapiens – Homem Moderno”, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. O seu trabalho integrou também di‑ versas exposições coletivas, como no Centro Cultural Franco­‑Moçambicano, em Maputo, em 2005, bem como no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, Brasil; na Bienal de Dacar, no

Senegal, em 2006; no Centro Cultural dos “Rencontres” de Neumünster, no Luxemburgo, em 2007; no Kunstraum Kreuzberg, em Berlim, Alemanha; no Museu Vieira da Silva, em Lisboa, Portu‑ gal; na Galeria Marta Traba do Memorial da América Latina, em São Paulo, Brasil; no Museu Boribana, Dacar, Senegal e, mais recentemente, no Museu Capixaba do Negro (MUCANE), em Vitória, Brasil.

¬

PAULO JAZZ 1957 / Angola

Paulo Jazz nasceu em Luanda, Angola, em 1957, e fez os seus estudos primários e secundários em Benguela e Luanda. Desde cedo começou a desenhar e a pintar, tendo participado em concur‑ sos escolares, nos quais se destacaram os seus trabalhos em aguarela. Em 1974 frequentou o curso de Construção Civil, em Luanda. Paulo Jazz é membro efetivo e co­‑fundador da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP), desde 1982, e participou desde então em quase todas as suas exposições no país, bem como as promovidas por organismos estatais e internacionais, no país e no estrangeiro. Sobre a arte de Paulo Jazz escreveu Hildebrando de Melo: “[...] A década 90 foi para Jazz uma dé­

cada de ouro, tinha aparecido com uma pintura nova para a crítica, que não era muita na altura. Mas, para a norma, era um salto mais à frente do Cubismo, um estilo e uma forma que o próprio pesqui­ sou ao longo da sua carreira. A sua pin­ tura era como um organismo vivo de um ou dois elementos que interagiam entre si e tomavam todo o espaço que havia para tomar dentro do campo de uma pintura. Tinha encontrado um caminho, uma linguagem sua, um estilo seu. No virar da década, vemos um Jazz mais Cubista. Por­ quê? Ouve um recuo por causa de eventos pessoais que causaram grande impacto na sua obra, e ele voltou a uma zona de conforto que já dominava há muito: o Cubismo [...]”. Autodidata, Jazz fez a sua primeira ex‑ posição individual em Luanda, no Mu‑ seu de História Natural, em 1983, com quarenta e três quadros a óleo sobre tela. Os cinquenta anos de carreira de Paulo Jazz, dedicados ao desenho, à pintura e à escultura, estiveram patentes, em 2016, numa mostra denominada “50 anos de Exposição”, em Luanda. O artista inte‑ grou a exposição “Artes Mirabilis, Colec‑ tiva de Artistas Plásticos Angolanos”, na sede da UCCLA, em Lisboa (2018). Paulo Jazz é detentor de vários pré‑ mios, entre os quais o de Artes Plásticas do Centro Internacional das Civilizações Bantu (CICIBA), atribuído em 1987.

| 105


106 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

¬

PAULO KAPELA 1947 / Angola

Paulo Kapela nasceu em 1947, no Uíge, Angola. Autodidata, começou a pintar em 1960 na escola Poto­‑Poto em Braz‑ zaville, na República do Congo. É colabo‑ rador na UNAP – Associação Nacional de Artes Visuais, em Luanda, onde vive. Paulo Kapela utiliza, nas suas instala‑ ções (colagens e assemblagens), despo‑ jos da sociedade moderna com imagens das figuras centrais dos movimentos sociais e políticos, resultado do fluxo de acontecimentos históricos que marca‑ ram o século XX em África e no Mundo, como foi o caso dos movimentos inde‑ pendentistas africanos. Kapela realizou várias exposições indi‑ viduais e coletivas das quais se destacam, em 1995, a coletiva “Africus” da I Bienal de Joanesburgo, África do Sul; em 2003, “Tons e Texturas da Angolanidade” no Fórum Telecom, em Lisboa; em 2004, “África Remix” exposição coletiva em Londres e Dusseldorf e, em 2005, no Ja‑ pão. Expôs também, em 2006, na cole‑ tiva “Sindika Dokolo – Coleção Africana de Arte Contemporânea”, em Luanda. Em 2007, esteve representado na 52.ª Bienal de Veneza, Itália. Está representado na coleção “Obras de Artistas de África”, na Caixa Geral de

Depósitos, Lisboa, e esteve presente na exposição daquela coleção, intitulada “Mais a Sul”, em 2005. Em 2006, a sua obra foi integrada na Coleção Lusofonias da Perve Galeria, tendo sido exposta nas apresentações dessa coleção realizadas em 2009, nas Galerias Perve em Alfama e em Alcântara; em 2010, na Galeria Na‑ cional de Arte, em Dacar, Senegal; em 2015, no Palácio da Independência, em Lisboa e, em 2017, na “Conexões Afro­ ‑Ibero­‑americanas 2.01”, na sede da UC‑ CLA, em Lisboa. Em 2003 recebeu o prémio ICBA do International Center for Bantu Civiliza‑ tions, em Brazzavile, na República do Congo.

¬

PEDRO PAIXÃO 1971 / Angola

Nasceu no Lobito, Angola, em 1971. Atualmente vive e trabalha entre Milão e Lisboa, como artista plástico, editor e professor. Tem um Mestrado em Belas Artes pela The School of the Art Insti‑ tute of Chicago, e um Doutoramento em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É investigador na mesma instituição e dirige a coleção de ensaios “Disciplina sem nome” para a editora Documenta, em Lisboa.

Algumas das suas exposições indivi‑ duais incluem “Fogo Posto” (2016), na Fundação Carmona e Costa, em Lisboa; “A cor de um eclipse” (2016), na galeria Ar Sólido, em Marvila; “Do fundo” (2015) e “Studies in Red” (2012), na Galeria 111 em Lisboa, entre outras. As suas obras figuram no espólio das Coleções Ma‑ nuel de Brito, PLMJ, Figueiredo Ribeiro, Carmona e Costa e Centro de Arte Con‑ temporânea de Málaga.

¬

PEDRO VAZ 1977 / Moçambique

Nasceu em Maputo, Moçambique, em 1977. Atualmente vive e trabalha em Lis‑ boa. Em 2006 terminou o curso de Artes Plásticas – Pintura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Os projetos do artista para o primeiro semestre de 2018 incluem “Second Na­ ture: Portuguese Contemporary Art from the EDP Foundation Collection”, The Kree‑ ger Museum, Washington D.C., EUA, para além de exposições individuais na Galeria 111, Lisboa, e no Centro Cultural Português no Luxemburgo. A decorrer está “Il tesoro è sempre più grande di quello che hai stretto tra le mani”, Museo del Paesaggio, Torre di Mostro, Itália. Outras exposições individuais re‑


centes que devem ser destacadas são: “Superstition Wilderness” (2017), Galeria Enrique Guerrero, Cidade do México; “Peralta to Boulder Canyon” (2017), no Instituto de Arte Contemporâne de Phoenix, EUA; “Trilha do Facão” (2017), Kubikgallery, Porto, Portugal. ‑se também os prémios Salientam­ do LOOP DISCOVER, 2017 (finalista), e LOOP Barcelona, Barcelona, Espanha e LOOPS.LISBOA 2016 (finalista), do Mu‑ seu de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa, bem como a participação em “In Your Dreams I am Your Landscape” – Wunderkammer – La Casa del Cinema, Videoteca Pasinetti, Veneza, Itália. O trabalho de Pedro Vaz centra­‑se numa pesquisa em torno da paisagem, maioritariamente em suporte de pin‑ tura e instalação vídeo. O artista quer fazer uma reflexão acerca do exercício de poder inscrito no cruzamento entre a capacidade de representar do artista e a condição representável da Natureza, im‑ plicando o que se entende por espaço, lugar e paisagem. O contacto pessoal com o lugar é essencial na sua prática e os seus projetos incluem muito frequen‑ temente expedições.

¬

PINTO

dações PLMJ e Mário Soares, ambas em Lisboa.

1980 / Moçambique

Lourenço Dinis Pinto nasceu em Ma‑ puto, Moçambique, em 1980, e ali fre‑ quentou a Escola de Artes Visuais e es‑ tudou Arquitetura e Planeamento Físico na Universidade Eduardo Mondlane. Vive e trabalha em Maputo, como de‑ signer gráfico e arquiteto estagiário. Usa o desenho como técnica e expõe regularmente desde finais dos anos 1990, tendo participado em muitas exposi‑ ções coletivas em Moçambique, como a MUSART (Museu Nacional de Arte) e a Bienal TDM, mas também em Portugal, Noruega, Brasil, Cabo Verde, e outros países africanos. Das suas exposições in‑ dividuais, destaca­‑se a “A Morfologia da Linha” (Centro Cultural Português – Ins‑ tituto Camões, Maputo, 2005). Desde 1999, e até 2005, recebeu várias menções e prémios de desenho em Mo‑ çambique, entre eles o 1.º e 2.º Prémios de Desenho MUSART­‑ Museu Nacional de Arte, mais do que uma vez; a Bienal TDM; BP Moçambique e a Casa da Cul‑ tura do Alto­‑Maé, Maputo. Os trabalhos de Pinto estão repre‑ sentados no seu país, na BP e na TDM ­‑ Telecomunicações de Moçambique, em Maputo, e em coleções particulares fora do país, como Portugal, nas Fun‑

¬

RENÉ TAVARES 1983 / São Tomé e Príncipe

Nasceu em São Tomé e Príncipe, em 1983. Formou­‑se na Escola de Belas Artes de Dacar, no Senegal. Obteve posteriormente uma bolsa de estudos para a escola de Belas Artes de Rennes e teve aulas de fotografia pelo projeto ARC/Rennes. Paralelamente, participou em diversos workshops em São Tomé, no espaço Teia d’Arte, e, em 2004, integrou o workshop de pintura, desenho e instalação orientado pela artista Maria Magdalena Campos durante a bienal de Dak’Art, no Senegal. A obra de René Tavares ilustra a sua experiência de emigração num con‑ texto pós­ ‑colonial. Já expôs em São Tomé, Lisboa, Évora, Paris, Bruxelas, Ams‑ terdão, entre outras cidades, e, em 2008, participou na V Bienal Internacional de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe. Integrou igualmente a exposição “Africa Now”, organizada pelo Banco Mundial, em Washington, em 2008. Seis anos depois apresentou obras suas na Bienal de Arquitetura de Veneza, com o pro‑ jeto “Ilhas de São Jorge” da organização “Beyond Entropy”.

| 107


108 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

Em 2009 ganhou uma bolsa para de‑ senvolver as suas pesquisas plásticas em Rennes, França. Atualmente vive entre São Tomé e Lisboa, onde frequenta o Mestrado em Ciências de Arte e do Pa‑ trimónio na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

¬

RICARDO ANGÉLICO 1973 / Angola

Nasceu no Cuíto, Angola, em 1973. Das suas exposições individuais destacam­ ‑se: “There will be no safety zone” (2011) e “The Aronburg Mystery” (2008), na Gale‑ ria Carlos Carvalho de Arte Contempo‑ rânea em Lisboa; “Caro Jünger / Caro Na‑ bokov”, no Museu Nacional de História Natural (2004), em Lisboa, e “Museu de Cera ­‑ Imagens da Colecção Christian D. Karloff”, na Fundação D. Luís I, em Cas‑ cais (2003). De entre as numerosas expo‑ sições coletivas que integrou, referem­‑se, pela sua importância, as realizadas na Casa da Cerca – Centro de Arte Con‑ temporânea, em Almada (“O Desenho Dito”, 2008); no Centro de Arte Manuel de Brito (“À Volta do Papel”, 2008) e na Culturgest, em Lisboa (V Prémio Fide‑ lidade Jovens Pintores). Angélico está representado nas coleções Caixa Geral de Depósitos, Lisboa, Fundação D. Luís I,

Cascais, Fundação PLMJ, Lisboa e Centro de Arte Manuel de Brito, Algés. Ricardo Angélico utiliza a descons‑ trução como janela de observação dos modos de representação e a formação do conhecimento, chamando a aten‑ ção para o modo como apreendemos as coisas fora do pré­‑concebido. Isto é, questionando os princípios de catalo‑ gação, sistematização, documentação e interpretação regentes como meios de conhecimento científico do mundo. Angélico constrói o espaço da obra atra‑ vés da multiplicação de pequenos frag‑ mentos narrativos desconexos, ou cuja conexão não é entendida abertamente.

¬

RICARDO RANGEL 1924 – 2009 / Moçambique

Ricardo Rangel nasceu em 1924, em Ma‑ puto, Moçambique. Primeiro jornalista não branco a entrar, em 1952, para uma equipa de um jornal em Moçambique, como repórter fotográfico do Notícias da Tarde, fez da fotografia a sua arma de luta contra o colonialismo e, depois da independência, de denúncia de abusos e arbitrariedades das autoridades policiais. Rangel cresceu nos arredores de Maputo e viveu em várias cidades de Moçambique, onde sobressaiu a sua

passagem pelo Diário de Moçambique, fundado na Beira pelo bispo católico D. Sebastião Resende, que se notabilizou pela denúncia da discriminação racial e social. Ricardo Rangel iniciou a sua carreira como fotógrafo profissional em 1941, como aprendiz de laboratório de fo‑ tografia do caçador de elefantes Otílio Vasconcelos. A sua biografia, Iluminando Vidas – Ricardo Rangel e a Fotografia Moçambi­ cana, publicada em 2002 por Christoph Merien Verlag, refere que Rangel, no laboratório do estúdio fotográfico “Fo‑ cus”, começou a ganhar notoriedade como impressor a preto e branco. Em 1970 fundou, em colaboração, a revista Tempo, da qual foi editor fotográfico. Sempre a preto e branco, mostrou a injustiça social, o quotidiano, a vida no‑ turna nos cafés e bares moçambicanos, como a série “Pão nosso de cada noite”, em que retrata a vida das prostitutas na zona do porto de Maputo. Em 1984, sob direção de Rangel, nas‑ ceu o que é hoje o Centro de Docu‑ mentação e Formação Fotográfica de Maputo, do qual foi o primeiro e único diretor até à sua morte. O Centro possui no seu acervo uma valiosa coleção de imagens do país ao longo de várias dé‑ cadas. A obra de Rangel é mundialmente


conhecida e o reconhecimento interna‑ cional aconteceu em 1996, com a parti‑ cipação na exposição “In/sight: African Photographers, 1940 to the Present”, no Museu Guggenheim, em Nova Iorque, e, em 2001, com uma exposição sobre a sua obra nos “4èmes Rencontres de la Photographie Africaine”, em Bamaco, no Mali. Pouco antes da sua morte, em 2009, recebeu o Doutoramento em História da Fotografia atribuído pela Universi‑ dade Eduardo Mondlane. Algumas das suas obras integram exposições perma‑ nentes em algumas das mais conceitua‑ das galerias internacionais.

¬

RITA GT 1980 / Portugal

É uma artista extremamente crítica e interventiva, abordando temas como a memória, identidade ou a importân‑ cia dos direitos humanos. Ter vivido em vários países conferiu­ ‑lhe uma visão mais ampla do mundo, permitindo­‑lhe valorizar os pontos de vista históricos de outras culturas. O simbolismo colo‑ nial, recorrente na sua obra, define a sua identidade e linguagem artística. É licenciada em Design de Comuni‑ cação pela Faculdade de Belas Artes da

Universidade do Porto, concluiu o Curso Avançado de Artes Visuais na Escola Maumaus de Artes Visuais de Lisboa e frequentou o programa de mestrado em Belas Artes pela Malmö Art Academy – Lund University, Malmö, Suécia. Exposições individuais entre 2012 e 2018 incluem: Rua das Gaivotas 6, Lis‑ boa; 50 Galeria Golborne, Londres; Ga‑ leria Belo­‑Galsterer, Lisboa; Patch, Porto; Museu do Chiado, Lisboa; Instituto Ca‑ mões, Luanda; UNAP, Luanda. Exposições coletivas entre 2011 e 2018 incluem: ICAF, Lagos; Efeito­‑Suruba, Lisboa; Art of Kindness, Londres; Bienal de Lagos; Exposição de verão na Ro‑ yal Academy of Arts, Londres; Museu do Oriente, Lisboa; Instituto Camões, Luanda; The Cera Project, Londres; Mov’art, Luanda; Galeria Tiwani, Lon‑ dres; Museu KunstKraftWerk, Leipzig & Freies / Savvy Contemporary, Berlim; Museu do Chiado, Lisboa; Arts on Main – Instituto Goethe, Joanesburgo; Galeria de Arte Africana Contemporânea Soso, Luanda (2012); Museu da Cidade, Lis‑ boa. Rita GT foi cofundadora do projeto e­ ‑studio Luanda e comissária do Pavilhão de Angola, com curadoria de António Ole, na 56.ª Bienal de Veneza (2015). Vive e trabalha entre Portugal e Angola, gerindo e fazendo a curadoria de vários projetos.

¬

RITA MAGALHÃES 1974 / Portugal

Nasceu em 1974, em Luanda, Angola. Vive e trabalha no Porto, onde se licen‑ ciou em Pintura, na Faculdade de Belas Artes. Deu aulas de Educação Visual e Educação Visual e Tecnológica, e dá au‑ las de Desenho a crianças e adultos com base no método “desenhar com o lado direito do cérebro”. Rita Magalhães fez parte de um grupo musical e teatral, aprende Sevilhanas e Flamenco desde 1996 e faz workshops de Sevilhanas. Tem formação constante em dança oriental, frequentando diver‑ sas oficinas de dança. Como pintora e fotógrafa, realizou exposições individuais em Londres, Ma‑ drid, Lisboa e Porto, Santiago de Com‑ postela, Vigo, Madrid, San Sebastián, Sa‑ lamanca, Málaga, Lisboa, Leiria, Coimbra e Porto. A sua obra integra coleções pú‑ blicas em cidades como Salamanca, San Sebastián, Málaga, Sevilha, Barcelona, Vigo, Badajoz, Lisboa, Braga, Porto. Rita Magalhães, que também é retra‑ tista, assinando os seus retratos como Rita Pizarro, foi convidada, em 2008, para colaborar com a Meloteca na formação contínua de professores de Música nas AEC (Atividades de Enriquecimento Curricular).

| 109


110 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

¬

ROLANDO SÁ NOGUEIRA 1921 ­‑ 2002 / Portugal

Nasceu em 1921, em Lisboa, Portugal. Em 1942, entrou na Escola de Belas Ar‑ tes para o curso de Arquitetura, mas, em 1946, opta pela Pintura. No início dos anos 60 parte para o Reino Unido com uma bolsa da Fundação Calouste Gul‑ benkian e frequenta o College of Arts and Crafts (cenografia) de Birmingham e a Slade School of Arts de Londres. Nes‑ tas escolas “descobre” a colagem, a foto‑ grafia e a fotomontagem enquanto ma‑ teriais essenciais na prática da pintura, e conhece outros artistas: Richard Hamil‑ ton, Larry Rivers e Robert Rauschenberg, Paula Rego e Maria Velez. Regressado a Lisboa, dá aulas de Dese‑ nho no Curso de Formação Artística da Sociedade Nacional de Belas Artes e, em 1969, começou a trabalhar no atelier do arquiteto Conceição Silva, onde coorde‑ nou as opções cromáticas de projetos arquitetónicos. Aí daria início às imagens fotográficas impressas sobre tela e pos‑ teriormente trabalhadas em acrílico ou óleo, concebidas pelo artista e execu‑ tadas segundo processos industriais de trabalho em série, contando para isso com uma equipa de cinco ajudantes. Sá Nogueira, desde as suas primeiras pinturas no final dos anos 40 até às últi‑

mas que produziu, foi sempre um pintor moderno em diálogo com o passado e o presente, afastando­‑se das polémicas entre as diversas correntes artísticas. Isso permitiu­‑lhe a imensa liberdade de ir descobrindo a pintura dos outros, incor‑ porando os seus elementos essenciais no seu próprio universo. Inicialmente Bon‑ nard, Modigliani, um Bernardo Marques ainda próximo e um ainda mais próximo Hogan, transparecem nos interiores dos cafés, nos retratos e pseudo­‑retratos, nos jardins e nas pequenas praças, numa Lis‑ boa que o artista foi transpondo para a tela com uma grande riqueza cromática e um extremo rigor, só possível em quem dominava o desenho como muito pou‑ cos e raros o conseguem. Sá Nogueira faleceu a 18 de novembro de 2002.

¬

SHIKHANI 1934 ­‑ 2010 / Moçambique

Shikhani nasceu no distrito de Marra‑ cuene, nos arredores da capital moçam‑ bicana, Maputo. Foi pastor de gado até aos 16 anos, altura em que começou a dedicar­‑se à escultura no Núcleo de Arte de Maputo. Durante os anos de escola, Shikhani teve como mestre o es‑ cultor português Lobo Fernandes, mas cedo se tornou assistente do professor

Silva Pinto, também escultor, em Lou‑ renço Marques, atual Maputo. A sua primeira exposição, em 1968, realizou­‑se em Matalana. Na década de 1970 transferiu­‑se para a Beira, onde co‑ meçou a dedicar­‑se tambem à pintura, tornando­ ‑se no primeiro pintor mo‑ çambicano de raça negra a residir na‑ quela cidade, onde deixou vários murais em baixo relevo. Em 1973 recebeu uma bolsa da Fun‑ dação Calouste Gulbenkian para se deslocar a Lisboa, onde realizou uma exposição individual, iniciando um percurso que o levou à Rússia, Bulgária, Estados Unidos, Cuba, Alemanha, Grã­ ‑Bretanha e Itália. De 1976 a 1998, ainda na Beira, orientou aulas de Desenho no Auditório­‑Galeria até 1979. Shikhani realizou muitas exposições individuais, entre elas na capital de Mo‑ çambique, antes e depois da indepen‑ dência, em João Belo (hoje, Xai­ ‑Xai), Inhambane, Nampula e Beira (várias), Lusaka, Zimbabué, em Lisboa (várias, uma delas no Instituto Camões); e várias coletivas, em diversas cidades moçambi‑ canas, na Califórnia (EUA), em Portugal, em Lusaca (Zâmbia), em Berlim (Alema‑ nha), Moscovo (URSS), Luanda (Angola) e Sófia (Bulgária), Cuba, Grã­‑Bretanha, Itália, Nigéria, Zimbabué, no Museu Na‑ cional de Arte de Maputo e no Museu Nacional de Portugal.


Através da escultura em madeira e da pintura, o artista conseguiu exprimir as muitas faces do sofrimento. Está repre‑ sentado no Museu Nacional de Arte de Maputo, em coleções particulares den‑ tro e fora do país e tem obras suas em Portugal, no Zimbabué, em Angola e na Zâmbia. Shikhani faleceu no dia 31 de dezembro de 2010, em Maputo.

¬

THÓ SIMÕES 1973 / Angola

Nasceu em Malanje, Angola, em 1973. Pintor, fotógrafo, designer gráfico e ce‑ nógrafo, António “Thó” Simões tem construído uma carreira marcada pela versatilidade, pela mistura de linguagens e pela intervenção social. Após uma infância vivida em Portugal, regressou a Luanda nos finais dos anos 80 e, em 1991, começou a frequentar a União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP). Formou­‑se no Instituto de Formação Artística e Cultural e intensificou a sua atividade a partir dos anos 2000, quando começou a participar em exposições na‑ cionais e internacionais com o coletivo “Os Nacionalistas”. Com o grupo EXSEF (Expressão sem Fronteiras), do qual é um dos fundadores, Simões tem vindo também a promover atividades socio‑

culturais com crianças e jovens de todo o país. Um exemplo é o projeto “Murais da Leba”, uma intervenção de pintura ao longo da estrada da Serra da Leba, en‑ tre as províncias do Namibe e da Huíla, com mais de 6000 m2 previstos, estando já pintados cerca de 3000 m2. O projeto, do qual Simões é o diretor artístico, ini‑ ciado em 2015, juntou jovens estudantes angolanos e estrangeiros e tem vindo a receber contributos de artistas e grafitei‑ ros de outros países.

¬

se desintegrem, vivendo cada um por si mesmo!”. Toy Boy já apresentou o seu trabalho em Luanda, em diferentes exposições in‑ dividuais: “Urbanismo” (fotografia, 2013), “The War” (misto de pintura e instalação, 2014), “Ferrugem” (pintura, 2015) e, inau‑ gurada em junho de 2018, a exposição “Guerras Globais” (imagens sobre tela). Em 2015 apresentou­‑se na African Stu‑ dies Gallery, em Telavive, (Israel), com a exposição “Clean Your Souls”.

TOY BOY (ADALBERTO FERREIRA)

¬

1978 / Angola

1961 / Brasil

Nasceu em 1987, em Angola, pouco de‑ pois da independência. Por esse motivo, a sua história de vida mistura­‑se com a história de Angola, desde os anos da guerra civil até às profundas transfor‑ mações urbanas ocorridas na cidade de Luanda. Toy Boy define o seu estilo artístico como um documentário foto‑ gráfico da urbanização de Luanda: “Se você realmente quer viver a sua vida fa‑ zendo parte dos movimentos culturais, mude­‑se para uma grande cidade como Luanda”. No entanto, o artista não está alheio aos defeitos da cidade: “A cidade faz com que a família e a comunidade

Vik Muniz, artista plástico, fotógrafo e pintor, nasceu em São Paulo, Brasil, em 1961 e aí se formou­em Publicidade. Em 1983 mudou­‑se para Nova Iorque. Vik Muniz compõe imagens com ma‑ teriais insólitos e surpreendentes, normal‑ mente perecíveis, sobre uma superfície e fotografa­‑as. As fotografias que obtém são o seu produto final. A escolha dos materiais depende da história da criação da fotografia ou do desenho, e do efeito que o artista pretende. Um exemplo são os trabalhos feitos com açúcar, baseados em fotografias de crianças a plantar cana de açúcar. Outros materiais que utiliza

VIK MUNIZ

| 111


112 | Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal

são, entre muitos, o chocolate, a poeira, o esparguete ou o lixo. Muniz realizou dezenas de exposições individuais nos mais conceituados mu‑ seus do mundo como em Nova Iorque, o MoMA (Museum of Modern Art), o Whitney Museum of American Art e o International Center of Photography, o Victoria and Albert Museum (Londres), o Tel Aviv Museum (Israel), o CCB (Lisboa, Portugal), o Irish Museum of Contem‑ porary Art (Dublin), o MAM (Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro), o MASP (Museu de Arte Moderna, São Paulo), ou na 24.ª Bienal Internacional de São Paulo. Integrou inúmeras exposições coletivas e está representado em coleções privadas e públicas e museus como o Tate Modern e o Victoria and Albert Museum (Londres), ou o Getty Institute de Los Angeles. A sua obra está descrita e antologiada em deze‑ nas de publicações. O documentário “Lixo Extraordinário” (2010) apresenta o trabalho de Muniz no Jardim Gramacho, uma gigantesca lixeira a céu aberto, no Rio de Janeiro, em que os protagonistas são os “catadores”, cerca de cinco mil pessoas que esco‑ lhem as toneladas de lixo ali despejadas diariamente para separar o que pode ser reciclado. O filme recebeu inúmeros pré‑ mios internacionais e foi nomeado para a categoria de melhor documentário na edição dos Óscares de 2010.

¬

XANANA GUSMÃO 1946 / Timor­‑Leste

José Alexandre “Kay Rala Xanana” Gus‑ mão nasceu a 20 de junho de 1946, em Laieia (Manatuto), Timor­‑Leste. Estudou no seminário de Dare, dirigido pelos pa‑ dres jesuítas e no Liceu de Díli. Na infân‑ cia, Xanana aprendeu o Português com seu pai, Manuel Gusmão. Xanana é um político timorense e foi um dos principais ativistas pela independência do seu país, tendo sido o 1.° presidente durante largos anos na resistência timo‑ rense, durante a ocupação indonésia. Em 1975, face aos conflitos, filiou­‑se na FRETI‑ LIN, favorável à Independência de Timor. Xanana foi preso e libertado no mesmo ano, passando a ocupar a posi‑ ção de secretário de imprensa da FRE‑ TILIN, que declarou a independência, como República Democrática de Timor­ ‑Leste. Na década de 1990 utilizou a diploma‑ cia e os media internacionais para alertar o mundo sobre o massacre de 12 de no‑ vembro de 1991 no cemitério de Santa Cruz, em Díli. Foi preso em novembro de 1992, condenado a prisão perpé‑ tua, tendo­‑lhe sido negado o direito a defender­‑se. Passou sete anos na prisão de Cipinang, em Jacarta. Durante o cati‑ veiro, foi visitado por representantes das

Nações Unidas e altos dignitários mun‑ diais, entre eles, Nelson Mandela. Foi libertado em 1999. Após o fim da ocu‑ pação indonésia, foram realizadas as pri‑ meiras eleições presidenciais, em 2002, que Xanana Gusmão ganhou e a 20 de maio de 2002, Timor­‑Leste foi declarado formalmente independente. Durante o tempo que passou em Cipinang, Xanana escreveu poesia e pintou. Um dos muitos quadros dessa época, Aldeia Típica de Timor (1994), oferecido a José Ramos­‑Horta, retrata as casas originais da ilha. O quadro, pa‑ tente ao público na exposição Todos Diferentes, Todos Diferentes, no Toledo Pub, em 1996, serviu também de base para a produção de 300 serigrafias cuja venda reverteu a favor da Resistência Timorense. O livro Mar Meu Poemas e Pinturas (1998) é uma coleção de poe‑ mas e quadros feitos entre 1994 e 1996, na prisão de Cipinang.

¬

YONAMINE 1975 / Angola

Nasceu em 1975, em Luanda, Angola. Tendo vivido em Angola, na República Democrática do Congo, no Brasil e no Reino Unido, atualmente reside e tra‑ balha entre Lisboa, Luanda e Berlim.


Começou a sua carreira no mundo das artes com a impressão/estampagem em t­‑shirts, logos e flyers. Yonamine participou em diversos workshops, exposições coletivas e se‑ minários durante a Primeira Trienal de Luanda (2007), o que conferiu um forte impulso à sua formação artística. Seguiram­ ‑se várias participações em mostras coletivas e individuais, como “Check List Luanda Pop”, no Pavilhão Afri‑ cano da 52.ª edição da Bienal de Veneza, Itália (2007); participação na 29.ª Bienal de São Paulo, Brasil (2010), “No Pain”, no

Salzburger Kunstverein, Salzburgo, Áus‑ tria (2012) e “Luz Veio”, no Teatro Elinga, em Luanda (2013). As suas obras estão presentes no Edifício­ ‑Sede ESCOM (Luanda) e no Espaço Espelho d’Água (Lisboa), bem como na coleção BIC – Banco Interna‑ cional de Crédito (Lisboa); Centre Natio‑ nal des Arts Plastiques – Centre Georges Pompidou (Paris); Coleção BPA – Banco Privado de Angola; Coleção Norlinda e José Lima (São João da Madeira, Portu‑ gal); Fundação Ellipse Coleção de Arte Contemporânea (Alcoitão, Portugal);

Fundação Leal Rios (Lisboa); Fundação PLMJ (Lisboa); SD Collection – Sindika Dokolo Coleção Africana de Arte Con‑ temporânea (Luanda) e The Frank­‑Suss Collection (Londres). As obras do artista estiveram expos‑ tas, em 2015, no Museu Afro Brasil, em São Paulo, na mostra intitulada Africa Africans inaugurada a 25 de maio, em alusão ao Dia de África. Yonamine foi o único angolano do conjunto de 20 artis‑ tas africanos convidados.

| 113


APOIO

PATROCÍNIO



Arte Contemporânea dos Países de Língua Portuguesa nas Coleções em Portugal Coleções presentes na exposição: Associação de Coleções The Berardo Collection CAMB - Centro de Arte Manuel de Brito Coleção da Caixa Geral de Depósitos, Lisboa Coleção de Fotografia Contemporânea do Novo Banco Coleção Figueiredo Ribeiro - Quartel da Arte Contemporânea de Abrantes Coleção Lusofonias | Casa da Liberdade - Mário Cesariny Coleção MNAC - Museu Nacional de Arte Contemporânea Coleção privada | ACCA by CL Coleção privada | AM Coleção privada | Carlos Gomes Fundação Carmona e Costa Fundação Oriente Fundação PLMJ UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa

Galeria de exposições da

UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa Avenida da Índia, n.º 110 - Lisboa, portugal Organização

Artistas Abraão Vicente Adriana Varejão Alberto Chissano Ana Silva Ângela Ferreira Ângelo de Sousa Anselmo Amado António Júlio Duarte António Ole Berry Bickle (Berenice Bickle) Bertina Lopes Binelde Hyrcan Caetano Dias Celestino Mudaulane Daniela Ribeiro Délio Jasse Eduardo Malé Estevão Mucavele Eugénia Mussa Fernando Lucano Francisco Vidal Gonçalo Mabunda Ihosvanny (Angel Ihosvanny Cisneros) Inês Gonçalves José Cabral José Maçãs de Carvalho Kiluanji Kia Henda Kwame Sousa Leda Catunda Lino Damião Malangatana Manuel Botelho Manuela Jardim Mário Macilau Mauro Pinto Nelo Teixeira Nú Barreto Paulo Jazz Paulo Kapela Pedro Paixão Pedro Vaz Pinto René Tavares Ricardo Angélico Ricardo Rangel Rita GT Rita Magalhães Rolando Sá Nogueira Shikhani Thó Simões Toy Boy (Adalberto Ferreira) Vik Muniz Xanana Gusmão Yonamine


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.