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XÊNIA FRANÇA, A PRÓXIMA FASE

Prestes a gravar seu segundo disco, ela fala da sua evolução — espiritual, de autoconhecimento — e comenta fama, relação com fãs e traumas

por_ Alexandre Matias de_ São Paulo

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fotos_ Noa Grayevsky

Mesmo às vésperas de mais uma viagem internacional e do início dos trabalhos em seu segundo álbum, a cantora e compositora baiana Xênia França, de 33 anos, sente-se insegura. “Eu estou começando tudo de novo, me sentindo completamente inexperiente e despreparada para fazer este disco, não sei se é a hora”, ela conta às gargalhadas, que escondem um nervosismo que faz questão de deixar evidente. “Eu sou pisciana, sou muito ansiosa e já estou sofrendo, lógico!”

Quem a vê falando assim pode até acreditar. Mas basta vê-la no palco para perceber que é excesso de zelo. Arma secreta do grupo paulistano Aláfia, Xênia lançou sua carreira solo no final de 2017 e anunciou a saída da banda no início do ano passado, quando tomou as rédeas de sua trajetória de vez e atingiu patamares invejáveis para uma artista em seu primeiro voo sozinha. Depois de ter sido indicada para o Grammy Latino (nas categorias Melhor Álbum Pop Contemporâneo e Melhor Canção em Língua Portuguesa) em 2018, dividiu o palco do Rock in Rio em 2019 com o cantor inglês Seal e foi a primeira artista brasileira a participar do canal alemão de vídeos Colors, além de não parar de fazer shows, aqui e lá fora.

“Em agosto de 2018 eu dei início à minha carreira internacional, indo para os Estados Unidos, onde já me apresentei algumas vezes”, lembra, explicando que seu primeiro disco solo, batizado apenas de Xênia, ainda está no processo de lançamento no mercado exterior. “Acabei de lançar esse disco em vinil nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, então ele ainda é uma novidade por lá. Já tenho algumas prospecções pro segundo semestre de 2020 com o primeiro disco no Canadá, na Austrália e nos Estados Unidos, além de provavelmente em alguns países da Europa.”

Ela insiste que é hora de partir para o segundo álbum, mesmo sem ter nada muito definido, à exceção da temática — a natureza e seu lado feminino. “Já estou reduzindo a quantidade de shows porque preciso parar e entrar de cabeça. São quase dois anos ininterruptos fazendo shows todo final de semana. Já fiz muita coisa importante e estou com vontade de cantar outras coisas, de experimentar outras sonoridades e musicalidades, mas eu sofro. Tenho umas crises de ansiedade, mas estou trabalhando nisso, me cercando de amor e de carinho e das pessoas de que eu gosto.”

Na última edição da Revista, mostramos histórias de artistas da música que se equilibram entre aplausos, curtidas, elogios, necessidade de triunfar e frustração, rechaço, solidão. Acessando o link abaixo, você pode reler a reportagem, com dicas práticas para evitar sucumbir à pressão. ubc.vc/Ansiedade

Ela já sabe que quer manter a dupla de produtores Pipo Pegoraro e Lourenço Rebetez. “Eu queria que a produção transitasse pelo âmbito da intimidade, da escuta, porque eu estava saindo de uma banda enorme, com um monte de gente, e queria poder sentar para fazer meu trabalho com uma galera que já me conhecia. Deu muito certo com esses dois, que não se conheciam. Alquimia pura. Hoje, eles produzem outros artistas juntos, viraram superamigos.”

Se o primeiro álbum foi calcado no tema da diáspora africana — com análises certeiras e uma potente exaltação à herança ancestral dos afro-brasileiros —, o próximo deve ser mais reflexivo. “Fico escrevendo palavras soltas baseada no que eu gostaria de dizer. Me transformei muito, estou muito ligada em existencialismo, em astrologia e espiritualidade. De me perceber como mais do que uma entertainer ou uma artista que está em cima do palco, mas como uma pessoa que está trocando experiências com pessoas que saem de suas casas para ver a gente tocar. Alguns momentos do show são muito focados nessa troca.”

Xênia voltou de sua turnê pelos EUA nos primeiros dias de 2020 e já se apresentou no Sesc Pinheiros, em São Paulo, e numa festa no Rio do músico Max Viana, filho de Djavan (“um DNA que eu amo muito”, ri, sem saber se o pai de Max, um de seus ídolos máximos, já ouviu seu disco). Em fevereiro, verá o lançamento do álbum do projeto Acorda Amor, idealizado pela jornalista Roberta Martinelli e pelo produtor e baterista do grupo Bixiga 70 Décio 7, do qual participou ao lado das cantoras Maria Gadu, Letrux, Luedji Luna e Liniker. O ano de Xênia será intenso.

“Emocionalmente eu sempre fui uma pessoa muito frágil, e o meu primeiro disco me deu um certo lastro, eu pude abordar coisas que me fizeram colocar alguns monstrinhos na mesa para trocar uma ideia com eles. Ao longo deste período na estrada, pude ir trabalhando isso no palco, com as pessoas, com o público, com a minha equipe, com meus músicos. Comecei a estudar mais sobre autoentendimento, autorresponsabilidade. Quero curar, tratar com compaixão, carinho e amor os traumas da vida, a respeito da minha ancestralidade preta, da minha presença como mulher no mundo, da minha vida infantil... Já passei por um portal e estou me preparando para passar por outro.”

“Emocionalmente eu sempre fui uma pessoa muito frágil, e o meu primeiro disco me deu um certo lastro, eu pude abordar coisas que me fizeram colocar alguns monstrinhos na mesa para trocar uma ideia com eles. Ao longo deste período na estrada, pude ir trabalhando isso no palco, com as pessoas, com o público, com a minha equipe, com meus músicos. Comecei a estudar mais sobre autoentendimento, autorresponsabilidade. Quero curar, tratar com compaixão, carinho e amor os traumas da vida, a respeito da minha ancestralidade preta, da minha presença como mulher no mundo, da minha vida infantil... Já passei por um portal e estou me preparando para passar por outro.”

LEIA MAIS: Reveja uma reportagem do site da UBC sobre o afrofuturismo, movimento do qual Xênia é adepta e que defende o vanguardismo da África. ubc.vc/AfroFuturo