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THIAGUINHO, ANO 19

Cantor e compositor chega à ‘maturidade’ musical enquanto ajuda a reinventar o pagode, agora mesclado a rap, R&B e eletrônico, e ganha status de artista de massas com festa-show que viajou por todo o país

por_ Kamille Viola do_ Rio

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fotos_ Eduardo Bravin

E lá se vão 18 anos desde que Thiaguinho surgiu como um dos nomes mais promissores da então forte cena do pagode dos anos 90. Após o estouro no reality show “Fama”, em 2002, entrou para o grupo Exaltasamba, onde trilhou sua carreira pela década seguinte. Desde 2012 em voo solo, lançou logo no início o disco ao vivo “Ousadia & Alegria”, título que se transformaria numa espécie de mantra seu.

Agora, prestes a completar 37 anos de vida, não só surfa na onda do resgate do pagode como contribui para reinventá-lo, fundindo-o a rap, R&B e música eletrônica, fruto da recente união com o megaprodutor Dudu Borges. É a “maioridade” artística do inventor da festa Tardezinha, um sucesso de público que viajou literalmente por todo o país e ajudou a colocálo num novo patamar como artista de massas.

É SEMPRE INCRÍVEL VER AS MÚSICAS CONQUISTANDO AS PESSOAS.

Thiaguinho

Seu mais recente lançamento, o álbum “Vibe” é o primeiro trabalho do artista com músicas inéditas desde “Só Vem!”, de 2017. “A recepção está maravilhosa! É sempre incrível ver as músicas conquistando aos poucos as pessoas. O povo cantando nos shows... Estou hiperfeliz com a receptividade do público. Foi tudo feito com muito carinho e dedicação”, diz Thiaguinho. O show conta ainda com sucessos mais antigos seus, como “Ponto Fraco”, “Ainda Bem” e “Domingando”, que, conhecidos também pelas novas gerações de apreciadores do pagode, denotam a renovação de público do gênero.

“Vibe” também conta com um registro audiovisual, gravado na Casa das Caldeiras, em São Paulo. A cada semana, uma nova faixa foi lançada no canal de Thiaguinho no YouTube. A primeira delas, “Deixa Tudo Como Tá”, publicada em 2 de agosto de 2019, já tem 20 milhões de visualizações.

A fusão do pagode a gêneros de sotaque mais internacional que ele promove em “Vibe”, aliás, deveu-se à boa sintonia entre Prateado, referência no pagode e produtor de Thiaguinho há anos, e Borges, conhecido por seu trabalho com grandes nomes do sertanejo e do pop.

“O Dudu Borges é um dos caras que mais admiro musicalmente produzindo. Eu o trouxe ao trabalho justamente porque a visão dele é o mundo. Ele tem um ponto de vista bem parecido com o meu em relação à música. Conhece muita coisa e é muito talentoso. Somou demais com o Prateado, que já produzia meus álbuns. Poder contar com os dois maiores produtores musicais do Brasil no mesmo álbum é um privilégio”, anima-se o cantor e compositor. A música “Se Der Rolo” conta também com Laudz e Zegon, da dupla de produtores Tropkillaz.

Desta vez, Thiaguinho canta sozinho nas 12 faixas, contrariando um dos grandes modismos do momento, o feat, ou participação especial de um artista conhecido. “Na minha visão, a música escolhe o convidado no álbum. Não teve nenhuma nesse disco que me chamasse atenção nesse sentido. Sou muito a favor das colaborações e tenho grandes amigos com quem ainda quero cantar, mas tem que ter a ver”, define.

Para Marcelo Soares, diretor-geral da Som Livre, não é por acaso que o cantor e compositor vem construindo uma trajetória de sucesso. “Thiaguinho é um artista que sabe exatamente o que quer com a sua música, tem uma personalidade que o torna isento a modas e tendências, tem um trabalho sólido que é pessoal e totalmente autêntico”, enumera. “Além disso, é uma pessoa adorável, simples e de uma integridade absoluta. Não é só um artista carismático nos holofotes, é daquelas pessoas que você quer sempre encontrar para bater papo e falar de futebol e da vida. Não é fácil encontrar alguém assim”, elogia.

Nada mais esperado que se tornasse uma celebridade diligentemente seguida pela imprensa. Em 2011, começou a namorar a igualmente carismática atriz e apresentadora Fernanda Souza, com quem se casou em 2015. Juntos, ambos formaram uma parceria pessoal e profissional marcada por uma planificada exposição publicitária. Em outubro do ano passado, eles se separaram. Mas Thiaguinho, que é amigo de famosos como o jogador Neymar, conseguiu manter o foco na criação artística, com a ajuda de uma boa equipe de marketing. Enquanto viaja com seu atual show pelo país, diz pensar em novos planos musicais.

Sabe-se que continuará alternando seu show com apresentações acústicas, como já vinha realizando. E planeja um novo disco, em espanhol — língua que fala por ter crescido em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai —, possível porta de entrada para um mercado mais amplo, latino-americano. “Dois mil e vinte é o ano do ‘Vibe’”, centra-se, por ora. “Ao longo do ano, vou pensando em novos planos.”

VEJA MAIS Os registros visuais do álbum “Vibe” ubc.vc/Vibe

THIAGUINHO É UMA PESSOA ADORÁVEL, SIMPLES E DE UMA INTEGRIDADE ABSOLUTA.

Marcelo Soares, Som Livre

TARDEZINHA, UM INÍCIO DESPRETENSIOSO

O encerramento da turnê Tardezinha foi em grande estilo, no dia 15 de dezembro, com uma apresentação para 40 mil pessoas no Maracanã. Ao todo, o projeto passou por 51 cidades do país e teve 163 edições, recebendo cerca de um milhão de espectadores, além de ter rendido dois álbuns ao vivo, “Tardezinha” e “Tardezinha 2”, lançados pela Som Livre em 2017 e 2018.

Também deu origem a uma série da GloboPlay, prevista para este ano, mas ainda sem data de estreia. Ela será dividida em quatro episódios e trará imagens do show no Maracanã e dos bastidores, além de mostrar depoimentos de Thiaguinho, da equipe e de convidados.

“A Tardezinha foi um dos maiores projetos da minha carreira e, com certeza, ficará eternizada no coração das pessoas e no meu. Fiquei superfeliz com a ideia de ela virar uma série na GloboPlay... Vai ser bacana as pessoas entenderem o evento e tentarem descobrir por que deu tão certo”, espera Thiaguinho.

Nada mal para um projeto que surgiu despretensiosamente. Ele gravava um programa no Rio nos domingos à noite quando, conversando com o ator Rafael Zulu, seu amigo — que viria a se tornar seu parceiro na empreitada —, Thiaguinho teve a ideia de fazer um projeto no Rio nas tardes de domingo, já que era o único horário que tinha disponível na época.

A festa estreou em maio de 2015, para 400 pessoas, numa temporada de quatro semanas num clube da Barra da Tijuca. Logo, a ideia estaria ganhando outros dias da semana e outros estados. No show, o artista misturou hits de sua carreira com sucessos do pagode dos anos 90 e 2000. A cada edição, recebia convidados especiais. Passaram pelo projeto desde nomes do pagode, como Péricles (também ex-Exaltasamba), Rodriguinho (do grupo Os Travessos), Alexandre Pires, Belo e Ferrugem, até ídolos de outros gêneros musicais, como Iza, Ludmilla, Rael e Di Ferrero.