Notícias do Mar n.º 384

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Pesca Desportiva

ços, que tem a ver com os nossos sensores de equilíbrio, de erros de informação ao cérebro sobre a posição do corpo, e que é uma reacção orgânica muito corrente e normal. Continuou deitado. Daí a pouco, o Marcão irrompia fora do porão do barco como os touros aparecem nas ruas de Pamplona, nas festas de S. Firmin: completamente desembolado e em corrida acelerada. Meteu um pé dento de um balde que eu tinha colocado com água do mar, para lavarmos as mãos. Mais uma sessão de vomitar o que tinha e o que não tinha. _ Vocês querem ir embora? Perguntei eu, a antecipar a fase seguinte, enquanto o ajudava a desencravar o balde do pé. _ Vitor, o Marcão aguenta, ele é forte….dizia o Evandro, interessado em fazer mais uns peixes. Olhei pelo canto do olho para o brasileiro almareado. Estava deitado no poço do barco, a babar-se e a vomitar amarelo por cima do peito. A argamassa desliza-

va devagar para as calças. De olhos fechados, respirava pausadamente num sofrimento atroz. Saiam uns sons guturais da sua boca, e de quando em quando, mais um pouco de massa amarela escorria-lhe pelo pescoço abaixo. Voltei a perguntar: Não querem mesmo ir embora? _ Não Vitor, ele está bem. Olha aí, dá para o Marcão uma cerveja, que ele anima. Passei-lhe uma lata de cerveja que deu pelo menos para o brasileiro bochechar e lavar a boca do sabor amargo da bílis. Daí a poucos minutos, outra vez um ataque de vómitos, outra vez o Marcão aflito. Já só saia uma pasta amarelada e pouco mais. A má disposição tinha-o completamente prostrado, sem forças para sequer levantar a cabeça. Os olhos fechados a respiração ofegante, eram para mim sinais mais que evidentes que teria de tomar uma decisão. Resolvi levantar âncora,

Duas camas, para quem quer ir para o pesqueiro a dormir, ou pelo menos a descansar 2018 Dezembro 384

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