Notícias do Mar n.º 345

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Notícias do Mar

Conhecer e Viajar Pelo Tejo

Entrevista Carlos Salgado

“Existe na Administração Pública uma Grande Inércia Operacional” O meu entrevistado é o Eng.º José Carlos Gonçalves Viana que desde novo sentiu um forte apelo do mar, cujo currículo de nauta de recreio e profissional, falam por si

O

Eng.º José Carlos Gonçalves Viana

Festival náutico na Austrália 36

2015 Setembro 345

curso de Marinharia no navio “Lidador” cerca de 1947 e 1948, as tentativas frustradas por falta de vagas para engenheiro naval em 1949,50 e 51, e depois só em 1971 quando entrou para a Administração da Empresa Insulana de Navegação através da Sociedade Financeira se iniciou na atividade marítima profissional. Até então tirou o curso de Patrão de Costa e tinha dois barcos à vela e motor, um com menos de 4m de comprimento e outro uma canoa algarvia com vela de espicha. Após a revolução ocupou o lugar de Presidente da CTMresultante da fusão da EIN com a CCN e em Julho de 1974 foi requisitado para ser o primeiro Secretário de Estado da Marinha Mercante donde saíu em Março de 75. Depois de uma passagem rápida por atividades piscatórias em Angola, agente marítimo no Brasil e Presidente de uma empresa de pesca em Lisboa foi Secretário de Estado das Pescas onde se conseguiu produzir um Plano Nacional de Pescas para preparar o País para a entrada na CE mas que não foi aprovado e por isso demitiu-se. De 1983 a 1991 foi Presidente da Soponata onde tentou recuperar desenvolvimento de atividades marítimas mas sem sucesso pois a empresa foi impedida de as realizar e foi privatizada, isto é, em termos práticos destruída. Entretanto esteve ligado à fundação da Rinave, da Aporvela, da Bandeira Azul e foi Presidente da Associação Naval de Lisboa durante um mandato. Em 1984 entrou para a Sociedade de Geografia de Lisboa, de que fez parte da Direção de 85 até 2015, e para a Academia de Marinha onde também pertenceu à Direção durante alguns anos. Em 1987 foi Presidente da Ass. Amigos do Tejo até 1989, e presidiu ao I Congresso do Tejo de 1987, onde fizemos amizade. Produziu

algumas dezenas de artigos publicados e comunicações sobre temas marítimos. De facto é uma vida dedicada ao mar. CS- Perante a evidente decadência da náutica de recreio em Portugal, nomeadamente a vela, o que leva a juventude a preferir o surf ou a canoagem, o que pensa sobre a que se deve esta situação, e como se pode e deve revitalizá-la? GV- Antes de responder à sua pergunta quero esclarecer duas palavras que usou: preferir e decadência, pois a primeira não corresponde à realidade porque na verdade não têm acesso ao uso de embarcações e julgo não se poder falar em decadência de algo que nunca houve em condições aceitáveis. CS- Bom, de facto é assim, e como vê esta realidade e como melhoramos a situação? GV- De facto nunca tivemos uma náutica de recreio como existia em muitos países europeus e nos antípodas. Havia alguns, poucos, clubes e houve em tempos o centro da Mocidade Portuguesa em Algés onde se formaram vários campeões de vela. Por outro lado havia no Tejo um número elevado de embarcações, segundo parece entre 35.000 e 50.000, desde fragatas a pequenas embarcações que serviam de meios de transporte vital pois não havia pontes, nem estradas e toda a vida era processada de barco. Mas as alterações que se processaram desde a construção de pontes e estradas até à estrutura económica do país tornou este sistema de transporte obsoleto e hoje pouco mais há que as embarcações da Marinha do Tejo do Prof. Carvalho Rodrigues. Deve notarse que aqueles milhares de embarcações não eram de recreio mas antes de necessidade para sobreviver. Ora para haver náutica de recreio que não seja só de luxo, é essencial a existência de acesso fácil e barato à água


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