Notícias do Mar n.º 331

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Notícias do Mar

Toiro Adulto

Garraios-Novilhos

muito especial, onde o perigo e a morte estão sempre presentes, onde o homem inteligente burla a ferocidade do touro, a sua bravura, a sua acometida. Tal como nas artes marciais o toureiro usa a força brutal do touro em seu benefício, estabelecendo com ele um binómio móvel e fluido, em que os movimentos se foram refinando ao longo dos séculos, atingindo uma coreo-

grafia quase balética na tauromaquia actual. Querem acabar com aqueles momentos em que o “tempo pára” como escrevia Federico Garcia Lorca. Verónicas de Rafael de Paula ou Morante de la Puebla, enrolando o touro na cintura, chicuelinas de Pepe Luis ou Paco Camino, gaoneras de José Tomas são composições artísticas vivas em que o binónio tou-

Manuel César Rodrigues (ao centro) dá a volta à arena pela nobreza do seu curro

ro-toureiro forma esculturas efémeras mas que perduram para sempre na memória dos aficionados. Os cites de poder a poder de Mestre João Núncio, as reuniões ao estribo de Mestre Simão da Veiga, os quarteios de Pablo Hermoso ou Diego Ventura são momentos que só são disfrutáveis por quem os testemunhou. A tauromaquia tem-se vindo a adaptar à vida e tem-se transformado ao longo dos séculos. De espectáculo onde o objectivo único era a morte ritual do touro, passou a um outro em que a morte do touro é apenas o corolário final da lide. O importante é a lide e dentro dela realçam-se os aspectos artísticos, o deleite estético, o respeito pelo touro que fornece ao espectáculo o risco permanente. Na nossa lezíria ribatejana mantêm-se vivos, quer na cultura quer mesmo na linguagem

do dia-a-dia, termos que vêm da tauromaquia o que atesta a importância desta arte/tradição na vida das pessoas. Quem nunca ouviu “não carregues a sorte”, “em piores praças toureei”, “mais cornadas dá a fome”, “pegar o touro pelos cornos”, “emendar a mão” ou “sair pela porta grande”? Não pretendo que todos os portugueses se tornem aficionados mas acho que posso exigir a todos os portugueses que permitam que os que o são, continuem a sê-lo. Como democrata tenho o dever de lutar pela liberdade de todos, tanto a dos que são contra a tauromaquia como a dos outros, que como eu, são aficionados. A liberdade é feita da diversidade. A um regime em que o que não é obrigatório é proibido, chama-se ditadura e se não a aceitei antes, não a vou aceitar agora.

O ganadeiro examinado as sua éguas 2014 Julho 331

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