1 minute read

Permitir-se construir narrativas e realidades, exercitar a capacidade de ficção, exercitar a capacidade de acreditar (e portanto, de interferir na realidade)

Permitir-se experimentar novos olhares e novas perspectivas, contagiado pelos olhares e perspectivas dos outros, ao ampliar nossos repertórios, inspira também uma renovação em nossa capacidade de responder, de postular, de reagir. Inspira, portanto, nossa capacidade de interferir no mundo, no entorno. Desdobrar uma poesia de um título, de um mote, ou de uma ação que se enxerga na rua também revela nossa capacidade de reagir e de interferir. E vamos ficando melhores nisso conforme seguimos exercitando.

No mais, a experiência artística também nos ensina a estabelecer caminhos, no sentido literal mesmo: nomear começos, meios e fins. Todo começo é uma ficção. Todo marco zero é uma ficção. Todo fim é uma ficção. Nomeamos um tempo-espaço para chamar de nosso. Nomeamos quem somos nesse jogo. Nomeamos quem seremos depois dele. E então acreditamos. Talvez seja sobre aprender a construir realidades, e sobre aprender a acreditar nelas.

Para além disso, o mergulho específico na produção de Miró e do Magiluth levantou reflexões importantes sobre a contemporaneidade, sobre o mundo, sobre as desigualdades, sobre os contextos de produção artística, que foram também motes para muitos debates ao longo dos encontros. Reflexões partilhadas sobre a relação com o tempo, a dinâmica da cidade, os encontros humanos, a relação entre centro e periferia e todas as suas fricções, as urgências, a rua como escola, os preconceitos que segregam, a dependência química (alcoolismo), o estar à margem, dentre outras tantas, são exemplos de como esses encontros geraram conhecimentos específicos que certamente passam a ser parte da caixa de ferramentas que mobilizamos em nossas mediações com o mundo.

Parece que a gente tá com saudades da vida. A vida não é só um ponto de vista, ela acontece.

Agora que estou me empolgando com as revelações da arte por esse prisma. Vocês nem imaginam o tanto de elementos novos para meu olhar artístico que essa convivência tem me trazido. Fico surpreso com as perspectivas dos olhares de vocês, e agrego ao meu, pois gosto de aprender a ver a mesma coisa por diferentes ângulos, o que denomino ver-além. Então levo comigo, a partir desse encontro, alguns aspectos dos olhares de vocês. Minha gratidão.

Esse trabalho fez com que eu encontrasse um tempo no meio da correria.