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Sentir-se parte; construir pontes

A “matéria” que utilizamos para exercitar nossos afetos é a mesma que utilizamos na fruição artística: trata-se, ao fim e ao cabo, da habilidade de estabelecer vínculos, de conectar-se (a algo ou a alguém). Ou, algumas vezes, de mudar as cores desses vínculos, de dar novos nomes a eles. É um tipo de apaixonar-se, descobrir e celebrar novas partilhas e comunhões. Isso envolve processos mentais, sem dúvidas, mas que também mobilizam corações, estômagos e corpos inteiros, que trazem um tipo de euforia que, muitas vezes, é mais sensível do que dizível. Conectar-se profundamente com outros seres e matérias é também “fazer sentido”; além de ser também algo que se exercita na prática, nas experiências vividas.

tivos específicos de formar públicos ou artistas. Além de um exercício estético, essa prática constitui-se, em si mesma, como um exercício político e ético.

Em cada grupo gera-se uma espécie de constelação, um microcosmo, onde é possível se construir espaços de segurança para partilhar códigos comuns e também revelar suas singularidades. Quando o grupo percorre um caminho junto, seus participantes vão se apropriando desses espaços, encontrando um ritmo próprio, construindo juntos saberes que emergem dessa configuração única – uma espécie de alma grupal, um pacto coletivo de criação que se instaura e, por si só, desencadeia processos próprios.

Incrível como desenvolvemos muito afeto nesse grupo, relações de amizade mesmo.

Estou com a sensação de estar com colegas da minha época do Colégio quando parecia que tínhamos o mesmo foco e sentíamos saudades do próximo encontro.

E mais surpreendente é que estamos a quilômetros de distância física mas tão próximos pelo coração e pelas emoções que juntos partilhamos nesses encontros.

Cada vez mais entendo o porquê que uma das primeiras ações que um regime político de exceção faz é a destruição das manifesta- ções artísticas e culturais. A arte é perigosa porque desperta consciência e une as pessoas. Até pouco tempo éramos desconhecidos uns dos outros. Agora há a sensa- ção de que ‘somos amigos desde criancinhas’.

Melhor do que eu imaginei Mas a gente sempre sai meio mexida.

Memórias

Sensações um soco na boca do estômago Mas não é negativo Obrigada pela experiência.

E exercitar a capacidade de conectar é tão bom quanto necessário nesses dias que vivemos, para além dos obje-

De cada canto do país a gente parece que é vizinho.

Toda boa fruição artística envolve uma relação sexual invisível, mas fluida, concreta e plena para todos os envolvidos.