SP INFORMAÇÃO DEZEMBRO 2011

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v. 9, n. 3, ano 2011 | Outubro - Novembro- Dezembro

É com grande satisfação que convidamos todos os sócios para participar da festa de fim de ano de nossa Sociedade. Agende-se a data está marcada para o dia 07 de dezembro, participe conosco do jantar por adesão, na Sociedade Libanesa às 20h. Maiores informações na secretaria da SPRGS.

Convite especial de final-de-ano

Convidamos a todos para se inserirem no Projeto Sociedade Solidária, extensivo a todas regionais, núcleos, comitês e sócios da SPRGS, contribuindo para uma ação solidária neste Natal. Na sede em Porto Alegre, estaremos arrecadando brinquedos, jogos e material escolar até o dia 05/12. Se você preferir as doações poderão ser entregues no jantar de confraternização, dia 07/12. Faça parte deste Projeto!

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Editorial

E

ssa é a última edição do SP Informação de 2011, fato de que só nos demos conta recentemente. É impressionante como isso nos leva a refletir e a olhar um pouco para trás, com a intenção de fazer um balanço do que ocorreu durante esse ano. A cada edição, demos grandes passos em direção de um projeto há muito acalentado, mas temos hoje a satisfação de ver que, atualmente, nosso Boletim Informativo mais se assemelha àquilo que almejamos como espaço de troca e comunicação entre os associados. É muito prazeroso ver o reconhecimento de todos – sócios e não sócios - a respeito da qualidade editorial e dos textos que veiculamos. Na vida da sociedade, os últimos três meses foram marcantes: atividades, cursos, reuniões e eventos, tanto na sede quanto nos Núcleos do Interior do Estado, como algumas das seções desse Boletim demonstram. Ao mesmo tempo que desejamos que todos tenham usufruído dessas ações renovadoras, aproveitamos para agradecer aos sócios que contribuíram com relatos, reflexões e ações durante o ano que agora encerra, compartilhando suas opiniões acerca de vários assuntos atuais. Relativamente ao SP, continuaremos convidando sócios para escreverem, mas desejamos que, nas próximas edições, mais sócios participem. Desta forma, estaremos referendando com

maior diversificação e legitimidade esse espaço de comunicação, já que o informativo é um veículo de informação da Sociedade de Psicologia RS que circula para todos os sócios, seja os da capital seja os do interior do estado. Para finalizar, gostaríamos de desejar boas festas e um final de ano tranqüilo para todos. Sabemos que é uma época exigente e com muitas demandas, mas estamos às vésperas dos preparativos da festa do final de ano da SPRGS, que nesse ano será um coquetel por adesão da Sociedade Libanesa. Você será nosso homenageado especial e nos congratularemos pelo ano que decorreu e por todos os bons frutos que colhemos dele. Agende-se e compareça! Enquanto isso, desejamos uma boa leitura! Gabriela Filipouski Luciana M. de Azevedo

Participe, com suas ideias e reflexões dos próximos SP Informativo! Veja no site as normas para publicação, ou entre em contato conosco via secretaria. Teremos o maior prazer em passar maiores informações e difundir sua colaboração!

Novos Sócios Aline Scheibel Andressa Gatto Miotto Angela Helena Marin Bruna Duarte Heidemann Débora de Moares Coelho

Fabiane Guedes Kemmerer Marcia Bitencourt Ancinelo Márcia da Rosa Batista Sáloa Maria Neme da Silva Simone Zanotelli Heissler

Suzana Assis Brasil Camila Lopes Allegretti Letícia Beck Saldanha Olga Letícia P. da Silva Sutili Rosangela A. Dalemogal Maier

Scheila M. da Silveira Becker Simone Moares Almeida

Diretora Administrativa: Norma T. de Oliveira Beck

Diretor Suplente 1: Gabriela Ribeiro Filipouski

Diretora Científica: Tânia Rudnicki

Diretora Suplente 2: Luciana Menezes de Azevedo

Diretora Financeira: Marilda Peres

SP Informação Comissão Editorial: Luciana Menezes de Azevedo Gabriela Ribeiro Filipouski Revisão: Diana Marchi

Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul Rua Felipe Néri, 414/2ºandar Porto Alegre/RS CEP 90440-150 Fone/Fax: (51) 3331-8586 E-mail: secretaria@sprgs.org.br Site: www.sprgs.org.br Tiragem: 1000 exemplares Gráfica Calábria - 3245-7222

Expediente

DIRETORIA

Diretora Sócio-Cultural: Sônia Martins Sebenelo

Presidente: Leonardo Della Pasqua

Diretora do Interior: Maria Aparecida da S. Brígido

Vice Presidente: Diego Villas Boas da Rocha

Diretora do ExercícioProfissional: Viviane L. Pickering

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Projeto Gráfico: Grau Soluções Gráficas www.grausolucoes.com.br Os artigos e opiniões são de inteira responsabilidade dos autores.


Palavra do Presidente

U

m ato falho da Luciana Azevedo - editora desse informativo e membro da diretoria – descreve o início de nossa gestão. Em uma reunião, declarou: “Pô Léo, já são 6 meses de gestão.” O interessante da frase é que se haviam passado apenas 3 meses de gestão, quando ela foi dita. Estamos tão completamente engajados e comprometidos, que nos impressionamos com o quanto foi feito em tão pouco tempo. A revista da SPRGS se transformou! Nossa diretora científica trouxe Mary Sandra Carlotto e Adolfo Pizzinato, para os cargos de editor e editor associado da revista. A comissão científica da revista também foi reestruturada. Agradecemos a participação da Luciana Maccari Lara e equipe pelo trabalho realizado. Na 57ª Feira do Livro de Porto Alegre, será lançada a versão impressa da revista da SPRGS. Até o final do ano, teremos também o lançamento da revista em versão completamente digital. Nossos projetos na área social crescem. O Núcleo de Intercâmbio com a Comunidade (NIC) aprimorou sua atuação na Vila Parque Santa Anita. Sonia Sebenelo intensificou a atuação na Vila Caddie, e vem realizando um projeto de palestras gratuitas nas escolas, com temáticas da violência, com vistas a promover a educação continuada dos professores que atuam naquela comunidade e a estreitar a relação com familiares e responsáveis.

A biblioteca passa por uma profunda reestruturação. Identificamos situações que merecem melhor atenção por parte da Sociedade, visando aumentar a interação com a comunidade e disponibilizar ao associado a informação completa e criteriosa de nosso acervo. Os comitês estão apoiando nossas iniciativas e participam ativamente das reuniões com a comissão científica da gestão. Uma boa colaboração se estabeleceu entre a diretoria e eles, que são a “alma da entidade”. Estamos em pleno processo de mudança da identidade visual da SPRGS. Em breve, teremos um novo logotipo. Nossos contatos com o Conselho Regional de Psicologia (CRPRS) e o sindicato dos psicólogos (SIPERGS) têm sido reforçados. Um exemplo disso foi a recente manifestação em conjunto, através de um anúncio apedido, respondendo a um texto do sindicato dos médicos (SIMERS), que fazia uma comparação entre a Psicologia e a Psiquiatria. Nossa gestão vai a galope! Nossas energias são consideráveis! Estamos apenas começando... Um abraço afetuoso. Leonardo Della Pasqua

Notícias

A

pós escrever um artigo cientifico, a escolha da revista onde publicar é o desfecho final, sempre programado com cautela. A escolha da revista é feita com base no perfil desejado pelo autor para dar difusão às suas ideias. O objetivo da RevSPRGS não é somente o publicar pesquisas voltadas para a área acadêmica, mas favorecer a transferência de conhecimento por meio de publicações que apresentem diversas temáticas atuais vistas a partir do olhar da Psicologia. Nosso entusiasmo é grande, tendo em vista o grande número de artigos que recebemos neste curto espaço de tempo, de vários cantos do país. O Brasil possui um grupo crescente de pesquisadores de reconhecimento internacional e o número de leitores cresceu exponencialmen-

te, até mesmo para publicações especializadas. Por isso, ao decidirmos mostrar a todos o ponto de vista da Psicologia, queremos contar com a participação do associado, na divulgação das reflexões que surgem da convivência de nossa comunidade. Em 2011, serão lançados dois números da nossa Revista. Um será impresso, com a temática da “Sexualidade”. Foi organizado pela colega Iara Anton para ser lançado na Feira do Livro de Porto Alegre, no já agendado, dia 10 de novembro. O outro será nosso primeiro numero digitalizado, com uma forte base eletrônica, o que permite acesso rápido e a custo zero. Desta forma, a Revista inicia a ser bianual. Ao torná-la digital, a intenção é que ela possa ser disponibilizada para toda

comunidade cientifica, indexada nas principais bibliotecas virtuais do mundo, tornando a Sociedade cada vez mais visível e atingindo um número cada vez maior de leitores. Desta forma, a Revista da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul, visando garantir o grau de excelência dos trabalhos que publica vem convidá-los a participar desta trajetória. Em nosso site você encontrará as instruções completas para envio de colaborações. Tânia Rudnicki

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Interiorizando

As realizações dos núcleos do interior

O

trabalho realizado pela Diretoria do Interior, neste início de gestão, tem priorizado o encontro com os Núcleos das cidades que reúnem sócios da SPRGS. As cidades que já realizaram esta atividade foram Santa Cruz do Sul e Caxias do Sul. Em Santa Cruz do Sul, a SPRGS esteve presente, juntamente com Viviane Pieckering, Diretora do Exercício Profissional, de atividade da Semana Acadêmica da Universidade de Santa Cruz. Na ocasião, apresentei o tema “As manifestações dos sintomas entre alcoólicos e não alcoólicos” na roda de conversa organizada por alunos de Psicologia da Universidade. Houve também oportunidade de expor as atividades que são oferecidas pela SPRGS a todos os sócios e os alunos foram convidados a se integrarem ao Núcleo de Estudantes da Sociedade. A coordenadora Patricia Knak está iniciando a organização do referido Núcleo e já conta com a participação de alguns sócios psicólogos e outros tantos alunos de Psicologia. Na cidade serrana de Caxias do Sul, a coordenadora Cátia Dall´ Agno está à frente de várias atividades científicas e tem a colaboração da Universidade de Caxias do Sul para implementar propostas de Comitês de Psicologia Hospitalar e Infância. O Núcleo de Caxias do Sul está em atividade há 10 anos e mantém atividade regular e reconhecida na comunidade. Em reunião com psicólogas re-

presentantes do Núcleo (Cátia, Marina, Denise e Patrícia), juntamente com o presidente Leonardo Della Pasqua e a diretora científica Tania Rudnicki, foi discutido o Planejamento Estratégico do Núcleo. A cidade de Uruguaiana, que este ano deu início a seu Núcleo, vem ativamente organizando eventos científicos com muito sucesso. A coordenadora Alexandra Mascia, juntamente com Vivan D´Avila, já realizou um curso, denominado Brincar É Coisa Séria e uma atividade sobre as primeiras relações mãe/bebê. Para

Estamos trabalhando para continuar difundindo as atividades e realizações nas cidades do RS, conforme os projetos que a diretoria 2011-2013 tem se proposto. A Diretoria do Interior trabalha para se integrar aos trabalhos das demais diretorias, como a Revista da Sociedade de Psicologia, que está de cara nova e se tornará indexada.

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o início de 2012, já existem preparativos para uma Jornada. Vivian D´Ávila coordena o Comitê de Infância. A cidade de São Leopoldo já realizou, em 2011, uma série de eventos científicos que proporcionaram aos sócios e não sócios atividades bem diversas. Entre elas, destacam-se as apresentações do Comitê de Psicanálise, coordenado por Rosana Steffen, a abertura do Comitê de Políticas Públicas, coordenado por Gabriela Kunz Silveira e a comemoração do dia do Psicólogo com palestras de quatro psicólogas que são escritoras: Eurema Gallo de Moraes, Mônica Kother Macedo, Iara Camaratta Anton e Morgana Saft, abordando o tema Criar e Produzir: A Escuta e a Escrita nas Diferentes Expressões do Psicólogo. Estamos trabalhando para continuar difundindo as atividades e realizações nas cidades do RS, conforme os projetos que a diretoria 2011-2013 tem se proposto. A Diretoria do Interior trabalha para se integrar aos trabalhos das demais diretorias, a começar pela Revista da Sociedade de Psicologia, que está de cara nova e se tornará indexada. É uma oportunidade, especialmente para professores das Universidades do interior que precisam também cuidar de sua carreira acadêmica, poderem, a um só tempo, difundir suas ideias e fortalecer sua sociedade de classe. A intenção dessa diretoria de expandir contatos com as Universidades do RS se mantém: depois da UNISC, já temos encontro marcado com a UNILASALLE, ainda para este ano. É a forma que escolhemos para difundir nosso trabalho, trocar ideias, consolidar o exercício profissional e abrir a Sociedade à participação de novos sócios. Maria Aparecida da Silveira Brígido


Espaço Científico

Donald Winnicott, um pensador a ser constantemente encontrado e usado

cita Freud, para quem o resultado seria algo menos de inconsciente e mais de consciente do que antes; Klein, como a elaboração das ansiedades esquizo-paranóides; Lacan, como a destituição subjetiva e atravessamento do fantasma; e comenta que Winnicott opta pelo jogo, acreditando que somente pela aproximação das dimensões criativas da vida psíquica poderemos definir metas legítimas, inerentes a cada processo psicanalítico. Em 1907, esta idéia do brincar já estava sugerida por Freud, quando escreveu sobre Escritores Criativos e Devaneios:

“É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral; e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o seu eu (self).” ( 1975, p.80) Quando recebi o convite para escrever este texto, pensei na razão primeira que me aproximou do pensamento de Donald Winnicott, desde que iniciei a prática clínica. Atribuo este amor à primeira vista ao reconhecimento, em suas idéias, da perspectiva de trabalhar com a liberdade, a criação e a autonomia. Winnicott nos fala de simbolizações abertas, criadas no entre da relação, numa área de fenômenos transicionais, um espaço onde o bebê pode integrar sentimentos ambivalentes, separar externo do interno, fazer um uso criativo do objeto. Em um artigo intitulado Para pensar a criatividade em Psicanálise (1994), Luis Hornstein comenta que todos nós, analistas, coincidimos com a idéia de que um projeto terapêutico implica uma transformação do sujeito. Mas como entender esta transformação? Hornstein

“Será que deveríamos procurar já na infância os primeiros traços da atividade imaginativa? A ocupação favorita e mais intensa da criança é o brinquedo ou os jogos. Acaso não poderíamos dizer que ao brincar toda a criança se comporta como um escritor criativo, pois cria um mundo próprio...”

“Será que deveríamos procurar já na infância os primeiros traços da atividade imaginativa? A ocupação favorita e mais intensa da criança é o brinquedo ou os jogos. Acaso não poderíamos dizer que ao brincar toda a criança se comporta como um escritor criativo, pois cria um mundo próprio, ou melhor, reajusta os elementos do seu mundo de uma nova forma que lhe agrade? Seria errado supor que a criança não leva esse mundo a sério; ao contrário, leva muito à sério sua brincadeira e despende na mesma muita emoção. A antítese do brincar não é o que é sério, mas o que é real. Apesar de toda a emoção com que a criança catexiza seu mundo de brinquedo, ela o distingue perfeitamente da realidade, e gosta de ligar seus objetos e situações imaginadas às coisas visíveis e tangíveis do mundo real.” (Freud, 1907) Winnicott teve uma vasta experiência como pediatra e também como psicanalista, e isto lhe possibilitou abrir um campo observacional amplo, especialmente do vínculo mãe/bebê. É conhecida a sua expressão de que “não há tal coisa como um latente”, significando que sempre que se encontra um latente se encontra um cuidado materno. A partir destas observações, estrutura sua teoria do amadurecimento, onde o sujeito passa de uma dependência absoluta, a uma dependência relativa, buscando a integração do self. Seu pensamento vai ampliar a compreensão do estágio do desenvolvimento humano que precede as relações de objeto. Com Winnicott, quebra-se o paradigma baseado no papel estruturante do Complexo de Édipo e na teoria da sexualidade. Para ele, o que se interpõe à aquisição

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Espaço Científico

da saúde psíquica não é da ordem sexual, mas uma perturbação no amadurecimento emocional . O ambiente passa a ter importância decisiva no surgimento dos distúrbios psíquicos. Conforme observa Zeljko Loparic (2008), o resultado desta mudança paradigmática conduziu Winnicott a ampliar e modificar substancialmente o conceito de clínica psicanalítica, descrevendo três variedades de psicoterapia: a das psicoses, a das depressões reativas e das neuroses e a das tendências anti-sociais. Discordando de Freud, ele acredita que o tratamento com psicóticos é possível, se o objetivo estiver ligado não à satisfação dos impulsos do id, mas à vivência de um holding que permita a regressão à dependência, fenômeno essencialmente distinto da regressão aos pontos de fixação da libido. Winnicott costumava dizer que fazia psicanálise quando possível; quando não, fazia outra coisa, mas sempre de seu lugar de psicanalista. Em seu trabalho clínico, podemos observar um analista que se oferece como objeto constante, contínuo , integrador, ativamente participante no enquadre, dando sustentação a estados desorganizados do eu. Sustentar, conter, ser e sonhar, é desta forma poética que Thomas Ogden (2010) introduz um capítulo que discorre sobre o conceito de holding de Winnicott. Nele, observa que este é um conceito ontológico, que se liga, antes de mais nada, com o ser e sua relação com o tempo. A mãe teria o papel de proteger a continuidade do ser do bebê, mantendo a ilusão de onipotência, que é o espaço potencial necessário para surgir a experiência do tornar-se. O destino desta vitalidade, para Winnicott, depende, em grande parte, da expressividade não intrusiva da mãe e da capacidade do ambiente de acolher estados excitados e sustentar momentos de relaxamento. Penso que vem daí a crescente valorização do pensamento de Winnicott na psicanálise atual, pois a compreensão de seu pensamento nos oferece mais subsídios para lidarmos com as patologias em que um sujeito precisa criar-se. A potência dos vínculos e a influência do ambiente na estruturação psíquica são aspectos que têm prioridade no seu pensamento. Entre vários conceitos, criou o de espaço potencial, esta “terceira área do viver humano, uma área que não se encontra nem dentro do indivíduo nem fora, no mundo da realidade compartilha-

da” ( Winnicott,1975, p.152) . Propõe não subestimar nem o mundo interno, nem a realidade, priorizando a sobreposição dos dois, no vir a ser compartilhado entre a mãe e o bebê. Ele mesmo observa: “A característica especial deste lugar em que a brincadeira e a experiência cultural têm uma posição, está em que ele depende, para sua existência, da experiência do viver, não de tendências herdadas”( Ibid,1975,p.150). Para poder usufruir deste espaço, é necessário que o bebê tenha adquirido confiança na fidedignidade da mãe. Só com essa confiança básica é possível ocorrer o estado de relaxamento necessário para o surgimento do brincar criativo. Winnicott atribui aos fenômenos transicionais uma índole paradoxal, na medida em que se trata de uma área de ilusão, efeito da onipotência do pensamento, que necessita paralelamente da presença real da pessoa protetora que, dá validade à crença no criar. Explica: “A mãe coloca o seio real exatamente onde o bebê se acha

Vivenciamos em nossos consultórios a presença freqüente de pacientes com queixas vagas e difusas e tornase imprescindível encontrarmos e usarmos os conceitos de Winnicott, sua experiência e crença em uma nova edição dos vínculos.

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disposto a criar, fazendo vivenciá-lo como parte de seu próprio corpo”. (1988, p402) A particularidade da concepção de Winnicott, diz respeito à sua confiança no potencial deste espaço, como algo que, se não interrompido, se encaminha para a vida. Seus estudos mostram que, entre o eu e o não-eu, o mundo interno e o mundo externo, o subjetivo e o objetivo, o real e o imaginário, o dentro e o fora, o percebido e o criado, não existem limites estanques. É justamente esta dialética que ocorre entre o par ilusão-desilusão, um dos pilares da obra winnicottiana e que nos abre a possibilidade de um olhar criativo para o viver. Como hoje vivenciamos em nossos consultórios a presença freqüente de pacientes com queixas vagas e difusas, com impossibilidade de sentir, com um empobrecimento nas relações afetivas, com tendência a se alienarem do mundo, tornando-se meros espectadores, ou com angústias impensáveis, ameaças de desintegração, despedaçamento ou de falta de coesão psicossomática, torna-se imprescindível encontrarmos e usarmos os conceitos de Winnicott, sua experiência e crença em uma nova edição dos vínculos. Para concluir, transcrevo um poema de Winnicott, chamado Sono, que reflete seu modo oxigenado de ser e estar no mundo: Deixe que a sua raiz vá ao fundo de sua alma Sugue a seiva da fonte infinita de seu inconsciente e permaneça sempre verde. (Explorações Psicanalíticas,1994) Luisa Rizzo Referências Bibliográficas: FREUD, S., “Escritores Criativos e seus Devaneios” ( 1908 [1907]), Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, volume IX,Imago EditoraLtda, RJ.1969. HORNSTEIN, L. , “Para pensar La creatividad em Psicoanalisis”, Revista Aberta de Psicoanalisis y Pensamiento Contemporaneo Zona Erógena, Publicacion Universitaria Bimestral/ Verano 94, 17. LOPARIC Z. “O Paradigma winnicottiano e o futuro da Psicanálise”, Revista Brasileira de Psicanálise”, vol 42, N.1- 2008 OGDEN,T.”Esta arte da Psicanálise - Sonhando Sonhos Não Sonhados e Gritos Interrompidos”, Artmed Editora, Porto algre, 2010. WINNICOTT, D. “O Brincar e a Realidade”, Imago,RJ,1975 - “Textos Selecionados- Da Pediatria à Psicanálise”, Livraria Francisco Alves Editora AS, RJ, Terceira Edição, 1988. WINNICOTT, C. SHEPHERD, R., DAVIS, M. ,“Explorações Psicanalíticas D.W. Winnicott”, Artmed Editora, Porto Alegre, 1994


Núcleos

NESP - Núcleo de Estudantes É tempo de mudança e bons ventos sopram a favor do NESP. Desde a posse da nova diretoria, o núcleo participou de várias atividades e tem novos projetos em andamento. Em agosto, realizamos uma roda de conversas com os ex-presidentes da Sociedade, em comemoração ao dia do Psicólogo, e dialogamos com o Sr. Francisco Pedro, sócio fundador, que destacou a importância dos trabalhos sociais, idéia que encontra ampla ressonância no Núcleo. Nesse sentido, já realizamos uma

ação de orientação educacional, na Escola Don Luis Guanella com os colegas Lisiane Cardarelli e Diogo Kleper, com a duração de 10 horas, distribuídas em 5 encontros. Também, com o objetivo de desenvolver um projeto de intervenções psicossociais, iniciamos, no Lar de Idosos D.L.Guanella, visitas para coleta de histórias e experiências de vida. Muitos alunos têm se interessado por nossa movimentação e recebemos duas visitas orientadas de turmas de estágio

do IPA e da ULBRA, que vieram conhecer a estrutura da Sociedade, o funcionamento e os projetos do NESP. Temos ainda muitas idéias a concretizar, para propiciamos um pouco de conforto ao outro e precisamos de parceiros interessados em fazer a diferença. Se você estudante, compartilha desse interesse, venha somar forças nessa caminhada rumo ao conhecimento! Ana Carolina A. Cardoso Richard Assimos

NIC - Núcleo de Intercâmbio com a Comunidade No último mês de julho, ocorreu a comemoração dos 30 anos de fundação da Associação de Moradores da Vila Santa Anita, onde estão inseridas as atividades do NIC. Por ocasião do jantar comemorativo, seu Presidente, o Sr. Juarez Souza de Oliveira, agradeceu à Sociedade de Psicologia pela parceria e colaboração durante estes últimos oito anos. Durante este período, várias colegas, representantes da Sociedade, iniciaram e solidificaram o trabalho de Psicologia que é reconhecido pela Associação.

Nosso grupo tem mantido este compromisso com responsabilidade, não apenas dando continuidade ao trabalho junto à Comunidade, mas também unindo esforços para incrementar as abordagens e planejar outras ações nas áreas da prevenção e promoção da saúde mental. Neste sentido, temos presente a importância de ampliar capacidades e potencialidades das pessoas vinculadas a este atendimento, com o objetivo de encontrarem alternativas para enfrentar a vulnerabilidade psicossocial e buscar melhora da qualidade de vida.

Temos a colaboração da atual gestão, que vem incentivando a formação de Núcleos e a expansão dos Comitês envolvidos com projetos sociais. Para o embasamento e encaminhamento do nosso Projeto, iniciamos o estudo de leis e resoluções de Ministérios Públicos. Se você tiver interesse em conhecer e partilhar de nossas realizações, junte-se a nós, o NIC está aberto para acolher novos integrantes Norma Beck

NRF - Núcleo de Recém-Formados O inicio da trajetória de um jovem profissional exige muito estudo, dedicação e empenho. Mas estas características não são protetoras dos questionamentos e duvidas que este período suscita. Em função da complexidade deste momento a SPRGS possibilita que estes jovens profissionais possam participar do Núcleo de Recém Formados, onde o grupo que o integra vem pensando o exercí-

cio profissional, sua pratica, as diferentes possibilidades de atuação e debate questões relacionadas com a Psicologia, à ética profissional e o papel do psicólogo na sociedade contemporânea. Juntos poderemos discutir questões como: De que forma o profissional pode se inserir no mercado de trabalho? Quais as demandas que a Psicologia é convocada? Qual o papel do psicólogo nos vários

contextos de atuação? Como a Psicologia dialoga com outros saberes? Entendemos que a riqueza deste espaço é propiciar a reflexão de temas que suscitam algumas inquietações no inicio da pratica profissional, bem como a troca de experiência. Venha participar e pensar conosco destas discussões. Viviane Pickerin Diretora do Exercício Profissional

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Interdisciplinar

Cuidando dos livros

M

esmo que os brasileiros não sejam grandes consumidores de livros, cada um de nós já teve oportunidade de lidar com este tipo de material. Alguns, inclusive, compram livros com frequência. Contudo, apesar de terem sido feitos para serem utilizados, muitos livros acabam sendo vítimas do próprio uso, desgastando-se. O que fazer, então, para que durem por mais tempo? O primeiro passo, e mais importante, é saber como se deve manusear um livro: ao lermos um livro – nosso, emprestado de amigos ou de uma biblioteca -, nos tornamos responsáveis por sua conservação. É necessário, portanto, atentar para algumas atitudes que afetarão permanentemente os livros, como dobrar suas páginas, fazer orelhas, ou deixar objetos entre as folhas (como flores, recortes ou grampos metálicos). Essas práticas devem ser evitadas porque quebram as fibras do papel ou aceleram sua acidificação, deflagrando processos irreversíveis de degradação. Opte por marcar onde pausou sua leitura com marca-páginas de papel e evite riscar livros, especialmente se forem de uso comum. Caso seja necessário fazer anotações, prefira usar um lápis 6B de ponta grossa, que pode ser apagado com facilidade. Também convém não comer ou beber enquanto se lida com obras em papel: restos e farelos de comida que pos-

sam cair sobre ele atraem pragas, além de possivelmente mancharem e danificarem a estrutura do papel. E este ponto nos leva à questão da melhor forma de higienizar livros. O ideal é que os livros nunca acumulem muita sujeira, o que significa que é necessária higienização frequente — de seis em seis meses, por exemplo. Espanar gentilmente sua superfície externa (capa, contracapa, curtes superior, inferior e lateral) com um pano ou pincel seco é suficiente. Contudo, é necessário sempre atentar para que o pó dos livros não voe e volte a se acumular sobre as prateleiras. Caso haja necessidade de uma limpeza profunda, como a exigida por manchas, restos de alimentos grudados ou danos por pragas e mofo, é necessária a higienização folha a folha, feita por restauradores ou bibliotecários. Eles são os profissionais mais indicados, pois possuem ferramentas apropriadas para cada problema. A preocupação com a armazenagem dos livros também deve existir: o papel é instável por natureza, e, portanto, quanto menos variações no seu ambiente, melhor. Desta forma, livros devem ser armazenados longe da luz direta e em ambientes arejados, inclusive nas prateleiras. Isto significa que os livros nunca devem estar completamente ao fundo das estantes. Eles também não podem estar

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apertados uns contra os outros: é preciso que haja alguma folga entre eles. Esta medida evita dois problemas: impede que as capas se colem umas nas outras e, na existência de pragas, dificulta sua movimentação e o aumento dos danos. Ainda, livros grandes demais para as prateleiras devem ser armazenados apoiados horizontalmente sobre as lombadas. Assim, o peso das páginas não danificará as costuras dos cadernos. Também é válido ressaltar que a melhor forma de restaurar obras em papel é chamando um restaurador: medidas caseiras prejudicam os itens a longo prazo. Assim, são desaconselhados “consertos” com o uso de fitas adesivas e cola branca para recuperar páginas soltas ou rasgadas. Livros também não devem ser encapados, visto que o material acidifica e amarela o papel. O mobiliário, por fim, também tem uma função importante na conservação. Móveis de metal, por impossibilitarem a infestação de pragas como cupins e por não afetarem o papel, são a melhor pedida. Contudo, estantes de madeira são as mais comuns e dão um charme especial às bibliotecas. Neste caso, é essencial que eles sejam arejados, desinsetizados e que sejam higienizados por dentro com um pano umedecido ou com um aspirador de pó. Prateleiras também não devem ser encapadas e o uso de material de limpeza deve ser reduzido a zero, se possível. A preservação dos livros, então, é baseada em boas práticas que indicam a melhor forma de manuseá-los, de higienizá-los e de armazená-los. Ao colocá-las em uso, nossos livros — e os dos outros — tendem a durar muito mais tempo. Fernando P. Pires Bibliotecário CRB 10/2096


Opinião

AS NEUROSES: ontem, hoje, sempre...

N

a clássica abordagem psicanalítica, as estruturas básicas de funcionamento psíquico são: neuroses, psicoses e perversões. A partir das constantes modificações culturais/sociais, pensou-se que as alterações das organizações psíquicas fossem diretamente proporcionais em virtude da confusão de papeis dentro da família. Mas será que o neurótico está em extinção? O neurótico dos primórdios freudianos equivale à pessoa “normal” dos nossos dias. Apresenta sintomas que são a expressão simbólica de conflitos psíquicos com raízes na sua história infantil. Eles manifestam compromissos existentes entre as defesas e seus desejos, isto é, seu sofrimento e sua angústia se expressam de forma simbólica. As neuroses estruturam-se sob os efeitos de uma história cuja configuração edípica deixou rastros que retornam mais tarde em forma de sofrimento. São fruto de repressão1 e do retorno do conteúdo reprimido na vida adulta, apresentando-se como “formação substitutiva”. As “formações de compromisso”, que ocorrem entre as defesas e os desejos do indivíduo, resultam no que se chama “sintoma” . Sintomas neuróticos podem aparecer no corpo (histeria); nas idéias e rituais (obsessivo-compulsivos); nos medos (fobias); no pânico (angústia). As queixas somáticas dos neuróticos expressam representações psíquicas de conflitos não resolvidos através de: palpitações, sudoreses, enxaquecas, ejaculação precoce ou demais conversões, tais como impotência, pensamentos hipocondríacos, frigidez, desmaios, contraturas, etc. O sofrimento dos neuróticos é intenso e carregado de angústia. Subjetivamente se organizam de forma a se defender da angústia. Vivenciam sentimentos incompatí-

veis, frutos do conflito psíquico interno que instauram as neuroses, em torno da sexualidade. De acordo com Freud (1898) a verdadeira etiologia deve ser encontrada nas experiências infantis e mais uma vez – exclusivamente – em impressões referentes à vida sexual. Erramos ao ignorar inteiramente a vida social das crianças. A construção da subjetividade implica múltiplos fatores, portanto. As pesquisas de Freud revelam ainda que a idéia incompatível estaria ligada a fatores emergentes da vida sexual2, principalmente nas experiências infantis. A base da neurose é a repressão3 na infância – destino da pulsão do neurótico. A essência do recalcamento consiste em afastar determinada “coisa” do consciente, mantendo-a a distância. O representante pulsional, entretanto, continuará existindo no inconsciente, ali prolifera, se organiza, dá origem aos seus derivados e estabelece ligações. O recalcamento exige um dispêndio de energia psíquica para se manter. O conteúdo recalcado exerce uma pressão contínua em direção ao consciente, mas há uma força contrária que impede o acesso a ele. A manutenção acarreta um grande dispêndio de energia sob o ponto de vista econômico, e sua eliminação uma “poupança”. Topograficamente, a idéia que representa a pulsão passa pelo recalcamento, por uma vicissitude que consiste em fazê-la desaparecer do consciente. E o afeto que estava ligado à idéia que foi recalcada? O afeto (angústia) toma outro destino. De qualquer modo, diz Freud, se o recalcamento (repressão) não conseguir impedir que surjam sentimentos de desprazer ou de angústia, podemos dizer que falhou, ainda que seu propósito possa ter alcançado no tocante à parcela ideacional:

“O mecanismo da repressão só nos será acessível se deduzirmos esse mecanismo a partir do resultado da mesma. Limitando nossas observações ao efeito da repressão sobre a parcela ideacional do representante, descobrimos que, via de regra, ele cria uma formação substitutiva” (Freud, A repressão, 1915, p. 172). Na Conferência XVIII (1917) Freud define o retorno do reprimido na formação dos sintomas, referindo a regressão da libido a pontos de fixação que permaneceram em fases anteriores do desenvolvimento sexual infantil em conseqüência de idéias irreconciliáveis, ou seja,o sujeito vive em conflituado. Os neuróticos, fantasiam, fazem sintomas, sofrem com o cotidiano, angustiam-se. Boicotam seu prazer; sentem-se “pecadores”, uma espécie de “criminosos” diante da culpa ocasionada pela realização de desejos, sejam eles quais forem. Deixar de ser neurótico é trabalhar estas questões para desfrutar a vida nos mais amplos sentidos. Portanto, neuroses são tão atuais quanto nos tempos das descobertas freudianas. Magda Mello

BIBLIOGRAFIA FREUD. S. Obras Completas. Conferencia XVIII(1917). RJ. Imago FREUD,S. Obras Completas. Repressão (1915). RJ,Imago. FREUD, Sigmund. Obras completas. A sexualidade na etiologia das neuroses (1898); Conferência XVIII (1917); Repressão (1915). Rio de Janeiro: Imago. Edição 1996. Laplanche Jean. Vocabulaire de la Psychanalyse. (2007) Paris,PUF.

1. Repressão no sentido de recalcamento, de acordo com Laplanche Jean. Vocabulaire de La Psychanalyse,Paris,PUF 2007. 2. “vida sexual e sexualidade”, conforme a teoria freudiana, estão ligadas ao desenvolvimento da libido e não ato sexual em si, ao coito (sexo). 3. Recalcamento na tradução para o Português.

Informativo da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul | 9


Cultura

O Pequeno Príncipe esteve em Porto Alegre Férias de inverno, crianças espiavam curiosas por entre filas de muitos adultos, todos ansiosos para adentrar um espaço privilegiado em um Shopping de POA. Lá dentro estava um personagem de muitas gerações... o tal Pequeno Príncipe. Quem nunca ouviu falar nele?! Por alguns anos, devido a alguma interpretação simplória, foi relegado a um lugar cheio de preconceitos por ser referido como o livro preferido das misses. “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”! Mas afinal o que é cativar? É conhecer bem as coisas, talvez respondesse o Pequeno Príncipe. É não comprar pronto, mas dar tempo, especialmente, para conhecer e se dedicar às pessoas. Fazer novos amigos e doar tempo a eles, possibilitando um en-

contro de verdade. Mas os homens não têm tempo e talvez por isso não tenham mais amigos, diria a Raposa ao Pequeno Príncipe. Em 1942, a queixa tão atual de não ter tempo para nada já existia. Que linda história de dedicação e retorno ao essencial! Quem sabe, em razão da crescente necessidade do mundo moderno de retornar às origens de um verdadeiro segredo muito simples, as crianças atualmente, nas escolas, voltaram a ter contato com a obra de Saint-Exupéry. Para elas, a história do Pequeno Príncipe é um ótimo exemplo de como se colocar a pensar no outro, ser solidário e gentil. Na exposição, que recebeu “crianças de todas as idades”, era possível entrar em um espaço de ilusão, onde havia um brinquedo interativo. Ao segurar uma esfera, era possível dizer, cantar ou pensar um desejo e, se os pássaros brancos surgissem, o desejo seria realizado! E porque alguns desejos verdadeiramente se reali-

zam, reforça-se a impressão de que o autor um dia sonhou alcançar o planeta e deixar uma mensagem de respeito para o futuro, de cuidado com a natureza. Uma lição de sustentabilidade. “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez tua rosa tão importante”. O Pequeno Príncipe esteve em Porto Alegre, seguiu viagem e deixou mensagens: ser um cidadão global é respeitar outras culturas, religiões e tradições. São as pessoas que achamos diferentes que nos fazem evoluir. Pense antes de agir. Utilize a natureza com inteligência e carinho. Se você não viu a exposição, ainda pode voltar ao livro e neste encontrar velhas novas lições, ideias e ilusões. O essencial que existe dentro de cada um de nós.

ainda que apenas por alguns segundos... A maneira como cada um assume seu destino inevitável e o sofrimento que se lhe impõe revelam, mesmo nas mais difíceis situações, uma força inexplicável que ninguém poderia prever! Fernandinho Pessoa grita lá do canto: - Mais que um ser no mundo, uma presença no mundo, com o mundo e com os outros. Wenceslau da Cunha está dizendo por aí que sonho é querer! -;Que loucura! Acho que sonho pode ser um... Um, não; dois gritos da alma! - Não sei não hein! ,- Clarice Lispector começou sussurrando, mas logo alçou a voz: - Não me deem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sou diferente.

Não sei amar pela metade, viver de mentira. e voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre! - Tudo depende das circunstâncias, regra que tanto serve para o estilo como para a vida; palavra puxa palavra, uma idéia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução; alguns dizem mesmo que assim é que a natureza compôs as suas espécies! - intromete-se Machado de Assis na conversa! Todos nessa hora querem dar palpite, mas agora não há mais tempo, só por enquanto! Meu coração acena para um sono breve, os pensamentos tranquilos caminham pelas paredes à procura do travesseiro! Sonhos do acordado me esperam além da censura!

Lisandre Dreyer da Silva Matte

Leitura

Estante dos Sentidos Qual o sentido da vida? Que significados atribuímos aos coloridos, aos pretos e aos brancos do nosso ser? Que forças soam e nos suportam, fortalecendo resistências diante da vida sem pálpebras? Penso em dar sentido à vida pelas palavras, vejo-me a olhar os livros na estante e meu desejo é deixá-los falar. Ouço Viktor Frankl contando sobre um psicólogo no campo de concentração, em busca de um sentido para viver. Diz que alguém que não viveu em um campo de concentração não faz a menor idéia da radical insignificância a que reduz o valor da vida. Um único dia tem o tamanho da vida, e certo principio de humor constitui-se em arma na luta pela autopreservação. O humor cria distância e permite colocar-se acima da situação,

10 | SP Informação

Richard Jesus Assimos


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