RAP, uma voz Afro no Brasil

Page 1

JĂşlia Nascimento



Tema Rap, uma voz afro no Brasil.

Produto Documentário que abordará a influência africana em no estilo musical rap1. Será exposto como a cultura de um dos países de base par a formação da cultura brasileira ainda possui influência no modo em que nos comunicamos, vestimos, dançamos e etc. O principal ponto abordado será a propaganda espontânea que os raps brasileiros fazem para a cultura afro e como os ouvintes das músicas são impactados com isso.

Resumo O documentário “Rap, uma voz afro no Brasil” irá expor a propaganda espontânea que alguns raps nacionais fazem para a matriz cultural africana. Como os ouvintes desse ritmo, que vem ganhando cada vez mais popularidade no meio musical, são impactados. Pela visão dos ouvintes, veremos como o “consumidor final” enxerga essa inserção de cultura pela música. A análise das letras, melodias, figurinos e instrumentos será feita pelos consumidores do ritmo e os mes1 A sigla ¨RAP¨ vem do inglês ¨Rhythm and Poetry¨ traduzido para o português como “Ritmo e Poesia¨. É um dos elementos da cultura hip-hop. Sua origem foi na Jamaica, mais ou menos na década de 1960. Com a instabilidade política do país muitos jamaicanos imigraram para os EUA, e assim o ritmo se espalhou. Hoje o rap é tocado no mundo todo. 3


mos irão nos apontar se no ponto de vista deles essa propaganda existe. A entrevista que será usada como narrativa para o produto final, será feita com alguns ouvintes do ritmo, abordaremos pessoas de diferentes idades e gêneros. As mesmas vão expor o que sentem pela música e as influências dessa arte para a cultura africana. Não haverá medição real de possíveis resultados da propaganda espontânea, as “provas” que teremos sobre esse assunto serão os relatos dos ouvintes e o que eles sentem sobre as músicas que escutam.

Introdução O projeto será feito no modelo experimental com o tema, “Rap, uma voz afro no Brasil”. Uma das características da cultura africana que permaneceu forte no Brasil foi a religião, sendo as principais Candomblé e Umbanda – vindas da Nigéria e Angola, respectivamente - ainda mais quando percebemos manifestações culturais em algumas letras de músicos brasileiros. O ritmo que abordaremos em questão é o rap nacional, MC’s2.

2 Conhecidos como mestre de cerimonias, os MC’s são os músicos que escrevem as letras dos raps. 4


Figura 1: Djonga, Rincon Sapiência e BK, Emicida, Baco Exu do Blues e Criolo, respectivamente. Via Portal do Rap.

O rap é um estilo de música marginal, de população compositora e apreciadora em sua grande parte negra. Em versos das canções dos rappers, podemos observar citações aos orixás, vocábulos africanos, orações e menções a cidades africanas.

5


“Já diz o ditado: “Apressado come cru” Aqui não é GTA, é pior, é Grajaú Sem pedigree, bem loco Machado de Xangô, fazer honrar teu choro” (Criolo, Convoque seu Buda – 2014) “Baiana cê me bagunçou Pirei em tua cor nagô, tua guia Teu riso é Olodum a tocar no Pelô Dia de Femadum, tambor alegria Cê me lembra malê, gosto pra valer Dique do Tororó, Império Oió A descer do Orum, bela Oxum Cujo igual não há em lugar nenhum” (Emicida, Baiana – 2015) “To perto do fogo que nem o couro de tambor numa roda de jongo Nesse sufoco, tô dando soco, que nem Lango-Lango” (Rincon Sapiência, Ponta de Lança – 2017) “Componho pra não me decompor Poeta maldito perito na arte de Arthur Rimbaud Garçom, traz outra dose, por favor Que eu tô Entre o Machado de Assis e de Xangô Soneto de boêmia poesia melancolia 6


Eu sou do tempo onde poetas ainda faziam poesia Saravá!” (Baco Exu do Blues, Esú – 2017) “Onde tem quem acha graça zoar viado Eu acho engraçado um racista baleado Eu sou macumba, o rival amaldiçoado Largando linhas, pra nem morto ser calado.” (Djonga – Esquimó – 2017) “Sou traficado por mim Eu escrevo e o santo desce Permita-me que a prece” (B.K, Poetas no topo – 2016)

A partir desse ponto de inserção de dialetos africanos, menções aos orixás e “rotinas” afros, o objetivo do estudo é mensurar a partir dos relatos dos ouvintes das músicas, qual é a relação entre eles e a cultura africana, o que é feita com essa “bagagem cultural” recebida em forma de canção. Se existe uma pesquisa sobre significados, aprofundamento sobre a cultura africana e como o consumidor final da música se relaciona com a matriz africana. Queremos que o espectador nos indique se no ponto de vista dele, como público alvo, se existe essa mídia espontânea da música para a matriz africana. O documentário deve expor os pontos particulares de uma parcela de consumidores finais do produto rap, sendo que a questão principal é a existência ou não existência de propaganda espontânea por parte do 7


estilo rap nacional para a matriz de cultura africana. Com o uso dos dialetos de religiões africanas, o rap brasileiro se baseia e faz dele uma arte de origem negra. Suas raízes se aprofundam ainda mais na mãe África, tornando-se cada vez mais uma mescla entre culturas, e por outro lado ainda mais marginalizada. O estudo se dará na abordagem do ouvinte do ritmo e exposição dos seus sentimentos sobre as letras, a questão da existência da propaganda espontânea do rap para a música será confirmada ou não pelos próprios ouvintes, principais impactados no momento da reprodução de cada canção.

Justificativa Com o uso dos dialetos e elementos (melodias, roupas, cenários) de religiões africanas, o rap nacional se baseia em partes na cultura negra. Suas raízes se aprofundam ainda mais na mãe África, tornando-se cada vez mais uma mescla entre culturas, e por outro lado ainda mais marginalizada. O estudo será aprofundar por meio de um documentário como os ouvintes do ritmo veem essa propaganda espontânea da música para a cultura. A escolha do formato de documentário se deu a partir do momento em que foi percebida a necessidade de mostrar uma parcela dos ouvintes do rap, conhecer de perto como é a ligação entre eles e a música, como conheceram o ritmo e o que fazem com o conhecimento adquirido. Iremos mostrar de forma visual e audível como essas músicas 8


são expostas para a sociedade. O principal objetivo é saber o quão essa junção de cultural é favorável, no ponto de vista dos ouvintes.

Objetivo Analisar como o rap nacional faz a propaganda da matriz afrodescendente a partir do uso dos dialetos dos países africanos juntamente com costumes, ritmos e rituais.

Hipótese Por virem de zonas predominantemente periféricas, os MC’s utilizam de suas experiências como inspirações para a criação de suas músicas, isso faz com que o os movimentos afros surjam desse ponto. Com a inserção dos dialetos e menções aos Orixás nos raps, os ouvintes pronunciam as tais línguas e por muitas vezes vão pesquisar o significado de cada dialeto, isso faz com que as pessoas impactadas pela música busquem conhecimento sobre o assunto e algumas das vezes queiram conhecer um pouco mais sobre a cultura pesquisada. Desde ponto onde a curiosidade do ouvinte se transforma em pesquisa é que iremos considerar a publicidade espontânea para a matriz africana.

Fundamentação Teórica Para formar a fundamentação teórica do projeto, a literatura uti9


lizada para os assuntos referentes a cultura africana foram ORIGENS AFRICANAS DO BRASIL CONTEMPORÂNEO – KABENGELE MUNANGA (2009) e O POVO BRASILEIRO – DARCY RIBEIRO (1995). Na questão de publicidade espontânea os argumentos foram retirados de A QUEDA DA PROPAGANDA: DA MIDIA PAGA A MIDA ESPONTANEAS – AL RIES & LAURA RIES (2002). Na construção de conhecimento documental, as teorias usadas foram COMO FAZER DOCUMENTARIOS – LUIZ CARLOS LUCENA (2012) e INTRODUÇÃO AO DOCUMENTÁRIO – BILL NOCHOLS (2016). Além disso, a referência para a construção do produto final será do documentário O POVO BRASILEIRO – DARCY RIBEIRO (1995) e HUMANO – YANN ARTHUS-BERTRAND (2016) e HUMAN – YANN ARTHUS-BERTRAND (2016).

Metodologia A construção de base teórica sobre o tema foi feita pelos livros citados na fundamentação teórica, além de documentários – O povo Brasileiro de Darcy Ribeiro, textos encontrados na internet e análise das letras das músicas. O documentário será criado a partir de uma entrevista feita com ouvintes do Rap e seus pontos de vista a partir dos seus conhecimentos adquiridos com a música. A relação de perguntas aos ouvintes dos músicos citados será a seguinte:

10


1. Qual é a sua raça? Por que? 2. Qual é a sua relação com o rap nacional? 3. Você acha que o rap faz propaganda para a cultura afro? Por que? 4. Qual é a sua relação com a cultura africana? 5. Você acha que o impacto que a música faz para no afro é positiva? 6. Você acredita que o rap é uma voz africana no Brasil? A partir desses relatos dos ouvintes, a narrativa será construída, os pontos de vista das pessoas entrevistadas será o conteúdo do produto final. Uma abertura e fechamento com trechos de músicas existentes de MC’s brasileiros será construída para contextualizar o começo e o final da narração.

Criação da Matriz Brasil Papel Tupi. Darcy Ribeiro nos dá como conceito de matriz3 cultural a relação de formação de cultura da população de modo geral, ressalta as bases culturais estabelecidas pela miscigenação de diversos grupos étnicos. O documentário O povo brasileiro contanto sobre o primeiro povo componente da etnia brasileira, a nossa matriz indígena, a matriz tupi. Ressalta que o Brasil índio já existia há mais de mil anos no 1500, quando houve o encontro com os descobridores. Os índios basicamente eram os tupinambás. Não havia, no entanto, uma nação tupi, havia uma miríade de tribos, totalmente autossuficientes em sua interação com a natureza. Estavam se iniciando na fase da agricultura (figura 2), domesticando inúmeras plantas e animais. Conheciam a natureza em detalhes, conhecendo 3 Lugar onde alguma coisa se gera ou se cria, nos casos mencionados neste projeto, a menção de matriz se dará a raiz da cultura mencionada. Lugar de nascimento e desenvolvimento de personalidade de cada vertente (musica, fala, comida, etc.). 11


plantas e animais e conhecendo os diferentes usos a fazer. O curso dos rios determinava as suas moradas.

Figura 2: Agricultura indígena. Via Visão Cidade

Os tupinambás (figura 3) viviam em função das guerras e das festas. A guerra era por conquista de melhores espaços. Não escravizavam os vencidos, já que não os integravam à sua economia. Incorporavam isso sim, a sua força e os seus brios, em ritos antropofágicos, o ritual maior de suas festas. Jamais comiam covardes. Não havia pelejas internas, furtos ou brigas. Eram educados para a convivência a partir dos mais velhos. O poder emanava do exemplo, do carisma e da tradição. Jamais se davam ordens. Havia muitas liberdades. Casamentos podiam ser feitos e desfeitos. A homossexualidade não era vergonhosa e não era escondida de ninguém. 12


Figura 3: Índio Tupinambá (John White). Via Wikipédia Imagens

Havia a diferença de gênero. Os homens (figura 4) eram educados para as funções da caça e da pesca e para a fabricação destes utensílios, bem como as canoas. As mulheres (figura 5) eram educadas para a tecelagem, o preparo das comidas e das bebidas e das grandes festividades. Não havia praticamente diferenças entre arte e trabalho. Realizavam-se nesta tarefa trabalho/arte. Na fabricação dos objetos punham toda a beleza possível e identificavam os artesãos pela beleza de seus trabalhos. O produto de sua arte marcava a identidade do artista. Também não faziam grandes distinções entre esta vida e a outra. A outra seria uma continuidade do paraíso em que já viviam.

13


Figura 4: Homens tupinambás (Albert Eckhout). Via Wikipédia Imagens

14


Figura 5: Mulheres tupinambás (Albert Eckhout). Via Wikipédia Imagens

Iniciando o estágio da agricultura, já cultivavam a mandioca (consideravam a não necessidade de seu armazenamento como uma fábula, a de poder guardar esta comida viva), o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o amendoim, o tabaco, a abóbora o guaraná, entre outros, e faziam deles alimentos e matérias primas para condimentos, estimulantes e venenos. Conheciam e interagiam com a natureza, vivendo com ela uma relação tida como edênica. O traço mais marcante de sua cultura era a preservação de sua identidade. Na convivência aprendiam a serem índios. Era uma força que brotava de seu interior. A alegria era uma de suas maiores marcas. Viviam 15


fazendo festas (figura 6), comemorando nascimento, plantio, colheitas e mesmo rituais fúnebres. Eram implacáveis com os seus inimigos. Na guerra havia honra, uma ética e até uma estética. A morte era natural. A tribo os vingaria. Só não cabia em sua cultura, a desonra, a fuga e a mostra de fragilidades.

Figura 6: Festa indígena. Via Herne, the Huner - Chakaruna

Tinham tudo, mas nada possuíam. Cultivavam roças próprias, mas a terra era de uso comum. Entre as grandes heranças nos deixaram os deslocamentos rápidos e a convivência com a floresta, o banho diário, a alimentação, mas acima de tudo a sua vida integrada com a natureza e o seu espírito de alegria e predisposição para a festa. Viviam se pintando, se enfeitando, cantando, dançando e brincando. Havia ricos rituais para tudo. 16


Criação da Matriz Brasil Papel Lusa. Darcy Ribeiro em seu documentário “O povo brasileiro” começa falando dos sonhos do Infante D. Henrique, filho pleno da Idade Média e da revolução tecnológica, na arte de navegar. Este D. Henrique colocou Portugal na vanguarda dos povos e o seu incentivo à navegação e os inventos decorrentes, como o navio com leme fixo (figura 7), como o barco a velas, equipados com bússola e astrolábio, foram os grandes responsáveis pelo vanguardismo dos portugueses nas navegações. Além disso Portugal se transformou na primeira Nação dos tempos modernos.

Figura 7: Navios portugueses. Via Pinterest 17


Portugal, formada por uma estreita faixa de terras premidas entre o mar e a Espanha (figura 8), com algo em torno de um milhão, a um milhão e meio de habitantes, para sobreviver, tinha que, necessariamente se lançar ao mar. E fez isso munido com as experiências incorporadas de árabes e de judeus, se fez um país de navegadores e de conquistadores.

18


Figura 8: Mapa de Portugal. Via Google Maps

A sua origem histórica remete aos fenícios, aos gregos e aos cartagineses e a submissão ao Império Romano. Depois vieram os diferentes povos bárbaros, godos, visigodos e celtas, mas a maior influência caberia aos árabes. Darcy inclusive defende a tese de que Portugal é mais árabe 19


do que latino, destacando para isso o recebimento dos números arábicos, em substituição aos romanos e a obra de Aristóteles e, acima de tudo, o que a visão aristotélica de mundo e de ciência proporcionou. Os árabes formaram um mosaico de mercadores, artesãos e camponeses e deixaram como herança para os portugueses inúmeras coisas como o moinho, o algodão, o bicho da seda, a cana de açúcar e a doçaria. A Nação portuguesa se formou essencialmente no combate com os espanhóis, na luta pela manutenção de suas fronteiras e na luta pela expulsão dos árabes. Já tinham uma língua e acima de tudo e, Darcy faz questão absoluta em destacar, tinha um projeto. O rei D. Henrique, também professava uma heresia utópica. Acreditava em três reinos, de acordo com a trindade. O passado longínquo era o reino de Deus Pai, o Antigo Testamento. O reino do Filho era o tempo do Novo Testamento e o futuro seria representado pelo Espírito Santo. Seria o reino do paraíso terrestre. Atrás desta visão mística existe a ideia de um projeto de Estado. Agostinho da Silva fala mais desta visão do reino do Espírito Santo, seguramente, uma festa de origem portuguesa. No dia do divino havia um grande banquete e se soltavam todos os presos, simbolizando, exatamente, esta visão de um reino sem males e de fartura, o paraíso terrestre. Com a reação a esta heresia, a festa teve maior permanência no Brasil, longe da vigilância do Santo Ofício. Só que o banquete deveria ser diário e, a não existência de presos, representaria uma ausência de males. Neste reino se cultivaria a fartura, o sorriso e a alegria. Bela utopia inspiradora, que, se não se concretizou, ainda poderá vir a ser uma realidade.

20


Henrique e o seu sonho de uma república governada pelo Espírito Santo, como um projeto de Estado. Em Sagres se juntou o saber prático e o saber teórico, se ordenou todo o conhecimento. O empreendimento português não se tornou possível, anteriormente, por causa da Igreja, mas agora com o espírito do renascimento, com as novas tecnologias aplicadas à navegação e com um sentimento de Nação se consolidando, Portugal avança para as glórias da imortalidade. Estabelecimento de feitorias, uso de escravos índios e africanos se tornarão a marca da expansão comercial portuguesa (figura 9). Portugal se torna o grande entreposto do mundo.

Figura 9: Portugueses no Brasil e escravos. Via Wikipédia Imagens

21


“Muitos alimentam preconceitos com relação ao fato de termos sido colonizados por portugueses. Fomos descobertos pelo povo mais avançado que havia na época e embalados num sonho mirabolante de grandeza, de instituição de um reino novo, governado pelo Espírito Santo, com um banquete, não apenas de um único dia, na sua festa, mas de um banquete, simplesmente, diário, em uma terra sem males. Isto é utópico, mas acima de tudo, muito lindo. ” - Darcy Ribeiro

22


Criação da Matriz Brasil Papel Afro. De Angola, Congo, Nigéria, Moçambique e Daomé “foram partidos” os africanos que fizeram a travessia para o Brasil (figura 10), para serem aqui, a sua força de trabalho. Os primeiros negros que aqui vieram o ciclo da Guiné vieram da Costa Ocidental. Mais tarde vieram os da África Central Atlântica, da Angola e do Congo, os Bantos.

Figura 10: Escravos a caminho do Brasil. Via InfoEscola

Já conheciam a agricultura, a cerâmica, a criação de gado e a metalurgia (figura 11). Esta era vista como uma dádiva divina e em toda a África havia as divindades metalúrgicas. Em seu louvor, tanta arte em metais. Já tinham uma concepção de Estado, faziam uso de moedas e a escravidão entre eles já era uma prática existente. O sagrado está oni23


presente. Acreditavam na existência de dois mundos que se interligavam, o mundo visível e o invisível, o mundo de Deus. Deus é a criatura incriável, o princípio de tudo e acima de tudo, sem ter tido um princípio, um começo. A Ele chegavam, estabelecendo vínculos e laços, através de seus antepassados. Os primeiros clãs, os ancestrais mais longínquos exerciam o poder político e também o religioso. Eles eram os proprietários de tudo: da terra, das águas, das florestas e do sertão e das palmeiras. No culto aos mortos buscavam a fertilidade das mulheres, da terra, de todas as benesses e o afastamento dos perigos.

Figura 11: Áreas de trabalho escravo. Via Olhares sobre escravidão

Eram divididos em três classes: a aristocracia, os homens livres e os escravos. No seu cruzamento com os europeus, já usavam moedas e escravos em suas transações comerciais. A partir do século XVIII, chegam a Salvador, Recife e São Luís os bantos, os negros da Angola e do Congo. 24


São eles que mais profundamente deixarão as marcas sobre a nossa cultura. Mãe Senhora4 nos dá uma aula sobre os orixás5, sobre o candomblé6. Em suas crenças não há lugar para a maldade, para a vigilância e para a punição. Não se castiga ninguém. Há isso sim, uma magia toda particular, de cantos e saudações. Vieram ainda outros negros que já tinham contatos com os árabes e, foram estes os que mais bravamente lutaram contra o serem transformados em meras máquinas do plantio e da colheita agrícola. Foram os que mais ferrenhamente lutaram contra a escravidão, o mais famoso deles é Zumbi dos Palmares7 (figura 12).

4 Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora, Oxum Muiwà - Salvador, 31 de março de 1890 l Salvador, 22 de fevereiro de 1967 - foi a terceira Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, Bahia 5 Ancestrais divinizados africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos. Estão relacionados às manifestações dessas forças. A característica de cada Orixá aproxima-os dos seres humanos, pois eles manifestam-se através de emoções como nós 6 Candomblé é uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis, dependendo da nação. Sendo de origem totêmica e familiar, é uma das religiões de matriz africana mais praticadas, tendo mais de três milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil. 7 Zumbi, para muitos o símbolo da resistência negra contra a escravidão, foi o último chefe do Quilombo dos Palmares, localizado na parte superior do rio São Francisco, na Serra da Barriga, antiga capitania de Pernambuco (atualmente Alagoas) 25


Figura 12: Zumbi dos Palmares. Via Wikipédia Imagens

Gritos de Identidade Rap. O termo RAP significa rhythm and poetry (ritmo e poesia). O RAP surgiu na Jamaica na década de 1960. Este gênero musical foi levado pelos jamaicanos para os Estados Unidos, mais especificamente para os 26


bairros pobres de Nova Iorque, no começo da década de 1970. Jovens de origens negra e espanhola, em busca de uma sonoridade nova, deram um significativo impulso ao RAP. O rap tem uma batida rápida e acelerada e a letra vem em forma de discurso, muita informação e pouca melodia. Geralmente as letras falam das dificuldades da vida dos habitantes de bairros pobres das grandes cidades. O cenário rap é acrescido de danças com movimentos rápidos e malabarismos corporais. O break, por exemplo, é um tipo de dança relacionada ao rap. O cenário urbano do rap é formado ainda por um visual repleto de grafites nas paredes das grandes cidades. No começo da década de 1980, muitos jovens norte-americanos, cansados do disco music, começaram a mixar músicas, e criar sobre elas, arranjos específicos. O MC (mestre-de-cerimônias) é o responsável pela integração entre a mixagem e a letra em forma de poesia e protesto. Geralmente, o rap é cantado e tocado por uma dupla composta por um, que fica responsável pelos efeitos sonoros e mixagens, e por MCs que se responsabilizam pela letra cantada. Quando o rap possui uma melodia, ganha o nome de hip hop. Na década de 1980, o rap sofreu uma mistura com outros estilos musicais, dando origem a novos gêneros, tais como: o acid jazz, o raggamufin (mistura com o reggae) e o dance rap. Com letras marcadas pela violência das ruas e dos guetos, surge o gangsta rap. Um dos maiores exemplos desse estilo são Racionais MC’s (figura13) e Sabotage (Figura 14).

27


Figura 13: Racionais MC’s. Via Nexo Jornal

28


Figura 14: Sabotage. Via Miojo Indie

Encontramos mensagens de cunho político e social, denunciando as injustiças e as dificuldades das populações menos favorecidas da sociedade. É a música servindo de protesto social e falando a voz do povo mais pobre, um dos principais músicos desse discurso é o Criolo (figura 15) e Emicida (figura 16).

29


Figura 15: Criolo. Via CidadĂŁo Cultural

Figura 16: Emicida. Via Miojo Indie 30


O rap surgiu no Brasil em 1986, na cidade de São Paulo. Na década de 80, as pessoas não aceitavam o rap, pois consideravam este estilo musical como sendo algo violento e tipicamente de periferia. Na década de 1990, o rap ganha as rádios e a indústria fonográfica começa a dar mais atenção ao estilo. O rap começava então a ser utilizado e misturado por outros gêneros musicais, como por exemplo o mangue beat. Nos dias de hoje o rap está incorporado no cenário musical brasileiro. Venceu os preconceitos e saiu da periferia para ganhar o grande público. Dezenas de cd’s de rap são lançados anualmente, porém o rap não perdeu sua essência de denunciar as injustiças, vividas pela pobreza das periferias das grandes cidades.

Gritos de Identidade Samba. O samba surgiu da mistura de estilos musicais de origem africana e brasileira. O samba é tocado com instrumentos de percussão (tambor, surdo, timbau, pandeiro, entre outros) (figura 17) e acompanhado por violão e cavaquinho. Geralmente, as letras de sambas contam a vida e o cotidiano de quem mora nas cidades, com destaque para as populações pobres. O termo samba é de origem africana e tem seu significado ligado às danças típicas tribais do continente. As raízes do samba foram fincadas em solo brasileiro na época do Brasil Colonial, com a chegada da mão-de-obra escrava em nosso país.

31


O primeiro samba gravado no Brasil foi em 1917. Tempos depois, o samba toma as ruas e espalha-se pelos carnavais do Brasil. Na década de 1930, as estações de rádio, em plena difusão pelo Brasil, passam a tocar os sambas para os lares. Os tipos de samba mais conhecidos e que fazem mais sucesso são os da Bahia, do Rio de Janeiro e de São Paulo. O samba baiano é influenciado pelo lundu e maxixe, com letras simples, balanço rápido e ritmo repetitivo. A lambada, por exemplo, é neste estilo, pois tem origem no maxixe. Já o samba de roda (figura 17), surgido na Bahia no século XIX, apresenta elementos culturais afro-brasileiros. Com palmas e cantos, os dançarinos dançam dentro de uma roda. O som fica por conta de um conjunto musical, que utiliza viola, atabaque, berimbau, chocalho e pandeiro.

32


Figura 17: Roda de Samba (João Candido da Silva). Via Templo Cultural Delfos

No Rio de Janeiro, o samba está ligado à vida nos morros, sendo que as letras falam da vida urbana, dos trabalhadores e das dificuldades da vida de uma forma amena e muitas vezes com humor. Entre os paulistas, o samba ganha uma conotação de mistura de raças. Com influência italiana, as letras são mais elaboradas e o sotaque dos bairros de trabalhadores ganha espaço no estilo do samba de São Paulo. 33


A espontaneidade da música O rap em si faz propagandas espontâneas para marcas, culturas, lugares e pessoas. Nas músicas percebemos que os MC’s se referem a esses itens de forma espontânea, sem serem incentivados por marcas, lugares ou pessoas. Suas músicas retratam o que eles vivem, sendo assim para alguns músicos a cultura africana está presente em diversas formas, seja pela religião, roupas, comidas ou língua. Por virem de lugares com grandes variedades de culturas, suas influências são singulares, pegam traços de cada parte do Brasil e do mundo. A mídia espontânea que iremos estudar nesse projeto se dará a partir da música e a propaganda espontânea que ela faz para a matriz afro em si, veremos pela ótica dos ouvintes se essa propaganda realmente é visível e sentida por eles e por terceiros.

Sobre o documentário No primeiro momento, houve uma dúvida se seria feito um documentário ou um web documentário. Juntamente com o orientador do trabalho, pesquisamos mais sobre a diferença de cada produto, o que nos levou a optar pelo documentário foi o formato que quero finalizar e a não interação com o espectador. Outro ponto de discussão foi como abordar a matriz afro. De início iríamos apenas falar sobre a influência da religião na música, então decidimos nos aprofundar na cultura afro de uma forma mais ampla (língua, vestimenta, ritmo, etc.) mostrando o impacto da mídia espontânea da música nas pessoas e cultura como um todo.

34


Decidimos pelo nome Rap, uma voz afro no Brasil porque esse ritmo é uma das coisas presentes em nosso pais que nos leva a um contato mais direto com a nossa matriz afro. Dentro do documentário será apresentado exclusivamente os pontos levantados pelos entrevistados, que serão ouvintes do ritmo. Eles irão expor o que sentem e acham sobre as influências e conceitos, nos apresentaram como a cultura afro está presentes em suas vidas e como a música os ajudou com suas construções de identidade. O presente cronograma será seguido:

JULHO Semana 2

Ler sobre mídia espontânea;

Semana 3

Procurar referencias de documentários; criar um banco de dados de imagens e musicas que estarão no documentário

Semana 4

Fazer as perguntas para a entrevista (ouvintes)

AGOSTO Semana 1

Validar questionário com o orientador

Semana 2

Fazer alterações no questionário

Semana 3

Fazer ajustes no documento escrito

35


Semana 4

Fazer acervo de músicas par abertura e fechamento

Semana 5

Selecionar opções de aberturas e fechamentos

SETEMBRO Semana 1

Juntar todo o conteúdo adquirido no drive

Semana 2

Fazer roteiro do documentário

Semana 3

Finalizar a parte escrita

Semana 4

Fazer a entrevista com os ouvintes

OUTUBRO Semana 1

Começar a fazer a montagem do documentário; Fazer a revisão final do documentário

Semana2

Montagem do documentário

Semana 3

Montagem do documentário

Semana 4

Finalização do documentário; finalização da parte escrita

36


Consideraçõe finais Considerando todas as pesquisas feitas, os documentários recomendados pelo orientador e as literaturas lidas, o documentário tem uma forte base histórica para que todos os possíveis questionamentos sejam respondidos de forma concisa e clara. As entrevistas foram usadas para termos uma imersão no ponto de vista de consumidor final. Sendo assim, conseguimos entender o que cada um sente ao ser impactado com as músicas selecionadas, entendemos de perto como os consumidores finais são impactados pelos conteúdos criados e como eles se sentem a respeito das informações trazidas pelos músicos, como esse compartilhamento de conhecimento pode enriquecer um povo e uma cultura tão rica que é a africana. As questões de identidade étnica são reforçadas e exemplificas com depoimentos ricos e cheios de sentimento. Podemos ver que a música traz consigo uma carga de cultura e história que são muito bem absorvidas por aqueles que seguem a sua curiosidade sobre o entender profundamente a música por completo.

37


38




Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.