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Por uma vida salvatoriana plenamente Sinodal: Somar todas as forças para serem sinais de salvação!

Papa Francisco, ao convocar a XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos para, concomitantemente, refletir e realizar uma profunda experiência concreta justamente sobre a sinodalidade como nota fundamental do ser Igreja no mundo de hoje, faz um importante chamado a todos nós. Convoca-nos a discernir sobre o modelo de Igreja que Jesus Salvador quer que sejamos neste momento de nossa história, confrontando-o conscientemente com os modelos que estamos testemunhando em nossa forma de ser e de agir concretos. Trata-se de uma convocação para entrarmos em um amplo e não simples processo de conversão eclesiológica, superando um modelo de corte mais piramidal para assumir uma expressão de Igreja onde todos são convocados a caminhar juntos, como sujeitos de plena cidadania eclesial em sua dinâmica interna e em sua projeção missionária.

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O propósito da reflexão a que nos propomos neste artigo é de iniciarmos a pensar se existe um paralelo que possamos traçar entre esta proposta de busca por uma maior radicalidade do modelo sinodal, como expressão do ser Igreja potencializada pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, com o carisma herdado de Francisco Jordan. Assim sendo, trata-se de iniciarmos a refletir sobre o modelo eclesiológico que nasce da inspiração carismática recebida, bem como de suas implicações apostólicas, certos de que a mesma é dom do Espírito para colaborar com o corpo místico de Cristo em sua missão de ser Povo de Deus que peregrina pelos caminhos do mundo até a parusia, ou seja, o encontro definitivo com o único e verdadeiro Deus revelado em Jesus Cristo.

Ousaria dizer que este tema da sinodalidade evoca a mesma essência de nosso carisma, convocandonos a uma radical conversão carismático-apostólica. Estas breves linhas não permitem uma reflexão mais aprofundada da questão, mas certamente podem servir como um apelo para não deixarmos passar esta oportunidade para abraçarmos um verdadeiro processo de discernimento comunitário sobre o que hoje somos chamados/as a ser para melhor correspondermos ao dom recebido.

Sendo convocados pelo Espírito do ressuscitado para sermos sinais viventes da revelação do único e verdadeiro Deus, desde a experiência profunda de seguimento ao seu Filho encarnado na história, cada salvatoriano/a deve refletir, em sua forma de ser e de agir, o modo próprio de ser desta imagem de Deus desvelada em Jesus: o Deus trindade, comunhão profunda de amor. A comunhão trinitária em Deus nos faz perceber que cada pessoa se reconhece no sair de si para o encontro relacional com o outro. Assim, por sua vez, é na profunda relação entre comunhão-diferença, que gera complementaridade, que descobrimos o rosto humano que é criado à imagem e semelhança do Deus uno e trino.

Cada um de nós, no encontro existencial-experiencial com o Deus uno e trino revelado em Jesus, o Filho eterno do Pai, se reconhece filho/a por adoção e, portanto, irmão e irmã de caminho, fazendo parte, pelo Batismo, do Povo de Deus que vive na dinâmica do seguimento, desde a especificidade da vocação assumida. Guiados pelo Espírito do Ressuscitado, empreendemos a árdua tarefa de ser comunidade na diferença, tendo como modelo os apóstolos e as primeiras comunidades cristãs. Esta comunidade recebe a liberdade operativa de poder usar de todos os modos e meios possíveis, desde que inspirados pelo amor que é Deus em si mesmo. Assim, é evidente que somente poderemos cumprir plenamente esta missão na harmonia entre sinergia das forças e o constante discernimento comunitário da melhor metodologia a ser empregada. Não existe outra

possibilidade apostólica. Desde uma profunda capacidade de gerar comunhão de forças, em um contínuo e profícuo processo de discernimento dos meios mais eficazes em cada tempo e lugar para a realização mais plena desta missão, deixando-nos guiar pela luz do Espírito, seremos capazes de corresponder ao chamado recebido. Não seria justamente este desafio a realização mais plena do que chamamos hoje de Família Salvatoriana? Não é esta a própria dinâmica da sinodalidade?

Vale frisar que Papa Francisco reforça terminantemente a convicção de que não se trata de um simples exercício momentâneo, uma realização de uma tarefa requerida, respondendo mecanicamente a um questionário para a realização de um encontro de cúpula de poder que definirá os rumos da Igreja. Ele convoca a todos os batizados para entrar em uma dinâmica constante, assumindo a responsabilidade de ser discípulos-missionários no mundo, vivendo em plenitude o ser Igreja.

Trata-se, portanto, de imbuir-se de um espírito que se traduz em gestos cotidianos concretos, alicerçando um modelo de Igreja sinodal. Este modelo se configura como uma pirâmide invertida, rompendo com ditames de poder até então recorrentes para gerar maior comprometimento de todos na arte do discernimento, que somente pode ser frutífero se exercido desde uma escuta aberta, honesta e responsável, uma verdadeira parresia eclesial. É desde esta dinâmica que podemos entender a profundidade do tema escolhido: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

Assim sendo, esta dinâmica sinodal que quer ser radicalizada é convite para que nós, Família Salvatoriana, abracemos definitivamente as consequências do modelo eclesiológico nascido da inspiração carismática recebida, gerando afetiva-efetivamente uma comunhão perfeita de dons a serviço da missão, em contínuo e franco discernimento metodológico. Um chamado a respirar e a testemunhar este espírito em todos os âmbitos de nossas vidas. Uma tarefa que pede plena consciência da dinâmica que precisa permear nosso testemunho enquanto cada ramo em sua especificidade e, sobretudo, em nossas relações como Família. Um caminho de conversão que nos convoca a não somente realizar uma tarefa requerida pelas autoridades eclesiásticas, mas principalmente a refletirmos juntos e profundamente sobre o sentido de nossa presença na Igreja hoje.

Gostaria de propor a todos e todas um mergulho existencial nesta proposta que nos faz Papa Francisco. Aproveitemos deste tempo para aprofundar o real sentido desta sinodalidade e suas implicações concretas em nossa vida como cristãos. Ao mesmo tempo, partilhemos mais profundamente a relação direta deste modelo de Igreja com o sonhado por Francisco Jordan e expresso em nossa forma de ser e de agir. Esta reflexão é apenas um começo, muito pobre certamente, diante da ampla gama de reflexões que podem e devem nascer. Certamente teremos muito a ganhar com isto.

“(...) cada salvatoriano/a deve refletir, em sua forma de ser e de agir, o modo próprio de ser desta imagem de Deus desvelada em Jesus: o Deus trindade, comunhão profunda de amor.’’

Pe. Paulo José Floriani, sds