Versus Magazine #28 Novembro/Dezembro 2013

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Depois dum período de reflexão e reestruturação interna que acabou por atrasar a nossa actividade habitual, a VERSUS Magazine está de regresso com a nossa edição inaugural de 2014. O que vos trazemos, no entanto, é ainda algo alusivo ao ano que findou. É o caso das entrevistas com o lendário Big Boss dos Root, o controverso Kvarforth dos Shining e o dinâmico Rune Eriksen dos Twilight of the Gods. Merecedora de maior destaque é a descontraída conversa com Rui Duarte, vocalista dos Ramp, e a dedicatória de capa desta edição que nos juntou de certa maneira às comemorações dos 25 anos de carreira destes que são os porta-estandarte do Thrash Metal nacional. Além dos Ramp, este nº 28 da VERSUS conta ainda com entrevistas a mais seis formações nacionais, de entre as quais destacamos a divertida conversa com Belathauzer dos Filii Nigrantium Infernalium. O nosso Balanço de 2013 respeitante a álbuns também vai incluído, tal como não poderia faltar a singela prenda de Natal atrasada para os nossos leitores, que surge na forma dum passatempo com 3 CDs para oferecer. Para se habilitarem a um destes títulos, têm apenas de nos dizer o que pensam da VERSUS Magazine e o que podemos fazer para a melhorar. Tenham um excelente Ano Novo, de preferência na companhia de muito Metal e da VERSUS Magazine. Ernesto Martins


O Melhor do metal PortuguĂŞs


Esta entrevista vai ser diferente – só é pena ser feita por email. Normalmente, não costumo enviar o texto introdutório. Mas... são os RAMP(!) e não quero que esta seja mais uma, mas sim, a minha entrevista. Única e pessoal! Por diversas razões. Acima de tudo, porque os RAMP merecem, porque são uma grande influência, porque são humildes, porque lutaram e sofreram para estarem onde estão e porque... são o melhor do metal nacional! A minha relação com os RAMP vem dos primórdios da banda, do tempo de «Thoughts», dos temas “Try Again” e “The Last Child” gravados nas antigas VHS. Cum raio, até já deixei uma miúda “pendurada” para os ir ver na Semana do enterro em Aveiro. (Francamente, devia ter vergonha!) Como milhares de bandas, os RAMP começaram como uma brincadeira e também eu comecei com uma banda de garagem... Era uma brincadeira. Só que os RAMP são grandes e nós... vá, gravámos um EP com 2 temas e agora conseguimos gravar outro mas com 4 – (Primeira pergunta: Rui, conta lá o vosso segredo, sff. :-) ) Há uns tempos, tal como os RAMP, sofremos mudanças e uma das hipóteses foi fazer algo ÉPICO. Convidar o Rui Duarte para gravar e/ou ensaiar os 4 temas. Assim pensámos e assim o fizemos. Procurámos no site e enviámos um mail ao manager, acho eu. (Pronto, já podes parar de rir!) O que eu mais admirei, não foi a (óbvia) resposta negativa mas sim a forma humilde como responderam. (É claro que tinha de admirar, os RAMP nunca me deixaram ficar mal). Ainda um destes dias no ensaio, comentei: “Estou à espera de resposta para fazer a reportagem do concerto dos RAMP e uma possível entrevista.” Comentário do guitarrista: “O meu sonho é abrir para os RAMP e fazer uma tournée com os Metallica”. Este mesmo gajo que foi cumprimentar o Rui e a banda quando estes estavam a jantar no “Bombordo”, na Praça do Peixe em Aveiro e naquele mesmo dia em que deixei a miúda “pendurada”. Mais uma vez, devia ter vergonha! Bem, mas a história mais caricata, vista a esta distância temporal, foi quando vi os RAMP ao vivo pela primeira vez. Foi, mais uma vez em Aveiro, na antiga Valentim de Carvalho. Acho que foi um concerto acústico de apresentação do «EDR» quando vi que o Paulo estava perto de mim, rasguei uma folha quadriculada e dirigi-me a ele nestes termos: “Oh baquetas, dá-me aí um autógrafo”. Muito simpático, disse-me que no fim da atuação iam estar todos a dar autógrafos. Mais uma vez, vocês nunca me deixaram ficar mal. Na sessão de autógrafos assinaram-me aquela folha e mais uma, para o tal gajo que vos foi cumprimentar nesse dia. Esta é a minha singela e humilde forma de vos homenagear, pelos 25 anos, pela música, pelos bons momentos que passei/passo a ouvi-la, pela inspiração, pela forma de estar e acima de tudo pela vossa humildade. E como esta introdução já vai longa vamos lá à perguntas: 5


Rui, antes de mais, porquê tanto tempo sem ouvirmos algo de novo? Portugal é um País muito pequeno, como tal viver da música com um género tão específico, é algo que apenas fica ao alcance de quem tem uma família abastada e que garante um suporte financeiro de sobrevivência. No caso dos RAMP nenhum de nós preenche esses parâmetros. Temos origens humildes e sabemos que temos de trabalhar para sobreviver. O facto de termos famílias e filhos obrigou-nos a ter de abrandar a actividade dos RAMP e trabalhar noutros campos, quer musicais quer técnicos, de maneira a garantir a sobrevivência imediata. 25 anos de vida, 6 álbuns, alguns percalços pelo caminho mas certamente muitas alegrias. Quais foram os tempos mais difíceis da vida dos RAMP? Existiram vários momentos complicados, no entanto, ressalvo 3. Indiscutivelmente os RAMP sofreram um grande embalo na altura que antecedeu a saída do E.D.R.. A Music for Nations estava interessada nos RAMP, tudo apontava para uma mudança profunda na nossa carreira e eis que … o A&R da nossa editora resolveu encher o peito e começar a fazer exigências… Quem sabe como funciona a indústria musical de-

tempo. São eles a nossa história (que tantas vezes tentam apagar em “alguma imprensa” e remeter ao esquecimento). O respeito é algo precioso …e quem falta ao respeito aos RAMP falta ao respeito a todos eles). O facto de termos tido uma nota editorial memorável do falecido António Sérgio na nossa estreia discográfica foi o ponto de partida de um trajecto baseado na paixão pela música que mantemos até hoje. “Só por isso” já valeu a pena. Voltando 25 anos atrás, acredito que só com muito “sangue, suor e lágrimas” lançaram o «Thoughts». Lembras-te o que sentiste quando, finalmente, viram o álbum editado? Um sonho tornado realidade. Era impensável… mas aconteceu. Muito graças à nossa Manager na altura (Aurora Pinheiro) e a uma pessoa que além de grande músico era um visionário: Carlos Maria Trindade. Visto isto e comparativamente a 1988, como é que hoje em dia vês o metal em Portugal? Achas que em 2013 conseguiriam lançar o «Thoughts» da mesma forma?

“O facto de termos famílias e filhos obrigou-nos a ter de abrandar a actividade dos RAMP e trabalhar noutros campos, quer musicais quer técnicos, de maneira a garantir a sobrevivência imediata.” veria ter a noção… mas não… à boa maneira Portuguesa passa-se de besta a bestial e novamente a besta com uma facilidade atroz. Perdemos a oportunidade das nossas vidas graças a um “Cluoless”. Outro momento complicado foi a saída do SAPO. Pela primeira vez sentimos a incompatibilização do trabalho dos RAMP com o trabalho de sobrevivência de um elemento. Por ultimo a saída do Tozé exactamente pelas mesmas razões. O curioso é que aqui se vê a contradição da vida, ambos têm saudades de tocar com os RAMP mas têm hoje em dia uma vida muito mais estruturada e organizada. Os que permanecem na banda têm a magia de fazerem o que gostam mas têm uma vida profissional e pessoal extremamente complicada e desestruturada. Da mesma forma, o que é que recordas com mais alegria? Aquilo que fizeram e que ao olhar para trás fazes aquele sorriso de orgulho, respiras fundo e pensas: “Já valeu a pena” Acima de tudo os amigos que fizemos ao longo do 6

A realidade actual nada tem a ver com 1988. Hoje existem coisas muito boas e com elas, novas realidades negativas. A informação está agora ao alcance de todos (se a quiserem procurar…) , os suportes informáticos vieram possibilitar inúmeras soluções em termos de contacto e de plataformas de trabalho artístico. Na generalidade os instrumentos e os gadgets de trabalho são mais acessíveis e existem em abundancia. As bandas têm a possibilidade de uma maneira muito mais autónoma apresentarem propostas de trabalho com um bom nível qualitativo mas… tudo se banalizou… as coisas tornaram-se efémeras, o consumo desenfreado fez com que as pessoas se desinteressassem em aprofundar o que quer que seja, os valores afundaram-se no objectivo do “ser famoso” e em fazer contra informação cobarde na Internet através do anonimato. Perdeu-se muito do culto e da magia, da paixão e honestidade para algo que necessita de ser acima de tudo muito HYPE. Arrependes-te de alguma coisa que tenhas (ou não) feito ou voltarias a fazer tudo de novo, exata-


mente da mesma forma? Aquilo de que arrependo é de tudo o que não fiz. Voltaria a fazer tudo e muito mais mas, como é lógico, caso soubesse o que sei hoje, iria aperfeiçoar muito mais o processo. Eu sei que por mais que pergunte qual o álbum favorito, os entrevistados têm quase sempre a “delicadeza” de dizer que é o último. No entanto, como esta entrevista é diferente e eu acho que há sempre um melhor e outro menos bom, eu pergunto-te: Qual o teu álbum favorito, aquele que consideras ter mudado a vida dos RAMP ou que melhor vos define. E por conseguinte, há algum que fizesses diferente? Eu gosto de todos os álbuns dos RAMP e acho que todos eles nos definem num determinado contexto temporal. Considero que hoje em dia todos seriam feitos de uma maneira diferente. Têm algo de especial em termos de história, vivências e experiências. Podemos ver nitidamente o amadurecimento dos RAMP e até perceber o que se foi passando na vida deste colectivo. Pela vossa forma de estar na música, tens ideia que os RAMP são uma grande influência para muita gente. Como te sentes relativamente a isso? O que dizes a esta malta que está a tentar singrar na música que tal como os RAMP lutam para ganhar alguns “cobres” e dar uns concertos?

emoções vêm-me à boca e eu tenho de chocalhar, confrontar, agitar as opiniões e provocar as mentes de maneira a que exista acção, uma opinião, um ponto de vista, um raciocínio. Sei que nem todos concordam, mas isso faz parte do jogo. Tem de haver discussão (no bom sentido claro) para gerar conclusões. Os RAMP estão “entalados” como a maioria dos Portugueses (aliás essa expressão vem nesse contexto). Eu acho piada a todos os que consideram grande parte dos que estão desempregados como malandros que não querem trabalhar, que não têm iniciativa, cujo único objectivo é explorar o estado (que somos todos nós) quando por outro lado vemos alguém que vive noutra estratosfera e com ganhos astronómicos que sistematicamente lapidam o erário publico e privado em manobras legalmente duvidosas mas contornadas por bons gabinetes de advocacia. Esta falsa moral de quem não tem certo tipo de problemas e como tal nunca os vai compreender, nunca vai ter a noção do que é trabalhar horas a fio para um tecto salarial que roça a miséria e em que quem ganha mais do que 600 euros é um alvo a abater. Somos um País de emigrantes porque neste canto à beira mar plantado os quadros médio/superiores são povoados por incompetentes que sobrecarregam quem está por baixo não cumprindo as suas funções de organização/planeamento e gestão de todo o tipo

(…) à boa maneira Portuguesa passa-se de besta a bestial e novamente a besta com uma facilidade atroz. Perdemos a oportunidade das nossas vidas graças a um “Cluoless”. Fico extremamente grato e orgulhoso. O conselho que dou é, acreditem, lutem, trabalhem arduamente, façam as coisas com paixão mas igualmente com a lucidez necessária de quem ter de ter a noção de que não existe “Pai Natal” e que se tem de apostar em pelo menos duas frentes de batalha para se garantir uma sobrevivência digna. Estive a fazer a reportagem para a VERSUS no Hard Club, andei por lá a tirar fotografias, bem perto de vós e num dos teus muitos discursos, houve um particular que me chamou a atenção. Aquele em que tu disseste que os RAMP estavam “entalados”. Eu concordo em absoluto contigo. Penso que, mesmo assim, os RAMP não tiveram e não têm aquilo que merecem. Foi muito difícil singrarem no mundo da música e fazerem disto o vosso estilo de vida e o vosso ganha-pão? É verdade, sou um chato. Mas não é por mal, as

de recursos. Para os elementos dos RAMP a vida foi difícil e é difícil, à semelhança da vida de muitos Portugueses que trabalham muito mas que… passam ao lado da “sorte” que procuram incessantemente. No regresso a casa vínhamos no carro a ouvir o «EDR» e o meu colega comentou: “Não sei como é que eles não são mais conhecidos no estrangeiro. O que é que faltou aos RAMP para terem uma carreira internacional? Ou isto foi uma opção vossa? Confesso que não sei. Houve uma altura em quando me faziam essa pergunta eu ironicamente respondia: Se calhar não somos bons o suficiente… se calhar não trabalhámos com as pessoas certas… Esta entrevista já vai longa, (tinha mais uma série de perguntas mas não quero abusar da minha sorte…) por isso vou terminar, ou melhor, vou 7


O facto de termos tido uma nota editorial memorável do falecido António Sérgio na nossa estreia discográfica foi o ponto de partida de um trajeto baseado na paixão pela música que mantemos até hoje. “Só por isso” já valeu a pena. fazer um encore. Vocês tocaram a versão dos Wild Dogs – “Fuck You”, sendo assim, dizes Fuck You a quem? A todos os que se picarem. Tenho de confessar que durante muito tempo pensei que “Try Again” era um original vosso, pois acho que é o tema que melhor vos define… a vocês e à maior parte desta juventude. Concordas? Como é que surgiu a ideia de fazer esta versão? Tal como tudo no Thoughts foi algo bastante ingénuo… ouvimos uma versão desse tema tocado pelos Tankard e na brincadeira resolvemos tocar uma versão nossa. A letra/o riff/e o ambiente positivo do tema eram tão adequados aos RAMP que passou a ser quase tradição ao vivo. Tão simples quanto isso.

“Now, it’s time for a nicotine”! Tenho a dizer que vos vou processar por danos causados à minha voz e ao pescoço. Desde há muitos anos que não “curtia” assim um concerto mas como já disse, os RAMP nunca me deixaram ficar mal. Vá… no Hard Club deixaram porque não acabaste com… pois… It’s time for a nicotine!!! UPPS…sorry Obrigado pela entrevista! Eu é que agradeço em nome dos RAMP lml Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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A arte da conciliação


Code é uma banda que se caracteriza pela variedade: na sua formação, nos países de onde vêm os seus membros (presentes e passados), nas influências. No seu terceiro álbum (apesar de uma carreira relativamente longa, iniciada em 2002), vêm, mais uma vez, mostrar novos caminhos. Ao “chamamento” da VERSUS Magazine acudiram Aort (guitarrista, frontman da banda e o único membro da sua formação inicial), Wacian (vocalista), Andras (guitarrista), Syhr (baixista), para apresentar aos nossos leitores mais um álbum onde procuram conciliar ideias criativas oriundas de variadas fontes. Na informação sobre este lançamento, a vossa editora salienta o facto de este ser o vosso primeiro álbum com esta formação mais recente. O que deu origem a essa mudança no line up da banda? Aort - Durante os anos que levaram ao colapso da nossa formação original, tornou-se cada vez mais evidente que a tensão derivada do facto de termos membros que vinham de países europeus bastante afastados uns dos outros e expetativas muito diferentes relativamente à banda estava a tornar-se insustentável. Não podíamos continuar assim e, por conseguinte, tivemos de decidir se íamos acabar com a banda ou recomeçar do início. Escolhi o caminho mais difícil e comecei quase do nada e aqui estamos nós com a formação mais forte de sempre. E que efeitos teve essa mudança na vossa música? Aort – A nossa música é sempre um produto dos indivíduos envolvidos na sua conceção e das experiências e influências que trazem consigo. Por isso, tal como aconteceu no passado da banda, os novos membros trouxeram os seus contributos pessoais. Esta nova formação inclui elementos que chegaram recentemente à música extrema e isso refletiu-se nas nossas influências e, logicamente, na conceção deste álbum e no resultado final. Como se situam na cena Black Metal britânica? E na europeia? Aort – Francamente, não me preocupo nada em pensar em que cena Code pode ou não integrar-se. No momento em que começamos a fazer esse tipo de reflexão, pomos em risco a tomada de decisões autónomas sobre a música que fazemos e tocamos. A cena Black Metal britânica transformou-se imenso, desde que Code surgiu, mas vejo isso como

algo que simplesmente faz parte do contexto em que existimos e deixo aos deuses a decisão sobre qual o nicho em que nos encaixamos. Conheces a cena Black Metal portuguesa? Aort – As demos de Filii Nigrantium Infernalium e Moonspell deveriam ocupar um lugar de destaque no panteão do Black Metal. Na informação sobre este lançamento, a editora enfatiza a vossa necessidade de fazer post Black Metal com “ingredientes” muito variados. E é exatamente isso que os fãs podem encontrar em «Augur Nox». Por que seguiram esta linha na conceção do vosso álbum? Wacian – Nunca temos um plano pré-estabelecido que determine como vamos compor. O Aort faz a maior parte do trabalho sozinho e depois cada um prossegue isoladamente, à parte alguns ensaios em que nos juntamos. O facto de todos os elementos da banda terem conceções semelhantes e a sorte condicionaram em muito a composição de «Augur Nox». Andras – De um modo geral, o som de «Augur Nox» resulta de uma amálgama de influências muito variadas. As raízes de Code estão profundamente mergulhadas no Black Metal e o nosso som atual resulta da incorporação de numerosas influências nessa matéria seminal. Syhr – Do meu ponto de vista, não se trata propriamente de um desejo ou de uma necessidade de fazer algo diferente do que fizemos anteriormente ou do Black Metal tradicional, mas de uma progressão orgânica. Os nossos dois últimos álbuns são muito diferentes um do outro e «Augur Nox» perpetua essa tradição recente. É claro que o facto de os novos membros terem contribuído com as 11


suas ideias ajudou a criar este efeito de diferença. Que sentimentos expressam em «Augur Nox»? Syhr – Isso vai depender da forma como cada ouvinte interpretar o nosso trabalho. O álbum tem muitas circunvoluções e alude a múltiplos cenários e experiências. As letras estão articuladas em torno de uma espécie de pintura mental, que podes revisitar as vezes que quiseres, vendo-a de forma diferente a cada vez que acedes a ela. Wacian – A música deste álbum é muito complexa do ponto de vista emocional. Mas penso que não está, de modo nenhum, focado em sentimentos como a ira ou a tristeza. Parece-me mais centrado na vontade de passar mais tempo num espaço noturno indefinido,

essa pessoa ou é um colaborador habitual? Aort – O artwork e o layout são da autoria de um artista muito talentoso chamado Dehn Sora. É a primeira vez que o contratamos, mas fez um trabalho fantástico no que diz respeito à representação gráfica da atmosfera e dos temas do nosso álbum. Vão lançar o vosso álbum numa parte do ano em que há menos festivais e eventos ligados à música extrema. O que vão fazer para o promover? Estão a pensar em vir a Portugal? Andras – Vamos lançar «Augur Nox» durante uma festa em Londres, que terá lugar este mês [novembro de 2013]. Poderão ver os pormenores na nossa página no facebook. Depois, estamos a pensar em fazer

“A cena Black Metal britânica transformou-se imenso […] deixo aos deuses a decisão sobre qual o nicho em que nos encaixamos.” onde nascem as superstições e se manifestam os fantasmas e outros predadores invisíveis. Podem descrever a imagem que figura na capa do vosso álbum? E explicar de que modo esta se relaciona com este? Andras – Trata-se de uma imagem abstrata, mas simultaneamente orgânica. Há um elemento que faz pensar em entranhas. Nos tempos antigos, um áugure era um vidente, que consultava as entranhas de animais (nomeadamente aves), durante um ritual, para fazer profecias. Que artista gráfico convidaram para fazer este trabalho? Foi a primeira vez que trabalharam com 12

vários concertos na Europa, que terão início no próximo ano. Ainda não temos planos muito bem definidos, mas em breve começaremos a anunciar datas no facebook, à medida que forem sendo confirmadas. Teremos muito gosto em ir a Portugal, se nos fizerem uma proposta tentadora. É sempre um prazer visitar os nossos fãs nos seus países e tocar para eles, para mostrar quanto apreciamos o seu apoio. Wacian – Uma época do ano em que as árvores perdem as folhas e as flores murcham não podia ser mais adequada para o lançamento de um álbum com contornos tão tenebrosos. Curiosamente, os membros de Code já tocaram durante alguns anos em Viseu, Cascais, Faro e na Marinha Grande, com outras bandas. Vamos a ver que surpresas nos traz 2014.


“[…] alude

O álbum tem muitas circunvoluções e a múltiplos cenários e experiências. […]”

Querem deixar uma mensagem de recomendação do vosso álbum aos nossos leitores? Andras - «Augur Nox» é uma miscelânea de sons de natureza fantasista através da qual o ouvinte poderá libertar-se do mundo material e aventurar-se em dimensões nunca antes exploradas, onde as descobertas e as maravilhas não têm limites. Estão convidados a juntarem-se a nós numa jornada pelo universo sónico desconhecido.

SITE OFICIAL www.agoniarecords.com FACEBOOK www.facebook.com/codeblackmetal VÍDEO www.youtube.com/watch?v=Wu8PIyrcriQ

Entrevista: CSA

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Depois de um ano de 2013 repleto de grandes e bons discos, chega a hora de eleger o melhor e o pior do ano. A escolha do staff da VERSUS Magazine foi deveras díspar, tendo havido apenas três álbuns repetidos em quarenta-cinco escolhas no melhor do ano! O consenso acabou por acontecer no melhor álbum nacional, que foi, «Pornokrates: Deo Gratia» dos Filii Nigrantium Infernalium, o qual para a redação da VERSUS é indiscutívelmente o melhor álbum do ano.

Adriano Godinho 1 - Anciients - «Heart of Oak» 2 - Omnium Gatherum - «Beyond» 3 - New keepers of the water tower - «Cosmic Child» 4 - In solitude - «Sister» 5 - Amorphis - «Circle» André Monteiro 1 - Stray From The Path - «Anonymous» 2 - Breakdown Of Sanity - «Perception» 3 - Terror - «Live by the Code» 4 - A Day To Remember - «Common Courtesy» 5 - Bring Me The Horizon - «Sempiternal» Carlos Filipe 1 - Orphaned Land - «All is One» 2 - Death SS - «Ressurection» 3 - Ereb Altor - «Fire Meets Ice» 4 - The Monolith Deathcult - «Tetragrammaton» 5 – Blackmore’s Night - «Dancer and the Moon» Cristina Sá 1 - Nhor - «Within the Darkness Between the Starlight» 2 - Imperium Dekadenz – «Meads of Nostalgia» 3 - Regarde les Hommes Tomber – «Regarde les Hommes Tomber» 4 - Mord’a’Stigmata – Ansia» 5 - Aosoth – «IV- Arrow in the Heart» Eduardo Ramalhadeiro 1 - Carcass - «Surgical Steel» 2 - Haken - «The Mountain» 3 - Witherscape - «The Inheritance» 4 - The Winery dogs - «The Winery Dogs» 5 - Týr - «Valkyrja» Ernesto Martins 1 - New Keepers of the Water Towers - «The Cosmic Child» 2 - Haken - «The Mountain» 3 - Felix Martin - «The Scenic Album» 4 - Scale the Summit - «The Migration» 5 - Mord’a’Stigmata - «Ansia»

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Sérgio Pires 1 - Summoning - «Old Mornings Dawn»


2 - Shining - «One One One» 3 - Dark Tranquillity - «Construct» 4 - Officium Triste - «Mors Viri» 5 - Dream Theater - «Dream Theater» Sérgio Teixeira 1 - James LaBrie - «Impermanent Resonance» 2 - Monolithe - «Monolithe IV» 3 - Ævangelist - «Omen Ex Simulacra» Leprous - «Coal» 5 - Vulture Industries - «The Tower» Victor Hugo 1 - Soror Dolorosa – «No More Heroes» 2 - Ævangelist - «Omen Ex Simulacra» 3 – Sound of Contact – «Dimensionaut» 4 - Watain – «The Wild Hunt» 5 - Spocks Beard - «Brief Nocturnes and Dreamless Sleep»

Adriano Godinho 1 - Switchtense - «10 Unbreakable Years» André Monteiro 1 - For the Glory - «Lisbon Blues» 2 - Above the Hate - «We Are» (EP) Carlos Filipe 1 - Filii Nigrantium Infernalium – «Pornokrates: Deo Gratias» 2 – Gwydion - «Veteran» Cristina Sá 1 - Filii Nigrantium Infernalium – «Pornokrates: Deo Gratias» 2 - Scarificare - «Postulado» Ernesto Martins 1 - Filii Nigrantium Infernalium – «Pornokrates: Deo Gratias» 2 - Scarificare - «Postulado» Sérgio Pires 1 - Gates of Hell - «Critical Obsession» 2 - Ramp - «XXV 1988-2013» Sergio Teixeira 1 - Filii Nigrantium Infernalium - «Pornokrates: Deo Gratias» Vitor Hugo 1. Serrabulho – «Ass Troubles» 2. Filii Nigrantium Infernalium – «Pornokrates: Deo Gratias» I Wrestled a Bear Once - «Late For Nothing» (AM) Trail of Tears - « Oscilation» (CF) Vision of Atlantis - «Ethera» (ER) Noumena – «Death Walks Within Me» (VH) 15


Quatro indomáveis patifes! O conformismo não é certamente o forte desta banda portuguesa, geralmente associada ao Blak Metal, mas que gosta de surpreender os fãs de um género já de si tão evolutivo! Belathauzer, vocalista e guitarrista, num estilo muito pessoal, discorreu sobre o último álbum da banda – «Pornokates – Deo Gratias» – partindo de algumas perguntas da Versus Magazine, que habilmente baralhou e redistribuiu. Podemos dizer que a vossa banda é um “clássico” da cena Black Metal portuguesa. São frequentemente referidos, quer por bandas nacionais, quer pelas congéneres estrangeiras. Podes dar-nos uma ideia dos momentos mais importantes da vossa carreira até à atualidade? Foi quando comi uma hóstia da eucaristia da igreja do Nosso Senhor Roubado, concelho de Odivelas, antes de começar a gravar a voz deste disco. Fora isso, foi interessante a experiência do coma de três dias. Mas isto foi antes da carreira, mas não do Toni Carreira. Tocar nas Caldas, sem dúvida. Ficarmos no Hotel Poveira, no Porto, com baratas e ratos e aranhas, enquanto gravávamos «A Era do Abutre». Sei lá. Nós não temos carreira. Não somos profissionais. Vamos tocando e criando música, que depois 16

gravamos. Quando nos apetece e a meteorologia assim o permite. Quais as influências que mais vos têm marcado? Metal, metal, metal. Não interessa a “etiqueta”: Thrash, Black, Heavy, Doom, Death, Speed... Mas não falemos de influências: falemos de nós, de pessoas humanas. Há oito anos que não lançavam nenhum álbum. Podemos saber o que vos impediu de o fazer? Tivemos uma revelação. Mas porque haveríamos de o fazer antes, na verdade? Já há tantas bandas a editar tanta coisa… E, para além disso, descobrimos o quinto segredo de Fátima. Estivemos muito ocupados com isto, porque estava muito mal escrito


“[….] Nós não temos carreira. Não somos profissionais. Vamos tocando e criando música, que depois gravamos. […]” em línguas bizarras e com bigodes nos sovacos. Segundo a Prophecia. Como caracterizas este «Pornokrates: Deo Gratias»? É, simplesmente, o nosso melhor disco do ano. Mas em breve será editado um EP, a meias com os Sabbat, do Japão: «Necrocopula Theologica: Sabbat Infernal». O que há nele de Black Metal? Eu vejo-o mais nos vocais (da tua responsabilidade) do que na música, que parece efetivamente mais ligada ao Thrash e ao Heavy Metal. Que pensas desta ideia? Acho simplesmente perfeita, a tua ideia. Não poderia acrescentar mais nada. Mas não esqueças que, para nós, a maior parte do chamado Black Metal não o é. Venom, Sodom, Hellhammer, Bathory… Isto era Black Metal. Os Darkthrone, sobretudo os do «The Cult is Alive». Uma mistura não dogmática que abrange muitos estilos. Apetece-me dizer que o nosso Black Metal é mais Black Metal que os Mayhem, ou os Dimmu panda, ou os Cradle. Aliás, tenho a certeza que sim. Pandas pó de talco… Plastic

holocaust. O álbum foi lançado em setembro. Já têm algumas reações? Sim e são boas, em geral. As más são ainda melhores, porque assim é que é. De qualquer forma, em nenhum momento pensamos num “público”, em “fãs”, nessas entidades abstratas que tanto incluem amigos nossos como borregos bezerrantes. Fazemos o que fazemos, porque gostamos de criar e depois de ouvir este som, com estas variações de estilo, etc. Por isso, que se fodam as reações. Para nós, é um disco tremendo. É quanto baste. Olha, uma reação: http://destructive-music.com/?p=11376 A crítica da Loud! também é potente. Estivemos muito tempo a compor o disco e depois a gravá-lo. Tive de comer uma hóstia na Paróquia do Senhor Roubado, que depois embebi em vinho tinto. Tivemos de abraçar a carne decrépita da Virgem Maria. Só Deus sabe por quanto passámos para aqui chegarmos. Quem fez a arte para este vosso álbum, nomeadamente a capa? Está muito interessante. Obrigado pelo comentário. Foi o nosso veterano camarada Luís Neto, que já em 91 andava aí no underground, a colaborar com zines e a trabalhar com a Dark Records. Eu também colaborei na arte (digo “arte”, porque detesto o uso de termos ingleses supérfluos, como “artwork”, ou “sleeve”, ou “pack”, ou “vinyl-player”, ou “gatefold”, ou “review”, etc., etc… bah). A estrutura geral, aliás, partiu de mim, e a capa em si é do Neto. O que representa? É um desenvolvimento do interior da capa do «Fellatrix Discordia Pantokrator» (2005), também da autoria do Luís Neto, em que eram representados vários cardeaisabortos mitrados. Como na cena inicial de «L’Âge d’Or». Somos anticlericais e antirreligiosos e exercitamos assim a nossa zombaria. A blasfémia é, do meu ponto de vista, uma eventual quase-obrigação do ponto de vista (i)moral de pessoas decentes. Toda essa cambada padreca e freireca e beata e “boa gente” “honesta” e “trabalhadora” deve ser escarnecida na medida do possível, já que não podemos mandá-la para o terceiro mundo embalada em latas de conserva. Os “povos” parecem precisar de cruzes e outros símbolos totémicos. Nós, assim, continuamos o nosso caminho. Que é sempre o caminho do Senhor. Fazemos mais publicidade à Santa Madre Igreja do que a maior parte dos católicos, que, de resto, costumam ser não praticantes (alguns até praticam a sodomia). Está uma bela capa, não está? 17


O triângulo de Deus que há por trás remete para a nossa demo «Os métodos do pentagrama» (Dark Records). Quem nos segue desde então, percebeu. O tom de sangue… Mas, de resto, não posso dizer muito mais da capa, exceto que é precisamente devido ao trabalho artístico da capa que nós SEMPRE quisemos lançar o disco em vinil. Também o EP «Retrofornicator» (2011, Ironbonehead Prod.) foi em vinil. O CD veio empobrecer a dimensão artística extramusical do Heavy Metal de uma forma que só quem mantém o culto do vinil compreende. O triângulo pode ser interpretado, ao mesmo tempo, como uma Vulva arquetípica. Gostava também de saber que relação existe entre ela e o conceito subjacente ao álbum. Respondi antes, acho, mas, em suma, não há conceito subjacente, não é um disco concetual, como se dizia tanto nos anos 80. Algo que nunca percebi bem, isto dos álbuns “concetuais”. A letra é sempre a mesma. Simplesmente, queremos criar algo denso, forte, pesado, afiado. Aliás, não é uma questão de querermos: apenas fazemos isso. Libertários, necrorocknroll, ecuménica matança. Por que optaram por o disponibilizar apenas em LP e, mesmo assim, em número limitado? A resposta, em parte, vem da anterior pergunta. A limitação é uma condição da retroformação da nossa má-formação. Todos somos mortais, do pó viemos e ao pó voltaremos. Finitos somos. Limitados. Quais são os vossos planos para o divulgar? Nunca pude assistir a um concerto da vossa banda, mas gostaria muito de ter essa oportunidade. Haveria, sim, mas não sei que datas se baralham. Cada vez tocamos menos, para que tocar muito ao vivo! Mas teríamos de consultar o nosso manager, que, neste momento, está algures na Rússia, em paradeiro perdido. Esperamos ver-te no próximo concerto! Obrigado por esta bela entrevista: DEO GRATIAS! Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/FiliiNigrantiumInfernalium VÍDEO www.youtube.com/watch?v=L4QJ0a0tLNk

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Ânsia, psicadelismo, hipnotismo…


Da Polónia, vem-nos uma banda de post Black Metal, que não pode passar despercebida no atual panorama da cena – europeia e mundial. Static, elemento chave de Mord’A’Stigmata – num discurso simples, mas simultaneamente profundo – fala-nos de um álbum cheio de emoções – «Ansia» – que contribui em muito para aguçar o nosso apetite por este tipo de música, cada vez mais difundido por quem começou por viver a fundo o “true Black Metal”. Esperamos que esta entrevista leve o leitor da VERSUS Magazine a ir“espreitar”ovídeosugeridoedaíaquererconheceroálbum.Sabemos que vai ter uma experiência interessante, senão inesquecível. O diretor da Versus Magazine recomendou muito que alguém entrevistasse a vossa banda e, quando ouvi os primeiros sons deste vosso «Ansia», percebi imediatamente esse interesse. É um álbum fantástico. Static: Muito obrigado. Ficamos muito sensibilizados por essa apreciação tão positive sobre o nosso novo trabalho. E também estamos muito contentes com o que fizemos. Como descreverias este novo álbum? Apreciei imenso as camadas de vocais Black Metal sobrepostas a camadas de música hipnótica e psicadélica. A forma como se descreve um álbum depende muito de quem o ouve, do que ele/ela mais gosta. O nosso principal objetivo é desencadear um transe que passe pelo teu cérebro e coração. Sugerimos que vejam o transe como o principal traço deste álbum. Outros aspetos prendem-se com o som das guitarras ou os vocais, que contribuem para obter esse efeito. Se o teu ritmo cardíaco e respiratório abrandam ao ouvir a nossa música e a tua mente vagueia, atingimos os nossos propósitos. Que mensagem pretendem transmitir através de «Ansia»? Que espécie de “ansiedade” sentem? 20

O título deste álbum foi ideia minha e está relacionado com as minhas experiências pessoais. Passei por um período muito difícil na minha vida, quando andava a compor este álbum. Infelizmente, este tema parece-me muito pouco interessante para uma revista sobre música. «Ansia» não é um álbum ideológico, é feito de emoções. O nosso manifesto ideológico foi apresentado no nosso álbum anterior – «Antimatter» – e mantemos atualmente os nossos objetivos do início em 2004. O nosso álbum visa suscitar a meditação pessoal sem pistas dadas pelas letras das músicas. Quem encarregaram de dar uma identidade gráfica ao conceito subjacente ao vosso álbum? Todo o grafismo é da autoria do nosso amigo Marcin [Gadomski] do Upgrade Design Studio. Sente-se muito próximo de nós, portanto foi capaz de encontrar uma representação gráfica perfeita para o conceito de base do nosso álbum. Traduz às mil maravilhas as emoções nele apresentadas. A imagem da capa de «Ansia» pretende representar dor e tormento. A vossa editora recomenda «Ansia» a fãs e bandas famosas da cena Black Metal tais como Deathspell Omega, Massemord,

Darkspace, Secrets of the Moon, Blut Aus Nord e outas, incluindo algumas que eu já entrevistei (Dodecahedron e Nachtmystium). Que pensas disto? Bem, é sempre difícil comparar a nossa música à de outras bandas. Talvez nos assemelhemos, em alguns aspetos, a essas bandas que referiste, mas a nossa verdadeira inspiração vem de paragens que ficam longe da cena metal. Enquanto estava a compor para «Ansia», ouvi bandas como Swans, Neurosis e Pink Floyd e penso que o seu som está presente no nosso álbum. Mas também ouço muito Black Metal e há bandas atuais de que gosto muito. Por isso, ser comparado a Blut Aus Nord ou Darkspace é uma honra. Penso que quem aprecia Black Metal hipnótico e psicadélico devia tentar ouvir o nosso novo álbum. Uma consequência muito positiva deste lançamento é o facto de que os fãs de música Post Rock ou Ambiental parecem cada vez mais interessados em conhecer Mord’A’Stigmata. Sempre tivemos uma mente muito aberta às influências fora da cena metal, portanto estou muito satisfeito com o feedback dado por ouvintes que não se interessam especificamente pela nossa cena de origem. A vossa banda parece ser muito


“[…] estou muito satisfeito com o feedback dado por ouvintes que não se interessam especificamente pela nossa cena de origem.” experimental. Sentem-se muito longe do “true Black Metal” dos anos 90? Crescemos a ouvir Black Metal dos anos 90. Temos todos mais de 30 anos ou estamos próximos dessa idade, portanto vivemos intensamente a segunda onda do Black Metal. Talvez não consigas sentilo ao ouvir a nossa música, mas penso que o nosso som está mais próximo do de Burzum do que do de Deathspell Omega. Mas é uma influência muito estranha.

to muito de viajar e de contactar com outras culturas, mas é sempre maravilhoso regressar ao meu país. Prefiro ver-me como um cidadão polaco com o espírito e o coração abertos a todas as outras culturas. Na minha opinião, quanto mais te afastas do ponto de vista europeu, mais interessantes são as experiências que podes viver. Por exemplo, a espiritualidade oriental é muito diferente da nossa, fascinante. Mas, como já disse, sei bem onde é o meu lar.

uma digressão na Polónia, em fevereiro de 2014. Mas estamos abertos a propostas, desde que sejam razoáveis. As agências poderão contactar-nos através do endereço eletrónico stigmatamord@gmail. com ou no facebook. Obrigado pela entrevista.

Sentem-se como uma banda polaca? Ou veem-se antes como “cidadãos do mundo”? Pela parte que me toca, sinto-me muito ligado à minha pátria. Gos-

E – já que estamos a falar do mundo – onde temos de ir para assistir a concertos de Mord’a’Stigmata para promover «Ansia»? Para já, só temos planos para fazer

VÍDEO www.youtube.com/ watch?v=cnFK90FiUko

Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/mordastigmata

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ÆVANGELIST «Omen Ex Simulacra» (Debemur Morti Productions)

«Omen Ex Simulacra», ou a trilha sonora que nos leva ao inferno. Não poderia estar menos de acordo, embora a banda destaca este detalhe na sua música como uma viagem ao inferno, cuja sonoridade, complexa, hipnótica e forte, sugere-nos imagens negras, corrosivas, frias, desprovidas de qualquer sentimento de bondade. Mas em boa verdade o que ouvimos é uma trilha sonora que nos conduz por uma viagem sensorial e mental. E como os juízos de valor são subjectivos, cada um de nós saberá por onde a sua imaginação os poderá levar – para os recantos mais obscuros da mente; espaços que nem imagináramos ter posse. Realmente, dentro da nossa mente cabe o Universo inteiro. E posso afirmar que este recente trabalho dos norte-americanos Ævangelist é um catalisador e forte inspirador da imaginação; é desafiante e altamente contagiante. Estamos perante uma totalidade homogénea, ou seja, todo o álbum é como se fosse um só tema, uma só passagem – uma viagem, portanto. Uma totalidade que é feita de essências de Black/Death Metal, sem por isso soar especificamente a um dos dois. É uma química estranha, mas altamente apelativa. Numa envolvência que nos faz lembrar a esquizofrenia de uns Blut Aus Nord, ou mesmo de uns Pyramids, os ritmos ora são devastadores, ora são cadentes, sempre acompanhados por uma aura de noise/ambiente bem soft, mas bastante significativo e que nos faz parecer que a qualquer momento da viagem a figura do inferno possa mesmo aparecer. Para ajudar, a voz de Ascaris é cavernosa e parece mesmo evocar os mais variados sentimentos negros e ocultos que há no ser humano. Caros leitores, este álbum vai trabalhar com os vossos sentimentos e com a vossa imaginação. Ou não fosse ele um dos mais originais e eficientes lançamentos do género em 2013. [9.5/10] Victor Hugo

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Penso ser a primeira entrevista que os Hail of Bullets têm para a Versus Magazine. Portanto a primeira questão é porque é que a banda se formou em 2006? Ed Warby: Juntamo-nos porque o Stephan queria formar uma banda de Death Metal old school, que seria constituída pelos seus músicos favoritos. Naquela altura não havia muitas bandas a tocar este estilo musical e sentimos que seria uma excelente ideia expressarmos desta maneira a nossa admiração pelos velhos Deuses. Com gente proveniente de bandas com tamanha projeção nos respetivos géneros, será que foi complicado todos lidarem bem com as opiniões/ egos uns dos outros e não incorrer em divergências? De maneira nenhuma, de facto Hail of Bullets é provavelmente a banda mais fácil com a qual colaborei no que diz respeito à questão que colocaste. Gorefest tinha sérios problemas de ego, mas nos Hail of Bullets, somos todos iguais e entendemo-nos bem. 24

O conteúdo lírico dos Hail of Bullets parece estar focado em eventos ligados à guerra relacionados com o regime Nazi. Isto é apenas uma provocação? Na nota de divulgação que vem com o vosso trabalho a referência a Rommel é “Apesar de lutar no lado errado…”. Desculpa, mas isso para mim não faz qualquer sentido. Já conheces um álbum que fizemos intitulado «On Divine Winds»? Não há qualquer referência Nazi nesse trabalho. Nós focamo-nos na 2ª Guerra Mundial, não no regime Nazi. Próxima questão. É algo difícil diferenciar o som dos Hail of Bullets por comparação com os Asphyx. A voz única do Martin faz-nos inevitavelmente achar que é assim. Alguma vez discutiram este aspeto entre vocês? Para mim, os Hail of Bullets não se parecem NADA como os Asphyx, a nossa abordagem à composição é completamente diferente e a única coisa que se soa similar é a voz do Martin. Eu acho honestamente que não há semelhanças para além des-

A reunião do

Há quem ache que o D está bem e recomendater uma segunda ou terc neste género é a melhor base no tema da II Guer hores com uma longa c desde 2006 que se dedi antiga. Ed Warby “dis que transcrevemos pa


o old-school

Death Metal old school -se e há quem ache que ceira banda que assenta r coisa do mundo. Com rra Mundial, cinco sencarreira reuniram-se e icam ao Death Metal à sparou algumas balas” ara os nossos leitores.

sa, e não, nunca discutimos isto.

tos e criar álbuns.

Ter apenas uma banda é para muitos já de si um desafio. Ter duas bandas a tempo inteiro deve ser uma ocupação a 110%. Essa parte tem sido facilmente gerida pode toda a gente na banda? Tenho a certeza que Hail of Bullets requer muita dedicação… Nós mantemos uma agenda combinada entre todas as bandas envolvidas, portanto não é muito complicado. Nós não temos digressões a tempo integral e com algum planeamento é perfeitamente exequível tocar em duas bandas. O processo de escrita é também dividido naturalmente, eu escrevo a maior parte do material para os Hail of Bullets, o Stephan para os Thanatos, o Paul para os Asphyx, etc. Apenas o Martin tem de escrever letras para três bandas, mas não se fazem alguns todos os anos. Hail of Bullets requer dedicação, é um facto, mas porque não ensaiamos muito (de facto apenas apenas tivemos nove ou dez ensaios desde que começamos) apenas temos de investir tempo em tocar concer-

É interessante que Hail of Bullets é mais uma banda que nos anos mais recentes se foca em Death Metal old school. Como é que explicas haver tanto interesse neste tipo de som ainda hoje? Não vejo o mesmo acontecer por exemplo com o Black Metal. Não faço ideia, para mim é apenas porque as velhas bandas faziam melhor música. Havia menos foco na velocidade e tecnicidade, e mais na atmosfera e composições/riffs decentes. Nós queremos manter isto relativamente simples, usar estruturas clássicas e hooks que colam, coisas desse género. E é isso que eu gosto acerca da primeira geração das bandas de Death Metal, todos eles escreviam grandes canções que ainda hoje soam bem. Dan Swanö apareceu neste último disco, desta feita para misturar e masterizar o que ouvimos em «III: The Rommel Chronicles». Olha para ele como o 6º elemento da banda? Absolutamente, e ele sente da 25


mesma maneira. Ele realmente sabe o que a banda deve soar e ele adora a nossa música. Acreditem ou não mas esta foi a primeira vez que o conhecemos em pessoa, ele viajou da Suécia para a Alemanha de modo a ser fácil para ele visitar o estúdio desta vez. Gajo porreiro! As tours da banda têm sido um sucesso, estou correcto? Tens alguma história engraçada que queiras contar com os nossos

leitores? Estão a planear uma nova tour para 2014? Nós nunca fizemos tours, apenas tocamos ao fim-de-semana e em festivais. O que é uma maneira bastante eficiente de chegar a muitas pessoas sem viajar o mundo durante semanas num autocarro a cheirar mal. Não tenho uma história em particular mas é sempre divertido quando vamos para a estrada, somos ainda como putos em viagem pela estrada.

Algumas palavras finais para os nossos leitores? Continuem brutais! Entrevista: Sérgio Teixeira

“…apenas temos de investir tempo em tocar concertos e criar álbuns.”


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Chefe‌ mas pouco!


Não é “mandão”, mas carisma não lhe falta! Em poucas palavras, simples e diretas, Big Boss – o lendário frontman dos Root – fala-nos dos aspetos mais relevantes da vida da banda, que comemora 25 anos de carreira com um álbum ao vivo. Apesar da sua vitalidade, o vocalista pensa no futuro da banda e acalenta a esperança de que esta venha a sobreviver-lhe, continuando a conquistar cada vez mais novos fãs. Qual é a sensação de ser o chefe de uma banda de death metal que ainda atrai novos fãs depois dos 60 anos? Big Boss: Nós NÃO somos uma banda de death metal. E, realmente, continuamos a conquistar novos fãs. Que pensas do death metal atual? E da cena checa? Nada posso dizer sobre esse assunto, porque o death metal não me interessa minimamente. E também não me interesso nada pela cena checa. És realmente mandão? Mandão? Hahahahaha ... BigBoss é apenas a minha alcunha e data de antes da formação de Root. Chamavam-me assim, para me gozar, e eu conservei-a. Portanto, também uso a alcunha com a banda. E é tudo! Como diriges a banda? Quem faz o quê em Root? Igorr (o baixista) é que é verdadeiro chefe dos Root. É o nosso manager, ocupa-se dos contratos, etc. Ashok (lead guitar) é o nosso produtor, logo ocupase da nossa passagem pelo estúdio, das gravações, etc. Paul Dred (o baterista) é o general da bateria. Hanz (o guitarrista) é webmaster e mestre do álcool. BigBoss (o vocalista) é apenas um velho reformado, muito cansado da vida. 25 anos é muito tempo. Quais foram os momentos mais marcantes da vossa carreira até agora (pela positiva e pela negativa)? Para mim, os dois concertos em Portugal fazem parte das experiências mais gratificantes da vida da banda. Há pessoas maravilhosas no vosso país, que nos recebem como se tivéssemos nascido aí. Também recordo com emoção o concerto em Calgary (no Canadá). Não me lembro de nenhuma experiência má. Se houve alguma, apaguei-a imediatamente, expulsei-a por completo da minha memória.

Por que escolheram partes de concertos recentes para representar o que a banda fez durante este longo período? Bem, procurámos cobrir toda a nossa carreira, mas estamos conscientes de que, em 25 anos, fizemos tantas canções que é impossível fazer uma seleção que agrade a todos. De qualquer modo, de vez em quando, alteramos a set list dos nossos concertos, para os manter diversificados e interessantes. Que critérios tiveram em conta para escolher a música que haveria de simbolizar o que fizeram desde os primórdios da banda? A nossa música é criada a partir das letras. Portanto, eu começo por escrever todas as letras para o álbum previsto. A seguir, passo-as ao Ashok e ao Igorr e eles decidem quem vai compor a música para cada uma das canções. Depois, começamos a trabalhar na música. Há anos atrás, quando era eu que fazia tudo sozinho, usava este método de trabalho, depois usei-o com o Blackie e agora faço da mesma maneira com o Ashok e o Igor. Vocês já tocaram com muitas bandas. Quais escolheriam para um concerto destinado a comemorar o vosso 25º aniversário? Moonspell, Behemoth, Napalm Death e King Diamond. Já tocámos muitas vezes com eles e são gente fantástica, grandes amigos e músicos. O que vão fazer nos próximos 25 anos? Tocaremos até eu morrer e depois os outros terão de continuar sem mim. Pelo menos, espero que assim seja. Seria um grande desperdício, se não o fizessem. Entrevista: CSA SITE OFICIAL www.rootan.net VÍDEO www.youtube.com/watch?v=d6AYbd4BqI4 29


AJUNA «Prisoners of the Sun» (Quality Steel Records) Esta só pode ser uma das tentativas mais aborrecidas dos últimos tempos de fusão entre Black Metal e post-Rock. Com a excepção do tema de abertura “Tribute”, que até tem um riff de base muito apelativo, e um segmento intermédio no tortuoso “Suntomb”, tudo o resto neste disco de estreia da banda dinamarquesa soa essencialmente árido e desprovido de qualquer traço de criatividade. A música não transmite nada de psicótico como a editora sugere, e na avaliação final poucos argumentos se podem avançar para motivar sequer uma segunda audição. [4/10] Ernesto Martins

ARTILLERY «Legions» (Metal Blade) Hail aos veteranos Artillery, Thrashers vindos diretamente da Dinamarca que fogem um pouco ao estereótipo do género. Mais uma vez a banda sofreu mudanças ao nível do line-up e para «Legions» foram recrutados J. Madsen e Michael Dahl com novo vocalista. Para uma banda de Thrash a voz não tem aquela agressividade que estamos habituados (Pelo menos eu). De qualquer das formas, não deixa de ser um muito bom álbum embora esteja mesmo na fronteira do metal mais tradicional. “God Feather” é um excelente tema e destaca-se dos demais. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

DEUIL «Acceptance/Rebuild» (LADLO Productions) Dois longos temas de cunho distinto compõem este trabalho de estreia dos belgas Deuil. O brilhante “Acceptance” alterna entre acordes pesarosos arrastados funerariamente, e uma torrente caustica de blast beats que quase submerge os vocais desesperados. “Rebuild” parte dum tenso crescendo post-rock, culmina num secção Black Metal algo maquinal, e fecha com gordos riffs Doomy. É uma experiência algo estranha mas convincente, a ponto de saber claramente a pouco apesar dos seus 27 minutos de duração. A banda, no entanto, promete muito. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

DUSKMACHINE «Duskmachine» (Massacre Records) Bem… há lançamentos que infelizmente nos passam ao lado. Desde meados de julho à espera que fizesse uma review encontravamse os Duskmachine. «Duskmachine» é o segundo álbum do quarteto formado por ex-membros dos Overkill e Annihilator onde se destacam Joe Comeau que gravou «Necroshine» e agora assume também a voz e Randy Black, exímio ex-baterista dos Annihilator. «Duskmachine» é uma potente e energética mistura (bem coesa por sinal) de Thrash, Power e metal progressivo, com muito groove à mistura. Devido a mudanças na formação esta banda nunca conseguiu fazer passar o seu real valor. E acreditem que têm a rodos. Confirmem! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

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DUNCAN EVANS «Lodestone» (Prophecy Productions) Na VERSUS#26 fiz a review ao EP «Bird of Prey» e se bem me recordo fiquei muito curioso para ouvir o primeiro álbum a solo de Duncan Evans. As minhas espectativas não saíram goradas. Evans dedica-se à narração de mitos e histórias sobrenaturais. Numa forma “reduzida” mas não deixando de ter o seu quê de virtuoso. A forma como nos transmite toda esta tradição folclórica, aliada a um ambiente “negro” e melancólico roça o sublime. Este é um álbum (quase) todo ele acústico que nos remete um pouco para as negras baladas de Nick Cave ou Tom Waits. Isto, claro, com as devidas diferenças, até porque «Lodestone» tem, ainda assim, uma “personalidade” distinta e muito forte. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro EQUILIBRIUM «Waldschrein - EP» Children of Bodom versão Pagan Metal! Melódico, brutal e de algum modo experimental! Este quinteto alemão apresenta o EP «Waldschrein» que serve de apresentação do álbum que chegará em 2014. Composto somente – e eu escrevi somente!? – por 4 temas sendo o «Waldschrein» o único original em duas versões, mais duas versões de temas mais antigos re-gravados – com especial relevância para “Der Sturm” gravada com o anterior vocalista. Não vou deixar escapar o longa duração… e 2014 já aí tão perto! [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

EXIVIOUS «Liminal» (Season of Mist) Muitas vezes, antes de ouvir um álbum que me chegue à mão, desconfio da qualidade só por ler um pouco da sua biografia. Exivious é composto pelos ex-membros dos Cynic, T. Kruidenier e R. Zielhorst, M. Nienhuis dos Dodecahedron e Y. Van Eekelen dos The New Dominion. À partida… qualidade garantida. «Liminal» é um excelente álbum instrumental, uma fusão técnica, muito emotiva e experimental de Jazz e Metal Progressivo. Surpreendente! Ao ouvir «Liminal» e sem darmos por isso, somos arrastados por este turbilhão sonoro, envolvente e intrigante! Tal como o algodão… não engana! Excelente! [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

GARTH ARUM «The Dawn of a New Creation» (Satanath Records) Este é um daqueles discos muito difíceis de caracterizar com base nos habituais géneros e sub-géneros de Metal. A música tem um pouco de tudo, podendo soar a um tempo delicada, colorida e cheia de texturas, para logo a seguir se transmutar em algo pesado, muito rápido e negro. À partida a sua abordagem eclética e avantgarde pode soar algo incoerente, mas rapidamente tudo se revela fluente e a fazer sentido no conjunto. O trabalho reúne as criações dos últimos quinze anos do multi-instrumentista Madrileno Nightmarer, que já anunciou novidades para breve. [9/10] Ernesto Martins

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KING FEAR «Frostbite» (Quality Steel Records) Inusitadamente inspirado na conquista apaixonada dos cumes mais altos e gelados do mundo, este álbum de estreia do jovem trio de Hamburgo (que inclui Nachtgarm, o vocalista que passou pelos Dark Funeral em 2011/12) é uma proposta de Black Metal relativamente directo e de estética próxima do trabalho dos Khold. Embora já quase nada neste filão de Black Metal seja motivo de fascínio, os oito temas aqui em oferta incluem engenho, garra e variedade musical em dose suficiente para que os fãs do género não dêem o seu tempo por perdido. [8/10] Ernesto Martins

NETHERBIRD «The Ferocious Tides of Fate» (Scarecrow Music) A combinação de ferocidade e melodia que emana deste terceiro registo dos Netherbird é naturalmente reminiscente de uma grande variedade de Death/Black Metal de origem sueca, mas tem também um toque distintamente pessoal e até alguns ecos modernos de post qualquer coisa. Consegue despertar uma certa nostalgia dos anos 90, mas sem parecer que estão a reciclar velhas glórias. Juntando a isto uma mão cheia de riffs infecciosos e uma conjugação primorosa de todos os instrumentos (de onde se destaca a percussão arrebatadora de Nils Fjellstrom dos Dark Funeral), o resultado é nada menos que uma infusão de vitalidade num género há muito moribundo. [8.5/10] Ernesto Martins NHOR «Within the Darkness Between the Starlight» (Prophecy Productions) Ouvir Nhor é como submergir num universo de sonhos; uma esfera transcendente onde coabitam a melancolia e a mais profundas das serenidades, com a angústia manifestada a plenos pulmões na solidão dos vastos espaços. A música deste projecto a solo do multi-instrumentista homónimo inglês reflecte tudo isto (e outras coisas mais que as palavras não descrevem) nas suas vagarosas e etéreas melodias de piano, nos arrastados riffs Doom que se redobram como mantras, e nas ocasionais descargas de blast beats. Enfim, a melhor companhia para desfrutar a sós numa destas noites frias de Inverno. [8.5/10] Ernesto Martins

PENTAGRAM CHILE «The Malefice» (Cyclone Empire) Pioneiros do Metal no Chile há quase 30 anos, os Pentagram (agora Pentagram Chile) sempre mantiveram uma aura de culto mesmo sem nunca ter gravado nenhum álbum. Mas algum dia teria de acontecer e o seu mentor Anton Reisenegger (entretanto famoso pelos Criminal e, mais recentemente, pelos United Forces de Billy Milano) mostra que não deixou créditos por mãos alheias com esta estreia recheada de riffs criativos no jeito dinâmico de Thrash Metal negro e da velha guarda, não muito distante dos estilos de Slayer e Possessed. Esqueçam as cópias revivalistas pois isto é que é a matéria genuína. [8/10] Ernesto Martins

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RIVERS OF NIHIL «The Conscious Seed of Light» (Metal Blade) Esta é uma proposta de Death Metal técnico e brutal, da escola Morbid Angel e com um estilo a fazer lembrar os britânicos Mithras. O instrumental de abertura bem como “Rain eater”, “Birth of the omnisavior” e especialmente a última “Airless”, mostram que a formação originária de Reading, EUA, tem a competência necessária para lidar com a complexidade a que se propõe. Falta é aqui mais alguma criatividade para impedir que demasiados temas passem a correr sem deixar impressão de espécie alguma. A sonoridade muito amalgamada também não ajuda. [6.5/10] Ernesto Martins

SAMMY HAGAR «Sammy Hagar & Friends» (Frontiers Records) Álbum a solo de Hagar que é uma mescla de temas originais com algumas versões bem porreiras! «Sammy Hagar & Friends» não se limita a ser um qualquer álbum de rock, versões como o excelente e diferente “Personal Jesus”, versão blues e participações dos seus amigos Michael Anthony, Neal Schon e Chad Smith, “Knockdown Dragout” com o Mestre Satriani na guitarra e tal como os Metallica uma versão de Bob Seger, a “fresquinha” “Ramblin’ Gamblin’ Man”. Pelo seu carácter alegre, “fresco” e “despachado” este CD é mesmo apropriado para ouvir num descapotável (ou janelas abertas) num dia soalheiro. É assim que me vejo ouvir «Sammy Hagar & Friends» [8/10] Eduardo Ramalhadeiro

SUMMONING «Old Mornings Dawn» (Napalm Records) É impossível não ficar impressionado com a beleza, o poder bombástico e o carácter absolutamente majestoso que emana da música dos Summoning. É algo que transcende o épico. Este sétimo registo de originais até pode não ter o brilho do anterior «Oath Bound» mas mantém intactos todos os traços sónicos da banda austríaca. Aliás, não acrescenta quase nada de novo ao legado do grupo e isso até poderia ser bom. No entanto, a verdade é que mesmo o estilo fantástico e único dos Summoning começa a cansar ao fim de alguns discos virtualmente idênticos entre si. [8.5/10] Ernesto Martins

VÀLI «Skoglandskap» (Prophecy Productions) Depois da estreia, Vàli desejou mais. E em «Skoglandskap» esse desejo é audível, e quase tangível. O folk melodioso, com pitadas de clássico transborda de beleza e melodia; transparece uma melancolia muito própria, e sugere uma harmonia com a Natureza. Num registo totalmente acústico, Vàli vai dedilhando pelas cordas melodias que são acompanhadas por outros instrumentos como o violoncelo, flauta e piano. O resultado é arrepiante, para quem lhe der uma oportunidade. [7.5/10] Victor Hugo

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Um homem de gostos simples!!! É assim que se apresenta Niklas Kvarforth, a “mente brilhante” dos Shining. O leitor julgará por si próprio. Em conversa com a Versus sobre o último álbum da banda – uma compilação de versões regravadas de canções dos primeiros tempos –, faz um balanço do passado, comparando-o com o presente e o futuro, numa apreciação imbuída de um profundo espírito crítico.


Li na informação sobre este «8 ½ - Feberdrömmar I Vaket Tillstånd» que inclui canções regravadas com vocalistas de outras bandas, que tu convidaste. Porque decidiste lançar um álbum desta natureza? Niklas – Depois de termos rompido com a Spinefarm/Universal, em fevereiro, tivemos de enfrentar tempos de incerteza e frustração, porque havia problemas que estavam a afetar seriamente a banda. No meio do caos, eu comecei a recuperar o que nos tinha sido roubado ao longo dos anos por uma ralé sem classificação. Consegui fazê-lo sobretudo assumindo o controlo do nosso merchandising (que podem ver em www.shininglegions.com) e também procurando encontrar uma forma de retaliação contra uma editora que lançou uma edição ilícita com estas demo há 10 anos (que, infelizmente para nós, continua a fazer sucesso). Como não estava com vontade de relançar algo que já existia, decidi acabar de fazer as gravações (os originais incluíam apenas pistas de duas guitarras e bateria programada). Depois, combinei este projeto com outro que tínhamos delineado no tempo em que eu andava a magicar na ideia de regravar «Within Deep Dark Chambers” [álbum lançado em 2000] com seis vocalistas diferentes apresentando as suas próprias versões das nossas canções, em vez de aparecer eu a refazer o que já tinha feito no fim dos anos 90. E é esta a história deste álbum. Precisávamos

Como escolheste o vocalista ideal para cada canção? Devo dizer-te que fizeste excelentes opções, porque este álbum é realmente fantástico. Obrigado. Muitas destas pessoas já estavam associadas a este projeto, quando começámos a planear a regravação destas músicas que datam do início da nossa carreira. Portanto, a escolha não foi muito difícil. Infelizmente, o último vocalista escolhido morreu no ano passado e, por conseguinte, eu tive de encerrar o álbum com uma nova versão de “Through Corridors of Oppression” [da compilação do mesmo nome lançada em 2004], em vez da faixa que estava inicialmente prevista.

de mostrar aos nossos fãs que Shining não ia desaparecer por causa da situação problemática criada pela nossa ex-editora, logo este “álbum” tinha de vir à luz do dia.

este mês. Será a primeira, desde a que fizemos com Watain há três anos. Mas está fora de questão levarmos connosco todos estes vocalistas. Isso ia acabar numa batalha sangrenta. De momento, só te posso dizer que temos algumas surpresas para essa ocasião, que poderão incluir (ou não) algumas dessas personalidades. Vão ter de esperar pelos concertos, para verem com os vossos próprios olhos.

Há mais músicos convidados neste álbum? Não. Só lá estamos eu, o Christian [Larsson, o baixista da banda] e o Lars Fredrik, nosso colaborador há muito tempo, a pormos as mãos na massa mais uma vez. É uma situação estranha para o Huss [guitarrista da banda desde 2005], mas ele não fazia parte da banda no início do milénio, portanto não lhe deve fazer grande diferença. Vão fazer concertos para apresentar este álbum ao vivo? Como vão conseguir reunir todas estas estrelas do Black Metal num só palco? Na realidade, vamos dar início a uma digressão

“Sou um homem pouco exigente. Apenas quero ver o mundo inteiro a arder. […]”

Podes explicar-nos o título do álbum? Não percebo uma palavra de sueco. Este título significa qualquer coisa do género “Sonhos febris de alguém acordado”. Quem fez a capa do álbum? Que relação existe entre essa imagem e o conceito subjacente a ele? Um jovem artista polaco, muito talentoso, com quem entrei em contacto quando estava a trabalhar noutro projeto. Foi uma coisa muito estranha… Ele já tinha criado esta imagem muito antes de eu o ter convidado para fazer a capa deste álbum, mas ela assemelhase à forma como eu via essa capa e aos esboços que fiz para ela de uma forma verdadeiramente absurda. Não vou falar da relação com o conceito subjacente ao álbum, porque acredito que cada um deve construir o seu próprio sentido, a sua própria interpretação.

Shining ainda é como neste álbum? Como descreverias o vosso som atual? Tenho dificuldade em compreender a tua pergunta. Shining foi sempre uma espécie de espelho onde se reflete o meu inferno pessoal. Portanto, o que os outros membros da banda, sejam eles quem forem, possam fazer nunca afetará em nada a sua alma. Sintome constrangido pela ideia de dar um nome ao que faço. Afinal, o que eu fiz no passado teve consequências que vejo como desagradáveis. O meu trabalho deu origem a um subgénero do metal que foi adotado por bandas sem qualquer talento, que desonraram o conceito que eu trouxe à luz do dia. Bolas! Shining é a verdadeira essência das Trevas. Faz desta ideia o que quiseres. 35


Vamos ter direito a um álbum de originais em breve? Sim. Têm participado em muitos concertos e festivais? Estive no Hard Club no vosso concerto de março de 2011 (com Aosoth e Watain). Tencionam voltar a Portugal um dia destes? Temos pisado pouco os palcos desde essa digressão com Watain. Participámos em alguns festivais, bem menos do que era nossa intenção. Infelizmente, durante a nossa digressão, não passaremos por Portugal, nem por Espanha. É que, até ao momento, ainda ninguém nos fez uma proposta decente. Mas estamos desejosos de pisar de novo solo ibérico e não hesitaremos em o fazer, se algo de tentador surgir entretanto, que nos permita fazer o concerto da forma como o imaginámos. Recusamo-nos a fazer coisas que apenas correspondem a parte dos nossos intentos. Estamos certos de que alguém confiará no nosso discernimento e nos levará ao vosso país em breve. 36

Estás quase a completar 30 anos e fazes parte da cena Black Metal desde os 12/13 anos. Ainda tens muitos sonhos para concretizar? Sou um homem pouco exigente. Apenas quero ver o mundo inteiro a arder. Portanto, como podes ver, ainda não consegui concretizar os meus sonhos mais queridos. Mas isso vai acontecer, mais tarde ou mais cedo, podes estar certa disso. Entrevista: CSA SITE OFICIAL www.shiningasylum.com www.shininglegions.com FACEBOOK www.facebook.com/kvarforthofficialfanpage VÍDEO www.youtube.com/watch?v=auUiFFX4oVE



Muita coisa e nada! É assim que Nhor define… Nhor, o seu projeto musical! O fascínio pela bela sonoridade desta one man band foi o catalisador que nos levou a contactar o autor da sua existência. As suas palavras revelam que a sua música e letras visam captar a beleza do universo. A cumplicidade de um fantástico ilustrador permite vê-la representada em imagens. E aqui temos uma fórmula estética verdadeiramente comovedora – no sentido ligado à raiz desta palavra. Como consegues sobreviver num mundo “normal” fazendo uma música tão bela? Nhor: Explorando a natureza deste mundo, a sua essência. Muita gente considera a ciência como algo frio. Pela parte que me toca, quanto mais aprendo sobre a Terra e a minha existência, mais fascinantes as acho. Todos fazemos parte de uma existência verdadeiramente extraordinária. 38

Ao ouvir a tua música ficamos com a sensação de que quase podemos “tocar” a atmosfera que ela evoca. Como crias este efeito? Reverberação. Sem dúvida alguma, é o tipo de efeito sonoro que privilegio. Quando gravo, tento sempre captar a sonoridade do espaço onde me encontro, que me parece tão importante como a do instrumento que estou a tocar, o

que dá mais profundidade à música. Por outro lado, não me preocupo muito em criar “canções”, foco-me mais na música. Não me interessa criar música que obedeça a uma estrutura convencional. Para mim, o vento é música, assim como a chuva que cai no telhado da minha casa. Preocupo-me tanto em criar atmosferas como em compor música.


As ilustrações são da autoria de um grande amigo, que dá pelo nome de “SinEater”. Já nos conhecemos há muitos anos e vivemos na mesma região. Pareceu-me óbvio escolhê-lo para fazer esse trabalho, porque sabia que ele seria capaz de compreender o que eu estava a tentar criar. Vou ter com ele, levando comigo as minhas ideias e os meus esboços toscos, e ele transforma tudo isso nos trabalhos maravilhosos que tanto te agradaram.

Estudaste música? Não, mas isso não quer dizer que não possa vir a fazê-lo. Não sei ler pautas e os meus conhecimentos de teoria musical são escassos. Sou um autodidata: aprendi sozinho a tocar todos os instrumentos que uso na minha música. Como já referi, vejo a música como uma forma de exprimir o meu íntimo e nunca aceitarei limites impostos por outrem, por instrumentos e técnicas forjados por outros. Suponho que escreves sozinho a música e as letras dos teus álbuns. Como consegues? Com paciência. Sobretudo comigo próprio. É uma das grandes vantagens de ser o único envolvido no meu projeto musical. Se desanimar, se falhar, a culpa será exclusivamente minha. Mas também não tenho que ceder às vontades alheias. No mundo da música, é arriscado assumires sozinho toda a responsabilidade. Pela parte que me toca, só quando começo a gravar é que consigo ver como soa o que eu criei. Também és tu que fazes as ilustrações para as capas dos álbuns da banda? Quem me dera ter essa habilidade.

O que distinguee este album dos seus antecessores? «Within The Darkness Between The Starlight» resultou da combinação de tudo o que fiz anteriormente. Penso que revela uma maior maturidade na minha abordagem musical. Decididamente é um álbum muito mais dinâmico do que tudo o que eu fiz antes. Este projeto musical corresponde a um processo de descoberta de mim próprio.

Através dele, explorei quem sou, o que sou, o espaço/tempo em que me encontro. O meu primeiro álbum ajudou-me a descobrir quem sou, o segundo onde me encontro e o terceiro o que sou. Este último reúne todas estas dimensões e ainda faz referência ao tempo em que me situo. Onde encontras a inspiração para a tua arte? Sinto que devo tudo o que criei ao universo. Busco inspiração nas estrelas e nos planetas. Devo a minha criatividade à Lua e à Terra, ao vento e à chuva. À floresta e às criaturas que nela vivem. Tudo o que tenho foi-me cedido por eles. A minha música é apenas uma pálida representação da sua canção original e a minha imaginação, uma réplica vaga da mãe natureza. Sentes alguma afinidade com bandas como os franceses Alcest e Les Discrets, os britânicos A Forest of Stars ou os suecos Arckanum, para mencionar apenas algumas? Respeito todas essas bandas, porque, à sua maneira, tentam atingir os mesmos objetivos que eu. Todos temos perspetivas musicais


“Sinto que devo tudo o que criei ao universo. […] A minha música é apenas uma pálida representação da sua canção original […]” e estéticas próprias. Mas nunca me preocupei com o que outros artistas estão a criar. Este projeto vive sobretudo de mim, representa a minha demanda pessoal e não precisa de seguir caminhos alheios. Podemos seguir na mesma direção, sem que os nossos propósitos e destino sejam exatamente os mesmos.

Nhor é uma banda de “true black metal“? É difícil responder a essa pergunta, porque tudo depende da forma como defines “black metal”. Se estiveres a pensar nas origens do género, tal como foram estabelecidas por bandas como Venom, de certeza que não é. O mesmo acontece, se estiveres a pensar no black metal norueguês dos anos 90. Mas

o black metal transformou-se imenso, desde essa altura. Das suas raízes, nasceu uma árvore com inúmeros ramos e Nhor está algures num deles. Dás concertos? Onde? Quando? Nunca toquei ao vivo com Nhor. E, de momento, não é minha intenção vir a fazê-lo. Sinto que a minha música é para ser ouvida no isolamento, deve ser uma experiência solitária. Esforcei-me tanto por usá-la para transmitir a forma como vejo as estrelas e a Terra que me parece uma perda de tempo fechar esta imagem audível numa sala de concertos, entre quatro paredes. O que significa o nome da banda? Onde encontraste esta palavra? Como a pronuncias? Nuh – or. O “Nuh” significa “nenhum” [“none”]. E o “or” significa “antes” [“before”]. Na verdade, inventei esta palavra quando era novo, foi uma espécie de aparição que eu conservei até agora. Pode significar muita coisa e nada. Vejo-a como uma tela preta, onde outros podem pintar o que quiserem. É uma palavra à qual cada um pode atribuir o significado que entender. Obrigado pela atenção que dedicaste ao meu projeto, manifesta nas perguntas desta entrevista. Fiquei muito sensibilizado. Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/nhoruk VÍDEO www.youtube.com/ watch?v=MzlhShMyTEE


s i a c i s u m s e õ x e l f re tações e ver aumentar exponencialmente a vantagem percentual dos Gwydion sobre fortes candidatos mais mediáticos do que o grupo de Folk/Viking Metal, até hoje remetido ao Underground. Cabe agora à RTP decidir que artista nacional representará o nosso País em Copenhaga, pois o resultado obtido pelos Gwydion não se traduz necessariamente numa decisão executiva por parte da televisão estatal. Não acredito, pois, que a RTP selecione os Gwydion como representantes nacionais do certame. Duvido que a mentalidade profundamente institucional da televisão do Estado lhe permita contrariar a vontade do statu quo.

dico Marchar até à vitória final em Copenhaga! Em novembro os Gwydion venceram a primeira edição da iniciativa “A escolha é sua!”, organizada pelo site ESC Portugal (dedicado ao festival Eurovisão da Canção) e destinada a encontrar o possível representante português no certame (que se realiza a 6, 8 e 10 de maio em Copenhaga, capital dinamarquesa). O apuramento fez-se através dos votos do júri e dos fãs (online, neste caso), tendo os Gwydion recolhido 87% dos votos, contra 13% de Luciana Abreu, artista que, pelo mediatismo que protagoniza (embora nem sempre por razões artísticas) teria, à partida, mais hipóteses de ascender ao primeiro lugar. Tendo numa primeira fase sido integrada um grupo de 57 candidatos, a banda lisboeta foi selecionada para fazer parte dos 28 finalistas. Numa conjugação de esforços pouco habitual entre os metaleiros nacionais, dezenas de milhares de fãs votaram em massa no sexteto ao longo das sucessivas eliminatórias. Para assegurar que os Gwydion sairiam vitoriosos, nas redes sociais partilharam-se insistentes apelos ao voto no grupo, facto que valeu acusações injustas por parte dos fãs de outros artistas (incapazes de se mobilizarem em prol de um objetivo comum) dirigidas aos apoiantes dos Gwydion por alegadamente manipularem os resultados. Argumentos ridículos de invejosos que não apreciam música real, genuína, com sentimento e conteúdo, produzida por homens, não por máquinas.

Mas colocando a remotíssima hipótese de a RTP levar os Gwydion à Dinamarca duas realidades são incontornáveis. Em primeiro lugar, a participação na iniciativa “A escolha é sua!” conferiu à banda uma projeção inusitada nas vésperas do lançamento do novo álbum, Veteran. Foi o timing perfeito. Em segundo lugar, não faltará, mesmo entre os fãs de Metal, quem manifeste repulsa pela decisão de os Gwydion representarem (eventualmente) o País neste certame. Com efeito, em 2006, numerosos metaleiros (nacionais, inclusive) objetaram a vitória dos Lordi no evento europeu, argumentando que, face ao look zombie do grupo, o Metal voltaria a descredibilizar-se perante a sociedade, após tantos anos de luta para conquistar o seu respeito. É verdade que tivemos de trabalhar arduamente na sequência das atitudes antissociais de alguns que, muito antes de os Lordi sequer existirem, arrastaram pela lama a imagem da comunidade metaleira (os acontecimentos na Noruega durante os anos 90 constituem apenas um de vários exemplos). Mas caso os Gwydion (que ostentam um visual guerreiro) embarquem para Copenhaga, independentemente da classificação que obtiverem, os mesmos de sempre irão manifestar o seu desagrado pelo facto. Nada que abale a marcha dos guerreiros lusitanos. Dico

Foi magnífico acompanhar passo a passo as vo-

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Wagner, Bl


lack Metal, Manowar‌


Tudo isto é referido por Rune Eriksen (atualmente guitarrista dos Twilight of the Gods) para descrever as origens da música feita por esta banda da qual fazem parte grandes glórias da música extrema europeia. Da experiência como uma banda de covers dedicada a Bathory, nasceu o projeto de ir mais além e plasmar em música uma herança cultural comum, que deu origem à carreira de cada um destes “monstros do metal”. Como pode uma banda constituída por músicos vindos do “true Black Metal” apresentar um estilo tão roqueiro? Cansaram-se das trevas? Rune: Olá, Cristina. Penso que, acima de tudo, a razão por que fizemos isso é o nosso genuíno amor ao Heavy Metal. Nascemos todos entre o início e os meados dos anos 70 e fomos praticamente criados no metal. Foi aí que tudo – ou, pelo menos, muita coisa – começou, como sabes. Com Black Sabbath, Judas Priest, Iron Maiden, Scorpions, etc. Portanto, de certa forma, é uma espécie de regresso às origens, o que nos agradou imenso. Todos estivemos em muitas bandas e abraçámos diferentes estilos, ao longo dos anos, mas mantivemo-nos sempre fiéis ao Heavy Metal old school. Com Twilight of the Gods rendemos homenagem às nossas origens. Dado que o nome da banda evoca Black Metal old school, não receiam que as pessoas esperem de vós algo diferente do que fizeram? Não. Percebo o sentido da tua pergunta, mas não sinto que o nome da banda nos vincule assim tanto ao Black Metal old school ou a qualquer outro estilo. É verdade que fomos buscar o nosso “moniker” a um álbum de Bathory, da época pré-viking, lançado em 1991, ao qual rendemos homenagem há uns anos atrás. Mas este nome também nos pode ligar à ópera de Wagner que tem esse mesmo título: Götterdämmerung. Para lá destas duas referências, nada nos liga ao Black Metal, à exceção – talvez – de uma alusão ao Ragnarök da mitologia nórdica, se alguém “escavar” um pouco. No que se refere à música propriamente dita, compreendo que tenhamos apanhado algumas pessoas de surpresa, porque, com uma formação como a nossa, estariam à espera de algo mais extremo. Mas, como todos sabem, tudo começa sempre por uma canção e o nosso mundo foi certamente despoletado pelos deuses do Heavy Metal. A nossa música parece “roubada” aos Manowar…

Somos todos gente gira e amável. Talvez alguns um pouco mais do que os outros. De qualquer modo, tudo funciona à base de uma química que se criou entre nós. Estivemos juntos em alguns festivais, fizemos uma digressão europeia com o nosso reportório de tributo a Bathory (relativo a «Blood Fire Death». «Hammerheart», «Twilight of the Gods» e »Blood on Ice») e, durante essa experiência, ficámos a conhecernos uns aos outros a vários níveis. Desenvolvemos uma convivência franca, que nos fez sentir a vontade de partilhar algo mais e, assim, surgiu «Fire on the Mountain». Vamos ver onde isto nos leva. «Fire on the Mountain» é, indubitavelmente, uma “bomba” rock capaz de inflamar qualquer audiência. Como conseguiram fazê-lo? Quem compôs a música? Quem escreveu as letras? O álbum foi criado aqui em Portugal, perto de Albufeira, onde alugámos uma casa durante uma semana (com o apoio do Bruno dos In Tha Umbra). Substituímos a mobília por uma bateria, guitarras, baixo, amplificadores, etc., e, assim, ocupámos a sala de estar da casa. Depois começámos a tocar juntos, para trabalhar as nossas ideias de partida. E foi deste modo que fizemos a maior parte do material que consta do álbum, com a ajuda de algumas cervejas e outras bebidas. O resto do trabalho foi feito no Orgone Studio, em Londres, onde gravámos a bateria e os vocais. Tivemos o cuidado de alugar o estúdio por alguns dias, antes de fazermos a gravação da bateria, para podermos trabalhar juntos nos arranjos, etc. As guitarras foram gravadas na costa ocidental da Noruega, numa pequena cidade chamada Haugesund, onde Frode (o baixista) vive. A maioria dos riffs deste nosso álbum de lançamento é da minha autoria, mas todos nós tivemos picos de criatividade durante o processo de criação, consignados em cada uma das canções que dele fazem parte, logo é o produto de um verdadeiro trabalho de equipa. O Alan [Averill, vocalista] escreveu as letras.

Como é fazer parte de uma banda inteiramente con- Que fogo é este a que aludem no vosso álbum? Têm stituída por “monstros sagrados” da cena metal? intenção de o extinguir? Ou de o alimentar? 44


A faixa título - «Fire on the Mountain» – e, até certo ponto, a capa do álbum foram inspiradas pelo cerco de Viena ou, mais propriamente, pela batalha de Viena, que ocorreu em 1683. No entanto, o conceito subjacente ao álbum não se restringe a este facto histórico, já que cada uma das canções tem um tema específico. De onde vem a capa épica do álbum? Foi feita por amigo meu de Bucareste (Roménia) chamado Costin Chioreanu (Twilight13 Media). É um mestre consumado e já tinha feito a arte gráfica para trabalhos de outras bandas a que pertenci, como os falecidos Ava Inferi ou Mayhem e também para Ulver, Grave, Demonical, At The Gates, etc. Confio nele em absoluto para fazer trabalho para mim e para as bandas em que me envolvo, porque sei que tem sempre uma perceção altamente apurada do sentido da música e dos temas desses projetos.

Planeiam desafiar bandas como Iron Maiden, WASP ou Manowar para concertos ao vivo? Há poucos meses, fizemos uma digressão de 4 semanas com Rotting Christ e Negura Bunget e, apesar de a companhia destas bandas poder parecer estranha, tendo em conta a diferença de estilos musicais, a tour foi um enorme sucesso. Foi muito bom regressar à estrada para promover o nosso álbum, ao mesmo tempo que este era lançado. Fomos muito bem recebidos e isto revela até que ponto este tipo de música continua a ser apreciado, já que conseguimos entusiasmar o público noite após noite. No Reino Unido, tudo correu particularmente bem, porque tínhamos o caminho aberto graças às reportagens que nos consagraram e às boas críticas que o álbum recebeu. Para 2014, temos prevista a participação em alguns festivais e, num momento (ainda a definir), contamos arrastar o nosso “aço inoxidável” até aos Estados Unidos. Para além disto, limitar-nos-emos a trabalhar em material novo! Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/totgofficial


A união faz a força Das palavras de Quetzalcoatl, vocalista e guitarrista desta banda de Black Metal – portuguesa e nortenha – e responsável pela sua fundação, deduz-se que, no caso de Scarificare, como em muitos outros, o segredo da sobrevivência e do progresso é a união em torno de um projeto comum, em que todos creem. Pela conversa com a VERSUS Magazine passaram tópicos como a especificidade da cena portuguesa, a sua projeção, a história da banda e os seus planos para o futuro, fazendo de «Postulado» - lançado em outubro – o pretexto para “chegarmos à fala”. O que significa Scarificare? Por que escolheram esse nome para a banda? Quetzalcoatl: Scarificare é uma palavra em latim que significa “escarificação”. O nome foi sugerido pelo primeiro baterista da banda (Sothis) e a decisão final foi unânime. A escarificação consiste no ato de mutilar superficialmente a pele, produzin46

do cicatrizes com efeito estético. Este ritual de embelezamento de tribos ancestrais foi importado para a nossa civilização. A essência ritualista aliada ao sangue, dor e arte da escarificação seria o ideal para a banda. Como é ser uma banda de Black Metal num país como o nosso, já de si tão pequeno?

Ser uma banda de metal extremo em Portugal é extremamente difícil. Em termos populacionais, somos poucos. Se pensarmos nos fãs de Heavy Metal, somos um público ainda mais reduzido. O país mais ocidental da Europa fica demasiado afastado dos centros de música extrema dos países do norte. Considerando o nosso ta-


manho, há registo de inúmeras bandas de Black Metal, mas a maioria reúne-se por pouco tempo. Para manter uma banda com um estilo tão sui generis, é preciso muita dedicação e empenho pessoal, devido a todas as suas condicionantes. Parece-te que alguma vez a música extrema vai ter em Portugal a projeção que tem

noutros países europeus, sobretudo nórdicos? O que fará com que este tipo de música em Portugal apenas tenha um grupo de fãs, fiel é certo, mas sempre pouco numeroso? Curiosamente, na nossa literatura e nas artes, sobretudo no séc. XIX, não faltam as ideias tenebrosas, por isso nem se pode dizer que tal estética esteja afastada do nosso substrato cultural. Os Lusitanos empenham-se cada vez mais em fazer e fazer bem, quer sejam bandas, editoras ou a comunicação social. Nos últimos anos, noto uma maior aposta das bandas em tornar públicos projetos com qualidade sonora e gráfica. A internet permite-nos aproximarmo-nos do nosso público português, mas também nos dá a conhecer ao mundo. As bandas portuguesas têm valor e devem dar-se a conhecer. Como referes, temos bastantes artistas do séc. XIX com ideias obscuras, surrealistas, o nosso folclore é bastante diabólico e soturno. Lendas sombrias e sítios encantadoramente misteriosos marcam o nosso imaginário coletivo. A nossa cultura ocidental cristã, por vezes, inibe a aproximação a estes imaginários mais sórdidos, por parte de um pos-

sível público mais novo. O Black Metal está intrinsecamente ligado ao satanismo. Contudo, é um fértil território para outras temáticas. Este ponto pareceme fulcral para desmitificar a música extrema e atrair mais público. Na informação dada pela vossa editora, são referidas bandas nórdicas como vossa influência principal, com Dissection à cabeça da lista. Aceitam esta filiação? Houve alguma mudança nas vossas fontes de inspiração entretanto? Na realidade, o nosso som é bastante influenciado por bandas nórdicas. No entanto, eu e o Njord ouvimos bandas de todos os géneros, dentro e fora do metal. Assim, não podemos considerar apenas uma ou duas em particular. Trabalhamos para construir o nosso próprio som e a evolução é constante. Procuramos novas bandas, novos sons que nos fascinem. O nosso propósito é a música! Não podemos apenas considerar as influências do presente. As bandas intemporais, que ouvimos desde miúdos, influenciam involuntariamente as nossas composições. Elas são a simbiose de todas essas influências.


Scarificare vai no segundo álbum, mas os seus membros não são novatos, já que todos fizeram parte de outras bandas. O que vos levou a juntarem-se para darem início a um novo projeto? Em 2006, eu, o Crusher e o Sothis não tínhamos nenhum projeto ativo. Eu e o Crusher estivemos juntos em Serpent Lore e Wrath e o Sothis já tinha tocado em alguns projetos. Como, nessa altura, nenhum de nós tinha projetos ativos e já nos conhecíamos, decidimos formar uma banda para tocar Black Metal. Começamos comi-

no mundo.

go na guitarra e voz, o Sothis na bateria e o Crusher no baixo. Passado uns meses, convidámos o Inverno, que tocava guitarra em Insalubre, para o baixo. Em 2008, Njiord, que já tinha tocado em Royal Blood e tinha vários projetos em andamento, entra para a banda. Resumindo, todos nós tivemos um background comum em termos de experiência em bandas de Black Metal e isso era a principal ideia para o início do projeto: juntar pessoas com esse background, mas que nunca tivessem tocado juntas antes, e dar início a uma nova entidade, absolutamente do nada.

O que simboliza a intrigante relação de entrosamento entre o triângulo e o círculo na capa do álbum? No álbum anterior, tínhamos adotado a serpente com a cauda na boca, símbolo da imortalidade e de toda a existência. Esta mesma ideia é transmitida pelo simbolismo do círculo, indicando não-princípio e não-fim, o ciclo eterno. A imagem do “Criador” e do seu horizonte de eternidade. O Triângulo equilátero simboliza divindade, harmonia e proporção. Esta forma geométrica pregnante pode simbolizar inúmeros ternários, como os três pilares do homem político ou a trindade da religião. O entrosamento entre estas duas formas é mencionado na faixa «Kybalion», relativa à dualidade do Universo com o Todo.

Para o artwork, foram buscar algum artista nacional? Ou recorreram a um estrangeiro? O artwork da banda, desde o nosso primeiro lançamento, tem sido feito por uma designer nacional. Estamos satisfeitos com todo o material gráfico produzido para banda, como a demo-tape e o primeiro e segundo álbuns, t-shirt e cartazes. Por isso, continuamos a parceria, sempre num processo de construção e evolução da imagem da banda.

panha. Não temo parceria com nenhuma banda ou algo do género. Vão regressar a esse contexto para apresentarem este vosso álbum ou ele abriu-vos novas portas? O concerto de apresentação do segundo álbum teve lugar no passado dia 13 de outubro, no Metalpoint. Optámos por continuar a fazer os lançamentos na nossa cidade, o Porto. A promoção do álbum por parte da nossa editora – a Helldprod – tem-nos dado uma boa projeção por todo o mundo. Es-

“[…] Desde 2006, partilhámos o palco com muitas bandas nacionais e estrangeiras […]. Não temo parceria com nenhuma banda […]”

Qual é o postulado subjacente a este vosso «Postulado»? A sequência das faixas reflete uma experiência sonora, independente da temática de cada uma. As letras foram baseadas na mesma essência, na correlação das partes com um todo. Os temas variam entre filosofia, história, maçonaria, religião, ciência e até profecia. O nosso postulado pode ser interpretado como a busca incansável de conhecimento científico, religioso ou empírico, do nosso lugar 48

Qual é o vosso circuito habitual de concertos? Têm algumas bandas com quem é usual fazerem parcerias? No panorama nacional, não existem muitas bandas de Black Metal a tocar ao vivo. Desde 2006, partilhámos o palco com muitas bandas nacionais e estrangeiras, em Portugal e Es-

peramos promover o álbum em mais alguns locais em Portugal e Espanha e talvez no norte da Europa. Que imagens preenchem os vossos sonhos de uma carreira musical? Não vamos ficar por aqui! Queremos continuar a tocar e a gravar, enquanto pudermos. Adorávamos tocar e viver da música! Iremos concretizar os nossos projetos até quando a saúde nos permitir! Muito obrigado pela entrevista e tudo de bom para a vossa magazine! Entrevista: CSA FACEBOOK www. facebook.com/scarificare VÍDEO w w w.youtub e.com/ watch?v=HwszFkZrQgo


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Não sei se é pelo aproximar da época festiva mas nós aqui na VERSUS Magazine recebemos, nada mais, nada menos do que 7 álbuns ao vivo. Por estarmos em época natalícia e porque, no fundo, não gostamos de vos desiludir, achamos que estes álbuns mereciam uma atenção especial da nossa parte, até porque a qualidade de todos eles assim o justifica. O artigo quase em forma de mega review abrange um leque bastante interessante de bandas e géneros que vai desde o Glam/Rock dos Def Leppard até ao mais puro e duro Thrash Metal dos Kreator. Sendo assim, vou começar pelo fim: Alguns destes discos mereciam nota 10! No entanto, as editoras não têm por hábito enviar ou disponibilizar os vídeos. Para sentir o ambiente do concerto recorre-se muitas vezes ao youtube e por aqui se pode ver que o “10” está reservado para os riquíssimos packs de DVD e/ou Blu-Ray. Com a devida autorização do editor, irei quebrar a coerência editorial no que diz respeito às classificações atribuídas no final. Todos eles são excelentes mas mesmo assim, dentro desta excelência, vou distinguir mais uns que outros. Na sua essência todos estes álbuns têm conceitos e ambientes diferentes, talvez, com a exceção dos Testament e Kreator. Estas duas bandas são da mesma geração e elevam bem alto o Thrash Metal com um som muito direto e pesado. Eduardo Ramalhadeiro DEF LEPPARD «Viva! Hysteria» (Frontiers Records) Wow! Def Leppard!? Na VERSUS Magazine? Sim, nós por aqui somos muito ecléticos! Por mais que os possam julgar pirosos, os Def Leppard deram um grande contributo e, porque não, são uma das principais referências no mundo do Glam/Rock. Em 1987 lançaram um dos mais importantes álbuns da sua carreira e da história do Rock. De facto, ao longo da sua carreira os Leppard produziram excelentes álbuns. Peço desculpa, para ser mais preciso, os excelentes álbuns pararam após a morte de Steve Clark, «Adrenalize» foi o canto do cisne. Após isso… bem... Lançamentos bastante discutíveis. Coincidência ou não, um ano após as bodas de prata de «Hysteria», os Def Leppard tocam pela primeira vez o seu icónico álbum na sua totalidade. O espetáculo é excelente visualmente. Os Leppard pela primeira vez gravam um grande concerto em alta definição. Tal como os outros lançamentos desta rubrica especial consegui vê-lo e recomendo. Não o faço tão avida e convictamente, como por exemplo, Devin Townsend, Sabaton ou Nightwish mas mesmo assim, os fãs mais Glam/Rockeiros deverão visionar o concerto pelo menos uma vez. Apesar de «Hysteria» ser um dos meus álbuns de rock favoritos, esta edição será, muito provavelmente, a única que não compraria. Porquê? Bem, por duas razões principais: 1 - Gosto pessoal, nestes tempos não estou recetivo a ouvir Glam/Rock, não deixando, no entanto, de reconhecer a altíssima qualidade desta edição; 2 - Se «Viva! Hysteria» fosse gravado uns anos atrás, quando Joe Elliot ainda conseguia atingir os registos originais dos temas, este seria de caras! Visualmente, como disse, está excelente mas «Hysteria» e os álbuns mais antigos exigem muito da voz. Elliot já não os consegue atingir e por isso, (opinião pessoal) os temas perdem muito daquela magia intrínseca própria dos anos 80. O contrário nota-se no segundo CD e nos temas mais recentes – voz perfeitamente adaptada. De qualquer das formas, os restantes elementos são tecnicamente excelentes, principalmente a dupla Campbell e Collen. Em duas ocasiões os Def Leppard abriram com dois sets diferentes e tocaram sob o nome de Dead Flat Bird. O segundo CD é constituído por estes dois sets e é uma mescla de temas que abrangem grande parte da discografia da banda: “On through the night”, “High ’n’ dry”, “Action” e “Slang”, entre outros. Os fãs dos Leppard devem, definitivamente, prestar muita atenção a «Viva! Hysteria», quer seja o CD ou DVD/BluRay. [8.7/10] Eduardo Ramalhadeiro

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DEVIN TOWNSEND «The Retinal Circus» (InsideOut Music) Relativamente a Devin Townsend devo dizer que o considero um génio. Já o escrevi em reviews anteriores, nomeadamente, aquando do lançamento do fim da quadrilogia composta por «Ki», «Addicted», «Ghost» e «Deconstruction». «The Retinal Circus» não é um simples concerto gravado ao vivo: é um multi-conceito, uma peça de teatro musical que resume os 20 anos de carreira de Devin. E garanto-vos que nunca terão visto nada assim. Todos estes conceitos que envolvem esta megaprodução - música, teatralidade, personagens, pirotecnia, etc. – foram planeados e planificados, entre outro projetos pessoais, por Devin durante 10 meses. Ao contrário de todas as outras bandas, este foi um espetáculo único… um concerto que não mais se repete! O desenrolar da história, os diálogos e introduções dos temas são feitos por Steve Vai. Aqui mais uma prova da inteligência e humor e como não poderia deixar de ser, Devin só escolhe os melhores. A voz “doce” e angelical de Anneke Van Giersbergen é o complemento perfeito para a voz e os riffs demoníacos de Devin. Musicalmente não há nada a dizer, o homem é um génio e a qualidade é 110%. Townsend conseguiu com «The Retinal Circus» mostrar tudo o que melhor o define, enquanto génio que é: Extremo, divertido, irreverente, profundo e acima de tudo inteligente. Não deixo de pensar o que faria Devin com mais meios financeiros e mão-de-obra. Pode parecer incoerente mas visto o concerto, a minha consciência manda reservar o “10” para o DVD/Blu-Ray. No entanto, acho que dá para perceber que têm de comprar isto (ponto) Esta edição vem enriquecida com: Die-Hard Deluxe Fan Box incl. 2-DVD/1-Blu Ray/2-CD, Special Edition 2-DVD/1-Blu Ray/2-CD Box Set, Standard 2-Disc DVD, Standard 1-Disc Blu-Ray, Standard 2-CD Audio & digital download. [9.9/10] Eduardo Ramalhadeiro

EPICA «Restrospect» (Nuclear Blast) De todos estes álbuns ao vivo, «Retrospect» dos Epica foi o único que não consegui visualizar na sua totalidade. No youtube estão disponíveis, somente, 2 temas oficiais – “Unleashed” e ”The phantom aAgony”. Nestes dois temas não vale a pena falar da parte visual porque, praticamente, não existe. É horrível. Acredito que ao vivo até possa ter sido extraordinário mas a iluminação é muito má. Apesar de ter sido gravado com 10 câmaras de alta definição, em muitas partes parece que estamos perante um grande borrão azul na TV e deixamos de ver os músicos. Realizador, técnicos de iluminação ou quem seja parece que se esqueceram do pormaior dos fãs que irão ver o DVD/BLURAY. Poderão discordar ou estar a pensar que o que interessa é a música mas «Retrospect» vem com duas versões: 3 CD’s + DVD ou BLURAY. Portanto, quem compra este pack, também lhe interessa a experiência de poder ver o concerto e esta experiência, pelo que vi, está arruinada por uma péssima iluminação. De qualquer forma, estamos aqui para falar da música propriamente dita e aí os Epica conseguem uma perfeita simbiose entre o Clássico e o Metal. O som está, simplesmente, imaculado. «Retrospect» foi um concerto especial, que serviu para comemorar a primeira década de existência e para datas especiais requerem-se acontecimentos muitos especiais. Os Epica partilharam o palco com os 70 músicos da Reményi Ede Chamber Orchestra e do The Miskolc National Theatre Choir. O concerto durou cerca de 3(!!) horas com excelentes elementos cénicos, efeitos pirotécnicos e um nível de dinamismo e musicalidade espantosos. Simone Simons, apesar de grávida, tem um desempenho, a todos os níveis, notável. Os Epica percorrem todo o espectro da sua discografia. A juntar a toda esta excelência, há os convidados: Floor Jansen e os antigos membros da banda interpretam “Quietus”. Como nestas versões não podemos dissociar o CD do DVD/BLURAY e por pouco mais de 30 euros só posso recomendar a sua compra. Pelo menos os 3 CD’s valem cada cêntimo gasto. Já o resto… tenho dúvidas. Edições: 2 DVD/3 CD e 2 Blu-ray/3 CD. (Está já confirmada a vinda dos EPICA ao Vagos Open Air e que espero sem esta horrível iluminação) [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

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KREATOR «Dying Alive» (Nuclear Blast) Deixemos agora o Metal mais sinfónico e elaborado para darmos a vez ao velhinho Thrash! Puro, duro e muito direto! Esta ideia de criar os The Big Four é engraçada mas estarmos a falar de bandas de Thrash sem incluir Kreator (e Testament) é no mínimo injusto. Após 45 concertos de suporte ao excelente «Phantom Antichrist», os Kreator terminam a tournée em Oberhausen. Está claro que o recinto estava lotado, com um público vibrante e muito Mosh. Como bem merecem. O seu contributo à música e ao Thrash em particular é demasiado grande e evidente, muito por culpa de Petrozza que lhe confere um estilo muito particular. «Dying Alive» está tão bom e potente que poderei dizer tratar-se de um marco na sua discografia. Este concerto foi gravado com 24 câmaras, uma incorporada na guitarra de Petrozza e mais umas quantas bem no centro do moshpit. Os 19 temas abrangem uma grande parte da discografia e só faltou um tema para ser um espetáculo perfeito. Ou melhor, não faltou uma vez que os Kreator só tocaram a introdução de “Coma of Souls”. Isto é quase como tirar o rebuçado da boca de uma criança e vê-la chorar de sofrimento – ou tocavam o tema completo ou não tocavam de todo É a única pecha no setlist de «Dying Alive». De resto está lá tudo, muita energia, muito mosh e os temas mais emblemáticos: “Extreme aggression”, “Endless pain” ou “People of the lie”, assim como alguns temas do novo «Phantom Antichrist». Como em todas estas reviews tenho “falado” da parte visual e os Kreator não serão exceção. Isto é como a música, não há grandes efeitos visuais, nem luzes muito sofisticadas, simplesmente uma banda emblemática no palco, tudo simples e direto. Só me pareceu um pouco irritante a mudança de planos, na minha opinião são demasiados, Petrozza/publico/Jürgen/Christian/moshpit tudo isto a um ritmo frenético. No entanto, isto não belisca minimamente este DVD/BluRay. Esta edição vem em vários formatos: Blu Ray + 2CD, DVD +2CD, edições em vinil com várias cores (para os verdadeiros audiófilos) e 2 edições em Earbook. «Dying Alive» é o “aperitivo” ideal para o Vagos Open Air! Sim, os Kreator têm já confirmada a sua presença neste festival! [9.7/10] Eduardo Ramalhadeiro

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NIGHTWISH «Showtime, Storytime» (Nuclear Blast) … e temos um vencedor! Infelizmente não há orçamento que chegue para comprar todos estes DVD/BluRay e, sendo assim, se tivesse que escolher um… um só… a minha escolha recairia neste! Após uma travessia do deserto, onde se percebe facilmente que Annete foi um erro de casting os Nightwish voltam em grande… os “velhos” Nightwish! Annete até não é má, «Imaginaerum» é excelente, visto ter sido composto já a pensar no seu perfil. Onde Annete fracassou foi no carisma e nas prestações ao vivo fruto de uma forte pressão e não-aceitação dos fãs. Convenhamos que para uma cantora pop/rock cantar e suceder a Tarja seria uma missão hercúlea. Não esteve à altura e estará melhor enquadrada numa banda pop/rock muito menos exigente que os Nightwish. Não deixa saudades. «Showtime, Storytime» é o culminar da mega tournée mundial e o Wacken não foi escolhido ao acaso. Que melhor local para apresentar ao mundo Floor Jansen!? Os Nightwish renasceram de alguns anos conturbados e… só posso dizer: obrigado, Tarja! Apesar de híper mega talentosa, Floor enquadrase melhor, é igualmente bonita, tem carisma, mais e melhor presença em palco, faz headbanging como nunca vi e é igualmente talentosa! Portanto, obrigado! Tuomas acertou em cheio e os Nightwish estão mais coesos que nunca!!! Outro aspeto que gostaria de salientar é a presença, energia e alegria em palco. Vejam lá o antes e depois com Floor e comparem. O setlist é bastante variado e dividido por quase toda a discografia. Infelizmente, ficam de fora «Oceanborn» que podia ter muito bem ter contribuído com “Sacrament of wilderness”, “She is my sin” representa «Wishmaster» e teria sido “ouro sobre azul” se a faixa que dá nome ao álbum também estivesse presente. Quinze temas que poderiam ter sido muito bem vinte. Uma banda hipermotivada, realização sem falhas, excelente iluminação de palco, efeitos pirotécnicos e uma multidão de 80000 mil pessoas fazem deste o DVD/BluRay “vencedor” desta “combate” especial – opinião pessoal, é claro. Não há mosh mas há muito headbanging e crowdsurfing. Duplo DVD ou BluRay com excelentes documentários da banda. [10/10] Eduardo Ramalhadeiro


SABATON «Swedish Live Empire» (Nuclear Blast) Ao longo dos anos os Sabaton têm vindo a construir uma sólida carreira. Em 2012 atingiram o pináculo com um dos melhores álbuns do ano: «Carolus Rex». E sendo assim, qual a melhor forma de culminar este feito? Um Mega álbum ao vivo! Depois de terem sido declarados cidadãos honorários da Polónia, o melhor recinto para levar a cabo este feito seria, obviamente, o Festival Woodstock. Os Sabaton descarregam um setlist absolutamente fantástico, um best of em forma de concerto ao vivo com 17 temas cheios de intensidade, alegria, energia e irreverência que encheu de orgulhos as quase 600000(!) almas que viram e ouviram Joakim Brodén contar os feitos do exército polaco na segunda guerra mundial. Isso pode ser, facilmente, constatado no tema “40:1”. A participação e a cumplicidade do público é excelente! A temática das letras sempre foi a Primeira e Segunda guerras mundiais e, por isso, quase que seria de esperar que houvessem poucos temas de «Carolus Rex». De facto, foram somente três: o tema que dá nome ao álbum, o galopante e desenfreado “The lion from the north” e ”Gott mit uns“. Tudo o resto são dos álbuns anteriores. Se optarem pelo DVD/BluRay, devo dizer que a realização está excelente! Tal como nos Kreator e Testament, a iluminação é “simples” mas a realização está a um nível superior, trata-se de um Mega Festival e as condições são outras. Não é um recinto fechado com duas/três mil pessoas, é mais… muitíssimo mais! Se esta multidão a saltar, a moshar, o Wall of death não fosse devidamente filmado era um crime! Efeitos pirotécnicos, câmaras aéreas a sobrevoar o mar de gente, na guitarra, no baixo, Brodén a servir de câmara-man, a beber uma cerveja de penalti e deixem-me dizer que o barulho do público é completamente ensurdecedor! Tal como escrevi em Devin Townsend, reservo o 10 para as riquíssimas edições DVD/BluRay, que vêm ainda com mais dois concertos, um deles precisamente no mesmo sítio que os Kreator – Oberhausen e um Mix da Swedish Empire Tour. Ao todo são mais de 4 horas! O CD e o duplo vinil vêm “só” com o concerto em Woodstock. (Um dos melhores concertos ao vivo que já tive oportunidade de ver… Impressionante!) [9.9/10] Eduardo Ramalhadeiro TESTAMENT «Dark Roots of Thrash» (Nuclear Blast) Desde Agosto deste ano que me sinto traído pelos Testament. No Vagos Open Air foram os cabeça de cartaz do segundo dia. O concerto foi uma deceção. Já os vi por duas vezes e em ambas arrasaram por completo mas no Vagos ver o Chuck Billy completamente perdido nas letras, balbuciando algumas palavras nos versos de 2/3 temas, no fim dirigir-se ao público perguntando se queria mais e depois nem sequer voltarem ao palco… foi mau. Acho mesmo uma falta de respeito para quem pagou bilhete. Não foi assim que os vi ao vivo e não é esta ideia que tenho deles. O VOA poderia ter sido quase como «Dark Roots of Thrash». É óbvio que nunca seria a mesma coisa, pois os meios envolvidos nunca seriam iguais mas pelo menos o mesmo nível de profissionalismo e energia que a banda colocou na realização deste DVD. Mesmo sentindo-me traído e por tudo aquilo que já deram à música, ainda me merecem muito respeito. Tal como os Kreator, não faz muito sentido falar nos The Big Four sem os Testament. Como já escrevi… é injusto! Autentico best of de fúria desenfreada e frenética, com muito mosh à mistura (não poderia ser de outra forma) só faltam temas representativos dos porventura mal-amados «Low» e «Demonic». De resto, os temas antigos e mais emblemáticos predominam em «Dark Roots of Thrash». ”The formation of damnation“ é o único tema do álbum com o mesmo nome e ”Rise up“, ”Native blood“ e ”True american hate” representam o último álbum. Visualmente falando, este concerto é tal e qual o dos Kreator: sem muitas complicações, direto, puro e duro. Sempre a abrir e sem muito tempo para “respirar”. Muitas câmaras no palco, outras mesmo por cima do publico e ainda bem no meio do moshpit. Gosto em particular da atuação de Gene Hoglan! Sem dar muito show-off é um “mar” de potência, velocidade e técnica! Esta edição vem com DVD/ BluRay, duplo CD e ainda o respetivo vinil. Para os Thrashers estas serão duas compras absolutamente obrigatórias. Se só tiverem orçamento para um… bem, vou ter pena de vocês! [9.6/10] Eduardo Ramalhadeiro

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Humor esgalhado do Grind Saídos da cartola do Grind Core, eis que nasce ali em 2010 os Serrabulho, um projecto que passou a ser uma presença em concerto e festivais e, por isso, foi ganhando o merecido respeito no seio do Metal nacional. Evocando os ritmos do Grind Core, aliados a um humor desenfreado, sem esquecer alguns samplers de Pimba, ou filmes clássicos, os já conhecidos membros desta banda de Trás-os-Montes, ultrapassaram o convencional e o resultado é muito, muito satisfatório. A VERSUS Magazine falou com eles para saber os detalhes.


Obrigado pelo vosso tempo. C. Guerra: Viva Victor, nós é que agradecemos pela disponibilidade e interesse da Versus Magazine em Serrabulho. Como aconteceu o aparecimento dos Serrabulho? C. Guerra: Serrabulho propriamente dito aparece em finais de 2010. O Paulo (guitarrista) já ensaiava há algum tempo com o Nogueira (o primeiro baterista, ex-Encephalon). Apesar de ainda não serem uma “banda”, trabalhavam com esse objetivo, produzindo temas que viriam a constituir o início de Serrabulho. Eu, apesar de estar nos Holocausto Canibal, sentia vontade de ter um projeto novo, uma ideia que já tinha partilhado com o Paulo em 2009, uma vez que interagíamos tão bem. Tendo isso em vista, aliando as ideias e conceitos que pretendíamos para uma banda, decidimos ir em frente! Paulo: O Guerra tem razão quando fala que Serrabulho já era cozinhado há algum tempo, mas esta ideia também foi surgindo à medida que íamos a concertos e festivais - e de 2009 a 2010 fomos a muitos. Depois, também em conversa com amigos nesses sítios, íamos falando do aparecimento de Serrabulho, explicávamos o que ia ser e a que soaria (risos) - bem antes de termos noção do que ia sair cá para fora, com os três juntos. A verdade é que só a ideia que fomos passando às pessoas foi suficiente para despertar a curiosidade. Aliar o humor ao Grindcore é no mínimo curioso. Essa escolha do humor foi à partida uma ideia inicial, ou surgiu posteriormente? Nem a capa do álbum escapou. Paulo: E a curiosidade não é para ser satisfeita (gargalhadas)? Mesmo antes de atuarmos, fomos desenvolvendo algumas ideias para quando estivéssemos em palco. Eu e o Guerra – e foi onde tudo começou a este nível - estamos sempre na brincadeira, a rir e sempre atentos a acontecimentos hilariantes à nossa volta. Quanto à capa, a ideia foi da Marta “Gore” Peneda, em conjunto com o Guerra. Nós apenas lhe demos alguns nomes das músicas e o título do álbum, para que a sua imaginação saltasse cá para for… e assim foi. Obrigado Marta!. Guerra: Nós planeamos sempre o que vestir e fazer em cima do palco, nunca tocamos com a roupa repetida – a exceção foram as datas em Itália, devido ao limite de peso na bagagem que podíamos levar no avião. Também achamos que o Grindcore e os sons mais extremos em geral, não precisam de ser vistos como algo frio, completamente individualistas e sem interação, quer por vezes dentro da própria banda, quer com o público! Da capa só tenho a dizer isto: Linda! Hahahahaha-

haha, mas…eu em conversa com a Marta disse que queria um cartoon, com “sarilhos” dentro do cu de alguém. Ela foi passando essa ideia para o papel e nós fomos adorando o trabalho. Guilhermino: Esse lado mais informal da música de Serrabulho foi um dos primeiros aspectos que me saltou à vista. Além disso, o humor destes tipos não é forçado, eles são genuinamente “loucos”, o que torna toda a experiência da banda uma coisa natural. Acho, aliás, que mais depressa os vi a discutir sobre que fatos se deveria levar num próximo concerto do que por questões musicais ou de logística. Pensaram naquele preconceito que por vezes paira no seio do Metal, de que o Metal com humor não é Verdadeiro? Acham que esse preconceito está mais que ultrapassado? Guilhermino: Eu acho que a nossa média de idades já nos confere maturidade para não estarmos preocupados com qualquer preconceito em relação a isto. Aliás, parece-me ridículo colocar amarras teóricas a um estilo que, creio eu, se assumiu – desde sempre - como uma demonstração de liberdade artística. E a avaliar pelo feedback que temos tido nos concertos – nomeadamente quando se actua com nomes de outros géneros, dentro do Metal – o preconceito está, de facto, bem enterrado. Foi difícil atingir a meta do primeiro álbum? Ou foi altamente descontraído e, calculo, divertido? Como foi compor a vossa música? Paulo: A grande meta a atingir, era o álbum sair cá para fora com o selo de alguma editora, porque sair autofinanciado já era algo certo. Criar este álbum foi divertido e descontraído, porque nos conhecemos todos muito bem e ninguém tinha pressa durante o processo de gravação/criação do Ass Troubles. A maior parte das músicas fui eu que criei, em conjunto com o Nogueira (primeiro baterista da banda) e, sempre que podia, mostrava ao Guerra, que depois dava algumas opiniões sobre determinada parte. O álbum foi todo misturado e produzido por vocês e com a preciosa ajuda do Guilhermino, no Blind & Lost Studios. Alguma vez pensaram em trabalhar fora da vossa zona? Ou seja, noutro estúdio e com outro produtor? Guerra: Pah, eu e o Paulo falamos sobre isso e visto a distância, os trabalhos já feitos por ele, a pessoa simples e amiga que ele é, decidimos juntar o útil ao agradável e optamos por gravar com ele e não nos arrependemos absolutamente nada. Depois ele ajudou-nos várias vezes em concertos ao ser baixista convidado e, visto que os problemas com os baixistas continuavam (entra e sai, falta de disponi-


bilidade…), decidimos falar com o Guilhermino e conseguimos cativa-lo a ficar na banda (risos), o que para nós foi fabuloso. Paulo: Eu não tinha pensado, porque era o primeiro trabalho e havia alguns fatores em ter em conta, como a distância caso se escolhesse outro produtor (apesar de conhecer alguns), pois haveria um aumento de gastos em viagens. O à vontade quando era necessário mudar ou repetir algo, mesmo que se combine à meia-noite (risos), a facilidade de marcação de horários e de encontros para a produção…. foi tudo facilitado pelo Guilhermino ser residente na nossa área, mas também por ser uma amigo de longa data O que é que o álbum «Ass Troubles» tem para nos contar? Guilhermino: Dez temas a que, com a devida justiça, as pessoas se vão “agarrar” para momentos de diversão, noites de copos ou dias de boa disposição geral. Muito humor, muito nonsense, temas rápidos, riffs com autocolante e vozes que vão desde o growl mais respeitavelmente cavernoso, a personagens de filmes de animação. Guerra: Ui, isso agora…Têm de comprar o CD pra perceber (risos)! Mas conta bastantes coisas, baseadas em factos verídicos e cantadas em português, francês e inglês. O vosso álbum está a ser distribuído na Espanha e na Alemanha. Alguma vez imaginaram passar as fronteiras? Paulo: Sempre pensámos que o CD iria passar fronteiras, mesmo que autofinanciado. Claro que não à escala que está a ter, mas nós próprios temos alguns contactos e conseguiríamos passar o álbum para fora de Portugal, acreditando que existiria sempre alguém interessado na distribuição além-fronteiras. Guilhermino: Este nicho do mercado sempre foi muito forte no centro da Europa, pelo que me pareceu óbvio o potencial de exportação da “marca Serrabulho”, ainda mais com todas as nuances diferenciativas que a banda apresenta. Guerra: Nós ainda pensamos por o álbum a venda

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mesmo na fronteira, nas cabines…mas como agora estão abertas já não dá para por (risos). Também foi bom conseguirmos distribuição com a Sevared Records na América, que era um dos países que queríamos alcançar! Têm já concertos agendados para promoverem o vosso trabalho? Vocês são uma banda de palco! Paulo: Sem dúvida que somos uma banda de palco, quem nos viu já sabe disso. A prova é a afluência aos nossos concertos e da vontade das pessoas de nos verem. Guilhermino: E, com toda a experiência acumulada, torna-se um processo natural – e, acima de tudo, divertido – fazer a transformação dos temas do ambiente de estúdio (naturalmente mais controlado, mais “limpo”…) para os palcos. Conseguem descrever os vossos concertos? Como é um concerto dos Serrabulho? Paulo: Super divertidos e descontraídos! Com um nível de humor bastante elevado e uma interação enorme com o público. Guerra: Uma autêntica festa e uma interacção com o público simplesmente fantástica. É difícil de explicar, mas o público é que faz aquilo que somos - só tenho a agradecer-lhes. Talvez ainda seja cedo para adiantarem o vosso futuro, mas pergunto na mesma: têm já ideias novas? Coisas e arranjos na garagem? Guerra: Sim claro, e já se encontram na panela a ser cozinhados e brevemente serão servidos a este povo que nos acompanha, que tanto merece… Paulo: Pelo menos eu já tenho alguns temas prontos e trabalho em novos riffs! Acho que alguns vão ser bastante apreciados pelo público (risos) Guilhermino: Na verdade, já estamos a fazer a préprodução de temas novos e, a este ritmo, é de esperar que estejamos prontos para uma nova gravação num futuro não muito distante. Entrevista: Victor Hugo FACEBOOK www.facebook.com/serrabulhogrind


Paradoxos extremos 57


No dizer de Necurat (vocalista e frontman da banda), Bliss of Flesh estiveram à espera de uma boa oportunidade para lançar o seu segundo álbum, enquanto iam fazendo nome no universo underground. E, assim, coube à holandesa Non Serviam Records a responsabilidade de fazer sair o paradoxal «Beati Pauperes Spiritu». A interessante conversa da Versus com o músico francês lançou alguma luz – que a banda simbolicamente tanto valoriza – sobre as razões subjacentes a este belo produto da cena Black/Death Metal europeia. A banda tem uma longa história (quase 15 anos) e este é o vosso segundo álbum. Por que editaram tantos EPs e splits? A pergunta justifica-se tendo em conta o facto de que sempre foram muito aclamados pela crítica. Necurat – Foi muito importante para nós começar por mostrar o que valíamos no universo underground. E assim nos tornámos conhecidos. Evoluímos de forma lenta, mas segura. Depois de termos lançado o nosso terceiro EP e passado bastante tempo em digressão, sentimos que era chegada a altura de lançar um longa duração. É claro que podíamos ter tentado lançar um álbum antes desta altura, mas seria um CD de qualidade medíocre em termos de áudio e nós preferimos ver o nosso nome associado à excelência. Receberam uma educação religiosa? É que até o nome da banda tem um toque “religioso”. A nossa sociedade assenta na religião. Seria difícil ignorar esse facto. Os textos religiosos fazem parte do currículo que estudamos na escola. Até me parece boa ideia, porque, para sabermos como destruir algo, temos de o conhecer bem. Além disso, quando te interrogas sobre as noções de absoluto, o tema do divino surge como essencial. O próprio Homem é um misto de finito e infinito – e este paradoxo atrai-nos. «Beati Pauperes Spiritu» caracteriza-se por um Black/Death Metal fantástico, com um sabor muito especial e belas melodias de guitarra. Estas características podem ser vistas como típicas da banda? A nossa música vai ficando cada vez melhor, à medida que o tempo passa, mas as nossas emoções não se alteram. Tal como a nossa música, estamos cheios de ódio, de violência, de repulsa e de desespero. O nosso único objetivo é impor limites ao nosso próprio caos. Criar 58

riffs melódicos é um dos meios a que recorremos. Como o álbum se baseia num paradoxo, pareceu-nos importante combinar a beleza com a abjeção. Na minha opinião, o que nos caracteriza é o desejo de te dar vontade de matar o teu vizinho, num acesso de ódio, e, minutos depois, encostar a arma a uma têmpora e puxar o gatilho, num momento de desespero. Isso levarnos-ia a atingir o nosso verdadeiro objetivo. Quem é responsável pela composição? E quem escreveu as letras? Até «Emaciated Deity» [o primeiro álbum da banda lançado em 2009], Sikkardinal [um dos guitarristas a banda] foi responsável pela composição a 90%. Ele lançava as bases das músicas e estas eram depois aperfeiçoadas pelos restantes elementos da banda. Em «Beati Pauperes Spiritu», ele trabalhou com Pandemic, um grande guitarrista, que sabe como mergulhar no nosso universo. A osmose que existe entre os dois pode sentir-se neste álbum, em que o trabalho de guitarra é absolutamente fantástico. No que se refere às letras, posso dizer que sou eu que escrevo todos os textos. Eles são o punho e eu sou a lâmina. Que sentido atribuis à expressão «”Beati pauperes spiritu”? Sempre me intrigou desde o tempo em que andava na catequese. Como deves saber, trata-se de uma citação do evangelho de S. Mateus (capítulo 5, versículo 3) e foi traduzida da seguinte forma: “Abençoados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.” Nos textos bíblicos (do Antigo Testamento), assim como nos textos antigos e mitológicos, há um tema recorrente: a luz como uma maldição. Se optares pela cegueira, pela facilidade, pela ignorância, encontrarás uma paz ilusória mas palpável. Mas afundar-te-ás no limbo do esquecimento. Se, pelo contrário,


“[…] Os textos religiosos fazem parte do currículo […] para sabermos como destruir algo, temos de o conhecer bem. […]” decidires tomar consciência da realidade, compreender, lutar, a tua vida tornar-se-á um fardo para ti e enveredarás por um longo caminho que te levará ao sofrimento. No entanto, terás a compensação de estares a tentar dar um sentido ao absurdo. No fim de contas, a escolha é de cada um de nós. Nós já escolhemos o nosso caminho. A capa do álbum foi inteiramente criada por Nagash ou a banda deu-lhe algumas ideias? Que relação existe entre a imagem que nela figura e a expressão abstrata que foi escolhida para ser o título deste vosso longa duração? Já conhecemos o Nagash há muito tempo e ele sabe sempre de forma precisa o que procuramos, em termos estéticos. Ler as letras das canções, ouvir a nossa música e estar atento a algumas parcas instruções chegam para que ele consiga produzir um booklet que é sempre uma verdadeira obra de arte. Como já referi, a ignorância, a fé cega e o pensamento dogmático só nos trazem uma paz imaginária. A capa deste álbum evoca esta ideia de forma perfeita: a oração não é nada senão a chave que abre a porta do Inferno. Os títulos das faixas fazem referência a diversas formas de pecado, mas o título do álbum evoca a bem aventurança. Como conseguem gerir este paradoxo? A consciencialização só tem lugar, se aceitarmos a decadência que existe em cada um de nós e nos faz estagnar. O ato de orar é fascinante pela contradição que encerra em si, já que implica que tomamos consciência do que há de pior em nós para buscarmos o perdão. Expões o horror para o transcender. Por outras palavras, este paradoxo constitui a essência da alma humana. O que é verdadeiramente absurdo é negar o facto de que, no ser humano, coexistem essas duas forças opostas [o bem e o mal]. Bliss of Flesh já tocou com algumas das bandas mais carismáticas da cena the Black/ Death Metal. Quais delas escolheriam para vos acompanharem numa digressão de promoção deste álbum?

Não nos importa a fama das bandas que nos acompanham, desde que sejam credíveis. Já alguma vez tocaram em Portugal? Temos algumas bandas de Black Metal underground absolutamente fantásticas que podem ombrear convosco. Não, isso nunca aconteceu, pela simples razão de que nunca fomos convidados para ir ao vosso país. É claro que não tenho dúvidas sobre a qualidade da cena portuguesa e não estou a pensar apenas em Corpus Christii. É óbvio que, se nos fizerem uma proposta interessante, iremos. E, quando formos a Portugal, podes crer que não será fácil esquecerem-se da nossa passagem por aí. Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/BLISSOFFLESH VÍDEO www.youtube.com/watch?v=FdfxMPQUUyA


LSK Uma mulher inesquecível Não será certamente a sua beleza ou o seu charme que serão evocados (embora não me parece que lhe faltassem tais atributos). Penso que LSK (aka Hell Sukkubus, de seu verdadeiro nome Marianne Séjourné) será sobretudo lembrada como uma mulher que soube impor-se num mundo onde predominam os homens e onde muitas vezes as mulheres entram pela mão destes. Isto porque o metal continua a ser associado às supostas força e brutalidade masculinas – o que é desmentido por muitas bandas atuais, caracterizadas por uma grande delicadeza de sentimentos – e visto como algo situado nos antípodas da proverbial sensibilidade feminina – quando, na realidade, esta pode perfeitamente “sentir-se em casa” nesse contexto. LSK foi baixista e exerceu essa arte em numerosas bandas, algumas bem conhe-


cidas, nomeadamente Antaeus e Hell Militia, tendo também passado pelos Secrets of the Moon (em «Privilegium», que saiu em 2009). Nunca assisti a nenhum concerto em que ela tivesse participado, infelizmente. Mas vi-a na difusão em stream do XIV Barroselas Metal Fest (2011) e em vídeos do Youtube. Ficou-me na retina a imagem de alguém que fazia o seu trabalho de forma discreta e eficaz, em suma, que se impunha muito simplesmente porque ESTAVA LÁ!!! Essa ideia é reforçada pelas suas fotos, raramente fascinantes (com exceção – dentre as que conheço – para as que foram feitas para promover o álbum de SoM em que participou). Marianne marcou a sua partida para o dia 24 de outubro de 2013! “In extreme music, death often comes with the territory, but it makes the loss no less poignant. In these circles it’s not just a blow to friends and family, but to the movement as a whole. Rare presences are exactly that, and LSK was definitely one of a kind. Like those who passed before her, we must keep her memory aflame by celebrating her music, and remain unafraid to reflect on where that darkness may take us. Consequences be damned.” Jeffrey Tandy in Extreme Metal Music Examiner [http://www.examiner.com/ article/hell-militia-bassistlsk-dies-at-36 – 24 de outubro de 2013]

CSA

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Uma década de estrada Uma longa década de estrada é carregada por For the Glory e com ela já quatro álbuns na bagagem, mais uns tantos quantos concertos por toda a Europa. «Lisbon Blues» é o nome do último trabalho de originais do quinteto, que nos desvendam um pouco da mensagem por de trás das letras. Uma forte chamada de atenção para todo o povo português!

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Antes de mais, como é ser uma banda portuguesa dentro da cena Hardcore, que já carrega uma década de existência? Ricardo Dias: Bem nós realmente não sentimos o peso dos anos, talvez só mesmo no corpo, mas não na mentalidade. Claro que é complicado conseguir manter uma banda estes anos todos, e talvez por isso existam mudanças de elementos. Mas o núcleo central da banda manteve-se inalterado durante estes dez anos e isso é importante. Esta banda teve influência diretamente no nosso crescimento enquanto pessoas. Durante as fases boas e más, esteve sempre lá. Em relação a ser uma banda na cena hardcore durante este tempo todo, pode ser um pau de dois bicos. Por um lado tens as pessoas que respeitam a longevidade da banda, mas outro tens pessoas que acham que estamos cansados e velhos e que já devíamos ter arrumado as botas. É como em tudo na vida, temos é de saber se estamos a ser sinceros e a fazer o que queremos. Enquanto assim o for, esta banda tem toda a razão de existir. Vocês contam já com dez anos de carreira e estão cada vez mais fortes, este último trabalho é espel-

ho disso? Encontramos nele uns For The Glory mais maduros? Encontramos nele uns For the Glory adultos talvez. Com uma maior consciência critica tanto à música que tocam como à sociedade que os rodeia. Há uma energia de ligação entre a nossa vida diária que transportamos para a sala de ensaio e obviamente para a música que fazemos. Algumas pessoas podem achar que a música está mais agressiva, abrasiva. Eu sinceramente acho que este disco é assim porque tinha de o ser. Foi o nosso estado de espírito naquela altura que fez com que soasse como soa. Porquê “Lisbon Blues” para nome do vosso quarto álbum? Apesar de nesta fase da banda sermos todos da grande Lisboa, nunca nos passou pela cabeça tentar fazer um tributo à cidade em si, mas sim tentar buscar aquele síndrome de cidade grande e aplicar a uma das letras do disco e ao contexto político social que vivemos nos dias de hoje. Obviamente que For the Glory não toca Blues, mas aquele espírito de tristeza e inconformidade do Blues pode-se muito bem aplicar àquilo que fazemos. Não temos letras sobre fantasias, mas falamos de assuntos reais que podem ser vividos em grandes cidades, falamos de uma juventude e uma geração que tem mais formação e opinião sobre os mais diversos assuntos e que não quer ser mantida de lado, mas sim colaborar ativamente seja com ideias ou ações para um futuro melhor. Nas grandes cidades perde-se o toque pessoal, as pessoas deixaram de se relacionar e vivemos obcecados com o trabalho e com sobrevivência. Deixámos de nos preocupar com os outros e ficamos cada vez mais fechados na nossa própria vida na busca incessante do melhor para nós sem nos importar se pisamos ou magoamos alguém. O desespero latente em cada esquina de pessoas que não têm emprego ou dinheiro para os filhos, para manterem a sua vida de pé de forma minimamente aceitável tornou-se quotidiano e nós quisemos mostrar uma Lisboa que não vive apenas, e só para os postais bonitos. A Lisboa que nós conhecemos é triste, vive de pessoas que não estão felizes com as suas vidas, que têm problemas diários de sobrevivência. Essa é a Lisboa que retratamos neste disco. Esta crise em que Portugal tem estado mergulhado, influenciou este álbum de alguma forma? Sim claro que influencia. Tudo o que se passa à nossa volta influencia a nossa escrita, desde letras a música. O fato de ver amigos a imigrar porque aqui não têm futuro, tomar consciência que o racismo continua a existir e em tempos de crise cada vez 63


“Espero que o Hardcore Punk seja motivo para pensar e refletir sobre o estado atual da sociedade.” mais forte, verificar que o desespero de familiares e amigos está patente em todas as conversas que temos. Tudo isso faz com que a nossa mente se foque em pensar no que podemos fazer para mudar, ou então o que podemos fazer para ajudar aqueles que nos são mais próximos. Cada vez mais se vive num país consumista e controlado pela imagem, onde os miúdos mal querem saber da família, quanto mais de um vizinho. Esperam que a mensagem que tentam passar nas letras, vá abrir os olhos a um povo um tanto quanto adormecido e que as pessoas se irão rever nelas? Vivemos numa era de rapidez impressionante, onde te formatam para não pensares. Até mesmo em casa, o quality time que os pais deveriam dar aos filhos é comprado com playstations e outros objetos para os distrair e não os deixar a pensar que não gostam deles. É normal que a educação que tenham deixa de ser diferente da que tivemos, e os valores são sempre alterados. Vivemos numa sociedade de constante mudança em que temos de nos adaptar, mas eu nunca serei capaz de aceitar ou adaptar a algo julgo estar errado. Portanto se as nossas letras conseguirem levar algo mais aos miúdos do que apenas uma rebeldia sem sentido então o nosso propósito faz todo o sentido. Vivemos anestesiados por informação que te leva a comprar o que não precisas e a viver muito mais o vazio de ideias. Não questionar, não te fazeres ouvires... Ensinam-te que não te podes fazer ouvir porque é vergonhoso gritar palavras de ordem. Todo o sistema é feito para te deixar adormecido. Espero que o Hardcore Punk seja motivo para pensar e refletir sobre o estado atual da sociedade. Como é que neste momento vocês olham para o movimento hardcore em Portugal, o que poderia ser melhorado e/ou o que deve ser mantido? A cena Punk Hardcore portuguesa está de boa saúde. Muitos miúdos a fazer bandas e a quererem estar envolvidos. Creio que é um período fértil para a música pesada. Nesta fase estamos na rota de todas as tours importantes e acabamos por ver quase tudo, o que nos leva à questão de estarmos a ficar iguais à Holanda ou Bélgica, estamos a ficar mimadinhos. Vimos muita coisa e acabamos por não dar o devido valor. Infelizmente cada vez mais é um risco fazer con64

certos. Num nível pessoal, posso falar também de uma coisa que me chateia muito. Todos são promotores, todos querem organizar concertos, mas de fato depois quando as coisas correm mal, não é apenas a eles que se queimam, mas toda uma cena que fica mal vista aos olhos de bandas de fora. Ter vontade de fazer mais é brutal, mas tem de se ponderar realmente se temos ou não o nível de organização necessário para o fazer. Também começa a haver uma certa falta de ética, concertos em cima de concertos na mesma cidade. Todos sabemos que ninguém fica a ganhar. Todos perdemos com as divisões de público. Supostamente não deveriam de existir duas ou três cenas hardcore, mas se acontece, então que aconteça com o mínimo respeito por todos os lados envolvidos. Como esta a correr a “No Barriers Tour” com


Switchtense e qual a espectativa para os locais por onde ainda vão passar? A NO BARRIERS já está na estrada há um mês mais ou menos, e tem sido altamente. Temos tocado com os nossos grandes amigos SWITCHTENSE que são um grande bandão. A experiência tem sido brutal, já há um ano tínhamos feito uma coisa parecida com mais bandas e foi tudo à maneira. Desta vez já fomos ao Porto e a Leiria e ambos foram grandes noites, os próximos são em Setúbal e Moita e tem tudo para correr bem. A ideia básica destas datas é fazer com que as pessoas esqueçam os estilos musicais por uma noite e venham perceber que nas nossas diferenças vamos encontrar tantos pontos comuns. A música deve servir como veículo de juntar pessoas e esta tour é o perfeito exemplo de duas bandas diferentes em termos de música mas que em termos de mentalidade são tão parecidas. Espero que a malta apareça para as datas que faltam!!

samos e sobre o estilo de vida que temos. A única mensagem que posso deixar a todos os leitores é que podem pesquisar e questionar tantas coisas sobre a vida. Temos tanto para a aprender. Não podemos julgar tudo rapidamente, 5 segundos não dão para julgar um disco, assim como 1 minuto de notícias no telejornal não chega para formar uma opinião decente sobre qualquer matéria. Questionem-se se realmente se mostram interessados. Podem enviar e-mail para a banda para saber mais sobre a cena Hardcore atual ou perguntas do passado, teremos todo o prazer em responder!! Aproveitem para passar em www.rastilho.bandcamp.com, o nosso disco está em escuta lá. Depois se por acaso gostarem podem encomendar em Vinil pela Destroy Your World Inc e em cd pela Rastilho Metal Records. Abraços

Para terminar, alguma mensagem que queiram deixar aos fans/leitores ou até mesmo ao povo português em geral? Desde já agradecemos à Versus pelo apoio e pela entrevista. Ficamos sempre gratos por nos darem espaço para escrever umas linhas sobre o que pen-

FACEBOOK www.facebook.com/forthegloryhc

Entrevista: André Monteiro

VÍDEO www.vimeo.com/78501581


Punk is alive!!!

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Já foram entrevistados para a VERSUS Magazine (na rubrica “Garage Power” do nº 20, que saiu em junho-julho de 2012), a propósito de um single, que tinham lançado na altura. Voltam agora às nossas páginas virtuais, mas desta vez têm um álbum pronto para ser lançado. São uma banda punk e sentem-se muito atuais, evocando as raízes do género, que nos remetem para o Reino Unido dos anos 70. Alex, o baterista da banda, disponibilizou-se para responder às perguntas sobre este álbum, que – segundo se espera – poderá valer à banda o tão almejado contrato.


Começo por perguntar por que tiveram de mexer na vossa formação recentemente. Alex: Começámos a sentir que, provavelmente, fazia sentido admitir mais um guitarrista, para o Hélder se libertar um pouco e se dedicar mais à parte vocal. Quem entrou e que critérios tiveram em conta para a seleção feita? Nós já conhecíamos o Marco dos Uncle Albert. Aliás, já tínhamos tocado com eles em vários concertos e sempre o achámos, um grande guitarrista. Foi mesmo uma das primeiras escolhas que fizemos…e resulta muito bem, porque ele também gosta muito das nossas músicas. A anterior conversa focou-se em dois singles que a banda tinha gravado na altura. Agora, trata-se de um álbum homónimo. Como gravaram esse trabalho? Quem fez a música? E as letras? A música e as letras são quase todas feitas pelo Hélder, com exceção de “Chui”, que é do Alex, mas participámos todos no processo de composição. A gravação do álbum foi uma coisa inédita, já que o nosso produtor, o Vítor Rua (GNR, Telectu), nos propôs gravarmos tudo ao primeiro take para soar mais “ao vivo”. Ao princípio, tivemos receio, mas resultou muito

bem. O álbum foi todo feito no Estúdio Dim-Sum, do António Duarte, praticamente num fim de semana. Por que razão escolheram o Punk como a vossa forma de expressão? Imagino que ainda há muitos fãs deste tipo de música, porque sei que fazem bastantes concertos. O Punk é a liberdade de expressão, o Punk é energia, o Punk é tudo para nós! Já todos nós tocámos outros géneros de música…mas voltamos sempre ao Punk! Deve ser um sinal! Hehe. O que distingue o vosso Punk do que surgiu nos inícios dos anos 80 do século passado? Para mim, a única coisa que mudou foi o aspeto, porque o sentimento e os ideais estão lá todos… principalmente nesta altura de crise, em que começa tudo a vir ao de cima novamente… infelizmente. Há muita gente a sofrer com as decisões políticas que têm sido tomadas. Há milhares de pessoas a viver na rua e a passar fome e isso faz com que o Punk comece a surgir novamente em força, para denunciar o que se passa. Citando os Conto do Vigário: “Punks! Para combater o que está mal!” Qual vai ser o destino deste álbum? O público


pode contar com um lançamento para breve? Sim, lá para janeiro ou fevereiro. Contamos ter o álbum à venda em todas as lojas importantes, nacionais e não só. Queríamos tê-lo à venda também nos nossos concertos… Já têm editora? Caso não tenham, esperam obter um contrato com este lançamento? Estamos em negociações com várias editoras e o objetivo é mesmo ter um contrato com uma, já que infelizmente também sofremos esta crise na pele. Gastámos dinheiro na gravação e não temos fundos para pagar a edição de um álbum…pelo menos para já. Que planos fizeram para a promoção deste álbum de originais? A estratégia de promoção vai ser toda decidida pela editora com que assinarmos o contrato. A nossa intervenção nessa parte vai ser mínima. Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/chapazero VÍDEO www.youtube.com/watch?v=M9-3a7C-UM0


O sustentรกvel PESO dos ecos 69


Os Echoes of the Fallen Messiah são uma banda de Leiria e já contam com uma data de anos em cima. Experiência. Histórias para contar. Afinal o tempo passado até pode ser visto com bons olhos. E o que hoje deixam para os ouvintes é um legado nascido de um percurso de 15 anos. «Bleak Future» é o mais recente trabalho da banda, e mostra um colectivo posicionado no seu tempo, consciente do que lhes rodeia. A VERSUS Magazine conversou com o Peter Slaughter, baixista, e ficámos a saber que a história destes ecos não tenciona desvanecer-se. Olá, Peter. Vocês já cá estão neste mundo há pelo menos uns 10 anos, pensava eu a julgar pela data de lançamento da vossa demo «Preludium». Mas a verdade é que já cá estão há 15 anos! Como tem sido o vosso percurso ao longo destes anos todos? Peter Slaughter: Olá Victor. Antes de mais nada, obrigado nós pelo apoio. Ora, a banda surgiu em 1998 com o nome de Ad Noctum. Na altura o som praticado era um Black Metal melódico mas já com algumas influências de Death Metal. Após vários concertos e mudança de formação (baixista e guitarrista) a banda entra em estudio em 2002 e grava a demo “Preludium”. Pouco tempo depois houve uma nova mudança de formação (entrou o vocalista Eurico) e foi aqui que houve a mudança de nome para Echoes of the Fallen Messiah e uma maior aproximação ao Death Metal. Em 2003 lançámos então a demo (ainda com o antigo vocalista Celso Fragoso), demos alguns concertos por várias cidades de Portugal mas devido a mais alterações na formação e à dificuldade em preencher o lugar deixado pelos anteriores membros em ambas as guitarras, a banda esteve sem tocar ao vivo durante cerca de 2 anos, voltando aos palcos em Março de 2008. E este ano foi o ano do vosso primeiro longa-duração, «Bleak Future». Ouvi alguns temas e a diferença entre o vosso trabalho antigo e o recente é notória. Para além da óbvia melhor qualidade de som, podem indicar-nos as fundamentais diferenças entre ambos? O que mudaram? O que se manteve? As principais razões para a diferença do material antigo para o recente foram as mudanças de formação que houve na banda. Da formação que gravou “Preludium” só se manteve na banda o Hugo (baterista), o Gustavo (teclista) e eu (baixista). A sonoridade praticada em “Bleak Future” foi trazida pelos elementos que entraram posteriormente, mais assente num Death Metal melódico. Além das diferenças sonoras, aposto que as mensa70

gens que as músicas carregam também mudaram. O que têm os Echoes of the Fallen Messiah para berrar ao mundo agora? A capa do disco já revela alguma coisa, suponho. Na demo as letras eram feitas pelo antigo vocalista (Celso), por isso não posso falar por ele, posso apenas dizer que eram mais obscuras. No álbum as letras são influenciadas por tudo o que se passa no mundo hoje em dia, desde a política até á destruição do nosso planeta passando ainda pela religião, pela necessidade do ser humano ter que acreditar em algo maior e inatingível. Basicamente o álbum fala, dos problemas da nossa sociedade actual, de como vamos deixar o planeta para as gerações futuras e sobre a incerteza do futuro. Penso que poderemos dizer que a mensagem deixada, é uma mensagem de intervenção. «Bleak Future» saiu todo do vosso bolso. Mas onde trabalharam-no? Onde gravaram-no? Com quem trabalharam para masteriza-lo? Os temas foram todos feitos e trabalhados na sala de ensaio. Fomos gravar ao Centro da Juventude de Caldas da Rainha com o Diogo Gomes (Doug). A produção, mistura e masterização foi feita pelo guitarrista Alexandre Pinto. Convidaram alguém para participar nas músicas do vosso disco? Sim, já depois do álbum estar gravado, ouvimos tudo muito bem e quando ouvimos a “Sarcastic” pensámos “e porque não uma voz feminina neste tema?”. O Alexandre conhecia a Patricia Carreira e o seu trabalho numa banda de covers, e convidou-a. Nós gostámos bastante do resultado final. Como têm promovido o vosso disco? Têm dado concertos? Esperam dar mais alguns já em 2014? Em termos de promoção tem passado em alguns programas de Metal, como o Alta Tensão na Antena 3, o Holocausto na Radio Litoral Oeste, em algumas rádios online e algumas reviews em sites. Em termos


de concertos tem sido difícil, porque infelizmente, em muito locais nem refeição pagam, quanto mais as deslocações duma banda. Já demos alguns concertos de promoção e até final do ano vamos dar mais alguns aqui na zona. Esperamos que em 2014 surjam novas oportunidades. Projectos para o futuro? Ambições. Neste momento estamos a promover o álbum, mas ao mesmo tempo estamos a compor temas para um próximo álbum (e posso dizer que já temos bastantes), mas fica prometido que não terão de esperar mais 10 anos para o próximo lançamento. eheh Vocês trazem convosco uma história de 15 anos e por isso olham para a cena do Metal com outro olhar, creio, diferente do da nova geração e da nova onda do Metal. Como olham vocês para este movimento da facilidade em lançar discos face à dificuldade de há muitos anos atrás? Hoje em dia qualquer pessoa consegue gravar um álbum, basta ter o material básico e já consegue fazer algo em condições. Antigamente era muito mais difícil visto haver poucos estúdios, preços mais elevados e não havia tanta tecnologia e partilha de informação como há hoje. Há dias o Eurico colocou no facebook um post interessante onde ele divagou sobre ouvir certos estilos de música e a vontade, ou não, de os ouvir, incluindo o Metal. Até que ao ouvir um tema de Meshuggah chegou à conclusão de que o Metal será sempre um registo no ADN dele. E ainda concluiu que um metaleiro também tem sentimentos. Acham que esta última questão ainda está estigma-

tizada na sociedade, e que esta ainda olha para o metaleiro de um modo preconceituoso? Ou acham que isso está a mudar? Na minha opinião acho que cada vez está pior. Mas uma grande culpa disto é os Media (televisão, particularmente), porque sempre deram má imagem ao metaleiros e nunca tentaram transmitir uma boa imagem/mensagem do Metal. Mas o mais ridículo é que, pelo que vejo, é a malta mais jovem, a mais preconceituosa e são os que olham e criticam mais o pessoal do Metal, pois estão habituados á “geração morangos com açúcar” e ao que anda na moda. No pessoal mais velho já não sinto tanto isso. Até posso dar um exemplo: uma vez estava num Shoping com a minha mulher e o meu filho, num elevador (onde não estava mais ninguém), ia a entrar um casal (com os seus trinta e poucos anos), olharam-me de cima a baixo e recusaram-se a entrar. É ridículo. Por último, que nos podem dizer sobre o Metal aí na vossa zona, Leiria? Há mais bandas por aí, ou são só os Echoes of the Fallen Messiah? O metal aqui na zona está bem vivo em termos de bandas. Temos grandes bandas, como Malevolence, The Spiteful, Clutter, Motörpenis, Chapel of Sin, Merciless Saw, Hate Disposal, Angerlord, A Last Day on Earth, Raven Soul, Flagellum Dei, The Spektrum, entre muitas outras. Já em termos de publico não posso dizer o mesmo, são mais bandas do que público, e acho que falta um pouco mais de apoio entre as bandas e não apoiar só os amigos, pois afinal estamos aqui todos para o mesmo. \m/ Entrevista: Victor Hugo


ALCEST «Shelter» (Prophecy Productions) Fantástico! Foi a palavra que me veio à cabeça quando ouvi o novo álbum dos franceses Alcest que dá pelo nome de «Shelter» que vai para o mercado a meio de Janeiro. Com a apresentação no fim de 2013 do single “Opale” percebeu-se o trilho que a banda do Neige iria seguir. Um pouco mais ambiental que o trabalho anterior, o igualmente belíssimo “Les voyages de l’âme” que mereceu lugar de destaque pela equipa da VERSUS magazine. Apenas com espaço para vozes limpas este álbum fica marcado com a imponência e envolvência dada a composição musical aliada a sonoridade genial com que as guitarras “tocam” as musicas ao longo dos (apenas) 8 temas que compõem o «Shelter». No seguimento do single aparecem a “La nuit marche avec moi” e “Voix sereines” que provam a corencia que este álbum nos oferece. Para último tema os Alcest presenteiam-nos com cerca de 10 minutos de um ambiente estridentemente ambiental que nos faz viajar inconscientemente para paisagens “esverdeantes” e cheias de água. A bateria e o baixo acompanham as músicas de forma exemplar ajudandonos a transpor a realidade para onde os Alcest nos pretendem levar. Não negando as origens todos os temas são cantados em francês. Na realidade 2014 acabou de bater à porta e o «Shelter» entrou com ele para ser muito provavelmente um dos álbuns do ano. [9/10] Sérgio Pires AYREON «The Theory of Everythingt» (InsideOut Music) Penso que o Sr. Arjen Lucassen chegou ao topo da sua imensa capacidade musical e que necessita de novos desafios que o puxem para lá do supremo musical. Reconheço a sua mestria e criatividade, mas a música dos Ayreon começa a pedir mais, estando-se a tornar um “defeito” comum. Isto é aplicável a qualquer um dos seus projectos. Não quero com isto dizer que este trabalho é inferior, bem pelo contrário, ou que o Arjen não consegue fazer boa música, longe disso, e que fique bem claro que «The Theory of Everything» é um excelente trabalho, mas peca por não conseguir - pelo menos a mim - surpreender mais a nível musical. «The Theroy of Everything» é mais uma vez uma excelente demonstração de como fazer boa música e homenagear todas as referências musicais do passado do seu mentor, sendo este álbum ainda pautado - mais uma vez - por excelentes convidados musicais, interpretes e músicos, dos quais destaco a Cristina Scabbia (Lacuna Coil), Marko Hietala (Nightwish), JB (Grand Magus), Steve Hackett, Rick Wakeman(Yes), Keith Emerson e John Wetton(Uriah Heep), mas , dado áquilo que já fez Ayreon, não entusiasma muito, parecendo ser mais do mesmo, mesmo que muito bom. Falta a este álbum a irreverencia dos primeiros álbuns e quebrar definitivamente com o formato estabelecido, dando uma pedrada no charco. Nesta altura da carreira dos Ayreon, queremos algo que nos surpreenda sem que com isto traia a sua música. [9/10] Carlos Filipe CODE «Augur nox» (Agonia Records) Não sendo uma banda que nos brinde com novos álbuns de forma muito frequente, os Code apoiam-se mais numa fórmula de quatro em quatro anos para conseguir produzir o resultado de uma batalha que é de se louvar, pois trata-se de um projecto com alguma rotatividade de membros e é, no seu âmago, o projecto a solo do norueguês Aort. Mesmo assim, a banda mantêm alguma consistência no que toca a volumetria e propõe um som que podemos dizer estar relacionada com nomes como Dødheimsgard, Ulver, Arcturus ou At the gates. Este álbum é um trabalho que soa a detalhe, a um certo cuidado ou minuciosidade, até, diria. Uma especial atenção que nos dá prazer descobrir ao longo das doze faixas que nos devolve o cru e o rude, ao mesmo tempo que o explicativo do ente que se livra da maldição sobre ele recaída. As melodias que nos chegam por entre brumas de distorções, como no refrão em “Garden chancery”, são momentos únicos de elevação de sentimentos que se escondiam em

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nós. A continuidade do trabalho mantém o ritmo das faixas sem perder a dinâmica que agarra bem, tornando este álbum fácil de ouvir de uma ponta a outra. As vozes tanto são distorcidas como limpas, alternando a melodia mais perfurante com a mais demonstrativa. O resultado é muito convincente e poderoso, tanto em força como em carácter, deixando vontade de saber mais sobre este projecto, indivíduo, bandas, género. [7.5/10] Adriano Godinho

CRONIAN «Erathems» (Seasons of Mist) «Erasthems» é um disco de uma banda classificada como Progressive Dark Metal, o que pode deixar o leitor habituado a separações mais herméticas entre sub-géneros do metal um pouco baralhado. Porém é de facto uma tarefa um tanto impossível, classificar com regra e esquadro o último de originais dos Cronian. Isto porque Croninan é a mistura resultante da junção de esforços entre Øystein G. Brun e Vintersorg (ambos dos Borknagar) que não se limitaram a ir para algo estanque e arriscaram aquilo que de mais nobre se pode fazer na música: criar algo diferente. Portanto em «Erathems» as coisas funcionaram bem, isso não há qualquer margem para dúvidas. E tanto melhor funcionaram quanto a diversidade de paisagens sonoras presentes neste disco que se pretende pesado (e este disco é-o). O interlaçado de sequências sonoras, que ouvidas isoladamente poderiam indiciar uma esparguete sonora, são ligadas por duas mentes musicalmente dotadas e que nunca em momento algum deixam o álbum incorrer em vazios desprovidos de sentido. Todos os segmentos sonoros que ouvimos neste disco fazem sentido, têm um lugar próprio apesar de serem sempre diferentes entre si. Vocalizações que vão do gutural agudo até vozes limpas, orquestrações belíssimas como no tema “Moments and Monuments” contrastam com paisagens mais extremas e abstratas mas sempre com uma base sólida de teclados. Tudo isto embrulhado por uma qualidade de produção de excelência. Apesar de não colar irremediavelmente aos ouvido, ouvir este álbum é uma viagem por trilhos sonoros tão interessantes como difíceis de verbalizar. [8.5/10] Sérgio Teixeira

EMPYRIUM «Into The Pantheon» (Prophecy Records) Antes de me debruçar sobre a crítica deste álbum, é necessário fazer o enquadramento geral sobre os Empyrium. Que banda é esta com 15 anos de idade? Banda germânica do underground do Dark/Neo Folk Symphonic Metal fez um certo furor no final dos 90 até terem terminado em 2002. O seu metal cativante e único, que mais parece a combinação do melhor de My Dying Bride – aliás o nome da banda advém de uma das músicas dos MDB - com Opeth dos primeiros álbuns mais «Deliverance», mas com uma identidade única e própria, tendo-os lançado para a eternidade. Este álbum – e também um dvd/bluray - é o concerto ao vivo de Markus Stock e Thomas Helm volvidos quase 10 anos do fim dos Empyrium, mostrando aos demais que aqui estamos, no nosso melhor, sem termos perdido a nossa identidade musical, e queremos que a banda renasça mais uma vez. E assim, somos presenteados com um concerto memorável, de carácter intimista, que ambos puseram de pé com a participação de Konstanz (The Vision Bleak), Neige (Alcest), Eviga (Dornenreich), Fursy Teyssier (Les Discrets), Aline Deinert (Neun Welten) e Christoph Kutzer (Remember Twilight). A performance ao vivo, dos setenta minutos que dura o concerto é magnânima e exprime todo o esplendor musical dos Empyrium, em ambas as vertentes, a mais metal dos dois primeiros álbuns e a mais acústica dos dois últimos. A dedicação e empenho de todos os elementos são irrepreensíveis, destacando-se, a performance vocal barítona de Thomas Helm. Simplesmente divinal. Mais pergunto: Onde estaria esta banda se não tivesse parado em 2002? Tenho a certeza que seria uma das maiores do género ao lado das bandas acima referidas. Já lá diz o nosso ditado popular, que mais vale tarde do que nunca. [10/10] Carlos Filipe

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GWYDION «Veteran» (Edição de autor) «Veteran» é o terceiro álbum dos Gwydion, o que significa que carrega sobre ele muito do que esta banda pode ou não vir a fazer num futuro próximo. Este é o álbum da consagração ou da desintegração. Tudo apontava para ser o álbum da consolidação, porque os Gwydion, depois de dois álbuns que os colocaram no caminho do Folk Metal europeu, com um som próprio e bem característico, lançam agora este «Veteran», com um estilo a apontar para outras ondas do Metal, perdendo parte da sua identidade musical, sendo este álbum musicalmente mais épico, mais sinfónico e Heavy Metal do que Folk, estando assim o género que os evidenciou somente presente aqui ou ali de forma minimal, reduzido ao mínimo de músicas como está bem patenteado em “Math of War” ou “Tears of Piece”, as mais Folk e com o seu famoso “corridinho” bem presente. É uma aposta arriscada e torna «Veteran» uma obra estranha e desconectada dos Gwydion que conhecemos. Apesar de as temáticas estarem lá, a componente épica ser maior, o álbum não consegue agregar esta nova direcção, não funcionando «Veteran» como um todo musical. O álbum que deveria consolidar os Gwydion, leva-os para uma espécie de recomeço artístico, com a agravante de não trazerem nada de novo musicalmente, perderem partes da sua identidade e de apresentarem um som algo banal no panorama geral do metal épico. No entanto, «Veteran» como álbum de metal épico, não desilude completamente, apresentam-nos 11 boas músicas com conotações sinfónico-folclóricas, das quais destaco “Trail To a New Land”, “Lured to Comfort” e “Veteran”. [7.5/10] Carlos Filipe HAIL OF BULLETS «III The Rommel Chronicles» (Metal Blade) O primeiro tema do mais recente álbum «III The Rommel Chronicles» começa por deixar claramente o ouvinte num espaço auditivo de desesperança e marcha em direção ao confronto psicológico derivado das vicissitudes associados ao tema 2ª Guerra Mundial. Rommel, um general alemão considerado um dos estrategas de guerra melhor sucedidos do lado da Alemanha nazi, é o tema deste álbum dos Hail of Bullets. O tema da guerra marca portanto todos os 10 temas deste álbum. Na entrevista à Versus Magazine, a banda esclareceu este ponto que pode ser mais controverso e que no mínimo chama a atenção e poderá até causar alguma controvérsia. Mas indo à raiz do disco, o que aqui temos á a reunião de vários amigos que partilham o gosto pelo Heavy Metal old-school, sendo que nomes como Martin van Drunen dos Asphyx ou Ed Warby dos Ayreon pontificam neste best of the músicos do metal Holandês. E como tal a música produzida encontra-se no que diz respeito a qualidade em padrões que se encontram ao nível dos elementos que a compõem. Há algumas notas no entanto que, penso eu, são de realçar. A primeira é o vocalista van Drunen que é ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição por razões óbvias: a tendência para comparar os Hail of Bullets aos Asphyx que são também intérpretes do Death Metal old-school. O outro ponto a referir é o estilo propriamente dito. Se forem apreciadores do género, está aqui provavelmente o melhor disco old-school surgido em 2013. Com segmentos que aqui e ali colam ao ouvido somados a uma sonoridade muito bem conseguida é um bom álbum, mas não mais do que isso. [8/10] Sérgio Teixeira HAKEN «The Mountain» (InsideOut Music) Já houve quem os comparasse aos Dream Theater mas devo dizer, no entanto, que o elogio encaixa que nem uma luva. Para mim, quase todos os álbuns que acabam por ser especiais têm uma história. Descobri-os por acaso quando lia alguns artigos sobre os Winery Dogs, Mike Portnoy recomendava a audição dos Haken. Movido pela curiosidade decidi investigar – Para o efeito nada melhor que o youtube. Este é somente o seu terceiro lançamento. «The Mountain» é um álbum de Rock/Metal Progressivo sem shredds, composicionalmente perfeito, onde os temas se interligam de uma forma tão fluída e natural que é impossível dizer que há um que não encaixa ou que esteja desenquadrado. Nove temas que perfazem um todo, num puro carrossel melódico e uma montanha russa de emoções. Podem

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encontrar por aí álbuns tecnicamente superiores, já que mencionei, DT é um deles. Após a primeira audição ficamos com aquela sensação de… “já ouvi isto antes”. «The Mountain» é interpretado de uma forma excecional e absolutamente apaixonante. A produção e interpretação feita ao nível das vozes por todos os elementos da banda merece nota 11. Ouçam porque não se encontra este tipo de musicalidade hoje em dia, ainda mais enriquecida por instrumentos “diferentes”: trompa francesa, trombones e tuba. Estes sentimentos criados e despertados pela música, o prazer de a ouvir sobrepõem-se a toda e qualquer mestria técnica. Definitivamente, o álbum progressivo do ano. [10/10] Eduardo Ramalhadeiro

INQUISITION «Obscure Verses for the Multiverse» (Seasons of Mist) Vindo dos E.U.A., mais precisamente Seattle chega-nos não um disco de Grunge mas sim Black Metal. «Obscure Verses for the Multiverse» é o 6º registo dos Inquisition e chega precisamente na reta final de 2013. O facto mais interessante do ponto de vista sonoro é que temos aqui é o que se esperaria sem tirar nem por de um álbum de Black Metal vindo dos E.U.A. Reconhecemos facilmente as raízes do Black Metal clássico relativamente próximo das origens do Black Metal forjado nas regiões nórdicas da Europa. Por aí não teríamos nada de novo, mas eis que o que torna a mistura mais do que interessante é a colagem de elementos claramente alinhados com o Hard Rock americano tanto em alguns riffs ou progressões que pontuam ao longo dos vários temas como na estrutura de alguns solos que também surgem com proporções e pertinência suficientes para não causar nódoa no pano. A irreverência e inconformismo sonoros estão presentes adicionando um sem número de variações que enriquecem o trabalho. Sendo clara a afinidade destes Inquisition com os temas do Cosmos, no entanto não é algo que nos possa levar a algo como os Darkspace já fizeram em que toda a envolvente sonora é integralmente uma viagem pelo espaço interestelar. Em «Obscure Verses for the Multiverse» esse aspeto fica, julgo eu, praticamente confinado às letras. Como ponto menos positivo tenho a apontar alguns temas que tendem a criar a sensação de terem sido incluídos para encher (caso de Spiritual Plasma Evocation), mas no geral a mistura que conseguem está muito bem conseguida e leva a que o ouvinte tenha curiosidade em ouvir o tema seguinte. [8.5/10] Sérgio Teixeira

IN SOLITUDE «Sister» (Metal Blade) Com palavras envolventes começam as anunciações deste novo álbum dos suecos In solitude (a não confundir com os portuenses que mudaram de nome em 2011). Os presentes vêm de longe, mudando o seu âmago, conforme o desenvolvimento físico da sua cria. Fornecendo a protecção necessária para o seu crescimento mas também a aprendizagem suficiente para se tornar num ser independente e dotado de ousadia para viver e reinar. A intenção reinante em momentos suspensos no ar como em “A buried sun” é a penúria, relativamente a um significado que podemos pensar encontrar entre os nossos actos e o abandono absoluto de luz, que nos mostre qual o caminho seguir. O resultado é a perda de sentido recorrente ao evoluir de “Pallid hands” até à brilhante “Lavender”. Qual movimento sedutor, unicamente presente, explodido em milhares de pedaços que se perdem à nossa frente, mantendo uma perda no tempo que repele a ordem e apanha a miscelânea contemplativa de “Sister”; onde pousamos os olhos e só podemos ver o ritmo acelerado, quase apressado, da decomposição da normalidade em tons de dor contorcida. Por momentos tudo quase faz sentido, mas todos nós tentamos fugir desse pesadelo e mergulhamos no calor da psicose saudavelmente controlada pela presença de uma certa liderança imposta, como em “Horses in the ground”. Após despertar de “Inmost Nigredo”, voltamos ao banal; ao conjugado real e soporífico. Nada nos fará voltar. Ninguém nos levará de novo lá. A não ser que… [8.5/10] Adriano Godinho

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LEAVE’S EYES «Symphonies of the Night» (Napalm Records) É sempre com alguma expectativa que oiço novos trabalhos de artistas conceituados, pois nunca sei como vai ser com estas bandas, se vou ficar desiludido ou ser surpreendido. Leave’s Eyes é um desses casos. Depois de uma grande desilusão com o álbum anterior de 2011, é com grande sobressalto que oiço «Symphonies of the Night». De Leave’s Eyes e esposo, é disto que estamos à espera: um álbum bombástico a todos os níveis com grandes canções repletas de excelentes momentos vocais, quer da angelical Leave, quer do gutural Alex – aliás como nunca antes ouvi! – de bons riffs e melodias que enchem a música, acompanhadas por sustentados momentos orquestrais, ou não tivesse sido o álbum gravado com uma orquestra real, ou mesmo o já característico Folk do norte da Europa, isto sem que nenhum dos estilos se sobreponha um ao outro, estando o segredo aqui, neste correcto e perfeito balanceamento musical. O equilíbrio e sobriedade musical são a tónica deste álbum e a grandeza que o torna deveras grandioso e potente. O tom subjacente a «Symphonies of the Night» é o do peso, do metal associado a grandes partes melódicas. O nível é tal que não há uma música para destacar, todas elas estão ao mesmo alto nível. Toda a atmosfera que faz Leave’s Eyes está aqui amplificada e bem realçada e felizmente, desta vez, não há nenhuma cover que “abafa” todas as outras músicas. Um dos melhores álbuns deste último trimestre de 2013. [9.5/10] Carlos Filipe LOWCITYRAIN «LowCityRain» (Prophecy Productions) Markus têm-se vindo a revelar um músico bastante versátil e com vontade de experimentar vários estilos de música. Para quem ainda não adivinhou quem é o Markus, ele é o Herbst de Lantlôs. Desta vez ele deixa a frieza e tonalidades do Black Metal, e entrega-se ao feeling dos 80’s. Como podem imaginar não é dos 80’s Pop, mas antes dos 80’s Post-Punk onde ele vai beber influências. The Cure, Killing Joke ou Asylum Party são algumas das referências, mas que não desvirtuam a originalidade de Markus. “Se ao rapaz lhe apeteceu fazer música nestes moldes, então vamos lá dar uma oportunidade a LowCityRain.” – pensei eu. E a surpresa foi imediata. «LowCityRain» soa maravilhosamente bem, a 80’s, sim, mas também soa a contemporaneidade, ou o trabalho das composições e da produção não fosse realmente bom. Ao mesmo tempo que elas se revelam simples, abrem também um fosso de profundidade e feeling – características que já nos habituámos em Lantlôs, onde cada momento era uma representação de sentimentos – o mesmo se passa em «LowCityRain». Simples, soft, etéreo; com trabalhos de guitarra sublimes; com um baixo forte; uma bateria programada mas que encaixa que nem uma luva; a voz de Markus que sem ser genial convence muito; e convidados: Laura, uma amiga que canta logo no primeiro tema; e Andy Julia, dos Soror Dolorosa, que canta no tema “Nighshift”, o momento mais acelerado e Rock do álbum, a trazer o espirito da banda francesa. No fim, o que surpreende neste álbum é o forte feeling em todas as canções, e as em estruturas simples, o que resulta na sua audição em modo repeat. Uma das melhores companhias de 2013. [8/10] Victor Hugo LYFTHRASYR «The Engineered Flesh» (Sureshot Worx) No 3ª álbum de originais, os Lyfthrasyr, oriundos de terras germânicas lançam para consumo acelerado nas hostes ligadas ao Black Metal um álbum muito bem conseguido e concebido durante o ano de 2013. É notória a ultra produção no som das guitarras estendendo-se a teclados e à bateria. Há ainda que somar um conjunto de temas compostos com cabeça tronco e membros, facto que não será de estranhar se tivermos em atenção que o mentor do projeto – Aggreash - é o responsável pelas composições. Normalmente um álbum “desenhado” por único compositor é algo que permite manter uma espinha dorsal diretora sobre a qual assentam as variações musicais necessárias, mas sem quebrar os padrões essenciais que definem a personalidade do disco. Apesar desta homogeneidade que define «The Engineered Flesh», não estamos perante um álbum “next, next, next” pois há em cada um dos 8 temas espaço para descobrir sempre algo de novo. Momentos de contemplação q.b., coexistentes

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com dinâmicas explosivas que percorrem todos os temas. Uma outra característica define ainda este trabalho, que é o uso e quase abuso de sons sintetizados colocando a sonoridade em alguns momentos muito próximo de música eletrónica. Para quem já conhece os trabalhos anteriores, julgo que «The Engineered Flesh» vem na sequência lógica dos registos anteriores. Sem ser um marco no Black Metal é no entanto um álbum que traz o essencial para ser considerado acima da média: (alguma) originalidade, boas e contundentes composições e excelência sonora. [9.0/10] Sérgio Teixeira

MONOLITHE «Monolithe IV» (Debemur Morti Productions) Um álbum, um tema, uma excelente proposta de Doom. Quiçá uma das melhores propostas de Doom de sempre. Confesso que fiquei até à última para decidir que classificação dar a este registo dos Monolithe, banda Francesa que aqui apresenta o seu quarto álbum de originais. Isto porque confinado ao estilo Doom Metal é provavelmente a banda que melhor consegue fundir composições de uma pertinência inigualável, paisagens sonoras muito longe da monotonia e peso tanto a nível instrumental como nas vocalizações. Na sua essência é um trabalho muito inspirado, que desafia as leis do espaço e do tempo ao transportar-nos para as raízes da criação do Universo, agarrando-nos às suas teias sonoras e depois fazendo do ouvinte um ser hipnotizado e levado automaticamente para as dimensões onde esta obra coexiste. Inquestionavelmente belo, aterradoramente diabólico, respira e ao mesmo tempo é estanque, coloca a atração e o afeto ao lado da desesperança e do caos. Tudo isto faz sentido à medida que a essência orgânica nos absorve e comove. Muito perto de ser uma obra-prima, provavelmente só precisa de algum distanciamento temporal para se poder dizer que «Monolithe IV» realmente o é. Nunca ouvi um álbum de Doom como ouvi agora vezes sem conta «Monolithe IV» e se não há unanimidade nas avaliações deste disco é porque não este exige uma predisposição para ouvir e saborear segundo após segundo o ambiente que é criado. Portanto havendo essa abertura de espírito acho sinceramente que é um álbum que vai agradar não apenas aos amantes do Doom mas também a todos os que apreciam essencialmente a boa música no espectro mais extremo da escala. [10/10] Sérgio Teixeira

MORD’A’STIGMATA «Ansia» (Pagan Records) Depois dum disco rápido, agressivo e genericamente mais dentro dos parâmetros do Black Metal como foi «Antimatter» (2011), os polacos Mord’a’Stigmata acabam de regressar com um trabalho bem diferente, que aposta muito mais na atmosfera, nas cadencias lentas do Doom e num estilo de composição mais expansivo e multifacetado. Desta vez, blast-beats só mesmo nos primeiros minutos de “Inkaust”, o longo tema de abertura que a seguir se desenvolve em compasso lento, numa atmosfera negra e perturbadora, com cânticos obscuros a secundar o fantástico registo gélido de Ion. “Shattered vertebrae of the zodiac” inclui um longo interlúdio psicadélico de guitarras etéreas, e um fabuloso rendilhado de bateria de feeling jazzístico, terminando numa secção de cariz mais experimentalista de riffs dissonantes, muito à lá Blut Aus Nord. Inicialmente de ambiência fantasmagórica, “Pregressed” culmina numa secção hipnótica a meio tempo, plena de dinamismo, onde o baterista DQ se mostra uma vez mais como um músico de excepção a destacar no colectivo. “Praefatio pro defunctis” tem um começo a fugir para o standard, mas logo se revela em algo mais experimental, sem nunca perder um elevado nível de agressão. Com a faceta avantgarde do disco anterior agora mais ampliada, mas proporcionando ainda assim uma audição acessível, «Ansia» é um disco recomendadíssimo para quem prefere Black Metal com a abordagem atmosférica e progressiva de bandas como Secrets of the Moon ou Darkspace. [9.5/10] Ernesto Martins

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NAMI «The Eternal Light of the Unconscious Mind» (Graviton Music) Nem sempre as surpresas surgem dos lugares comuns, prova entre mãos com este segundo trabalho dos Nami, banda de Andorra que mostra ter muitas ideias para elaborar música e chegar a um nível invejável, tão rapidamente. Em momentos agressivos ou melódicos, rápidos ou elevados, este trabalho está repleto de passagens bem conseguidas e interessantes. Bem diferente do tema de abertura, a segunda faixa “Ariadna” possui algo de intrigante: uma estrutura de álbum numa só música. O continuum do trabalho é esclarecedor e sólido, concatenando expressões particulares em cada faixa, construindo uma cadeia de eventos e valores que expõem a qualidade da banda. Além de que, a verdade é que a normalidade instala-se um pouco em certos momentos deste trabalho, mostrando o potencial evolutivo do quinteto no caso de optarem por uma desconstrução do que pode leva-los a terem momentos menos intrigantes/interessantes. Apesar disso e pegando a temática a partir da faixa com tons de interlúdio “The Animal and the Golden Throne”, este trabalho expõe-se um pouco de forma introspectiva, o que não me choca per si, mas penso que com a sequência “Bless of Faintness”, “Hope in Faintness” e “Crimson Sky”, é diminuído o impacto que conseguiram com o início do álbum. De qualquer facto, o que realizaram com este trabalho é digno de ser mostrado e descoberto. [6.5/10] Adriano Godinho ORCHID «The Zodiac Sessions» (Nuclear Blast) Até há bem pouco tempo, os Orchid, assim como os Baroness, não eram bandas que apreciasse. Até posso ser um pouco mais generalista e afirmar que este género musical, Doom/Stoner e/ou Rock Psicadélico (Risquem o que não interessa…) nunca me despertou atenção. No entanto, quando recebi e ouvi o EP «Wizard of war» (posteriormente, também « Live At Maida Vale» dos Baroness) a ideia que tinha sobre este género musical mudou radicalmente. Já na review feita ao EP dos Orchid fiquei ansioso e com curiosidade de ouvir material novo. No entanto, «The Zodiac Sessions» trata-se de uma compilação do excelente primeiro álbum «Capricorn» e do primeiríssimo EP «Through the devil’s doorway» completamente remasterizados. Theo Mindell encarregou-se, também, do trabalho artístico. Como se pode depreender muito facilmente, os Orchid vão buscar inspiração a bandas como Led Zeppelin ou Pink Floyd. No entanto, é sobretudo devido aos riffs “negros” e pesados, baseados numa sonoridade muito Doom que são muitas vezes comparados aos Black Sabbath. Esta comparação não é de todo descabida. Em menos de quatro anos de existência – sim, o primeiro EP data de 2009 – os Orchid atrevem-se já a lançar uma compilação. Sendo assim, que melhor maneira de começar a ouvir os Orchid e logo pelo melhor material? Dois dos primeiros lançamentos num único CD ou vinil se preferirem! A minha saciedade por novo material não ficou satisfeita mas isto serve-me igualmente muito bem. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro PANZERCHRIST «The 7th Offensive» (Listenable Records) Nesta nova ofensiva da divisão panzer dinamarquesa, o general Michael Enevoldsen apresenta-se com uma formação inteiramente renovada e, talvez por isso mesmo, com um disco mais melódico do que o habitual. De facto, combinado com o formidável poderio bélico devastador a que o colectivo já nos habituou, encontramos desta vez um inusitado virtuosismo de guitarra (cortesia de Nille Pedersen) ao estilo dos Arch Enemy, e mesmo temas completos que nos remetem para as melodias triunfantes (pateticamente, por vezes) dos Amon Amarth, como acontece no desconcertante “Mass attack of the lycanthrope legion”, entre outros. E o que é irresistível neste disco é exactamente a estranha fusão de elementos muito acessíveis com uma infra-estrutura de Death Metal extremo que inclui uma secção rítmica espessa e massiva que abusa do double-bass, rajadas demolidoras de inspiração Mardukiana, e um vozeirão gutural de Soren Lonholdt que é quase tão down-tuned como o do anterior frontman Bo Summer. “In the name of massacration”, “Foreign fields”, “Kill for revenge” e a faixa que dá o nome ao álbum, são os temas onde a combinação acima referida melhor sobressai. A alucinante “Dogger dead”

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destaca-se também, mas como uma espécie divertida de “Fucking hostile” (Pantera) em versão Death Metal. O resto do disco soa um pouco genérico, especialmente no que diz respeito às três últimas faixas, mas mesmo assim é uma audição que se recomenda. [7.5/10] Ernesto Martins PLACE VENDOME «Thunder in the distance» (Frontiers Records) Devo já referir que sou um ávido consumidor de tudo o que Michael Kiske faz. Apesar destas coisas de preferências e “Top’s” ser muito subjetivo, posso escrever com toda a certeza ser este o número um. Após a saída do Helloween não houve nada que este homem fizesse que não tivesse gostado. Já sei, já sei… tudo isto é muito subjetivo. Place Vendome é um dos projetos de Kiske e como em quase todos os projetos é ele o centro das atenções. Faz, realmente, a diferença. Eu atrever-me-ia a fazer a analogia com o vinho do porto. É verdade! Musicalmente falando, este álbum não será muito diferente dos outros Place’s ou de um qualquer álbum de AOR/Rock. Após os Unisonic que já o aproximou um pouco mais do Power Metal, Kiske, que publicamente tem vindo a afirmar ter perdido a vontade de seguir este caminho voltou aos Place Vendome, o seu primeiro projeto após um hiato de 10 anos da saída dos Helloween. Sendo assim, Kiske mantém em «Thunder in the distance» o seu registo mais Rock e melódico (Oops… alguma vez não o foi?). A voz está como sempre… imaculada, majestosa e com todas as suas características intactas! «Thunder in the distance» é muito direto, excelentemente produzido por Dennis Ward. Se quisermos perceber mais um pouco a importância que tem dentro da sua editora – Frontiers – todos os temas foram escolhidos pelo seu presidente, Serafino Perugino. De resto, é um álbum de Rock/AOR muito fácil de ouvir e que será obrigatório para todos os fãs de rock (muito) melódico. Alta qualidade [9/10] Eduardo Ramalhadeiro ROSETTA «The Anaesthete» (Debemur Morti Productions) No início fiquei surpreso ao ver uma banda como Rosetta no catálogo da Debemur Morti Productions. O que faz uma banda que estava na Translation Loss, que alberga bandas que se situam naquele espaço entre o Metal, o Sludge, o Post e o Shoegaze, numa editora que alberga o Black Metal? No mínimo curioso. Acontece que a primeira música foi como que uma bomba de emoções. “Ryu / Tradition” é fantástica, e introduz o ouvinte num espaço sonoro envolvente, acolhedor. Já nem interessa o que o rapaz berra ou deixa de berrar. Interessa a musicalidade, os sons, a melodia hipnótica, o crescendo de intensidade e a percussão, onde até a voz berrada com potência faz parte. Depois do embarque imaginem-se lá durante mais 8 temas. Contudo, os restantes momentos de «The Anaesthete» não são tão poderosos, ou tão envolventes, como o primeiro. Mas uma coisa é certa a qualidade destaca-se nas composições. Guitarras atmosféricas, a evocar o post-qualquer-coisa-metal, uma bateria que nunca pára e que é o coração das músicas, e um registo vocal gritante e grave. Concluindo: estamos perante uns Cult Of Luna dos Estados Unidos da América. As parecenças são mais que muitas, mas nem por isso este quarto trabalho dos Rosetta deixa de ser curioso e com qualidade. Se vale a pena? Sim, vale a pena compra-lo, ouvi-lo, aprecia-lo e coloca-lo na prateleira juntamente com a banda sueca. No final talvez perceberão porque é que a Debemur Morti Productions albergou os Rosetta. É aquela guitarra que faz lembrar um ou outro momento hipnótico de uns Blut Aus Nord. [7/10] Victor Hugo SERRABULHO «Ass Troubles» (Vomit Your Shit) «Ass Troubles» começa com a afirmação de um acordeão, para logo depois haver uma descarga de Grind Core. Mas assim um Grind Core como mandam as regras, bem potente e esgalhado, e não deslavado ou simplesmente descartável. Não. O que a banda de Trás-os-Montes nos oferece é uma imponente salva de peso bem feito. Derivado de um apetite de fazer uma “merda” diferente, elementos de bandas como ThanatoSchizO e Holocausto Canibal uniram talentos e esforços, deram concertos explosivos e já dão cartas no estrangeiro. Produzido nos estúdios Blind & Lost, com a habilidade do Guilhermino Martins, o resultado

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final é muito fixe. Para além do Grind Core com humor, ouvimos o já referido acordeão e samplers de diálogos de filmes que são, em boa verdade, a cereja no topo do bolo – simplesmente brilhante. Todos os temas são orelhudos e com composições nada dadas à complexidade, o que resulta num certo vicio – e quando damos por ele, estamos a repeti-lo e a procura-lo. Ouve-se em casa, no carro, em festas, em todo o lado. Destaque para o tema “Left Ball”, “Don’t Fuck With Krusty” e o estrondoso “I’m Full of this Shit”, com riffs bem esgalhados e old school. «Ass Troubles» sugere-se por ter qualidade e por proporcionar momentos bem Metal e pesados, e por ser, claro está, produto nacional. [7/10] Victor Hugo

SLEGEST «Løyndom» (Dark Essence Records) Depois de Ese ter abandonado os Vreid, decidiu compor a sua própria música. Para tal ergueu Slegest, um projecto a solo, onde Esse é responsável por todos os instrumentos. O EP de estreia, «Slegest», de 2012, teve um bom feedback no seio do Metal, e Ese não perdeu tempo a compor o longa duração, «Løyndom». A sonoridade de Slegest é um raçado de Black Sabbath com o Black Metal mais tradicional. O resultado é interessante. Uma mistura com os ritmos e sons do Heavy Metal clássico com a frieza do Black Metal – esta a manifestar-se mais na voz gélida de Ese, o outro a manifestar-se nas composições de guitarra à là Iomi, com ritmos interessantes e solos bem colocados. Mas nem tudo soa como deve ser, e desta feita é a bateria que perde pontos. Esta revela-se simples… diria até que demasiado simples e sem poder. Significa que a maior parte dos ritmos não dão pica; e os realmente bons contam-se com os dedos de uma mão. Destacam-se os temas “Løgna Sin Fiende”, com o seu ritmo de guitarra bem fixe, e “The Path of no Return”, com a colocação de um riff de guitarra bem esgalhado e em comunhão perfeita com a bateria (básica) ali no meio da musica. Em suma, as músicas soam bem e proporcionam bons momentos old school que agradarão a um largo grupo de fãs de Metal. Para estreia está bom, mas estou curioso para saber como será o sucessor. [6/10] Victor Hugo

THE RUINS OF BEVERAST «Blood Vaults – The Blazing Gospel of Heinrich Kramer» (Ván Records) É mais um trabalho de proporções épicas com a marca do talentoso multi-instrumentista Alexander von Meilenwald. Quem ficou expectante depois do impressionante «Foulest Semen of a Sheltered Elite», fica já a saber que este não é uma segunda parte desse álbum de 2009. Este quarto registo começa logo por ser mais lento, embora mantenha todo o espírito Black Metal que sempre presidiu aos discos do projecto alemão. Aquela aura obscura, pesada e densa que já conhecemos, marcada pela sonoridade absolutamente monstruosa das guitarras, também continua intacta, e ainda bem. Os teclados sempre bem colocados mantém um papel fundamental na atmosfera, e junto com os efeitos vocais fantásticos que são usados criam imagens de uma envolvencia aterradora. Estas vocalizações aparecem misturadas com cantos litúrgicos e surgem logo no brilhante “Daemon”, surpreendendo ainda mais à frente em “A failed exorcism”. O estilo de composição é de tal forma apurado e consistente e os temas incluem tantos momentos galvanizantes, que os treze minutos de “Spires, the wailing city” ou os quinze da surreal “A failed exorcism” flúem sem a mínima sensação de monotonia. Baseado no clérigo germânico do Sec. XV que produziu o infame Malleus Maleficarum, «Blood Vaults…» fica um pouco aquém do álbum anterior em termos de inspiração, e até parece arrastar um pouco o seu Funeral Doom na terceira parte (faixas 7 a 9). É acima de tudo um disco que requer um investimento de tempo substancial para que se revele finalmente no muito de precioso que tem para oferecer. [9/10] Ernesto Martins

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YEAR OF NO LIGHT «Tocsin» (Debemur Morti Productions) Depois de um «Vampyr» totalmente ambiental, sem qualquer vestígio do muito aclamado «Ausserwelt», os franceses Year Of No Light lançam mais uma proposta. Já sem saber bem o que esperar deste colectivo, eis que «Tocsin» traz de novo a sonoridade que bem caracterizou os primeiros lançamentos da banda. Os ambientes do Post-Rock estão bem presentes, tal como os ritmos mais Doom. Estes últimos parecem ganhar mais destaque nesta nova aposta, ou o álbum não começa-se logo com Doom – “Tocsin” faz, assim, a abertura do álbum e, em boa verdade, não é cativante. São perto de 14 minutos a ouvir um ritmo lento e pesado, sem qualquer dinâmica e esperança que salva o álbum. Mas, o segundo momento, “Géhenne”, remata para o oposto e faz com que o momento anterior não passe de um longo preludium altamente indispensável. Mas será que os restantes movimentos farão as delícias dos ouvintes? Em grande parte sim. “Désolation” bem que poderia ser a tradução musical para esse estado disposicional. Ambiente profundo, ritmado, hipnótico. Nos restantes momentos o Doom volta a dar o ar de sua graça, mas desta vez é colocado muito bem, naquela mistura que caracteriza a sonoridade da banda. «Tocsin» tem tudo para agradar aos fãs. Longe dos ambientes de «Vampyr», a banda soube colocar num disco o que melhor fazem (tirando o primeiro momento do álbum que poderia ser muito, muito melhor), e criaram um ambiente bastante interessante. Contudo, nada de novo acrescentaram, exceptuando a produção melhorada. Não sendo um disco orelhudo, consegue agarrar o ouvinte e leva -lo numa viagem introspectiva. [6.5/10] Victor Hugo

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Ficção científica digital

XAAY Da edição eletrónica para a arte digital: eis a senda percorrida por Xaay (nome artístico do polaco Michal Loranc), passando pelo desenho à mão, que pratica desde a infância. Podemos ver o seu trabalho nas capas de álbuns de bandas como Nile, Behemoth, Vader. Paralelamente, segue também um percurso na música extrema, como vocalista de Redemptor e único membro de Nepenthe. Num estilo alegre e um tanto explosivo, o jovem artista “dialoga” com os leitores da VERSUS Magazine por interposta pessoa, dando a conhecer as grandes linhas que regem a sua arte.


Foi Sahil Makija que me deu a conhecer o teu trabalho, quando o entrevistei sobre o último álbum Reptilian Death. Falámos sobre a capa de «The Dawn of Consummation and Emergence». Como foste escolhido para fazer o artwork desse álbum? Xaay - Olá, Cristina, e leitores da Versus! Quando fui convidado para fazer esse artwork, já conhecia o Sahil há cerca de dois anos. A nossa amizade nasceu do intenso trabalho que fiz para a sua banda principal, Demonic Resurrection. Tive de fazer o logo, o artwork e o layout para o álbum «The Return to Darkness». Agora estamos juntos de novo para o próximo lançamento: a capa já está feita e vamos agora começar o layout.

Aconteceu o mesmo com Reptilian Death: também me pediram o logo, o artwork e o layout.

minha Canon 550D. Tecnicamente, os meus trabalhos podem ser considerados como pinturas digitais, pinturas matte e hábeis manipulações de fotos, combinados em diferentes proporções.

são os meus dois mestres incontornáveis da arte negra do séc. XX. Depois deles, sintome influenciado por uma lista infinda de grandes pintores, artistas digitais contemporâneos e designers.

Podemos dizer que encontras a tua inspiração em filmes de ficção científica como, por exemplo, a série Alien? Os fatos de palco que desenhaste para os membros de Reptilian Death fazem-me pensar nesse tipo de imagens. Sou um grande admirador dos filmes da série do Alien e da generalidade dos trabalhos de H.R. Giger. De facto, Giger e Beksinski

Tens mais alguma fonte de inspiração? Documentários, formas da natureza e, é claro, sentimentos expressos através de música.

Ao invés dos dois últimos artistas gráficos que entrevistei, não me pareces fascinado pela tinta-da-china, a pena e o papel branco. Que tipo de materiais usas na tua arte gráfica? A capa de «The Dawn of Consummation and Emergence» parece feita com ferramentas digitais. É mesmo assim? Se assim é, o que usas e como fazes o teu trabalho? Exatamente. Sou um artista digital. As minhas únicas ferramentas são o Photoshop, o Wacom Intuos3 e, de vez em quando, uso a

Estudaste arte? Se o fizeste, que papel desempenham esses estudos no teu trabalho gráfico? Não fui propriamente um estudante de arte. Estudei desenho foto-realista durante algum 83


tempo. Fiz um curso de desktop publishing. Aconteceu durante um interregno dos meus estudos regulares na Universidade de Varsóvia (um mestrado com um major em Animação Sociocultural). Curiosamente, fiz a minha tese sobre a arte de H. R. Giger, perspetivada de um ponto de vista psicológico: analisei-o à luz do conceito de inconsciente de Jung. De qualquer modo, sou um ilustrador/designer, portanto as minhas ferramentas mais importantes são a observação constante e a capacidade de pôr esses “ingredientes” ao serviço da minha “paleta” pessoal. É possível ver uma exposição dos trabalhos de Xaay? Não, infelizmente não tenho tempo para pensar nesse tipo de atividades. Ando muito ocupado a lutar para cumprir os prazos das minhas atividades quotidianas. Por outro

De qualquer modo, até agora tenho conseguido combinar as minhas duas paixões, dado que Redemptor ainda não anda em digressão intensa. De momento, estamos mais focados em fazer boas gravações. Fizeste algum trabalho gráfico para outro tipo de clientes (sem ser bandas de metal)? Comecei a trabalhar para bandas, quando já tinha 2 anos de experiência em desktop publishing/graphic design (que eram empregos a tempo inteiro). Desde essa altura, faço tudo em simultâneo, com mais ênfase no trabalho para as bandas nestes últimos anos. Por conseguinte, ainda faço design comercial clássico. O que te falta ainda fazer no campo musical? E no campo gráfico? A arte não tem limites e é muito difícil para mim medir o que já fiz, comparando com o

“[…] Comecei a desenhar intensamente, assim que me senti capaz de segurar um lápis, e toco guitarra desde os 15 anos. […]” lado, ainda não vendo trabalhos meus impressos, o que ajudaria a encontrar material para expor.

Também sei que és o vocalista de Redemptor e que tens um projeto a solo, que dá pelo nome de Nepenthe. Foi a arte gráfica que te levou à música ou o inverso? Como consegues combinar as duas carreiras? Cresci num lar sempre focado na arte. Tanto o meu pai como a minha mãe eram músicos (o meu pai compunha e a minha mãe cantava). O meu pai também fazia escultura em madeira, quando eu era criança. No início, queria ser escultor, mas depois mudou de opinião e acabou por se dedicar à música, Comigo aconteceu exatamente o oposto. Comecei a desenhar intensamente, assim que me senti capaz de segurar um lápis, e toco guitarra desde os 15 anos. Nessa mesma altura, também comecei a dedicar-me à composição e à gravação de música. Os meus primeiros sonhos sobre o meu próprio futuro estavam mais relacionados com a minha música. Mas, como é quase impossível viver da música extrema, a direção que segui não foi bem essa… 84

que ainda poderei fazer. Tenho um oceano de possibilidades à minha frente. No entanto, gostaria de fazer mais trabalho pessoal, ou seja, que não estivesse relacionado com alguma encomenda. Mas calculo que há de chegar o dia em que me vou cansar deste trabalho. De momento, tenho a minha agenda demasiado cheia.

Que bandas têm sido importantes para ti ao longo da tua carreira? A primeira pessoa verdadeiramente importante foi George Kollias [baterista dos Nile]. Tudo começou em 2005, quando um amigo meu lhe mostrou o website que eu tinha feito para a sua banda (Witchking). George gostou tanto que depressa me encomendou um website sobre bateria. O facto de ter trabalhado para ele deu-me acesso a Nile, que é uma das minhas bandas favoritas. Foi realmente um grande marco na minha carreira. A colaboração com Nile tornou-me conhecido e atraiu outras bandas como Behemoth, Necrophagist, Decapitated, Vader, Kamelot e muitas outras. Com bandas destas no meu portefólio, não preciso de publicidade. Apenas tenho de dar sempre o meu melhor como artista gráfico.


E é este o conselho que tenho para dar a jovens artistas: façam sempre o vosso trabalho o melhor que puderem, independentemente da reputação do vosso cliente. Cada bom trabalho feito atrai sempre novas encomendas. Daqui saúdo todos os artistas que percorrem a estrada tortuosa do trabalho sem finalidade comercial. E também todos os leitores da Versus: não se esqueçam de continuar a apoiar a cena metal. Entrevista: CSA SITE OFICIAL www.xaay.pl

“[Cultivo] a observação constante e a capacidade de pôr esses “ingredientes” ao serviço da minha “paleta” pessoal.”


PIRANHA MUSIC STORE Chegada à maioridade!

Tendo sido convidada a juntar-se às comemorações dos 18 anos da Piranha Music Store, sita no Porto, a Versus Magazine decidiu-se pela realização de duas entrevistas: esta, dirigida ao mentor deste projeto de divulgação da música extrema, desde o seu início, e uma outra a Gustavo Sazes, o artista gráfico lusobrasileiro, que tem uma exposição em curso nas instalações da loja e no Hard Club do Porto (antigo Mercado Ferreira Borges). Têm sido muitas as conversas com o Miguel Teixeira (e também com o Armando Marques – o artista gráfico do nº 18 da Versus, datado de fevereiro-março de 2012 – colaborador da loja), ao longo dos anos como cliente da Piranha. Mas esta “conversa escrita” ajudou a compreender melhor o que faz a diferença nesta empresa ligada ao Metal.


Como surgiu a Piranha? Quem foi responsável pelo lançamento deste projeto de divulgação da música extrema? A loja Piranha surgiu em 1995, inicialmente com outro nome, pois estávamos associados a uma outra loja de Lisboa. Ao fim do terceiro ano, mudámos definitivamente o nome para Piranha – Loja de Música. Na altura, éramos quatro elementos – dois do Porto e dois de Lisboa – e como, de alguma forma, cada um de nós estava ligado à música, juntámo-nos e decidimos abrir uma loja de música. No meu caso (Miguel T.) e como sou o único elemento original que ainda persiste no projeto, para além do meu gosto pessoal por música em geral, sempre estive ligado à indústria discográfica. Antes do projeto Piranha, tinha já experimentado o negócio da música, muitos anos antes, com uma venda postal, primeiro de k7/ Tapes e depois de CDs, ligado a uma p e qu e n a editora e distribuidora que fundei e geria, j u n t o com a fanzine Peresgótika, da qual era autor. Também fiz vários programas de rádio, sendo os mais conhecidos “O Arco do Cego” – que durou mais de 10 anos consecutivos – e, mais tarde, “Rádio Piranha”. Mais tarde, com outros recursos financeiros, dado que a experiência da distribuidora estava a correr bem, decidi então iniciar um projeto maior e mais abrangente e “criar” e abrir um espaço físico, onde todos os melómanos pudessem encontrar Música nos diversos formatos, que não se encontrava noutros locais, no Porto ou mesmo em Portugal. Estamos a falar de 1995, portanto de uma realidade muito diferente da que temos agora, quase em 2014.

Quais eram os vossos objetivos? O meu objetivo, ao abrir a Piranha, era basicamente criar uma loja que fosse diferente do que já existia e que tivesse material mais underground e alternativo. Como consumidor, queixava-me continuamente que não conseguia arranjar X cd ou vinil e que não havia nada aqui assim no Porto ou no Norte do País. E porque não então abrirmos nós uma loja que tivesse esse material que procurávamos e que não – ou dificilmente – se encontrava em Portugal? Eu viajava regularmente pelo estrangeiro e lembro-me de ir de propósito a Londres, para comprar vinis e CDs. Aí encontrei, pela primeira vez, lojas de material em segunda mão, coisa que em Portugal não existia. Porque não trazer esse conceito para o Porto, se havia procura desse tipo de material? E foi assim que inicialmente surgiu a Piranha. C l a r o que somos uma e mp r e s a e, como todas as empresas, temos, pelo menos, de ter capacidade de arcar com os custos fixos ao final do mês e pagar aos fornecedores, impostos, empregados, etc. Nos primeiros dez anos da existência da Piranha, ainda se vendia música pelo mundo fora e o negócio correu muito bem. Depois, com toda a conjuntura adversa que foi surgindo, a pirataria e os downloads, tivemos e continuamos a ter uma quebra dramática anual. Em que medida esses objetivos se alteraram ao longo dos anos? Penso que não se alteraram, continuam os mesmos, embora, hoje em dia e com o fácil acesso à Internet, qualquer pessoa pode mandar vir o 87


“O meu objetivo […] era basicamente criar uma loja […] que tivesse material mais underground e alternativo.” que quiser, de qualquer parte do mundo. Mas nós também fazemos isso e aliamos a tecnologia à velha escola da loja de bairro de receber qualquer cliente como a pessoa mais importante (que o é) para nós e personalizar o atendimento ao mais alto nível. Para isso, temos colaboradores com elevada formação sobre aquilo que vendemos e temos na Piranha e sabemos de cor todos os nomes dos nossos clientes, conhecemos a fundo os seus gostos e preferências, antecipamos as edições e damos-lhes sugestões. Se necessário for, levamos o material a casa do cliente, em mão. Só assim conseguimos fidelizar as pessoas e manter o negócio aberto. Exploramos um nicho de mercado que achamos que estava por explorar ou subaproveitado e, mesmo no meio desta crise dramática da indústria discográfica, temo-nos “safado” bem, pois continuamos a existir e com alguma estabilidade e os nossos concorrentes, ou fecharam as lojas, ou desapareceram do mapa. Portanto, devemos estar a trabalhar razoavelmente bem, nestes 18 anos da nossa existência... Quais foram os grandes acontecimentos que marcaram estes 18 anos de vida da Piranha? Talvez algumas visitas de bandas ou pessoas ligadas à Música, como o grande mestre António Sérgio (radialista e autor de vários programas de rádio que me marcaram, como, por exemplo, o “Som da Frente” e o “Lança-Chamas”), Marty Friedman – na altura, guitarrista dos Megadeth –, os Young Gods ou, mais recentemente, o concerto acústico da banda alemã Aeon Sable. Tivemos também algumas sessões de autógrafos e exposições de fotografias O que vos falta ainda fazer? Muita coisa!!! Tentamos sempre diariamente melhorar o nosso trabalho e o nosso desempenho, embora seja cada vez mais difícil trabalhar num país como Portugal. Mas queremos dar mais concertos aqui na loja e, quando surgir oportunidade, fazer o lançamento de novos trabalhos e novas bandas e sessões de autógrafos. As coisas vão surgindo quase naturalmente e só temos de estar atentos e aproveitar as oportunidades e agarrá-las. 88

Como vão festejar a chegada da Piranha à “maioridade”? Vamos comemorar os nossos 18 anos de existência com uma parceria na exposição de um artista plástico luso-brasileiro, chamado Gustavo Sazes. Apesar de não ser muito conhecido em Portugal, é um artista de renome internacional e mundialmente famoso pelo seu artwork e pelas capas de CDs e vinis que já fez. Para ficarem com uma ideia, trabalha – ou já trabalhou – com bandas como os Arch Enemy, James Labrie, Morbid Angel, Amaranthe, Kamelot, Firewind, Spiritual Beggars, etc, etc... Teremos, na Piranha Record Store, uma parte preview da exposição, que tem por título “Do Caos à Progressão”, e a exposição completa estará patente no Hard Club, no Porto. Decorrerão ambas de 1 a 31 de dezembro de 2013. Querem deixar alguma mensagem aos leitores da Versus? Que visitem a Exposição, pois com certeza irão gostar, e que nos visitem na loja. E que continuem a apostar, a investir e a preferir no produto original e que, principalmente, não se esqueçam de nós, pois nós não nos esquecemos de todos os nossos amigos e clientes que passam e passaram aqui na loja, durante estes 18 anos. E continuem a acreditar no poder da Música, que é o mais importante!!! Entrevista: CSA SITE OFICIAL www.piranhacd.com FACEBOOK www.facebook.com/PiranhaMusicStore


GUSTAVO SAZES Um “poliglota” da arte digital

A vida está cheia de acasos e alguns são verdadeiramente felizes!!! De facto, já tinha tido a oportunidade de apreciar a beleza das capas de álbuns como «Ilud Divinum Insanus», dos Morbid Angel, e de me interrogar sobre quem teria feito aquele trabalho. Foi, por isso, uma agradável surpresa, descobrir o seu autor – de uma forma completamente inesperada –, quando fui contactada pela Piranha Music Store para associar a Versus Magazine às comemorações do 18º aniversário deste projeto de divulgação da música extrema e à inauguração da exposição de Gustavo Sazes, um artista digital luso-brasileiro, que tem trabalhado para numerosas bandas internacionais da categoria de Arch Enemy, por exemplo. Nestas páginas, o leitor poderá descobrir um universo em que predominam cores escuras e ambientes sombrios, mas em que a luz irrompe, de vez em quando, e em que desenho à mão e trabalho gráfico feito no computador se combinam de forma harmoniosa. Há muito tempo que vejo trabalhos teus e os admiro, sem conhecer o nome do respetivo autor. Nem sempre as bandas e as editoras se preocupam em identificar os artistas gráficos que chamam a atenção do público para os seus trabalhos. Descobri-te graças ao Miguel Teixeira e ao seu convite para associar a Versus Magazine às comemorações do 18º aniversário da Piranha Record Store. Há quanto tempo trabalhas para bandas de música extrema? Há uns bons anos, comecei a interessar-me por arte digital, quando comprei meu primeiro computador, por volta de 2001 ou 2002. Mas foi somente em 2005 que fiz os primeiros CD mais profissionais. Antes era só por brincadeira, fazia demos de amigos, etc.

Vi alguns dos teus trabalhos e constatei que têm um estilo variado. Que parte desempenha a vontade das bandas na forma como fazes o artwork para cada uma delas? Varia muito de acordo com a banda, o trabalho e o conceito. Algumas bandas têm uma grande necessidade de interferir no processo criativo e, quando isso acontece, eu avalio se vale a pena seguir em frente, se as ideias da banda me permitem criar algo de qualidade. Felizmente a grande maioria pede para eu criar livremente sobre o tema. Afinal, boa parte do meu trabalho é a criação em si, desenvolver os conceitos e pensar soluções. E que parte cabe ao teu livre arbítrio de artista? 89


preferência por combinações de cores escuras (preto/branco/vermelho escuro), mas que também podes recorrer a cores que fazem pensar no fogo ou na água. Gosto de misturar um pouco os processos – o orgânico e o digital –, de experimentar ao máximo, sempre que o projeto me permite. Cor é um conceito extremamente importante no meu trabalho e gasto muito do meu tempo durante um projeto a definir as cores. Na realidade, eu nunca penso na cor antes de fazer, começo sempre com tudo a preto e branco e vou deixando as cores aparecerem, sobrepondo texturas, puxando uma luz de outra foto, aproveitando um azul aqui e um verde acolá. Aliás, isso foi algo que mudou muito desde que me vim viver para a Europa. As cores das estações (mais definidas durante o ano) efetivamente tiveram outro impacto no meu trabalho. Que instrumentos usas na realização dos teus trabalhos gráficos? Um computador, papel, caneta, lápis, borracha, tinta, tesoura, cola, uma máquina fotográfica e qualquer coisa que contribua de forma orgânica para o meu processo digital. Como já referi, independentemente de quem foi a ideia inicial, o importante é o artista imprimir o seu toque pessoal, criar sobre o tema ou, simplesmente, apostar numa ideia oposta e encontrar argumentos para a defender. Os pormenores do desenvolvimento de todo o processo pouco importam nessa hora, pois o que vale é sempre o resultado final ser bom para o artista e para a banda. Quais são as principais características do teu estilo gráfico? Dos exemplos (numerosos!) que vi, fiquei com a ideia de que trabalhas sobretudo com o computador (mas também podes recorrer ao desenho) e que tens uma certa 90

Tens alguma formação específica? Ou és um autodidata? A minha formação não tem nada a ver com o meu trabalho. Quando fui frequentar a universidade, estudei Letras e Ciências Sociais. Sei que neste momento vives em Portugal. O que te levou a demandar o nosso país? Tenho uma relação próxima com Portugal, laços familiares muito fortes, inúmeras lembranças de infância em Coimbra e Lisboa. Quando decidi vir viver para a Europa, foi uma escolha bem óbvia para começar uma nova etapa da minha vida. Como surgiu a ideia de te juntares às comem-


orações do 18º aniversário da Piranha? A Piranha é um dos principais patrocinadores do evento. Logo, acabámos por “casar” a data da abertura da expo com a data do aniversário da loja, não poderia ser mais perfeito. O meu trabalho está totalmente relacionado com a música. Eu entro naquela loja e vejo muitas capas minhas nas paredes, logo é um prazer contar com eles nesse momento. O que vamos poder ver na exposição consagrada à tua arte patente no Hard Club do Porto durante o mês de dezembro de 2013? Teremos cerca de vinte e um quadros, cada um dos quais apresenta várias capas, o que dá ao todo cerca de cento e vinte artes, algumas realmente inéditas. Incluem trabalhos meus para os Arch Enemy, Morbid Angel, Firewind, James LaBrie (Dream Theater), Amaranthe, Nightrage, Old Man’s Child, Legion of the Damned, Kamelot, God Forbid e tantos outros. Tentei colocar de tudo um pouco, das mais extremas até as mais progressivas. Que critérios foram usados para escolher esses trabalhos? Optei por trabalhos mais recentes, de 2010 até hoje, mas apresento também três ou quatro de 2008 e 2009. Além disso, coloquei os mais famosos e aqueles de que mais gosto, tentando mostrar a diversidade de bandas com quem já trabalhei em mais de trinta países. Qual é o teu maior sonho de artista gráfico, neste momento da tua carreira? Gostaria de agregar novos conceitos ao meu processo criativo, de encontrar novos desafios, de fazer mais exposições, etc. Queres deixar alguma mensagem aos leitores da Versus? Primeiramente obrigado pelo espaço e pela entrevista. Convido-os a visitar minha exposição “DO CAOS À PROGRESSÃO // A ARTE DE GUSTAVO

SAZES”, no Hard Club, no Porto, entre os dias 1 e 31 de Dezembro. Poderão encontrar mais detalhes no site www.abstrata.net/expo. Grande abraço a todos! Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/gustavosazes


HYPOCRISY

Hard Club – Porto 23.09.2013 Bons hábitos nunca mudam No passado dia 30 de setembro, estiveram em Portugal os suecos Hypocrisy, para a promoção ao vivo do último álbum «End of Disclosure». Esta apresentação teve, como bandas de suporte, os dinamarqueses Hatesphere e os portugueses Theriomorphic. Infelizmente, por razões que se prendem com compromissos profissionais, não nos foi possível assistir aos concertos das duas bandas de suporte e, por este impedimento, pedimos a compreensão dos leitores, mas também a das bandas em causa. Foi-nos possível, no entanto, estar de corpo e alma, desde o primeiro segundo de atuação dos Hypocrisy e na primeira fila, para não perdermos um momento que fosse em frente a estes senhores embaixadores de um Death Metal nórdico de primeiríssima quali-

Hypocrisy 92

dade. A sala 2 do Hard Club esteve muito bem composta, embora não completamente cheia. É quase garantido que 90% dos bilhetes terão sido vendidos. E quem presenciou este concerto regressou com excelentes recordações auditivas para casa. Aliás, a grande dificuldade de fazer a reportagem foi tentar ficar imune à sonoridade avassaladora proporcionada pelo quarteto nórdico e não estar no concerto a vibrar com o resto do público. Foi-nos possível testemunhar, por várias vezes, mosh pits e headbanging, tendo inclusivamente sido necessário impedir um ou outro fã mais entusiasta de subir para o palco para um stage-diving mais arriscado. Várias vezes a simbiose público-banda funcionou como um relógio suíço, tendo Peter Tägtgren, ainda o concerto não ia a meio, referido que, por comparação com públicos anteriores, o público presente no Hard Club era o mais ‘quente’. A banda esteve sempre bastante dinâmica em palco, com constantes movimentações entre os três homens das guitarras, comunicando várias vezes com os mais próximos do

palco e, mesmo nos raros momentos em que o oxigénio parecia faltar, um ou outro pormenor vindo do palco fazia energizar novamente a plateia. Temas recentes como «Tales of Thy Spineless» e «The Eye» foram especialmente bem acolhidos por todos, mas pérolas mais antigas tais como «Left to Rot», «Buried», «Roswell 47» ou «Adjusting The Sun» levaram também a assistência ao rubro e mostram o porquê destes senhores terem desempenhado um papel de relevo na definição do Death Metal. No meio de riffs poderosíssimos tocados ao vivo, era quase impossível não deitar fora o fato de repórter e não disfrutar do som proporcionado ao longo da noite. Raros foram os momentos de menor acutilância, num concerto em que a energia era espalhada por todos os lados, numa sala de concertos que mais uma vez presenciou uma excelente banda vinda das terras dos Vikings. Reportagem: Sérgio Teixeira Fotos: Eduardo Ramalhadeiro


SETLIST:

1. End Of Disclosure 2. Tales Of Thy Spineless 3. Fractured Millenium 4. Left to Rot 5. The Eye 6. The Abyss 7. Valley Of The Damned 8. Fire In The Sky 9. Necronomicon 10. Buried 11. Elastic Inverted Vision 12. War-path 13. Roswell 47 14. Adjusting The Sun 15. Eraser 16. Final Chapter

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CHILDREN OF BODOM + DECAPITATED + MEDEIA Hard Club – Porto 01.11.2013

Rebeldes até ao fim Os Children of Bodom estiveram mais uma vez em Portugal para dois concertos, no dia 30 de outubro, no Paradise Garage (Lisboa) e no dia 1 de novembro, no Hard Club (Porto). Tendo em conta as restrições que o país atravessa, a Sala 1, com uns 70% de ocupação, foi uma boa marca atingida por esta banda finlandesa, que claramente, desde o primeiro segundo de atuação, conquistou o batalhão de fãs e admiradores que marcaram presença. Mas, antes de presenciarmos a atuação dos finlandeses, mal entramos na Sala 1, tivemos o prazer de encontrar os Decapitated ainda no palco. A banda polaca apresentou uma atuação sólida, onde sobressaiu a guitarra de Vogg, com uma sonoridade de fazer inveja a muita malta, com as notas debitadas num tema como «Homo Sum» a serem espalhadas por toda a sala como se estivessem a sair das paredes e não dos cones das colunas em frente ao palco. Foi de facto um set-up incrível, em que o som foi tratado com superior engenho, quase como se estivéssemos a ouvir o CD e não uma atuação ao vivo. Claro está os fãs, que já se encontravam na plateia, deram tudo o que a banda merecia e – julgo eu – não será de excluir um próximo concerto como banda principal, mesmo que seja apenas na Sala 2. Julgo também que este som fenomenal que nos foi proporcionado teve a colaboração dos senhores Children of Bodom, pois foi possível verificar que os respetivos técnicos de som apenas fizeram o sound-check antes de a banda entrar em palco não restringindo assim o set up sonoro das bandas de suporte. No entanto, se os Children of Bodom são uma banda com quem partilhar o palco não é nada complicado, para estar na plateia a assistir ao concerto mesmo em frente ao palco, é preciso estar preparado para adrenalina a 110%. Foi praticamente ininterrupta a participação dos fãs desde o primeiro 94

tema. Excetuando os raros momentos de recuperação do fôlego, todo o resto da atuação teve das manifestações mais energéticas por parte do público que eu já presenciei. A banda não se ficou por temas do reportório mais recente tendo incluído na set list material dos álbuns iniciais ou, como Alexi lhes chamou, “Old-school Children of Bodom”. É também de realçar a utilização de projetores de imagens no fundo do palco, que deram à atuação uma dinâmica muito interessante, sem com isso eclipsar a presença da banda em palco. Passaram imagens computorizadas e outras provenientes de uma minicâmara colocada na guitarra de Alexi. Apesar de o espetáculo não se ter destacado por uma qualidade so-

nora de excelência, a técnica de todos os elementos ficou bem demonstrada e, claro está, a genialidade de Alexi Laiho na guitarra ficou bem patente. Por vezes, a catadupa de notas debitada por este senhor é tal que a atuação se concentra na execução irrepreensível dos solos de guitarra mais do que propriamente nos temas. Claro está que quem é fã dos Children of Bodom ficou mais do que satisfeito e deu por bem gasto o dinheiro da entrada. Não terei muitas dúvidas em dizer que quanto mais concertos derem em Portugal, mais público irá comparecer. O sucesso está garantido. Reportagem: Sérgio Teixeira Fotos: Marco Trigo

Children of Bodom


SETLIST: COB 1. Transference 2. Silent Night, Bodom Night 3. Sixpounder 4. Halo of Blood 5. Scream for Silence 6. Kissing the Shadows 7. Lake Bodom 8. Hate Crew Deathroll 9. Shovel Knockout 10. Dead Man’s Hand on You 11. Are You Dead Yet? 12. Blooddrunk 13. Everytime I die 14. Towards Dead End 15. Hate Me! 16. Downfall 17. In Your Face

DARK TRANQUILLITY + TRISTANIA Hard Club – Porto 17.11.2013

Apoteose!!! É o qualificativo que me ocorre mais rapidamente, quando penso no concerto dos Dark Tranquillity, uma das lendas do Melodic Death Metal sueco, que contaram com uma primeira parte animada pelos Tristania. Assim, na Sala 2 do Hard Club, cheia até às portas, os noruegueses conhecidos pelo seu Metal Gótico com toques sinfónicos, foram aquecendo o público, o que se justificava porque a noite estava verdadeiramente fria (pelo menos para quem está habituado ao clima ameno do nosso “cantinho à beira mar plantado”). À sua atuação seguiu-se um intervalo, durante o qual foi chegando mais público, de modo que, quando os protagonistas da noite apareceram no palco, a sala estava pejada de fãs, das idades mais variadas. A banda atacou logo com dois temas, que deixaram o público ao rubro. Seguiu-se uma curta alocução de Mikael Stanne, o carismático líder dos Dark Tranquillity, saudando o público e fazendo uma breve descrição do que estava previsto para o serão. Depois começou o desfile de canções,

intercalando velhas glórias – como «The Wonders at Your Feet» e «Monochromatic Stains» - com canções dos dois últimos álbuns - «We Are the Void» (representado, por exemplo, por «The Fatalist») e «Construct» (por exemplo, com «The Silence in Between»). O entusiasmo do público ia subindo de tom, com frequentes pedidos de canções, a que a banda geralmente acedia. Por seu lado, os músicos não se pouparam a esforços, para corresponder ao fervor da gens portuguesa: Stanne, sempre no seu estilo de dândi do Metal, os restantes elementos da banda mais sóbrios, mas não menos felizes pelo interesse que ainda conseguem despertar nas plateias, ao fim de mais de vinte longos – e produtivos – anos de carreira. Embora o tom geral tivesse sido sem-

pre elevado, não podemos deixar de salientar dois momentos verdadeiramente sensacionais: aquele em que Mikael Stanne interpretou «UnDo Control» com a vocalista de Tristania e a última canção da noite – «Misery’s Crown» – que parece ser uma das favoritas da maioria dos fãs da banda, já que o público presente a cantou em coro com o vocalista e chegou mesmo a substituí-lo no refrão. Uma última nota de interesse: ao que parece, a “velha” banda consegue atrair sangue novo, a avaliar pela presença de elementos bem jovens entre o público, que causaram alguma celeuma ao tentar dar início a um mosh pit, logo no início do concerto dos reis da noite!!! Reportagem: CSA Fotos: Eduardo Ramalhadeiro

Dark Tranquility 95


SETLIST: Dark Tranquillity

Dark Tranquility

RAMP

Hard Club – Porto 23.11.2013 Anjos da casa fazem milagres Os RAMP encontram-se, em 2013, a comemorar 25 anos de carreira e não faltaram a uma demonstração de energia, savoir faire e amizade para com os fãs no palco principal do Hard Club. Temas como «Hallelujah», «Alone», «Anjo da Guarda», «Behind the Wall», «All Men Taste Hell» e «For a While», entre muitos outros representativos da carreira desta banda, passaram pelos amplificadores da Sala 1. Muito mais do que uma banda a entrar em palco para cumprir calendário, os RAMP são já parte da família metaleira lusitana e essa marca passa para os concertos. Ao longo da atuação, a

1. The Science of Noise 2. White Noise/Black Silence 3. What Only You Know 4. The Fatalist 5. The Silence in Between 6. Zero Distance 7. A Bolt of Blazing Gold 8. UnDo Control 9. Monochromatic Stains 10. The Wonders at Your Feet 11. Indifferent Suns 12. Silence, and the Firmament Withdrew sensação que ficou foi a de um diáloTristania go entre amigos, propiciado por uma constante comunicação entre Rui Duarte e os fãs. Claro que a banda sabe reaproveitar alguns pormenores mais rock-star para pontuar a atuação nos momentos certos, mas sem causar uma descontextualização da interação. Confesso, no entanto, que, de início, houve alguns momentos em que duvidei se iria tudo correr bem no concerto. O primeiro foi quando, já pelas 22h da noite, olhando em volta, se verificava que estavam cerca de 10 pessoas na Sala 1 (o final do jogo do F.C.P. resolveu este problema). Outro ocorreu posteriormente, quando a banda iniciou o concerto com «Hallelujah» e… nem sombras de mosh. Felizmente, o público foi-se soltando ao longo da atuação, mas notou-se algum peso da senioridade que conteve maiores explosões de energia. Em alguns te- o click surgiu, trazendo para a área mas-chave, como «Anjo da Guarda», em frente ao palco um turbilhão de movimentações bem mais cravadas de adrenalina. De notar, no tema «For a While», a criação de um ambiente hiper-intimista, com banda sentada no palco e o público sentado na plateia a entoar as estrofes desta balada. Quer seja nesta vertente mais introspetiva, quer seja nos temas mais expansivos, para mim, RAMP é uma impressão digital que marca claramente uma parte da cultura portuguesa. Ligados ao nicho do Heavy Metal é certo, mas indissociáveis da cultura portuguesa. Parabéns e, se puderem, venham lá mais 25 anos de RAMP! Ramp

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Reportagem: Sérgio Teixeira Fotos: Eduardo Ramalhadeiro


Ramp

AVENGED SEVENFOLD + FIVE FINGER DEATH PUNCH + AVATAR

Campo Pequeno – Lisboa 27.11.2013 Campo Pequeno, Rock Enorme! Apesar da noite fria que se fazia sentir a 27 de novembro, a meio da tarde já as filas se alongavam para receberem o regresso a Portugal dos Avenged Sevenfold, revelando a popularidade da banda norte-americana entre o público nacional. Coube aos suecos Avatar a honra da abertura da noite. Entre os presentes havia quem pensasse que não eram a banda ideal para o evento, mas, quando Johannes Eckerström & Cia. subiram ao palco, fizeram-no com um já amplo coro de fãs a chamar pelo seu nome. Iniciando o concerto com a explosiva «Torn Apart» e cheios de confiança em palco, os suecos puxavam incessantemente pelo público responsivo e Eckerström, tremendo na sua persona de insano mestre-decerimónias, destacava-se pela enormidade das suas poses e gestos mar-

Ramp

ciais. Jonas Jarlsby não fazia menos e envolvia-se num viciante windmilling, mostrando uma banda claramente a tocar com paixão. Com apenas 30 minutos de atuação, a banda fez a melhor selecção possível de temas, incluindo a inédita «Vultures Fly». Conquistando o público, que os apoiou desde o início, os Avatar foram a surpresa da noite. A transpirar Heavy Metal, os Five Finger Death Punch foram enormes em palco, com Moody incansável e dominante a conquistar o delírio do público. Na atuação infalível, há que destacar ainda Jason Hook, homem que sabe tudo o que há para saber sobre tocar guitarra com garra e estilo. «Under and Over It», «Burn it Down» e «The Bleeding» a encerrar foram três dos nove temas que levaram o público ao mais absoluto rubro. Ivan Moody não deixou de justamente louvar a recepção de que foi alvo, mas o público limitava-se a ecoar a prestação fabulosa dos 5FDP. Surpreendentemente, foram os cabeças-de-cartaz – Avenged Sevenfold – quem deu o concerto menos inspirado. Muito apoiados na pirotecnia em torno do grande deathbat, passeavam em palco sem brilhantismo. Tocando em piloto automático êxitos bem con-

hecidos de mão-beijada, os A7X não tinham de se esforçar para ter sucesso e não o fizeram. Shadows e particularmente Johnny Christ eram os que mostravam mais carisma, numa atuação em velocidade de cruzeiro, mas que teve os presentes na mão desde os primeiros instantes de «Sheperd Of Fire» até ao encore com «Chapter Four» e «Unholy Confessions». Aí então houve merecido mosh e headbanging e só pela fabulosa reação do público, efusivo e participativo, a prestação dos A7X se tornou digna de presenciar… só que não do lado do palco. O público presente esteve de facto de parabéns pelo seu apoio incondicional às bandas e energia. Com a surpresa de Avatar e o colossal concerto de uns 5FDP a tocarem como se fossem cabeças-de-cartaz, só a prestação dos A7X não foi excepcional. Esperava-se mais de uma banda tão jovem, numa tremenda noite de Heavy Metal possível graças à iniciativa da Everything is New. Texto e fotos: Marco Trigo

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Avenged Sevenfold

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Five Finger Death Punch


Five Finger Death Punch

Avatar

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