Versus Magazine #26 Junho/Julho 2013

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Encabeçada desta vez pelos mestres do death metal melódico – os Dark Tranquillity – que, como acabamos de saber, vão estar por cá em Novembro, aqui está mais uma edição da vossa VERSUS Magazine com várias bandas em entrevista, de entre as quais destacamos os noruegueses Shining, que acabaram de nos presentear com mais uma ácida dose de black jazz, os Atrocity que voltaram finalmente à extremidade sónica que nunca deviam ter abandonado, os virtuosos Abnormal Thought Patterns e uma revelação indiana que dá pelo nome de Reptilian Death. Digno de nota é também o disco que distinguimos desta vez como álbum do mês: «Dimensionaut», dos Sound of Contact, bem como o testemunho muito pessoal sobre o malogrado guitarrista dos Slayer, Jeff Hanneman, que vos trazemos na rubrica retroVERSUS. Para terminar não posso deixar de assinalar a apresentação, pela primeira vez nestas páginas, dos promissores Cadenzza, jovem formação que inclui dois ilustres escribas do nosso staff. Como sempre, ficamos à espera dos vossos comentários. Contactem-nos através da nossa página do facebook ou escrevam-nos para versusmagazinept@gmail.com.

Ernesto Martins


25 anos de reinvenção


É sempre motivo de interesse adicional abordar bandas que têm atrás de si um vasto trabalho espelhado por décadas de inspiração. Os Atrocity trazem consigo esse legado mas é uma permanente reinvenção que torna ainda mais interessante a história desta banda. Tudo somado pode-se dizer que o infindável reportório destes Germânicos reflete uma criatividade musical que não é comum. Alexander Krull foi o nosso interlocutor numa extensa entrevista que aborda o primeiro álbum da trilogia «Okkut».

É sempre algo de interessante endereçar questões a bandas já com uma longa carreira. Desde a vossa primeira demo em 1988 passaram 25 anos. Consideram «Okkult» o vosso melhor álbum? Alex: Bem, nós andamos no terreno já há muitos anos e se perguntas a um músico o que acha do seu último álbum, esse é sempre o seu melhor ahah! Em relação a estar nesta banda há tanto tempo, foi sempre motivador conseguirmos introduzir novos desafios musicais! Formámos os Atrocity em 1985 enquanto miúdos na escola e fomos os precursores do DeathMetal Germânico. Lembro-me das salas de ensaio sujas, equipamento rasca, espetáculos fantásticos em clubes decadentes ahaha. Fomos uma parte importante do movimento underground. Ao longo dos anos, conseguimos manter-nos em contacto com a maioria das bandas mais conhecidas como os Morbid Angel, Pungent Stench, Immortal, Entombed. Já agora também organizei os primeiros festivais “Euro Death Metal” e também a nossa tour europeia em que tocamos juntos com as lendas Britânicas Carcass em 1990. Bons tempos! Quando fizemos o trabalho retrospectivo em DVD “Die gottlosen Jahre” (Os tempos ateus) no ano passado, muitas das memórias regressaram. Nos tempos dourados do underground, ao mesmo tempo em que copiávamos cassetes éramos músicos apaixonados. Nessa altura procurávamos apoiar-nos uns aos outros – bandas como nós desde os Napalm Death até aos Entombed! Muitos destes ilustres foram convidados em minha casa. Mais ninguém queria nada com este tipo de música extrema. Muitos desses músicos contribuíram com declarações de grande respeito e consideração nesse DVD, o que para nós é uma grande honra. Estas são algumas das melhores e inesquecíveis memórias da nossa carreira. Muitos outros envolvidos no projeto subscrevem esta opinião. E mais de 80 entrevistados da cena metaleira mundial contribuíram para esse documentário! Alguns estavam mesmo verdadeira-

mente emocionados. Foi tudo autêntico e verdadeiro. Ninguém meteu “batom no porco”. As histórias contadas são as histórias verdadeiras de uma banda de metal e que refletem a nossa louca carreira. Foi um grande esforço organizar todas as entrevistas e filmá-las. Várias equipas filmaram todas essas entrevistas com diferentes pessoas de todo o Mundo. É um sentimento bastante especial saber que após dedicar um boa parte das nossas vidas a esta banda, o trabalho árduo é imortalizado em filme e até recebe um feedback tão positivo de músicos, jornalistas, fãs e gente da indústria musical. Para ser honesto, quem pensaria que uma banda underground Germânica iria um dia fazer tournées pelo mundo e até entrar nas charts! Julgo que «Okkult» contém muitos elementos do nosso passado musical, especialmente as coisas muito pesadas do nosso álbum de 1990 mas também «Atlantis». «Death By Metal» é o melhor exemplo disso: o nosso tributo ao Death-Metal contém os riffs principais do tema, que escrevi originalmente em 1991 mas também inclui riffs novos. Como eu disse, com Atrocity estivemos sempre à procura de novos desafios, novos horizontes musicais e ideias também, para além da música; tal como uma caça ao tesouro começamos com o álbum «Okkult». O nosso lado brutal e o material mais experimental como o «Werk 80» ou os álbuns em que participa Yasmin são todos parte da história dos Atrocity. Deixa-me dizer desta maneira: nós somos como que uma espécie de pintores. Se uma imagem deve parecer horrífica e brutal, devemos usar cores para além do negro para gerar uma bela pintura. «Okkult» combina as nossas raízes com novas ideias musicais, e isto é simplesmente um novo desafio para os Atrocity após uma longa história de música metaleira desafiante. E eu adoro todo o background lírico da trilogia «Okkult»! Nestes tempos a 1000 à hora, de Internet e tecnologias modernas parece não haver mais espaço para coisas


tais como magia, sabedoria secular mística ou ainda de ciência paranormal. Os nossos sentidos estão de tal maneira sobrelotados com tantas coisas novas na vida quotidiana mas todas ao mesmo tempo, perdemos a nossa ligação ao meio natural que nos rodeia. Convido-vos para se juntarem à nossa viagem ao Oculto! És o único membro original da banda; o nome da banda não deveria ter mudado para refletir as várias alterações pelas quais passou? Alex: Não de maneira nenhuma ahah! No nosso primeiro álbum «Hallucinations» o Matze (anterior guitarrista) e eu estávamos já na formação original. Não te esqueças que começamos como uma banda bastante novos quando ainda andávamos na escola ahah. Se me lembro corretamente, quando os Napalm Death lançaram o seu primeiro álbum «Scum», não havia nenhum dos membros originais

descoberta na sequência de «Affaire des poisons» em França. Passa-se em Paris no século XVII e é sobre Catherine Monvoisin, que ficou conhecida como “La Voisin” uma bruxa e envenenadora. Ela ficou rica com dinheiro da venda de venenos e poções do amor, plantas mágicas e abortos de gravidezes não desejadas. Ela e um ex-padre, Abbé de Guibourg, celebravam missas negras onde crianças eram inclusivamente sacrificadas sendo para isso compradas a famílias muito pobres. O sangue desses sacrifícios era usado depois como ingrediente em poções também. Ela foi requisitada por inúmeros membros da nobreza entre eles a amante do rei Louis XIV, Madame de Montespan, que queria através das missas negras maior poder e influência na sociedade. Madame de Montespan usou as poções para chegar a uma relação com o rei Ludwig; para isso misturou as poções na comida e bebida do rei. Houve rumores de que vários membros da nobreza foram

“…vamos continuar com o espírito e com o estilo presentes em «Okkult» para as próximas duas partes.” na banda ahah. Bem, Tosso é dos Atrocity já há 20 anos e ambos somos criadores das composições da banda. É para mim de algum modo inevitável comparar «Okkult» com «After the Storm». Como comentas as alterações das características da música em ambos os álbuns? É uma transição bastante importante, concordas? É claro que «Okkult» é bastante diferente de «After the Storm» que é um outro projeto com a minha irmã Yasmin e tem uma abordagem completamente diferente em função da combinação étnico-metaleira ahah. De facto com a trilogia «Okkult» começamos uma nova era para os Atrocity. A combinação de 3 álbuns com o tema do oculto como linha vermelha pode ser um dos lados; o outro lado é a criação de algo novo. Quisemos criar uma imagem de um mundo oculto com a nossa música, na qual vais imergir. Ao mesmo tempo podes também simplesmente rockar e fazer headbang ao longo das músicas do álbum, é literalmente algo como uma chapada na cara. A origem da trilogia «Okkult» surgiu após o lançamento de Atlantis em 2004. A pesquisa dos segredos de Atlantis foram muito inspiradores portanto o próximo passo foi realizar uma trilogia épica acerca dos mistérios do mundo. Um desafio e um conceito ainda maior, daí termos decidido fazer um álbum trilogia. Fomos perscrutar várias histórias bastante obscuras tais como a da super-sinistra “Lady La Voisine”. Esta canção conta um capítulo negro da história da humanidade, e na realidade foi

mortos por envenenamento e foram por isso feitas investigações. Um dia uma jovem mulher do círculo aristocrático próximo do rei Ludwig morreu. Então os investigadores foram pressionados a arranjar a fonte do envenenamento e terminar a conspiração. La Voisine e outras bruxas parisienses foram presas. Devido aos contactos com a amante, La Voisine foi poupada à tortura. No entanto acabou condenada à morte no final do “Affaire des Poisons”. La Voisine foi executada. Mais tarde encontraram os restos mortais de 2500 crianças nas traseiras da sua casa. E portanto depois da morte de La Voisine a verdadeira extensão das suas ações cruéis foi descoberta. O paradoxo da história é que a jovem mulher tinha falecido de causas naturais e não envenenada como aconteceu a muitos outros nobres. Isto mostra como o chamado “mundo mágico” faz parte do “mundo real” e esta estória criminosa torna-se em oculto. E hey, que história figadal, que grande volta tal como no filme “Aberto Até De Madrugada” mas no mundo real. Agatha Christie não se teria lembrado de escrever um thriller destes. O Joris Nijenhuis entrou para a banda em 2012. Podes comentar este aspeto recente no alinhamento da banda (razões para a alteração, adaptações, etc) e como se refletiu no novo álbum? Quando nos separamos do Roland queríamos ter dois bateristas diferentes em Atrocity e na outra banda que temos Leave’s Eyes. Queríamos o Joris nos Atrocity já que ele é também especializado em bateria para metal extremo. Embora a maioria das


nossas canções já estivessem compostas ele trouxe ideias muito porreiras para o álbum «Okkult». Apreciei particularmente as paisagens musicais de «Okkult» (na minha opinião o álbum está muito bom) mas encontro na Internet algumas disparidades entre opiniões de críticos (não são a primeira banda em que vejo isto acontecer). Como olhas para estas críticas umas a dizer que é um álbum excelente, outras nem por isso? Muito obrigado. E sim, na verdade temos tido críticas mesmo muito positivas para «Okkult»! Temos excelentes reviews de todo o mundo relativamente ao álbum. Bem, o que acho em relação a críticas menos positivas é que eles não percebem a filosofia da banda ou simplesmente não gostam de nós devido ao nosso estilo e devido ao facto de sermos uma banda bastante variada com uma história musical algo não convencional. A rapariga na capa do álbum parece estar muito confortável na presença das cobras. Porque escolheram esta capa ou foi apenas “a melhor ideia da short-list”? A rapariga estava mesmo na presença de cobras vivas? Sim são cobras vivas! O trabalho de design do álbum é dedicado à estória que está na base do tema “Necromancy Divine” que conta a história cruel de uma velha bruxa Erictho. Era uma necromante e viveu no tempo da guerra civil Romana entre César e Pompeu cerca de 50 A.C. Ela levou cadáveres para a sua campa e ressuscitou-os com rituais extremos, introduzindo sangue fervido nos corpos e enchendo-os de cobras. Ao trazer os mortos novamente à vida ela obrigava-os a prever o futuro. De facto acabamos por usar as letras originais em Latim dos rituais no tema “Necromancy Divine”. Quando o gravamos, o nosso guitarrista Holandês, Sander, começou a gozar dizendo que se continuássemos a gravar esses cânticos a meio da noite arriscávamos ser atacados por um bando de Zombies no estúdio. Matersound Studio fica localizado no interior rodeado de campos e florestas – não muito longe dali fica localizado um antigo campo de batalha também. E sim é uma fotografia real com serpente a sério, tiramos a foto num velho cofre. Foi também uma experiência intensa para mim colocar as serpentes a volta do pescoço da nossa bruxa “Eritcho”! Podes ver partes da sessão no nosso primeiro webisódio do documentário «Okkult» no Youtube - http://youtu. be/8r0TpjRvJsY. O tema «Satans Braut» tem letras em Alemão. Houve alguma razão específica para esta opção? Quando começamos nos inícios dos anos 90 usá-

vamos letras em Alemão para algumas canções e títulos de álbuns, mas as pessoas não estavam habituadas a isso e chegamos mesmo a ser criticados por usarmos a nossa língua materna! Atualmente parece não ser um problema, graças aos nossos amigos Rammstein acho eu (risos). Às vezes é apenas o feeling, funciona melhor numa outra língua que não o Inglês, essa é a razão pela qual começamos a usar a nossa língua no início. O título «Todessehnsuht» soa a poesia negra em Alemão, por isso usamos como título para o nosso álbum de 1992. Em «Okkult» usamos alguns cânticos de rituais em Latim no tema “Necromancy Divine” como mencionei antes ou ainda o nome Francês “La Voisine” também. Desde o início pensei que “Satans Braut” teria de ser um tema com letras em Alemão. Simplesmente assenta que nem uma luva. Para além de que o conteúdo lírico é bastante brutal. É inspirado numa estória dos tempos de caça às bruxas na nossa região. Uma mulher robusta foi acusada de bruxaria e mesmo tendo sido torturada nada ficou provado. Mesmo assim ela foi presa numa torre prisional. Depois de ter sido violada pelos seus carrascos e guardas ela teve um filho nado-morto. Guardou o corpo debaixo das palhas na sua cela. Tentou livrar-se do corpo sem vida mumificado atirando-o pela janela. No entanto pessoas na rua encontraram o corpo e finalmente foi acusada e executada pelos seus acusadores de infanticídio. Como última questão, poderias dizer se pretendem continuar com o tipo de som que temos hoje em «Okkult» nos próximos álbuns ou vão baralhar tudo outra vez para ver o que sai de novo? Sim claro, vamos continuar com o espírito e com o estilo presentes em «Okkult» para as próximas duas partes: o negro épico encontra-se com a brutalidade do metal! Nós já temos ideias muito porreiras para novas composições, mas agora é tempo de tocar as novas músicas ao vivo e levar a energia dos espetáculos de volta para o estúdio e aí sim preparem-se para a parte II de «Okkult». Queres enviar umas palavras finais aos nossos leitores? Ou dizer mais algumas palavras relativamente ao novo trabalho? Muito obrigado pela entrevista! Espero estar em breve em Portugal para tocarmos novamente para vocês!!! Entrevista: Sérgio Teixeira


“Fomos uma parte importante do movimento underground�



Manipulados sem anestesia Os Abnormal Thought Patterns são um trio de instrumentalistas bastante virtuosos. Este virtuosismo não é só musical mas é transportado, também, ao conceito que envolve o álbum. Leiam a forma como compõem e intitulam os temas. Um perfeito seguidor de S/T, «Manipulate Under Anesthesia» é mais um produto topo de gama dos gémeos Tipton. Para ouvir... sem anestesia! Antes de mais, parabéns pelo novo álbum Jasun: Muito obrigado. Estamos muito satisfeitos com o resultado e não podemos esperar para que toda a gente o ouça Esta questão pode parecer um pouco parva mas tenho mesmo que a fazer: O nome da banda tem algo a ver com o álbum dos Death - «Individual Thought Patterns»? Porquê este nome? Troy: Os Death são, obviamente, uma influência para nós. Sou um grande fã dos Atheist, Cynic e

Death. Sinto que finalmente estou a conseguir mostrar este meu lado com os ATP. Eu e o Jasun gostamos imenso dos Animal As Leaders, então, estamos totalmente de acordo em adicioná-los à nossa lista de influências. Os Dream Theater foram uma grande influência quando estávamos nos Zero Hour mas no que diz respeito aos ATP não acho que essa influência esteja presente. Eu e o Jasun somos fortemente influenciados por shredders como Paul Gilbert, Vinnie Moore, Jason Becker, Marty Friedman, Wally Voss & John Onder. Tenho

também que dizer que grandes músicos de Jazz influenciaram os ATP. Por falar em nomes, sendo um álbum instrumental, como é que escolhem os nomes para os temas? Por último, o que é que vocês manipulam sob anestesia? (Manipulate under anesthesia) Jasun: O único título que me surgiu foi “Harmonic oscillators” - “osciladores harmónicos”, mas este foi um caso em que a música praticamente se autonomeou. Osciladores harmónicos são sistemas


que, quando deslocados do seu ponto de equilíbrio, sofrem uma força resistente, F, proporcional ao seu deslocamento, F=kx, onde k é uma constante positiva. Troy tem muito jeito com os títulos. Eu disse-lhe que escrevia os temas mas ele teria que os arranjar. Então, ele ouvia-os e atribuía os respetivos nomes. Quando surgiu “Manipulation under anesthesia” disse-lhe logo que dava um excelente nome para o álbum. Parece-me que quase podemos dividir o álbum em duas partes: a primeira com os quatro Movimentos que presumo são uma continuação dos anteriores quatro e a outra parte que, para mim, soa muito a jazz. Porquê estes movimentos divididos em oito partes? Jasun: Estas quatro partes são a continuação das anteriores presentes no álbum anterior. Acho que poderemos dizer que é a minha banda sonora para surfar em Ondas Gigantes. Escrevi “Velocity and acceleration 1-4” enquanto visitava o Maui. Sentir o ar, ouvir a rebentação das ondas à medida que a água te molhava, isto levate a um bom lugar. Quando estava a escrever “Velocity and acceleration 5-8” via DVD’s de surf com grandes ondas e silenciava o som. Eu tocava com o que estava a ver e dava-lhe o som. Estes últimos movimentos, realmente, têm os seus momentos jazz, já que as progressões e acordes que se ouvem no álbum usam sequências maiores e menores de sétima. Esses acordes são usados em cerca de 75% dos ritmos jazz. A press release afirma que o vosso álbum é para fãs dos Animal as Leaders, Dream Theater, Death e Trioscapes. Musicalmente falando, tenho a concordar com as semelhanças entre os AaL e Death, acho que é bastante óbvio. Mas com os DT e Trioscapes já não me parece. À sua maneira todos são excecionais ao nível técnico. De qualquer das formas, a vossa musica é influenciada por algumas destas bandas? Jasun: Somos, definitivamente, inspirados pelos AaL. São uma banda espantosa e enquanto visitávamos Moscovo eu e o Troy tivemos

oportunidade de os ver ao vivo. Somos, também, grandes fãs dos Death e como o meu irmão estava sempre a tocar a música deles eu perguntava-lhe que cd era aquele. Depois ia comprá-los, já que eu e ele não partilhamos os cd’s de que realmente gostamos. Quando o «Images and Words» saiu, foi, realmente, uma lufada de ar fresco para o Metal. Os Dream Theater são também, uma banda fantástica. Eu sinto que temos o nosso próprio som e vais ouvir algumas das nossas influências já que são parte de nós. Sou um grande fã de Pat Metheny e vais ouvir um pouco dele na nossa música. Outra coisa que me despertou a atenção foi: “É difícil descrever por palavras o que este trio faz com os seus temas...” e a minha pergunta é: Como é que descrever os ATP e a “sua” música? Jasun: Os ATP são um trio de instrumental matemático que funde riffs pesados, compassos complexos e muitos solos. Este é um álbum extremamente técnico e eu gosto de fazer esta pergunta quando entrevisto este tipo de músicos: Como é o processo de composição e criação de tão difícil álbum? Escrevem a música toda em partituras? Jasun: Eu passo para o papel muito do nosso material. Assim que tenho um ponto de partida do tema, geralmente, começa aí a tomar forma e debruço-me dobre ele durante algumas semanas. A razão é que quero que soe tão bem no dia vinte e um como no primeiro dia. Se o riff não me dá aquela sensação do “caraças” 5 dias depois, livro-me dele. Posso-te dizer ponho muitas partituras para o lixo Como é trabalhar com o teu irmão gémeo? Quem vence as “lutas”? Jasun: Eu ganho porque sou mais velho 6 minutos. Não sei por quanto tempo consigo manter a cabeça do meu irmão no sítio mas vamos-lhe dar uma oportunidade. É muito bom trabalharmos juntos, já que somos muito honestos um com o outro e confiamos nas opiniões de cada um. Nós gostamos das mesmas bandas e dos mesmos músicos. Já tocamos música juntos

há muito tempo. Nunca me preocupei com o que Troy possa adicionar às músicas e vice-versa. Para o Mike Guy: Como é trabalhar com dois irmãos gémeos? Mikey: Nós somos amigos e já tocamos juntos há tanto tempo que já não os vejo com gémeos, para mim eles são o meu baixista e o meu guitarrista. Ao princípio foi algo complicado já que eles eram terrivelmente parecidos, apesar de nunca ter tido problemas a distingui-los mas via outras pessoas debatendo-se com grandes dificuldades para os distinguir. São uns tipos muito porreiros, super profissionais e extremamente talentosos. Não poderia estar em melhor banda. Estas questões nada têm a ver com ATP mas com os Zero Hour. Li algures que o Troy foi submetido a uma operação – penso que em 2011. Presumo que o problema já tenha sido debelado mas não posso deixar de perguntar: Qual foi o problema? Jasun: Sim, o Troy foi operado ao nervo ulnar e tem trabalhado muito para estar em plena forma. Se não tivesse sido operado estaria sujeito a uma atrofia muscular no braço esquerdo. Nunca ficará perfeito mas está a ganhar força no braço e com vontade de melhorar Existem alguns planos para, de alguma forma, voltarem com os Zero Hour? Jasun: Os Zero Hour já não existem Porque escolheram fazer dos ATP uma banda instrumental? Jasun: Eu e o Troy sempre gostámos de música instrumental. Não escrevi este material a pensar num vocalista. Só queríamos guitarras, baixo e bateria. Assim, podemos fazer tudo o que queremos e experimentar o quão longe podemos levar o nosso estilo, tanto, a nível técnico como emocional Obrigado pelo vosso tempo. Jasun: Obrigado pela entrevista e envio-vos o SIMBOLO DO METAL \m/. Esperemos um dia ir a Portugal tocar para vocês. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro




Sou uma grande fã da música de Dark Tranquillity e do teu trabalho gráfico. Depois de te ter entrevistado para a Versus como artista gráfico, chegou a vez de “falar” contigo na qualidade de membro da banda. Como é ser uma banda icónica na cena metal e continuar a lançar álbuns? Niklas Sundin: Não é assunto em que pensemos diariamente. Sempre foi nossa ideia que manteríamos a banda e continuaríamos a compor música, enquanto nos parecer que vale a pena fazê-lo. Por conseguinte, tanto faz termos uma carreira de 2 anos como uma de 20. A nostalgia nunca nos pareceu um sentimento interessante, sempre nos focamos no presente. O último álbum feito é sempre o mais importante. O que sentem quando sobem ao palco, após tantos anos de carreira? Depende de muitas coisas. Se estivermos a fazer uma digressão, os concertos normalmente são os únicos momentos em que nos sentimos “vivos” e com alguma finalidade em vista, logo são verdadeiras descargas de adrenalina. Pessoalmente, não penso em nada em particular, apenas procuro esvaziar a minha mente para me focar na música. Podemos considerar-vos como uma banda de metal “filosófica”? Não sei, parece-me uma ideia um tanto pretensiosa. Além disso, estou farto de ter problemas com pes-

Uma tranquil

Depois da entrevista como gráfic De facto, Niklas Sundin foi o me respondeu às perguntas da VERSU o novo álbum da formação suec frio, triste, negro e… filosófico,


lidade glacial

co, eis a entrevista como músico. embro dos Dark Tranquillity que SUS Magazine sobre «Construct», ca. Assim, ficamos a saber que é , para quem o quiser ver assim.

soas que nos avaliam pelo teor das nossas letras e julgam que ficam a conhecer-nos integralmente por aí. Portanto, evitamos cultivar a ideia de que somos algo mais do que uma banda de metal. Há pessoas que tomam partido por alguma das nossas letras, outras que tatuam letras das nossas canções nos seus corpos. Compete aos nossos fãs assumirem a responsabilidade do que fazem. Que mensagem querem transmitir ao mundo com o vosso «Construct»? O que é novo neste álbum de Dark Tranquillity? O estilo de composição que adotamos neste álbum é diferente do habitual. Preocupamo-nos em criar atmosferas e em evocar sentimentos, em vez de apostar nos riffs e em coros aliciantes. Portanto, consideramos que este é um dos álbuns de DT de mais difícil receção desde há muito tempo. As pessoas que nos seguem há muito tempo não vão ficar surpreendidas, porque devem ter consciência de que «Projector» tem um estilo semelhante. Mas os fãs mais recentes, que nos descobriram na altura em que lançamos «Fiction» ou «We are the void», são capazes de ficar um bocado confusos. Por que razão a capa do álbum é tão “técnica” e tão “fria”, contrastando com as que fizeste para outros álbuns da banda? Bem, a finalidade de uma capa de álbum é sempre traduzir a atmosfera veiculada pela música e pelas letras do álbum. A capa que fiz para «Construct»


“Preocupamo-nos em criar atmosferas e em evocar sentimentos, em vez de apostar nos riffs e em coros aliciantes. […]” transmite a ideia de que é um álbum mais “frio” do que os que fizemos anteriormente. Os aspetos técnicos mais evidentes – formas simples e ícones – são particularmente influenciados pelas letras. Mas o conceito é semelhante ao da capa de «Character», em que aparece um grande cérebro em pano de fundo e, na frente, uma cidade em desenvolvimento, produto da atividade desse cérebro. «Construct» também faz referência a uma estrutura mental e a capa e artwork que idealizei para ele procuram sublinhar esta ideia. Como transmitem essa sensação “glacial” através da música de «Construct»? Eu vejo-a no som das guitarras e da bateria (por exemplo, em “The science of noise”) e também nos teclados (por exemplo, em “Uniformity”). É uma sensação veiculada mais pela maneira de tocar do que pelo som ou pelo tipo de produção escolhido. No passado, usamos muito riffs e arranjos bastante simples e, desta vez, quisemos apostar mais na criação de texturas de som e numa forma de tocar que evocasse ideias negras. A sensação “glacial” resulta desse uso mais ousado das cordas e das harmonias.

Podemos considerar «Construct» como um álbum triste? Sem sombra de dúvida. Por onde vão andar até ao fim deste ano? Podemos contar com uma passagem por Portugal para apresentar este álbum e nos presentear com “pérolas” como “Misery Crown”, “Lost to Apathy”, “UnDo Control” ou “The Treason Wall”? Esperamos que sim, já que somos sempre muito bem recebidos em Portugal. Mas essas decisões não dependem só de nós. Teremos prazer em aceitar convites razoáveis de empresas de qualquer país do mundo. Contudo, Portugal costuma fazer parte das nossas digressões europeias, portanto penso que isso acontecerá também desta vez. Entrevista: CSA



Jazzisticamente falando de Metal


Os noruegueses Shining contam já com alguns anos de existência mas só mais recentemente é que começaram a reinventar uma nova fórmula criativa de tocar, juntando ritmos típicos do jazz ao metal mais pesado, dotando as músicas com elementos fortes e um saxofone de excelência, baptizando o estilo que eles tocam por “BlackJazz”. Estivemos à conversa com Jorgen Munkeby, saxofonista e cérebro da banda que nos explicou a trilho que percorreram para criar o seu estilo e também nos falou sobre o mais recente trabalho da banda que dá pelo nome de «One One One».

Olá, vós sois é uma jovem banda no panorama do metal, podesnos contar a vossa história? Munkeby: Começamos como um quarteto de jazz acústico, em 1999, tocando música na onda dos últimos anos de John Coltrane. Então, dois álbuns depois, incorporamos sons eletrônicos e guitarras de rock no nosso som, além de elementos da música clássica contemporânea. No nosso quinto álbum de estúdio, Blackjazz de 2010, deixamos de lado alguns dos elementos clássicos e criamos uma instrumentação um pouco mais rock mais à imagem de uma banda metal. Esse som foi atingido no nosso sétimo álbum, «One One One». O vosso trabalho mais recente «One One One» tem aspectos que variam de metal progressivo, jazz e um pouco de black metal / industrial. Expliquem-nos um pouco melhor como é que essa mistura de sons apareceu e como correu a gravação do álbum? Desde criança que eu cresci com a música metal, ouvindo bandas como Pantera, Death e Entombed muito antes de eu ouvir jazz. Mas, então, eu entrei no mundo da música jazz. Estudei jazz e composição clássica durante 7 anos na Academia Estatal Norueguesa de

Música, na Noruega. Desde que a banda começou como uma banda de jazz, sempre tivemos pessoas na banda estão confortáveis e bem informados sobre o jazz, tal como estão também com rock e metal, então a combinação do estilo jazz e metal tornou-se um som muito natural para nós. Quão diferente é este novo comparado com o álbum anterior? Cada álbum que fazemos é diferente, mas eu diria que «One One One» é mais semelhante ao Blackjazz do que os álbuns anteriores ao Blackjazz. Tem apenas menos duração mas é mais conciso. As pessoas costumam descrever a música dos Shining como “Blackjazz” (após o título de vosso registo anterior). Como achas que surgiu essa palavra? A banda identifica-se com ela? Pegamos na palavra “Black” de Black Metal (nome do álbum dos Venom), e a palavra “Free” do álbum Free Jazz do Ornette Coleman, juntando as duas, formam uma nova palavra - “Blackjazz”. Queríamos chegar ao nome do álbum que também pode servir como um nome para o nosso próprio gênero que é único no universo musical, e eu acho que a palavra

“Blackjazz” funciona muito bem. O saxofone desempenha um papel importante na música dos Shining. O vosso conterrâneo Ihsahn usou-o em alguns dos últimos álbuns também. Como é que surgiu a ideia de introduzir o saxofone? Foi difícil colocá-lo nas canções? O meu instrumento principal é o saxofone, mas eu sempre gostei de metal. Sempre quis ser capaz de tocar saxofone e metal ao mesmo tempo. Levei muitos anos para chegar ao meu modo particular de combinar o saxofone com metal, mas como eu agora consegui juntar os dois, creio que se tornou natural para mim. Eu sei que já tocastes integralmente o «One One One» ao vivo, na Noruega. Qual foi a reação do público? Tendes muitos apreciadores de metal entre o vosso público? Nós tocamos o álbum completo ao vivo antes de ser lançado e, portanto, ninguém tinha ouvido as música antes, fiquei muito surpreso ao ver a reação positiva do público. Eu acho que no «One One One» as músicas são mais estruturadas e funcionou melhor como uma estreia do «Blackjazz» teria


funcionado. O público é muito variado, e é composto por “dois ouvintes” principais: quem ouve jazz, pop / rock / pessoas mais mainstream e “metaleiros”. Há pessoas de todas as idades, desde rapazes a raparigas, homens e mulheres. Estou muito feliz que o nosso público seja tão variado!

nos então à tournée que eles fizeram em 2008, e depois criamos uma composição de 90 minutos de duração para um concerto conjunto para um grande festival de jazz na Noruega. Foi definitivamente algo grande e interessante para nós trabalhar com Enslaved, e muito provavelmente também influenciou como «Blackjazz» soou.

Os Enslaved foram uma influência para vós. Pelo que eu sei, já havia algum tipo de colaboração entre as bandas. Como é que esta “parceria” aconteceu e como é que eles vos ajudaram a crescer a nível musical? Os Enslaved ouviram a nossa música e perguntaram-nos se estaríamos interessados em participar numa tournée com eles. Juntamo-

Quais são os vossos planos para o futuro? E a vossa agenda de concertos já está preenchida? Vai haver alguma tournée europeia? O álbum foi lançado na Alemanha e na Áustria, em 7 de Junho, e no resto da Europa em 4 de Junho. Estamos planejando uma tournée pela Europa em Outubro / Novembro, e espero que toquemos em festivais no próximo Verão.

Portugal é incluído no vosso futuro próximo? Com quem gostáveis de compartilhar os palcos portugueses? Nós agora temos alguém que trata da marcação dos concertos, depois de ter sido gerida por mim desde o início. Ainda não vi as datas finais dos nossos concertos, mas estou a torcer para que Portugal faça parte da tournée! Em Portugal, gostaríamos de dividir o palco com qualquer boa banda! Por favor, deixe algumas palavras finais para seus fãs? Obrigado pelo seu interesse em nossa banda e nossa música! Entrevista: Sérgio Pires

“Levei muitos anos para chegar ao meu modo particular de combinar o saxofone com metal”


O MUNDO TORNOU-SE NUM LUGAR UM POUCO MAIS VAZIO Slayer é um nome que se escreve na era do tempo como uma das mais importantes bandas do metal, dos mais importantes fenómenos na música pesada, um dos projectos mais consistentes e de longa duração do mundo. Deixo aqui o que considero a minha homenagem, o meu retorno a tudo o que Slayer, e Hanneman em particular, me deu. COMO DESCOBRI SLAYER Tenho uma relação especial com Slayer pois nascemos no mesmo ano: 1981; e desde a primeira vez que gostei do que ouvi (que não foi a primeira), que nunca mais os larguei. Descobri Slayer muito tarde, o meu primeiro contacto foi quando um amigo meu me emprestou “Undisputed Attitude”, e não gostei do que ouvi. Passou alguns tempos até um outro amigo meu, vocalista da minha primeira banda, ficar em estado de choque quando lhe disse que não gostava de Slayer. Bateu-me e apressou-se a mostrar-me o “South of heaven” a partir desse dia, a minha vida mudou.


“TOCA SLAYER!” Hoje, depois de conhecer de cor todos os albuns e de reconhecer qualidade em todos eles, desde o primeiro “Show No Mercy” até ao último “World Painted Blood”, nunca deixei de ser fã da banda. Tive oportunidade de os ver ao vivo cá em Portugal, ser confrontado com a energia da música em plena cara e subjugado por os meus mestres estarem ali a metros de distância. Hanneman com o seu equipamento de Hockey, Araya a gritar mesmo à nossa frente, Kerry King imponente e Lombardo invisível mas audível, lá por detrás do drum kit. Todos nós, fãs de metal, temos Slayer no coração e sentimos um enorme respeito e veneração por eles. É um nome que nos segue e temos sempre presente em nós. No meu grupo de amigos temos a brincadeira de gritar “toca Slayer!” em qualquer concerto a que vamos; seja de metal, de rock ou até de jazz ou indie. Muitos podem pensar que se trata de uma brincadeira, e é-o até certo ponto, a verdade é que não poderia haver outro nome aplicado desta forma. OS 4 MAGNÍFICOS Hanneman foi em grande responsável da qualidade da banda, que ajudou a pertencem ao núcleo duro do trash chamado “Big four”, juntamente com Metallica, Megadeth e Anthrax (recordo-me sempre de um e-mail que circulou por aí, com uma fotografia de uma prova de exame de um chavalo espanhol onde respondeu à pergunta “identifique os metais mais pesados” com o desenho dos logótipos destas bandas). Mas Slayer destaca-se claramente das outras 3, pois a sua música é mais crua, fria e selvática, conseguindo criar um Reign in Blood na música pesada e na comunidade de fãs do mundo inteiro. AS CRIAÇÕES A lista de músicas que Jeff compôs para a banda é interminável, pois ele e Kerry King foram os principais compositores das músicas e letras da banda. “Raining Blood”, “War Ensemble”, “South of Heaven”, “Seasons in the Abyss” e “Angel of Death”, são os nomes mais imponentes. Mas a não esquecer “Disciple”, “Threshold”, “Eyes of the Insane”, “Unit 731” e a quase totalidade das faixas dos álbuns “South of Heaven” e “Diabolus in Musica”. Amen! JEFF AND KERRY – “FUCK YEAH!” Reza a lenda que Jeff perguntou a Kerry “E que tal formarmos a nossa própria banda?” ao que Kerry teria respondido “Fuck yeah!”. Araya e Lombardo


juntam-se ao grupo, nasce Slayer e trabalham para o álbum “Show no Mercy”. Concertos, Metal Blade, alguns EPs e muita controvérsia, a banda cresce e aumenta a legião de fãs. O mito começa com “Reign in Blood”, acentua-se com “South of Heaven” e quando sai “Seasons in the Abyss” tornam-se deuses vivos! Os álbuns que seguiram marcaram gerações, nasceram novos fãs e foram perdidos outros, mas a banda manteve-se sempre fidedigna a eles próprios. WWII A paixão de Hanneman pelo Warfare trouxe muito à banda. A imagem, o polémico logótipo e os temas na música. Durante anos Slayer teve associado ao satanismo e ao nazismo. Os fãs vistos como uma comunidade de jovens mentalmente limitados e condenados ao fracasso social. Aliás a sociedade sempre precisou de criar uma imagem do mal para perseguir e assim reconfortar os simples-de-espírito que andam perdidos neste mundo, com medo de tudo até de viver com intensidade. ARTWORK A imagem da banda sempre foi algo de muito presente e que ajuda a acentuar a componente mística, agressiva e polémica da banda. Nisto Larry Carroll deu uma grande ajuda, sendo o responsável pelas capas dos álbuns “Reign in Blood”, “South of Heaven”, “Seasons in the Abyss” and “Christ Illusion”, que para mim, são os mais bem conseguidos da banda. Logos e símbolos criados, são imediatamente reconhecidos, enchendo de orgulho os fãs que as vestem, na rua, em concertos ou por baixo da camisa e gravata. R.I.P. JEFF Descobri a notícia através de uma rede social, que já abandonei, após um feed de J. Bannon, vocalista dos Converge. Não percebi bem de quem ele estava a falar, apenas referiu que foi uma inspiração enorme para a sua música e vida, a forma como trouxe o punk para a música pesada e como contribuiu para o que Slayer criou. Quando percebi de quem ele estava a falar, fiquei


dar cartas, da forma como dão.

de rastos. Não sou fã de seguir todos os updates das bandas que gosto, apenas vou procurando informação quando passa demasiado tempo entre álbuns; eu nem sabia desta história da picadela de aranha. Não sei qual vai ser a decisão dos membros da banda, após isto. Mas recordo-me da frase que Araya disse há pouco tempo atrás “já é ridículo ver velhos a curtir desta forma em palco”. A frase na altura chocou-me, até porque acho muito genuíno o facto deles serem tão seniors e continuar a

HARDWARE A música de Slayer sempre foi caracterizada pelos grandes riffs e solos de guitarra. Uns gritantes e outros velozes, as duas guitarras da banda sempre estiveram em sintonia, completando a imagem de marca dos Slayer e do metal em geral. São o símbolo do género! A apoteose para os fãs guitarristas de Hanneman foi claramente quando por volta de 2001 criou com a ESP a sua signature model. Não houve surpresas no modelo (inspirado na sua Jackson Soloist) nem no design (camuflado militar), a guitarra foi sempre um dos porta-estandartes da marca, juntamente com o baixo de Araya. O LEGADO Além de tudo, isto não é apenas uma pessoa que nos deixa, é sem dúvida uma página de história que é virada. O que foi a época de ouro do metal já vai longe e trouxe-nos uma fortuna que nunca será repetida. Hoje apoiamos-nos no passado para criar algo que anteriormente não seria visível. Somos capazes de ler uma frase, porque conhecemos as palavras. Slayer está na base do dicionário do metal. Não é imaginável nem quantificável a influência que Hanneman e Slayer tiveram no mundo. Na música extrema ou calma, no cinema, na arte, na TV ou mesmo na vida das pessoas. Quantas bandas e álbuns no mundo poderão ter sido influenciados por o que Hanneman e Kerry começaram em ‘81? Existe as cópias chapadas e os que hoje fazem música porque ouviram Slayer em miúdos, todos nós fomos tocados pela Divine Intervention. Eu hoje sou o que sou um pouco graças a Slayer. Obrigado por este legado. Adriano Godinho



Os anos passam e as ideias mudam. Em quinze anos, os Seth passaram da confiança no eterno retorno («Les Blessures de l’Âme» – 1998) à crença na autodestruição da natureza («The Howling Spirit» – 2013). Mas não estaremos perante duas faces da mesma moeda? Não será que o renascimento implica uma autodestruição prévia? Então sempre conseguiram atingir os vossos objetivos. Entrevistei-te, no ano passado, sobre a reedição de «Les Blessures de l’Âme» e afirmaste não estares seguro de que Seth conseguiria lançar um novo álbum no decurso de 2013 e afinal cá está ele. É diferente dos anteriores? Podemos dizer que é um álbum que respira maturidade? Heimoth: É certamente um álbum mais formal do que tudo o que fizemos até agora. Parece menos limitado pelas circunstâncias que os seus predecessores, tendo em conta, quer a produção, quer o nosso desempenho. Também fizemos ponto de honra de evitar o uso de elementos eletrónicos, porque pretendíamos lançar algo mais genuíno, mais espontâneo. É diferente, sim, mas os álbuns de Seth são todos diferentes uns dos outros. O som parece quase ritual (por exemplo, na segunda faixa). Era essa a vossa intenção, ou sou eu que o vejo assim? Curiosamente, tudo contribui para me dar essa impressão, inclusive a voz. Quase que se podia dançar ao som da vossa música. Fico muito satisfeito com esse teu comentário, porque comprova que atingimos um objetivo que qualquer banda almeja: suscitar emoções nos ouvintes a partir de um ritmo que pretende produzir determinadas reações. Queríamos criar uma paisagem musical e livrarmo-nos da ideia de que o sagrado riff de guitarra contém em si tudo aquilo de

Peso ce


erimonial

que uma banda precisa. «The Howling Spirit» pretende contar histórias, o que o diferencia da maioria dos álbuns de black metal, já que apresenta uma verdadeira evolução de faixa para faixa, criada pelo jogo que se estabelece entre as características musicais deste tipo de metal e a evocação de elementos negros/tenebrosos. Na minha opinião, este álbum captou e transmite a essência do black metal: um género musical, que combina atmosferas E elementos de metal. Infelizmente, hoje em dia, as bandas têm tendência para negligenciar a parte que se refere aos elementos de metal. O que é que este “espírito vociferante” traz à humanidade? Se atentarmos nos títulos das faixas, não é certamente nada de bom. O conceito de base do álbum é a autodestruição da natureza. Para escrever as letras, inspirámo-nos em autores como Thoreau e Steinbeck, para quem temas como a moralidade, o pecado ou a culpa existem apenas para os que neles acreditam e marcamnos pela negativa. Neste álbum, temos vários convidados, incluindo autores de letras como Kvohst (Hexvessel, ex DHG, ex <Code>) ou Steph Buriez, da Loudblast. Mas o nosso vocalista, que dá pelo nome de Black Messiah, e eu próprio também tomámos parte na escrita das letras. Recorreram novamente a Faucon Noir para o artwork? Estou absolutamente fascinada pela capa do vosso álbum. A que se refere? A imagem da capa apresenta duas cabeças de aves decapitadas? O artwork de «The Howling Spirit» foi feito por nós e pelo estúdio Abrakadabra (https://www.facebook.com/AbrakadabraStudio) e ilustra o conceito de autodestruição da natureza: marcas humanas representadas por cordéis dos quais pendem cabeças de falcão sem olhos, prestes a cair no vazio e no desespero. Faucon Noir fez algumas ilustrações para o livro que acompanha o álbum! As faixas deste álbum são todas originais? Ou usaram algum material que já tinham composto? Uma boa parte do material foi escrita durante os últimos dez anos. Todas as faixas foram revistas, trabalhadas e reformuladas aí umas cem vezes com o Cyriex, com quem toquei em Decrepit Spectre, sem pensarmos que viria a ser lançado pelos Seth… Estávamos conscientes de que uma parte deste material era potencialmente muito boa e, por isso, limitámo-nos a refazer as faixas a fim de lhes dar o estilo característico de Seth, para as gravarmos eventualmente. De facto, «The Howling Spirit» é o resultado de um processo de composição



“…fizemos ponto de honra de evitar o uso de elementos eletrónicos, porque pretendíamos lançar algo mais genuíno …” particularmente grandioso, de que estamos muito orgulhosos. Em Seth, nunca deitamos fora material que tenhamos escrito. Guardamos as canções e tentamos torná-las perfeitas, na medida do possível. Isso implica que tudo o que fazemos – mesmo tudo – tem de ser potencialmente bom. Só está no ponto, quando o teu ouvido começa a dizer-te que já conseguiste impressioná-lo. Já tiveram conhecimento de algumas reações ao álbum? Algumas, sim, a maior parte delas verdadeiramente entusiásticas. Na minha opinião, vai ser preciso algum tempo para que as pessoas percebam que regressamos em força, mas prevejo que vão aperceber-se disso, quando ouvirem o álbum. Estou certo de que a maioria das reações será positiva. As reviews que já vimos são excelentes. Da última vez que “falámos”, estavas muito entusiasmado pela ideia de promover a reedição do vosso álbum de 1998 em concertos. Têm os mesmos planos para este? Fizemos uma digressão em França com Glorior Belli e Belenos e passámos um tempo maravilhoso com eles. O público estava delirante. Estamos a contar fazer uma digressão europeia para promover este álbum

lá para outubro. Para já, vamos participar no Hellfest e mal podemos esperar por nos vermos lá! Portugal está na vossa lista de países a visitar? Temos tido excelentes concertos de bandas francesas de black metal. Estou a pensar, por exemplo, em Aosoth (que vieram com Shining e Watain, há dois anos), ou Hell Militia (que participou no SWR Barroselas) e Alcest (que passaram por aqui para apresentar os dois últimos álbuns). Candidatámo-nos ao SWR este ano, mas parece que já tinham o cartaz encerrado. Esperamos poder participar no próximo ano! Conhecem algumas bandas de black metal portuguesas? Gostariam de fazer um concerto com alguma delas? Não muitas, para ser franco. Conheço Corpus Christii, Irae, Storm Legions e mais umas poucas. Mas é claro que gostaríamos de tocar com algumas dessas bandas, que, segundo me apercebi, têm adquirido tal projeção, ao longo dos anos, que já são lendárias na cena black metal. É sempre positivo sermos associados a bandas dessas. Entrevista: CSA


Visões de aniquilação


Com uma vasta produção – apesar de ser uma one man band desde 2011 –, Svartsyn é um verdadeiro achado no universo black metal sueco da atualidade. Caraterizada por um classicismo que, segundo Ornias (seu fundador e único membro atualmente), faz parte da sua identidade, trata-se de uma banda que traz uma mensagem de devastação, em “Black Testament”, o seu sétimo e último longa duração (até agora). Não pensava que fosse possível encontrar uma “pérola negra” como Svartsyn na cena metal sueca da atualidade. És pessimista? Que lugar ocupa o pessimismo na tua atitude perante a vida? Ornias: Não acredito na sociedade. Sinto-me mentalmente incompatível com esta sociedade que nos controla a todos através de meios como, por exemplo, a internet. Svartsyn é apresentada como sendo uma banda de black metal clássica e este é o seu sétimo álbum. Poderias resumir os momentos mais importantes da vida da banda? Svartsyn começou por se chamar Chalice. Os primeiros lançamentos foram gravações feitas ensaios, em setembro de 1992. A banda

Sou inspirado exclusivamente pelas minhas trevas espirituais íntimas e movido por intenções de índole destrutiva e misantrópica, como já referi. Por isso, sinto-me muito estranho, quando tenho de fazer coisas como tocar ao vivo. Mas estou a tentar encontrar músicos sérios que queiram tocar com Svartsyn em alguns concertos. Sou muito firme nas minhas convicções e sirvo-me da banda para as exprimir. Sou uma pessoa essencialmente introvertida, logo não sinto qualquer necessidade de me expor. Considero Watain e Dissection como excelentes bandas. Há outras bandas da cena black metal que consideres como inspiradoras? Sim, bandas do início dos anos 90 como Thorns, Mayhem, Burzum,

Então «Black Testament» apresenta uma visão do apocalipse? Os títulos das faixas deram-me essa sensação. Todas as letras deste álbum foram escritas por mim durante um período muito difícil da minha vida e tratam de visões e revelações que tive. Além disso, interesso-me profundamente pela mitologia suméria e babilónia. A capa do álbum é magnífica, embora bastante clássica neste género. Parece-me muito adequada à música que compuseste. Concordas? Sim. Aliás a capa foi feita a partir de uma visão que eu tive. Trata-se de Pazuzu [demónio da mitologia assíria e babilónia], numa nova interpretação, baseada na faixa que deu o título ao álbum. Ao escrever

“…Sinto-me mentalmente incompatível com esta sociedade que nos controla a todos…” mudou de nome em 1994. Draugen [depois membro de Dark Funeral] juntou-se à banda em 1996 e saiu em 2011. O black metal de Svartsyn é realmente violento. O que queres exorcizar recorrendo a esta música furiosa? A nossa música é eterna e fede a isolamento. Pretendo ser destrutivo e tão misantrópico quanto possível. Os álbuns de Svartsyn são memoriais que comprovam a sua existência. Na informação dada pela editora, a banda é comparada a Watain e Dissection. Concordas? Sentes que a tua música tem as conotações religiosas da de Watain?

Immortal. Também fui inspirado pela demo «Anno Domini», dos Tormentor [lançada em 1989 pela banda de que fez parte Attila CSihar]. Hoje em dia, também há muitas bandas de qualidade, mas as minhas favoritas são Nightbringer, Antaeus e Funeral Mist [a banda de Daniel Rosten aka Mortuus, vocalista dos Marduk]. O que deixas em testamento ao mundo atual? A vida na Terra está nitidamente a caminhar para a aniquilação, comandada pela cegueira humana. Somos prisioneiros de uma sociedade controladora. Tens de te afundar no teu próprio abismo negro, para te libertares desta alienação. O mundo vai mesmo acabar!

a letra desta canção, consegui encontrar respostas para algumas questões que me preocupavam, logo encontrar-me a mim próprio. Entrevista: CSA


DAMNATION ANGELS «Bringer Of Light» (Massacre Records) Já há uns meses que do Reino Unido nos chegou o álbum de estreia dos Damnation Angels. Resumidamente, são uma excelente banda de Metal Sinfónico com vocalizações masculinas – ao contrário do que vem sendo apanágio numa infinidade de bandas tais como Nigthwish, Xandria, etc, etc. No final apesar de assentar numa musicalidade que não permite grandes surpresas «Bringer of Light» surgiu com grande recetividade do público e crítica da especialidade. Um álbum bem conseguido como um todo que merece ser escrutinado tendo em conta os vários atributos positivos. [8/10] Sérgio Teixeira

DELAIN «Interlude» (Napalm Records) Desconfiem sempre de um álbum que se intitule «interlude» ou «interludium», já que não passam de verdadeiras pausas criativas sem interesse. Infelizmente, o ‘interludio’ dos Delain não foge à regra. É tão previsível como ter um par de canções novas, covers, remixes e gravações ao vivo. No essencial, as novas músicas estão de acordo com o que os Delain têm feitos até então e estas mereciam claramente estar num álbum. Sempre com uma partitura sinfónica bem presente e aguerrida, a voz de Charlotte Wessels dá excelente corpo à melodia catchy subjacente em toda a amplitude da nova música. Para o registo ficam aqui os novos trunfos musicais: “Breathe on me”, “Collars and suits” e “We are the others”. É pouco para os percursores dos Within Tempation do tempo de «Mother Earth» e «The Silent Force». [5/10] Carlos Filipe DUNCAN EVANS «Bird of Prey» (Prophecy Productions) Como diriam os Monty Pythons: “... e agora para algo completamente diferente”! Henry Hyde Bronsdon dos A Forest of Stars lança, sob o nome Duncan Evans um “aperitivo” para o seu álbum de estreia que será lançado ainda este ano. Vindo de Bronsdon o pessoal deve estar à espera de um álbum de Black Metal. Estão redondamente enganados: Os dois temas que compõem o EP são ao estilo do Folk Inglês, acompanhados somente à guitarra acústica com mais uns arranjos simples. Gosto deste registo para momentos mais calmos e aguardo por «Lodestone» com expetativa. [7/10] Eduardo Ramalhadeiro ENDLESS DARK «Made of Glass» (edição de autor) De forma independente os Endless Dark lançaram este EP de estreia que dá pelo nome de «Made of Glass». Trata-se de um proposta bastante interessante que procura misturar várias vertentes do metal como voz limpa e guitarra pouco distorcida passando por voz gutural a roçar o death metal e riffs de guitarra bastante agressivos passando por uma espécie de Nu metal re-inventado. Com processos de composição simples os Endless Dark mostram vontade de se mostrar e estas cinco músicas podem abrir-lhes outros horizontes. [7/10] Sérgio Pires


ENFORCER «Death By Fire» (Nuclear Blast) Os Enforcer trazem-nos da Suécia um álbum constituído por Hard-Rock colhido nos EUA, crescido na Austrália e processado na Europa. Pelo menos é assim que eu interpreto as faixas que se sucedem. Não há um minuto que passe em que um riff, uma sequência, uma estirada não seja produto de todas as influências geográficas que mencionei. Portanto, quem gosta de Hard & Heavy old-school cheio de solos para todos os gostos, eletrizante e claro, cosmopolita vai ter aqui uma grande curtição para este verão. Nada de inovador mas bem mixado e sempre mas sempre a abrir. Rock’n’roll em estado puro. [7/10] Sérgio Teixeira

EVANGELIST «Doominicanes» (Doomentia Records)

Candlemass, Candlemass, Candlemass! Aos primeiros acordes de “Blood Curse” percebemos imediatamente ao que estes misteriosos polacos vêm. Doom Metal clássico emulado dos geniais suecos, directamente dos anos 80. Não que isso seja um problema para este escriba, que é fã do estilo, mas pode ser demasiado para outros ouvintes mais sensíveis a uma colagem tão descarada. Irrepreensívelmente executado, com vocalizações entre Johan Längquvist (Epicus, Doomicus, Metallicus) e Rob Lowe, e solos que poderiam muito bem ser executados por Lars Johansson, tem na temática cristã talvez a sua matriz diferenciadora. A duração dos temas ultrapassa os 7 minutos, à excepção de “Pain and rapture”, com um pouco menos. “To praise, to bless, to preach”, é demasiado repetitivo, mas “Militis fidelis Deus” é uma surpresa mais Heavy Metal Épico, com riff inicial a condizer e uma introdução com canto Gregoriano. Dispensável seria o prolongado riff de baixo no fim. Muito bom, mas essencialmente para indefectíveis do género.

[8/10] Joey

EVIL INVADERS «Evil Invaders» (Empire Records) Os Belgas Evil Invaders lançaram em 2013 o primeiro CD de originais. Embora mais próximos do Speed Metal do que de outro subgénero, é claro neste álbum homónimo a presença de múltiplas influências Thrash, Heavy e até Punk. Sempre com uma distinta rapidez na sucessão de riffs em cascata acabam por preencher com solos bastante bem estruturados até mesmo a roçar o virtuosismo as composições que nos remetem para os tempos iniciais do Rock/Heavy. O estilo pode não agradar a todos mas a vertente multifacetada e os excelentes solos podem ser um fator de captação de alguns fãs. [7.5/10] Sérgio Teixeira HARASAI «Psychotic Kingdom» (Quality Steel Records) Chegados diretamente da Alemanha, os Harasai acabam de lançar o seu segundo longa duração. Puro Death Metal, técnico, progressivo, brutal e melódico. No entanto, «Psychotic Kingdom» não é só esta “tempestade” sonora já descrita. Podemos “descansar” um pouco à sombra do oásis que são os temas “The Art Of The Sun”, um tema calmo, ainda que com o “rugido” desesperado da voz em contraste com a voz limpa e por vezes a guitarra acústica. “Skywards We Fly” é simplesmente... piano. Não esperem, pois, monotonia. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro


HOMELESS HILL «Invencible» (edição de autor) Simplicidade é o termo que melhor define este segundo lançamento dos Homeless Hill. A produção está a cargo da banda que faz um trabalho, como já referido, simples mas competente. «Invencible» peca, somente, pela pouca força dada à bateria que merecia um som muito mais pujante e direto. Aqui sim, nota-se a falta do trabalho de um produtor “a sério”. Com um som de rock moderno, fresco fazendo lembrar os Stone Temple Pilots, um pouco DAD ou os “velhinhos” Candlebox, «Invencible» poderia ser, não fosse este “pormaior”, um caso sério. No entanto, podem sempre dar-lhe uma oportunidade. [7/10] Eduardo Ramalhadeiro LOCRIAN «Return To Annihilation» (Relapse Records) Confesso que só comecei a apreciar «Return To Annihilation» ao fim da terceira vez que o ouvi. Se na primeira pensei estar perante algo estupidamente monótono e sem sentido, à segunda audição a música chegou ao fim sem eu dar por isso e à terceira tudo já fazia sentido. RTA é um álbum conceptual, com uma narrativa, apesar de ser praticamente impercetível o que é dito/cantado. De facto, a voz (muito black metal) está “atrás” do instrumental, como no fundo do poço. A música é esotérica, experimental, eletrónica e por vezes parece que só estamos a ouvir “barulho”. O mais incrível é que este faz todo o sentido. Tal com T. Hannum explica, foi uma forma de homenagear as suas maiores influências como sejam os King Crimson ou Yes. Está lá tudo. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro NECROWRETCH «Putrid Death Sorcery» (Century Media) Necrowretch são uma banda de Death-Metal old school que fizeram as despesas de banda de entrada para alguns concertos dos Asphyx. Conseguiram um contrato com a Century Media e de facto é o reconhecimento da qualidade que estes senhores têm. Dentro da linha que se propõem trilhar não haverá muitos mais que façam melhor a não ser provavelmente os nomes mais consagrados. Claro está que este género musical tem um código genético muito próprio e para os amantes do Death-Metal old school que ainda não conhecem estes Necrowretch é melhor não perderem mais tempo. [8/10] Sérgio Teixeira

PEKLA «Degsit!» (Inferna Profundus Records) Os Pekla são formados por membros dos Stranger Aeons (Metal Progressivo), Argharus (Black Metal), Virus (Hard’n’heavy) e vêm diretamente da Lituânia. O resultado desta união é um heavy/speed metal tradicional com alguma atitude... rock’n’roll. Fiquei com a séria impressão de que a sonoridade era demasiado crua mas foi puro engano. É mesmo heavy tradicional old school com executantes muito bons. «Degsit!» é cantado em Lituano mas isto não é um óbice para não o ouvir. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro



Uma emanação do “homem dos sete instrumentos” Sahil Makhija (aka Demon Stealer) é mesmo “o homem dos sete instrumentos”, como podemos constatar nesta entrevista. O seu sentido de humor e a sua criatividade permitemlhe estar à frente de Workshop (banda focada no nº 24 da VERSUS Magazine) ou de bandas de death metal como esta Reptilian Death, que vai agora lançar um novo álbum, ou Demonic Ressurrection, pela qual é mais conhecido. Daí termo-nos sentido novamente tentados a contactá-lo pelo facebook, para ter o seu ponto de vista sobre este último lançamento.


A que se deve uma tal obsessão por répteis? Tem algo a ver com a cultura Indiana (ou, pelo menos, algum aspeto desta)? Demon Stealer: Não, não somos obcecados por répteis. Quando demos o nome à banda, a ideia era parodiar o death metal e não criar algo sério. Na altura, andava a ouvir Anal Cunt e achava o nome ridículo, pelo que quis criar algo nesse género. Mais tarde, escrevemos uma canção intitulada “Grasp of the anaconda”, que veio reforçar a natureza “serpentina” da banda. Aliás, a maior parte do metal que faço não tem nada a ver com a cultura indiana. Para dizer a verdade, nem sequer penso que tal coisa exista, já que a Índia é um país enorme, dividido em numerosas regiões e habitado por pessoas que pertencem a inúmeras religiões e seitas, cada uma com a sua cultura própria. Eu sou um Sindhi e fui educado de uma forma não tradicional, portanto sinto-me mais à vontade na cultura associada ao rock n’ roll do que na cultura sindhi. Pode-se dizer que o artwork de «The Dawn of Con-

summation and Emergence» revela a influência de filmes como a série dos Alien? Até o visual dos membros da banda nas fotos promocionais me faz lembrar esse tipo de filmes. Isso foi uma ideia do Michal Xaay, o autor do artwork, e pensamos que criou algo notável. Quanto ao visual da banda, não era essa a nossa intenção. Pretendíamos parecer uma trindade diabólica. Mas, quando mostramos a foto ao Xaay, ele ficou com a mesma impressão que tu e veio-lhe à ideia o conceito que utilizou para fazer a capa do álbum. Portanto, acabou por ficar tudo coerente. Há algum conceito subjacente ao álbum? É o Vinay que escreve as letras e ele não gosta de responder a entrevistas. Mas posso dizer-te que basicamente o álbum se refere à evolução do Homem, que o leva a transformar-se num ser intrinsecamente malvado, demoníaco. Encontra o mal em si próprio e recruta discípulos para o seu exército de malvados. É uma história bizarra e intrincada, que descobrirás ouvindo o álbum com as letras à mão.


Como descreves a música que apresentam neste álbum? Gostei muito das guitarras melódicas e da bateria bem ritmada. Como sou essencialmente um guitarrista, começo sempre por compor os riffs das partes de guitarra. Mas só os mantenho, se a bateria puder acompanhá-los. Tentei que os riffs neste álbum não fossem muito melódicos, mas gosto demasiado de melodia na música para poder escapar a essa tentação. Neste álbum, tentei ser simples e criativo, em vez de ser rápido, porque não consigo tocar com muita velocidade. Portanto, penso que, de um modo geral, a música é brutal e agressiva, mas que há bastante melodia e uma percussão muito equilibrada na base do som e que tudo isto é realçado pela gama vocálica do Vinay, que é sempre muito intenso nas suas prestações. Procuramos criar muitas atmosferas e sensações diferentes, recorrendo à música e à voz. Continua a ser death metal, mas com um sabor um pouco diferente do habitual. Por que precisaram de tanto tempo para lançar um novo álbum de Reptilian Death? Estavas muito ocupado com outros projetos? Para mim, Reptilian Death foi sempre um projeto secundário. A minha verdadeira banda é Demonic Resurrection. Como sabes, em 2007, formei os Workshop e, desde essa altura, ambas as bandas lançaram álbuns, os últimos dos quais são recentes. Portanto, eu estava muito ocupado a compor para as três bandas, mais lentamente no que dizia respeito

a Reptilian Death. Em 2010, juntei-me ao Vinay e começamos a trabalhar juntos. Decidimos que, apesar de o último álbum deste projeto datar já de há quatro anos atrás, não íamos apressar as coisas. Precisávamos de tempo para aperfeiçoar a música e todo o visual associado à banda. Levamos dois anos a fazer isso e eu aproveitei o tempo para praticar na bateria, a fim de ser capaz de me encarregar dela de forma adequada, já que seria a primeira vez que ia gravar esse instrumento, ainda por cima em versão acústica. Foi por todas estas razões que demoramos tanto. Vinay trabalha em publicidade e, por vezes, tem de fazer 12 horas por dia. Além disso, toca numa das bandas indianas mais conhecidas: Bhayanak Maut. E o que se passa com a tua outra banda de death metal? Quando vai sair o seu quarto álbum? Demonic Resurrection está nos últimos momentos da gravação desse álbum. Portanto, provavelmente no fim do ano será possível lançá-lo. Quais são as principais diferenças entre as duas bandas? Acho que só estão ligadas pelo facto de eu fazer parte de ambas e de compor quase todos os riffs para as duas. No entanto, em DR conto com a colaboração dos outros quatro membros e eles decidem como vão ser as canções. O álbum que vai sair em breve foi escrito por mim e pelo Daniel [Rego, o outro guitarrista]. Esta banda aposta bastante no lado sinfónico,


“[…] Mas posso dizer-te que basicamente o álbum [refere-se] à evolução do Homem, que o leva a transformar-se num ser intrinsecamente malvado, demoníaco. […]” graças ao Mephisto, o nosso teclista, e o baterista é bem melhor que eu. Neste álbum de RD, eu fui o único que compôs a música. O Vinay encarregou-se das letras e da voz. Como relacionas essas duas bandas de death metal com Workshop, a banda de metal humorística que já referiste? Se falares com os meus amigos, verificarás que todos acham que eu sou um gajo que gosta de se divertir e que é capaz de se tornar cómico. Portanto, Workshop é uma espécie de extensão da minha personalidade. Aliás, se observares bandas de metal na estrada, nos seus diários de digressão ou vídeos de estúdio, constatarás que, geralmente, é gente divertida, que faz montes de coisas engraçadas e mesmo disparatadas. Workshop pega nesse lado do metal e converte-o em música associada a tudo o que nos parece interessante. Por vezes, é a vida que nos inspira, outras vezes são letras e, outras vezes ainda, coisas tão mundanas como um par de seios bem torneados. E como vão o teu estúdio e a tua editora? Tens tido

muito trabalho, apesar da crise económica mundial? Bem, o estúdio é uma espécie de emprego secundário, portanto só me ocupo dele quando tenho tempo. Mas tenho trabalhado bem. No ano passado, fiz produção para três bandas: Wired Anxiety, Sceptre e Gutslit. Também foi nele que gravei o álbum de Workshop que já saiu, o de RD que está sair agora e o de DR, que sairá em breve, espero. Consegui um contrato com a Universal Music, a maior editora da Índia, para fazer a distribuição dos meus novos álbuns e, assim, saiu-me um grande peso dos ombros, tanto em termos de trabalho, como financeiros. Portanto, parece-me que vai bem, apesar de vivermos tempos de crise. De facto, ainda hoje houve uma fuga de informação relativamente a este álbum de RD, mas como está feito, não vale a pena ralar-me com isso. Não sei até que ponto afetará as vendas, mas conto que o álbum nos traga muitos fãs novos e que estes acabarão por o comprar. Entrevista: CSA


Uma questão de fervor Hans Carlsson, guitarrista dos Eldkraft, relata-nos a metamorfose sofrida desde o desaparecimento de In Battle, a primeira banda que formou com John “Odhinn” Sandin. Em palavras simples, mas entusiásticas, descreve a essência deste seu novo projeto, através do qual pretende, com os outros membros da formação fixa, explorar estados de espírito fora do habitual, roçando transe psicadélico, plasmados em epic metal.


Na informação da vossa editora sobre Eldkraft está escrito que os seus membros decidiram abandonar as bandas de que faziam parte. Que bandas eram essas? E por que se sentiram compelidos a tomar uma decisão tão radical? Hans Carlsson: Era a nossa antiga banda, que se chamava In Battle. Decidimos pôr-lhe fim, porque estávamos a ter muitos problemas com os estúdios que nos faziam as gravações, dificuldades financeiras e alguma falta de criatividade. Portanto, concluímos que essa banda tinha dado o que podia dar e que era altura de passarmos a outra fase nas nossas carreiras musicais. Basta ter um bocadinho de intuição, para perceber estas coisas. Quando dissolvemos In Battle, não tínhamos uma ideia clara do que queríamos fazer a seguir, estávamos a vaguear na escuridão. Quando formámos In Battle, nos anos 90, éramos uma banda de black metal, mas, na primeira década do séc. XXI, passamos a fazer death metal mais técnico. O público achava tudo isto muito confuso e nós também tínhamos essa sensação de falta de clareza. Só quando formamos Eldkraft é que tudo se tornou claro nas nossas cabeças. Precisávamos mesmo de voltar à estaca zero e começar tudo de novo. Por que escolheram o pagan metal? Antes de mais, quero explicar-te que não vemos a nossa música como pagan metal. Preferimos chamar-lhe epic metal. E queres saber por que razão compomos este tipo de música? Para nós, é natural fazê-lo, é como se ela se manifestasse através de nós, sem que tenhamos contribuído para isso de algum modo. Fazer epic metal era um dos meus sonhos, depois de ter sido membro de várias bandas de black e death metal. Sentimos que estávamos a regressar aos primórdios. Somos inspirados principalmente por bandas clássicas, dos anos 70 e 80. Eu sou um grande fã de canções épicas. As minhas favoritas são: “Gates of Babylon”, “Sails of Charon”, “Kashmir”! E, se juntares a esta base, umas pitadas de folklore nórdico e do espírito de Bathory, encontras a fórmula que deu origem à música épica de Eldkraft. De facto, não me pareceram uma banda de pagan metal. O que vos torna diferentes dessas bandas? Há muitas coisas que nos separam das bandas de pagan metal. Aliás, algumas dessas bandas parecem-me bastante fracas. E embirro com os fatos que usam e os instrumentos a que recorrem. Não quero denegrir ninguém, mas francamente não é coisa que me tente. Elkraft faz tudo com a máxima seriedade, não brincamos em serviço, não somos palhaços que dançam para divertir as pes-

soas, somos autênticos! Não fazemos canções sobre trolls e unicórnios. A maior parte das nossas canções têm como tema experiências reais e profundas que nós próprios vivemos. Há pessoas que vos relacionam com Primordial. Concordas? Bem, quando estávamos a discutir a formação desta banda, refletimos sobre o tipo de som que queríamos ter e concluímos que seria algo que combinaria Primordial e a era viking de Bathory. Portanto, acho que essa aproximação faz sentido. Aliás, na minha opinião, Primordial é uma das melhores bandas de metal atuais, uma das poucas que se mantêm fiéis ao verdadeiro espírito da música extrema. Vejo essa comparação como uma grande honra. Quem faz o quê em Eldkraft? Eu sou o guitarrista (e também toco baixo neste álbum) e sou o principal compositor da banda. John “Odhinn” Sandin é o vocalista e o principal responsável pelas letras de Eldkraft. Fomos nós os dois que formámos a banda e somos os seus elementoschave. Na bateria, temos o nosso velho amigo Nils Fjellström. Foi com este alinhamento que gravámos o álbum. Para os concertos, recrutámos o John Frölén para a segunda guitarra (que também escreveu algumas letras para o álbum) e o baixista Stefan Kihlgren. Parecem manter excelentes relações com os Marduk. O Mortuus recomendou-vos à vossa atual editora e o álbum foi gravado no estúdio do Magnus. Como se conheceram? Abrimos para eles na digressão de 2009, ainda como In Battle, e ficámos amigos desde essa altura, principalmente do Mortuus. Ele fez o artwork para Eldkraft e também para Horde of Bel, um outro projeto musical nosso. Aliás, foi ele que criou o título deste álbum: «Shaman». Além de ser um músico muito talentoso, também é um artista gráfico e é um privilégio trabalhar com ele e conhecê-lo. Não gravámos o álbum nos estúdios Endarker, apenas fizemos a mistura e a masterização. A gravação foi feita por nós, com os meios que tínhamos á nossa disposição. Mas o Devo fez um trabalho maravilhoso na mistura e estamos radiantes com o resultado final. Por isso, tencionamos voltar ao seu estúdio, quando quisermos lançar o nosso próximo álbum. Por que deram o título de «Shaman» a este vosso álbum? É uma palavra que faz pensar mais em culturas que nada têm a ver com o norte da Europa. O tema subjacente ao álbum está relacionado com


“[…] não vemos a nossa música como pagan metal. Preferimos chamar-lhe epic metal. […]” práticas xamânicas e viagens místicas associadas a estádios de consciência fora do habitual. Os xamãs, os curandeiros e os oráculos existiram em quase todas as culturas do passado, penso eu, incluindo as do norte da Europa. Atualmente, quando se fala de xamãs, toda a gente se lembra dos ayahuasceros do Amazonas, por exemplo, mas isso acontece sobretudo porque eles ainda se dedicam às suas artes mágicas. Se contactares com rituais xamânicos, depressa te darás conta de que estás a experimentar uma relação profunda com todo o universo, independentemente a parte do mundo de onde sejas oriundo. Estamos todos ligados uns aos outros, apesar de termos origens diferentes. Então de que falam as letras do vosso álbum? De jornadas astrais, da viagem da alma no além, das viagens que fazes em vida. A maior parte das canções refere-se a experiências que vivemos, relacionadas com transe psicadélico, que ocorre quando contemplas o abismo da tua própria alma, despida de todo o egocentrismo. São experiências muito profundas, que mudam a tua vida por completo. É muito difícil pô-las em palavras, mas fizemos o nosso melhor para as descrever. És capaz de me explicar a relação existente entre

a capa do álbum e o conceito subjacente a ele? Como já referi, o Mortuus fez a capa. Mas também se ocupou do layout do álbum. Eu acho que fez um trabalho fantástico. Na capa, podes ver um par de xamãs. É uma capa mais sombria do que seria de esperar, mas nós sentimo-nos muito atraídos pelas trevas. Eu e o John posámos para a foto, vestidos com roupas xamânicas. Com certeza, fizeram planos para promover o vosso álbum. O que tencionam fazer para cumprir esse objetivo? A melhor forma de promover música é dar concertos e vamos fazê-lo certamente. A melhor maneira de sentir a música é usar todos os nossos sentidos: a visão, a audição e até o olfato, o paladar e o tato. Portanto, venham ver, ouvir, cheirar, saborear e até apalpar Eldkraft, se formos tocar em algum sítio perto de vocês. Vamos fazer a nossa estreia no Metaltown Festival, em Gotemburgo (Suécia), no dia 5 de julho. E temos uma digressão prevista para o outono. O álbum sai no dia 28 de maio e será também lançado em LP, o que nos agrada muito. Venham ver-nos e leiam o que escreverem sobre Eldkraft! Entrevista: CSA


Apanhar este álbum de surpresa, sem ter qualquer conhecimento do que se irá ouvir, e sem saber a identidade dos músicos responsáveis por detrás das composições, é a melhor experiência que se pode ter com este álbum. Foi desta maneira que tive o primeiro contacto com o «Dimensionaut», dos Sound of Contact, e ainda bem que foi daquela maneira, caso contrário muito provavelmente não o ouviria. Porque os preconceitos podem ser (e estou convencido que são) um entrave gigante à apreciação de música – seja ela qual for – este «Dimensionaut» não merece ser alvo de preconceitos. Sound of Contact é a banda que Simon Collins, filho de Phil Collins (larguem o preconceito), formou juntamente com alguns amigos com os quais tem uma química e relação muito boas, o que ajuda, sem dúvida, a sintonizarem-se na mesma onda de feeling. O resultado é um «Dimensionaut» muito bem conseguido e carregadinho de bons momentos. Alguns deverão saber que o Simon Collins já lançou 3 álbuns a solo, mas o desejo de criar

algo diferente reflecte bem a diferença de sonoridade, largando, assim, um Rock moderno para se agarrar a um Rock Progressivo com essências de Space Rock, com bastante melodia, teclados etéreos e vozes fantásticas, sem esquecer uma história para contar. Logo pelo início somos c o n f r o n t a d o s com esta vontade, e “Cosmic Distance Ladder” é um estoiro de Prog Rock. Quem já viu o vídeo deverá ter notado que o guitarrista John Wesley (Porcupine Tree) dá uma ajudinha ao vivo. Aliás, vários músicos dão apoio não só nos concertos, como também em estúdio. Mas se o início de «Dimensionaut» é uma ode ao Prog Rock, as restantes canções dão mais luz ao Space Rock, sendo a “Pale Blue Dot” e a “Not Coming Down” as mais representativas, sem esquecer a fabulosa Beyond Illumination, com a participação da talentosa Hannah Strobard a contrastar com a voz de Simon (parecida com a do pai, por sinal) – esta canção expele uma das melodias mais cativantes que ouvi nos últimos tempos, com os teclados e as vozes a ganharem

destaque. Para o final ficou reservado o lado mais dark deste álbum, com destaque para o “Realm of In-Organic Beings”, um bálsamo de melodia e voz a improvisar, fazendo lembrar o lendário “The Great Gig In The Sky”; também o fabuloso e viciante tema “Omega Point” a puxar os cordelinhos dalgumas tonalidades pinkfloydianas; e o épico momento final de 20 minutos, “Möbius Sleep” a fechar com o que de melhor Simon Collins e companhia tem para nos oferecer. Não é por acaso que este álbum foi o escolhido para destaque nesta edição. O que se ouve aqui é de uma qualidade fantástica, ou não estivessem à volta disto quase 3 anos. Ouvir este trabalho é uma experiência tão boa que tenho a certeza que no meio das vossas extensas escolhas irão, durante muito tempo, escolher o «Dimensionaut», sem pensar que o fulano que está a cantar é filho do Phil Collins – e tão bem que ele está! [9/10] Victor Hugo


Estação da… luz!


Kommander L., o líder desta banda lituana esclareceunos sobre como o black metal pode ser monótono e soturno, mas também apontar saídas ao ser humano. Basta seguirem a “conversa” abaixo registada, para compreender como se podem conciliar estes opostos.


Vocês são a segunda banda lituana que entrevisto. A outra foi Argharus, que também é uma banda da Inferna Profundus. Foi a minha primeira entrevista para a VERSUS Magazine. Kommander L.: Fico contente por saber disso! Por coincidência, Luctus fez um split com Argahrus e somos grandes amigos. Li, na informação disponível sobre Luctus, que tinham vivido em Itália. Essa estadia na Europa do Sul afetou a vossa música? Vivi na Itália durante mais de 15 anos. Foi aí que fiz os meus estudos, mas, enquanto aí estive, ia frequentemente à Lituânia. É evidente que a Itália – e Roma, em particular – influenciaram a minha forma de ver a música, mas não são propriamente uma inspiração. Por que regressaste à Lituânia? Porque tinha concluído os meus estudos e não pretendia viver no estrangeiro. Como é a cena metal no teu país? Não é muito grande, mas é muito ativa. Não há muitos projetos musicais, mas os que existem, na sua maioria, têm grande valor. A Lituânia não é um grande país, mas as pessoas gostam de ir a concertos e a festivais de metal, gastam dinheiro a apoiar as bandas, em suma apreciam a música extrema e divertem-se com ela. Por exemplo, no verão, há festivais de metal quase todos os fins-de-semana. Por que razão desististe de ter uma “one man band”? Não é uma escolha habitual. Agora a banda conta com mais pessoas, mas fui eu que compus toda a música e escrevi as letras para o álbum. Por isso, a mudança não é tão grande como pensas. A diferença é que posso fazer atuações ao vivo. Não posso tocar todos os instrumentos sozinho. Além disso, somos todos amigos e isso faz com que eu sinta que a banda agora está “completa”. O que significa Luctus? É uma palavra latina? Sim. Significa luto. Quem compõe a música e escreve as letras de Luctus? Como já disse, sou eu que componho toda a música e escrevo as letras. Prefiro esta forma de trabalhar, porque penso que, se fôssemos vários a fazê-lo, a banda perderia as suas características específicas. Acredito que haja bandas que prefiram outra forma de trabalhar e que também tenham bons resultados, mas eu só me entendo com este sistema. É evidente que, durante os ensaios, os restantes membros da banda podem dar o seu contributo para os arranjos finais. A que “estação” se refere o título do álbum? Esta “estação” não é uma entidade física, mas sim um

estado psicológico, uma concentração hermética de emoções, energias e visões. É uma espécie de estado de consciência a partir do qual começas a “viajar” em todas as direções ou apenas focas toda a tua energia em ti próprio. É uma palavra corriqueira, com um significado bem preciso, mas se a considerares de um ponto de vista fora do habitual, verificas que é suscetível de inúmeras interpretações. No álbum, há uma faixa intitulada “Monotonous black metal”, mas a vossa música é tudo menos monótona. Como a tornam tão viva? Esse título é uma resposta aos idiotas que não percebem nada de black metal. É frequente, depois dos concertos, haver sempre algum engraçadinho que comenta: “A vossa música não é má, mas… é tão monótona, repetitiva.” MERDA! Não é cha cha cha, é black metal – tem de ser monótono, repetitivo! Se quiserem ouvir algo mais “variado” ou “diferente”, não escolham black metal, vão antes ouvir bandas como Dream Theater ou tornem-se fãs de metalcore, mas não me chateiem. “Monotonous black metal” é uma metáfora. Nessa canção, associo o som da nossa música ao ruído produzido pelo comboio a circular nos carris – pesado, monótono, fatídico. O artwork é da vossa autoria? Gosto muito da foto que figura na capa do álbum. Foi feito por um amigo nosso. Explicamos-lhe as nossas ideias sobre o assunto e mais ou menos a forma como víamos a capa e ele fez um excelente trabalho, já que tanto a capa como o resto do artwork traduzem de forma perfeita a atmosfera do álbum. Que tal é trabalhar com a Inferna Profundus? Deve ser melhor que a vossa antiga editora, já que mudaram. Antes de mais, o chefe de Inferna Profundus Records é um grande amigo nosso, de longa data. Portanto, é fácil decidirmos quais são os nossos direitos e os nossos deveres. Quando estamos juntos, estamos sempre bemdispostos. Aliás, o trabalho de gravação, lançamento e promoção deste nosso álbum fala por si. A nossa editora anterior não era má, mas sentimos que precisávamos de algo diferente para este trabalho. Que países estão na vossa lista de concertos para a promoção de «Stotis»? Acabámos de regressar de uma digressão de duas semanas através da Europa. Tocámos na Polónia, na França, na Bélgica, na Holanda, na Alemanha, na Espanha e em Portugal. Foi demais! Agora temos planos para voltar à estrada no outono e continuar a promover o nosso material novo. Entrevista: CSA


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Cortar o mal pela raiz


Em poucas palavras, Joseph Deegan (aka Gast), o mentor de Slidhr, esclarece-nos sobre os propósitos do seu projeto musical e a natureza do seu álbum de estreia – «Deluge» –, que será lançado pela Debemur Morti. Este é o teu primeiro álbum e começas com… o dilúvio. Por que escolheste um tópico tão destrutivo? Deegan: Olha à tua volta. Não achas que o mundo está perdido? Os nossos dias estão contados e, francamente, não é de lamentar. Todos os dias sofremos às mãos de tiranos. Provavelmente, esta situação não vai mudar nos dias das nossas vidas. Mas gostaria que assim fosse. Prefiro morrer a viver como um escravo. Não te passou pela cabeça a ideia de cantar em gaélico irlandês? Não combinaria com a tua música obscura? Até era uma boa ideia, mas não sei falar essa língua. Há alguma relação entre a primeira faixa do álbum e o desenho que fizeste para a capa? Ou

Há alguma contradição entre uma capa tão simétrica e o tom geral da tua música? Não, não me parece. Fazes a arte gráfica de todos os trabalhos que lança? Vês-te como um artista gráfico? Fiz quase todo o trabalho gráfico dos projetos musicais em que me envolvi. É mais fácil para mim fazê-lo eu próprio do que recorrer a outros artistas. Tenho sempre receio de que não compreendam a minha ideia. De facto, sou um artista gráfico: trabalho como tatuador e há anos que me dedico à pintura. Há alguma relação entre a tua música e a cultura e mitologia tradicionais da Irlanda? Temos tendência para associar o povo irlandês a folclore muito melodioso.

capaz de responder à tua pergunta. Raramente dou concertos. Sentes-te ligado a bandas como Altar of Plagues? O teu black metal também tem partes atmosféricas. Conheço alguns dos elementos da banda, mas raramente ouço esse tipo de música. Eles fazem o que querem e eu respeito-os e desejolhes boa sorte. Onde conheceste o outro elemento da banda (dado que um é irlandês e o outro, islandês)? Wann, dos Rebirth of Nefast, apresentou-nos um ao outro e sugeriu que ele colaborasse no meu projeto musical. Fui eu que toquei as partes de bateria em lançamentos anteriores de Slidhr, mas Einarsson é muito superior a mim nesse domínio e o trabalho que faz com Chao é incrível. Ele era o ingredi-

“Olha à tua volta. (…) Os nossos dias estão contados e, francamente, não é de lamentar. […]” trata-se apenas de uma bela ilustração, que faz pensar em heráldica? Não há nenhuma relação específica entre o desenho e a primeira faixa, porque está relacionado com todo o álbum. As serpentes sempre foram associadas à destruição, por isso as escolhi para motivo principal desta capa. Não a associo à heráldica. Vejo-a apenas como uma imagem que desenhei e pintei para representar o conceito subjacente ao álbum.

A Irlanda tem uma história e uma mitologia muito interessantes, mas estas já não têm influência na minha música e nas minhas letras. Isso já foi feito por muitas bandas irlandesas e parece-me bastante embaraçoso.

Há muitas bandas de black metal na Irlanda? Como é ser um viciado em música extrema no teu país? Há muito tempo que não mantenho contactos com a cena underground, portanto não me sinto

ente que faltava a Slidhr.

Fazes concertos? Costumavas convidar músicos para esses eventos? Nunca fiz nenhum concerto com Slidhr. De facto, detesto tocar ao vivo. Acho que exige uma grande preparação para uma pequena contrapartida. Duvido que alguma vez faça algum concerto com Slidhr. Entrevista: CSA


s i a c i s u m s e õ x e l f re

dico

Aprender com Castela A propósito da recente publicação do meu livro, Breve História do Metal Português (a primeira obra sobre Metal redigida por um autor luso), tive oportunidade de conhecer alguns agentes do Underground espanhol e, por via deles, tomar conhecimento de eventos e projetos admiráveis que acentuam ainda mais o inenarrável fosso entre as cenas castelhana e portuguesa. O espírito de iniciativa e a ânsia de querer fazer, inovando, caracteriza desde sempre o Underground espanhol. A capacidade de ver mais além, recusando fazer continuamente mais do mesmo (organizar festivais e concertos, concertos e festivais, como em Portugal) enquanto se preenchem as verdadeiras lacunas eleva nuestros hermanos a um invejável grau de concretização. Querem saber mais, criar projetos diferentes, inovadores, que tragam valor efetivo ao Metal enquanto género que ultrapassa em muito a música, revelando-se aliás um amplo fenómeno cultural. É nesta perspetiva que os nossos vizinhos encaram o género de música que nos apaixona. Para quem não sabe (como eu não sabia), Historia del Heavy Metal: 25 Años de Hard Rock foi o primeiro livro sobre Metal assinado por um autor espanhol (neste caso Mariano Muniesa). Chegou às lojas há 20 anos. Entretanto, outros foram publicados: Por el Camino de Baldosas Amarillas (en la Tierra de Oz) - Conversaciones com Mägo de Oz (2004), Diccionario de Heavy Metal Latino: España y Latinoamérica (2005) e Espíritus Rebeldes – El Heavy Metal en España (2005), todos escritos por Fernando Galicia Poblet (à exceção do segundo,

redigido em parceria com outros 23 autores). Professor de guitarra no Real Conservatorio de Música de Madrid, musicólogo, investigador e jornalista, Poblet organizou, entre 2003 e 2008, as seis edições das jornadas “El Heavy Metal en España”, evento que debateu pormenorizadamente variadíssimos aspetos do Metal forjado no país vizinho. Por seu lado, Salva Rubio, vocalista dos The YTriple Corporation, guionista, escritor, conferencista e investigador publicou em 2011 o magnífico Metal Extremo - 30 Años de Oscuridad (1981-2011), livro de referência dedicado à cena metálica mundial (em 2012 Rubio promoveu a obra na XV edição do SWR – Barroselas Metalfest, em que atuou ainda com a sua banda). O multifacetado Rubio é igualmente orador nas Jornadas de Rock y Metal de la Universidad de Jaén, cuja segunda edição aconteceu em maio passado. As conferências abordaram temáticas tão diversas como a origem e a evolução do Doom Metal, a New Wave of British Heavy Metal (NWoBHM) em retrospetiva, o Death Metal, a história do pós-Rock ou o simbolismo e a estilística cinematográficos na música dos Opeth (as conferências podem ser ouvidas ou descarregadas em http://www.ivoox.com/conferencia-sobre-nwobhm-audios-mp3_rf_2107236_1.html#). A publicação das referidas obras, a par da organização destes eventos, constitui um passou de gigante na cena espanhola que, ao debater-se a si própria, evolui, cresce, aprende, autonomiza-se, torna-se mais visível no cenário mundial. Devemos aprender com nuestros hermanos a ser mais criativos, mais originais, a pensar fora do óbvio. Chegou a altura de pensarmos o Metal português, de nos autoavaliarmos, de elencarmos o que temos e o que nos falta, bem como o que será fundamental para o conseguirmos. Não é fazendo sempre mais do mesmo que atingiremos o objetivo. Por uma vez que seja façamos não apenas mais e melhor, mas diferente. Dico - livrobhmp@yahoo.com


Ouvir. Compreender. Conhecer. Tal como a chuva no inverno ou o sol no verão, a música na vida é uma certeza pré-fabricada por nós, humanos, como forma de nos refugiarmos enquanto procuramos o nosso verdadeiro poiso. É primeiro que tudo uma forma de expressão, um gritar de emoções, um explodir de sentimentos. A par com tudo isso é um porto de abrigo, um braço esticado com uma mão aberta, pronta para dar uma ajuda. Todos os dias nova música é escrita, composta, tocada, experimentada, avaliada. De uma série de acontecimentos dos quais o que mais se sobressai é sem dúvida o apreciar. Independentemente da forma com que se aprecia nova música, seja através de um concerto, de um ouvido atento por uma qualquer estação de rádio ou apenas pela amigável sugestão de alguém, quando o mundo para ao nosso redor e por alguns minutos apenas passamos a existir para aquilo, e durantes as poucas centenas de segundos somos invadidos com emoções, com sentimentos, e talvez, se o ambiente for a isso propício, ter as mesmas visões de quem a concebeu. Nota-se um partilhar de visões inocente, honesto, verdadeiro, livre e puro, que, de uma forma tão simples mas ao mesmo tempo tão complexa, interliga várias pessoas de diversas realidades, de diversos mundos, e de diferentes cantos do mundo. Através desta ligação demasiado forte para ser derrubada por fronteiras, dá-se mais uma espécie diferente de osmose, esta feita através da mistura de diferentes instrumentos, de diferentes culturas, e, mais uma vez, de difer-

entes pontos de vista e opiniões, estas últimas que não necessitam ser escritas, nem faladas, mas simplesmente sentidas, transmitidas de uma das maneiras mais primordiais da nossa espécie, a comunicação. Um simples ruído, um simples barulho, um toque, um olhar, não há o porquê de existir uma conexão obrigatoriamente pessoal, não há razão para haver esse tipo de comunicação tradicional direta. É bom falar presencialmente com os nossos semelhantes, olhar nos olhos, tocar nos ombros, sentir o corpo, afinal de contas quantos de nós não cumprimentamos diariamente aqueles com quem nos cruzamos através do ritual comum de apertos de mão e beijinhos? E talvez por isso, por não termos de nos expor presencialmente para transmitir as nossas ideias, e por sentir que tivemos uma das melhores conversas da nossa vida, com um alguém que nos compreende perfeitamente, nos sintamos tão bem de auscultadores nos ouvidos, a trautear algumas das nossas melodias mais queridas enquanto nos fechamos um pouco para o mundo e nos abrimos um pouco mais para nós mesmos. Daniel Guerreiro


Olá Filipe. Os Gates of Hell, depois de alguns EP’s lançaram o álbum de estreia em Abril. Podes contar-nos a história da banda e como surgiu o nome? Filupe Afonso: Olá Sérgio, antes de mais obrigado pelo convite para esta entrevista. Os Gates of Hell surgem de um projecto que eu e o Pedro (meu irmão) tínhamos. Gostávamos de formar uma banda onde tivéssemos a oportunidade de fazer o que mais gostamos e se possível de partilhar com o público. O Afonso junta-se a nós numa fase embrionária e mais dois elementos para ocupar os lugares que faltavam. Tendo o quinteto mais ou menos definido decidimos escolher um nome para pudermos designar o projecto e começar a divulgar o nome da banda, na altura no myspace. Tínhamos em mente algo com força e se identificasse connosco. Após algumas conversas, surge o nome de Gates of Hell, achamos imediatamente que tinha a ver com o tipo de música que pretendíamos fazer, e que tinha a força necessária para nos acompanhar por muito tempo. Quando iniciamos o projecto não sabíamos do potencial do mesmo e não tínhamos ideia do que poderia exigir a nível pessoal aos elementos integrantes. Com os objectivos a subir de fasquia o projecto pode exigir de nós mais do que aquilo que podemos dar. Essa característica no fundo talhou o quinteto com que chegamos a este objectivo chamado «Critical Obsession» e com ele acompanhado do facto de pudermos trabalhar com uma das editoras mais respeitadas a nível nacional. O título do álbum é «Critical Obsession». Como correu o processo de gravação? Quanto tempo é que andastes a prepará-lo/gravá-lo? Fazendo um paralelo com os EPs, quais as maiores semelhanças e diferenças que podemos encontrar? O nosso primeiro trabalho a sério em estúdio foi de facto o EP, «Shadows of the Dark Ages». Foi gravado em 2009 no Soundvision Studios, no mesmo local onde gravamos também este novo trabalho. De facto e como é normal numa primeira vez a inexperiência à data de gravação do EP foi notória e a falta de organização face à imaturidade fez com que o EP desse um trabalho em estúdio mais exaustivo e complicado. De qualquer forma penso que foi muito bom pois esse primeiro contacto com estúdio/produtor e afins nos deu a aprendizagem essencial para pudermos analisar e ver o que falhou para que neste novo trabalho tudo corresse

As Obsessivas P

Com um som forte, pesado e co acabam de tirar do forno o pri «Critical Obsession», afirmando-s orama musical português e quiç ida, uma das bandas que certam A VERSUS Magazine teve uma agradá Afonso, que nos falou do passado, pres dificuldades inerentes a manter uma b


Portas do Inferno

oeso, os portuenses Gates of Hell imeiro álbum que dá pelo nome se como um caso sério no pançá além-fronteiras. São, sem dúvmente irá dar que falar em 2013. ável conversa com o guitarrista, Filipe sente e futuro da banda, bem como das banda que se quer “internacionalizada”

melhor. Para o «Critical Obsession» pegamos nesse know-how e decidimos que teríamos de fazer mais e melhor, acima de tudo de tornar a exigência a nós próprios mais elevada, também para que pudéssemos ter um resultado final satisfatório aos nossos olhos. De facto nesse sentido a evolução foi notória, e foi tudo mais fluído, a pausa de concertos durante a preparação do álbum foi essencial para essa preparação, apesar de pontualmente estarmos no activo resolvemos que o objectivo principal seria a composição e organização de ideias para o álbum. Foi tudo planeado ao detalhe durante cerca de 6/7 meses, começamos com um conceito que foi explorado pela lírica e desenvolvida uma imagem para esse conceito, em paralelo íamos compondo as músicas tentando adequar o conceito e as letras na parte instrumental para que fosse tudo mais coeso. Até mesmo as faixas intermédias que constam no álbum foram planeadas antes da gravação, acima de tudo dar uma imagem da banda renovada e que nos definisse actualmente. Creio que o paralelismo entre o EP e o Álbum que existe é mesmo o facto de termos aproveitado a experiência do EP para fazer algo mais coeso e mais determinado que nos afirmasse enquanto banda. Este álbum foi de facto uma obsessão da banda? Como surgiu a ideia do nome e quais as principais temáticas abordadas ao longo das 11 músicas que o constituem? Efectivamente não lhe chamaria uma obsessão, ou pelo menos não com sentido negativo. Considero, porém que era um enorme desejo e que o tínhamos há bastante tempo em mente. De facto quando gravamos a EP ficamos com o gosto de continuar a fazer mais e melhor. O EP deu-nos a oportunidade de estarmos em diversos palcos nacionais e partilhar o espaço com grandes nomes da música nacional. Os concertos de promoção correram bastante bem e no espírito de fazer mais e melhor fomos começando a ter ideias para o álbum desde logo. Como te disse a temática foi escolhida praticamente em conjunto, e como tal pegamos no conceito escolhido e começamos a trabalhar. Tivemos sorte pois todos gostamos da mesma ideia principal e a partir daí foi um trabalho em conjunto para definir todos os pormenores. A temática é baseada num personagem fictício que está imbuído de problemas psicológicos e que através da terapia, neste caso a nossa terapia é a libertação através da nossa música vai conseguindo ultrapassar os seus medos, fobias e obsessões. No


final da história que coincide com o final do álbum, a personagem encontra a libertação desse estado e fica com a percepção da realidade, encarando-a de forma positiva. Digamos que é uma história que tentamos contar durante os 11 temas que termina da melhor maneira, portanto o nome apesar de ter uma conotação negativa o resultado final tem uma mensagem positiva. O Afonso Ribeiro nem sempre foi baterista começando pelo baixo. Porquê esta mudança? É uma história engraçada que por acaso acho que nunca a tinha contado em entrevista. Então, como te disse atrás, na altura em que decidimos começar o projecto, de forma ainda inexperiente e com o objectivo de tocar algo, eu e o Pedro resolvemos juntar elementos. De início éramos eu, o Pedro, nas guitarras, o nosso primeiro vocalista e baterista eram ainda inexperientes e cedo se revelaram incapazes para os objectivos a que nos propúnhamos, reparamos que para chegarmos a algum lado com o projecto teríamos de trabalhar todos ao mesmo ritmo e com a mesma exigência. O Afonso apareceu numa fase muito inicial do projecto, no entanto já tínhamos baterista. Mesmo assim e para sorte nossa resolveu ficar e experimentar o baixo que era exactamente o instrumento que faltava, e como ele sabia tocar guitarra minimamente e tinha um baixo resolveu experimentar. Foi a um ensaio a convite do Pedro

pois eram amigos e desde logo se identificou com o projecto. Mesmo não ocupando a posição que preferia gostava de ficar na banda como baixista. Digamos que não ficou ao cuidado do baixo muito tempo… mal o Afonso se sentou na bateria num intervalo de um ensaio meio a brincar notamos que este dava uma fluidez muito superior à banda e às músicas. Assim sendo foi apenas um espaço de tempo e resolvemos conversar com o antigo baterista e mostrar-lhe o motivo pelo qual o Afonso seria a escolha indicada para os Gates of Hell. Depois de uma conversa sincera o baterista percebeu e resolveu dar o lugar ao Afonso e todos ficamos amigos. Passados 5 anos o Afonso mostra de facto todos os dias que a escolha foi mais que acertada. Ainda bem que entrou na banda como baixista, pois caso contrário provavelmente não estaríamos aqui a dar esta entrevista, nem ele estaria connosco. Há alguns elementos já com alguma rodagem como por exemplo o Raça (também vocalista dos Revolution Within) e do Miguel Pinto (baixo e voz nos Echidna). De que forma é que estes elementos influenciaram a vossa música e como é feita a gestão de forma a não prejudicar nenhuma das bandas? A palavra que melhor define essa gestão é a responsabilidade e já te explico porquê. A entrada do Raça e do Miguel foi a meu ver e tenho a certeza que o


Pedro e Afonso concordam comigo fundamental na medida em que nos ajudaram a montar um puzzle que só foi possível montar com a ajuda e colaboração deles. Acho que não teríamos conseguido fazer o «Critical Obsession» sem este grupo e sem esta experiência que eles trouxeram. A entrada tanto de um como de outro foi uma lufada de ar fresco na postura da banda, tanto ao vivo como fora de palcos. Tornaram a banda mais responsável e mais únida em prol de um objectivo comum. Sabemos todos o que queremos e para onde pretendemos ir. A verdade é que se consegue perfeitamente conciliar, sem dúvida que temos de ter em conta mais que uma agenda, mas sempre conseguimos ter os nossos concertos e não prejudicar, nem os Revolution Within, nem os Echidna. Penso até ser um factor positivo o facto de por vezes os elementos tocarem com outras bandas, neste momento tanto o Pedro como eu e também o Afonso estamos apenas com GOH mas também já tivemos os nossos projectos paralelos e isso dá-nos ideias e ajuda a melhorar a nossa postura e atitude, principalmente ao vivo. Juntando a isso uma boa dose de compreensão nossa para com eles e eles para connosco é um cocktail

do mas ao mesmo tempo rápido e excitante.

que resulta em pleno e isso vê-se ao vivo na energia que tentamos transmitir.

bom tanto para nós, como para o público e até para a música nacional. Se isso tem a ver com o gosto musical das pessoas cá do “norte” então espero que continue, pois é isso que faz as bandas continuem a trabalhar em prol da qualidade da sua música.

Nos últimos tempos têm surgido um número crescente de bandas no norte, em especial na zona do Porto. Achas que foi pelo facto de se começar a olhar para “cima” com mais atenção que se deu o despoletar deste “boom”, ou é simplesmente o gosto musical das pessoas do norte que está a mudar? Sim, de facto cá no Porto e até mesmo mais a norte existem excelentes projectos que fazem com que se tenha de ter em conta o “norte” quando falamos de boas bandas de metal nacional. Penso que o facto de cidades como o Porto, Braga e Guimarães, entre outras, acolherem muita gente de diversos pontos do país faz com que haja uma mistura de gostos e de qualidade entre público e músicos. De qualquer forma penso que já no passado existiam boas bandas de metal nacional, se calhar não havia tanta possibilidade de divulgar os projectos como hoje há. É de facto de salutar que o Porto, por exemplo, actualmente tem uma série de eventos relacionados com o metal. Praticamente todas as semanas podemos assistir concertos de metal e estilos idênticos, isso é

“Gostamos de mostrar o que se passa no seio dos GOH e de que forma aqui chegamos para que possam compreender o que somos e de onde vimos.” Como classificas o som dos Gates of Hell? Quais as principais influências que vos ajudaram a criar a sonoridade que é audível neste disco? Aqui está uma pergunta difícil...(Risos) Eu, pessoalmente, gosto de descrever o nosso som como uma fusão de três estilos distintos, mas complementares. São estes o Thrash, o Hardcore e o Death. São sem dúvida os estilos que melhor descrevem a sonoridade que temos actualmente. E também são praticamente os estilos que os elementos ouvem com regularidade por isso é fácil de os encontrar na nossa música. Quando começamos a compor queríamos algo rápido e que fizesse mexer o público nos concertos. Também não queríamos fazer algo que fosse monótono e como gostamos de Groove decidimo-nos apoiar em bandas como HateSphere, Dew Scented e até mesmo Soilwork. Dos concertos que demos desde o lançamento penso que a receita não falhou ahahahah Somos adeptos de música rápida e com algum poder nas cordas e bateria e gostamos de uma voz grave, daí gostarmos das 7 cordas nas guitarras, 5 no baixo. O resultado final foi como queríamos, algo profun-

Em teu entender, quais são as grandes dificuldades para uma banda portuguesa singrar no mercado nacional e posteriormente internacional? Os Gates of Hell sentem que há mesmo uma maior dificuldade acrescida quando a banda não é de Lisboa? Penso que as dificuldades de uma banda portuguesa singrar no mercado nacional são as mesmas de outra banda em qualquer país. A questão económica do mundo actual é péssima e sabemos que a arte é das primeiras áreas a ser cilindrada quando isso acontece. Acima de tudo é preciso saber que o sucesso não aparece imediatamente...não estamos numa época em que o sucesso é facilitado. Tendo consciência que a arte é consumida não para sobreviver mas para viver melhor é sempre alvo da incapacidade monetária de muitas pessoas...e mesmo para os elementos das bandas é complicado pois é complicado aguentar um projecto musical neste país devido ao investimento que todo o trabalho


“A entrada do Raça e do Miguel (…) foi fundamental na medida em que nos ajudaram a montar um puzzle (…)” discográfico acarreta. De qualquer forma penso que acima de qualquer coisa é necessário ter espírito de sacrifício e saber que lutando se chega sempre mais longe. O mercado nacional tem uma grande oferta e é preciso fazer chegar a música que se toca a todos os ouvintes para que estes gostem ou não gostem mas pelo menos tenham conhecimento. Se a música nacional tem uma elevada oferta então no mercado internacional isso sobe para outra escala, a dificuldade de imposição das bandas nacionais lá fora é sempre difícil. Muitas vezes para lá chegar é necessário algum investimento em promotores estrangeiros que ajudem a isso, habitualmente quando as bandas portuguesas conseguem singrar lá fora já têm muitos anos de carreira cá em Portugal e depois disso acontecer é sempre a subir. Os portugueses sabem o que querem e sabem bem trabalhar. Basta ver o sucesso de bandas como Moonspell lá fora e até mesmo os nossos mais chegados Switchtense que têm feito das deles na Alemanha e Espanha. Não acredito, porém que seja mais ou menos difícil pelo facto de serem bandas de Lisboa ou do Porto ou de qualquer cidade, penso que nesse aspecto estamos todos no mesmo barco e os remos são sem dúvida do mesmo tamanho. Depois há quem tenha mais força e há quem tenha menos (Risos). Quanto a música é boa não importa de onde vem para sim para onde vai (Risos). A Rastilho Records tem sido uma das produtoras que mais aposta no metal nacional, como surgiu o contacto com eles? Foi um contacto quase por empatia mútua. Para nós sempre foi um grande objectivo trabalhar com a Rastilho para este primeiro álbum. Desde que a editora começou a apostar nas bandas de metal nacional, que vimos que era a escolha acertada. É uma editora com nome, com postura e que trabalha lado a lado com as bandas. Pensamos na altura “Era isso que precisávamos”, e que precisam a maior parte das bandas com qualidade do nosso país, alguém que acredite nelas e no seu valor e que sobretudo nos proporcionasse a divulgação massiva do projecto. Claro que já tínhamos falado com a Rastilho antes da entrada em estúdio até mesmo de forma a perceber se haveria abertura para trabalharem connosco. Como houve interesse na conversa, quando tivemos o trabalho finalizado resolvemos reunir e perceber se a Rastilho estaria interessada em trabalhar connosco de facto. Fomos abordados por mais três

editoras quando andávamos ainda em estúdio, mas deixamos sempre bem claro que a primeira escolha seria sempre a Rastilho, e assim foi. Estamos extremamente contentes com o resultado e se tivéssemos de escolher novamente seria igual. Como está a vossa agenda a nível de espetáculos? Há alguma visita ao estrangeiro planeada? Actualmente cá no país temos já diversos concertos marcados, confirmados estão o de dia 22 de Junho no Spot Club no Porto para o festival Infernal Path III com Brutal Brain Damage, Terror Empire e Waste, no dia 14 de Setembro vamos estar no Blindagem Metal Fest com Mata Ratos, Dementia 13 e Monolyth. Ainda cá, no dia 28 de Setembro vamos passar por Viana do Castelo, entre outros que vão aparecendo no nosso facebook mal estejam confirmados e pormenores acertados. Temos também mais duas datas para o Sul nas quais estamos a trabalhar os pormenores. E logicamente que o nosso objectivo é levar este álbum a visitar o estrangeiro, tanto a Espanha onde já temos alguns contactos feitos, como no Reino Unido. Já temos negociações para que isso aconteça mais para o final do ano. Certamente que este «Critical Obsession» é o primeiro de muitos álbuns de qualidade que os Gates of Hell nos vão brindar. Estás à vontade para uma última palavra para os leitores da VERSUS Magazine. Antes de mais queria agradecer o vosso convite para esta entrevista, principalmente pela oportunidade de falar sobre nós aos leitores da VERSUS Magazine. Gostamos de mostrar o que se passa no seio dos GOH e de que forma aqui chegamos para que possam compreender o que somos e de onde vimos. Esperando assim puder motivar e incentivar as bandas e os jovens de hoje façam o mesmo que nós fizemos e comecem novos projectos pois é sempre necessário aparecerem novas bandas e nova música. De resto queria deixar um convite para aparecerem nos nossos concertos e virem ter connosco, para acompanharem o que vamos andando a fazer basta passar no nosso facebook pois temos as novidades sempre actualizadas. Abraço a todos. GOH Entrevista: Sérgio Pires


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Espirito do Rock e do Fogo

Foi com enorme prazer que descobri os Orn Spirit num concerto, e que por isso foi uma surpresa já que desconhecia por completo a música deles. Descobri-los num palco foi uma mais-valia, pois permitiu que eu absorvesse toda a musicalidade orgânica, e permitiu sentir de perto a essência que a banda pretende transmitir. Numa interessante união do Folk com o Rock, os Orn Spirit moldam a sua arte com contornos harmoniosos. Gorian permitiu que a VERSUS Magazine soubesse mais sobre essa música dos Sarithin.


Tive o prazer de vos ver no Mercado Negro, Aveiro, no mês passado e, ao mesmo tempo, tive o prazer de vos descobrir. Para quem não vos conhece, e para os que vos querem descobrir, como é que apresentarias Orn Spirit? Como e quando se deu o vosso início? Gorian: Apresentaria Orn Spirit como uma banda sonora de uma história perdida no tempo. É, sem dúvida, um projecto conceptual que vem de um outro maior – Galadhrimbe, O Povo das Árvores. Através deste começámos a contar histórias em diversos eventos, principalmente em caminhadas nocturnas pela Serra de Sintra e, aos poucos, as histórias cresceram a tal ponto que começaram a fundir-se connosco e com as pessoas que nos ouviam. Devido ao nosso passado musical o próximo passo foi recriar essas histórias através da música. Em 2010 tivemos uma proposta para tocar com esse conceito e, sem repertório montado, pegámos em algumas bandas folk e alguns instrumentos tradicionais para que, sem experiência no folk, reinterpretássemos alguns temas, improvisando mais de 50% do tempo, uma vez que não chegava para 1.30h de espectáculo (que era o pretendido por quem nos contratou). O que teve de diferente foi o facto de não termos os instrumentos “correctos” para essas versões, tornando-se ao mesmo tempo original como por exemplo tocar música da Irlanda ou do norte da Europa com um Saz (instrumento tradicional da Turquia) utilizando quartos de tom nesses arranjos. Ao início eramos só 2 (não havia

baixo nem bateria) e isto prolongou-se durante 1 ano e meio, onde cada concerto era completamente diferente do anterior, isto porque estávamos a compor constantemente novos temas, a reinterpretar os antigos, começando também com alguns originais. Em Setembro de 2011 é a data que eu considero mesmo o início de Orn Spirit, já com os 3 elementos base e com as ideias mais definidas quanto ao tipo de som, composição e estrutura musical, embora continuando a saga dos concertos sempre em constante actualização ou composição. Vocês tiveram no vosso passado outras experiências com a música? Quer dizer, algo significativo para além de terem aprendido a tocar os vossos instrumentos. Todos temos um passado musical embora nunca tenha sido a nossa principal actividade. Desde as famosas bandas de garagem rock, grunge, alternativo e afins nos anos 90 até alguma formação, as experiências de cada um são diferentes. Vocês unem muito bem o rock progressivo com o


“Temos pessoas do mundo inteiro a trabalhar connosco e muitas delas ligadas à música, concretamente ao rock progressivo, que nos deram opiniões bastante positivas” folk. Sei que as vossas referências do rock estão no 70’s. Mas, gostaria de saber as vossas referências do folk. Estão nos anos 70 mas também em bandas como Anglagard, Amogh Symphony, Sigur Rós, Opeth, Tool, Meshuggah … enfim, a lista é interminável. No folk destaco em primeiro lugar os Hedningarna, uma banda sueca de folk que pegaram na tradição dos Sami e recriaram algumas músicas assim como originais, sempre com o seu feeling presente, efeitos e distorção em sanfonas, bandolins e alaúdes. E continuam aí a mostrar como se faz desde os anos 80. Não sei se há outros com a versatilidade, criatividade e mistura da tecnologia com o ambiente folk. Para além destes os Kila da Irlanda, Ross Daily, L’ham de Foc, Valravn, Corvus Corax e os Sabir, estes últimos liderados por um dos meus mentores e uma lenda viva: Efrén Lopez. Focando a vossa banda. Tenho certeza que nem só a música é plena de significado, mas também o nome, Orn Spirit, quer dizer-nos alguma coisa. Quando li sobre vocês, pareceu que estava a ler uma cosmogonia. Orn Spirit significa literalmente “O Espírito das Árvores” e é interessante que faças essa observação porque estamos a escrever, dentro das nossas condicionantes, uma história complexa, a tal história onde nos inspiramos para criar as nossas músicas e aí estamos praticamente a criar um mundo de raiz com os seus povos, mitologia e origem de cada um. Mesmo a linguagem que evocam parece muito remota, ancestral. Que linguagem é essa? Sem querer passar por geeks do Senhor dos Anéis, a língua que mais se aproximava do espírito que queríamos transmitir foi o que encontrámos num dos muitos tipos de élfico que por aí existem, alguns criados pelo próprio Tolkien e outros por fãs. Quisemos misturar a espiritualidade desses seres com o espírito guerreiro e sem dúvida que tornou o projecto ainda mais único. Queremos passar pelos diversos dialectos em diferentes álbuns de forma a enriquecer os mesmos. É um grande desafio fazer música assim, com métricas de palavras que nem sequer conhecemos, já para não falar de decorar as letras!

Esta questão poderá parecer cliché, mas poderá ter algum sentido. Sendo vocês de Sintra, o local, o espaço e a mística que emana dele poderá ter sido fonte de inspiração para a vossa veia folk? Talvez. Nunca pensei nisso em relação ao folk mas sem dúvida à parte mais espiritual ou consciencialização da natureza do próprio projecto. De qualquer maneira acaba por estar tudo interligado: não consegues ir mais longe às tradições antigas baseadas na natureza sem estares a ser constantemente influenciado pelo seu folclore, sendo este música como os outros aspectos da sua cultura específica. Já lançaram o vosso primeiro EP, «Tel Lindale En’ Sarithin, Vol. 1». Como têm sido as reacções? Têm já propostas para o futuro? Sabemos como o nosso som é específico e, assim sendo, é sempre com algum receio que mostro o cd a alguém mas, por incrível que pareça, não conheci praticamente ninguém que tenha dito não gostar (ou se calhar ninguém tem coragem para dizer). Temos pessoas do mundo inteiro a trabalhar connosco e muitas delas ligadas à música e, concretamente, ao rock progressivo que também nos deram opiniões bastante positivas até agora. Sendo o Volume 1 como o nome indica, haverá o segundo ainda este ano, assim o esperamos. A ideia foi dividir as primeiras músicas com uma espécie de introdução, onde as músicas referem a tal cosmogonia e mitologia da tribo dos Sarithin e, o Volume 2 mais de pequenos episódios das primeiras batalhas, sendo sem dúvida complementado com músicas com passagens mais bruscas, ritmos mais marcados e estruturas um pouco mais complexas. Para o futuro temos também em composição um álbum de 4 músicas, uma visão muito própria dos 4 elementos pelos Orn Spirit, que estão dentro do estilo da Dança do Fogo, com uma influência mais tribal e não tão rock, embora o espírito esteja sempre presente. Para além deste álbum paralelo estamos também em composição de uma história curta que será acompanhada com a respectiva banda sonora. A história é apenas capítulo escrito com mais detalhe da história principal. Através da nossa editora (Eka Unity), temos tido todo o espaço e tempo necessário para estas andanças e, sabendo que é um mercado muito específico,


as nossas principais propostas serão para fora do país, que ainda este ano é possível que aconteça. Como foi trabalhar neste EP? Gravámos no estúdio do Fernando Matias - Pentagon Audio Manufacturers em Lisboa e, na verdade, foi tudo bastante simples no sentido em que estivemos mesmo muito à vontade no processo criativo e de tempo. Toda a ajuda do Fernando no que se refere à organização principalmente das estruturas mais complexas das músicas assim como da sua experiência foi algo mesmo importante de modo a não ficarmos presos aos metrónomos quando gravávamos, por exemplo, um riff em que tinha um compasso em 7/4 ou 8/8 alternadamente. A parte agridoce foi que queríamos ter gravado o vol. 2 (mais 3 temas) mas precisávamos de os amadurecer um pouco mais colocando outros convidados. Ao vivo tocamos os temas ligeiramente diferente mas queremos que em estúdio sejam mais completos de forma a contar, de facto, a tal história que referi anteriormente. Há pouco disseste que têm muitas pessoas, de todo o mundo, a trabalhar convosco. Para este EP houve participações exteriores? Temos alguns músicos convidados que foram super dedicados e mesmo cinco estrelas a trabalhar connosco. De modo a mostrar o que nós somos e de toda a fusão que de algum modo paira no nosso som, quisemos mostrar que é possível juntar músicos de áreas diferentes. No fundo Orn Spirit é isto mesmo. Assim, tivemos na Viola da Gama, Gonçalo do Carmo, que é para além de um grande amigo, um músico e maestro, dedicado especialmente a música antiga. Tem uma banda de música medieval - Strella do Dia - e é, neste estilo, a banda mais requisitada no estrangeiro neste momento. Para além dele, contamos com a participação do Miguel Kaveirinha na guitarra eléctrica, a única em todo o EP. Quando ele entra há um salto quântico de 500 anos na música uma vez que misturamos a Viola da Gama e a guitarra eléctrica (instrumentos que têm estes anos de diferença na história da música). É conhecido pela

sua banda de Folk Metal - Gwydion - há mais de 16 anos a tocar por essa europa. Por fim, Rita Reis, que fez uma voz simplesmente espectacular no início da primeira música. A Rita é conhecida por ter cantado em bandas mais pop e, neste momento, é a vocalista principal dos Mesa. Como vês misturamos músicos de lugares tão distantes que, numa primeira instância, não seriam 100% compatíveis mas graças à sua vontade de nos ajudar foi mais do que possível, diria mesmo fácil e natural. Nos próximos 2 trabalhos queremos incluir muitos mais músicos, principalmente estrangeiros, levando também não só músicos de estilos diferentes mas também de culturas diversas. Entretanto têm dado concertos para promover a música dos Sarithin. Como têm sido os vossos concertos? Algum momento que queiras destacar? Os concertos têm sido bastante positivos e acho que surpreendem a quem nos está a ouvir porque simplesmente não fazem ideia e, em muitos casos, partem do princípio que somos uma banda folk devido aos instrumentos que vêem em palco, antes dos concertos. Mas a energia e o espírito progressivo do rock surpreende a maior parte das pessoas. Destaco alguns concertos como no Teatro Casa da Comédia (Lisboa), onde tocámos 3horas e nem nós nem o público parecia estar cansado ou com vontade de acabar, na Quinta da Regaleira, em Sintra, onde o cenário envolvente se adequou a 100% com o nosso conceito e pelo facto de estarmos mesmo em casa. Finalmente, no Mercado Negro em Aveiro por termos sido mesmo bem recebidos no local que até hoje foi o mais longe de casa a actuarmos. Destaco por último uma frase que nos acompanha há mais de três anos, dita por diversas vezes em concertos diferentes por pessoas diferentes: “a vossa música causa-me arritmias! Entrevista: Victor Hugo


nesta edição, para além do álbum do mês, distinguimos três lançamentos instrumentais notáveis que partilham um denominador comum: o virtuosismo. AbnormAl ThoughT pATTerns «Manipulation Under Anesthesia» (Lifeforce Records) Os ATP são um trio oriundo de S. Francisco e são os “benjamins” desta grupeta. MUA é somente o seu segundo álbum. O núcleo duro é formado pelos gémeos Tipton (Jason - guitarra e Troy - baixo). Na realidade, o trabalho do mano Jasun sobressai ao de Troy, em grande parte devido à operação a que foi sujeito (Ler mais na entrevista). A bateria de Mike Guy complementa na perfeição este trio. A música é toda ela... matemática, funde riffs bem pesados com tempos/compassos musicais complexos e muitos solos. De facto, o ouvinte mais incauto poderá fartar-se rapidamente e não dar o devido valor a esta obra. Portanto, exige-se um ouvido minimamente educado para digerir toda esta complexidade - muitos solos: tapping e shred com fartura. Este facto não belisca minimamente a qualidade, técnica, composição (mais informações na entrevista) e virtuosidade de «Manipulation Under Anesthesia» [9/10]Eduardo Ramalhadeiro

nIACIn «Krush» (Prosthetic Records) Outro trio, neste nosso trio musical são os NIACIN. Se os ATP são constituídos por guitarra, baixo e bateria, os Niacin são... diferentes. Três “veteranos”: Billy Sheehan (baixo), John Novello (teclas) e Dennis Chambers (bateria). Os músicos são excecionais: Sheehan é (talvez) mais conhecido por fazer parte dos Mr. Big - juntamente com Paul Gilbert - e é um exímio baixista, John Novello é mestre na arte das teclas e particularmente do Hammond e Dennis Chambers magnífico jazzista que tem de tão discreto como de tecnicista. A discografia de todos eles é tão vasta que não me atreverei a citar um álbum/artista sequer. A música ouve-se com uma fluidez impressionante, fantástica mistura de rock, funk e jazz. O baixo de Sheehan ligeiramente distorcido está (quase) em constante solo com o Hammond de Novello. Dennis Chambers parece discreto mas a sua técnica e solos são arrebatadores, ajudando a criar os ritmos funk e jazz enriquecendo ainda mais o ambiente e estado de espirito de «Krush» [9.5/10]Eduardo Ramalha-

deiro

sCAle The summIT «The Migration» (Prosthetic Records) Simplesmente, porque sim, sem nenhuma razão aparente, os Scale The Summit são os que me dão mais prazer ouvir. Este quarteto de nova Jérsia tem uma média de idade de 22 anos. E já vão no seu quarto registo! Das três bandas revistas nesta secção, são os mais “normais” - uma bateria, duas guitarras e baixo. Não temos um festival de shred nem compassos complexos como os ATP, nem a mestria jazzística dos Niacin mas temos na mesma quatro músicos virtuosos (com formação musical). A sonoridade é... é... imaginem um bolo com várias camadas, em cada trinca dada é possível sentir todos os sabores, exatamente como tem de ser. Não há ingredientes a mais, tudo nas proporções corretas. Os StS são assim: não há instrumentos que se sobreponham ou destaquem. Disfrutamos de todas as “camadas”, “sabores” e sentidos que a música nos oferece. Por exemplo, é o caso da intro de “Atlas Novus”, magnífico tapping, a estrondosa parte final de “Narrow Silent” a partir dos 2m39 ou “Oracle”, 1m41 só com harmónicos. Mas há muito mais para descobrir. A esta distância já estarei a ver o meu álbum do ano. Será? [10/10]Eduardo Ramalhadeiro


ACOLYTE «Alta» (Mordgrimm) Seria de estranhar se uma editora promovesse uma das suas bandas falando mal delas, e afirmando que nada de novo elas trazem no seu mais recente álbum, muito menos sendo álbum de estreia. A verdade é que todas falam precisamente o mesmo das suas bandas. Parece normal, certo? É por isso que aqui esta-

ANGELS OF BABYLON «Thundergod» (Scarlet Records) Angels of Babylon é a banda do ex-baterista dos Manowar, Kenny “Rhino” Earl, e tem em «Thundergod» o álbum da confirmação após o excelente «Kingdom of Evil» de 2010. O género preconizado pelos AoB é puro Heavy True Metal, repleto de partes épicas, melódicas e bastante energia. É um álbum à antiga, composto e gravado na

mos, para separar o trigo do joio e tentar perceber porque é que os Acolyte, neste caso, podem ser um brilho a ter em conta na cena do Black Metal inglês e arredores. Antes de mais há que dizer que o Black Metal é apenas a massa do bolo, por assim dizer, já que os Acolyte moldamse com outras texturas, como o Rock Progressivo e mesmo algumas pitadas de Jazz a darem o ar de sua graça nalguns momentos de improviso. Ouvindo logo o segundo tema, “Charybdis”, após uma curta intro, percebemos rapidamente onde as afirmações da editora queriam chegar. Facilmente ficamos pregados às colunas face a tamanha dose maciça de som – som com qualidade, diga-se sem reservas. O que se ouve não é um Black Metal comum. É um som sombrio, bem esgalhado, com ritmos e dinâmica bem apetitosos, com a costela progressiva a envolver

a negra mancha sonora, e com o speed do Rock a tomar conta da atitude e do feeling. “Leng”, um dos temas mais longos, é sinónimo mesmo disso. E até a voz, que tanto faz lembrar uns rasgados Carcass como uns cavernosos Opeth, é dinâmica e vai alterando de tonalidades ao longo das músicas. Destaque também para o tema “Vultures”, talvez um dos momentos mais esgalhados do álbum com direito a um simples mas arrepiante solo de guitarra no final que, como costumo dizer, faz toda a diferença. «Alta» deverá ter sido dos poucos álbuns cujos créditos da editora sou levado a concordar. O álbum é simplesmente bom, e recomenda-se sem reservas a apreciadores do género. Decerto que saberão de que luz é feita este material e que luzirá durante muito tempo. [9/10] Victor Hugo

forma mais pura possível. Assim, não é de estranhar os riff bombásticos, acompanhados de grandes momentos melódicos e solos acutilantes. Não quero estar a repetir-me, mas tal como disse o Ross The Boss, este é o som que os Manowar deveriam fazer hoje. Infelizmente para nós, a inspiração está noutro lugar, primordialmente aqui, nos Angel of Babylon. O álbum começa a abrir com uma malha rápida, dedicada ao Scott Columbus «Thundergod», seguido pelo melhor momento do álbum, um hino de todo o tamanho, épico, monumental, extremamente bem conseguido, “Sondrio”. Se mais não houvesse neste álbum - que o há -, só esta música faria todas as despesas do álbum. Mas que música: desde a entrada com a bateria, seguido pelo solo de guitarra e seguido pela emoção causada pelo tempo e composição utilizado, atingindo

o expoente máximo no refrão. O restante álbum dá-nos um excelente complemento a este hino com cada música a pautarse pela sua própria textura e momentum musical, onde até uma balada épica temos com “Turning to stone”, terminando com mais uma música avassaladora e bem rápida “Bullet”. «Thundergod» é um álbum excelente e homogéneo, repleto de grandes riffs, solos magníficos e uma bateria que se destaca, acompanhado por uma melodia que enaltece e enriquece a música dos Angels of Babylon. Este é um álbum inspirado no de Heavy Metal que todos queremos descobrir. O ponto mais desconfortante dos AoB é o vocalista, que infelizmente, não é nenhum Eric Adams, e não consegue acompanhar claramente o grande nível de tudo o resto em «Thundergod». [9.5/10] Carlos Filipe


ASOFY «Percezione» (Avantgarde Music) Gritos para quê? Quando sentimos que nos perdemos em algo, tornamo-nos agressivos, fora-de-nós-próprios, desesperamos em reação ao descontrolo e ao desconhecido. Este é o sentimento que me invadiu ao ouvir este «Percezione» dos italianos Asofy. Trata-se de um dueto milanês, composto por Tryfar, que criou o projecto em 2000 e trata da parte instrumental, acompanhado por Empio desde 2009 para tratar das vozes e letras. Quatro faixas com os títulos “Luminosidade”, “Saturação”, “Sombra e “Escuridão”, dão o mote para o que nos espera deste trabalho: um arrastado e escuro black metal atmosférico. As composições não são lúgubres na sua essência mas denota-se uma marcada carga emocional e contemplativa nos trechos expostos, onde os pontos repetidos nos entram na pele e na cabeça, controlando o nosso estado de espírito. Não diria que é um trabalho fácil de ouvir, possivelmente uma das mais difíceis avaliações que tive de considerar. A forma como ouvimos música define-nos, de certa forma. Todo o tipo de ouvintes e amantes de música relacionam-se com a música da forma como a sentem. A música que Asofy nos entrega é introvertida, complexa e fria num primeiro contacto. Como se de uma pessoa se tratasse. A nós de a deixar mostrar quem é e dar uma hipótese de nos conquistar. Nem tudo o que hoje adoramos foi agradável ao primeiro contacto. [7/10] Adriano Godinho ATROCITY «Okkult» (Napalm Records) Com o álbum «Okkult», os veteranos Atrocity pretendem dar o pontapé de saída para uma trilogia regada de peso, brutalidade e conteúdo lírico esteticamente carregado de obscuridade. Nota-se logo nas guitarras a marca distintiva com uma sonoridade que não ecoa frequentemente pela atualidade metaleira - prometo que na próxima entrevista tentarei obter a informação sobre qual o equipamento usado pelos Atrocity neste álbum em particular e no resto da trilogia. Quem já leu a entrevista da presente edição percebeu o substrato que serviu de base à produção lírica e portanto basta remeter o leitor para perceber o enquadramento extremo deste disco. Para acompanhar este conteúdo lírico achei que a sonoridade que percorre cada batimento cardíaco associado a este disco está carregada do mesmo espírito de brutalidade e peso; mas isso só não chega. Como é lógico a direção dada às composições conta e muito. Em geral há temas que são capazes de agarrar o ouvinte e que têm um cunho propício ao memorizar e claramente identificar o álbum como sendo «Okkult» e não apenas mais um conjunto de faixas que foram atiradas para o saco. No entanto há pontos que considero menos conseguidos, nomeadamente a introdução de segmentos mais ‘alegro’ ou rock em alguns temas (p.ex. “Haunted by demons”), quando o que se pedia era o reforço da estética mais negra e atmosferas mais tenebrosas. Isto é obviamente uma perspetiva individual e poderá haver quem ache que esta é a mistura ideal no contexto global do disco. Tendo em conta estas observações sugiro a audição do tema “March of the undying”, que penso ser um dos melhores temas do álbum. [8.5/10] Sérgio Teixeira BLACK OATH «Ov Qlipoth and Darkness» (I Hate) CAtiram-te para a areia movediça, tentas libertar-te, fazer o possível para ter mais algum tempo de modo a vingares-te de quem desejou a tua morte. Enquanto lá estás, ouves alguém rir como se estivesse a desbastar ferrugem com os dentes e, ao mesmo tempo, um outro ser chamar por ti. Estarás perante um demónio e um anjo? Não importa, desejas apenas sair de onde estás, mas… já lá estás há uma eternidade. Estarás morto? Talvez não, apenas estás a ouvir o segundo álbum dos Black Oath (o primeiro tendo o título de «The Third Aeon»), uma banda italiana de Doom-Metal que possui, como inspiração, o horror, a doença e a dor que os rodeia diariamente. Ao nível conceptual, as letras referem-se à pungente escuridão, superstição e feitiçaria enquanto a música recai no Doom-Metal mais clássico, tão prenhe de majestosidade quanto Candlemass, um género que sempre me faz lembrar os grandiosos filmes com Vincent Price na era Hammer. Conta a história que Black Oath demorou uma considerável quantidade de tempo para com-


por e gravar as oito músicas deste novo álbum, mas a opinião sobre a qualidade recai sempre sobre quem as ouve e sente. Sendo um grande fã deste género, posso dizer que não mudaram a minha vida, mas é certo que este álbum é a grande prova de uma banda que sabe como criar algo que se entranha na alma e faz-nos acreditar que não interessa a tempestade, o obstáculo ou a ruína, mas a coragem. Para quem ouve tão soberba obra, a coragem para carregar no stop. [8.5/10] Jorge Ribeiro de Castro

DARK TRANQUILLITY «Construct» (Century Media) Sempre que os Dark Tranquillity lançam algo de novo é um acontecimento por muitos esperado – eu inclusive. Os suecos são uma referência neste género de metal – o death metal melódico. Além do mais, são uma das bandas mais coerentes que conheço. Ao contrário dos seus “irmãos” In Flames que não são consensuais, os Dark Tranquillity souberam sempre mudar q.b., mais ou menos melódi-

DEATH SS «Ressurection» (Scarlet Records) Os veteranos italianos do Horror Metal estão de volta com um álbum que irá fazer jus ao seu título: «Ressurection» - Ressureição. Projecto de longa data -

cos ou mais ou menos pesados, mantiveram sempre a sua personalidade musical, não se descaracterizando em demasia. O que quer isto dizer? Bem, quer dizer que o estilo musical tem-se mantido o mesmo ao longo destes últimos anos. Podemos fazer um simples exercício e misturar todas as músicas que mesmo assim, obteríamos álbuns bastante homogéneos. Os fãs mais antigos que seguem, com regularidade, a vida e música dos Dark Tranquillity sabem perfeitamente que estes são pouco avessos a mudanças. Sendo assim, isto é bom ou mau? Bem, depende... Isto de mudar ou não mudar acaba por ser, quase sempre, “uma faca de dois gumes”: Por exemplo, no caso dos já citados In Flames, as opiniões que tenho lido não são favoráveis, havendo mais gente a criticar do que a gostar da mudança. Existem outras bandas que são criticadas por lançarem sempre álbuns “iguais”, vezes sem con-

ta. Estou-me a lembrar dos AC/ DC, por exemplo, que nem a estrutura dos temas é passível de ser alterada. (Não deixo de achar que têm um lugar importantíssimo na história do rock). Sendo assim, em que ponto está «Construct»? Bem, para já mantém o que tão bem caracterizou (e caracteriza) os Dark Tranquillity ao longo destes anos: Riffs pesados e melódicos, a voz agressiva mas melódica, por vezes mais calma (este foi o único aspeto que achei diferente, o uso de mais voz “limpa”) e melancólica. Tudo o que esperamos deles está em «Construct»: A melancolia de “For broken words”, a pseudo-balada “Uniformity” com a suavidade da voz “limpa”, a melodia de “The silence in between” ou os riffs thrash de “Apathetic” e “Ending times”. No fundo o prazer de ouvir «Construct» mantém-se igual comparado com qualquer outro trabalho dos Dark Tranquillity. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

1977 - do senhor Steve Sylvester, esta é talvez uma das bandas mais subestimadas do mundo do Metal. Não quero com isto dizer que os anteriores álbuns dos Death SS são assim tão consensuais na qualidade e interesse, mas são no mínimo suficientemente bons para que esta banda tivesse o seu lugar de destaque merecido. Agora sob a efígie da Scarlet Records, os Death SS têm em «Ressurection» o seu melhor álbum até à data. Está cá tudo o que faz o metal: Riffs poderosos e rápidos, solos cirúrgicos, grandes momentos góticos e horríficos, e, acima de tudo, grandes músicas, mostrando um Steve Sylvester em grande forma – já que ele é a banda e a banda é ele. Este é à partida

um daqueles álbuns que tem os hinos de uma banda, e, aqui estes são quase todas as músicas, desde o rapidíssimo “Bad luck” e pesadíssimo “The darkest night” até ao “The devil’s graal”, passando pela música mais gótica “Star in sight” ou “Santa muerta”, a vertente mais alternativa, sem esquecer aquela que mais me seduziu: “Dionysus”, onde a colagem artística à banda gótica Italiana Goblin está bem patente, e ainda bem. Mas que excelente música! «Ressurection» é um álbum complexo e musicalmente bastante eclético mas que consegue encaixar as diferentes peças musicais na perfeição, proporcionando-nos um magnífico mosaico musical. [9.5/10] Carlos Filipe


EMPYRIOS «Zion» (Scarlet Records) A parte mais complicada quando nos mantemos actualizados ou apenas informados do que se faz no mundo da música, é mesmo conseguir manter alguma metodologia nas audições para não menosprezar ou não conseguir dar o devido valor às bandas ou álbuns. Este trabalho dos Empyrios teve um percurso atípico aqui na minha organização e ficou um pouco de lado, à espera da sua oportunidade de chamar a atenção. Isto fez-me pensar no sentimento que um músico tem quando pertence a uma banda e grava um trabalho: sabe que há muitos potenciais ouvintes mas também há muitas outras bandas e gravações. Enquanto escrevi outras reviews fui ouvindo aqui ou ali este «Zion», sem nunca me marcar nem muito atraindo. Mas quando dei por ela estava a ouvir o álbum diariamente. Tornou-se o meu companheiro de manhã a ir para o trabalho, durante o dia e ao fim do dia, bem alto na aparelhagem, enquanto abria uma garrafa de tinto. A instrumental é de facto, tecnicamente elevada dando sempre um pulse interessante e que me seduz quase sempre. A utilização de instrumentos de tons mais graves como guitarras de 7, 8 cordas e principalmente baritone traz sempre um ambiente familiarizado com Meshuggah, mas as semelhanças ficam-se só por aí, porque a melodia da voz em refrões ou alguns corus é bem mais suave. Muito catchy nos ritmos e nos refrões, consolidado sempre por solos de guitarra com uma qualidade que há já muito não me metiam em pleno air guitar, este álbum é conciso, estruturado e envolvente. Um Zion idílico, utópico, quase real. [8.5/10] Adriano Godinho GATES OF HELL «Critical Obsession» (Rastilho Records) Três anos depois do EP «Shadows of the Dark Ages», com a assinatura da Rastilho, os portuenses Gates of Hell (GoH) lançaram em 22 de Abril último o seu álbum de estreia que dá pelo nome «Critical Obsession». E ainda bem, já que com o som arrojado ao longo dos cerca de 45 minutos e dos 11 temos que constituem o álbum, «Critical Obsession» arrisca-se a ser uma das grandes bombas nacionais do ano. Houve algumas alterações na banda como a passagem do Afonso Ribeiro para a bateria, a entrada do Raça para a voz e do Miguel Pinto para o baixo. Estas alterações aumentaram a olhos vistos a qualidade musical da banda. Os GoH tornaram-se mais corrosivos, mais sabedores do caminho a percorrer e como o trilhar. A guitarra está poderosa e com bastantes variações ao longo de todo o álbum sempre com um acompanhamento homogéneo e boas quebras de bateria e linhas de baixo que suportam bem a música dando-lhe ainda mais corpo. O Raça, como já mostrou noutros projectos, mais uma vez mostra que tem raça para com a voz forte que tem fazer o projecto ter sucesso. A gravação e a masterização também são de boa qualidade, dando para identificar perfeitamente todos os instrumentos. Este álbum vem um pouco na linha do som dos Echidna (uma banda também das margens do Douro), mas isso não retira mérito à qualidade que os GoH nos apresentam e provam mais uma vez que “cá” dentro de Portugal temos boas bandas que por vezes são um pouco ignoradas sem razão aparente para isso. Uma palavra de apreço à Rastilho Records que continua a apostar com força nas bandas nacionais. [8.5/10] Sérgio Pires GRANDEXIT «The Dead Justifies The Means» (Lifeforce Records) Denominando-se durante uma década por Vicious e mudando de nome em 2010, este agrupamento sueco, através do seu debut na Lifeforce Records, apresenta-nos, com «The Dead Justifies the Means», uma sonoridade degradante e poderosa o suficiente para cativar o ouvinte que não pretende a cómoda rotina. Este seu quarto álbum, que será editado em Julho, é a prova de que há sempre uma forma de nos reinventarmos, estraçalhando qualquer designação que anteriormente nos tenham dado. Submetendo o ouvinte a uma experiência encorajadora que ataca a rotina sem qualquer piedade, a banda é influenciada por Dismember, At The Gates, Pantera, Opeth, The Black Dahlia Murder, System of a Down, Whitechapel… Variando por apontamentos melódicos, que são triturados por excelente maquinaria pesada, não há nada na parte instrumental que soe a palidez nem a descanso, muito menos a voz que dilacera os tímpanos como tão


bem fica neste estilo. Se estiverem curiosos em saberem como soam actualmente, e não têm meios de o conseguir, aconselho a procurarem no You Tube o vídeo que apresenta o álbum: “Judgement of the wicked”. Mostrando que estão em constante evolução, tendo em conta a qualidade dos álbuns editados e a montanha de concertos dada, Grandexit pode ser referida como “mais uma”, mas o importante é que essa indicação remonta-os ao grupo de bandas com qualidade. E isso quer dizer muito! [8.5/10] Jorge Ribeiro de Castro HERETIC «Angelcunts & Devilcocks» (Soulseller Records) Confesso que quando me propus a fazer esta review, pensei na antiga banda de Mike Howe antes de ingressar nos Metal Church. Bem, não é. São uns holandeses que praticavam Black Metal nos seus primeiros registos e que mudaram há algum tempo para uma espécie de Black´n´Roll ou Black´n´Punk ou algo parecido. «Angelcunts and Devilcocks» é o mais recente álbum da banda e a minha pergunta é: porquê? Porque é que discos chatos são tão longos, quando podiam perfeitamente fazer a festa com apenas 6 ou 7 temas? Porque é que bandas que nada têm de interessante a oferecer insistem em atormentar os simples mortais? Porque servem de distracção inútil quando há bandas verdadeiramente boas com um verdadeiro espírito Metal? Bem, passemos ao disco. Começa com “Hail the beast”, um tema muito igual até ao fim, embora possua alguma riqueza lírica (dentro do género). “Black pervertion”, muito “Danzig”, inclui estafados e já muito vistos gemidos femininos. O tema-título, talvez o tema mais dinâmico do álbum. Uma parte parece White Stripes. As faixas passam, umas após outras, sem grande interesse: “Crowned in filth” e “King sodomy” são apenas chatos. “Morbid maniac” é um potencial bom tema ao vivo, mas é mais uma vez muito igual. “Maze of madness” encerra o álbum e é uma pequenina surpresa, pois possui algo parecido vagamente com dimensão épica na sua segunda metade. Um pouco mais de ousadia, até pelo piano no fim. E é isto: produção crua, com pouca força nas guitarras, bateria um pouco “seca”, voz “punky” e um baixo bem audível. Estamos esclarecidos: é chato. [4/10] Joey

ICED EARTH «Live in Ancient Kourion» (Century Media) “ICED Motherfuckin’ EARTH, ICED Motherfuckin’ EARTH“, volume no máximo e após a introdução...YEAAAAAAAAUAAUUUUUU… Stu Block dá início a “Dystopia” e a duas horas e meia de Iced Earth! Este é já um bom aperitivo para o que nos reserva no Vagos Open Air. É óbvio que não teremos tanto tempo de

Iced Earth (infelizmente) mas já dá para termos uma pequena ideia! Estes últimos anos têm sido difíceis para Jon Schaffer que se debateu com alguns problemas pessoais e internos da banda. Após a partida de Tim Ripper Owens e o regresso de Matt Barlow o futuro mostravase promissor. No entanto, tudo voltou a mudar aquando da segunda partida de Matt – ao que tudo indica, de vez. Jon, tomou, então, uma das decisões mais sensatas e recrutou o então vocalista dos Into Eternity, Stu Block. Os Iced Earth voltaram, então, ao topo com «Dystopia». Ainda na memória está um dos melhores álbuns ao vivo jamais lançados na história do metal: «Alive in Athens» um triplo cd com mais de 30 temas e que mereceria, facilmente, nota 10. Em 2013 os Iced Earth voltaram aos grandes palcos mas desta vez em Chipre - «Live in Ancient

Kourion» é um duplo cd com 29 temas e que facilmente revisita toda a história musical da banda. O som é... estrondoso! Sentimo-nos como se estivéssemos no meio da multidão Cipriota no anfiteatro com 6000 anos, usado por gladiadores dos antigos Impérios Gregos, Romanos e Bizantinos. Não há muito mais a acrescentar: já escrevi que é estrondoso (para ouvir bem ALTO), 2h30 de música dá para revisitar toda a história musical. Stu Block pode não fazer esquecer os seus antecessores mas tem uma prestação ao nível que os Iced Earth merecem, ou seja, não podemos pedir mais, está tudo neste cd. Se «Alive in Athens» merecia com facilidade nota máxima [10/10], «Live in Ancient Kourion» merecia [9.9/10]. Por questões editoriais atribuo 9.5. Mal posso esperar pelo VOA!!! [9.5/10]Eduardo Ramalhadeiro


INFINITA SYMPHONIA «Infinita Symphonia» (Scarlet Records) Muitas vezes quando vejo determinados termos, como é o caso de “Symphonia”, no nome do álbum, desconfio do género e tipo de música que me espera. Há uma razão muito simples para isso: este género de música power metal sinfónico suscita-me muitas reservas. Quando bem feito, apresentando algo de novo e fresco, vocalista e produção à altura, então, torna-se num dos géneros favoritos. Ora bem, então, onde “cai” «Infinita Symphonia»? Digamos que não é aquela típica “correria” desenfreada e não está demasiadamente sinfónico – não há orquestra, simplesmente, teclas/sintetizadores/piano. Podem juntar, ainda, uma pitada de hard rock. Parte importante é sempre a voz e das primeiras vezes que ouvi soava-me demasiadamente familiar, aquela sensação que ficamos e não descansamos enquanto não descobrimos o que é. Bem, ouçam os primeiros álbuns dos Edguy, nomeadamente, «Theater of Salvation», «Vain Glory Opera» ou mesmo o magnífico «Mandrake» para verem que a semelhança é muita. Ainda assim, não considero que seja mais do mesmo, bem tocado tecnicamente, solos de guitarra excelentes, não é enfadonho, temas variados, no fundo um álbum que se ouve muito bem. Por último, o tema “Fly” conta com um convidado muito especial – Michael Kiske. Os Infinita Symphonia merecem uma oportunidade. [8/10] Eduardo Ramalhadeiro

INTRONAUT «Habitual Levitations» (Century Media) Marcas sonoras ficam-nos solidamente embutidas em partes do nosso ser. Na mente. No corpo. Mens sana in corpore sano. Sim! A saúde é-nos trazida pela audição de alguns e certos mo-

mentos musicais, criados por entes com a capacidade de cura. A cura de nós contra nós próprios. Senão vejamos. Como poderia, em todo o caso, não ser verdade quando a composição de “The welding” causa a limpeza mental em cada ser visível (a olho nu)? A aparição da paz que é depositada suavemente em “Steps” rói a dor, nascida e crescida em nós por momentos de perda. A energia disponibilizada por este trabalho dos Intronaut é difícil de medir quando ouvida de uma ponta a outra (haverá outra forma?). Lamentando a irascibilidade deixada sobre os ouvintes atentos, «Habitual Levitations» é provavelmente a melhor arma criada, desde a liberdade de expressão. A abertura do momento com “Killing birds with stones”

não deixa margens para dúvidas, a melodia pode, afinal, ter energia; entrar em nós, mexer cá dentro, sair e levar algo de nós, a preço de deixar o prazer da consciência, da liberdade deixada, da semente da reflexão incutida. Toda a lição é dada sobre pautas maleáveis mas rígidas; a execução é de mestria algo-impressionável. Algures mais longe na viagem, “Eventual” é deixada em sussurro gritante; marcando o ritmo para a mensagem final. A arrepiante “Blood from a stone” e para finalizar o passo decisivo “ The way down” indicam duas coisas: 1) Intronaut, a crescer, será um nome importante; 2) «Habitual Levitations» é das melhores audições deste ano. [9/10] Adriano Godinho

KING OF BONES «We Are The Law» (Edição de autor) Os Brasileiros King of Bones lançam, em 2013, o seu primeiro álbum. Ao contrário de muitas estreias que nos chegam, desta vez os produtores não são os elementos da banda. Na minha opinião, acho que já é um bom sinal. Talvez por falta de verbas muitas vezes os músicos assumem essa responsabilidade e nem sempre com bons resultados. Os King of Bones delegaram esta tarefa em Brendan Duffey e Adriano Daga. Nos estúdios da Norcal já trabalharam com bandas e artistas como: Angra, Almah ou Kiko Loureiro. Será assim de prever que o som e a produção sejam muito competentes. De facto, nota-se produção profissional mas algo que me desagrada bastante é a bateria. Está comprimida e soa-me muito... Digital. Faz-me lembrar os Def Leppard, com a diferença que o som está enquadrado com o resto da banda. De resto os King of Bones tocam um Hard Rock melódico “durinho”, muito bem executado, deixando transparecer algumas influências de Whitsnake ou Gotthard. Andei algum tempo a pensar quem me fazia lembrar a voz de Júlio Federici e o timbre é muito parecido com Graham Bonnet (Rainbow, Alcatrazz). Algo


que também não gostei e isto manifesta somente uma opinião pessoal, foram os couros. Se em alguns temas estão muito bem feitos, com harmonias, noutras secções parecem-me demasiado cliché e comercial. Uma palavra para a capa e artwork - Impecável! De resto, um bom álbum mas que não nos traz nada de novo. [7/10] Eduardo Ramalhadeiro LEPROUS «Coal» (InsideOut Music) Um dos grandes problemas de lançar um álbum como «Bilateral» é, precisamente, este: o álbum seguinte. Ao terceiro álbum os Leprous lançaram a sua obra-prima. Gostei tanto dele que apesar de ter acesso aos mp3 - disponibilizados pela editora – o comprei. Por conseguinte, foi com grande expectativa que recebi «Coal». «Bilateral» é uma excelente mescla de Avant-Garde, rock/metal, progressivo/alternativo, muito enérgico, agressivo e ainda gostei mais quando os vi ao vivo no Hard Club. A energia da música foi completamente transposta para o palco. Como é óbvio as comparações têm que surgir... e vou compará-los em alguns aspetos. «Coal» não é tão pesado, enérgico e agressivo como «Bilateral» – tudo isto junto só temos 9:04 no último tema – “Contaminate Me”, que é uma brutalidade comparado com todos os outros. No entanto, esta falta de atributos não me incomoda e não é algo que me faça considerar «Coal» um mau álbum. É, simplesmente, diferente. Os Leprous experimentam novos sons, uma “fórmula” ligeiramente diferente da anterior e isto, por si só, já é (e sempre será) um ponto de discórdia entre a opinião pública. Portanto, é muito injusto estar a considerar um flop. Indubitavelmente, vai haver quem goste e quem não goste da mudança e da experimentação. Eu, cá para mim, considero que é diferente. Se prefiro um ao outro, claro que sim - É quase como me perguntar qual o melhor: “Master of puppets” ou “... and Justice for all”? Prefiro o primeiro mas são dois enormes álbuns com o seu lugar na história - De qualquer das formas prefiro o mais pesado e enérgico. Paradoxalmente, o meu tema preferido é o mais calmo – “The Valley”. Não o deixem de ouvir. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

LYCHGATE «Lychgate» (Mordgrimm) Por vezes, há que deixar certas ideias pairarem, talvez se acostumarem à dormência, ao conforto de um nebuloso estado, enquanto outros caminhos são singrados. Por vezes, há que vol-

tar atrás, abrir a porta que, por tantos anos, escondeu os nossos segredos, talvez porque agora há uma maior necessidade de resvalar pelos teoremas que fizeram o que somos. Por vezes, alguém forma uma banda e depois, após pouco mais de uma década, decide mudar o nome da mesma e convidar outros artistas de modo a reformulá-la. Assim aconteceu com Vortigern (The One - guitarras e teclado) e o seu projecto, Archaicus, passando a designá-lo por Lychgate e convidando membros de Esoteric, Lunar Aurora e Omega Centauri. Com este seu debut, o qual é considerado um tributo ao período adormecido entre 20022006, Lychgate (que tem o seu nome devido à cobertura que cobre uma entrada para antigas

igrejas inglesas) gratifica-nos com nove músicas de avultado valor dentro do género black-metal atmosférico/avant-garde. As músicas discorrem sobre a psicologia abstracta, a filosofia acerca da deterioração mental/ física e a morte. Agora, imaginem uma fusão a nível musical e lírico dos recantos mais obscuros da realidade com toda a fantasmagoria que dilacera qualquer pesadelo. Aqui, sujeitamo-nos à abstracção, a uma excelente complexidade musical que tem tudo a ver com as bandas acima mencionadas, com quem não gosta da conformidade do dia-a-dia, mas também com quem é corajoso o suficiente para dissolver qualquer resquício de sanidade. [9/10] Jorge Ribeiro de Castro


MY DYING BRIDE «The Manuscript» (Peaceville Records) Antes que um novo álbum dos My Dying Bride apareça por aí num futuro próximo, estes, brindam-nos com um EP na mesma veia artística dos seus últimos trabalhos, em especial «A Map of Our Failures», não fosse «The Manuscript» talhado com 3 das suas 4 músicas que sobraram das gravações de «A Map of Our Failures». Por isso, a qualidade de My Dying Bride está lá toda, tal como o seu doom sofrido e um Aaron Stainthorpe ao seu melhor nível - ele assina todas as letras. Assim, a abrir temos “The manuscript”, onde o violino se faz notar aqui e ali, nos riffs pesarosos e prolongados que dão o semblante emocional à música, seguidos por “Vår gud over er” onde temos um Aaron mais gutural e um riff forte mas menos doom, e “A pale shroud of longing” mais pesarosa, com um tempo mais acentuado e um doom mais carregado, e no final temos “Only tears to replace her with”, uma interessante música tipicamente MDB que realça mais a voz de Aaron. «The Manuscript» não constituiu nenhum EP de “sobras”, mas penso que é um desperdício de criatividade e talento, pois estas 4 músicas mereciam o enquadramento de um álbum. Bom momento de MDB mas no formato errado. [7/10] Carlos Filipe NERGARD «Memorial for a Wish» (Battlegod Productions) Andreas Nergard é só um miúdo com 23 anos e já consegue, não só, juntar uma constelação de estrelas à sua volta como planear e compor um álbum conceptual. A história remonta a 1890 em Dublin, Irlanda. O jovem Peter O’Donnell é preso injustamente por um crime que não cometeu e é acusado a 20 anos de prisão. Assim se dá início “Twenty years in hell” tema de abertura de «Memorial for a Wish». (O que é excelente é que a sequela já está em andamento, com data prevista para a Primavera de 2014). Além das composições Nergard trata também da bateria (É também baterista nos Rudhira), baixo e teclas e convidou uma série de vocalistas para dar corpo e enriquecer a obra: Ralf Scheepers (Primal Fear), Tony Mills (TNT) ou Nils R. Rue (Pagan’s Mind), entre muito outros. É pois, uma mescla muito interessante de rock com heavy/ prog metal, assim muito ao estilo dos Dream Theater na sua versão mais calma. O álbum, quanto a mim, só perde um pouco por ser mais rock/calmo do que heavy/prog. Fico com a sensação que poderia ser muito mais bombástico se fosse mais pesado e pujante. Se ouvirem “Hell on earth”, “Angels” e “Requiem” percebem a ideia. Os outros temas são a parte mais calma. No entanto, sendo este um álbum conceptual, onde a música segue a história, é normal que esta possa representar o espírito e o ambiente do argumento. De qualquer das formas, é só uma opinião pessoal que em nada belisca a qualidade do cd. Sem dúvida, a ter em conta! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro NOUMENA «Death Walks With Me» (Haunted Zoo Productions) Sete anos passaram desde o «Anotomy of Life», e se alguns, poucos, desesperaram pelo quarto álbum destes finlandeses Noumena, muitos não deram falta deles, e outros que até ouviram acidentalmente este «Death Walks With Me» decerto que não deverão ter tirado grande prazer. É verdade que há sempre espaço para mais uma banda e para mais meia dúzia de álbuns. Não há limite para a criatividade e para a produção de música. Mas onde esta começa termina na paciência dos ouvintes. E este álbum arrasa por completo a paciência do ouvinte mais exigente. Não há nas 11 faixas que constituem o disco riff que encaixe no ouvido, malha que nos faça fazer repeat, nem musica que nos coloque a assobia-la logo pela manhã. Não que isto seja critérios de avaliação, mas porque simplesmente o que se ouve não é excepcional. As músicas quase que não se distinguem umas das outras; não há grande variação nem dinâmica nos riffs – e para um álbum de Metal Melódico com pitadas de Doom isso poderá ser realmente enfadonho. A voz gutural do Antti parece estática, sem qualquer mudança; e mesmo a voz limpa da Suvi não dá mais brilho aos temas – mesmo com esta dualidade, clássica nas bandas do género, as músicas permanecem esbatidas, sem força. Força talvez seja o input que a banda terá de aplicar no próximo álbum se acharem que querem optimizar as suas canções – um solo de guitarra ali, uns breaks de bateria acolá. O potencial está nos músicos, resta a eles criarem algo de excepcional e com Força, mesmo tocando este estilo. Contudo,


há um destaque que devo referir: existe no tema “Season of suffocation” uma variante que faz toda a diferença – uma trompa, que oferece, sem dúvida, uma lufada de ar fresco em algo tão enfadonho e morto. [2/10] Victor Hugo

ORCHID «The Mouths of Madness» (Nuclear Blast) Se adicionei os Tristania ao rol das minhas exceções góticas, acontece precisamente o mesmo com os Orchid. O EP «Wizard of War» (Review feita na VERSUS #24) despertou a minha atenção e curiosidade apesar de não

ser apreciador (em geral) deste género musical... doom rock. É óbvio que se contam algumas exceções, por exemplo, os monstros Black Sabbath e mais recentemente os Woods of Ypres. «The Mouths of Madness» exibe toda uma imagem e sonoridade retro, a começar logo pela capa e visual da banda, onde a voz do carismático Theo Mindell sobressai de uma forma, digamos, psicadélica. Se derem uma espreitadela ao vídeo «The wizard of war», todo filmado a preto e branco, como que a imitar os velhos anos 70 e... Black Sabbath. Já que estamos na senda da sonoridade, o que me chama a atenção e de alguma maneira sobressai no álbum, além da voz, é o baixo. Bem tocado, como que “aveludado” pelas pontas dos

dedos de Keith Nickel. Os riffs de «The mouths of madness» e «Wizard of war» são viciantes e do melhor que podem ouvir no álbum. Asseguro que vão querêlos ouvir vezes sem conta. Muitas das vezes critico as bandas que tentam descaradamente imitar outras do mesmo género e apresento sempre as minhas razões do porque não gosto. Porventura poderá ser este o caso e as comparações serão inevitáveis. Os Orchid conseguem recriar/imitar muito do que foram os Sabbath. Se é bom ou mau, se é falta de originalidade, basicamente, não quero saber porque isto agarrou-me por completo e é bom que se farta! Um álbum doom rock para juntar às minhas exceções. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

SCHWARZER ENGEL «Schwarze Sonne» (Massacre Records) Da lista de cds que aparecem e que nos caem no colo para criticar, a maior parte das bandas, estamos a ver o nome pela primeira vez, encetando-se um processo de descoberta. Às vezes é desinteressante; às vezes revelam-se verdadeiras pérolas, que acrescentamos à nossa lista de bandas a seguir. Este foi o caso dos Schwarzer Engel e do seu EP de 2013 «Schwarze Sonne». WOW! Banda alemã de um homem só, Dave Jason (voz, guitarras, bateria, composição, orquestrações), tem vindo a evoluir exponencialmente. Com dois álbuns e um EP em dois anos, a banda assinou este ano com a Massacre Records e este EP é a prova do que aí vem no novo álbum «In Brennenden Himmeln», marcando «Schwarze Sonne» definitivamente o tom para a nova etapa dos Shwarzer Engel e constituindo-se como um verdadeiro aperitivo. E afinal para quê tanta excitação? A excepcional música, no campo do Dark Gothic Sinfonic Metal e temática das Emoções, Suicido, Apocalipse, Natureza ou mesmo temas Góticos, aliados à presença de sopranos na música de «Schwarze Sonne», fazem deste EP uma peça interessante. A denominação de EP é um bocado exagerada, já que este contém duas músicas mais duas versões do tema título, duas versões de piano da mesma, sendo uma delas instrumental. O álbum é cantado em alemão e o nível dos riffs faz-me lembrar de imediato os Rammstein - sendo no entanto uma obra bem distinta destes - numa vertente mais sinfónica e dark metal - o que é completamente o oposto dos Rammstein- mas no conjunto alemão-metal-orquestração funciona na perfeição. Aliás a banda é publicitada como “estando na mesma veia dos Rammstein, com melodias como os In Flames, riffs à Amon Amarth e composições épicas orquestrais à Dimmu Borgir”. Querem melhor amálgama do que esta? E perante isto o WOW do início desta crítica é mais do que merecida. A banda já está debaixo de olho, restando agora esperar pelo novo álbum, e verificar se este “aperitivo” se mantém. A nota é simplesmente por ser um single escamoteado de EP. [8.5/10] Carlos Filipe


SHINING «One One One» (Prosthetic Records) Para quem está sempre à procura de novas sonoridades e não sabe mais onde procurar vai ficar satisfeito por descobrir esta banda. O som deles vai para além do que é “normal” e ex-

plora o conceito música numa outra vertente mas já lá vamos, primeiro vamos apresentar a banda. Os Shining são uma banda norueguesa que começou a carreira tocando jazz em bares do estilo. Com o passar dos anos começaram a acrescentar alguns elementos mais eléctricos, até que em 2010 criaram um conceito que é conhecido por “BlackJazz” que também é o nome do álbum anterior (“Black” advém do álbum “Black Metal” dos Venom e “Jazz” do álbum Free Jazz do Ornette Coleman). Continuando e explorando ainda mais este conceito, os Shining surgem em 2013 com o recente «One One One» que é composto por linhas interessantíssimas de guitarra, bateria, baixo e vocal que exploram ritmos esquizo-

frénicos deambulantes entre uma fusão de death/black/jazz/ progressivo. Mas neste caso o destaque vai para o saxofone. Eu já tinha ouvido o Ihsahn explorar este instrumento nalgumas músicas dos últimos álbuns, mas os Shining conseguiram ir mais além e torná-lo no instrumento central das composições. Este experimentalismo tornou uma ideia que à partida parecia inconcebível numa ideia genial que faz com que olhemos com outro tipo de ouvido para instrumentos que à partida não fazem muito sentido no metal por uma ou outra razão. Não sei os álbuns que ainda irão aparecer este ano, mas para mim este é o álbum mais original do ano e merece uma nota destaque. [10/10] Sérgio Pires

SPIRITUAL BEGGARS «Earth Blues» (InsideOut Music) Os Spiritual Beggars são há já vários anos uma máquina Stoner bem oleada, dirigida com mestria pelo guitarrista anglo-sueco Michael Amott. Demonstram-no mais uma vez neste «Earth Blues», um álbum bem feito, que mistura em boas doses, peso, dinamismo psicadélico bem Rock e as inevitáveis influências dos anos 70 e final de 60. Não faltam naturalmente os generosos solos de guitarra, salpicados por todo o disco e um órgão Hammond, indispensável para este tipo de ambientes. “Wise as a serpent” inicia as hostilidades, com uma dinâmica bem ritmada e mexida. Em “Turn the tide”, o início faz lembrar “Miracle man” de Ozzy Osbourne. Este tema bem ecológico possui bons solos de guitarra. “Sweet magic pain” inclui um excerto de piano a meio do tema e um solo de guitarra bem melódico. “Hello sorrow” começa muito “à lá” Scorpions com a vocalização a lembrar o saudoso Phil Lynott. Piano Rock´N´Roll e Hammond a emprestarem uma dinâmica muito própria. Os temas continuam, mas dinâmicos e frescos, tornando a audição agradável. “Too old to die young” é um tema um pouco diferente que incorpora batuques bem 70´s, mudanças de ritmo e harmonias alternados por calmaria. Diferente, mas bom. O disco encerra com “Legends collapse”, a faixa mais longa, em mid-tempo, bastante melódica. A produção é clara, de forma a preencher bem os espaços com os instrumentos, e dando-lhes o seu próprio espaço para sobressaír. A curiosidade de o vocalista Apollo Papathanasio, nosso conhecido através dos Firewind, entre outras bandas, fazer a espaços, vocalizações que lembram o excelente Shmoulik Avigal (entre outros, dos holandeses Picture). É um álbum de muito boa audição, que se recomenda vivamente, especialmente aos aficionados do bom Hard´N´Heavy de 70’s. [8/10] Joey SPOCK’S BEARD «Brief Nocturnes and Dreamless Sleep» (InsideOut Music) Na versão do novo álbum dos Spock’s Beard que recebemos apenas estava a edição normal, sem o disco extra da edição especial. Esta banda de Rock Progressivo já tem 20 anos de carreira e acaba por chegar a 2013 com um disco que será porventura o mais apelativo de todos os

que lançaram até hoje. A grande mais-valia de «Brief Nocturnes and Dreamless Sleep» acaba por ser a paisagem sonora que é criada com melodias fortes que percorrem desde o Rock cadenciado até a pequenas orquestrações que proporcionam o prazer de ouvir a definição de todos os instrumentos em simultâneo, até incursões mais enérgicas em segmentos mais provocativos. Poder-se-á pensar que para


se criar um grande álbum de Rock Progressivo é preciso fazer grandes malabarismos técnicos de baralhar o cérebro. Pois o que este excelente B.N.D.S. dos Spock’s Beard nos prova é isso mesmo, não é preciso virar as guitarras do avesso, tocar a bateria com 4 braços e cantar como se não houvesse amanhã para conseguir música de excelente qualidade. Não é um

registo ultra-pesado ou agressivo, longe disso, mas é original sem perder o carácter progressivo. A principal característica deste disco julgo ser a sucessão dos temas como se de uma estória de vários capítulos se tratasse, com princípio meio e fim. O final é constituído por “Something very strange” e “Waiting for me”, temas que fecham com chave de ouro e na minha

opinião são os mais marcantes do disco. Concluindo eu diria que é uma excelente companhia que podemos trazer connosco que não nos deixa indiferentes a cada nova audição. Criar uma cumplicidade destas não está ao alcance de qualquer banda e aqui os Spock’s Beard estão no seu melhor [9/10] Sérgio Teixeira

STONELAKE «Monolith» (Massacre Records) Quem não gosta de passar os ouvidos por Metal Progressivo? Pois quase toda a gente gosta, julgo eu, de umas melodias progressivas banhadas com um q.b. de guitarras pesadinhas. O que normalmente constitui um certo fator que gera algumas reticências é o vasto legado deste subgénero bastante trilhado e desenhado por bandas conceituadas como por exemplo os míticos Dream Theater. E aqui é onde estes Stonelake inspirados quiçá nas paisagens da sua terra natal – Suécia – conseguem produzir algo de igual a quase todo o Prog Metal que conhecemos e ao mesmo tempo diferente. Igual: porque as melodias, os solos, as progressões rítmicas presentes em «Monolith» as vocalizações são perfeitamente enquadráveis em tudo o que já se ouviu. Diferente: porque temos uma marcante lufada de ar fresco com a capacidade de dar vida a melodias que se ouvem com uma elevada dose de afinidade/familiaridade mas como se o Prog Metal tivesse acabado de nascer. Quem já ouviu uma data de álbuns progressivos sabe bem que este é porventura um dos géneros musicais que mais exige quer do ponto de vista de técnica mas também de versatilidade nas composições. E aqui mais uma vez os Stonelake com o seu 6º de originais estão ao melhor nível. Mas o ponto forte, são as fortes composições cheias de personalidade e que criam paisagens sonoras marcantes. Não posso deixar de recomendar este álbum e diria mesmo que é de audição obrigatória pelo menos uma vez. Pesquisem, peçam emprestado, comprem, enfim mas ouçam este «Monolith» e duvido que se arrependam. [8.5/10] Sérgio Teixeira

TEARS OF MARTYR «Tales» (Massacre Records) Com apenas dois álbuns, os espanhóis das ilhas Canárias Tears of Martyr conseguiram colocarse no mesmo patamar dos seus pares europeus do Metal feminino. De «Entrance» para «Tales»,

a evolução é abismal. É um passo de gigante! Para isto contribui em muito a soprano Berenice Musa, que é a verdadeira “musa” de inspiração desta banda e que define acutilantemente o carácter musical dos Tears of Martyr. «Tales» é daqueles álbuns que não acrescentam nada de novo ao género mas que agarra o ouvinte pela riqueza e qualidade da sua música ao longo de todo o álbum, sem excepção. Há aqui um pouco de tudo daquilo que caracteriza este fantástico género de Metal Gótico/ Sinfónico Feminino. Logo a abrir, temos uma das melhores malhas “The scent”, que dá o tom e mote para o que é «Tales» e de “Wolves and a witch” que concluiu o mesmo em apoteose - o violino fica maravilhosamente

bem nesta grande música. Exemplarmente conseguidas e produzidas, as dez músicas que compõem «Tales» vão desfilando ao sabor das harmonias musicais das diferentes partituras e texturas que fazem de «Tales» um álbum muito interessante e obrigatório para os apreciadores do género. As únicas críticas aos Tears of Martyr são a colagem demasiado evidente às bandas de primeira linha deste género em especial Epica - e a utilização da voz gutural/limpa de Miguel Ángel Marqués que acrescenta uma mais-valia à música mas que acentua ainda mais esta evidência referencial, como se pode ouvir em “Of a raven born” ou “Golem”. [9/10] Carlos Filipe


TESSERACT «Altered State» (Century Media) A herança que o rock progressivo nos deixou nem sempre é reformulada numa expressão musical que sustenta a credibilidade de outros tempos. É verdade que o que se pretendia alcançar nos seventies não é comparável com o que hoje a música dita progressiva consegue definir; sendo o som, a forma e a estrutura moldada por uma realidade mais mesclada, mais diversificada. Quando uma banda como Hawkwind faz música e é definida como progressiva, não podemos pensar que o som produzido por Tesseract, denominada como progressivo, tenha algum elo de ligação. Diria que a etiqueta ‘música progressiva’ poderá ser a mais nublada e desfocada de todas. Em «Altered State» ouço uma música que não classificaria como metal e muito menos extrema; a voz é (demasiado?) melódica e (muito) presente, a instrumental tem pouca força, asmática, diria, até. As composições têm a intensidade de um risco no areal perto das ondas do mar, facilmente apagado por dois ou três movimentos destas. As melodias, com efeito espacial e longínquo, relacionam-se com algumas bandas com radio hits que passaram por mim há alguns anos sem nunca me ter cativado o interesse. Temas como “Singularity” deixam-me perplexo sobre qual será o propósito da música. Ficam alguns pontos positivos com o riff de “Nocturne”, o saxofone em “Calabi-Yau”, algum bom desempenho instrumental e uma boa produção. [4/10] Adriano Godinho THAW «Thaw» (Avantgarde Music) Thaw é uma sombra. Quem nunca teve a impressão de uma sombra ter passado por nós, numa noite mais descuidada, ou num lusco-fusco tramado que sugere a chegada de algo místico? Pois é, era Thaw que se apresentou perante vós. Ouçam “The gate” e pensem nisso. Pois é! Este projecto polaco de índole black metal que incorpora momentos de experimentalismo causadores de momentos mais abrangentes que limitaria a denominação de simples metal extremo a uma falta de perspectiva, nasce com este álbum homónimo, em 2013, após várias provas dadas em concertos com nomes como Altar of Plagues, Monarch, Jucifer, Blindead, Behemoth, Jarboe, Neurosis, Sleep, Killing Joke e Amenra. Alguma componente industrial neste trabalho deixa um sabor mais doentio ao resultado final. Os longos momentos instrumentais sem voz (ou com gritos) fazem a música crescer e apurar até atingir um grau de percepção interessante. A faixa “Divine Light” quase não tem voz, deixando os instrumentos definir a música. A violência e frieza são por vezes deixadas, para serem substituídas por momentos criados com sons modernos que compõem melodias escabrosas quase tão doentias quanto os momentos mais agrestes. “Kiara” deixa-nos repousar mas sem perder o som característico da banda que nos mantém alerta, pois não é um som natural. Com a faixa “On the world’s grave” Thaw tenta provar o que compõem a sua música: frieza, sons doentios mas também sinceridade e desespero. “Hunted pray” é um grito de dor; seja sentida pela presa ou pelo caçador; nunca foi definido que apenas um deles é que é a vítima. [6/10] Adriano Godinho

THE OCEAN «Pelagial» (Metal Blade Records)

«Pelagial» trata-se do nono disco de originais dos Germânicos The Ocean. Para quem não conhece a banda, trata-se de uma banda que aposta genericamente em metal progressivo, mas em que a vertente melódica é fortemente incrustada de agressividade e energia; estas harmonias mais melódicas e absorventes aparecem normalmente encontradas tanto em solos ou pequenos interlúdios propositadamente encaixados para criar momentos quase psicadélicos e intimistas como em segmentos prolongados a cumprir quase

integralmente alguns temas. Pessoalmente aprecio esta capacidade ou predisposição de bandas mais extremas de oscilar no mesmo tema ou no mesmo álbum entre dinâmicas incontroláveis e intensas intercaladas com segmentos mais cadenciados e de contemplação. Se há algo que permite a um álbum respirar e sair da linha de saturação são precisamente estas nuances que fazem com que as paisagens sonoras se sucedam com a naturalidade possível tendo em conta a genialidade maior ou menor dos que compõem os


temas. Pelo menos neste «Pelagial», os The Ocean estão ao melhor nível ao conceber um disco que percorre espaços sonoros bem diversificados mas ao mesmo tempo ligados com uma naturalidade invulgar. Aliás

este «Pelagial» estava inicialmente pensado para ser 100% instrumental o que explica julgo eu a homogeneidade das composições quando se olha para o disco como um todo. Esta ideia inicial acaba por ter sido levada

à prática com a edição do álbum com uma versão integralmente instrumental em simultâneo com a versão vocalizada. Recomendo pelo menos uma audição mais atenta. [9/10] Sérgio Teixeira

TORTURE KILLER «Phobia» (Dynamic Arts Records) Phobia é o quarto trabalho de originais dos Torture Killer. Integralmente vocalizado com o gutural a dominar, impregnado de guitarras downtuned, constitui sem dúvida um trabalho de peso a fazer uso do que o Death-Metal tem para oferecer em termos de estética mas sem se desviar um milímetro do óbvio. Esta banda inicialmente fazia covers dos Six Feet Under, adotando posteriormente uma abordagem de produção de álbuns originais. Penso que a estratégia inicial de fazer covers espelha um pouco no entanto a pouca propensão para estes Finlandeses arriscarem novos patamares de composição. Portanto «Phobia» acaba por confirmar de certo modo um apego demasiadamente vincado à previsibilidade. O facto de estarmos perante um trabalho de 9 temas que se limita a apenas 35 minutos de duração espelha também a velocidade a que as composições passam sem causar grande espanto na respetiva audição. Bem, mas há coisas positivas. Especialmente para quem não aprecia um milímetro que seja de invenções e está à espera de mais uns minutos da dose do costume, tem aqui algo mais do que sólido a que se pode agarrar. Tecnicamente não sendo um álbum excelente, acaba por cumprir mais uma vez aquilo que é expetável dentro do género que se propõe trilhar. Raramente ouvimos solos ou padrões rítmicos imprevisíveis, e como referi no início as vocalizações são unicamente guturais. Portanto tudo somado é um álbum algo limitado mas que no final pode agradar aos amantes e consumidores incondicionais do Death-Metal mais previsível. [7/10] Sérgio Teixeira TRAIL OF TEARS «Oscilation» (Massacre Records) Depois de inúmeras mudanças no seu line-up, seis álbuns na bagagem, e sem nunca mais terem conseguido atingir o nível dos primeiros álbuns que deram o nome e fama à banda, chegado a 2013, os Noruegueses Trail of Tears dão por concluído a sua carreira, decidindo separar-se, deixando «Oscilation» como a sua marca póstuma para a eternidade. Apenas restam Cathrine Paulsen e Bjørn Erik Næss. Curiosos estes acontecimentos estarem a decorrer agora, pois tinham acabado de mudar de editora, encontrando-se agora sobre a efígie da Massacre. Então, o que dizer deste «Oscilation»? É um álbum honesto e que faz jus ao que os Trail of Tears têm feito nestes últimos anos. Não é uma obra que irá deixar marca mas também não desiludirá. Sempre bem ritmado por uma bateria frenética demasiado à frente, o álbum vai vivendo das dualidades vocais masculino-gutural, feminino-angelical, acompanhadas por uma partitura de teclados que transporta a música, fazendo prever qual a direcção que os Trail of Tears teriam seguido no futuro: o mainstream do corriqueiro pop Metal das bandas que conhecemos de outras paragens. «Oscilation» não desilude mas também não agarra o ouvinte. É um álbum bastante (demasiado) homogéneo no que respeita à música, sem grandes oscilações musicais e emocionais. É um álbum de “fim de estação” para os fãs completarem a sua colecção. Nada mais. [6.5/10] Carlos Filipe


TRISTANIA «Darkest White» (Napalm Records) Antes de mais, este foi o meu primeiro contacto com os Tristania. Não conheço qualquer álbum ou tema anterior, também, porque o género Gótico nunca me despertou a atenção – com uma ou outra exceção. Como o tempo nem sempre permite ouvir toda a discografia de uma determinada banda, vou ter que falar de «Darkest White» sem estabelecer qualquer tipo de referência ou comparação a outros trabalhos. Sete são os membros dos Tristania, onde podemos destacar a utilização de 3 vocalistas: a principal é Mariangela Demurtars, a voz masculina “limpa” é de Kjetil Nordhus – que divide o tempo com os Green Carnation – e por último o detentor da voz black mais agressiva é do guitarrista Anders Hidle. Poderão estar a pensar: bem, mas isto deve ser uma confusão com tantas vozes. A resposta é um rotundo NÃO! Está tudo perfeito, no lugar e temas certos. Desde já um aviso, se tentam escutar este álbum, para dar uma oportunidade ou simplesmente para experimentar, por favor, avancem “Requiem”. Este é absolutamente o ponto alto de «Darkest White», com uma magnífica interpretação de Mariangela que vos vais deixar completamente viciados. Sensivelmente a meio o tema sofre uma volta de 180º, passando da voz melodiosa de Mariangela para uma secção mais pesada e black para voltar novamente à melodia e à magnificência da voz feminina. Com «Darkest White» os Tristania conseguem combinar melodias pesadas com delicadeza emocional. As vozes são combinadas na perfeição, criando um ambiente musical por vezes negro, triste e melancólico. Esta excelente combinação não é alheia ao trabalho do produtor Christer André Cederberg que já trabalhou, por exemplo com os Anathema. Um álbum Gótico para juntar às minhas exceções. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro WHITESNAKE «Made In Japan» (Frontiers/EMI Records) Senhores de um longa e invejável carreira, os Whitesnake apresentam aqui o seu quinto registo oficial ao vivo, aqui em formato duplo CD: o primeiro, o clássico concerto “Live”. O segundo, temas ao vivo, mas em estúdio, e em formato acústico. Não sendo um grande apreciador do formato acústico, debruçar-me-ei principalmente sobre o primeiro CD: “Live”. Não tinha muitas expectativas acerca deste lançamento. O facto de não ouvir David Coverdade e banda há longos anos (quase desde os tempos de «Slip of the Tongue»), afastou-me consideravelmente. É apesar de tudo impressionante a qualidade da voz do homem após tanto tempo, mesmo tendo em conta que a idade não perdoa. Já não faz as “loucuras” a que nos habituou com as cordas vocais, mas, de forma mais contida, continua a ser muito competente tanto a cantar, como a puxar pelo público, a avaliar pela reacção do mesmo. Bem coadjuvado por uma banda coesa e onde a qualidade abunda, Doug Aldrich, Reb Beach e por uma muito competente secção rítmica (não possuo os dados sobre os mesmos), as condições para um bom registo, estão asseguradas. Não irei individualizar temas, mas saliento a forma como ainda hoje o público reage com entusiasmo aos temas de “Whitesnake 1987”, esse clássico absoluto, cantando os refrões de “Gimme all your love”, “Is this love”, “Here I go again”e “Still of the night” como se não houvesse amanhã. “Fool for your loving” foi também muito bem recebido. De resto, o enfoque maior é dado sobre os temas de “Forevermore”, o álbum que estavam a promover. Bem tocados, com a emoção característica, especialmente o tema com o mesmo nome. Gostaria apenas que tivessem mais um ou dois temas da sua fase pré-1987, mais Hard Rock-Blues, pois os temas dessa época, ganham uma outra dimensão tocados com roupagens Hard´N´Heavy. Apenas “Love ain’t no stranger” aparece. Uma faixa é dedicada aos solos de Doug e Reb, bons solos, mas é demasiado longa. O mesmo acontece com o solo de bateria. Poderia ser mais curto. A captação ao vivo (em Saitama Super Arena, Saitama-Japão, 2011) é clara e bem perceptível, havendo apenas num ou noutro momento, alguma reverberação excessiva nas guitarras. Para quem não possui ainda nenhum dos anteriores álbuns ao vivo, porque não ser este o primeiro? E já agora, ouvi-lo bem alto. [7.5/10] Joey



O génio das florestas Ver o seu trabalho em posts no facebook foi o ponto de partida para contactar Richey Beckett. Felizmente, esse contacto redundou na entrevista que se segue. Este artista gráfico seduz quem vê as suas ilustrações pela sua riqueza de pormenores (que revela uma observação atenta da natureza) e pela (aparente) simplicidade dos meios a que recorre. Conhecer a obra de Richey Beckett é, sem dúvida, aprofundar a nossa capacidade de apreciar a arte gráfica ao serviço da música extrema.


Nasceste no sul de Gales ou só vives nessa região do Reino Unido? Richey Beckett: Nasci aqui e sempre vivi nesta região.

tanto estranho. Porque, habitualmente, quando estou a trabalhar numa ilustração, sei que o destino que a aguarda é ser reduzida, para figurar na capa de um álbum.

Vês esse facto como um elemento importante da tua identidade? De facto, nunca pensei a sério nessa questão, Mas penso que deve ser. Sempre gostei de viver aqui e sempre passei muito tempo perto do mar, na floresta ou nos campos. Sinto que estes hábitos influenciam o meu trabalho. Onde quer que vou, estou sempre a observar as árvores e as plantas, a pensar em como as posso integrar nas minhas ilustrações. Gostava de, um destes dias, ir mesmo viver no campo.

Os trabalhos da tua autoria que vi no facebook fizeram-me pensar em ilustradores britânicos do fim do séc. XIX ou do séc. XX, como William Morris ou Arthur Rackham, Há alguma ligação entre ti e estes grandes ilustradores? Sem dúvida! E fico muito feliz por teres notado esse parentesco. Fui sempre um grande admirador de ilustradores como Arthur Rackham e Harry Clarke. É curioso que menciones William Morris, porque, recentemente, comecei a interessarme mais pelo seu trabalho e tenho a intenção de começar a explorar padrões nas minhas ilustrações. Esses ilustradores e a Arte Nova são, sem dúvida, as pr i n c ip a i s influências da minha obra. Uneos, não só o poder de criar belas ilustrações, mas também a capacidade de fazer objetos decorativos extremamente belos e que testemunham de uma grande sensibilidade.

Tendo em conta o que vi no facebook e a informação disponível no teu sítio oficial, crias as tuas ilustrações usando sobretudo pena e tinta-da-china. Vendelas tal como as crias, ou põe-nas nas capas de álbuns, em merchandising ou noutros suportes? A maior parte das minhas criações é usada nas capas de álbum. E, realmente, só uso caneta e tintada-china. Fico sempre com os originais e vendo alguns deles. O que as bandas me pagam é a licença para usar a ilustração na capa de um álbum ou no merchandising. Controlo de perto o uso que é dado ao meu trabalho e as pessoas que têm licença para o usar. Nestes últimos tempos, tenho recebido encomendas de peças originais, o que me parece um

Trabalhas de forma diferente, quando estás a fazê-lo para bandas? Todos os trabalhos que viste na minha galeria no facebook foram criado para bandas, quer para capas de álbuns, quer para merchandising. Aliás, faço muito poucas ilustrações que não sejam destinadas


“[…] Onde quer que vou, estou sempre a observar as árvores e as plantas, a pensar em como as posso integrar nas minhas ilustrações. […]” a essa finalidade, portanto acabei por me habituar a esse ambiente e sinto-me muito confortável nele. Se uma banda me contactar para me encomendar artwork, é logo informada do aspeto que a peça terá. Se não gostarem do que faço, sugiro-lhes que procurem outro artista. Trabalhas sobretudo para bandas de metalcore e sludge? De facto, trabalho sobretudo para bandas desses géneros. Não sei bem dizer por que razão. Deve ser uma atração mútua. Gostaria muito de trabalhar também para bandas de outros estilos e espero vir a fazê-lo. Mas fico contente por ver que essas bandas cada vez investem mais em ilustrações feitas à mão para as capas dos seus álbuns. Estudaste artes? Como aprendeste a fazer as ilustrações altamente elaboradas e maravilhosas que caraterizam o teu estilo gráfico? Estudei artes na universidade e especializei-me em Design Gráfico. Mas penso que muito do que aprendi deriva de uma espécie de autodidatismo. Comecei muito cedo a desenhar e sempre me senti

atraído pela pena e pela tinta-da-china. “Falavamme” num linguagem que eu compreendia. A arte que faço agora é um prolongamento natural dos desenhos que fazia quando tinha dez anos. Mas um pouco mais sofisticada, penso eu! É um processo contínuo de aprendizagem e desenvolvimento de técnicas. Podemos desenvolver novas competências neste campo todos os dias. Gosto da simplicidade de meios tradicionais como a pena e tinta-da-china. Fico maravilhado com as pequenas coisas que aprendo todos os dias. Por vezes, nem me sinto capaz de explicar a sua imp or t ânc i a . Pode ser algo muito simples como, por exemplo, uma nova maneira de representar algo, mas, para mim, é extremamente excitante. Provavelmente, as pessoas não notam como o meu trabalho evolui, de ilustração para ilustração, mas eu apercebo-me bem desse facto. Já fizeste exposições, sozinho ou com outros artistas? Na realidade, não gosto de exibir o meu trabalho em exposições. Convidam-me muitas vezes para o fazer, o que me lisonjeia muito, mas normalmente declino o convite. Há várias razões na origem desta


me tenha realmente acontecido. Sempre estive muito envolvido no mundo da música, pelo que comecei por fazer trabalhos para bandas que conhecia, a um preço muito moderado, e assim fui construindo a minha clientela. Consegue-se ganhar a vida trabalhando como designer? Sem dúvida. Tens de te converter num homem de negócios, o que eu tenho muita dificuldade em fazer. Tive de aprender muito e continuar a cometer erros. Tens de aprender a tomar boas decisões, a teres confiança em ti próprio, a saberes valorizar-te, a protegeres o teu trabalho e a não deixares que abusem de ti.

minha atitude. Sinto sempre que o meu trabalho ainda não é digno de tal honra, nunca sei qual será a melhor maneira de o apresentar e não tenho tempo para me ocupar desse aspeto pessoalmente. Se aceitares que alguém o faça por ti – como me aconteceu no passado –, depressa verificarás que ficas mal servida. Talvez um dia consiga fazer uma exposição de todos os meus trabalhos, organizada exatamente como eu quero. Mas, para já, participar em exposições parece-me um ato de autopromoção. Prefiro que as pessoas vão conhecendo o meu trabalho, pouco a pouco, em sítios diferentes. Como encontras os teus clientes? Eles encontram-me! Recebo mails todos os dias, geralmente para me encomendarem capas de álbuns, mas também muitas outras coisas. Sinto-me afortunado, porque agora já não preciso de procurar clientes, embora isso nunca

Também te dedicas a outras artes, como, por exemplo, a música? Fui guitarrista durante mais de dez anos e fiz digressões por toda a Europa. Portanto, apesar de pensar que podia ter aproveitado esse tempo para desenhar, também sinto que foi algo que me trouxe ao ponto em que estou agora. Conheci muitas pessoas e estabeleci muitas ligações que me ajudaram a divulgar o meu trabalho artístico. Além disso, penso que o facto de ter feito parte de uma banda e participado na criação de álbuns e em digressões ajudou-me a compreender como funciona o outro lado, Por


Cadência não conclusiva


Não foi fácil prosseguir com esta entrevista. Um achado, diria eu. Após vários telefonemas e emails, negociações e outros subornos, eis que por fim conseguimos comunicar com os Cadenza, banda de Metal nacional que promete aquecer o panorama underground com a sua sonoridade Heavy e Thrash altamente old school. Apesar de esta introdução ser uma brincadeira, a verdade é que o Eddy (baterista) e o Garcia (guitarrista) partilharam a sua história com a maior seriedade, mostrando o quanto gostariam de ir mais além num país sem oportunidades. Obrigado pelo vosso tempo. A primeira questão tem a ver, obviamente, com o vosso percurso até agora. Como surgiram os Cadenza? Foi difícil chegar até este EP? Decerto que o consideram uma meta importante. Nós é que agradecemos. Espero não me alongar muito, uma vez que teria que te contar todo um percurso de 20 anos. (Vou tentar resumir) Os únicos elementos originais sou eu e o Garcia (guitarra). Desde sempre que tivemos este sonho de um dia poder gravar... um álbum. Começamos com os Grinder. A primeira versão foi para um concurso da Earache e gravámos – o tema dos Napalm Death – “Unchallenged hate”. Demos alguns concertos como um quarteto até à saída de um guitarrista. Continuámos como um trio até gravarmos um EP com 2 temas. Estávamos numa fase onde já dávamos alguns concertos quase numa base regular. Tocámos com os Withering, agora Pitch Black e os Web, por exemplo. Passamos por mais uma mudança com a saída do baixista e recrutámos 2 amigos baixo e voz. No entanto, não resultou muito bem. O resto, bem... o resto foi persistência e nunca querer desistir até encontrarmos o Sérgio (Baixo) e o João (Voz) – duas das pessoas mais porreiras à face da terra. Na nossa modesta opinião sentimos que encontramos a nossa melhor formação e nasceram os Cadenza. Até à gravação do EP «Rage and the sorrow within» foram 6?? anos, 3?? dos quais à procura de vocalista e a trabalhar com 2 vocalistas que nunca sentimos como sendo a verdadeira voz que necessitávamos e os restantes com o João. Após estes anos todos, sim, podemos dizer que foi uma meta muito importante. Espero que possa ser o princípio... de algo, em que este EP mostra o nosso som e a nossa identidade, pelo que pode ser interessante para alguma Editora. Vocês têm antecedentes musicais? Quer dizer, já tiveram outras bandas, ou projectos, antes de terem criado Cadenza? Esta pergunta já foi respondida, em parte, na anterior. O Sérgio nunca teve uma banda e conhecia-o porque estudávamos na mesma Universidade, sa-

bia que tocava guitarra. Logo, convidei-o para tocar baixo. :-D O João respondeu aos anúncios para voz e já teve, também, outros projectos musicais. Eu e o Garcia tivemos os Grinder e o Garcia tocou também ao mesmo tempo com os Downthroat. Já ouvi o vosso EP bastantes vezes, e devo dizer que gostei do som. Como foi o trabalho de produção e de gravação? Estão satisfeitos com o resultado final? Ou se fossem gravar agora fariam algumas alterações? Nós somos uma banda e como 99% das outras bandas como nós, tocávamos nos ensaios... vá... “sempre a abrir”, quase consoante a disposição e a “gana”. Antes de irmos para estúdio começámos a preparar muito bem os tempos das músicas e as transições, gravando os ensaios e corrigindo no ensaio seguinte os erros usando, claro, sempre um metrónomo. Em estúdio analisamos as nossas músicas em conjunto com o produtor com uma visão mais externa sobre nós mesmos do ponto de vista de execução e das músicas do ponto de vista de composição e arranjos. Só com esta análise e com as qualidades de Produtor e Engenheiro de Som do Daniel Valente (para nós um dos melhores a nível nacional e internacional) conseguiríamos um EP com a qualidade que gravámos. Devido às excelentes referências que nos foram dadas, escolhemos gravar nos estúdios Caos Armado. O Daniel Valente foi estupendo. Fez um excelente trabalho de produção, mexeu nas músicas da forma certa e gravar foi relativamente “simples”. Penso que fizemos um bom trabalho mas ainda podemos melhorar. Como é óbvio, as próximas gravações sairão melhores. Eu acho que não deve haver um CD no mundo cuja banda não fizesse alterações após a gravação. Acho que não fugimos a essa regra. Agora queremos gravar todo o álbum e muitos mais. Haja editora para isso! :) De que fala a vossa música? Têm alguma mensagem a transmitir? Há alguma relação entre o nome da banda e o artwork? O nosso Logotipo, da artista plástica Celestina Gar-


cia, é uma representação da banda. Somos quatro pessoas muito diferentes que em conjunto formam um todo – os Cadenza. O logotipo também representa algo que nos define sonoramente: o ritmo e as suas mudanças intrincadas, no fundo a cadência. A capa, o grafismo, as obras plásticas nela, também da artista plástica Celestina Garcia e a edição digital do Eddy são também uma representação da banda. O EP é conceptual no sentido em que as músicas centram-se na temática da Raiva e da Mágoa, do desejo de mudança e da fuga em direcção a algo melhor embora indefinido. As letras são pessoais, mas escritas com um distanciamento que permitem a cada ouvinte, que realmente oiça as músicas e leia as letras, encontrar nelas algo que é apenas seu, algum sentimento que o faça sentir que a música é também sua e não só nossa. Achamos que não há duas pessoas que nos oiçam e que tenham a mesma ideia do que somos e é essa liberdade que queremos que exista sempre no nosso som e que o ouvinte a possa sentir como nós

so têm uma banda de Metal agora, como vêm a evolução e a facilidade de gravar um disco agora em comparação há 20, ou mesmo 15 anos atrás? Acham essa facilidade um ponto positivo? Ou acham que fomenta o entupimento e saturação da música mais pesada? Isto leva a outra pergunta – que acham da cena underground actual? Como em tudo que é positivo, tem que haver uma correcta dosagem para que não seja prejudicial, ou mesmo letal, mesmo a água. Se por um lado é muito mais fácil gravar, há que manter presente pelas bandas, produtores, editoras e mesmo público que nem tudo é “gravável”, pelo que os níveis de exigência em todos eles tornam-se cada vez mais altos o que diminui um pouco o efeito de saturação que a facilidade em gravar e divulgar online, nos mais diversos canais criou. Penso que é um processo evolutivo que se vai auto-regulando e neste momento ainda estamos em fase de transição, pelo que é muito difícil uma banda, mesmo a uma excelente banda, fazer-

“Espero que possa ser o princípio... de algo, em que este EP mostra o nosso som e a nossa identidade, pelo que pode ser interessante para alguma Editora” a sentimos quando a tocamos na sala de ensaio, ao vivo ou quando a ouvimos no conforto do sofá. O vosso som é bastante Thrash Metal old school. Desde o início que foi esse o caminho que quiseram percorrer? Bem, quanto a isso... sinceramente, não sei. Fazemos Heavy Metal e é o que sempre faremos enquanto Cadenza e não nos importamos em nos atribuir rótulos sonoros. De entre as pessoas que nos ouviram desde o início, nunca foi unânime qual o nosso sub-género dentro do Heavy Metal, pelo que se consideras Thrash old school põe a palavra esquisito também no rótulo. :) Desde o início que queríamos fazer música. No tempo dos Grinder o estilo era outro, porque as características dos músicos eram diferentes. Os Cadenza são 4 elementos muito diferentes e com gostos musicais muito distintos que compõem e fazem arranjos musicais influenciados inconscientemente pelas suas diferentes referências musicais. No nosso som, nota-se claramente os 4 instrumentos e as suas diferenças em que, especialmente com a voz do João, acho que temos um excelente contraste musical. No fundo esta mescla faz os Cadenza, identifica-nos e diferencia-nos. Sendo vocês de uma geração old school, que cresceu a ouvir Metal nos anos 80 e 90, e que por aca-

se notar no meio de todas as outras. Aqui é importantíssimo o trabalho desenvolvido pela VERSUS Magazine, que vai facilitando a vida de todos nós ouvintes para que possamos ouvir boa música sem dedicar 24h do dia, 365 dias por ano, à procura de tudo o quanto vale a pena ser ouvido que existe neste mundo sem fronteiras sonoras. :) Há pouco sugeri que chegar a este EP teria sido uma meta importante. Mas, não serão também importantes os concertos para promove-lo? Vai haver concertos? Quero ver os Cadenza em palco! Tudo a seu tempo. Foi uma meta importante. Mas como nem tudo é música e este país não é propriamente a terra das oportunidades, vamos fazendo as coisas com calma. O artwork é todo da artista plástica Celestina Garcia, capa, quadros e pinturas que ela nos cedeu, mas eu (Eddie) fiz o resto. Entre trabalho e família temos de arranjar tempo para os Cadenza. Os ensaios já começaram e a ideia é, precisamente, dar concertos. Portanto, asseguro-te que vais ter oportunidade de ver a malta tocar em breve. Além disso, estamos sempre receptivos a convites, pelo que quem nos quiser ver ao vivo, mesmo que seja no seu quintal, basta convidar-nos que nós lá estaremos. :) E quando estará, então, o EP à venda para o público?


Vamos esperar primeiro pela reacção das editoras, ver se há a possibilidade ou não de gravar um álbum, etc e dependendo de encontramos ou não uma editora, pensaremos em colocar o EP à venda e numa data e concerto oficial de lançamento Por último, têm já algumas músicas para um seguimento? Podemos esperar mais trabalho dos Cadenza? Gravámos um EP mas todo o conceito «Rage and the Sorrow Within» é um álbum. Assim, o nosso trabalho ain-

da não terminou, mas estamos a fazer as coisas com calma e por etapas para podermos fazê-lo o melhor possível. Estamos a preparar os concertos, vamos promover o EP junto das editoras, tentar conseguir uma que acredite em nós e no nosso som e só depois poderemos gravar um álbum completo. Entrevista: Hugo

anuncia aqui

Victor


Lisbon Dark Fest Festival Voz do Operário – Lisboa 27.04.2013

Crónicas de um festival conturbado Desde o primeiro dia em que anunciaram este evento, uma nuvem de desconfiança esbateu-se sobre os promotores para nunca mais daí sair e assombrar este festival até ao dia do espetáculo, o qual prometia um cartaz avassalador. Seria de facto um dia inesquecível de concertos em terras Lusitanas, dado a anunciada presença de tão conceituadas bandas, como os Haggard (Itália) e Crematory (Alemanha), ambos pela primeira vez em Portugal e os suecos Therion, que regressavam volvidos 16 anos, com excepção dos espanhóis Tears of Martyr e dos germânicos Finterfrost - também em estreia cá pelo burgo – e dos portugueses Ava Inferi, Secrecy e My Enchantement. Como podem ver, isto iria ser um evento de chorar por mais! No entanto, a tempestade agudizouse na última semana antecedente ao evento e passou a furacão de categoria 3, primeiro com o cancelamento da vinda dos Crematory e no dia 26 de Abril com o cancelamento dos Haggard e Finterfrost, e pasme-se, no próprio dia, com a actuação dos Therion em risco até à última hora. As razões para este descalabro não interessam escalpelizar aqui – e foram amplamente discutidos na net, mas, nunca se tinha visto nada assim até hoje. O evento teve lugar no coração de Lisboa, na interessante sala da Voz do Operário, a qual infelizmente, se revelou demasiadamente grande para a fraca presença de público, o qual não ultrapassou certamente as 1000 pessoas, ficando mesmo claramente bem longe desse número. Estranhamente, e ao contrário do que se suponha durante a venda de bilhetes, as galerias estavam praticamente vazias. Se comprimíssemos as pessoas da plateia, terse-ia um quarto de sala cheio! Não se compreende como um cartaz destes

não teve mais adesão por parte dos metaleiros nacionais. Algo correu mal neste capítulo, e,para mim, é a raiz de todos os problemas que antecederam o festival. Até a segurança presente no evento foi proporcionalmente exagerada e demasiada rigorosa na revista, parecendo nós que íamos a um concerto no pavilhão Atlântico ou ao Rock in Rio – alias, no mês seguinte, no concerto dos Maiden, a polícia nem de perto chegou ao nível da revista destes seguranças do Darkfest. As portas abriram pouco antes das 18h00 e com todos os membros dos Therion a abandonar a Voz do Operário a caminho do hotel, com um simples post no facebook a anunciar que só regressavam quando os compromissos contratuais estivessem todos regularizados, ou de forma mais directa: sem dinheiro, não há concerto. Isto prometia vir a ser uma noite interessante e já estava a ver ter pago 30€ para ver os Ava Inferi como cabeças de cartaz! Não é que não merecessem, mas este valor só era plenamente justificado com no mínimo a actuação dos Therion. Os primeiros a entrar em cena, com uma plateia praticamente composta com todas as pessoas esperadas para o festival, foram os Portugueses My Enchantment que mostraram em escassos 20 minutos a garra do seu Death Metal Melódico e cd de estreia «Sinphonic». Eram já 19h00. Foi uma actuação algo prejudicada pelo som, mas consistente e reveladora do que os homens do Barreiro conseguem fazer e mostrar em palco. Seguiram-se os Secrecy e o seu interessante gothic rock, com o vocalista Miguel a dar literalmente corpo e alma à sua música, com uma representação deveras peculiarmente artística, tenho feito as despesas em palco da actuação dos Secrecy. Mais uma vez, o som prejudicou a actuação dos Portuenses e tiveram um dos momentos alto com a cover “Wonderful life” dos Black. Até aqui, tinham tocado bandas que destoavam um bocado da natureza mais sinfónica das bandas cabeça de cartaz do festival. Assim, foi passado “a palavra” aos espanhóis Tears of Martyr. Entretanto, já eram 21h30

e não havia novidades dos Therion. É que para nos manter a par do que se ia passando com o evoluir da situação, no merchandising, estava lá nada mais nada menos que a Sra. Christofer Johnsson. Tendo centrado a sua actuação no seu novo trabalho, «Tales», os espanhóis foram uma excelente surpresa, quer em termos musicais, quer em termos de presença em palco. O seu Metal gótico sinfónico ao bom estilo das mais recentes bandas femininas convenceu os presentes e deu a conhecer uma nova diva do metal feminino, a soprano Berenice Musa. Simplesmente divinal. Por volta das 22h30, começou a ecoar pela Voz do Operário que os Therion, finalmente, iriam actuar no Lisbon Darkfest. Que alívio! Estávamos todos a ver o caso mal parado e ficar na espectativa como iriam resolver este enorme berbicacho. Seguiram-se os portugueses de Almada, os Ava Inferi. Com uma actuação bastante bem definida e ainda assente em «Onyx», deram início às hostilidades com «Majesty» e «Candlelight», com uma Cármen descalça, como já é seu apanágio nos concertos dos Ava, e toda a sua teatralidade que dá corpo à música. No seu canto, distante do público, como numa espécie de introspeção musical, Rune Eriksson, limitou-se a tocar exemplarmente a música que compôs sem interagir uma única vez com o público, ao invés de Cármen, que ao desfilar das músicas não perdia a oportunidade para tal. Infelizmente, semanas depois, percebi o porquê desta forma distante de estar no palco: Os Ava Inferi deram pôr fim à banda, e, certamente, nesta noite a decisão já estava tomada, tendo os Ava Inferi dado o seu último concerto, sem ninguém suspeitar de tal. «Danças das Ondas» e «Last Sign of Summer» foram as músicas seguintes, e por esta altura, os Ava Inferi eram os que estavam a beneficiar do melhor som até então. Concluíram o set com «The Heathen Island», «Living Dead» e «Portal», para regressarem e tocarem um dos hinos, «Onyx», pela última vez da sua carreira. Foi uma actuação bastante consistente e com nível, mas


sem nunca conseguir arrebatar plenamente o público. Fica para a posteridade o facto de ter sido o último concerto dos Ava Inferi, de Almada, Portugal. E pouco antes da meia-noite, o palco foi finalmente arrebatado pelos grandes Therion ao som de «Poupé de Cire, Poupé de Son», com Lori Lewis a mostrar todos os seu atributos vocais e, Christofer Johansson com a sua já habitual indumentária de casaco aba de grilo, chapéu de mágico e óculos escuros. E quanto ao «Les Fleurs du Mal», foi o que nos calhou, tendo desde aí, os Therion brindando-nos com um concerto digno de quem já não vinha a terras Lusas desde 1998. Assim, o poderoso e extravagante “Guerreiro Gaulês” da Suécia, Snowy Shaw, foi dignamente apresentado por Lori Lewis para fazer as honras vocais da noite, e brindar os presentes, com um «Ginnungadap» que incendiou de imediato a sala, com os Therion a mostrar porque são a banda que são e como a sua música ao vivo ganha outra dimensão. Seguiram-se, numa entoada bastante ritmada, «Son of The

Therion

Sun», «Kali Yuga, Part 3: Autumn of the Aeons» e «Call of Dagon». Neste momento, uma coisa é certa: toda a confusão e incerteza inicial eram coisas do passado... Pelo menos para nós. Ainda a “sinfonia” ia no adro e o octeto já tinha um concerto para a história. «Asgard» foi a grande música que se seguiu, para a sabedoria divina da Cabala encher a sala ao som de «The Perennial Sophia». O quase-instrumental de «Deggial», «The Flight of the Lord of Flies», permitiu ao guitarrista Christian Vidal “solar” dar o tom para «An Arrow from the Sun», seguramente um dos momentos mais altos do concerto. E claro está, não podia faltar algo do Vovin, e as premiadas foram nada mais nada menos que «Wine of Aluqah» e «The Rise of Sodom and Gomorrah», que antecedeu «Cults of the Shadow» que fechou o setlist com chave de ouro. Nos entretantos tivemos «The Wand of Abaris», «Typhon», «Schwarzalbenheim», onde Snowy Shaw nos deu literalmente uma lição cantada, sendo esta música outro dos grandes momentos da noite - simplesmente genial. O set não ficou

concluído sem «Vanaheim» e «Lemuria». Para o encore ficou aquela que é o verdadeiro hino dos Therion: «To Mega Therion», a qual, foi para acabar de vez com as nossas gargantas! O regresso para o encore final foi brindado pelas palavras em português de Christian Vidal e pela introdução final do próprio Christofer de «Thor (The powerhead)», a grande cover dos Manowar que assenta que nem um “poderoso martelo” de puro heavy metal e na perfeição para todo o esplendor vocal de Snowy Shaw, no fecho deste magnífico e inesquecível concerto, que só pecou por mais. Este é daqueles concertos/festivais que vão ficar na história por todas as razões, positivas e negativas, mas principalmente pela grande performance, profissionalismo e dedicação demonstrada por todas as bandas, em particular os Therion. Só espero não ter de esperar outros 15 anos para os ver novamente. Texto: Carlos Filipe Fotografia: Carlos Filipe e Sérgio Santos


Ava Inferi

Tears of Martyr

Secrecy

My Enchantement


Associação A(c)tua Aveiro

AguArdente + Revolution Within + The Last Of Them BE (Bar do Estudante) – aveiro 24.05.2013

A par da Bleeding Heart, e do Blindagem Metal Fest, a Associação A(c) tua Aveiro tem-nos presenteado com alguns concertos de Metal e contribuído para que este estilo não se esgote na cidade de Aveiro. A verdade é que a adesão a concertos de Metal Core e Hardcore são significativos, e é graças às promotoras e organizadoras de eventos que estes são possíveis – sem esquecer o publico fiel. Esta noite prometeu ser especial porque assinalou o regresso dos AguArdente a Portugal com paragens em Aveiro, Porto

AguArdente

e Viseu com algum material novo na bagagem. As honras começaram pelos The Last of Them, que andam a promover o seu mais recente EP, «At No One’s Mercy», e a noite não poderia ter iniciado da melhor maneira. Thrash Metal e Groove em doses maciças. A prestação da banda foi bastante boa, mostrando que o seu mais recente material, pesado que se farta e com detalhes muito interessantes nos arranjos, promete angariar fãs. Contudo, o publico ainda se mostrava bastante tímido e parecia não conhecer a ideia de mosh pit. Mas os Revolution Within resolveram esse assunto com o seu Thrash Metal, e não tardou que o mosh pit ganhasse forma. O pessoal ficou louco nessa roda desenfreada de onde saíam disparados copos de cerveja e até peças de roupa… e alguns corpos. Os Revolution Within já são uma banda bem conhecida do publico de Aveiro e por isso não foi difícil o contacto entre

a banda e o povo. A linguagem do Metal foi bem transmitida. Por fim, os AguArdente fecham a noite com um espectáculo de Rock e Metal bem esgalhado. Num estilo bem descontraído e com uma mensagem bem clara – álcool, rock, sexo e álcool – a banda explodiu com o recinto com tamanha boa onda. E o público agradeceu! Uma parte deste sendo amigo do Rui, guitarrista, apoiaram o espectáculo da banda da melhor forma. Mas no geral, este foi muito bem animado, já que os AguArdente são exímios nessa tarefa. No final restaram os destroços pelo recinto, copos esmagados e manchas de cerveja. Por último, devo assinalar que o som, desta vez, não estava nada bem feito. Nem a protecção nos ouvidos me safou. Reportagem e fotografia: Victor Hugo


Revolution Within

IRON MAIDEN Maiden England 2013

Pavilhão Atlântico – lisboa 29.05.2013 Uma noite de fogo e gelo Todos os fãs de Iron Maiden devem-se ter cruzado, pelo menos uma vez na vida, com o magnífico concerto de 27-28 Novembro de 1988 que deu origem ao mítico VHS “Maiden England”. Volvidos 25 anos, os Maiden decidiram transportar toda essa produção para os nossos dias, fazendo-lhe um suberbo upgrade e proporcionando a todos a grandeza que foram esses tempos. Lá estava o lendário cenário de gelo com os motivos do Eddie da capa do «Seventh Son of a Seventh Son» - Até os blocos dos projectores de luz tinham esse motivo! Maiden England 2013 foi um dos eventos mais aguardados dos últimos dois anos, desde que anunciaram

The Last Of Them

a tournée Americana, e, o público português respondeu afirmativamente ao esgotar o pavilhão Atlântico, que rebentava pelas costuras. Às 19h30 em ponto entraram em cena os conterrâneos dos Maiden, os Voodoosix, que fizeram as honras de abrir as hostilidades, com uma curta e boa actuação de rock metal que lá animou o pessoal sem grandes euforias, o qual já praticamente enchia o recinto. As cinco músicas proporcionaram uma meia-hora de boa música desta banda que parece estar em ascensão no seio do rock britânico. Os Maiden nos últimos anos habituaram-nos às tournées temáticas e claro está, não fugiu a essa regra, tendo o setlist sido talhado à volta do «Seventh Son of a Seventh Son», não indo além do «Fear of The Dark» de 1992, proporcionando a todos, fãs mais velhos e mais novos, a oportunidade de ver ao vivo temas à muito esquecidos e pouco ou nunca tocados numa tournée regular de suporte a um novo álbum. Assim, no setlist desta noite dos Maiden não falhou praticamente o revisitar dos álbuns desde «Iron

Maiden» até «Fear of the Dark», deixando de fora somente o «No Prayer for the Dying» - Uma pena quando neste álbum está o «Mother Russia». De referir que o setlist é o mesmo que os Maiden levaram o ano passado à tournée Americana do Maiden England. Desta forma, ao passar das 20h30 - surpreendentemente cedo - a música dos UFO «Doctor, Doctor» anunciava que o espectáculo de Harris, Bruce, Dave, Adrian, Yannick e Nicko estava prestes a começar, bem o Nicko só o vimos no final do concerto, coisa que os Maiden deviam rever, pois a bateria ofusca-o de tal forma que é impossível vislumbrar o trabalho deste proeminente baterista de 61 anos. As luzes apagaram-se, os projectores de luz baixaram - sim, o grupo de luzes em estrela por cima do palco baixava e subia consoante as músicas tal como vimos no «Live After Death» de 1985 - ofuscando completamente o público e permitindo que os músicos entrassem ao som do intro do «Moonchild», que foi como seria de esperar a música de abertura. Logo ali, vimos que


iria ser uma noite memorável, com um Bruce Dickinson a correr e saltar de um lado para o outro - na plataforma que existe por cima da estrutura do cenário - e os restantes músicos com a sua postura e posicionamento habitual. «Can I play with Madness» gritava Bruce ao mesmo tempo que os Maiden nos presenteavam com os primeiros efeitos pirotécnicos da noite. Seguiram-se «The Prisioner» e «2 Minutes to Midnight», com um público em êxtase a acompanhar de pulmões bem abertos os refrões de sempre, para seguidamente termos uma das mais esperadas da noite que foi «Afraid to Shoot Strangers», que provavelmente a par do «The Prisioner», os Maiden não tocavam há décadas. E com isto chegávamos a um terço do concerto e... O relógio marcava 21h00. A hora dos clássicos: «The Trooper» com a presença em palco de Eddie e Bruce vestidos a rigor e a clássica Union Flag bem hasteada por este último, e «The Number of

the Beast» que contou com a presença do belzebu – himself! - a controlar a situação, tenho sido esta, já habitual, uma das músicas com mais efeitos pirotécnicos. Espectacular como sempre! Outra clássica que ladeou as duas referidas novidades do setlist da noite foi «Run to The Hills». A hora das grandes músicas esquecidas tinha chegado. A começar, a surpresa da noite, «The phantom of The Opera», e o representante de «Somewhere In Time», «Wasted Years», que colocou o público ainda mais ao rubro e antecedendo a mais esperada da noite - pelo menos para mim - que é «Seventh Son of a Seventh Son». Magistral, divinal, suberba de princípio ao fim, sendo, tal como em 1988, o ponto mais alto do concerto. Estava lá tudo: O Eddie e todos os seus adereços, as velas, o fumo na parte calma da música e até mesmo o teclista do lado direito do palco! Para finalizar a noite ainda tivemos direito ao «Clairvoyant», «Fear of the Dark»

e «Iron Maiden» para finalizar em beleza com o famoso Eddie esquelético e “filho” na mão a gesticular. Para o encore estava reservado mais três clássicos de outrora: «Aces High», «The Evil that Men Do» e «Running Free» para concluir um dos melhores concertos de sempre dos Maiden em Portugal. Eram 22h30 e as luzes teimaram em não acender dando a sensação por minutos que ainda iriamos ter mais... Mas não, a clássica música de fim de concerto «Always Look on the Bright Side of Life» começou a tocar e os roadies começaram a desmontar o palco. Há quem advogue que este compasso de espera no final do concerto é só para os músicos saírem do recinto para o hotel sem serem abordados pelos fãs. Up the Irons! Texto: Carlos Filipe Fotografia: Carlos Filipe e Sérgio Santos




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