Versus Magazine #23 Dezembro/Janeiro 2013

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Para iniciar num tom positivo um ano que pouco promete tanto social como politicamente, o que poderia haver de melhor do que um grande edição desta vossa revista. Entre muitas outras coisas, desta vez trazemo-vos uma longa conversa com Christofer Johnsson, que continua a surpreender com o seu arrojo criativo nos Therion mesmo ao fim de 25 anos de actividade, uma entrevista com os doom masters Saturnus, que nos presentearem em 2012 com o melhor trabalho da sua carreira, e uma capa dedicada aos romenos Dordeduh – os continuadores do legado artístico e espiritual dos Negură Bunget. Mas há mais: ao todo temos 18 entrevistas, o que constitui a dose mais massiva de sempre no historial de 4 anos desta publicação. O nosso Balanço de 2012 respeitante a álbuns também não poderia faltar, tendo aqui sobressaído «Portal of I» dos Ne Oliviscaris e «Alpha Noir» dos Moonspell como os melhores discos do ano, respectivamente a nível internacional e nacional. E para tornar este #23 da VERSUS Magazine ainda mais apetecível, incluímos aqui 4 passatempos com um total de 6 discos para oferecer. Vejam-nos como uma espécie de prenda de Natal atrasada! Apesar das dificuldades acrescidas motivadas pela conjuntura que todos estamos a viver, vamos continuar empenhados neste esforço para vos trazer em 2013, a todos os 60 dias, mais uma nova edição recheada de novidades sobre este mundo musical que tanto amamos. Em nome de todo o staff da VERSUS Magazine, aqui ficam os votos de um excelente Ano Novo! Ernesto Martins


O Projecto ArtĂ­stico da controvĂŠrsia


Os Suecos Therion fazem 25 anos. E para celebrar o aniversário o mentor da banda, o senhor Christofer Johnsson, decidiu fazer um projecto artístico intitulado «Les Fleurs Du Mal», pondo em prática uma ideia arrojado que lhe estimulava a mente há anos, mantendo o conteúdo do mesmo em segredo, até ao primeiro minuto da tournée de suporte ao álbum. A descoberta da origem de «Les Fleurs Du Mal» teve tanto de surpreendente como de fracturante, já que afinal o projecto artístico de aniversário não é mais do que um álbum de covers de música francesa dos anos 60 e 70. Bombástico! A conversa com o mestre da música sinfónica teve como base tentar descodificar e perceber as origens de «Les Fleurs Du Mal». «Les Fleurs du Mal» é um projecto teu de longa data, o qual, constitui algo de inesperado e estranho. Afinal, não é todos os dias que uma banda de Metal Sueca faz covers de música popular francesa dos 60 (até uma canção vencedora do festival da Eurovisão está lá!). Já assisti a bandas de outras paragens musicais fazerem álbuns de covers de bandas de Metal (na maioria os Maiden), mas nunca me deparei com o contrário. Acho que os Therion com «Les Fleurs du Mal» são uma estreia. Porquê esta jogada que tem tanto de inesperada como de aprimorada e, definitivamente, arriscada para celebrar os 25 anos dos Therion? Christofer Johnsson: Bem vistas as coisas, metade das canções são antigas canções famosas francesas enquanto a outra metade são igualmente canções antigas francesas mas que caíram totalmente no esquecimento colectivo, mesmo em França. Estou a falar de artistas que nunca fizeram um álbum. Por exemplo, cinco das músicas são covers de Leonie Losseau e Scott Victoire, que só lançaram EPs (7” vinis com

3 ou 4 músicas). Esta abordagem é um aspecto muito importante do projecto: trazer aquelas jóias de outros tempos, esquecidas, de volta à ribalta. Ou dizendo melhor, para a ribalta porque algumas destas músicas nem sequer eram conhecidas naquela época. Eram boas canções que nunca chegaram a ter o sucesso comercial merecido. Porquê fazer este álbum? Quando perguntaram ao George Mallory porque é que ele teve que escalar o Monte Everest, ele simplesmente respondeu: “Porque está lá”. Às vezes apenas temos ideias que seguimos sem nenhuma razão aparente do que o facto de que tivemos uma ideia interessante e apelativa. Eu tive esta ideia para fazer um álbum de covers já faz muitos anos - acho que foi por volta de 2005 ou 2006 - no qual transformaríamos músicas de diferentes artistas na música dos Therion. Não o tipo de álbum de covers em que tocamos as nossas músicas preferidas: afinal quem necessita de ouvir os Iron Maiden e mais uma versão do “The number of the beast”? Seria um desperdício de tempo. Claro que tocar essa música no final do set do concerto é outra coisa; aí é

algo de divertido! Mas, a génese da ideia veio quando fizemos o “Summer night city” dos ABBA. Há tantos fãs que ao longo do tempo me disseram que odeiam ABBA, que odiavam aquele estilo disco sound dos 70 mas que adoraram a nossa versão. Foi este feedback que me levou de forma natural a ter a ideia de fazer um álbum inteiro de covers de músicas que gostava. Com o tempo, apercebi-me que metade das músicas que queria adaptar eram músicas girlie pop francesas do final dos anos 60. Então pensei, por que não fazer um álbum inteiro em francês de tais músicas? Perguntei ao Thomas [Vikström] o que ele pensava disto e ele adorou a ideia. Christian [Vidal], sendo o novato da banda, primeiro ficou calado mas quando toquei com ele algumas das coisas que já tinha feito, depois de ele as analisar, ficou entusiasmadíssimo. O resto da banda ficou bastante céptica no início mas acabaram por aceitar a maior parte das versões e deram o seu melhor. Depois da mistura do álbum, Johan [Kullberg] finalmente começou a ver a coisa e gostou da maior parte das músicas. Nalley foi o único que manteve


Juliette Gréco, Françoise Hardy, ou Michel Sardou? Só para mencionar os mais populares. A ideia foi pegar apenas em artistas do sexo feminino. Abrimos uma excepção para a música do Serge Gainsbourg «Initial B.B.» [NR: B.B. de Brigitte Bardot] porque o refrão era cantado no feminino e porque ele tinha escrito algumas das letras de outras canções que fizemos. Podemos dizer que teve um lugar de honra no teatro. Quanto à escolha propriamente dita, limitei-me a escolher as minhas músicas favoritas e com elas fizemos 21 demos. Depois escolhemos as 15 canções mais interessantes e gravámo-las. Françoise Hardy estava na lista original e fizemos uma demo de “Fleur du lune”, mas no final algo faltava na nossa versão. Depois de concluídas as gravações, descobri outras raras canções de Annie Philippe e Scott Victoire que gostaria te ter adaptado também. A cena francesa desse período é um enorme tesouro que poderia ter facilmente dado um álbum duplo, se o quiséssemos, mas senti que estas 15 eram o suficiente.

uma perspectiva negativa, mas finalmente durante a tournée, ele lá me disse: “Acho que finalmente consegui perceber o álbum e o projecto artístico”. Mais vale tarde do que nunca! Quais foram as tuas motivações para fazer «Les Fleurs du Mal»? De onde veio o teu conhecimento da música francesas para fazeres este projecto? Há anos que sou um fã deste tipo de música de outros tempos, que posso afirmar que até tem influenciado algumas das músicas de Therion. Acredita ou não, mas há actualmente uma cena under-

ground para este tipo de música e as pessoas fazem até algo semelhante como antigamente com a troca de cassetes e discos, mas desta vez com mp3’s de conversões de velhos e esquecidos vinis deste tipo de música. A riqueza da música popular francesa 50-6070 é bastante diversificada e vasta, como podemos comprovar pelo conjunto de músicas escolhidas para «Les Fleurs du Mal». Porquê adaptar estes artistas específicos, e não outros como por exemplo, Charles Aznavour Jacques - “Ne me bastante pas” Brel, Georges Brassens, Dalida,

Dei-me ao trabalho de ouvir as versões originais, e, na maior parte das canções, constatei que há uma componente orquestral bastante presente, que constitui o coração da música, típico deste tipo de canções deste período. Presumo que esta deverá ter sido para ti a parte mais fácil de adaptar. Sendo assim, qual foi então a parte mais difícil de adaptar do original para a música dos Therion? A ideia nunca foi refazer completamente músicas retro, mas sim preservar o núcleo da canção. Como uma ideia para um álbum de covers que colmatou num projecto de arte, houve de súbito muitos propósitos e funções que eu queria ver cumpridas. Um deles foi mostrar às pessoas que a


música não é assim tão diferente como se pode pensar à primeira vista. Algumas das músicas são tocadas exactamente como as originais, apenas com a adição de alguns arranjos modernos. E assim, conseguimos mostrar que não se demora muito a transformar estas canções numa música agradável para os fãs de Therion. Queríamos tocar as canções, mas não alterálas mais do que o absolutamente necessário. Ouvi «Les Fleur du Mal» algumas vezes - e irei certamente continuar a ouvir -, e senti que a duração das canções é (ou pode ser) uma menos valia do álbum. A maioria das canções é em torno dos 3 minutos ou até menos de duração. Na minha opinião, a música dos Therion pede mais tempo e profundidade, funcionando bem melhor com uma duração mais extensa ou mesmo longa, aliás, como têm feito até hoje. Concordas com este ponto de vista? Porque escolheste essa abordagem “perto do original”? Como não queria mudar as músicas assim tanto, por isso, na maioria dos casos permaneceu tal como o original. É verdade, a música dos Therion normalmente precisa de mais tempo para se desenvolver, o que leva por outro lado a termos mais variações. Estas músicas são mais despidas do que as músicas do Therion e com menos variações na estrutura e tempo, por isso acho que elas estão bem do jeito que são neste formato específico. O título do álbum é derivado do livro de poemas proibido de Charles Baudelaire, o qual constitui um marco na poesia moderna e simbólica. O que te levou a usar a poesia de Baudelaire em geral e o livro de poema “Les Fleurs du Mal” em particular? Tenho a maior consideração por ele, mas fui mais influenciado pelas reacções a este livro e da

fama dos 6 poemas mais do que qualquer influência directa pelo seu trabalho. É um aspecto social comportamental importante e da psicologia de massas deste Projecto Artístico, o qual nutre das ligações às reacções contemporâneas e à figura de Baudelaire. A temática inerente a quase a totalidade das músicas é a da música pop, tal como o amor ou as relações amorosas. Não achas que, com estas temáticas poderás estar a trair a essência grandiosa das temáticas exploradas pelos Therion nestes últimos 25 anos? Este é o lançamento de aniversário dos 25 anos. Não é um álbum normal dos Therion. Faz parte de um projecto artístico que deveria logo à partida ser algo de totalmente diferente. NÃO fazer algo de completamente diferente e desafiante é que seria trair os valores de Therion. É como quando, no final dos nossos concertos, acabamos com alguma música pesada com a qual crescemos, como por exemplo o “I wanna be somebody” dos WASP ou o “747” dos Saxon. A diferença está no facto de que quando fazes uma cover de um tema Heavy Metal com as letras mais estúpidas do planeta, está tudo bem e é normal. Mas se fizeres uma cover duma canção pop com uma letra de amor parva, então aí já é de bradar aos céus. É uma traição. As letras de amor parvo das bandas rock não são melhores do que o mesmo tipo de letra das bandas pop. As pessoas simplesmente fingem que são diferentes porque gostam da música. Comparando a maior parte das letras das hair bands do final dos anos 80, com qualquer letra das músicas que estamos a adaptar, todas elas mereciam um prémio Nobel, em comparação. E digo mais, algumas das canções adaptadas são ainda hoje realmente boas, até poderiam facilmente (depois de traduzido para o Inglês) figurar num álbum

de metal sem que ninguém levantasse uma sobrancelha. Como por exemplo, o texto de “Lilith”. Considerarias utilizar a temática poética da simbologia do Baudelaire como tema principal de um futuro álbum dos Therion? Não. O Baudelaire não tem qualquer interesse esotérico que valesse um álbum inteiro. Talvez sim uma canção. O que quer que se possa dizer de «Les Fleurs du Mal», musicalmente falando, faz tributo ao som da banda: é puro Therion. No entanto, penso que poderá decepcionar alguns fãs mais asseridos devido à natureza do material base. Quais têm sido as reacções até então dos fãs? As reacções iniciais foram 50/50, ou talvez mesmo mais negativa do que positiva. Mas estas foram as minha expectativas inicias. Como todos sabem hoje, «Les Fleurs du Mal» não foi anunciado, não houve cópias promocionais para os jornalistas e os fãs que vieram ao primeiro concerto da tournée simplesmente não sabia o que lhes esperava. Quando tocámos a primeira música em palco, ninguém sabia o que era. Em seguida, os fãs compraram o CD, alguém colocou-o na internet e o carrossel começou. Eu sabia por experiência própria que de cada vez que fazemos um novo álbum, há sempre uns energúmenos a queixarem-se da direcção do álbum, o qual não é do seu agrado, blá, blá blá. Então, para projectar o álbum por si, joguei com estes indivíduos. Para um álbum como este, estava à espera que os energúmenos fossem 10 vezes do que o normal. Como os energúmenos são sempre os primeiros a expressar as suas opiniões - muitas vezes bastante emocionais e extremamente exagerada – percebi que este comportamento iria culminar no aumento da curiosidade de quase todos. Afinal,


não há melhor publicidade do que má publicidade. Lançar um álbum sozinho, sem o suporte de uma editora, suporte este respeitante à compra de anúncios em revistas e empurrando o álbum das diferentes maneiras possíveis é quase impossível sem chegar ao público em geral. Há várias maneiras de contornar isto e eu explorei esta peculiar abordagem. Explorei as mentes negativas que estão sempre a vomitar por toda a internet. Transformei o seu ódio em relações públicas do projecto. Não há melhor relações públicas do que as pessoas a falar sobre nós. Vi como a coisa funcionou com o «Lulu» dos Metallica, e como eu próprio reagi ao ouvir falar sobre isso. Os Metallica a fazerem um álbum com esse título - em conjunto com aquele idiota sem talento do Lou Reed?!? A minha reacção imediata foi, evidentemente: Tenho de ouvir isto! Claro que, depois, afinal, era uma merda total. Odeio o Lou Reed e mesmo gostando de Metallica, não é exactamente o tipo de

banda que eu espero que venha a fazer um tipo de álbum artístico que seja bom – Eles devemse ficar pelo Thrash Metal. Mas o mecanismo inerente, “eu tinha essa sensação, tenho simplesmente de ouvi-lo o quanto antes” pelo simples facto da curiosidade, foi algo que aprendi e percebi que poderia adaptar o mesmo conceito para com os fãs de Therion - com a devida diferença de que Lulu é uma bosta fedorenta e «Les Fleurs du Mal» é uma obra de arte, não importando se é do seu gosto ou não. Então, por ter um monte de energúmenos da desgraça a exagerar e a declarar emocionalmente que os Therion finalmente perderam a garra e a cabeça, fez com que todos os fãs de Therion simplesmente tinham de ouvir o álbum por eles, o mais rápido possível, a fim de construírem o seu próprio julgamento. A ajudar à festa, tinha preparado três vídeo clips que vão fazer as pessoas falarem ainda mais! Resumindo, as más reacções não são nem metade daquilo que

eles pensavam, esperavam… espera, não são mesmo nada más... até são realmente muito boas... hei, estou a gostar disto! [NR: Na página oficial dos Therion há mesmo um post do Christofer com o score relativo ao número de críticas más/cépticas, simpáticas/médias e boas/excelentes.] E a recepção das novas canções ao vivo nos espectáculos do The Flowers of Evil tour? A recepção as canções ao vivo estão dentro do normal de quando temos um novo álbum na estrada. Foi até muito fantástico, considerando que pelo menos, para os primeiros shows ninguém tinha ouvido as músicas com antecedência. E quanto à tournée? A tournée correu bem. Tivemos menos pessoas do que o normal em alguns lugares e mais do que o normal em dois concertos. Vistas todas as coisas, é mais ou menos o que se poderia esperar com an-


tecedência para uma tournée sem um novo álbum regular, ainda por cima nos tempos que correm. Outra grande surpresa é que «Les Fleur du Mal» é uma edição de autor. Porque não foram apoiados pela Nuclear Blast neste vosso projecto? Como viram eles a edição de autor e todo o marketing associado? Eles não gostaram do nosso projecto artístico e daí, não quiseram ter o trabalho inerente e problemático de garantir todos os direitos de autor de um álbum de covers. É bem mais fácil o processo quando se faz um álbum de covers de Iron Maiden ou Motorhead. Neste caso, há compositores já mortos, outros com 90 anos de idade e sabe-se lá mais o quê. É por isso que eu vendi uma licença para uma empresa americana (que detêm uma licença compulsória e sem qualquer problema adicional) e importo as cópias para a Europa. É mais caro, mas sem complicações. É este um projecto único, ou tens em mente outros projectos primorosos para os Therion? Estou seguro que farei algo de similar quando fizermos 50 anos de aniversário. Entretanto, estás a escrever uma ópera rock. Podias falar-nos um pouco deste teu ambicioso projecto? Posso dizer que esta ópera rock será o início de um novo período nos Therion que durará um sem número de anos a completar, onde a banda se focará em fazer certos projectos feitos pelos Therion mais do que lançar álbuns regulares. Quanto tempo será? 5 anos? 10? Quem sabe… Há mais ou menos dez anos atrás comecei a trabalhar numa ópera, a qual nunca consegui terminá-la. Escrevi a maioria dos momentos altos (as partes pomposas), mas nunca consegui escrever as partes

que servem de ponte entre estes momentos altos, isto é, as partes “chatas” necessárias para que tudo cole e servir como um fundo para os vocalistas cantarem e representar na peça. Há alguns anos atrás, de repente, um pensamento atingiu a minha mente, “E por que não fazeres simplesmente aquilo que fazes bem?” Ou seja, reorganizar a ópera que escrevi e fazê-la como uma Metal Opera. Se eu até já tinha utilizado partes da ópera em «Blood of Kingu», por que não ir até ao fundo e fazer a primeira verdadeira Ópera Rock do mundo? O que é igualmente designada com essa expressão é uma espécie de musical Ópera Rock, ao invés, vamos fazer uma ópera Rock/Metal com canto lírico, uma sinopse, e executá-la assim mesmo. No entanto, verifiquei que concluir este gigantesco projecto que envolve escrita de música, letras, um argumento, projectar cenários, guarda-roupa, etc… vai levar algum tempo, provavelmente anos, então, decidi por esta nova abordagem de projectos artísticos. Eu não quero trabalhar sob pressão, as coisas devem crescer e evoluir com naturalidade. 25 anos é uma vida. Desde 1988 os Therion construíram uma carreira sólida e um nome incontornável na cena metálica Europeia, explorando os limites do Metal com o seu Metal Sinfónico único. Como é que vês hoje toda esta concretização e sucesso? Estou muito orgulhoso do facto de ter conseguido abrir a mente de muitas pessoas, no que respeita a misturar outros tipos de música com o metal. Antes de aparecermos com o «Theli», misturar Ópera com Metal era considerado como algo de muito estranho. Os Celtic Frost fizeram-no em pequena escala por volta de 1987 com «Into the Pandemonium», mas o álbum não foi um grande sucesso e muitos fãs que o compraram,

acharam aquilo estranho. Quando em 1995, fizemos algo de semelhante ao que os Celtic Frost fizeram, que foi o «Lepaca Kliffoth», foi igualmente visto como algo de estranho, típico de Therion - nós éramos conhecidos por fazer coisas estranhas e fomos considerados uma banda estranha. Com «Theli», conseguimos levar as pessoas a mudarem de ideia sobre a Ópera e pô-las a pensar neste género como sendo fixe. Nós também abrimos a porta para que um monte de música exótica tivesse o seu lugar no Metal. Eu tenho muito orgulho de ter aberto as mentes de muitas pessoas. Ouvindo cada álbum dos Therion desde «Of Darkness ...», torna-se claro que os Therion fizeram sempre algo diferente em cada álbum, permanecendo sempre como Therion, com cada lançamento a soar diferente e único em todos os sentidos, mas ainda assim fiel à sua mitologia, filosofia e música. Qual é a tua opinião em relação a este ponto de vista? Há muitas coisas que contribuem para o diferente som ao longo dos anos. Ter diferentes lineups é, claro, uma das maiores razões. Outra razão é o facto de mudarmos de estúdios de gravação na maioria dos álbuns. Mas, o factor mais importante é, evidentemente, eu ser muito bom a construir coisas e a desinteressar-me logo a seguir. Afim de não perder o interesse na música, estou constantemente a escrever coisas diferentes. E devido a eu conseguir levar esta avante, tornou-se uma marca registada dos Therion. A temática literária dos Therion é ampla, vasta e profunda, entrando em áreas como mitologia clássica e nórdica, as runas ou mesmo a esotérica cabala. Analisando as letras dos Therion, vocês tendem a interpolar todos esses diferentes universos num


só, o dos Therion. Onde vais buscar todo esse conhecimento para escrever tão fantásticas e enigmáticas letras? Thomas Karlsson é o nosso homem de serviço. Ele é que escreve as nossas letras. Ele é doutorado em História da Religião e na História das Ideias. Tem uma extensa biblioteca em casa, pelo que os recursos para a nossa fonte de inspiração e conhecimento são infinitas. Vi as datas do The Flowers of Evil Tour, e, infelizmente, mais uma vez Portugal está de fora. Eu sei

que no passado os Therion já tocaram ao vivo em Portugal, mas isso foi há muito tempo. Como fã da banda, fico sempre desiludido a cada tournée. Por que razão Portugal nunca é incluído nas digressões? Será que algum dia irão voltar a tocar ao vivo em Portugal? A última vez que tocámos em Portugal foi em 1998. Lembro-me de ambos os concertos serem fantásticos, especialmente, o concerto no Porto. Foi sem dúvida um dos 5 melhores concertos dessa tournée (que teve 48 concertos). Continua

a ser um dos grandes mistérios da minha vida porque não há numa promotora de concertos que apresente ao nosso agente uma oferta decente para adicionar um ou dois concertos em Portugal, para qualquer uma das nossas tournées depois de 1998. Por acaso, gostava de saber porque é que nunca ninguém reservou os Therion. Tenho tanta curiosidade na resposta como tu… Entrevista: Carlos Filipe


“ … Este é o lançamento de aniversário […]. Faz parte de um projecto artístico que deveria logo à partida ser algo totalmente diferente.”

THERION «Les Fleurs du Mal» (Edição de Autor) Projecto artístico envolto em segredo para comemorar os 25 anos dos Therion, «Les Fleur du Mal» [LFDM] é uma obra fracturante no seio dos fãs de Therion. E porquê? Não é certamente pela música, já que ao ouvirmos o álbum, verificamos que é Therion no seu melhor. Não é certamente pelo facto de as músicas serem cantadas em francês, já que o mesmo funciona muito bem - demasiado bem, para ser mais preciso - com o metal sinfónico dos suecos. Não é certamente pela curta duração das músicas, que apesar de limitar a essência e amplitude musical da banda, não se revela como ponto crítico de LFDM. Não é pela textura e tom musical imposto por Christofer e companhia, a qual, se revela vasta e rica, como sempre nos habituaram. Afinal qual é a questão? A questão é que tal como no passado os Therion nos surpreenderam com uma cover dos ABBA (“Summernight city”), o senhor Christofer decidiu desta vez fazer um álbum de covers de músicas girlie pop francesa dos anos 50/60. Algumas das canções são de artistas que nunca editaram sequer um LP e até há vencedores do festival da Eurovisão de outrora. Chocados? Em parte sim, mas depois de ouvirem o álbum e colocarem de lado o preconceito, vão ver que estamos perante um honesto trabalho dos Therion, que faz jus às músicas originais e ao som e legado dos mesmos. LFDM é um álbum pujante e bem conseguido, pecando apenas por alguma falta de profundidade devido à curta duração das músicas. Evidentemente, nunca será visto como um álbum regular da banda e ficará sempre no mesmo nível de um « A’arab Zaraq - Lucid Dreaming» que por caso foi feito para o 10º aniversário. Excelente presente de aniversário, nada mais. [8/10] Carlos Filipe


Algo soa muito bem no reino da Dinamarca!

Começaram pelo death metal e passaram ao doom. Mudam frequentemente de formação. Completam 20 anos de carreira em 2013 e são uma banda conhecida no doom metal e olhada com respeito. No entanto, só contam com quatro álbuns no seu ativo, incluindo o novo «Saturn in Ascension». Coube a Thomas A. G., vocalista da banda, a tarefa de satisfazer a curiosidade da VERSUS Magazine sobre o acidentado percurso da banda oriunda de um país pouco evocado nestas andanças: a Dinamarca.


Como caraterizarias a cena metal dinamarquesa em geral? E no que diz respeito especificamente ao doom metal? Thomas A. G.: Na minha opinião, é maçadora e sem surpresas, as bandas são todas mais ou menos do mesmo estilo e fazem-nos cair para o lado de aborrecimento. Apesar de tudo, temos algumas que me parecem interessantes, tais como Altar Of Oblivion e The Day We Left Earth. Por isso, chamo a vossa atenção para elas. Quanto ao doom metal, temos muito poucas bandas, o que faz com que nos sintamos bastante sozinhos.

Saturno é um símbolo para vocês? O que significa para a banda? A mim parece-me que há uma excelente relação entre a música que a banda faz, a tua voz e a atmosfera tenebrosa geralmente associada a este planeta. Saturnus é mais simbólico agora do que no passado. Quando escolhemos o nome para a banda, não lhe atribuíamos nenhum significado em especial. Apenas nos pareceu que soava bem e que era fácil de memorizar. Agrada-me que te sintas atraída por esse planeta. Sinto que a nossa missão está cumprida. Pretendemos fazer música que desperte sentimentos e faça


“Limitamo-nos a tocar, não fazemos arte dramática. Saturnus concentra-se na música e nos sentimentos que esta desperta”

nascer pensamentos: por exemplo, associares Saturno ao doom metal. Por que puseram de parte o primeiro nome da banda (Asesino)? Porque queríamos mudar de estilo, substituir o death metal que fazíamos na altura por doom metal. Pareceu-nos que o nome que tínhamos estava demasiado ligado à ideia de morte. Além disso, queríamos começar tudo de novo: novo nome para a banda e um estilo musical diferente.

ao longo dos anos, são a razão pela qual tocamos doom metal atualmente. Depois de termos aberto para eles na Angel And The Dark River Tour (há tanto tempo que já nem me lembro em que ano foi), ficámos tão maravilhados com o que ouvimos que decidimos que íamos fazer o mesmo.

Por que é que anda sempre tanta gente a entrar e sair de Saturnus? É uma pergunta que nos fazem frequentemente e que me deixa sempre contristado. Penso que isso acontece sobretudo, porque os membros que saem se assustaram perante a responsabilidade que é fazer parte de Saturnus. Não é uma banda que ensaie duas vezes por mês e em que cada um faz o que lhe apetece. Respeitamo-nos mutuamente e sentimo-nos responsáveis uns perante os outros. Temos a mesma ambição. Foi sobretudo por estas razões que corri com a última formação.

Tens o mesmo sentido dramático que Aaron Stainthorpe? Porque um concerto de MDB não é só música, é uma autêntica representação dramática, qual delas a mais fascinante. Curiosamente, a vossa editora chama a atenção para o facto de que os concertos de Saturnus são verdadeiramente intensos. Limitamo-nos a tocar, não fazemos arte dramática. Saturnus concentra-se na música e nos sentimentos que esta desperta em quem a ouve. Tenho de admitir que gostamos de usar efeitos visuais em certos eventos, como o concerto que demos numa igreja dinamarquesa na Sexta Feira Santa, há alguns anos, ou quando vamos a festivais como o Roskilde. Mas, normalmente, não fazemos nada de especial, em termos visuais.

Supostamente, Saturnus foi inspirada por My Dying Bride (MDB). Que tens a dizer sobre isto? É verdade. MDB tem sido a nossa maior inspiração

Passando agora a «Saturn in Ascension», o vosso quarto álbum, parece que a banda pratica um estilo “precioso”, nos instrumentos, que contrasta


com a aspereza da tua voz. É este o segredo do doom metal dos Saturnus? Todas as bandas têm a sua imagem de marca. A nossa corresponde à combinação de guitarras melódicas com vocais graves e partes faladas. O segredo subjacente à arte de Saturnus é que queremos soar como Saturnus e penso que fomos muito bem sucedidos em «Saturn in Ascension». Adoro a arte do álbum. Quem é Frode Sylthe? Trabalha regularmente para a vossa banda? Foi o artista que fez o vosso logo? É um dos meus amigos. Quando soube que ainda não tínhamos capa para o nosso álbum, pediu-me se o deixava fazê-la. Penso que o resultado é magnífico. E ainda não viste o livro que acompanha o álbum! O nosso logo foi feito por Ian Møller, um amigo da banda dos bons velhos tempos. Que planos têm para «Saturn in Ascension»? Vai haver algum concerto memorável como os que a editora menciona na informação relativa à banda e ao álbum? Temos uma digressão europeia prevista para setembro, mas ainda não está nada marcado. Vamos participar em alguns festivais no verão e andaremos em tour na Dinamarca e outras regiões da Escandinávia, entre abril e maio. Entretanto, vamos também celebrar os nossos 20 anos de carreira com espetáculos em várias capitais europeias. Ainda não sabemos bem onde, por isso sugiro-te que estejas atenta. Gostariam de vir tocar a Portugal? Conhecem algumas bandas de doom metal portuguesas? Não é a nossa maior tradição, no que toca ao metal, mas temos algumas bandas bem inspiradas como Desire (os veteranos), Before the Rain e Mourning Lenore (uma banda recente). Gostaríamos muito. Estivemos uma vez no Barroselas e adoraríamos voltar ao vosso país. Conheço os Desire e Before the Rain, que me parecem bandas fantásticas, mas, para ser franco, são as únicas de que ouvi falar. Nem falo dos Moonspell: são demasiado grandes! Entrevista: CSA

SATURNUS «Saturn in Ascension» (Cyclone Empire) Faz tempo que um disco de doom não mexia comigo como este último registo dos Saturnus. Sendo certo que este género particular de metal já tem um potencial inato para nos fazer tocar no mais profundo das emoções e voar para estados mentais quase transcendentes, também é verdade que sem uma boa dose de inspiração e talento pode resultar na mais aborrecida das experiências. Não é este – pelo contrário! - o caso de «Saturn in Ascension», um trabalho duma beleza extraordinária que me fez recordar alguns dos melhores clássicos do doom/gótico, não só em termos de sonoridade e estilo mas também do ponto de vista do impacto emocional operado. Há vários aspectos a merecer destaque neste disco. O primeiro diz respeito às maravilhosas melodias que emanam das guitarras de Rune Stiassny e de Mattias Svensson, cuja melancolia quase nos deixa os olhos em água. A impressionante linha melódica que atravessa ininterruptamente o tema “Wind torn” bem como o arrepiante solo no final de “Forest of insomnia” são as amostras mais notáveis do trabalho sublime desta dupla. Embora os andamentos fúnebres e os riffs massivos que definem o género estejam bem omnipresentes, este quarto álbum da formação de Thomas Jensen vai um pouco mais longe do que isso. O tema “A lonely passage” não inclui guitarras pesadas e é todo declamado em vez de cantado, contando com a colaboração duma fabulosa voz feminina. O romântico “Call of the raven moon” é igualmente semi-acústico mas a flauta dá-lhe um toque mais pastoral que faz lembrar os Empyrium. Pena é que a pronúncia imperfeita de Thomas não deixe perceber todas as palavras – palavras que desempenham neste álbum um papel fundamental. A faixa “A fathers providence” faz lembrar os Crematory ou mesmo os nossos Heavenwood devido a toda a atmosfera gótica que encerra, e “Between” é o exemplo acabado do quão interessante pode ser a música destes dinamarqueses mesmo quando se limita aos tramites mais básicos do doom tradicional. «Saturn in Ascension» é melancólico sem ser depressivo, pesaroso sem ser desesperado e, acima de tudo, um trabalho poético e muito belo que inclui tudo o que de melhor o doom metal pode oferecer. [9.5/10] Ernesto Martins




Findo mais um ano foi tempo de revirar todos os gigabytes de Metal que nos passaram pelos ouvidos, e eleger o melhor e o pior. Das muitas e diversas preferências reveladas pelos staff da VERSUS Magazine, «Portal of I», dos Ne Obliviscaris e «Skylight», dos AtomA, foram os dois discos que mais consenso despertaram pela positiva. No que toca à produção nacional, os louros vão para «Alpha Noir» dos Moonspell e para o inusitado «Abrasive Peace» dos Colosso.

André Monteiro 1- FOREVERMORE - «Sojourner» 2- THIS OR THE APOCALYPSE - «Dead Years» 3- PARKWAY DRIVE - «Atlas» 4- THE GHOST INSIDE - «Get What You Give» 5- IN FEAR AND FAITH - «In Fear and Faith» Carlos Filipe 1- ALCEST - «Les Voyages De L’Âme» 2- MOONSPELL - «Alpha Noir» 3- CIRCUS MAXIMUS - «Nine» 4- DORO - «Raise Your Fist» 5- XANDRIA - «Neverworld’s End» Cristina Sá 1- DIN BRAD - «Dor» 2- CARACH ANGREN – «Where the Corpses Sink Forever» 3- A FOREST OF STARS – «A Shadowplay for Yesterdays» 4- PORTA NIGRA – «Fin de Siècle» 5- BEHEXEN – «Nightside Emanations» Eduardo Ramalhadeiro 1- NE OBLIVISCARIS - «Portal of I» 2- ATOMA – «Skylight» 3- BETWEEN THE BURIED AND ME - «The Parallax II Future Sequence» 4- CIRCUS MAXIMUS – «9» 5- DIABLO SWING ORCHESTRA - «Pandora’s Piñata» Ernesto Martins 1- NE OBLIVISCARIS - «Portal of I» 2- DORDEDUH - «Dar De Duh» 3- ENSLAVED - «RIITIIR» 4- NACHTVORST - «Silence» 5- NILE - «At the Gate of Sethu» Joey 1- GRAND MAGUS - «The Hunt» 2- 3 INCHES OF BLOOD - «Long Live Heavy Metal» 3- DESTRUCTION - «Spiritual Genocide» 4- THERION - «Les Fleurs Du Mal» 5- PARAGON - «Force of Destruction»


Sérgio Pires 1- MESHUGGAH - «Koloss» 2- BETWEEN THE BURIED AND ME - «The Parallax II Future Sequence» 3- NE OBLIVISCARIS - «Portal of I» 4- DEVIN TOWNSEND PROJECT - «Epicloud» 5- FEAR FACTORY - «The Industrialist» Sérgio Teixeira 1- KONTINUUM - «Earth Blood Magic» 2- FOR THE IMPERIUM - «For the Imperium» 3- FINSTERFORST - «Rastlos» 4- PERYPHERY - «Peryphery II» 5- ATOMA - «Skylight» Victor Hugo 1- ATOMA – «Atoma» 2- DORDEDUH – «Dar De Duh» 3- THE GATHERING - «Disclosure» 4- BLUT AUS NORD - «777 – Cosmosophy» 5- NE OBLIVISCARIS - «Portal of I» André Monteiro 1- BORDERLANDS - «Awaken Dreamers» 2- HILLS HAVE EYES - «Strangers» Carlos Filipe, Cristina Sá e Victor Hugo 1- MOONSPELL - «Alpha Noir» 2- AZAGATEL - «Lux-Citanea» Ernesto Martins 1- ANOMALLY - «While the Gods Sleep» 2- COLOSSO - «Abrasive Peace» Joey 1- RAVENSIRE - «Iron Will» 2- CRUZ DE FERRO - «Guerreiros do Metal» Sérgio Pires 1- COLOSSO - «Abrasive Peace» 2- MOONSPELL – «Alpha Noir» Sérgio Teixeira 1- REVOLUTION WITHIN - «Straight from Within» 2- COLOSSO - «Abrasive Peace» AS I LAY DYING - «Awakened» (J) MANOWAR - «The Lord of Steel» (CF) MISS MAY I - «At Heart» (AM) SHATTERED DESTINY - «Fragments» (EM e VH) VISION OF ATLANTIS - «Maria Magdalena» (ER


Para ouvir... sem c A VERSUS esteve à conversa com Juho Räihä sobre o novo álbum (e não só). «Lateral Constraint» é uma perfeita simbiose entre o Black e o Death Metal Melódico. É caso para dizer: Brutalmente melódico. Primeiro que tudo parabéns por «Lateral Constraint». Como está a ser recebido? Juho Räihä: Obrigado. O álbum foi bem recebido. Parece que a imprensa e os fãs gostaram tanto do álbum como nós e pela primeira vez as pessoas perceberam completamente o que pretendíamos transmitir. Sabe bem!

de uma câmara escondida com o Kauko a tocar alguns temas dos Gloria Morti. Acabei há pouco de fazer a mistura e só vos digo uma coisa... vão ficar espantados. Os próximos vídeos são todos de temas que o Kauko gravou à primeira tentativa e ele, simplesmente, destrói! Fiquem atentos se querem ver o Kauko no monitor.

Vi todos os trailers no youtube e gostei bastante da técnica demonstrada por todos os músicos. No entanto, e sendo eu próprio baterista, tenho a dizer que Kauko Kuusisalo é fantástico. O Kauko é um animal. Atualmente temos gravações

Corrige-me se estiver enganado mas os Gloria Morti fazem uma mistura entre o Death Metal Melódico e o Black Metal. Vocês não ficam tentados a “cair” num destes dois estilos? Realmente, os Gloria Morti são uma mistura destes


constrangimentos dois estilos, apesar de termos outras vastas influências. Todos gostamos de Brutal Death Metal, Black e Melodic Death Metal, de qualquer maneira, as nossas raízes estão mais do lado do Black Metal. Por isso é muito natural que juntemos todas essas influências. Nunca me vi a tocar só um desses géneros. Eu preciso de “coisas” diferentes para estados de espirito diferentes. Claro que misturando o brutal com o melódico dá à música uma grande dinâmica. É óbvio que nunca me afastaria da possibilidade de conferir essa dinâmica à música extrema. Os Gloria Morti vêm da Finlândia e (quase) no meio temos a Suécia – país do Death Metal Melódico e a Noruega – basicamente, o Reino do Black Metal. Quais são as vossas principais influências? O vosso estilo terá alguma coisa a ver com a proximidade destes dois países? Sempre gostámos do Black vindo de ambos os países. Não consigo sequer decidir qual destes dois é O país do Black Metal. Suécia e Noruega tiveram mais influência nas minhas composições do que alguma

vez a Finlândia teve. Não sei qual a razão mas quando estava a crescer sempre achei o Black Metal além fronteiras mais excitante. Bandas como os Dissection, Emperor ou Mayhem foram, provavelmente, as minhas maiores influências. Quão difícil é para os restantes membros da banda trabalhar sobre a tua supervisão? (Risos) Eu sou realmente uma pessoal fácil e tendo a ser bom para as pessoas. Acho que nunca tivemos discussões graves. Claro que há sempre aquelas lutas ocasionais derivado ao álcool mas nada de sério nem pessoal. Aquando das gravações tendo a colocar a malta no sítio e exijo muito, no entanto, não de uma maneira que os deixe desconfortáveis. O resto da malta é mesmo muito boa naquilo que faz, portanto, não tenho muitas razões de queixa. Para um estudio feito por ti, a qualidade é bastante impressionante. Foi muito difícil lidares com o processo de gravação? Tens arcado com essa responsabilidade desde «Eryx» e estás ainda


“… tendo a colocar a malta no sítio e exijo muito …” envolvido nos Before The Dawn. Deve ser muito complicado lidares com tudo isso, certo? Obrigado! Na verdade, ocupo-me atualmente a tempo inteiro de gravações e misturas. Produção de som sempre foi o meu objetivo desde os 15 anos e com os Gloria Morti e Before The Dawn eu tive essa oportunidade de o concretizar. Hoje em dia gravo qualquer um que queira trabalhar comigo, isto se tiver tempo. Com «Lateral Constraint» estava um pouco mais relaxado do que nos álbuns anteriores, sendo «Anthems of Annihilation» mais stressante. Claro que é um processo moroso e torna-se complicado concentrar-me na produção e em tocar ao mesmo tempo. Foram muitas e longas horas durante um bom par de meses seguidos. Tens de gravar, lembrar de fazer backups, ensaiares as tuas partes e talvez acabar algumas letras durante o mesmo dia. Não é uma coisa que se faça o tempo todo. Com Before The Dawn tudo funcionou surpreendentemente bem. Os Gloria Morti são a minha banda principal e se as coisas se sobrepõem irei sempre com eles. Mas tivemos apenas alguns concertos ocasionais e um concerto sobreposto, nada de muito importante. Há algum conceito subjacente a «Lateral Constraint» ou cada tema é representado por si mesmo? Há, realmente, um conceito subjacente ao álbum.

Não é tão preciso e claro como a história de «Anthems of Annihilation» mas, mesmo assim, importante. «Lateral Constraint» é sobre a minha visão do que eu acho que está mal no mundo: religião, sistema económico, pobreza, guerra e a relação entre todos eles. O título do álbum deriva da expressão “pensamento lateral”. A ideia é que estamos a desenvolver maior e melhor tecnologia, principalmente armas, e ninguém pára para pensar que se calhar é melhor dar um passo para o lado, em vez de tentar resolver problemas criados pela tecnologia com tecnologia. Devemos deixar de lado todos os sistemas antigos e obsoletos como a religião e, realmente, dar o salto para o século XXI, em vez de confiar num sistema que tem grandes porções da Palestina na idade da pedra, só para te dar um ponto de referência. Parece-me que «Lateral Constraint» é mais melódico (Death Metal) comparado com, por exemplo, «Anthems of Annihilation» que é mais brutal (Black). Concordas com esta análise? As pessoas tendem a dizer isso. Provavelmente estou muito ligado ao álbum para dizer algo tão especifico. Definitivamente, sempre tivemos influências dos dois géneros. Mas talvez as vozes deem um “ar” mais Death Metal.. … no seguimento da questão anterior, estarão os


GLORIA MORTI «Lateral_Constraint» (Cyclone Empire) Gloria Morti a passar para o lado melódico da “Força”? Gosto do efeito que obtemos quando mudamos do brutal para a melodia. Isto fará sempre parte do som da banda. Mas devo dizer, também, que gosto mais dos riffs de guitarras brutais do que dos melódicos. Por isso, penso que mais melódico que isto não iremos ficar. Como banda, preferimos o extremo, portanto… Obrigado pelo teu tempo e espero ver-vos em Portugal. De nada! Obrigado pela entrevista porreira.

Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

“… mais melódico do que isto não iremos ficar. Como banda, preferimos o extremo…”

Antes de lerem esta review sugiro que leiam primeiro a entrevista. Para quem não conhece fica com uma melhor ideia dos Gloria Morti e, no fim, esta review acaba por ser um excelente complemento. Digo em abono da verdade que não sou ouvinte do Black Metal, quer seja extremo ou melódico. Isto porque, simplesmente, não faz o meu gosto. No que diz respeito ao Death Metal melódico o caso já muda de figura, sendo um dos meus géneros preferidos. E quando aparece uma banda que conjuga quase na perfeição estes dois géneros!? Pois, no caso dos Gloria Morti o resultado é excelente e viciante. A capacidade técnica dos músicos é soberba, sobressaindo na minha opinião Kauko Kuusisalo que é um autêntico animal na bateria. (Entrando numa de rotular...) O álbum anterior, «Anthems of Annihilation» é um disco mais brutal e tendencialmente mais “Black”, se assim o poderemos chamar. No que diz respeito a «Lateral Constraint», os Gloria Morti fizeram um pequeno “desvio” e ofereceram-nos um álbum um pouco mais melódico (Death Metal) do que brutal (Black Metal). Deve ser por isso que o aprecio tanto, visto que consegue juntar em doses certas a melodia e brutalidade – pelo menos vai de encontro ao meu gosto. Muito provavelmente, os fãs mais ávidos de Black irão preferir o álbum anterior. Lendo a entrevista, fica bem claro que esta mudança se deve em grande parte à voz, mantendo-se o instrumental brutal e técnico e a magnífica produção de Juho Räihä, também guitarrista da banda, que tem gravado os últimos álbuns no próprio estúdio. Um dos meus favoritos de 2012. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro


Mais de duas decadas de p eso Os mais do que conceituados Grave estão decididos em não adotar o respetivo nome para colocar o último capítulo da sua própria história. É sempre com alguma curiosidade que olhamos para bandas que são verdadeiramente um exemplo de longevidade e dedicação ao Metal. Os Grave são mais um exemplo de tudo isto e claro está, a VERSUS Magazine não deixou passar ao lado o novo álbum e lançamos algumas questões à banda. O atual baterista Ronnie respondeu às nossas questões. Muitos anos já passaram e ainda está patente o mesmo ataque às notas tipicamente agressivo que sempre conhecemos nos Grave. Parece que enquanto banda ainda estão bastante longe do túmulo. Qual é a chave para a longevidade da banda? Ronnie: Penso que tem a ver com ainda gostarmos do que fazemos, da nossa música. Também estivemos em digressão com mais espetáculos nestes últimos 6 anos desde que me juntei à banda. Ainda

é divertido sair para tocar e estar com os nossos fãs e isto é a maior força que podemos ter para continuar. Já tive a oportunidade de entrevistar outras bandas que também têm uma longa história e continuam ativos. Uma coisa que costumo sempre tentar perceber e perguntar-te-ia o mesmo é o que é que aprenderam durante este tempo e o que é que hoje é diferente comparado com os tempos

dos primeiros álbuns? Nós crescemos obviamente enquanto pessoas. Conhecemos os nossos limites, como não nos devemos comportar em digressão, tanto em palco como fora dele. Simplesmente não é possível por exemplo estar 24h, 7 dias por semana na borga e ao mesmo tempo dar bons concertos para os nossos fãs. Em termos de gravações não acho que haja enormes alterações tirando o facto de hoje termos melhor equipamento para reg-


istarmos a nossa música. O estilo que tocamos, o nosso som ainda é o mesmo que tínhamos em 1991 o que acaba por ser bastante importante para nós. Os Grave são sempre e independentemente dos múltiplos alinhamentos, fiéis ao som tipicamente Grave. Do equipamento mais recente que existe hoje disponível qual o que acham essencial e dentro do equipamento mais antigo qual o que trazem sempre com vocês, tanto em gravações como em concertos? Nós temos o nosso próprio estúdio onde usamos um sistema Pro Tools-HD onde é incomparavelmente mais fácil fazer as gravações do que por exemplo num gravador ou uma unidade A-DAT. Consegues na mesma fazer a sonoridade soar a “velha” se souberes mexer nos botões certos. Se tomar como

Li que o último álbum «Endless Procession of Souls» teve bastantes contribuições de toda a gente na banda. Poderias descrever aos nossos leitores como é que decorreu o processo de escrita/gravação/produção? Nós começamos a escrever para o álbum algumas semanas após o términus da digressão nos EUA no outono passado. Primeiro escrevemos e gravamos riffs em casa, colocamos numa conta Dropbox, escutamos tudo o que tínhamos conseguido criar e após isso fomos para a sala de ensaios. O Tobias (baixo) e eu fomos lá 3 vezes antes de o Ola entrar no processo. Escrevemos a estrutura básica de três canções: “Amongst marble and the dead”, “Passion of the weak” e “Perimortem”. Quando terminamos essas três canções acabamos por embalar e escrevemos o álbum em

3-4 semanas. Acabou por ser um álbum relativamente fácil de escrever e essas primeiras três canções acabaram por marcar o rumo de todo o álbum o que nos deixou híper-satisfeitos com o resultado final. Tanto do ponto de vista de composição como de produção é um álbum demolidor. Fiz as partes de bateria em 4 dias (como é normal) e o Tobias gravou a parte de baixo em dois ou três dias se não me engano. Depois disso fizemos uma pausa de cerca de três meses pois tivemos de mudar o estúdio para outro local. De facto, construímos o novo estúdio num velho abrigo para ataques aéreos. O Ola gravou as guitarras em casa à noite e montou o estúdio durante o dia… Depois do estúdio estar construído ele fez as vocalizações em 2-3 dias e só foi preciso mais 1 dia para gravar os solos. Portanto todo o processo demorou apenas

“O estilo que tocamos, o nosso som ainda é o mesmo que tínhamos em 1991 o que acaba por ser bastante importante para nós” exemplo a bateria, eu detesto «triggers» e neste álbum não usamos nada disso. O que ouves é exatamente aquilo que a minha bateria debita cá para fora, 100% natural. Para as guitarras há muitas maneiras de tirar um grande som e não é realmente necessário usar um determinado amplificador ou orientar um determinado microfone numa certa posição para obter um determinado som. Este é o segundo álbum em que não usamos um Setup tradicional de amplificador mais coluna. Passa tudo por uma “caixa digital” mas soa bastante natural, não achas? Hoje em dia o tempo é tudo no que diz respeito a sessões de gravação e se consegues encurtar as gravações em 1 ou 2 dias usando os efeitos já pré-disponibilizados podes poupar uma grande pipa de massa.


“Ainda é divertido sair para tocar e estar com os nossos fãs e isto é a maior força que podemos ter para continuar” entre 2 e 2.5 semanas em termos de gravação apenas. A mistura e a masterização foram feitas em uma semana.

bum e o Mika também contribuiu com alguns riffs e tenho a certeza que ele irá contribuir ainda mais para o próximo álbum.

O facto de a composição ter estado menos do lado do Ola do que é costume aparentemente terá sido de certo modo algo que ele acolheu bastante bem. Isso corresponde a uma certa maneira mais relaxada de encarar a banda? Quando cheguei à banda, isso foi a primeira vez que o Ola trabalhou com um baterista que podia tocar também baixo e guitarra. Para ele isso foi algo estranho mas ao mesmo tempo um tornou os processos menos enfadonhos. Eu escrevi bastante para o álbum «Dominion VIII» e o «Burial Ground» foi composto em iguais partes por mim e pelo Ola, no entanto ele escreveu todas as letras. Desde que a sonoridade seja tipicamente Grave, não é especialmente importante quem é que na banda escreve as letras ou as composições. O Tobias também compôs bastante para o último ál-

O Death-Metal continua após tantos anos desde a sua génese vivo e de boa saúde. Comparando com outras tendências como o Nu-Metal e outros estilos que entretanto têm surgido mas que nalguns casos rapidamente se esfumam, como é que olhas para o Death-Metal como um género quase eterno? Eu respeito bastante os fãs que continuam fiéis após todos estes anos. Eles é que são as verdadeiras estrelas nesta pequena charada e sem eles o Death-Metal já não andaria por aqui. Podes praticamente compará-lo com o HeavyMetal onde há uma série de bandas ainda bastante ativas desde o início. Há algumas bandas novas dentro do Death-Metal que eu verdadeiramente aprecio mas há também algumas que parece que estão numa competição para ver quem

é o baterista que consegue pedalar com mais rapidez ou para ver quem consegue enfiar um maior número de riffs de guitarra por canção. Desse tipo de Death-Metal já não aprecio. Gosto do meu Death-Metal simples e «groovy». Se não fosses um músico do Death-Metal que outro tipo de atividade terias escolhido (música Rock, clássica, etc)? Puro e simples Heavy-Metal, Hard-Rock e Power-Metal. Eu adoro os primeiros trabalhos dos Helloween e tudo o que anda à volta. Ainda é o que se identifica mais com o meu espírito musical. Tens algumas palavras adicionais para transmitir aos nossos leitores? Escutem o nosso novo álbum e obrigado pelo vosso apoio. Esperamos encontrar-vos num próximo evento. Abraços. Entrevista: Sérgio Teixeira



Durante os 12 meses deste ano de 2012 houve uma considerável produção musical que deixa o espectro do Metal muito bem servido. Tanto em termos de volume, com os inúmeros discos que nos chegaram, como em termos de qualidade em que não foram poucas as boas classificações que a equipa da VERSUS Magazine atribuiu, o ano foi especialmente fértil. A questão que me intriga é, no entanto, o porquê dos elevados padrões de qualidade assim como a quantidade de discos que nos têm chegado. Confesso que tendo em conta uma crise tão vincada como a que o mundo hoje enfrenta, estaria à espera de um abrandamento no que à quantidade de discos gravados diz respeito; pelo menos isso. Embora não haja estatísticas disponíveis, julgo que o mundo Heavy não foi abalroado por crises económicas. Mas não deixa de ser curioso que as regiões do globo que mais produções têm dentro do Metal – Estados Unidos e Europa – têm sido especialmente afetadas por uma crise económica que tende a perdurar. Se podemos dizer, e julgo que não estarei a ter uma perceção errada, o mesmo não aconteceu do ponto de vista do conteúdo. Em certas entrevistas que tive a oportunidade de realizar não perdi a oportunidade de medir o pulso relativamente a esta questão da tão falada e real crise. Uns intervenientes foram afetados diretamente tendo inclusivamente sido obrigados a alterar hábitos e a mudar de país para encontrarem um modo de subsistência que permitisse amealhar algum rendimento, isto sem deixarem de lado a paixão da música. Outros, menos afetados mas ainda assim com um olhar crítico sobre a sociedade atual, não deixaram de assinalar também a sua impressão crítica sobre o estado atual das sociedades onde se inserem. Tendo constatado isto não deixei de me perguntar, então, se sendo o Metal um terreno fértil à crítica social e

a temas relacionados com a humanidade ou o binómio vida-morte, qual a razão para, aparentemente, haver pouca conotação política nas bandas de metal. Afinal é na política que se pode, apesar de tudo, encontrar soluções e algumas causas para a crise atual. Crise de valores para alguns, crise de lideranças para outros, mas uma definitiva e difícil crise económica. E isto levou-me à raiz do Metal e às tendências líricas de cada subgénero. Assim e sem querer tomar a seguinte conclusão como definitiva, em boa medida podemos associar temas como o ocultismo e o satanismo ao Black-Metal, a morte, a existência e o sentido da vida ao Death-Metal, passando pela crítica social e rebelião ligadas ao Thrash-Metal. Porventura encontramos aqui a maior parte dos temas de eleição para os conteúdos líricos predominantes no Metal, embora não se limitem exclusivamente a este conjunto quer de conteúdos quer de géneros musicais. Felizmente, atualmente o Metal respira criatividade e recomenda-se. Não resisti no entanto a não ficar por esta primeira abordagem e tentei ir um pouco mais longe para perceber o papel da política e religião, nas letras que as bandas adotam. Não é difícil encontrar em bandas de Black-Metal tendências mais fortes e radicais no que diz respeito à abordagem lírica. Muitas aproveitaram o satanismo para constituir uma extensão à crítica a uma instituição tão poderosa para o bem ou para o mal como a Igreja. Tinha também comigo o dogma da associação do Black-Metal à extrema-direita política. Enquanto isso aconteceu no passado, atualmente são raras as bandas que assumem essa tendência ou cujos elementos se servem da música para efetuar, por exemplo, propaganda nessa corrente política. Um dos líderes do partido de extrema-direita Aurora Dourada na Grécia, que lançou este ano um álbum, acaba por não confundir


as duas vertentes. A divisão entre a sua atividade política é para ele completamente estanque relativamente à música do seu projeto assente em BlackMetal, tendo expresso essa convicção diretamente no comunicado de lançamento do novo álbum [Ed: autor refere-se aos Naer Mataron, entrevistados na VERSUS #21]. Falando mais genericamente, existe uma corrente relacionada com a extrema-direita Nazi denominada de National Socialism Black Metal ou NSBM. Uma curta pesquisa pelo Wikipedia confirma que o volume de bandas que assume estas convicções como sendo a sua realidade ideológica é bastante reduzido. Maioritariamente há de facto um conjunto alargado de bandas dentro do BlackMetal que apenas incorporam o ocultismo, feitiçaria, satanismo etc. que nada têm a ver com correntes políticas e que com isso atingem um patamar de neutralidade que permite abranger um espectro de públicos mais alargado e vasto. Do outro lado, o Thrash-Metal sendo mais alinhado com crítica social, tendencialmente incorpora um certo alinhamento que vai de encontro a ideologias mais de esquerda, em que a injustiça social, a opressão e as desigualdades são facilmente temas para os conteúdos líricos. Mas também estas bandas raras vezes se assumem abertamente como sendo comunistas ou de ideologia de extremaesquerda. No entanto aqui as letras acabam por ser mais aceites sem

causar choque pois a crítica aos conceitos como os que enunciei (injustiça, desigualdades, corrupção) acaba por ser eticamente mais universal. Voltando ao Death-Metal, com um conteúdo lírico centrado na vida/morte, no significado da existência, na metafísica e na filosofia, acaba por se colocar num patamar bem mais imune a choques culturais e não encontra genericamente problemas na aceitação das respetivas mensagens; aqui a ideologia política ou a crítica à religião não estão marcadamente presentes. O espaço para o conflito reduz-se assim bastante. Assim sendo, temos dentro do Metal ideias que vão desde os extremos do espectro político, à anti religião, passando pela condição humana (na sua génese e no seu desenlace). No entanto é um fenómeno de união, aquele que o Metal consegue na realidade alcançar. Apesar de todas estas multiplicidades, é nos concertos que se consegue comprovar a universalidade deste género musical. Esta ideia não deixa de ser posta à prova, numa altura em que as relações humanas têm tendência a extremar-se devido às tensões sociais que hoje vêm ao de cima com os abalos nas economias, o Heavy-Metal acaba por ser ainda - e espero que assim continue - um espaço em que a expressão da música extrema, ao contrário de criar clivagens, acaba por ser um espaço de cultura que consegue juntar os públicos num mesmo propósito: exorcizar, disfrutar, congregar e celebrar a música pesada. E este ano de 2012, ao mesmo tempo em que foi o epicentro de abalos económicos e socias, foi a prova desta capacidade de união. O Metal ao serviço de todos e para todos.


A verticalidade do Espírito Saindo dos Negură Bunget, Hypogrammos e Sol Faur deram continuidade à sua vocação espiritual através de uns Dordeduh (que significa algo como “saudade do espirito”) que, atrevo-me a dizer, parecem mais capazes de atingirem esse Absoluto (hegelianamente falando) que a banda do passado. Envolvido, assim, num misticismo e esoterismo como há muito não sentia, decidi ter uma conversa com Hypogrammos, que gentilmente a permitiu, e na qual nos dá a entender que jaz aqui mais que música, sendo esta um veículo para compreendermos a conduta Humana, segundo o guitarrista/vocalista.


A minha primeira pergunta é, obviamente, acerca da origem da banda. Como nasceram os Dordeduh? Hypogrammos: Nós começámos mesmo após terminarmos nos Negură Bunget em 2009. Para nós Dordeduh é a continuação natural do nosso empenho musical. Respeitante aos detalhes acerca da separação, e todos os rumores que se seguiram, já deveriam ser um velho assunto do passado. Não iremos, nunca mais, dar folga a esse assunto.

de som e tomamos conta da Consonance Studios. Além disto, nós adicionamos na nossa vida diária a prática da nossa espiritualidade. Não é apenas um jogo intelectual, ou apenas algumas palavras espalhadas, as quais poderiam soar bem nos ouvidos da audiência. Praticar é a chave para tudo. Atualmente «Dar De Duh» reflete todos estes princípios. Espiritualidade e música fundem-se na nossa vida; e estes dois tópicos são provavelmente as coisas mais importantes nas nossas vidas.

Com o vosso primeiro EP, «Valea Omului», mostraram que mantém o mesmo feeling e direção que tinham nos Negură Bunget. E agora «Dar De Duh» confirma toda essa espiritualidade e sentimentos que exploram. O que significa, para vocês, todo o trabalho em «Dar De Duh»? Para nós é um estilo de vida, já que tudo que o Sol [NR: Sol Faur] e eu fazemos está muito ligado à musica. No nosso dia-a-dia somos engenheiros

Vocês exploram folclore romeno? Podes encontra-lo no «Dar De Duh»? Ou vocês exploram outro assunto? Podemos explorar algum folclore no nosso álbum, mas é um folclore auto criado, o qual talvez tenha algumas raízes no folclore tradicional da Roménia. Mas na verdade o álbum não tem assim tantas coisas em comum com o folclore tradicional. O que tentámos fazer neste assunto foi trazer alguma atu-

“O que tentámos fazer neste assunto foi trazer alguma atualização, ou tornar contemporâneo algum desse folclore”


“Espiritualidade e música fundem-se na nossa vida” alização, ou tornar contemporâneo algum desse folclore, até certo limite. Na verdade todas estas coisas são baseadas na paixão que temos pelos mais variados instrumentos e, para sermos sinceros, nunca seguimos nenhumas linhas musicais tradicionais, ou escalas musicais tradicionais. Tudo o que fazemos é um produto da experimentação e jam com esses instrumentos. Para além do ambiente negro, místico e esotérico que podemos sentir na vossa música, eu senti uma espécie de ligação com os sentimentos mais primitivos do ser humano, como se vocês brotassem, através da vossa música, espiritualidade da Terra. A minha impressão estará correta? Há, na vossa música, alguma ligação entre o Espirito e a Terra? O que sentiste está, muito provavelmente, relacionado com o facto de sermos seres terrestes. Todos esses sentimentos são parte da humanidade, e pelo facto de sermos seres humanos. Mas sim, o álbum aborda muito sobre características do Ser Humano. Podemos ouvir alguns instrumentos tradicionais no vosso álbum. Todos vocês sabem tocar esses instrumentos, como o dulcimer e o xilofone? Vocês cresceram lado a lado com essas tradições? Na verdade nenhum de nós sabe tocar esses instrumentos. Mas o que nós fazemos com eles é experimentação. Em relação à música tradicional, eu e o Sol não temos nada a ver com ela. Mas podemos afirmar que é por essa razão que sentimos a necessidade de trazer de volta todos esses grandiosos instrumentos

para o uso da música, para “criar e gerar” novas e frescas tradições, e não apenas para tocar interminavelmente todas essas velhas canções tradicionais de folk. Eu acho que a música tradicional é aquela na qual menos investem na inovação. Inovação é a chave para tudo na música… e não só… “Dojana” é a música com mais influências tradicionais, e mereceu um vídeo. Porquê? Há nela algo de especial? Bem, não escolhemos a “Dojana” para um vídeo só por ter mais influências tradicionais, ou porque haveria algum interesse comercial. “Dojana” é a canção que, em boa verdade, termina com o álbum; é a canção que leva, de alguma maneira, todo o álbum a uma conclusão; e é, também, a canção que encerra o círculo dos Sete Reinos Espirituais da Evolução do Espírito, e abre um novo círculo. Portanto, o ingrediente especial é a mensagem que a canção carrega. Uma mensagem acerca do percurso Humano, e acerca da necessidade de nos mantermos direitos, em vez de curvados ou dobrados para trás e corromper tudo o que resta. É uma canção que nos convida à verticalidade. O vídeo foi gravado num local muito bonito. Onde foi? O local é o topo de uma montanha (não muito alta), onde havia um velho espaço sacerdotal. Este local é situado nas Montanhas Apuseni, e por perto há um sítio Dacia.


Podemos ouvir momentos fortes, calmos e contemplativos. Tens alguma dificuldade em traduzir essas emoções espirituais em música tão boa e forte como a vossa? Como se traduzisses sentimentos (o indizível) para algo racional como a música. Não. Para nós é natural compor da maneira como compomos. O único aspeto que seguimos enquanto compomos é a base concetual. Mas, eu não diria que isso fosse um processo racional. Porque não nos concentramos de todo no processo racional. Deixamos as coias fluírem e tudo deve ser sentido com o coração, não com a razão. A única função racional que posso apontar talvez seja quando construímos uma estrutura para uma música. Mas mesmo lá esse fator é limitado…

Podemos aguardar por uma atuação dos Dordeduh em Portugal? Conheces o nosso país? Nós gostaríamos de ir aí na Primavera do próximo ano, ao Barroselas Metalfest. Infelizmente ainda somos uma banda pequena; e chegar até aí são cerca de 4000 Km, para além de que os preços são tão altos que nenhum promotor está capaz de nos oferecer dinheiro suficiente para cobrir, pelo menos, o transporte. Esperamos organizar no futuro uma Tour que possa incluir Espanha e Portugal. No passado já fizemos alguns concertos em Portugal, e por isso não podemos afirmar que conhecemos o vosso país, mas provamo-lo um bocadinho… Entrevista: Victor Hugo


Tempo

de

mudança

Ao primeiro lançamento sob o nome de Eïs, nada parece ter mudado desde os lançamentos de Geïst. Mas a verdade é que nesta pequena conversa com Alboîn, é revelado que de facto houve mudanças, não como a música é ouvida ou aceite, mas como a música é tocada e composta. «Wetterkreuz» é como um quadro paisagístico que vai mudando os seus traços e texturas ao longo da sua audição. Foi sobre estes cenários, que só o Black Metal consegue evocar que, gerou a simpática conversa com Alboîn.


A minha primeira pergunta é acerca do nome da banda, Eïs. O que significa, e que contexto tem com a vossa música e letras? Alboîn: Eïs é a palavra alemã para gelo, mas apenas com dois pontos no I, por favor. Quando ouvirem a nossa música, e especialmente o álbum «Wetterkreuz», rapidamente notarão que temos uma proximidade muito fria e gélida ao Black Metal, com muitos acordes menores, teclados assombrosos, samplers de tempestades e outro material desse género. Até as letras falam de temáticas como montanhas, nevascas, paisagens com neve, abismos e outras temáticas simi-

como a mudança”. O que nos podes dizer sobre essa máxima e o álbum «Wetterkreuz»? Essa citação resume não só o que somos enquanto banda, mas também reflete o que eu, pessoalmente, passei nos últimos anos. Nunca tivemos um line-up estável para além de três anos, mais coisa menos coisa; e como tem sido sempre assim, sempre tivemos que nos adaptar a novas situações e a novos companheiros de álbum. Por isso, a mudança é algo que vai no banco traseiro do condutor, uma constante companhia na nossa história. A máxima aplica-se ainda mais à minha vida privada,

simas adições digitais. Para nós este processo manteve o «Wetterkreuz» autenticamente duro e, em certa medida, intemporal. Fizeste uma cover muito porreira da música “Thou, whose face halt felt the winter’s wind”, de Sun of the Sleepless, uma ex-banda do Markus Stock. Foi alguma espécie de agradecimento do trabalho dele? Não tenho a certeza se entendi bem a tua pergunta – nós não fizemos a cover por quaisquer razões de tributo ou algo desse género; mas porque é uma música muito, muito atmosférica, simples e efi-

“Não me integro nessa estética ortodoxa, ou nesses tipos tradicionais e ridículos que continuam a copiar os Darkthrone…”. lares. Por isso, o nome da banda resume o que nós fazemos com a nossa música. Antes de Eïs tu tinhas outra banda, os Geïst, mas depois mudaste o nome para Eïs. Sentes alguma diferença no modo como a tua música é aceite com o álbum «Wetterkreuz»? Ou não notaste diferença nenhuma? Não. É basicamente a mesma banda, apenas mudámos o nome. Após uma grande mudança no line-up, e com um álbum novo, nós limámos o nosso estilo e direcionámolo ligeiramente numa direção mais extrema e básica, diria eu. E parece que agora recebemos reações positivas, comparando com o último álbum, «Galeere», por exemplo. Por isso, o nosso trabalho parece ser “aceite” por muitas pessoas, um pouco mais do que antes, a julgar pelo meu ponto de vista. Não é, de todo, porque tocamos música, mas é igualmente bom saber, claro. Na folha de informação pude ler uma máxima de Heraclito de Eféso – “Nada é tão constante

na qual tive de enfrentar muitas situações complicadas nos últimos anos, as quais mudaram um pouco a minha vida – felizmente e infelizmente – e que influenciaram muito a composição e a escrita do «Wetterkreuz»?

caz, e que encaixa muito bem no nosso estilo e no «Wetterkreuz». É uma música que não está muito distante do modo como tocamos a nossa… guiados pelas emoções, não sendo demasiado técnicos e racionais.

Na produção tiveste o grande apoio do Markus Stock (The Vision Bleak, Empyrium). Decidiram não usar alta tecnologia no estúdio. Porquê? Simplesmente porque não gostamos daquelas produções modernas, clinicas e perfeccionistas, pelo menos no black Metal. Simplesmente não podes ter um som frio, áspero e clássico usando trigger modules, amplificadores de guitarra digitais, cortes, bateria programada e cenas dessas ao mesmo tempo. Por isso, decidimos gravar o álbum num modo simples, com amplificadores de guitarra clássicos, efeitos e microfones, bateria analógica e por aí em diante. A mistura é básica também – sem substituições na bateria, triggers e cenas dessas. Apenas usando equipamento analógico com pouquís-

Na edição de duplo CD podemos ouvir no segundo disco algumas interpretações de músicas do primeiro. E os músicos são uma boa surpresa. Podes adiantar alguma coisa sobre esse segundo disco? O álbum bónus, «The Quarrymen Selections», contém versões remisturadas, ou completamente retrabalhadas, de músicas do álbum. Foram realizadas inteiramente por músicos que foram creditados para tal – Duncan Patterson (ex-Anathema, ex-Antimatter, Alternative 4), The Gentleman (A Forest of Stars), Kai Reidenbach (Out of Mind) e, primeiro de todos, o nosso teclista S.atyrus.S. Todas as versões são completamente diferentes umas das outras, e variam entre Industrial/Drone a 80’s, Synth Pop a versões Ambient/Ritual, passando


por Trip Hop. Queríamos mostrar aos nossos ouvintes que o núcleo de boa música reside nos próprios sons e riffs, e não necessariamente no modo como as interpretamos. Gostamos bastante destas versões, pois são verdadeiramente intensas e feitas por inegáveis profissionais. Todos os ouvintes com mente aberta deverão escutar este «The Quarrymen Selections». Uma última pergunta. Como vês o Black Metal atualmente? As tradições e a estética, até mesmo o território, ou o país. Acredito que nos últimos anos o Black Metal na Alemanha melhorou a sua qualidade e oferta, tal como o Black Metal nos Estados Unidos da América. Para ser honesto, não estou muito interessado no Black Metal atual. A maior parte do material neste género passa-me ao lado e não me interessa absolutamente nada – especialmente a cena underground. Portanto, nem sequer posso dizer que é mau, porque não tenho nenhuma ideia como soa. Mas, acredito que terei ouvido bandas tão boas quanto as minhas favoritas – e todas estas tiveram no ativo na Noruega e na Suécia durante os anos 90. Eu não me integro nessa estética ortodoxa, ou nesses tipos tradicionais e ridículos que continuam a copiar os Darkthrone, muito menos nesse tipo de Black Metal plastificado. Mas o que eu absolutamente detesto até ao ossos é toda aquela insolência da merda do NSBM (NR: National Socialist Black Metal) que anda por aí. Isso era totalmente impensável durante o tempo quando descobri o Black Metal, e deveria permanecer impensável ainda hoje. Levanta-te e luta contra essa escumalha se tens algum interesse no verdadeiro Black Metal. Entrevista: Victor Hugo

“…a mudança é algo que vai no banco traseiro do condutor, uma constante companhia na nossa história”



São estas as ideias-chave de Porta Nigra, uma banda alemã a lançar o seu primeiro álbum pela excelente e refinada Debemur Morti. Fascinada pela música e pela arte deste longa duração, decidime a entrar em contacto com a banda, para mais uma entrevista. Da conversa com Gilles de Rais (com alguns apontamentos da autoria de O., o segundo elemento da banda) resultaram as ideias fascinantes que os leitores da VERSUS Magazine poderão encontrar nas linhas que se seguem.

Do decaden excesso de


ntismo e do e liberdade

Por que decidiram usar os nomes de Gilles de Rais e O.? O primeiro dá-me arrepios. Gilles de Rais - Esse nome também me dá arrepios. Não pretendo apoiar o que o barão fez. Vejo Gilles de Rais como um símbolo. Representa a evolução de alguém que era “bom” e que lutou pela liberdade, acabando por se converter num assassino satânico. Este conceito está na base do trabalho de Porta Nigra, embora numa versão mais abstrata e filosófica. Em poucas palavras: a nossa música trata das consequências (negativas) de uma vida de liberdade absoluta. O. – Gilles de Rais assusta-nos,

sem dúvida. E assim deverá acontecer com a música de Porta Nigra. Não temos nada de romântico, nem de gótico. E de onde vem o nome da banda? Gilles de Rais – É apenas um nome, construído a partir de duas palavras que soam bem e que ainda não estão desgastadas pelo uso. Não há nenhum conceito grandioso subjacente a este nome. É a nossa música (e as letras e arte gráfica que a acompanham) que lhe dá sentido, não o inverso. Quais são as vossas referências musicais? Fazem-me lembrar



bandas como The Vision Bleak e A Forest of Stars, que já entrevistei e cuja música adoro. Gilles de Rais – É sempre difícil responder a essa pergunta. É claro que temos as nossas raízes no black metal, mas eu gosto de muitos estilos de música, bem diferentes uns dos outros. É quase impossível referi-los a todos. Por exemplo, adoro Killing Joke. Essa banda teve uma grande influência na minha vida e na música que faço. Tu e os leitores vão ficar a tentar adivinhar que música poderiam encontrar em minha casa. E podemos encontrar influências de outras artes em Porta Nigra? Gilles de Rais – A literatura influencia-nos profundamente, através de escritores mais clássicos (como Thomas Mann, Oscar Wilde, Joris-Karl Huysmanns) e escritores contemporâneos (como Michel Houellebecq). No entanto, somos originais, não copiamos ninguém. Qualquer arte de inspiração di-

editoras independentes de música extrema. Há poucas que possam competir com eles. O vosso álbum é fantástico. Por que lhe chamaram «Fin de Siècle», se iniciamos há relativamente pouco tempo um novo século? Gilles de Rais – Obrigado, Cristina. A palavra “siècle” não deve ser tomada à letra e traduzida como “século”. Refere-se a uma época indeterminada. Penso que a nossa sociedade, o sistema ocidental, com toda a liberdade ilimitada que nos concedeu, está a chegar ao fim. É será um fim violento. Porque é impossível crescer infinitamente. A única coisa que nunca para de crescer são os cancros. Mas o nosso sistema precisa de continuar a crescer. Eu tenho uma visão apocalítica do nosso mundo. E é essa ideia que eu quero transmitir através da música que faço. Porque é a única coisa que é verdadeiramente importante para mim.

tricidade da sua arte. Fiquei fascinado, quando vi esta imagem pela primeira vez. Fiquei a tremer, literalmente. Pareceu-me que ela transmitia a essência da nossa música, sem sombra de dúvida. O. – A imagem mostra um fio de água a atravessar açúcar. Mas nela também figura um braço de mulher que está a sangrar e cujo sangue vai cair no absinto. Logo, evoca ideias de intoxicação, de toxicodependência, de êxtase, de erotismo, de morte. É uma imagem perfeita e estou muito contente com a escolha feita. Decidiram cantar em alemão, porque vos parece que a vossa língua mãe combina bem com o decadentismo presente no álbum? Gilles de Rais – Tenho uma perceção do mundo muito críptica. Por isso, preciso de recorrer à minha língua materna para a exprimir. É só isto!

“[…] Eu tenho uma visão apocalítica do nosso mundo. […] Tudo perdeu o significado para mim. Basicamente, é este o tema do álbum.” onisíaca exerce sobre mim um profundo fascínio. Isto exclui a pintura, ligada a Apolo, que não faz parte do meu mundo. Debemur Morti tem um gosto musical excelente. Por que vos escolheram para fazerem parte da família? Gilles de Rais – Void contou-me que a ideia tinha vindo da sua namorada, que o convenceu a editar o nosso álbum. Portanto, acho que lhe devemos uma. De qualquer modo, tencionamos justificar o investimento feito na nossa banda com outro álbum fora do vulgar. Está prometido! O. – Se uma editora como a Debemur Morti nos diz que quer lançar algo que fizemos, nós não hesitamos. Eles são a Mercedes-Benz das

Não me interesso por coisas como o dinheiro, a amizade, o amor, ter uma carreira. Tudo perdeu o significado para mim. Basicamente, é este o tema do álbum. A imagem na capa faz alusão a veneno? Gilles de Rais – A nossa referência é o fim do século XIX. Estamos ligados a ele pela ideologia e pela forma como nos identificamos com os artistas dessa época. Nessa altura, as drogas, o álcool (sobretudo o absinto) eram grandes fontes de inspiração e exerceram uma forte influência sobre todos os artistas da época. A ideia que esteve na base da capa do álbum veio-nos do artista francês Valnoir, da Metastazis (www.metastazis. com), que é famoso pela excen-

São capazes de revelar o decadentismo da vossa música em concertos ao vivo, nomeadamente em festivais, com milhares de pessoas a assistir? Não precisam de uma atmosfera mais intimista? Boa pergunta. Temos andado precisamente a pensar nisso. Temos um convite para ir tocar num festival. Mas eu estou cético. Temos de pensar bem no assunto. De um modo geral, não gosto de estar no palco, com aquela gente toda a olhar para mim, a sentir-me obrigado a entreter as pessoas. Mas uma banda que tem a coragem de fazer concertos ao vivo tem algo de que se orgulhar. Vamos ver… Entrevista: CSA


ANOMALLY «While the Gods Sleep» (edição de autor) Quatro anos depois do promissor «Once in Hell…» aí estão de novo os Anomally com um trabalho que regista, acima de tudo, um dramático aperfeiçoamento artístico. Mais definida agora num perfil de death melódico e atmosférico, a banda açoreana verteu criatividade a rodos nos riffs, nas estruturas e nos arranjos dos seis temas que perfazem este novo EP. A música está cheia de passagens que nos mantêm de ouvido colado e tudo parece extremamente cuidado e profissional. A mistura de Fredrik Nordstrom e a masterização de Peter in de Betou fazem-lhe a devida justiça. [9/10] Ernesto Martins

ANTIMATTER «Fear of a Unique Identity» (Prophecy Productions) Após um interregno de 4 anos os Antimatter estão de volta com o refinadíssimo «Fear of a Unique Identity» um excelente exemplo de Rock Melancólico, mesmo ao jeito dos Anathema – a comparação é inevitável. Mike Moss é o responsável pela música e (riqueza) das letras e desta vez apresenta os Antimatter como uma banda completa. Destaco ainda a participação de Vic Anselmo cuja voz (feminina) é um dos encantos deste álbum. Tanto tempo de espera valeu bem a pena! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

ANTROPOMORPHIA «Evangelivm Nekromantia» (Metal Blade Records) Segundo os seus autores, este disco contém um novo tipo de death metal: “mais negro, perturbador e que se demarca dos lançamentos unidimensionais da actualidade.” Mas é puro engano! Na verdade, este segundo registo da formação holandesa não é muito mais do que death de orientação old-school, com sonoridade entre Bolt Thrower a Bloodbath, e com uma boa produção a ajudar. É certo que estamos perante uma trio de músicos indubitavelmente competentes. O que falta aqui é o rasgo criativo necessário para concretizar algo tão ambicioso como um “novo tipo” de death metal. [6/10] Ernesto Martins CLOUDKICKER «Fade» (edição de autor) Descoberta fantástica que só peca por tardia. Ben Sharp é responsável por este projeto a solo e quero com isto dizer que é o único responsável pela composição de todas as musicas. «Fade» é já o nono trabalho deste “maluco” que programa todos os instrumentos digitalmente. Sim, todos os trabalhos são feitos com recurso ao computador. 100% instrumental, progressivo e não consigo imaginar o trabalho que deu a compor. O que me fascina nos trabalhos realizados é que eles soam tão... orgânicos! Leiam a entrevista! A ouvir e a divulgar porque merece! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro


GEOFF TATE «Kings & Thieves» (InsideOut) Começo pelo fim: Lixo! Puro lixo musical! Geoff Tate saiu dos Queensryche com todos os problemas que se conhece e que incluem processos em tribunais ou cuspidelas nos antigos companheiros de banda. Sendo assim, Tate, lançou esta porcaria a que chamou «Kings & Thieves». Isto não tem “ponta por onde se lhe pegue” e o que me custa mais saber é que este, que foi outrora um dos melhores vocalistas de Rock, co-autor de um dos maiores álbuns de sempre, vai embarcar numa tournée de modo a promover os 25 anos de “Operation: Mindcrime”. Do pior que já ouvi. Patético [2/10] Eduardo Ramalhadeiro

LORD OF THE GRAVE «Green Vapor» (The Church Within Records) Vindos directamente de terras helénicas, os Lord of the Grave, aparecem em 2012 com o segundo registo de originais intitulado «Green Vapor». Aparecem mais uma vez com o “seu” doom de raízes antigas com registos e esquemas instrumentais que fazem lembrar os Black Sabbath (com menos qualidade e carisma). Não sei se foi intencional, mas o som deste álbum soa (demasiado) a banda de garagem que anda à procura de uns bares para dar concertos e beber umas cervejas. Não vai ficar na memória por muito tempo. [4.5/10] Sérgio Pires

MARTY FRIEDMAN «Tokyo Jukebox Vol. 1 & 2» (Prosthetic Records) Mais um lançamento para resto do mundo de um álbum de M. Friedman. Desta vez trata-se de covers de temas pop vindos diretamente do país do sol nascente. Nas suas palavras: “Tomei a liberdade de destruir os temas e reconstrui-los à minha maneira” Entre o volume 1 e 2 os músicos de apoio mudam mas sempre com o mesmo objetivo. «Tokyo Jukebox Vols. 1 & 2» capta perfeitamente a paixão que Marty tem pelo música feita no Japão. Um dos trabalhos a solo mais pesados mas também, mais melódico. Isto é fixe... é muito fixe! Marty Friedman é um autêntico Imperador! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro NATURAL HATE «Delivery Service of Chaos» (edição de autor) Vindos dos confins do Alto Sertão da Bahia os Natural Hate estão a dar os primeiros passos na musica. Sendo assim, após dois anos de vida este trio brasileiro chefiado pelo guitarrista/vocalista Vinícius Toledo lançam o seu álbum de estreia. Puro Thrash Metal, nu e cru, com alguns riffs de guitarra muito bem rasgados. No entanto e no meu entender, «Delivery Service of Chaos» sofre de uma produção que podia ser muitíssimo melhor acabando o som por sofrer de alguma falta de qualidade. De qualquer modo, nota-se que há uma boa base para de futuro os Natural Hate aparecerem em força. [6.5/10] Eduardo Ramalhadeiro


PROCESS «Through Acknowledgement Only» (edição de autor) Mais um álbum de estreia e mais uma mescla de Thrash/Death Metal. Apesar de não serem originais, este quinteto Dinamarquês conseguiu chamar-me a atenção pela qualidade e técnica demonstradas. A produção está a cargo do conceituado Jacob Hansen. O som é muito potente e bem “rasgado”. A voz ora limpa ora agressiva só perde – no meu gosto pessoal – por se aproximar demasiadamente do Metal Core. “Detached From Life” é o tema forte do álbum, “ganda” malha e “ganda” solo. Pujante! [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

PORTA NIGRA «Fin de Sècle» (Debemur Morti) Para álbum de estreia não está mal. São alemães e, mal começam a escutar o álbum perceberão que só poderiam ser da Alemanha. Uma mistura interessante entre Doom e Suicidal Black Metal, sem nunca haver um rótulo específico e claro, e cujas temáticas andam à volta da decadência social e humana, com a força da língua alemã. Estão a ver onde se poderão meter? Nada de novo irão escutar, mas é precisamente essa aura decadente que nos prende ao «Fin de Sècle». Sem ser excecional consegue ser interessante. Mas cuidado com as overdoses, não vá cometerem suicídio. [6/10] Victor Hugo RITI OCCULTI «Riti Occulti» (Epidemie Records) Ritualista e oculta são dois adjectivos que ilustram bem a música desta formação italiana. No lugar das ubíquas guitarras o que temos aqui é uma base sonora lenta, apenas dependente de percussão e baixo – naturalmente saturada de graves -, sobre a qual ondulam melodias atmosféricas de teclados e efeitos psicadélicos, com um resultado verdadeiramente misterioso e hipnótico. Uma vocalista de registo áspero à moda do black metal complementa soberbamente todo o ambiente atormentado deste espantoso álbum de estreia. É algo realmente diferente do habitual que vale a pena ouvir. [8.5/10] Ernesto Martins

ROTTEN SOUND «Species At War» (EP) (Season Of Mist) Oito minutos é a duração total das seis faixas que constituem este EP dos veteranos Rotten Sound. Acolhidos, desta vez, pela Season Of Mist, «Species At War» apresenta o que estes finlandeses já nos habituaram. Grind Core ultra rápido, sem coisas técnicas nem matemáticas, espalhado em seis momentos que representam brutalidade. Não havendo, portanto, algo de significativo, este EP não passa de um aperitivo da comemoração de 20 anos de banda. Para festejar, portanto. [6/10] Victor Hugo


SEAMOUNT «IV: Earthmother» (The Church Within Records) Hard rock pujante e revivalista, num estilo próximo de Ozzy Osbourne a solo, é o que nos traz esta formação germânica que tem Phil Swanson como front-man, o vocalista americano de voz chorada (activo também nos Hour of 13) que faz lembrar, por vezes, o ex-Trouble Eric Wagner. Entre temas pesadões e cheios de ganchos a outros mais melodiosos e radio-friendly, o disco conta com algumas canções memoráveis, incluindo-se neste grupo uma contagiante cover do rockeiro “Music”, dos Witchfinder General. [6.5/10] Ernesto Martins

SONS OF AEON «Sons of Aeon» (Lifeforce Records) A reunião de músicos de várias bandas conhecidas em novos projectos tende sempre a gerar a expectativa de fusões criativas interessantes, embora os resultados nem sempre sejam os melhores. É o caso desta junção de membros dos Swallow the Sun e dos Ghost Brigade, que fazem pouco mais do que contribuir para a imensa pilha de discos irrelevantes de death metal melódico. Por vezes chegam a dar ares de influências clássicas, mas assim que entram nos genéricos ritmos corridinhos, distintivos do estilo de Gotemburgo, fica tudo estragado. [6.5/10] Ernesto Martins

VICTORIANS – ARISTOCRAT’S SYMPHONY «Revival» (Fantom Media) Metal melódico com arranjos sinfónicos salientes de grande classe numa linha próxima de Epica e Within Temptation (antigo) é o que nos traz esta jovem banda polaca formada por dois membros dos góticos Noxiferis. Ao todo, são cinquenta minutos de refrães pegajosos e temas em geral muito catchy, tendo em “Voice of eternal love” o hit de rádio mais evidente de todo o disco. Embora não deslumbrem, os dotes vocais da bela Eydis adequam-se bem no enquadramento musical e resultam numa audição muito agradável. A cuidada faceta visual de inspiração renascentista pode ser um valor a acrescentar. [8.5/10] Ernesto Martins

ZATOKREV «The Bat, the Wheel and a Long Road to Nowhere» (Candlelight Records) O doom/death é a imagem de marca dos suíços Zatokrev (o nome pode ser traduzido para “Blood for this’). Em 2012 aparecem com o «The Bat, the Wheel and a Long Road to Nowhere», um nome talvez demasiado extenso para um álbum, mas que não retira qualidade ao lançamento. Com ritmos bastante lentos e arrastados o álbum flúi muito bem e para quem conhecer novas bandas dentro do género tem aqui uma excelente opção. A título de curiosidade, as músicas são cantadas em checo, eslovaco e inglês devido principalmente à proveniência dos músicos, como é o caso do vocalista Frederyk Rotter que é checo. [7/10] Sérgio Pires


Um vazio

cheio de beleza

Lars Stavdal, a alma de Walachia, deu simbolicamente o nome de «Shunya» (“vazio”, em sânscrito) ao terceiro álbum da banda. Mas, quem o ouve, não fica nada a pensar num vazio! Antes experimenta um mundo negro e melancólico, mas pleno de uma beleza angustiada e angustiante. À conversa com o seu mentor, procurámos desvendar alguns dos seus mistérios. Mas sabemos que ficou muito por dizer ainda!


És um fã de Drácula? Lars Stavdal: Sim. Desde a minha infância que me lembro de me sentir fascinado pela personagem do romance de Bram Stoker e também dos filmes em que Christopher Lee fazia o papel de Drácula. Acho que tinha 9-10 anos, quando tomei conhecimento da existência dessa personagem e ouvi dizer que nela havia algum fundo de realidade. Lembrome de ir ao supermercado com a minha mãe e de passar diante de uma loja de vídeos que tinha na montra alguns filmes de Drácula e de me sentir, simultaneamente, assustado e fascinado pelo ar tenebroso de Christopher Lee. E, quando tinha 17 anos, encontrei um livro dinamarquês que tratava de várias personagens mórbidas da história europeia, onde encontrei capítulos sobre Elizabeth Bathory, Gilles De Rais e (o que me interessou mais) Vlad Tepes III, príncipe da Valáquia, também conhecido por Drácula. É uma história que fala de forças opressoras, de um pequeno exército que defende a sua terra de dois poderes superiores, que a ameaçam de um lado e do outro. Só a selvajaria da história chegava para fascinar o leitor, constituindo uma excelente

A tecnologia está associada à evolução, mas, por outro lado, pode tornar os humanos mais lentos, preguiçosos e estúpidos, muito simplesmente porque não precisamos de usar tanto os nossos próprios miolos. Podemos recorrer muito simplesmente às soluções propostas por um pequeno aparelho. Na sociedade atual, acontece tudo muito depressa e as pessoas só pensam nas suas conveniências. Temos o exemplo da comida pré-cozinhada, que custa um dinheirão louco, mas que basta aquecer e “voilà”! É um dos indicadores de uma cultura baseada na facilidade enganosa, associada a um estilo de vida nada saudável, tanto física como espiritualmente. A vida de Wallachia não tem sido fácil. Decorreram 10 anos entre o primeiro e o segundo álbuns. Que planos tens para assegurar longa vida à tua banda? De facto, houve um grande intervalo entre os dois primeiros álbuns, muito mais longo do que o previsto, mas penso que acabou por ser positivo. Depois de ter lançado o primeiro álbum, voltei à esta-

“[…] Desde a minha infância que me lembro de me sentir fascinado pela personagem […] de Bram Stoker e também dos filmes em que Christopher Lee fazia o papel de Drácula.” base para criar música épica, majestosa e bárbara. Portanto, fui sobretudo inspirado pela lenda romena sobre Vlad Tepes, mas também pelo romance de Bram Stoker e pelo filme de Copolla, de 1992, que se baseou nele. Todas essas obras tiveram um grande impacto na criação de Wallachia, a minha banda. Antes desta, entrevistei outra banda que também se manifestava contra a moderna tecnologia. Que males atribuis a este elemento carismático da sociedade atual? É claro que a tecnologia também tem lados bons. Mas penso que tem um lado muito forte de entretenimento que faz com que nos tornemos dependentes dela, que percamos a capacidade de refletir e o contacto com as pessoas que nos rodeiam, participando em verdadeiras interações: sair, participar em atividades presencialmente, aprender a tocar um instrumento, dedicar-se à arte, fazer trabalhos manuais. No séc. XXI, a tecnologia está tão avançada que estamos cada vez mais centrados em novos aparelhos e nas possibilidades que eles nos oferecem, como é o caso do telemóvel.

ca zero, porque fiquei sem editora e sem os outros membros da banda. Portanto, tive de me organizar para, pouco a pouco, a levar a bom termo. A melhor coisa que me aconteceu foi ter conhecido os atuais membros na Áustria. Foi mais fácil habituarme a trabalhar à distância do que tentar encontrar novos membros para a banda na pequena cidade em que vivo. Foi assim que fizemos o segundo álbum e agora «Shunya». Gravámo-lo da mesma maneira e com as mesmas pessoas. Apenas acrescentámos os músicos que tocam violoncelo e violino. Depois de lançar o «Ceremony of Ascension» (2009), senti-me mais confiante, o que me ajudou a fazer este novo álbum, sabendo que podia contar com o apoio do Stefan e do Thomas. Penso que, com esta colaboração, Wallachia tem futuro. Que papel cabe à Debemur Morti nesses planos? Também não tiveste muita sorte com as editoras precedentes. Espero que Wallachia e a Debemur Morti tenham uma relação profissional longa e sólida. De momento, só tenho contrato com eles para mais um álbum. Mas prefiro dar pequenos passos, parece-


me que é melhor para ambas as partes. O que mais aprecio nesta editora é que realmente apoia a suas bandas. Acreditam na música e, antes de mais, são fãs e colecionadores de música. Conseguem combinar esta perspetiva com a visão da música como um negócio. Investem realmente na arte e querem fazer com que cada lançamento seja um verdadeiro sucesso, tendo em conta a música, o design, tudo. E penso que têm um conjunto de bandas de peso, incluindo algumas lendárias, que datam dos anos 90, e outras recentes, mas muito prometedoras. E, acima de tudo, a comunicação entre eles é muito boa. No que diz respeito ao terceiro álbum e pensando na informação que a editora dá sobre ele, posso perguntar-te que experiências tenebrosas estão na base deste trabalho? «Shunya» é um álbum muito pessoal, de que fazem parte algumas canções com letras baseadas em experiências saídas da minha própria vida, que tiveram um efeito profundo emocional na minha personalidade. A melancolia sempre fez parte da minha vida, desde a minha infância, talvez por fazer parte de uma família desagregada. Habitueime a que me deixassem entregue a mim próprio e encontrei um grande conforto na música, que

acabou por se converter numa forma de expressão das minhas emoções, num escape. As canções deste álbum novo tratam temas muito variados, relacionados com a relação complicada que sempre tive com o meu pai, depois de ele ter decidido abandonar-me e à minha mãe, quando eu tinha 10 anos, da perda do amor e da sensação de ter sido traído dessa maneira. Ter vivido tais experiências dá-te mais resistência, torna-te mais cuidadoso, mais protetor em relação a tudo o que faz parte do teu mundo. Penso sinceramente que são as piores experiências da tua vida, os fracassos que atravessas que te tornam mais consciente da tua própria identidade e da forma como atuas em relação aos outros, que te ajudam a tratá-los como gostarias que te tratassem a ti. “Shunya” é uma palavra que vem do sânscrito e que significa “vazio”, “vácuo”. É um título simbólico, que se aplica ao conjunto das faixas do álbum. Podemos dizer que este terceiro álbum é uma espécie de missa? Não usaria essa palavra para o caraterizar. Tem um sentido muito ritualista e religioso, que não se aplica a este álbum. É um trabalho centrado num determinado tema, em que todas as faixas estão ligadas entre si. Por


isso, compreendo o sentido da tua pergunta. Cada canção conta uma história e todas juntas geram uma atmosfera musical que combina perfeitamente com as respetivas letras. O álbum é negro… e belo. Transmite uma sensação de terror fantasmagórico. Como usaste os diversos instrumentos (os típicos do metal e os outros), a orquestração, os teus vocais e os do Stefan para construir este efeito? A principal diferença entre “Shunya” e os álbuns que o antecederam é o facto de nele termos incorporado instrumentos de corda típicos de uma orquestra e reais e ainda o violoncelo e violino, que aparecem em 5 das 8 faixas. Estes efeitos conferem-lhe uma dinâmica superior e sublinham a atmosfera melancólica nas partes mais calmas, onde podes ouvir a vibração do violoncelo e do violino. O resultado final é um álbum com um som mais vivo e orgânico. Tivemos connosco Caroline Oblasser, da Áustria, que participou em duas sessões para gravar as partes de violoncelo comigo e com o Stefan, e Anna Oklejewicz, da Polónia, que gravou as partes de violino e viola num estúdio do seu país e depois transferiu os ficheiros diretamente para o estúdio onde nós estávamos. Foi através destes

passou para outro melhor. Diria que ela representa metaforicamente a faixa “Emotional ground zero”, que é o grande final do álbum, ao mesmo tempo épico e melancólico. A Laura é uma artista extraordinária, uma visionária e penso que ela trata na perfeição temas que tenham a ver com outros mundos e com o recurso ao simbolismo. Adoro a forma como combina diversas técnicas, umas manuais, outras digitais, para atingir os objetivos previstos. Por exemplo, na capa de «Shunya», tens diversos elementos e camadas: a figura humana é feita de tecido, a árvore de papel branco, as folhas são naturais e foram pintadas com um spray, o fundo é uma foto que ela própria tirou na Transilvânia. Acrescentou a tudo isto alguns efeitos e editou tudo digitalmente. Um verdadeiro processo criativo! Pode-se dizer que neste álbum de Wallachia há partes que se assemelham a folk metal? Estou a pensar em faixas como “Hypotheist”. E “Harbinger of vacuumanity” ou “Emotional ground zero” fazem-me pensar em Bathory (uma banda que adoro), porque são muito épicas. Tens razão. Bathory tem tido uma grande influência na minha música desde sempre. Quando formei Wallachia, sentia-me muito influencia-

“’Shunya’ é uma palavra que vem do sânscrito e que significa “vazio”, “vácuo”” subterfúgios de comunicação que conseguimos fazer o trabalho. À parte estas situações especiais, gosto de gravar de uma forma direta e enérgica, principalmente no que diz respeito à voz, porque pretendo captar a crueza com que sinto as letras. Gravei eu próprio todas as partes de guitarra e baixo. A seguir, o Stefan gravou os teclados e os efeitos e partes vocais em algumas das canções. Fizemos o trabalho todo em mais ou menos uma semana. Depois, passámos alguns dias a fazer a mistura e a pós-produção. Quando observamos o belo trabalho gráfico de Laura Sava, ficamos com a mesma impressão de terror fantasmagórico. Parece uma visão de um mundo de fadas. É comovente. Que tens a dizernos sobre isto? A Laura conseguiu captar a atmosfera das canções de uma forma admirável. A capa em si e a paleta de cores escolhida para o pequeno livro que acompanha o álbum transmitem a mesma sensação outonal que a música, na minha opinião. A imagem da capa representa uma bela paisagem e uma pessoa velada que abandonou este mundo e cuja alma

do pelos álbuns do meio da carreira de Bathory, principalmente «Blood Fire Death» e «Hammerheart», que são ambos verdadeiramente majestosos e épicos. E, de facto, há alguns elementos folk nas minhas canções. Mas penso que isso acontece de uma forma subconsciente. Em «Shunya», esses elementos são sublinhados pelo uso do violoncelo e do violino. E onde vais apresentar este vazio cheio de belas coisas? De momento, Wallachia é uma banda de estúdio, mas estamos a pensar em fazer concertos no próximo ano. Contudo, preciso de ter pelo menos mais uma pessoa comigo para o poder fazer e também de muita planificação e preparação para conseguir que uma formação de que fazem parte indivíduos de várias nacionalidades funcione. Logo veremos o que se consegue fazer. Obrigado pela entrevista. Entrevista: CSA


Reluzente “prata da casa”

São uma banda do distrito de Aveiro, que já dão cartas na cena metal portuguesa há quase duas décadas, apesar de alguma irregularidade registada na sua carreira. Brindam-nos agora com «Lux-Citanea», um belo álbum de pagan metal que dá seguimento à colaboração com a editora Nekrogoat Heresy, iniciada com o lançamento de «XV Years of Pagan Chants», em 2011. Contactámos Hrödulf para nos falar sobre este último álbum da banda e saber que planos têm para ele, esperando que seja o ponto de partida para uma fase mais regular da carreira de Azagatel.


CSA – Por que razão os Azagatel têm tido uma carreira tão irregular? Hrödulf: Acho que se deve a vários fatores. Talvez o maior e mais seja mesmo a instabilidade de line-up e a relativa dificuldade em arranjar músicos substitutos, assim como a vida profissional de alguns membros, que não permite mais regularidade. CSA – Podes referir alguns momentos altos na carreira da banda? E grandes desilusões? Momentos altos tivemos alguns, principalmente durante a promoção do «Nautilus», como o concerto no Hard Club e no festival de Barroselas e abrir para bandas que de que somos fãs, como Besatt, Agathodaimon, Catamenia… No que respeita a grandes desilusões, felizmente não me estou a lembrar de nada assim muito grave, talvez por nunca termos tido expetativas demasiado altas. VH – «Lux-Citanea» está aí para ser ouvido. Como está a correr até agora? Está a ser bem sucedido? Criaram algumas expetativas, ou preferem deixar as coisas fluírem ao seu ritmo? Até ver a aceitação tem sido muito boa, tanto da

VH – O paganismo e o folk são bastante relevantes neste trabalho. O que podes adiantar sobre estes tópicos? O paganismo, assim como o folk, fazem parte da génese da banda. Nos primórdios, talvez não fosse tão patente, mas foi ganhando cada vez mais protagonismo, até que neste Lux-citânia ganhou uma maior dimensão. Todos os trabalhos anteriores têm como base o paganismo europeu. Este talvez lhe tenha ganho mais relevância por o tema ser as nossas próprias raízes e o culto que os nossos ancestrais faziam. VH – É também de destacar o uso da língua portuguesa que, na minha opinião, encaixa bastante bem no ambiente deste álbum. Foi uma forma de chegar ainda mais à génese concetual do «LuxCitanea»? Não foi algo planeado. Já tínhamos algumas músicas escritas em Inglês, quando surgiu a ideia de experimentar fazer temas em Português. Sempre tive a ideia que era algo de muito complicado, tanto no processo de escrita propriamente dito, como depois na sonoridade. Mas, felizmente, acabou por ser algo muito natural, que saiu com relativa facilidade e resultou bem, tanto que no

“O paganismo, assim como o folk, fazem parte da génese da banda. […]até que neste «Lux-Citanea» ganhou uma maior dimensão. […]” parte do público, como da crítica. Mas penso que ainda é um pouco cedo para fazer uma avaliação quanto ao sucesso do álbum. Para nós, o mais importante é sentirmo-nos realizados e satisfeitos com o produto final e esse objetivo foi conseguido. Agora é deixar as coisas fluírem a seu ritmo. VH – Ouvindo o vosso álbum, o que salta logo ao ouvido é a produção. Como correu a manufatura, por assim dizer, do «Lux-Citanea», desde a sua génese até ao produto final? O processo de composição foi muito calmo e tivemos muito tempo para trabalhar as músicas e procurar a melhor forma de as captar e gravar. Surgiu a oportunidade de trabalhar com o Lino Vinagre (ex-Anger, Godvlad), que aproveitámos logo. Além de ser alguém conhecido nosso, gostamos bastante do que ouvimos noutros trabalhos que ele tinha produzido. Sinto que acabou por ser uma excelente escolha, pois o trabalho a nível de produção é de longe o melhor que tivemos até hoje!

futuro será certamente algo que vamos continuar a fazer. VH – Ouve-se, por vezes, instrumentos tradicionais nas vossas músicas. Foram tocados e gravados, ou são sintetizados? Temos o acordeão e uma viola acústica, que foram tocados e gravados. O violino acabou por ser sintetizado, devido à indisponibilidade do artista convidado. VH – Convidaram alguém para participar no vosso álbum? Sim, temos duas participações: uma na voz feminina, que se ouve na “Nábia”, que foi cantada pela Carla Rosete, e outra, no acordeão que se ouve em duas músicas, que foi tocado pela Cristina Santos. CSA – Partindo do princípio de que o título significa simplesmente “Lusitânia”, o que tem a capa a ver como seu conceito de base? Para quem olhar atentamente, a capa contém


“[…] Já tínhamos algumas músicas escritas em Inglês, quando surgiu a ideia de experimentar fazer temas em Português. […] acabou por ser algo muito natural […]” toda a simbologia relativa às músicas que estão no CD. Mas, no fundo, ela é sobretudo um tributo à ancestralidade e paganismo em geral. CSA – Podes dar-nos alguns pormenores sobre a vossa editora? A pessoa que está por trás da Nekrogoat Heresy é nosso amigo há algum tempo e já tinha feito a edição do nosso CD «XV Years of Pagan Chants», que correu muito bem. Para o «Lux-Citanea» acabou por acontecer tudo muito naturalmente e foi dada continuação à colaboração entre ambas as partes. CSA – Como pensam promover este novo álbum? Enviamos promos para as revistas e rádios mais relevantes no meio e estamos a marcar concertos de promoção. Entrevista: CSA e Victor Hugo

AZAGATEL «Lux-Citanea» (Nekrogoat Heresy Productions)

Onze anos depois do álbum «Nautilus», os Azagatel regressam com o seu segundo longa duração, mais fortes, mais pagãos e mais folk. Para além da mais relevante presença do folk, este é focado nas nossas raízes, as raízes lusitanas. Deste modo, as letras das músicas focam sobre a ancestralidade do nosso povo e sobre os seus cultos. Para ajudar a passar essa mensagem os Azagatel muniram-se de uma musicalidade muito própria. Não estando muito longe do que já faziam, «Lux-Citanea» revela-se contemporâneo sonoramente, poderoso e cheio. Logo a abrir, “Endovellico” revela precisamente esse poder, dando a conhecer, também, que os Azagatel se muniram de alguns instrumentos mais tradicionais, como o acordeão e o violino, sendo este sintetizado, e o outro tocado por uma convidada, Cristina Santos. Nota-se, desde logo, a importância da língua portuguesa nas músicas, detalhe que faz toda a diferença e que ajuda 100% a criar o ambiente pagão e folk que a banda quer transmitir no seu álbum – como por exemplo na música “Nábia corona”, e na qual foi convidada a Carla Rosete para cantar juntamente com o Hrödulf – cânticos verdadeiramente pagãos. Outro tema de destaque é “Lucifer (The bringer of life), cujo refrão é contagiante e pesadão. Na sua totalidade, todos os momentos do álbum revelam o seu interesse e destacam-se pela sua simplicidade mas também pela sua essência forte, contagiante e curiosa. «Lux-Citanea» é uma boa surpresa no Metal nacional, e merece o devido destaque pela elevação das nossas raízes. [7.5/10] Victor Hugo


OMNIUM GATHERUM «Beyond» (Lifeforce Rercords) Testament review propriamente dita, duas notas: 1 - Não «Dark Antes Roots da of Earth» tivesse chegado tão tarde e teria um grande problema em (Nuclear Blast) elaborar a lista para o Top 5 de 2012. Fica, no entanto, Após quatro anosdos de melhores interregnode– 2012. no que2respeita a originais –, os Testacomo um – O Death Metal mement estão de regresso às suas raízes, com um álbum avassalador que lódico é um dos géneros/sub-géneros/estilos (riscar o que enaltece e faz jus ao Bay Area thrash metal que os caracterizou e feliznão interessa) favoritos. Visto isso, «Beyond» é o muito menteaguardado continua a sucessor caracterizar hoje. «Dark Roots of Earth» manda definido fantástico «New World Shadows». tivamente o seu anterior e menos inspirado trabalho para as calandras Os Omnium Gatherum são das poucas bandas que descobri em 2012 e das quais gregas. Tal como a maior parte das grandes bandas dos 70’s e 80’s que mantive uma audição regular. Quem conhecer o álbum anterior vai tender a comainda hoje continuam em actividade, os Testament são definitivamente pará-lo com este, é inevitável. Sempre foi assim e sempre o será. Escrevo isto porcomo o nossofoi vinho Porto: quanto Algo mais do velhos melhor. que a minha primeira impressão umadosemidesilusão. género: Está«Dark bom Roots of Earth» é um daqueles álbuns que nada há a apontar. O espírito mas comparativamente ao outro não lhe chega aos calcanhares. Naqueles primeiros musical do início emomentos atitude bem vincada dosapoderou-se Testament estão em cada uma dasanove puxando-nos a resignação e... lálá,terei de continuar ouvirmúsicas, «New World constantemente para aquele Bay ficou Area thrash dos 80’s, semNa abandonar a característica mais modShadows». «Beyond» a descansar 1 dia. segunda nunca ou terceira audição dei erna do thrash moderno e headbanging actual. Com um Chuck Billy abismal naàvoz, normal, quer gutural, os por mim a fazer (com calma, pois, devido faltaquer de treino o pescoço solos acutilantes estonteantes de veleidades), Alex Skolnickainda e EricaPetersen, o poderoso de Greg Christian e a já não epermite grandes “tocar” air guitar, airbaixo drums, air bass, sólida bateria Gene HoglanDesaconselho, (Opeth, Fear Factory, Death), que aqui substitui o lesionado Paul Bostaph, etc.de é só escolher. portanto, a audição em sítios públicos e nos auto«Dark Roots of Earth» é definitivamente um dos melhores álbuns da carreira Americanos, onde móveis. Quando damos por ela... temos “meio mundo” a olhar para ados nossa figura. nada falta,Foi, nem sequer aum temática ao problemas revelando algumas canções portanto, passo subjacente à frente, apesar de acharmundanos, que existem algumasaté diferenças episódios pessoais - em ao especial de Chuck - como o é o caso de “Native ou, nem a “balada” à relativamente anterior. «Beyond» parece-me um pouco mais blood”, melancólico, introsTestamentpetivo faltou,e aqui com “Throne of thorns”, sempre em crescente, tal predominância como eles nos dos habituaram. ambiental. Não será, por isso, de dissociar uma maior Com a produção de Andy em Sneap, «Dark of Earth» é uma descarga e firmada dos grandes sintetizadores doses q.b. Roots Uma prova desta diferença é o aguerrida tema “Who Could Say” Testament,que sem mais me fraco ou menos evocando emocionalmente a sua daqualquer primeiramomento vez que ouvi, pareceu estarconseguido, na presença de Ville Valo (HIM). O sonoridadetema dos 80’s. O thrash destesacabando senhores em temcrescendo disto: quando e é bem conseguido, é uma começa muito calmo com afunciona voz cavernosa e agressiva, obra de arte magistral! mantendo sempre a mesma cadência melódica e melancólica. É, sem dúvida, o álbum [9.5/10] mais Carlos Filipe e adulto dos Omnium Gatherum. Absolutamente essencial! maduro [10/10] Eduardo Ramalhadeiro


A marcha do progress(o)ivo Após um interregno de cinco anos eis que os Threshold voltam mais fortes e progressivos do que nunca. Durante este interregno passaram por algumas mudanças importantes, desde a mais triste devido à morte de Andrew McDermott até à mudança de editora para a poderosa Nuclear Blast. Se «March of Progress» não for uma desculpa suficiente, toda a discografia dos Threshold foi novamente re-editada. Richard West, teclista e produtor, falou-nos sobre isto e muito mais.


Primeiro que tudo, parabéns por «March of Progress»! Pelas posições nas tabelas de vendas é óbvio que o álbum foi bem recebido. Richard West: Obrigado, ficámos agradados com a receção ao álbum. Parece que estamos a ir de “vento em popa” Parece-me que todo o álbum, ou pelo menos os dois temas que têm letras no youtube, transmitem uma mensagem. Há algum conceito geral subjacente ao álbum ou cada tema tem o seu? Há um tema para muitas das canções em «March of Progress». Estávamos à procura de como as coisas podiam melhorar, atingir o sucesso e depois fracassar outra vez. Assim, o tema “Don’t look down” encoraja-te a encontrar o sucesso, enquanto “Ashes” reflecte o estado de complacência que antecede a ruína. Os outros temas abordam o mesmo assunto mas de diferentes pontos de vista. … Por falar em youtube, há algum projeto para a realização de um vídeo? Recentemente organizámos um concurso para o single “Staring at the sun”. O vencedor é alemão e fez um vídeo espetacular. Podem vê-lo no Youtube.

Peter Morten, novo guitarrista, escreveu um par de excelentes temas e o baixista Steve Anderson também esteve envolvido no processo de criação. Por ultimo, o tema que mais me chamou a atenção foi “The rubicon”. Talvez a mais pessoal e técnica... esta é a minha favorita. Podes falar um pouco sobre ela? Para esta o Karl Groom escreveu a música e eu as letras. Ambos pensámos que daria um bom tema para terminar o álbum e por isso pensei que seria uma boa oportunidade para escrever sobre a história dos Threshold até agora; um olhar para a nossa “Marcha de Progresso” («March of Progress»). Na parte final encontras referências a todos os temas de abertura dos oito álbuns anteriores. Acho que esta é uma questão que muita gente coloca e eu não vou ser diferente: quando o Mac abandonou a banda, quão difícil foi encontrar um substituto? Damian era a escolha óbvia ou houveram outros nomes em cima da mesa? Damian foi a escolha óbvia. Ele já tinha participado em dois álbuns dos Threshold e sabíamos que ele estava por perto, disposto e disponível.

“Há um tema para muitas das canções em «March of Progress»” Um pormenor que me chamou a atenção foi a capa. Presumo que está relacionada com as letras e com todo o conceito inerente ao álbum. Existe algum significado ou mensagem especial com as mãos amarradas em arame farpado e a borboleta? O autor foi o Italiano Davide Nadalin que também criou todo o design de «Dead Reckoning». Para este álbum apresentamos-lhe algumas letras e ele interpretou-as à maneira dele. Não falámos com ele sobre isso e por conseguinte não sabemos se existe algum significado especial, mas gostámos imenso do trabalho que fez para nós. Para mim, coloca uma questão sobre o progresso do mundo: como é que estamos? Ainda em torno da questão anterior… na minha opinião cada tema é uma mensagem ou conceito e presumo que cada músico contribui, de alguma maneira para isso. Como foi todo o processo de composição dos temas? A maior parte da composição é feita pelo Karl Groom (guitarrista) e eu mas, também, os outros membros contribuem. O Damian Wilson (vocalista) escreveu uma excelente power ballad. O

Outra escolha natural seria Glynn Morgan que cantou no nosso segundo álbum. Como o concerto seguinte eram passados oito dias, não tínhamos muito tempo para o encontrar. … Foi esta a razão para o intervalo de cinco anos entre «Dead Reckoning» and «March of Progress» Não sei. Passámos muito tempo em digressão com o Damian e gostámos mesmo de estar juntos em palco. Também estivemos ocupados com outras coisas e, por isso, o tempo foi passando. Passámos algum tempo a compilar os Box Sets que saíram em 2009 e pouco depois concentrámo-nos em compor outra vez. Não sei, mas demorou mais que o habitual. Esperemos que o próximo não demore muito tempo. No que diz respeito à digressão, existe alguma coisa planeada? No vosso sítio - www.thresh. net/ - não há muita informação. Há hipótese dos Threshold virem a Portugal? Neste momento já temos a digressão Europeia reservada para Março de 2013. Não sei se incluirá Portugal mas espero que sim. Faremos também alguns festivais no Verão.


“(A capa) Para mim, coloca uma questão sobre o progresso do mundo: como é que estamos?” Aquando de «Dead Reckoning» vocês mudaram de editoras e agora a discografia inteira vai ser novamente lançada. Isto foi uma decisão da editora ou vossa? Podemos esperar algo de novo? Foi uma decisão simples, visto os contratos para os álbuns mais antigos terem terminado. Então, abordamos a Nuclear Blast sobre a possibilidade de os editar novamente e adicionámos muitos temas extras de modo a torna-los os melhores possíveies. A maior parte dos membros têm projetos paralelos. É muito difícil de os conciliar com os Threshold? Na maioria das vezes não há problemas, no entanto, existem datas de concertos que se tornam difíceis de conciliar. Mas somos todos amigos e espero que continue a resultar. Não consigo evitar e tenho de perguntar: muitas bandas são comparadas com os Dream Theater e os Threshold não são exceção – apesar de achar um pouco injusto. Como é que lidam com isto? Concordas ou não te importas sequer? Não é um problema. Fazemos parte da cena progressiva e os Dream Theater são a banda mais conhecida dentro deste género. Como é óbvio há semelhanças, visto termos influências de rock progressivo e heavy metal mas fora isso, também há muitas diferenças. Mas claro, os Dream Theater são excelentes e estamos orgulhosos de fazer parte deste género juntamente com eles Última pergunta: espero ver-vos em Portugal e pedia-te uma última palavra aos nossos leitores – pode usála para promover o álbum, a banda, tudo o que queiras! Obrigado Espero mesmo que os Threshold possam atuar em Portugal. É um país bonito e temos muitos fãs por aí. Espero ver-vos em breve.

Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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A luz ao fundo do túnel

Nas palavras de Anton Lisovoj, o baixista e vocalista, que respondeu às perguntas da VERSUS Magazine, são uma banda que faz música tenebrosa, mas onde ainda há lugar para a esperança. Passaram do crust punk ao post black metal, em apenas dois álbuns. Vêm de uma cidade alemã pouco conhecida no mundo do metal. Têm um elemento de origem portuguesa, mas que não conhece o país de origem do seu pai. Eis alguns ingredientes que podem chamar a atenção dos nossos leitores para os Downfall of Gaia. E acreditem que vale a pena, tanto como ouvir o seu último lançamento: «Suffocating in the Swarm of Cranes».


“A luta entre o silêncio e o som é uma das caraterísticas essenciais da nossa música”

“Tenebrosa, assustadora, mas sem se afundar no desespero… ” São estas as palavras que a Metal Blade usa para descrever a vossa música e é assim que eu a vejo também. Concordas com esta caraterização, ou gostarias de mudar alguma coisa nela? Anton Lisovoj: Essa descrição da nossa música parece-nos perfeita. E cremos que também se aplica ao nosso último álbum. Procurámos usar a música para capturar a atmosfera das letras das canções, criar um som adequado a cada uma delas. A luta entre o silêncio e o som é uma das caraterísticas essenciais da nossa

música. É esta oposição que nos permite captar a atenção de quem nos ouve. É também nela que se baseia o nosso álbum, que é tenebroso, de um modo geral, mas que, mesmo assim, encerra em si algumas centelhas de esperança. Este é o vosso segundo álbum. É muito diferente dos vossos outros lançamentos? Este trabalho é muito diferente dos anteriores, considerando tanto as demos como o «Epos» [o primeiro álbum da banda, lançado em 2010]. Têm origens diferentes. O primeiro longa duração estava mais ligado ao

“crust”. Demos um grande passo entre o «Epos» e o «Suffocating in the Swarm of Cranes». Mas isso não significa que pretendamos renegar os nossos trabalhos anteriores. Eles foram importantes para nós e tencionamos continuar a divulga-los. Até estamos a planear fazer um novo lançamento do «Epos». Foram esses primeiros lançamentos que vos deram o contrato com a Metal Blade ou foi antes a qualidade deste segundo álbum que chamou a atenção da vossa editora? Tanto quanto sabemos, o in-


teresse da Metal Blade por nós prende-se com as nossas primeiras gravações (o nosso split com os The Hearts of Emperors e o nosso álbum anterior). Ainda nem tínhamos gravado o nosso segundo álbum, quando iniciámos as negociações com a MB. É uma grande honra para nós termos assinado um contrato com esta editora. Por que aparecem montanhas na capa do álbum? Escolhemos esta imagem, porque ela sublinha a atmosfera criada pelo som do nosso álbum. Tal como disseste, o nosso som é tenebroso e assustador, sem contudo se afundar no desespero… e assim devia ser a arte a ele associada: montanhas negras e frias, mas elas também dotadas de uma certa forma de beleza. Adoramos o resultado final. É mais um elemento conseguido num trabalho que nos parece cheio de significado.

pequenas, menos conhecidas, de todos os géneros. Portanto, atualmente, estragam-nos com mimos por aqui.

espaço. Mas é claro que também ouvimos Lantlös e Alcest e muitas outras bandas, que podem ser associadas ao post black metal.

Têm algumas influências notórias a apontar? Sentem que têm afinidades com bandas de post black metal como Lantlös ou Alcest? Podemos referir muitas bandas de nomeada. Nem sei por onde começar… Talvez Neurosis, Ekkaia, Alpinist, WITTR, Rosetta, Cult of Luna, Altar of Plagues, para mencionar apenas algumas. Senão arriscávamo-nos a tomarte muito tempo e a ocupar muito

Suponho que o Dominik é descendente de portugueses. É verdade? A banda tem alguma relação com Portugal? Temos excelentes bandas de black e death metal. Sim, é verdade. O pai dele é português, daí o apelido invulgar que ele tem. Mas, à parte isso, não temos qualquer relação com Portugal. Nunca fomos tocar no vosso país, o que é uma pena. Adoraríamos fazê-lo, independ-

Têm estado a fazer um lançamento por ano. Já têm algo previsto para 2013? Neste exato momento, já estamos a escrever material novo. Ainda estamos mesmo no início do processo, portanto ainda deve demorar algum tempo a sair. Por conseguinte, não podemos dizer já se ainda vai sair em 2013. A Metal Blade sublinha o facto de a vossa banda estar sediada em Hannover. Como é a cena metal nessa cidade alemã? Na realidade, o Peter vive em Hamburgo e o Dominik, em Berlim. O Hannes e eu é que vivemos em Hannover. Mas ensaiamos na nossa cidade. Em Hannover, há alguns locais para quem gosta de metal. Um dos mais importantes é certamente o “musikzentrum”, onde frequentemente há grandes concertos de metal. Mas há outros locais para bandas mais

“[…] o nosso álbum, que é t sim, encerra em si algumas


entemente do sítio para onde nos convidassem. Se fossem convidados para tocar em Portugal, onde gostariam de ir? E quem gostariam de ter convosco? Tal como já disse, tocaríamos em qualquer lado e ficaríamos contentes de ter a companhia de bandas nacionais. Esse convívio ajudar-nos-ia a compreender a vossa cultura e mentalidade através da música. Entrevista: CSA

tenebroso, […] mesmo ass centelhas de esperança.”

DOWNFALL OF GAIA «Suffocating in the Swarm of Cranes» (Metal Blade)

Começaram em 2008 pelas abordagens cruas e agrestes do crust mas mudaram muito em apenas quatro anos, apresentando-se agora com um trabalho alinhado numa estética post-metal do mais atmosférico que há. Usando apenas os fundamentos do seu estilo de música original, nomeadamente os vocais hardcore, a formação germânica resolveu apostar forte na criação de temas longos que evoluem sem pressas entre montes e vales de intensidade e emoção, e que incluem passagens ambientais, partes mais dinâmicas especialmente entusiasmantes por causa do trabalho criativo de percussão, sequencias desesperadamente arrastadas características do doom, e descargas rápidas de black metal. Depois duma abertura promissora com “Vulnus” e “Drowning by wing beats” o álbum parece perder uma pouco do momento nas faixas centrais, mas volta a ganhá-lo no fim com a doomy “Giving their heir to the masses” e o instrumental “Asphyxia” que recupera o alento do início. As partes atmosféricas são frequentemente baseadas naqueles acordes espaciais que parecem pairar meios dissonantes, e de uma sonoridade que evoca fielmente a amplitude e todo o cinzento dos grandes espaços urbanos. A bateria de Johannes Stoltenburg é muito mais rendilhada do que é habitual ouvir em trabalhos congéneres, sendo este talvez o maior valor acrescentado em oferta. «Suffocating in the swarm of cranes» salda-se assim como um grande passo em frente na evolução deste quarteto de Hamburgo, e do balanço de todos os altos e baixos presentes neste segundo álbum fica a convicção de que se trata dum trabalho que os fãs de tudo o que é post-qualquer-coisa não podem perder. [8/10] Ernesto Martins


Portadores de herança Hispânica Em 2010 numa cidade chamada Miami, com uma forte comunidade de ascendência hispânica, Alex, Andreas, Johnathan, Matt e Ray decidiram juntar-se e formar os Abiotic. Com um som altamente elaborado e por vezes abstrato e letras focadas em temas como a Humanidade, Filosofia, Sociedade, conseguem uma combinação que tem pelo menos uma forte vertente de fuga ao «mainstreem» metaleiro. Apesar de, por vezes, telegráficas, conseguimos algumas respostas interessantes de John Matos e Ray Jimenez, respectivamente guitarrista e vocalista da formação.


Vocês são uma banda formada recentemente e com o primeiro EP editado apenas em 2011. Quando exactamente é que começaram os ensaios juntos? John: A banda surgiu no verão de 2010 e começamos a ensaiar e a escrever para o EP. Decidiram desde o primeiro dia que a música que iriam fazer seria tão técnica e não-linear como a que fazem hoje? John: Nós definitivamente queriamos seguir por uma vertente de Death-Metal técnico, mas também incorporando vários elementos diferentes na música. Todos vocês têm nomes de família hispânicos. Isto aconteceu por acaso ou tem a ver apenas com a forte comunidade Hispânica em Miami? John: De facto é devido a termos ascendência familiar hispânica. Todos nós vimos de um background hispânico. O ambiente cultural em Miami está a ser «dominado» por essa descendência hispânica? John: Aparentemente é isso mesmo. Os nossos espetáculos em Miami são bastante multi-culturais. O vosso conteúdo lírico é baseado principalmente em aspetos sociologicos, culturais, filosóficos e humanos. Como é que isso se relaciona com o vosso background, história de vida, etc? Ray: Desde muito novo que trazia comigo o desejo de aprender quais as forças que moldam a sociedade.

Eu cresci num contexto que me levou a procurar caminhos que me permitissem perceber as fronteiras de ideias com que nos deparamos todos os dias. O ambiente familiar que experienciei, a educação académica que recebi e o ambiente cultural altamente eclético onde cresci facilitaram-me o conhecimento que essas ferramentas tais como a sociologia e filosofia, entre outras, de entender o que me rodeia. Encontrei uma pequena referência ao segundo tema “Vermosapien” onde é colocada ênfase num paradoxo que persiste na Humanidade: “tornarmo-nos mais humanos enquanto perdemos a nossa humanidade”. Poderia pedir-te que elaborasses um pouco mais esta ideia? Ray: Esta canção retrata a maneira como nos tornamos afastados uns dos outros tanto fisicamente como mentalmente. Reflete como nos podemos transformar em insectos presos nas nossas estruturas sociais que promovem a estratificação e nos forçam a procurar tudo aquilo que beneficia o indivíduo; enquanto sociedade nós perdemos todo o respeito pelas crenças e atitudes dos outros. Tudo isto sugere que quando analisarmos as nossas ações e percebermos o quão egoístas nos podemos potencialmente tornar, aí começaremos a viver em harmonia. O vosso estilo de composição é por vezes extremamente complexo. Não perdem por vezes a parte lúdica da música em detri-

mento de se tornarem puramente instrumentistas em espetáculos ao vivo? John: Nós fazemos o nosso melhor para termos um ao vivo uma postura bastante energética e não deixarmos que as nossas partes sejam um entrave a essa postura. Nós adoramos divertirmo-nos em palco e acho que o público em geral acompanha-nos nessa vertente. Atingir essa complexidade e mestria requer bastante talento ou anos de dedicação ou até ambos presumo. Todos os elementos da banda tiveram treino formal? John: Julgo que ninguém na banda teve treino musical formal. Todos nós somos auto-didatas e ensaiamos tanto quanto possível todos juntos. Abiotic quer dizer ausência de vida. Talvez o nome da banda me tenha levado a pensar ser um dos mais «alienígenas» da atualidade. Achas que esta é uma boa definição do vosso som? John: Palavras como essas já foram usadas para definir o nosso som e definitivamente não nos opomos a essa definição. Algumas palavras adicionais para os nossos leitores? John: O nosso primeiro álbum «Symbiosis» saiu pela Metal Blade Records! Vão buscá-lo e esperamos encontrar-vos nas nossas tournées. Entrevista: Sérgio Teixeira


ABIOTIC «Symbiosis» (Metal Blade Records) Este álbum de estreia dos Abiotic, após o EP de 2011, é uma extensão do trabalho inicial no que à sonoridade diz respeito. Centrados em Death Metal técnico os Abiotic fazem bem uso das qualidades de instrumentalistas super-dotados. Com isso resultam composições em que não é fácil encontrar linearidades nos vários temas, e em que a fuga aos padrões é algo que fica bem patente. Por isso mesmo não será fácil de digerir os encadeamentos divergentes e cerebrais presentes nas composições. Após ouvir o álbum por mais do que uma vez, encontro apenas esporadicamente riffs que se prestam a ser facilmente trauteados/memorizados. Portanto este álbum apesar de ficar a perder um pouco na homogeneidade e orgânica, uma coisa é certa, a originalidade está bem presente e não é fácil encontrar paralelismo no metal atual. O adjetivo que mais parece identificar-se com este «Symbiosis» é alienígena, com o qual a banda de certo modo concordou; abiótico quer dizer ausência de vida e falta de vida equivale a inóspito. E este é, propositadamente, um dos álbuns mais inóspitos de 2012. Se tivesse de classificar este tipo de metal chamar-lhe-ia Alien-Metal. É de facto algo que se estranha e talvez para a maioria não seja fácil de entranhar. Pessoalmente julgo que para a criação artística é preciso o silêncio, a folha em branco, a tela virgem. E o ponto menos conseguido é precisamente a quase ausência de uma base por onde a música possa respirar. Talvez um próximo álbum traga mais certezas mas para já o que nos fica deste Symbiosis é sobretudo destreza, originalidade e complexidade. [7.5/10] Sérgio Teixeira AEON «Aeons Black» (Metal Blade Records) Os Aeon são uma banda sueca de Death Metal já com a experiência de 13 anos e 4 discos oficiais (1 EP e 3 álbuns) de combate persistente anti-cristão e blasfemo. Este quinto opus não é excepção a esse combate: temática de oposição à hipocrisia cristã, voz gutural bem afinada, mas não com demasiado “grunho”, bem old school, guitarras viciosas não demasiado “gélidas”, mas bem eficazes, solos com técnica bastante apreciável, bom balanço rítmico, com um pouco de mid-tempo bem dinâmico, mas disfarçado pelo uso do duplo pedal. Tenho pena que por todo o álbum se note uma colagem demasiado óbvia à fase mais “desacelerada” e melódica dos Morbid Angel. No meu entender, precisam de uma afirmação mais vincada de personalidade própria. Dos temas mais fortes, destacam-se “The glowing hate”, “I wish you death” (com uma bela introdução em piano), “Garden of sin”, “Nothing left to destroy”, uma excepção de aceleração e brutalidade e “Die by my hands”. De certa forma, Death à antiga, mas com um toque de modernidade, seja lá isso o que for. No entanto, para quem gosta de Death Metal à sueca, bem tocado, com generosas doses de melodia, é um disco a ouvir bem alto. [7/10] Joey AS I LAY DYING «Awakened» (Metal Blade Records) Confesso ao leitor que há muito tempo que não ouvia Metalcore. E de facto, não senti falta. Ao ponto de já não me lembrar de como era. Bastou contudo ouvir o primeiro tema do novo As I Lay Dying “Cauterize”, para me lembrar de todas as razões para nunca mais ter ouvido nada do género: voz tipo “Death Metal”, falha de verdadeira agressividade, rica de gritaria emo, guitarras bem tocadas, mas demasiado estridentes e mecânicas e o mais irritante de tudo, os coros com a voz dual estridente/ agressiva e melódica/emo. Tudo muito mecânico e igual. Apesar dos As I Lay Dying serem possivelmente dos melhores nomes da cena, penso que seria melhor investir em Death Metal a sério. Os temas desfilam, iguais entre si: “Cauterize”, “A greater foudation”(que refrão irritante), “Resilience”, “Wasted words”, etc.”Whispering silence” possui uma linha melódica bastante atractiva. “Overcome” promete no início com um bom solo melódico, mas depois volta ao mesmo do resto do disco. Bem produzido, bom som, bem tocado, mas não impressiona. Recomendado apenas aos indefectíveis. [5.5/10] Joey


BETWEEN THE BURIED AND ME «The Parallax II Future Sequence» (Metal Blade Records) As bandas progressivas, independentemente do som que toquem, são as que mais me chamam a atenção e há pouco tempo deparei-me com o novo álbum dos americanos Between The Buried And Me (BTBAM) que se intitula «The Parallax II Future Sequence», primeiro álbum da banda desde a mudança para a Metal Blade em 2011, se bem que nesse ano lançaram um EP de três música que deu o mote para esta aparição em 2012 e ao qual foi dado o titulo de «The Parallax: Hypersleep Dialogues». Neste novo trabalho podem ouvir-se vários registos que deambulam entre uma voz limpa e uma voz gutural de grande nível de Tommy Giles Rogers. A nível instrumental o álbum é de uma qualidade técnica muito acima da média. Com o som progressivo como pano de fundo os BTBAM percorrem as várias músicas com arranjos entre o death metal de alta rotação, passando por um rock/metal ao estilo Dream Theater, não se coibindo a ir a registos mais jazz, experimentais e instrumentos limpos. O tema que melhor retrata este álbum é o terceiro do alinhamento, a faixa “Lay your ghost to rest” onde, ao longo dos seus dez minutos de duração, a banda mostra toda a sua esquizofrenia musical que só está ao nível dos mais dotados. Outras músicas como “Telos”, “Extremophile elite” e “Astral body” tornam este «The Parallax II Future Sequence» sem dúvida alguma um dos melhores álbuns do ano e confirmam os BTBAM como uma banda de eleição no panorama progressivo. [10/10] Sérgio Pires BEYOND MORTAL DREAMS «Dreaming Death» (Lavadome Productions) Excelente. O ponto menos conseguido deste EP dos Australianos Beyond Mortal Dreams é terem editado «Dreaming Death» em formato EP, logo com um número reduzido de composições – apenas quatro, sendo que o último tema se trata de uma cover – “Beast of damnation” – dos Beherit. Mas que valem todo o dinheiro que se possa despender nesta pérola auditiva, ai isso vale. Quem no entanto quiser aceder ao streaming é só ir a http://beyondmortaldreams.bandcamp.com. É neste EP criada uma atmosfera encaixada em Death Metal do mais pesada que surgiu em 2012 (a primeira edição é de Abril de 2012) e carregada com elementos tão obscuros que deixam um buraco negro parecer uma lufada de vento fresco no espaço-tempo. Não sou particularmente apologista de comparações com as bandas mais consagradas nos respectivos meios mas diria que os Nile serão uma boa base para quem quiser ouvir algo de semelhante. Só que acho que estes Beyond Mortal Dreams arriscam estar num patamar ainda superior. Para além da utilização de teclados na dose certa que são determinantes na criação das atmosferas hiper-tenebrosas, o som das guitarras está simplesmente soberbo, com um som suficientemente analógico e coadjuvado por uma afinação um ou dois tons abaixo, somando-se as vocalizações de Doomsayer extremamente graves e pujantes. Foi com alguma decepção que, após 18 minutos de uma particular intensidade sonora, tive de voltar ao início, pois era caso para se ouvir mais 4 ou 5 temas originais num álbum completo e não em formato EP. Já estou à espera do lançamento do álbum em formato CD. [9/10] Sérgio Teixeira BLYND «Punishment Unfolds» (Pitch Black Records) Os Blynd são uma banda oriunda do Chipre e descarregam um furioso e pesadão Thrash/Death Metal. Este é somente o segundo álbum de uma carreira que começou em 2003 mas que revela uma maturidade fora de série. (...) Isto significa que entre estas duas linhas e meia mediaram alguns dias. Porquê? Bem, há álbuns cujas reviews nos saem à primeira, de uma forma fluída mas neste caso as palavras não estavam a sair. Enquanto isso, ia ouvindo «Punishment Unfolds» e sem me aperceber estava a punir os meus ouvidos com esta fusão bem rasgada de Thrash e Death Metal. Temas muito diretos e agressivos, salpicados, q.b., melodicamente e tecnicamente muito bem executados. Riffs muito bem rasgados e que ficam imediatamente no ouvido. Os solos de guitarra são rápidos e melódicos. Excelentes exemplos são o single de apresentação “Arrival Of The Gods” e “Punishment Unfolds” juntam as 4 qualidades descritas acima e ainda me fazem lembrar uma mescla de Testament e Amon Amarth. “Never For The Fallen” começa e acaba com uma citação de Charles Manson e deve ser dos temas mais diretos e “simples”. No entanto,


gostei imenso do rumo que dão ao tema a partir dos 2m40s - o riff que antecede os solos (melódicos) é magnífico e até ao fim é uma descarga de fúria acabando em grande com... Manson. Destaco, ainda, “Sins Of The Cross”, talvez a mais melódica do álbum – fazendo lembrar os coros muito típicos dos já citados Amon Amarth. A classificação já mudou 3 vezes desde a primeira vez que ouvi «Punishment Unfolds». E se há uma qualidade que prezo nisto de escrever e promover é justiça. E sendo assim, justiça foi feita. Excelente! [8/10] Eduardo Ramalhadeiro DORDEDUH «Dar De Duh» (Lupus Lounge/Prophecy Productions) Permitirem que «Dar De Duh» invada o vosso espaço é permitir que uma determinada espiritualidade se apodere do vosso corpo, da vossa matéria e do vosso ambiente. “Jind de tronuri” encarregar-se-á dessa tarefa, ou não fosse este o tema mais longo e que poderia, se quisessem, resumir o que os Dordeduh pretendem oferecer musicalmente. Contudo, cada momento deste álbum faz parte de uma experiência magnífica, longa, com um ritmo muito próprio, que nos convida a uma certa obscuridade, mas também a melodia, estruturas musicais simplesmente fantásticas que exalam ora um força do Black Metal, ora uma atmosfera quase folk com instrumentos tradicionais do folclore romeno, ora momentos etéreos, calmos e contemplativos. As estruturas Black Metal acabam por ser um alicerce importante em «Dar De Duh», mas nem sempre isso é audível. O ambiente proporcionado pelos teclados, e mesmo por instrumentos tradicionais, como a flauta de madeira e a kaval, têm uma presença crucial para que «Dar De Duh» funcione e tenha uma aura mística, misteriosa, pela qual facilmente somos assombrados. Ainda focando a musicalidade do álbum, podemos ouvir um certo ritmo progressivo, fruto, talvez, da muito boa estruturação musical dos temas. Não se fica indiferente a uma das obras-primas aqui presentes, “Calea rotilo de foc” – curiosamente, no tema anterior, “E-An-Na”, podemos ouvir os acordes que estruturam a base de “Calea rotilo de foc”, como se fosse um prenúncio do que se seguirá. Genial! Quanto às vozes podem esperar um Hypogrammos com bastante poder vocal, ora gutural e cavernoso, ora suave, melódico e tribal. Esta conjugação de vozes está genialmente colocada ao longo do álbum, fortalecendo, assim, os argumentos do álbum. A produção é boa. Todos os instrumentos são audíveis, e nota-se o feeling orgânico, humano, na totalidade de «Dar De Duh» – é música feita por pessoas e com espiritualidade – o espírito a brotar da Terra, terminado em Obra de Arte. [9.5/10] Victor Hugo EÏS «Wetterkreuz» (Lupus Lounge/Prophecy Productions) Outrora denominado por Geïst, Alboîn decidiu mudar o nome para Eïs, sem, com isso mediocrizar a sua música. Pelo contrário, em «Wetterkreuz» podemos ouvir um dos melhores momentos de Black Metal deste ano. Após um discurso em língua alemã que faz as honras ao álbum, somos presenteados com uma sensacional sonoridade fria que faz justiça ao novíssimo nome da banda. “Mann aus stein” é um sopro gélido, mas ao mesmo tempo aconchegante muito devido ao ambiente próprio. Para ajudar a isso, a produção, tanto a cargo de Alboîn como de Markus Stock (The Vision Bleak, Empyrium), nada tem que ver com as produções modernas que mais parecem uma linha de montagem, cujo resultado final é tão igual entre as suas contemporâneas que até se tem dificuldade em distinguir as bandas umas das outras. Não foi, de todo, o objectivo de Alboîn em criar um álbum de Black Metal que soasse a tantos outros similares. A mente por detrás de «Wetterkreuz» foi muito mais ambiciosa, e decidiu não utilizar material de topo, para que não soasse tão maquinal. Em vez disso optou por uma produção mais simples, sem, no entanto, perder qualidade. Por isso, o ambiente deste álbum é muito especial. Esse ambiente muito próprio espalha-se pelos restantes temas, onde poderemos encontrar um certo feeling old school, como no tema título “Wetterkreuz”. Os teclados dão um toque muito peculiar no tema “Am abgrund”. E no final do disco podem esperar uma cover bastante boa da música “Thou, whose face hath felt the winter’s wind”, original dos já terminados Sun of The Sleepless. Fiquem com a certeza que estão perante um dos grandes álbuns de Black Metal deste ano. [8.5/10] Victor Hugo


FINSTERFORST «Rastlos» (Napalm Records) Os Finsterforst são uma banda de Folk Metal mas neste «Rastlos» vão muito além de uma simples caracterização musical expressa em apenas uma palavra. A dimensão épica desta obra-prima percorre zonas do metal que, embora centradas em Folk, são superiormente complementadas com elementos bem pesados dentro do Death ou Black Metal chegando mesmo a fazer incursões por domínios mais reservados ao Progressivo. A ausência de limites à expressividade sonora fica vincada em temas que vão desde os pequenos interlúdios instrumentais de cerca de 90 segundos até aos 22 minutos da composição “Flammenrausch”. Esta abordagem não sendo nova é ainda mais realçada agora. E o que temos no resultado global é um disco que não tem medo nem dos sons pesados, nem dos sons acústicos, nem dos ambientes atmosféricos, nem da melancolia, nem do caos nem da ordem. É tudo isto somado e muito mais, um somatório de sonoridades que não encontrei com facilidade nos inúmeros discos que já pude ouvir desde que estou na VERSUS Magazine. A proximidade que este álbum oferece também em termos de semelhança com uma sinfonia orquestrada tem a ver com a utilização como disse de secções de guitarra acústica mas também do acordeão e de uma secção completa de metais de orquestra. Uma última nota para referir que as vocalizações raramente são limpas mas isto é metal e na minha óptica a utilização de vozes guturais não pode ser motivo de menor classificação. Concluindo deixo aqui a recomendação para ouvirem esta obra pelo menos uma vez. [9.5/10] Sérgio Teixeira HANGING GARDEN «At Every Door» (Lifeforce Records) A sair em Janeiro de 2013, «At Every Door» é o terceiro álbum de originais dos Hanging Garden, naturais da Finlândia e intérpretes de um Death-Metal banhado por Doom. Como sabemos as bandas Finlandesas são exímias em captar e registar em disco as emoções mais melancólicas e paisagens sonoras Outonais, em que o ouvinte é convidado a reconfortar o espírito ao som de melodias pesadas e atmosferas por vezes psicadélicas enquanto as intempéries de céus cinzentos e chuvas tocadas pelo vento se fazem sentir lá fora. Resumidamente é isso que conseguimos encontrar neste «At Every Door» e julgo que o encaixe para o típico ouvinte de terras lusas não será difícil. Afinal melancolia é algo que facilmente se encontra nos ouvidos de alguém com raízes em Portugal. Portanto não é difícil classificar este álbum como sendo uma excelente proposta para ser colocado em rotação especialmente em dias mais propensos a atividades indoor. Quanto à subjetividade das composições estaremos conversados; em relação à sonoridade, é de facto um prazer ouvir os temas polidos por uma produção sem a mais pequena falha. Desde os ritmos, às guitarras, aos teclados e vocalizações completamente limpas, tudo está ao perfeitamente equalizado. Estando a falar de Doom, o maior peso vai portanto para o balanceamento e cadência dos riffs do que propriamente para a mestria em solos ou ritmos inovadores, por isso dentro do Doom o que se encontra aqui do ponto de vista técnico é do mais sólido que se pode pedir. Recomendo portanto a quem aprecia o Doom tocado pela melancolia sem deixar de lado uma produção de excelência. [8.5/10] Sérgio Teixeira IN SOLITUDE «In Solitude» (Season of Mist) Para quem ainda não teve oportunidade de ouvir o álbum de estreia dos suecos In Solitude, podem ter a certeza que ao iniciarem a viagem darão por vós a cantarolar o refrão da musica “In The Darkness”: “In the darkness / At the hill / In shapes of demons / With urge to kill”. Certinho, direitinho; disso podem ter a certeza. Porque o feeling deste trabalho é tão cativante, é mais do que argumento suficiente para a re-edição pela Season of Mist, e chegar a partes do mundo onde a primeira edição, pela High Roller Records, não teve oportunidade de chegar. Inspirados, claramente, pelo contador de histórias King Diamond e os Mercyful Fate, a sonoridade dos In Solitude não traz novidade alguma. Mas no panorama actual, e mesmo em 2008, que novidades originais poderíamos esperar do Metal? Dentro das centenas de lançamentos mensais, ainda há alguns que nos deixam perplexos, muito raramente pela originalidade, mas antes por terem a mestria e o feeling de criar algo realmente bom e interessante, mesmo que já tenha sido tocado pelos


Mercyful Fate ou pelos Iron Maiden há 25 anos atrás. Ninguém ficou indiferente ao tema “Witches sabbath”, a puxar os cordelinhos tanto a Mercyful Fate, como a Iron Maiden. Uma mistura sagaz que faz com que fiquemos rendidos a estes suecos. Se nunca tiveram oportunidade de pegar neste álbum, bem podem fazê-lo agora, e receberão dois temas bónus nesta edição da Season of Mist: “Hidden dangers (In the night)”, música retirada da Demo «Hidden Dangers», de 2006; e a demo do tema “Faceless mistress”. Passados quatro anos a boa impressão mantém-se e a boa classificação também. Só ao nível dos clássicos. [9.5/10]Victor Hugo KAMELOT «Silverthorn» (SPV) Terá sido este o álbum mais aguardado dos Kamelot? Obviamente que sim. A justificação é simples: é o primeiro álbum após a saída de Roy Khan. Como admirador de longa data, já desde o tempo de «The Fourth Legacy» (1999) que lhes tenho seguido todo o percurso. Foi, portanto, com algum ceticismo e preocupação que vi a partida de Khan e porque não, a chegada do seu substituto. Tudo isto devido ao facto de Khan não ser um vocalista qualquer: o seu timbre único e muito característico, a emoção, ternura, expressão e melancolia que empresta à voz fazem dele (absolutamente) um dos melhores. Sendo assim, que rumo dariam aos Kamelot T. Youngblood e companhia? Dada a qualidade e carisma de Khan o processo não se adivinhava fácil e há imensos casos cuja mudança não é consensual: Blaze Bayley/Iron Maiden, Andi Deris/Heloween ou Anette Olzon/Nightwish. A escolha recaiu sobre Tommy Karevik (Ex Seventh Wonder) e... depois de ouvido o álbum percebe-se porquê. O timbre de Karevik é parecido com Khan, ou melhor, parece que o produziram para tal, visto que se ouvirem o seu trabalho nos Seventh Wonder não diriam que estamos perante o (novo) vocalista dos Kamelot. Portanto, pelo menos por agora os Kamelot não apostaram na mudança. Karevik faz um excelente trabalho, híper competente, atingindo o seu auge na bonita balada (excelentemente orquestrada) “Song For Jolee”. Por mais respeito que me possa merecer, continuarei sempre a preferir a melancolia de Roy Khan. Quanto ao resto, é um álbum sólido, coeso diria que, normal, ao bom estilo dos Kamelot. Não é tão negro como «Ghost Opera» ou «Poetry for the Poisoned» e, definitivamente, tão inesquecível quanto «Karma», «Épica» ou «The Black Halo». Por último, o que menos gosto é mesmo a produção demasiadamente sinfónica. Face ao que já foi feito, «Silverthorn», poderá passar desapercebido na discografia, mas convenhamos, a fasquia é muito alta! Li algures num blogue: «Silverthorn» - Será o inicio ou o fim de uma era? Eu diria que foi a continuação... e fizeram muito bem. [8/10] Eduardo Ramalhadeiro KOLDBRANN «Vertigo» (Season of Mist) Os Koldbrann andam a debitar Black-Metal há já cerca de 10 anos e «Vertigo» constitui o 3º álbum da banda. Do ponto de vista puramente relacionado com a estética musical, é possível encontrar ao longo do álbum trechos com influências que saem completamente fora do Black Metal e que depois voltam ao Black Metal mais clássico. É o caso por exemplo de “Drammen” ou “Inertia corridors”. Depois temos temas que caem integralmente na estética Black Metal clássica e que parece terem sido escrito nos primórdios da corrente Black. Pelo meio das onze faixas encontramos três interlúdios em teclados de menos de um minuto como que a criar espaços para evolução e a ligar os vários temas. Porém a impressão que fica é que houve, seja ela causada propositadamente ou puramente casual, uma oscilação no rumo que o álbum percorre. Qualquer que tenha sido a origem, poderia ter sido atingida esta indefinição com uma maior maturação das composições no sentido de se ter produzido uma maior fluidez no encadeamento dos temas. Como em outros álbuns que cada vez mais tendem a optar por indefinição na progressão dos temas, tende-se a ganhar uns pontos em originalidade. Vertigo talvez ganhe um pouco de originalidade mas à custa de ausência de consistência e de personalidade. Resulta daqui um álbum que parece mais uma coleção de temas soltos mas que beneficia de uma sólida produção, de alguns toques de originalidade e alguns momentos, algo dispersos, que colam ao ouvido. [7/10] Sérgio Teixeira


MANOWAR «The Lord of Steel» (Magic Circle Entertainment) Todos conhecem a música e atitude dos Manowar e como se mantêm fieis ao seu True Metal. Não há nada de mal nisso. Aliás, até tem sido o apanágio das grandes bandas dos anos 80 apostarem na fórmula que fizeram dessas bandas um sucesso duradouro. Contudo, no que respeita aos Manowar e aos seus trabalhos da primeira década deste século, há uma grande distância. Então qual é a diferença? A diferença está no facto de os Manowar evidenciarem uma enorme falta de inspiração. Não há qualquer problema em “fazerem mais do mesmo” e nós até agradecemos se e só se existir inspiração e garra naquilo que fazem, se cada novo álbum rivalizar com os do início. Infelizmente para nós, «The Lord of Steel» é um álbum sem qualquer inspiração, sem qualquer originalidade, nem ao nível da música, onde há riff e momentos que já ouvimos em álbuns anteriores, nem ao nível das letras, onde verifico que as palavras-chave são sempre as mesmas e há mesmo combinações de palavras que já ouvimos anteriormente - não acreditam, olhem para o título. Aliás, em jeito de brincadeira, costumo dizer que os Manowar têm uma folha com palavras-chave com a qual fazem combinações das letras. Então o que se salva de «The Lord of Steel»? Pouco ou quase nada. É um álbum desinteressante que o colocamos de lado imediatamente e vamos ouvir the real thing dos primeiros álbuns. Talvez faça justiça a uma ou outra música como «El Gringo». É com muita pena que vejo esta banda a afundar-se e perder a inspiração com o tempo, ao invés de ficar cada vez melhor como o vinho do Porto, como acontece com muitas das bandas que conhecemos dos anos 80. [3/10] Carlos Filipe MASTERSTROKE «Broken» (Dynamic Arts Records) «Broken» é o quarto álbum dos Americanos de origem finlandesa Masterstroke e, a primeira impressão que transmite é de não acrescentarem nada de novo ao panorama do Power Heavy Metal em que se enquadram. No essencial, «Broken» é um álbum que não desilude mas também não nós agarra, faltando-lhe alguma sobriedade musical para que consiga romper a membrana da mediania. Com um ritmo bem vincado e agressivo, os Masterstroke vão fazendo oscilar riff e solos com os teclados ao bom estilo de outras bandas, sempre “a abrir”. «Broken» é definitivamente daqueles álbuns que ao vivo soará bem melhor do que no cd/mp3, e apagará certamente aquela sensação homogénea que nos leva a ficar com a percepção de se estarem a repetir música após música. Valeu o esforço e a evidência que esta banda tem potencial para muito mais. [7/10] Carlos Filipe MONOLITHE «Monolithe III» (Debemur Morti) Sete anos separam o «Monolith II» do seu sucessor, «Monolithe III», editado pela prestigiada Debemur Morti. É já com um certo à vontade que confiamos nos lançamentos desta editora, mas será que estes sete anos de espera valeram a pena? Até houve dois interlúdios aceitáveis, “Interlude premier”, de 2007, e “Interlude second”, de 2012 – dois EP que mataram o bichinho dos seguidores deste franceses doomsters, que tentaram com estes pequenos lançamentos ultrapassar as metas do género musical a que se dedicam. Verdade seja dita, a grandiosidade desta banda iniciou logo em 2003, com «Monolithe I», deixando-nos a adivinhar nesse épico a evolução da banda com outros épicos. Para os mais distraídos, a temática dos trabalhos dos Monolithe é igualmente um verdadeiro épico: conta-nos a história da origem do Homem e o seu mistério. Para os menos atentos, deverão notar que há uma certa influência na obra «2001: Odisseia no Espaço», 1968, de Arthur C. Clarke, mais propriamente com o misterioso objecto presente em todas as odisseias: o Monólito, aquele grande paralelepípedo negro, que desde a pré-história esteve presente no Planeta Terra, e foi causa da evolução do Homem. Musicalmente podem esperar uma terceira parte verdadeiramente superior às partes anteriores. Mas outra coisa não seria de esperar dos Monolithe. O Doom atmosférico mantém-se, com algumas dissonâncias nalguns acordes, com momentos ora mais agressivos ora mais contemplativos. Mas, na sua essência, este trabalho dos Monolithe é para ser vivido, tal como os anteriores, não só com os ouvidos mas com a mente. E, como já é sabido,


exige do ouvinte uma entrega total para que ele possa viajar sem paragens durante 52 minutos, num único tema. Sete anos passaram, e valeu a pena. Contudo, não esperem algo do outro mundo. Na mesma corrida já correm há algum tempo os mestres Esoteric. Um deles terá de ficar com a prata. [8.5/10] Victor Hugo NIGHTWISH «Imaginaerum (The Score)» (Nuclear Blast) Preâmbulo: Sou um grande apreciador de música clássica. Início: Desengane-se quem pensa que «Imaginaerum (The Score)» é o novo álbum dos Nightwish ou que é um erro de edição da VERSUS Magazine. Não é. Quem não sabe do que se trata esta edição, eu digo: isto é a banda sonora para o filme “Imaginaerum”; isto é música clássica; isto é arte, fantasia... pura e simples. Esta história começou depois do álbum «Dark Passion Play» e claro, esta ideia só podia ter saído da mente genial de Tuomas Holopainen. Quem mais? Petri Alanko foi o escolhido para transcrever para a partitura as ideias visionárias e a inspiração de Holopainen. Os Nightwish são uma referência, senão, A referência no que a este estilo musical diz respeito. Como quase todas as bandas, passaram por mudanças – consensuais ou não – altos e baixos, sendo, talvez o menos bom da carreira o álbum «Dark Passion Play», precisamente, o primeiro após a saída de Tarja. Com o passar dos anos as influências clássicas de Holopainen têm vindo a aumentar de álbum para álbum, atingindo o seu expoente máximo, quanto a mim, no tema “Creek Mary’s blood”. Até este ano... Todo o argumento subjacente ao álbum, filme e agora à banda sonora é genial! O álbum já aqui foi revisto numa edição anterior pelo Carlos Filipe. O filme (infelizmente) ainda não consegui ver e esta edição bate aos pontos o álbum. Porquê? Mais que não seja por ser algo totalmente diferente do que até aqui os Nightwish fizeram. «Imaginaerum» é típico dos Nightwish que parecem ter obtido, por agora, algum consenso com a integração de Floor Jansen. Conclusão: Com de «The Score», Holopainen e os seus Nightwish estabeleceram um novo limite, bem alto por sinal. Todo o conceito é esmagador, fascinante, inovador, mágico, soberbo, encantador... o que quiserem que seja. (Só um à parte, não consigo deixar de pensar como seria «The Score» com Tarja ainda nos Nightwish...) [10/10] Eduardo Ramalhadeiro PARAGON «Force of Destruction» (Napalm Records) Os Paragon pertencem ao grupo não muito restrito de bandas a que eu chamo de “Power Speed Teutónico”. As características são sobejamente conhecidas por todos: Vocalizações fortes e por vezes um pouco “arranhadas”, guitarras bem à frente, alternando os temas entre um mid-tempo levemente acelerado e o Speed-Power, solos urgentes em duelo, quando há dois guitarristas, bateria em ritmo sempre muito forte com predomínio dos bombos e uso intenso de duplo pedal, baixo ora “saltitante”, ora compassado, com leve, mas audível distorção nos tempos mortos das guitarras. Os Paragon, neste seu décimo álbum de originais, têm tudo isso. A intro “Last day on earth” dá o mote inicialmente acústico mas em crescendo de distorção, preparando-nos para “Iron will”, um bom tema para cantar o refrão ao vivo, com solos viciantes. O mesmo mote para “Tornado” (apetece acompanhar o coro), “Gods of thunder”, “Blades of hell”, um tema com uma dinâmica muito própria. “Blood and iron” e “Dinasty” são mais lentas, mas sinistras, como se impõe. A primeira, com sabor Doom e épico, possui uma segunda voz (Piet Sielck, Kai Hansen, Hansi Kursch?) e é o tema mais longo do álbum. Para aceleração extra, “Bulletstorm” e “Rising from the black”, devem fazer de banda-sonora adequada para um furioso headbanging. “Demon´s lair” é o tema diferente, mais “baladesco”, mas uma balada à Paragon, com Andreas Babuschkin a cantar em algumas partes com algumas semelhanças a Chris Boltendhal dos Grave Digger. “Secrecy” termina o disco com coros de Piet Sielck (que é o produtor) e Kai Hansen. Os Paragon continuam, sem vacilar a trilhar os caminhos do Heavy Metal com tomates de aço. Depois de algum sabor agridoce com o anterior “Screenslaves”, regressam com força renovada. Merece uma boa audição. [8.5/10] Joey


RAVENSIRE «Iron Will» (A Forja Records) O Heavy Metal Lusitano tem uma nova banda de “True Epic Metal” e essa banda são os Ravensire, que lançaram recentemente o seu EP de estreia. Chama-se «Iron Will» e contém quatro descargas de Heavy Metal tradicional de temática fantástica e guerreira, polvilhados de ambiente Doom, mas bem pesado. As hostilidades são iniciadas com “Facing the wind”, iniciado numa toada de Doom moderado, mas ganhando velocidade com o solo; “Aamon (The stargate warrior)” é um tema que apetece acompanhar com um bom headbanging, devido ao seu ritmo de cavalgada. Possui um momento bem “Paradise Lost” dos velhos tempos. “Stay true, stand tall”, bem épico com um breve momento de calmaria pré-solo de guitarra. O refrão final encaixa muito bem ao vivo, um apelo à união e irmandade. Em “Ravensire” encontramos um riff vicioso e que fica no ouvido. O tema é um pouco mais acelerado, mas com um solo Doom bem encaixado. Por último, “Desire” é uma cover de Wild Shadow, uma banda anterior do vocalista Zé Gomes. Um pouco diferente dos restantes temas, mas finaliza muito bem esta primeira aventura pelas rodelas musicais. Esperemos que seja a primeira de muitas! A produção é eficaz no sentido de todos os instrumentos serem perfeitamente audíveis, e um pouco crua, mas que faz todo o sentido dentro do género. As guitarras de Nuno Mordred e Zé Rockhard bem afinadas debitam em bom ritmo e os solos encaixam perfeitamente na filosofia da banda. A secção rítmica a cargo de Rick Thor e F. é sóbria mas eficaz e a voz de Zé Gomes, rouca e de tom médio, entrega-se com paixão à tarefa. Se gostam de bom Heavy Metal tradicional, e se algumas das vossas bandas de eleição são Ironsword, Omen, Cirith Ungol, Brocas Helm ou Manilla Road, então este disco tem o vosso nome. [8.5/10] Joey RED LAMB «Red Lamb» (Hansel & Gretel) Quando li que por trás dos Red Lamb estava Dan Spitz, antigo guitarrista dos Anthrax, a minha curiosidade adensou-se. No entanto, lendo a biografia verificamos que há muito mais para além de Dan Spitz. Antes de mais, Spitz e esposa têm gémeos idênticos sofrendo de autismo e este CD destina-se (também) a angariar fundos para a maior fundação dos EUA – “Autism Speaks”. Depois, «Red Lamb» é co-produzido por Spitz e Dave Mustaine que divide também a escrita das letras. Música, engenharia de som e tudo o que diga respeito a “cordas” é da autoria de D. Spitz. Os restantes músicos são de excelente qualidade: Patrick Johansson (Yngwie Malmsteen, WASP) na bateria ou Chris Vrenna (Nine Inch Nails, Marilyn Manson) já vencedor de um Grammy, nos sintetizadores. Don Chaffin é um excelente vocalista, tendo-o já ouvido noutros registos, mas ‘cum raio, será impressão minha ou a voz de Dave Mustaine re-encarnou em D. Chaffin!? É que tendo ouvido por diversas vezes o álbum a impressão que fico é sempre a mesma: isto é o Mustaine a cantar e acho mais que óbvio a sua contribuição nas vozes. Este é o grande ponto negativo que encontro em «Red Lamb»: Chaffin a cantar com a voz de Mustaine. De resto, a música é uma mescla, pois claro, de Anthrax e os (novos) Megadeth, uma mistura de thrash, speed e riffs tecnicamente muito bem rasgados. Pelo trabalho desenvolvido D. Spitz está de parabéns. A nota reflete a falta de originalidade da voz... [7/10] Eduardo Ramalhadeiro REPULSIVE AGGRESSION «Conflagration» (Schwarzdorn Production) Virtualmente desconhecidos dos holofotes do metal, os Repulsive Aggression são uma banda de Thrash/Death-Metal provenientes da fria Noruega; e, claro, que melhor sítio para germinar mais uma grande banda de metal? Saether(guitarras), Holter (voz) e posteriormente Nødset (bateria) juntaram-se em Oslo e criaram 10 pistas com um dos sons mais densos que ouvi nestes últimos tempos. O álbum sai apenas em Janeiro de 2013 mas o gelo do polo norte já começou a derreter com a trepidação e temperaturas elevadas que são emanadas desta estreia refinada. Apesar da densidade do som que as guitarras produzem, todo o trabalho ficou a cargo de Saether. Pelo que se ouve julgo que não faltam guitarras de oito cordas ou talvez uma escala diminuída em um ou dois tons. Existem aqui e ali pontos de contacto com outras bandas mais consagradas mas é sem dúvida uma excelente catadupa de riffs superiormente en-


caixados e até por vezes originais que encontramos neste Conflagration. Uma das faixas que mais me captou o interesse foi a demolidora “Breaking Wheel” que reinventa o Thrash/Death atirando este CD para um nível de rotações em que nem o ABS em discos ventilados consegue travar. Estes três músicos já percorreram bandas mais ligadas ao Black-Metal e talvez seja essa a chave para a criação deste «Conflagration» que, situando-se entre o Death e o Thrash, acaba por ir buscar inspiração a outras andanças. Julgo que esta é uma obra que não se pode deixar de escutar. Há aqui mesmo muito peso e uma densidade nas guitarras que transformam esta estreia em algo especial. [8.5/10] Sérgio Teixeira SECRET SPHERE «Portrait of A Dying Heart» (Scarlet Records) Os Secret Sphere são um nome integrado numa longa linhagem de bandas italianas que aliam o seu Power Metal Melódico ao prog. No princípio dos anos 2000, o estilo teve os seus momentos de grandeza, popularidade e exposição (ou direi antes, sobre-exposição). Tempo passou e o estilo passou pela inevitável purga que separa as boas bandas das más, tendo o cansaço de um público cada vez mais ávido da “próxima novidade” feito o seu papel. A banda persistiu, contudo e lançou agora o seu sétimo registo oficial. As características são aquelas que todas conhecem. Como novidade, o vocalista Michele Luppi, com uma boa capacidade vocal melódica, mas com força, como nos habituou nos Vision Divine. As guitarras são colocadas bem à frente, integrando solos irrepreensíveis da melhor escola. Os teclados, costumeiramente com protagonismo, mas sem se intrometerem demasiado no peso geral. A secção rítmica, potente e dinâmica. A reter as faixas “X”, “Healing”, “Lie to me”, “Secrets fear” e especialmente, “The fall”. Álbum conceptual baseado na obra ‘She Complies With The Night’ de Constanza Colombo, este novo lançamento é bom, tem qualidade e fará as delícias dos indefectíveis. Boa melodia com peso em equilíbrio. O problema é que já ouvimos muitas coisas demasiado parecidas... [7/10] Joey SOLEIL MOON «On The Way To Everything» (Frontiers) Ao ouvir este álbum senti-me, imediatamente, impelido a escrever sobre ele. A Frontiers tem-nos habituado a excelentes álbuns de AOR - ou rock clássico se preferirem - e como em tudo na vida, há momentos em que nos fixamos de tal maneira numa coisa que perdemos algum discernimento na análise do que nos rodeia. Neste caso particular, estou fixado em dois álbuns da Frontiers e um deles é «On The Way To Everything». Mas calma, isto é AOR, é rock levezinho muito melódico que chega a ser lamechas. Portanto, fãs do metal mais extremo que não estejam abertos a este género musical, avancem para a próxima. Para os outros, isto é excelente! Apaixonei-me pela melodia, voz, som, produção, letras... tudo! As pedras basilares dos Soleil Moon são Larry King (Voz) e John Blasucci (teclas) acompanhados pelos melhores músicos de estúdio que podemos encontrar: Michael Thompson, Vinnie Colaiuta ou Dave Hiltebrand. Só para citar alguns. «On The Way To Everything» é como um puzzle onde todos os temas se encaixam de uma forma sublime. Variedade também é algo que, também, assiste este álbum: “Goodnight Irene” é das melhores baladas que ouvi no último tempo com uma prestação vocal de elevadíssimo nível, “Here I Am” puro rock, “On The Way To Everything”, tema muito jazzy. Para ouvir, por exemplo, numa tarde fria e chuvosa de inverno. Em resumo, impressionou-me muito, pela qualidade pelo bom gosto, pelo “ambiente” criado e pela excelência dos músicos na composição e interpretação. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro TIAMAT «The Scarred People» (Napalm Records) AOs Tiamat estão de volta com novo álbum. Penso que já ninguém esperará um regresso aos tempos de chumbo de «Sumerian Cry» ou mesmo do belo «Wildhoney». A banda voltou-se definitivamente para uma sonoridade muito mais ambiental, onde o uso de samples (sem abusar dos mesmos), o maior predomínio dos teclados e a voz poética de Johan Edlund está sempre num tom médio, apenas aqui e ali saíndo desse registo. E, claro está, a guitarra sempre pesada, mas sem demasiado protagonismo fora do ritmo ambiental. Salientam-se o tema-título, bastante “gótico”, mas com um balanço eficaz, um pouco à maneira de “Cold


Seed” do álbum «A Deeper Kind of Slumber»; “Winter dawn”, bastante catchy ; “384Ekteis” possui um riff bastante negro, mas bem conseguido, “Radiant star” é talvez o meu tema favorito do álbum, de uma beleza melancólica, solo de guitarra incluído. Assim como “The sun also rises”. A segunda metade do disco tem alguns temas um pouco mais agressivos como “Love terrorists” ou Thunder and lightning” (muito Sisters of Mercy), mas que não destoam do resto do álbum. O final é num tom levemente épico com “The red of the morning sun”. A produção é clara e eficaz, não se sobrepondo ao trabalho da banda. Este é mais um disco pleno de ambientes e texturas sombrias. Mas em simultâneo, com uma doçura quase “outonal” apenas temperada pelo peso das guitarras e pelo dinamismo da secção rítmica. E é naturalmente destinado a um público virado para o rock de matriz “gótica”, mas que aprecia uma dose suave de rispidez, eco longínquo de um passado de estética sónica mais agressiva. [8/10] Joey WALLACHIA «Shunya» (Debemur Morti Productions) «Shunya» é o terceiro longa-duração deste projecto a-solo-ou-quase do norueguês Lars Stavdal. Depois de um hiato prolongado entre «From Behind The Light» e «Ceremony of Ascension» de dez anos, parece que o músico quer imprimir um impulso mais frequente à sua criatividade através de uma maior frequência em dar a conhecer o seu trabalho. Black Metal sinfónico e atmosférico, com dimensão épica é o que encontramos neste trabalho. “Dual nothingless” é o tema de início, bem acelerado através de blastbeats insanos, enquadrados pela típica voz Black Metal, mas seguidos de melodia “bem melódica” em que os teclados criam um ambiente simultaneamente belo e sinistro. A voz entra no fim, em tom de coro, conferindo um colorido sinistro e épico. Um pouco como também em “Enlightened by deception”. Em “Gloria in excelsis ego”, um tema bruto, mas bem melódico, encontramos um espírito um tanto Children Of Bodom dos primórdios, com riffs bem viciantes e teclados épicos. “Ksatrya” é um tema um pouco mais intimista, onde se inserem os teclados como colorido principal, interagindo com a guitarra acústica e a voz melódica declamada. A segunda parte do disco mantém o nível de qualidade através da melodia Folk de “Hipotheyist” e “Nostalgia among the ruins of common sense”, a alternância entra a agressividade Black e a doçura melódica em “Harbinger of vacuumanity” e o final épico de “Emotional ground zero”. É um álbum bastante equilibrado, posso dizer mesmo um tanto sóbrio, mas com bastantes pontos de interesse para quem aprecia este nicho dentro do Black Metal. A requerer uma audição atenta. [8/10] Joey WINTERSUN «Time I» (Nuclear Blast) Sendo um side project do guitarrista dos Ensiferum Jari Mäenpää, não é de estranhar que se tenham passado quase uma década entre o álbum de estreia (2004) e «Time I». Antes de mais, para aqueles que acham que Wintersun segue o som dos Ensiferum, estão desde já redondamente enganados. «Time I» é um álbum de uma grandeza única de Melodic Death metal com uma componente sinfónica bombástica, e, faz a primeira parte de um conceito dividido em dois álbuns, este e «Time II» em 2013. Já começa a ser raro ouvir bandas e respectivos álbuns vindos assim do nada que sejam tão cativantes e bem conseguidos como este. Desde o intro “When time fades away” que sentimos de imediato que estamos perante algo excepcional, o qual é esplendorosamente confirmado na música monumental de mais de treze minutos que se segue, “Sons of winter and Stars”, com a nossa “degustação” auditiva a terminar somente com os últimos acordes de “Time”, que fecha o álbum, e só nos faz pedir por mais. Bem produzido, bem engendrado, bem composto, quer as partes orquestrais, quer as partes mais Death, «Time I» é de uma riqueza musical tal que são necessárias várias audições para absorvermos todos os seus pormenores. Nunca vi o melódico combinado com Death Metal, pautado por rasgos de sinfónico, com teclados sempre bem presentes a rivalizar com as afinadíssimas guitarras de Jari e Teemu Mäntysaari, e uma voz rasgada do próprio Jari só interrompida pelas vocalizações limpas do mesmo, resultar tão bem. [10/10] Carlos Filipe


No âmago da revolução De Santa Maria da Feira o panorama metaleiro português começa a receber as ondas de choque emanadas pelo 2º registo de originais dos Revolution Within. Julgo que demonstram neste 2º de originais - «Straight from Within» - terem atingido, do ponto de vista de sonoridade, uma consistência que os deixa num patamar de maturidade bem assinalável. Portanto, foi sem hesitar que formulei algumas perguntas à banda, respondidas pelo vocalista Rui ‘Raça’.

Se não me engano vocês estão no activo desde 2005. Têm já portanto 8 anos de histórias para contar. Como avaliam o percurso que tiveram desde as primeiras demos? R.R: E não é que já passaram mesmo 8 anos? Nem tinha dado conta… (risos). O nosso percurso ao longo do tempo tem sido um pouco como tudo na vida, ou seja, com altos e baixos. Felizmente, no nosso caso, e olhando para trás, verifico que tivemos mais momentos altos que baixos, e provavelmente devido a esse facto é que ainda continuamos no activo, a fazer músicas e a acreditar que podemos continuar a crescer e a divertir-nos. No dia em que isso não se verificar, será um dia muito triste para nós… De entre as histórias que têm qual a mais marcante ou insólita? Desde que a banda apareceu já aconteceram muitas coisas boas e marcantes que será complicado lembrar-me de tudo, contudo, acho que devo destacar alguns desses momentos: as amizades que fo-


mos construindo com outras bandas, o concurso de bandas que ganhámos e que nos deu oportunidade de gravar o primeiro álbum, a parceria com a Rastilho, já termos lançado dois álbuns, termos sido escolhidos banda revelação pelos leitores da Loud!, termos tocado com grandes bandas estrangeiras (Kreator, Trivium, Opeth, Hatesphere, Dew-Scented, etc.), termos participado nos maiores festivais portugueses, e mais recentemente a participação no concerto dos Trivium. Quanto a situações insólitas, assim de repente só me recordo de uma: estarmos a dar um concerto e as pessoas que queriam ir à casa de banho tinham de pedir licença a um dos guitarristas para conseguir passar… (risos) Ah, e nesse dia a polícia apareceu e não acabamos o concerto (risos)… Sempre foi o vosso objectivo «número um» tocar exclusivamente Thrash-Metal? Alguma vez pensaram expandir para outras correntes dentro do Metal? O nosso único objectivo, e que mantemos desde o

início, é fazermos música que gostemos, que nos divirta e, se possível, que divirta o ouvinte. É isso que temos feito até agora sem estarmos preocupados com o resto… A maior parte das vezes as pessoas é que estão preocupadas em catalogar a nossa sonoridade em determinado estilo, e sinceramente isso nunca nos preocupou… Eu quero acreditar que a nossa sonoridade não se cinge unicamente ao thrash metal, acho que conseguimos encontrar mais elementos típicos de outras sonoridades nas nossas músicas… O Adriano entrou para a formação neste ano de 2012. Poderias comentar um pouco sobre a sua entrada? Suponho que foi um pouco em cima da edição de «Straight from Within», é correcto? A saída do Faster foi súbita e imprevista pelo que não estávamos mesmo nada à espera, contudo, felizmente ocorreu numa altura em que nos deu tempo para procurar novo guitarrista e acabar de compor o nosso segundo álbum, até porque já tínhamos composto cerca de 75% do material. Logicamente


“O nosso único objectivo, e que mantemos desde o início, é fazermos música que gostemos, que nos divirta e, se possível, que divirta o ouvinte” começamos imediatamente a procurar guitarrista. Como já conhecíamos o Adriano e sabíamos a qualidade que ele tinha não foi difícil tomar uma decisão. E muito sinceramente foi das melhores decisões tomadas pela banda! A entrada do Adriano trouxe-nos energia positiva e motivação extra. Parece-me claro que o vosso último registo se encontra num patamar de personalidade que vos coloca, e não estou simplesmente a dar graxa, muito perto de bandas de topo dentro do género. Acham que poderão agora atacar palcos fora de Portugal? Obrigado pelo elogio! Deixasteme corado! (risos). Acho que temos condições para ir até lá fora e mostrar que também se faz boa música em Portugal. Aliás, já demos concertos no estrangeiro e a

reacção das pessoas foi muito positiva! E certamente iremos voltar a tocar no estrangeiro, até porque não queremos saturar/massacrar apenas o público nacional (risos). Normalmente está inerente um certo grau de complexidade em permanecer num estilo bem estruturado como o Thrash-Metal e simultaneamente apresentar um álbum com originalidade. Acham que conseguiram atingir este compromisso em «Straight From Within»? Pelo menos quero acreditar que demos um passo em frente em relação ao disco anterior, que era um dos nossos objectivos. Sabemos que no metal não é fácil inovar, mas também não é essa a nossa intenção. Enquanto sentirmos que somos capazes de fazer boas malhas aos nossos ouvidos, e que

resultem bem ao vivo, continuaremos a praticar este tipo de sonoridade. Acredito que há espaço para os Revolution Within demonstrarem do que são capazes sem passar por cima de ninguém, e sendo respeitados. Já tiveram concertos após o lançamento de «Straight From Within». Qual foi a reação do público e dos vossos fãs? Tem sido excelente! Melhor do que estávamos à espera! Nos dias de hoje, e quero creditar que principalmente devido à crise em que estamos mergulhados, o público tem-se afastado mais um pouco dos concertos e isso deixa-nos um pouco preocupados, mas nos nossos concertos não nos podemos queixar pois até temos tido bastante público, o que nos deixa satisfeitos e com vontade de con-


tinuar sem parar… De facto, neste momento o País apresenta-se numa situação complicada do ponto de vista de coesão social e crise económica. Houve de algum modo influências do momento crítico pelo qual passamos na criação deste «Straight From Within»? O nosso conteúdo lírico incide principalmente sobre libertação de raiva e de energia, no bom sentido claro… tudo isto de forma a

fazer com que as pessoas saibam que é possível ultrapassar os problemas, bastando para tal acreditar, ter atitude e força mental… Logicamente que a situação actual do país exerce alguma influência sobre o que foi composto no disco, o que até facilita a interpretação deste. Uma palavra adicional para os nossos leitores? Continuem a ouvir e a apoiar o metal nacional e todos os meios

que são disponibilizados constantemente (entre as quais a Versus Magazine) para apoiar o que é nosso. Acreditem que melhores dias virão. Não deixem de lutar pelos vossos ideais e, se possível, apareçam nos nossos concertos para passar um bom bocado e libertarem o monstro que há dentro de vós… (risos) Cheers!!! Entrevista: Sérgio Teixeira

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Cloudkicker é talvez um dos projetos mais sui generis que me passou pelas mãos. Durante as constantes pesquisas pela web, em busca de novidades, deparei-me com esta “banda”. Ben Sharp é o único mentor responsável por este projeto totalmente digital que já conta com nove álbuns. Toda a música e instrumentos são compostos e executados, única e exclusivamente, recorrendo ao computador. Não só o resultado mas todo o conceito por detrás de Cloudkicker é excelente. Não há editoras, não há promoção, simplesmente a partilha, divulgação e, claro, cada um paga pela música o que achar justo. Terei que ser honesto contigo: Não conhecia Cloudkicker e não me lembro como cheguei a http:// cloudkicker.bandcamp.com. No entanto, fiquei contente por ter acontecido e quando ouvi pela primeira vez, pensei: este projeto tem de constar na próxima edição da VERSUS Magazine, para ser ouvido e divulgado. Os nossos leitores merecem conhecer Cloudkicker. Então, a pergunta óbvia: o que é (ou quem é) Cloudkicker? Ben Sharp: Cloudkicker sou eu, suponho. Ou então, é o nome que dei à música que faço. Algo entre os dois Este projeto é fruto do trabalho de só uma pessoa. Como conseguiste compor nove álbuns completos? Tens saber musical

suficiente que te permita compor todos os instrumentos? Eu não chamaria a todos álbuns completos, uma vez que variam entre 45 e 15 minutos. Mas eles estão distribuídos por quatro anos e meio, o que dá dois por ano. Penso que recentemente é mais ou menos um em cada nove meses. Não me parece grande coisa já que podes fazer uma criança nesse espaço de tempo. Toco guitarra desde os 17 anos e isso repercute-se muito bem no baixo, pelo menos o suficiente para as minhas necessidades. Comecei com algum interesse na bateria e tenho algumas noções básicas, o que ajuda imenso. A juntar a isto tudo já venho fazendo gravações desde os 11 anos, a maior parte delas de má qualidade mas tenho conseguido fazer o que quero. É mais ou menos isto. Li que compões quando não estás no trabalho. (Uma pergunta pessoal: respondes se quiseres) É óbvio que não fazes disto o teu modo de vida mas... qual o teu trabalho? Quanto tempo demorou, por exemplo, a compor e gravar «Fade»? Eu gosto de manter o meu trabalho separado da música. Os dois “mundos” não colidem, exigem

diferentes capacidades e estados de espírito. Dito isto, o meu horário de trabalho é muito particular, faço muitas viagens e, então, quando estou fora, estou mesmo fora e não posso trabalhar nas música. Quando escrevi «Fade» escrevi um tema por mês desde Novembro de 2011 até Maio de 2012. Algumas delas fazia de uma vez mas outras foram feitas entre viagens. Junho e parte de Julho foram dedicados à mistura e masterização, uma vez que não sou profissional nestes particulares, foi preciso ir aprimorando as coisas aos poucos e devagar. Estou muito curioso com o método que usas na composição dos álbuns. Quero dizer, todos os álbuns são digitais e feitos no computador: escreves as músicas todas em pautas? Não, não faço nada fora do computador a não ser tocar os instrumentos. A maior parte dos temas começa com um riff simples que gravo e que componho a partir daí. Reparei que não tens nenhuma editora para promover Cloudkicker. Tens alguma coisa contra as editoras? Como é que promoves o teu projeto? Não tenho nada contra editoras,


tem resultado, então, vou continuar a fazê-lo. Posso concluir que é uma maneira de combate à pirataria? Se quiseres. Eu nem sei o que isso quer dizer. Eu ouvi todos os 9 álbuns e um em particular chamou a minha atenção – não pela música, eles são excelentes – mas pelos nomes. O álbum é chamado «]]][[[» e tem três temas: “#”, “%” e “$”. A capa é um homem. Tenho de perguntar: quem deu os nomes aos temas? Quem é o homem na foto? Todo o conceito por trás desse lançamento é que eu pretendia que não tivesse qualquer tema. Eu não sei quem é o homem na foto. No entanto, vários Australianos informaram-me que ele é um tipo de herói folk chamado Ned Kelly. eu só acho que não preciso de nenhuma. Também, não gosto de promover, nunca gostei do facto de me forçarem a ouvir o que quer que seja. Suponho que forçar é um termo forte, mas falando em termos muito básicos, as pessoas tentam impingir-te coisas. O melhor exemplo disso são os músicos de rap (sempre rap) abordando-te em cada esquina com CD’s. Não concordo nada com isso. Até hoje não fiz nada para me promover, a não ser que me peçam especificamente, como dar entrevistas, por exemplo. Fora isto, outras pessoas fizeram um trabalho muito mais significativo do que eu alguma vez poderei fazer. Isso eu já curto. A única maneira que tens de ganhar algum dinheiro é com as pessoas visitarem o teu site. Achas que é este o futuro da música, bandas sem editoras a promovelas e pessoas a pagarem o que acharem mais justo pela música? Não faço a mínima ideia. Nunca

tentei desempenhar o papel de vidente, só estou a fazer o que acho mais certo para mim e até agora

É muito difícil produzir e misturar o teu próprio trabalho? Ouves opiniões e ideias de terceiros? Eu sou bastante objetivo na abord-


“Não tenho nada contra editoras, eu só acho que não preciso de nenhuma” agem que faço à minha música. Na maior parte das vezes consigo perceber quando uma parte não presta e outra é boa. Então, faço isso muitas vezes. Ainda não te fiz perguntas acerca de concertos mas há alguma possibilidade de te ver o teu projeto ao vivo? O que podemos esperar no futuro? Eu acho que seria porreiro ver os teus temas interpretados por humanos (risos) Seria realmente engraçado mas não tenho quaisquer planos para isso agora. Nada. Obrigado pelo teu tempo. Cloudkicker é um excelente projeto e fico satisfeito por pode-lo mostrar aos nossos leitores. Então, uma última palavra para os nossos leitores – Podes usar para promover o álbum, o projeto, onde comprar, tudo o que quiseres! Idiotas não são boa companhia. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

“Cloudkicker sou eu, suponho. Ou então, é o nome que dei à música que faço. Algo entre os dois”


como o mp3, e é sempre preferível ter algo de palpável e que se pode mostrar ao mundo, coisa que não acontece com as músicas que são descarregadas do mundo cibernético.

Um Modo De Ouvir Numa das inúmeras viagens ao “baú do que já lá vai” encontrei uma das antigas companheiras áudio cassetes. Fiquei a olhar para aquilo como se fosse uma criança que pergunta “mãe, como é que isto se pega?” e ao mesmo tempo com curiosidade acerca do seu conteúdo. Fui procurar o velhinho leitor de cassetes portátil, ou walkman, na esperança de que este ainda funcionasse, e não é que o “gajo” ainda está aí para as curvas? Deleitei-me a ouvir uma cassete com músicas de alguns nomes do Hard Rock e Thrash Metal, enquanto suava dos olhos com o poder nostálgico e memórias que aquilo me transmitia, e apercebi-me de que, embora tenha sido um marco enorme na história de como o público geral ouve música, este formato está totalmente esquecido na escuridão do universo. Como aqueles objetos me acompanharam tanto durante as longas viagens de estudo e como me deram a conhecer sonoridades que desconhecia totalmente (porque crescer numa vila no interior do Alentejo deixa-nos um pouco sem grandes abrangências a nível musical) e agora estão a apanhar mofo numa caixa debaixo da cama. Simples, surgiu o “compact disc”, CD para os amigos. Era uma qualidade de som superior, sem tanta estática de fundo, mas que nem por isso tinha mais capacidade de armazenamento. Como em todos os campos, houve uma evolução e isso implicou, mas cedo ou mais tarde, a substituição dos velhos companheiros por novos amigos, maiores e melhores. Verdade seja dita que não dava tanto jeito andar com o leitor de cd’s, o discman segundo a lógica, no bolso, para além de que eram mais valiosos que os seus antecessores, se a memória não me falha rondavam ser três vezes mais dispendiosos. Este formato debateu-se com uma força enorme, e é ainda hoje bastante utilizado, mesmo tendo sido abalado pelos formatos digitais,

E são estes dois formatos os que, nos dias de hoje, nos continuam a dar música numa base regular, o cd, algo mais físico, ao lado do qual podemos tirar fotografias para mostrar o nosso amor pelo “animal”, e o digital, algo mais prático, muito mais transportável através dos seus leitores com todo o tipo de formato e finalidade, afinal de contas já quase todo o telemóvel tem esta funcionalidade. Ao fim ao cabo é tudo uma questão de preferência e de ocasião, mas nada como ouvir naquilo que nos acompanhou durante os primeiros anos de degustação musical. Termino a dedicar este pequeno artigo a todos aqueles que não trocam o amor pela novidade, um bem haja a quem tem os braços abertos a todas as maneiras de apreciar aquilo que nos ajuda a suportar o dia a dia. Daniel Guerreiro



“Open Publication” Qualquer lançamento dos The Gathering estimula a curiosidade, não só pelas várias voltas e rupturas que a banda sofreu e que influenciou diretamente a sua música, mas também porque tem sido hábito ouvir qualidade e autenticidade em cada álbum que lançam. «Disclosure» não só não foge a esse hábito como supera largamente o seu antecessor, «The West Pole», apresentando um ambiente muito próprio,


quase palpável, numa mistura de texturas eletrónicas com sons orgânicos. A VERSUS Magazine teve o prazer de conversar com o Hans Rutten (baterista) e com o Frank Boeijin (teclados e samples) e descobriu o que esconde a doce melancolia de «Disclosure». A minha primeira pergunta é acerca de «Disclosure». Penso que este lançamento reúne o melhor que vocês fizeram até agora. O que nos podem dizer sobre «Disclosure»? O que significa para vocês? Hans: «Disclosure» foi escrito di-

retamente do coração, sem quaisquer motivos comerciais e convenientes. Com este álbum quisemos escrever canções tão genuinamente quanto possível, trabalhando nelas o tempo que quiséssemos e escolhendo direções que permaneceram mais próximas de nós

próprios. Também as letras da Silje são muito mais pessoais do que as do álbum anterior. Falam acerca de todas as dificuldades e desapontamentos que ela experienciou em diferentes tipos de relações. Portanto, o título «Disclosure», que significa algo como “Publi-



“Nós abrimo-nos a nós próprios e ficamos perto dos nossos sentimentos” cação Aberta”, foi o melhor título. Nós abrimo-nos a nós próprios e ficamos perto dos nossos sentimentos. Como está decorrer a promoção do álbum? Feedback positive, suponho? Estão surpreendidos? Frank: Sim, claro que temos expetativas quando lançamos um álbum no qual colocámos tanta energia e no qual nos dedicámos com muito trabalho. É, definitivamente, um bom sentimento que recebemos na maior parte dos locais. Nós estamos a criar e a lançar álbuns há mais de 23 anos, e nunca nos habituámos à excitação acerca do que as pessoas poderão achar de cada lançamento. Olhando para o título do álbum, «Disclosure», é ele algum tipo de revelação para vocês, banda, e para os fãs? Hans: Num certo sentido é. Nós tivemos uma ideia clara sobre o que fazer durante o processo de composição. E, claro, estivemos um bocado desorientados com a saída da Anneke. Desta vez Silje esteve mais envolvida, não só na composição das canções, mas também na gravação. Fez um trabalho excelente, e estou verdadeiramente orgulhoso pelo trabalho dela. Não foi uma tarefa fácil, mas ela conseguiu; e podem ouvir e perceber nas músicas que ela sente-se 100% confortável nos The Gathering. Nós sentimo-nos bastante livres ao compor o «Disclosure», sem pressão comercial, o que permitiu trabalharmos em todos os aspetos do álbum, e muito detalhadamente. Li que «Disclosure» é a “paisagem musical” mais pessoal que a banda alguma vez fez. Como foi o processo de composição?

Como é que trabalham na banda? Hans: Eu acho que tem que ver com a maturidade. Sentimos que não queríamos enveredar através de arranjos e letras encriptadas, ou ocultas e misteriosas. Fomos mais diretos ao assunto. Os últimos três anos na banda foram muito duros, com um desenvolvimento muito desagradável, e também com algumas dificuldades nas nossas vidas privadas. Precisávamos de espaço e tempos para nos concentrarmos. Não conseguíamos esconder esse ambiente, e por outro lado também não o queríamos esconder. Sentimos que tínhamos de transformar, ou mudar, toda a energia negativa; nós lutámos e enfrentámos para mudar os últimos três anos numa coisa positiva. «Disclosure» é, sem sombra de dúvida, um álbum positivo. O nosso vocalista da formação inicial escreveu na “King For a Day” (uma música que está no nosso primeiro álbum, «Always...»): “Everyone has his own dragons to slay – Look in her eyes, never turn away”. Essa frase diz tudo. Respondendo à segunda parte da tua pergunta: queríamos compor canções mais épicas, e também experimentar um pouco mais sons electrónicos e loops. Uma espécie de casamento entre sons electrónicos e sons orgânicos (orgânicos como trompetes, violinos/viola e violoncelos reais). É difícil dizer como trabalhamos na composição das canções. Depende. A maior parte das vezes é o Frank ou o René que aparece com uma ideia, e nós trabalhamola juntos na sala de composições para fazermos uma estrutura. Mas às vezes escrevemos canções sozinhos no nosso próprio estúdio, digitalmente. Por isso, depende. Vocês convidaram alguns músicos para tocar alguns instrumen-

tos, mas o trompete parece ser o grande protagonista. Como é que decidiram introduzir aquele instrumento nas vossas músicas? Frank: As partes de trompete são tocadas pelo nosso amigo Noel Hofman. Atualmente é um guitarrista de uma banda chamada Sennen, que pratica um som Post Rock, e são da Holanda. Nessa banda ele também toca trompete, e por isso pedimos-lhe para tocar alguma coisa. Ele praticamente improvisou, e no final ficámos muito contentes como as coisas fluíram e com o resultado final. Ele tem um timing muito especial, que eu adoro, e o som melancólico do trompete encaixa nas músicas de um modo muito belo. Felizmente vocês não passaram nenhum drama por causa da saída da Anneke, e acerca da performance da Silje Wergeland. Neste álbum ela está ainda melhor do que no «The West Pole». Isso poderá ser uma espécie de “prova” de que os The Gathering são muito mais que uma voz feminina? Hans: Sim, The Gathering é mais do que um nome. Absolutamente. Muitas bandas são, felizmente. The Gathering é maior do que um ou dois nomes, embora eu acho que o René e o Frank formam um núcleo. O modo deles de compor, de escrever canções, de criar sons e riffs torna os The Gathering numa banda única. Suponho que terão imensos espetaculos futuramente. Há alguma hipótese de aparecerem em Portugal? Hans: Nós esperamos que sim! Faremos o nosso melhor!! Entrevista: Victor Hugo




Palavras para quê?!!! Muita música, poucas palavras. A avaliar pelas respostas obtidas de Laura Pleasants, é este o lema dos Kylesa. A banda norte americana acaba de lançar uma coletânea incluindo vários originais e algumas covers e já tem um novo álbum na forja. Foram estes os temas abordados numa curta conversa com a vocalista da banda.


«From the Vaults Vol. I» é um álbum excêntrico. Se tivesses que descrever o álbum em três palavras, quais usarias? Laura: Pesado, alucinado, real. Por que razão há covers neste lançamento e que critérios tiveram em conta para as escolher? A compilação chama-se «From The Vaults» e foi daí que vieram essas covers também. As duas bandas em questão influenciaram-nos muito, embora de modos diferentes. Costumávamos tocar a faixa de Pink Floyd nos nossos concertos, por isso pareceu-nos natural gravar essa cover. A capa do vosso álbum é requin-

tada. Quem a fez e por que escolheu uma ilustração tão “ligeira” para canções que se referem aos lados sombrios da realidade. Não me parece assim tão “ligeira”. Pelo menos, nós não a vemos dessa maneira. É bela sim… mas penso que podemos encontrar beleza em tudo. É um trabalho de Shaun Beaudry. Já andam à procura de novo material nas vossas caves, para lançar o Vol. II? Ainda não. Ainda vamos demorar um tempo a tratar desse assunto. De momento, estamos a preparar um novo álbum, que sairá em 2013. Os dois álbuns [da coletânea] serão semelhantes? Não sei dizer…

Por que não escolheram uma editora americana? Porque assinámos pela Season of Mist e eles estavam interessados em lançar este álbum. Sentem-se mesmo uma banda da SoM? Em que bases assenta a vossa aliança com essa editora? Conhecemo-nos há alguns anos e pareceu-nos interessante trabalhar juntos. De que forma a voz de Philip complementa a tua? Funcionamos mais ou menos como o ying e o yang. Além disso, eu gosto de cantar com ele. Que lugar reclamam os Kylesa para si na cena metal americana? Andamos a ziguezaguear entre diversos estilos musicais.


Kylesa é uma banda de “meiaidade”. O que vos mantém no ativo? O entusiasmo. A SoM refere-se a digressões intensas na publicidade que faz a este vosso álbum. Por onde têm andado e onde vão estar nos próximos tempos a apresentar os tesouros que guardavam ciosamente nas vossas caves? Vamos para às regiões onde as “bandas de meia-idade” costumam ir, à procura do sol intenso E, como já disse, estaremos a trabalhar no nosso novo álbum. É nele que nos temos centrado essencialmente nos últimos meses. Entrevista: CSA


Visões e arte! Guillaume Warren (aka T Persecutor], conhecido como o frontman de Hell Militia, é também um artista gráfico visionário, capaz de produzir imagens tão negras e tenebrosas, como a que ilustra a capa do álbum «Last Station on the Road to Death» (2010), ou etéreas, como a capa de «Jacob’s Ladder», o último lançamento da banda. Estes contrastes fizeram dele um alvo de eleição para mais uma entrevista a integrar na secção da VERSUS Magazine consagrada às artes gráficas associadas à música extrema. Por trás do músico de black metal, descobrimos um homem culto e um pensador, que faz da arte uma forma de corporizar os seus pensamentos e de assim os trabalhar continuamente.


É a segunda vez que te entrevisto: da outra vez, como front man dos Hell Militia, agora como artista gráfico. O que me levou a querer entrevistar-te foi o facto de ter gostado tanto da capa do último álbum da banda: «Jacob’s Ladder». Por que é tão diferente das dos outros? Por exemplo, por que razão tem cores (quando as outras são todas a preto e branco)? T Persecutor: Quando faço trabalho gráfico para as minhas bandas, detesto repetirme. Ando sempre à procura de um novo aspeto visual. Geralmente, tenho uma visão e, de seguida, trabalho todas as suas facetas, de modo a ser capaz de a exprimir através de palavras, da música e da arte gráfica. É um trabalho muito focado. O facto de eu ser impaciente e intolerante, no que toca à música e à arte gráfica, leva-me a fazer tudo sozinho, para não ter ninguém com quem entrar em conflito. Fiz muitas tentativas gráficas para esse álbum e tive de escolher o que seria mais eficaz, do ponto de vista visual, tendo em conta a forma como o concebia. Para o LP, usei o que tinha feito para “Jericho”, mas não por motivos comerciais (apesar de haver sempre um código e uma barra de ???????). Sempre fiz capas diferentes para os CDs e os LPs. Neste caso, a capa do CD anuncia o início do álbum e a capa do LP, o seu fim.

álbum, tinha de ser algo simples, onírico, algo sobre a elevação e a queda. Para obter esse efeito, precisava de recorrer a cores (embora esbatidas). Não queria que o título se sobrepusesse à imagem da capa e pretendia transmitir a ideia do “terceiro olho”, subjacente ao álbum. Recorri a uma combinação de imagens misturadas e pintura, para produzir esse efeito especial. Foste tu que fizeste as capas para todos os outros lançamentos de Hell Militia? Sim, desde o início. Mas agora estou a habituarme a trabalhar com outras pessoas, que vou contactando. Estou a pensar, por exemplo, em Max Taccardi. Discutimos as nossas ideias, eu façoo ouvir uma das canções que estou a escrever e deixo-lhe a liberdade de me dar a sua própria interpretação da mesma. No caso de «Jacob’s Ladder», o trabalho que ele fez vai dar origem a um poster, em breve. Não consegui integrá-lo na minha própria interpretação gráfica. Mas parece-me que ele compreendeu muito bem a faixa-título e conseguiu produzir uma imagem muito próxima da sua essência. É isso que me agrada em todas as expressões artísticas: permitirem combinar o sentimento e o significado. Começa-se com ideias e sentimentos e, no fim, tens uma imagem, uma canção, um texto.

“[…]O facto de eu ser impaciente e intolerante, no que toca à música e à arte gráfica, leva-me a fazer tudo sozinho, para não ter ninguém com quem entrar em conflito.”

Olhar para a capa deste álbum dá-me a sensação de estar a flutuar. Como consegues criar tal impressão? O artwork de «Jacob’s Ladder» foi o mais rápido de sempre, para mim. Acho que fiz três versões da capa, antes de me decidir por esta. Quando estava a escrever a faixa correspondente ao título do álbum, senti que a teofania de Jacob tinha de estar em sintonia com o meu trabalho gráfico para o

Trabalhas para outras bandas, além de Hell Militia? Se não é esse o caso, considerarias a hipótese de o fazer? Raramente o faço, por falta de tempo. No passado, fiz muito trabalho gráfico para Arkhon Infaustus: por exemplo, o digibook A5. Também fiz artwork para os primei-


ros álbuns de Diapsiquir. E algumas fotos para Mutilation. Não consigo fazer a mesma coisa duas vezes e tenho imensas visões, quando estou a compor a minha música. Fiz quase 20 ilustrações para este álbum e só pude usar algumas delas. Foi muito difícil escolher: precisei da opinião dos outros, de saber o que pensavam de cada uma delas, que sentimentos lhes inspiravam. Só depois fui capaz de escolher as que iam ficar e de as integrar num conjunto com sentido. Quando estou a trabalhar, ouço sempre a música à qual vou associar o artwork que estou a produzir em cada momento. Isso significa que acabo por ouvir muitas vezes as faixas do álbum em questão. Que tipo de técnicas/instrumentos usas? Fotografia, elementos digitais e técnicas manuais, como pintura ou texturas. Quem influenciou a tua arte? Gosto de muitos artistas e todos muito diferentes. Vivo numa constante pesquisa e estudo da arte. Acabo de regressar de Madrid e passei horas sem fim no Centro de Arte Reina Sofia. Mas posso referir alguns nomes: Ignacio Zuloaga, Anselm Kiefer, e, como ainda estou a explorar a arte espanhola, também Alfonso Ponce de Leon. Mas o meu interesse pela arte não conhece limites: vai de Duchamp a Picasso, Soutine ou Niki de St Phalle, Armand Tinguely, Caravaggio… É-me completamente impossível fazer algo como referir apenas dez artistas que falam à minha alma. Também sou fã de street art e de video art. Trabalho muito em vídeo. Há pouco tempo, um amigo fez-me uma figura de voodoo em plástico, que me impressionou imenso, do ponto de vista artístico. E há outros amigos que me estão a fazer algo enorme em metal enferrujado… Meto-me em todo o tipo de arte. Alguma vez estudaste arte? Ou era um hobby, que acabou por se revelar muito útil para a banda e absorvente para ti? A minha mãe era professora de Artes e cultivou em mim um “apetite devorador” por todos os tipos de arte. Interesso-me sobretudo pelo simbolismo. Frequento regularmente lições de arte e conferências sobre esse tema, quando estou em França. Que podemos encontrar no teu portefólio, além de capas de álbuns? Fotos, ilustrações e vídeos. Conto dar a conhecer

em breve algum do trabalho que tenho feito. Já alguma vez fizeste uma exposição? Como vês esse tipo de exibição? Não, porque os meus trabalhos são expostos aquando do lançamento dos produtos artísticos a que estão associados. Por exemplo, o digibook A5 de Arkhon Infaustus era, sem dúvida, o melhor suporte para dar a conhecer esse artwork. Aconteceu o mesmo com o EP vermelho [«Annunciation», 2007]. Para mim, um álbum é um todo. Estamos a preparar uma box para Hell Militia, para a qual produzirei um artwork completamente novo, do qual farão parte desenhos meus que nunca usámos, e desenhos de outros artistas que, embora diferentes de mim, têm um estilo que se pode aproximar do meu. É muito interessante conhecer o que outras pessoas conseguem criar para canções para as quais tu próprio fizeste artwork, que, na tua opinião, traduz de forma precisa as visões que elas te inspiraram. Tens algum sonho especial como artista? Sim. Gostaria de, um dia, ser capaz de exprimir em papel e música a minha conceção do que são verdadeiramente os limites. Admiro Anselm Kieffer pela sua arte, mas também porque é um grande pensador. Neste momento, estou a trabalhar em moldes opostos aos que usava anteriormente: estou a partir do grafismo digital para o “collage” e a pintura. Entrevista: CSA


Máscaras do Rock O convite pareceu promissor, e lá decidi aceitálo. Falo-vos da audácia dos músicos deste grupo de Rock bem esgalhado, Calhau Azul. Parecem querer brincar, mas por vezes a brincadeira fica séria. Foi com esta sensação que fiquei após ter ido ao concerto de estreia, apreciar a música deles, regressar a casa e preparar uma entrevista para o Garage Power. A VERSUS Magazine conversou com esta espécie de mafiosos, e percebeu que poderá haver algo mais que uma máscara. A primeira questão é muito simples. Quem são vocês e de onde vieram? Rui: Ui. A versão “a la” calhau? Diogo: O Dom Vaz acabou de chegar do Brazil,

com várias meias dúzias de poesia e outra tanta por escrever. O Dom Álvares tornou isso possível. O Dom Agostinho foi a Barca d’Alva buscar um gato que mia e não ladra para lhe fazer companhia e aca-


“Tanto o visual como os próprios pseudónimos permitem-nos fugir e procurar por esse mesmo lado desconhecido sem a cumplicidade da máscara que usamos no dia-a-dia” bou de chegar. O Dom Fernando não está aqui neste momento, mas também não conseguiríamos dizer se estaria como Dom Fernando se estivesse. O Dom Marquês foi ali acudir a um terramoto. Somos todos meio loucos, somos de Aveiro e queremos o que todas as bandas de rock ‘n’ roll querem. Deixo isso à vossa consideração, seus malandros. Porquê Calhau Azul? Eu refleti sobre esse nome e cheguei a uma conclusão (Calhau = Rock / Azul = Blue), mas quero saber a verdade. Diogo: A verdade, não filosófica, será por ventura quase tal e qual essa mesma (derivando o Azul de Blues, estilo musical). A ter acontecido, o que aconteceu foi meramente trivial. Por alturas da concepção, e como qualquer pai e mãe, eu e o Rui achámos que o filho primogênito precisava de ter um nome que amedrontasse os percursores do bullying na hora do recreio. Claramente que falhámos no objetivo, mas como em tudo nesta banda, também o nome surgiu fruto da espontaneidade. Foi o primeiro nome que o Rui teve audácia de atirar para o ar, e foi exatamente aquele que ficou. É direto, simples e parece que as pessoas nunca vão muito com a cara dele à primeira vista. O Dom Fernando diz que se entranha, mas depois se estranha. Rui: A mim ainda me entranha. Porque é que decidiram erguer uma banda de Rock rasgado, em vez de mais uma banda de Metal. Achas que em Aveiro falta mais esse movimento e feeling Rock? Diogo: Sinceramente, calhou. Rui: E ainda dizem que o nome não nos assenta? Diogo: A música ergueu-se a si e ao projeto em paralelo. O que aconteceu foi que na altura andava a ouvir e escrever predominantemente heavy metal, blues e rock ‘n’ roll clássicos e se me saiu uma balada que não tinha nada a ver com os projetos a solo que tinha na altura. Mandei a música ao Rui, que já andava na gíria, e perguntei-lhe se queria fazer uma letra e voz para aquilo entre copos, porque gostava bastante da voz do moço e já tinha tido umas jam’s de bar com ele. A música acabou por se tornar na Arma Verbal. A única decisão que acabámos por ter foi a escolha da língua mãe, e foi aí que o projeto completou o seu propósito a nível Aveirense e mesmo nacional. Existe a ideia de que a nossa Língua não serve muito bem para a música, porque a

maior parte do que te dão para consumir fala Inglês. Temos alguma cultura musical obscura interessante mas pouca gente se interessa (incluindo nós). Se vem de fora e é inglês será sempre muito melhor e cool! E se a tua banda não canta em inglês, não te vão querer ouvir (a menos que venhas de França e te chames Tony). E se cantares em Português vais ficar confinado a um País que mal consome música. É um problema nosso e não da Língua, que de facto não deixa de ser única a seu jeito. Foi um desafio para nós próprios, que também sempre tivemos projetos cantados em Inglês, e é aquilo que torna o Calhau verdadeiramente especial. Temos outras bandas de rock que honraram e estão a honrar este desafio com excelência, como os Ornatos Violeta ou os Linda Martini, mas sentimos que o nosso produto, tal como o deles, tem algo de muito particular. E isto tem diretamente que ver com a lindíssima Língua Portuguesa e com o momento de criação e a personalidade obtida pelo som durante e após esse processo, moldada inconscientemente pelos 5 elementos da banda, as suas vivências e as suas influências artísticas. Vocês têm um visual diferente do normal para uma banda de Rock. Qual a razão dessa opção? Tem que ver com os vossos pseudónimos? Rui: Há uma sinergia entre os elementos da banda que nos liga e completa. É uma busca desenfreada pelo demônio que se apodera de nós quando nos deixamos levar pelo processo criativo (ou procexo criativo). Tanto o visual como os próprios pseudónimos permitem-nos fugir e procurar por esse mesmo lado desconhecido sem a cumplicidade da máscara que usamos no dia-a-dia. Ilustramos esta ideia através do tema Gémeo Fel, onde representamos uma batalha moral pelo controlo daquele corpo. Ou então, há quem diga que somos parvos. Diogo: Lembro-me, pessoalmente, da sensação que tive quando vi Ulver ao vivo, e no início do concerto a tela avisava: “We Come As Thieves”. Tal como me senti roubado no meu tédio da altura, também com os Calhau Azul podemos tentar replicar essa sensação nas pessoas com uma venda sem irmos presos. A música não é o único lado em que tu podes ser criativo, e pouca gente explora esse outro lado em Portugal. No fundo é isto tudo junto, e ainda mais alguma coisa.


Sei que o Andrés tem uma outra banda, os Beautiful Venom. Todos os outros têm antecedentes musicais? Tocaram, ou tocam, noutras bandas? Andrés: Sim, todos temos antecedentes, assim como procedentes. Diogo: O Dom Fernando (Andrés) é produtor de profissão e faz parte dos Beautiful Venom, assim como o Dom Álvares (Gonçalo) que também integra as fileiras dos Monolyth. Já o Dom Vaz (Rui Tiago) é vocalista dos Bone Drill (antigos Doh!Down), sendo o Dom Marquês (Patrick) baixista dessa mesma banda. O Dom Agostinho (Diogo) foi membro de uma banda de metal na sua puberdade, tendo depois começado vários projetos a solo que ainda hoje mantém. Rui: E todos fazemos parte da Orquestra de Copos Filarmónica de Sanchequias, mas ainda não fomos lá. Com praticamente 1 mês de banda, já se preparam para lançar um EP. Como olhas para a tua geração de músicos? Achas que hoje é mais fácil gravar um disco do que há 10 ou 15 anos atrás? Diogo: 1 mês de banda a 5. O projeto havia começado 1 ano atrás a 2 (Diogo e Rui). EP não, mas sim um álbum, que se encontra praticamente escrito. Não vivemos muito, mas julgamos que Por-

tugal tem cada vez mais e melhores músicos, e não só, uma melhor, maior e mais eclética cultura musical que se encontra neste momento a desenvolver em larga escala o espectro, qualidade e oferta do som Português. O próprio Fado vai evoluindo com os recentes artistas, continuando o mesmo na sua essência tipicamente Lusitana. Se gravar um disco é mais fácil? Sim, tanto é possível que os estúdios sejam mais e mais acessíveis, como se tiveres o knowhow, e algum material, já podes fazer uma coisa bem razoável em casa sem grandes custos e chatices, e nisto a evolução da tecnologia, e especialmente a informática, vieram dar uma grande ajuda. Achas que essa facilidade, ou maior acesso a tecnologias de gravação, poderá mesmizar a cena musical nos mais diversos estilos, e entupir, por assim dizer, o fluxo musical devido a tanta oferta de artistas e bandas? Diogo: De alguma forma, isso pode já estar a acontecer. O problema não será tanto o fluxo criativo, que é impossível, e ainda bem, de conter num mundo livre, mas sim a falta de procura e interesse do consumidor em si. Hoje em dia uma banda tem de assumir que a sua principal atividade não vai ser percorrer um caminho para vender um disco, até porque nem faz sentido, que um bem tão essen-


“A mim, a tecnologia abriu-me as portas da produtividade no momento que mais me interessa ser completamente livre e independente – esse momento é claramente o da criação” cial como a música tenha de ser paga em primeira instância. Tudo bem, o sistema da moeda é que no fundo está errado, porque o artista também trabalha e precisa de viver, mas decerto muitos gostariam mais de poder oferecer a sua arte e chegar ao maior numero de pessoas, do que de propriamente vendela. Depois tens ainda o problema das pessoas reconhecerem o valor do produto Português e mesmo assim continuarem a ignorá-lo. Nesta envolvência, a maior parte do fluxo musical vai atingir um número muito reduzido de pessoas e ser esquecido tão rápido como foi lembrado. É o nosso paradigma atual sendo ao mesmo tempo o desafio. Quanto à facilidade e maior acesso de que falas, carregam ambas consigo o lado positivo e o melhor quociente possível do emprego da tecnologia que hoje nos rodeia. Se há uma década, meia dúzia de putos tesos, mas com talento, se viam negros para arranjar dinheiro para gravar uma maquete (e não ruído), hoje, com algum interesse, pesquisa e dedicação conseguem fazer isso em casa com pouco ou nenhum dinheiro e mostrar a música aos amigos com um nível razoável de qualidade. A tecnologia descentralizou práticas elitistas e abriu caminho para as pessoas e os miúdos fazerem aquilo que interessa - criar, sem dó nem piedade, só ou em conjunto, e desenvolverem-se enquanto músicos com maior facilidade e melhores ferramentas. Muita gente pode dizer que nada substitui um estúdio como deve ser para uma banda com propósitos sérios, assim como outros podem acreditar fielmente que hoje não precisam dele. A mim, a tecnologia abriu-me as portas da produtividade no momento que mais me interessa ser completamente livre e independente – esse momento é claramente o da criação. Como os Calhau Azul estão praticamente a começar, que horizontes têm para a banda? O que esperam fazer mais com ela? Diogo: Para além do referido primeiro álbum que se encontra em preparação, queremos tocar, tocar e tocar, até que alguma crise ou troika nos separe, ou nos convidem para irmos fazer o café concerto de encerramento da Expo 98. Ao mesmo tempo que não queremos levar o ego a sério, temos uma ambição desmedida por sentirmos o potencial da nossa música e nos divertirmos com toda a teatrali-

dade do projeto. A verdade é que nos estamos humildemente a borrifar para o futuro porque vamos todos imigrar cá dentro à procura do quentinho. As nossas ricas mães responderiam à pergunta com um simples “Tenham juízo com a coisa do sexo e da droga e seja o que Deus quiser”. Estive presente no vosso concerto de estreia, no passado dia 23 de Novembro, no BE, em Aveiro, e posso afirmar que esgalhei bem a gadelha. Parabéns. O que significou aquele concerto para vocês? Como o viveram? Rui: Foi espetacular. Diogo: Desde logo o nosso obrigado por teres aparecido. Tu e os outros 50 mil tornaram a nossa noite memorável. Acabou por ser o desflorar de um projeto em que estamos todos empenhados, e cujo habitat natural é mesmo o palco. Nem eu nem o Rui imaginávamos esse dia, mas acabou por chegar e tornou-se possível graças aos três músicos incríveis que aceitaram vir materializar o projeto conosco, o Andrés, o Gonçalo e o Patrick. Temos um grande grupo, que deu grandes frutos num mês e pouco, e vamos continuar o nosso percurso com calma e o maior dos sentidos de humor. O nosso objetivo mais próximo é ver seios nos concertos. Depois disso logo se verá. Para rematar, um grande obrigado à revista Versus pela oportunidade. Continuem o óptimo trabalho.

Entrevista: Victor Hugo


Pioneiros


Prefácio

Já mereciam! Desde algumas edições que temos vindo a prestar homenagem a músicos já desaparecidos – Jon Lord, Cliff Burton, Randy Rhoades, etc. - nesta secção da VERSUS Magazine. No entanto, chegou a vez de escrever sobre uma das maiores bandas no panorama do Metal Progressivo e nesta edição temos, inclusivé, uma entrevista a Richard West, membro fundador dos THRESHOLD

Um pouco de história

Os Threshold viram em 1988 o seu ano de nascimento, sob o nome de If Not, Why. Limitavam-se, como tantas bandas em início de carreira, a tocar covers (Ratt, Testament). Em 1992 lançaram o seu álbum de estreia: «Wounded Land». Como tantas outras bandas passaram por muitas mudanças ao longo da carreira. Uma das mais importantes e a que me levou a escrever nesta secção, foi a mudança de editora. Em 2006 a banda deixou a InsideOut e assinarou pela Nuclear Blast e com esta mudança veio a re-edição de todos os álbuns da banda. De facto, até ao fecho desta edição, chegaram-nos cinco: «Extinct Instinct», «Clone», «Hypothetical», «Critical Mass» e «Subsurface». Estas mudanças importantes não se ficaram só pela editora. Todas as bandas têm sempre um núcleo duro, uma base que suporta toda a banda, quer a nível músical, quer a nível de composição. No caso dos Threshold, são os membros fundadores: Karl Groom, Nick Midson, Richard West e agora, Damian Wilson. Apesar das mudanças mais importantes terem sido num ponto fulcral – vocalista – o grupo sempre manteve uma coerência digna de registo. Assim de repente, não conheço outras bandas que mudando o vocalista tenham mantido essa mesma coerência, técnica e estilo muito característico que fazem deste sexteto «Clone» (1998) Britânico um dos exemplos (Nuclear Blast) mais proeminentes na senda Desta vez quem faz a sua estreia é McDermott. «Clone» muda Progressiva. ligeiramente o estilo e sonori- De facto, Damian Wilson, dade da banda, a começar pela foi o vocalista no álbum de bateria mais energética. Este ál- estreia, «Wounded Land». bum marca o início de uma era Uma vez que este não conpara os Threshold que durou 9 anos. Uma grande diferença está seguiu acompanhar a banno timbre de voz de McDermott da na tournée de suporte que canta em registos mais baix- ao álbum, Glynn Morgan os (graves) que os seus anteces- foi recrutado para o seu lusores. gar. Glynn gravou o álbum Eduardo Ramalhadeiro [8/10]

«Extinct Instinct» (1997) (Nuclear Blast) Estreia de Damian Wilson na voz. «Extinct Instinct» foi maioritariamente pensado para a voz de Glynn Morgan. Apesar disso, Wilson confere grande “personalidade” ao álbum – atende-se, por exemplo, no super “Eat The Unicorn”. Tudo o que um amante do Metal Progressivo queira ouvir está aqui. Talvez o álbum mais progressivo do Threshold. Eduardo Ramalhadeiro [8.5/10]

«Hypothetical» (2001) (Nuclear Blast) Com os álbuns anteriores os Threshold sempre se mantiveram no top e após um hiato de 3 anos voltaram com Johanne James na bateria. A diferença faz-se notar na energia, na potência e técnica. Outro aspeto que também se nota é a produção (excelente) e sonoridade um pouco mais moderna que nos álbuns anteriores, as guitarras com um som mais... digamos... “aveludado” e os teclados sempre presentes, sendo uma mais valia para as músicas. Em termos musicais, toda os membros contribuíram para a composição. Excelente! Eduardo Ramalhadeiro [9/10]


seguinte, «Psychedelicatessen». Os Threshold fizeram, então, uma pausa de três anos e voltaram a recrutar Damian para dar voz a «Extinct Instinct». Glynn saiu para formar os Mindfeed e levou consigo o baterista Jay Micciche. Só com a entrada de Johanne James (bateria) para substituir Mark Heaney e a nova troca de Damien, desta vez por Andrew “Mac” McDermott é que os Threshold conseguiram manter a formação estável. “Mac” manteve-se, sensivelmente, dez anos como vocalista. Em 2007, dias antes da tournée “Live Reckoning” decidiu abandonar subitamente o “barco”. Adivinhem por quem foi substituído? Certo! Damian Wilson. O seu último registo é «Dead Reckoning». “Mac” faleceu no dia 3 de Agosto de 2011 em consequência de problemas renais, após ter estado quatro dias em coma. Portanto, quanto ao line-up, não podemos dizer que sejam uma banda consistente, no entanto, quanto ao seu estilo e identidade, não sei se, assim de repente, encontrarei uma banda que se assemelhe aos Threshold!

«Critical Mass» (2002) (Nuclear Blast) «Critical Mass» é o segundo álbum dos Threshold com o mesmo line-up e segue a linha do que foi «Hypothetical», no entanto, sem atingir o seu nível. Johanne James faz realmente a diferença para os anteriores bateristas. A voz de Mac continua a soar cada vez melhor e começa, efetivamente, a definir o estilo da banda. Não deixa, no entanto, de ser um lançamento a ter em conta na discografia da formação Britânica.

Como já referido, com a mudança de editora vieram as reedições e como poderemos ler na entrevista, todos estes cinco álbuns («Wounded Land» e «Psychedelicatessen» foram, entretanto, re-editadas) vêm com uma série de extras de modo a torná-los (ainda) mais atrativos. Para quem não conhece esta banda aqui estão, pelo menos, cinco boas desculpas para começar a ouvi-los. Quanto aos outros... acredito que não pre- Eduardo Ramalhadeiro [8/10] cisem!

Posfácio

Não falei ainda das letras e das muitas referências que fazem a diferentes álbuns. Dois exemplos, em “The Whispering” são feitas referências ao tema “Consumed to Live” presente no álbum de estreia «Wounded Land» e o outro exemplo, bem... está descrito algures na entrevista. Relativamente às letras, há sempre um grande cuidado. «Clone» fala sobre experimentações genéticas e os seus perigos, «Critical Mass» tem referências muito fortes à liberdade, não compromete-la, assim, como os nossos direitos, só para citar dois exemplos. Na en- «Subsurface» (2004) trevista é revelada a temática do mais recente trabalho...! (Nuclear Blast) É por isso que são referenciados como uma banda intelectual, ... e continua! «Subsurface» é precisamente pelo modo como abordam a temática das letras, outro excelente álbum e não me farto de referir que não conheço fazendo-as tão ricas como a sua música. outra formação que com tantas Não há um álbum que possamos dizer que é mau, que fique mudanças tenha conseguido landesenquadrado com os restantes, muito antes pelo contrário: çar tantos álbuns consensuais. são todos excelentes ou muito bons... todos. Por isso, não é de Falando de uma maneira leviana expressando somente a minha todo incorreto dizer que os Threshold foram um dos pionei- eopinião, colocaria este álbum ros do Metal Progressivo a sair do Reino Unido (ou mesmo entre «Hypothetical» e «Critido Mundo)... eu concordo e vocês!? cal Mass». Mais uma mudança e Eduardo Ramalhadeiro

desta vez o baixista Jon Jeary é substituído por Steve Anderson. Deste cinco re-editados é talvez o mais pesado... Imprescindível! Eduardo Ramalhadeiro [8.5/10]


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FEAR FACTORY + DEVIN TOWNSEND PROJECT + DUNDERBEIST Paradise Garage – Lisboa 19.11.2012

A nova revolução industrial The Epic Industrialist Tour foi o nome da digressão que juntou nos palcos nacionais (Hard Club – Porto e Paradise Garage - Lisboa) os americanos Fear Factory, que apresentavam o novo trabalho «The Industrialist», o canadiano Devin Townsend, que trazia em carteira o novíssimo «Epicloud», e os finlandeses Dunderbeist, que substituíram os Sylosis no alinhamento e, também eles, tinham um novo álbum para mostrar, intitulado «Black Arts & Crooked Tails». Por motivos de força maior a VERSUS Magazine só conseguiu assistir a cerca de 30 segundos do concerto dos Dunderbeist. Era visível uma casa bem composta, as pessoas estavam divertidas com o espectáculo e foi possível verificar o face painting ostentado pela banda. Quem iria subir ao palco em segundo lugar seria Devin Townsend. Já com o Paradise Garage praticamente cheio conseguiu tornar o “intervalo” para a montagem do palco pouco demorada, com a sua habitual projecção de imagens e vídeos. O publico ainda soltava gargalhadas com o que estava a ver quando, de repente surge Heavy Devy de casaco preto e um sorriso estampado no rosto a mostrar desde logo a sua simpatia. Começou-se por ouvir “Supercrush!” ligada com a “Kingdom” (reeditada no «Epicloud»), um início fervoroso a antecipar uma actuação poderosa. Sempre com vídeos sincronizados com as músicas seguiu-se “Truth” e “Planet of the apes” onde o canadi-

Fear Factory

ano em jeito de brincadeira calçou durante a música uma luva do Mickey vinda do público. Surge o momento mais calmo do concerto com a “Where we belong” e “War” para recarregar baterias e uma conversa com o público (e muitos pedidos pelo Ziltoid) para, de seguida, se começarem a ouvir os primeiros acordes de “Vampira” acompanhada em background com o videoclip da música. Depois mais uma investida no novo trabalho com “Lucky animals”, com o publico a coreografar a música ao ritmo do Devin. Para o fim ficaram reservadas a poderosa “Juular” (novamente com o videoclip), “Grace”, que transportou a plateia para outro planeta, e finalizou a arrebatadora actuação com a “Color your world”. Mais uma vez Devin Townsend mostrou que sabe o que está a fazer. É um autêntico animal de palco, sempre bem disposto, que sabe ir de encontro ao que o público pretende. Acompanhado com músicos de grande qualidade (Ryan Van Poederooyen na bateria, Brian Waddell no baixo e Dave Young na guitarra). Apesar da ausência de Anneke Van Giersbergen as músicas não perderam beleza. Um bem-haja ao canadiano e um até breve. Para o fim estava reservada a actuação dos Fear Factory. Um esperado regresso ao nosso país seis anos depois, com a re-entrada na banda do guitarrista Dino Cazares (finalmente!), a inclusão do Matt DeVries no baixo e Mike Heller, que substituiu Gene Hoglan na bateria. O palco começa a escurecer e os músicos entram com “The industrialist”, o tema que dá nome ao novo álbum, muito bem recebido pelo público. Virou-se o diapasão para 1998 e os FF tocaram as três primeiras músicas de «Obsolete»: “Shock”, que deu lugar a um grande pit, a pedido do Dino, “Edgecrusher” e

“Smasher/Devourer”. As constantes trocas de posição em palco entre o baixista e o guitarrista serviam para acicatar ainda mais o público. Uma passagem pela genial “Powershifter”, do álbum «Mechanize», e foi tempo de dar espaço a «Digimortal» que entrou em cena com “Acres of Skin” e “Linchpin”, com um baixo poderoso que pôs tudo aos saltos. Regressaram ao novo álbum para tocar a rapidíssima “Recharger”. A voz do Burton C. Bell estava no sitio certo nas partes mais pesadas, mas mostrava algum desacerto e dificuldade em chegar às notas mais altas nas partes melódicas, nada que tirasse brilho à actuação dos americanos, mas que foi demasiado notório em “Ressurrection”. Recuamos 20 anos para ouvir “Martyr” e “Scapegoat” retiradas de «Soul of a New Machine», álbum de estreia das máquinas industriais. Faltavam ainda quatro músicas para finalizar a actuação. Haverá melhor forma de acabar um concerto de Fear Factory do que tocando as quatro músicas de abertura do «Damanufacture»? Na minha opinião, não. E foi precisamente essa a surpresa que ficou guardada para o fim: “Damanufacture”, “Self bias resistor”, “Zero signal” e a muito aclamada “Replica”. Acabaram com chave de ouro esta actuação, mostrando que, apesar dos altos e baixo, os Fear Factory são uma certeza de qualidade e concertos fervorosos. De referir que, por coincidência ou não, neste espectáculo apenas foram tocadas músicas dos álbuns em que o Dino Cazares participou nas gravações. Com o selo da Prime Artists, este dia tornou-se sem dúvida épico com grandes músicos e músicas a transportarem, quem esteve presente (em Lisboa ou no Porto), para cerca de 4 horas de ambientes industriais. Reportagem: Sérgio Pires Fotografia: Pedro Cotovio


SETLIST: Devin Townsend Supercrush! Kingdom Truth Planet of the Apes Where We Belong War Vampira Lucky Animals Juular Grace Color Your World Fear Factory

Fear Factory

Fear Factory The Industrialist Shock Edgecrusher Smasher/Devourer Powershifter Acres of Skin Linchpin Resurrection Recharger Martyr Scapegoat Demanufacture Self Bias Resistor Zero Signal Replica Devin

Devin


Noite de Concertos ESPASMOS The Lemon Lovers + Modo Mudo + Calhau Azul B.E. - Aveiro 23.11.2012

Friday Night Rock Fever “Ó Victor, não queres ir a um concerto no B.E. onde será apresentada a banda Calhau Azul?” – Convidoume um dos elementos da banda. E após uma conversa numa rede social, eis que aceitei sem reservas o convite para estar lá presente, fotografar e escrever esta pequena reportagem. O atraso foi previsto, ou não fosse já um hábito, na expectativa de chegar mais pessoal para encher a pequena sala do B.E. Após uma hora, a sala não estava cheia, mas justificou o primeiro avanço dos Calhau Azul. A primeira imThe Lemon Lovers

pressão foi bastante positiva. A banda apresentou um Rock bem esgalhado, simples e cantado em português. O mais variado público presente, desde jovens, familiares na casa dos 40/50 e crianças, não arredaram pé do recinto, atentos à prestação da banda. “Cão que ladra não morde”, “Mau lugar” e a fechar “Gémeo fel” foram alguns argumentos que a banda mostrou e convenceu. Esperamos o álbum da banda, a sair brevemente. Os Modo Mudo, banda também de Aveiro, foram a segunda grande surpresa da noite. Rock e Blues com laivos de progressivo surpreenderam uma sala bastante mais vazia (sinal de que a maioria estava lá para ver os Calhau Azul). Os músicos bastante jovens mostraram que são capazes de tocar boa música e interessante. “Um tique contra taque”, tema bastante balançado, com uma merecida harmónica; “Quadros”, a mostrar uma melodia fabulosa e um solo de guitarra bastante aceitável; em suma, os Modo Mudo foram grandes e mostraram do Calhau Azul

que são capazes – boa música! Para o final os The Lemon Lovers ficaram com a difícil tarefa de manter as perto de 20 pessoas que permaneciam na sala. “Os resistentes!” – Enalteceu João Silva, guitarrista/vocalista. A banda do Porto trouxe a Aveiro mais Rock, como não poderia faltar naquela noite. Desta feita, a simplicidade foi rainha e senhora, ou não fosse a banda constituída por apenas dois músicos, João Silva na voz e guitarra, e Victor Butuc na bateria. Desde já fica os parabéns à banda, especialmente ao Butuc pela prestação na bateria. Curiosamente, foi neste ultimo momento da noite que se sentiu o feeling Rock, talvez pela sua simplicidade, e pelo feeling que se absorveu de um modo fantástico, tal foi a intimidade que se espalhou pelos “resistentes”. No final fiz questão de dar os parabéns a todas as bandas, pela prestação e boa música. Noite de Rock bem passada! Reportagem e fotografia: Victor Hugo


Modo Mudo

Calhau Azul


C. B. MURDOC + DECAPITATED + MESHUGGAH Paradise Garage – lisboa 28.11.2012

Meshuggah decapita o paraíso 28 de Novembro foi o dia marcado para a primeira aparição dos Meshuggah por terras lisboetas, cabendo aos seu conterrâneos C.B Murdoc e aos polacos Decapitated as honras de abertura de um cartaz de grande nível, do tipo a que a Prime Artists nos tem vindo a habituar. Quando a VERSUS Magazine chegou ao recinto ainda estava bastante gente de fora a acabar de refrescar a garganta com cerveja e alguma sangria improvisada em garrafas de plástico, apesar do frio que se fazia sentir. Depois de entrar para o Paradise Garage, com os primeiros acordes dos C.B. Murdoc a soarem e já com o recinto a mais de meio, a primeira imagem que saltou à vista foi a imponente bateria do Tomas Haake, bem como toda a estrutura que a rodeava. Voltando aos C.B.Murdoc, estavam-se a apresentar pela primeira vez em Portugal exibindo o seu álbum de estreia «The Green». O som deles passava por um death metal melódico com umas sonoridades thrash, e apesar da vontade de mostrarem serviço denotou-se que ainda estão verdinhos, para este nível de exigência, facto evidente no som muito confuso com excesso de sintetizadores. O concerto durou cerca de 35 minutos e serviu para aquecer os ouvidos e o ambiente. Depois de uma viragem para os bares para refrescar as gargantas novamente, o Paradise Garage ansiava pelo death metal técnico que a banda de Vogg, os Decapitated, que apresentava um novo baterista, Paul, e com o novo álbum «Carnival is Forever» na bagagem, (primeiro após a morte

Meshuggah

do antigo baterista Vitek, irmão do Vogg). Começaram com a música de abertura do novo álbum “The Knife” e no final da música o enérgico Rafał Piotrowski já estava literalmente agarrado ao público. Continuando a passear pelo mais recente trabalho, apresentaram “Pest”, abrindo a pedido da banda o primeiro grande mosh pit da noite que foi quase contínuo até ao fim da actuação. Começou a soar “Mother of War”, um tema que está a completar 10 anos e que foi um dos momentos altos da actuação. A banda era cada vez mais incisiva na forma como agarrava o público fazendo com que este correspondesse de forma entusiasta fazendo-se ouvir expressões como “esta banda é do c*r*lh*”de quem tinha sido apanhado de surpresa pela energia e qualidade que a banda estava a apresentar. O concerto foi electrizante e cheio de energia até ao fim, terminando a actuação com a “Day 69”e com o público rendido aos seus pés. Em poucas palavras, foi um grande concerto e uma óptima escolha para o cartaz. Em seguida começou a azáfama das montagens/desmontagens do palco e o público ia-se chegando à a frente ansiando pela entrada de Jens Kidman e “sus muchachos” para perceber como soavam por exemplos as novas malhas do «Koloss» ao vivo. Depois de uma espera de cerca de 25 minutos começou a ouvir-se a introdução do concerto e os Meshuggah entravam finalmente em palco começando logo por tocar a novíssima “Demiurge”, uma espécie de aquecimento, começando o concerto calmo mas cheio de fibra. De seguida o concerto virou para «ObZen» visto que a segunda e terceira músicas foram “Pravus” e a espectacular “Combustion” que gerou talvez o maior Pit Mosh da noite. «Nothing» também não ficou esquecido, visto que a quarta música foi a “Glints collide” ainda sem terem feito uma pausa desde o inicio do concerto. O público estava em êxtase

e completamente atordoado com os poliritmos, espectáculo de luzes fantástico, e com o poder e qualidade de definição dos vários instrumentos. Ao fim de sete músicas foi o descanso dos guerreiros, a banda saiu de palco durante cerca de 3 minutos para regressarem com a peculiar “In death – life” e “In death – death” do «Catch Thirtythree» para de seguida tocaram uma das músicas mais esperadas da noite, “Bleed” que deu origem a muito head-banging com o público a entoar em uníssono o solo da música. Sem mais demoras os suecos não se esqueceram de «Chaosphere» tocando a “New millenium cyanide christ”. Com o público completamente rendido à classe do quinteto foi a altura do encore, alguns assobios, “PORTUGAL” e “MESHUGGAH’s” depois ai estavam eles novamente para outro dos momentos mais esperados da noite a “Future Breed Machine”, que deixou o Paradise Garage à beira de um derrocada tal a intensidade do som e entrega do público. Para finalizar, os Meshuggah ainda brindaram o público com a “Dancers to a discordant system”. Ficou mais uma vez demonstrado o porquê destes suecos serem das bandas mais respeitadas. Com pouquíssimas pausas e sempre com a régua e esquadro na mão para tocar os seus poliritmos tão devastadores e cheios de técnica, a bateria electrizante e incansável com um poder fora do normal nos instrumentos de cordas e a dança robótica “sempre a dizer que sim” do Jens presentearam o público com um espectáculo de nota máxima, impressionando pelo acerto total ao vivo, mostrando serem umas autênticas máquinas. Fica uma certeza no fim deste dia: se o Paradise Garage não derrocou no dia 28 de Novembro, não vai ser nenhum terramoto como o de 1755 que o vai deitar abaixo. Reportagem: Sérgio Pires Fotografia: Pedro Cotovio


SETLIST: Decapitated The Knife Pest Mother War Post(?) Organic A View From a Hole Homo Sum Spheres of Madness Day 69 Meshuggah Demiurge Pravus Combustion Glints Collide Lethargica Do Not Look Down The Hurt That Finds You First In Death - Is Life In Death - Is Death Bleed New Millennium Cyanide Christ I Am Colossus Rational Gaze Encore Future Breed Machine Dancers to a Discordant System

Decapitated

Meshuggah

Meshuggah

Decapitated


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