Versus Magazine #16 Outubro/Novembro 2011

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¡Ya a la venta! La segunda parte del impresionante viaje llamado ‚Road Salt‘: un disco igual de opulente en cuando a creatividad y flirteos estilísticos e igual de genuino, musicalmente coherente y rico en texturas. También disponible como edición limitada en CD Digipak con dos temas adicionales. No dejes de ver a la banda en directo con OPETH: 18.11.2011 BILBAO, Santana 27 19.11.2011 MADRID, Penélope 22.11.2011 BARCELONA, Apolo www.painofsalvation.com www.facebook.com/painofsalvation www.insideoutmusic.com [+++ check out special offers and rare collector‘s items at www.insideoutshop.de +++]

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HAEMOTH «IN NOMINE ODIUM»

ARCHGOAT «Heavenly Vulva (Christ’s Last Rites)»

World : November 11th N. America : January 10th

World : October 14th N. America : November 1st

A caustic, toxic and breathtaking excursion into the darkest corridors of the human psyche, where even the more ambient passages are dark, menacing and deeply disturbing.

RÊX MÜNDI «IHVH» World : September 16th N. America : October 4th Raw, ancient Black Metal of the highest calibre, conjuring occult sciences from sacred seals to impart secret wisdom and provide a more truthful account of God’s alleged interaction with man.

Six trademark God-slaying tracks torn directly from the Virgin’s violated womb, this brand new EP is gloriously crude, divinely tumultuous and deliciously deviant.

BLUT AUS NORD

«777 - The Desanctification» World : November 11th N. America : November 15th Unmistakably BLUT AUS NORD, «777 - The Desanctification» is typically swarming, manic and cascading but also more ambient and atmospheric than «777 - Sect(s)».

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NUNFUCKRITUAL «In Bondage To The Serpent» World : October 14th N. America : October 18th Teloch (MAYHEM), E. Hangård (ALTAAR), D. Lilker (NUCLEAR ASSAULT) and A. Johnson (TYRANT) joined in darkness for six blasphemous ceremonies.

distribution by

RECITAL RECORDS


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VERSUS MAGAZINE A/C Ernesto Martins VERSUS MAGAZINE Alameda da Azenha de Cima, 116 - 3D 4460 - 252 Senhora da Hora Portugal Telem.: 918 481 127 E-Mail: versusmagazinept@gmail.com Web: BREVEMENTE MySpace: /versusmagazine Facebook: BREVEMENTE PUBLICAÇÃO BiMESTRAL Download Gratuito DIRECÇÃO Ernesto Martins André Monteiro GRAFISMO A.Monteiro - Design & Multimédia www.amonteiro.net EQUIPA André Monteiro Carla Fernandes Carlos Filipe Cristina Sá Daniel Guerreiro Dico Eduardo Ramalhadeiro Eliana Neves Ernesto Martins Jorge Castro Luís Jesus Paulo Eiras Paulo Martins Renato Conteiro Sérgio Pires Sérgio Teixeira Victor Hugo FOTOGRAFIA Créditos nas Páginas PUBLICIDADE geral@versus-magazine.com

Todos os direitos reservados. A VERSUS MAGAZINE está sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a Obras Derivadas 2.5 Portugal. O utilizador pode: copiar, distribuir, exibir a obra Sob as seguintes condições: Atribuição - O utilizador deve dar crédito ao autor original, da forma especificada pelo autor ou licenciante. Uso Não-Comercial. O utilizador não pode utilizar esta obra para fins comerciais. Não a Obras Derivadas. O utilizador não pode alterar, transformar ou criar outra obra com base nesta.

Nesta edição da VERSUS Magazine concretizamos finalmente um velho desejo: o de dedicar a capa aos Pain of Salvation e incluir uma entrevista com este fascinante colectivo sueco que está a poucas semanas de se apresentar em solo nacional. Registamos também conversas com Shamatee dos Arckanum, Jeff Duncan dos DC4, ICS Vortex e muitas outras bandas, sem esquecer a IronDoom Design do Augusto Peixoto, o artista gráfico que damos a conhecer neste número. No regresso da retroVERSUS apresentamos uma mais do que merecida evocação de António Sérgio, figura absolutamente incontornável no que diz respeito à divulgação do Metal na rádio, que se despediu deste mundo há exactamente dois anos. A História esquecida do Metal Português regressa também, com a segunda de três partes, desta vez dedicada ao período do chamado “boom” do Rock Português. Finalmente chamo a atenção para os dois artigos de opinião, os quais, por mero acaso, se tocam nas temáticas abordadas – os sub-géneros de metal, e para a extensa secção de reportagens, bem à medida da elevada densidade de espectáculos que sempre ocorrem nesta altura do ano. Como sempre, ficamos à espera das vossas opiniões: contactem-nos através do email versusmagazinept@gmail.com. Ernesto Martins


Yossi Sassi (OrphaNAT lAND) PARTICIPA NO NOVO ÁLBUM DOS tHE oRAKLE “ “SMOOTH cOMFORTS fALSE”

“Evil Dreams” será a faixa de Smooth Comforts False em que o israelita Yossi Sassi Sa’aron, guitarrista dos Orphaned Land executa como ninguém o som do Bouzouki. De recordar que este álbum conta também com as honrosas participações de Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta) e de Marco Benevento (The Foreshadowing). Conta também com a inclusão de instrumentos de sopro de Ricardo Formoso (trompete) e Fábio Almeida (saxofone). A banda encontra-se em fase de negociações com as editoras interessadas no álbum Smooth Comforts False e conta que em breve já possa dar novidades acerca da data de edição do mesmo.

tHANATOsCHIZO ANUNCIAM O FIM Os Portugueses ThanatoSchizO anunciaram o fim da sua actividade.

Aqui fica o comunicado da banda: “Foram 14 anos de grande entrega, muito trabalho e dedicação. Uma hercúlea luta contra a vicissitude geográfica e a certeza de que as pessoas que apreciam o nosso trabalho têm consciência de que TSO nunca foi uma banda normal, a flavour of the week, ou a next big thing. Talvez por isso, a jornada tenha perdurado até agora. O nosso site oficial, facebook, myspace e restantes canais continuarão a ser actualizados, nomeadamente com as críticas ao mais recente álbum, para além de que a secção de merchandise continuará activa. A sensação final é a de termos acabado na altura em que atingimos o nosso auge creativo: o Origami. A todos os que, de alguma forma, nos apoiaram, o nosso muito obrigado!” Os ThanatoSchizO foram fundados no Outono de 1997 e, lançaram cinco discos de longa duração, um MCD e um demo.

iRON mAIDEN

lANÇAMENTO DE LIVRO E VINHO

Iron Maiden - Lançamento de livro e vinho O livro «On Board Flight 666» do fotógrafo John McMurtrie documenta em mais de 300 fotos, a viagem dos Iron Maiden por cinco continentes nas duas últimas tours mundiais a bordo do Boeing 757 especialmente caracterizado e pilotado pelo vocalista e capitão Bruce Dickinson – que escreve o prefácio da obra. A odisséia começa em Janeiro de 2008, na Somewhere Back in Time Tour e estende-se até 2011, na excursão que promove o álbum “The Final Frontier”, que alcançou o número um em mais de 28 países. “On Board Flight 666” captura imagens dos Iron Maiden e sua leal legião de fãs, dando uma idéia do que faz a banda tão especial. Já o vinho da banda tem o nome de “Eddie´s Evil Brew”, safra 2010/2011. Trata-se de um vinho chileno tipo Merlot que está a ser vendido na loja oficial da banda. Embalado numa caixa de madeira personalizada, o vinho traz no rótulo o Eddie versão “The Final Frontier”.


nAPALM dEATH

gRAVAÇÃO ULTIMADA E RENOVAÇÃO DO CONTRATO

Segundo o site oficial dos Napalm Death, a banda está neste momento a ultimar a gravação do seu 14º album de estúdio ainda sem nome definido Para além disto, a Century Media propôs a renovação de contrato a qual foi aceite com o vocalista Mark “Barney” Greenway a afirmar que era importante para os Napalm Death continuarem numa editora independente afirmando que a Century Media provou com o seu entusiasmo e atenção que era o sítio indicado para a banda estar. Os Napalm Death estão neste momento em digressão pela Europa de Leste com a maior parte dos seus espectáculos na Rússia que se irão prolongar em Outubro em terras canadianas.

dREAM tHEATER

26 DE fEVEREIRO NO cOLISEU DOS rECREIOS

Dream Theater - 26 de Fevereiro no Coliseu dos Recreios Depois de uma arrebatadora atuação no Coliseu do Porto perante uma plateia totalmente rendida à coesão e técnica exibidas pelos renovados Dream Theater, o lendário grupo norte-americano vai estar de regresso a Portugal no dia 26 de Fevereiro de 2012, para mais uma prestação que se prevê explosiva – desta vez no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Nem todas as bandas teriam capacidade de sobreviver a um revés como aquele que o quinteto sofreu em Agosto de 2010, quando – sem que nada o fizesse prever – o baterista Mike Portnoy decidiu abandonar o projeto, que ajudou a criar. Também não estamos a falar de um grupo qualquer. Ao longo do último quarto de século, os Dream Theater afirmaram-se como um caso sério de sucesso, uma posição alicerçada numa personalidade criativa única, numa enorme vontade de inovar e em aplausos consensuais por parte do público e da crítica. Com mais de dois milhões de discos vendidos só nos Estados Unidos e mais de dez milhões a nível global, são hoje a figura de proa do metal na sua vertente progressiva, tendo um papel muito bem definido na história da música pesada depois de terem influenciado toda uma tendência.

1349

lANÇAMENTO DO PRIMEIRO DVD

A banda de Black Metal norueguesa 1349 vai lançar o primeiro DVD na carreira, intitulado «Hellvetia Fire - The Official 1349 Bootleg», via Candlelight Records. O DVD foi filmado no Bikini Test La chaux De Fonds na Suíça em 2005 e apresenta como convidado especial Tom G. Warrior (Hellhammer, Celtic Frost, Tryptikon).


Trigger Made Solution Novo Video «Bound At Birth»

Machine Head - «Unto the Locust» vai passar em Portugal Foi lançado no dia 27 de Outubro o novo álbum dos Machine Head «Unto the Locust», uma trabalho há muito aguardado. A revista Metal Hammer alemã afirma mesmo que este álbum é candidato a álbum do ano estando ao mesmo nível que o lendário “Burn my eyes” de 1994. Para comemorar este lançamento, os Machine Head irão estar em Portugal nos dias 17 de Novembro, no Coliseu de Lisboa e 18 de Novembro, no Coliseu do Porto. As bandas de suporte serão os Bring Me the Horizon, DevilDriver e Darkest Hour.

mACHINE hEAD

“UNTO THE LOCUST” VAI PASSAR EM pORTUGAL”

Foi lançado no dia 27 de Outubro o novo álbum dos Machine Head «Unto the Locust», uma trabalho há muito aguardado. A revista Metal Hammer alemã afirma mesmo que este álbum é candidato a álbum do ano estando ao mesmo nível que o lendário “Burn my eyes” de 1994. Para comemorar este lançamento, os Machine Head irão estar em Portugal nos dias 17 de Novembro, no Coliseu de Lisboa e 18 de Novembro, no Coliseu do Porto. As bandas de suporte serão os Bring Me the Horizon, DevilDriver e Darkest Hour.

Noidz no Porto na noite de Halloween Os Noidz vão actuar na cidade invicta na noite mais “aterradora” do

ano, o Halloween. O concerto será no Hard-Club e o Pedra de Metal estará presente para efectuar a cobertura do evento. Para além da banda varios Dj’s vão marcar presença. Abertura de portas as 22h. Este é um concerto já prometido há muito tempo pela banda no Norte do país.


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Tudo bons rapazes! Vão no seu quinto álbum de originais e estiveram o ano passado em Portugal, a acompanhar Dark Tranquility. Fazem um melodeath muito melódico, mas nem por isso pouco agressivo e suficientemente bem arquitectado, para lhes ter proporcionado uma interessante carreira no seu país – a Finlândia – e além fronteiras. O lançamento de «One for Sorrow» levou-nos a esta conversa com Markus Hirvonen, baterista e fundador da banda.


“[Temos] perspetivas similares sobre muitos assuntos e é certamente este facto que dá coerência à nossa banda e assegura a sua química.” Li algures que eras de Turku. Estive nessa cidade no Verão de 2010 e gostei muito. É um bom local para se ser um músico de metaI? Markus: Insomnium é uma banda da parte leste da Finlândia, de uma cidade chamada Joensuu. Niilo (o nosso vocalist e baixista) e Ville V. (guitarrista) estudaram em Turku, portanto foi lá que ensaiámos durante alguns anos. É uma cidade muito ativa no que toca ao metal, logo penso que posso dizer que é um bom lugar para se tocar heavy metal. Aliás, penso que todas as cidades da Finlândia são bons lugares para se ser músico de metal. A principal caraterística de Insomnium é a coerência. A leitura da tua biografia pessoal no Metal Archives leva-me a pensar que isso tem algo a ver com o que tinhas em mente, quando fundaste a banda em 1997. Estou correta? No início, queríamos só tocar boa música e beber uns copos juntos. Quando nos apercebemos de que nos dávamos muito bem, começámos a compor as nossas próprias canções e tudo começou. Somos todos pessoas do mesmo tipo, com perspetivas similares sobre muitos assuntos e é certamente este facto que dá coerência à nossa banda e assegura a sua química. Um outro aspeto da biografia da banda que sugere coerência é a vossa longa associação à Candlelight. Qual é o segredo de uma relação tão duradoura, muito rara nos nossos dias? Agora estamos com a Century Media… Mas gravámos quatro álbuns com a Candlelight e correu muito bem. Apenas tínhamos feito uma demo quando começámos e, por conseguinte, a editora não tinha nenhum interesse em nos promover. A nossa situação foi melhorando, à medida que fazíamos novos álbuns, e começámos a sentir que podíamos aspirar a algo melhor que a Candlelight e que estava na altura ideal para mudarmos de editora E acabámos por assinar contrato com a Century Media. Também as capas dos vossos álbuns sugerem coerência. Acho-as fantásticas e reparei que foram todas concebidas a partir de fotos. São todas do mesmo artista? Que relação existe entre elas e a vossa música? Não foram todas feitas pelo mesmo fotógrafo. Costumamos dar ao artista gráfico escolhido a liberdade de fazer o que lhe parecer melhor. As capas dos nossos dois últimos álbuns foram feitas por Wille Naukkarinen (dos Ghost Brigade) e o seu estilo gráfico adequa-se perfeitamente à nossa música.

Procuramos adequar ao máximo as capas dos nossos álbuns à música e estas apresentam sempre elementos da natureza. Apresentam-vos como uma banda de melodic death metal, que privilegia temas como as trevas, o luto, a perda, a dor, a natureza. O que distingue Insomnium de outras bandas com caraterísticas semelhantes? Na minha opinião, as letras das nossas músicas é que nos distinguem mesmo de outras bandas que tocam melodeath. Além disso, o nosso estilo nos arranjos musicais é verdadeiramente único e, geralmente, as nossas canções assentam em GRANDES melodias. Felizmente, encontrámos o nosso estilo próprio numa cena melodeath densamente povoada. Que relação existe entre a música de Insomnium e a das tuas bandas favoritas? Sei que és um grande fã de Queen, Aerosmith, Iron Maiden, Sepultura, Kiss e Metallica. Tens bom gosto. Acho que não há relação nenhuma entre essas bandas e Insomnium. Mas talvez sejamos influenciados por elas, de forma inconsciente, quando fazemos os arranjos para as nossas canções, já que moldaram a nossa forma de ver a música. Mas, francamente, tenho dificuldade em responder a essa pergunta. Insomnium é um nome que assenta que nem uma luva à vossa banda, porque realmente a vossa música mergulha o ouvinte num estado onírico. Como conseguem produzir este efeito? Obrigado pelo elogio. A nossa música assenta essencialmente em melodias e líricas fortes e tentamos sempre fazer arranjos musicais interessantes para as nossas canções. Depois repetimos as melodias e vamos mudando o som de fundo e assim criámos essas passagens fluidas entre os riffs. Pensamos que é isto que faz o fascínio da nossa música. «One for Sorrow» é o vosso quinto álbum de estúdio. Encontrei bastantes críticas relativas aos outros quatro e, de um modo geral, eram todas bastante boas. O que podes dizer para mostrar aos vossos fãs que este álbum será uma nova experiência para quem gosta de Insomnium? E para que outras pessoas – na Finlândia e noutros países – se tornem grandes fãs da banda? Sugerimos que ouçam o álbum várias vezes, com atenção, e que construam a vossa própria opinião sobre este nosso trabalho. Estamos crentes de que este é o melhor álbum da banda e muito orgulhosos deste


SÓLSTAFIR Svartir Sandar -----------------------------A breathtaking double album from the misty shores of Iceland. Psychedelic and rocking as hell! LT D B OX SE T 2CD DIGIPAK T-SHIRT OR GIRLY ICE CUBE TRAY 4 SHOT GLASSES

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Legion Helvete ----------------------

The Norwegian Black Metal horde returns with its most evil yet catchiest album ever!

nosso trabalho. «One for Sorrow» é mais agressivo e ainda mais dinâmico que os nossos trabalhos anteriores. As melodias são ainda mais fascinantes e mais melancólicas. Estive no vosso concerto no Hard Club, no Porto, em outubro de 2010, quando abriram para Dark Tranquility. Também fui lá para vos ouvir, porque tinha comprado o vosso álbum anterior – «Across the Dark» (2009) – e adorei-o. Como correu esta experiência em Portugal? Foi o vosso primeiro concerto cá? Tencionam voltar de novo para promover este álbum? Esse concerto foi mesmo a nossa primeira ida a Portugal. Adorámos a experiência, até porque o Porto é uma cidade muito bonita. Gostaríamos muito de voltar para promover este álbum, mas ainda não temos nenhuma data prevista. Passámos bons momentos com os Dark Tranquillity em Portugal e nunca esquecermos essa experiência. Que planos têm para o futuro da banda? Esperamos fazer concertos espectaculares, conhecer fãs maravilhosos em todo o mundo e, particularmente, em Portugal. Certamente, vamo-nos cruzar em algum lado e podemos beber uns copos juntos. À saúde de Portugal! Entrevista: CSA

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Devassando as servas de Cristo

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Isto é o que pode suceder quando um músico de black metal se cansa de blast beats e, ao mesmo tempo, dedica alguma da sua atenção a peças da sétima arte com títulos como “Orgia no convento” e afins. Foi aparentemente o que aconteceu com o nosso entrevistado, Teloch, guitarrista norueguês que passou pela formação ao vivo dos Mayhem, e que acaba de apresentar «In Bondage to the Serpent», a assombrosa estreia do seu novo projecto. Para começar, gostava que nos falasses da criação dos NunFuckRitual. Porque razão decidiste formar mais uma banda? Teloch: Tudo começou porque eu estava farto de blastbeats!... Em 2006 mostrei alguns esboços de canções ao Espen [Hangard, voz, teclados], um amigo meu de longa data, e pedi-lhe para adicionar os vocais. Além de fazer isso ele compôs também as partes de baixo,

teclados e efeitos. Isto motivou-me a escrever mais alguns temas até termos o suficiente para encher um álbum. Depois de uma pré-produção deste material, fizemos audições com alguns bateristas e acabamos por usar o Andreas [Johnson] dos Tyrant/The Black, que eu já conhecia da estrada. Passado algum tempo conseguimos que o Dan Lilker gravasse o baixo.


Por regra não costumo fazer perguntas sobre o nome das bandas, mas no vosso caso tenho de abrir uma excepção. Afinal o que é que te atrai nas freiras? Já alguma vez assististe a um filme porno com freiras?... E mais não digo!... Quando começaste a compor este material tinhas alguma ideia concreta de como deveria soar, ou foi algo que foste desenvolvendo gradualmente? Penso que acertamos no estilo que viria a definir os NunFuckRitual assim que escrevemos a primeira canção. Claro que depois houve um processo de refinamento, mas o primeiro tema é que ditou as linhas mestras de tudo o que viria a surgir a seguir. Portanto, não foi um caso de juntar primeiro os músicos e fazer a música a seguir. Pelo menos a julgar pelos títulos das canções, «In Bondage to the Serpent» parece ser um trabalho conceptual em torno de qualquer coisa como a teologia da natividade de Jesus Cristo. Será que é isto? O conceito do álbum surgiu naturalmente do nome da banda: freiras que dedicam a sua vida a Jesus; o nascimento virginal; pensamentos filosóficos/teológicos sobre a partenogénese no Cristianismo. Como é que se deu o envolvimento com o Dan Lilker? Conheci o Dan durante uma digressão dos 1349 pelos Estados Unidos e desde aí ficámos sempre em contacto. Ele gravou as partes de baixo nos States e depois só nos encontramos pessoalmente, aqui em Oslo, para uma sessão de fotos para este álbum. E como é que se proporcionaram as participações do Attila Csihar e do Ravn? Inicialmente o Espen queria que o tema onde eles cantam, o “Komodo dragon, mother queen”, fosse um instrumental. No entanto eu achei que a canção era perfeita para a voz do Attila. Por coincidência o Ravn estava no estúdio ao lado a fazer qualquer coisa, e assim eu aproveitei a oportunidade e pedi-lhe para vir dar uns berros. Como é que se deu a vossa ligação à Debemur Morti Productions? Aconteceu muito simplesmente: quando me decidi a tentar encontrar uma editora interessada em publicar o nosso disco, enviei uma grande quantidade de emails e a Debemur Morti foi uma das que respondeu. Serão os NunFuckRitual uma banda para tocar ao vivo ou pretendem permanecer apenas como um projecto de estúdio? Não, nós gostaríamos muito de levar isto para o palco, mas ainda não falamos muito no assunto. De momento estamos ocupados com outros projectos. Não tenho a certeza se alguma vez poderemos embarcar numa digressão; penso que para já será mais realista pensar em espectáculos ocasionais. Entrevista: Ernesto Martins

NUNFUCKRITUAL «In Bondage to the Serpent» (Debemur Morti Productions) Liderados por Teloch, guitarrista que em tempos integrou a formação ao vivo dos Mayhem, e tendo como baixista uma autentica instituição da música extrema chamada Dan Lilker (Nuclear Assault, S.O.D., Brutal Truth), este colectivo de entusiastas por freiras (!) apresenta aqui uma estreia soberba de contornos doom/black que por vezes nos remetem para perto dos Shining ou para o legado dos saudosos Cultus Sanguine. Aos riffs cadenciados e hipnóticos e aos andamentos rastejantes e pegajosos, juntam-se algumas das vocalizações mais torcidas e maléficas de que há memória, da autoria de Espen T. Hangård em cinco dos seis temas, e de dois ilustres convidados – Attila Csihar (Mayhem) e Ravn (1349) – na faixa “Komodo dragon, mother queen”. Este é, aliás, um dos temas mais salientes de todo o álbum embora os restantes também não lhe fiquem atrás na forma como nos penetram assim facilmente as veias, conspurcando-nos a alma com os seus ambientes sinistros e carregados e as suas melodias de negros tons, que veiculam um trabalho lírico conceptual baseado aparentemente na teologia da natividade de Jesus Cristo. Por vezes pode parecer que a música se arrasta demasiado ao persistir nos mesmos acordes por muito tempo, mas essa é uma impressão que se dissipa assim que começamos a ‘entrar’ verdadeiramente no álbum. A sonoridade e a abordagem estética podem também conter elementos que soem um pouco deja vu, contudo há algo de único na forma como a banda norueguesa combina esses elementos, resultando num trabalho assombroso que vale a pena escutar. [9/10] Ernesto Martins


Erudição e música extrema É uma banda com créditos firmados desde longa data e cujo mérito não deixa dúvidas a ninguém, independentemente do que se possa pensar da sua música. Aproveitámos o lançamento de mais um álbum, desta vez pela mão da Season of Mist, para tentarmos uma conversa com Johan Lager (aka Shamatae), fundador da banda e, actualmente, seu único elemento. A par do músico inspirado de Arckanum, descobrimos um erudito apaixonado pelo estudo da religião.


“É essa familiaridade com a música que me permite fazer coisas como compor um álbum inteiro em duas semanas.” A carreira de Arckanum já vai longa. Quais são os principais momentos dessa viagem musical vista do interior? E qual o peso que o facto de pertenceres a uma família de músicos tem tido na tua carreira? Shamatae: Cada álbum tem os seus momentos de exceção. Também diferem todos uns dos outros no que se refere ao processo de gravação. Foram gravados em diferentes estúdios, cujas potencialidades eu explorei ao máximo, logo têm atmosferas diferentes. Cada um deles representa uma maravilhosa experiência espiritual para mim e todos são dedicados aos poderes das trevas. De facto, é muito importante para mim pertencer a uma família musical. Antes de mais, chamou-me a atenção para a música e, assim, desde muito cedo, fazer música tornou-se num ato natural para mim. É essa familiaridade com ela que me permite fazer coisas como compor um álbum inteiro em duas semanas.

Há alguma evolução nas tuas letras, alguma modificação, desde o início da banda? Infelizmente, nem sequer compreendo o Sueco moderno, quanto mais o medieval que usas nos teus poemas. No entanto, do meu ponto de vista, esse é mais um trunfo para Arckanum, um charme adicional da tua música. As minhas letras evoluem comigo e eu mudo muito, de ano para ano. Detesto a estagnação e odeio qualquer tipo de restrição. Contudo, há um elemento da minha música que nunca mudou ao longo destes anos todos: sempre escrevi sobre o satanismo e a gnose e a minha devoção aos gigantes da antiga mitologia nórdica. Estudo religião em contexto académico e sou também um auto-didata nesta área, pratico uma combinação de religião e feitiçaria e escrevo sobre o ocultismo. Tudo isto se reflete nas minhas letras e estas são um testemunho do meu crescimento espiritual e intelectual.

Por que investiste tanto em EPs e splits no decurso da tua carreira? Que razão te levou a lançares uma compilação para comemorar 11 anos de carreira? Querias marcar alguma inflexão no teu percurso musical com Arckanum? Gosto imenso de fazer duas canções, envolvê-las num conceito obscuro e num layout adequado a este! Inversamente, não gosto do termo “compilação”: soa a coisa maçadora. Trata-se de um álbum que comemora um momento na carreira da banda e que contém material que não tinha sido publicado anteriormente. Pareceu-me uma boa ideia, sobretudo para coleccionadores e também para os fãs.

Também consultei o teu site de escritor. É impressionante. Que relação estabeleces entre Arckanum e esta outra parte da tua identidade? Procuro separar completamente as duas dimensões. Como autor, não quero de modo nenhum ser relacionado com a cena black metal. São coisas muito diferentes. Arckanum é uma entidade e Vexior é outra. Tenho objetivos semelhantes para estas duas facetas da minha vida intelectual, mas nunca as confundo uma com a outra.

Ao ouvir a tua música e a ler as entrevistas relativas aos lançamentos da banda, fiquei com a impressão de que, até ao momento, Arckanum tinha tido dois momentos essenciais: um caracterizado por um black metal que parece uma “muralha de som”, espessa e atmosférica, e outro em que se notam influências de outros subgéneros (tais como o death metal ou mesmo o thrash). Que pensas desta descrição? Parece-me bem. “Atmosférico” é um adjetivo muito adequado à música que a banda faz. Sem essa componente, Arckanum soaria como qualquer outra banda de black metal. Essa é a sua imagem de marca. Eu ouço uma grande variedade de música e é evidente que isso se reflete no modo como componho. Saber tocar vários instrumentos seria uma mais valia para a minha música. Mas só toco bateria (e, mesmo assim, raramente pratico), o que, por vezes, me limita um pouco.

Pelo que percebi, vês a tua arte em geral e a tua música em particular como testemunhos da tua reflexão sobre a vida e de uma missão a cumprir. Interrogo-me sobre como consegues combinar uma carreira artística, que implica sempre alguma forma de interação com um público, por muito reduzido que este seja, e uma ideologia misantrópica como a que adotaste. Penso que não compreendeste bem a essência do meu pensamento. Estou a tentar exprimir uma emanação cósmica através de vibrações musicais capazes de a evocar. Estou a tentar contaminar este mundo com o conhecimento sinistro a que me foi permitido ter acesso. Estou a tentar provocar e apressar o Dia da Ira, a que os nórdicos chamaram Ragna Røk. A vida não tem qualquer sentido para além deste, quando se é adepto do satanismo e da gnose. Falemos agora de «Helvítismyrkr», o teu último álbum. Quais são os seus principais tópicos? O álbum só aborda um tema: a minha infindável devoção e dedicação à gigante Hel, filha de Loki e de Gullveig.


“Estou a tentar contaminar este mundo com o conhecimento sinistro a que me foi permitido ter acesso.” E de que forma é que a sua música e arte se adequam a esse tema? Cada canção trata de uma das facetas que eu consigo distinguir na essência fria e tenebrosa de Hel. A capa do álbum representa a forma como a vejo. A caveira de cavalo, os ossos e as combinações de runas simbolizam as emanações sinistras da sua feitiçaria. Para lançar «Sviga Lae», escolheste uma editora mais main stream como a Regain. Agora estás a trabalhar com a Season of Mist. O que aconteceu entretanto? Nada que valha a pena referir nas páginas da revista. Suponho que não dás concertos ao vivo. Como tencionas promover «Helvítismyrkr»? Por exemplo, fazendo o que estou a fazer agora: dando entrevistas. Não sou uma figura pública, nem alguém que procura atrair a atenção alheia. Hahaha. Provavelmente, a editora vê esta minha faceta com muito maus

olhos. Que posso fazer: o convívio com os outros seres humanos sempre me perturbou. Obrigado pelo intereresse por Arckanum. Salve Hel! Salve Nifl-Hel! Entrevista: CSA


ARCHGOAT «Heavenly Vulva (Christ’s Last Rites)» (Debemur Morti) O título do EP diz muito do que se poderá ouvir nesta mais recente proposta dos Archgoat. O Death/Black Metal destes finlandeses é uma mistura bastante interessante, e dá as texturas necessárias aos sacrilégios guturalmente expelidos por Lord Angelslayer. Som abafado e cheio, como se estivéssemos num quarto cheio de corpos bafientos, “Blessed vulva” é o início das orgias e dos rituais sangrentos, que, até à “Passage to the milennial darkness” nos sufoca em agonia. Não recomendado a pessoas de fé. [8.5/10] Victor Hugo

AZARATH «Blasphemers’ Maledictions» (Witching Hour Productions) Conhecida como a banda de Inferno, baterista dos Behemoth, apresentam finalmente, neste quinto registo de estúdio, um trabalho ao nível do melhor que nos chega habitualmente da Polónia. Não sei se as evidentes melhorias no característico death/black crispado e blasfemo do quarteto se devem muito ou pouco ao novo vocalista e guitarrista (Necrosodom) ou à produção moderna dos irmãos Wieslawsky, mas isso também pouco importa face a esta fantástica avalanche de riffs cortantes, ganchos infecciosos e berros insanos que não dão tréguas até ao último segundo [8/10] Ernesto Martins

CEREBRAL BORE «Maniacal Miscreation» (Earache Records) Com uma das estreias mais impressionantes dos últimos tempos, ganharam já nos corações empedernidos dos fãs de death metal técnico um lugar de destaque ao lado de bandas como Psycroptic, Obscura e The Faceless. No entanto, ao contrário destes, o quarteto de Glasgow consegue manter-se apelativo baseando a sua música apenas num trabalho rítmico complexo, cirúrgico e exímio (sem leads virtuosos de guitarra) e numa vocalista endiabrada – Simone Pluijmers – que adiciona algo de singular ao registo gutural da praxe, particularmente com os seus arrepiantes guinchos suídeos. A não perder. [8.5/10] Ernesto Martins LOCK UP «Necropolis Transparent» (Nuclear Blast) Ao terceiro lançamento os Lock Up apresentam um álbum com mais de 29 minutos! Nos 40 minutos de Grind Core de alta qualidade, Tomas Lindberg, Nick Barker, Shane e Anton, mais dois convidados de alta qualidade – Peter Tägtgren e Jeff Walker – descarregam doses maciças de som rápido e brutal, com momentos mais ríspidos que outros e com balanço que nos faz querer muito um mosh pit. Os 17 temas mostram uma agressividade optimizada, mais Grind que os álbuns anteriores, e um Tomas que berra como ninguém. Shane e Anton continuam com os seus riffs inconfundíveis, e Nicholas Barker prova mais uma vez que é um baterista singular. [8/10] Victor Hugo


NEURONIA «Follow the White Mouse» (Total Metal Records/Fantom Media) Gravado em 2009, «Follow the White Mouse» é o 3º álbum deste sexteto Polaco que só em 2011 chegou aos nossos escaparates. Os Neuronia oscilam entre o Heavy tradicional e o Death Metal. A voz é dividida entre o limpo e o limpo/agressivo, se assim lhe podemos chamar. Este álbum conta com alguns convidados, Paul (Pandemonium) ou Opath (Corruption, Leash Eye) que conferem uma mais valia - «Make Them die» é, na minha opinião, o melhor tema do álbum. No entanto, desde o inicio, os Neuronia tiveram muitas mudanças no line-up o que se reflecte no estilo musical. Fico a aguardar pelo próximo lançamento, desta vez, se possível, com a formação mais estável porque estes polacos têm muita qualidade (técnica). [7/10] Eduardo Ramalhadeiro THE SIXPOUNDER «Going to Hell?» (Fantom Media) Grande álbum de estreia! Os The Sixpounder ganharam, em 2010, as eliminatórias do Wacken Metal Battle na Polónia e por isso tiveram o direito em tocar no mais prestigiado festival Europeu – Wacken Open Air. (Como curiosidade, foi a primeira vez que tocaram em frente a uma audiência internacional.) Não é pois de admirar que 1 ano depois surja «Going to hell?». Este 1º álbum é uma (boa) mescla de Pantera e Lamb of God, enriquecida com as típicas melodias de In Flames. A voz é bem doseada entre o “limpo” e o Metalcore, com excelentes riffs de guitarra e uma produção à altura. Atenção à versão de Slayer. Não sei o que o futuro lhes reserva mas é de esperar bons álbuns destes Polacos. [8/10] Eduardo Ramalhadeiro TIDES FROM NEBULA «Earthshine» (Mystic Production) Se ficaram impressionados em 2009 com «Aura», o álbum de estreia deste colectivo polaco, então segurem-se bem porque agora vão ficar literalmente siderados. Neste segundo trabalho a banda expande o seu estilo de post-rock instrumental numa direcção mais etérea e cerebral e menos agressiva, e o resultado é não menos que grandioso. Com os seus suaves crescendos e as suas transições graciosas entre passagens tranquilas e segmentos pulsantes de ritmo e guitarras cintilantes, a música evoca o fascínio dos grandes espaços e convida à alienação do mundano. Uma experiência como poucas, e desde já um dos melhores discos do ano neste formato. [9/10] Ernesto Martins ULCERATE «The Destroyers of All» (Willowtip/Hammerheart Records) Depois do impressionante «Everything is Fire», lançado há dois anos, este colectivo Neozelandês está de regresso com um trabalho que se mantém na senda do death metal opressivo e dissonante. As passagens esmagadoras continuam a ser intervaladas por segmentos vagarosos e desolados, mas a composição é, desta vez, ainda mais complexa e desnorteante. E este é o problema deste disco. A música é desafiante, mas falta-lhe um pouco dos padrões rítmicos recorrentes do disco anterior, já para não dizer alguma inspiração. Sem isso, o que resultou foi um disco basicamente impenetrável e quase impossível de digerir. [6.5/10] Ernesto Martins


O fim da estrada

A Versus Magazine esteve à conversa com Fredrik Hermansson sobre o lançamento de «Road Salt Two» (RST) – e não só. Os Pain of Salvation fecham com chave de ouro a ideia conceptual iniciada em «Road Salt One». Mantendo a mesma estrutura do seu “irmão gémeo”, (RST) é emocionalmente intenso sendo, ainda assim, um pouco mais “negro” que o seu antecessor.


“Para voltar ao tipo de som e estrutura musical de «Entropia»? Duvido. Era um tempo diferente; nós éramos pessoas diferentes e isso não seria evoluir como músicos.”

Primeiro que tudo os meus parabéns pelo novo álbum. (Estes são dois dos meus favoritos). Dado que «Road Salt One» (RSO) despertou opiniões muito diversas, gostaria de saber como se tem manifestado o público, até agora, ao lançamento de «Road Salt Two» (RST)? Fredrik Hermansson: Obrigado, ainda bem que gostaste dos dois álbuns. «RST» ainda não foi lançado, portanto ainda não há uma grande resposta ao CD. No entanto, da parte da família e amigos, recebemos já críticas muito positivas. Recentemente tocamos num programa de televisão em Estocolmo e as pessoas pareceram realmente ter gostado bastante das músicas. Duvido que esta audiência nos tenha ouvido alguma vez para lá destes temas e como a reacção foi bastante boa, prevemos que «RST» seja bem recebido. Por falar em mudanças, uma vez que estes dois álbuns não são aqueles típicos de Pain of Salvation (PoS), quando acharam que já estava na altura de fazer uma mudança radical no vosso estilo musical? Continuo a afirmar que os dois últimos CDs estão na mesma linha daquilo que os PoS sempre se esforçaram por fazer; uma busca constante de algo novo e uma vontade de mudar. A percepção que tenho é de uma mudança no sentido de uma sonoridade mais

centrada na banda como um todo. Uma sonoridade que me remete para o tempo em que estávamos a ensaiar o material para o «Scarsick». Quisemos obter o feeling de uma banda a tocar em conjunto, e com os álbuns «RSO» e «RST» conseguimos atingir esse objectivo e essa visão, pelo simples facto de estarmos todos na mesma sala a gravar ao mesmo tempo. Estavam de algum modo insatisfeitos com a direcção que a música estava a tomar? Se passares tempo demais a tocar os mesmos temas, é possível que não te aborreças, mas ficarás com uma necessidade urgente de explorares algo diferente. Não estou farto do material antigo de modo algum, mas agora o nosso estilo é muito mais abrangente e penso que é algo de que todos nós gostamos. Estas mudanças são planeadas ou é algo que surge à medida que vão “construindo” o álbum? Na verdade é difícil de dizer. Terá que ser uma combinação das duas. Se estiveres a fazer música durante um certo período de tempo, esta estará destinada a ter um som e atmosfera específicos. De onde nasce não tenho a certeza, mas após algum tempo o álbum desenvolve uma identidade própria. O «RST» está intimamente ligado ao «RSO», não só por alguns temas terem sido gravados nessa altura mas também ao nível das letras, conceitos e por aí adiante.


grafia eu goste de uma forma absoluta e unânime.

Como crítico e também como alguém que possui algum background musical, incomoda-me que a maior parte das pessoas (principalmente os críticos) não saibam avaliar, só porque a banda decidiu mudar o seu estilo. Este tipo de críticas incomoda-te? Quer dizer, fico aborrecido quando as pessoas analisam o RSO em comparação com os vossos quatro primeiros álbuns e não como o álbum em si. Não achas que isso revela uma falta de cultura musical de quem faz esse tipo de análise? Penso que é natural que se compare os álbuns duma banda. Contudo, é certo que seria mais fácil se, de alguma maneira, cada álbum fosse analisado por si só. Tomando o meu caso como exemplo, eu vejo como sou influenciado pelos trabalhos de uma banda e aí é inevitável a comparação musical. Para cada álbum que fizemos existe um núcleo duro de fãs reclamando que aquele é que é de longe o nosso melhor álbum. Só fazemos a música que gostamos e esperamos que as pessoas tenham um espírito aberto em relação a isso. De qualquer maneira, não têm que gostar. Não consigo nomear uma banda cuja disco-

Não achas que é injusto para a banda? Uma banda nunca será tratada de forma “justa”, nem nunca lhe será concedida a atenção suficiente para que possa ser vista da forma que desejaria. É simplesmente impossível. Com um pouco de sorte teremos sempre um nicho dos media reservado para nós, mas nunca seremos totalmente compreendidos. Também não é algo que possas exigir; terás sim que esperar que a tua primeira abordagem seja visível e reconhecida de alguma maneira. Quando participámos no Festival da Eurovisão, na Suécia, de repente tivemos uma grande cobertura por parte dos media por causa de uma canção que nunca ninguém ouviu até a essa altura. Se juntarmos a isso a falta de atenção que tivemos até a esse ponto, acaba por ser um pouco estranho e injusto. Mas como explicar os PoS em cinco minutos a quem nunca nos ouviu antes? De certo modo até foi bom, pois pudemos apresentar a banda a quem não nos conhecia de todo. O público não estava por dentro dos álbuns e temas anteriores e isto fez com que ficassem mais “abertos” à música que fazemos agora. Iremos ver algum dia os PoS retornarem às suas raízes musicais? Aqueles pelos quais foram primeiramente reconhecidos? Para voltar ao tipo de som e estrutura musical de «Entropia»? Duvido. Era um tempo diferente; nós éramos pessoas diferentes e isso não seria evoluir como músicos, se voltássemos a esse tipo de som específico. As raízes estarão lá sempre. Nós só estendemos os nossos braços e procuramos, também, novos caminhos. Que planos têm, se é que têm ou o que é que podemos esperar dos próximos anos? Haverá outra mudança de estilo? Talvez outra re-invenção dos PoS? Não faço a mínima ideia. Teremos de esperar para ver...


PAIN OF SALVATION «Road Salt Two» (InsideOut Music)

O que mais aprecio em RSO e RST é a produção e todo o ambiente brilhantemente criado. De quem foi a ideia de criar esta atmosfera mais “negra” tão típica dos anos 70? (Parece saído directamente de uma garagem) O Daniel fez a maior parte da mistura e todo um trabalho de pós gravação, portanto muito disso tem a ver com a visão que ele tem para a sonoridade. Penso que encaixa muito bem neste tipo de música. Aquela sonoridade típica dos anos 70 está presente nos álbuns desde o princípio e muitos dos instrumentos usados são “autênticos” com som “antigo”, em vez de utilizarmos algo novo e moderno. Eu toco com um Fender Rhodes (1965) em alguns temas, por exemplo. Algumas teclas partidas e barulhos estranhos adicionam algo extra à sonoridade. Estou ansioso pela vossa vinda a Portugal, em Dezembro. O que podemos esperar desse concerto? Esperem um grande concerto! Só fizemos um concerto em Portugal e vai ser bom voltarmos. Talvez estejamos um pouco cansados à chegada mas as vantagens de realizar uma digressão como banda de abertura permite-nos tocar a nossa música de uma maneira mais intensa. Obrigado pelo teu tempo. Obrigado pelas perguntas! Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

Os Pain of Salvation (PoS) são daquelas bandas que nunca serão compreendidas, principalmente pelo que já fizeram em comparação ao que fazem agora. Se os primeiros álbuns são autênticas referências, estes dois últimos constituem o culminar de uma mudança já há muito anunciada. Esta mudança tem o seu epílogo em «Road Salt One» (RSO) e «Road Salt Two» (RST). Ao seu estilo, estes também serão, certamente, considerados duas referências na sua discografia. RSO foi revisto na Versus #14 e estes dois álbuns não fazem sentido um sem o outro, não podem ser dissociados e complementam-se de uma forma natural. RST é talvez mais emocional e um pouco mais “negro” que o seu “irmão” gémeo, no entanto, mantém o feeling e ambiente/estilo musical tão típico dos anos 70. A produção está soberba – tal como em RSO – e é o que mais me agrada neste álbum. Daniel Gildenlöw está em grande na produção ao conseguir recriar todo este ambiente (Ver entrevista). Tal como escrevi na entrevista, RSO e RST, são dois dos meus álbuns favoritos e a seu tempo serão duas referências na vida musical dos PoS. De resto para quem espera ouvir um (outro) estilo progressivo, na linha dos primeiros álbuns e (infelizmente) não está aberto a mudanças, então estes dois álbuns são para esquecer! Para os restantes... obrigatório. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro


LET’S ROCK! Jeff Duncan presta serviço aos Armored Saint, e além disso tem a sua própria banda de Rock, os DC4. Para ele o Heavy Metal e o Hard Rock são sempre uma constante e estão bem vivos e recomendam-se. A Versus Magzine esteve à conversa com o guitarrista e vocalista de uma das mais potentes bandas do género, que nos explicou porque soam mais duros que nunca. É o terceiro álbum dos DC4. Acredito que estejas muito orgulhoso do teu trabalho. Qual a diferença entre o «Electric Ministry» e os outros álbuns? Jeff Duncan: Sim, estou orgulhoso da estrutura de trabalho que os DC4 fizeram. A diferença com o «Electric Ministry» é que tivemos mais tempo para trabalhar nele. Não tivemos pressas e metemo-nos por

uma extensiva pré-produção, e o processo de gravação foi bastante cuidadoso. Também acredito que este álbum é um grande progresso em relação ao anterior, o «Explode». Nós quisemos concentrarmo-nos mais nas guitarras e caminhamos para um álbum mais duro. Acredito que concretizamos isso.


«Nós quisemos concentrarmo-nos mais nas guitarras e caminhamos para um álbum mais duro» Como é trabalhar com o Metoyer? É fantástico. O Bill [NR: Metoyer] é muito descontraído e adora o que faz. Divertimo-nos muito ao trabalharmos no álbum juntos; muitos risos e um óptimo ambiente de trabalho. Não houve uma ideia minha que não tivéssemos experimentado. O Bill ofereceuse para gravar o «Electric Ministry» antes de assinarmos pela Metal Blade, por isso este álbum não estaria lançado se não fosse o Bill Metoyer. Ele também me deu a oportunidade de me estrear como co-produtor. E como foi trabalhar com outros músicos que os DC4 convidaram? Porque é que decidiste convidar músicos de fora tocar em algumas músicas, tais como «The Ballad Of Rock And Roll» e «Dirty Hands»? Temos sorte em conhecer pessoas com muito talento e amáveis. Foi incrível ouvir o que eles tinham para oferecer às músicas. A decisão de traze-los foi porque os temas assim o pediam, e ouvi essas ideias entre outras na minha cabeça quando escrevi as músicas. Felizmente essas ideias tornaram-se realidade graças ao Dizzy Reed, Erin Duncan, Juliette Primrose e Gonzo, que tanto deram do seu tempo e talento. Ah, e não esquecer as meninas do «XXX»: Sarah e Ashely! Estás nos Armored Saint desde 1989. É difícil para ti tocar nas duas bandas? Não há tanto tempo. Eu acho que deveria ser sem problemas. Os Armored Saint fazem espectáculos seleccionados e não fazem tantas digressões. Sinto-me bastante afortunado em estar em duas bandas que gosto muito. Vocês são uma banda muito activa com muito concertos. Tens alguma música que gostes mesmo de tocar ao vivo? Gosto de todas as nossas músicas, claro, mas de momento estou a gostar imenso de tocar a “XXX”,

“Electric ministry” e “The ballad of rock and roll». Vocês têm um feeling muito poderoso de Rock no vosso trabalho. Acreditas que o feeling Hard and Heavy está-se a manifestar novamente? Qual é a tua opinião da cena actual? Eu não acredito que alguma vez tenha desaparecido. Hard and Heavy sempre teve uma sequência. Mesmo no período do Grunge, nos anos 90, houve bandas como Soundgarden e Alice In Chains a oferecer algum material porreiro, e os Pantera estavam no auge nesse tempo. Nunca prestei muita atenção às tendências. Eu faço o que faço e mantenho-me onde actualmente estou, na música que escrevo. Não estou interessado em escrever hits. A cena actual está a ir bem e penso que há bastantes bandas e fãs de Hard and Heavy a manter a cena viva. Enquanto recolhia informações vossas, li algo sobre o teu envolvimento no jogo “Rock Band”. Queres falar sobre isso? Uma companhia chamada de Hit Play Creations tornou o nosso tema “Candy Caine”, do álbum «Explode», disponível para download para o jogo “Rock Band”. O site é www.hitplaycreations.com. Acredito que futuramente tenhas muitos espectáculos. Portugal poderá ver os DC4 no palco? Adorariamos tocar em Portugal. Conhecem alguns promotores que queiram trazer os DC4? Let’s Rock! Entrevista: Victor Hugo


Um passo para a tempestade É um ilustre e conhecido músico que já passou pelos Dimmu Borgir, contribuindo não só com o baixo mas também com a incomparável voz épica que tantas vezes deliciou os fãs da famosa banda norueguesa. A Versus Magazine teve o prazer de falar com este viking para tentar perceber a razão desta aparição a solo. Ladies and gentleman, Mr. Vortex. Desde a tua participação no álbum «La Masquerade Infernale» (1997), estiveste em várias bandas como convidado ou como membro, e agora tens a tua própria banda. Sentes que depois destes anos todos não tiveste um “lar” (continuas nos Arcturus, Borknagar e Lamented Souls) e encontraste-o agora? ICS Vortex: «Storm Seeker» foi um processo longo, e foi algo que quis fazer há muito tempo. Depois da minha saída dos Dimmu Borgir achei que seria o momento certo. Tinha a maior parte do material e mudanças que são normalmente boas para a criatividade e inspiração. E não há melhor lugar que o “lar”, sinto que o encontrei, mas também olho para o futuro para trabalhar com as outras bandas que mencionaste.

ber sake de um pacote de leite com o Nick Barker no Japão foi um deles. Lembro-me, também, de passar um esplêndido momento num bar de Black Metal em Bagota. E não consegues ultrapassar a audiência da América do Sul, que é tão alta que não consegues ouvir os monitores.

Dimmu Borgir talvez tenha sido a tua banda mais importante. Creio que tens boas memórias dos anos que estiveste lá. Há algum momento que gostarias de recordar? Tivemos imensos momentos bons, isso é certo. Be-

Concordas que houve um verdadeiro culto aos Dimmu Borgir quando tu, e outros músicos, como o Mustis e o Nickolas Barker estavam na banda? Comenta, por favor. Na minha opinião houve muitos line-ups clássicos na

Não sentiste nos concertos de Dimmu Borgir que a maioria dos fãs estavam lá para ouvir a tua voz? Havia normalmente alguns (risos). Regozijei-me do facto que muitas pessoas sabiam as letras da minha deixa da voz. Quando o público estava perto o suficiente para boa comunicação, isso era, claro, sempre fantástico.


história dos Dimmu Borgir. DCA (NR: «Death Cult Armageddon») foi um dos melhores, se me perguntas. Foram, certamente, momentos mágicos. O que Astennu fez pelos Dimmu Borgir foi também esquecido. Ele foi um grande guitarrista e um “riff-master”.

mesmo, escrever letras honestas e música de qualidade, estou-me a borrifar (risos). Além disso, “Storm seeker” é a minha música preferida do álbum. Estou muito satisfeito com o modo como a letra encaixou na música e com o feeling geral deste tema.

Mudando agora de assunto, vamos para o «Storm Seeker». Creio que estejas muito orgulhoso do teu trabalho com o teu próprio nome. Tens algumas expectativas ou não gostas de pensar muito nisso? Começar de novo no mundo da música é, no mínimo, um risco. Não tenho ilusões de grandeza, mas é certo que irei continuar a compor música sob o rótulo de ICS Vortex.

Não sabia o que esperar do teu trabalho, e confesso que o Black Metal seria o caminho que terias escolhido. Sinto muito mais o feeling do Rock que o do Black Metal. Qual é a tua perspectiva da cena actual do Black Metal? Penso que hoje os músicos mais jovens mantêm um standard global mais alto quando chega a parte técnica. Contudo, na minha opinião há poucas que conseguem igualar o sentimento das bandas clássicas.

O que é que te motivou, ou o que é que te inspirou, para criares uma banda com o teu nome artístico? Tenho escrito música sob o nome de ICS Vortex desde 1998. Senti que era natural dar um passo mais à frente. Tens músicos na tua banda com uma carreira respeitável. Foi difícil convence-los a juntarem-se a ti? Não (risos). Concordas quando digo que reconheço uma mistura de estilos na tua música, como Black Metal, Rock e mesmo uma essência dos 70’s? Há uma singular mistura de estilos que tu mais gostas na tua música? Eu gosto da diversidade. O material foi escrito num longo período de tempo, e eu fui sempre inspirado por diferentes géneros. Acho que misturar Black Metal com harmonias limpas dos 70’s é um pouco inédito, e tenho a certeza que alguns miúdos apunkalhados que querem ser os verdadeiros satânicos têm alguma coisa a dizer acerca disso. Enquanto eu for honesto comigo

Nunca pensaste em inserir vozes mais agressivas na tua música? Inseriria, se sentisse que elas encaixariam. Haverão bastantes vozes agressivas no próximo álbum de God of Atheist (álbum a solo de Asgeir Mickelson). Agora a última. Acho que é urgente ver ICS Vortex no palco. Poderei ver isso em breve? Espero que em Portugal também. Obrigado, também eu espero. Plateias portuguesas são sempre loucas e divertidas. Ainda nada está agendado para Portugal, mas penso que há negociações acerca de um concerto dos Arcturus. Irei anunciar futuros concertos em www.icsvortex.com. Entrevista: Victor Hugo




Planos para dominar o mundo? Nada se sabe sobre eles, a não ser que gravaram uma demo em 2005 e estão agora a lançar o seu primeiro álbum. Mesmo a informação sobre a sua origem parece não ser fiável, segundo as palavras de Metatron (ex-The Meads of Asphodel), um dos guitarristas da banda e o seu mentor, nas respostas a esta entrevista. No entanto, a falta de informação sobre a banda é largamente compensada pela divulgada relativamente à sua arte, combinando música, letras e grafismo.

O primeiro facto de que me apercebi, quando comecei a fazer a minha pesquisa sobre a banda, foi que, em 2005, tinham lançado uma demo com o mesmo título que este vosso primeiro álbum. Por que precisaram de 6 anos para chegarem ao longa duração?

Metatron: Depois de termos lançado essa demo, pusemos a banda de parte durante alguns anos. Aliás, na altura, eu não via nenhum futuro para este projecto musical. Contudo, quando o baterista, com quem eu trabalhava há muito tempo, criou um estúdio de gravação, mostrou-se interessado em gravar material


que tínhamos composto juntos. Em 2008, propus que gravássemos também «Patrimoine Génétique» e ele concordou logo. Depois, eu decidi enviar a gravação para algumas editoras de prestígio e obtivemos respostas muito positivas. É evidente que, de seguida, nos dedicámos à gravação de «IHVH». Mas, assim que demos o trabalho por terminado, eu apercebi-me de que precisávamos de um artwork mais original, porque o da demo era muito fraco: era mais uma espécie de logo da banda. Então, construímos um belo livro de cerca de doze páginas, para acompanhar o CD. Como é que a Debemur Morti descobriu a banda? E quando é que isso aconteceu? Fui um processo complicado. Pouco depois de termos gravado «Patrimoine Génétique», em 2008, e de termos recebido reações entusiásticas de todas as editoras a quem enviámos a gravação, fomos contactados pela The Ajna Offensive e tínhamos a séria intenção de lançar o álbum com eles em 2009 ou 2010. Mas as coisas começaram a correr mal e a editora acabou por desistir do projeto. Imediatamente, ainda no início deste ano, contactei a Debemur Morti, expliquei o que se tinha passado e perguntei-lhes se estavam interessados no nosso projecto. Tivemos uma sorte danada, porque eles e aceitaram logo a nossa proposta. Nem me deram a oportunidade de procurar outras editoras. E o tempo que decorreu entre este momento e o lançamento do álbum foi incrivelmente curto.

De onde vêm vocês? Podes dar-nos alguma informação sobre a banda em geral e sobre ti em particular, já que aceitaste responder às nossas perguntas? De momento, pretendemos que essa informação se mantenha secreta. Nunca revelámos qual é a nossa origem, portanto desconfia de qualquer informação dessa natureza que possas encontrar na net. Será oficialmente revelada pela Debemur Morti, quando tivermos acabado de elaborar o conceito do projeto. Como esse trabalho ainda não está concluído, qualquer revelação da minha parte só serviria para o pôr em risco. Quero que as pessoas reflictam sobre o artwork do nosso álbum, que se sintam intrigadas por ele. Quando for revelado publicamente quem eu sou e o que faço, todo o mistério ficará esclarecido. A banda não tem nenhum logo? Sim. É a capa de «IHVH», sem o “3” que aparece por cima do “R”. Como se trabalha em Rêx Mündi? Rêx Mündi é uma banda muito concetual. Mas, em «IHVH» [a demo], essa natureza concetual não se manifestava de um modo muito forte. Ao longo dos anos, fui aprofundando o conceito subjacente a ela e, actualmente, estamos prontos para lançar uma trilogia. Basicamente, trabalhamos da seguinte forma. Começo por tentar imaginar o tipo de atmosfera que pretendo


“Depois de termos lançado essa demo [em 2005], pusemos a banda de parte durante alguns anos. Aliás, na altura, eu não via nenhum futuro para este projecto musical.” criar com o som produzido. Depois, componho as linhas da guitarra que me parecem adequadas a esse clima. De seguida, apresento o material aos restantes elementos da banda e o outro guitarrista acrescenta elementos, onde lhe parece que ficarão melhor. Geralmente, chegamos depressa a um consenso. A seguir, damos início ao processo de gravação, altura em que o baterista traz muitas ideias para a produção e algumas relativas às linhas de guitarra, já que também toca este instrumento. Também é o momento em que eu crio as linhas vocais para cada canção, geralmente muito dinâmicas. Todo o processo requer uma grande interação: se alguém não gosta de algo, vamos fazendo alterações até estarmos todos satisfeitos com o som obtido. Também costumamos mostrar o primeiro material a amigos próximos e pedimos a sua opinião. Assim, sentimo-nos minimamente seguros quanto à qualidade do material produzido, antes de o propormos a uma editora. Podes mencionar algumas referências musicais da banda? No que toca a «IHVH», fomos fortemente influenciados por bandas como Mayhem, Deathspell Omega, Blut Aus Nord, Horna, Thorns, Behexen, Ondskapt, etc. Este longa duração não é exatamente igual à demo. Li as letras desta, mas não encontrei as das novas canção do álbum. São do mesmo estilo? Sim, são exatamente do mesmo estilo. Caso contrário, não as teríamos incluído em «IHVH». Como nós imprimimos todas as letras no livro que acompanha o álbum, em breve vais poder lê-las. Que tipo de mensagem pretendem transmitir através das vossa música? A pesquisa que fiz permitiu-me tomar consciência das interessantes relações que o vosso trabalho mantem com a cabala e o misticismo judaico. O facto de o título do álbum corresponder ao nome de deus nas escrituras judaicas também não é só uma coincidência, pois não? Não, não é uma mera coincidência. Tem um significado muito forte, tendo em conta a influência que exerce na cultura ocidental, ainda atualmente. Não restam dúvidas de que este “Deus” continua a influenciar as nossas vidas, quer queiramos, quer não. Rêx

Mündi pretende refletir sobre essa influência e pô-la em causa. Cada álbum [da trilogia prevista] representará um contexto histórico, em que esta discussão se reveste de particular interesse. Como «IHVH» põe em cena um contexto bem antigo, a religião assume nele um papel de grande destaque. A questão que nos propomos discutir neste projeto musical poderia ser formulada do seguinte modo: “Será que a religião ainda faz sentido no mundo actual, independentemente da forma sob a qual se apresente?” Podes explicar o sentido da capa do vosso álbum? É fascinante, mas muito misteriosa. Só posso dar uma explicação muito fragmentária. Entre outros sentidos possíveis, o R relaciona-se com o nome da banda. Os círculos em redor dessa letra evocam conceções ligadas à magia ocultista. Os pontos que figuram nos círculos são eletrões, cuja importância é inegável. A forma geométrica que surge no interior da edição jewel case chama-se “Cubo de Metatron”. É tudo o que posso dizer sobre este assunto. Os vossos fãs vão poder assistir a concertos ao vivo? Ou têm outros planos para a promoção do vosso álbum? Infelizmente, não fazemos concertos ao vivo, muito simplesmente porque não temos tempo para o fazer. Somos todos pessoas muito ocupadas. Não sei se esta situação se alterará um dia. Querem mesmo ser os “reis do mundo”? Por que escolheram um nome tão provocante para a banda? Haha, não penso que houvesse muita gente a seguirnos como reis do mundo, se tivéssemos tal propósito. Na realidade, fomos buscar este nome a uma seita fanática francesa: os Cátaros. Nas suas convicções, Satã tinha criado o mundo, por isso chamavam-lhe Rex Mundi. Entrevista: CSA



Deuses como inimigos

Depois dum álbum de estreia muito bem recebido, os israelitas Eternal Gray passaram por um longo período de fraca actividade editorial motivado por dificuldades na obtenção duma formação estável. Durante esse interregno de oito anos o núcleo duro do quinteto de Haifa teve tempo para apurar o seu negro estilo de death metal a um nível ainda mais elevado de brutalidade, resultando desse processo um petardo com o título «Your Gods, My Enemies». Em entrevista concedida à VERSUS Magazine, o guitarrista Auria Sapir falou-nos extensamente de fanatismo e de manipulação religiosa.


Desde o primeiro álbum («Kindless») até agora decorreram quase dez anos. O que aconteceu com os Eternal Gray durante todo este tempo? Auria Sapir: Para começar, tivemos problemas de line-up. Tivemos de encontrar músicos – baterista, vocalista e um guitarrista – que partilhassem a visão dos Eternal Gray, o que, num país pequeno como Israel, pode levar algum tempo. Em 2004 gravamos o EP «Numb», no entanto este trabalho nunca viria a ser publicado porque logo a seguir o Eyal Glottmann, nosso vocalista e guitarrista, abandonou a banda. Em 2005 o nosso baterista, o Roy Chen, também saiu do grupo. Os lugares de ambos foram ocupados pelo vocalista Oren Balbus, pelo baterista Dror Goldstein e por mim na guitarra. Ainda chegamos a entrar em estúdio com este novo line-up para voltar a gravar o «Numb», mas como havia problemas de direitos autorais sobre este material que eram detidos por músicos que já não es-

tavam na banda, decidimos que o melhor era esquecer isso e começar a compor material novo. Em 2006 o Dory Gray mudou-se para a Alemanha para se concentrar na sua carreira musical e para escrever material para o novo álbum «Your Gods, My Enemies». Os restantes membros da banda permaneceram em Israel onde foram criando também novos temas. Depois de alguns ensaios na Alemanha já com a banda completa, fomos para os Underground Studio, na Suécia, onde finalmente gravamos o álbum. Ouvi dizer que a banda tencionava convidar o Dirk Verbeuren e o Steve Tucker para participar nas gravações. Chegou a acontecer? A ideia de convidar esses e outros músicos surgiu por volta de 2004, na altura em que começou todo o processo de criação deste novo disco. Tínhamos estado em contacto com o Dirk Verbeuren e o Steve Tucker e haviam algumas ideias no ar. Contudo, no fim, essas colaborações acabaram por não acontecer. O Dirk e o Steve são grandes músicos e continuamos em contacto com eles. Pode ser que venham a aparecer como convidados num dos nossos próximos álbuns. «Your Gods, My Enemies» é um título bastante poderoso. A um nível superficial parece tratar-se duma afirmação fortemente anti-religiosa. Será que esta é, em termos gerais, a orientação lírica do álbum? Penso que é um título no qual qualquer pessoa com algum bom senso e sentido de lógica se pode rever. Não tem a ver com um deus específico, nem se trata de odiar o deus de alguém ao mesmo tempo que se louva o nosso. É um título que tem que ver estritamente com a aderência à lógica em lugar de te deixares conduzir por falsos profetas que te dizem o que fazer. É um título que reflecte uma posição contra a insanidade da religião e de todas as suas causas, nomeadamente o acto de fazer algo “em nome de deus”. Somos contra todo o tipo de idolatria – o sacrifício de tudo em nome de um ídolo – e embora nem todos os membros da banda partilhem o mesmo conceito de religião ou a mesma ideia de deus, todos são da opinião de que a idolatria ou a fé num qualquer deus não é saudável. Consideramos que as pessoas usam deus como uma desculpa para semear a alienação, a violência, o racismo e o terror. E achamos que, na sua forma mais básica, todas as religiões são benéficas para o ser humano. A interpretação que as pessoas fazem delas, sendo comandada pelos seus egos e pelos seus interesses, é que tem conduzido ao afastamento dessas mesmas pessoas da forma mais natural e pura.


“Consideramos que as pessoas usam deus como uma desculpa para semear a alienação, a violência, o racismo e o terror.” O ateísmo parece ser um tópico recorrente nas vossas canções. Serão vocês influenciados pelo recente movimento do Novo Ateísmo liderado por autores como Dawkins e Hitchens? No caso do novo álbum, o ateísmo não é o tema principal. Penso que é importante distinguir aqui dois conceitos: a religião como meio de manipulação através do medo e da ignorância, e as verdadeiras virtudes do livre pensamento e das ideias puras que estão na base de todas as religiões. O ateísmo é o tema central só em algumas canções, como é o caso do tema “Controlled”. De qualquer modo as nossas letras não são influenciadas directamente pelos escritores que referes. Pode haver alguma sobreposição de ideias, mas não é intencional. Apesar das nossas posições algo radicais, achamos que há espaço para a crença. Não para a crença cega num deus icónico, mas para a crença nos conceitos que estão por detrás, que cada indivíduo pode integrar na sua maneira de pensar e no seu estilo de vida pessoal. Qual é a sensação de estar numa banda com uma forte atitude anti-religiosa, exactamente no local onde nasceu o Cristianismo? Pode parecer que assumimos uma posição antireligiosa quase militante, no entanto, como já referi, não é tanto a religião em si que opomos, mas mais o que as pessoas fazem da religião. Não temos nada contra qualquer religião específica; pensamos que a religião é uma coisa bela desde que não seja levada aos extremos do fanatismo. Entre outras coisas, a religião inclui a tradição, que é algo que devemos respeitar.

primeira edição? A questão é que precisávamos de algum tipo de arte para a edição em pen USB, que saiu antes da edição normal do álbum. São portanto duas artes para diferentes formatos de suporte. Musicalmente, parece que o vosso death metal é bastante genérico. Há muitas influências que sobressaem e quase não se identificam aspectos que sejam únicos nos Eternal Gray. O que achas desta leitura? É uma boa pergunta. Nos Eternal Gray o nosso objectivo é criar sempre algo de especial, sem olhar aos limites supostamente impostos por um género qualquer. O nome da banda descreve, em grande medida, a nossa direcção musical: partindo de influências várias – musicais e não musicais –, tentamos posicionarmos sempre numa zona cinzenta, isto é, sem nunca recorrer apenas ao branco ou apenas ao preto. Cada membro traz com ele as suas próprias influências pessoais, que podem ir desde a música electrónica ao death metal, passando pela música clássica e pela world music. Depois, é uma questão que reunir todas estas influências colocando um enfoque particular no sentido épico e negro, e assim nasce a música dos Eternal Gray.

Como é que devemos interpretar a arte presente na capa do álbum? O “EG”, no meio da capa, representa o material instável da religião que conduz à fé cega. É suportado por um grande número de indivíduos que não compreendem o significado das suas acções. Devido à natureza instável dessa estrutura, as pessoas vão caindo. O ícone “EG” é uma metáfora para a perspectiva da religião a que as pessoas se tentam agarrar, sem que sejam bem sucedidas.

Pelo que sei, este álbum viu uma edição limitada em 2010, tendo sido agora lançado em larga escala pela Season of Mist (SoM). Como é que foi isto? Assim que gravamos o «Your Gods, My Enemies» tentamos encontrar uma editora interessada em o editar. Depois de um longa busca sem resultados satisfatórios, decidimos promover o disco nós próprios. E optamos por um edição em pen USB. Criamos portanto uma pen especifica com a capa do álbum e o nosso logótipo. Foi como fazer uma edição especial antes da edição normal. Contudo, pouco tempo depois de termos iniciado a auto-promoção, recebemos um email da SoM a dizerem-nos que estavam interessados na nossa música. Por isso, paramos com a promoção do pen. No passado dia 14/10, a SoM lançou o nosso álbum em formato digipack com uma faixa bónus. Seguir-se-á a edição limitada em pen USB.

Porque é que resolveram não usar a capa da

Parece que nesta altura vocês já estão a tra-


“Nos Eternal Gray o nosso objectivo é criar sempre algo de especial, sem olhar aos limites supostamente impostos por um género qualquer” balhar no 3º álbum. Será que nos podes dar já algumas pistas sobre quão diferente será esse novo disco em relação aos anteriores? O terceiro álbum será diferente do ponto de vista do som e da produção. As canções serão também mais longas. Queremos que cada tema transporte o ouvinte numa viagem através de outras dimensões. A tónica será posta mais no feeling, que queremos que seja muito especial, e menos na técnica. Será na mesma um álbum dos Eternal Gray com aquele lado épico e negro que nos é característico, mas o feeling será um pouco diferente. Do ponto de vista lírico, nós somos muito influenciados por tudo o que acontece ao nosso redor, e por isso as canções estarão directamente relacionadas com um diversidade de coisas. Para saber mais sobre a banda e sobre a nossa próxima digressão, visitem: http://www.eternalgray.net/ http://www.facebook.com/EternalGray Entrevista: Ernesto Martins


Uma receita de música e arte gráfica Desta vez, o destaque no mundo da arte gráfica associada à música extrema vai para a Irondoom Design. Augusto Peixoto, a alma da empresa e também membro de uma banda já entrevistada nas páginas da Versus Magazine, satisfez a nossa curiosidade, respondendo às questões que lhe dirigimos. Das suas palavras, ressaltam a dificuldade em abraçar uma carreira nesta área, mas também o prazer de criar combinações felizes entre música e imagem.


Antes de te descobrir como designer, identificava-te como o baterista dos Head:Stoned e mentor da banda. Qual das carreiras começou primeiro? Augusto Peixoto: Comecei a tocar bateria em 1988, quando formei os Dove. A minha ligação às Artes vem de muito cedo, mas, profissionalmente, data de 1990. Portanto, a bateria começou primeiro. Obviamente, as duas cruzam-se, já que também és o responsável pelo lado gráfico dos lançamentos da banda. Dás algum toque especial ao trabalho que fazes para a tua própria banda? Quando trabalho em capas para as bandas, não as diferencio, muito menos sendo a minha banda. Temos que ser honestos no que fazemos e não dar tratamento diferente a quem trabalha connosco. O que me chamou a atenção para a tua carreira gráfica foi o artwork do último álbum de Head:Stoned, de que gostei imenso. Qual a relação entre o álbum e a imagem que escolheste para a sua capa? Obrigado. O título escolhido para o álbum era bastante forte, portanto a imagem teria que seguir todo esse conceito. Como também queríamos um som bastante homogéneo e, em certa medida, sujo, tentei transmitir tudo isso na capa. Tens formação específica na área? Se sim, onde a obtiveste? Se não, como te surgiu a ideia de te dedicares a essa área artística, para além da música extrema? A formação que tenho vem de uma vida ligado às artes. Quando me tornei profissional em Artes Gráficas, fui adquirindo, ao longo dos anos, conhecimentos suficientes para poder elaborar a minha própria Arte. Tudo isso aliado a um forte sentimento que nutro pelo que faço origina os ingredientes que estão na origem o que observam quando apreciam os meus trabalhos. Quais são as tuas fontes de inspiração? Vem-me de artistas como Travis Smith, Dave McKean, Misha Gordin, Jerry Uelsmann, entre outros, que me ajudaram a abrir ainda mais os meus horizontes artísticos. De resto, a própria natureza e até mesmo os sonhos influenciam-me sobremaneira. E que técnicas usas habitualmente nos teus trabalhos gráficos? Tudo o que faço tem como pronto de partida

duas fotografias no mínimo. À medida que o esboço vai ganhando forma, vou anexando mais fotos ao trabalho. Depois, adoro trabalhar a cor e as texturas e esses ingredientes constituem um marco importante na minha arte. Os brushes e as diferentes texturas dão um toque poético aos meus trabalhos. Queres referir algum trabalho que vejas como uma excepção às tuas regras? Eis uma pergunta difícil. Apesar de sentir uma evolução enorme entre os meus primeiros trabalhos e os que tenho feito nos anos mais recentes, adoro-os a todos. Mesmo que tenha alguns que se destacam, todos eles fazem parte de mim, sem excepções! Mas, a escolher um, talvez o «Yearn for Change» (http://irondoomdesign.deviantart. com/gallery/?offset=96#/d26anf0) pela sua magnitude, sentimento, simplicidade... Podes fazer-nos uma visita guiada aos momentos mais significativos da tua carreira de artista gráfico? Felizmente, já tive alguns grandes momentos, de que me posso orgulhar bastante. Assim, tive a oportunidade de trabalhar com algumas bandas estrangeiras, o que me parecia algo utópico, há uns anos atrás. Tenho também obtido reconhecimento a nível nacional, com trabalhos meus espalhados por vários locais e a receberem comentários muito abonatórios em fóruns e sites consagrados, como é o caso do Olhares. No entanto, sinto que o ponto mais alto foi um destaque que recebi na


“[A inspiração] Vem-me de artistas como Travis Smith, Dave McKean, Misha Gordin, Jerry Uelsmann, entre outros,.” revista britânica “Advanced Photoshop”, mundialmente conhecida. Não posso deixar de referir o prazer que sinto em trabalhar com algumas bandas nacionais, nas quais fiz alguns grandes amigos e que me deram força para continuar esta luta constante que é fazer arte. O que te levou a escolher o nome “Irondoom” para designar o lado gráfico do teu trabalho artístico? Tendo a música um papel primordial na minha vida, decidi ligá-la à arte. Na altura de criar um nome para identificar a minha arte, juntei uma referência a uma banda que conheci e me trouxe para o metal fez agora 25 anos, os IRON Maiden, e uma alusão ao subgénero de metal que mais aprecio, o DOOM Metal. Quais são os teus planos para o futuro, nesta área de expressão? Continuar a fazer o que tenho feito até aqui, com a mesma dedicação e paixão. Tinha o sonho de fazer da Arte uma forma de vida a nível financeiro. Começo a notar cada vez mais que é um desejo utópico, mas vou tentando acreditar... Tens alguma mensagem em especial a deixar aos nossos leitores? A arte, que praticas como músico e designer, inspira-se na vida, mas também pode ajudar a desenvolver princípios que nos permitem analisar criticamente as nossas vivências. Agradeço a oportunidade de dar a conhecer o meu trabalho a quem não sabia da sua existência. A quem pretende inserir-se neste ramo artístico, recomendo que pratique muito e lute por aquilo em que acredita, se este for realmente um objectivo de vida! Eu sem arte não vivo, portanto deixem-me viver! Entrevista: CSA



O Heavy Metal forjado em Portugal no início dos anos 80 constituiu um modesto paramovimento do fenómeno designado “boom” do Rock Português que, não obstante o curto período de vigência – 1980/1983 –, mudou radicalmente a face da Música Moderna feita no país e a indústria musical lusa. Embora usufrutuários, à época, de assinalável exposição televisiva e radiofónica, esses grupos, formados entre 1980 e 1983, não passam, hoje, de meros desconhecidos para os headbangers nacionais (à exceção de formações como os Mac-zac, posteriormente Tarântula, sobejamente conhecidas). É deles que falaremos nesta edição. Na próxima, a terceira e última parte do artigo abrangerá o período compreendido entre 1984 e 1999. Musicalmente, os anos 80 portugueses ficaram marcados pelo “boom” do Rock Português, iniciado no verão de 1980 por Rui Veloso através do seu álbum de estreia, Ar de Rock (apesar do curioso trocadilho com “Hard Rock” o registo apresenta estruturas eminentemente Blues Rock, algumas tendentes para o up-tempo mas sem enveredar por sonoridades pesadas). Fundaram-se inúmeras editoras, quase todas de existência tão efémera quanto os agrupamentos cujos discos lançavam. Aliás, neste período grande parte das novas bandas não editou mais do que um ou dois singles, resumindo-se o historial de lançamentos de muitos selos a esses discos. Ainda assim, o fenómeno impulsionou de forma inédita a indústria musical portuguesa. A oferta de espetáculos ao vivo aumentou exponencialmente, viabilizando a profissionalização de empresas de som, luz e management. O retalho de instrumentos proliferava. Neste contexto, os concursos de Rock – então pomposamente conhecidos como “festivais de Rock”, embora o não fossem - grassavam em todo o país, assumindo crescente importância como mostra das novas bandas portuguesas. Cantar na língua-mãe tornou-se um imperativo de sucesso. Mesmo os grupos que sempre haviam usado a língua de Shakespeare como forma de expressão mudaram a sua forma de comunicar para o Português. Nesta fase surgiram referências do Rock luso como GNR, Táxi, Rádio Macau, Adelaide Ferreira, Street Kids, Salada de Frutas, entre muitos outros. A 18 de dezembro de 1980 Rui Veloso estreava em concerto o mais emblemático clube de Rock ao vivo alguma vez criado em Portugal: o Rock Rendez Vous (RRV), localizado na Rua da Beneficência, em Lisboa. Fundado pelo empresário Mário Guia, ex-


músico de bandas como os Objetivo, o RRV tornou-se o expoente máximo dos concertos em Portugal e a montra privilegiada dos novos grupos nacionais. Inúmeras bandas lusas de Metal aí tocaram. Nalguns domingos a matine de concertos dava lugar à passagem de “telediscos” (designação, à época, dos videoclips) da MTV, num ecrã gigante, oportunidades únicas de que os fãs dispunham para aceder visualmente a temas de bandas como Kreator, Iron Maiden, Helloween, Metallica ou Nuclear Assault, entre inúmeras outras. É necessário recordar que, na altura, não existia TV por cabo em Portugal e a Internet constituía uma miragem. No que se refere aos concertos internacionais nesta época a oferta aumentou timidamente, com vários agrupamentos a visitar Portugal até meados da década: Ian Gillan Band (que já haviam tocado em Portugal a 1 de dezembro de 1979), Narazeth, Uriah Heep, Cheap Trick, UFO, Status Quo, Girlschool, Rainbow com as Girlschool a abrir, Thin Lizzy, Diamond Head + Spider, Whitesnake, Kiss com primeira parte dos Helix e, finalmente, Iron Maiden.

Os filhos metaleiros do “boom” Os grupos nacionais praticantes de Heavy Metal formados entre 1980 e 1983, em pleno “boom” do rock Português, protagonizaram a segunda vaga do som pesado lusitano, tendo a primeira vigorado nos anos 70 (o modesto embrião dos sixtees não é significativo para este enquadramento conceptual). Originalmente designados Conjunto Típico Torreense e atuando como grupo de baile, os CTT assumiram esta designação em 1980, quando enveredaram por uma linguagem musical roqueira, na tentativa de aproveitar o “boom” do Rock Português. Com efeito, o quinteto formado por Rui Plácido (voz), Monteiro e Hernâni (guitarras), Teixeira (baixo), Augusto Alves (teclados) e Gabriel Matos (bateria) passou brevemente pelo Heavy Metal com o lançamento do single “Destruição”, cujo tema-título se tornou um êxito, com direito a teledisco. No entanto, à parte uma ou outra passagem mais arrojada nos temas do seu repertório e o facto de terem aberto o concerto das Girlschool a 10 de dezembro de 1981 no Pavilhão dos Olivais, em Coimbra, nada mais liga a banda ao Som Eterno. O mesmo não podemos afirmar dos NZZN que, imbuídos do verdadeiro espírito do “Rock da pesada”, iniciaram a carreira em 1980 interpretando ao vivo temas dos Van Halen, Led Zeppelin, Black Sabbath ou AC/DC. Posteriormente enveredaram pela composição de originais, editando os singles “Vem daí” (cujo tema-título alcançou o lugar cimeiro do programa radiofónico “Rock em Stock”) e “Tripe Fixe”, bem como o LP Forte e Feio. Apesar da participação em icónicos programas televi-


sivos e radiofónicos que lhes proporcionaram grande exposição mediática, traduzida em numerosos concertos, o grupo encerrou funções em meados da década, tendo realizado um único espetáculo de reunião a 30 de dezembro de 1994 no Ruína Bar em Albufeira, no Algarve. Também fundados em 1980, os não menos importantes Roxigénio tinham no frontman António Garcêz (ex-Psico, ex-Pentágono, exArte & Ofício) um dos seus maiores trunfos. Filipe Mendes (guitarra, ex-Psico, ex-Heavy Band), José Aguiar (baixista dos Tarântula há mais de 20 anos) e o brasileiro Betto Palumbo (bateria) completaram a formação original, que viria a sofrer várias alterações. Para a história do Heavy Metal luso ficaram muitos concertos e os álbuns Roxigénio, Roxigénio 2 (que incluiu o êxito «Stiff Nicked Obstinated») e Rock ‘n Roll Men (um fracasso comercial), além do single Song at Middle Voice. Na Nazaré, igualmente em 1980, surgiram os Alarme, fundados por Carlos Cavalheiro, ex-vocalista dos Xarhanga e 5 Napolitanos. Com a formação completa por Altino Borda D’Água (guitarra), Orlando Borda D’Água (baixo) e Vítor Bombas (bateria) o grupo venceu no ano seguinte o Festival [NR: concurso de bandas] Só Rock, cujo prémio foi a gravação e edição do single “Desconto Especial”, bem recebido comercialmente. A 11 de agosto de 1982 o grupo abriu para os britânicos Dr. Feelgood na Praça de Touros da Figueira da Foz e a 3 de dezembro do mesmo ano fez a primeira parte do concerto dos Rainbow (com as convidadas especiais Girlschool) no Dramático de Cascais. Deu por finda a carreira no ano seguinte, apesar das várias aparições televisivas e airplay radiofónico. Em 2009 a banda regressou ao ativo, lançando em janeiro do ano passado o álbum de estreia, Estamos Aqui!, que além do single do mesmo nome inclui regravações dos temas editados nos anos 80 e vários inéditos. Atualmente integram o grupo Carlos Cavalheiro (voz e baixo), Abílio Caseiro (guitarra) e Abílio Ferro (bateria). Também fundados no início da década, os Bico D’Obra incluíram na formação Jorge Caetano (voz, baixo), José Arromba (guitarra), Arnaldo Nolas (teclados) e Filipe Fininho (bateria). O grupo da Bairrada deixou para a posteridade os singles A Rasgar é C’a Gente S’Entende e Portugal / Os Fora da Lei, ambos editados pela Roda Rock, subsidiária da J.C Donas, com ligações à Valentim de Carvalho. Participaram em 1981 na Grande Maratona do Rock Português, no Pavilhão do Cevadeiro, em Vila Franca de Xira, e na compilação Rock Português, do mesmo ano. Algum êxito obtiveram igualmente os AZVZ (formados em 1983), com a edição do single Passageiro da Noite e de um álbum. Integravam a banda o vocalista Paulo, o guitarrista Rui, o baixista Zé Soares, o teclista Nando, o saxofonista Zé Luís Gutierres e o baterista Zé Luís. A 17 de abril deste ano os AZVZ subiram ao palco do Heritage Bar, em Loures, na apresentação do álbum de estreia dos Primeiro Instinto, para homenagear o falecido cantor original. O início dos anos 80 viu ainda Francisco Landum (voz e guitarra, futuro Ibéria) formar os TNT, cujo line-up se completou com C. Frederico (guitarra), C. Casimiro (baixo) e V. Cruz (bateria). O single de estreia, Tudo Bem, valeu grande sucesso ao coletivo, não repetido com os singles Gatinha de Luxo e Miragem, embora o quarteto obtivesse ao longo da sua curta carreira bom airplay na rádio e na TV, por via do teledisco de «Tudo Bem». Por outro lado, os Vasco da Gama formam-se em 1982 com Luís Sanches na voz, Carlos Jorge Miguel na guitarra, Tó Andrade no baixo e Gil Marujo na bateria. De carreira breve, porém


marcante, deixaram para a história do Som Eterno português o álbum homónimo, lançado em 1983 pela Discossete. Em 1988 a editora lançaria um 3-way split com três temas do agrupamento, as canções do primeiro single dos Ibéria e quatro temas dos Samurai. Entre os mais importantes espetáculos dos Vasco da Gama contam-se indubitavelmente a primeira parte dos Diamond Head e seus convidados especiais Spider no Pavilhão D’Os Belenenses, em Lisboa, a 11 de maio de 1984; bem como dois concertos a 21 e 22 de junho seguinte no Rock Rendez Vouz. Mais obscuro seria o único single editado a solo por Leonel Auxiliar em 1983, com os temas “Canção” e “Vídeo”, numa linha de Hard’n Heavy Progressivo, experimental e declamativo, claramente à frente do seu tempo dada a total inobservância das convenções estabelecidas. Captado na Alemanha, o registo deveria incluir mais duas canções, entre as quais «Diabo à Solta», que a editora recusou. No single o cantor foi acompanhado pela banda alemã Frapan. Cidadão do mundo, em 1985 Auxiliar compôs 12 temas para um álbum que deveria intitularse Guerrilha Urbana, tendo mesmo gravado algumas canções na Finlândia, que porém nunca chegaram a ser editadas. Também os Fluxus gozaram de modesta e breve exposição mediática. Formados em 1981 eram constituídos por Carlos (voz), Quim Zé e António (guitarras), Armando (baixo e assobios), Pratas (teclados) e João Lúcio (bateria). O único registo editado, o single Puto Quéque / Portuguese Woman (com selo Arnaldo Trindade / Orfeu), abordava a música numa linha Rock / Blues, com peso substancialmente acrescido no tema «Puto Quéque». Menos glória ainda bafejou os Stratus, um dos inúmeros grupos forjados à pressa pelas editoras em pleno “boom” visando meramente o lucro fácil. Originária de Coimbra, a banda viu o seu curto trajeto resumir-se ao single Um Chuto no Quarto, de 1982, escrito pelo líder, J. Carvalho, e editado pela Vimúsica. Segundo o blogue «Under Review» “o seu som era primário e mal produzido, podendo ser caracterizado por uma espécie de hard rock terceiro mundista, facto ainda mais acentuado pelo teor dos títulos das suas canções, letras das mesmas e até capa do single.” Ainda assim, abriram as hostilidades num concerto dos The Raincoats em Portugal. Finalmente, os Cesário Esmifroaço & Caos Aparente, influenciados pelo Heavy Metal e pelo Punk que nos chegava do Reino Unido foram uma das primeiras bandas nacionais a gravar uma demotape, homónima, de pendor comercial. Estávamos na primeira metade dos anos 80. Dico Textos detalhados em www.soundzonemagazine.blogspot.com. Texto escrito ao abrigo do Novo Acordo ortográfico


No nº 13 da Versus Magazine, que saiu em Abril de 2011, foi publicada uma entrevista a Lifelover que eu própria conduzi. Infelizmente, cabe-me agora a ingrata tarefa de escrever um texto de homenagem a B (Jonas Bergqvist), falecido a 9 de Setembro de 2011, que, em 2005, fundou a banda com ( ), cujo verdadeiro nome é Kim Carlsson. Chamava a atenção por tocar habitualmente com a cabeça ocultada por um capuz que só permitia ver os seus olhos e deixava um pouco da boca a descoberto Segundo declarações da banda, esta irá ainda cumprir datas previstas para este mês e Outubro de 2011, aproveitando para homenagear o malogrado companheiro, e depois cessará a sua

existência. E assim acaba um projeto musical, que, em seis anos, lançou quatro álbuns e se tornou conhecido pela invenção de algo a que chamaram “narcotic metal”. Apesar de ter morrido aos 25 anos, B teve uma carreira cheia de momentos interessantes. Em Lifelover, era o principal compositor, para além de assegurar os vocais secundários e de tocar guitarra e piano. Mas fez também parte de outras bandas, de entre as quais destacamos IXXI, onde era guitarrista, sob o nome de Natdall, tendo participado em três álbuns. O último – “Elect Darkness” – saiu em 2009. Na entrevista ao vocalista principal da banda que B ajudou a fundar, perguntava-se a ( ) o que previa para o futuro da banda,

ao que este respondeu que tudo podia acontecer, pensando em hipóteses como continuar a explorar a veia da música depressiva ou, pelo contrário, pensar em novos caminhos a percorrer. Infelizmente, o futuro não foi generoso para Lifelover e, salvo alguma reviravolta, “Skjukdom”, lançado em Fevereiro deste ano, será mesmo o último trabalho da banda. “To us, Jonas wasn’t just a very creative artist, but also a pleasant and enthusiastic person. It is for certain that we won’t be the only ones missing his character, his passion, and his unique musical language.” (Prophecy Productions, in a declaration issued in facebook) CSA


Locutor e realizador de rádio, DJ, jornalista, editor discográfico, produtor, especialista e divulgador musical, António Sérgio marcou para sempre a rádio e a música portuguesas. A sua enorme honestidade, ampla cultura, carisma inigualável, profissionalismo irrepreensível e genuína paixão pela música influenciaram milhares. No segundo aniversário da sua morte, a 1 de novem-

bro de 2009, a Versus Magazine presta-lhe a devida homenagem. António Sérgio Correia Ferrão nasce na cidade angolana de Benguela a 14 de janeiro de 1950. Os pais, locutores do Rádio Clube do Bié, incutem-lhe desde muito cedo a cultura radiofónica. Em 1968, já em Lisboa, António Sérgio estreia-se na Rádio Renascença. Coapresenta com a mãe os programas “Encontro para Dois”

e o mítico “Quando o Telefone Toca”. Rebelde e inconformista, vê nos programas de autor a mais eficaz forma de expressão e divulgação da cultura musical que na época escapava aos portugueses. Em 1976 cria o programa “Rotação”, que apresenta até 1979, sendo pioneiro na divulgação em Portugal de inúmeros grupos e artistas a solo internacionais de primeira linha. Torna-se conhecido também pela sua voz forte, potente, bem colocada e aprazível. Sempre na vanguarda do que de melhor e mais recente se fazia no Rock, na New Wave, na Pop, no Punk ou no Heavy Metal mundiais, a partir de 1980 António Sérgio realiza e apresenta na RDP - Rádio Comercial os programas “Rolls Rock”, entre 1980 e


1982; “Som da Frente”, de 1982 a 1993; “Louras, Ruivas e Morenas”, em 1984; e “Lança-Chamas”, na década compreendida entre 1983 e 1993; programa que a emissora tenta encerrar por diversas vezes. Consegue-o em 1993, levando Sérgio o “Lança-chamas” para a Rádio Energia, onde termina definitivamente pouco depois. Entre 1993 e 1997 António Sérgio dá voz ao programa de Blues “Grande Delta” na XFM. O fim da estação dita o regresso à Comercial, onde apresenta “As Horas”. Em simultâneo, na Best Rock FM faz” A Hora do Lobo”. A 14 de setembro de 2007 a nova gerência da Rádio Comercial dispensa o radialista, sob efusivo protesto dos ouvintes. Alegada-

mente, o seu programa de autor não se enquadrava na nova grelha, estruturada em playlists. O locutor ingressa então na Rádio Radar para realizar e apresentar “Viriato 25” e a rubrica “SOS Radar” até à sua morte, a 1 de novembro de 2009, de ataque cardíaco. Em vida, António Sérgio viu a sua obra ser reconhecida publicamente variadas vezes e de formas diferentes mas não com tanta regularidade como seria justo. Em 1999 recebe um Globo de Ouro na categoria de rádio e em 2008, na comemoração de quatro décadas de trabalho dedicadas em exclusivo à música, é merecidamente considerado pela revista “Blitz” uma das 50 personalidades mais importantes da Música Portuguesa.

Durante o seu trajeto profissional ímpar António Sérgio trabalha ainda nas editoras Nébula, Nova (onde coproduz o álbum Música Moderna, dos Corpo Diplomático), Rossil (em que funda e dirige a subsidiária Rotação, lançando os Xutos & Pontapés com o single Sémen) e Música Alternativa. Enquanto jornalista escreve nos jornais “Blitz” (onde dirige o suplemento mensal “Manifesto”) e “Independente”. Em 2006 passa a fazer vozoff na SIC. É justamente considerado a nível nacional e internacional um dos mais influentes divulgadores de música Rock, Pop e Alternativa. Apesar de extremamente lisonjeiro, o epíteto de “John Peel português”, que muitos lhe atribuem, revela-se bastante redutor e limitador da sua originalidade e trabalho realizado. Dico Fotos: http://www.sxc. hu/ Texto redigido ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico


Lança-chamas um programa ímpar O trabalho radiofónico de António Sérgio influenciaria não só a formação de um apreciável número de grupos, fanzines, clubes de fãs e outros projetos relacionados, mas também a criação de inúmeros programas de autor em pleno boom das rádios pirata e locais (escola de várias referências atuais do éter nacional), impulsionando diretamente e de forma significativa o desenvolvimento do Underground metálico português dos anos 80. Fui um dos muitos milhares de bafejados pela sorte de “frequentar” a “universidade de Heavy Metal” que era o “Lança-Chamas”, verdadeira escola no sentido mais amplo do termo, tal a quantidade e qualidade musical e informativa que nele se descobria. Influente como poucos, o “programa deu a conhecer aos headbangers nacionais inúmeros grupos estrangeiros já estabelecidos ou em início de carreira. Todas as novidades figuravam no programa, que não esquecia o Underground. Com o ingresso de Paulo “Scorp” Fernandes (vocalista dos Cruise) e Gustavo Vidal (presidente do clube de fãs Heavy Metal Zombies Paranoid e responsável da fanzine “Renascimento do Metal”) na equipa (António Freitas também havia de por lá passar, como assistente do Mestre no final dos anos 80), os fãs passaram a conhecer as mais recentes bandas e fanzines portuguesas, os clubes de fãs, os concertos ou as matinés de domingo no mítico Rock Rendez Vous (em que havia concertos nalgumas semanas e passagem de música com transmissão de clips da MTV noutras). Contudo, apesar do enorme êxito alcançado, nos últimos anos de emissão a direção da Rádio Comercial tentou por diversas vezes encerrar o programa. Indignados, os milhares de fãs respondiam massivamente com cartas de protesto, mantendo o “Lança-chamas” no ar. Até que, no início dos anos 90, a privatização da emissora ditou mesmo o fim do programa, que passou a ser realizado na Rádio Energia por um breve período até encerrar definitivamente, deixando uma lacuna impossível de preencher no meio radiofónico metálico em Portugal. Infelizmente, nunca poderemos agradecer o suficiente ao António Sérgio por ter enriquecido as nossas vidas de uma forma tão intensa, apaixonada, marcante e definitiva. Mas continuaremos, para todo o sempre, a ouvir ecoar a sua voz nas nossas mentes e corações. Muito obrigado e até sempre, Amigo!


ARCH / MATHEOS «Sympathetic Resonance» (Metal Blade Records) Mais do que uma colaboração pontual entre Jim Matheos, membro fundador dos Fates Warning (FW), e John Arch, ex-vocalista dessa mesma formação icónica do metal progressivo, este é o primeiro álbum de uma banda que, aparentemente, está aí para continuar. E ainda bem que é assim pois o reencontro destes dois portentos de talento acaba de se saldar num resultado que concretiza o sonho mais húmido de qualquer fã de prog. É certo que os dois músicos registaram já trabalho conjunto, em 2003, no EP «A Twist of Fate», contudo só com este longa-duração é que a dupla conseguiu recriar com sucesso um pouco da mística subjacente ao lendário «Awaken the Guardian». Tudo porque, apesar dos 25 anos que passaram desde o lançamento desse marco na carreira dos FW, Arch mantém as suas cordas vocais intactas, continuando a produzir aquele anasalado de sonho que nos deixa de ouvido aguçado a saborear toda a emoção de cada uma das suas linhas vocais. No que toca à música, este é reconhecidamente o modus operandi dos FW, facto que não admira, dado que pelo menos três das seis faixas do álbum estavam já destinadas ao próximo disco da banda de Matheos. Ainda assim estamos muito longe do tipo de material presente no último álbum, «FWX», sendo aqui a música muito mais dinâmica, com malhas mais complexas e passagens instrumentais mais sumarentas, o que a torna, em geral, bem mais ajustada à voz de Arch do que à de Ray Alder. Como seria de esperar todos os instrumentistas se pautam por exibições de grande calibre, ou não estivéssemos a falar do line-up dos FW. No entanto não resisto em chamar a atenção para o baterista Bob Jarzombek, pela performance de cortar a respiração com que nos brinda em todo o disco. «Sympathetic Resonance» acaba por ser um álbum bem ao nível do melhor que os FW nos proporcionaram no passado, e quem conhece a banda norte-americana sabe que isto é dizer muito. [9.5/10] Ernesto Martins


40 WATT SUN «The Inside Room» (Cyclone Empire) 40 Watt Sun é o novo projecto do vocalista Patrick Walker, antigo membro dos Warning, que é acompanhado na bateria por Christian Leitch, ex-The River, e pelo baixista William Spong, e que grande álbum de estreia que nos apresenta este trio. Trata-se de um álbum apaixonante e apaixonado, com músicas fortes, e ao bom estilo do doom metal com notas lentas, graves, bateria muito marcada e com um óptimo acompanhamento dos instrumentos de cordas. A nível vocal trata-se de uma voz limpa, bem colocada, que pela emoção que transmite à música quase que possibilita apalpar as palavras/sentimentos. Para quem gosta de doom metal mais tradicional e não querendo generalizar, sabe que este género não se caracteriza pela velocidade (antes pelo contrário) ou mesmo pela técnica musical dos intérpretes, mas sim por letras que roçam a arte poética e por um ambiente melancólico, introspectivo e por vezes até depressivo, o que o torna num estilo musical nem sempre de fácil audição e este «The Inside Room» não foge à regra. Embora contendo apenas cinco músicas (a de menor duração tem 6min55s) e apesar de ser apenas o primeiro registo da banda, os anos em que passaram em bandas do mesmo género, permitiu aos 40 Watt Sun estriarem-se com um álbum de uma qualidade tão assinalável. A título de curiosidade vai haver uma edição em vinil que irá conter mais uma música intitulada “Take Me In”. [9/10] Sérgio Pires ANAAL NATHRAKH «Passion» (Candlelight) Para nos lembrar o que há de mais podre e abominável na existência humana, aqui estão de regresso os necro-terroristas Anaal Nathrakh com o que aparenta ser um dos cocktails mais odiosos e devastadores de black/death/grind de que há memória. Usando alguns elementos industriais e, desta vez, ainda mais blast beats do que o costume, os temas deste sexto registo de originais são cuspidos ferozmente a uma velocidade verdadeiramente homicida, quebrando só ocasionalmente em andamentos mid-paced os quais enaltecem ainda mais as explosões selváticas de raiva que se sucedem. Ao contrário dos dois álbuns anteriores, «Passion» volta a dar relevo à componente black metal que originalmente dominou a arte iníqua da formação britânica, o que é por demais evidente nos riffs de “Drug fucking abomination” e de “Le diabolique est l’ámi du simplement mal”, bem como nas linhas de guitarra em tremolo que usam (e até abusam) ao longo do disco todo. Como sempre, V.I.T.R.I.O.L. (Dave Hunt) é absolutamente arrepiante na sua performance, ora berrando/grunhindo como se não houvesse amanhã a ponto de quase cuspir os próprios pulmões (perto dele a maioria dos vocalistas são autênticos meninos de coro!), ora com magnificas vocalizações limpas e dramáticas que usa aqui com mais frequência nos refrões. «Passion» pode até não ser o melhor de sempre da dupla Hunt/Kenney, mas não há dúvida que traduz bem a imagem ameaçadora – mas inebriante – de um niilismo sem redenção e dum genocídio sónico que não dá tréguas. Em volumes elevados pode afectar o equilíbrio e até produzir náuseas. Estão avisados! [8.5/10] Ernesto Martins ANCIENT ASCENDANT «The Grim Awakening» (Siege of Amida Records) Para quê ficar pela nostalgia dos inóspitos recantos dos primórdios do Death-Metal podre e carrancudo, sujeitando-nos à audição das mesmas envenenadas melodias que surgiram há quase 20 anos, quando há quem crie o que tem tanto de qualidade como de garra? Bem, quando comecei a ouvir o que se tornou o meu estilo preferido (aparte do Doom e Black) os integrantes de Ancient Ascendant tinham 4 a 5 anos mas quão bem faz saber que estes cortaram quaisquer amarras com a jocosidade “mtv-boring” e evoluíram além do que é mundano. Entranhado em latejantes atmosferas que têm o seu q.b. de inusitado, este agrupamento britânico mostra possuir uma certa avidez em guerrear contra qualquer pálida harmonia. Com este seu primeiro álbum, dão a conhecer que são instrumentistas capazes de uma vistosa complexidade, não sendo estranho dizer que de certeza conquistarão sem qualquer esforço o mais acérrimo adepto do estilo. Embora as músicas nunca alcancem uma ultrajante velocidade, (para quê quebrar a barreira do som?), a qualidade está tão vincada que até os Bolt Thrower os escolheram para abrir o primeiro dos seus concertos de 2010 em Londres. Se «The Grim Awakening» já tem uma inusitada musculatu


ra instrumental (editaram antes uma demo e dois EPs), então há a certeza de que quando a banda é referida em qualquer cartaz o melhor é agarrar o melhor meio de transporte para um espectáculo de qualidade!!! [8.5/10] Jorge Ribeiro de Castro ANTERIOR «Echoes of the Fallen» (Metal Blade Records) Quatro anos separam o registo de estreia dos britânicos Anterior deste novíssimo «Echoes of the Fallen» produzido por Scott Atkins. Quem esperou ansiosamente por este recente trabalho não vai ficar decepcionado, uma vez que é notório o amadurecimento da banda que tecnicamente e musicalmente se mostra bastante mais refinada, e aparentemente encontrou o trilho que quer seguir para o futuro. Sempre com um som progressivo como imagem de marca, este álbum tem passagens também por um death metal melódico e alguns registos thrash, alternando ritmos rápidos com cadência mais lentas e mais marcadas sempre com uma bateria poderosa e uma guitarra permanentemente pronta a soltar um solo estridente e bem estruturado. A principal nota negativa é a presença algo discreta do baixo que muitas vezes acaba “abafado” pela bateria do James Cook, o que me levou a baixar um pouco a nota atribuída. Não sendo o melhor álbum de 2011, é um álbum bem conseguido e que deixa apetite para saber até onde Luke Davies e seus pares conseguem chegar. Por agora, o futuro avista-se risonho para os Anterior tendo já finalizado uma tournée pelo Reino Unido que aconteceu nos fins de Setembro inícios de Outubro. Destaco a música de abertura, “To live not remain”, que dá o mote para o que se vai ouvir ao longo das dez faixas que compõem «Echoes of the Fallen». [8/10] Sérgio Pires AS HELL RETREATS «Volition» (Ain’t No Grave Records) A vida contém uma plenitude de harmonias e discordâncias, palavras e actos que influenciam o modo de cada um ver o universo. Apesar do que qualquer magnânimo ser pretende transmitir devido à sua perfeita visão acerca do que deve ser a vida, há quem queira controlar os seus próprios passos, vivenciar, experimentar e racionalizar segundo uma propriedade mais intimista. Aliás, é o que o próprio nome do álbum transmite… As Hell Retreats é uma jovem banda de Hendersonville (EUA) que mostra logo à primeira audição ser influenciada pelos grandes mestres da trucidação matemática: Meshuggah. Claro que também existem certos apontamentos melódicos que se apegam à alma mas também aquela panóplia tão comestível por certos jovens, a base mais do que apodrecida designada por Death-Core, que não retira muita qualidade à banda, isso sendo feito devido a uma certa falta de originalidade. Não me levem a mal, apenas tenho os ouvidos saturados… Aliado à música há o conceito lírico deste álbum em que, a cada faixa, há um capítulo de uma história que dá a conhecer que a personagem principal atravessa um período de depressão e amargura, uma torrente de angústia que a leva a considerar a sua existência como não tendo um final feliz… até encontrar uma verdade bíblica, o caminho para a luz, a salvação nos braços do redentor. Okeys, não há algum mal nisso, cada um vive como desejar, mas se calhar a partir da 13ª faixa poderia haver um outro capítulo designado por “ovelha subjugada”. [7/10] Jorge Ribeiro de Castro BATTLECROSS «Pursuit of Honor» (Metal Blade Records) Quando ouvi pela primeira vez este «Pursuit of Honor»(PoH), álbum de estreia dos Battlecross para a Metal Blade Records, a impressão com que fiquei foi que tinha ouvido um som maçudo e repetitivo que não trazia nada de especialmente novo ao thrash/death metal mais melódico, apesar dos riffs poderosos e de uma voz rasgada de qualidade. Ouvindo o álbum novamente e prestando um pouco mais de atenção, apesar de não ter mudado radicalmente de opinião, acabei por dar o braço a torcer e admito que este trabalho tem bons pormenores. A qualidade


dos músicos é bastante apreciável, mas o elemento “mais” da banda é claramente o baterista, Mike Kreger, que mostra um trabalho notável com os bombos e um excelente uso dos pratos, sempre em alternância de ritmos, sendo a música “Deception” um bom exemplo da sua qualidade. Os Battlecross mostram uma energia enorme, tendo confeccionado um álbum que acaba por ser razoável mas que é também o típico exemplo de que nem sempre se deve por “a carne toda no assador” porque pode dar azo a músicas confusas, fazendo lembrar de facto um “campo de batalha”. Assim «PoH» vai ficar encostado na prateleira à espera do seu sucessor, porque apesar de não deixar grandes memórias, a qualidade dos músicos não engana, tendo estes talento mais que suficiente para fazer coisas melhores no futuro. Em benefício da dúvida decidi dar uma nota um pouco melhor. [6.5/10] Sérgio Pires BLINDEAD «Affliction XXIX II MXMVI» (Mystic Production) Esta banda Polaca conta já com dois álbuns e ainda o EP «Impulse» na calha sendo este «Affliction XXIX II MXMVI» o seu mais recente registo de originais. Comparando com os álbuns anteriores, a sonoridade mantém-se dentro da mesma linha Progressive Doom, sem alterações radicais de estilo ou grandes inovações. Neste álbum temos uma linha marcadamente melódica e atmosférica que cria um ambiente quase intimista que transporta quem ouve para uma dimensão sonora psicadélica. Resultado destas composições mais melódicas que persistem do princípio ao fim do álbum, não se encontram solos ou riffs complexos, já que não é de todo um álbum declaradamente técnico. Mas tudo isto não deixa de lado o pendor grave e pesado mantendo a banda fiel ao estilo Progressive Doom que a caracteriza. Apesar dos riffs bem ligados e bem construídos, em alguns momentos do álbum há um certo arrastamento dos sons sintetizados em detrimento das guitarras. Mas julgo ser claramente uma opção estética que permite ao álbum manter a mesma consistência do princípio ao fim. As vocalizações de Nick (Patryk Zwolinski) oscilam entre o limpo e a ênfase no gutural e apesar da versatilidade da voz, não se perde em divagações sem nexo, mantendo uma lógica de consistência com as dinâmicas do resto da composição. O resultado final é bastante bom. Este álbum conta com uma excelente produção e não deixa ao acaso o mais pequeno pormenor. [8.5/10] Sérgio Teixeira DIAMOND PLATE «Generation Why?» (Earache Records) Os Diamond Plate são mais uma banda Norte-Americana que decidiu revelar-se este ano, pela porta grande, com um disco de estreia. Trata-se de um trabalho sóbrio, electrizante até ao limite, bem tocado, com boas composições e uma produção, a cargo do experiente Neil Kernon, que de tão meticulosa quase transforma este álbum num relógio complexo em que todos os mecanismos actuam sincronizados na perfeição. Não temos originalidade para desfrutar até à exaustão, pois quase tudo o que ouvimos neste álbum se enquadra estruturalmente em Thrash clássico, ainda que revitalizado com uma energia muito própria. Há alguns detalhes, para além de uma sonoridade “made in 2011”, que tiram este álbum da mediania; globalmente as estruturas das composições acertam sempre no alvo, desde riffs a cem à hora a puxar pela adrenalina, até aos breaks no tempo certo sem quebrar a fluidez das músicas. Mas onde temos algo de essencialmente diferente é a voz do também baixista Jon Macak. Aqui de facto não é fácil arranjar termo de comparação. A colocação da voz sempre colada no “red line” dos agudos com um timbre rouco atira as vocalizações para um registo monotónico onde a falta de versatilidade é por vezes notória. Por isso julgava eu que ia mais cedo ou mais tarde encostar este álbum a ganhar pó no escaparate das sobras. Para minha surpresa dou comigo a ouvir cada vez mais viciadamente esta mistura paradoxal entre uma voz desregrada mas única e uma qualidade instrumental e de composição próximo da excelência. [8.5/10] Sérgio Teixeira


EXHUMED «All Guts, No Glory» (Relapse Records) Já com 21 anos de existência, vários álbuns e carradas de splits, os californianos Exhumed estão de volta depois de uma longa pausa. As energias estão recuperadas e poderão ser apreciadas neste «All Guts, No Glory», que sem reservas é um poderoso par de lambadas na cara do ouvinte que pensava que o troféu do Death Metal já estava reservado. Não está, longe disso, porque os Exhumed surgem com um Death Metal carregado de Grind e promete fazer furor aos amantes do género. Gravado com Ryan Butler (Misery Index) num estúdio e com John Haddad (Abysmal Dawn, Intronaut) noutro estúdio, misturado e masterizado por Brian Elliot (Graves of Valor), todos os argumentos foram bem arranjados para que a experiência deste álbum fosse palpável, como se a experiência audível progredisse para níveis físicos. E realmente estamos perante um álbum fabuloso, pesado como a banda já nos habituou, com riffs bem esgalhados, ritmos alucinantes e solos deliciosamente dolorosos que nos fazem berrar por mais. Temas como “As hammer to anvil”, “Your funeral, my feast” (no final estaremos todos a berrar “Your funeral, my feast” num ritmo cadavérico), “Dis-assembly line” pela loucura do solo, proporcionarão bons momentos Grind/Death Metal como manda a lei. Podem não ter o mérito que mereciam, mas fica aqui uma lição de como é que se faz – sem grandes esfregadelas nem engraxadelas. Resta-nos fazer fisgas para que passem cá por Portugal, e que não demorem mais seis anos pelo sucessor. [8/10] Victor Hugo ICEAD EARTH «Dystopia» (Century Media) Raios! Como estes “gajos” são bons! Muito provavelmente, até esta data o álbum mais pesado dos Iced Earth (IE). Prazer extremo, altamente viciante. John Schaffer (JS) continua um Mestre e sempre rodeado dos melhores músicos. Como é óbvio, não nos podemos abstrair do substituto de Matt Barlow: Stu Block! (Into Eternity). O ponto-chave de «Dystopia», uma mais-valia e uma performance de grande nível! Não digo que faz esquecer Matt Barlow porque este terá para sempre o seu nome gravado na história dos IE. Da mesma maneira que «Horror Show» (O tributo dos IE às personagens de filmes e literatura) nasceu o interesse de JS por temas distopianos de literatura e filmes bem patentes nos temas “Dark City”, “Equilibrium”, Soylent Green e “V for Vendetta”. Musicalmente, não há nenhum tema que sobressaia, são todos do que melhor os IE sabem fazer… mas mais pesados! As típicas “cavalgadas”, riffs dinâmicos, pesados, harmonias soberbas e mais uma vez… Stu Block! Para quem acompanha os IE há muito tempo, este álbum contem dois temas de especial interesse: “Dystopia” e “Tragedy and Triumph”. Isto porque recuperam a história de «Something Wicked» e a mascote “Set Abominae” que em «The Crucible Of Man» tinha assumido a sua posição de governante do mundo. (Para quem não sabe quem é “Set Abominae” e não conhece a sua história, esta é uma boa altura para conhecer, também, um pouco da história dos próprios IE.) Dystopia significa, basicamente, um sítio desgraçado e miserável para viver e a capa representa, muito fielmente, esse conceito. Por último, “Dystopia” foi gravado nos míticos estudios de Jim Morris e a produção, gravação e mistura são feitas pela dupla Morris/Schaffer. Estamos em Outubro/Novembro e, para mim, certamente será o álbum do ano! A nota não podia ser outra… [10/10] Eduardo Ramalhadeiro ICHOR «Benthic Horizon» (Siege of Amida Records) Esta banda Alemã criada em 2008 volta à carga com o seu segundo álbum densamente povoado de puro Death. Ainda com uma curta carreira, poucas dúvidas restam quanto ao sentido do surgimento destes germânicos no mundo da música: fazer Death Metal sem dó nem piedade. Acreditando no som que nos é proporcionado, em termos de execução técnica esta banda tem praticamente tudo o que é necessário para assentar em solo firme. Quem espera um álbum ao ataque com riffs bem estruturados, alguns mesmo complexos, um som de bateria e baixo que não ficam atrás, complementados com uma boa produção tem


aqui algo para digerir certamente durante uns tempos. As vocalizações com pendor gutural cumprem o exigido fechando a sonoridade com chave de aço. Nestas andanças do Death Metal é opinião cada vez mais unânime que o surgir de álbuns com originalidade é cada vez mais difícil e este registo deixa transparecer isso mesmo. Se por um lado a originalidade não impera, será por aí que se pode dizer que «Benthic Horizon» é nem mais nem menos do que puro Death. Porém tem de se reconhecer que cada faixa tem a sua própria personalidade, a sua identidade estética e com isso dá uma identidade própria a este registo. Tudo somado temos algo que fica próximo do melhor compromisso entre sonoridade, identidade e técnica que resulta neste «Benthic Horizon» cheio de peso e alma. [8.5/10] Sérgio Teixeira INSOMNIUM «One For Sorrow» (Century Media) Os Insomnium provavelmente devem ser a banda que mais brilha a fazer um som darktranquillitiniano. As semelhanças são muitas, mas ao mesmo tempo que pegam em texturas melódicas com vocalizações agressivas e frias, harmonizadas com vocalizações claras e quentes, os finlandeses distinguem-se dos suecos porque já constituem uma identidade própria, já se conseguem isolar das demais bandas que copiam o estilo. Já é possível distinguir acordes que caracterizam o estilo dos Insomnium, e a voz de Niilo Sevänen é igualmente única. Pegando já nas vozes, este 5º álbum apresenta mais vocalizações limpas que os anteriores; as agressivas continuam a marcar presença, mas a comunhão com as duas está muito boa não havendo perca em nenhuma delas. O instrumental é o que poderíamos esperar de qualquer lançamento dos Insomnium - “Inertia” abre o álbum num ambiente misterioso e sereno, deixando o ouvinte expectante e curioso por o que poderá surgir; ainda dentro do mesmo tema surge a agressividade e melodia criada pelas harmoniosas guitarras acompanhadas pelas texturas dos teclados. “Through the shadows” é o single de avanço, um típico tema dos Insomnium que poderia pertencer a qualquer álbum da banda; e ao longo do álbum podem contar com bons momentos muito coerentes entre si, não havendo quaisquer despistes estilísticos nem aventuras experimentais. «One For Sorrow» é um bom trabalho dos Insomnium, mas não surpreende o ouvinte. Contudo, os amantes do género de certeza que encontrarão aqui um exemplo de como um álbum ainda consegue agarrar os ouvintes.Para mim, no entanto, nota máxima. [7.5/10] Victor Hugo MORBUS CHRON «Sleepers In The Rift» (Pulverised Records) Embora seja o primeiro contacto com o álbum, a capa do disco pouco nos pode ditar da verdadeira sonoridade dos Morbus Chron. Bastante boa em formas abstractas, nada diz que é um álbum de Death/Thrash Metal old school vindo directamente dos primórdios do estilo, ali em meados dos anos 80/inícios dos anos 90. Com duas Demos e um EP, eis que surge o álbum de estreia dos suecos Morbus Chron. Os apreciadores do género podem esperar nove temas verdadeiramente bons, com o toque old school que caracterizou o estilo, uma produção bastante favorável, que apesar de nos apercebermos de quão boa ela é, a sonoridade fria e crua é uma característica deste «Sleepers In The Rift». Logo a abrir somos mantidos numa onda ambiental e ritual, com a bateria e as guitarras a ganharem forma progressivamente, para rapidamente ficarmos imersos na sujidade crua e fria de “Through the gaping gate / Coughing in a coffin”. Apercebemo-nos logo da bateria orgânica; das guitarras sobressaídas e frias; do baixo que embora pouco definido ganha formas monstruosas em ritmos mais cadentes ou mesmo Doom, como na “The hallucinating dead” ou na “Lidess coffin”; da voz rasgada e violenta quanta baste; e das variações de ritmos, nos quais se notam sem mácula as características do Thrash/Death e as pitadas de Doom que tão bem encaixa. No final fica a certeza de que é uma boa estreia e que irá ser repetida. Esperamos que o próximo não fuja a estas regras. [8.5/10] Victor Hugo


OLD SILVER KEY «Tales of Wanderings» (Season of Mist) Um projecto que junta dois elementos tão sonantes no Metal actual só poderá gerar ataques de ansiedade e comichões que não nos deixam dormir. De um lado temos os Drudkh, todos sem excepção, e do outro temos o jovem e talentoso Neige (Alcest, Lântlos, Amesoeurs). Percebem logo que a leitura destes dois pólos gera logo urticária. Surge, então, o trabalho de estreia saído das mentes criadoras acima mencionadas, «Tales of Wanderings». E o que se poderá esperar deste trabalho? Black Metal com pitadas de Post e Shoegaze? O Black Metal foi deixado a favor de estruturas mais limpas e simples com as tais pitadas de Post e Shoegaze. O que é uma pena, já que os Drudkh ofereceram-nos um Black Metal muito interessante. Mas também pode entender-se que sendo um projecto paralelo queiram enveredar por outros caminhos, embora não tão distantes da sua génese. Por outro lado existe o trabalho vocal do Neige, que nos faz concluir que os Old Silver Key são mais Alcest do que Drudkh. Mas após algumas audições percebe-se que os Old Silver Key poderiam ser algo mais (ou algo menos), já que as aberturas na sua sonoridade são consideráveis, pois existem momentos que o ritmo poderia descambar em Black Metal e colocar o Neige a berrar como em Lântlos. Mas isso não existe. O que existe é algo muito limpo, com texturas suaves a condizer com o contexto temático do álbum – um mundo mágico como num conto de fadas. “November nights insomnia” abre muito bem o disco a lembrar-nos as tais sonoridades Alcest ou mesmo os Katatonia. “Nineteen winters far away from home” e “Burnt letters” são também dois pontos altos do disco que nos fazem ouvi-lo mais vezes. Caso contrário poderíamos estar perante uma desilusão total sem nada de extraordinário que justificasse as comichões e as insónias. [6.5/10] Victor Hugo PYRRHON «An Excellent Servant But a Terrible Master» (Selfmadegod Productions) Esta banda Norte-Americana criada em 2008, surgiu em 2009 com uma Demo, seguindo-se a produção de um EP em 2010 e deparamo-nos então em 2011 com o seu primeiro álbum de oito temas numa linha Death Metal progressivo/técnico. O que se pode dizer é que esta é uma estreia no mínimo auspiciosa e meritória. De facto estes Pyrrhon surpreendem logo na primeira audição com uma maturidade nas composições que chega a deixar a milhas bandas já estabelecidas neste meio. As linhas melódicas divergentes, abstractas, progressivas, electrizantes elevam este disco a um patamar tão elevado que fico na dúvida se não estarei mesmo perante uma obra-prima. Ainda que possa não ser um disco para escutar religiosamente durante semanas a fio, fruto das composições algo difíceis de digerir logo nas primeiras audições, esta é uma obra misteriosa e um tanto inóspita mas com muito peso. Nada a dizer da execução instrumental trabalhada ao milímetro – a este respeito é de referir o notável trabalho de guitarra a cargo de Dylan DiLella – somada a uma produção igualmente sólida, vocalizações quase sempre guturais mas suficientemente versáteis para dar vida própria a cada palavra. O único ponto menos favorável será a consequência do estilo de composição divergente e que não dá ao álbum uma linha de rumo definida, mas é isto que confere a originalidade a esta obra. E é de relembrar que estamos apenas perante o primeiro álbum destes Pyrrhon. Estou já curioso para ouvir o próximo! [9/10] Sérgio Teixeira RÊX MÜNDI «IHVH» (Debemur Morti) O mistério à volta deste colectivo parece ter despertado alguns curiosos. Compõem Black Metal, são franceses, mas ninguém sabe quem eles são. Ora, com este «IHVH» os Rêx Mündi têm uma oportunidade de se afirmarem, de darem a conhecer a sua música e as suas ideias. Após seis anos de terem lançado a demo com o mesmo título, a banda apresenta quase todos os temas dessa demo, apresenta algumas alterações nalguns, e existem dois temas novos, com melhor produção, claro, crua q.b. mas também um pouco mecânica – o input humano existe, mas a produção poderia optimizar o som orgânico; isto porque


este «IHVH» apresenta temas bastante interessantes que podem não encaixar à primeira, mas que após várias audições vamo-nos apercebendo de detalhes muito bons. Contudo, este é um trabalho de Black Metal tradicional e nada de novo apresenta. E não pensem encontrar uma atitude satânica. A banda aproxima-se pouco dessa ideologia e explora referências históricas nas suas letras. Musicalmente podem esperar um Black Metal bem trabalhado, com momentos ora ríspidos e agressivos, ora contemplativos e frios. Dos sete temas, os dois mais longos são muito bons, com especial destaque para o último, “Raising my temples”, que demonstra ser uma obra de arte e que decerto repetirão a experiência várias vezes. Mas não se pode descartar os restantes cinco porque no seu conjunto a experiência do «IHVH» torna-se bastante boa. Os Rêx Mündi podem gritar ao mundo a sua identidade que ela não se afogará na indiferença. [8/10] Victor Hugo REDEMPTION «This Mortal Coil» (InsideOut Music) Nesta edição da VERSUS é o segundo trabalho que é revisto de membros (ou Ex-membros) dos Fates Warning. O álbum do mês é da autoria de Jim Matheos e John Arch e este dos Redemption conta com a participação de Ray Alder. Isto à primeira vista será, por si só, um excelente cartão de visita. No entanto, o “Mestre” por detrás de «This Mortal Coil» é o guitarrista e fundador Nick van Dyk. Este foi o próprio a dizer que os momentos mais negros de um artista podem ser uma excelente fonte de inspiração. Há sensivelmente três anos foi-lhe diagnosticado um determinado tipo de cancro e como é óbvio, este álbum reflecte muitos desses momentos negros, tanto a nível musical como lírico. São exemplos os temas: “Path Of The Whirlwind”, “No Tickets To The Funeral”, “Let It Rain”, “Stronger Than Death” ou “Departure Of The Pale Horse”, só para citar algumas. Este é sem dúvida o álbum mais potente, negro, técnico e progressivo dos Redemption. Uma pérola! O que mais me chama a atenção é a “negritude” do instrumental em contraste com a melódica voz de Ray Alder. A produção não tem falhas e está a cargo de Neil Kernon (Queensryche, Nevermore) que conseguiu criar este ambiente soturno mas melodioso. Não destaco nenhum tema em particular, pois dadas as influências e inspiração deste álbum, as músicas encontram-se “ligadas” e por isso, não faz sentido particularizar. Já agora, todas soberbas! Uma última palavra para Nick van Dyk como guitarrista – a técnica é directamente proporcional ao sofrimento porque terá passado. [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro SILKSHADOW Crushing Mirrors (Independente) Álbum de estreia dos Portugueses Silkshadown (SS) que após terem assinado pela Figura e face aos problemas criados, decidiram rescindir e gravar «Crushing Mirrors» pelos próprios meios. E é precisamente aqui onde reside uma das fraquezas deste álbum. No tipo de música que os SS fazem – o que antigamente se designava por “Hard and Heavy” – tem a meu ver, de acontecer três coisas: Os músicos serem excelentes – estou a lembrar-me de Mr. Big, por exemplo - apresentarem algo de original e sorte… muita sorte. Não tem que necessariamente acontecer as três ao mesmo tempo… Sem por em causa a competência dos músicos, são bons executantes mas não excelentes, os SS não apresentam nada de novo e pode doer ler a crítica. Há milhares de bandas a tocar este mesmo estilo e é preciso, pelo menos, ter um bom produtor, alguém com muita experiência e saber nesta área. Falta força e pujança a «Crushing Mirrors», especialmente a bateria que podia ser mais possante e técnica. Acredito que a gravação do álbum tenha sido um enorme esforço para a banda e esse esforço está bem patente no álbum. Tratando-se de uma estreia, acredito que com as pessoas certas os SS podem dar o salto. O “diamante” está em bruto mas precisa de quem o saiba trabalhar e moldar. Tratando-se de uma banda nacional só me resta dar força à banda para não parar, ganhar (ainda mais) experiência e rodear-se das pessoas certas. A nota reflecte o esforço e a vontade de ver o segundo álbum melhor que o primeiro. [7/10] Eduardo Ramalhadeiro


TESSERACT «One» (Century Media) Impressionaram no final de 2010 com «Concealing Fate», um EP de uma só peça que deixou muita gente de queixo caído pela genialidade com que fundiu sensibilidades várias desde o post-core ao progressivo, num exercício com partes iguais de emoção e técnica. Agora, neste que é o primeiro longa duração, o jovem quinteto britânico volta a apresentar o material do EP (dado que foi lançado só na Europa e esteve disponível apenas em edição digital), juntamente com mais cinco inéditos (destaco “Nascent” e “April”), que apesar de não acrescentarem nada de novo ao que já conhecíamos do épico «Concealing Fate» (claramente, a grande saliência deste disco), mantêm o mesmo cunho sónico feito de ritmos pulsantes e de texturas e tempos invulgares, firmemente ancorados em influências de Meshuggah, Textures e outras formações congéneres. Para além do notável trabalho de percussão e de baixo, «One» é muito valorizado pelas linhas vocais (limpas - também as há berradas) de grande beleza de Daniel Tompkis, cujo tom emotivo por vezes até faz lembrar Ray Alder dos Fates Warning. É certo que as composições não incluem solos de guitarra na acepção mais tradicional do termo, contudo a verdade é que a música da formação de Milton Keynes é suficientemente rica em termos de estrutura e de atmosfera para se manter apelativa mesmo sem eles. Com muitas tiradas de génio, um grande sentido de coerência e uma produção apostada em criar um som ‘ao vivo em estúdio’, «One» é um álbum do melhor que já se ouviu no chamado género djent, e que se recomenda particularmente aos fãs das bandas supracitadas. [8/10] Ernesto Martins TORMENTED «Rotten Death» (Listenable Records) «Rotten Death» é o primeiro disco dos Tormented, banda sueca formada em 2008 por dois músicos já com um considerável background nestas andanças - Roberth Karlsson (ex- Marduk) e Andreas Axelson que já foram ambos também membros dos igualmente suecos Edge of Sanity. Seria de esperar que houvesse algum processo criativo particular que tivesse motivado esta nova formação - ou talvez não. Ao iniciar a audição deste álbum fiquei com a impressão de estar a regressar ao passado, fruto da sonoridade algo ‘baça’ que pude constatar e que se verifica até ao fim do disco. Portanto o denominador comum dos nove temas é a opção por um tipo de som que faz lembrar o metal nórdico, algures nos seus primórdios. Apesar de ser um disco de Death Metal o estilo das composições vai também beber aqui e ali pormenores do Black Metal, reflectindo-se com mais ênfase na voz. Guturais em todos os momentos do disco, as vocalizações transpiram ainda agressividade e potência marcando presença sem comprometer. As guitarras e baixo são elementos que complementam este álbum com uma sonoridade crua, sem grandes floreados e pormenores de produção ou solos extremamente arrojados e ao nível de bateria temos blast-beats a sustentar grande parte do álbum. O estilo de composição também não reflecte originalidade para dar e vender. O único tema a merecer algum destaque é “Reversed funeral” e poderá ser um motivo suficiente para escutar este álbum pelo menos uma vez. [6.5/10] Sérgio Teixeira TSJUDER «Legion Helvete» (Season of Mist) “The Daemon Throne” é o primeiro par de lambadas que estes noruegueses nos espetam, assim logo ao primeiro segundo. Não há introduções manhosas nem ambientes lúgubres ou bucólicos, pois “The Daemon Throne” é tão rápida que até nos faz pensar que começamos pela segunda faixa. É com prazer que recebemos este quarto longa-duração, de uma banda que se separou em 2006, mas que se voltou a reunir em 2010, para em 2011 nos dar este pedaço de Black Metal. Não fosse a produção a optimizar o som, diríamos que este álbum dataria dos anos 90. As estruturas são bastante simples, como mandam as regras


do Black Metal tradicional, mas os Tsjuder demonstram no seu novo trabalho uma maturidade e um domínio adicional que tornam os temas muito mais fortes – como se tivéssemos a sensação de que eles sabem o que estão a fazer; e realmente sabem! Ninguém ficará indiferente a temas como “Dauðir”, com blastbeats demolidores e riffs rasgados, e ainda com espaço para Black ‘n’ Roll; “Slakt” tem um inicio completamente Thrash para se preencher com toda a sujidade do Raw Black Metal; e o tema que encerra, “Vårt helvete”, é composto por dez minutos de demolição, demonstrando um dos melhores momentos do álbum. O trio norueguês mostra que ainda têm boas malhas para distribuir, e «Legion Helvete» está bastante completo com essas mesmas. Contudo, nem tudo são rosas e existem “deficiências” (se assim posso dizer): os fãs de guitar solos têm razões para ficarem um pouco desiludidos, já que este álbum é estruturado em riffs e só apresenta um solo – o que é uma pena porque de certeza que eles iriam brilhar em todos os temas. [7/10] Victor Hugo UNEARTH «Darkness in the Light» (Metal Blade Records) Quando oiço um álbum pela primeira vez, tem que haver uma ou duas músicas que me fiquem no ouvido, para ter vontade de o voltar a ouvir. Foi o que aconteceu com o novíssimo «Darkness in the Light» dos Unearth, e neste caso não foi necessário esperar muito já que a música de abertura, “Watch it burn”, uma crítica ao sistema político americano, cola-nos de imediato o “ouvido” à aparelhagem. Comparativamente com os álbuns anteriores, o trabalho do vocalista Trevor Phipps está melhor e contrasta com as partes mais melódicas criadas ora pela voz do Ken Susi ora por arranjos com menos distorção de guitarra, facto que é notório principalmente nos vários refrões, sendo a faixa “Overcome” a que melhor espelha estes contrastes. A nível instrumental, mesmo não estando perante uma obra-prima da música, o álbum está bem conseguido, havendo uma boa harmonia entre os vários instrumentos e boas passagens entre partes mais pesadas e trechos melódicos. A excelente masterização, feita por Mark Lewis, merece também uma nota de destaque. De referir que a bateria do álbum foi integralmente gravada pelo Justin Foley, não havendo para já noticias se esta parceria é para manter. Com cinco álbuns de estúdio já editados, os Unearth têm já uma respeitável legião de fãs que, em breve, vão poder apreciar o trabalho ao vivo da banda durante a tournée americana que estes irão encetar juntamente com os Chimaira, nos meses de Novembro e Dezembro. [7.5/10] Sérgio Pires UTOPIAN.HOPE.DYSTOPIAN.NIHILISM «Pact with Solitude» (edição de autor) Para fazer a devida justiça a este álbum de estreia do projecto a solo de Élvio Rodrigues devo começar já por dizer que é um trabalho com muito de original em praticamente todos os aspectos artísticos relevantes: musical, lírico e gráfico. Nos seus quarenta minutos de duração inclui desde momentos ambientais e progressivos a passagens rápidas e ásperas (death/black), mantendo-se no entanto suficientemente afastado dos parâmetros típicos de qualquer sub-género particular conhecido. Em geral, a composição é bastante sofisticada e de grandes dinâmicas, proporcionando momentos bem conseguidos cujo sucesso se fica a dever também ao elaborado conceito lírico existencialista e pessoal. Contudo, o êxito deste invulgar esforço criativo fica muito comprometido por algumas infelicidades, apontando-se a produção crua e algo descuidada como a mais dramática de todas. O resultado é que a guitarra ritmo soa excessivamente grave, o baixo surge muito embrulhado e os segmentos extremos não têm a força que deviam. Em certas partes os temas são um pouco idiossincráticos, faltando-lhes alguma daquela fluidez que torna a audição mais atractiva. Por fim, o tema “Self-inflicted metamorphosis” deixa mais que evidente que as vocalizações extremas não são o forte deste multi-instrumentista oriundo da Madeira. É possível que «Pact with Solitude» seja um trabalho demasiado ambicioso para uma estreia. No entanto, por ser arrojado é também de louvar, quanto mais não seja por contrariar a triste tendência da maioria dos músicos que se contentam com imitações (e ainda são aplaudidos por isso). [7/10] Ernesto Martins


VAGAS NEGRAS

As bandas nacionais já olham para Vagos como uma referência do Metal em Portugal. O incansável esforço e trabalho do Blindagem Metal Show é notável; e somando o já grandioso Vagos Open Air, o resultado é bastante positivo para as bandas nacionais, que encontram em Vagos e nos concertos do Blindagem uma oportunidade para promover o seu trabalho. Desta vez, os Opus Diabolicum encabeçaram o cartaz, trazendo com eles os Painted Black – banda que já tinha passado pelo Blindagem em Fevereiro. Aqui, num registo mais intimista que o auditório do C.E.R. proporciona, a banda que nasceu na Covilhã e que se mudou para Lisboa, mostrou que são os reis do Doom Metal Melódico em Portugal. Bem ao estilo de uns My Dying Bride, mas bastante melhor (claro!), a banda iniciou com dois temas das suas Demos, mas «Cold Confort» foi a grande referência do qual não faltaram temas como “The end oif tides”, “Shadowbound” aqui tocada pela primeira vez ao vivo, “The rain in june” e a fabulosa “Inevitability” para fechar o concerto. A comunhão da cadência da música com as imagens projectadas foi um ponto alto no concerto, que mesmo com pouco público este não ficou indiferente à prestação dos Painted Black que se sentiu à flor-da-pele. Pouco passava da meia-noite quando os Opus Diabolicum subiram ao palco. Já toda a gente sabe que este quarteto de violoncelos mais um baterista está para os Moonspell como os Apocalyptica estiveram para os Metallica. Apoiados também por imagens projectadas alusivas aos temas, os Opus Diabolicum trouxeram com eles dois punhados de músicas dos Moonspell desde o «Under the Moonspell» até ao «Night Eternal». Abrindo, claro está, com a “Opus diabolicum”, o colectivo mostrou a energia que os move, desta feita acompanhados por um baterista que deu ainda mais força às músicas, ao contrário da pandeireta que dava antes um toque mais pagão. “Finisterra”, “Opium”, a sombria “Vampiria”, na qual um dos elementos da banda tentou puxar pelo público, mas este pareceu bastante intimidado, um tema original com o simples titulo “Moonspell” que encantou os presentes pela sua negritude, “Nocturna”, e já no final a “Full moon madness”, não sem antes terem tocado a “Alma Mater” que teve a ajuda do público que cantou, timidamente, o tão famoso tema dos Moonspell. Foi mais uma noite negra em Vagos, apresentada pelo Blindagem Metal Show. Até à próxima! Texto e fotos: Victor Hugo


Opus Diabolicum

Painted Black


5 Estrelas na Escala de Richter O entusiasmo dos metaleiros que invadiram o Hard Club era grande, mas bastante reservado para os In Flames. Os Noctiferia, banda da Eslovénia que já anda nestas andanças há algum tempo, foram assertivos na actuação mas não mostraram grande brilho até porque o som esteve bastante mau para uma sala como a do Hard Club. Mesmo assim o público presente apoiou a actuação da banda, aqui num registo mais moderno comparado com os primeiros passos que a banda deu. Depois do intervalo, no qual a sala começo a ficar bastante mais composta e a prometer uma enchente, os In Flames subiram ao palco ao som não só da introdução do tema “Sounds of a Playground Fading” mas também ao som do público presente que mostrou estar bastante eufórico. E este deu provas disso durante a actuação da banda sueca, havendo consideráveis momentos em que Anders Fridén simplesmente deixava de cantar para que a voz da plateia tomasse a liderança. A primeira parte do set com a “Sounds of a Playground Fading”, “Deliver Us” e “All For Me”, todas do novo álbum, foram a prova que os presentes no Hard Club levaram a lição estudada. A banda ficou impressionada e até convidou o público português para os acompanhar até Espanha onde realizariam o próximo concerto. É bem provável que não apanhem uma plateia igual, tão enérgica, participativa e despreconceituosa. A banda apresentou uma energia muito boa, mostraram ser bastantes comunicativos e com o sentido de humor a topo. E, como seria de esperar, o som esteve bastante bom. Já para o final não faltaram temas como “Delight and Angers”, “Mirrors Truth” e “Take This Life” para fechar. No final ficou a certeza de um bom espectáculo que espera-se que se repita em menos de 10 anos… e de que a equipa do Hard Club teria de nivelar o chão da sala 1. Victor Hugo



2º Aniversário A Bleeding Heart e a MYOproductions não deixaram cair em esquecimento a comemoração do seu segundo aniversário de existência, organizando uma festa no Salina Club da Praia da Barra que contou com a presença de Promethevs, Motim, The Last of Them, Beautiful Venom e do projecto One Dare. A casa esteve muito bem composta e não fosse o vento desagradável a querer manifestar-se, talvez tivesse contado com mais algum público. A noite começou com um concerto cheio de energia e riffs poderosos, característicos de Promethevs, uma banda oriunda de Viseu que lançou recentemente o single “Aglaia” e respectivo videoclip, seguindo-se o concerto de Motim, que também apresentou uma boa parte do novo trabalho que estão a preparar para o próximo álbum «Them Killing Wolves». As críticas foram extremamente positivas e mostraram que estão realmente decididos a abandonar o estilo punk que os caracterizava até então. Os The Last of Them foram a terceira banda a pisar o palco. Este grupo foi o que mais cativou o público e dispensam apresentações. O concerto ficou marcado pelo regresso aos palcos de Aveiro após algum tempo de paragem e também apresentaram algum trabalho novo que têm vindo a preparar nos últimos meses. Antes dos dj’s entrarem em cena, foi a vez dos Beautiful Venom mostrarem a fibra de que são feitos. Fecharam os concertos em grande, com muita energia, apresentando também uma parte do seu novo álbum «Endless Endeavor» que foi lançado cerca de duas semanas depois deste evento. Um trabalho que promete dar que falar! Todas as bandas surgiram com uma imagem renovada, com novo line-up e com novas músicas. Após a realização dos concertos, a noite ainda foi longa com a presença dos dj’s One Dare que agitaram os mais resistentes ao som do seu frenético dubstep e drum and bass quase até ao momento em que se viram os primeiros raios de sol irromper no céu. Em suma, uma noite memorável a repetir no próximo Verão. Texto: Bernardo André Leite Fotografia: Bernardo Oliveira Leite


Beautiful Venom

Beautiful Venom

The Last Of Them

Motim

Promethevs

One Dare


Sonoridades diferentes, um só culto No primeiro dia da Lux Mundi Europe Tour 2011 em Portugal, a equipa da Versus Magazine deslocou-se ao Porto, para fazer a reportagem. Do cartaz faziam parte cinco bandas, que incluíam dois nomes pouco conhecidos e três consagrados. Por isso, não foi surpresa termos encontrado pouco público interessado em assistir à abertura do concerto. Mas os alemães Six Reasons To Kill não se deixaram impressionar e, de forma entusiástica e um tanto irreverente (marcada pelos calções às flores de fundo preto do respectivo vocalista), mostraram a todos que aparentemente tinham razões para matar. Só não ficamos a saber quantas eram! Seguiram-se-lhes os Noctem, vindos de Espanha, que não podiam ser mais diferentes. Adotando elementos característicos da estética BM, apresentaram uma meia dúzia de canções, acompanhadas por uma verdadeira coreografia, que envolvia todos os membros da banda, com especial destaque para o entusiástico vocalista. Apesar da “garra” destas bandas, o público só começou verdadeiramente a “aquecer”, quando os Keep Of Kalessin pisaram o palco. Os quatro músicos noruegueses (que recentemente mostraram uma faceta bastante original da sua forma de encarar o metal) literalmente arrasaram, enchendo o espaço que lhes era destinado com uma mistura de peso e harmonia, bem pontuada pela voz vigorosa do vocalista e sublinhada por um festival de headbanging. Imperavam as loiras melenas do baixista, que de angelical nada tinha. Ficou assim o público (cujas fileiras iam progressivamente engrossando) em condições de receber condignamente os Melechesh. Oriundos de Israel, procuraram dar um toque de exotismo à sua prestação, com o guitarrista Moloch a atuar em tornco nu e com um pano enrolado à cabeça, evocando costumes orientais. Foi sem surpresa que assistimos a uma exibição em que tudo parecia coordenado ao último pormenor por uma banda conhecida pela sua exigência relativamente ao seu trabalho. É de referir que a ausência de surpresa não tira nenhum brilho à sua arte. Por fim, a curiosidade do público – mais numeroso, mas ficando aquém das expetativas – foi saciada, quando, depois de um check sound bastante extenso, os músicos de Samael entraram em cena, com Vorph a concentrar as atenções em si, sempre pelos melhores motivos. Com “Rain” (do célebre “Passage”) como segundo tema e direito a um encore bem longo, os suíços levaram a sala ao rubro, cada um à sua maneira: Vorph combinou voz e guitarra com um visual que chama sempre a atenção, Xytras dominou com os seus teclados inspirados e a bateria (ora real, ora programada), Makro deu um verdadeiro show de guitarra e acrobacia e Mas, o baixista, contrastou com os restantes elementos da banda pela sua atitude mais moderada em palco, apesar de uma boa movimentação. O concerto permitiu fazer uma visita guiada a diversos momentos da história da banda, incluindo alguns bem negros, que podem até já estar esquecidos. Em suma: ninguém deve ter tido razões para voltar para casa a pensar que podia ter encontrado melhor maneira de comemorar a implantação da República!

Texto: CSA Fotos: Victor Hugo


Samael

Keep of Kalessin

Melechesh

Noctem


... e o Rio transbordou! Os Riverside não mereceram menos de meia sala preenchida, mas antes lotação esgotada. Pela segunda vez em Portugal, os polacos progressivos vieram mostrar o seu material num concerto inserido na “10th Anniversary Tour”. Sem banda de apoio, os começaram o espectáculo com a “After” proporcionando um ambiente envolvente com o pronuncio de que o próximo par de horas seria arrepiante. “Artificial smile” aqueceu os ânimos colocando o pouco público a mexer o corpo, para logo de seguida continuar o contágio com a poderosa “Hyperactive”. A banda trouxe na bagagem o seu mais recente EP, «Memories In My Head», e não faltaram 2 dos 3 temas que constituem o EP: “Living In The Past” e “Forgotten Land” mostraram uns Riverside bastante calmos e maduros nas suas composições, sem nunca deixarem um certo psicadelismo. Psicadelismo este que para além de ser proporcionado pela música, foi também fomentado pelos jogos de luzes que foram assombrosos mostrando uma comunhão perfeita entre estes e o som. Nas quase duas horas de concerto a banda percorreu a sua discografia, retirando mais temas de uns do que de outros, mas não faltaram a “I believe”; a “Conceiving you” na qual Mariusz pediu ao público para cantar o simples refrão; o épico “Egoist hedonism”, no qual a banda mostrou a sua mestria; a calma “Left out”, onde o publico não resistiu em entoar alguns acordes; “02 Panic room” não poderia faltar; e já no segundo encore a banda termina com a “Reality dream III” e a “The curtain falls”, num fecho que faz justiça ao rótulo progressivo. No final ficou a certeza que não vai ser necessário esperar 4 anos pelo regresso dos Riverside a Portugal. Reportagem: Victor Hugo Fotografia: Eduardo Ramalhadeiro



A sina! Um dia que certamente ficará na memória daqueles que acompanham o magnífico trabalho desta banda proveniente de Albergaria-a-Velha e arredores. Depois de um enorme esforço e de uma longa espera, os Skypho finalmente lançaram o seu novo álbum «Same Old Sin» que conta com 13 faixas onde está patente uma grande mistura de influências e os muitos anos de experiência com que este grupo conta. Sem dúvida, um concerto fantástico com enorme afluência de público e em que todos os detalhes foram pensados ao pormenor (de notar que até o carimbo utilizado na bilheteira continha os dados e contactos da banda). Neste concerto os Skypho tocaram 19 temas, onde incluíram alguns bem conhecidos do público presente, tais como “Nowhere neverland”, “My last words” ou “My insomnia”, pertencentes ao antigo EP. Tocaram ainda algumas covers editadas como “Come as you are” de Nirvana e “Army of me” de Bjork. Houve ainda espaço para o samba com o grupo Unidos da Vila, que tocaram uma música em conjunto com a banda. O álbum «Same Old Sin», gravado, editado e misturado por Ivo Magalhães nos IM Estúdios no Porto e masterizado por Jens Bogren na Suécia, já está à venda em vários pontos. Descobre onde e acompanha as novidades do grupo na página oficial do Facebook. Venham mais concertos com o nível deste que Aveiro bem precisa… Texto: Bernardo Leite Fotografia: Hugo Pinto



s i a c i s u m s e õ x e l f e r

dico Um estilo, vários estilos - II Whatever Metal Na edição anterior abordei os géneros pioneiros do Metal, bem como os principais subgéneros e outros géneros seus derivados, cujas nomenclaturas sofreram, nalguns casos, alterações justificadas pela passagem do tempo. Vimos ainda que alguns desses subgéneros estão inseridos em determinados movimentos, abrangentes q.b. em variedade musical. Por vezes tão abrangentes mas simultaneamente específicos que os géneros musicais emergentes num dado momento impõem aos especialistas e agentes da indústria a sua categorização. A tarefa, intrinsecamente árdua, mais hercúlea se revela quando editoras e grupos, forçando a inovação / originalidade sustentando-se nos paradigmas diametralmente opostos mas complementares da ultrassegmentação estilística, por um lado; e da hiperabrangência, transversal a vários estilos, por outro, se arrogam o direito de abusiva, arbitrária e artificialmente “fundar” o que dizem ser novos subgéneros, com especial incidência no segmento underground. Resultado: uma amálgama de hipotéticos subgéneros que de tão específicos se dirigem meramente a nanonichos de mercado. Apregoados como inovadores revelam-se porém arbitrários, inúteis, limitados, absurdos, fechados sobre si próprios sem oportunidade de evoluir (muitos não o ambicionam, é certo), isentos de sentido, confundindo os fãs. Comecemos pelo forçado termo Pós-Metal, supostamente derivado do Pós-Rock. Segundo a na Wikipédia relativa ao Pós-Metal, o género (?) apresenta raízes no Rock progressivo e industrial, caracterizando-se por guitarras distorcidas (se é Metal convém que recorra a distorção, digo eu), atmosfera pesada, evolução gradual na estrutura sonora e ênfase mínima nas vocalizações. Entendo que quem se refugia desbocadamente nesta nomenclatura para distinguir o trabalho de um grupo fá-lo de maneira acrítica, por mero comodismo e ambição de parecer muito eloquente… e (pós) moderno!

Não faltam pois jornalistas que atribuam arbitrariamente a inúmeras bandas a categoria de “pós-qualquer coisa” (todos já lemos esta frase em revistas e sites). Ou seja, os ditos agrupamentos praticam uma sonoridade ainda não totalmente categorizável, mas de uma coisa têm os “especialistas” a certeza: é que é “pós”. “Pós-qualquer coisa” mas pós. Ser “pós” é o que efetivamente interessa. Ser “pós” é in. Sem surpresa, já não falta no Underground metálico toda uma panóplia de subgéneros “pós”,descendentes dos seus homólogos originais. Bem-vindos pois à era do PósHardcore, do Pós-Black Metal, do Pós-Doom, etc. Estará o PósPós-Metal a chegar? Outra pérola da nomenclatura estilística é o Mathcore que, segundo a Wikipédia, também pode designar-se Chaoscore ou Techcore. Tão estúpido quanto imaginativo, não é? O referido site caracteriza Matchcore como “um estilo de Metalcore caótico, experimental, matemático, progressivo e de alto nível técnico”. Os temas são dissonantes, plenos de riffs técnicos “e estruturas complexas”, geralmente com letras indecifráveis. “Músicas tocadas por bandas desse estilo podem variar de meros segundos até mais de 15 minutos e raramente demonstram uma estrutura de versos / refrões convencional.” Tudo isto é correto, mas apesar da precisão técnica destas bandas continuo a achar o termo absolutamente forçado e ridículo, que serve meramente para instalar a confusão. Nada parecido com a ridicularia dos “subgéneros” “oriental metal” (sim, com minúsculas iniciais e entre aspas, pois não os reconheço como subgéneros legítimos e de direito próprio), cuja nomenclatura é justificada meramente pelo facto de fundir Heavy Metal com música tradicional do Médio Oriente; ou “circus metal”, que, segundo o site Ultimateguitar.com, “incorpora elementos circenses ou carnavalescos na música ou nas performances.” Como exemplo refere os Mr. Bungle, Dog Fashion Disco, Secret Chiefs 3, Vicious Hairy Mary, Headkase e Darth Vegas. O site MusicBanter.com refere ainda o espantoso “ice metal”, que supostamente incorpora sons, imagética e temas relacionados com zonas geladas do mundo, especialmente a Escandinávia. Os Sonata Artica são referidos como exemplo maior. Temos ainda o “party metal” que, segundo a Indopedia.org “pode também designar-se Pop Metal [NR: totalmente errado!]. Apresenta letras que celebram o álcool e o Rock ou Metal, sexo e tópicos relacionados. Relacionado com o hair metal e com o hard rock, tem como exemplos os Van Halen, Queen, Twisted Sister, Kiss, Quiet Riot ou até Judas Priest. Isto para não falar de outras bizarrias absolutamente isentas de sentido como “nintendocore”, “japcore”, “suicide black metal”, “autralian war metal”, “synth metal”, “sid metal”, “vedic metal” ou “dance metal”. Quem sabe, noutra altura. Dico Texto escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico


Sacrifício pela originalidade O barulho está constantemente ao nosso redor, quer seja na rua ou em casa, os nossos ouvidos são frequentemente bombardeados com ruídos que queremos esquecer e é então que gentilmente colocamos os auscultadores e nos aliviamos com o barulho que gostamos. Ora este barulho é música, mas até quando continuará a ser? Quanto tempo resta até que se deixe de criar música e apenas se produza barulho? Se recuarmos atrás no tempo, até à década de 60, e ouvirmos algo aí produzido, como um dos, agora antigos, vinis da época, somos presenteados com sonoridades originais em primeiro plano e o ruído de fundo que denuncia a qualidade, nos dias de hoje considerada baixa, mas que nos faz perder e flutuar nos berços da música nossa contemporânea. À medida que avançamos até à nossa era reencontramos gostos perdidos e artistas esquecidos, presenciamos o surgimento de novos estilos e novos géneros, que exploram cantos escondidos do espectro musical, e que esticam a corda do socialmente aceite. E é com esse esticar a corda que se consegue aquilo que se quer, mais cedo ou mais tarde, no entanto há que saber ser prudente e não partir a corda. Artistas que mergulham na fórmula “polémica igual a dinheiro” são, grande parte das vezes, fúteis e vazios, apenas superficiais, não se lhes pode dar muita importância pois não passam de animais famintos por fama e dinheiro que lentamente tentam devorar as câmaras e os microfones dos repórteres e ser estrela de primeira página (mas nos dias que correm, quem não quer?). Transpondo o assunto para o campo mais pesado, já anteriormente falei da grande quantidade de “novos metaleiros” que não têm alma no que fazem e desta vez volto a bater na mesma tecla. Com o pretexto de revolucionar o mundo da música, ou de ir buscar o que foi perdido, o certo é que raramente têm algo que se aproveite realmente. Sim, lá aparece um ou outro que faz um trabalho que surpreende e eleva mais a fasquia, já alta, de tocar um instrumento ou utilizar determinada técnica vocal. Em contraponto, todos temos direito à

liberdade de expressão, e todos temos o direito de nos expressarmos consoante desejarmos, e, no mundo da música, felizmente, existem centenas de maneiras diferentes, o que significa que ninguém é obrigado a seguir um certo padrão caso não queira, dando assim liberdade a quem se aventure a ser original ou até a quem prefira armarse em cientista e magicar uma fusão de diversos padrões comportamentais, musicalmente falando. Por tal significa dizer que diferentes géneros musicais surgem quase todos os dias, mas simplesmente estão mal efetuados, ou escondidos, e não são aproveitados, o que por vezes é o melhor, visto que o público geral tem a necessidade de se habituar gradualmente a algo novo para depois conseguir aceitar. Conseguem imaginar como seria majestoso um Kizomba Metal? Ou um Pimba Deathcore? Se me perguntam, acho que fico bem sem ouvir, mas a curiosidade está sempre à espreita! E embora a música seja feita , em parte, para agradar ao público, há situações em que funciona melhor quando o escandaliza, o que pode acabar por pôr um fim a quem escandalizou mas que ameniza o caminho para bandas vindouras. É como diz o outro: “Tem que haver sempre um sacrificado”. Daniel Guerreiro


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