Versus Magazine #12 Fevereiro/Março 2011

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Nesta edição da VERSUS Magazine voltamos a insistir uma aposta menos óbvia: os Silent Stream of Godless Elegy. O regresso em grande forma não só motivou a atribuição das honras de capa à formação checa, como também distinguiu «Návaz» como Álbum do Mês. Sendo este o primeiro número de 2011, é o local propício para vos dar a conhecer – pela primeira vez na VERSUS – a opinião da nossa equipa sobre o que de melhor se publicou em 2010. Mas há mais nesta 12ª edição: para além das onze entrevistas e de um número consideravelmente maior de críticas de discos, na seccão retroVersus recordamos duas pérolas discográficas (dos Metallica e Megadeth) que celebram este ano as bodas de prata. Ah, e atenção também ao passatempo alusivo ao novo trabalho dos Forgotten Suns. Enviem-nos a vossa opinião para versusmagazinept@gmail.com. Todo o feedback é bem-vindo. Boas leituras. Ernesto Martins




A Versus Magazine tem para oferecer 5 cópias de «Revelations», o novo trabalho dos Forgotten Suns, aos primeiros cinco leitores que responderem correctamente à seguinte pergunta: Segundo a entrevista ao guitarrista Ricardo Falcão, publicada nas páginas desta edição, de que álbum dos Forgotten Suns foi retirado o tema “Betrayed”? As respostas devem ser enviados por email para versusmagazinept@gmail.com, indicando nome e endereço postal completo. Este passatempo termina às zero horas do dia 26 de Fevereiro, data em que serão divulgados os premiados em www.myspace.com/versusmagazine.


Manowar

Regresso a Portugal

Doze anos após a última passagem pelo nosso país, os Manowar estão de regresso a Portugal tendo data marcada para 2 de Abril do corrente, segundo o site oficial da banda. Para além dos clássicos, a banda vai interpretar na totalidade o álbum “Battle Hymns” nos vários concertos que irá efectuar em 2011.

Miss Lava

Novo trabalho em 2011

Depois do sucesso alcançado com “ Blues for the Dangerous Miles ”, que culminou com duas digressões em Inglaterra e abertura de um concerto para Slash, os Miss Lava voltam à estrada antes de entrarem em estúdio para gravar o seu 2º álbum de originais. Para já as datas conhecidas são as seguintes: - 04 de Fevereiro, Rock n’Shots, Cascais, pelas 23h; - 12 de Março, Bafo de Baco, Loulé, pelas 23h; - 26 de Março, Hard Club, Porto, pelas 23h;

Ava Inferi

novo álbum / novo som

«Onyx» é o título do novo álbum dos portugueses Ava Inferi, com data de lançamento prevista para 14 de Fevereiro. Com mistura e masterização a cargo do guru Dan Swanö, o 4º registo de originais da banda nacional, traz com ele, segundo o guitarrista e principal compositor da banda Rune Eriksen, a promessa de uma sonoridade mais vintage e mais em linha com o som clássico de algum metal dos anos 80.

Urban Tales

Novo álbum “Loneliness Still is the Friend”

Mais de dois anos depois do lançamento do aclamado “Diary of a No”, os Urban Tales estão de volta com o seu segundo trabalho, “Loneliness Still is the Friend”. A data de lançamento está marcada para 7 de Março, e o trabalho irá apresentar 10 novas can

ções. Pode ouvir/ver o primeiro single “Stand Alone” no site oficial da banda (www.urbantalesmusic.com), enquanto o segundo single “Fly away” conquista as rádios nacionais.

Heavenwood

Single e novo baixista

“Morning Glory Clouds (In Manus Tuas Domine)”, é o primeiro tema a ser extraído do novo álbum dos Heavenwood, “Abyss Masterpiece”, o qual se encontra disponível online para audição exclusiva no myspace da banda. Entretanto a banda portuense revela ainda que Paulo Chanoca (Demon Dagger/ Decrepidemic) será seu novo baixista de sessão.

Leaves Eyes

Novo album “Meredead”

Os Leaves Eyes, banda formada pela ex-vocalista dos Theatre of Tragedy, Liv Kristine Espenaes Krull, e por membros dos Atrocity, definiram “Meredead” como o título de seu novo álbum, com lançamento previsto para 22 de Abril. O produtor e co-vocalista Alexander Krull trata também da mistura final do CD nos Mastersound Studio. A arte gráfica do álbum foi criada por Stefan Heilemann.

Watain

escuridão sem lei dá prémio

Por causa do último álbum, «Lawless Darkness», os Watain acabam de ser galardoados, na sua Suécia natal, com um Grammy na categoria Hard Rock. Na cerimónia de entrega do prémio, que decorreu a 17 de Janeiro, em Estocolmo, o frontman Erik Danielsson afirmou que “sempre pensei que os critérios de elegibilidade dos candidatos a estes prémios fossem a conformidade e a insipidez, por isso estou surpreso… é sem dúvida um vitória para o Diabo!”


“Prog N Qual foi o objectivo do lançamento deste EP em 2010? Ricardo Falcão: «Revelations» é uma espécie de lufada de oxigénio para os seguidores da banda entre produção de LP’s e a forma de algumas músicas que tínhamos guardadas das antigas sessões de «Innergy» encontrarem um lugar digno na nossa discografia. Desta feita mantemos a comunicação aberta com o público, com os media e ganhamos mais tempo de qualidade para continuar a trabalhar afincadamente no próximo álbum. O 1º single é “Doppelgänger”. Qual o significado do tema? A ideia surgiu do facto de observar constantemente muitas semelhanças físicas nas pessoas com quem nos cruzamos na rua. Quem é que ainda não viu alguém tão parecido ao ponto de julgar que seria de facto essa pessoa? Dias mais tarde, após conversar com o sujeito em questão, é que chegamos à conclusão que afinal não era... que essa pessoa nunca

Depois do lançamento de «Innergy» senteiam com «Revelations», um EP l mas gravados nas se Já com 20 anos de carreira e antes do l do Falcão acedeu a estivera nesse lugar a tais horas. Um dia resolvi investigar e descobri que existe mesmo uma lenda com factos reais e relatos, uma espécie de clone maléfico, diz-se que quando alguém avista o seu próprio ‘Doppelgänger’ que é um presságio de morte... essa é a parte mais interessante, e a música é sobre isso. No seguimento da pergunta anterior, fala-nos um pouco do vídeo. Que significado tem a mudança de cores – Branco/Preto? O conceito do vídeo segue o conceito original da


Nation”

», eis que os Forgotten Suns nos prelançado em 2010, com (excelentes) teessões de «Innergy». lançamento de um novo álbum, Ricara “falar” à Versus. música – a dualidade entre o bem e o mal. No vídeo, a partir do momento em que o poder do Doppelgänger se apodera de nós, todos sofremos alterações (efeitos especiais) e passamos a estar amaldiçoados como se da lenda se tratasse. Todas as pessoas têm um ‘dark side’, essa é uma das mensagens do vídeo que capta também toda a energia, dinâmica e pormenores dos músicos com os seus instrumentos. Trabalhámos com o Horta do Rosário, um jovem realizador, e um craque de After Effects que é também um fã da saga Star Wars na qual esta batalha entre a Força e o Dark Side estão também muito presentes.

Foi um privilégio e uma honra podermos trabalhar com alguém tão dedicado à sua arte e tão talentoso como ele. Realizar este vídeo foi um verdadeiro trabalho de equipa do qual estamos todos muito orgulhosos. Ainda sobre o tema anterior, “Doppelgänger” foi alvo de uma re-estruturação, algum motivo especial para a escolha recair sobre este tema como 1º single? Não foi bem uma re-estruturação mas mais um remistura e a escolha foi simples. Não temos de facto muitas músicas com um formato tão convencional para promoção ‘easy listening’ dada a natureza progressiva da banda que nos leva a compor temas sem limites e também porque achamos que é uma das faixas mais poderosamente concentrada, sem dúvida uma das melhores referências da capacidade camaleónica da banda se re-inventar de tema para tema.


“Todas as nossas músicas têm uma história por detrás, um conceito. Quando compomos é como se estivéssemos a seguir um guião (...)” Neste EP, vocês acabam por “reciclar” um tema de “Fiction Edge”. Como é que foi feita a transição para este novo lançamento? Sabíamos que “Betrayed” era uma faixa extra em «Fiction Edge», um tema que usámos muitas vezes para fechar concertos da banda e uma das músicas preferidas dos fãs. Assim que começámos a estruturar o EP ficou claro que poderia ser um dos bons upgrades e uma forma das pessoas perceberem o quanto esta banda evoluiu desde o ano 2000. Com um cuidadoso trabalho de samples, alguns arranjos mais modernos, a parte II (Grey Zone) e uma performance mais apurada penso que conseguimos dar ao tema o brilho que sempre desejámos. Há alguma história subjacente a este tema, agora que juntaram neste EP a parte I e II? Todas as nossas músicas têm uma história por detrás, um conceito. Quando compomos é como se estivéssemos a seguir um guião não escrito mas que se vai materializando conforme a criatividade musical nos vai conduzindo ao longo do processo. “Be-

trayed” é uma história de ficção ao jeito da ‘Disney’ em que um rapaz descobre uma caixa de música com uma bailarina pela qual fica encantado. Ao desejar estar tanto com ela acaba por se ver enfeitiçado e transportado para um mundo encantado, apenas no fim ele vai descobrir que a bailarina é malévola, roubando-lhe a alma e aprisionando-o para sempre no seu mundo – a música foi originalmente composta em 95 e foi um dos primeiros temas que escrevemos. Ao juntarmos a parte II, que é mais recente, o tema fica completo e finalmente após tantos anos é revelado ao público. A edição já não é feita pela ProgRock mas sim pela vossa própria editora. Como é ser independente? Dá mais trabalho mas é um sinal dos tempos, é importante sermos independentes agora porque não podemos andar ao sabor de vontades alheias e que não seguem a direcção que pretendemos. Este acaba por ser o vosso primeiro trabalho a ser promovido internacionalmente. Como já vi tan-


“Acho que o underground nacional tem muitas bandas interessantes mas bastante desvalorizadas pelo público em geral. (...)” tas bandas a queixarem-se da promoção (ou falta dela) como está a ser, neste aspecto, o trabalho desenvolvido pela Metal Revelation? A receptividade tem sido boa? Sim, fantástica. Dá para perceber o quanto a banda cresceu e termos a Metal Revelation connosco é vital para chegarmos cada vez mais longe e a mais pessoas. Segundo li, já se encontram a trabalhar num novo disco. Podes adiantar alguma coisa sobre a sonoridade? Será mais pesado? Conceptual? O próximo álbum será conceptual e pouco mais posso revelar por agora. O material deste novo ‘full length’ é totalmente novo, ideias frescas e provavelmente um dos trabalhos musicais mais arrojados que fizemos até à data. Estamos a trabalhá-lo com muito cuidado porque sabemos que vai ser sem dúvida uma ‘masterpiece’. Três perguntas para terminar: Que tens a dizer às bandas de garagem que esperam, um dia, poder afirmar-se? Se têm um sonho, força de vontade e algo a dizer

através da musica...não desistam ao primeiro desaire, sejam fiéis aos vossos princípios, estudem e estejam preparados para dar a volta por cima em qualquer situação. Achas que se faz boa musica de Rock/Metal progressivo em Portugal? Acho que o underground nacional tem muitas bandas interessantes mas bastante desvalorizadas pelo público em geral. Existem infelizmente centenas de músicos que tocam apenas para as paredes, que não vivem o sonho e isso não é ser-se músico de uma forma completa. Desde já obrigado pelo teu tempo e peço-te que deixes uma palavra final aos leitores da Versus Magazine, podes sempre imaginar que estas a promover o EP ou o novo álbum! Espero que gostem do novo EP «Revelations» e que a curiosidade despertada por este trabalho vos conduza a conhecer o mundo dos Forgotten Suns! Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


Sol glacial


Depois de uma década na obscuridade, 2011 poderá ser finalmente o ano de viragem para os Helrunar. Alterações recentes na formação criaram condições para uma revisão do paradigma black metal de origem, abrindo caminho a uma dinâmica criativa que culminou na maior obra até agora do grupo germânico: o duplo-álbum «Sól». Para nos guiar através das passagens escuras e tortuosas deste quarto registo de originais, ninguém melhor do que Skald Draugir, o vocalista e mentor lírico da banda. A última vez que entrevistei os Helrunar falei com o Dionysos (guit.). Porque é que ele já não se encontra na banda? Skald Draugir: O Dionysos tinha ideias diferentes das nossas relativamente à música e aos conceitos líricos. Foi por isso que abandonou os Helrunar. Agora somos apenas dois: o Alsvartr e eu, e a nossa cooperação tem sido perfeita dado que estamos sempre em sintonia. Aliás, não podíamos estar a melhor como banda, e mesmo os nossos músicos de sessão – o Discordius, o Harcon e o Samiel – têm dado um contributo inestimável quando tocamos ao vivo. O novo álbum, «Sól», é sem dúvida um trabalho monumental no verdadeiro sentido do termo. O que nos podes dizer sobre a génese deste 4º álbum dos Helrunar? É, definitivamente, um ponto de viragem para nós! Começamos a trabalhar neste disco no Verão de 2008, altura em que surgiram as primeiras ideias para o conceito geral de «Sól», mas nesse momento não havia maneira de antecipar que resultaria num duplo álbum. As primeiras composições saíram

mais negras, mais Black Metal, mas à medida que fomos avançando o processo criativo evolui, rompeu com fronteiras e abriu-nos novos horizontes, tanto musicais como líricos. Voltei a usar símbolos da mitologia nórdica, mas o álbum contém também influências de poesia moderna, principalmente expressionista e surrealista. No final de 2009 começou a tornar-se evidente que um CD não seria suficiente para apresentar todo o material já escrito até então. Mas nós não queríamos deixar nada de fora, uma vez que tudo era bom e tudo tinha o seu lugar no conceito. O lançamento em duplo CD pareceu nesta altura inevitável. O processo criativo terminou no início de 2010 e os retoques finais foram dados já em estúdio. Em Agosto terminei a edição do livro de 50 páginas que acompanha a edição principal de «Sól». «Sól» é bastante diferente do álbum anterior, «Baldr ok Íss»: não é tão extremo e parece favorecer uma abordagem mais atmosférica. O que nos podes dizer sobre estas mudanças? Será que foi uma questão de deixar a música fluir de forma a reflectir o conteúdo lírico da melhor maneira possível?


“[«Sól»] é, definitivamente, um ponto de viragem para nós” Sim, foi. Neste álbum a música e as letras relacionam-se de forma muito íntima. Desta vez também tentamos evitar os chamados riffs catchy. Quisemos sobretudo criar atmosferas intensas e música muito emocional com o dom de transportar o ouvinte numa viagem mental. Trata-se duma abordagem que desenvolvemos neste disco e que tentaremos aperfeiçoar em trabalhos futuros. No passado a nossa música esteve muito orientada para as estruturas rock convencionais. Agora acho que integramos mais influências clássicas, de música ambiente e bandas sonoras. Do ponto de vista lírico, este álbum parece ser bastante diferente de tudo o que os Helrunar fizeram até aqui. Fala-nos um pouco do conceito subjacente a «Sól»? Este álbum encerra várias “camadas” de significados. Podes interpretá-lo numa perspectiva mitológica, social, espiritual, histórica ou até psicológica. Basicamente, revolve em torno dos conflitos de um indivíduo; tanto os conflitos internos como os conflitos com o mundo exterior. Tem a ver com uma espécie de processo iniciático de busca do verdadeiro eu. Contudo há outros significados possíveis – tentei

deixar os textos bastante abertos a outras interpretações de modo que cada ouvinte possa reflectir por si próprio. Nesse sentido penso que consegui tirar partido de estilos literários que ainda não tinha explorado, e através dos quais pintei com novos tons a base mítica e simbólica que caracteriza este álbum. Os Helrunar sempre se expressaram em alemão (ou em norueguês). No entanto, dado que as letras desempenham neste álbum um papel preponderante, é provável que os fãs sintam, agora mais do que nunca, que o idioma os impede de apreciar a vossa arte em todas as dimensões. O que pensas disto? Alguma vez pensaram em cantar em inglês? Achas que isso iria de encontro ao conceito da banda? Bem, a todos os fãs que não percebem alemão, só posso dizer que lamento… Mas como compreenderão, trata-se da minha língua natal e é portanto nela que me expresso melhor. Não, o inglês não iria contrariar o conceito inerente à banda e até é provável que um dia venha a escrever algumas canções em inglês. No entanto acho que escrever letras em inglês é, de certa maneira, demasiado fácil. Podes cantar facilmente a maior merda em inglês que soa sempre muito “cool”. Escrever boas canções


“Podes cantar facilmente a maior merda em inglês que soa sempre muito ‘cool’” em alemão é um desafio muito maior… e penso que o mesmo se aplica a outras línguas que não o inglês. Assim, para todos os que nos ouvem e que não entendem alemão, aqui fica o meu conselho: tentem captar o som das palavras e a atmosfera da música. Verão que isso chega para que consigam interpretar vocês mesmos o essencial de «Sól».

do livro. Podia-se ter pensado numa edição com os dois CDs e sem o livro, mas como o orçamento já ia alto, chegou-se à conclusão que era mais económico optar pela edição independente dos dois CDs. De qualquer maneira penso que assim está bem pois o conceito inclui de facto duas partes que se podem separar musicalmente e liricamente.

Presumo que as diferenças musicais entre os dois CDs, «Sól I» e «Sól II», estejam ligadas às letras. O que nos podes dizer sobre isso? Será que o material presente em cada um dos CDs foi composto em tempos diferentes? Não, toda a música foi escrita ao mesmo tempo, embora duma forma faseada. No entanto o alinhamento do álbum foi fixado apenas quando a trama lírica ficou estabelecida. Cada um dos temas ficou com as letras adequadas, e cada música tem o seu lugar certo no conceito lírico. A primeira parte, «Sól I», é a mais black metal e é a que expressa os conflitos internos do indivíduo. A segunda parte, «Sól II», é um pouco mais experimental, e reflecte os conflitos com o mundo exterior.

Vejo que voltaram a gravar com o Markus Stock e, mais uma vez, o resultado foi impressionante. Quão diferente foi o processo de gravação de «Sol» em comparação com o «Baldr ok Íss»? Quando entraram em estúdio já levavam tudo escrito ao detalhe? Sim, já tínhamos tudo composto. No estúdio, em Maio, só afinamos alguns detalhes. As gravações foram relativamente rápidas: gravamos tudo em duas semanas. Regressamos ao estúdio em Agosto para dar os toques finais e fazer a mistura e a masterização. O Discordius, o nosso guitarrista de sessão, deu uma grande ajuda nas gravações, e o Markus compreendeu bem quais eram as nossas intenções para este disco relativamente a som e atmosfera. Como sempre foi muito bom trabalhar com ele.

Algumas partes dos temas “Aschevolk” e “Die Mühle”, incluídos em «Sól II», fazem lembrar, na minha opinião, o estilo dos vossos compatriotas Secrets of the Moon. Reconheces esta semelhança? Achas mesmo? Não me tinha apercebido disso. Penso que os Secrets of the Moon fazem um black metal diferente do nosso, e nem os consideramos como uma grande influência. Mas gostamos muito do que fazem, e eles até são uns tipos porreiros! Sendo «Sól» um duplo álbum conceptual, porquê disponibilizar também as suas duas partes, «Sól I» e «Sól II», em separado? Não achas que a estratégia comercial pode ferir a integridade do conceito artístico? É um bom ponto de vista... O lançamento em dois CDs separados constituiu uma espécie de compromisso. A edição principal é uma artbook edition, que contém os dois CDs mais um livro de 50 páginas, profusamente ilustrado, onde expandi todo o conteúdo lírico. Os lançamentos de «Sól I» e «Sól II» em separado destinam-se mais aos fãs que estão interessados exclusivamente na música, e não estão dispostos a pagar o custo adicional (substancial)

Ia exactamente perguntar-te sobre o Discordius; acho que ele apresenta aqui um trabalho notável. O solo de 5 minutos no tema “Sól” é particularmente brilhante. O que nos podes dizer mais sobre ele? Ah esse solo não é do Discordius; foi tocado pelo Alsvartr! De qualquer maneira estou de acordo contigo: ele é um guitarrista muito bom. E também trouxe para as sessões de gravação algumas boas ideias, assim como equipamento que contribuiu de forma muito positiva para o som do álbum. O Discordius esteve até agora envolvido em vários projectos de pequena dimensão, de entre as quais o mais importante é talvez o seu grupo de doom/post rock, Melon Kallisti. Muito obrigado pelo tempo que dispensaste à Versus Magazine. Queres deixar aqui uma mensagem final para os leitores? Saudações e obrigado a todos. Lembrem-se que o conhecimento é uma arma. Portanto, armem-se!

Entrevista: Ernesto Martins


Slava! Primeiro do que tudo, gostaria de congratular a banda por um magnífico lançamento após tantos anos de silêncio. Têm continuado por tantos anos, possuem muita qualidade e merecem mais apreciação. Infelizmente, nem toda a gente pôde conhecer os SSOGE… Assim, diz-nos por que razão decidiram ter tão fantástico nome? Pensam que é fácil de lembrar e que embeleza o espírito quando o dizemos? De qualquer maneira, possui toda a magia que podemos esperar ouvir nas vossas músicas… Radek Hajda: Não há nenhum segredo por detrás do nome da nossa banda. Simplesmente éramos jovens rapazes há quinze anos atrás, entusiastas das bandas Doom com um nome comprido como My Dying Bride, In the Woods e cenas como essas. Assim, lembro-me de estar a pensar num título que poderia descrever a nossa música, e que fosse comprido como o inferno. De certeza que não é fácil de ser

O invocar de um feit

Surgidos em 1995, na parte mais a les Silent Stream of Godless Elegy têm cria egias à sua cultura ancestral. Providen e qualidade, demonstram com o seu sex são para além das fronteiras do seu pa tudo para serem considerados como os do ano e avançarem rumo a maiores m rista e fundador dos S


tiço que a todos une

ste da República Checa, a Morávia, os ado, desde o início, preponderantes elnciando a cada álbum fervor, carácter xto lançamento, «Návaz», que a ascenaís pode não ter sido fácil, mas que têm s criadores de um dos melhores álbuns metas. Respondendo à Versus, o guitarSSOGE, Radek Hajda:

lembrado e isso é uma maneira de falarem de nós, muitos dos nossos fãs usam simplesmente “Silent”. Eu sei que Silent Stream of Godless Elegy não é o melhor nome para posters, publicidade ou catálogos mas, como dizes – tem a magia… No início, a banda tinha algumas influências de Paradise Lost, Anathema e My Dying Bride, mas progrediram o vosso som, inspirados no folclore da região onde vivem. O que consideras ser a mais provável definição para SSOGE? Sim, tens razão. Na verdade, nós crescemos a partir de bandas de Doom/Death metal mas olhamos cada vez mais para a fusão da nossa música folk e rock/ metal, ainda com um forte toque doom. É disso que gostamos e queremos fazer. A conexão entre a nossa música e a terra onde vivemos é inteiramente óbvia. Partimos da memória folclórica e cultural e da herança dos nossos antepassados. Podem encontrar na


nossa música e líricas, motivos folclóricos tal como motivos da literatura verbal folk. Penso que se pode criar a melhor música quando esta surge do íntimo. E nós somos da Morávia, a parte mais a leste da República Checa. Alguma vez pensaram que a banda seria considerada uma das melhores e mais originais bandas de Folk-Metal a nível mundial? Além de terem aparecido em ’95, longe desta moda… Honestamente, eu não gosto desse cliché mas é uma maneira natural para nós. Cada vez mais estamos interessados nas nossas raízes e isso tem de transparecer na nossa música também. Não tem a ver com o facto do “folk-metal é uma moda agora”. Existimos há mais de quinze anos e ainda vamos pelo nosso caminho, não olhando para o que os outros fazem. E eu afirmo que o nosso estilo é mesmo único pois não conheço nenhuma banda semelhante. Olha para as bandas folk-metal recentes – é um alegre “pub” metal, “pirata” metal ou black-metal com líricas folk. Eu não compreendo isso. Eu gosto de bandas que criem música em que eu possa sentir as suas raízes tal como fazem Orphaned Land ou Amorphis, ou como os noruegueses Gaate fizeram. É disso que eu gosto. Desde os anos 90, conseguiram aparecer em diversas compilações. Como é que isso tudo surgiu? Acham que foi um grande esforço promocional que fez com que a banda fosse mais conhecida? Alguns outros convites para tal? No início de 1997, foi a «Breath of Doom», a compilação de bandas Doom-Metal checo desse período. Depois, em 2000, foi «A Tribute to Master’s Hammer», o que foi realmente muito divertido porque não havia nem uma banda de Black-metal nesse tributo. Depois disso houve dois outros tributos - a White Zombie e a Led Zeppelin – que nos ajudou com a promoção, especialmente nos EUA, já que ambos foram editados pela Dwell Records. White

Zombie? Ok, nenhum de nós estava a ouvi-los mas, Led Zeppelin? Isso é um culto genuíno! Assim, tiramos prazer disso o máximo possível! Ambas as canções (WZ – “Blood, Milk & Sky”; LZ – “Kashmir”) excitaram muitas respostas ambivalentes – alguns gostaram, outros detestaram. E isso é exacto: cem pessoas, cem gostos pessoais… Para dizer a verdade, costumávamos tocar Kashmir ao vivo por muito tempo como um bónus e a audiência adorava! A última compilação em que entramos foi «Carohrani…». Foi estranho serem convidados para o CD de folclore «Carohrani aneb z Korenu Moravskeho Folkloru vzesle» sendo SSOGE uma banda de metal? Já agora, que música usaram? Quais foram os comentários depois? Bem, foi um tanto fora do comum já que éramos a única banda de metal lá. No entanto, também foi uma honra já que estão lá “grandes nomes” da música folclórica checa e da cena alternativa como Iva Bittova ou Hradistan. Assim, muitas pessoas descobriram que existimos mesmo. Usamos uma versãodemo da música “Gigula”. A versão normal saiu no nosso álbum anterior: «Relic Dances». Tendo ganho dois Grammys (ou Andĕl, como é chamado desde 2005) na categoria Hard N’ Heavy, conseguiram ser mais conhecidos no vosso país e também fora dele? De qualquer maneira, a primeira vez que o venceram, com o álbum «Themes», isso pareceu pôr um certo stress na banda já que a maior parte dos membros saiu… Da segunda vez, com «Relic Dances», as coisas pareceram ser mais seguras. Esperam ganhar outra vez com esta edição de 2011? Em 2000 ajudou-nos de uma forma estranha já que eu tive de despedir a maior parte da banda. Não havia outra maneira. Eu detesto quando alguém age como uma estrela do rock. No entanto, tive muito sucesso com o renascimento e assim, retroactiva-


“A conexão entre a nossa música e a terra onde vivemos é inteiramente óbvia. Partimos da memória folclórica e cultural e da herança dos nossos antepassados” mente, valorizo isso como um momento positivo. Em 2005, tudo estava bem e este prémio ajudou-nos de forma muito prazenteira. Com uma formação estável, começamos a tocar nos maiores festivais da cena checa, tivemos um concerto de duas horas numa televisão nacional e muitas entrevistas nas maiores magazines. Um momento excelente… Para dizer a verdade, em relação às nossas expectativas, nada esperamos. Criamos música porque adoramos música. Se existe algum prémio para nós, porreiro, mas isso nada significa comparado com o facto de que gravamos um outro bom álbum e finalmente encontramos uma editora grande e respeitada como a Season of Mist. Há cerca de dois anos foram também convidados para colaborar no filme “Labyrinth” . Infelizmente, até agora ainda não foi lançado. Gravaram duas faixas para ele mas apenas mostraram uma ao público expectante: “Dufay”. Porquê? Já agora, sabem alguma coisa em relação a quando é que o filme irá ser lançado? Sim, o azarado “Labyrinth”. Fomos convidados a compor alguma música para o filme e também a providenciar algumas faixas-demo do nosso futuro álbum. O realizador discutiu com os produtores, cada um foi para o seu lado, depois houve problemas com os direitos e o dinheiro, uma nova empresa de produção, novas lutas… Realmente não sei se este filme irá alguma vez ser lançado. Na verdade, eles ainda nos devem dinheiro. Em relação à nossa música, nós compusemos e gravamos duas faixas mas apenas uma, intitulada “Dufay” está sob o nome de SSOGE. A segunda faixa foi o resultado inicial do nosso (refiro-me a alguns membros dos SSOGE) projecto paralelo na onda do Rock/Alternativo. Como referem no vosso website, é um tipo de thriller… O realizador disse-vos que género de atmosfera era preciso para as músicas ou em que partes do filme estariam? Como “Dufay” concede ao ouvinte um belo panorama, não me importaria de ouvir a outra faixa. Imaginam criar uma banda sonora integral para um filme? Sim, sabíamos que tipo de filme e atmosfera seria. Uma banda sonora integral? Soa muito atractivo mas receio que tal não é possível devido à nossa vida actual. Sabes, temos os nossos empregos, famílias…

mas se eu tiver a música como o meu emprego, não há problema, iria apreciar esse tipo de trabalho, é um desafio… Tendo um álbum editado pela Season of Mist é um prémio há muito tempo merecido que irá impulsionar a banda até um maior espectro de público. Como é que esse acordo surgiu? Alguma vez pensaram que iria ser possível? Afinal de contas, existem cinco CDs editados anteriormente e outros cinco anos de ausência… A esperança morre quando o último…. Sempre tentamos propor os nossos álbuns a várias editoras estrangeiras mas sem qualquer sucesso. Assim dissemos “foda-se!”, e tentamos ficar focados apenas na música. Compusemos, ensaiamos arduamente, arranjamos a música com o nosso produtor Tomas Kacko e convidados musicais. Depois reservamos os GrapowStudios e gravamos o álbum com o próprio Roland Grapow. Com algumas faixas misturadas, propusemos a nossa música outra vez às editoras e, finalmente, tivemos sucesso. Tivemos algumas propostas e escolhemos a Season of Mist dado que gostamos do seu rol de edições e trabalho. E se mencionas essa ausência – sabes, embora pareça que é quase seis anos desde o nosso último álbum, «Relic Dances», não é como se estivéssemos a trabalhar todo esse tempo no novo álbum. Simplesmente estivemos a apoiar o álbum anterior por algum tempo, a viver as nossas vidas, tu sabes – casamentos, divórcios, crianças, apartamentos, hipotecas, ganhando dinheiro… Assim, acho que foi apenas nos últimos dois anos que pusemos o cérebro a trabalhar e a arranjar o nosso material. Quanto tempo levaram a gravar? Embora fizessem uma pré-produção antes de entrarem em estúdio, outras ideias apareceram enquanto estavam a gravar? Penso que estivemos a gravar durante duas semanas, depois o Roland trabalhou na mistura por algum tempo e após isso fizemos a mistura final. Sim, fizemos uma pré-produção. Referindo isto, julgo que não estivemos tão bem preparados para gravar do que desta vez. Tudo devido ao nosso trabalho árduo e toneladas de sessões de gravação no computador de casa. Realmente, aprendemos muito…


“Este álbum é um talismã para todos vocês” O título do álbum, «Návaz», refere-se a um amuleto tradicional feito de cabelo, folhas de amora silvestre, cinza e outros ingredientes. Em que é que esse amuleto era usado, e porque é que decidiram dar esse nome ao álbum? Além da primeira faixa, que é o tema-título, será que se relaciona com alguma outra música, criando assim um certo conceito? Este amuleto costumava ser feito para proteger em Nav, que é um termo slavónico para o mundo inferior na nossa mitologia, sendo colocado entre as raízes do grande carvalho. Quando pensamos acerca de um título para o álbum, estivemos a procurar uma palavra que poderia “conectar” todas as músicas. Descobrimos uma palavra muito antiga – não sendo usada actualmente – “Návaz”. Um talismã. Sendo também substantivo, “Návaz” é derivado do verbo “navazovat” que significa “conectar algo” ou “se unir” na nossa língua. E, como dizes correctamente, esses talismãs antigos eram feitos unindo flores com cabelo, penas, cinza, etc. Gostamos de saber que tivemos sucesso em vir com um segundo sentido com o título do álbum: «Navaz», “o ajuntamento” em inglês – nós nos juntamos (conexão) ao nosso passado, às nossas raízes. Este álbum é um talismã para todos vocês. Após o álbum «Relic Dances», por que foi decidido que as líricas fossem escritas em checo? Sabes, foi um grande dilema em relação à língua já que antes costumávamos cantar em inglês, mas, afinal de contas, decidimos usar a nossa língua materna pois parece um passo lógico – tocamos música com fortes raízes folclóricas, então porquê deveríamos usar o inglês? No entanto, para dizer a verdade, é um tanto traiçoeiro já que é muito mais difícil escrever e cantar líricas em checo (do que em inglês). Não obstante, penso que é o caminho certo e iremos continuar assim. A que se referem as líricas no novo álbum? Após alguma pesquisa no vosso website, indago-me se os títulos foram mudados ou decidiram gravar músicas diferentes enquanto estavam no estúdio… Se assim aconteceu, porquê? Penso que nenhum título foi modificado. [NR: diferentes traduções dos títulos no site]. Todas as líricas, escritas pela nossa vocalista, Haneke, se situam em antigos tempos pagãos e, se existe algo que as una, é o respeito pela Natureza e pelo culto da Mulher. Por exemplo, “The Mother Earth” (Mokos em checo) é a Deusa da Terra, o seu equivalente sendo Hera na

mitologia grega e Juno na romana. Na nossa história é usado um tipo de metáfora pois ela é esposa e mãe ao mesmo tempo. Estando enraivecida devido aos guerreiros (os seus filhos) verterem sangue, ela recusa-se a receber os seus corpos de volta. Eles pedem pelo seu perdão, as suas esposas rezam por eles. No final, a Mãe-Terra, ferida e suja devido ao sangue deles, perdoa-os e deixa-os descansar no seu amplexo, no lugar de onde surgiram. Na verdade, esta história é sobre a paz, aquela universal bem como a da alma. Entrem na Mãe Terra… Desde há algum tempo que têm uma formação estável, sendo o violinista Pavel Zouhar o último a entrar em 2008. De qualquer maneira, eu lembrome de ver um vídeo no YouTube, adicionado em Fevereiro de 2008, em que tocam a música “Slava” com a antiga violinista no Masters of Rock 2007, e que está no alinhamento do vosso álbum. Compuseram a maior parte das músicas para este lançamento desde essa altura? Sabes, passamos metade das nossas vidas a compor músicas e ficamos mais velhos. Alguns membros antigos escolheram uma vida familiar, alguns carecem de persistência e, claro, existem – de tempos a tempos – conflitos humanos e musicais. Eu tenho orgulho em agirmos como uma família por quase dez anos, de uma certa maneira somos um círculo fechado. Se despendes horas e anos com alguém numa sala de ensaios, numa carrinha, no palco, existe uma espécie de ligação que as pessoas de fora não podem compreender. Penso que é difícil vir a ser – ou ficar – um membro nesse tipo de banda. Como mencionaste Pavel, sim, ele é o último a entrar na banda pois a nossa antiga violinista, Petra, decidiu ter uma família e agora ela tem duas lindas crianças. Assim, fizemos um concurso e Pavel foi quem ganhou. Ele é um músico talentoso com experiência em vários grupos folclóricos. Em relação à composição, embora algumas faixas sejam antigas, é apenas desde há dois anos que estamos a trabalhar arduamente no novo álbum. Após mais de quinze anos concedendo-nos tantos lançamentos de qualidade, agora na Season of Mist e provavelmente tendo mais concertos agendados, existe algum plano para lançar um DVD, já que seria um grande passo para mostrar a todos que não vos podem ver ao vivo, o que a banda é? Porque não? Mas, como somos um certo tipo de pedantes e ambiciosos em relação à visão artística,


temos de fazer disso um ponto essencial para que um excelente DVD seja feito. Assim, não estamos realmente com pressa. Como está a tua editora: a Redblack? A compilação de aniversário “Redblack” CD+DVD foi editada e com uma versão vossa? Se sim, diz-nos mais acerca disso… Tenho de clarificar isto. A Redblack não é a minha editora. Eu só trabalhei para eles por algum tempo e isso é passado desde há muitos anos para mim. Para dizer a verdade, não existe qualquer marca recente da actividade deles, o que é uma pena… Em relação à compilação, sim, foi há quase 2-3 anos atrás que nos foi proposto fazer uma versão de uma música para essa edição, mas depois – silêncio… Acerca da nossa versão, concebemos isso de maneira livre. Assim fizemos uma divertida Aerosmith’s “Taste of India”. No entanto, temo que não será alguma vez editada… Planeiam gravar algo com o agrupamento musical Slovácko ml, ou meramente tocar ao vivo? Existe algum vídeo do vosso concerto com eles disponível na net? É difícil, sabes. Somos um monte de entusiastas e não podemos providenciar a esses agrupamentos nada mais do que o nosso entusiasmo. E, quando se fala acerca do dinheiro que poderá surgir, é verdadeiramente mau. Assim, tocamos 2-3 concertos com o grupo Slovacko e acabou. Como não é a nossa primeira experiência negativa, tivemos de administrar tudo isso de uma outra forma. Assim, quando pensamos em gravar o nosso novo álbum, falamos com alguns músicos de folclore amigáveis e credíveis e fizemos um tipo de grupo “virtual” contendo o dulcimer, alguns violinos e violoncelo. Como funcionou bem no estúdio, acho que iremos continuar assim a não ser que encontremos alguns fanáticos similares a nós.

Como descreves o Metal no teu país? Existem muitos festivais, lugares para concertos ou algumas bandas que devemos ter em conta? Se me perguntasses isso há mais de dois anos atrás, eu poderia responder numa muito longa frase já que era o gerente de uma loja de Metal em Brno e estava no “centro” dos eventos. Agora, tendo movido para Ostrava, trabalhando no negócio de IT, infelizmente não tenho qualquer pista sobre o que está a acontecer por aqui. Assim, só posso presumir segundo o que posso ver em relação às actividades dos SSOGE. Existem duas grandes magazines impressas, algumas boas e-magazines e algumas estações de rádio que estão disponíveis para tocar Metal. Em relação à TV, tudo desabou, maldição! Em relação a concertos, existem muitos festivais (posso mencionar Masters of Rock ou Brutal Assault como os mais conhecidos) e clubes aqui, mas, sabes, isso depende da posição da banda. E – somos ainda um pequeno país, pouco interessante para o negócio da música, algures no leste longínquo. Agradeço-te por responderes à entrevista. Diz-nos os teus feitiços para os momentos vindouros… Mantém o espírito inflamado!!! E agradeço-te pelo teu apoio! Para dizer a verdade, indagamo-nos sobre o que irá acontecer no futuro recente. Termos o álbum publicado através de uma grande editora como a Season of Mist e estarmos na mesma lista dos Septic Flesh, Cynic ou Morbid Angel, soa como um sonho. Assim, só existe uma coisa da qual tenho a certeza – temos de trabalhar arduamente cada vez mais. Mas amamos o que fazemos. A música é uma parte integral das nossas vidas, assim, estamos ansiosos pelo futuro. Mergulhem na corrente, ouçam a elegia! Entrevista: Jorge Ribeiro de Castro


Findo mais um ano, é tempo de passar em revista o que de melhor 2010 nos tr Depois de vários dias a revirar pilhas de discos e a ouvir muitos gigabytes de fic que quase lhes valeu um envenenamento com metais pesados – o staff da VER revela finalmente as selecções dos melhores álbuns do ano, a nível internacion

André Monteiro 1- A DAY TO REMEMBER - «What Separates Me from You» 2- MORE THAN A THOUSAND - «Vol.4 Make Friends and Enemies» 3- THIS OR THE APOCALYPSE - «Haunt What’s Left» 4- WOE, IS ME - «Number[s]» 5- OF MICE AND MEN - «Of Mice and Men» Carla Fernandes 1- CEREBRAL BORE - «Maniacal Miscreation» 2- CEPHALIC CARNAGE - «Misled by Certainty» 3- DECAYED - «Chaos Underground» 4- INHERIT DISEASE - «Visceral Transcendence» 5- DECREPIT BIRTH - «Polarity» Carlos Filipe 1- MAR DE GRISES - «Streams Inwards» 2- EREB ALTOR - «The End» 3- DIMMU BORGIR - «Abrahadabra» 4- ORPHANED LAND - «The Never Ending Way of ORwarriOR» 5- LES DISCRETS - «Septembre et ses Dernières Pensées» Cristina Sá 1- LANTLOS - «.neon» 2- IMPERIUM DEKADENZ - «Procella Vadens» 3- JALDABOATH - «Rise of the Heraldic Beasts» 4- DEATHSPELL OMEGA - «Paracletus» 5- CONSPIRACY - «Irremediable» Eduardo Ramalhadeiro 1- NEVERMORE - «The Obsidian Conspiracy» 2- OVERKILL - «Ironbound» 3- IRON MAIDEN - «The Final Frontier» 4- BLIND GUARDIAN - «At the Edge of Time» 5- PAIN OF SALVATION - «Road Salt One» Ernesto Martins 1- IHSAHN - «After» 2- ORPHANED LAND - «The Never Ending Way of ORwarriOR» 3- LANTLOS - «.neon» 4- DIMMU BORGIR - «Abrahadabra» 5- SHINING - «Blackjazz»


rouxe. cheiros mp3 – o RSUS Magazine nal e nacional.

Jorge Ribeiro de Castro 1- FOREST STREAM - «The Call of Winter» 2- HORNED ALMIGHTY - «Necro Spirituals» 3- GNAW THEIR TONGUES - «L’Arrivée de la Terne Mort Triomphante» 4- OCTOBER TIDE - «A Thin Shell» 5- THE VISION BLEAK - «Set Sail to Mistery» Luis Almeida Ferreira 1- ANATHEMA - «We’re Here Because We’re Here» 2- PAIN OF SALVATION - «Road Salt One» 3- ALCEST - «Écailles de Lune» 4- ORPHANED LAND - «The Never Ending Way of the ORwarriOR» 5- THE DILLINGER ESCAPE PLAN - «Option Paralysis» Renato Conteiro 1- AVANTASIA - «Wicked Symphony» 2- BLIND GUARDIAN - «At the Edge of Time 3- IRON MAIDEN - «The Final Frontier» 4- MÄGO DE OZ - «Gaia III» 5- NEVERMORE - «The Obsidian Conspiracy»

André Monteiro 1- MORE THAN A THOUSAND - «Vol.4 Make Friends and Enemies» 2- HILLS HAVE EYES - «Black Book» Carla Fernandes 1- CRUSHING SUN - «Tao» 2- DECAYED - «Chaos Underground» Carlos Filipe 1- GWYDION - «Horn Triskelion» 2- PAINTED BLACK - «Cold Comfort» Cristina Sá 1- GWYDION - «Horn Triskelion» 2- MOURNING LENORE - «Loosely Bound Infinities» Ernesto Martins 1- CRUSHING SUN - «Tao» 2- GWYDION - «Horn Triskelion» Renato Conteiro 1- TARANTULA - «Spiral of Fear»


Da perpétua “caça às bruxas”

Patrik Jensen, um verdadeiro “homem dos sete instrumentos”, veste a pele de para nos falar do último produto das “malas artes” da banda. «Witchkrieg» ser o primeiro álbum a contar com Legion como vocalista. De uma forma div trevistado explica-nos as transmutações da “caça às bruxas”. Todos vocês fazem parte de grandes bandas, para além de renderem vassalagem a Witchery. Qual é a diferença entre estar nessas outras bandas e participar neste projecto particular? Patrik Jensen: Na minha opinião, a principal diferença reside no facto de não associarmos esta banda a trabalho, ao contrário do que acontece com as nossas outras bandas. Por outras palavras, estar nas outras bandas também é divertido, mas é com esse trabalho que

pagamos as nossas contas. Fazer parte dos Witchery é só divertimento, talvez até porque nos juntamos poucas vezes, devido aos conflitos de agenda com as nossas outras bandas. A música que vocês fazem parece intrigar muito os que pretendem atribuir-vos uma etiqueta. Como descreves o vosso estilo? Será que varia de álbum para álbum?


festa e b) tem de ser adequado para ouvires no teu mp3 quando andares a passear num velho cemitério à noite. Ora aí tens uma descrição perfeita! Como conseguem fazer tanta coisa ao mesmo tempo? Qual é o segredo por trás da magnífica “sobrevivência” dos Witchery? A minha teimosia [risos]. Gosto de estar ocupado. E escrever um álbum dos Witchery não é assim tão difícil, quando nos juntamos os cinco. Temos gostos musicais muito semelhantes, pelo menos dentro do género que tocamos nesta banda, portanto todos sabemos o que fazer com as ideias que cada um de nós produz. Qual é a relação entre o nome da banda, a vossa música e os temas das vossas letras? Não sei, a sério! Nunca pensei nisso. Todas as bandas em que tenho estado têm nomes relacionados com fantasmas ou mortos vivos ou o sobrenatural: por exemplo, Seance, The Haunted e Witchery. Não sei dizer-te a razão. Acho giro, é tudo! «Witchkrieg» é o vosso quinto longa duração. Não posso deixar de dizer que gostei muito do álbum. Parece ter uma atmosfera muito diferente da do anterior, que também lançaram com a Century Media. Na tua opinião, de onde vem a diferença? Eu acho que cada um dos nossos álbuns tem a sua atmosfera própria. Por exemplo, «Dont Fear the Reaper» é mais negro e assustador que «Witchkrieg», «Restless and Dead» é mais brutal, etc. «Witchkrieg» talvez seja mais equilibrado do que o álbum anterior. Por outras palavras, se o ouvires todo seguido, de uma ponta à outra, vais senti-lo como uma unidade.

e guitarrista e fundador dos Witchery, » apresenta o atractivo suplementar de vertida, que lhe é peculiar, o nosso en-

Ser uma banda que ninguém sabe classificar é um sonho que se transformou em realidade! Isso deve significar muito simplesmente que temos um som muito próprio. [risos]! Pelo menos é assim que vemos esse facto. Não sei descrever a nossa música. Apenas escrevemos o que nos apetece escrever. No entanto, temos dois critérios para filtrar o material: a) tem de fazer com que as pessoas sintam vontade de tocar uma guitarra ou uma bateria virtuais e de ouvir o CD numa

Por que razão Toxine [o anterior vocalista] abandonou os Witchery? Estava farto de ensaiar e tocar ao vivo, apesar de não o fazermos muitas vezes. Estamos muito contentes por termos o Legion connosco agora. E que acrescentou ele à vossa “feitiçaria”? Uma malignidade ameaçadora… Penso que ele dá mais força às nossas canções que o Toxine. O nosso anterior vocalista era muito bom nas faixas lentas e atmosféricas. O Legion é mais agressivo, na forma de cantar e na sua postura. «Witchkrieg» parece ser um álbum político. Concordas? Não, não o vejo assim. Para mim, os nossos álbuns são um meio para escapar à realidade durante 40 e alguns minutos. A capa do álbum evoca a propaganda soviética dos anos 40: é uma foto de Estaline com


“ [A nossa música] tem de ser adequado para ouvires no teu mp3 quando andares a passear num velho cemitério à noite” uma caveira no lugar da cabeça. A faixa que deu o título ao álbum fala sobre a necessidade de te manteres fiel a ti próprio, de defenderes a tua opinião, o que era completamente proibido nos estados comunistas. E, há uns séculos atrás, se te mostrasses excêntrico e tivesses opiniões muito fora do habitual, acusavamte de bruxaria e queimavam-te. Mas a nossa música serve apenas um meio de fugir à realidade. As letras das canções todas juntas formam uma mensagem e cada uma delas é uma história de horror em miniatura. As capas dos vossos álbuns anteriores faziam lembrar ilustrações de romances de terror, mas o estilo desta é mais realista. Foi feito intencionalmente? As capas dos nossos últimos três álbuns foram feitas pelo Andreas Pettersson, meu amigo desde a infância. Ele também criou o logo para os The Haunted e as capas dos três primeiros álbuns deles. Compreendemo-nos muito bem e ele adora fazer capas para álbuns de metal, para descansar do seu habitual trabalho publicitário para multinacionais. Tem uma grande capacidade de ver o que funciona realmente. Foi ele que criou o conceito de «The Haunted Made Me Do It», que causou grande sensação. Portanto, eu confio nele a 100%. Foi ele que teve as ideias de base, tanto para «Don’t Fear the Reaper», como para o «Witchkrieg». É dele a ideia de usar a foto de Estaline e de imitar o estilo gráfico dos soviéticos: por exemplo, usar duas cores e um vermelho que não era bem vermelho, porque eles não tinham os meios necessários para usarem essa cor nos folhetos da propaganda. As capas do Andreas são sempre intencionais. Por que aparece sempre um esqueleto nas capas dos vossos álbuns? É uma espécie de mascote, como o “Eddie” dos Iron Maiden ou o “Vic Rattlehead” dos Megadeth. A nossa chama-se Ben Wrangle e, de facto, até agora tem surgido em todas as nossas capas. Não sei se será sempre assim! Mas ele está connosco desde o início e nós temos querido que ele faça parte de todas as nossas aventuras. Por que convidaram tantas celebridades para participar neste álbum? Essa é fácil: porque podemos fazê-lo. Convidámo-los, eles viram o que queríamos que fizessem, gostaram e aceitaram participar. Era um sonho nosso, que con-

seguimos concretizar. Ainda ficaram alguns músicos para uma próxima ocasião, portanto é provável que os Witchery voltem a ter convidados. Vi no youtube o vosso vídeo oficial para “Return of the Conqueror”.Por que escolheram esta música e não a faixa que deu o título ao álbum? É a vossa música favorita? E por que fizeram o vídeo num concerto? De facto, também fizemos um vídeo para a faixa do título, até antes deste. Mas pareceu-nos boa ideia haver vídeos para duas canções e escolhemos esta para o segundo. Fizemo-lo num concerto, porque o orçamento disponível era pequeno, como é habitual nos dias que correm, em que já quase ninguém compra CDs. Sobrou algum dinheiro do vídeo da «Witchkrieg» e nós gastamo-lo a fazer este segundo vídeo no Gothenburg’s Metaltown Festival. O que vão fazer para promover o vosso álbum? Acham que vão conseguir fazer alguns concertos nos intervalos das digressões das vossas outras bandas? Também vi que planeavam lançar um DVD ao vivo. Como vai esse projecto? Vamos tentar fazer o máximo de concertos que pudermos, mas vai ser realmente difícil, porque todos temos uma agenda muito carregada com The Haunted, Arch Enemy e Opeth. Vamo-nos concentrar nos festivais, porque nos permitem tocar para muita gente num só dia. Gostávamos muito de fazer uma digressão dos Witchery, mas, para já, fica no reino dos sonhos, porque não temos tempo livre. O Legion já actuou em Portugal, quando era vocalista dos Marduk. E os outros membros da banda? Já cá vieram? Que tal vos parece a ideia de virem oficiar num dos templos da cena metal portuguesa? Já estivemos muitas vezes em Portugal com os The Haunted e o mesmo aconteceu com os Arch Enemy e os Opeth. Os Witchery tocaram no Porto e em Lisboa, em 2000, a fazer a primeira parte de concertos dos Moonspell e dos Kreator. Temos boas recordações de Portugal e gostaríamos muito de voltar a tocar no vosso país. Portanto, convençam um festival a contratar-nos e nós iremos de certeza. Entrevista: CSA



Consciência do caminho Apesar do percurso dos Crushing Sun ter já alguns anos, só em 2007 é que assinaram pela Major Label Industries, lançando um split com os E.A.K intitulado «Bipolar». Três anos depois, lançam o seu álbum de estreia, «TAO», com onze faixas recheadas de uma secção rítmica incrível. Depois deste lançamento falamos com o Bruno Silva, frontman do quarteto vila-condense, procurando saber as reacções a este álbum e projectos futuros.

Boas Bruno! Para quem conhece os Crushing Sun só de concertos, fala-nos um pouco sobre este projecto. Bruno Silva: Boas! Crushing Sun (CS) nasce em 2003, pela mão dum grupo de pessoas que, embora não partilhassem um passado comum, tinham o mesmo objectivo e os mesmos gostos musicais. Com o passar dos anos fomos refinando a nossa sonoridade, isto é, vincando uma personalidade, um som próprio, assim como uma atitude diferente, uma forma de estar diferente no underground nacional, embora seja demasiado redutor falar apenas no nosso underground. Tudo o que temos feito até agora é acima de tudo uma tentativa de criação de algo com que os membros de CS – e por CS não me refiro à Comunicação Social – se identifiquem, que gostem, obviamente por extensão e como nenhum de nós se acha diferente aos olhos do mundo, certamente existirão pessoas com os mesmos gostos e filosofia que nós. O nosso som é para nós e para essas pessoas. Falando um pouco em relação à dita sonoridade, muita gente tem dificuldade em catalogar o que fazemos, nós próprios não temos um rótulo definido e não o queremos ter. Se disséssemos que éramos uma banda assumidamente Death, Sludge, Black, Core, seja o que for, não só estaríamos a impor barreiras, como estaríamos a condicionar quem ouve. Gostamos de estimular os nossos sentidos e de quem nos ouve, tanto tocamos/compomos músicas “agressi-


“…nós próprios não temos um rótulo definido e não o queremos ter”

vas”, como musicas mais “trippy”. Visto incorporarmos diferentes géneros e subgéneros no nosso som, penso que a melhor forma de nos definir enquanto banda seria Metal sem palas. Após lançarem o split em 2008, sentiram-se preparados para realizarem um trabalho mais profundo, como este álbum? Sim, sem dúvida. O «Bipolar» permitiu à banda crescer e saber o que é estar em estúdio. Trouxe disciplina à banda. Além do mais ajudou a definir um rumo; a termos uma visão crítica muito mais apurada do que tínhamos até à gravação do split. Embora em termos sonoros o «TAO» esteja bastante diferente do «Bipolar», se não fosse este último, dificilmente sairia o álbum que saiu. Sei que houve uma grande evolução vossa como banda. Vocês tiveram essa noção de estar a formar uma base mais consistente e específica dentro do vosso género? Nós tivemos a noção de estarmos a criar algo diferente, algo com identidade. A consistência do nosso trabalho é uma consequência lógica de todos estes anos em que fomos evoluindo juntos, sempre com a mesma formação. Depois do lançamento do álbum quais estão a ser as reacções de quem vos tem ouvido nestas onze faixas? Como chegaram ao nome “TAO”?

O feedback que nos tem chegado tem sido excelente, principalmente fora de Portugal. Lá “fora” parecem apreciar o nosso trabalho, aqui nem tanto, isto é, existem pessoas a gostar e a apoiar, mas não tantas como se vê noutros subgéneros do Metal aqui em Portugal. Mas se vivêssemos obcecados com isso tocávamos Thrash e fazíamos 30 datas a tocar no mesmo sítio, para as mesmas pessoas e apanhávamos altas borracheiras em todos os concertos. Talvez este álbum venha a ter a atenção que merece, em Portugal, quando a banda deixar de existir, ou se fizermos carreira lá por fora. Quanto ao nome do álbum, tem a ver com a temática do Taoismo, ainda que apenas tenha servido de base, não é um álbum focado nessa mesma temática exclusivamente e aprofundadamente. Mas “TAO” significa, literalmente, “O Caminho”, algo que está representado quer liricamente, a par da temática, quer no artwork do álbum. Neste momento estão em divulgação deste álbum, mas há já algum projecto futuro em mãos? Neste momento queremos saborear o momento e tocar o máximo possível. Eventualmente e porque é inevitável para a evolução da banda, iremos tentar uma tour lá por fora. Entrevista: Inumater


Sei que vens dos Açores e que fazes parte da cena local, sobejamente conhecida. Que peso tem essa filiação na música feita pela banda? João Arruda: Efectivamente quando formei os Mourning Lenore já trazia alguma bagagem. Nos Açores, havia sido vocalista/guitarrista de uma banda – Schism – que chegou a ter alguma projecção para o pouco tempo que esteve activa (cerca de 2 anos). Também criei o website Metalicídio. com, que me permitiu manter contacto com uma enorme panóplia de músicos, estar na frente da organização de eventos, etc. Naturalmente, esta experiência foi importante, pois já sabia muito bem o que era estar numa banda e conhecia as armas para batalhar contra as dificuldades que uma banda amadora enfrenta. Numa das entrevistas que li, afirmavas que o doom metal não desperta tanto interesse no público português como outros subgéneros do metal. Que razões encontras para tal fenómeno, já que os Portugueses são tidos por melancólicos e nostálgicos? JA: Se calhar por os portugueses serem tão melancólicos e nostálgicos por natureza procuram música que lhes permita explorar outros sentimentos (risos). Sinceramente, não faço a menor ideia e até é algo relativamente estranho, pois em Portugal há bandas deste género com enorme qualidade. Apesar de «Loosely Bounded Infinities» ser o vosso álbum de estreia, têm feito vários concertos pelo país, acompanhando bandas com nome na cena metal europeia. Em que medida essa experiência de palco vos ajudou a lançar o vosso álbum de estreia? JA: Os concertos são sempre uma componente essencial da vida de qualquer banda pois ajudamnos a perceber até certo ponto se estamos a conseguir passar ao público a nossa mensagem. Além disso, são sempre uma oportunidade para trocar impressões com outros músicos sobre como trabalham a sua música, a sua imagem e palco, que

A esperança no m

«Loosely Bounded Infinities» é o Setembro passado, pela Major Lab nos Açores e uma história de dois doom melódico de contornos bem logo, acusam o toque da poesia na Estes dados levaram a Versus Mag (guitarra) e João Galrito (voz/guit


meio do desespero

seu álbum de estreia, lançado em bel Industries. A banda – com raízes s anos – destaca-se por um death/ m especiais e por letras que, desde acional. gazine à conversa com João Arruda tarra).

material usam, etc. e, nessa perspectiva, todos os concertos são bons, sejam com bandas nacionais ou internacionais. Como reages às críticas sobre «Loosely Bounded Infinities» que referem a presença de elementos de rock e doom metal dos anos 90, ligeiras influências progressivas e psicadélicas e até toques jazzy? JA: Não podia reagir melhor, as influências rock, prog e jazz sempre foram assumidas por nós. Até fico particularmente orgulhoso por as termos conseguido exprimir de modo a que fossem notáveis (risos). E, por falar da vossa música, quem é responsável pela composição nos Mourning Lenore? JA: Por regra trabalhamos na sala de ensaios riffs que o Galrito ou eu trazemos de casa e aí, em conjunto, compomos os temas. As críticas são essencialmente favoráveis à banda, destacando a qualidade musical e vocal do vosso trabalho. Mas todos sabemos que qualquer trabalho tem defeitos. O que gostariam os Mourning Lenore de rever e melhorar no próximo álbum? JA: Sinceramente ainda não paramos para pensar nas críticas, digeri-las, processa-las e repensar (ou não) o nosso trabalho, pois o processo de promoção ainda está a decorrer a todo o gás. Naturalmente que apreciaremos com cuidado as críticas, é exactamente para isso que elas servem, para nos ajudar a crescer, mas, por outro lado, tudo faremos para nos mantermos fiéis a nós próprios. Adorei as letras das vossas canções. Quem as escreveu?


“As influências rock, prog e jazz sempre foram assumidas por nós.” (JA) JA: Eu e o Galrito. A propósito de Mourning Lenore, evoca-se Poe. É do seu poema que vem o nome da banda? É possível encontrar a sua influência neste álbum? JA: O nome da banda faz efectivamente uma alusão a Edgar Allan Poe, mas algumas pessoas levam isso muito a peito, o que as pode levar a esperar coisas que não correspondem à realidade. Consideramos que há uma alusão ao universo Poeiano na nossa música, mas não de uma maneira expressa ou directa. É uma questão de atmosfera. Curiosamente, as letras de duas das vossas canções (“Contours of a dream” e “Reminiscence”) fizeram-me lembrar a poesia simbolista/decadentista de Mário de Sá-Carneiro, contemporâneo e amigo de Fernando Pessoa. Que pensas desta associação? João Galrito: Atrevo-me a dizer que Fernando Pessoa sim, teve e tem um impacto enorme em mim – enquanto escritor, enquanto pensador, enquanto sofredor de inúmeras questões que se interligam e identificam com a minha vida pessoal. De facto, é

evidente a forma como as letras estão carregadas de ícones, texturas e metáforas que se traduzem na mente de quem as lê. As funções de baixista, em Mourning Lenore, são desempenhadas por uma mulher. Que podes dizer-nos sobre a presença feminina na cena metal actual, em Portugal e no estrangeiro. O que mudou, se é que te parece que alguma coisa mudou? JA: A presença feminina na cena metal actual, a meu ver, já é algo perfeitamente natural. Nos dias que correm, já há um sem fim de mulheres em bandas de metal, mais marcadamente nos estilos de contornos góticos, mas também em bandas extremas. E finalmente! Eu pessoalmente não olho a sexos na música. Penso que é uma questão absolutamente irrelevante, na medida em que cresci a ouvir imensas bandas que tinham elementos femininos e isso, para mim, sempre foi algo tão natural como o sol ou a chuva. Entrevista: CSA



ANTIMATTER

«Alternative Matter» (2010 / Prophecy Productions) Dez anos após o primeiro álbum, os Antimatter lançam uma compilação de temas não gravados e versões alternativas compiladas por Mick Moss. Esta compilação é composta por dois CDs e nela podemos encontrar uma versão de Dead Can Dance, várias versões ou remixes para a mesma música e versões raras ao vivo. De realçar a participação de Duncan Patterson (ex-Anathema). «Alternative Matter» é uma excelente compilação semi-acústica, a fazer lembrar Anathema ou Opeth («Damnation») que merece, verdadeiramente, ser ouvida com muita atenção. A ter em conta! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

CRUSHING SUN

«Tao» (2010 / Major Label Industries) Esqueçam o que ouviram em 2008 no split com os EAK, pois estes são os novos Crushing Sun. Em lugar de rajadas disparadas em todas as direcções, o que o colectivo apresenta agora é um metal moderno e vigoroso, mais contido na agressão, mas que não prescinde da sua dose letal de riffs death. Mais importante é sem dúvida a nova abertura a um espectro de influências mais alargado – que não compromete a coerência do todo – bem como a admirável progressão na qualidade das composições. Uma das boas surpresas nacionais do ano. [8/10] Ernesto Martins

HOLY GRAIL

«Crisis In Utopia» (2010 / Prosthetic Records) «Crisis in Utopia» é o álbum de estreia dos californianos Holy Grail. Influenciados pelo NWOBHM, speed e thrash Metal e com um EP na bagagem, os Holy Grail são uma típica banda de puro Heavy Metal, que tem em «Crisis In Utopia» uma sólida e consistente proposta. Os temas desfilam numa miscelânea de estilos que conseguimos reconhecer aqui e ali. Não acrescentam nada de novo ao panorama do Metal, limitando-se a conseguir apresentar uma nova roupagem ao já muito caracterizado som heavy metal. Acima de tudo, «Crisis in Utopia» é uma demonstração cabal de eficiência, poder, velocidade e virtuosismo. Resta agora os mesmos conseguirem talhar e caracterizar o seu som no futuro. [7.5/10] Carlos Filipe

MIRROR OF DECEPTION «A Smouldering Fire» (2010 / Cyclone Empire)

São uma das mais antigas formações germânicas de doom metal tradicional, e acabam de regressar com nova proposta centrada em riffs graves e massivos e cadências arrastadas ao bom velho estilo de bandas como Candlemass e Saint Vitus. Introspectivo, vagamente psicadélico, e claramente mais variado do que «Shards», este é um registo de altos e baixos, que tanto contém as melhores composições de sempre do quarteto, como temas relativamente pobres e desinteressantes. [7.5/10] Ernesto Martins


MORBID CARNAGE

«Night Assassins» (2010 / Pulverised Records) Apesar de não estarmos certamente perante uns Evile ou uns Pitch Black, e de já não haver pachorra para esta imagem estafada de machões violentos e acéfalos, há que reconhecer nestes húngaros alguma capacidade para reavivar o entusiasmo pelo velho thrash metal. Sem surpresas, «Night Assassins» é uma torneira aberta de malhas sujas e rasgadas, energicamente articuladas por uma maquinaria infernal bem oleada, que nos transporta até às glórias dos 80s protagonizadas por lendas como Slayer e Kreator. Uma estreia decente, mas só para fanáticos do género. [6.5/10] Ernesto Martins

NIGHTFALL

«Astron Black And The Thirty Tyrants» (2010 / Metal Blade Records) Os gregos Nightfall apresentam-nos no ano de 2010 o seu trabalho «Astron Black And The Thirty Tyrants». Melodias de peso, voz presente e todo um misto de velocidade e calma, com a vertente mística das letras aliada ao progresso e exploração. Os cerca de vinte anos deste grupo, sempre em constante mudança, mostramse carregados de sabedoria e trabalho, e culminam neste registo agradável aos ouvidos. [8/10] Daniel Guerreiro

THULCANDRA

«Fallen Angel’s Dominion» (2010 / Napalm Records) Pelos vistos Steffen Kummerer, dos Obscura, é tão doente pelos Dissection que montou, com a ajuda de alguns amigos, este projecto com o intuito de fazer algo “inspirado” na banda de Jon Nodtveidt. Pena é que a mão lhe tenha escorregado e a alegada inspiração tenha dado lugar a uma cópia a papel químico do estilo característico da histórica formação sueca. Claro que competência não lhe falta para recriar com sucesso a atmosfera gelada e as torrentes melódicas de blast-beats legadas para a posteridade num «The Somberlain». O problema é que, por melhor que ele o faça, o original é sempre preferível. [6/10] Ernesto Martins

UNITOPIA

«Artificial» (2010 / InsideOut) Unitopia é o projecto de Mark Trueack e Sean Timms, que, depois de um primeiro álbum promissor, só volvidos 10 anos e pela mão da InsideOut, é que os Unitopia levantaram finalmente do chão. «Artificial» é o terceiro álbum (segundo pela InsideOut) e um masterpiece de Rock progressivo. A riqueza musical aqui presente é magnífica e de um requinte de qualidade musical elevadíssima. Os Unitopia conseguem incorporar na sua música elementos tão dispares como música do mundo, jazz, heavy rock ou groove, fazendo com que «Artificial» nos surpreenda em cada música. [9/10] Carlos Filipe


Sempre a desafiar os limites da própria banda e do seu Metal Gótico, os Trista musical à sua já longa carreira. Com uma secção vocal completamente renov brindar com uma música mais fresca e mainstream, mas sempre vincadamen Como vêem hoje todo o caminho evolutivo feito pelos Tristania, desde o álbum de estreia em 1997 «Tristania» até ao actual lançamento de 2010, «Rubicon»? Ole Vistness: Cada álbum novo dos Tristania é sempre uma encruzilhada, ou damos um passo em frente, para cima ou para os lados em relação ao álbum anterior. Com «Rubicon», decidimos seguir em frente e afastarmo-nos da agressividade e obscurantismo de «Ashes» e da atmosfera mais sombria de «Ilumination». Tal como «Ashes», com a sua sonoridade mais crua, potente e simples era uma reacção aos coros e sintetizadores megalómanos de «World of Glass»; «Rubicon» é uma reacção a «Ilumination» e o abrir da porta sinfónica, já de nós conhecida dos anos 90. A habilidade em evoluir, crescer e explorar novos territórios musicais desconhecidos, foi sempre uma forte faceta dos Tristania. Mantemo-nos sempre criativos e atentos, enquanto procuramos avidamente por novos conceitos. Com isto em mente, só posso dizer que estamos orgulhosos do nosso nome e do nosso legado como banda. É por isso que acho que você usa a frase perfeita para descrever a nossa viagem musical: Um caminho evolutivo. Como é que vês a transição dos Tristania desde os primeiros dias até hoje? A razão da minha questão, prende-se com o facto de haver sempre os fãs mais nostálgicos e obstinados que continuam acorrentados aos primeiros álbuns dos Tristania, argumentando que eles continuam a ser os melhores álbuns, esquecendo que a banda tem de avançar para poder crescer – claro, isto sem comprometer o seu passado. Suponho que com o passado dos Tristania e a sua progressão ao longo destes anos todos, este problema, provavelmente seja recorrente em cada álbum novo. Qual a tua opinião acerca destes sentimentos nostálgicos? Tal como havia dito na resposta anterior, nós Tristania, estamos sempre num caminho evolutivo. Daí, consideramos que qualquer tran-

sição na nossa música seja algo de natural. E as razões são variadas. Primeiro, porque já não temos 17 anos e desde então decorreram anos de experiência nas nossas vidas, ambas musicais e pessoais. Segundo, criamos música com os nossos corações. É uma atitude íntegra que reflecte aquilo que somos como pessoas, num dado momento, num dado local, quando estamos a criar música. Nada soaria mais artificial ou forçado, se com os nossos trinta e tais anos fizéssemos a mesma música que fazíamos quando éramos adolescentes. Não obstante, respeito totalmente a opinião das pessoas que gostam mais dos nossos primeiros álbuns. Nós estamos a falar de música, e cada indivíduo tem o direito a ter uma opinião. No entanto, há sempre pessoas a ficarem bastantes zangadas quando as suas

Um


ania têm com «Rubicon» um novo opus, onde acrescentam mais uma camada vada e mantendo a mesma estrutura criativa, os Tristania conseguiram-nos nte Tristania. A conversa com o mentor da banda e baixista, Ole Vistness. bandas favoritas afastam-se daquilo que eram quando as descobriram e se apaixonaram por elas e a sua música. As pessoas reagem diferenciadamente nestas situações, umas interiorizam o facto de as “suas bandas” mudarem, e perdem o interesse, outras ficam de tal maneira irritadas que acabam por lançar comentários depreciativos e odiosos na Internet. Algumas das minhas bandas favoritas mudaram de sonoridade e estilo ao longo dos anos, e mesmo que eu ficasse instintivamente desapontado e traído, depois de ouvi-los com uma mente aberta, tenho de reconhecer que a música continua excelente. E os antigos álbuns, aqueles pelos quais me apaixonei no início, continuam aí para serem ouvidos vezes sem conta. Posso ouvi-los as vezes que me apetecer.

Caminho Evolutivo

Quais são as tuas expectativas com o presente lançamento, «Rubicon»? Estamos extremamente satisfeitos com o álbum que fizemos e acho que conseguimos tudo aquilo a que nos propusemos fazer ao nível criativo e de produção. Estas eram as nossas expectativas e elas foram completamente preenchidas. O nosso pensamento agora é fazer uma tournée, a mais longa quanto possível, de forma a divulgar «Rubicon». A nossa primeira tournée Europeia já é história, neste momento procuramos tentar ir a outras paragens e abraçar todas as ofertas para tocar em festivais. Onde é que colocas «Rubicon» no seio da discografia dos Tristania? Eu não tenho nenhuma lista com os meus álbuns favoritos de Tristania. «Rubicon» é o primeiro álbum em que estive envolvido, e, por isso, é-me bastante especial. Mas, tal como já disse, é o álbum mais perfeito e único que poderíamos fazer hoje. O nosso próximo álbum será a seu tempo, o mais perfeito álbum a ser feito por nós. Eu sei que é um cliché, mas se tu puderes fazer o teu melhor álbum de cada vez que fazes um, porque é que haverias de fazer somente um álbum perfeito? Este é o nosso objectivo e onde coloco «Rubicon»: Um passo natural depois de «Illumination» e um álbum que apresenta os novos membros e faz sobressair a banda, continuando a sermos fiéis ao legado dos Tristania. O álbum está nos escaparates desde final de Agosto 2010. Quais têm sido as reacções até agora? As reacções têm sido extraordinariamente boas, pelo facto de ser o primeiro álbum com Mariangela e Kietil nas vozes. Eu questionava-me como seria a reacção dos fãs e da imprensa ao álbum. Quando as pessoas seguiram a banda tantos anos é compreensível que uma mudança na linha da frente da mesma possa resultar numa repulsa, não necessariamente com a música, mas sim com o facto da sua


“… Tal como «Ashes», com a sua sonoridade mais crua, potente e simples, era uma reacção aos coros e sintetizadores megalómanos de «World of Glass»; «Rubicon» é uma reacção a «Ilumination» e o abrir da porta sinfónica, já de nós conhecida dos anos 90.” banda favorita já não ser a mesma de quando a descobriram. E de facto isso aconteceu com esta transição, em que alguns fãs expressaram tristeza e raiva. Felizmente, estes constituem uma curta minoria. O que ressalta de isto tudo, para onde quer que nos viremos, é que as reacções foram boas e as pessoas sentem que demos passos importantes como banda, mantendo a mesma veia e atmosfera que fez os Tristania. Musicalmente falando, eu diria que «Rubicon» é um álbum sólido e com uma sonoridade fresca. Acho-o ligeiramente diferente de «Illumination», marcando definitivamente um novo tom para os Tristania. De que modo todas estas mudanças na banda afectaram a música, composição e letras? Obrigado! Um dos cumprimentos que me deixa pessoalmente mais contente é dizerem que «Rubicon» é fresco. Num género sobrepovoado, é muito comum as bandas apresentarem um som idêntico. Eu espero realmente, que as outras bandas olhem para o nosso caso e que saibam interpretar-nos da mesma forma, ou seja, que interiorizem que trouxemos algo de novo para cima da mesa, que exploramos os confins daquilo que é o Metal Gótico. As mudanças na banda, desde «Illumination» tiveram algum impacto na direcção musical definida para «Rubicon». A maior delas, e a mais importante, foi: ao invés de termos

dois compositores e um letrista principal, passámos a funcionar como um todo, onde todos contribuem de igual modo na componente criativa. Eu e o Anders, escrevemos a maior parte da música, os vocalistas escreveram a maior parte da sua componente vocal – o que não acontecia antes. No que toca à direcção geral e sonoridade da banda, nós somos uma democracia forte, onde todas as decisões são efectuadas com todos envolvidos. Graças a isto, «Rubicon» é um produto inspirado e desenvolvido por nós todos juntos, novos e antigos membros em equidade. Como foi trabalhado «Rubicon» até este atingir a fase de estúdio e produção? «Rubicon» foi escrito e arranjado quase completamente antes de termos entrado em estúdio. A forma como o fazemos é através da Internet. Gravamos ideias e músicas, e enviamo-las uns aos outros para revisão ou para alguém brincar e experimentar. Apesar deste processo criativo funcional, o cerne da criação e escrita das músicas acontece quando eu e Anders juntamos forças na sala de ensaios. É aqui que as ideias nascem e são trabalhadas até termos uma música. Depois desta fase, a música é apresentada aos vocalistas, eles acrescentam as suas ideias para compor a parte vocal e os seus respectivos arranjos. A seguir organizamos uma sessão de pré-produção/arranjos


“ … Nada soaria mais artificial ou forçado, se com os nossos trinta e tais anos fizéssemos a mesma música que fazíamos quando éramos adolescentes. “ com o Waldemar [Sorychta], em que a última destas sessões tem lugar dias antes de entrar em estúdio, onde cada pedra é virada e cada ideia aperfeiçoada. Assim, ao entrarmos em estúdio, restam-nos alguns detalhes para limar, o que nos deixa uma liberdade total para nos focarmos 100% na performance, permitindo que façamos cada música a melhor e mais potente possível.

igualmente com as fortes vozes de Østen e Kjetil, para não esquecer da performance de Pete Johansen no violino. No fundo, para mim, o cerne do álbum, aquilo que é a essência nos meus ouvidos, são as músicas. Cada execução, vocal ou instrumental está marcada para fazer de cada canção a melhor, onde cada detalhe musical é focado minuciosamente naquilo que pede a canção.

Mencionaste a participação como co-produtor de Waldemar Sorychta. Um dos factores chave que se mantém intacto de «Illumination» é a sua contribuição como co-produção. Quanto profundo foi a contribuição de Waldemar com os Tristania e quais as mudanças que ele introduziu em «Rubicon»? Waldemar desempenhou um papel importante durante as gravações como co-produtor, consultor técnico e participou na gravação das partes vocais de Mariangela. Mas, a sua contribuição mais significante foi durante a pré-produção, onde trabalhamos cada uma das músicas, cada parte, cada detalhe, sempre com o objectivo de encontrar a melhor das soluções e eliminar todos os elementos desnecessários da canção, essencialmente aqueles elementos musicais que se poderiam tornar cegos para nós – após termos convivido com a música ao longo de meses. Como tudo na arte, para extrairmos o melhor possível da nossa criação, temos de por vezes eliminar aquilo que nos é mais chegado, deixar cair ideias das quais nos apaixonamos, porque só assim conseguiremos ter a melhor canção possível. A melhor forma de encarar este desafio é trazer alguém de fora em quem confiamos. Para nós, Waldemar é essa pessoa. Nós confiamos no seu julgamento, mesmo que por vezes discordemos e não seguimos o seu conselho. É excelente ter um par de “orelhas novas” para nós apontar os pontos fracos.

Conta-nos como foi a chegada de Mariangela à banda? Qual o seu background? Depois da saída de Vibeke, a banda tirou umas férias. Com isto, muitas cantoras mostraram o seu interesse em ocupar o lugar deixado pela Vibeke nos Tristania. Mariangela foi uma de entre muitas centenas que enviaram uma demo tape, e de imediato emergiu do lote como uma das candidatas mais fortes. Ela e outras duas raparigas foram convidadas a vir até Stavanger na Noruega, para ensaiar connosco. Após alguns dias de intenso trabalho, ficou claro que havia uma química entre ela e a banda. Era definitivamente a pessoa certa e a sua voz era perfeita para levar os Tristania a novos territórios. O seu background musical é mais orientado para o Blues e o Soul, no entanto, ela tem uma forte paixão pelo Metal. Desde que começámos a escrever e trabalhar o material novo, ela sofreu uma grande evolução, tornando-se numa cantora com um repertório vocal enorme. Com «Rubicon», Mariangela aprendeu novas formas de cantar e ver a música.

Ouvindo o álbum todo, consigo extrair duas coisas: Há menos partes guturais masculinas e uma interpretação feminina excelente por parte da Mariangela Demurtas, que arrebata o álbum todo. Como foi definido esta centralidade na Mariangela? Concordo com o facto de a Mariangela brilhar em «Rubicon». Ela dá às músicas intensidade e profundidade, conseguindo ao mesmo tempo revelar todo o potencial da sua voz. Mas, apesar da força de Mariangela, não acho que «Rubicon» esteja centrado à sua volta. O álbum é muito mais diversificado e conta

Quando é que poderemos ver finalmente os Tristania em Portugal? Será que isso irá acontecer na tournée de «Rubicon»? A primeira parte da tournée “Rubicon Tour” tomará parte na Noruega e Europa durante Outubro 2010. Infelizmente não foi possível incluir nenhuma data para Portugal. Temos datas confirmadas para Inglaterra, Israel e novamente Noruega., isto antes de partirmos para uma tournée nos Estados Unidos. A segunda parte da tournée que terá lugar durante 2011 e ainda não está confirmada. Espero sinceramente que possamos passar por Portugal, quando esse tempo vier. Entrevista: Carlos Filipe




Fogo Lento clássico na Alemanha e citam om do de as tig an s ai m s õe aç m for s São uma da influências líricas. Para s ai cip in pr s da a um o m co o ag m o nosso José Sara Fire», que marca o g in er ld ou Sm «A o, lh ba tra e nt ce re nos falar sobre o mais o guitarrista Jochen Fopp. m co la fa à os am eg ch o, tet ar qu do 20º aniversário déPara uma banda agora a completar já a segunda D) cada de existência, os Mirror of Deception (Mo de contam com um número invulgarmente reduzido uê? álbuns na discografia: apenas quatro. Porq anos Jochem Fopp: Bem, nos nossos primeiros dez .O gravámos um total de cinco demos e um mini-CD três primeiro álbum só viria a surgir em 2001, já com ente anos de atraso. Penso que não fossos propriam

a preguiçosos; o problema é que não suscitamos muit atenção na fase das demos.

ser o O novo álbum, «A Smouldering Fire», parece mais variado de sempre da banda. Além do doom s clássico por que os MoD são já conhecidos, temo in aqui algumas surpresas como o “Bellwethers folk. mist”, uma faixa baseada numa bela melodia


Fala-nos um pouco disto. O novo álbum é realmente muito variado, o que também não significa que os discos anteriores tenham sido unidimensionais. O “Bellwethers...” é uma espécie de homenagem aos Primordial, uma banda de que todos gostamos muito. Na verdade sempre tivemos um pouco de influências folk no que toca às melodias. Para nós o doom é muito mais do que um simples andamento ou um simples estado de espírito. O doom pode existir segundo várias formas e várias cores – é como a vida. Por outro lado, “Lauernder schmerz” soa como uma vulgar canção de rock, e por isso é de estranhar num disco dos MoD. Porquê este tema? A música para essa faixa resultou duma jam, e gostamos dela exactamente porque tem esse feeling diferente. Foi por isso que decidimos incluí-la no álbum. Em geral só completamos canções que achamos suficientemente boas para suportar o teste do tempo num álbum. Desta vez incluíram um total de três temas instrumentais. Porquê? Bem, os álbuns «Foregone» e «Shards» também contaram com algumas pequenas peças instrumentais. Desta vez incluímos três temas assim, distribuídos entre as restantes faixas, porque achamos que dão um pouco mais de atmosfera e fluência ao álbum. A banda cita o escritor português José Saramago como uma das suas principais influências. Que livros do nosso prémio Nobel é que serviram de inspiração neste novo álbum? Em que temas é que os seus escritos são usados? O texto do tema “Unforeseen” é vagamente baseado no romance “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago. Não é que siga exactamente a linha narrativa do livro; é mais uma espécie de cenário inspirado no livro. Devo admitir

que esse foi o único romance do Saramago que li até agora. Fiquei tão absorvido pelo livro que o devorei em pouco tempo. Em breve vou começar a ler outra obra dele: “A Caverna”. Há dias, apercebi-me que os vossos compatriotas Doomshine incluíram no álbum mais recente uma cover dum tema dos MoD: “Vanished”. O que nos podes dizer sobre isto? Vocês conhecem pessoalmente os membros dos Doomshine? Já conhecemos os tipos dos Doomshine há muito tempo dado que somos da mesma região da Alemanha. Claro que nos sentimos muito honrados pelo facto deles terem incluído uma cover dum tema nosso no álbum deles. Tudo começou em 2005, no concerto comemorativo do nosso 15º de aniversário. Nessa altura convidamos os Doomshine, os Voodooshock e os Blackpuzzle para actuar, e desafiamo-los a preparar uma cover dum tema dos MoD. Os Doomshine escolheram o “Vanished” e apresentaram ao vivo uma fantástica interpretação dessa canção. Mas o que mais nos surpreendeu é que eles gostaram tanto do tema que fizeram questão de o gravar no último álbum [NR: «Piper at the Gates of Doom»]. Curiosamente, o disco onde o original do “Vanished” aparece, o EP «Conversion», foi gravado em 2003, exactamente no estúdio do baixista dos Doomshine. Este ano os MoD celebram o seu 20º aniversário. Quais são, para ti, as grandes recordações destas duas décadas na banda? Tem sido maravilhoso conhecer e partilhar o palco com grupos que nos influenciaram muito no início, como é o caso dos Count Raven, Solitude Aeturnus e Revelation, bem como fazer amizade com alguns dos membros destas bandas. Os concertos no estrangeiro são sempre especiais para nós, particularmente quando nos permitem algum tempo para faz-


“… o doom é muito mais do que um simples andamento ou um simples estado de espírito” er também um pouco de turismo. A Irlanda e a Finlândia foram grandes experiências. Outras grandes recordações que guardo com afecto são as primeiras vezes em que tive nas mãos a nossa primeira demo e, depois, o primeiro álbum. Foram momentos muito especiais. Que planos é que há para celebrar esta data? A melhor maneira de celebrar é mesmo com este novo álbum, que vem acompanhado de um CD bónus de edição limitada, que é uma espécie de presente especial de aniversário para os fãs e para nós mesmos. Mas, claro, também vamos festejar este aniversário a tocar ao vivo. Vamos fazer um concerto que envolverá ex-membros dos MoD bem como alguns amigos da banda Dreaming. Uma das coisas que os fãs devem estar já a sentir falta na produção dos MoD é um DVD. Há planos para isso? É bem provável que um dia façamos um DVD, mas não será tão cedo. Para já vamos continuar a juntar material para ele e a pensar entretanto num bom plano para o apresentar. Qual é a tua percepção acerca do interesse que o doom metal tem despertado nas editoras? Muitos dos fãs mais novos associam de imediato o doom metal ao hibrido doom-death, esquecendo que as formas seminais de doom foram criados pelos Can-

dlemass, Trouble, etc. Que pensas disto? Acho que a situação melhorou bastante nos últimos dez anos. Há por aí algumas pequenas editoras a interessar-se por doom. Duma forma geral o doom tem sido alvo de maior atenção. Não estou muito preocupado se as pessoas acham que tudo começou com o doom-death. Se essas pessoas estiverem mesmo interessadas em saber, elas irão mais longe na sua pesquisa e seguirão o género até às suas raízes. Da experiência que adquiriste com a organização do festival Doom Shall Rise, como é que vês a evolução do doom metal nos últimos dez anos? Penso que há mais bandas e mais fãs. De outro modo o Doom Shall Rise e outros festivais do género não seriam possíveis. A internet faz uma grande diferença. Actualmente é muito mais fácil promover bandas e festivais. Mas é claro que o doom continua a atrair apenas uma minoria entre os fãs de metal. Penso que isso nunca vai mudar. Entrevista: Ernesto Martins


“Banda Maldita” Apesar de marcados por constantes dificuldades causadas pelas temáticas controversas que sempre orientaram as suas canções, os Dr Salazar persistem firmes na sua luta, contra ventos e marés, tendo voltado recentemente à carga com o novo álbum «Lápis Azul». A propósito deste sucessor de «Antes & Depois», Manuel d’Albuquerque, vocalista e mentor da polémica formação de Lisboa, falou-nos da surdez da imprensa, de discos com distribuição recusada e de espectáculos boicotados. Para começar gostaria de saber porque é que este segundo álbum levou tanto tempo a concluir. Segundo informação no vosso myspace, este interregno de quatro anos entre os dois discos foi algo forçado externamente. O que vos atrasou ao certo? Manuel d’Albuquerque: O que nos atrasou foi basicamente o facto de nenhuma editora apostar na banda e sermos obrigados a custear os nossos discos bem como todo o trabalho inerente à promoção, embora tenha havido um retorno que acaba por ir suportando o projecto. Um caso caricato sucedeu com o 1º álbum quando a Música Activa fechou e ficámos com imensos discos no armazém. Fizemos uma proposta às FNACs para colocarem o disco à venda à consignação - ou seja não teriam despesa nenhuma nem prejuízo - e mesmo assim recusaram. Acabámos por vender 1300 CDs pela internet e nos concertos. Também demorámos mais tempo a chegar ao 2º álbum por força da mudança de elementos, embora a formação base se tenha mantido. Musicalmente falando, que diferenças mais salientes

podes apontar entre o «Lápis Azul» e o 1º álbum? O som do «Lápis Azul» é mais actual; não é tão old school, embora se mantenham os traços originais que são a marca da banda. Por várias vezes obtivemos prémios de originalidade. No «Lápis Azul» eu só canto, enquanto que no 1º álbum tocava guitarra também. Agora a vocalização está mais solta, e o reforço do Costa na guitarra faz um bloco melhor com o Marco. Fundamentalmente este álbum está mais maduro. É o resultado de muitas horas na estrada. Em breve os Dr.Salazar incluirão um elemento de apoio nas teclas e máquinas: o Francisco, ex: Prison Flag, e antigo colaborador no álbum «Antes & Depois». Um dos aspectos singulares e inescapáveis nos Dr Salazar são as temáticas interventivas das letras. Neste aspecto a vossa atitude é um pouco semelhante à das bandas de hardcore. Que achas? As nossas letras são de crítica social com roupagem de metal industrial. Até já nos disseram que é interventivo. É bem possível fazer a mesma coisa noutros


“Existem mecanismos nos dias de hoje que são LÁPIS AZUIS a fazer o mesmo que no antigo regime. Não se mandam as pessoas para o Tarrafal ou Caxias – compra-se o patrão delas”

géneros musicais. O Zé Mário Branco nunca teve nada a ver com o metal, penso eu. O Sérgio Godinho, com as suas letras compridas e meio faladas, quase que fazia rap antes dele ter surgido. O aspecto que nunca deixa me de surpreender é o facto de apresentarem canções sobre temas que remetem para a ditadura salazarista. Qual é a vossa motivação para cantar sobre estes assuntos em particular? Será que pode dizer-se que assumem para vocês mesmos a missão de recordar este lado do nosso passado às gerações mais novas? O nome Dr. Salazar está associado aos primeiros temas da banda, que abordavam a guerra colonial. Queríamos um nome diferente, de fixação fácil, e como estávamos a falar de coisas da ditadura o nome Dr. Salazar veio mesmo a calhar. Claro que notámos desde logo que este nome nos iria trazer alguma hostilização, mas agora tem a vantagem de ser um dos nomes mais conhecidos do underground. No pós-25 de Abril pretendeu-se criar a ideia de que na ditadura estava tudo errado e que com a revolução dos cravos tudo passaria a ser bem feito. Hoje é óbvio que não é assim, e muito provavelmente os democratas já cometeram mais erros que o Salazar. Quanto à liberdade de expressão, que de facto não existia, também é óbvio que continua a não existir, embora os mecanismos de limitação sejam outros. Portugal está hoje numa situação péssima, e em muito o deve aos erros cometidos com a democracia, mas isso não é politicamente correcto dizer. Vamos tentando pôr as pessoas a pensar, estabelecer um paralelismo; há muita informação disponível e seria bom que as pessoas não se ficassem pelo jornal gratuito (esse é mesmo duvidoso). Já agora, o jornal Destak recusou noticiar a saída do álbum dos Dr. Salazar, à semelhança do que fez o Jornal da Região

com o «Antes & Depois». Porque terá sido??? Acham que faz sentido falar ainda nesse símbolo da censura que foi o lápis azul? Na vossa opinião é realmente verdade que “O lápis ganhou outras cores”? Há sinais claros disso. Toda a informação e cultura que não alinha pela esquerda, dificilmente se faz ouvir. Há uma formatação à esquerda até no ensino, e os miúdos voltam a usar a camisola do Che Guevara mesmo ignorando quem ele foi realmente. Existem mecanismos nos dias de hoje que são LÁPIS AZUIS a fazer o mesmo que no antigo regime. Não se mandam as pessoas para o Tarrafal ou Caxias – comprase o patrão delas. Neste novo álbum as temáticas ligadas ao tempo da ditadura salazarista já não são tão fortes. Será isto um sinal de que o tema se está a esgotar para os Dr Salazar? De maneira alguma. Matéria para o estilo interventivo dos Dr.Salazar é o que não falta. O novo álbum descola da guerra colonial e os temas não contam histórias passadas. Há uma reflexão sobre aspectos mais actuais e a conjuntura até ajuda. Por este andar haverá mais nódoas a apontar/limpar da democracia do que do antigo regime. Até já apareceu um partido denominado ‘Nova Democracia’; será que esta já não presta? Como já referiste, os Dr Salazar sempre foram vítimas de algum ostracismo ao longo da sua carreira. Entre outras coisas, isso traduziu-se na recusa da distribuição do álbum «Antes & Depois». Podes explicar-nos o que aconteceu exactamente? Que tipo de exclusão é que a banda tem sentido? Bastante cedo começámos a sentir os efeitos da escolha corajosa do nome Dr.Salazar, sem no entanto


“… na final de um concurso de bandas da C. M. de V. F. de Xira, ouvimos…: «É pá, que ganhe um qualquer, menos os do Dr.Salazar». Azar dele porque ganhámos mesmo o 1º prémio!” fazermos a apologia do ditador ou assumirmos uma atitude de provocação. Já dissemos imensas vezes que não somos extremistas e não pertencemos a nenhuma organização neo-qualquer-coisa. Somos livres e temos a perfeita noção de que a nossa existência no antigo regime não era possível. No álbum «Antes & Depois» falamos do Tarrafal (prisão politica) e agora no «Lápis Azul» falamos de censura, temas que certamente nos garantiam um lugar na Prisão de Caxias. Temos a certeza que quem nos exclui pelo nome não conhece as nossas letras. É uma cegueira parva. Em 2003, estávamos na final de um concurso de bandas da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e ouvimos o elemento da Câmara (supomos que era um vereador) que iria entregar os prémios a dizer: “É pá, que ganhe um qualquer, menos os do Dr.Salazar”. Azar dele porque ganhámos mesmo o 1º prémio! Na Queima das Fitas da Universidade do Algarve fomos retirados do programa a uma semana do concerto. O nosso interlocutor disse-nos apenas que eram ordens de cima, sem mais nenhuma explicação. No festival de Coruche fomos abordados por elementos locais dizendo que era uma vergonha estar ali uma banda com este nome. A imprensa em geral ignora os nossos emails e as notícias divulgadas para os media pela produtora com quem trabalhamos simplesmente não saem, nem mesmo quando lançamos discos. Com excepção dos jornais O Crime e o Correio da Manhã, que nos entrevistaram, não há sinais. Televisão, nem pensar. Resta-nos a internet e concertos ao vivo, bem como programas de rádio específicos na área do Heavy Metal. Apesar das dificuldades do passado parece que as coisas estão a melhorar para o vosso lado – desta vez estão com a Compact Records a distribuir. Como é que isto aconteceu? Chegámos à Compact Records pela mão do António de los Santos, antigo membro da Música Activa, e de facto ficámos surpreendidos por nos terem aceite de imediato. Julgamos que se começa a dissipar essa ideia errada que têm de nós, e também começa a haver menos gente com a cabeça quadrada, que vê tudo bem de um lado e tudo mal de outro. Sabemos hoje que Salazar não era um papão assim tão grande, e que, por outro lado, temos entre os nossos democratas alguns verdadeiros bandidos. Não se pode meter

tudo no mesmo saco e não se deve ter medo de ser livre. E quanto a editora? Ainda nenhuma das editoras nacionais mostrou interesse nos Dr Salazar? Até agora não, mas isso não será totalmente pelo nome, porque temos a noção de que o nosso perfil não tem a componente comercial suficiente para motivar uma editora ao investimento. Poderá acontecer um dia mas é preciso que a banda tenha procura e para isso precisa de ser divulgada. O estatuto mais certo é o de banda maldita e aí as coisas podem mudar. Os Mão Morta editaram muitos discos sem editora, pela mesma razão. No álbum anterior o “Culpa do sistema” foi talvez o tema mais emblemático. Neste novo disco eu escolheria o “Aqui d’hell rei” ou mesmo o “Lápis azul” como as faixas mais fortes. Estás de acordo ou tens outras preferências? Sim, concordo. É aquilo que normalmente se diz de serem temas orelhudos. O «Lápis Azul» tem um refrão brutal – o “corta corta” funciona à primeira – e o “Aqui d’el Rei” tem ainda mais força porque nos saiu melhor a produção. Pessoalmente, gosto imenso do “Erupções” por ter uma estética que aponta mais para o futuro. Temos também um tema, o “Ponto mais alto”, que nos parece mais radiofónico, mas duvidamos que alguma vez faça parte de uma play list de uma estação de rádio dita grande, embora o trabalho tenha sido entregue a todas as rádios. Para terminar, uma questão mais do foro pessoal: pelo que sei, tu és o pai do Pedro Neto (bateria). Como é que pai e filho funcionam numa banda? Entretanto, vejo que há agora outro Neto na banda: o Costa. Será também familiar? Ok, eu sou pai do Pedro Neto e o parentesco acaba aqui. Tudo funciona muito bem entre nós. O Pedro começou a tocar comigo aos 7 anos num outro projecto, e os instrumentos lá em casa são como os móveis: estão por todo o lado. Se calhar o pai é mais tipo irmão mais velho. O Costa Neto (novo guitarrista da banda) e o 2º baixista da banda, o Ricardo João Neto, embora tenham o mesmo apelido, não têm nenhuma relação familiar entre si nem com os restantes elementos. Entrevista: Ernesto Martins


Se há um álbum que, pela sua importância no Heavy Me é indiscutivelmente o número um, esse álbum só pode «Master of Puppets» dos Metallica. (Quem nunca o ouv pare por favor de ler e vá ouvi-lo primeiro!...). «Master of Puppets» reúne a agressividade e a velocid de «Kill ‘em All» com a técnica de «Ride the Lightning» composições extremamente elaboradas, riffs pesados, fre ticos e solos complexos. Numa altura em que o Metal est ainda em idade “adolescente” foi com este lançamento q se fez “homem”. Numa época onde reinavam as hair ban «Master of Puppets» foi como uma pedrada no charco e Metallica passaram de banda culto de garagem a super-b da! Como é óbvio, não se pode dissociar este disco da morte Cliff Burton. Apesar de ter sido O Ano dos Metallica, 1 foi também o ano mais triste e trágico devido à morte Cliff Burton, baixista que, segundo James Hetfield, influ ciou fortemente a imagem e músicas iniciais dos Metallic «Master of Puppets» é um álbum conceptual que abord tema do domínio, controlo e abuso do poder. Dos oito tem presentes – oito épicos, todos eficazes à sua maneira – n há dois semelhantes. Apesar da sua complexidade, «Mas of Puppets» consegue ter riffs acessíveis ao ouvido e de f memorização!

25 anos de MEGADETH « Peace Sells… But Who’s Buying?» «Peace Sells… But Who’s Buying?», segundo álbum da banda de Dave Mustaine e primeiro pela Capitol Records é um portento do Thrash Metal. Lançado há 25 anos, o sucessor do frenético álbum debutante, «Killing is My Business… And Business is Good!», foi a prova da dimensão dos Megadeth, naquela altura, já que a independente Combat Records não foi capaz de o misturar correctamente, nem tinha a capacidade de o distribuir convenientemente. «Peace Sells…» foi o primeiro grande trabalho de Mustaine, à época de lançamento de outros dois ícones Thrash – «Reign in Blood», dos Slayer e «Master of Puppets», dos Metallica –, e é um item essencial para qualquer fã de heavy metal. «Peace Sells…» é o primeiro dos grandes clássicos de Megadeth, e é, a par de «Rust in Peace», um dos melhores lançamentos de Dave Mustaine e seus capangas. Com um complexo e soberbo trabalho de guitarras, solos de cortar a respiração, bruscas mudanças de tempo, composições jazzísticas, uma feroz e inquieta secção rítmica, este é, também, um álbum marcado pelas letras, onde Mustaine escreve sobre temáticas obscuras, como a adoração ao diabo ou rituais de bruxaria. Bem se sabe que o frontman nunca foi conhecido pelos seus dotes vocais, e muita gente há que os ache irritantes, mas, de alguma forma, ele sempre arran-

jou maneira de dar a volta à situação, e isso é tão pate neste lançamento de 1986, no qual ele faz o melhor de uma das suas imagens de marca – o snarling (rosn numa tradução livre). É também aqui que a mascote banda, Vic Rattlehead, faz a sua primeira aparição. A faixa de abertura, “Wake up dead”, é uma lição riffs heavy metal e duelos de solos. Como outros pon fortes do álbum temos “Peace sells” (quem não se lem daquela linha de baixo?), “Devils island” (um clássico Megadeth, grandes riffs, grandes solos e um refrão cat a ajudar), a velocíssima “Bad omen” (ainda a lembrar a de «Killing is My Business…») e “My last words” (u introdução atmosférica bastante bem conseguida, a plodir no que de melhor o Speed Metal tem para o ecer). «Peace Sells…» só não é mais reconhecido devid «Master of Puppets» ter sido lançando no mesmo a Contudo, é um marco na história dos Megadeth, e marco na história das (nossas) sonoridades mais pesad Felizes bodas de prata, senhor Mustaine! Luis Almeida Ferreira


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25 anos de METALLICA «Master of Puppets» Quando o Metal se fez “homem” “Battery” abre com um segmento acústico, com um certo “sabor” a Flamengo, explodindo depois em riffs pesados, lineares e aparentemente simples mas de uma tremenda eficácia, resultando num dos melhores temas interpretados ao vivo. “Master of puppets”, a faixa-título, é uma combinação perfeita de riffs épicos com outros que “encaixam” no ouvido e de fácil memorização. Seria indiscutivelmente o melhor tema dos Metallica não fosse... “One”. Baseado num conto de H.P. Lovecraft, “The thing that should not be”, fala sobre uma batalha contra o controlo de forças sobrenaturais. “Welcome home (Sanitarium)”, baseado na obra de Ken Kesey “Voando sobre um ninho de cucos”, é um tema melancólico, calmo com um solo (quase) interminável. “Disposable heroes” é mais um épico de 8m30seg, rápido, pesado, aumentando de intensidade à medida que a música chega ao término. “Leper messiah” aborda a tele-evangelização e o controlo que esta exerce sobre os espectadores. Não é tão rápido como “Master…” ou “Disposable…” mas é igualmente pesado. “Orion” é um instrumental de grande maturidade e disciplina, com várias mudanças de ritmo e tempo, melodias e harmonias simplesmente perfeitas e um soberbo trabalho de baixo. O solo, quase que “sussurrado” no início, como que “aveludado”, acaba numa simbiose perfeita entre as guitarras e o baixo, fazendo de «Orion» uma obra-prima. O último tema,

“Damage Inc.”, é rápido, pesado, frenético e técnico, um exemplo clássico do que era o Thrash Metal dos anos 80. «Master of Puppets» representou para os Metallica musicalidade, paixão e intensidade, e por tudo aquilo que deu à música merece, indiscutivelmente, ser considerado o número um do Heavy Metal. “Cannot the Kingdom of Salvation Take Me Home” Cliff Burton: 10/02/1962 - 27/09/86 Eduardo Ramalhadeiro


Em guerra contra a intolerância Fundador dos Conspiracy e único membro da banda durante muito tempo, Carpathian Wolf (ou, na versão latina, Lupus Carpatius) fala-nos do seu terceiro longa duração – «Irremediable» – e recorda para a Versus Magazine um percurso musical que começou nas encostas nevadas dos Cárpatos, na Ucrânia, e prossegue na Holanda, incluindo algumas paragens memoráveis. Cabe ao leitor curioso seguir-nos nesta viagem musical, para compreender como a música – e a arte em geral – podem ser motivo para reflexão sobre a vida e armas contra a intolerância. Há já bastantes anos que fazes parte da cena metal europeia. Como tiveste a ideia de formar uma banda de BM num país integrado na exUnião Soviética?

Carpathian Wolf: Durante a vigência do regime soviético, era estritamente proibido comprar LPs de metal. Felizmente, o irmão do baterista da banda era marinheiro e trazia-nos – clandestinamente – tudo o que lhe pedíamos. Por outro lado, nos anos 80, as pessoas que tinham familiares nos EUA e no Canadá e que estavam autorizadas a ir visitá-los traziam cassetes. Portanto, eu tive acesso a toda a música que queria ouvir. A maior diferença entre a cena metal em Moscovo e em paragens remotas do Oeste da Ucrânia (de onde sou oriundo) era que, na capital, já se podia tocar em concertos e assistir a eles e nós nem sequer podíamos sonhar com isso. Havia bandas russas que actuavam regularmente, como os Aria ou os Black

Coffee. Lembro-me de ter sido espancado pela polícia da minha cidade por usar na rua uma t-shirt dos Judas Priest. Dois anos mais tarde, em 1988, fui a Moscovo, com os amigos, assistir ao concerto dos Black Sabbath. Portanto, como vês, as coisas mudaram muito para a cena metal antes e depois do início da “perestroika”. Em 1988, fortemente influenciado por bandas como Venom, Celtic Frost, Destruction, Razor, Sodom e Death, formei a minha primeira banda – Hell Raiser. Nessa altura, estava fascinado pelo satanismo e pelo ocultismo que vira nos filmes de terror dos anos 80 – Evil Dead e Hell Raiser. Depois de ter estado no exército, já em 1994, formei a minha actual banda – Conspiracy.

Por que razão a tua banda se desfez ao fim de um ano? Sabes o que aconteceu aos outros membros?

Entrámos em conflito depois de um concerto. As


nossas divergências eram demasiado grandes para podermos continuar juntos. Portanto, separámonos e eu fui juntar-me aos Melechesh. Dois outros membros da primeira formação têm as suas próprias bandas, gravam álbuns e fazem concertos ao vivo. Mas não esperem que lhes faça publicidade.

Qual a importância da tua passagem pelos Melechesh como Al’Hazred para Conspiracy?

Aprendi a concentrar-me mais no trabalho, em vez de o ver como um sonho. Melechesh é uma banda muito disciplinada, muito profissional. Os seus membros são muito exigentes consigo próprios, o que dá sempre bons resultados, quer no estúdio, quer no palco. Depois de 12 anos com os Melechesh, eu sei como funciona a indústria do metal. É claro que todo o conhecimento que adquiri e as competências que desenvolvi são muito importantes para a carreira dos Conspiracy.

A música dos Conspiracy é descrita como tendo evoluído do BM para um hard rock com traços deste subgénero e depois integrado ainda outras influências. Esta descrição parece-te adequada?

Por que não? Pela parte que me toca, não perco tempo com definições. Esse trabalho cabe aos média e aos fãs. Não passo tempo a pensar: “Ora bem! Agora vou pegar numa passagem de hard rock e misturá-la com BM e acrescentar alguma orquestração.” A música forma-se na minha cabeça. Porquê e como? Não faço a mínima ideia. Limito-me a transferi-la para o mundo material, quando tenho tempo e disposição para o fazer. Conspiracy resultou de uma indagação que tem ocupado toda a minha vida e que visa criar uma versão original de metal combinando elementos negros e extremos, mas agradáveis ao ouvido. No que se refere a este último álbum, posso acrescentar à tua lista o termo “progressivo”, por causa do recurso, em simultâneo, a arranjos musicais pouco ortodoxos, complementados pela orquestração, a solos de guitarra característicos do heavy metal e a diferentes estilos vocais, entre os quais os gritos ásperos típicos do BM.

O facto de viveres na Holanda teve alguma influência nessa evolução?

É apenas o país onde eu vivo actualmente. Gosto imenso de viver aqui. Tanto o país em si, como as pessoas têm muitos aspectos positivos. Mas isso tem pouco a ver com a minha música.

Como conheceste Aryan Blaze? Que papel desempenha ele na vossa conspiração musical? Por outras palavras, o que há agora em Conspiracy que não existia antes da vinda dele? Encontrei-o numa loja onde fui comprar equipamento para o meu estúdio. Fiquei maravilhado com a forma como tocava guitarra: estava apenas a mostrar a um miúdo como tirar o maior proveito de um equipamento de som. Se comparares os álbuns anteriores de Conspiracy com o nosso terceiro CD – «Irremediable» –, verás logo a diferença, que reside na orquestração profissional e na excelente técnica de guitarra. Foi isto que ele trouxe aos Conspiracy. Ele tem conhecimentos de música clássica, de onde provêm elementos que sempre tentei incorporar nas minhas canções. Com ele no meu projecto, Conspiracy deu mais um passo na direcção desejada.

Sei que a vossa música aborda temas como o ódio pelo monoteísmo e o satanismo. Não te parece que há aqui uma contradição? Afinal, o satanismo é uma forma de monoteísmo, ou não?

Não, não é. O satanismo tem muitas formas diferentes. Há um satanismo simbólico e as práticas satânicas ligadas ao ocultismo. Para mim, Satanás é o símbolo do pensamento livre, o inimigo e o acusador de Deus, que eu vejo como um símbolo da opressão e do controle exercidos pelas instituições religiosas sobre a Humanidade submissa. Não adoro Satanás, literalmente falando. Uso o satanismo como uma forma de protesto, que pode levar as pessoas a pensar pelas suas próprias cabeças e a detestar qualquer tipo de religião. A religião não é compatível com a democracia moderna. O monoteísmo devia ser proibido e, assim, poderíamos viver em paz. Lê o “Devil’s Notebook”, de LaVey, se quiseres saber mais sobre a minha perspectiva.

E onde encontras a inspiração para a tua poesia heróica e guerreira? Provém da cultura do teu país, como no pagan ou folk metal?

Não preciso de ir tão longe. Venho do país que ganhou a Segunda Guerra Mundial. Todas as famílias da antiga União Soviética perderam pelo menos um membro nessa Guerra. Morreram 25 milhões de cidadãos soviéticos para libertar a Europa das garras dos Nazis. Venho de uma família em que todos os homens serviram no exército. O meu avô foi oficial durante 30 anos, o meu pai e os meus tios também e eu estive na tropa durante 3 anos. O álbum anterior – «Concordat» – tinha muitos te-


“Uso o satanismo como uma forma de protesto, que pode levar as pessoas a pensar pelas suas próprias cabeças e a detestar qualquer tipo de religião. A religião não é compatível com a democracia moderna” mas de poesia guerreira. Tratavam, sobretudo, da Segunda Guerra Mundial e da forma como o Vaticano e as autoridades católicas, de um modo geral, ajudaram a legitimar o que os Nazis estavam a fazer, enquanto os ateus da minha pátria lutavam contra eles e defendiam a Europa.

Passando agora ao vosso último longa duração – «Irremediable» –, que me agradou muito, numa entrevista que li, falavas da sua estrutura, dizendo que era constituído por seis faixas de BM, uma peça clássica e duas canções de heavy metal. Até indicavas os nomes destas duas canções, que são fantásticas e as minhas faixas favoritas neste álbum. O que te levou a fazer esta combinação?

Se ouvires todo o álbum, canção após canção, vais logo perceber qual é a razão. Tenho um problema de personalidade múltipla [risos]. Na minha opinião, esta estrutura gera uma experiência auditiva única. O novo álbum compreende treze faixas e todas elas têm um estilo diferente e geram emoções diferentes. Há poemas de Charles Baudelaire, de Aleister Crowley e outros mestres da poesia clássica que eu muito admiro. Não conseguiria exprimir todas as minhas emoções e as deles também usando apenas um subgénero do metal. Algumas das canções são agressivas e outras épicas ou apenas sinistras.

O som do vosso álbum anterior é descrito como sendo “muito cru, pouco trabalhado e de pouca qualidade”. Estas características resultaram das condições de trabalho que tinhas na altura ou de opções tuas?

Das duas causas. Não quero comparar a minha música à dos Venom ou Bathory, mas eu adoro as suas canções, apesar de os álbuns serem brutais e a produção de má qualidade. Ainda gosto mais das suas primeiras criações, por serem aquelas em que o som é menos trabalhado. Gostaria que as pessoas aceitassem as minhas composições tal como elas são,

mas nem toda a gente suporta a falta de uma excelente produção. Há críticos musicais que ouvem um álbum durante um só minuto e julgam que podem tirar conclusões capazes, só porque não gostaram de “Concordat”. Não quero saber disso para nada. Só faço a minha música para os milhares de fãs que gostam dela e que deixam comentários maravilhosos no myspace.

Neste terceiro álbum, o som é muito diferente. Estás de acordo com esta ideia?

Os elementos de orquestração exigiam um tipo de som diferente. São muito mais instrumentos a tocarem ao mesmo tempo, portanto o som tinha de ser mais claro. Usámos bateria pré-gravada tocada por Dirk Verbeuren, o baterista dos Aborted. As batidas ferozes, esmagadoras e rápidas como relâmpagos deste baterista fizeram com que o som deste álbum fosse muito melhor que o dos dois anteriores.

A informação sobre «Irremediable» faz referência à influência de Baudelaire e de Crowley. Conheço especialmente o poeta francês, porque estudei a sua obra e sou uma grande fã da colectânea “Les Fleurs du Mal”. Onde podemos encontrar, no teu álbum, a influência deste poeta sofisticado? Baudelaire viu o lado demoníaco da Humanidade – a consciência de que se estava a praticar o Mal. É conscientemente que matamos, enganamos, roubamos e, em geral, fazemos sofrer os outros. E há também a questão do destino e do livre arbítrio. Será


“A música forma-se na minha cabeça. Porquê e como? Não faço a mínima ideia. Limito-me a transferi-la para o mundo material, quando tenho tempo e disposição para o fazer”

música. Mas concordo que, provavelmente, os fãs de CoF também vão gostar do «Irremediable».

A capa deste álbum é muito diferente das dos CDs anteriores. Por que razão usaram, de forma tão próxima do original, o quadro de Félicien Rops? (Tenho de confessar que fui ver esse quadro na net.)

que Deus nos programou e ao mundo para sermos assim? Podes encontrar Baudelaire no título do álbum e na faixa correspondente. Também usámos um quadro de um dos seus amigos – o pintor satânico Félicien Rops – para a capa do álbum e o livro que acompanha o CD.

No mesmo texto, «Irremediable» é apresentado como um álbum a não perder para os fãs de King Diamond, Bathory e dos Cradle of Filth na sua primeira fase. Que pensas disto?

Sou um grande fã de King Diamond e conheci pessoalmente o meu guitarrista favorito – Andy La Rocque – quando os Melechesh gravaram no seu estúdio. Há duas canções neste álbum onde é possível encontrar elementos da primeira música de KD – «Irremediable» e “Bukovina”. Não queria imitá-lo, mas sim fundir este tipo de heavy metal com as minhas ideias originais. Muitos fãs que ouviram essas canções e o resto do álbum gostaram imenso da atmosfera especial por elas criada. No que se refere a Bathory, as minhas canções “Faith” e “Courage”, que fazem parte do segundo álbum dos Conspiracy [“Concordat”], têm uma atmosfera semelhante às de algumas baladas de Bathory ou Manowar. Mas, neste terceiro álbum, não há traços deles. Detesto repetir o que já fiz e cada álbum meu nunca é uma cópia do anterior. Há quem mencione CoF como influência, cada vez que ouve BM rápido e melódico com recurso a teclados. Parece-me uma forma um pouco básica de ver a

O design da capa dos três álbuns foi feito pelo mesmo artista – Warmaster of Necrodaemon –, mas as capas dos dois álbuns anteriores são da autoria de Dan Seagrave. Pedi-lhe que pintasse algo para a capa deste terceiro álbum, mas ele recusou, dizendo que queria afastar-se dos temas satânicos e que estava demasiado ocupado. Portanto, resolvi eu próprio o assunto, escolhendo uma obra de Rops, por este ter sido amigo de Baudelaire e o quadro me parecer adequado. Mas foi preciso dar à pintura um ar mais frio e mais cósmico, para complementar a atmosfera criada pela música do álbum. Acho que Warmaster fez um trabalho maravilhoso nesta capa.

Vão fazer uma digressão para promover este álbum? Incluíram Portugal no roteiro dessa digressão?

A minha música não é feita para o palco. O melhor lugar para a ouvir é o teu automóvel, quando fazes uma longa viagem e podes pensar na vida, sem nada para perturbar a tua imaginação. Há bebidas alcoólicas, como a cerveja, que se saboreiam melhor num bar confortável e cheio de gente. Outras sabem melhor, quando as bebemos nas noites tenebrosas de Inverno, diante da lareira. Até agora, nunca senti a necessidade de fazer digressões. Mas, se alguma vez pensar em fazê-lo, não me esquecerei de pôr Portugal no nosso reoteiro. Adoro o vosso país, que já visitei, e admiro a sua herança cultural e os vinhos do Dão e do Douro. Obrigado pelo interesse pela nossa música.

Entrevista: CSA


Vingança Hate Disposal trazem na bagagem apenas demos home made, mas uma força de vontade enorme e um empenho invejável, para solidificar um projecto explosivo, ainda sem editora. Num misto de revolta e luta entrei numa conversa com o guitarrista e o baterista, Luís e Sérgio, respectivamente, para nos transportarem por três anos de luta em nome da Música. Hate Disposal é um nome extremamente recente dentro do universo underground português. Como foi o nascimento desta banda? Foi o primeiro projecto para todos os elementos? Luís: A ideia começou depois de um amigo nosso, o Valter, que é guitarrista, ter entrado em contacto com o Sérgio para se juntar a ele e ao irmão numas jam sessions. O Valter contactou-me também

posteriormente para me juntar a eles. Nessa altura pretendia-se que a banda praticasse mais um Speed Thrash ao estilo de Slayer. O conceito de banda também não estava muito solidificado e nem um nome surgia naturalmente. Na brincadeira alcunhávamos a banda de Xicão Band que era uma espécie de homenagem ao gato do Valter. Mais tarde o Valter abandonou a banda. O irmão do Sérgio também precisava de mais tempo para se dedicar a outra banda onde se inseriu e ficámos reduzidos a dois. Foi então que decidimos enveredar por uma banda totalmente nova e, desta feita, de Death Metal. Nascia então Hate Disposal e, com a banda, uma era de críticas negativas que englobavam fundamentalmente frases como: “Isso não vai a lado nenhum”. Para mim não foi o primeiro projecto. Já tinha tido um grupo que preferia jogar à bola e ir para a praia, a ensaiar. Para o Sérgio foi. Tiveram um processo de formação algo controverso iniciando-se apenas com dois elementos, nessa fase já havia material na gaveta de algum dos elementos? Como foi fomentar o actual grupo, sendo este formado por quatro elementos? Sérgio: Nessa altura o Luís já tinha composições das quais algumas foram aproveitadas e outras refeitas de raiz. Quanto ao grupo, o resto dos elementos surgiram gradualmente. A irmã do Luís, a Vera, que actualmente preenche o lugar de baixista como guest player nos concertos, entrou pouco depois como membro para o lugar do baixo. Foi preciso mais um ano, depois de tudo isto, para encontrarmos um vo-


“Asseguramo-nos apenas de que o que fazemos tem peso e se possa dizer com toda a certeza que é metal pesado” calista e só vários meses depois encontrámos um guitarrista. Entretanto ocorreram algumas contrariedades e antipatias que fizeram com que o grupo sofresse uma separação. O Luís continuou com o projecto e encontrou o Steve, actual guitarrista. Mais tarde resolveram-se incompatibilidades, eu voltei a integrar o grupo assim como o Bruno, actual vocalista. De momento estamos desprovidos de baixista permanente e apenas contamos com a Vera para concertos quando a mesma se disponibiliza. Torna-se difícil classificar-vos quanto a um género especifico, já que têm influencias algo diversificadas, como Dimmu Borgir, Metallica, Arch Enemy,(….). Vocês assumem-se facilmente em algum género dentro do Heavy Metal? Luís: Não. Gostamos de bandas de muitos estilos diferentes, de facto. Tanto ouvimos na nossa sala de ensaio Chimaira e Necrophagist como Cannibal Corpse, Metallica , Dimmu Borgir ou Dream Theater. Provavelmente isso reflecte-se na criação dos temas e, consequentemente, também não conseguimos ouvir aquilo que fizemos no fim e dizer com certeza absoluta: “Somos do género X de metal”. Asseguramo-nos apenas de que o que fazemos tem peso e se possa dizer com toda a certeza que é metal pesado. Mas penso que andamos mais pelo Death Metal com influências de Thrash e Black. Já tiveram oportunidade de partilhar o palco com bandas como Switchtense e Darkside of Innocence, nomes bem conhecidos dentro do Heavy metal tuga.

Como descrevem o sentimento não só de poderem tocar com estas bandas mas também da reacção do público perante a vossa prestação? Sérgio: Nós gostamos de partilhar o palco tanto com uma banda mais conhecida, como Darkside of Innocence ou Switchtense, como com outra banda menos conhecida no Heavy metal em Portugal. O que procuramos é mostrar o nosso trabalho, criar impacto e, claro, criar novas amizades com as bandas com quem tocamos, se bem que por vezes não é fácil. Quanto ao público, até hoje, de forma geral, aquele com quem fomos tendo contacto foi muito receptivo às nossas actuações. Esperamos que assim continue, pois trabalhamos de forma a marcar a diferença de forma positiva. Se surgir a possibilidade de realizarem uma demo, já existe material suficiente para isso? Na criação do vosso material existiu algum tema específico ou vários? Luís: Sim, existe material suficiente para realizar uma demo em estúdio. Em relação aos temas, as músicas que são criadas, não o são logo com um tema em mente. Geralmente são criadas tendo em conta apenas uma sonoridade agressiva. Depois de criado ouvimos o material e debatemos sobre que tema nos faz pensar. Já aconteceu fazerem-nos pensar em eventos apocalípticos ou mensagens de revolta para com o conformismo geral, por exemplo. Entrevista: Inumater


SILENT STREAM OF GODLESS ELEGY «Návaz» (2011 / Season of Mist)

O início deste ano dá-nos a conhecer o sexto lançamento dos pioneiros do Doom/Folk, Silent Stream of Godless Elegy, que, surgidos em 1995 na região da Morávia, na Republica Checa, nos presenteiam com mais um magnífico manancial de músicas inspiradas na tradição e folclore locais. Apesar dos problemas a nível de membros da banda, que saíram entre os álbuns «Themes»(00) e «Relic Dances»(04), deixando apenas o guitarrista Radek Hajda e o violoncelista Michal Sýkora, o agrupamento conseguiu ganhar dois Grammys (a partir de 2005 designados por Andĕl) com esses dois lançamentos no seu país de origem. E este álbum não foge à qualidade com que o agrupamento já nos presenteou. Vertendo reconfortantes tonalidades naquele aperto que nos aproxima da dor, descobre-se uma ilustre beleza em cada música. Além do soberbo contraste entre os vocais masculino e feminino, os instrumentos (entre os quais se evidenciam o dulcimer, o violino e o violoncelo) por vezes impregnam-nos com um sentimento tão épico que nos fazem acreditar que cada melodia deste álbum tenha o condão de nos aquecer para além de qualquer inverno. Talvez o lugar onde vivem seja mesmo mágico se inspirou o agrupamento a criar músicas tão maravilhosas, embora tenha a certeza que os SSOGE sempre estiveram para além do mundano. Bem-vindos de volta! [9.5/10] Jorge Ribeiro de Castro


CONTROL DENIED «The Fragile Art of Existence» (2010 / Relapse Records) «The Fragile Art of Existence» (TFAoE) é o único projecto paralelo do genial, e malogrado, Chuck Schuldiner (CS) – Death - que nasceu da necessidade de concentrar (ainda mais) a sua genialidade no que diz respeito à composição e guitarra. Ao contrário dos Death, CS não divide as vocalizações com a guitarra, em vez disso, entregou tal tarefa a Tim Aymar. A voz cumpre muito bem, melódica, muito competente e encaixa (quase) na perfeição, uma vez que este registo é mais melódico e progressivo que os Death. É quase perfeito porque imagino as vocalizações serem feitas pelo Warrel Dane – Nevermore. Se a voz de CS ficaria melhor? A resposta seria não, da mesma maneira que a voz de Tim Aymar não encaixaria nos Death! As letras são mais pessoais e introspectivas e mostram uma clara separação da visão que CS tem dos Death. Sobre os temas: o que se espera dos temas compostos por CS e interpretados por músicos como Richard Christy, Steve DiGiorgio e Shannon Hamm!? Esta reedição contém um CD extra (e que CD) com todas as demos de TFAoE, apesar de serem temas onde se notam algumas falhas (quase imperceptíveis) próprias de quem está a ensaiar, digo: tomara muitas bandas lançarem álbuns com uma qualidade destas demos. Os temas “Consumed”, “Breaking the broken”, “The fragile art

of existence” são totalmente instrumentais e há ainda uma segunda versão de “Breaking the broken” com CS na voz. No último tema, “Tunel of Evil”, é o próprio diabo a tocar bateria, guitarra e a cantar. Para um CD de demos a som está excelente e com qualidade acima da média. Para os acérrimos defensores de Death, poderá não ser um álbum que se ouve logo à primeira, talvez por faltar a voz de CS, mas será sempre uma obra-prima do Grande Génio que foi e para sempre continuará imortal! “Support music, not rumours” - Chuck Schuldiner (13/05/67 - 13/12/01) [10/10] Eduardo Ramalhadeiro

DEMONIC RESURRECTION «The Return to Darkness» (2010 / Candlelight) Quem teve a oportunidade de ver o documentário “Global Metal”, de Sam Dunn, deve estar pelo menos vagamente familiarizado com o nome Demonic Resurrection, um dos colectivos mais activos da florescente cena metal na India. Contando já com uma década de existência, tornaram-se recentemente na primeira banda daquele ponto do globo a assinar por uma editora ocidental de peso, e a romper fronteiras com este novo registo de originais. O que fazem é basicamente um black metal sinfónico, colado por vezes a Dimmu Borgir, com nuances de Cradle of Filth, mas que reverte frequentemente para outros modos de operação mais em linha com

o death e o progressivo, e até com tiques ocasionais de power metal. Tirando o melhor partido desta sopa de influências, a formação de Bombaim apresenta um trabalho sólido e fluente, que impressiona pela musicalidade ao longo dos sessenta e tal minutos da sua duração. Individualmente, há que destacar o líder do grupo, Sahil Makhija, pela manifesta versatilidade vocal, bem como a excelente prestação do guitarrista solo de descendência portuguesa, Daniel Rego. Por outro lado, o disco soa também demasiadamente calculado e previsível. Para um grupo já no terceiro álbum seria de esperar pelo menos algum arrojo para além dos padrões explorados e seguros, já para não falar de alguma infusão de motivos locais capazes de conferir à sonoridade uma identidade distinta. De qualquer modo, este é um álbum interessante, duma banda com um talento inquestionável que vale a pena manter debaixo de olho. [8/10] Ernesto Martins


DR SALAZAR «Lápis Azul» (2010 / Independente) Para os que não conhecem os Dr. Salazar, deixo aqui a necessidade que urge de correrem para descobrir esta excelente banda nacional de Metal Rock Industrial. Formados em 2002, os Dr. Salazar conseguiram amealhar uns quantos concursos de bandas e lançar em 2006 o seu primeiro álbum, «Antes & Depois», fazendo então alguma sensação no meio metálico nacional e fora dele, essencialmente pelo nome polémico da banda – O fantasma do verdadeiro ainda paira por aí – mas acima de tudo pela tenacidade e acutilância social das suas letras. Assim, é com grande regozijo que anuncio o seu segundo opus, de produção própria, chamado «Lápis Azul». Apesar de ao nível das letras os Dr. Salazar estarem ao mesmo nível que os caracteriza e os projecta, abordando vários temas da nossa sociedade ou do antigo regime – como acontece com a música título – mas revistos nos nossos dias, aquilo que mais emerge à primeira audição de «Lápis Azul» é a maturidade do som dos Dr. Salazar, ao nível da personalização da sonoridade (quer por via musical, quer por via vocal) e das músicas, que soam muito mais coesas e melhor construídas. Sente-se o progresso nesta banda do primeiro álbum para este segundo. No outro lado da balança está a própria evolução desta sonoridade Metal Industrial Interventivo – como já apelidado,

que a meu ver está bastante menos industrial e mais alternativo, Groove e progressivo, enfim, mais actual – isto para nem abordar a vertente interventiva – e ao estilo bem “revolucionário” preconizado pelos Dr. Salazar. No fundo, um estilo musical muito próprio e característico que ainda fervilha em plena ebulição. «Lápis Azul» é um excelente trabalho dos Dr. Salazar, revelando maturidade a todos os níveis, mostrando-nos que estes Lisboetas estão no bom caminho. Todo o álbum está nivelado por cima com canções que já são autênticos hinos como «Lápis Azul», «Casa da vergonha» ou «Aqui d’el Rei». Definitivamente, os Dr. Salazar não ficaram “à espera do milagre de nosso senhor”. [9/10] Carlos Filipe

e a faixa-título, quer noutros, mais contidos, como é o caso de “Erupções”. Contudo, o disco também tem momentos que não parecem funcionar muito bem. Por exemplo, há segmentos em “Casos” e em “Todos querem falar”, onde o texto declamado pelo Manuel d’Albuquerque, ou é desprovido de qualquer musicalidade, ou está em completa dissonância com a restante sonoridade, surgindo forçado e anacrónico no contexto. Trata-se de um arranhar de ouvido que não é novidade nos Dr Salazar, mas que surpreende mais por se tratar do segundo álbum. [7/10] Ernesto Martins

----------------Caso curioso no rock pesado nacional, os Dr Salazar estão prestes a completar os primeiros dez anos de uma carreira marcada tanto pela teimosia em persistir num caminho deveras singular na música de intervenção, como pelas alegadas dificuldades que a postura polémica lhes tem causado. Depois dum interregno de quatro anos, o grupo está de regresso com um álbum que remete desde logo para o universo histórico da ditadura salazarista, temática que sempre foi, por assim dizer, a raison d’etre do colectivo da Amadora, mas que já surge aqui em dose mais moderada. “Lápis Azul” conta com dez novos temas de hard rock acutilante e musculado, com alguns riffs de recorte industrial e apontamentos bem colocados de sintetizadores que conferem um leve toque sci-fi. A progressão em relação ao álbum anterior, “Antes & Depois”, acusa um vago amadurecimento que é patente quer nos temas com refrães contagiosos que incitam a acompanhar, como “Aqui d’hell rei”

FORGOTTEN SUNS «Revelations» (2010 / Pathfinder Records) Com mais de 20 anos de carreira, os Forgotten Suns (FS) são das melhores bandas progressivas em Portugal, tendo sido algo esquecidos e de alguma maneira subestimados. Depois do lançamento do excelente «Innergy», eis que ganha vida «Revelations» um EP com 5 temas que resultam das sessões do trabalho anterior. De facto, “Doppelgänger” foi alvo de uma nova mistura e é o primeiro single de «Revelations». É o tema com maior potencial e easy-listening do EP. “Phenotype” é a música mais “leve”, melodiosa, com um bom trabalho de voz, especialmente na parte do chorus, acabando num registo bem pesado e rápido.


“Pinpoints” e “The hill” – com uma entrada a fazer lembrar os Dream Theater do tempo de «Images and Words» – são duas faixas muito parecidas estruturalmente, aquilo a que poderemos chamar de power ballads. Por fim, “Betrayed” – um tema “reciclado” do álbum «The fiction Edge», a melhor faixa do álbum. Este tema sofreu um upgrade, havendo agora uma parte 2 – “Grey zone”. O tema foi originalmente composto em 1995 e com esta nova parte, a história do tema fica, finalmente, completa. Excelente EP dos FS como que a “abrir o apetite” para 2011. Esperamos, ansiosamente, pelo novo lançamento do FS. [8/10] Eduardo Ramalhadeiro

lançamento onde transcorre uma soturna ambiência que se refugia por entre melodias contagiantes lastimadas por insinuações industriais. Aqui, conspurcadas por uma toada black-metal onde os gritos são perversidades que sorriem, a morte é um conceito primordial que pouca esperança de redenção nos transmite. Não que precisemos dela quando nos confortamos com a ebriedade inspiradora desta edição. Apesar das influências, as mais óbvias sendo In Slaughter Natives, Blood Axis e Sunn O))), existe aquele algo mais que se torna único com cada audição. Tal é muito devido às diferentes camadas sonoras que abrigam mais realidades do que se poderia enunciar se não houver a descontracção suficiente, ou impiedosa sujeição, que nos afaste da realidade do dia-a-dia. [9/10] Jorge Ribeiro de Castro

GNAW THEIR TONGUES «L’Arrivée de la Terne Mort Triomphante» (2010 / Candlelight) A existência prova que, por mais luz que nos possa guiar, é difícil nos afastarmos de certas obras tão monstruosamente inspiradas cuja pretensão não é apenas nos arrepiar a pele mas cobrir a nossa consciência com a mais vil mortalha e crivar no nosso âmago aquela fragilidade insondável que nem a noite tardia pôde antes ensinar. Nada nos surge como lampejo de sanidade e avançamos agarrados ao nosso corpo tentando não sentir um quezilento frio que se auto-glorifica ao morder sem pudor… Conhecido pela qualidade deste projecto, o multi-instrumentista Mories expurga um quinto

cos solos e a voz se mostra imperial; e “Under The Sign Of The Iron Cross”, com um começo agradável que relembra o metal clássico, mas que depressa volta ao trilho das faixas anteriores. A intercalação de voz limpa está também presente entre a selva de cordas desenfreadas. À medida que avançamos, repara-se que a última metade do álbum parece não igualar o que a primeira parte proporcionara, sentindo-se uma perda de qualidade no impacto. Já nos últimos momentos, somos brindados com um final orquestral, suave e limpo, mas com o mesmo poder presente até então. O conteúdo lírico é baseado na Primeira Guerra Mundial, tocando um pouco em todos os pontos, desde as estratégias às consequências e passando ainda por todos os soldados glorificados. Um álbum rico em conteúdo histórico, repleto de guitarras frenéticas mas repetitivas, com solos furiosos mas bem apresentados, e uma voz bem executada mas algo monótona. Apresentando uma construção de faixas bem pensada embora peque na sua transição, trata-se assim de um registo com altos e baixos. [7/10] Daniel Guerreiro

GOF DETHRONED «Under The Sign of the Iron Cross» (2010 / Metal Blade Records) Diretamente do moshpit vem uma ode a todos os headbangers. Inicia-se com uma introdução que nos deixa expectantes. Em “Storm Of Steel” é-nos apresentada a fórmula do álbum: bateria a dois mil à hora, sempre acompanhada por pesadas guitarradas, solos potentes e uma poderosa voz gritada. São de realçar as faixas “The Killing Is Faceless”, onde se destacam os rápidos e técni-

HORNED ALMIGHTY «Necro Spirituals» (2010 / Candlelight) Começando a sua carreira no início de 2002, este agrupamento dinamarquês de Black/Thrash-Metal tem pontuado o underground com dissonantes imponências que


fascinam qualquer fã do género pela sua ultrajante qualidade. Como a peste que fibrilha por entre os poros de um fanático religioso que escarnece da escuridão, Horned Almighty corrói qualquer glorioso projecto advindo de miríades celestiais e o torna um podre adjectivo moribundo. Isso porque nos remete a dimensionalidades extremas onde nenhum preceito esclavagista os agrilhoa… Sem sensibilidade para qualquer harmonia ou conceitos desproporcionais à mais justa imoralidade, este seu quarto álbum pode não expandir horizontes, muito pelas influências de Celtic Frost, Bathory e Darkthrone, mas descarrega uma bem-vinda fúria que repele qualquer insípida languidez. A escuridão que se agarra à alma concede menos prazer do que a caótica diversão que Horned Almigthy nos presenteia neste lançamento pois sempre existe quem deteste a pálida sociedade que tanto descrédito merece pela forma como tenta automatizar a todos. Ouvindo este CD sem parar, libertamo-nos do que existe para além do recinto onde estamos, mas somos trucidados por ritmos exponenciais à tempestade enquanto os vocais rasgam os mais inspirados trilhos. Não importam os traumatismos, sorrimos por estarmos embriagados por convulsões carismáticas e o corpo brilhar pela transpiração. [8.5/10] Jorge Ribeiro de Castro

JAMES LABRIE «Static Impulse» (2010 / InsideOut)

James LaBrie é um dos nomes mais importantes do rock progressivo dos últimos 20 anos, isto porque milita como vocalista na banda de metal progressivo mais importante dos últimos 20 anos, os Dream Theater. Engane-se quem pense que vai ouvir algo similar a DT no trabalho a solo de LaBrie; vai encontrar pequenos trejeitos, vá lá. Mas é por isso mesmo que se enceta em projectos a solo, para trabalhar em aspectos que não se podem espelhar numa banda com um som extremamente característico. Este novo lançamento do vocalista é já o quarto na sua carreira a solo, e é o sucessor de «Elements of Persuasion», de 2005. É, também, o mais pesado e energético até à data. «Static Impulse» é, no fundo, Melodeath. Com a ajuda do seu co-compositor Matt Guillory, que aqui acumula as funções de teclista e vocalista secundário, do guitarrista Marco Sfogli (que, por momentos, faz esquecer Petrucci), do baixista Ray Riendeau (Rob Halford) e do baterista Peter Wildoer (Darkane, ex-Majestic e ex-Arch Enemy) nas vocalizações berradas (e atrás da bateria, claro está), LaBrie conjuga aqui peso e melodia de uma maneira extraordinária. É nos refrões cantados e catchy, carregados de teclados que o frontman molda o seu som, à cadência do Death Metal Melódico mais recente – algo que podemos encontrar nos últimos álbuns de In Flames, por exemplo. Este novo lançamento é bastante consistente; não tem músicas más, mas, ao termos que apontar alguns trunfos, atentemos a “Jekyll or Hide”, “Euphoric”, “Who you think I am” ou “Just watch me”. Um disco que, de certo, agradará aos fãs – é que LaBrie soa extremamente bem em «Static Impulse», e há que lhe dar crédito por se ter munido de grandes músicos e ter conseguido um espantoso e refrescante álbum. [7.5/10] Luís Almeida Ferreira

MOURNING LENORE «Loosely bounded infinities» (2010 / Major Label Industries) Como uma viagem que nos separa do esplendor das horas claras e bebe conforto de um cansaço que carece de agonizantes arrepios, Mourning Lenore nos dá a conhecer o seu primeiro álbum cuja qualidade prima pela satisfação. Tendo em conta que é uma banda com pouco mais de dois anos, ter um álbum editado que esteja acima da mediania já é um grande ponto a favor. As seis músicas com que nos presenteiam, as duas últimas como bónus tendo sido anteriormente editadas aquando do split com Insaniae referente ao aniversário da “Daemonium Zine”, nos conquistam pela sua faustosa cadência. Embora estas não se rebelem contra os elegantes cânones do que é normal no Doom-Metal, demonstram que a banda possui bons músicos e que inspiração para algo mais não lhes falta. Ao ouvir o álbum, somos acariciados por melodias que conquistam à primeira audição, sendo, no entanto, fácil de reconhecer a rispidez de barreiras cujas arestas rasgam certas semelhanças com as nuances mais cruas de Paradise Lost, Anathema e Katatonia. O importante é que, beber de certas influências não pressupõe uma roupagem totalmente igual e o agrupamento vinga sem alguma vez pender para um descarado aborrecimento. Este pode não ser um álbum ultra-sublime mas tem muito para agraciar os amantes do


género, só se esperando que o próximo lançamento não seja tão lento quanto a música. [7.5/10] Jorge Ribeiro de Castro

oh) e do ex-Pentagram Russ Strahan conjuram da melhor maneira o espírito revivalista que a banda pretende invocar. À primeira impressão, «Addicts» poderá soar como uma incursão excessiva em universos distantes, mas no fim a sensação que perdura é a de uma combinação muito bem conseguida entre o rock/ punk dos 70s e a crueza típica das sonoridades mais negras do metal. [9/10] Ernesto Martins

NACHTMYSTIUM «Addicts: Black Meddle pt.2» (2010 / Candlelight) Um álbum invulgar, sem dúvida, tendo em conta o meio extremo em que se insere, mas que não surpreende face ao percurso artístico da banda em causa. De facto, depois do alucinogénio «Assassins», a opção por uma abordagem menos psicadélica e mais rock‘n’roll patente neste segundo tomo de «Black Meddle», soa até como um seguimento natural. Da estética extrema do black metal que moldou originalmente o colectivo norte-americano, resta agora pouco mais do que a voz rouca do líder Blake Judd, bem como um som caracteristicamente sujo que, na verdade, joga muito a favor do hard-rock retro que pauta mais de metade dos temas. Na sua maior parte «Addicts» é um álbum cheio de composições padronizadas mas plenas de balanço, com refrães apunkalhados que não nos saem mais da cabeça, e ganchos que soam bizarros de tão catchy, havendo até espaço para alguns devaneios pop. Aquele loop incessantemente ondulante em «No funeral» fica para a posteridade como um das ideias mais desconcertantes em todo o álbum. E os solos muito vintage saídos das seis cordas dos convidados Matt Johnson (Phara-

NUCLEUS TORN «Andromeda Waiting» e «Travellers» (2010 / Prophecy Productions) Antes de mais, Nucleus Torn não é uma banda de rock, muito menos metal. Poderemos definir como experimental avant-garde, neo-clássical, folk. O mentor por trás deste projecto é o suíço Fredy Schnyder. Em «Androme da Waiting» os temas são identificados, simplesmente, por números romanos. Música ambiente, atmosférica, calma, etérea, de alguma maneira medieval com as vocalizações femininas a cargo de Maria D’Alessandro. Entre os instrumentos que compõem os dois álbuns podemos encontrar: guitarras (eléctrica, clássica e acústica), hammered dulcimer, violoncelo, violino, flauta e bandolim, entre outros. No que diz respeito a «Travellers», esta é uma compilação que reúne alguns temas de trabalhos anteriores, assim como dois temas nunca antes lançados, e encontra-se

dividida em 4 partes: os primeiros quatro temas, pertencentes ao EP com o sugestivo nome de “Krähenkönigin”, são divididos em I a IV. São totalmente acústicos, com excelente produção, captando todos os pormenores da viola acústica. A segunda parte é composta pelos temas “Silver”, “Beggar”, “Witness” e “Nucleus torn”, todos pertencentes ao EP «Silver». Com excepção de “Silver”, que segue a linha do EP anterior, todos os outros temas são semi-acústicos “salpicados” com voz num registo quase progressivo. “Neon-light submission” e “Traveller’s rest”, são duas faixas instrumentais que fazem parte da demo «Submission». Apesar de manterem a atmosfera avant-garde/folk são as mais progressivas desta compilação, apresentando alguma distorção nas guitarras, fundindo muito bem estes três géneros musicais. Por fim, “Leadless” e “Lurking”, duas faixas novas, mantêm o mesmo registo folk, semi-acústico, não instrumental, com a voz competente e um solo de saxofone em “Leadless”. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

PAIN OF SALVATION «Road Salt One pt. 1 – Ivory» (2010 / InsideOut) Antes de mais «Road Salt One» não pode ser ouvido e analisado como um típico álbum de Pain of Salvation (PoS), no género de «Remedy Lane» ou «The Perfect Element pt.1». É uma abordagem comple-


tamente diferente que já vinha ganhando forma com «Scarsick» – uma reinvenção com tudo o que de negativo pode trazer (ou não). No entanto, «Road Salt One» não deixa de ser um álbum progressivo mas com grandes influências de Rock/Blues dos anos 70/80, com partes a fazer lembrar Frank Zappa, Anathema e até Marillion. É um álbum emocional, triste, melancólico que se “aprende” a ouvir, precisa de ser “digerido” e a produção é “crua” parecendo sair directamente da garagem. De destacar, ainda, os temas «Sisters», «Sleeping with the stars» e «Road salt». Uma ultima palavra para as vocalizações – soberbas! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

produzido com riffs poderosos e um fantástico trabalho de Michael Amott, tanto a nível de composição como de guitarra, esta em perfeita harmonia com as teclas. De referir que este não seria um grande álbum sem uma voz competente e Apollo Papathanasio (Firewind) faz esse trabalho na perfeição. De destacar, por fim, os temas menos bons: «Believe in me» e «Dead weight» (todas as outras são excelentes). Uma palavra para «Spirit of the wind», um tema diferente que vale a pena ser ouvido. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

STAR ONE «Victims Of Modern Age» (2010 / InsideOut)

SPIRITUAL BEGGARS «Return to Zero» (2010 / InsideOut) Após um interregno de cinco anos eis que a banda de Michael Amott (Carcass/Arch Enemy) surge com «Return to Zero». Este álbum parece ter chegado directamente das décadas de 70/80, revelando uma mescla de influências – Black Sabbath («Lost in Yesterday»), orgão Hammond a fazer lembrar Jon Lord (Deep Purple) mas menos intenso, Rainbow («Coming home»), Iron Maiden («Spirit of the wind») e géneros musicais – Rock, Doom e Stoner Metal. O resultado é um álbum retro muito bem

Foram necessários esperar oito longos anos para podermos desfrutar de mais um capítulo do projecto Space Opera de Arjen A. Lucassen, projecto em que cada música se refere a um filme de Ficção Científica. Categorizado como uma vertente mais pesada e operático do que os Ayreon – de onde deriva, Star One constitui-se desde o primeiro dia como um projecto muito interessante e sempre repleto de figuras conhecidas do mundo do metal. Assim, em 2010 temos o segundo opus «Victims of Modern Age», com praticamente o mesmo lineup e três dos quatro vocalista do 1º álbum, Sir Russell Allen, Damian Wilson e Floor Jan-

sen, sendo a novidade a introdução de Dan Swanö. Sendo um projecto lateral de Arjen, a sonoridade de «Victims of Modern Age» sofre infelizmente da sua “marca” musical. Esta colagem ao universo Arjen é mais do que evidente e talvez a maior decepção em relação a este lançamento. Penso que se perdeu alguma originalidade e distanciamento da sonoridade mãe conseguido no primeiro álbum. Salvo a veia mais pesada, e a introdução de mais convidados do que os lá presentes, tais como Tony Martin, Mike Andersson e Rodney Blaze, este poderia ser mais um álbum dos Ayreon. Posto isto de lado, «Victims of Modern Age» constitui um excelente álbum de Space Metal, com um naipe de músicas bastantes ecléticas ao mesmo tempo que contribuem para que «Victims of Modern Age» seja um álbum integro e de inspiração conceptual. Está lá tudo, ao seu melhor nível, daquilo que se espera de Arjen A. Lucassen e companhia. [7.5/10] Carlos Filipe

THE ACACIA STRAIN «Wormwood» (2010 / Prosthetic Records) Surgiu em mim uma certa dificuldade em compreender como o sentimento “raiva” se pode interligar tão bem com a amálgama de ritmos e melodias que este agrupamento de De-


athCore criou em “Wormwood”. Sim, é esta a condição primordial que a Prosthetic Records indica como pólo atractivo dando a entender que uma metralhadora a meio gás, calmamente manejada por detrás de uma colina, supera qualquer fúria desmedida invocada pela intensidade do momento. Pondo isso de parte, o certo é que o quinto álbum dos The Acacia Strain nos lidera por terrenos arenosos, por vezes lamacentos, onde cada toada hipnotizante nos pretende conjurar um grito de auxílio, algo que talvez nem possamos fazer devido às atribulações que soerguem detrás de uma cortina de trevas e fumo enquanto ouvimos hediondos trovões gritando monotonamente para que fujamos. Pois, ouvir alguém rasgar as cordas vocais dizendo que odeia a tudo e todos enquanto parece estar além da realidade assistindo o lento trucidar do vento num dia de chuva pode não parecer assim tão doloroso mas, ao surgir da noite, tal se torna inequivocamente enlouquecedor. Apesar de não ser um estilo que oiça muito, surgiu-me um enigmático sorriso ao sentir-me arranhado por melodias contagiantes que prestigiam a qualidade deste agrupamento. The Acacia Strain apresenta-nos uma estranha forma de nos libertarmos de toda a carga negativa que este mundo oferece… [8/10] Jorge Ribeiro de Castro

THE FEW AGAINST MANY «Sot» (2010 / Pulverised Records) Para um músico prolífico como Christian Alvestam, que já operou em mais de uma dezena de bandas, incluindo os Scar Symmetry, Incapacity e Torchbearer, o que mais poderia servir de motivação para formar um novo projecto? Bom, desta vez nada de mais prosaico do que a vontade de gravar e publicar material que, ao longo dos anos, foi ficando na gaveta por não se adequar às formações em que o guitarrista/vocalista estava a trabalhar no momento. Dito desta maneira até parece que estamos perante uma banda de segunda apanha e um disco feitos de sobras. Mas na verdade não é o caso dado que os TFAM apresentam uma proposta de death metal melódico com pelo menos dois aspectos relevantes. Um tem a ver com os arranjos orquestrais (cordas e coros, típicos de algum black metal), bastante invulgares no contexto do género, cuja delicadeza acentua bem o peso e a densidade da restante sonoridade. O segundo aspecto é que, apesar de toda a melodia, cujas partes de teclados fazem lembrar o trabalho a solo de Dan Swano (Moontower), a brutalidade mecânica das guitarras, as ocasionais explosões devastadoras de blast-beats e o grunhido gutural de Alvestam

(que prescinde aqui do registo limpo do tempo dos Scar Symmetry), a par de uma produção a condizer, conferem a este disco uma aura visceral e ameaçadora que remete de certa forma para os clássicos old school do death metal sueco. Com quase todos os temas interpretados na língua materna do colectivo, «Sot» apresenta uma forma relativamente diferente de fazer death metal com melodia, e recomenda-se especialmente aos fãs do género. [7/10] Ernesto Martins

THE SHADOW THEORY «Behind The Black Veil» (2010 / InsideOut) Nas palavras de Devon Graves (DG) - “So turn down the lights. Light a candle and some incense. Sit in a comfortable chair. Turn it up loud, and prepare for our first rock cinema (...)”. DG (Psychotic Waltz e Deadsoul Tribe) criou um álbum conceptual onde um homem acorda de pesadelo em pesadelo até que não consegue distinguir onde o sonho acaba e a realidade começa. A combinação de estilos musicais (e todo o conceito que o rodeia) é por demais evidente, thrash, psicadélico, progressivo e sinfónico fazem deste álbum dos melhores do ano 2010. Os temas são negros, esquizofrénicos, melódicos (a utilização da flauta transversal faz lembrar, obviamente, Jethro Tull) e o tra-


balho das vozes é soberbo. Temas como “Welcome”, “The sound of flies” ou “Ghostride” com o seu começo tímido e acústico levam-nos para outro nível de agressividade com o desenrolar da música. Apesar de «Behind the Black Veil» ser um álbum muito coeso, destacam-se os temas “Open up my eyes” e “Snakeskin” – de algum modo esquizofrénicos, com riffs pesados e soberbos, “Ghostride” o mais pesado e “thrashy” do álbum, e por fim “A symphony of shadows” o tema mais sinfónico e orquestrado. De realçar, por fim, a orquestração e o ambiente criado pelo teclista Demi Scott. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

as hostilidades em «Rubicon» com um line-up renovado, novos vocalistas, Mariangela e Kjetil e novo segundo guitarrista, Gyri; e contando com a participação do conhecido produtor Waldemar Sorychta, «Rubicon» é uma proposta deveras actual e sólida dos Tristania, não defraudando em nada as expectativas, isto se, tivermos paciência para ouvirmos o álbum com um espírito aberto umas quantas vezes. O álbum não entra logo à primeira por causa da componente mais mainstream e só a partir de «Exil» – música 5 – é que os nostálgicos se sentirão em casa. De facto, apesar de «Rubicon» ser uma proposta consistente, existe uma linha invisível que divide o álbum entre as quatro primeiras músicas e as restantes, o que prejudica o todo e incute uma percepção errada ao ouvir somente as primeiras canções. [8/10] Carlos Filipe

TRISTANIA «Rubicon» (2010 / Napalm Records) Sempre desafiando-se a si próprios na ânsia de regenerar o som da banda, os Tristania têm conseguido acrescentar sempre algo de novo à já sua extensa discografia. «Rubicon» é mais uma camada musical que acrescentam, por vezes mais mainstream, por outras mais Tristania – Prova disto são «Year of the Rat» e «Exil» respectivamente, mas sempre metal gótico e neste lançamento de 2010, claramente diferente dos dois anteriores álbuns, «Ashes» e «Illumination». Atacando

WATAIN «Lawless Darkness» (2010 / Season of Mist) Se «Sworn to the Dark», o álbum anterior dos Watain, soou como uma colagem estilística evidente mas ainda assim bem-vinda a bandas como Dissection e Dawn, o mesmo já não se poderá dizer deste novo registo de estúdio. O que não é propriamente motivo para alarme: os fãs daquelas magníficas

melodias desoladas celebrizadas pela banda do malogrado Jon Nordveit, podem dormir descansados pois estas continuam a surgir aqui no seu melhor por entre riffs old-school, embora de uma forma mais subtil. Mas embora dependa muito menos desses elementos, o que se salienta em «Lawless Darkness» é o arsenal de influências thrash e heavy tradicional que o trio sueco recupera do seu passado remoto, traduzindo-as em malhas tão inesperadas que por vezes nos esquecemos que estamos a ouvir uma banda de black metal. É o que acontece de forma notória no ambicioso “Waters of Ain”, em especial naquele grande final apoteótico, bem como nos leads de “Total funeral”. Outros temas dignos de nota são os brilhantes “Hymn to Qayin” e “Kiss of death”, estes sem solos, e mais em linha com o que ouvimos do colectivo de Uppsala nos dois discos anteriores. Apesar de modesto no que toca a aspectos de originalidade, este quarto longa duração ganha pelo nível superior de composição que exibe, tanto nas passagens melódicas de beleza diabólica, como nos segmentos mais furiosamente punitivos. Liricamente, não há surpresas: este é mais um monumento erigido às forças da escuridão, com uma intensidade blasfema suficiente para pulverizar de um sopro meia dúzia de congregações religiosas. [8.5/10] Ernesto Martins




No passado dia 7 de Dezembro de 2010 o BE (Bar do Estudante da Universidade de Aveiro) foi palco para mais um evento realizado pela MYOproductions. Desta feita, o cartaz contou novamente com os Motim para a abertura dos concertos com uma actuação no mínimo caricata, própria desta banda que prima não só pela música, mas também pela boa disposição. Seguiram-se os After Hate que com os seus riffs carregados de peso e influências de metal e hardcore conseguiram cativar o público e aquecer o ambiente. A terceira banda a pisar o palco foram os espanhóis Farm School Holocaust com o seu estonteante math core. Impressionante a performance desta banda que consegue deixar o público exausto devido à construção das suas músicas. Muita rapidez de dedos, técnica excepcional e muita matemática convertida em música. Os elementos mais entusiastas do público não conseguiram deixar de ‘dançar’ ao som de músicas como ‘Epic Fail’, ‘Iron Storm’ ou ‘After the Spark’. O último concerto coube aos Skypho que conseguiram juntar uma enorme multidão em frente ao palco. Já fazia bastante tempo desde a última vez que esta banda oriunda de Albergaria marcara presença em Aveiro. Grande actuação, marcada pelo seu som bastante característico e abrangente que apresenta influências de metal, rock, alternativo e tribal. Destaque especial para o momento em que tocaram os temas mais antigos como ‘Nowhere Neverland’ ou ‘My Insomnia’. Músicas bem conhecidas do público aveirense. De parabéns ficam também todos os envolvidos na produção do evento além da equipa da MYOproductions, tais como Rui Carvalho (técnico de som), Bleeding Heart, entre outros indivíduos que fizeram questão de colaborar. Texto: Bernardo Leite Fotografia: Bernardo Oliveira Leite


s i a c i s u m s e õ x e l f e r

dico

Ser medíocre por opção – II Sendo a música uma área de natural exposição pública não surpreende que, a partir do momento em que os executantes se tornam conhecidos, tripliquem a “carteira” de “amigos”. Reproduzemse como coelhos. Passa instantaneamente a haver uma legião de tubarões interesseiros auto-intitulados “amigos” do músico “X”, ainda que ambos só hajam privado escassos minutos uma vez na vida. Quando tocava nos Dinosaur, entre 1990 e 1992, o recorde de pessoas a conviver em simultâneo no meu quarto de 10m2 (onde se encontrava montada a bateria) foi 13, entre amigos genuínos (dois), conhecidos e sanguessugas oportunistas (todos os restantes). Quando abandonei o grupo só os verdadeiros amigos permaneceram (julgava eu!), tendo as restantes “espécies” debandado calma e ordeiramente, sem que eu sequer lhes sentisse a falta. Fora dos Dinosaur, a minha figura já não era atractiva para os tubarões exibirem à família e aos amigos, qual bichinho de circo. Após esse episódio comecei a organizar a formação dos Orion Belt – projecto que seria a génese dos Powersource – com o meu amigo e guitarrista Rui Lourenço. Certo dia recebi uma chamada de um amigo de longa data, a que chamarei “M2”. Falávamos do meu abandono dos Dinosaur e da dificuldade em completar a formação dos Orion Belt quando, sarcástica e maldosamente, “M2” afirmou, num riso nervoso e com voz estridente, “nunca conseguirás formar uma banda tua. Podes tentar mas não vais conseguir, ha, ha”. Esta atitude maldosa, de amesquinhamento premeditado, surpreendeu-me e chocou-me pro-

fundamente. Mal consegui retorquir. Seria capaz de por as mãos no fogo por “M2” que, percebi naquele momento, era apenas mais um tubarão. À semelhança de outros, durante muito tempo este…”amigo” havia-se alimentado do protagonismo dos Dinosaur. Frustrado, vivera dos holofotes que o apanhavam de raspão Nos tempos áureos, “M2” passara longas horas na minha casa. Gabava-se publicamente de privar com a banda, de assistir aos ensaios e de ver concertos gratuitamente. Sentindo-se traído pelo meu abandono do grupo (facto que o impedia de continuar a alimentar o ego inchado) resolveu vingar-se tentando arrastar-me para o fundo do poço. Obviamente, a amizade terminou nesse mesmo telefonema. Vários anos mais tarde, já após eu ter fundado os Powersource (facto que “M2” afirmara ser impossível, recordam-se?) e ter gravado com os Sacred Sin, eu e esse ex-amigo encontrámo-nos casualmente duas vezes, tendo-se ele manifestado arrependido da sua atitude. Queria reatar a amizade. Tentei fazê-lo, de ambas as vezes, dando-lhe o benefício da dúvida, mas já éramos pessoas tão diferentes, com valores radicalmente opostos nalguns casos, que não fazia sentido algum levar por diante uma amizade sem alma. Afastei-me, de forma natural. Às vezes é melhor assim.

Antigo jornalista e crítico de música, fundador dos blogues “Metal Incandescente” e “A a Z do Metal Português”, Dico publica actualmente no blogue “SounD(/) ZonE” o texto “Breve História do Metal Português”. Disponibilizado em quatro partes, cada uma delas incidindo numa década específica – desde os anos 60 até à década de 90 – este trabalho visa dar a conhecer os verdadeiros primórdios da música pesada nacional e sua evolução no tempo. Segundo o autor, “ao contrário do que muitos fãs julgam a génese do Metal português não reside na década de oitenta. Com efeito, há toda uma vasta história pré-anos 80 escrita a sangue, suor e lágrimas por grupos cuja existência deve ser lembrada e preservada”. Os artigos, compostos por textos de contextualização história, política, social e musical, bem como por biografias das bandas retratadas, são disponibilizados online com uma periodicidade bimestral, sofrendo actualizações quando necessário. Os textos sobre os anos 60 e 70 (até ao 25 de Abril) já podem ser lidos em http://soundzonemagazine.blogspot.com


Ser fã de música é: Primeiro que tudo, ser um animal com palas nos olhos, é como quem diz, abominar a diversidade musical, ou seja, adorar cegamente um ou dois estilos musicais e odiar ferozmente tudo o resto. Em segundo lugar, mandar postas de pescada, bacalhau e salmão a tudo e mais alguma coisa. Ou porque não são como “estes” ou porque é o mesmo de estar a ouvir “aqueles”. E por fim, arranjar confusões do meio do nada, puxando assuntos que em nada se relacionam com conversas a decorrer. Se segues estas três regras de ouro, parabéns, és um verdadeiro fã de música aos olhos da sociedade do mundo atual. Agora se pelo contrário ouves um pouco de tudo, respeitas todo e qualquer artista e o seu trabalho, mesmo que não gostes nem um pingo do que este faz, és civilizado e tentas manter uma discussão saudável e aberta com quem tiver algo de inteligente e racional a dizer, amigo, revê os teus valores porque, neste mundo, não és nada. A atualidade crucifica quem tem espírito crítico construtivo e mente aberta enquanto vai glorificando todo aquele que insulta, rebaixa, se mostra ignorante e idolatra ideais vazios, clichés e estereótipos. Todos nós já abrimos fóruns de discussão, ou simplesmente lemos uma notícia online com possibilidade para comentar, e deparámo-nos com as maiores barbaridades, cometidas não só pelos conhecidos como haters, mas também por aqueles do outro lado da linha que separa os extremos, ou seja, quem endeusa os artistas e não aceita qualquer tipo de falha nos mesmos. Vê-se em cada esquina das comunidades musicais cibernéticas, guerras entre estas duas fações, ainda que com algumas pessoas sensatas metidas ao barulho, ninguém lhes dá ouvidos, fala-se sempre do mesmo, sempre em busca do porquê, da razão que leva um artista a fazer música de certa forma, mas não querendo realmente saber a resposta. É dizer que o que buscam é nada mais que querer mostrar-se superiores a artistas e a fãs, demonstrando assim a grande lacuna de respeito

que envolve o mundo de hoje. E agora falando num campo mais próximo de todos nós, o panorama nacional. Basta iniciarmos uma pequena e rápida vista de olhos ao top nacional de discos para termos uma ideia de que a variedade não é algo que consta da dita lista, mas gostos são gostos e quem compra, compra com gosto. No entanto, rara é a pessoa que se fica pelos seus próprios gostos numa conversa, e depressa uma discussão pacífica se torna num autêntico campo de batalha onde não se fala de gostos, ataca-se, com puro ódio e argumentos descabidos, tudo o que não coincide com as características do gosto pessoal. Ingressa-se assim numa batalha onde o mais hipócrita, ignorante e desrespeitoso se sagra vitorioso. Portugal, reis do Pimba e senhores do Fado, mas será que por isso teremos de ficar por aqui? Muitas são as mentes que responderiam afirmativamente a esta questão. Mas essas mesmas mentes, não querendo generalizar, babam-se perante a presença do Pop e talvez do Kizomba, esfolando completamente sonoridades mais pesadas como o Metal ou até mesmo o simples e velho Rock. Tende-se a dizer que o que é nacional é bom, mas seguindo essa linha de raciocínio era necessária a aceitação de toda e qualquer coisa que fosse nacional, tal implicaria que não fosse apenas o que é mais popular. O que se ganha com a exclusão e agressão de alguns estilos musicais? Esta questão não tem barreiras, todos nós, em algum aspeto, atacamos o que não gostamos, independentemente do que quer que seja; o que é necessário focar é nada mais nada menos que o facto de que a criação de “grupos restritos” que impedem a intervenção de alguns estilos musicais empobrece a mentalidade de quem deles faz parte, neste caso, quem aceita uma parte do mundo da música mas rejeita por completo tudo o resto. Um apelo a todos os fãs de música: se não gostam ou não compreendem a maneira como um artista faz a sua música, e se têm preguiça de tentar entender, ou ainda se simplesmente não conseguem, ao menos respeitem. Obrigado. Daniel Guerreiro




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