Versus Magazine #11 Dezembro 2010

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Depois de um longo período de afastamento, a Versus aqui está de novo para terminar da melhor maneira um ano que se revelou tudo menos fácil na curta vida deste magazine. Indisponibilidades de vária ordem obrigaram-nos a atrasar sucessivamente as edições, tendo sido possível concluir apenas três números nos últimos oito meses. Entretanto, apostados na continuidade deste projecto, passamos por uma mudança de direcção e por um laborioso processo de transição que, usando do inestimável contributo da nossa equipa de colaboradores, a quem desde já agradeço, culmina com a publicação da presente edição. Apesar das movimentações de bastidores, a Versus conserva os mesmos traços de sempre. Contudo, inauguramos nesta edição uma nova secção de reviews curtas, e contamos vir a introduzir outras novidades e melhorias nas próximas edições. Fiquem atentos. Mudamos também a periodicidade para bimensal, mas, em compensação, temos em vista edições mais volumosas dentro daquilo que nos for tecnicamente possível. As nove entrevistas e as vinte e nove reviews deste número são já uma boa indicação dessa tendência. Estamos agora preparados para encarar 2011 com motivação renovada. Podem continuar a contar com a Versus Magazine! Ernesto Martins



Tankard

IRON MAIDEN

“Vol(l)ume 14”, este é o nome escolhido para batizar o novo álbum de estúdio da banda alemã Tankard. O lançamento está marcado para o dia 17 de Dezembro e terá 10 músicas novas. A banda divulgou a novidade através do site oficial e do perfil no Facebook, onde também é possível ver a capa do novo álbum. “Vol(l)ume 14”, como o nome indica, é o 14º trabalho de estúdio na discografia do quarteto e será lançado em três formatos diferentes: LP, CD simples e CD/DVD.

Após atingir a posição número 1 nos charts de 21 países (incluindo Portugal) com o seu 15° disco de estúdio, “The Final Frontier”, os Iron Maiden vão lançar agora o terceiro single deste novo trabalho. Depois de “El Dorado” e “The Final Frontier”, agora é a vez de “Coming Home” chegar às rádios de todo o mundo. O single terá a faixa em duas versões: “Radio Edit” e “Album Version”.

INKILINA SAZABRA

2º álbum já há venda

Novo álbum

O industrial Português fica fortificado com o regresso do projecto “Inkilina Mor+e” aos discos, desta vez com o projecto “Inkilina Sazabra” e o disco “A Divina Maldade”. “Inkilina Sazabra” surge da fusão entre o escritor Pedro Sazabra e o projecto “Inkilina Mor+e”. Após a colaboração no tema “Solta Âncora” de 2008, que serviu de banda sonora do 1º livro do escritor “As Passeatas de Euclides”, ambos decidiram musicar por completo este novo livro “Liberdade, Obscuridade”. O resultado são 15 temas industriais e ruidosos com musica de Carlos, e textos e vozes de Pedro. O 1º single será o tema titulo, e será lançado brevemente pela “Ulmeiroeditora ”.

Samael

edição especial A 22 de Novembro, a Century Media vai lançar uma box-set que irá conter todos os lançamentos que a banda suíça SAMAEL gravou pela editora. “A Decade In Hell” trará um livro de 60 páginas, além de nove CDs e dois DVDs contendo: “Worship Him”, “Blood Ritual”, “Ceremony Of Opposites”, “Rebellion”, “Passage”, “Exodus”, “Eternal”, “Era One” e “Lesson In Magic #1”, além do DVD “Black Trip” 1 & 2.

Novo single

Dr.Salazar

O 2º álbum dos Dr.Salazar já se encontra à venda por todo o país e tem o nome de “Lápis Azul”. O álbum encontra-se a venda por 9€ e as t-shirts estão disponíveis no site de merchandising Unkind (http://www.unkind.pt/) por 11,90€. Podem também fazer a encomenda do álbum e t-shirts pelo myspace da banda ou email. Basta enviar uma mensagem com nome completo, morada e artigo pretendido. Mais notícias em: www.myspace.com/drsalazar1

Motorhead Novo álbum

Os MOTÖRHEAD vão lançar o seu tão aguardado novo ábum de estúdio, “The World Is Yours”, em 13 de Dezembro. O primeiro lançamento da banda através de seu recém-criado selo, Motörhead Music, associado à EMI Music Services, foi gravado com o produtor de longa data Cameron Webb.


Viagens No Tempo

“[A discografia da ban grafia de um escritor d que é clara a presenç soal, mas cada livro te ente para contar”

São uma banda de primeiro plano, mas conheceram uma longa pausa, que começou em 2005. Ressurgem com uma formação renovada e acabam de lançar “Astron Black and The Thirty Tyrants”, pela Metal Blade. Aqui estão motivos de sobra para a Versus Magazine conversar com Efthimis Karadimas, vocalista e mentor da banda, desde a sua formação, em 1991.

original, única, em que os diferentes álbuns se distinguem perfeitamente uns dos outros, apresentando elementos e estilos sempre variados, em função da altura em que foram produzidos. É como a bibliografia de um escritor digno desse nome, em que é clara a presença do seu toque pessoal, mas cada livro tem uma história diferente para contar. Esta constatação é muito importante para mim, porque considero a produção artística dos Nightfall rica e cheia de elementos que reflectem a história do metal europeu nas duas últimas décadas.

Nightfall é uma banda veterana. Fiz pesquisa sobre a banda e recolhi bastante informação, mas não posso perder esta oportunidade de ter acesso à análise dos factos feita por alguém que esteve na sua origem. Na tua opinião, quais são os momentos mais importantes na biografia dos Nightfall? E de que modo contribuíram para o actual momento da banda? Karadimas: Quando recordo todos os lançamentos dos Nightfall, vejo uma discografia

Depois de uma carreira gloriosa e de várias mudanças na formação, os Nightfall desapareceram durante alguns anos. Como é que isso aconteceu? A editora com quem estávamos na altura teve alguns problemas e acabou por cessar a actividade. Pareceu-me que era uma boa oportunidade para a banda fazer uma pausa e reflectir sobre alguns aspectos da sua existência. Quando criei os Nightfall, o meu objectivo era fazer música sobre a forma como a vida nos envenena e, claro, comunicar com outras pes-


Jorg Uken gostaria de tocar com os Nightfall, se a banda pretendesse fazer algum lançamento. Limitei-me a aproveitar uma boa oportunidade com que me deparei: contactei os dois e a resposta de ambos foi muito encorajadora. Combinámos uma reunião, para tocarmos juntos, mas, nessa altura, não tínhamos planos para fazer um novo lançamento. Contudo, acabámos por assinar um contrato com a Metal Blade e esperamos merecer a confiança que depositaram em nós.

nda] é como a bibliodigno desse nome, em ça do seu toque pesem uma história difer-

soas que tivessem a mesma sensação. No entanto, à medida que o tempo foi passando, as coisas foram-se tornando mais complicadas, inclusive devido aos aspectos comerciais do trabalho artístico da banda. Tínhamos de fazer digressões, de participar em eventos promocionais, etc. Todas estas actividades são positivas, mas, quando começam a ocupar muito tempo à banda, esta acaba por perder de vista a sua verdadeira finalidade: exprimir-se através da música. Portanto, mantive-me algum tempo liberto dessas responsabilidades, relaxei um pouco, continuei a tocar, sozinho, e decidi guardar o silêncio até ter encontrado novamente algo interessante para dizer através da minha música, à minha maneira. O que te levou a “refazer” a banda, depois da sua quase extinção? Falei com um amigo meu, Stathis, o nosso teclista, sobre canções novas em que estava a trabalhar e ele propôs-me que eu contratasse o guitarrista Evan Hensley, caso quisesse graválas. Na mesma altura, fui contactado por um outro amigo, que me comunicou que o baterista

De que modo vês o futuro da banda, com esta nova formação? Penso que vamos fazer muita coisa juntos. Temos uma boa relação e os novos elementos estão muito entusiasmados com o projecto. Este aspecto é muito importante, porque, hoje em dia, na cena, muitos querem apenas ser estrelas, preocupando-se sobretudo em promoverse pessoalmente e esquecendo o trabalho em equipa ou, pior ainda, a dimensão artística do que fazemos. A ideia de tocar seja o que for desde que agrade não me diz nada. Os Nightfall são geralmente apresentados como uma banda que faz death/gothic metal melódico. Contudo, é também conhecida pelas suas metamorfoses. Que adjectivos se aplicam melhor ao vosso perfil actual? Deixo isso ao critério dos críticos musicais. A mim parece-me que tentar descrever por palavras algo que não é feito de palavras é um erro crasso. Parece-te que os Nightfall têm algumas influências, venham elas da Grécia ou de outra cena? Penso que sim, tal como todas as outras bandas. Mas não me peças para fazer a lista das nossas influências agora. Crescer na Grécia, um país que se caracteriza por uma cultura que combina elementos ocidentais e orientais, marca a pessoa para sempre. Mas cabe a cada artista grego decidir de que modo vai contribuir para essa identidade cultural tão especial, esteja ele ou ela no metal ou não. Em textos que li, associava-se outras bandas aos Nightfall: por exemplo, Rotting Christ, Samael, Tiamat e até os portugueses Moonspell. O que pensas disto? Que são boas bandas. Alguém referiu também os Nile. Com certeza estavam a ter em conta o facto de que o nosso ex-baterista está agora com os Nile. As pessoas são livres de dizerem e compreenderem o que quiserem. A vossa banda é uma referência de peso na cena. Sentem-se assim? Serias capaz de referir outras bandas que a vossa possa ter influenciado?


Obrigado por essa apreciação. Mas não me sinto capaz de referir nenhumas bandas agora. De qualquer modo, nunca o faria. Por outro lado e muito francamente, neste meio influenciamonos todos uns aos outros, porque já se tocou tudo o que havia para tocar. A única coisa que faz verdadeiramente sentido, que interessa mesmo, são as “falhas”, as pequenas imperfeições que tornam único o som de cada banda.

cidar-nos sobre este aspecto? Este álbum não foi criado apenas para entreter os ouvintes, ou para dançar. Vai-se revelando gradualmente, da mesma forma que os contadores de histórias vão desenrolando as suas narrativas, criando expectativa nos ouvintes. Tem os seus altos e baixos, os seus momentos poderosos e as suas partes calmas, tal como uma boa história.

Passando agora ao vosso último lançamento – “Astron Black and the Thirty Tyrants” –, vê-se que se trata de um álbum conceptual. Sendo o autor de todas as letras, como descreverias o conceito subjacente a ele? O álbum trata do esforço dos seres humanos para expandir a sua civilização através do universo e conquistar novos paraísos. Estrelas e planetas orientam a nossa viagem através do seu movimento. Essa viagem mítica é apresentada com base em parábolas, que fazem alusão a factos históricos.

Comparei o vosso novo álbum com o que o antecedeu (“Lyssa...”, 2005) e penso que há notáveis alterações no som. Que pensas desta observação? De facto, há uma grande evolução entre os dois álbuns. “Astron Black and the Thirty Tyrants” tem uma produção mais trabalhada, o que é indispensável para combinar agressividade e melodia e obter um bom produto final.

Sei que a capa do álbum foi elaborada sob a tua supervisão. Achei-a magnífica, mesmo antes de saber quem a tinha feito. O que representa essa imagem? O movimento acima referido. O barco representa os meios artificiais que os humanos criam para viajar, para explorar o seu universo, e o mar surge como o último reduto a explorar, representado de forma literal e metafórica. Estou certo de que compreendes a minha ideia, porque os Portugueses também são um povo do mar e afirmaram-se como marinheiros e exploradores.

Foste sempre muito apreciado pela qualidade da tua voz. Neste álbum, és acompanhado por outro vocalista. Por que sentiste a necessidade de teres alguém a cantar contigo, se uma das principais características da tua voz parece ser a sua impressionante flexibilidade? Não era necessário, nem foi planeado. O dono do estúdio onde os vocais foram gravados é um

Ouvindo a música deste álbum, sente-se que vão surgindo diferenças subtis na atmosfera, de faixa para faixa. Podes elu-

“Crescer na Grécia … sempre. Mas cabe a c cidir de que modo va identidade cultural tã no metal ou não”


amigo meu e muito simplesmente eu convideio para colaborar em algumas partes do álbum durante as gravações. Que tipo de relação criativa (se havia alguma) mantinhas com os membros da banda que abandonaram o projecto? Separámo-nos, porque tínhamos perspectivas diferentes. A minha experiência na cena levoume a ter dúvidas sobre a validade da indústria musical e a sua importância para os Nightfall. Os outros membros da banda não tinham tanta experiência e estavam ansiosos por brilhar, fazendo muitas digressões e participando em actividades de promoção. Por outras palavras: eles queriam o que eu recusava. Mas estou contente por ver que têm tido sucesso até agora. Então, como pretendes orientar o trabalho com a actual formação, no que se refere ao processo criativo dos Nightfall? Esta parte do trabalho de uma banda veterana suscita-me muita curiosidade, tanto mais que a formação é completamente nova (excluindo-te a ti, claro). Enquanto o espírito de equipa persistir, não vai haver problema. Quem quiser apostar no exibicionismo, em detrimento da banda e do seu projecto musical, terá de sair.

… marca a pessoa para cada artista grego deai contribuir para essa ão especial, esteja ele

Qual é a importância da Metal Blade para os Nightfall? Poderiam ter lançado “Astron Black” noutra editora? Foi uma grande honra para nós fazermos parte do catálogo de uma editora histórica. Não poderíamos ter lançado o CD com outra editora, porque só o enviámos à Metal Blade. Com certeza, têm planos para promover este CD. O que nos podes dizer sobre este assunto? Ainda estamos em negociações para a marcação de concertos e a provável realização de uma ou duas digressões. Mas a banda não tem pressa. Vamos avançar de uma forma cautelosa e selectiva. Afinal, “Astron Black and the Thirty Tyrants” é uma obra de arte que vale por si. Os Portugueses têm orgulho em pertencer à mesma matriz cultural que os Gregos e por terem sido influenciados pela vossa cultura. Sei que os Nightfall estiveram em Portugal para promover Lesbian Show. O que nos podes dizer sobre este momento da história da banda? Tiveste alguns contactos com a cena metal portuguesa na altura? Foi um momento maravilhoso, graças ao empenho de todos os que nos acompanharam em Portugal. Isso que dizer que tencionam vir ao nosso país para promover “Astron Black”? Gostava muito de ver os Nightfall ao vivo. Estamos prontos para repetir. E uma recepção calorosa merece uma resposta positiva. Obrigado pelo teu tempo e esforço. Entrevista: CSA


Uma Terapia Musical de Peso Lançaram “Heal!” para festejar o 20º aniversário e fazer o balanço de uma carreira que já vai longa. Há vários anos com a Massacre, pretendem continuar a fazer a sua música, mantendo a liberdade artística que tiveram até agora e, tanto quanto possível, alargar os horizontes da banda. Jagger, vocalista dos Disbelief, fala-nos de como se sente o fundador de uma banda que atingiu a maturidade e dos seus planos para o futuro. “Heal!” foi lançado para celebrar o 20º aniversário da banda que tu próprio fundaste. Como poderias resumir a vossa história até agora?

Jagger – Às vezes, tenho dificuldade em aceitar que já fundei a banda há 20 anos. Já passou tanto tempo! Durante estes anos, gravámos 8 álbuns, para além deste para o aniversário. Fizemos digressões e partilhámos o palco com grandes bandas. Trabalhámos com grandes produtores: Andy Classen, Tue Madsen, Michael Mainx. Conseguimos “contaminar” fãs de todo o mundo com o poder da nossa música. É fantástico!

Há anos que estão com a Massacre, passaram estes anos todos a explorar certos temas, criaram um som coerente ao longo da vossa carreira. Podemos dizer que são uma “banda de hábitos”? De momento, não sentimos a necessidade de mudar de editora, porque a Massacre faz-nos sempre as melhores ofertas. Há muitos anos que confiam nos Disbelief e que nos deixam fazer a nossa música. Isso é muito importante para nós e a Massacre tem sido irrepreensível.

Ao escutar a vossa música, fiquei com a impressão de que é obscura e luminosa ao

“Durante estes an “contaminar” fãs com o poder d É fantá mesmo tempo. Como conseguem produzir esse efeito espectacular? Pretendemos criar uma atmosfera autêntica, assegurada por uma boa fusão entre a música e as letras. A nossa música é como a realidade: cheia de altos e baixos, de coisas boas e coisas más, a preto e branco. Na história da banda, a música surgiu sempre em primeiro lugar, quando escrevemos as nossas canções. A parte instrumental produz uma atmosfera especial, conta uma história e isso inspira-me para eu escrever a letra adequada para aquela música. Esta é uma das causas fundamentais do efeito que referiste na tua pergunta.


nos, conseguimos de todo o mundo da nossa música. ástico!” Os títulos, a capa e as letras dos álbuns revelam o vosso interesse por temas relacionados com a saúde, tanto física (caso de “Infected”) como mental (por exemplo, “Worst Enemy” e “Protected Hell”). Alguns parecem mesmo combinar os dois aspectos: “Spreading the rage” e “66Sick”. Este ciclo começa com um álbum auto-intitulado e vai até “Heal!”. Alcançaram a cura com este último longa duração? Ou pretendem dar seguimento à vossa “descrença”? Dado que a nossa música ajuda pessoas por esse mundo fora a enfrentar momentos difíceis

nas suas vidas, pareceu-nos que “Heal!” seria o título perfeito para o nosso álbum de aniversário, uma espécie de prenda para todos os nossos fãs. É esta a principal ideia subjacente ao título: celebrar o poder da música.

Falando agora de “Heal!”, há alguns aspectos do álbum que me intrigaram bastante. Um deles é a capa. Gostei muito dela e parece-me muito adequada à natureza da vossa música, mas fiquei a pensar qual seria exactamente a relação a estabelecer entre esta imagem e o título do lançamento. Será que nos podias elucidar?

A música pode ser um bom amigo, quando temos de travar uma luta com a vida. Por vezes, a música dos Disbelief funciona como um medicamento, um poder que te ajuda, algo a que te podes agarrar. A música ajuda-te a não desistires e a ter um pensamento positivo. Por isso, o álbum chama-se “Heal!”! E o médico na capa faz o mesmo trabalho que a nossa música: ajuda-te e dá-te segurança.

E por que razão este álbum inclui 4 canções


“É esta a principal ideia subjacente ao título: celebrar o poder da música” novas, 3 covers e uma nova versão da faixa título de “Shine” (2002)? Queríamos fazer algo de especial para este álbum de aniversário. Portanto, decidimos criar algumas canções novas, que compusemos propositadamente ao estilo de bandas que nos influenciaram no passado. São elas: Slayer, Death, Bolt Thrower e Crowbar. Com estas canções, queremos homenagear essas bandas, misturando os seus estilos característicos com o som dos Disbelief.

As covers são verdadeiramente fantásticas. Gostei particularmente de “Love like blood”. Por que escolheram estas bandas e estas músicas?

As covers são de canções de duas grandes bandas de power metal: Crimson Glory e King Diamond. Não as escolhemos por nos terem influenciado, mas sim porque somos fãs delas. Queremos homenageá-las e, sobretudo, Midnight, o vocalista de Crimson Glory, que morreu muito novo (R.I.P.)! Quanto a Killing Joke, já tínhamos feito uma experiência com a canção “Democracy”, que saiu no nosso álbum “Spreading the Rage”. “Love lik blood” foi a primeira canção dos Killing Joke que despertou o meu interesse. A atmosfera dessa canção fascinou-me desde a primeira vez que a ouvi. Há uma outra música dos Killing Joke, que ficaria fantástica com o nosso som, mas isso é uma ideia para o futuro...

Ao escutar “Heal!”, sentimos a música, mas a voz parece que está em todo o lado, sempre destacada. Como crias esse efeito? Comecei a educar a minha voz em 1987. Graças a esse treino, está cada vez mais forte. Quando está em boa forma, sinto-me como um camaleão. Trabalhar para um novo álbum em estúdio tem sempre um forte impacto psicológico para mim, mas é também um grande prazer. Sentirme na melhor forma, ter uma voz poderosa cria em mim uma espécie de tensão que me faz soar mais forte do que nunca e isso é uma experiência sensacional para um vocalista.

Com certeza, pensam fazer uma grande digressão para festejar o vosso 20º aniversário

e promover este álbum. Onde gostariam de ir? Com quem gostariam de tocar?

Em Dezembro, estaremos em digressão como banda de suporte para os Six Feet Under. A maior parte dos concertos terão lugar aqui na Alemanha, mas também vamos tocar na Áustria, na Suíça e na República Checa. Tenho a certeza de que esta digressão vai ser maravilhosa para os Disbelief. No passado, andámos duas vezes em digressão com os Six Feet Under e foram experiências espectaculares. Depois disso, vamos fazer uma digressão nossa pela Europa de Leste: especialmente, Polónia, República Checa, Roménia. A seguir, haverá alguns concertos em França e iremos tocar em alguns fins-de-semana ou fazer uma pequena digressão com os nossos amigos dos Gorilla Monsoon.

Será que Portugal faz parte do mapa da digressão dos Disbelief? Na vossa opinião, o que pode “Heal!” trazer de novo aos músicos e fãs portugueses?

A primeira vez que tocámos no vosso país foi no Festival de Ermal. Fomos muito bem acolhidos e esperamos poder voltar numa das nossas próximas digressões. Conhecemos alguns músicos extraordinários nesse festival e gostaríamos de poder, em breve, tocar ao vivo com eles.

E, para terminar com chave de ouro, gostava de saber se já têm algumas ideias para os próximos 20 anos da vossa banda.

Continuaremos a tocar e a passar momentos sensacionais no heavy metal e veremos o que vai acontecendo. Na minha opinião, ainda não demos o nosso melhor e, portanto, sentimos que temos muitas canções maravilhosas a compor no futuro. Ir frequentemente tocar ao vivo no teu país também me parece uma boa ideia, porque aprecio a vossa cultura e o clima e, claro, os fãs locais. Obrigado pelo apoio aos Disbelief, quer vindo da revista, quer dos nossos fãs em Portugal. Saudações! Entrevista: CSA


O Regresso do Rei Acabam de aparecer em cena com o álbum «Fi’mbulvintr». Contudo, para o guitarrista e vocalista Karl Beckmann, os King of Asgard são mais do que um novo projecto concebido, em 2008, em parceria com o baterista Karsten Larsson.Tratase mais do reacender de uma velha paixão, interrompida prematuramente há onze anos atrás com a extinção de uma outra banda a que pertenceu.

Sendo os membros dos King of Asgard já conhecidos de outras formações, gostava que começasses por nos dizer por onde é que vocês têm andado, em termos de bandas, antes da formação deste novo projecto.

Karl: Eu e o Jonas (Albrektsson, baixo) temos estado parados. O Karsten (Larsson, bateria) continua envolvido nos Falconer, banda que lhe ocupa uma boa parte do tempo. Estive com ele nos Mithotyn mas esta banda terminou há já cerca de onze anos. O Jonas tocou também nos, igualmente extintos, Thy Primordial. Outros grupos notáveis por onde algum de nós já passou, foram, por exemplo, os Dawn e os Indungeon. Ao todo, já andamos nisto do metal extremo há mais de vinte anos. Vivemos todos na mesma cidade e fazemos parte de um pequeno grupo de músicos responsáveis por quase todas as bandas que as pessoas conhecem daqui.

Tendo em conta todo esse percurso artístico anterior, porquê formar agora uma banda com as características dos King of Asgard (KoA)?


Dado o meu background, a escolha deste estilo acabou por surgir de uma maneira relativamente natural. Estive envolvido em algumas bandas de metal tradicional e, durante esse tempo, sempre senti que me faltava qualquer coisa. Adoro este género de viking metal! Quando os Mithotyn terminaram e o Stefan (Weinerhall, guitarrista dos Falconer) e o Karsten começaram a dedicar-se aos Falconer, eu acabei por ficar à espera que o Karsten voltasse a ter disponibilidade para tocarmos juntos. Os KoA são o resultado dessa oportunidade e representam portanto uma espécie de regresso às nossas raízes. Não é pois coincidência que se detectem muitas semelhanças, do ponto de vista musical e lírico, entre as bandas onde tocámos antes e os KoA. A música de que gostávamos antes é a música de que gostamos agora. É um reflexo de nós próprios como pessoas.

Mas se a ideia era tocar viking metal, no espírito dos Mithotyn, por que não optaram por reagrupar estes últimos, em lugar de formar uma nova banda?

Na verdade pensamos nisso, mas como o Stefan está dedicado a 100% aos Falconer, reagrupar os Mithotyn sem ele estava fora de questão. Os KoA soam muito parecidos com os Mithotyn porque a música foi escrita em partes iguais por mim e pelo Stefan. No entanto, os KoA não têm aquelas malhas técnicas que os Mithotyn tinham, nem aquela repetição maluca de riffs. A nossa música é mais fácil de digerir. Aliás, nem é preciso ser-se um fã ferrenho de metal para se gostar do que fazemos, embora a nossa música contenha algumas influências de black metal.

Alguns temas, como o “Never will you know of flesh again” e o “Wrath of the gods”, têm um feeling distintamente Dawn ou Dissection. Foi algo que calhou, ou esta aproximação foi de facto intencional?

Não posso dizer que tenha feito isso conscientemente. Quando componho recorro obviamente a todas as minhas referências musicais, mas faço sempre o possível por não me limitar a um estilo ou influência. É provável que algo nessas canções seja reminiscente das bandas que referiste devido a alguma ambiência que consegui capturar. Por acaso até nem sou grande admirador dos Dawn ou Dissection, ao contrário do Jonas que é um grande fã. Mas reconheço que herdamos uma parte do legado do death metal melódico dos 90s.

Estou completamente de acordo. Aliás, em termos de géneros, diria que os KoA têm uma sonoridade mais em linha com o death melódico, enquanto os Mithotyn encaixavam melhor numa estética viking/ black metal. Que achas?

Os Mithotyn eram bastante melódicos mas a sonoridade era mais suja e crua do que a nossa. Pessoalmente eu sempre fui mais um tipo de death metal, e por isso até não é difícil descobrires nos Mithotyn os riffs que são da minha autoria … No caso dos KoA a música pode descrever-se como death metal com melodias do velho folk nórdico. No entanto, também acho que temos por vezes as nossas incursões no black metal, embora não de uma forma tão intensa como nos Mithotyn. A minha maneira de cantar também é bastante diferente da do Rickard Martinsson (vocalista dos Mithotyn). Por exemplo não atinjo aquelas notas altas e pode perceber-se bem cada palavra que digo. Portanto, em resumo, penso que é como dizes: o termo death metal melódico descreve bem o que estamos a fazer neste momento. Mas penso que é apenas um coincidência, ou seja, foi o que surgiu, por agora, do colectivo das nossas cabeças. A nossa direcção musical pode vir a mudar. O que fazemos é de coração, portanto nunca se sabe.

Referiste há pouco que o Stefan Weinerhall participou na composição de alguns temas, mas parece que ele também escreveu algumas letras, não foi?

Sim, é verdade. Perguntei-lhe se ele estava interessado em escrever qualquer coisa para a banda, e poucos dias depois ele apareceu com algumas letras, não só brilhantes como perfeitamente adequadas à música que estávamos a fazer. As letras dos temas “Snake tongue”, “Brethren of the North” e “Heroes’ brigade” são dele. O Stefan é um grande amigo e para nós é uma honra ter a participação dele no álbum.

Tiveram a participação de mais algum convidado que queiras referir?

Sim, neste álbum tivemos o previlégio de contar com o talento e o profissionalismo de alguns dos nossos amigos mais chegados. Para além do Stefan tivemos também o contributo da Helene Blad que cantou na introdução do tema “The last journey”. A Helene também fez parte da formação inicial dos Mithotyn, como teclista.


O nome King of Asgard praticamente diz tudo sobre a música em oferta. Não achas que é talvez demasiado óbvio?

Sim, claro que é. A ideia do nome é exactamente dar a entender de imediato o nosso estilo de som e conteúdo lírico sem que seja necessário ouvir uma única nota da música. É um de entre os milhares de nomes habitualmente atribuídos a Odin (Wotan), o deus guerreiro máximo do panteão nórdico, e representa também o género de metal com que nos identificamos.

Parabéns pela capa do disco! É um pouco cliché, mas adoro-a. Quem é o autor e porque é que escolheram este artwork?

Obrigado, também estamos muito satisfeitos. O autor do trabalho de capa foi o Ola Larsson, um profissional da ilustração e da banda desenhada que trabalha para empresas de animação e jogos. É também um amigo nosso de longa data, que já fez várias outras capas, nomeadamente para álbuns dos Thy Primordial e dos Indungeon, onde o Jonas tocou no passado. Lembrome que fomos bastante exigentes relativamente à selecção do tipo de capa. Começamos por dar ao Ola algumas dicas sobre o que tínhamos em mente, e a partir daí ele foi-nos enviando amostras para comentarmos e darmos-lhe o feedback necessário. Como ele estava ocupado com outros afazeres, este processo demorou cerca de três a quatro meses até se atingir um resultado inteiramente do nosso agrado. O artwork é de facto cliché, mas está dentro do estilo que nos pareceu apropriado. É todo retro e insere-se bem na tradição das grandes clássicos do death e black metal dos anos 90. Como já disse, estamos muito satisfeitos, e as reacções que tem gerado até têm sido muito positivas.

Como é que se proporcionou a vossa ligação à Metal Blade?

Foi simples: como o Karsten já está ligado à Metal Blade (via Falconer) foi ele que lhes fez chegar a nossa demo «Prince of Märings». O Andreas (da Metal Blade) gostou do nosso material e tratou de convencer a editora a contratar-nos.

Estão satisfeitos com o tratamento que eles têm dado à banda? Sim, bastante. O Andreas (que é o nosso contacto principal) e o resto do pessoal têm sido fantásticos connosco. Tudo funciona muito melhor do que em qualquer outra editora que tenhamos já conhecido.

E agora que o álbum está lançado é que vemos como as coisas estão realmente a correr bem, e quão longe podemos aspirar. Prevejo grandes realizações através desta colaboração com a Metal Blade.

E quanto a tocar ao vivo? Será que há planos para isso ou os KoA serão apenas um projecto de estúdio?

Definitivamente queremos tocar ao vivo. Neste momento não estamos em condições de sair numa longa digressão, mas não declinaremos propostas pontuais para actuar ao vivo. Para já temos um contacto para tocar na Alemanha em Dezembro, e contamos que surjam mais oportunidades para tocar lá para o início do ano que vem. As coisas parecem estar a começar a acontecer. Veremos até onde este álbum nos leva. Para já tocamos apenas na festa de lançamento do «Fi’mbulvintr», no dia 28 de Agosto, e foi incrível ver a reacção das pessoas presentes.

Presumo que a banda se apresente ao vivo com um guitarrista adicional. Será o Stefan?

Não, o Stefan anda muito ocupado com os Falconer pelo que não nos poderá ajudar. O segundo guitarrista no line-up ao vivo será o Lars Tängmark, um nosso “irmão de armas” que tocou nos Dawn com os Karsten (na altura era o baixista). O Lars é um músico talentoso e de rápida aprendizagem, e com ele na banda penso que estaremos em condições de apresentar ao vivo exactamente aquilo que se ouve no disco.

Para finalizar, uma pergunta da praxe: que objectivos gostarias de atingir com os KoA?

Bem, os nossos planos são conquistar o mundo! Nunca menos do que isso... Não, a sério, primeiro que tudo queremos tocar ao vivo e ter um primeiro contacto directo com os fãs. Mal posso esperar por apresentar os KoA num dos próximos festivais europeus. Mais a longo prazo planeamos fazer um novo álbum, que será com certeza melhor do que o primeiro. Mas para já ainda é cedo para fazer grandes previsões. Somos uma banda muito nova e o álbum acabou de sair. Até agora as reacções têm sido boas, portanto o futuro parece sorridente. Entrevista: Ernesto Martins


30 anos de «Iron Maiden» No final dos anos setenta, a juventude inglesa, desempregada, sem futuro e sem esperanças face ao governo de Margaret Thatcher, buscava na música um escape e uma forma de fazer ouvir a sua voz. O movimento punk começava a perder influência e rapidamente começou a ganhar forma um movimento que acabou por ficar conhecido como NWOBHM – New Wave of British Heavy Metal. Em Abril de 1980 – ou seja, há precisamente trinta anos – a EMI lançou o disco “Iron Maiden”, álbum de estreia da banda homónima, que hoje é considerado um álbum seminal do movimento. Originalmente lançado com apenas oito faixas, o disco foi mais tarde relançado com nove, das quais quatro ainda são presenças assíduas nos concertos da banda: “Running free”, “Phantom of the opera”, “Sanctuary” e a própria faixa “Iron Maiden”. O disco tem tudo: malhas a abrir, baladas, instrumentais, hinos, boas letras, bons solos… é, ainda hoje, um álbum soberbo. As vendas do disco estão estimadas em cerca de dois milhões – mas a sua influência vai muito para além disso: é indispensável em qualquer fonoteca especializada em metal. Uma palavra também para a capa: é a primeira aparição de Eddie, a mascote da banda, desenhada por Derek Riggs, que iniciou com esse disco uma longa e prolífica colaboração com o grupo inglês. Quanto aos membros da banda na altura, Steve Harris e Dave Murray ainda se mantêm. Dennis Stratton abandonou o grupo no fim da digressão do disco (como banda de suporte dos Kiss) para ir tocar nos Lionheart e, mais tarde, nos Praying Mantis, onde ainda se mantém. Paul Di’anno gravou ainda o segundo álbum “Killers”, mas acabou por ser despedido devido a problemas com álcool e drogas. Formou várias bandas, gravou vários discos e actualmente toca nos Rockfellas, do Brasil. Apesar de tudo, ainda hoje, trinta anos volvidos, continua a ser conhecido como “o antigo vocalista dos Iron Maiden”. Clive Burr gravou ainda três álbuns, mas acabou por trocar de lugar com Nick McBrain, indo para os Trust. Abandonou a música nos anos noventa devido a problemas de saúde: sofre de esclerose múltipla. A banda foi incorporando as alterações e foi crescendo até aquilo que é hoje. Ao longo de mais de trinta anos de carreira, lançaram quatorze álbuns de estúdio (o décimo quinto, “The final frontier”, será lançado no Verão de 2010), lançaram numerosos álbuns ao vivo, compilações, vídeos e singles, totalizando mais de cem milhões (!!) de discos vendidos em todo o mundo. Deram mais de dois mil concertos e tocaram em virtualmente todo o lado. Mais do que uma banda, os Iron Maiden são uma marca, um estilo de vida, inimitável e incontornável. Nada disto teria sido possível sem o primeiro disco. Renato Conteiro

30 anos de «British Steel» E já se passaram 30 anos... de «British Steel», para não falar dos 40 anos de Judas Priest! Confesso, que na altura, ainda faltavam uns anos para descobrir o Heavy Metal e, em particular, algumas das bandas que fizeram a NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), na qual se inclui indiscutivelmente os Judas Priest. Falar de NWOBHM, é, sem dúvida falar do álbum «British Steel», o qual deu o pontapé de saída ao movimento, uma vez que este particular álbum marca definitivamente o virar da página da sonoridade “mais pesada”, até então desenvolvida nos anos 70 e o padrão a seguir. Mais, «British Steel» marcou uma nova etapa na música dos Judas Priest, mais agressiva, mais acutilante ou seja, mais heavy, preparando-os para o que viria a ser o Metal dos anos 80, tornando-se desta forma um clássico incontornável do Heavy Metal, que perdura e perdurará nos anais do Metal para sempre. No entanto, resta fazer uma pergunta. O que faz um álbum clássico? Podia-se enunciar mil e uma coisas, mas no meu entender, o que define o classicismo de um álbum, são os acontecimentos intrínsecos e momentos mágicos que se deram naquele preciso tempo, naquele preciso ano, naquele preciso mês; um momento de inspiração colectiva (os Judas Priest), repleto de genialidade, marcando bem fundo, no chão que pisam, a sua atitude e estandarte até aos dias de hoje e vindores. Foi isso que aconteceu com a composição e gravação de «British Steel». Desde o surgimento da NWOBHM até aos episódios com o estúdio de gravação Startling, situado na cave da casa do malogrado Beatle John Lennon, acabando os Judas por gravar «British Steel», dentro da própria casa. Imaginem que eles gravaram a bateria no hall de mármore da entrada da casa, colocando os microfones no balcão do 1º andar, gravaram as guitarras nos quartos, ou então, o facto de todos os sons que ouvimos terem sido gravados com objectos e outros que se encontravam na casa, ou até à atitude dos Priest em fazerem simplesmente, não adulterado British Steel. Depois temos as músicas. Qual delas é que não é, por si só, um clássico? Desde a magistral «Breaking the Law» até «Living After Midnight», passando por «Grinder», «Rapid Fire» e «United», para não falar de «Metal Gods» que por si só acabou por fundir-se com os próprios Priest, tornando-se estes os Deuses do Metal, a partir deste momento. Os Priest fizeram muitos e magistrais álbuns ao longo da sua extensa carreira, mas indubitavelmente, «British Steel», será para sempre aquele que marca a essência Priest, até porque foi o primeiro. Carlos Filipe



OCTOBER TIDE A Mudança da Maré October Tide regressa à luz do dia completamente reformulado, tendo apenas como único integrante original o ex-guitarrista de Katatonia, Fred Norrman. Embora não seja difícil reconhecer o mérito dos dois lançamentos anteriores, este terceiro, «A Thin Shell», nos mostra que a inspiração e a qualidade não ficaram por águas passadas.

Porquê tal título? Quando o li pela primeira vez senti que podia ser algo referente às tuas duas bandas, que o aspecto melódico e lírico não era assim tão diferente… Mas isso sou eu, um fã dessas duas bandas imaginando… Já agora, podes nos dizer acerca de quê são as líricas?

Não estou 100% seguro em relação às líricas mas algumas delas são acerca de um grupo vulnerável dentro da sociedade… assim, deixo que os fãs pensem nisso…

A capa representa em grande medida o título. Também parece uma bola de cristal o que me fez pensar que a nossa ideia de um futuro apocalíptico pode ser mais certa do que sempre… Acreditas na profecia relacionada com o ano 2012? Já agora, diz-nos qual é a ideia por detrás da capa…

Relaciona-se um pouco com as líricas … pode ser uma linha fina… ou concha… por entre muitas coisas como felicidade/tristeza… enraivecido/feliz… Não acredito em profecias e, mesmo assim, nunca teria tempo para pensar nelas.

Tendo já editado «A Thin Shell» em menos

Mais do que uma década após o segundo álbum de October Tide (OT), tivemos o prazer de ouvir um novo lançamento, «A Thin Shell». O que te fez vir com isso? Li que tiveste a ideia de reavivar a banda desde o início do ano passado. Ter tal ânsia foi um dos aspectos que te fez sentir que não podias continuar em Katatonia? Fred Norrman: Pensei, desde há alguns anos, em trazer de volta os OT mas nunca tive tempo para isso. Em 2008 não estivemos tanto tempo em digressão com os Katatonia e senti-me realmente inspirado, assim comecei a escrever. Claro que OT era para ser apenas um projecto à parte e não foi a razão porque saí de Katatonia, isso foi devido a razões pessoais. Nunca sairia de Katatonia se não tivesse mesmo de o fazer.

Este é um álbum soberbo que abrange diversos cenários embora mantendo uma certa melancolia e nostalgia. Ouvindo-o, é claro que nenhuma da magia de outrora se perdeu. Começaste a compor músicas para este CD antes ou depois de saíres de Katatonia? Foi fácil compor ou tiveste de suportar lon-

gas noites com grandes doses de café? Digo-o porque após participar no último lançamento de Katatonia pode ter sido muito cansativo para ti… ou não. Criar arte é mais um prazer, não tanto um esforço cansativo, certo? Comecei a escrever estas músicas antes de sair de Katatonia. Nós até começamos a gravar este álbum antes de Katatonia ir para estúdio gravar o seu último CD. Até que foi muito fácil compor embora tenha escrito música basicamente à noite, isso porque tenho duas filhas malucas;) Assim, escrever à noite foi quase necessário para ter algo feito… mas eu realmente gosto disso, estou muitas vezes acordado de noite mesmo quando não estou a tocar ou a compor.

“…começamos a gravar este álbum antes de Katatonia ir para estúdio gravar o seu último CD”


de um ano após teres deixado a tua banda anterior, parece que foi relativamente fácil para ti encontrares músicos convenientes. No entanto, porquê alguns deles são “sessão”? Desejas encontrar músicos menos ocupados ou irás manter a banda tal como está?

Eu pedi ao Jonas Kjellgren para gravar o baixo já que iria soar terrível se o fizesse. Nesse momento, não tinha um baixista permanente. Depois disso, trouxemos o Johan Jansson como baixista de sessão, como ele está muito ocupado com todas as suas outras bandas continuamos a procurar por um baixista. Temos agora o Pierre Stam dos In Mourning como baixista permanente. Então, somos agora cinco membros permanentes em OT.

Sendo agora uma banda, irão os OT tocar mais em palco? Como é a química agora? Sabe mesmo bem, estamos todos ansiosos para ensaiar e tudo isso. Temos alguns concertos planeados

para este Outono/Inverno, alguns na Suécia, Roménia e provavelmente uma pequena digressão na Finlândia no próximo ano.

A Candlelight foi a editora que editou este terceiro álbum. Enviaram alguma promo a diferentes editoras e escolheram após ou foram contactados primeiro por essa editora? Acreditam que podem ter uma boa promoção e críticas positivas a nível mundial?

Enviei algumas músicas e a Candlelight foi uma das editoras que responderam. Quase todas as críticas que li até agora têm sido além das minhas expectativas. Pensei que as pessoas iriam odiar o novo álbum mas não;) Espero que a Candlelight faça um bom trabalho.

Agradeço-te por responderes. Diz-nos as tuas palavras de maresia para a estação outonal… Mantenham o espírito inflamado! Agradeço o teu interesse. Dêem a esta nova e actualizada versão de OT e ao novo álbum uma chance. Oiçam-no bem alto e saudações. Entrevista: Jorge Ribeiro de Castro


limitado. A nossa experiência neste mundo, que se baseia em ilusões criadas pela nossa mente, pela nossa percepção, afasta-nos da essência espiritual do nosso ser. Por conseguinte, os gnósticos aspiram à libertação do ser humano através da iluminação espiritual.

Das trevas e da luz Acabam de lançar o seu segundo álbum – “Ascending In Triumph” – , que consideram como uma sequência lógica do anterior, e pretendem fazer da sua música uma caminhada espiritual. Falamos com Grim Vindkall, baixista e teclista da banda, para saber como da escuridão do doom metal pode sair a luz da gnose. Ao ler o material promocional da Napalm relativo ao vosso álbum “Ascending In Triumph” e também a informação disponível no myspace da banda, chamou-me a atenção o facto de sublinharem o que NÃO SÃO. Espero que esta entrevista se centre no que os Nox Aurea são efectivamente. Por conseguinte, começo por perguntar o que vos diferencia de outras bandas doom recentes, como, por exemplo, Ahab e Ereb Altor. Grim Vindkall: Não conheço bem essas bandas, mas, pelo que sei, penso que o que nos diferencia delas é a dinâmica musical. Há quem vos considere completamente afastados do gothic metal e quem considere que há elementos desse estilo na vossa música. O que pensam sobre esta questão? Nox Aurea não é uma banda de gothic metal. Na realidade, a nossa música é uma combinação de doom e death metal, incluindo ainda arranjos orquestrais e, por vezes, uma voz feminina. Penso que é por causa destes dois últimos elementos que alguns críticos consideram que há algo de gótico na nossa música. Mas, para mim, essas classificações são apenas palavras. De uma vez por todas: nós não nos vemos como uma banda de gothic metal. O vosso tema central é o Gnosticismo. Como se trata de um tema muito complexo, gostava de saber como é que a banda o define. De facto, o termo aplica-se a diferentes correntes de pensamento tradicionais que têm em comum o facto de considerarem que os seres humanos estão aprisionados num mundo físico

Também gostaria de saber por que razão o doom metal vos parece um estilo musical adequado a esse tipo de ideologia. Penso que a música pode adaptar-se a todo o tipo de ideias, se soubermos fazer a ponte entre esses dois pólos. Nós sabemos estabelecer a ligação entre a nossa música e a nossa ideologia. Além disso, este estilo musical cria espaço para a reflexão, o que o torna especialmente adequado ao nosso conceito. O que faz com que a vossa música seja tenebrosa e obscura e, simultaneamente, escape ao desespero, evoque uma ideia de esperança? Nox Aurea exprime sentimentos de desalento, mas é uma banda guiada pela crença no triunfo. A nossa música é dinâmica, porque se baseia nesta concepção e, portanto, não caímos no abismo do desespero. Eu diria que, neste segundo álbum, a vossa música soa “etérea” (“eerie”) em alguns momentos. Estou a pensar em faixas como “The Shadowless Plains” e “My Voyage Through Galactic Aeons”. Que pensas deste comentário? Estou perfeitamente de acordo. Por vezes, interessa-nos que a nossa música seja etérea (“eerie”). Os que conhecem o lado nocturno do ser humano estão familiarizados com a atmosfera que reina nas trevas do subconsciente, elemento esse que a nossa música reflecte ocasionalmente. A publicidade feita ao vosso segundo longa duração valoriza bastante a combinação de vozes masculinas e femininas. Como usam esse contraste para reforçar a mensagem que pretendem passar através da música que fazem? A combinação de vocais masculinos e femininos cria uma dinâmica mais rica e torna a música mais densa, mais profunda, o que estimula a reflexão por parte do ouvinte. Pensando nos títulos e nas letras dos vossos dois álbuns – “Via Gnosis” e “Ascending in Triumph” –, fica-se com a sensação de que estes constituem uma sequência lógica. Será mesmo assim? Sim. É exactamente isso que se pretende. Estão a pensar em fazer um terceiro álbum, para constituir uma trilogia? As leituras


que fiz sobre o Gnosticismo não o apresentam como algo de conclusivo. O nosso terceiro álbum virá na sequência deste e seguirá a mesma linha de pensamento. Continuará a espelhar a nossa evolução, porque a essência gnóstica de Nox Aurea é intemporal. Ao ler as letras das vossas canções, reparei que incluíam várias citações. Quais são as vossas fontes de inspiração poética? Vamos buscar inspiração a muitas fontes, mas a mais importante corresponde, sem dúvida, às visões que surgem a todo o momento nas nossas mentes. E essas visões derivam do vazio omnipotente que ultrapassa a percepção humana. Numa crítica ao vosso primeiro álbum, sugeria-se que a banda tem alguma dificuldade em definir de forma clara as funções que cabem a cada membro, uma vez que todos sabem cantar e tocam vários instrumentos. Curiosamente, também vi a mesma característica referida como um trunfo dos Nox Aurea. Tratava-se de uma questão de inexperiência? Ou é mesmo uma característica da vossa banda? Não, não se trata de um problema, de modo nenhum. É mesmo uma característica da banda, que deriva do facto de não sentirmos a necessidade de marcar o terreno. E também, na altura em que saiu o primeiro álbum, não tocávamos ao vivo. Até o nosso baterista toca guitarra de forma segura. Mas, de qualquer modo, sabe que o papel dele na banda é tocar bateria. Nas críticas que li, consideravam que as

capas dos vossos álbuns estão muito bem adaptadas ao tema central da vossa música, o que não me suscitou nenhuma dúvida. Também li referências elogiosas ao seu valor artístico. Quem as fez? Nós também as vemos como muito artísticas. A capa e o livro de “Via Gnosis” são da autoria de Erica Svartfylgia Lintrup e Zoltan Horvath criou os de “Ascending in Triumph”. Como descreveriam a passagem do vosso primeiro álbum ao segundo, em termos musicais? Parece-vos que há diferenças substanciais entre eles? Onde as vêem? O que significam? A base é a mesma, mas nós somos indivíduos dinâmicos e artistas em evolução e a nossa música reflecte a nossa natureza. Haverá sempre novas influências a afectar os Nox Aurea, porque não temos a mínima intenção de estagnar. Em Portugal, também há bandas de doom metal. Conhecem alguma? Têm alguma opinião sobre a nossa cena metal? Não. Lamento, mas não sei nada sobre a música extrema portuguesa. Como vão promover este álbum? Tencionam vir tocar a Portugal? Vamos fazer uma digressão na Roménia e na Alemanha durante o Outono e temos outros concertos previstos. De momento, não temos nada planeado para actuar em Portugal, mas gostaríamos de ir ao vosso país em breve. Entrevista: CSA


Mindlock Lutar, Acreditar, Sonhar

A Versus Magazine esteve à conversa com Francisco Aragão, guitarrista dos Mindlock, que nos falou do seu mais recente disco, “Enemy of Silence”, e nos desvendou um pouco do seu percurso desde 1995. Fala-nos um pouco do percurso dos Mindlock desde o início do projecto.

Os Mindlock surgiram em 1995, em Faro. Foi uma ideia minha e do Filipe Cabeçadas (ex-baterista), que era meu colega no conservatório. Estudávamos guitarra clássica, gostávamos de música pesada e dada a falta de oferta de formação ou escola nessa área, decidimos formar um grupo de metal. Começamos num quarto, apenas com uma guitarra eléctrica e um sintetizador, a debitar ideias para possíveis temas. Hoje em dia os Mindlock têm três discos originais, participaram em cinco compilações e já actuaram nos maiores palcos nacionais ao lado de grupos de renome internacional. É difícil descrever detalhadamente todo o percurso até hoje, pois são quinze anos a tocar, e dava literalmente para escrever um livro... Posso dizer que várias pessoas passaram pelo grupo e trabalharam connosco e tenho a certeza que todas elas se sentem orgulhosas de termos chegado até aqui. Foi um longo percurso que teve momentos altos e baixos mas o que sempre prevaleceu foi a vontade de criar, tocar e partilhar a música que fazemos.

Alguma razão especial para escolherem o nome Mindlock? Quando decidimos escolher um nome para o grupo, pensámos que a maneira mais justa de o fazer seria cada elemento sugerir nomes que gostasse. De uma lista de cerca de vinte nomes, Mindlock (retirado do título de uma música de um CD dos Malevolent Creation) foi a sugestão que, por eliminatórias, se destacou e agradou a todos. A partir daí nunca mais pensámos nisso.

Quais são as vossas principais influências musicais?

Várias, dependendo da época. Quando o grupo começou éramos muito influenciados pelos grupos que ouvíamos na altura: Sepultura, Metallica, Pantera, Machine Head, etc. Mais tarde, quando surgiram os Korn e com a chegada do New Metal, foi impossível não absorver um pou-

co dessa onda e as batidas thrash começaram a dar lugar a um groove que não era tão usual mas que vinha abrir novas possibilidades para nós. Hoje em dia bandas como os Lamb of God e os clássicos Slayer tem uma forte influência nas tendências do metal internacional e embora tenhamos essa consciência não tomamos isso como uma referência ou um caminho a seguir.

A nível lírico têm algum tema sobre o qual gostam mais de falar?

Creio que não. Deixamos esse campo sempre em aberto para podermos escrever acerca daquilo que nos apetece. Neste último disco descarregámos nas letras parte da raiva e dos motivos que nos levaram a não ter um trabalho editado mais cedo e isso acabou por ser bastante inspirador e praticamente terapêutico. Foi uma maneira de virarmos as coisas a nosso favor. Acho que muitos amantes de música pesada se podem identificar com o que escrevemos, façam eles parte de projectos musicais ou não. O resto é pura ficção ou desabafo. As nossas letras não são particularmente poéticas mas reflectem sempre o estado de espírito do grupo numa determinada altura, e impressões pessoais com que muitos se podem identificar.

Qual foi a principal razão para estarem sete anos sem editar nenhum trabalho? Existiram alguns percalços? Querem falar um pouco sobre isso?

Foi a saída do ex-baterista e tudo o que isso implicou para o grupo. Tivemos que repensar toda a posição do grupo em relação à gravação de um novo trabalho e definir a melhor maneira de seguir em frente sem prejudicar os fãs e as expectativas que depositavam em nós. Lidámos bem com o facto de termos rescindido o contrato com a nossa agência, mas a saída de um dos elementos fundadores do grupo abalou bastante a moral de todos nós e era algo para o qual não estávamos minimamente preparados. Substituir um baterista que era também um dos compositores não se resumiu a arranjar um músico contratado mas a procurar alguém que vestisse a camisola, que se identificasse com a música que fazíamos, que tivesse técnica suficiente, que em termos de personalidade se identificasse connosco, etc. Várias pessoas passaram pelo lugar de baterista, inclusive em espectáculos ao vivo. Mas só em 2008 tivemos a sorte de ver todas as condições reunidas numa audição com o Amadis Monteiro, actual baterista e amigo de alguns anos. A partir daí, achámos que não fazia sentido ir para estúdio com os temas que tínhamos na gaveta e decidimos, juntamente com ele, compor um álbum desde o zero. «Enemy of Silence» saiu em 2010 e veio finalmente quebrar sete anos de silêncio editorial.

Sentiram alguma sensação especial ao partilhar o palco com bandas como Moonspell, One Minute Silence, Slipknot? Ou sentiram que foi só mais um concerto?

Acho que a responsabilidade de tocar ao lado de grandes bandas como Slipknot nos dá, ao mesmo tempo, uma grande ansiedade e uma adrenalina maior que o normal pois estamos também a falar de grandes palcos, normalmente com muita gente. Claro que essa sensação é especial


mas fazemos exactamente o mesmo em concertos mais pequenos: subimos ao palco e damos o melhor espectáculo que pudermos.

mesmo exemplo e seria bom contar com a participação dele num dos nossos discos.

Como tem sido a reacção do público ao vosso novo trabalho?

Têm tido reacções ao vosso trabalho além fronteiras?

Tem sido boa. O público vê este trabalho como o melhor que pusemos cá fora e isso é gratificante e acompanha as nossas expectativas. Nos sítios por onde passámos até agora têm-nos dito que devíamos sair de Portugal e tentar a nossa sorte lá fora, o que interpretamos como um grande elogio. Muitos dos nossos fãs queriam mais para nós do que aquilo que acham que podemos ter aqui em Portugal em termos de mercado e isso é bastante motivador para nós.

Se tivessem hipótese de ter um convidado de peso, quem seria? Porquê? Pessoalmente falando, talvez o Fernando Ribeiro dos Moonspell, por tudo o que ele simboliza no metal português. Foi uma banda que apostou no estrangeiro e que foi bem sucedida. Esperamos poder seguir o

Já tivemos algumas críticas de imprensa Italiana, Brasileira e Dinamarquesa ao nosso último álbum e penso que foram positivas. Penso que a editora Rastilho nos facilitou a abertura dessa porta e esperamos conseguir editar e promover o nosso trabalho pela Europa fora e, quem sabe, no Brasil e América do Norte. Pedir não custa!

Como vêem o panorama musical português?

Acho que o que vende em Portugal é a música romântica ligeira, o “pimba” e as compilações de músicas para crianças. A televisão e as novelas estão por detrás do sucesso de muitos projectos musicais nacionais, e as rádios já começam a passar mais música portuguesa devido a isso. O pop/rock português tem vindo a dar um grande salto em relação a alguns anos atrás mas ainda esta-

mos longe de ter um mercado onde os músicos possam vingar garantidamente com projectos de originais. O metal é uma minoria que embora fiel não nos permite ficar encostados durante muito tempo. Conseguimos reunir um número considerável de fãs mas ainda temos muito trabalho pela frente e esperamos não desiludir ninguém.

Para finalizar quero agradecer-vos e pedir para que deixem uma mensagem final aos leitores da Versus Magazine.

Visitem o nosso myspace em www. myspace.com/mindlockpt e sintamse livres de comentar o nosso trabalho. Podem ainda encomendar merchandise ou contactar-nos para concertos. Apoiem a música em que acreditam. Comprem CD’s, blusas, vão aos concertos e oiçam música portuguesa. Há muita boa coisa por aí! Obrigado à Versus Magazine e que tenham muito sucesso pela frente. Entrevista: Miguel Ribeiro


CYNIC

«Re-Traced»

(2010 / Season of Mist)

Servindo-se de estéticas electrónicas e ambientais, Masvidal e companhia reinterpretam aqui quatro temas de «Traced in Air», com resultados que deixam muito a desejar. Partindo das estruturas melódicas de base, os temas foram reduzidos a um experimentalismo minimalista que lhes subtraiu dinâmica, sacrificando no processo muitos dos detalhes que fazem o encanto das versões originais. O inédito «Wheels within wheels», recuperado das sessões de gravação do álbum de 2008, compensa parcialmente o desastre. [5.5/10] Ernesto Martins

EREB ALTOR «The End»

(2010 / Napalm Records)

«The End» é a segunda colaboração dos suecos Ragnar e Mats dos Isole, revelando-se como verdadeiros mestres do Epic Viking Doom Metal, aqui, na sua mais pura essência, ritmo e hipnótica atmosfera, apresentando um ambiente musical que nos recorda os Bathory de 1989. «The End» tem tudo o que caracteriza acutilantemente esta particular sonoridade, levando-a este duo à sua êxtase máxima. Simplesmente brilhante e genial. O princípio do fim. [9.5/10] Carlos Filipe

IN MOURNING «Monolith»

(2010 / Pulverised Records)

«Shrouded Divine» distinguiu-os como uma das grandes revelações de 2008 e este segundo álbum confirma que estamos de facto perante um portento de talento, com algo de novo para oferecer no quadrante do death metal progressivo de tendências melancólicas. Isento agora das alusões Opethianas do passado, «Monolith» apresenta-se criativo e mais rebuscado, com um trabalho rítmico notável, cheio de voltas inesperadas, e um cuidado particular devotado à coerência musical dos temas. Altamente recomendado. [9/10] Ernesto Martins

KING OF ASGARD «Fi’mbulvintr»

(2010 / Metal Blade)

Projecto de dois membros dos extintos Mithotyn e um álbum que bem podia passar pelo disco de regresso desses antepassados dos Falconer. Menos apostado na ambiência black e mais voltado para um death pujante torneado por melodias folk, muito em linha com o estilo dos compatriotas Amon Amarth com alguns lampejos fustigantes a lembrar os Dawn, «Fi’mbulvintr» é um trabalho ao melhor nível no que se propõem oferecer, mas que não adiciona rigorosamente nada ao género – já de si muito explorado – em que se insere. [7/10] Ernesto Martins


KIVIMETSÄN DRUIDI

«Betrayal, Justice, Revenge» (2010 / Century Media)

Não trazendo nada de novo ao panorama do Fantasy Metal talhado com Folk Metal que lhes vem das origens, os finlandeses KD apostam num claro folk/beauty & the beast/Fantasy metal, que certamente não agradará a todos. Com um naipe de boas e ecléticas músicas, a mais valia do álbum está na forma como os KD conjugam e balanceiam os diferentes estilos, atitude e ritmo, claramente vincado pelo acordeão e a presença da clássica voz feminina, para assim arrancarem um sólido bom menos. [7.5/10] Carlos Filipe

REVOLUTION RENAISSANCE «Trinity»

(2010 / Napalm Records)

Este é o terceiro lançamento do projecto de Timo Tolkki (ex-Stratovarius) que nos apresenta um álbum de puro power metal clássico. E aqui é que está uma das duas fraquezas, porque, apesar de ser exemplarmente interpretado – a mestria com que Tolkki domina a guitarra é por demais evidente – este álbum não nos trás nada de novo. A outra é que ouvindo os temas do princípio ao fim, parece que estamos perante um álbum de Stratovarius. Somente para os puristas do género. [6.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

SEVERE TORTURE «Slaughtered»

(2010 / Season of Mist)

Com um lugar já conquistado entre as formações mais doentias do metal extremo, os holandeses Severe Torture mostram neste quinto registo que não é preciso inventar muito para produzir death metal de qualidade; basta conseguir o equilíbrio certo entre brutalidade e melodia e disparar no processo uma mão cheia de ganchos infecciosos que nos acertem em cheio naquele nervo mais sensível. O resultado?... Uma carnificina de riffs que nos revolve as entranhas, e da qual só escapamos com os tímpanos em sangue. [7.5/10] Ernesto Martins

VAN CANTO

«Tribe of Force»

(2010 / Napalm Records)

Com três álbuns na bagagem, infelizmente, os Van Canto só agora começam a ganhar terreno no mainstream. O Metal à la Cappella e a sonoridade claramente Epic/Power Metal está cada vez mais apurada. A evolução é notória. A mestria é tal, que nos conseguimos abstrair das vocalizações capelinas e concentrar na coesão da música, sendo estes germânicos a sensação do momento graças aos diferentes vídeos lançados no Youtube. [7.5/10] Carlos Filipe


OU O QUE TEM ANDADO A GIRAR RECENTEMENTE NA VITROLA. ALCEST

DEATH ANGEL

Poucos são os temas de black metal capazes de sugerir uma sensação positiva de serenidade como este, incluído em «Écailles de Lunes». Os Agalloch e os Novembre apenas se aproximaram deste resultado. Mas

Conta já com uns respeitáveis 23 anos de idade e é talvez o melhor instrumental thrash de sempre. Incluído no álbum de estreia homónimo da banda de São Francisco, é um tema com uma composição incriv-

«Percées de Lumière»

Neige parece ter descoberto a harmonia perfeita entre a agressividade natural do estilo e a tranquilidade de sonoridades límpidas que pouco ficam a dever ao Metal. Se tivesse que escolher agora a melhor música de 2010, esta seria uma séria candidata.

«The Ultra-Violence»

elmente sofisticada para o seu tempo, que os Death Angel não mais ousaram igualar. Ao todo são dez minutos de riffs electrizantes e solos esmifrados, que ainda hoje acompanho como um doido na minha air-guitar!

COBALT

IMMOLATION

«Arsonry»

«A Glorious Epoch»

Intercalando passagens furiosamente devastadoras com momentos opressivos de pulsação tribal, este constitui provavelmente um dos melhores momentos de «Gin», o álbum mais recente da dupla Erik

Depois dum álbum relativamente pobre em termos de inspiração como foi «Shadows in the Light», é bom saber que uma das minhas bandas favoritas da zona mais brutal do espectro está de volta ao seu mel-

Wunder / Phil McSorley, que nos agraciou em 2007 com o colossal «Eater of Birds». Apesar deste terceiro registo ficar uns furos abaixo, o simples acto de sermos fustigados por semelhante híbrido de black/thrash e post-hardcore mal intencionado, é sempre uma experiência única.

hor. Mais do que um vulgar massacre sónico, «Majesty and Decay», do qual este «Glorious epoch» é a melhor amostra, desbrava caminhos sombrios ainda não palmilhados pela banda americana, e é o combustível ideal para o fogo do nosso lado mais negativo.

DARGAARD

TRIPTYKON

É um das peças mais salientes de «The Dissolution of Eternity», o álbum de 2001 desta banda austríaca, que já anda no meu leitor de mp3 há algum tempo. A sonoridade é toda pomposa, mas as melodias

Continua a gerar ondas de choque um pouco por todo o lado, não só porque é mais uma infame criação do venerável Tom Gabriel “Warrior”, mas também porque é impossível ficar indiferente à atmosfera opressiva

neoclássicas e a atmosfera imponente veiculam sempre uma profundidade de sentimento que é no mínimo comovente. E neste tema em particular a voz de Elizabeth Torizer soa como se nos chegasse de uma outra dimensão. O que será feito do Sr. Tharen e dos Dargaard?

e abissal e ao peso esmagador omnipresente em «Eparistera Daimones». Em toada lenta e desolada, num estilo venenoso que se confunde com o dos extintos Celtic Frost, «Descendant» é um dos vários temas memoráveis deste álbum. A tirada fulminante no minuto final é impagável.

«Thy Fleeing Time»

«Descendant»

Playlist: Ernesto Martins


Ser medíocre por opção - I Este Verão, encontrando-me eu de férias na praia, veio-me a dada altura à memória o conceito marítimo da Expo 98. Imediatamente recordei o meu primeiro dia de visita ao icónico certame, onde me fiz acompanhar de um amigo (a quem chamarei “M1”) algo desequilibrado psicologicamente. E bastante desbocado, também, pois assumia em público registos comunicacionais e comportamentais perfeitamente inadequados. Estando nós num dia de Junho na fila de espera aguardando que abrissem os portões de acesso ao espaço da Expo 98, a dada altura baixei-me para atar os sapatos tipo mocassim que trazia calçados, apoiando o joelho direito no chão. Ao levantar-me, com naturalidade, sacudi as calças na zona do joelho para eliminar algumas impurezas, escandalizando “M1”. Com efeito, o meu amigo não perdeu tempo a julgar-me e, em tom reprovador e desiludido, acusou-me de já não ser um genuíno fã de Metal, caso o fosse não me preocuparia em sujar as calças. Boquiaberto com o monumental grau de estupidez que encerra este argumento coloquei novamente sérias reservas quanto à sanidade mental de “M1”. Com efeito, nessa altura há já um ano que esta personagem criticava insistentemente o facto de eu trazer sempre comigo um organizer (então designado “filofax”). Iluminado como poucos (julgava ele), “M1” rapidamente fez o “diagnóstico” e atribuiu a supostas “carências afectivas” o facto de eu me fazer acompanhar do filofax em permanência. Encontrando-me eu na altura a frequentar a universidade, naturalmente vi na agenda uma boa forma de me organizar no quotidiano. Mas para “M1” o “diagnóstico” era irreversível: segundo havia lido num livro de Psicologia, o transporte sistemático do organizer traduzia-se em “carências afectivas”, sendo esse um argumento recorrente. Afinal, um verdadeiro fã de mú-

sica pesada não usava agenda. Julgava ele, claro. Entretanto, em Agosto de 1999 tudo finalmente descambou. À época, eu encontrava-me a frequentar no Cenjor (Centro Protocolar de Formação de Jornalistas), em Lisboa, o curso de Aperfeiçoamento em Imprensa, que me daria acesso à profissão de jornalista ainda nesse mês. Nas semanas mais recentes os estudos haviam-me impedido de estar com os amigos. Certa noite, à saída do curso e acompanhado de vários colegas vi “M1” passar mesmo em frente ao Cenjor com alguns amigos comuns dirigindo-se para o mítico Gingão (infelizmente já extinto), no Bairro Alto. Vendo-me no outro lado da rua, nos seus termos arruaceiros habituais “M1” dirigiu-se a mim, alto e bom som, gesticulando insistentemente e proferindo a seguinte frase: “’Tão, car****? F***-se, nunca mais disseste nada, c’um car*****, meu.” Não sendo qualquer destas palavras desconhecida para mim ou às quais nunca tivesse recorrido (muito pelo contrário), ainda assim a presença de colegas meus, estupefactos face ao triste espectáculo constrangeu-me. Repreendi “M1”, que se manifestou extremamente chocado, afirmando não me reconhecer de todo. Aos seus olhos, o facto de eu assumir a postura e o comportamento adequados em cada diferente situação social retirava-me o estatuto de genuíno fã de Metal. Aos olhos de “M1” eu era um traidor. Foi a última vez que falámos. Ainda bem. “M1” nunca percebeu que eu sempre me adaptara às situações sociais. Com efeito, a verdadeira questão residia no facto de “M1” não me conhecer realmente e de querer moldar terceiros à sua limitada visão do Mundo. Este ex-amigo via-me evoluir – e a todos à nossa volta – mas não o tolerava, ciente que estava da sua ignorância e estreitamento de horizontes. Mas o que sempre me chocou mais em “M1” foi o facto de, apesar dos seus 30 anos e de estar emigrado há uma década num dos países europeus mais desenvolvidos em nada contribuiu para o seu crescimento pessoal e social. Constatá-lo era agonizante. Esta personagem, que se recusava liminarmente a evoluir e a desenvolver a sua inteligência emocional, ainda trazia no cérebro o inacreditável dogma, “importado” dos anos 80, de que os headbangers se querem feios, porcos, maus, irresponsáveis, ignorantes e medíocres. Mas, felizmente, à época, os vícios e maus comportamentos dos anos 80 já eram passado. No virar do milénio, os estereótipos associados ao headbanger médio (que transformaram os metaleiros em personas non gratas aos olhos da sociedade) eram praticamente uma névoa*. Só “M1”, na sua inenarrável estupidez, ainda não o percebera. * “Apenas” o parricídio de Ílhavo, perpetrado dias após a minha derradeira conversa com “M1”, manchava novamente a imagem dos fãs de Metal.


Demónios da Índia Com a publicação do álbum “The Return to Darkness” tornaram-se a primeira banda indiana a ultrapassar as fronteiras de um país onde o metal é ainda uma sub-cultura em fase embrionária. Sahil Makhija, o mentor desta formação pioneira de Bombaim, concedeu-nos um pouco do seu tempo para falar não só dos Demonic Ressurection, mas também das relações entre a música que faz e a sociedade fortemente religiosa onde vive. A primeira vez que ouvi a falar dos Demonic Resurrection (DR) foi no documentário “Global Metal”, de Sam Dunn. Até que ponto é que o aparecimento neste filme foi importante para a banda?

Para nós foi muito bom ter aparecido no documentário “Global Metal” como um dos representantes da cena metal indiana. Já sabíamos de antemão que muitos fãs de metal iriam ver o documentário, e sempre tivemos a esperança que a exposição nos abrisse algumas portas. Acho que ganhamos uma grande quantidade de fãs graças a este filme.

Terá sido por causa da aparição no documentário que a Candlelight se interessou pelos DR?

Não foi bem isso. A ligação à Candlelight surgiu por causa da minha editora, a Demonstealer Records. Depois de lançar na Índia, em 2009, o álbum “Evangelion”, dos Behemoth, fui contactado pela Candlelight no sentido de fazer o mesmo com o último trabalho de Ihsahn, o álbum “After”. Na altura não tive condições de o fazer, mas aproveitei a oportunidade do contacto para perguntar ao responsável da Candlelight se eles estariam interessados em publicar o novo disco dos DR. Depois de alguns ficheiros mp3 enviados e mais uns emails para trás e para diante, acabamos por assinar o contrato.


“…

adicionar instrumentos indianos à mistura só para conseguir aquele toque “étnico”, seria algo que nos iria soar desonesto” Portanto, neste momento, os DR são a primeira banda indiana a aparecer ligada a uma editora ocidental de peso. Como é que isso vos faz sentir?

É verdade. Já temos aqui algumas bandas com discos publicados através de pequenas editoras underground, mas não é nada que se compare com a Candlelight. Já há muito que sonhávamos com a possibilidade de assinar com uma editora como esta. Para uma banda vinda de uma cena que luta a cada dia para sobreviver, a probabilidade disto acontecer era mesmo muito remota. Por isso, agora que o sonho se concretizou, a sensação é fantástica. Por maior que fosse o empenho que colocássemos na promoção e distribuição da nossa música a partir da Índia, é certo e sabido que nunca iríamos conseguir resultados comparáveis aos de uma editora como a Candlelight.

No álbum «The Return to Darkness», os DR evidenciam uma variedade de influências que vão desde o black metal ao death, passando pelo prog e outros géneros. Como é que surge este híbrido de estilos?

Bom, embora tenhamos sempre tocado um misto de death, black e power metal com mais alguns estilos à mistura, penso que este álbum resultou ainda mais diversificado por causa das várias influências dos membros da banda. Por exemplo, o Viru (bateria) é um grande fã de bandas como Meshuggah e Textures, bem como de muito death metal. O estilo de percussão bastante diferente do álbum anterior que ele trouxe para a banda, acabou por influenciar a minha maneira de tocar. O Mephisto (teclas) continua a assegurar o lado mais sinfónico dos DR, e agora temos um novo guitarrista, o Daniel, que introduziu uma maneira muito própria de solar, bastante distinta de qualquer um dos três guitarristas que convidei para gravar o álbum “A Darkness Descends”.

De todas as bandas que eu poderia nomear como aparentes influências nos DR, os Dimmu Borgir são, provavelmente, o nome que mais ressalta neste álbum. O que achas?

Estaria a mentir se te dissesse que os Dimmu Borgir não são uma grande influência na minha música. No entanto, também acho que soamos muito diferentes deles. Há uns anos, bandas como Dimmu Borgir, Old Man’s Child e Cradle of Filth eram grandes referências para mim. Contudo, ainda que actualmente continue

a gostar muito destas bandas, acho que na altura em que compusemos este álbum as minhas referências musicais situavam-se mais na área do death metal na linha de bandas como Behemoth, Nile, Arsis e Anata, bem como outras de estilo mais moderno como Scar Symmetry e Soilwork.

Já alguma vez pensaste em enriquecer a sonoridade dos DR com instrumentos tradicionais e elementos musicais da cultura indiana, de forma a personalizar um pouco mais o vosso som?

Honestamente essa é uma opção que nunca cheguei a equacionar. E a razão é porque eu cresci sem nunca ter desenvolvido qualquer ligação com a música indiana. Tive uma educação muito urbana. Em casa dos meus pais ouvia-se Pink Floyd, The Doors, Abba, soul music, etc. Na escola frequentei, por volta do quinto ano, uma disciplina de música que incluía música indiana, mas não se aprendia música a sério. Além disso, a música Bollywood que se ouvia na minha infância já era muito ocidentalizada. Portanto, como não me identifico pessoalmente com a música tradicional, não faz sentido pensar em usá-la nos DR.

Fiz a pergunta anterior porque acho que as pessoas estarão possivelmente à espera de música um pouco diferente de uma banda proveniente da Índia; talvez estejam a contar com um pouco da cultura local misturada com o metal. O que tens a dizer sobre isto?

Não é fácil explicar-te exactamente o porquê da nossa opção. Cada um dos elementos da banda é originário de uma região diferente da Índia, com a sua própria cultura, tradições, danças e música. A única coisa que é comum entre nós é basicamente a mesma educação urbana. O que partilhamos é no fundo a mesma filosofia e estilo de vida, e a música que fazemos é um reflexo das nossa maneira de estar. Portanto, adicionar instrumentos indianos à mistura só para conseguir aquele toque “étnico”, seria algo que nos iria soar desonesto. Eu sei que as pessoas estão à espera que os DR injectem na música um pouco da sua própria cultura. No entanto, como já disse antes, eu não cresci a ouvir música indiana, portanto para mim não seria natural fazer essa fusão. Este sentimento é, aliás, partilhado pelos restantes membros da banda. O único elemento dos DR que teve algum contacto com instrumentos tradicionais e tem alguma formação, neste caso em


“ … quando se sabe que a tensão religiosa pode levar ao tipo de destruição que a Índia sofreu no passado, então percebe-se porque é que as bandas pensam duas vezes antes de tocar em assuntos religiosos” música clássica indiana (Hindustani), é o Mephisto.

Pelo que sei, este disco completa uma trilogia (‘Darkness trilogy’) que começou com o EP “Beyond the Darkness”. Resumidamente, qual é o tema que liga estes três discos?

É basicamente uma história em que o mundo é consumido pela escuridão e pelas forças do mal. O protagonista da história primeiro tenta escapar desse mundo, na tentativa de encontrar um lugar para além da escuridão, mas, no momento em que está prestes a escapar, decide voltar para trás para salvar o mundo. A história começou de facto no EP e termina agora com este álbum “The Return to Darkness”. Em ambos estes discos, a narrativa segue em sequência de uma cada canção para a seguinte, mas o álbum “A Darkness Descends” tem uma estrutura diferente.

O que tens em mente, que possas revelar, sobre a direcção futura dos DR?

De momento a nossa maior preocupação é promover este álbum e arranjar tantos concertos quantos forem possíveis. Quanto à direcção musical futura, penso que só poderemos dizer alguma coisa quando nos sentarmos e começarmos a compor. Embora eu já tenha cinco novos temas esboçados e o Daniel tenha mais um ou dois, só depois de os trabalharmos na sala de ensaios é que saberemos que direcção é que tomarão.

Como é, na Índia, a relação entre o metal e a religião? Tens conhecimento da existência de problemas entre as autoridades religiosas e as bandas, semelhantes aos que surgem por vezes nos países cristãos do Ocidente?


Nesse aspecto as coisas aqui são muito diferentes. A Índia tem seis grandes religiões e cada uma delas tem as suas seitas. Na sua maioria, as bandas não são contra nenhuma religião. Ocasionalmente lá aparece uma canção anti-religiosa, mas é uma raridade. Não há bandas anti-Hinduísmo nem bandas que façam coisas provocatórias como queimar livros religiosos ou escrever letras realmente ofensivas para as pessoas. Portanto, pelo menos para já, está tudo bem. Até hoje só tivemos problemas de tipo religioso com os DR em duas ocasiões. Numa não fomos convidados a participar num festival realizado num recinto propriedade de cristãos, porque eles alegaram que o nome da banda era satânico; depois fomos rejeitados por um promotor que estava a organizar um grande digressão de bandas pela região Nordeste da Índia, porque ele receava que as comunidades cristãs aí residentes se sentissem ofendidas com o nome da banda. Fora isto penso que o metal não enfrenta grandes problemas na Índia porque não tem, para já, grande expressão. É certo que os Iron Maiden tiveram aqui 30000 fãs a aplaudi-los, mas se comparares isso com a totalidade dos 1 bilião de habitantes que o país tem, isso não é nada. Aqui as autoridades e os líderes religiosos têm peixe bem mais graúdo a quem dar atenção.

De uma maneira geral, que temas é que são considerados tabu? Religião? Códigos de ética? Qual é a atitude das bandas face a esses temas proibidos?

Há muitos assuntos que são considerados tabu, mas a maior parte deles têm mais a ver com ideologias politicas do que com questões religiosas. Em geral podes dizer o que te apetece sem que te aconteça nada porque a cena é ainda muito pequena. Para criar uma polémica a sério terias de ofender as religiões todas ao mesmo tempo, o que é não é fácil dada a diversidade das muitas religiões aqui existentes. É provável que daqui a uns anos, quando a cena metal ganhar outra dimensão, se, por exemplo, uma banda exibir publicamente um vídeo que seja ofensivo para os Hindus, isso possa gerar grande controvérsia. Mas há também um outro aspecto a ter em conta. Todos os indianos têm na memória os conflitos que ocorreram há alguns anos entre Hindus e Muçulmanos [NR: Sahil refere-se ao conflito de longa data entre Hindus da Índia e Muçulmanos do Paquistão, que estalou pela última vez em 1965 com a chamada 2ª Guerra de Caxemira], de onde resultaram milhares de mortos. Embora estes conflitos tenham sido motivados por razões politicas, a questão religiosa é algo ainda muito sensível. Ora, quando se sabe que a tensão religiosa pode levar ao tipo de destruição que a Índia sofreu no passado, então percebe-se porque é que as bandas pensam duas vezes antes de tocar em assuntos religiosos. Acresce o facto de que muitos músicos são eles próprios religiosos, rejeitando-se a ideia de que é preciso ser anti-religioso para gostar de metal. Embora também hajam alguns por aqui que se dizem satânicos apenas porque é fixe hahaha!

Já te referiste várias vezes ao Daniel Rego, o novo guitarrista solo da banda, que por acaso tem um nome muito latino. Será de

descendência portuguesa? Como é que ele se juntou aos DR?

A mãe do Daniel é de Goa, cidade que foi, até há pouco tempo, uma colónia portuguesa, e ela descende de facto de portugueses (fala mesmo português). Conheci o Daniel numa altura em que eu trabalhava numa loja de música. Ele costumava passar por lá nos intervalos das aulas da faculdade e era um grande fã de DR. Na altura devia ter 17 anos de idade. Às vezes, durante estas visitas, ele tocava guitarra e deixava-me impressionado. Era fantástico vê-lo a tocar alguns temas dos Cynic. De forma que quando o Pradeep desistiu dos DR, em 2008, nós aceitamos o Daniel sem hesitação.

A cena metal na Índia está ainda a dar os primeiros passos e os concertos com bandas internacionais são ainda uma novidade por esses lados. Como é que tudo começou?

Olha, até 2007 o que pudemos ver aqui ao vivo foram os Jethro Tull, Deep Purple (por três vezes) e os Bon Jovi, isto sem contar com o Michael Jackson, The Police etc. Mas do ponto de vista de metal, a cena começou efectivamente em 2007 com os Iron Maiden. Depois vieram os Megadeth, Machine Head, Enslaved, Satyricon, Opeth, Textures, Amon Amarth e outras bandas. O que eu acho que aconteceu é que, subitamente, alguém se apercebeu que existe uma grande quantidade de fãs dispostos a pagar para ver ao vivo as suas bandas favoritas. Assim, depois do concerto dos Maiden e do Great Indian Rock Festival, que trouxe cá uma série de bandas norueguesas, apareceram uma série de promotores a querer trazer cá artistas internacionais. Os Opeth vieram para um festival patrocinado pelo IIT (Indian Institute of Technology), a maior universidade tecnológica do país, e agora quase todas as universidades andam à procura de artistas internacionais para encabeçar os cartazes dos seus festivais. É uma cena em franco crescimento.

A primeira aparição ao vivo além fronteiras dos DR, aconteceu este ano no célebre Inferno Festival, na Noruega. Como é que foi esta experiência?

Foi maravilhoso. Tocar no Inferno era um sonho que tínhamos desde muito novos, e portanto concretizar esse sonho foi realmente indescritível. O concerto foi perfeito e o público adorou-nos. Foi também uma oportunidade, não só de ver ao vivo algumas das bandas que idolatramos, mas também de conhecer pessoalmente os músicos.

Agora com a Candelight novas oportunidades surgirão em termos de concertos e novas gravações. O que gostavas de realizar com os DR a longo prazo? Para já o nosso grande objectivo é uma digressão mundial. A sério, gostávamos muito de viajar e tocar pela Europa, Estados Unidos, Austrália, Américo do Sul, etc. Mas a maior realização seria podermos abandonar os nossos empregos actuais, e viver unicamente dos DR. Entrevista: Ernesto Martins


essa é a única maneira de uma banda ter sucesso. Se estivermos à espera que as hipóteses apareçam, nunca conseguiremos nada.

Com o recente lançamento do álbum “Tales of Tragedy”, estivemos à conversa com o Miguel, baixista dos Winter’s Verge, para podermos conhecer melhor o historial da banda e o que podemos esperar deste novo trabalho. Como é que vêem a cena musical no Chipre? Depois de gravarem o vosso primeiro álbum e depois de todo o reconhecimento obtido por todo o mundo, sentem que as portas se abriram no vosso país? A cena musical aqui no Chipre é pequena, mas activa. Existem muitas bandas a lançarem CDs e a darem concertos. Infelizmente somos um país pequeno com uma população abaixo de um milhão e é apenas até onde as bandas conseguem ir. A única maneira de uma banda conseguir alcançar algo é tentar fora do país. Termos conseguido lançar dois álbuns internacionalmente, provavelmente conseguimos vender mais cds e conseguido mais fãs do que se apenas nos cingíssemos ao Chipre. Esperamos conseguir atrair as atenções para outras bandas daqui com os nossos álbuns e concertos a nível internacional. A banda tem gozado de uma óptima aceitação por parte do público. Desde o início vocês pensaram que as coisas seriam assim? O que vem a seguir? Eu penso que foi pelo facto de todos os membros da banda levarem a situação muito a sério, e todos tínhamos a certeza de que iríamos conseguir alcançar algo, mas o que nos aconteceu ultrapassou todas as nossas expectativas. Nunca pensamos que iríamos andar em tournée com os Stratovarius ao fim de cinco anos, acreditem…Trabalhamos muito duro para chegar onde chegamos, e precisamos de trabalhar ainda mais para conseguir avançar e é isso que queremos fazer: trabalhar duro, lançar bons álbuns e conseguir tocar no maior número de sítios possíveis. Digamos que

Alguns membros dos Winter’s Verge (WV) já tiveram bandas anteriormente. O que vos levou a formarem a banda? Tanto o George (vocais) como o Stefanos (teclados) queriam tocar numa banda de power metal mas até aquela altura não existia nenhuma banda de power metal no Chipre. O George tocou numa banda chamada Spirits, e quando ela acabou ele quis formar um tipo de banda diferente. Foi depois que eles encontraram o nosso antigo guitarrista Pericles e baterista Andreas e começaram a actuar ao vivo e lançaram a demo, posteriormente eu entrei na banda. Eu era (e ainda sou) um grande fã de power metal mas também gostava imenso de black e death metal assim como de música clássica, e comecei a tentar introduzir essas influências no som da banda. Foi uma questão de gostos de música em comum. Poucas bandas no Chipre praticavam este tipo de som e fomos nós os primeiros a tentar isso. Então, quando o Pericles deixou a banda, entrou o Harry (guitarrista) e trouxe consigo influências de progressivo e thrash metal, mas mesmo assim ele queria tocar power metal. O mesmo aconteceu com o Chris (baterista), ele tocava todo e qualquer tipo de música que possamos imaginar. Fez trabalhos em estúdios, tocou em quase todos os locais no Chipre e Grécia, o que ajudou a trazer profissionalismo a banda. Com esta mistura de estilos penso que temos uma boa combinação de pessoas. O que distingue os WV de outras bandas de power metal? Muitas bandas de power metal tem tendência para escrever letras sobre coisas positivas e benéficas, as nossas músicas tendem a ser mais negras a nível lírico e soamos mais a uma banda de power metal. O som negro que temos – e eu não diria “negativo” porque não é uma palavra que se adeqúe ao que fazemos – traz um novo aspecto ao power metal. Usamos os mesmos sons que as outras bandas de power metal usam, assim como os arranjos de orquestras e coros, mas tentamos usá-los duma formas mais sinistra, e o facto do Harry e eu ouvirmos bastante death metal, ajuda-nos a tirar ideias daí. Eu também participo com vozes guturais em algumas músicas, às quais penso que fica engraçado o jogo de vozes normais e guturais. Em que se baseiam as vossas letras e musicas? A maior parte das nossas letras são baseadas em histórias trágicas que se passaram com pessoas. Embora sejam escritas num tom de fantasia, elas funcionam como analogias de coisas que todos nós já vivemos no nosso dia-a-dia: rejeição, traição, dor, ciúme, desespero, medo, ódio. Tentamos inserir estes sentimentos nas músicas, não para as descrever mas sim para mostrar como é que as pessoas perante estas situações se sentem e as suas reacções, e penso que isso funciona na perfeição. Podemos contar histórias nas nossas músicas, mas todas essas histórias vem de factos. Por isso é que o nome do nosso álbum é «Tales of Tragedy». Outra coisa é o mar. Pelo facto de vivermos numa ilha, a nossa história e cultura são baseadas


Do Chipre…com muito Power Metal!!!

no mar e nos descobrimentos, algo parecido com a história de Portugal. Para nós, o mar faz parte das nossas vidas, e sentimos que temos essa ligação. “To You I Sail Tonight” e “The Captain’s Log” são ambos temas sobre o mar, e são bastante épicas também. Porque gravaram o «Another Life… Another End» e o «Eternal Damnation» na Prophecy & Music Factory Studios na Alemanha? Na verdade o «Another Life…» foi gravado no Chipre, e o «Eternal Damnation» é que foi gravado na Alemanha. Este último foi basicamente a regravação do «Another Life…» A razão porque regravamos este álbum foi porque a nossa primeira editora, a LMP, quis que tivéssemos um álbum com melhor som, porque o som do «Another Life...» não era muito limpo e o som de guitarra era, para ser sincero, bastante fraco. O simples facto é que as facilidades de gravação não são as mesmas que as facilidades na Alemanha, e pessoas como o RD Liapakis da Mystic Prophecy e o Christian Schmid a tomarem conta da produção, nós temos verdadeiros especialistas com anos de experiência a ajudar-nos a ter o melhor da banda e de nós próprios. Dividir o palco com os Stratovarius é uma grande responsabilidade. Como é tudo se proporcionou? Os Mystic Prophecy andaram em tournée com os Stratovarius e era necessária outra banda. Os Stratovarius acharam que seriamos uma mais valia para a tour, e fomos convidados a irmos com eles. Foi realmente uma grande responsabilidade e temos que ser bons para tirar o melhor partido desta fantástica oportunidade, e acho que conseguimos. Passamos um óptimo bocado e demos mesmo o nosso melhor. Tivémos uma enorme recepção de todas as multidões para quem tocamos. O pessoal dos Stratovarius foram muito agradáveis connosco, e os Tracedawn (a outra banda suporte) foram muito prestativos e mostraram-nos como uma tournée tem que funcionar. Para quando um concerto em Portugal?

Nós iríamos adorar tocar em Portugal. O Stefanos é uma grande fã dos Moonspell e eu penso que eles nos influenciaram ao longo dos anos, desde quando eu comecei a interessar-me pela cena musical de Portugal. Também achamos fascinantes a cultura e a história de Portugal, e penso que tocar aí seria uma fantástica experiência. Quando marcarmos as datas da próxima tournée tentaremos ir a Portugal, podem ter a certeza! Para todos aqueles que ainda não conhecem os WV e estão a ler esta entrevista, o que podem dizer para aguçar a curiosidade sobre vocês? Se gostam de power metal mas querem mais agressividade e peso, alguns riffs com mais ritmo assim como com mais atmosferas negras, som mais profundo e ritmado, então comprem o «Tales of Tragedy». Nós tentamos ser uma banda de power metal que evita clichés. A vossa artwork é muito boa. Deixaram todo o processo criativo a cargo do Meran Karanitant, ou ele trabalhou com as vossas ideias? O Meran é um artista genial. Nós basicamente dissemos-lhe em cru o que queríamos e ele enviounos um conjunto de sketches que eram fantásticos. A capa do álbum é baseada numa das músicas do álbum, “The Captain’s Log”. Ele simplesmente entendeu o que nós queríamos. Com mais algumas sugestões e ideias nossas e ele criou a excelente capa que nós tivemos a sorte de ter. Algumas palavras para os vossos fãs portugueses, muito obrigada e espero ter noticias vossas rapidamente! Muito obrigada pelo vosso tempo! Um grande Hail para todos os fãs portugueses dos Winter’s Verge. Nós esperamos sinceramente conseguir tocar no vosso país rapidamente e esperamos que gostem do nosso álbum. Stay heavy, stay metal, and stay true! Entrevista: Paula Martins


Começando pelo fim

do longa duração. Gostáun seg seu o , d” En e “Th r ça lan de am Acab título. Quisemos saber que o m co s do ga tri in os ám fic m, so do s mo pelo… fim! Mats (Crister ça me co em qu r re or rc pe e nd ete pr o nh cami umentos da banda, dispôs-se str in os os tod r po el áv ns spo re n), so Ols a satisfazer a nossa curiosidade.


A vossa banda faz Viking metal. Por que decidiram dar-lhe um nome relacionado com um jogo de cartas?

Qual o papel dos elementos doom na vossa música?

Mats: Na minha opinião, Ereb Altor não é uma banda de Viking Metal, apesar de tratarmos temas relacionados com os Vikings e a mitologia nórdica em algumas das nossas canções. O som que fazemos é tipicamente escandinavo e, por vezes, assemelha-se a hinos vikings. O nosso tema de eleição é a herança cultural escandinava. Por isso, usamos melodias escandinavas na nossa música e tratamos temas escandinavos nas nossas letras. É a herança cultural escandinava que me fascina. Quero que as histórias dos Ereb Altor se relacionem com ela. A primeira história [deste álbum] – “Myrding” – refere-se a um mito sueco sobre uma criança assassinada que não consegue encontrar a paz. Quando a li, fiquei arrepiado e senti que precisava de criar algo sobre aquele tema. A história em três partes com o título “The End” é a única canção do nosso álbum que trata um tema associado à mitologia nórdica viking. Ereb Altor não é propriamente o nome de um jogo de cartas. A expressão refere-se a um mundo onde se passavam as aventuras de um antigo jogo de cartas sueco que se chamava “Drakar och Demoner“ [N. R.: um jogo de cartas sueco, no género do Magic]. É um mundo imaginário, semelhante ao criado por Tolkien, nos seus romances.

Como produzem os elementos Viking e doom na vossa música?

Em tudo o que li sobre a vossa banda faz-se referência a Bathory. Aceitam esta influência? Claro que sim. A nossa banda foi formada como um tributo a Quorthon. De certo modo, queremos manter viva a herança que ele deixou ao mundo da música extrema. Ainda não ouvi nenhuma banda que se tivesse sequer aproximado do seu estilo épico e nós tentámos atingir esse objectivo. Mas não tenho a certeza de que tenhamos sido bem sucedidos no nosso intento.

E quem refeririam como influência para os elementos doom presentes na vossa música. Reparei que, frequentemente, se associa Ereb Altor a Candlemass e, por vezes, a Isole. Qual é a vossa opinião sobre estas ligações musicais? É difícil falar de influências. Nem sempre é fácil dizer o que te influencia. No que se refere à presença do doom na nossa música, eu mencionaria Bathory. Os seus álbuns épicos também contêm muitos elementos doom. Daí a sua presença na nossa música. Quanto à influência de Isole, é inevitável. No entanto, não consigo ver na nossa música nada que nos possa aproximar de Candlemass.

Gosto muito de doom, porque, para mim, o mais importante na música são as emoções associadas a melodias melancólicas. Para mim “Hammerheart” e “Twilight of the Gods” são álbuns de Doom Metal. Bastou-me ouvir “Hammerheart” uma vez, para eu decidir que era este o caminho que queria seguir e que essa seria a minha maior influência. Lembro-me disso como se tivesse acontecido ontem! Ao escutar “Shores in Flames”, parecia-me que estava a ouvir o barulho do barco a balançar nas ondas, longe da costa. É um álbum incrível. Geralmente, o único Viking Metal que ouço é mesmo Bathory.

Os elementos doom surgem quase automaticamente, no meu trabalho criativo. De facto, por vezes, até me esforço por recorrer menos a eles. Os elementos viking são construídos sobretudo através do recurso a coros grandiosos, melodias e linhas vocais. Nada disto me custa a fazer, porque sou um grande admirador de Bathory da época viking e sou um músico tendencialmente doom.

E como organizam o trabalho da banda durante as fases de composição e de gravação? Frequentemente, sou eu que tenho as primeiras ideias e isso acontece-me quando estou sozinho, a caminhar ou a guiar. Depois, pego na minha guitarra acústica e tento transformar as minhas ideias em canções. Por vezes, “roubo” um riff ou dois ao Ragnar, se me parecem adequados à música que estou a compor. Depois gravo a parte instrumental das canções sozinho no estúdio e, de seguida, levo o Ragnar para lá para que ele me dar a sua opinião e trabalhar as linhas vocais das canções. É isto que fazemos habitualmente nos Ereb Altor. Leio livros sobre mitos e lendas da nossa cultura e dessas fontes é que me vem a inspiração para as letras das canções. O nosso folclore nacional é também uma grande fonte de inspiração.

Numa das críticas que li, dizia-se que o facto de tu tocares todos os instrumentos na banda, por vezes, torna a vossa música um tanto monótona. O que pensas desta observação? Talvez haja alguma verdade nesse comentário. Só que a própria música é feita para ser um bocado monótona, é assim mesmo. Talvez, no futuro, contratemos alguém para a bateria.


Parto do princípio de que o título do vosso segundo álbum está relacionado com um dos temas principais das canções: o Ragnarök e a morte de Balder. Podemos dizer que este álbum é uma espécie de lenda, contada através de uma combinação de palavras e música? A minha intenção inicial era que este álbum fosse a última manifestação dos Ereb Altor e, por isso, teve o nome de “The End” desde o início do projecto. Por conseguinte, eu precisava de incluir nele uma faixa que tratasse de um fim e, como já tínhamos abordado alguns temas da mitologia viking no álbum anterior, pensei que o Ragnarök encaixava na perfeição neste puzzle. Afinal, quando terminámos o álbum, a faixa que lhe deu o título tinha-se convertido em três canções, pelo que metade dele tem subjacente este conceito de fim.

Há muitas diferenças entre este novo lançamento e o vosso primeiro álbum? O novo álbum é melhor do ponto de vista musical: a bateria soa melhor, os vocais são mais variados, a produção é de melhor qualidade, o ritmo é mais rápido e menos doom, há mais melodias escandinavas e uma atmosfera mais poderosa. No que diz respeito às letras, o primeiro álbum parece-me mais fragmentado. Doravante, queremos apostar em letras que estejam relacionadas com a nossa pátria, para honrar a nação a que pertencemos. Portanto, provavelmente os Ereb Altor abandonarão a senda percorrida por Bathory e centrar-se-ão na construção de uma identidade artística mais original, mais afirmada.

Adorei a capa de “The End”. Onde foram buscar a fotografia? De que forma ilustra o espírito do álbum? É a foto de um medalhão que possuo e que uso como uma espécie de amuleto. Representa o lobo Fenris acorrentado, para que o mundo esteja seguro. Levámos o medalhão a Robban Kanto, fotógrafo e artista gráfico, e ele fez uma foto e depois adaptou-a. Parece-me uma boa capa, porque tem muito a ver com o mito do Ragnarök.

Apesar de terem dado o nome “The End” ao vosso segundo álbum, não pretendem pôr fim à vossa carreira, como tu já nos disseste. O que vem a seguir na vossa agenda? Para já, é muito difícil dizer a que soaremos no futuro. Mas estamos a pensar numa sonoridade mais rápida e menos doom. Também não sei dizer quando e como começaremos a procurar novo material. De momento,

estamos a ensaiar com músicos de sessão, para fazermos alguns concertos. Já tiveram algum contacto com a cena

metal portuguesa? Que elementos da vossa música vos parecem mais apelativos para pessoas oriundas de um país do Sul da Europa? A única banda portuguesa de que me consigo lembrar assim de repente é Moonspell. Portanto, penso que não tenho grande contacto com a cena metal portuguesa. Quanto a elementos da nossa música que possam garantir o sucesso em Portugal, posso referir o exotismo associado ao nosso som nórdico e escandinavo. Não conheço nenhuma banda da Europa do Sul que tenha sido capaz de criar um som e uma atmosfera semelhantes aos nossos. Não vejas este comentário de uma forma negativa. O vosso som tem a mesma qualidade que o nosso, mas é feito de um modo muito diferente. Entrevista: CSA



MAR DE GRISES «Streams Inwards» [2010 / Season of Mist]

Aos primeiros acordes de «Starmaker» sentimo-nos logo envoltos na essência musical dos Chilenos Mar de Grises. A atmosfera pesada e o ritmo lento, acompanhado pela sólida guitarra dos dois guitarristas Rodrigo e Sérgio, e a gutural voz de Juan Esco-

bar, espalham-se por nós a dentro à medida que a música se propaga no tempo, pelos longos e magistrais 112 minutos que dura «Streams Inwards», atingindo o cume em «The Bell and the Solar Gust». Inequivocamente, a melhor música de «Streams Inwards», aquela que melhor caracteriza a música dos Mar de Grises. Apresentando-se como o terceiro opus dos MdG, este é o álbum da consolidação do talento demonstrado nos dois álbuns precedentes pelos homens do país do Atacama. Aliás, toda a geografia e topologia chilena servem de inspiração para «Streams Inwards», levando-nos os MdG numa jornada envolta em melancolia, dor e beleza – tal como é descrita. O ritmo e o balanceamento conseguido nas nove músicas do álbum, juntamente com

uma grande dose experimental, sem nunca sair do caminho traçado anteriormente, fazem de «Streams Inwards» um dos melhores lançamentos do ano no que respeita ao Doom Metal, Metal este, aqui vincadamente emoldurado de death, melancolia, avangarde e experimentalismo. Comparando o presente lançamento com «Draining the Waterheart», claramente os MdG trocaram a componente melancólica pela experimental, aumentando a carga de um à medida que reduziram a outra, explorando novos confins da música e empurrando para a frente a sua já excelente sonoridade inerente. Apesar das quase 2 horas de duração, ouve-se muito bem «Streams Inwards», sem nunca chegar a aborrecer em qualquer um dos momentos. [9.5/10] [Carlos Filipe]


zido, muito homogéneo (até talvez de mais), de puro Black Metal, igual a tanto outro que nós já conhecemos. [6.5/10] Carlos Filipe

ABIGAIL WILLIAMS «In the Absence of Light» [2010 / Candlelight]

«In the Absence of Light» é um álbum dos americanos Abigail Williams, puramente orientado para adoradores de Black Metal. Apesar de ter vindo do outro lado do atlântico, sem grande expressão neste género, os A.W. apresentam uma sonoridade vincadamente europeia, tendo nutrido certamente, as suas influências nas melhores bandas de Black Metal que por cá andam. Vendidos como Symphonic Black Metal, ao bom estilo dos Dimmu Borgir e Cradle of Filth, os A.W. neste campo sinfónico são um autêntico fracasso. De sinfónico têm muito pouco e nem aos calcanhares das mencionadas bandas chegam. Mesmo com um bom naipe de canções de puro e definido Black Metal, com um cheirinho a sinfónico de teclas, «In the Absence of Light» não acrescenta nada de novo a este panorama. Liderados pela voz de Ken Sorceron, a bateria de Ken Bedene e a guitarra de Ian Jekelis, os A. W. conseguem no entanto captar a essência do Black Metal, torneando-o ao bom velho estilo dos Emperor e companhia. Alias, a voz acutilante e estridente de Ken e o ritmo imposto pela bateria, vincam sua música, conseguindo bons momentos de Black Metal como em «The mysteries yhat bind the flesh» ou «Infernal divide», para nem falar da melhor das músicas: «What hells await me». «In the Absence of Light» é um álbum bem produ-

ARMA GATHAS «Dead to this world»

[2010 / Metal Blade Records]

Arma Gathas é composto por Simon Fülleman (Cataract), Ché Snelting (Born from Pain), Marc Niedersberg (Machine MadeGod e Cornelius), Max van Winkelhof (Disloyal) e Alex Härtel. Formado em 2006, este agrupamento germânico dá-nos a conhecer neste seu primeiro álbum as virtuosidades abrasivas das suas influências. Assim, tanto nos ferem os ouvidos com uma agressividade de inequívoca qualidade como nos acalmam o espírito com composições que irradiam uma ilusória transcendência, ambas as vertentes nos deixando marcas que só pecam por tanto agradar, embora talvez um certo cansaço auditivo surja perto do final do álbum. Apesar do fio condutor que nos enleva a traçar influências como Machine Head, Entombed, Bolt Thrower e Hatebreed, notamos que o agrupamento possui a tendência para surgir com um cunho um tanto original, as ideias sendo amplamente diversificadas, o que talvez seja mais evidente no próximo álbum. Aqui, os instrumentos tentam nos cortar a respiração mal nos dando tempo para pensar enquanto ouvimos a tempestiva intensidade cuspida pelo vocalista e liricista Ché. Se a conse-

guirmos ter é porque o agrupamento tem o bom senso de vir com instrumentais que parecem dizer “calma, calma, não fiques nervoso”. No entanto, mal nos acalmamos, surge uma outra tempestade que parece irradiar loucura. É caso para dizer: “Sacanas…”. Enfim… Confrontados com a abnegação de realidades ficcionadas, tudo o que ouvimos são concepções estritamente verdadeiras, pois que dizer de um mundo que se revela tão inóspito que nada de tentador nos traga? Sem saber a qual louco patamar se irá parar à medida que ouvimos este álbum, este não será um lançamento propício para nos relaxar mas, se houver males a expurgar, de certeza que agradecerão pela oportunidade. [8/10] Jorge Ribeiro de Castro

AS I LAY DYING «The Powerless Rise»

[2010 / Metal Blade Records]

Disseram-me há algum tempo atrás que a reciclagem não valia a pena pois este planeta já estava condenado. Discordei da afirmação pois acredito que, mesmo sendo pouco o que podemos fazer, não se pode negar que tal acção poderá começar uma reacção em cadeia de maiores proporções que seja inequivocamente positiva. O agrupamento As I Lay Dying já existe desde 2000 e «The Powerless Rise» é o seu quinto álbum. Carregado de ritmos fortes, melodias um tanto apelativas e uma descarga


vocal proeminente, esta crítica poderia enaltecer todos os pontos fortes de uma banda de Metalcore… não tivesse eu 37 anos e já ouvido carradas de bandas que, tediosamente, soam ao mesmo. Acontece que, ouvindo o álbum tempos depois após uma passagem por outros géneros musicais, senti inicialmente como se estivesse a apreciar uma lufada de ar fresco e que, além da inequívoca qualidade da banda, este seria um lançamento que perduraria por muito mais tempo na minha playlist. Só que… ainda me lembro de muitas outras bandas e se todas essas têm determinados níveis de qualidade, As I Lay Dying recorre daquela pujante condição que é ser mais um enérgico comboio em risco de colisão. Assim, mais uma banda cujos destroços poderiam ser investigados e nos dar a conhecer que nada de novo surgia que elevasse o espírito. Sim, até parece que a banda o sabe dado o título do álbum… Será que os dez anos de existência não concederam aos membros da banda outras ideias que lhes permitisse reinventar a sua sonoridade? Será que o que se pode esperar deste agrupamento são mais dez anos de uma energia tépida que não agarram suficientemente bem a alma mas que apenas funcionam ao vivo quando a adrenalina, e uma certa quantidade de álcool, nos inebria? Isso, somente o tempo dirá, mas, por enquanto, temos um álbum que é pouco mais do que se poderia esperar. [6/10] Jorge Ribeiro de Castro

Longe do melhor absoluto dos Avulsed – que têm ainda em «Stabwound Orgasm» o seu ex-libris -, e talvez até uns furos abaixo do álbum anterior, este é definitivamente um dos discos mais directos da banda espanhola. Death brutal na sua forma mais básica e genérica. Só para fãs. [7/10] Ernesto Martins AVULSED «Nullo (The Pleasure of SelfMutilation)» [2009 / Xtreem Music]

Viciados desde há vinte anos para cá na forma mais perversa de cacofonia alguma vez engendrada pela mente humana, estão de regresso com mais uma dose mortífera de death metal capaz de provocar a declaração de um estado de emergência. Se o demolidor «Gorespattered Suicide» injectou alguma extravagância no reportório essencialmente tradicional da banda Madrilena, então este quinto de originais soa a algo mais back to the basics. Passado o festival de agressão sem quartel das primeiras quatro faixas, o disco entra no seu melhor com arremedos infernais de thrash, riffs esmagadores e malhas impiedosas que agarram o ouvinte pelas partes mais sagradas. As mudanças súbitas de andamento de «Nazino (cannibal hell)» e as malhas infecciosas de «Penectomia» fazem destes os temas mais salientes de «Nullo». Também de destacar é a prestação fabulosa do (ainda) novo baterista Riky, bem como os leads melódicos que Cabra e Juancar arrancam das seis cordas, criando um contraste bem-vindo com o massacre sónico da secção rítmica. O rugido cavernoso e os berros doentios do carismático Dave Rotten traduzem da melhor maneira as temáticas depravadas de gore, mutilação e perversão sexual, as quais se reúnem em «She’s hot tonight (in my oven)» para criar um dos melhores momentos de humor negro do álbum.

DECREPIT BIRTH «Polarity»

[2010 / Massacre Records]

Os fanáticos de desafios mentais extremos do tipo que é habitualmente proporcionado por bandas como Psycroptic, The Faceless e Obscura, têm aqui mais um puzzle sónico para lhes dar a volta ao miolo. Os autores deste puzzle de death brutal e extraordinariamente técnico, já deram mostras do que eram capazes, em 2008, com o estonteante «Diminishing Between Worlds». Contudo, de lá para cá, a progressão foi notável. Reduzindo um ou dois furos na complexidade da composição e deixando mais espaço para a música respirar entre as barragens de riffs demolidores, a banda norte americana criou com «Polarity» um trabalho relativamente mais fácil de acompanhar e com detalhes mais distintos. Com uma execução prodigiosa de todos os instrumentos, as referências aos pergaminhos do saudoso Chuck Schuldiner são agora especialmente notórias no estilo de leads virtuosos que irrompem constantemente entre mutações rítmicas tresloucadas. Embora os andamentos sejam quase sempre a abrir e o pedal duplo a mil à hora não dê tré-


guas, não há aquela obsessão doentia pelo martelanço enfadonho que persiste em muito death metal. As faixas são também mais curtas do que o habitual (metade delas não passa dos três minutos), incorporando, ainda assim, mais ideias atractivas e pormenores de encher o ouvido, do que aquelas que muitas formações do género conseguem apresentar no dobro do tempo. E no fim resta ainda substância em quantidade suficiente para obrigar a umas quantas visitas à vitrola, até conseguirmos desenredar a maior parte da meada sonora. [8.5/10] Ernesto Martins

poder ouvir grandes melodias vocais que ficam no ouvido à primeira audição, secundados por um magnífico trabalho instrumental de Gus G e seus pares. Nesse aspecto, destaque para “SKG”, um fabuloso instrumental de cinco minutos em que é possível apreciar a mestria do guitarrista em todo o seu esplendor. Destaque ainda para “Heading for the dawn”, uma daquelas faixas que apetece ouvir vezes sem conta. A produção é irrepreensível, o que faz deste um disco sem mácula. O único senão é que não traz nada de novo – aquilo que os Firewind fazem já foi inventado há mais de vinte anos. Apesar de tudo é com certeza um bom disco para os apreciadores do estilo. [7/10] Renato Conteiro

FIREWIND «Days of Defiance» [2010 / Century Media]

Da terra dos filósofos, chega-nos em 2010, mais um disco dos Firewind. Liderados pelo jovem guitarrista Gus G (que recentemente ingressou na banda de Ozzy Osbourne e com a qual gravou o último disco, «Scream»), a banda conta já com seis álbuns e uma sólida carreira internacional que os coloca a caminho da linha da frente das novas gerações de power metal europeu e mundial. O novo disco – muito aguardado – é um opus muito ambicioso que pretende colocar definitivamente os Firewind na primeira divisão do metal. Não sei se o vai conseguir mas o que é certo é que contém treze faixas do melhor que o quinteto grego já gravou. O disco abre com uma excelente faixa, “The ark of lies”, logo seguida do primeiro single, “World on fire”. Faixa após faixa, vamos

a temas como “From Hel to Asgard”, “Triskelion horde is nigh” ou mesmo “Ofiússa (A terra das serpentes)”, com os seus contornos sinfónicos, vozes femininas muito bem colocadas e até uma breve passagem cantada em português. A evolução registada em relação a “Ynys Mön”, o primeiro álbum, é notória, tanto do ponto de vista da composição, cujos meandros a banda parece já dominar com alguma maturidade, como no departamento sonoro, com a mistura entregue desta vez a Børge Finstad (Mayhem, Enslaved), com resultados a roçar o excelente. O único aspecto menos abonatório a apontar ao colectivo de Lisboa é mesmo a excessiva colagem ao folk folgazão tão característico das bandas supra citadas e, em particular, a algumas melodias ou acordes que parecem já recorrentes no género. Como não se trata de falta de talento ficamos à espera de ver adicionado à música dos Gwydion um cunho mais pessoal que os torne distintos num estilo já de si bastante concorrido. [7/10] Ernesto Martins

GWYDION «Horne Triskelion»

[2010 / Trollzorn Records]

Embora a colonização Viking dos séculos VIII a XI não se tenha alastrado até à nossa costa, o imaginário aventureiro destes bárbaros do norte já há muito que conquistou a praia dos portugueses Gwydion. Este segundo álbum irá certamente agradar aos incondicionais do folk metal nórdico ao estilo de bandas como Finntroll, Tyr e Turisas, com as suas melodias ora sumptuosas ora festivas, conduzidas por teclados ou instrumentos tradicionais sobre uma secção rítmica possante, e com os habituais coros masculinos taberneiros a invocar sempre imagens de guerreiros ébrios a agitar canecas de cerveja. É impossível ficar indiferente

IHSAHN «After»

[2010 / Candlelight]

Depois do lançamento de «After» já não restarão dúvidas de que o trabalho a solo de Ihsahn, tomado no seu conjunto, é hoje tão apelativo e relevante como o foram no passado os melhores álbuns dos Emperor. Concluindo uma suposta trilogia iniciada em 2006 com «The Adversary» e continuada em 2008 com «Angl», o músico norueguês


acaba de nos brindar com um trabalho que preserva traços do vanguardismo cultivado até aqui, mas que se distingue fundamentalmente pelo ênfase nos aspectos mais progressivos e pela utilização do saxofone, não como mero elemento de arranjo, mas antes como instrumento de primeiro plano que irrompe frequentemente com magníficos fraseados melódicos ou numa abordagem mais free jazz. Com uma execução superior de Jorgen Munkeby, dos Shining, é mesmo caso para dizer que nunca o saxofone soou tão bem num contexto de metal extremo. Embora alguns dos temas remetam ainda para a composição angular do disco anterior, este é, em geral, um álbum de parâmetros mais ortodoxos, o que, a par dos refrães contagiantes entoados na voz plácida de Ihsahn (que se sobrepõem amiúde ao seu inconfundível registo abrasivo), concorre para fazer deste o trabalho mais acessível do ex-Emperor. Mas «After» não é um disco simplista, muito pelo contrário. Resultado duma criatividade no seu auge e enriquecido uma vez mais pela secção rítmica genial dos Spiral Architect: Lars Norberg (baixo) e Asgeir Mickelson (bateria), «After» constitui uma realização assombrosa, vibrante de musicalidade de fio a pavio, que tem tudo para resistir ao teste mais exigente: o do tempo. [9.5/10] Ernesto Martins

IRON MAIDEN «The Final Frontier» [2010 / EMI]

Trinta anos depois do primeiro disco, os Iron Maiden editam o seu décimo quinto álbum de originais, com a impressionante média de um disco a cada dois anos. Naturalmente, não se pode esperar grandes novidades de um novo disco do sexteto inglês – apenas uma nova fornada de boas músicas. Nisso, «The Final Frontier» não desilude e é o melhor álbum desde «Brave New World». Ao longo de dez músicas e de setenta e seis minutos, o novo disco está recheado de bons momentos, boas melodias e bons riffs, aqui e ali a fazerem lembrar grandes momentos de álbuns como «Piece of Mind» «Powerslave» e «Somewhere in Time». A esse facto não estará alheio o ambiente vivido durante as gravações no Compass Point Studios em Nassau, Bahamas – precisamente o estúdio onde aqueles álbuns foram gravados há mais de vinte anos. Resultado: «The Final Frontier» é o primeiro álbum desde o «Fear of the Dark» a estrear no primeiro lugar do top britânico de vendas; paralelamente, estreou em primeiro lugar em mais de vinte países e atingiu a quarta posição do Billboard 200, a mais alta posição que a banda já ocupou em terras do Tio Sam. O primeiro single avançado é “El Dorado” mas a faixa mais forte do disco é “The alchemist”, um clássico instantâneo que passará certamente a ser presença obrigatória nos concertos da banda. Liricamente, o disco foca temas como as lendas (“El Dorado”), os clássicos da literatura (“Isle of Avalon”) e a guerra (“Mother of mercy”), bem como a ficção científica (“Satellite 15… the final frontier” e “Starblind”) – já explorada em «Somewhere in Time» e que foi recuperada para as apresentações ao vivo. Infelizmente, não está prevista qualquer actuação em Portugal. Por fim, resta dizer que a capa é assinada por Melvyn Grant: boa, mas não se compara às de Derek

Riggs (ah, que saudades!). O disco está disponível na versão standard e na “Mission Edition”: em capa de metal e com um link exclusivo para o jogo “Mission II: Rescue & Revenge”, disponível no site. [8/10] Renato Conteiro

LACRIMAS PROFUNDERE «The Grandiose Nowhere» [2010 / Napalm Records]

«The Grandiose Nowhere» é já o nono trabalho dos alemães Lacrimas Profundere e o segundo do vocalista Robert Vittaca. Nota-se que Robert neste trabalho se sente mais à vontade, tendo para isso contribuído o facto de já estar mais integrado na banda. Um facto também a ter em conta é que no álbum anterior as músicas tinham sido compostas para o anterior vocalista e acabou por ser Robert a gravar o álbum. Neste novo trabalho estão presentes as influências de bandas como Type O Negative, Sisters of Mercy e mesmo Charon. Destacamos “Not for love”, tema que nos leva a um universo por onde bandas como os Poisonblack estão a viajar, e “No matter where you shoot me down”, um meio tempo no qual há que destacar o excelente desempenho de Robert Vittaca. Também em destaque estão os dois guitarristas Oliver e Tony, com os seus ritmos electrizantes e melodias com influências mais dark. Um outro ponto a destacar é a produção de John Fryer que já trabalhou com bandas como Cradle of Filth, Depeche Mode e Him. Em suma, um álbum bem estruturado e talvez de mais fácil assimilação por parte dos amantes do chamado rock-metal-gótico. [7.5/10] Miguel Ribeiro


em que o todo excede sempre a soma de cada uma das partes. Desliguem-se por um momento das vossas vidinhas rotineiras, baixem as luzes, e deixem-se embarcar nesta experiência quase religiosa que é «.neon». [9.5/10] Ernesto Martins

LANTLÔS «.neon»

[2010 / Prophecy Productions]

Entre os grandes lançamentos a registar em 2010, «.neon» é uma daquelas raras peças de arte com o dom de nos fazer transcender o mundano; um trabalho com tanto de fascinante como de perturbador, que combina mantras post-rock de riffs lentos e introspectivos, tiradas furiosas de um black metal atmosférico carregado de emoção, e segmentos tranquilos onde o jogo de bateria e baixo (com algum piano de permeio) projecta uma atmosfera deliciosamente jazzy. O vocalista Neige (Alcest) apresenta aqui uma performance de apertar o coração, e chega até a ser arrepiante a convicção que coloca nas manifestações mais desesperadas (sintam a expressividade de “These nights were ours”, onde o homem quase esganiça). O seu registo natural (aqui, pouco frequente) em “Pulse/surreal” veicula candura, e aproxima-se, curiosamente, do tom aveludado da diva da soul Sade Adu (!). Depois da estreia pouco promissora oferecida num rudimentar homónimo lançado em 2008, parece que Herbst, o multi-instrumentista germânico responsável por este projecto, acaba de reinventar os Lantlôs, sendo Neige uma das peças essenciais desse sucesso. Dessa reinvenção resultou um álbum perfeitamente equilibrado, com uma construção tão sublime que é capaz de fazer eriçar o cabelo da nuca; um disco mágico que toca no mais intimo que há em nós e

OCTOBER TIDE «A Thin Shell» [2010 / Candlelight]

Longos anos volvidos após dois álbuns perfeitamente doominizados enquanto Katatonia pairava no éter («Rain Without End», de 1997, e «Grey Dawn», de 1999), Fredrik Norrman decide ressurgir os October Tide no final do ano passado assim rasgando primorosamente a nostalgia que habitava nos fãs do agrupamento. Não que fosse estritamente necessário que ele tivesse de sair de Katatonia para vir com este terceiro álbum mas nunca se sabe o que se passa na cabeça dos génios musicais… Este terceiro lançamento colhe elementos dos dois anteriores ao vaguear por um Doom/Death de superior qualidade, abrilhantando o estilo musical em que o agrupamento se insere através de uma notória inspiração em que, quem os ouve, são aturdidos por sonâncias rítmicas que choram as melodias que as sombras trazem. Para nossa sorte, «A Thin Shell» apresenta uma banda que pretende conquistar os fãs em palco. Sem Jonas Renske ou Mårten Hansen, que cantaram no primeiro e segundo álbum respectivamente, Fredrik Norrman (g) é soberbamente acompanhado por Tobias Netzel (v), Emil

Alstermark (g), Robin Bergh (bt) e Johan Janson (bx). Tal como um Outono que arde em ébria beleza, aspergindo um fulgor cujos gritos perturbam qualquer beleza sepulcral, o nosso ser é cativado por tão ricos elementos e sabemos… Estamos onde desejávamos estar… Uma magnífica ambiência onde todas as músicas reverberam melancolicamente e demonstram o quão aprimorada pode ser a obscuridade que lentamente apunhala os menos dados ao brilho diurno. Para quem abrace os céus cinzentos da solidão, torna-se extremamente apetecível ouvir este álbum várias vezes também devido à primorosa produção, tornando-o quase as lamurias que nunca se soube descrever. Se têm longas horas à vossa frente que queiram preencher com a riqueza de uma arte, adquiram este álbum e esqueçam que o dia voltará a nascer. Fiquem com October Tide e a profundidade da vossa alma… [9/10] Jorge Ribeiro de Castro


AVOID THE PAIN

«Death Bullets Dead End» (2010 / Independente)

Na cidade de Belo Horizonte, de onde vem a banda, surgiram grandes nomes da história do Heavy Metal brasileiro, que obviamente não preciso citar. Os Avoid The Pain mostram-se fortemente influenciados pelas bandas suecas que praticam Melodic Death Metal. Aqui a sonoridade é um pouco mais crua e direta, sem as típicas inserções de sintetizadores. Um mix de Death e Thrash permeia as oito faixas do álbum, lembrando bastante as bases dos conterrâneos Drowned. «Death Bullets Dead End» foi produzido por Allan e Marcio, dos Eminence, que fizeram um ótimo trabalho. Rodd Arruda (Guitarra e voz), Lucas Oliveira (guitarra), Pedro Leão (bateria) e João Marques (baixo), desempenham bem os seus papéis, através de riffs interessantes e músicas bem variadas. Destaque para os vocais, que lembram a fase inicial dos Amon Amarth. A ressalva aqui fica para a mistura que deixou as músicas um pouco abafadas e opacas. Criatividade e garra a banda tem de sobra, vamos esperar que isso se reflita num lançamento futuro.

[6.5/10] Pedro Humangous

DEVICE

«Antagonistic»

(2010 / Independente)

Eis que tenho nas minhas mãos o tão aguardado álbum da banda brasiliense Device. O álbum chama-se «Antagonistic» e acaba de ser lançado de forma independente. Sem firulas, a banda começa a rasgar ouvídos, despejando toda fúria típica do Death Metal, estilo pertinente para a banda. Nota-se que a sonoridade do grupo evoluiu bastante desde o EP anterior «Behold Darkness»,. Os vocais guturais de Ítalo Guardieiro estão bastante técnicos e potentes, dando um toque extra de agressividade às músicas. A dupla de guitarras Marco Di Vicente e Marco Mendes mostrase infernal, despejando riff atrás de riff com extrema competência. A parte ritmica é bastante coesa, com destaque para Victor Lucano que simplesmente espanca seu kit de bateria e direciona a arte dos Device através de todo o caos sonoro. Batidas velozes, viradas incriveis e muito pedal duplo acompanham o bom trabalho de Daniel Gonçalves no baixo. A bela arte da capa ficou a cargo de Flip Cruz e Thiago Pena, ambos dos Hundead. A cada faixa que passa, o álbum torna-se mais agradável pela variação entre a velocidade e a cadência, sem deixar de lado o peso absurdo impresso nas músicas. Ao todo, são 10 faixas do mais puro e extremo Death Metal. As influências se misturam entre o praticado pelos grandes nomes da velha escola e os mais recentes, agregando uma roupagem mais atual sem se descaracterizar em momento algum. Todas as músicas se destacam, mas vale mencionar a faixa “Pátria Dos Porcos”, cantada em portugês. Os Device têm crescido a cada lançamento e são grandes candidatos ao topo, num curto intervalo de tempo.

[9/10] Pedro Humangous


FRONTAL

«Vida Convicta»

(2010 / Independente)

Após uma breve introdução ao som de aviões e explosões diretamente do 11 de Setembro, a máquina infernal chamada Frontal começa destruindo tímpanos sem o menor sentimento de pena! A faixa de abertura deste álbum de estreia «Vida Convicta», chama-se “Terrorismo” e é exatamente com ela que o caos começa como um belo cartão de visita cravado na testa do ouvinte! Os vocais excelentes de Deivid, casam muito bem com a proposta das músicas e da ideologia impregnada nas letras da banda. Riffs velozes e bem marcantes condizem com o bom e velho hardcore aliado ao peso do metal. “Sobre Ser Libertário” é a faixa seguinte, e a minha favorita. Destaco essa faixa pela mistura de ritmos mais cadenciados e as letras muito bem encaixadas e aquele coro tradicional, perfeito para cantar nos shows! O ritmo acelerado volta com tudo na terceira faixa intitulada “Nova Terra”, nela encontramos até alguns breakdowns no meio da faixa, onde bater a cabeça se torna obrigatório! Na sequencia temos mais uma faixa longa, se comparada com o restante, e quem merece destaque dessa vez é o baterista Marcell! Sem dúvidas o forte dessa banda carioca são as letras inteligentes e sempre com algo importante a dizer. Um bom exemplo disso é a quinta faixa chamada “Elo de Amor”. A sexta e última música do álbum termina com maestria, unindo ritmos variados, gritos desesperados proclamando suas verdades, instrumental coeso e a sensação final de um trabalho bem feito. Vale ressaltar a bela capa desenhada por Wil Mineto, juntando simplicidade e beleza num só quadro. A vida de uma banda no Underground nacional, todos sabemos, não é fácil! Frontal: Mais um aliado nessa luta.

[6.5/10] Pedro Humangous

ITSELF

«Make My Suffer Short»

(2010 / Independente)

A garra e a vontade dos Itself de conseguirem um espaço no cenário musical são louváveis. Contando com apenas dois membros, Estevam Furlan (vocais e bateria) e Ricardo Falcon (baixo e guitarras), conseguiram montar um quebra cabeças em grande estilo e profissionalismo, difíceis de ver actualmente em bandas estreantes. Misturado e masterizado no Hertz Studio, na Polônia, o resultado é um ótimo Death Metal visceral, veloz e técnico. A arte da capa, que ficou a cargo do Killustrations (responsáveis por trabalhos dos Dew-Scented, Six Feet Under, Aborted, etc), é estranhamente bela e angustiante, casando perfeitamente com a sonoridade do álbum. Após uma breve introdução, a poeira levanta de vez com a faixa “Ultraviolence”. Mostram logo todo o poder de fogo, deixando o ouvinte com pouco ar restante nos pulmões. Ótima escolha como faixa de abertura. Em seguida vem o destaque do disco, a terceira faixa intitulada “I Can’t Stop”, com ótimas levadas de baixo e breakdowns de quebrar o pescoço. O vocal de Estevam merece destaque pela variação constante entre o rasgado e o gutural, uma mescla interessante de Thrash e Death Metal. O que resta do álbum mantém a estrutura nivelada e de audição agradável apesar das podreras líricas e musicais. A verdade é que o underground vem crescendo de forma assustadora, com bandas cada vez mais preocupadas em fazer um trabalho de qualidade tanto na parte estética quanto musical. Com este trabalho de estréia, os Itself mostram-se extremamente capazes de figurar entre os grandes nomes do gênero!

[8/10] Pedro Humangous


JULGAMENTO

«Flagelo Fatalista»

(2009 / Pride Conviction Records)

O Brasil está a tornar-se num verdadeiro celeiro para as bandas de Hardcore. Os Julgamento surgiram em 2003 na cidade de Itapira, interior de São Paulo, e desde então vem destruindo tudo por onde passam, dividindo palcos com grandes nomes do metal nacional e internacional. Formados atualmente por Lik (vocal), Palmer (baixo), Jonatas (bateria) e Alcir (guitarra), o grupo mostra fortes influências de Thrash e Death Metal, contando com letras típicas sobre política e crítica social com muito cinismo e sarcasmo. «Flagelo Fatalista» é um grande álbum que possui bastante peso, riffs marcantes, velocidade a todo o vapor, bateria insana e vocais urrados, quase desesperados. Tudo muito bem encaixado com o contexto geral. Destaque para a faixa “Aforismo” com seus 47 segundos de música, que agrada bastante pela pegada nervosa e que, apesar de ser curta, passa a sua mensagem. A bela imagem da capa expressa exatamente aquilo que está contido no seu interior: agonia, raiva e brutalidade, tanto na parte lírica quanto musical. Falando um pouco sobre a produção do álbum, ela está bastante satisfatória, fazendo com que todos os instrumentos sejam audíveis por igual. Todos os instrumentos desempenham bem seus papéis, incluindo os vocais, mas quem merece mesmo o destaque são os timbres das guitarras. Os Julgamento mostram-se dispostos, e com bastante garra, para alcançar vôos mais altos. Capacidade e técnica eles tem de sobra, deixemos o tempo cuidar do resto.

[7.5/10] Pedro Humangous

KORZUS

«Discipline of Hate»

(2010 / Laser Company Records)

Após uma longa espera de seis anos, eis que os Korzus nos brindam com um lançamento de inéditos. Podem ter a certeza que a espera valeu a pena. A começar pela bela ilustração da capa, criada por Marcelo Vasco. Ouvidos ansiosos por novos riffs aguardam pela introdução sombria que precede a pancadaria da primeira faixa que leva o nome do álbum, «Discipline Of Hate». Nota-se que os Korzus estão mais técnicos e, de certa forma, mais pesados, porém, sem perder as suas características próprias. Um fator que chama a atenção são os coros tipicamente Hardcore adicionados à quebradeira do Thrash Metal, que casam perfeitamente com o som, trazendo maior carisma aos refrãos já grudentos por natureza. Musicas como “Raise Your Soul” e “Truth” ecoam pelo cérebro durante dias, tamanha é a força das melodias impressas. Impossível não associar os vocais aos de Tom Araya (Slayer), porém Marcelo Pompeu vai além e mostra personalidade numa excelente performance. O trabalho de guitarras entre Heros Trench e Antonio Araujo está incrível, tanto na parte rítmica quantos nos solos inspirados. A cozinha, que conta com Dick Siebert e Rodrigo Oliveira, se mantêm coesa, beirando a perfeição. Apontar destaques torna-se tarefa cruel devido à qualidade ímpar e constante em todas as faixas do álbum. Apesar de ser uma banda lendária, os Korzus tornaram-se no novo expoente do metal brasileiro, definitivamente!

[9/10] Pedro Humangous


PONTO NULO NO CÉU «Ciclo Interminável» (2010 / Independente)

Responsáveis por uma identidade visual e musical bastante atual, a banda Catarinense Ponto Nulo No Céu vem para estremecer as bases do Metal contemporâneo, unindo diversas influências ao seu som. Formada atualmente por Dijjy (vocal), Júlio (bateria), Vinicius (guitarra), Henrique (Baixo) e André (guitarra), a banda busca uma sonoridade inovadora, misturando vocais rasgados do Metalcore, passando pelo limpo em melodias belíssimas e conta até com passagens meio rap, bem no estilo Hardcore nova iorquino. Tudo isso cantado no seu idioma natal, o português. A banda esbanja carisma pelas letras marcantes e de fácil assimilação. O EP conta com seis faixas, sendo a primeira delas uma intro. “Fim Do Dia” já começa num ritmo forte e mostra a cara do disco como um todo, sendo por mim considerada o destaque entre as demais. No meu ponto de vista, os Ponto Nulo No Céu assemelham-se de alguma maneira aos As I Lay Dying e aos 36 Crazyfists, com a diferença da língua portuguesa, que dá um certo charme às composições e se faz destacar nesse mar de bandas que surgem a cada dia. Se tens a mente aberta e gostas de um Metal bem executado, moderno e cantado em português, essa banda é para ti!

[8/10] Pedro Humangous

ZILLA

«Pragmatic Evolution (2010 / Independente)

Cada dia que passa fico mais surpreendido com as bandas que surgem na nosso cena nacional. Formada em 2002 por Mark Nagash, esta incrível banda brasiliense lança no mercado o seu álbum de estréia intitulado de «Pragmatic Evolution». Impossível começar essa critica sem mencionar a belíssima arte da capa criada pelo próprio Mark. Muito bonita mesmo. O álbum começa com uma bela introdução dedilhada na guitarra e que cresce aos poucos unindo-se aos outros instrumentos, servindo como entrada para a pancadaria que está por vir. “Neverending Violence” é a segunda faixa e começa destruidora, com os vocais insanos de Lucas seguidos de riffs que grudam na cabeça após a primeira audição! As bases lembraram-me algo de Arch Enemy, porém com identidade própria. A impressão é que estamos perante uma banda internacional devido ao facto de poucas bandas praticarem este tipo de som aqui no Brasil - um Melodic Death Metal com pitadas de Prog e Tech Death, que me surpreendeu bastante pela positiva! A terceira faixa, “Down The Edge”, é para mim a melhor de todo o CD. Com riffs perfeitos e o baterista Victor a quebrar tudo e a fazer uma paradinha mortal após o primeiro refrão. Confesso que carreguei no repeat algumas vezes nesta faixa! Vale destacar o trabalho do baixista que é bem técnico e se faz notar em vários momentos cruciais das músicas. “Confortable Pain” é a quarta faixa e segue a mesma linha das outras, muita velocidade, pedal duplo e riff atrás de riff. O disco parece um “best of” de uma banda com o primeiro lançamento. Assim segue o álbum todo, com muito bom gosto nas composições, letras interessantes e uma ótima produção. Desde já, um dos melhores lançamentos de 2010!

[10/10] Pedro Humangous



Em Aveiro, o dia 27 do mês de Novembro ficou marcado pela presença dos Motim, Shallow Injury e Ella Palmer nas instalações do Mercado Negro. Grande ambiente e muita música num evento realizado pela MYOproductions onde o “post-hardcore” foi o género musical em destaque. A abertura dos concertos coube aos Motim, que ajudaram a aquecer esta noite de baixas temperaturas com a boa disposição e animação à qual já habituaram o público aveirense. A missão mais complicada calhou aos Shallow Injury que encontraram uma sala bem mais composta pela frente. Tarefa fácil para esta recente banda da zona de Aveiro. Grande carga de energia que estes rapazes conseguiram injectar no público presente devido à atitude e entrega com que se apresentaram. Nota 10 para os Ella Palmer que pela primeira vez marcaram presença em Aveiro e facilmente conquistaram o público presente no Mercado Negro aliando riffs poderosos e muita, muita energia ao seu jeito melódico. Acaba mesmo por ser curioso o facto de ver alguns dos elementos mais entusiastas do público a cantarem as músicas sem sequer conhecerem bem o trabalho desta banda. Um trabalho de grande qualidade apresentado por esta banda oriunda da zona de Setúbal. Texto: Bernardo Leite Fotografia: Bernardo Oliveira Leite





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