Calendário 2015 - Sindibancários/ES: Lutas e Revoluções Populares na América Latina

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Calendário 2015 – Lutas e Revoluções Populares na América Latina Os povos da América Latina compartilham, desde a invasão dos europeus, uma história semelhante de resistência e de luta. Primeiro, resistência à dominação cultural, à extração de seus recursos naturais e ao genocídio de seu povo; Depois, resistência à submissão política e econômica ao capital estrangeiro. Infelizmente, nos documentos oficiais essa história muitas vezes nos é negada, subtraída de nossa memória individual e coletiva. Foi lutando que o povo latino-americano se forjou, no Brasil e nos demais países do continente. Por isso, em 2015, o calendário do Sindibancários/ES relembra momentos e pessoas que ajudaram a construir essa história, com o intuito de que o exemplo diário dos lutadores e lutadoras do passado nos ajude a construir a narrativa do presente sob o olhar da classe trabalhadora. Esse calendário tem como referência principal a publicação do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) – Agenda NPC 2014: Lutas e Revoluções Populares na América Latina –, instituição para a qual deixamos nosso agradecimento.


Eixos mensais: 1 - Ditaduras e resistência 2 - Revoluções Populares 3 - Mulheres na luta 4 - Resistências dos indígenas e povos originários 5 - Resistência dos trabalhadores 6 - Arte e cultura de resistência 7 - Revoltas populares 8 - A Força dos estudantes 9 - Greves dos trabalhadores 10 - Combate ao imperialismo 11 - Resistência negra 12 - Governos populares


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Calendário janeiro

1–

Dia mundial da Paz Triunfo da Revolução Cubana 12 – Aniversário do Sindibancários/ES – 81 anos 24 – Dia do aposentado


Ditaduras e resistência Nos anos de 60 e 70, com a influência e o apoio dos EUA, vários países latino-americanos sofreram duros golpes civis-militares. Os regimes ditatoriais foram caracterizados por repressão, perseguição política e assassinato de milhares de pessoas. Foi a resistência do povo latinoamericano que derrubou os ditadores. Alguns dos países que sofreram com a ditadura foram:

Brasil – Em 01 de abril de 1964 iniciou a ditadura civil-militar no Brasil com a deposição do presidente João Goulart. Durante 21 anos, opositores do regime foram perseguidos, presos, exilados ou assassinados, e a forte censura fechou veículos de comunicação. Em 28 de março de 1968, a polícia assassinou à queima roupa o estudante Édson Luis, no Rio. Sua morte deu início a manifestações contra a ditadura em todo Brasil, que foram violentamente reprimidas. Em 83 teve início a campanha das Diretas Já, exigindo eleições diretas para presidente. A ditadura chegou ao fim em 1985. Argentina – O início da ditadura no país foi em 24 de março de 1976, com o terrorismo de Estado e genocídios até 1983. A luta contra a opressão resultou no desaparecimento de cerca de 30 mil pessoas, segundo defensores dos direitos humanos. Em 1977, teve início o movimento das Mães da Praça de Maio. As corajosas manifestantes organizavam atos semanalmente em frente à Casa Rosada para exigir notícias dos filhos desaparecidos na ditadura, e muitas também desapareceram meses depois. Os atos se repetem até os dias de hoje. Paraguai – Por 35 anos o Paraguai viveu sob o regime da ditadura militar. O golpe foi em 04 de maio de 1954, quando sob o poder do


general Stroessner, quase 20 mil paraguaios foram detidos por lutarem pela democracia e liberdade. Cerca de 430 foram executados ou ficaram desaparecidos. Os principais grupos armados de resistência foram o Movimento 14 de maio e a Frente Unida de Libertação Nacional. Guatemala – Financiado pela CIA, o golpe de Estado forçou o presidente Jacobo Arbenz a renunciar em 27 de junho de 1954. Assumiu o ditador Castillo que, imediatamente, extinguiu o direito ao voto dos analfabetos e cancelou a Lei da Reforma Agrária, obrigando os camponeses a abandonarem suas terras recém adquiridas. O golpe provocou a reação de diversos movimentos populares no país. Uruguai – Em 26 de junho de 1973, teve início a ditadura militar, que durou até 1985. No primeiro dia do regime ditatorial, 5 mil pessoas foram presas. O período foi marcado pela proibição de partidos políticos e sindicatos, perseguição, tortura e execução dos opositores ao regime. Em 12 anos de ditadura, cerca de 200 militantes desapareceram. Chile - Em 02 de julho de 1973, cerca de 800 mil pessoas realizaram uma manifestação em Santiago do Chile para pedir ao presidente Salvador Allende que decretasse o Estado de Sítio, impedindo o golpe militar. O golpe veio em 11 de setembro daquele ano e pôs fim às transformações democráticas e ao caminho de soberania trilhado pelo povo chileno. Allende morreu no Palácio de La Moneda, que foi cercado e bombardeado pelo exército golpista. Milhares de pessoas morreram e desapareceram nos meses seguintes. Cuba - A ditadura de Fulgêncio Batista teve início em 1953. Em 26 de julho do mesmo ano, rebeldes comandados por Fidel Castro assaltaram o Quartel Moncada, em Santiago de Cuba, para tomar as armas e distribuí-las à população. O levante foi reprimido e fracassou. Em 01 de janeiro de 1959, os trabalhadores cubanos, liderados por Fidel, Che Guevara, Raúl Castro, Camilo Cienfuegos, tomaram o poder, derrubando a ditadura de Batista e derrotando o projeto de dominação dos EUA sobre as Américas.


El Salvador – Desde a década de 30, o povo salvadorenho enfrentou a opressão de vários ditadores. Nos anos 60 e 70, iniciou no país uma ditadura militar apoiada pelos EUA. Dentre os movimentos de luta contra esse regime, destacaram-se a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, criada em 1980 a partir do assassinato do arcebispo Osca Romero pelo Exército. A ditadura terminou em 1992, com a vitória da guerrilha organizada pela Frente, que forçou um acordo de paz que incluiu uma nova Constituição e a desmilitarização do regime. Bolívia – O país sofreu o golpe militar em 21 de agosto de 1971. Orquestrado pelo coronel Hugo Bánzer, o golpe derrubou o governo popular de Juan José Torres, acusado de ser comunista pelo governo dos EUA. Dezenas de trabalhadores e estudantes foram massacrados e as liberdades civis e sindicais foram limitadas. Peru – Liderado pelo general Juan Velasco Alvarado, o golpe militar foi em 1968. Mas esse regime, que seguiu até 1975, teve características peculiares, como um governo anti-imperialista e que iniciou a reforma agrária. Em abril de 1992, o então presidente Alberto Fujimori deu golpe no Estado, dissolveu o Congresso e prendeu os líderes da oposição, iniciando uma das mais sangrentas ditaduras da América Latina. Em meio a intensas manifestações, Fujimori fugiu para o Japão em 2000. Em 2005 ele aparece no Chile, mas é extraditado e condenado a 25 anos de prisão por violação de direitos humanos e corrupção. República Dominicana – Com apoio dos EUA, o país, que estava sob o governo de Juan Bosch, sofreu um golpe de Estado em 25 de setembro de 1963. O governo de Bosch pretendia favorecer os camponeses e os trabalhadores. Além de ter sido afastado do poder, Bosch foi levado para o exílio em Porto Rico. Operação Condor – Foi uma articulação entre as ditaduras militares da América do Sul orientada pela CIA. A função foi exterminar os grupos de esquerda de países como Brasil, Uruguai, Argentina e Chile. O projeto resultou no assassinato e desaparecimento de inúmeros


combatentes pela democracia e liberdade. Escola das Américas – Na Guerra Fria, foi criada em países da América Latina a Escola Superior de Guerra, para dar continuidade à política dos EUA. Em 1946, os EUA criaram a Escola das Américas, no Panamá, que em 1984 foi transferida para a Georgia, nos EUA. Em quase 70 anos, a instituição treinou mais de 60 mil soldados na América Latina, ensinando técnicas de tortura, inteligência militar e preparação para golpes militares no continente. Hoje, a escola é chamada de Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação de Segurança e treina por ano mais de mil soldados, além de agentes de sabotagem e de propaganda, de diversos países.


Capa fevereiro


CalendĂĄrio fevereiro

17 – Carnaval


Revoluções populares

No século XX, vários países latino-americanos vivenciaram longos períodos de governos ditatoriais. O enfrentamento do povo a esses poderes dominantes foi por meio de revoluções armadas e com ações de cunho político, sendo as principais: Cuba – Em 01 de janeiro de 1959, os trabalhadores cubanos, liderados por Fidel Castro, Che Guevara, Raúl Castro, Camilo Cienfuegos, tomaram o poder, derrubando a ditadura de Batista e derrotando o projeto de dominação dos EUA sobre as Américas. O exemplo da Revolução Cubana se espalhou por todo mundo e deu novas forças à luta popular no continente. México – Iniciada em 20 de novembro de 1910, a Revolução Mexicana foi em defesa do direito dos indígenas e camponeses de acesso à terra. O líder inicial do movimento foi Francisco Madero, que recebeu apoio popular dos líderes revolucionários, como Emiliano Zapata, Pancho Villa e Pascual Orozco. Nesta primeira fase, a Revolução saiu vitoriosa em 1911, com a renúncia do ditador Porfírio Díaz, há 36 anos no poder. Madero assumiu o poder, mas não


fez as reformas esperadas pelo povo e enfrentou a oposição dos revolucionários, liderados por Zapata, Villa e outros. Após a morte de Zapata, em abril de 1919, e de Villa, em 1923, o processo revolucionário chegou ao fim. Nicarágua – Em 1961, nasceu a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que liderou a Revolução Sandinista na Nicarágua contra a ditadura da família Somoza, com ações armadas e políticas. O triunfo da Revolução foi em 1979, com a derrota de Somoza. O objetivo da Revolução foi de promover mudanças profundas na Nicarágua, como a reforma agrária, o fim do analfabetismo e a criação de sistemas públicos de saúde e educação. Bolívia – Camponeses e mineiros bolivianos, em 1952, derrubaram o governo de Hugo Ballivian, representante dos grandes magnatas das minas de estanho no país, no movimento que ficou conhecido como Revolução Boliviana. As primeiras medidas após a vitória dos revolucionários foram a reforma agrária e a nacionalização dos recursos naturais. Guatemala – Em junho de 1944, teve início uma série de ações populares contra o governo do General Ponce Vaides. Em outubro daquele mesmo ano, as ações resultaram na Revolução de Outubro e os revolucionários derrubaram o poder do General Vaides. Uma junta assumiu o governo do país e instituiu direito ao voto a mulheres e a analfabetos. O novo governo teve um caráter nacionalista, que pretendia combater as oligarquias e monopólios estadunidenses.


capa marรงo


calendário março

8 – Dia Internacional da Mulher 19 – Insurreição de Queimado – 166 anos 21 – Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial


Mulheres na luta As mulheres se organizaram pelo fim da opressão de gênero e lutaram lado a lado com os homens em prol da libertação do povo latino-americano. Muitas deram a vida pela classe trabalhadora. Equador - Manuela León, ao lado de Fernanda Daquilema, foi uma das principais dirigentes da revolta de milhares de índios contra a cobrança de dízimos e a exploração de sua força de trabalho. Em 1872, ela foi fuzilada por ordem do presidente Moreno. Nicarágua - Em 14 de janeiro de 1988 morreu a nicaragüense Nora Astorga, integrante da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). As mulheres tiveram um importante papel na derrota da ditadura de Somoza. Em 1987, 67% delas estavam nos comitês de defesa sandinista e 26,8% filiadas à FSLN. Porto Rico - No dia 1º de março de 1954, Lolita Lebron e outros três nacionalistas abriram fogo contra o prédio do Congresso Parlamentar dos EUA para chamar a atenção para a situação colonial de Porto Rico. Antes de atirar, gritaram “Porto Rico Livre”. Como consequência, passaram 25 anos presos. Brasil - Em 08 de março de 2006, mulheres da Via Campesina ocuparam as instalações da multinacional Aracruz Celulose em Barra de Ribeiro/RS para denunciar as conseqüências da monocultura e da exploração predatória dos recursos naturais pela empresa.


Brasil - Em Alagoa Grande/PB, nas terras que foram palco das Ligas Camponesas, foi assassinada, em 12 de agosto de 1983, a mando dos latifundiários, Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Costa Rica - Em 1842, Francisca Carrasco se destacou nas rebeliões contra o governo ditatorial de Francisco Morazán. Conhecida como Pancha, também lutou pela expulsão das tropas estadunidenses da Costa Rica. Em 1994 foi considerada Defensora das Liberdades Pátrias pelo governo costarriquenho. Colômbia - Policarpa Salvarrieta, aos 21 anos, foi fuzilada em 14 de novembro de 1817 pela Coroa Espanhola durante o processo de independência na Nueva Granada. A jovem dedicou a vida à libertação da Colômbia. O dia de sua morte se tornou o Dia da Mulher Colombiana. Rosa Peña, Mercedes Reyes, Carlota Armero e Antonia Santos também foram mortas por lutar pela liberdade de seu país. Rep. Dominicana - As irmãs Mirabal, conhecidas como “Las Mariposas”, lideraram um grupo de oposição à ditadura de Trujillho. Elas foram assassinadas em 25 de novembro de 1960, o que provocou uma reação popular que culminou no assassinato do ditador. A data se tornou o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher. Cuba - Criado em Sierra Maestra em setembro de 1958, o pelotão “Mariana Grajales” foi formado por mulheres guerrilheiras e participou dos combates que levaram à Revolução Cubana. Integraram o movimento Haydée de Santamaria, Celia Sánchez, Melba Hernández e outras.


Capa Abril


Calendário Abril

3 – Paixão de Cristo 13 – Nossa Senhora da Penha 17 – Dia do Massacre de Eldorado de Carajás

19 – Dia de Luta dos Povos Indígenas 21 – Tiradentes


Resistência dos povos indígenas A invasão e domínio dos europeus na América Latina resultaram em um verdadeiro etnocídio dos povos, língua e cultura indígenas que já habitavam o território latino-americano. A resistência desse povo foi marcada por lutas e movimentos, alguns atuantes ainda hoje. Entre eles, destacam-se: Brasil – Ocorrida em 1834, no Pará, a Cabanagem foi uma revolta de negros, índios e mestiços contra a elite política de ascendência portuguesa e diante da situação de extrema pobreza em que os cabanos viviam. O movimento durou cinco anos. México - O Exército Zapatista de Libertação Nacional, inspirado nos exemplos do herói nacional Zapata, defende a reforma agrária e os direitos dos indígenas. O movimento também se opõe às políticas neoliberais e ao Nafta, acordo econômico que submete o país aos interesses estrangeiros. El Salvador - Em 22 de janeiro de 1932, ocorreu a insurreição dos camponeses e indígenas. De inspiração socialista, a insurreição se alastrou pelo oeste do país. Cerca de 25 mil pessoas foram mortas e houve o desaparecimento de povos e línguas da região. Bolívia - Comandados por Tupac Katari, cerca de 40 mil indígenas cercaram La Paz, em 22 de março de 1781. A luta foi pelo fim da escravidão e por um governo eleito pelo povo.


Equador - Em 11 de abril de 1992 foi realizada a Marcha dos Indígenas até Quito. Durante 20 dias, cerca de dois mil indígenas marcharam das selvas de Puyo até a capital. Eles conquistaram os títulos legais de 148 comunidades, garantindo a posse de 1,2 milhão de hectares. Peru - A maior rebelião indígena da América Latina foi em 04 de novembro de 1780. Liderados por José Gabriel Condorcanqui, o Tupac Amaro II, milhares de mestiços, indígenas, escravos e colonos empobrecidos decidiram desobedecer às exigências e tributos da Coroa Espanhola. A repressão foi brutal e, em 18 de maio de 1781, Tupac Amaro II foi morto pelo governo colonial. Bolívia - Pelo fim do domínio colonial, 500 fuzileiros e 20 mil indígenas armados com pedras e estilingues e organizados pelos irmãos Ângulo tomaram a cidade de La Paz, em 24 de setembro de 1814. Dois meses depois, os espanhóis retomaram o controle da região. Guatemala- Em 12 de outubro de 2004, Dia Nacional da Resistência Indígena, cerca de 30 mil índios e camponeses marcharam pelas ruas da cidade da Guatemala exigindo o cumprimento dos acordos de paz e uma política de desenvolvimento rural. Peru - Em junho de 2009, milhares de indígenas foram reprimidos pelo governo Alan Garcia na região de Bagua, norte do país, lutando contra o Tratado de Comércio Livre, que concedia o direito de exploração dos recursos naturais a grandes corporações. Mais de 20 manifestantes foram mortos.


Capa Maio


calendario maio

1 – Dia do Trabalhador 13 – Abolição da Escravidão no Brasil


Resistência dos trabalhadores

Na luta por libertação, os trabalhadores latino-americanos pegaram em armas e se mobilizaram para enfrentar a opressão dos dominadores. Dentre os movimentos e líderes revolucionários que mais se destacam estão: Nicarágua – o nicaraguense Augusto César Sandino foi responsável por comandar uma insurreição popular no país, que resultou na primeira derrota das forças invasoras dos Estados Unidos na América, em 1926. Colômbia - As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), criada em 1964, lutou por um país com terra para os camponeses e justiça para todos. Em 1965, foi criado o Exército de Libertação Nacional da Colômbia, uma organização guerrilheira inspirada no sucesso da Revolução Cubana. Uruguai - O Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, organizado por Raúl Sendic, José Mujica e militantes comunistas, em 1960, lutou contra a desigualdade social no país. O MLN ocupou fábricas, expropriou depósitos de alimentos para distribuição aos pobres, entre outras ações. Brasil - Iniciada em 1912 por caboclos rebeldes nas regiões entre Paraná e Santa Catarina, a Guerra do Contestado foi uma luta por terra, trabalho e contra a desigualdade social. A guerra acabou em 1916 com o massacre de milhares de sertanejos.


Brasil - O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), criado em 1984, é um marco na luta pela reforma agrária. Em março de 1996, cerca de 3 mil famílias acamparam na Fazenda Macaxeira, em Curionópolis/PA, na maior ocupação do MST. Em uma marcha, em abril, as famílias foram brutalmente reprimidas pela polícia de El Dourado dos Carajás, com 19 trabalhadores mortos. O fato ficou conhecido como o Massacre de Eldorado de Carajás e a data se tornou o Dia Nacional pela Reforma Agrária. Peru - A Frente Revolucionária de Ação Socialista, organizada no Peru, lutou pelo estabelecimento de um poder popular e a construção de uma sociedade socialista. Em 1982 a Frente adotou o nome de Movimento Revolucionário Tupac Amaro. Argentina - o argentino Che Guevara foi um dos grandes líderes revolucionários na América Latina e lutou ao lado de Fidel Castro na Revolução Cubana de 1959. Che liderou o Exército de Libertação Nacional (ELN) e sonhava com insurreições em toda a América Latina. Foi morto em 08 de outubro de 1967, após ser rendido na Quebrada de Yuro, na Bolívia. Brasil - A Coluna Prestes, liderada pelo revolucionário comunista Luíz Carlos Prestes, atravessou boa parte do território brasileiro defendendo reformas políticas e sociais no país.


Capa Junho


Calendรกrio Junho


Arte e cultura de resistência

A história de resistência da América Latina também pode ser conhecida pelos seus artistas e intelectuais. Através da música, arte, literatura e cinema, muitos protestaram e enfrentaram a opressão social, política e econômica no continente. Chile - Violeta Parra, nascida em 04 de outubro de 1917, foi compositora, cantora e artista plástica. Violeta dedicou sua vida e arte à valorização da cultura popular chilena e das lutas populares. Cuba - A Casa de Las Américas foi criada em 28 de abril de 1959, em Havana, com o objetivo de desenvolver e ampliar as relações culturais entre os povos latino-americanos. Colômbia - Gabriel García Márquez nasceu em 06 de março de 1927. Foi um ativista político e um dos principais escritores latino-americanos do século XX. Dentre as suas principais obras está “Cem anos de solidão”. México - Frida Kahlo e Diego Rivera foram importantes pintores mexicanos e ativistas do Partido Comunista, a partir dos anos de 1920. Chile - Pablo Neruda nasceu em 1904. Foi importante poeta e militante comunista. Em 1950 publicou Canto Geral, coletâneas de poemas que apresentam forte conteúdo social e político.


Uruguai - Eduardo Galeano é jornalista e escritor, nascido em Montevidéu, em 1940. Autor de inúmeras obras literárias, Galeano aborda principalmente temas políticos no contexto histórico da América Latina. Uma de suas principais obras é o livro “As Veias Abertas da América Latina”. Argentina - Mercedes de Souza nasceu em 1935 na Argentina. Apelidada de La Negra, resgatou canções do folclore argentino e da cultura indígena. La Negra também impulsionou o Movimento do Novo Cancioneiro, de inspiração social e críticas às ditaduras do continente. Argentina - Mafalda, personagem criada pelo argentino Quino, ficou conhecida no mundo inteiro por suas preocupações sociais e políticas. A primeira tirinha de Mafalda apareceu em 1964 na revista Primera Plana. Brasil - Cândido Portinari, um dos maiores pintores do Brasil, nasceu em 1903, em São Paulo. Suas obras retratam a pobreza e o mundo do trabalho em cores fortes. Foi um militante do PCB e participou da elite intelectual brasileira. Chile - Victor Rara, músico e ativista político, foi preso em 1973 no Estádio Chile junto com outros professores e estudantes. Membro do Partido Comunista Chileno, foi assassinado no dia seguinte após ser barbaramente torturado. Suas músicas de cunho social são hinos de resistência às ditaduras latino-americanas.


capa julho


calendรกrio julho


Revoltas Populares O Brasil viveu séculos de dominação colonial e, mesmo após a independência, a elite branca de origem colonial continuou no poder. Diante da situação de opressão econômica, social e política, o povo brasileiro promoveu várias revoltas, dentre elas: Revolta do Vintém – Ocorreu em 04 de janeiro de 1880, no Rio de Janeiro. O movimento durou quatro dias e foi o primeiro protesto por transporte público no Brasil. Cerca de 4 mil pessoas ocuparam as ruas, ergueram barricadas e incendiaram bondes para protestar contra o reajuste das passagens. Três manifestantes morreram e centenas ficaram feridos. Após a manifestação, o reajuste foi cancelado. Revolta do Caldeirão – Foi um movimento dos camponeses, nos anos de 1930, no Ceará. Eles estavam desesperados pela miséria e pela seca, situação agravada pela crise mundial de 1929. A revolta foi brutalmente reprimida em 14 de janeiro de 1938 e estima-se que 400 pessoas foram mortas e que crianças foram raptadas e entregues como domésticas a famílias ricas da Bahia.


Revolta dos Canudos – Ocorreu de 1896 a 1897 e foi um forte movimento da população que vivia em situação precária, sem terra e explorada por coronéis, no interior da Bahia. Os sertanejos, liderados por Antônio Conselheiro, fundaram o vilarejo de Canudos. O governo instituiu várias empreitadas militares contra Canudos, mas foram derrotadas. Em 05 de outubro de 1897, doze mil soldados do Exército invadiram Canudos e massacraram a comunidade matando cerca de 25 mil pessoas, entre elas crianças e idosos. Revolta Balaiada - Iniciada em 1839, no Maranhão, foi um movimento de escravos aquilombados, caboclos e pobres livres mestiços contra os privilégios econômicos da elite dominante da época. A Balaiada foi duramente reprimida por tropas comandadas por Duque de Caxias, em 1841. Revolução Praieira - Iniciada em 1848, em Recife, a Revolução se espalhou por toda a província de Pernambuco até a Paraíba. Os revoltosos lançaram um manifesto exigindo voto universal e trabalho como garantia de vida. Após a tentativa de tomar Recife, os revolucionários resistiram nas matas até 1850. Revolta da Chibata – Ocorreu em 1910 na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Militares da Marinha se rebelaram contra as violências cometidas contra os marinheiros rasos. O líder mais conhecido foi o marinheiro João Cândido, imortalizado como Almirante Negro.


Capa Agosto



A força dos estudantes Ao longo da história de resistência, os estudantes também foram importantes e ativos atores, liderando grandes manifestações. Dentre elas, algumas marcaram a história pela violenta repressão dos governos e pela força do movimento. Equador - Massacre contra estudantes secundaristas de Guayaquino, em 02 de junho de 1956. O protesto contra o governo conservador de Camilo Ponce terminou no massacre de cerca de dois mil estudantes, que foram enterrados em valas comuns. México – O Massacre de Tlatelolco ocorreu dez dias antes do início dos Jogos Olímpicos, no México, em 02 de outubro de 1968. Cerca de cinco mil estudantes protestaram na capital contra o governo e a ocupação militar da Universidade Nacional Autônoma. Mais de 300 estudantes foram mortos. Brasil – As Jornadas de Junho no Brasil foram uma onda de protestos

que cresceu em junho de 2013 nas principais capitais do país. As manifestações mobilizaram, inicialmente, estudantes contra o aumento das


tarifas do transporte público. O movimento cresceu e milhares de pessoas ocuparam as ruas. O movimento conquistou a redução das tarifas de ônibus e no Espírito Santo houve ainda o fim do pedágio na Terceira Ponte. Em 11 de julho, as centrais sindicais e setores organizados da classe trabalhadora promoveram uma grande greve geral. México – Em dezembro de 2011, dois estudantes mexicanos foram

assassinados pela polícia na estrada que leva à cidade de Acapulco. Os estudantes bloqueavam o caminho exigindo uma série de melhoria na qualidade do ensino e dos recursos destinados aos estudantes. México – Na noite do dia 26 de setembro de 2014, policiais da cidade de Iguala, a mando do prefeito José Luis Abarca, metralharam o ônibus em que estavam 43 estudantes, que logo após o fato foram dados como desaparecidos. Indignadas com a falta de reposta do governo diante do caso, milhares de pessoas ocuparam as ruas em várias cidades do México, em uma onda de manifestações que tomou conta do país. Os 43 estudantes estavam a caminho da marcha do dia 02 de outubro, em memória do massacre de Tlatelolco, em 1968, e dos estudantes assassinados em 2011. Até início de dezembro de 2014, os estudantes continuavam desaparecidos e não havia resposta do governo sobre o caso. Panamá - Em 09 de janeiro de 1964, estudantes tentaram levantar

a bandeira panamenha na Zona do Canal, território que foi cedido aos Estados Unidos. Centenas de pessoas foram mortas pela repressão. A data ficou conhecida como Dia dos Mártires, importante episódio de defesa da soberania do Panamá frente à presença militar dos EUA.


Capa Setembro



Greves dos trabalhadores As greves também foram importantes instrumentos na conquista de direitos dos trabalhadores. Em toda a América Latina, em diferentes momentos, os trabalhadores pararam as atividades e foram às ruas por melhores condições de trabalho e respeito. Dentre os principais movimentos grevistas destacam-se: Brasil - Greve dos operários paulistas da Fábrica Ford de São Bernardo do Campo/SP, em 22 de junho de 1990. Os grevistas ocuparam a fábrica e reivindicavam o cancelamento das 100 demissões de ferramenteiros que participaram dias antes da “greve das golas vermelhas”.


Peru - Greve geral no Peru, no dia 11 de julho de 2007, por melhores salários e contra o governo neoliberal de Alan Garcia e a corrupção. O movimento grevista teve início no dia 05 de julho, quando, em várias regiões do país, trabalhadores rurais marcharam reivindicando reforma agrária e subsídios para a compra de adubos. México - Greve de mais de sete mil operários, em 1907, da fábrica têxtil de Río Blanco, em Veracruz, no México. O movimento grevista foi pela redução da carga horária de trabalho de 13 horas e por melhores condições de trabalho. Brasil – A primeira greve geral no Brasil foi em 21 de julho de 1983, ainda no período da Ditadura Militar. O movimento teve a adesão de cerca de dois milhões de trabalhadores. Panamá - O Canal de Panamá, inaugurado em 1914, foi construído ao longo de dez anos e nesse período mais de cem greves e paralisações foram realizadas pelos trabalhadores panamenhos. Os movimentos foram violentamente reprimidos pelos EUA. Em 1977, após vários protestos, foi acordada com os EUA a transferência da soberania do canal para o Panamá em 1999.



calendรกrio outubro


Combate ao Imperialismo

Depois de vencer o colonialismo, a luta contra o imperialismo passou a fazer parte da resistência dos povos latino-americanos, de norte a sul do continente. Nicarágua - Em 1926, os EUA invadiram a Nicarágua para instalar no país uma Guarda Nacional. O revolucionário Augusto Sandino se propôs a criar um exército popular para combater os invasores, influenciado pelas ideias da Revolução Mexicana de valorização da herança indígena no continente. Paraguai - Na década de 1860, enquanto Brasil e Argentina importavam até pregos da Europa, o Paraguai estava em pleno desenvolvimento independente do capitalismo inglês e era um “péssimo exemplo” para as demais nações latino-americanas. Por isso, em 1864, foi atacado por Brasil, Argentina e Uruguai a serviço dos interesses da Inglaterra. Os três países assinaram o Tratado da Tríplice Aliança. Foi montada a farsa de que o Paraguai era uma ditadura ameaçadora. A Guerra do Paraguai pôs fim a uma série de reformas sociais em curso no país, como o combate ao analfabetismo, a reforma agrária e a independência econômica e política. Foram seis anos de conflito.


Cuba - Depois de 12 anos de ocupação, em 1903 os EUA instalaram uma base militar em Guantânamo após um contrato de arrendamento perpétuo. A base se tornou uma terrível prisão com constantes violações de direitos humanos. Porto Rico - Em 30 de outubro de 1950 ocorreu a Revolução Nacionalista de Porto Rico, que defendia a soberania da ilha frente aos EUA. O Partido Nacionalista organizou o levante em diversas cidades. Alguns manifestantes foram mortos e outros detidos e condenados. Na cidade de Jayuya, os nacionalistas proclamaram a “República de Porto Rico”. Três dias depois, a Guarda Nacional dos EUA atacou a cidade com bombardeios aéreos e pesada artilharia. Brasil - Durante a Semana da Pátria, em 2002, ocorreu o grande plebiscito popular pelo “Não à Alca”. Foram 41.758 urnas e 10.149.542 votos, dos quais 98,5% contra a Alca. O plebiscito foi resultado de uma forte mobilização popular. Costa Rica - No dia 12 outubro de 2004, ocorreram as Jornadas de Luta e Resistência dos povos da América Latina contra o neoliberalismo, o FMI e as privatizações. Mais de 30 mil costarriquenhos saíram às ruas para protestar contra a impunidade, a corrupção e o Tratado de Livre Comércio com os EUA.


Capa Novembro



Resistência negra A resistência do povo negro à escravidão e a luta pela igualdade marcou a história da formação brasileira e dos demais países do continente. Brasil - Em 1835, ocorreu a maior revolta urbana de escravos do Brasil, a Revolta dos Malês. Cativos e libertos ligados pela fé islâmica tomaram parte de Salvador/BA e entraram em confronto com as tropas oficiais. Dezenas morreram em combate, outros foram condenados à morte, ao degredo e a castigos físicos. Haiti - Em 1791, inspirados pela Revolução Francesa, escravos de Saint Domingue (Haiti) iniciaram rebeliões que se estenderam por mais de uma década até conquistar, em 1804, a independência do país. Um dos comandantes do movimento foi Toussaint Louverture, autodidata e filho de escravos domésticos. Em 1804, o exército popular venceu o poderoso exército de Napoleão. O Haiti foi o primeiro país a se tornar livre na América latina após corajosas rebeliões de escravos.


Barbados - A Insurreição de Bussa, na Ilha de Barbados, em 1846, foi considerada a primeira rebelião escrava de grandes proporções no Caribe, envolveu quase mil revoltados, dos quais 140 foram executados e 123 deportados. A revolta foi assim chamada por causa de seu líder Bussa, africano livre capturado por traficantes de escravos e levado para trabalho forçado na América. Guadalupe - Em 28 de maio de 1802 terminou a maior rebelião de negros contra a tentativa da França de restabelecer a escravidão na ilha de Guadalupe. Louis Delgrés e mais 300 companheiros se suicidaram em Matouba para não se entregarem às tropas napoleônicas. Eles morreram pelo lema “Viva livre ou morra”. Jamaica - Após várias insurreições de negros jamaicanos, em 1833 foi abolida a escravidão no país. Em 1865 aconteceu a Rebelião de Morant Bay, que exigiu respeito e melhores condições de vida aos escravos libertos. Liderado por Paul Bogle, um grupo marchou até a sede do governo em protesto contra a prisão ilegal de dois negros. A repressão foi violenta: cerca de 440 pessoas foram executadas e 600 condenadas a castigos físicos. Cuba - Em 1868, o fazendeiro Manoel de Céspedes liberou seus escravos e forneceu armas para lutarem contra o domínio espanhol. Comandando cerca de 200 homens ele proclamou a independência da ilha, iniciando a Guerra dos Dez Anos. Os principais objetivos foram independência e a abolição da escravidão. O movimento foi derrotado, mas serviu de inspiração a outras lutas por emancipação.


Capa Dezembro



Governos populares Nas últimas duas décadas, a América Latina tem sido palco de ascensão de governos populares que colocam o continente como importante foco de resistência ao imperialismo às políticas neoliberais. Entre as experiências que se destacam estão os governos de Rafael Correa, no Equador, de Evo Morales, na Bolívia, de Rafael Mujica, no Uruguai, e de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na Venezuela. Apresentamos a seguir a experiência Venezuelana: A Venezuela passou por importantes mudanças desde a eleição de Hugo Chávez à presidência, em 1998. Uma de suas primeiras medidas foi a convocação de uma nova Assembleia Constituinte, aprovada por 70% dos venezuelanos em referendo popular, que estabeleceu uma nova ordem constitucional no país. O setor petroleiro, de grande importância na economia, sofreu intervenção a fim de descentralizar a riqueza gerada pelo petróleo. O governo ampliou o controle público sobre o petróleo e criou um Fundo para o Desenvolvimento Econômico e Social do País (FONDESPA), diretamente ligado ao dinheiro da estatal PDVSA (Petróleos da Venezuela), para potencializar sua política social, fazendo com que os recursos do petróleo fossem destinados à população. O governo de Cháves também regulamentou a Reforma Agrária,


distribuindo até 2012 mais de 6,4 milhões de hectares de terra entre 168 mil famílias. As medidas foram seguidas por políticas de financiamento e incentivo à produção agrícola, que envolveram bancos públicos e privados. O volume de produção cresceu 44% desde o início do governo até 2010. Além disso, a partir da renda do petróleo, foram criados programas de alimentação escolar e de distribuição subsidiada de alimentos nas cidades, abastecidos pela reforma agrária. As políticas sociais tiveram resultado direto na diminuição da pobreza. Segundo dados da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), entre 2002 e 2011 o percentual da população em situação de pobreza caiu de 48,6% para 29,5%; e o de indigentes de 22,2% para 11,7%. Desde 2005, a Venezuela é reconhecida pela Unesco como um Território Livre do Analfabetismo, resultado obtido por meio do Plano Nacional de Alfabetização, que adotou em 2003 o método cubano “Yo, si puedo”, envolvendo mais de 125 mil voluntários venezuelanos no combate ao analfabetismo. Após a morte de Hugo Cháves, em 2013, Nicolás Maduro, que era ministro do governo, ganha as eleições presidenciais e assume o desafio de dar continuidade ao projeto de luta anti-imperialista e à integração latino-americana.



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