Sustentabilidade pelo olhar Artesão - Livro - Sebrae

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Sustentabilidade pelo olhar ArtesĂŁo



Índice Empreender de Forma Sustentável

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Produção Artesanal Sustentável

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Apresentação 9 Conexões Sustentáveis

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REPENSAR 13 REPARAR 25 REDUZIR 43 REUTILIZAR 51 RECICLAR 69 Agradecimento 73 Expediente 74 Referências Bibliográficas

Cooperafis Cooperativa de Fibras do Sertão. Detalhe carteira em trançado de fibras de sisal. Município de Valente.

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Empreender de Forma Sustentável Ser sustentável não deve ser encarado como uma opção. Mais do que nunca, tornou-se uma necessidade. Vivemos a era em que o consumo consciente se impõe, num momento em que os empreendedores entendem que eles não vendem apenas produtos ou serviços, mas existem em favor de um propósito maior. Essa é uma resposta da sociedade na tentativa de barrar os impactos negativos do consumo que extrapola as reais necessidades das pessoas. É uma resposta no sentido de expor a preocupação com os impactos socioambientais. Muitos consumidores, hoje, tendem a adquirir produtos e serviços de empresas socialmente responsáveis, que não agridem o meio ambiente e que entendam seu compromisso com o entorno no qual estão inseridos. O artesanato baiano também se apresenta sob a ótica desse contexto. O que temos nesse ofício é a tradição das atividades manuais, muitas delas seculares, transmitidas de geração em geração. O artesanato pode mudar realidades de comunidades inteiras.

Artesã | Célia Amorim Detalhe de tecelagem em fios de algodão natural. Município de Porto Seguro.

Em alguns casos, a matéria-prima é encontrada no processo de reutilização de produtos que seriam destinados ao descarte. Por meio

Jorge Khoury

Diretor Superintendente do Sebrae Bahia

dessa atitude, os artesãos, além de imprimirem em seus trabalhos valores culturais e sociais característicos de nossas raízes, agregam diferencial à sua produção. Essa atividade empreendedora, há mais de uma década, estimula e motiva o Sebrae para o investimento em capacitações técnicas preparatórias de gestão, design e mercado. Dessa forma, buscamos contribuir para que a produção artesanal na Bahia possa ampliar a sua presença em outros estados e até fora do Brasil. Ao longo desses anos, observamos o desenvolvimento do artesanato baiano sob os mais diversos aspectos. Os conceitos de sustentabilidade aplicados às diferentes tipologias dialogam com o momento pelo qual passamos. Do ponto de vista mercadológico, é um diferencial, mas, sobretudo, é também uma resposta a todo o processo do ser empreendedor, conjugando resultados econômicos, culturais, sociais e ambientais. Para além das questões comerciais, os artesãos fortalecem a nossa identidade cultural, produzindo com tradição e empreendendo com inovação.

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Produção Artesanal Sustentável A sustentabilidade é um dos princípios que norteiam todas as ações do Sistema Faeb/Senar no campo. É um tema transversal em nossos cursos de Formação Profissional Rural (FPR), Texto FAEB/Senar na assistência técnica e gerencial oferecida aos produtores rurais e nos programas sociais. E essa parceria com o Sebrae Bahia é mais uma atitude reafirmando nosso comprometimento sustentável. O programa “Bahia Original” é um exemplo de fortalecimento do nosso artesanato regional, através de capacitações por meio de

consultorias em diversas áreas, que alavancam o empreendedorismo e profissionalizam, principalmente, os pequenos negócios. Todo o processo é discutido: gestão, design, acesso ao mercado e atuação nos meios digitais. Essas ações viabilizam e possibilitam que os núcleos produtivos se posicionem melhor em um mercado cada vez mais competitivo. O resultado disso tudo é uma Bahia mais fortalecida em vários setores econômicos, gerando emprego e renda em todo o estado.

Humberto Miranda Oliveira Presidente do Sistema FAEB/SENAR

Associação de Artesãos de Santa Brígida Cestos em fibra de palmeira do licuri trançado, costurado e tingido com corantes naturais da Caatinga. Localidade de Morada Velha, município de Santa Brígida. 7


Apresentação O artesanato com foco na sustentabilidade é uma modalidade que tem como estratégia a preservação do meio ambiente por meio do manejo sustentável dos recursos naturais, de forma que respeite e mantenha viva a continuidade da matéria-prima oferecida pela natureza e pelos biomas de cada região da Bahia. O olhar interpretativo e criativo dos habilidosos artesãos também prospectaram novas possibilidades de atuação. A reciclagem e o reaproveitamento de insumos que normalmente são descartados como “lixo” pela sociedade, passam a ter um novo significado. A produção artesanal abre caminho para um novo ciclo de vida e o profissional amplia as chances de reconhecimento do público e o alcance de suas produções. Reconhecer o artesanato é valorizar a identidade cultural de um povo e manter viva sua essência e história. É contribuir com a redução dos impactos sociais, culturais e ambientais de uma nação. A produção atual do artesanato segue critérios de curadoria que cataloga e avalia as matérias-primas empregadas e as mais diversas técnicas aplicadas. Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia e Associação Comunitária do Jatimane, ACJ

Produto ambientalmente responsável, economicamente inclusivo e socialmente justo, são indicativos de negócios que focam

Sousplat, descansador de panela e portacopos em palha de piaçava. Localidade de Lagoa Santa e Jatimane. Município de Ituberá.

Tatiana Martins

Coordenadora de Artesanato – SEBRAE/Bahia

na redução dos impactos ambientais. Propor produtos que possam conciliar baixo impacto ambiental com alto impacto sensorial, é ampliar a possibilidade de transformar produtos com alto valor agregado. Nessa coletânea, “Sustentabilidade pelo Olhar do Artesão” - A Bahia é recriada através dos olhares e fazeres ambientalmente conscientes. O foco foi as interpretações que utilizam os recursos da biodiversidade da região, assim como o reaproveitamento de insumos que seriam descartados como lixo e que passaram a ser integrados como parte do processo produtivo, ou como matéria-prima principal das coleções artesanais. Essa publicação propõe despertar e incentivar as manifestações artesanais diante das questões ambientais contemporâneas. Nesse aspecto, o design tem contribuído positivamente na comunicação do artesanato e o eixo sustentável, de forma que o respeito das técnicas e tradições dos “saberes” simbólicos sejam mantidos. No contrafluxo dos exageros, a inspiração das histórias de vida, experiências de gerações e “olhares” sensíveis de observação do artista, traduzem a essência que o “menos” de fato pode ser muito mais.

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Conexões Sustentáveis Nossa inspiração nos negócios de impacto social é a inquietude do artesão, a criatividade latente que vê possibilidades de novos recomeços. Queremos incentivar a capacidade do fazer artesanal, da produção em pequena escala, do produto com identidade cultural e do reaproveitamento de insumos que eram classificados como “sem importância”. Onde tudo o que deveria ser descartado é reaproveitado, onde materiais são projetados para uma nova significância, uma nova cadeia de valor, onde a transformação é possível e abre caminhos para novas possibilidades. O uso sustentável de recursos naturais torna o artesanato da Bahia ainda mais admirado. Inovar pode significar propor alternativas mais criativas, conscientes e menos agressivas ao nosso planeta. A integração da sustentabilidade ao artesanato, a cada dia ganha mais adeptos, como uma alternativa de incremento do produto artesanal ou durante as etapas do seu processo produtivo. À medida que o acesso à informação se torna uma realidade mais constante, o resultado também passa a ser mais apreciado pelo consumidor consciente, que valoriza a identidade cultural, a qualidade produtiva e a preservação do ecossistema. O artesanato criado a partir do lixo é uma iniciativa que pode economizar, pois substitui objetos que seriam comprados e auxilia na diminuição dos detritos jogados no meio ambiente.

O talento dos artesãos associado à inspiração da identidade cultural e o design, como ferramenta de inovação, ampliam a possibilidade de conexões e novas descobertas. O fazer artesanal, além do seu compromisso com a identidade cultural, também contribui para o desenvolvimento sustentável do setor, colaborando para a integração regional e as preservações da cultura local e do meio ambiente, influenciando e incentivando iniciativas de aproveitamento de matéria-prima desprezada, reutilização de materiais usados, para pensar novos produtos e componentes mais inovadores. Com a proposta de uma “revolução artesanal”, resultou em uma coletânea de produtos inspiradores, que focam na redução do impacto ambiental, avaliam as condições naturais e históricas de desenvolvimento das técnicas artesanais e medidas de preservação e sustentação ambiental dos recursos naturais oferecidos, assim como o uso de materiais renováveis, com novas perspectivas de atuação na cadeia produtiva. É o “olhar” de uma nova trajetória, repleta de valores, principalmente da conscientização de que o futuro depende da qualidade de nossas escolhas.

Associação de Artesãos de Santa Brígida Detalhe do cesto em fibra de palmeira do licuri trançado, costurado e tingido com corantes naturais da Caatinga. Localidade de Morada Velha, no município de Santa Brígida.

Andreia Caetano Designer

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As demandas da sociedade contemporânea viabilizaram um sistema que incentivava a produção em “massa” e o consumo contínuo, que resultaram no excesso de produtos, resíduos e poluição. Estes foram devastadores para o meio ambiente, assim como restritivos para as técnicas mais tradicionais.

REPENSAR

Associação União de Mulheres do Monte Alegre, AUMMA Detalhe da manta de fios de algodão. Tecelagem manual em tear de pedal. Município de Jeremoabo.

É notório analisar que nossas atuais maneiras de viver estão se tornando insustentáveis. É preciso repensar as escolhas e adotar valores que sejam mais pertinentes com o coletivo e com a preservação dos bens socioambientais de preservação do planeta. Para minimizar os impactos ambientais, a proposta é repensar o ciclo completo de vida dos produtos que consumimos e evitar o desperdício do seu início ao fim. É importante avaliar a origem de cada peça. O lixo, material descartado e desprezado, que causa inúmeros problemas socioambientais, de forma criativa e inspiradora, pode servir de inspiração e insumo na cadeia produtiva artesanal. É o compromisso em minimizar os impactos negativos ao longo de todos esses anos e garantir uma melhor sobrevivência para as gerações futuras.


Artesã | Rita Serrão Bloco de notas em aproveitamento de material e metal. Município de Salvador.

“A minha iniciativa com o reaproveitamento começou há 12 anos, a partir da minha observação com o excesso de lixo. Desde então, comecei a “garimpar” coisas que para a maioria seria sucata, não tinha valor, mas que eram interessantes para mim... Chaves, relógios antigos, latas, tampinhas de garrafas, lacres e uma infinidade de itens. Aos poucos, fui criando produtos a partir de todo esse material, inclusive com temáticas religiosas. Cada dia que passava, meu olhar ia ficando mais apurado, tinha novas ideias, as pessoas gostavam e ficavam interessadas pelos meus produtos. Eu sei que o meu trabalho é uma pequena parcela de contribuição para ajudar a salvar o planeta, mas serve de exemplo para que mais pessoas se mobilizem sobre o excesso de lixo.” Rita Serrão Artesã Sustentabilidade pelo olhar Artesão

Artesã | Karla Issa Colares em aproveitamento de metal e montagem. Município de Salvador. 15


Artesã | Anail Santos Móbilie divino em tecido de algodão e montagem com sementes e madeira. Município de Salvador.

Artesã | Maria da Ajuda Alves Pinho Luminária em aproveitamento de papel. Município de Salvador.

Artesã | Noemia Santos Gomez Orixás em aproveitamento de papel. Município de Salvador.

“Sou artesã autodidata e sempre preocupada com o meio ambiente e a reutilização de materiais. Comecei a desenvolver um trabalho a partir de uma ideia dada por uma criança, daí desenvolvi as técnicas que viabilizaram a confecção de cada peça. Não posso deixar de salientar que o Sebrae me ajudou muito através de consultorias de capacitação e oportunidades de apresentar meu produto ao mercado.” Noêmia Santos Gomez Artesã

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“Eunice José Costa, artesã, costureira com formação em Designer de Moda. Tenho como referência em minha produção a cultura afro no campo da moda. Ao utilizar esses elementos, faço uma relação entre arte, moda e identidade. E, assim, surge a ideia de reaproveitar retalhos de tecidos africanos, fazendo um link com as palhas da arte indígena, colorindo cestos, susplast e bolsas, ressignificando e reverenciando os ancestrais. O aprendizado de novas técnicas agregou valor ao produto e o escoamento da produção, através do SEBRAE, foi de extrema importância.” Eunice José Costa

Artesã | Eunice José Costa Customização de retalhos de tecido em cestos de cipó. Município de Salvador.

“Um certo dia, ao terminar uma análise de medidas no campo, fui convidado a conhecer uma árvore, conhecida por Angico Amarelo. Esta era bastante alta, tronco com casca verde e o destaque era uns pitombos (espinhos com base redonda e um pontinho pontiagudo). Em época de florada, as flores são amarelas e parecem um guarda-chuva, o fruto é parecido com ingá. O mais curioso e que inspirou meu trabalho, são os galhos secos caídos ao redor dela, parece uma proteção e ainda funciona como um abrigo para os pássaros que a rodeiam. Uso a madeira dos galhos caídos, que ficam ao seu redor, para representar, de forma simbólica, os pássaros.”

Artesão | Antonio Neves Pássaros em reaproveitamento de madeira e montagem. Município de Salvador.

Antônio Neves Artesão 18

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O bordado do Crivo Rústico, encontrado na região de Rio de Contas, é uma técnica tradicional ancestral da época do Brasil Colônia, trazida pelas mulheres dos colonos, que compreende a retirada de fios do tecido, executando uma mistura de desfiado e bordado “aberto” utilizando as próprias linhas descartadas. Tradicionalmente é aplicado em tecido de algodão cru ou alvejado, popularmente conhecido como pano de saco ou sacaria, no qual remete ao contexto histórico, nos sacos de linha utilizados para o transporte de alimentos que eram utilizados como vestuário.

Cooperativa Mista de Artesãos de Rio de Contas, COOPERART Detalhe da toalha de mesa em Crivo Rústico em tecido de algodão. Município de Rio de Contas.

Cooperativa Mista de Artesãos de Rio de Contas, COOPERART Lugar americano e capa de almofada em Crivo Rústico em tecido de algodão. Município de Rio de Contas.

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Associação de Auxílio Mútuo dos Oleiros de Maragogipinho Talha em cerâmica decorada em tauá e tabatinga. Município de Aratuípe.

Associação de Auxílio Mútuo dos Oleiros de Maragogipinho Bilhas em cerâmica decorada em tauá e tabatinga. Município de Aratuípe.

Maragogipinho Com influência indígena, o grafismo na cerâmica de Maragogipinho reflete e se remete ao passado, na forma e, principalmente, nos elementos da natureza utilizados na pintura das peças, por meio de pigmentos naturais, como o tauá, a argila fina de coloração avermelhada e o pigmento de origem mineral, utilizado como tinta na pintura das peças de cerâmica. E a tabatinga, também de origem mineral, é uma espécie de “nata” extraída da argila de cor branca, como pigmento de pintura decorativa das peças artesanais. Muitos dos artefatos se mantêm na sua tonalidade natural ou, ainda, passam pelo brunimento, processo de polimento e impregnação do pigmento, dando brilho à peça antes da sua queima.

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REPARAR

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Associação Mãe Arte D’ Arte do Salgado, AMADAS Pratos, moringas e panelas. Cerâmica modelada à mão. Detalhes decorados em tabatinga. Município de Andorinha.

Analisar o impacto positivo do produto para o ambiente. Avaliar o manejo das matérias-primas naturais, os recursos da biodiversidade e se elas estão de acordo com as normas de preservação. Manter o ciclo de vida ativo desses recursos naturais e, ainda, propor soluções que indiretamente beneficiem o bioma da região. O artesanato e o meio ambiente precisam conviver de forma harmônica, visto que grande parte da matéria-prima utilizada na produção utiliza recursos de origens vegetal, mineral e animal. Atualmente, os artesãos que integram o projeto “Bahia Original” são mensageiros e preservacionistas do meio ambiente. Adotam estratégias, inclusive de educação ambiental nos seus ciclos produtivos, de forma a manter o manejo sustentável desses recursos naturais, retirada de fibras sem prejudicar as plantas, reduzir resíduos em processos de tingimento, optando por versões com corantes vegetais, reduzindo os impactos ambientais e a contaminação química. Por outro lado, os relatos dos artesãos também abordam sobre a dificuldade de acesso aos insumos naturais, por conta das grandes áreas que acabam sendo desmatadas para dar lugar às pastagens, às áreas de cultivo e a existência de pessoas que fazem parte da cadeia de extração das fibras, mas que, no entanto, não são cadastrados em associações ou grupos organizados, consequentemente, não são instruídos com a educação ambiental. Alinhar o manejo sustentável, prática que foca na sustentabilidade socioeconômica e ambiental de áreas de nativas ou reflorestadas, com o setor artesanal, é possibilitar a sobrevivência de comunidades tradicionais que dependem dos recursos naturais para manter a sua atividade. Por essa razão, é imprescindível o uso racional e controlado dos recursos renováveis, de forma que os patrimônios ambientais e culturais identitários sejam preservados.


“Na nossa região, os principais materiais que utilizamos é o tronco da palmeira de pupunha, que por muitos anos foi considerado lixo. O mesmo para as cascas de coco, que eram descartadas na natureza e nas ruas da cidade, acumulando como se não servisse para nada. Por conta do trabalho da nossa associação, em reaproveitar esse material e desenvolver artesanato, hoje as pessoas se conscientizaram do potencial dessa matéria-prima, alguns fazem doação, mas a grande maioria já comercializa esse resíduo. O mesmo acontece para os ossos, que fazem o complemento de toda nossa produção artesanal, na confecção de colheres, conchas, pás, talheres e outros.” Rony Santana dos Anjos Associação de São João da Panelinha

Associação dos Artesãos do São João da Panelinha Talheres em reaproveitamento de osso e madeira da palmeira pupunha. Município de Camacã.

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Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia Colares em aproveitamento de madeira, coco e fibra da piaçava. Localidade de Lagoa Santa, município de Ituberá.

Artesã | Geiza Jesus dos Santos Colares em coco de piaçava e reaproveitamento de madeira. Município de Ituberá.

Artesão | Dionísio Chile de Souza Acessórios com aproveitamento de madeira, osso, coco, semente e montagem. Itaporanga, município de Porto Seguro.

“Há 18 anos venho reaproveitando as matérias-primas nativas da minha região, que são os insumos principais para a fabricação do meu artesanato. Ao longo da minha história e por meio de capacitações, reconheci a importância de respeitar o meio ambiente e há 16 anos contribuo com a natureza, fazendo o plantio de 26 espécies de palmeiras e algumas 28

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árvores que produzem sementes para minhas biojoias. Fico muito satisfeito pelo trabalho que venho fazendo, ganhando meu sustento e, ao mesmo tempo, contribuindo com a natureza.” Dionísio Chile de Souza Artesão

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Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia Porta-travessas em fibra da piaçava e alças em coco da piaçava.

Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia Porta-vinho e cesto em fibra da piaçava. Localidade de Lagoa Santa, município de Ituberá.

“Tenho uma riqueza que é morar num quilombo rodeado de Mata Atlântica. Então, pra mim, a sustentabilidade é superimportante para meu trabalho de biojoias. Hoje trabalho com madeira de reaproveitamento, onde muitas vezes o que se pensa que não vale nada, pode se tornar uma ‘joia preciosa’. Então, sou muito feliz por poder ajudar minha comunidade a ser sustentável.” Jéssica Oliveira do Rosário Comunidade Quilombola em Jatimane

Associação Comunitária do Jatimane, ACJ Luminárias em fibra de piaçava. Localidade de Jatimane. Município de Ituberá

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ABPAGI Bolsa, porta-treco e portatemperos em trançado costurado de piaçava. Município de Ituberá. ABPAGI Mandala em trançado costurado de piaçava. Município de Ituberá.

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Associação de Artesãos de Santa Brígida Cestos em fibra de palmeira do licuri trançado, costurado e tingido com corantes naturais da Caatinga. Pássaros entalhados em madeira de umburana reaproveitada. Localidade de Morada Velha, município de Santa Brígida.

O trançado e a cestaria têm origem indígena e são encontrados em diversos municípios baianos. Cada região tem o reconhecimento da sua identidade por meio da matéria-prima relacionada aos seus biomas e técnica explorada pelo fazer artesanal que atravessa gerações, seja como peças decorativas e utilitárias, atuais e tradicionais, que serviram como instrumento de sobrevivência no trabalho rural da pesca ou lavoura. Fibras como o sisal, caroá, ouricuri ou licuri, piaçava, junco, cipó, milho, banana, taboa 34

e tantos outros, permanecem atuais nas habilidosas mãos dos artesãos. Para esse segmento, a questão ambiental se torna imprescindível. Ações educativas são de extrema importância, de maneira que as fibras não sejam ameaçadas de extinção. Conscientização e informação do manejo sustentável em toda a cadeia produtiva, visando manter o equilíbrio ambiental e a preservação desses recursos naturais para as gerações futuras.

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Associação de Artesãos de Santa Brígida Pássaro entalhado em madeira de umburana e tronco de madeira reaproveitada. Localidade de Morada Velha, município de Santa Brígida.

A Associação de Artesãos de Santa Brígida, por meio do núcleo da fazenda Morada Velha, associou e reuniu os saberes do trançado aos do entalhe em madeira, utilizando madeira descartada na região, promovendo uma produção organizada, com objetivo de impactar positivamente a vida de seus integrantes, desenvolvendo produtos de alto valor agregado, imersos nos conceitos da sustentabilidade, reaproveitamento de insumos, manejo sustentável e tingimento das fibras por meio de corantes naturais. Essa experiência também engajou os artesãos como agentes de preservação ambiental na conservação das palmeiras de licuri e das árvores de umburana. Os artesãos de Santa Brígida, Jeremoabo e Serra Branca, em parceria com projetos e programas de preservação ambiental, mesclaram os saberes populares e eruditos, e adotaram a arara-azul-de-lear, que se alimenta dos coquinhos da palmeira do licuri, espécie em perigo de extinção, por conta do desmatamento e pecuária, habitada no sertão baiano, na região do Raso da Catarina, como ícone de preservação. No mesmo viés de alerta para a preservação dos recursos naturais, os pássaros típicos da região também serviram de inspiração e foram entalhados em madeiras de umburana reaproveitada.

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Copartt, Cooperativa do Trançado Tupinambá Cestos em fibra de piaçava tingida e natural com cordão de algodão. Município de Entre Rios. Copartt, Cooperativa do Trançado Tupinambá Carteira, bolsa, colares e pulseiras em fibra de piaçava tingida e natural, com cordão de algodão em macramê. Município de Entre Rios.

“A história do nosso trabalho é o trançado tupinambá, trama de 17 pares de origem indígena que é preservada e atravessa gerações entre mães e filhas. Na comunidade, temos muito orgulho de manter nossa tradição, assim como preservar a origem do nosso sustento, que é passado a cada nova geração. Retirar a palha (olho) de maneira que o próximo broto já vai surgindo. Se fizer errado, vamos ficar seis meses sem palha daquela palmeira. O mesmo acontece com a fibra do licuri, que usamos como ‘linha’. 36

Além disso, eu tenho um projeto trançado tupinambá nas escolas. Passar para as crianças esse ensinamento, inclusive os meninos. Na região são mais de 1.200 famílias que vivem desse artesanato. Mesmo aqueles que têm outra ocupação, continuam fazendo o que mais gostam, trançar a palha.” Evanira Gonçalves dos Santos Cooperativa do Trançado Tupinambá – Copartt

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Palha Formosa da Serra Bandeja quadrada em trançado costurado em fibra de licuri. Localidade de Várzea Formosa, município de Itiúba.

Copartt, Cooperativa do Trançado Tupinambá Carteira em fibra de piaçava tingida e natural, com cordão de algodão em macramê. Município de Entre Rios.

Associação dos Pequenos e Médios produtores de Subaúma Trançado das Marias Balaios em trançado de cipó e fibras de piaçava tingida. Localidade de Cachoeira do Edgar, município de Esplanada.

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Associação dos Artesãos de Saubara Cesto em palha de licuri. Município de Saubara

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COOPERAFIS, Cooperativa de Fibras do Sertão. Descanso de panelas em trançado de fibra de sisal. Município de Valente.

Artesã | Silvana Grappi Colares e brincos em prata e aproveitamento de madeira. Município de Salvador.

“A coleção de joias ‘Primavera’ utiliza como material predominante a madeira. São galhos secos de onde crescem folhagens e flores e, na superfície dos quais, pousam pássaros e borboletas em prata. Com foco na sustentabilidade, este trabalho chama a atenção para um material aparentemente sem nenhuma utilidade, uma vez que seria fatalmente levado para o lixo. Transformar um simples galho de árvore em um objeto de desejo serve para despertar a reflexão, conscientizar o consumidor com relação à utilização de materiais, incentivar uma nova mentalidade de consumo e contribuir com a mudança de gostos, já que entendo que cabe ao design ajudar na busca de um mundo sustentável e incentivar a produção de objetos de baixo impacto ambiental.”

“Eu sou Alane Oliveira da Silva Santos, tenho 27 anos, conheci o artesanato através de minha mãe, que é artesã. Me apaixonei, vendo e ajudando ela a fazer quando eu tinha 13 anos de idade. Desde cedo, ela me ensinou a forma certa de trabalhar com a fibra de sisal, como retirar a casca pra tingir o sisal sem agredir a natureza, sempre de forma sustentável. Assim que cresci, me associei à cooperativa e hoje sou diretora financeira com muito orgulho e amor pelo que faço.” Alane Oliveira da Silva Santos COOPERAFIS

Silvana Grappi Artesã 40

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Artesão | Omar Alberto Malcoff Brincos em prata recuperada e esmeraldas baianas. Município de Cairu.

REDUZIR

Artesão | Regys Araújo Anéis em prata e vidro lapidado e retirado na areia das praias de Salvador. Município de Salvador. 42

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Relatos populares e acadêmicos registram sobre a excessiva quantidade de “lixo” que a sociedade é capaz de produzir. Esse acúmulo de excedentes polui céu, terra e mar. Reduzir o consumo de energia, água e a quantidade de lixo residual. Reduzir os impactos, que favorecem o desequilíbrio do meio ambiente, é um alerta quanto ao esgotamento dos recursos naturais e uma tentativa de propor mudanças comportamentais da sociedade atual. O conceito de economia dos insumos já é adotado por muitos artesãos, desde a escolha de fornecedores, assim como no reaproveitamento de água nas etapas produtivas de alguns segmentos, melhor aproveitamento de energia, viabilizando grupos de produtos para a “queima coletiva” de cerâmica, como também grupos para tingimento. Ações coletivas e colaborativas de troca de insumos entre os grupos, de forma que a matéria-prima descartada por um, passa a ter um novo significado nas mãos de outro artesão. A cada dia, aumenta o interesse participativo nesses núcleos de troca. Essa iniciativa reduz a aquisição de novos insumos e fortalece a conscientização dos impactos do consumo exagerado.


A tecelagem é uma técnica tradicional que utiliza teares verticais ou horizontais rústicos e possibilita tecer diferentes matérias-primas, fios de algodão, lã, fibras de sisal, palha da costa, tecidos, dentre outros. Da mistura de insumos e diferentes técnicas empregadas, caracteriza a tecelagem contemporânea, na qual incorpora diferentes texturas e ritmos. O resultado é uma rica diversidade de tramas, que valorizam ainda mais essa técnica. O município de Guanambi é um dos grandes produtores de algodão da Bahia. As mulheres da região adotam a tecelagem como ofício, desde o descaroçamento do algodão até a confecção do tecido. Vale salientar que a cadeia produtiva desse insumo é exemplo de trabalho com foco na preservação ambiental. As “sementes crioulas”, variedades desenvolvidas, adaptadas ou produzidas por agricultores familiares, conseguem manter suas características originais, resgatando a essência e a diversidades, dentre elas, as cores. É o algodão colorido, ecologicamente correto. Segundo o livro, Fios e Fibras – Imbiras, Bitús e Caçuás, na Bahia, para a tecelagem artesanal, encontra-se fios de diversas procedências. Os destaques seriam os fios artesanais, resultados da fiação manual caseira, variando de acordo com a matéria-prima e a técnica. E os fios reaproveitados, resultantes do desmanche de roupas e de linhas. Neste exemplo, se destaca o trabalho da artesã Célia Amorim, numa trajetória de reaproveitamento de fios e tecidos, como estratégia inovadora de continuidade de uso desses insumos, inclusive de antigos têxteis, contribuindo para o uso mais racional dos recursos disponíveis. Artesã | Ana Fiuza Manta em algodão natural. Detalhe da barra de marambaia em linha de algodão. Município de Guanambi. Sustentabilidade pelo olhar Artesão

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Artesã | Célia Amorim Encharpe de tecelagem, em fios de algodão natural e bolsa em tecelagem com reaproveitamento de tecido. Município de Porto Seguro.

“A arte de tecer fios é algo bem peculiar, uma arte milenar manual que está se perdendo ao longo do tempo e sendo substituída pelas tecnologias atuais. Em poucas linhas podemos dizer que as mãos estão sendo trocadas pelas máquinas. Entretanto, as máquinas em algumas situações não conseguem dar destino adequando aos resíduos que elas mesmas produzem. Sendo assim, a mão do homem, do artesão, do artista, é quem fica encarregada de fazer esse papel, de retransformar algo que iria ser descartado e prejudicar o nosso planeta. Pensando nessas expectativas do reutilizar, a Coopertêxtil foi convidada pelo SEBRAE a um desafio: transformar retalhos de tecidos de malha que foram descartados pela indústria têxtil em um novo material, uma nova peça.” Jucélia Nascimento Bezerra Coopertêxtil

Coopertêxtil Bolsa em tecelagem com fios de algodão e resíduos de malha. Município de Salvador.

“Desenvolvo tramas especiais empregando fios nobres, como a seda e algodão, fruto constante de pesquisas que incluem a seleção e a reciclagem de fibras (bananeira, licuri, tucum, tururi). Minha experiência nos teares manuais, me possibilitam compor tecidos com sofisticada diversidade de cores e texturas. Nos meus trabalhos, agrego fios e tecidos reaproveitados como forma de dar continuidade de uso e expressão a artigos têxteis que se reconfiguram e contribuem para o uso mais racional dos recursos disponíveis. As bolsas, as sacolas e as carteiras exibem formas inspiradas nos anos 1980, mas também antenadas com nossos tempos de busca por soluções sustentáveis. A estrutura é composta por fios de algodão, tramas, retalhos de tecidos de algodão e fibras naturais.” Célia Amorim Artesã Sustentabilidade pelo olhar Artesão

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“Com pinceladas de tinta acrílica, pinto releituras de minhas telas em tecidos reciclados. Assim, crio bolsas, sacolas, carteiras, dentre tantos outros. Marcados por diferentes referências, como tramas de tecidos fiados a mão, reciclo jeans, lonas de caminhão e retalhos de algodão. Pinto silhuetas e rostos femininos, destacando-os em um fundo com casarios, festas religiosas, barcos de pesca artesanal da Região da Costa do Descobrimento.” Artesã | Luzia Torres Casal de bonecos “catadores de algodão” em algodão natural. Município de Guanambi.

Artesã | Ana Fiuza Detalhe do bordado em ponto cruz em linha de algodão natural. Detalhe da barra de marambaia em linha de algodão.

Associação União de Mulheres do Monte Alegre, AUMMA Manta de fios de algodão. Tecelagem manual em tear de pedal. Município de Jeremoabo.

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Anderson Lima Artesão

Artesão | Anderson Lima Bolsa em reaproveitamento de tecido, pintada à mão livre. Município de Porto Seguro.

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Transformação talvez seja a iniciativa mais atuante dos artesãos. Imaginação e criatividade fazem parte do seu dia a dia. A iniciativa em destinar um novo ciclo de vida dos produtos e insumos, fazer uso mais nobre para as sobras, dejetos e sucatas que são descartados e se acumulam em aterros, é uma proposta sustentável de aproveitar a matériaprima desprezada, reutilizar materiais usados para pensar novos produtos e componentes mais inovadores.

Artesã | Ana Menezes Oratório em madeira reaproveitada. Município de Salvador.

REUTILIZAR

Artesão | Augusto César Veloso Oratório em madeira de demolição e pinturas originais. Município de Salvador.

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Utilizando várias matérias-primas descartadas, agregadas ou não a outros insumos, são modificadas e deixam de ter a função original. Dentre os insumos selecionados, podemos destacar papéis, vidros, plástico, tecido, linhas, metais, jornais, revistas, assim como madeira morta, coco de diferentes palmeiras, osso, couro (oportunidade nas aparas e sobras das indústrias, como também na versão in natura, onde o artesão se depara com todas as etapas preparatórias de coleta, limpeza e curtimento), aliada à criatividade, se transformam em produtos artesanais nas suas diversas tipologias e segmentos. De maneira geral, os artesãos focam no reaproveitamento de papel, madeira morta, coco de diferentes palmeiras, osso, couro (oportunidade nas aparas e sobras das indústrias, como também na versão in natura, onde o artesão se depara com todas as etapas preparatórias de coleta, limpeza e curtimento). Parte desses insumos foram descartados como “lixo”, outros, como oportunidade de gerar negócios, acabam sendo comercializados.


Artesãs | Milla e Mirinha Leal Baianas em massa fria e aproveitamento de coco e máscaras em coco. Município de Salvador.

“Tudo começou numa vontade de criar um produto artesanal, turístico e genuinamente baiano. Passamos pela feira do nosso bairro, Largo 2 de Julho, vimos a grande quantidade de casco de coco e os chamados ‘cocos velados’, que eram jogados fora. Começamos a pensar como poderíamos fazer para reciclar, então veio a ideia de fazer as baianas, luminárias, abajur, portacartão, taças e máscaras. No momento, estamos trabalhando com as baianas e as máscaras. ‘Arte e sustentabilidade, combinação perfeita’ é a frase que usamos em nosso trabalho.” Mirinha e Milla Leal Artesãs

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Artesão | Marcos Viana Escultura em papietagem com diversos materiais de reaproveitamento. Município de Salvador.

Artesã | Beatriz Rocha Flores com botões de coco e crochê. Município de Salvador.

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Artesão | Carlos Biquera Casal de baianos em massa fria e diversos materiais de reaproveitamento. Município de Salvador.

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Artesão | Manoel Jeronymo Melo Freitas Orixá em metal e materiais diversos em técnica mista. Município de Salvador.

Artesã | Marinalva da Silva Dias Orixá em massa fria e aproveitamento de diversos materiais, inclusive com retalhos das vestimentas religiosas. Município de Salvador.

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“Eu nasci e me criei vendo a arte dentro do meu lar. Por um momento da minha vida eu virei artesã e toda minha trajetória profissional, que foi voltada para a cultura e resgate da minha ancestralidade foi refletida nos meus produtos, e assim minha inspiração começou com os orixás. Testei com vários materiais diferentes, e num processo evolutivo, as estatuetas e os demais produtos que desenvolvo atualmente, ganharam forma por meio da palha de milho, fibra da banana e outros materiais que vou coletando no meu dia a dia e que encontro pelo caminho. Eles funcionam como instrumento criativo para desenvolver meu trabalho.” Dinalva Bispo dos Santos Reaproveitamento em palha de milho e fibras de bananeira

Artesã | Dinalva Bispo dos Santos Estatuetas em palha de milho e materiais diversos. Município de Salvador.

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Artesã | Edna Baptista Estatuetas em aproveitamento de papel e diversos materiais. Município de Salvador.

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Artesã | Lena Dantas Colares em aproveitamento da casca da cajazeira, madeiras de demolição e montagem. Município de Lauro de Freitas. Artesã | Maria Regina Soares Capa de agenda e chaveiros com reaproveitamento do couro de tilápia. Município de Paulo Afonso.

“Meu pai é o artesão que me inspira e, atualmente, o reaproveitamento e o respeito com o meio ambiente são a essência do meu trabalho. Tudo começou com a casca da cajazeira (árvore da fruta cajá) e madeiras de demolição, principalmente tacos (piso), que frequentemente são descartados pela cidade. Essas são madeiras nobres, de alta qualidade, resistência e durabilidade. A maioria são do ipêamarelo, considerada árvore símbolo do Brasil. O reaproveitamento desse material possibilitou a criação de coleções com mais personalidade e identidade. Os colares, as pulseiras e os brincos ganham uma nova história, um novo ciclo de vida!” Lena Dantas Artesã

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Artesão | Augusto César Veloso Colares em madeira de demolição reaproveitada. Município de Salvador.

Artesã | Sonia Costa Colar em piaçava e contas diversas, inclusive cerâmica. Município de Salvador.

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Artesã | Dorian de Almeida Colar e ímãs decorativos em frivolité e linhas de algodão. Município de Salvador.

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Artesã | Maria Raimunda Cleômenis Botelho Peixe em fuxico e retalhos de tecido. Município de Salvador.

Ainda inspirado na “estética do lixo”, o reaproveitamento de retalhos de tecido, que formam o “fuxico”, técnica popular e tradicional amplamente conhecida na Bahia, teve sua origem atribuída às escravas e que até os dias atuais permanece como produto de forte apelo de referência cultural identitária e continua sendo ícone de metamorfose. O reúso criativo de retalhos em tecido é uma alternativa que atravessa gerações e se mantém viva e circulante em diferentes classes sociais.

ASSAR, Associação de Artesãos do Raso Colcha em fuxico e retalhos de tecido. Município de Nova Soure.

Artesã | Ana Maria Silva dos Santos Pano de bandeja com aproveitamento de tecido. Município de Salvador.

Artesã | Luana Dantas Cardume de peixes com aproveitamento de tecido – jeans. Município de Salvador. Sustentabilidade pelo olhar Artesão

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ASSAR, Associação de artesãos do Raso Bolsa em crochê e capa com retalhos de tecido. Município de Nova Soure.

Artesã | Luzinete Carneiro Bolsa com retalhos de tecido e couro. Município de Salvador.

ASSAR, Associação de artesãos do Raso Bolsa em crochê e capa com retalhos de tecido. Município de Nova Soure. 66

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Artesã | Tania Regina da Cruz Bolsa com retalhos de tecido. Município de Salvador.

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Artesã | Maria de Lourdes Braga Rocha Bolsa com reaproveitamento de sacos plásticos. Município de Salvador.

Podemos considerar que, no processo de reciclagem, os materiais passam por uma transformação nas suas características físicas. Neste sentido, mesmo que não seja possível atuar nesse aspecto, focar na separação do lixo já é uma excelente iniciativa de contribuição.

RECICLAR

Artesã | Maria das Candeias Magalhães Bolsa com reaproveitamento de galões plásticos e retalhos de tecido. Município de Salvador.

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Ainda assim, algumas técnicas artesanais como papel machê, no qual transforma o papel em pasta, possibilita a construção de peças artesanais por meio da técnica da modelagem, alimentando novas descobertas e perspectivas, inovando na concepção de produto conceitual, numa nova cadeia de valor, levando em consideração a competitividade e a sustentabilidade.


“Acredito existir um desejo de resinificar objetos em quase todo artista, senão em todos de alguma forma. Não fugi à regra. Desde os meus primeiros trabalhos, a reciclagem foi inserida por necessidade em fazer algo. E, por ter em abundância ao meu redor, o papel foi meu primeiro escolhido. Ele tornou-se a base de quase todos os meus projetos: cortado, colado, feito massa, enfim, o utilizo com frequência e misturando-o a outros materiais reciclados ou não. Eu olho um arame, um pote plástico ou um pedacinho de madeira, por exemplo, e surge uma possibilidade de recriação, em cada um deles existe uma energia que teve origem na natureza e parece ainda desejar um propósito. Essa energia não deve ser desperdiçada e desprezada, é preciso que em cada um surja essa consciência de descarte sustentável. A natureza que é o início de tudo, agradece.” Associação Casa do Artesão de Juazeiro, ACAJ Estatuetas cangaceiros em papel machê e materiais diversos. Município de Juazeiro.

Carolina Marques Leão Artesã

Artesã | Maria Carolina Leão Estatuetas em papel machê e materiais diversos. Município de Salvador.

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Artesã | Milla Leal Máscaras com reaproveitamento do casco do coco. Município de Salvador.

Agradecimento

Artesã | Néia Estevam Estatuetas em papel machê e materiais diversos. Município de Salvador.

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“O meu envolvimento com a reciclagem e reaproveitamento de resíduos sólidos é antigo, desde criança confeccionava brinquedos para meus irmãos. Com o passar do tempo fui aperfeiçoando as atividades de reaproveitamento de embalagens plásticas até me identificar com a técnica do papel machê. Na confecção de minhas esculturas reutilizo papel ofício, tubos de papel, tubos de papelão, papelão e caixas de ovos. O olhar generoso para um material aparentemente sem utilidade, estimula a criatividade e transforma um resíduo que poderia ser danoso ao meio ambiente em uma peça de arte que pode durar séculos. O meu trabalho são peças exclusivas, de coleções ou não, que abordam temas religiosos, sentimentos e icnografia baiana.” Néia Estevam Artesã Sustentabilidade pelo olhar Artesão

A combinação de matéria-prima e criatividade é convertida em novos artefatos, em uma iniciativa que aumenta o ciclo de vida para além do descarte. É a transformação do que seria um “ponto final” para um “ponto de partida”, da matéria-prima sem valor para um produto que pode ser sofisticado ou essencialmente enriquecido de cultura e identidade. Como disse Lina Bo Bardi,“é a observação atenta dos pequenos cacos, fiapos, pequenas lascas, pequenos restos, que torna possível reconstruir, nos milênios, a história das civilizações” (BARDI,1994,p.24). Nosso agradecimento e homenagem aos artesãos e a todos os envolvidos no projeto, que tiveram a sensibilidade e a iniciativa em perceber a importância de atuar diante das circunstâncias ambientais dentro do contexto atual da vida contemporânea. Consciência ambiental, alinhada a um (re)descobrir

de possíveis soluções, para enorme quantidade de lixo e descarte gerado diariamente, é um diferencial necessário para o mundo socialmente mais responsável. Acreditamos que superar esse desafio é uma atividade coletiva, que aglutina diferentes profissionais, especialistas, parceiros, entidades e, principalmente, cada um de nós. Almejamos assim, despertar novos olhares e mais adeptos para atitudes sustentáveis através dos caminhos do Repensar, Reparar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar.


Expediente Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Bahia – Sebrae Conselho Deliberativo do Sebrae Bahia Carlos de Souza Andrade Diretoria da Superintendência Jorge Khoury Diretoria Técnica Franklin Santana Santos Diretoria Administrativa-Financeira José Cabral Ferreira Unidade de Atendimento Coletivo Célia Fernandes (Gerência) Ana Paula Almeida (Coordenação de Turismo e Economia Criativa) Tatiana Martins da Silva (Coordenação de Artesanato) Conteúdo Andreia Caetano Tatiana Martins da Silva Consultoria Andreia Caetano (Design Estratégico) Artesãos do Brasil ISOPE

SENAR BAHIA Presidente do Sistema FAEB/SENAR Humberto Miranda Oliveira Superintendente Carine Menezes Magalhães Coordenadora Técnica - Gestora do Convênio Jaqueline Errico Batista Rua Pedro Rodrigues Bandeiras, 143 Comércio – Salvador/BA CEP: 40015-080 (71) 3415-3100 www.sistemafaeb.org.br/senar

Editoração Yayá Comunicação Integrada Fotos Valmir Martins Banco de imagens Imagem página 14 - Latas, metal e alumínio. Imagem página 26 - Palmeiras de pupunha. Imagem página 52 - Coco seco. Imagem página 70 - Reciclagem de papel.

Capa Associação Comunitária do Jatimane, ACJ Detalhe cesto em palha de piaçava. Localidade de Jatimane. Município de Ituberá.

Referências Bibliográficas BAHIA. Secretaria do Trabalho e Ação Social. Feito à Mão, Técnicas Artesanais na Bahia. Instituto de Artesanato Visconde de Mauá. Salvador/BA. 2014. BAHIA. Secretaria do Trabalho Emprego, Renda e Esporte. Saberes e Fazeres, Artesanato Baiano. Instituto de Artesanato Visconde de Mauá. Salvador/BA. 2014. BAHIA. Secretaria do Trabalho Emprego, Renda e Esporte. Fios e Fibras, imbiras, bitús, e cacuás: a fiação, a tecelagem e o trançado artesanal da Bahia. Instituto de Artesanato Visconde de Mauá. Salvador/BA. 2014.

SEBRAE. Livro de Produtos dos Artesãos de Santa Brígida. Texto e pesquisa de Nadja maria Ferreira Monteiro. Salvador/BA. 2004/2005. SEBRAE. Edição comemorativa. Artesanato, Um Negócio Genuinamente Brasileiro. Volume 1, n°1. 2008. CATÁLOGO ARTESANATO DO TRANÇADO TUPINAMBÁ. Trançados Tupinambás. Costa dos Coqueiros. Bahia. BORGES, Adélia. Design, artesanato: o caminho brasileiro. São Paulo. Editora Terceiro Nome. 2011. DESIGN, RESÍDUOS & DIGNIDADE. Diversos autores. São Paulo. Editora Olhares. 2014.

Guarda Artesão | Luis Santana Tecelagem com fios de algodão e fibra de licuri. Município de Salvador. Impressão: Qualigraf Serviços Gráficos e Editora Ltda. Publicação: novembro/2019 Tiragem: 400 exemplares

Rua Horácio César, 64 – Dois de Julho - Salvador/BA CEP: 40060-350 0800 570 0800 www.ba.sebrae. com.br 74

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