Cores, Fibras e Fios pelo Olhar Artesão

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Cores, Fibras e Fios pelo olhar Artesão

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Luis Santana

Mandalas em tecelagem com fios de algodão e fibra de piaçava Município de Salvador

Índice

Artesanato baiano: forte e sustentável 7

Fortalecimento da matéria-prima 9 Apresentação 11 Fibras naturais vegetais 15 Cestaria e trançado 17 Cores 23 Tons da fibra 25

Algodão e fibras diversas 85

Caroá 89 Cipó 91 Coqueiro 95 Licuri 99 Piaçava em fibras 117

Piaçava em palha 131

Tingimentos naturais 31 Tingimentos artificiais 41

Cores em materiais complementares 53 Tipologias 73 Algodão em fios 77

Sisal 139

Agradecimento 144

Expediente 145 Artesãos e unidades produtivas 146

Referências bibliográficas 148

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Mandalas e sousplat em fibra de piaçava e fio colorido Município de Ituberá

Artesanato baiano: forte e sustentável

A atividade empreendedora estimula e motiva o Sebrae para o investimento em capacitações técni cas preparatórias de gestão, design e mercado. Assim, buscamos contribuir e fortalecer a produção artesanal da Bahia, ampliando a presença dos produtos regionais do Estado nos territórios nacional e internacional.

Notoriamente acompanhamos o rico resultado de todos os trabalhos executados nos núcleos produti vos ao longo desses anos em que o Sebrae tem fortalecido sua atuação por meio das consultorias de desenvolvimento. Apresentar essa publicação é mais uma forma de registrar e valorizar as tradições artesanais, assim como as inovações que foram evoluindo e se redescobrindo diante das expertises adquiridas a partir desta exitosa parceria.

As preocupações e os cuidados com os impactos socioambientais são abordagens essenciais para esse segmento, visto que o uso adequado da matéria-prima se faz necessário para a preservação desse virtuoso elo produtivo entre natureza e artesanato.

Jorge Khoury Superintendente do Sebrae Bahia Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia
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Talisca, fibra e palha de coqueiro Município de Porto Seguro

Fortalecimento da matéria-prima

A atividade artesanal, quando inserida na área rural, contribui para o fortalecimento da identidade cultural do lugar, inclusive na fixação das famílias no campo. É dele que vem a diversidade de matéria-prima: sementes, argila, fibras e madeiras de aproveitamento. Somado a isso temos a criatividade nata da co munidade que, através da sua arte, dá novas formas e cores a esses elementos, pois o produtor rural é, antes de tudo, um entusiasta, cujas mãos contribuem com a preservação dentro e fora da porteira.

Apoiar o programa de Artesanato Bahia Original reafirma o nosso compromisso com a sustentabilidade. Essa parceria com o Sebrae Bahia tem se mostrado, ao longo desses anos, um exemplo de projeto que foca na importância da união de dois pilares: uso sustentável dos recursos naturais e identidade cultural aplicada ao artesanato e ao uso consciente da matéria-prima. As capacitações, por meio de consultorias em diversas áreas, alavancam o empreendedorismo e profissionalizam, principalmente, os pequenos negócios. O resultado é uma apresentação impecável da nossa cultura, representada pelo olhar artesão.

Humberto Miranda Oliveira Presidente do Sistema FAEB/SENAR

Josué Ferreira Lima
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APAS

Detalhe do trançado em piaçava tingida

Localidade Costa dos Coqueiros Município de Entre Rios

Apresentação

Nessa coletânea, “Cores, Fibras e Fios pelo olhar Artesão” é mais uma composição inspiradora que fortalece o artesanato de referência da Bahia. Fazer esse registro é mergulhar na identidade cultural das diversas localidades artesanais apoiadas pelo nosso projeto, mas, principalmente, como uma fonte de reconhecimento do valor agregado que tem sido construído ao longo desses anos por muitas mãos.

O investimento realizado pelas instituições Sebrae e Senar Bahia na realização de oficinas, capa citações e imersões nos diferentes pilares de gestão, design e mercado, inclusive com atuação na capacitação da transformação digital, de forma que os núcleos produtivos melhor se posicionem nesse segmento, é reforçar o nosso olhar atento que precisamos preservar as linguagens tradicionais, mas planejar um horizonte de oportunidades criativas e mercadológicas.

Essa publicação propõe despertar e incentivar o fazer artesanal em diferentes formas, ainda mais conectados com o respeito às tradições, à identidade cultural, mas também com o olhar criativo, de misturar técnicas, materiais e experiências. Tudo isso sob a tutela de um olhar contemplativo, mas também reflexivo de que é preciso cada vez mais atuar no zelo das questões socioambientais e na sustentabilidade.

Tatiana Martins Coordenadora de Artesanato do Sebrae Bahia
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Trançado das Marias

Composição de cestos em cipó e trançado em palha de piaçava natural e tingida

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

A atividade artesanal não se enquadra em conceituações rígidas, mas podemos considerar que permeia nas interações de um povo, por meio do repasse de técnicas que atravessam gerações, como também são desenvolvidas e aprendidas como metodologia de ensino de saberes e fazeres como meio de subsistência.

O artesanato também revela uma habilidade e uma destreza baseadas em criatividade. Superar limites, histórias de um povo, de uma região e aproveitar os recursos naturais das suas origens.

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AASB - Associação dos Artesãos de Santa Brígida

Cestos em fibra da palmeira de licuri, trançado, costurado. Pássaros entalhados em madeira de umburana reaproveitada

Localidade de Morada Velha Município de Santa Brígida

As fibras naturais podem ser de origem vegetal, provenientes de diferentes partes das plantas, como sementes, caule e até mesmo flores e folhas. São utilizadas há milhares de anos pelo homem e aplicadas nos mais variados produtos artesanais.

O Projeto Bahia Original tem acompanhado alguns núcleos produtivos que utilizam algumas fibras vegetais como principal matéria-prima, são elas:

Fibras naturais vegetais

Algodão | Coco | Sisal | Coroá | Piaçava | Licuri
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Trançado das Marias

Fruteira em cestaria com trançado em palha de piaçava tingida e natural

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

A arte de trançar, que é praticada em quase todo o país, é um legado indígena que se mistura aos saberes das antigas populações nativas, inclusive de raízes africanas. Esse conhecimento influenciou no desenvolvimento da técnica do trançado empregado pelos diversos artesãos brasileiros.

Na Bahia é possível encontrar a atividade artesanal do trançado espalhado por toda zona rural.

Cestaria e trançado

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Cestaria e trançado

Segundo a publicação, Feito à Mão: técnicas artesanais da Bahia, considera o trançado como uma técnica de entrelaçamento de fibras ou outras matérias-primas, em forma de fios, cordões e/ou tiras, para a confecção de variados produtos.

Do trançado à cestaria, historicamente como herança indígena, se misturam para a produção de cestos, técnica que as fibras ou demais matérias-pri mas são entrelaçadas ou costuradas.

Mãos Nativa

Bolsa com trançado em palha de piaçava tingida e natural Localidade de Costa dos Coqueiros Município de Mata de São João

Associação dos Artesãos de Saubara –Casa das Rendeiras

Detalhe da carteira trançada em palha de licuri Município de Saubara

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Trançado das Marias

Balaio em cipó e tranças de piaçava tingida

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

O trançado sarjado ou cruzado em diagonal é amplamente utilizado na confecção dos tradicionais bocapios, bolsas, esteiras e por ser mais maleável permite ser utilizado na composição de vários produtos. A padronização mais comum é obtida pelo entrelaçamento das palhas e talas, que variam pela quantidade, combinações, disposições, movimentos e cores. Essa coreografia ritmada viabiliza formas diferentes de desenhos geométricos.

Os padrões são combinados pela junção das suas laterais e assim expande para uma escala do “tecido”.

O trançado cruzado arqueado normalmente é empregado na produção de balaios, cestos e jequis de variadas formas e tamanhos, utilizando diferentes matérias-primas (talas, fibras e cipós), que também podem ser combinadas entre si.

Já o trançado costurado é trabalhado nas fibras de folhas das palmeiras de licuri, piaçava, sisal, dentre outras. Elas são “costuradas por meios de agulhas” com fios de algodão, fios sintéticos, palha da costa, assim como fibras naturais, o “linho”, considerado a parte mais nobre das palhas das palmeiras.

Cestaria e trançado

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Trançado das Marias

Cesto trançado em palha de piaçava tingida, acabamento com o reaproveitamento de tranças que seriam descartadas

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

Tecnicamente, a cor é uma impressão emitida na retina dos olhos pela luz que é refletida pelos objetos que visualizamos e interpretada pelo cérebro. Conceitualmente, na produção artesanal do trançado, as texturas e os desenhos geométricos são compostos pela coloração das diferentes fibras, tingimento por meio de pigmentos e corantes naturais e artificiais ou ainda pela inserção de outras matérias-primas, inclusive materiais de reaproveitamento, como papéis e embalagens plásticas recicladas.

Cores
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Palha Formosa da Serra

Detalhe do cesto trançado e costurado com a fibra do licuri

Localidade de Várzea Formosa

Município de Itiúba

Arandela em talisca, fibra e palha de coqueiro Município de Porto Seguro

As fibras naturais fazem parte da nossa identidade cultural e geram uma conexão direta com a natureza e, de certa forma, o respeito por ela. Mais do que uma tendência, valorizar os tons naturais das fibras é apurar o “olhar” para a beleza das texturas, a riqueza das composições das tramas. A interpretação visual do trançado mais tradicional, assim como as referências clássicas e contemporâneas que essa mistura pode transmitir.

Tons da fibra

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Josué Ferreira Lima Lustre em diferentes cipós Município de Porto Seguro Joias do Quilombo Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia Cesto com alças de couro, palha da costa e fibra de piaçava Município de Ituberá
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“Minha história sempre foi envolvida com o plantio do algodão, tradicional aqui na minha terra, Guanambi/ Bahia. O trabalho na roça era meu dia a dia. Minha mãe sempre soube fiar, mas esse ofício eu não aprendi. O que eu gostava era lidar com a terra. A roça e a transformação do algodão em fio. É do meu quintal que co meça a minha produção. Há tempos, ganhei algumas sementes de algodão e plantei no meu quintal. Não é muito grande, mas é a partir dele que tudo começa. Plantar, colher, fiar, tecer e bordar, que é a minha grande paixão. Eu e um grupo de mulheres, cada uma fazendo a sua parte e nesse ciclo permanecemos unidas.”

Em Guanambi o artesanato tem a fibra do algodão como matriz principal. Na tonalidade branca ou naturalmente colorida, por meio de sementes adaptadas e qualificadas, as pequenas lavouras fortalecem o artesanato local incluindo várias etapas, desde o plantio do algodão, descaroçamento e transfor mação em fio. Posteriormente formando meadas que serão utilizadas no tear, que resultarão no tecido manual. A composição tonal envolve uma paleta de cores do branco/natural, marrom, verde e rubi.

Ana Caires
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AASB - Associação dos Artesãos de Santa Brígida

Caixinhas com tampa em fibra da palmeira de licuri, trançado, costurado e tingida com corantes naturais da caatinga. Pássaros entalhados em madeira de umburana reaproveitada

Localidade de Morada Velha Município de Santa Brígida

Os corantes vegetais utilizados na produção artesanal, para tonalizar as fibras naturais, requer um processo de pesquisa e experimentação. Conhecimento que muitas vezes foi passado entre gerações. Alinhado a novas tecnologias e o respeito do homem com a natureza, valoriza ainda mais essa habilidade ancestral da transformação de ervas, frutos, raízes e cascas de árvores em variedade de cores e tons.

Tingimentos naturais

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“Nosso tingimento foi criado aqui mesmo pelos artesãos. Fomos testando frutas, folhas e cascas de árvores. Foi com essa experiência que chegamos às cores que usamos hoje. Todos as cores e as tonalidades dos nossos produtos foram extraídas do meio ambiente, que são plantas nativas da nossa região. Portanto, precisamos preservar o meio ambiente, em especial a palmeira do licuri e a arara-azul-de-lear, símbolo da nossa caatinga. Quem mais preserva estes seres vivos são os artesãos que sobrevivem do meio ambiente e da natureza.”

Mestre José dos Santos Braga Processo de tingimento com corantes naturais da fibra da palmeira de licuri Localidade de Morada Velha Município de Santa Brígida Paleta de cores obtidas por meio de ervas, frutos, raízes e cascas de árvores, resultando em uma variedade de cores e tons
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“José dos Santos Braga, mais conhecido por Zé de Rita. Residente no povoado Morada Velha, zona rural de Santa Brígida/BA. Aprendi o trançado com minha mãe, na verdade ela me fez um desafio, dizendo que eu não sabia fazer artesanato, que eu não sabia fazer o trançado. Foi aí que fiquei motivado a pegar um pouco das fibras dela, fui para minha casa e comecei. Primeiro foi um porta-joias, uma peça pequena, deu certo e gostei de fazer. Dias depois, teve uma feira de artesanato em Salvador, onde o saudoso José Valdo foi, levou a minha arte e vendeu. Então, eu me empolguei e come cei a trabalhar com o trançado. Alguns anos depois, fui convidado pelo Sebrae pra ministrar uma oficina em Salvador, em um grande evento, em seguida, novos convites apareceram em outras cidades da Bahia. José Valdo como professor de entalhe na madeira e eu no trançado. Essa experiência foi transformadora, principalmente quando comecei a ensinar meu ofício para crianças e adolescentes.

Em 2019, recebi o título honorífico de mestre artesão. A minha jor nada como professor continua ativa e divido o tempo na produção artesanal para comecialização dos produtos da minha comunidade em rodadas de negócios, feiras e fornecendo para lojistas.

Então, essa é um pouco da minha história. Só tenho que agradecer a Deus, em primeiro lugar, e aos parceiros que me ajudaram na minha caminhada. A minha alegria é ensinar a quem precisa, não importa aonde seja.”

AASB - Associação dos Artesãos de Santa Brígida

Cesto em fibra da palmeira de licuri, trançado, costurado e tingido com corantes naturais da caatinga

Localidade de Morada Velha Município de Santa Brígida

Tirson Fernandes Mobile de peixes em cerâmica natural e pintura em engobe Municipio de Mata de São João
Mestre José dos Santos Braga
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Mãos Nativa

Cesto trança lacinho em palha de piaçava tingida e natural

Localidade de Costa dos Coqueiros Município de Mata de São João

O processo de tingimento da palha de piaçava, utilizando corantes naturais, resgata um conhecimento antigo de gerações e que por muito tempo ficou adormecido. As principais tonalidades pigmentadas são oriundas do cipó de rego, urucum, lama do mangue e da capianga. Para a localidade de Cachoeira do Edgar, o jenipapo é acrescido nessa paleta.

Trançado das Marias

Lustres como cestaria em cipó de maracujá natural e tingida, com corantes naturais e trança de piaçava natural

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

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O processo de tingimento do sisal utilizando corantes naturais extraído do pau-de-colher

“Eu me chamo Alane, tenho 30 anos, sou artesã da Cooperafis com muito orgulho. Aprendi a fazer artesanato com minha mãe, desde muito nova já ajudava ela na produção, daí me apaixonei pelo trabalho, que faço até hoje. Atualmente participo da direção da cooperativa, mas continuo na produção, para mim é uma terapia. Trabalhamos com fibras naturais de sisal e caroá, que podem ser tingidos com corantes naturais, feitos com cascas de árvores. Fazemos todo um processo, desde o momento da retirada dessas cascas, com todo o cuidado e zelo para não prejudicar, nem matar a árvore, uma vez que precisaremos dela novamente, temos que preservá-la! Nossa produção também envolve o tingimento por meio de corantes artificiais, que possibilita uma diversidade de cores. Nosso bioma é a grande inspiração para definir esses tons que irão colorir os produtos das nossas coleções.”

Alane Oliveira da Silva Santos Artesã(o) de unidade produtiva premiada pelo “Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato - 5ª Edição”

O colorido com pigmentação natural também está presente na produção artesanal da fibra do sisal e da fibra do caroá. Os corantes são extraídos das cascas das árvores, conhecidas popularmente de pau-de-colher e umburana, elas resultam em uma escala tonal diferenciada entre calibragens e tons, desde cores bem vibrantes até tons mais terrosos.

Cooperafis

Detalhe da carteira em macramê com fio de sisal

Município de Valente

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Trançado das Marias Mandala trançada em cipó e tranças de piaçava tingida Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

Em contrapartida aos tons naturais das fibras e às pigmentações dos corantes naturais, a inserção dos tingimentos artificiais resultou simbolicamente no contexto cultural de algumas unidades produtivas, principalmente no litoral da Bahia, que se caracterizaram pelo contraste marcante do colorido, ampliando a composição de tramas e cores empregadas no trançado.

Tingimentos artificiais

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Carteira trançada em palha de piaçava natural e tingida

Artefato desenvolvido na comunidade, nos diferentes núcleos produtivos durante as consultorias com foco em design

Localidade Costa dos Coqueiros Municípios de Entre Rios e Mata de São João

Cooperafis Descansador de panelas em fibra de sisal tingido Município de Valente Cooperafis Argolas de guardanapos com flores em fios de sisal tingidos Município de Valente
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Trançado das Marias

Cesta em trançado em palha de piaçava tingida

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

Trançado das Marias

Cestos em diferentes tamanhos em trançado de palha de piaçava tingida

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

Mãos Nativa

Carteira trançada em palha de piaçava tingida e natural

Localidade de Costa dos Coqueiros Município de Mata de São João

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Cooperafis

Caixas com tampa em fibra de sisal tingido

Município de Valente

“O artesanato é muito importante para nós da Cooperafis, tanto p ara complementação da renda das nossas famílias, em alguns casos ún ica fonte de renda, mas também é muito importante no processo de empo deramento feminino. Através do artesanato tivemos muitas primeiras vezes, primeira vez ganhando dinheiro com arte, primeira vez qu e saímos de nossas cidades, do Estado, primeira vez que viajamos de avião, vimos o mar, enfim, o artesanato é muito importante para nós artesãs, em muitos aspectos.

No início usávamos somente tingimento natural, e fazemos questão que esse processo seja o principal até hoje, primeiro porque usamos plantas nativas do nosso bioma caatinga, plantas essas que cresceram nas terras das nossas famílias e temos a certeza de um produto completamente natural.

Atualmente estamos usando também alguns corantes artificiais, pois criamos uma coleção, Valente México, inspirada nas cores do México, que é de onde veio o sisal aqui para o Brasil, uma coleção muito alegre e cheia de cores.

O processo de tingimento que usamos é o mesmo que usamos para tingir a fibra com cores naturais.”

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Carteiras trançadas em palha de piaçava natural e tingida. Acabamento com reaproveitamento de tranças da palha de piaçava

Artefatos desenvolvidos na comunidade, nos diferentes núcleos produtivos durante as consultorias com foco em design

Localidade Costa dos Coqueiros Municípios de Entre Rios e Mata de São João

Artefatos desenvolvidos na comunidade, nos diferentes núcleos produtivos durante as consultorias com foco em design

Localidade Costa dos Coqueiros Municípios de Entre Rios e Mata de São João

Detalhes de chapéus e viseiras trançados em palha de piaçava natural e tingida.
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Pulseiras com reaproveitamento de tranças da palha de piaçava

Bandeja trançada em palha de piaçava tingida com corante natural e artificial. Artefatos desenvolvidos na comunidade, nos diferentes núcleos produtivos durante as consultorias com foco em design

Localidade Costa dos Coqueiros Municípios de Entre Rios e Mata de São João

Dina Santos Flores em palha de milho natural e tingida Município de Salvador
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Trançart

Vaso em fibra de piaçava e fio colorido

Município de Ituberá

As unidades produtivas artesanais, juntamente com as consultorias técnicas em design, ampliam as possibilidades do fazer artesanal, misturam matérias-primas, técnicas produtivas, tipologias, dentre tantos outros aspectos, visam proporcionar um caminho criativo de respeitar os saberes mais tradicionais da técnica com pitadas de inovação. Esse termo, atualmente tão demandado em vários setores da economia, também se faz presente nos artefatos artesanais.

O “olhar apurado e criativo” de viabilizar novas estratégias e caminhos de posicionar o artesanato em objetos valorizados e desejados. Seja na mistura das cores, na inserção de materiais, linhas, tintas, movimento de tranças e trançados. A cor como expressão de tons e texturas, nos seus mais variados sentidos.

Cores em materiais complementares

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“Eu sou artesã, trabalho com o frivolitê e a criatividade sempre foi minha grande inspiração. Pensei em criar uma coleção misturando maté rias-primas. Como sou da ‘terra’ do sisal, resolvi usar esse casamento entre o fio do sisal e a do algodão, o resultado ficou muito bacana! Também

já fiz parceria com outras comunidades e suas matérias-primas, como a piaçava e o cipó.”

Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia

Vaso e gamela em fibra de piaçava e fio colorido

Município de Ituberá

Composição realizada pela parceria entre núcleos produtivos Mandala em sisal e frivolitê

Cooperafis

Girassol em fibra de sisal tingido

Município de Valente

Dorian Almeida Frivolitê Município de Salvador

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Trançart

Composição de vasos a em fibra de piaçava, fio colorido e palha da costa

Município de Ituberá

Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia

Vaso em fibra de piaçava tingida em preto e palha da costa

Município de Ituberá

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“As fibras naturais estão presentes em quase tudo que faço. Para quem trabalha com uma técnica milenar como a tecelagem e utiliza fibras como a piaçava, o sisal e a palha de ouricuri, tem um maior valor agregado ao seu produto final. Quando essas fibras são retiradas da natureza, com responsabilidade ambiental, gera trabalho e renda para várias comunidades, como é o caso de Ilha de Maré, uma comunidade com a qual trabalho há mais de vinte anos.

Utilizo fios de algodão (colorido) fornecido por uma empresa que consegue reaproveitar 100% da água usada na sua linha de produção. A natureza agradece.

Faço também minha parte, doando as pontas de linha a colegas artesãs que as utilizam de forma brilhante e, com as sobras das fibras naturais, faço um belo composto orgânico para minhas plantas.

Fico muito feliz em poder trabalhar com FIBRAS NATURAIS.”

Luis Santana Luis Santana Jogos americanos e trilho de mesa em tecelagem com fios de algodão e fibra de piaçava Município de Salvador Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia Composição de tigelas em fibra de piaçava, fio colorido e palha da costa Município de Ituberá
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Cesto em fibra de piaçava, fio colorido e palha da costa

Município de Ituberá “Sou da Costa do Dendê, Baixo Sul da Bahia, da cidade de Ituberá.

Ainda jovem, via meu pai trançando cestos com o cipó e eu o acompanhava fazendo com a piaçava. Desde este período já observava a necessidade de manter a harmonia da palmeira da piaçava nativa na Mata Atlântica com as demais espécies da flora e da fauna. Ao fazer as peças artesanais com a pia çava, percebo que estou contribuindo com este bioma, mantendo a palmeira da piaçava viva e oferecendo ao cliente um trabalho sustentável na produção de diversos tipos de cestos de uso utilitário e decorativo.”

José Roque

Artesã(o) de unidade produtiva premiada pelo “Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato - 5 ª Edição”

Trançart

Paozeira em fibra de piaçava, fio colorido e palha da costa Município de Ituberá

ASSOCIAÇÃO DOS ARTESÃOS DE SAUBARACASA DAS RENDEIRAS

Descansador de panela trançado em palha de licuri natural e tingida Município de Saubara

Trançart
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Porta-travessas em fibra de piaçava e pátina. Fio colorido e alças em coco de piaçava

Município de Ituberá

Porta-bolo em fibra de piaçava tingida, fio colorido e palha da costa Município de Ituberá

Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia Trançart
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Detalhes do processo produtivo dos artefatos artesanais, costura e pintura
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Cesto de piaçava e pátinas, linhas e palha da costa

Município de Ituberá

“A biojoia é um trabalho artesanal feito com sementes de coco da piaçava, fibras naturais e madeiras reaproveitadas. É a transformação do uso do meio ambiente em um colar decorativo e utilitário.”

Vaso em fibra de piaçava e pátinas, colar em coco de piaçava, linhas e palha da costa

Município de Ituberá

Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia
Daiane Conceição dos Santos
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Joias do Quilombo Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia

Cestos em fibra de piaçava e pátina pintada, linhas coloridas e palha da costa

Município de Ituberá

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Maria Regina Soares

Porta-vinhos em macramê em cordão de algodão e detalhe em couro de tilápia

Município de Paulo Afonso

Composição realizada pela parceria entre núcleos produtivos

Mari Correia

Colar de mesa em cordão de algodão, detalhes em cerâmica terracota e linha de algodão colorida

Município de Salvador

Edna Marta

Contas em cerâmica terracota

Município de Salvador

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Denominação dada ao segmento da produção artesanal que determina a classificação por gênero, utilizando como referência a matéria-prima predominante, bem como sua funcionalidade.

No artesanato, considera-se matéria-prima toda substância principal, de origem vegetal, animal ou mineral, utilizada na produção artesanal, que sofre tratamento e/ ou transformação de natureza física ou química, resultando em bem de consumo. Ela pode ser utilizada em estado natural, depois de processadas artesanalmente ou industrialmente ou, ainda, serem decorrentes de processo de reciclagem e reutilização.

Composição realizada pela parceria entre núcleos produtivos Joias do Quilombo Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia Cesto em fibra de piaçava em pátina e linha colorida Município de Ituberá Geiza Jesus dos Santos Colar de mesa com madeira reaproveitada Município de Ituberá
Tipologias 7372

A tipologia artesanal é a classificação do artesanato em função das matérias-primas utilizadas na confecção dos produtos artesanais.

As matérias-primas do artesanato podem ser de origem mineral, vegetal e animal. Podem também ser a soma de uma ou mais matérias-primas em um mesmo produto, criando novas classes de objetos, que conformam duas ou mais matérias-primas na sua confecção.

Para cada matéria-prima principal, derivam atividades profissionais distintas, que determinam as tipologias de produtos, com suas respectivas ferra mentas e destinações.

Cooperafis

Descansador de panela em fibra de sisal natural Município de Valente

Mãos Nativa Bolsa com trançado em palha de piaçava tingida Localidade de Costa dos Coqueiros Município de Mata de São João
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“Somos uma associação de mulhe res, mães de famílias que trabalham há 19 anos com tecelagem manual, tradicional na qual são produzidas redes, mantas, tapetes, entre outras peças do utilitário e decorativo para casa. Além de gerar a independên cia financeira de nossas mulheres, ensinamos para os mais jovens a arte de transformar o fio do algodão em dignidade.”

Luzinete Ferreira Artesã(o) de unidade produtiva premiada pelo “Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato5ª Edição”

AUMMA Ass. União de Mulheres do Monte Alegre

Manta em fios de algodão na tecelagem manual em tear de pedal Município de Jeremoabo

O algodão é uma fibra de origem vegetal gerada ao redor das sementes do algodoeiro. Segundo historiadores, pela época do descobrimento do Brasil, os indígenas já cultivavam o algodão, que se transformava em fios e tecidos. As fibras são uma pelugem que se origina na superfície das sementes e podem ser extraídas à mão ou com máquinas.

A colheita manual garante um produto mais limpo, já que toda fibra vem com pequenas sementes escuras que precisam ser extraídas.

Algodão em fios

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A tecelagem é uma técnica tradicional que utiliza teares verticais ou horizontais rústicos e possibilidade de tecer diferentes mátérias-primas, fios de algodão, fibras de sisal, fibras de piaçava, palhas da costa, dentre outros. Da mistura de insumos e diferentes técnicas empregadas, caracteriza a tecelagem contemporânea, na qual incorpora diferentes tex turas e ritmos. O resultado é uma rica diversidade de tramas, que valorizam ainda mais a técnica.

Ana Fiúza

Manta em fio de algodão natural, detalhe da barra em marambaia Município de Guanambi

Manta em fio de algodão natural, detalhe da barra em marambaia

Município de Guanambi

Encharpe em fio de algodão na tecelagem manual

Município de Porto Seguro

Ana Fiúza Célia Amorim
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“O algodão é uma fibra incrível e foi estudando a respeito das diversas fibras que existe que resolvi tra balhar com o algodão e até tenho um selo que certifica a qualidade da matéria-prima que utilizo.

Listo o que mais me motivou a fazer essa escolha:

1. É uma fibra natural, leve e durável.

2. 84% da sua produção possui certificação socioambiental.

3. Porque mais de 90% das plantações brasileiras dependem apenas da água da chuva para se desenvolver.

4. Da pluma ao caroço tudo é aproveitado, nada se perde.

5. Totalmente reciclável.”

Mari Correia

Detalhe da cesta em cordão de algodão e contas em madeira

Município de Salvador

Colar de mesa em cordão de algodão e contas em madeira

Município de Salvador

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Composição realizada pela parceria entre núcleos produtivos

Milla Floquet

Colar em cordão de algodão e detalhe decorativo (figa) esculpida na madeira

Município de Salvador

Mestre Aguilardo Figa em madeira Município de Salvador

Na página anterior Dorian Almeida Mandalas em linha de algodão em frivolitê Município de Salvador
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Pollyanna Silveira da Costa

Diversas fibras e palhas de núcleos produtivos. Palha de milho, cipó de maracujá e palha de licuri, mesclada com fios de malha em algodão em tricot e macramê

Município de Ilhéus

A inserção de diferentes matérias-primas dentro de uma mesma composição artesanal vem apresentando uma renovação no uso d os trançados, expandindo as possibilidades de inovação. Ações que podem ocorrer pela própria iniciativa do artesão, mas principalmente iniciaram pelas ações criativas que foram implementadas nos núcleos produtivos com oficinas de design, mas também participação em eventos, acesso ao mercado, inclusão dos produtos artesanais em ações que envolvem diferentes segmentos, inclusive como tematização de ambientes, na decoração e na arquitetura de imóveis de alto padrão. Assim, o artesanato tem reafirmado seu posicionamento na escala de valor e a produção artesanal mais tradicional “ganha” privilégios no seu aspecto mais “primitivo”, mas também nas releituras conceituais contemporâneas.

Os materiais complementares à matériaprima principal permeiam uma infinidade de possibilidades, dos naturais aos sintéticos, papéis, tecidos, linhas, fios, fibras, tintas e pigmentos. Criatividade, experimentação e o próprio mercado consumidor são os estímulos para que a ebulição de ideias aconteça.

Algodão e fibras diversas

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Jogos americanos, argolas de guardanapos, porta-copos e descanso de panelas em crochê, com fios de algodão, palha da costa e fios de sisal

Município de Ilhéus

A palha da costa, fibra de rafia, originalmente é uma fibra extraída de uma palmeira africana, no entanto tem sido designada de diversas palmeiras, por meio da fibra do jupati (Raphia Vinifera). Nas unidades produtivas da Bahia, tem sido amplamente utilizada para fazer acabamentos de produtos, assim como ajudar a estruturar o trançado costurado. Além disso, é presente em adornos e colares.

Josete Bezerra da Silva Célia Amorim Carteira em fibra de bananeira, taboa e botão de coco Município de Porto Seguro
86 87

Cooperafis

Bolsas em caroá tingida Município de Valente

O caroá é uma planta existente no semiárido do Nordeste brasileiro e sua fibra é amplamente utilizada na produção artesanal. No passado, já foi utilizada na confecção de cordas, barbantes, linhas de pesca e até como um “linho” na confecção de tecidos. Atualmente é introduzida no artesanato como uma malha, por meio da técnica do aió e é uma das matériasprimas utilizadas pelas habilidosas artesãs da Cooperafis, que além de produzir bolsas em diferentes formatos e modelos, muitas delas ainda são implementadas com tingimento natural.

Caroá 8988

Trançado das Marias

O trançado no cipó é considerado uma tradição bem antiga. A matéria-prima principal é ajustada de acordo com cada localidade ou também adquirida de terceiros, ou seja, compradas em feiras livres. De maneira geral, o cipó reúne diversas famílias de plantas que compartilham características similares em relação ao alongamento de seus caules e raízes.

Os cipós podem ter suas folhas retiradas e, em alguns casos, as cascas. E depois de limpos e preparados que são utilizados. A preservação ambiental se faz necessária constantemente para essa matéria-prima, visto que a existência dele depende de uma área de mata, vegeta ção para se desenvolver. Quanto mais ameaçado esse ambiente, mais restrito se torna esse recurso.

Composição de cestos e balaios em cipó e tranças de piaçava natural e tingida Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada
Cipó 90 91

Trançado das Marias

Composição de centros de mesa em cipó

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de EsplanadaTrançado das Marias

Lustres trançados em cipó de maracujá

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

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O coqueiro é uma palmeira encontrada vastamente na região litorânea do Nordeste brasileiro, um ícone muito presente na Bahia. Além disso, é considerado com alto índice de rendimento, pois apresenta um excelente aproveitamento na produção de diversos produtos e segmentos, utilizando os frutos, as folhas e as fibras.

No artesanato também tem uma atuação como desta que. Como fibra, palha e tala, muitas vezes é descartado como lixo, mas para o artesão, se torna fonte de matéria-prima na confecção de diversos produtos.

Coqueiro

Josué Ferreira Lima Lustre em talisca e fibra de coqueiro Município de Porto Seguro
9594

“Sou da Costa do Descobrimento, cidade de Porto Seguro e trabalho com diferentes fibras, matéria-prima sustentável que encontro na minha região.

Sou autodidata, trabalho com artesanato desde 10 anos de idade e meu avô sempre foi minha inspiração. Na minha linha de produção, sempre procuro inovar e, de acordo com a solicitação do cliente, produzo sempre peças diferentes de luminárias, arandelas, pendentes, abajures e persianas.”

Josué Ferreira Lima

Josué Ferreira Lima

Lustre em talisca e fibra de coqueiro Município de Porto Seguro

Josué Ferreira Lima

Lustre em talisca e fibra de coqueiro

Município de Porto Seguro

96 97

A produção artesanal à base de palha de licuri se faz presente em algumas localidades no semiárido da Bahia, como a região denominada como Polo da Palha do Licuri, assim como em outras regiões do Estado.

A prática do manejo sustentável tem sido de fundamental im portância para conservar os biomas locais e garantir sustentabilidade ao processo. Essas ações têm apresentado uma maior intensidade e apelo na região da caatinga, pela necessidade de preservação da flora e da fauna, principalmente em relação à arara-azul-de-lear, espécie classificada na categoria “em perigo de extinção”, onde o fruto do licuri é seu principal alimento e a baixa disponibilidade dele pode ser fator limitante para o desejado aumento populacional dessas aves. Adotando as práticas de maneira adequada, é possível encontrar palha disponível o ano inteiro, mas a plantação acontece a partir de um rodízio entre as comunidades, respeitando os limites anuais, com orientações corretas em relação à extração da palha.

Palha Formosa da Serra

Caixa com tampa trançada e costurado com a fibra do licuri

Localidade de Várzea Formosa Município de Itiúba

Licuri 98 99

Conhecida como a “palmeira sertaneja”, do licuri tudo se aproveita. As folhas são utilizadas na fabricação artesanal. A amêndoa produz um óleo, utilizado na culinária, mas também na produção de outros segmentos, inclusive cosméticos e até os resíduos são aproveitados na alimentação dos animais. Vale salientar ainda que o licuri é um dos principais alimentos da arara-azul-de-lear, sendo considerado indispensável para a sobrevivência deste animal endêmico da caatinga brasileira e ameaçado de extinção.

A conscientização quanto ao uso da matéria-prima por meio das fibras vegetais e a preservação do bioma das regiões tem sido um trabalho coletivo, que envolve as diferentes cadeias do artesanato, desde os próprios núcleos produtivos que conferem de perto, no dia a dia, a importância de manter e respeitar o ecossistema natural, inclusive como uma estratégia de manter viva a produção tradicional artesanal e sua subsistência. Assim como as instituições parceiras, orientadores técnicos e a cadeia consumidora.

Bandeja trançada e costurada com a fibra do licuri

Localidade de Várzea Formosa Município de Itiúba

Em Itiúba, o trançado com a palha do licuri é uma tradição indígena que atravessa gerações. O trançado presente é costurado com os “linhos” oriundos da própria fibra e o auxílio de uma agulha.

Palha Formosa da Serra
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Localidade de Várzea Formosa

Município de Itiúba

Molho de fibras de licuri

Detalhe da fruteira e caixa com tampa trançada e costurada com a fibra do licuri

Localidade de Várzea Formosa Município de Itiúba

Palha Formosa da Serra Palha do licuri e detalhe de sousplat com a fibra do licuri Palha Formosa da Serra
103102

“Comecei a trabalhar com a palha do licuri com 8 anos, aprendi com minha mãe e ensinei para as minhas filhas e netas.

Na associação temos essa missão de passar esse conhecimento para os mais novos, de forma que mantenha viva essa tradição, que vem sobrevivendo às gera ções. Faço meu trabalho com muito amor, bolsas, cestos, esteiras, uma variedade de coisas com a palha natural e também com a palha do coqueiro para os detalhes.

É muito gratificante ver o resultado da mistura dos trabalhos em palha com a renda de bilro, muito tradicional aqui em Saubara.”

Associação dos Artesãos de Saubara - Casa das Rendeiras

Bolsa em palha de licuri e acabamento em fio de algodão na renda de bilro Município de Saubara

A Mestra Artesã Dinoélia Trindade é fundadora da Associação de RendeirasRendavan, no desenvolvimento de rendas de bilro e ao longo da sua jornada à frente da associação tem sido responsável por contribuir com a profissionalização de centenas de mulheres da comunidade de Dias d’Ávila/Bahia.

Artesã(o) de unidade produtiva premiada pelo “Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato - 5ª Edição”

O trançado de palha em Saubara é uma tradição herdada das índias tupinambás, sendo uma técnica passada entre gerações. Basicamente, o trançado envolve sete, onze ou quinze palhas, formando tiras de larguras diferentes.

Associação dos Artesãos de SaubaraCasa das Rendeiras

Detalhe do descansador de panelas em ponto aberto e carteira trançada em palha de licuri Município de Saubara

Raimunda Alexandria Rendavan Mestra Dinoélia Trindade Detalhe da almofada em renda de bilro Município de Dias d’Ávila
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Composição de balaios, cestos e tapetes trançados em palha do licuri

Município de Iaçu

“Nossa associação Palha Viva foi fundada em 2002, o Sebrae esteve presente com oficinas de capacitação, inclusive com ações em design, nos auxiliando cria tivamente no aperfeiçoamento do nosso artesananto, incluindo elementos da nossa terra, da nossa identidade cultural. No caminhar da nossa história, como em muitas associa ções não avançamos muito, tivemos dificuldade no escoa mento da nossa produção artesanal e isso desistimulou o grupo e muitas artesãs se afastaram.

Como sou muito teimosa e mesmo com tanta dificuldade, eu mantive o grupo como pude. Para todo lugar que eu vou, mostro pras pessoas o quanto é bom ser artesã, como é bom ser profissional. Eu levo o artesanato do licuri (ouricuri) em vários municípios, para mostrar a importância dessa palha nativa e o que podemos fazer com ela.”

Cestos e bolsa trançados em palha do licuri. Mistura de técnicas na confecção dos artefatos artesanais Município de Iaçu

Palha Viva Palha Viva Rosângela Aragão Guimarães
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A troca de saberes entre comunidades favorece o potencial criativo dos núcleos produtivos. Saubara, Iaçu, Ibiquera e Itabe raba são exemplos de regiões que compartilharam os saberes técnicos (trançado costurado e ponto aberto) e com isso potencializaram a produção artesanal.

Vale salientar que, ao longo desses anos, o compartilhamento de saberes entre as comu nidades artesanais também foram sistematizados em outras localidades da Bahia, inclusive com outras fibras, sendo assim uma oportunidade de multiplicar conhecimento e técnicas artesanais.

AASB - Associação dos Artesãos de Santa Brígida

Caixa com tampa em fibra da palmeira de licuri, trançado, costurado e tingida com corantes naturais da caatinga. Pássaros entalhados em madeira de umburana reaproveitada

Localidade de Morada Velha Município de Santa Brígida

Palha Viva

Cestos e bolsas trançados em palha do licuri. Mistura de técnicas na confecção dos artefatos artesanais. Detalhe das bolsas em fibra da bananeira Município de Iaçu

Detalhe descansador de panelas em fibra de licuri e linho (fio do licuri tingido)

Localidade de Barra do Jacuípe Município de Camaçari

Marina Cristina
109108

“Sou conhecida aqui no povoado Várzea Formosa, município de Itiúba como Nana. Desde os 10 anos tive o contato com o artesanato, preparando a fibra para ajudar minha mãe, dois anos depois eu já estava trabalhando nas minhas peças. Em 2004 conseguimos montar nossa associação e até hoje tem sido de grande valia para o sustento das mulheres que participam. Nosso artesanato é diferenciado, feito com muito amor e qualidade, podem ser redondas ou quadradas, cada artesã tem sua preferência, o que eu mais gosto de fazer são os porta-joias e o suporte de panelas.”

Ednalva Mudesto Nascimento

Localidade de Várzea Formosa Município de Itiúba

“Comecei a fazer artesanato com 7 anos e fui me aperfeiçoando, participando dos grupos produtivos, que tinham o apoio do Sebrae. Foi lá que aprendi o “bordado” com a palha, em Alagoas, onde nasci. Com uns 20 anos tirei minha carteira de artesã e a cada dia fui me apaixonando. Tive uma temporada em Aracaju, mas somente quando vim morar na Bahia que as coisas começaram a dar certo! Agradeço muito a Deus por esse dom e o retorno dessa minha atividade. Hoje é meu meio de renda, cada dia crio mais peças e sou apaixonada pelo que faço.”

Marina Cristina Santos Palha Formosa da Serra Vasinho trançado e costurado com a fibra do licuri Marina Cristina Caixa com tampa “bordada” em fibra de licuri e detalhe em palha de piaçava Localidade de Barra do Jacuípe Município de Camaçari
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AASB - Associação dos Artesãos de Santa Brígida

Composição em fibra da palmeira de licuri, trançado, costurado e tingida com corantes naturais da caatinga.

Pássaros entalhados em madeira de umburana reaproveitada

Localidade de Morada Velha

Município de Santa Brígida

“Sou neta do saudoso Zé Valdo e ele foi o responsável por ensinar a trabalhar com a palha de licuri para toda a família. Aprendi com 7 anos, fazia pequenas coisas para ajudar minha mãe, mas só entrei na associação já com 20 anos, tendo meu avô ao meu lado para ajudar nos desafios administrativos.

Os pássaros da caatinga, em especial o galo de campina, foi uma inspiração que meu avô teve esculpindo a madeira descarta da de umburana. Ele fazia peças ex-votos para os fiéis pagarem promessas, quando surgiu a ideia de retratar a nossa região. Atualmente a gente se divide no trabalho do trançado da palha e no entalhe do reaproveitamento da madeira. Eu tenho muito orgulho de toda a história e de tudo que foi construído na nossa associação, com muita fé, força e coragem, nosso trabalho familiar continua firme e forte. Se depender de mim, vou fazer o meu melhor para manter esse legado. Estou muito feliz em ter ganho a premiação Top 100 do Artesanato, isso me deu uma energia boa, um estímulo de seguir em frente.”

Anaiza Rosa Artesã(o) de unidade produtiva premiada pelo “Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato - 5ª Edição”
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AASB - Associação dos Artesãos de Santa Brígida

Composição de cestos e caixas com tampa (página seguinte) em fibra da palmeira de licuri, trançado, costurado e tingida com corantes naturais da caatinga. Pássaros entalhados em madeira de umburana reaproveitada

Localidade de Morada Velha Município de Santa Brígida

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Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia

Mandala em fibra de piaçava em pátina e palha da costa

Município de Ituberá

Na “costura” da fibra da piaçava com linhas, fios de algodão ou sintéticos, ou ainda a palha da costa, além de proporcionar a montagem, a estrutura e a firmeza do artefato artesanal, a técnica como é conduzida essa forma de amarração, resulta em uma composição estética, formando além de figuras geométricas, simulações visuais de movimento e “texturas visuais”.

A adição de pontos aproximados ou afastados gera um contraste entre as colorações da fibra com os fios, resultando em um gama de composições tonais. Tradicionalmente a palha da costa sempre foi o elemento complementar dessa técnica, mas à medida que foram sendo realizadas inclusões de oficinas e imersão do design como eixo agregador de criatividade, as possibilidades foram ampliadas.

Piaçava em fibras

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“Somos um grupo de artesãs do Quilombo da Lagoa Santa, situado na cidade de Ituberá. Produzimos cestos com a fibra da piaçava que colhemos na nossa própria região. A colheita é feita de ano em ano e em três etapas: a primei ra, os homens colhem as fibras. Na segunda etapa fazemos a limpeza, a lavagem e a seca gem. Na terceira e última etapa, idealizamos a peça e começamos imediatamente a costura.”

Daniela Lacerda da Conceição

Artesã(o) de unidade produtiva premiada pelo “Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato - 5ª Edição”

Fibra de piaçava, matéria-prima principal no desenvolvimento de muitos artefatos artesanais da região do Baixo Sul da Bahia

Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia

Unidade produtiva premiada pelo TOP 100 do Artesanato - 5ª Edição

Cesto em fibra de piaçava e palha da costa

Município de Ituberá

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Trançart

Cesto em fibra de piaçava, palha da costa, trança de piaçava e fio colorido

Município de Ituberá

As diferentes formas de costura viabilizam uma composição estética diferente. Este é mais um dos re sultados obtidos pela inserção das consultorias em design nos projetos artesanais. Investimento em capacitações promove conhecimento, mas principalmente funciona como um instrumento que impulsiona a criatividadede aliada à habilidade técnica do artesão. É a troca de saberes entre artesão e os consultores desig ners, proporcionando a valorização dos artefatos artesanais, na estética, na funcionalidade, aprimorando o “olhar conceitual” das demandas contemporâneas do mercado consu midor.

Trançart

Cesto em fibra de piaçava e palha da costa, trançada em técnicas diferentes, proporcionando uma varição da textura visual

Município de Ituberá

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Registro do resultado obtido durante as capacitações e consultorias realizadas em design, gestão financeira e acesso a mercado na comunidade Lagoa Santa no município de Ituberá.

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Município de Ituberá

Colares com estrutura em fibra de piaçava e detalhes em cerâmica de alta temperatura. É a mistura de matérias-primas no aprimora mento do artefato artesanal

Município de Salvador

Trançart

Cesto com alça em fibra de piaçava e fio colorido Município de Ituberá

Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia Mandala em fibra de piaçava e fios coloridos, trançada em técnicas diferentes, proporcionando uma varição da textura visual Sonia Costa
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Trançart

Cesto em fibra de piaçava, pátina e palha da costa. Detalhes com sementes da região

Município de Ituberá

Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia

Cesto em fibra de piaçava e palha da costa. Detalhe com corda de sisal e couro

Município de Ituberá

Travessas em fibra de piaçava e fio colorido, trançada em técnicas diferentes, proporcionando uma varição da textura visual

Município de Ituberá

Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia
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Cesto com alça em fibra de piaçava e fio colorido, trançada em técnicas diferentes, proporcionando uma varição da textura visual

Município de Ituberá

Cesto com alça em fibra de piaçava e fio colorido, trançada em técnicas diferentes, proporcionando uma varição da textura visual

Município de Ituberá

Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia Joias do Quilombo | Ass. Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia
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Trançado das Marias

Cesto trançado na palha da piaçava tingida. Detalhe de acabamento nas alças com reaproveitamento de tranças

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

O processo artesanal com as palhas envolve a técnica da coleta da matéria-prima, desfiamento da fibra, secagem, trançado, costura das peças e a depender da região o tingimento com corantes naturais e artificiais.

O trançado, que é viabilizado por meio das “tranças”, varia pelo emprego do número de palhas que essencialmente definem sua estrutura. São confeccionadas com a palha riscada, cortada da espessura predeterminada pelo artesão, de acordo com a largura desejada para compor a trança. Posteriormente são combinadas, formando as diferentes tranças, das mais largas às mais estreitas. Também são identificadas algumas opções de “pontos” do trançado da palha de piaçava, dentre eles, os mais utilizados, principalmente das artesãs do Litoral Norte da Bahia, que são os os pontos tradicionais dos pares, o ponto lacinho e o bicão.

Piaçava em palha

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O entrelaçamento das palhas, em relação à quantidade de palhas e cores, acaba por formar desenhos geométricos. E nessa “coreografia” habilidosa das mãos das artesãs, que empregam de forma bastante criativa diferentes composições tonais, o resultado é apresentado de forma precisa “estampas exclusivas” repletas de cores e vivacidade.

A preservação ambiental tem sido um tema abordado, de forma que a matéria-prima seja extraída e utilizada de forma sustentável, visando manter o equilíbrio entre esses pilares.

Palha da piaçava no processo de secagem Município de Entre Rios

“O trançado tupinambá é arte ancestral.

É atividade coletiva, familiar e predominantemente realizada por mulheres.

É cultura que traduz a identidade de um povo que resiste e cria, que insiste e recria.

O trançado tupinambá é arte, mas também é trabalho!

É processo duro que exige habilidades especiais.

É extrair da mata a fibra da piaçava.

É arrumar na panela e pôr no fogo de lenha para cozinhar.

É ter que abrir, enrolar e colocar para secar, penduradas feito casulo e esperar para, então, ver a metamorfose se iniciar.

É riscar já pensando no produto que irá confeccionar.

É tingir com corantes naturais ou artificiais, seguindo as especificações do cliente.

É tecer, seja lá qual for o trançado: 17 pares, 13 pares, lacinho ou bico.

É costurar, respeitando as formas e as medidas.

O artesanato tupinambá é diversidade.

É chapéu, carteira, bolsa, cestos ou esteiras.

É cipó de rego, urucum ou capianga.

É família, comunidade, mãe, mulher, filha e artesã.

É garra, resistência, criatividade, liberdade e renda.

É arte, pura arte que me define.

Maria Joelma Bispo

Artesã(o) de unidade produtiva premiada pelo “Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato - 5ª Edição”

APSA

Bolsa em palha de piaçava trançada natural e tingida

Município de Entre Rios

133132

“O artesanato trouxe para mim a pos sibilidade de aumentar minha renda e posso dizer que hoje eu vivo, me mantenho e sustento minha casa com o artesanato. Além da qualidade financeira, o artesanato representa a satisfação e a alegria de fazer uma peça e o cliente elogiar, parabenizar. É isso aí que me deixa mais feliz. Acredito muito que para as coisas darem certo em nossa vida é preciso se dedicar. Eu amo fazer artesanato. Para mim é uma terapia, me sinto realizada.”

Mãos Nativa

Cesto trançado em palha de piaçava natural e tingida

Localidade Costa dos Coqueiros Município de Mata de São João

“O artesanato é tradicional e segue os ensi namentos passados de mãe para filhas, mas a nossa história se mistura com a da minha família. Minha avó sempre fez o bocapio e chapéus. Minha mãe, em nome do amor, foi morar na beira do rio, vivendo de pesca e de pe ças artesanais que vendiam em cidades mais próximas. Hoje, nosso artesanato tem o cipó que fazia o jequi (utilizado para a pesca) e o trançado da palha. Esse casamento entre cipó e palha é a inspiração da nossa criati vidade. Além disso, temos trabalhado com o reaproveitamento de tranças que antes eram descartadas e agora elas fazem parte dos detalhes e dos acabamentos dos produtos.”

Trançado das Marias

Composição de cesto com duas técnicas diferentes de trançado na palha da piaçava tingida. Detalhe de acabamento com reaproveitamento de tranças

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

Marluce Oliveira da Conceição
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Sequência de carteiras e cestos trançados na palha da piaçava tingida, na técnica do laçinho

Artefados desenvolvidos na comunidade em diferente núcleos produtivos, durante as consultorias com foco em design

Localidade Costa dos Coqueiros Municípios de Entre Rios e Mata de São João

“Sou Evanira, do Litoral Norte da Bahia, na Costa dos Coqueiros. Comecei a me interessar pelo artesanato aos 5 anos, aprendi com a minha mãe e ensinei para minhas filhas e sobrinhas. Fazemos parte de uma grande comunidade de artesãs que vive desse ofício, são quase 1.200 famílias envolvidas e que vivem do artesa nato. Uma herança indígena do trança do tupinambá, que com o tempo vem trabalhando e aperfeiçoando os produtos. Nosso artesanato é feito com a palha da piaçava e costurado com o ‘linho’ do licuri. Tudo feito com muito amor e dedicação! É uma felicidade imensa ver nosso trabalho espalhado em todo o Brasil e também em outros países, como Bélgica, Alemanha e Itália.”

Cestos trançados na palha da piaçava natural e tingida, assim como carteiras trançadas na palha da piaçava natural e tingida em diferentes técnicas (17 pares, laçinho e bicão)

Artefatos desenvolvidos na comunidade em diferente núcleos produtivos, durante as consultorias com foco em design

Localidade Costa dos Coqueiros Municípios de Entre Rios e Mata de São João

Evanira Gonçalves
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Cooperafis

Descansador de panelas em fios de sisal tingido, trançado e costurado

Município de Valente

O sisal é uma planta originária do México que foi introduzida no Brasil e se adaptou ao clima semiárido baiano, conhecida atualmente como Território Sisaleiro.

As folhas do sisal possuem uma fibra dura, grossa, de cor creme ou amarelo pálido e a colheita é realizada de forma manual. Em seguida são desfibradas e secadas em varais sob a luz do sol, por cerca de 72 horas. São utilizadas em seu tom natural, mas também podem ser tingidas com corantes naturais ou artificiais.

Sisal 138 139

Registro da localidade da zona rural de Valente. Plantação do sisal e sequência do sisal como fibra, estendidas nos varais para secagem sob a luz do sol

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Registro de resultado de consultorias em design com o grupo da Cooperafis. Caixas com tampa em diferentes formatos na fibra do sisal natural e tingida com corantes naturais.

Cooperafis

Carteira em fios de sisal em macramê

Município de Valente

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Agradecimento Expediente

As fibras, os trançados e as cestarias são tipologias encontradas em diversas localidades da Bahia. Muitas com origem da miscigenação de culturas. Historicamente como herança indígena, mas também ao longo dos anos se misturam aos saberes das antigas popula ções, inclusive as de raízes africanas. Esse conhecimento influenciou no desenvolvimento da técnica do trançado empregado pelos diversos artesãos brasileiros.

Cores, Fibras e Fios pelo Olhar Artesão, como um recorte na interpretação das cores nas fibras vegetais utilizadas nas unidades produtivas retratadas e apoiadas pelo Projeto Artesanato Bahia Original, é uma maneira simbólica de valorizar o trabalho que tem sido executado ao longo de tantos anos pelos artesãos, assim como preservar esse legado de cultura identitária, da história, do fazer artesanal e das matérias-primas utilizadas. Além disso, o propósito de apresentar as referências em relação ao manejo sustentável de preser vação dos biomas nativos e a manutenção da cadeia produtiva. Cada relato compartilhado, cada produto apresentado, uma inspiração registrada.

Nosso agradecimento e homenagem aos artesãos e a todos os envolvidos no projeto, que com muita seriedade, coragem e determinação, implantam a semente para disseminar e multiplicar conhecimento, trocar saberes e fortalecer o eixo criativo e produtivo do artesanato, aliado à consciência ambiental de preservação dos insumos naturais e respeito com o ecossistema.

SEBRAE BAHIA

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Bahia

Conselho Deliberativo do Sebrae Bahia Carlos de Souza Andrade

Diretoria da Superintendência Jorge Khoury

Diretoria Técnica Franklin Santana Santos

Diretoria Administrativa-Financeira José Cabral Ferreira

Unidade de Atendimento Coletivo Célia Fernandes (Gerência) Tatiana Martins da Silva (Coordenação de Economia Criativa)

Civil Tower, Torre Cirrus - Rua Arthur de Azevêdo Machado, 1.225 - Costa Azul Salvador/BA - CEP: 41770-000 www.ba.sebrae.com.br 0800 570 0800 @sebraebahia

SENAR BAHIA

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

Presidente do Conselho Administrativo Humberto Miranda Oliveira Superintendente Carine Menezes Magalhães

Coordenadora Técnica - Gestora de Convênio Jaqueline Errico Batista

Rua Pedro Rodrigues Bandeiras, 143 Comércio – Salvador/BA CEP: 40015-080 - (71) 3415-3100 www.sistemafaeb.org.br @faebsenarbahia

Direção Geral da Publicação Tatiana Martins da Silva

Curadoria e Direção Criativa Andréia Caetano Tatiana Martins da Silva

Conteúdo Andréia Caetano

Miguel Bittencourt Tatiana Martins da Silva

Consultoria

Andréia Caetano Design Estratégico BeM Consultoria ISOPE Consultoria MMO Consultoria Empresarial

Projeto Gráfico Andréia Caetano

Editoração Yayá Comunicação Integrada Fotos Valmir Martins

Fotógrafos Colaboradores Andreia Caetano Mário Bestetti

Jussara Amaral Miguel Bittencourt Rodrigo Lyra Banco de Imagem iStock Photos

Impressão

WR Impressão e Comunicação Visual Publicação: outubro/2022

Tiragem: 500 exemplares

@artesanatoreferencia

Capa

Composição de mandalas em diferentes fibras (licuri, cipó e piaçava)

Trançado das Marias

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

AASB - Associação dos Artesãos de Santa Brígida Localidade de Morada Velha Município de Santa Brígida

Guardas

Detalhe do trançado lacinho em piaçava tingida

APAS

Localidade da Costa dos Coqueiros Município de Entre Rios

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Contatos

Ana Fiuza Caires

@anacairesarte Artesanato Referência da Bahia @artesanatoreferencia Associação das Rendeiras de Dias d’Ávila @rendavan2019 Associação de Produtores da Floresta do Baixo Sul da Bahia @lagoasantajoiasdoquilombo Associação dos Artesãos de Santa Brígida @aasb_santabrigida Associação dos Artesãos de Saubara @saubara_rendeiras AUMMA - Associação União de Mulheres de Monte Alegre @aumma.artesanato

Célia Amorim @celia.amorim62 COOPERAFIS - Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão @cooperafis Costa dos Coqueiros (APAS, APSA, Mãos Nativa) @apsa.sauipe / @jaciradaconceicao / @evaniragoncalvesdos

Dinalva Bispo dos Santos @ds.dinasantos Dorian Almeida @almeidadorian Geiza Jesus dos Santos @tonsdeterra1 Josete Bezerra da Silva @josete.arts

Josué Ferreira @josuelima886 Luis Santana @luistear Mari Correia @maricorreiaartes

Maria Regina Soares @ecotilapia.arte Milla Leal @_mirinhaleal

Palha Formosa da Serra @artesanato_palhaformosa_itiuba

Sônia Costa @soniacosta04 Trançado das Marias @artesanato.trancadodasmarias Trançart @joseroque.roque.12

Tirson Fernandes @tirsonfernandes

Palha Viva @rosaa_aragao

Pollyanna Silveira da Costa @atelie_doce_polly

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Referências bibliográficas

Fios e fibras, imbiras, bitús e caçuás: a fiação, a tecelagem, o trançado artesanal da Bahia. Instituto de Artesanato Visconde de Mauá, Salvador 2014.

Saberes e fazeres: Artesanato baiano. Instituto de Artesanato Visconde de Mauá. Salvador 2010.

Feito à Mão, Técnicas Artesanais da Bahia. Salvador, 2014. https://www.cerratinga.org.br/especies/licuri/ http://portalsemear.org.br/boaspraticas/artesanato-com-manejo-sustentavel/ https://pt.linkedin.com/pulse/rede-de-artesanato-do-polo-da-palha-licuri-frank-lorens

Termo de Referência do Artesanato

PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410900/CA

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