INFORME CONEXÃO BAHIA ESPECIAL ED. JUNHO2021 DIGITAL

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INFORME ESPECIAL

ANO VII, Nº 20, JULHO DE 2021

ORIGINAL DA BAHIA PRODUTO LOCAIS QUE TRADUZEM A NOSSA MARCA

Aguardente da microrregião de Abaíra é um dos 4 produtos baianos a alcançar o selo de Indicação Geográfica.

FOTO: DANILO MIRANDA


EXPEDIENTE Informe Conexão Especial Ano VII, n° 20, julho 2021 Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Bahia

Carlos de Souza Andrade Diretor-superintendente

Jorge Khoury Hedaye Diretores Franklin Santana Santos José Cabral Ferreira

UNIDADE DE MARKETING E COMUNICAÇÃO Gerente

Camila Passos Jornalista responsável Pedro Soledade (MT/BA 5546) Equipe

Alice Vargas, Isabela Oliveira, Melissa Barbosa, Pedro Soledade, Rafael Pastori e Vanessa Câmera Estagiários: Caio dos Santos, Carla Freitas, Pedro Henrique Silva e Raquel Cana

Nas fazendas de Marcelo Teixeira e família são criados os cordeiros que dão origem aos cortes especiais

PIONEIRISMO DE FAMÍLIA

Agência Sebrae de Notícias (ML Comunicação)

Carla Fonseca, Carlos Baumgarten, Cristiana Fernandes, Darío G. Neto e Igor Leonardo Revisão de texto Carlos Baumgarten

CASE JACOBINA

Aprimoramento genético de cordeiros permitiu produção e preparo de cortes especiais de carne em propriedade de Senhor do Bonfim

Edição

Carla Fonseca

FOTO: DANILO MIRANDA

Edição de fotografia

Darío G. Neto Capa

Darío G. Neto Projeto gráfico original Eduardo Vilas Boas Editoração

Yayá Comunicação Integrada Edição digital Sebrae – Unidade de Marketing e Comunicação Rua Arthur de Azevêdo Machado, 1225, Civil Towers | Torre Cirrus. Costa Azul. Salvador/BA. CEP: 41760-000

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empresário Marcelo Teixeira faz questão de explicar que A.C.V.T. são as iniciais do nome do pai, Antônio Cezar Vicente Teixeira. “Em nossas fazendas e demais negócios sempre coloco as iniciais dele como homenagem e também para saber que fazem parte do mesmo grupo”, diz. E é da Fazenda Limões A.C.V.T. que vem um dos investimentos de maior destaque do empreendedor, que atua na região de Senhor do Bonfim, centro norte do estado. Na propriedade, são criados os cordeiros que dão origem aos cortes preparados pelo Emporium Carnes Especiais. Esse empreendimento, também de propriedade da família Teixeira, atua no beneficiamento e preparo dos cortes. “Temos a estrutura de um pequeno entreposto denominado Entreposto de Carnes A.C.V.T. É a primeira empresa regional do ramo a possuir o selo de certificação SIM (Serviço de Inspeção Municipal) e do CDS TIPNI-BA (Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Território Piemonte Norte do Itapicuru)”. “Nossa produção ainda é pequena e artesanal, pois na fazenda contemplamos toda a cadeia produtiva, desde o nascimento até a finalização da carcaça dos cordeiros. Terceirizamos o abate na cidade de Miguel Calmon”, explica Marcelo.

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O empresário conta que foram os tios, Luiz e Eduardo Teixeira, que, no ano de 1998, trouxeram da África do Sul para o Brasil os primeiros embriões congelados da raça de ovinos Dorper. “Esses animais se destacam de uma forma inimaginável em nosso país e o melhoramento genético é reconhecido em toda a América Latina”. De acordo com Marcelo, a partir do melhoramento genético, ao longo de cinco aos, foi possível produzir cordeiros prontos para o abate com cinco meses de idade. “Produzimos uma carne extremamente macia, valorizada, saborosa e inigualável”. Em meio à inquietação e persistência, típicas de um empreendedor, Marcelo Teixeira conta com o apoio e orientação do Sebrae. Atualmente ele participa do Renova Varejo, focado no processo de adaptação das empresas em meio às mudanças impostas pela pandemia do coronavírus, a exemplo da necessidade de maior presença digital e de remodelagens dos negócios sob novos paradigmas de consumo.

“O Sebrae abriu meus olhos e se tornou uma ferramenta essencial para ter um diálogo mais amplo e extremamente educacional entre eu e meus colaboradores, ratificando, renovando as ideias que eu, como gestor, já utilizo e não estava conseguindo repassar totalmente”, relata Marcelo.

Gerente regional do Sebrae em Jacobina, Geronilson Ferreira destaca a história de persistência da família Teixeira, hoje representada pelo jovem Marcelo. “A dedicação remete a 1998, quando os irmãos Luiz e Eduardo Teixeira se desafiavam à grande transformação pela qual passaria a nossa região no segmento da ovino e caprinocultura de forma pioneira no país”. Geronilson conta que o maior desafio da última década foi estruturar a cadeia produtiva. “Houve uma crescente repercussão na sociedade da qualidade oriunda das espécies de ovinos em específico. Com a atuação efetiva do Sebrae, retomada em 2019, conseguimos focar nesse caminho e, com o Renova Varejo, em 2021, levamos ao empreendedor ferramentas para que ele possa alavancar seus negócios, por meio do aprimoramento da gestão, aumento das vendas, ações de marketing, entre outros aspectos. Temos que fixar o homem e mulher do campo, por meio da produtividade e retorno econômico”, conclui Geronilson. Formado em Direito, Marcelo sempre teve uma ligação com o campo e, mesmo durante os anos que estudou e se formou em Salvador, nunca tirou da mente o que poderia fazer para incrementar a propriedade da família. “Na verdade, nasci no meio rural e gostando do agronegócio. Meu pai é Engenheiro Civil de profissão, mas sempre teve fazenda de pecuária de corte de bovinos, em um modelo que sempre foi bem extensivo, pouco observado, com pouca tecnologia e sem muita organização”, lembra. "Durante o período em que estudei em Salvador, fiz inúmeras tentativas para viabilizar alguns negócios com a propriedade que não deram certo, a exemplo da criação frangos, cavalos, ovos. Mas, eu nunca desisti", reitera. Marcelo retornou a Senhor do Bonfim em 2011 para exercer a advocacia e trabalhar na fazenda da família. Hoje, a Fazenda Limões A.C.V.T., além de produzir exclusivamente para a Emporium Carnes Especiais, expandiu para o setor da construção. “Já temos 50% da construção do Condomínio Residencial Terras da Limões A.C.V.T, localizado a 1,7 km do centro de Senhor do Bonfim”.

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CASE BARREIRAS

BANANA DA LAPA

FOTO: CRISTIAN HARLEY

Identificação Geográfica vai mostrar diferencial de qualidade da fruta que vem do município de Bom Jesus da Lapa FOTO: CRISTIAN HARLEY

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odo mundo fala que é ‘a banana clarinha da Bahia’, porque ela fica num tom claro, um amarelo ouro, e todas as regiões do Brasil reconhecem a qualidade. É por isso que a Indicação Geográfica remete à nossa região, banana da Lapa. Isso vai mostrar um diferencial de qualidade da nossa fruta”, conta orgulhoso Ervino Kogler, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Bom Jesus da Lapa e da Associação Banana da Bahia. Diretamente do oeste baiano, famoso pelas culturas de grãos, um dos principais diferenciais de Bom Jesus da Lapa foram os investimentos em infraestrutura e novas tecnologias. Essa região do sertão recebeu o perímetro irrigado do Projeto Formoso, implantado pela Codevasf em 1990, para atender a pequenos e médios produtores rurais de uma área total de 14 mil hectares. A bananicultura começou a ser implantada em 1998.

Ervino T. Kogler, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Bom Jesus da Lapa e da Associação Banana da Bahia, faz parte da entidade representativa para reconhecimento da IG

“O Projeto Formoso é um oásis no meio do sertão. Aqui é uma região que chove pouco, não se planta nada sem irrigação. Nós só produzimos alimentos porque existe o perímetro irrigado. Cria-se um ambiente perfeito, aqui é o paraíso para a produção de frutas”, exalta Ervino. Hoje, o perímetro irrigado é 100% administrado pelos produtores, autossustentável e favorece a plantação de limão, laranja, tangerina ponkan, mamão, melancia e outras culturas perenes, mas o carro chefe é a banana nanica e a prata, que ocupam em torno de 8.500 hectares da região. O município de Bom Jesus da Lapa já teve o título de maior produtor de banana do Brasil, mas hoje está em terceiro lugar.

A produção do Projeto Formoso, atualmente, carrega em média 1.200 caminhões por mês e cada caminhão tem capacidade para transportar 12 toneladas de banana.

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Processo para obtenção do selo de Indicação Geográfica foi iniciado em 2019

FOTO: CRISTIAN HARLEY

Todo esse volume produtivo leva à geração de 7 mil empregos diretos e uma média de 7 a 10 mil indiretos. Atualmente a produção do projeto Formoso carrega em média 1.200 caminhões por mês, com capacidade para transportar 12 toneladas de banana. Junto com a Associação de Frutas do Oeste, o Sindicato dos Produtores Rurais de Bom Jesus da Lapa e o Distrito Irrigado do Projeto Formoso (DIF), o Sebrae iniciou os processos para solicitação da Indicação Geográfica em abril de 2019. O direcionamento para o estudo de viabilidade técnica da estruturação da IG da banana da Lapa contou com a realização de consultorias, levantamento histórico-cultural, construção do caderno técnico de especificações e criação do selo distintivo, totalizando 630 horas de atividades.   “O Sebrae apoia a atividade da fruticultura no oeste da Bahia com ações de acesso a mercado, clínicas tecnológicas, consultorias e capacitações para os produtores com o intuito de tornar a atividade mais competitiva e sustentável. Essa região já é referência na produção de banana, o próximo passo será a Indicação Geográfica, que poderá trazer o reconhecimento internacional da qualidade da banana, resultado de muitos esforços em melhoria nos processos produtivos e uso de tecnologias”, destaca Adriana Morais, gerente do Sebrae em Barreiras.

O Sindicato dos Produtores Rurais foi criado com o apoio da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), em 2019, pela necessidade de ter uma entidade que pudesse buscar assistência técnica representando a todos os produtores da região. Através de uma parceria entre o Sindicato e o Senar, por meio do programa Agronordeste, 120 produtores rurais já receberam assistência técnica para suas produções. A região que está delimitada para a IG Banana da Lapa vende, semanalmente, para 19 estados do Brasil. Por ser um grande polo e ter alta capacidade de produção, conseguem comercializar a fruta para qualquer destino. A região que mais compra a banana de Bom Jesus da Lapa é a Centro Oeste e, por unidade federativa, Distrito Federal e Goiás são os maiores consumidores. “Estamos bem encaminhados. Se não fosse a pandemia, com certeza, já estaria pronto e a banana sendo selada, mas a gente vai chegar lá. A importância do Sebrae nisso é grandiosa. Fizemos vários cursos para produtores, viagens técnicas e comerciais. Hoje, estamos implantando a IG Banana da Lapa graças à ajuda e ao empenho do Sebrae”, finaliza Kogler.

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ORIGINAL DA BAHIA Registro de Indicação Geográfica (IG) destaca diferencial de produtos baianos FOTO: DANILO MIRANDA

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s amêndoas de cacau, da espécie Theobroma cacao L., do sul da Bahia são únicas. Este é o mesmo caso do café verde em grãos, da espécie Coffea arábica, do oeste da Bahia, e das uvas de mesa e mangas do Vale do Submédio São Francisco. Outro produto baiano diferenciado é a aguardente de cana do tipo cachaça, da microrregião de Abaíra. O que esses quatro itens têm em comum e os tornam especiais é o registro de Indicação Geográfica (IG). A IG significa o reconhecimento para o mundo de que essas regiões possuem capacidade de produzir esses artigos com primor e exclusividade. A IG é um selo que comprova a origem de produtos ao qual estão associados atributos de qualidade e características específicas, reconhecidas e apreciadas pelos consumidores. “A IG valoriza a região por meio de seu produto ou serviço e confere maior acesso a novos mercados para comercialização. Já os municípios e seu entorno podem se beneficiar com a atração de turistas, que incluem a compra desses produtos ou a utilização de tais serviços como parte da experiência da viagem e, na volta, levam presentes e agradáveis recordações”, afirma o técnico do Sebrae e especialista em Indicação Geográfica, Eduardo Garrido

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A Cachaça de Abaíra está entre as quatro Indicações Geográficas (IG) da Bahia.

Desde 2003, as Indicações Geográficas (IGs) brasileiras recebem apoio do Sebrae. No Brasil, 77 regiões têm esse reconhecimento. Destas, quatro estão na Bahia, sendo que as uvas de mesa e manga do Vale do Submédio São Francisco é compartilhada com Pernambuco. Entre as Indicações Geográficas brasileiras estão vinhos, espumantes, cachaças, cafés, queijos, frutas, frutos do mar, linguiças, farinhas, guloseimas, artesanato, minerais, produtos têxteis, entre outros. As IGs ajudam na preservação da biodiversidade, do conhecimento e dos recursos naturais, e trazem contribuições extremamente positivas para as economias locais e para o dinamismo regional. Elas são ferramentas coletivas de valorização de produtos tradicionais vinculados a determinados territórios. Ao mesmo tempo, as IGs agregam valor e protegem juridicamente o produto ou serviço, cumprindo as suas duas principais funções. Quando há reconhecimento de uma IG, a região ganha valor diferenciado, tem sua cultura preservada e registra melhoria na geraçãode emprego e renda. O técnico do Sebrae explica ainda que a IG é um signo distintivo que parte do princípio da proteção à propriedade intelectual, mas se configura como uma ferramenta coletiva, que beneficia os detentores de um determinado produto ou serviço com relação ao saber-fazer tradicional, suas propriedades e características históricas associadas à origem geográfica, ou seja, ao território em que estão localizados.


FOTO: ISTOCK

FOTO: MAURÍCIO MARON

Conforme a Lei da Propriedade Industrial, as IGs são divididas em duas espécies: Indicação de Procedência (IP) ou Denominação de Origem (DO). A IP valoriza a tradição produtiva e o reconhecimento público de que o produto de uma determinada região possui uma qualidade diferenciada. Ela protege a relação entre o produto e a sua reputação, em razão de sua origem geográfica específica. As quatro IGs da Bahia são de Indicação de Procedência. Na Denominação de Origem as características daquele território agregam um diferencial ao produto. Define que uma determinada área tenha um produto cujas qualidades sofram influência exclusiva ou essencial por causa das características daquele lugar, incluídos fatores naturais e humanos. Como acontece O reconhecimento de uma IG acontece quando um produto ou serviço referencia um nome geográfico, cujas características de qualidade decorrem dos atributos do território (solo, clima, vegetação, topografia) e do saber-fazer (tradição), conquistando notoriedade comprovada, influenciados por fatores naturais ou humanos. Aí se verifica um potencial de Indicação Geográfica. O reconhecimento se dá por meio do exame de um conjunto de documentos e evidências estabelecidas pela Lei da Propriedade Industrial (Lei Nº 9.279/1996) e pela Instrução Normativa Nº. 95/2018. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é o órgão que verifica se um pedido de registro de IG atende aos requisitos necessários para sua concessão. São cinco etapas principais no fluxo de registro do pedido: depósito; exame preliminar; publicação do pedido para manifestação de terceiros; exame de mérito; e recurso. “O tempo para concessão pode variar conforme grau de maturidade do potencial de IG e do atendimento aos requisitos elencados pelas normativas estabelecidas. Depois de concedido o registro, não há prazo de vigência para as IGs”, explica Eduardo Garrido.

FOTO: ISTOCK

Frutas do São Francisco A coloração intensa e o sabor das uvas e mangas são os destaques que contam como preferência dos consumidores nacionais e internacionais. Esses foram alguns fatores que levaram os produtos cultivados no norte baiano e oeste de Pernambuco a conquistarem o registro de Indicação Geográfica (IG). O reconhecimento nacional e internacional dos produtos da região advém de uma combinação de múltiplos fatores e os diferenciam de qualquer outra área. Dentre essas características, estão o terroir (característico da região) único, com coloração intensa e sabor destacado, os fatores edafoclimáticos (relativo aos solos e ao clima), as técnicas de manejo e de controle de irrigação, com desvio de parte do rio São Francisco para a irrigação, a tecnologia aplicada e a qualidade das uvas de mesa e das mangas. A associação dessas características promove elevados níveis de produtividade de 2,5 safras por ano em uma área de mais de 110 mil hectares às frutas da região, equivalentes a um terço das exportações de frutas do país e a 95% da exportação brasileira de uvas de mesa e de mangas. A proteção do nome do Vale do Submédio São Francisco, que tem sido utilizado por outros produtores de frutas de fora dessa região, visa a garantia ao consumidor da origem do produto. A União das Associações e Cooperativas dos Produtores de Uvas de Mesa e Mangas do Vale do Submédio São Francisco (Univale), entidade representativa da IG, também garante a qualidade das frutas, de acordo com padrões definidos pelos compradores e certificações internacionais. Para o gerente regional do Sebrae em Juazeiro, Carlos Cointeiro, a instituição tem se esforçado para auxiliar os produtores da região com a oferta de capacitações e consultorias voltadas para a gestão dos seus negócios. “O Sebrae atua em conjunto com a Univale para ofertar aos produtores todas as soluções que temos para melhoramento no âmbito da gestão dos negócios envolvidos com a produção das uvas de mesa e mangas, buscando auxiliá-los com conteúdos e consultorias relevantes para o crescimento desses negócios”, afirma.

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CASE BAIXO SUL DA BAIHA

POTENCIAL DO DENDÊ Instituições e empresários baianos se unem em prol do reconhecimento da Indicação Geográfica do Azeite de Dendê do Baixo Sul da Bahia

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lemento inerente à cultura baiana, o azeite de dendê além de estar presente na culinária do estado e nas cozinhas de oferenda das religiões de matriz africana, também é usado na indústria de cosméticos, de produtos farmacêuticos e na produção de biocombustível. O “ouro da Bahia”, que, na gastronomia é apreciado por turistas do Brasil e de outros países, chegou por meio de pessoas escravizadas vindas da África. Essa herança ganhou uma força ancestral e é parte indissociável da Bahia. Um grupo de empresários do Baixo Sul do estado, que trabalha com o cultivo do dendê, se reuniu de forma associativa para potencializar as oportunidades para o setor. Com o objetivo de estruturar uma experiência que ajude na divulgação do produto na região, o Sebrae em parceria com outras

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Com potencial para registro de Indicação Geográfica, o Azeite de Dendê da Bahia tem notoriedade, fama e faz parte da cultura do estado FOTO: ISTOCK

instituições baianas, formatou, no final de 2020, a primeira etapa da Rota do Dendê, roteiro turístico que traz a experiência do cultivo do dendê. Além disso, liderados pelo professor do Instituto de Geociência do Departamento de Geografia da Ufba, Alcides Caldas, os produtores da região formam a Rede Pró Indicação Geográfica (IG) para o Azeite da Costa do Dendê. O objetivo da Rede é discutir, pesquisar e construir o dossiê para dar encaminhamento à solicitação de registro da IG. Durante o ano de 2019 foram realizados 14 eventos de mobilização sobre o assunto. “O produto tem reconhecimento, notoriedade, fama e faz parte da cultura baiana. Com o reconhecimento da IG queremos garantir o direito da propriedade intelectual dos produtores baianos”, disse o professor. “Essa é uma grande cadeia local que trabalha a extração, processamento e utilização dos derivados na gastronomia e em outros tipos de indústria. Daí a importância de investir no desenvolvimento e reconhecimento do azeite de dendê”, avalia o gerente regional do Sebrae em Santo Antônio de Jesus, Carlos Henrique Oliveira.


Matheus das Neves gerencia o restaurante Peralta, que é especializado em comida baiana e foi fundado por sua família quando ele tinha apenas 5 anos

FOTO: VIDALTO

De acordo com o empresário, a pandemia do novo coronavírus trouxe um abalo muito grande. O restaurante, que servia uma média de 2 mil clientes por mês, precisou fechar as portas entre março e junho de 2020. “Começamos a atender por delivery, isso foi bom, mas, como estamos localizados fora da cidade não temos a capacidade de atender tantas pessoas. No início da pandemia gastamos todas as reservas, mas mantivemos os 10 funcionários sem demitir ninguém. Agora estamos tentando recuperar o que foi perdido”, afirma. Matheus conta que a relação com o Sebrae foi estabelecida durante todo o processo de crescimento do restaurante. Ele fez cursos de gestão financeira, precificação, vendas, e, de acordo com o empresário, o mais enriquecedor, que foi o Empretec.

“O Empretec lapidou meus Do campo para a mesa O restaurante Peralta, localizado em Valença, é um exemplo de como o Azeite de Dendê que sai do campo para a mesa faz brilhar a comida baiana. Empresa familiar, fundada em 2001, o restaurante hoje é gerenciado pelo estudante de administração de 25 anos, Matheus Queiroz das Neves. Quando seu pai e seu tio, Magno e Marcelo das Neves, montaram o restaurante ele tinha cinco anos. “Eu cresci junto com o negócio da minha família. E fui aprendendo. A gente se adaptou de acordo com a demanda dos clientes. Trabalhamos para proporcionar um ambiente aconchegante, ter uma comida que 'abraça' a pessoa e entregar um pouco da cultura da Bahia”, contou. O fato de estar localizado perto do mar, do mangue e da produção de azeite de dendê faz com que o Restaurante Peralta trabalhe com ingredientes frescos. “Os principais pratos do nosso cardápio são as moquecas, que levam azeite de dendê. O produtor do azeite que nosso restaurante consome está a 50 metros de mim. Eu consigo acompanhar todo o processo de produção. Nossa equipe tem uma destreza muito grande com o preparo da comida típica”, disse Matheus.

conhecimentos e me mostrou métricas para eu desenvolver o meu negócio. O Sebrae nos mostrou muitas necessidades que nem sabíamos que tínhamos” “Observar e poder apoiar o crescimento desse negócio familiar nos mostra o quanto a qualificação é um diferencial de mercado. O Restaurante Peralta é um exemplo de que a busca por conhecimento se transforma em resultados efetivos de faturamento, avanço e desenvolvimento de marca”, avalia o gerente regional do Sebrae, Carlos Henrique Oliveira. “Quero promover experiência, para que meus clientes consumam aqui um pouco da Bahia, seja com o nosso dendê, música ou cultura. Trabalho para o restaurante se transformar no Grupo Peralta, com muito atrativos”, planeja o jovem empresário Matheus das Neves.

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CASE IRECÊ

O diretor financeiro da Coopama, Lucimério Oliveira de Almeida, o presidente da entidade, Evaristo Carneiro, e o presidente da Apama, Rafael Moreira Rocha, trabalharam unidos para conquistar a IG da Cachaça de Abaíra

DE ABAÍRA PARA O MUNDO Cachaça conquista paladares e o reconhecimento de Indicação Geográfica FOTO: DANILO MIRANDA

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em só por belezas naturais a Chapada Diamantina é reconhecida mundialmente. Um produto originário do município de Abaíra tem se destacado nos cenários nacional e internacional desde que se tornou o primeiro na Bahia a receber o registro de Indicação Geográfica (IG), concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A cachaça, que tem mais de 200 anos de tradição, recebeu o selo em 2014 e, desde então, tem se tornado ainda mais importante na economia da região. Produto da Agricultura Familiar, a cachaça é fabricada em alambiques e refletem uma tradição centenária, mas sempre na busca da melhor qualidade para atender o mais fino paladar. De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Aguardente de Qualidade da Microrregião de Abaíra (Apama), Rafael Moreira Rocha, a entidade tem atuado de diversas formas para fomentar a tradição e garantir a sustentabilidade da produção em toda a região. “Ter o produto reconhecido faz com que 70% das famílias da região vivam da cana-de-açúcar e da cachaça, e isso vem acontecendo há mais de 200 anos. É melhoria da qualidade de vida do agricultor e reconhecimento, tanto estadual quanto nacional e internacional”, afirma.

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O Sebrae na região também tem realizado ações que ajudam os empreendedores tanto na busca pela certificação, quanto no reconhecimento do consumidor. “O Sebrae desenvolve ações dentro do contexto da organização de todo processo prévio da certificação, que é requerido pelo INPI, entidade que faz a concessão. Além disso, buscamos nivelar o padrão da qualidade, da organização das entidades coletivas, do foco em mercado e ações voltadas à inovação. Ou seja, é um conjunto de ações que se integram na busca da viabilidade e agregação de valor à atividade produtiva que será certificada”, afirma o gerente regional do Sebrae em Irecê, Edirlan Souza. Ainda de acordo com o presidente da Apama, após o reconhecimento da IG, o produto passou a ser mais valorizado não somente no estado, mas em todo o mundo. Porém, alguns desafios têm sido presentes para que os produtores mostrem ao público em geral a importância de valorizar o produto que possui este reconhecimento. “Acredito que falta o consumidor conhecer, valorizar e comprar o produto de Indicação Geográfica e isso depende de um esforço não somente dos produtores, mas das instituições de fomento. É um desafio que temos enfrentado”, completa.


“Além dessa valorização local, busca-se principalmente que Cerca de 70% das famílias da região vivem da cana-de-açúcar e da cachaça, há mais de 200 anos

FOTO: DANILO MIRANDA

isso traga uma agregação de valor ao produtor rural, levando toda essa imagem ao mercado, que tem muita

Com a certificação, a comercialização também se tornou um fator importante para o escoamento do produto. Neste sentido a Cooperativa dos Produtores de Cana e Seus Derivados da Microrregião de Abaíra (Coopama), que agrega 144 produtores e atua de forma ativa junto aos empreendedores locais. O presidente e o diretor financeiro da entidade, Evaristo Carneiro e Lucimério Oliveira de Almeida, concordam que ainda existe muita dificuldade na comercialização, que está posta não somente por conta da grande oferta de outras marcas no mercado.“A falsificação tem sido um problema muito sério e temos feito muitas denúncias e pressionado o Ministério da Agricultura para intensificar a fiscalização. Não disputamos com cachaça industrial, porque é outro público. O nosso consumidor é de cachaça de alambique”, defende Evaristo. Sobre a importância da IG para o produto e a região, Carneiro conta que percebe um reconhecimento do consumidor. “A IG contribui para melhorar o produto, mas é o público que reconhece. Temos que valorizar a parceria com o Sebrae e outras instituições de fomento. Os municípios e o poder público também precisam estar atentos sobre a questão”, complementa. Para o gerente do Sebrae, a entidade tem buscado formas de atuação em conjunto com os produtores para a valorização ainda maior da cachaça de Abaíra, fator que também favorece o aumento das vendas e a visibilidade no mercado.

gente disposta a pagar por um produto que tem um precedente histórico”, diz Edirlan Souza. Responsabilidade Socioambiental Os resíduos da fabricação de cachaça na forma bruta são nocivos ao meio ambiente, mas as entidades têm tratado para que esses restos tenham aplicações que aumentem o ganho dos produtores. O bagaço, por exemplo, é usado na alimentação das caldeiras, alimentação animal, compostagem e adubação. Já o vinhoto – altamente poluente para lençol freático - é retirado o excesso de álcool e usado na fertirrigação, compostagem e também na alimentação animal. A proposta para o futuro é converter o resíduo em biofertilizante e biogás para alimentação das próprias caldeiras.

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O agricultor e presidente da Cooperativa de Apicultores de Tucano, Franciélio Macedo, foi um dos primeiros a trabalhar com mel na região

CASE FEIRA DE SANTANA

Com o aumento do número de apicultores e da produtividade, houve a necessidade de formar uma cooperativa para comercializar a produção de mel. Foi então que, em 2004, a entidade passou a ser a Cooapit, atualmente, com 96 cooperados.

DOCE SEMIÁRIDO Cooperativa de Apicultores de Tucano é referência na produção de mel para o semiárido da Bahia FOTO: BEATRIZ OLIVEIRA

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apicultura em Tucano, município localizado no nordeste da Bahia, passou a ser valorizada a partir do final da década de 80. Antes disso, existiam apenas meleiros e pessoas que exploravam o mel de forma irregular, sem seguir protocolos mínimos para o manuseio e comercialização. A história do agricultor e presidente da Cooperativa de Apicultores de Tucano (Cooapit), Franciélio Macedo, com a apicultura do município se mistura com a história da atual cooperativa. Ele faz parte do primeiro grupo de agricultores e técnicos que se uniram para possibilitar o início da exploração de apicultura racional. Com isso, foram em busca da aquisição das primeiras colmeias e de apoio técnico para a organização desses apicultores em uma associação, fundada em 1997.

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Segundo Franciélio, na região de Tucano, é desafiador permanecer sem querer partir para cidades grandes de outras regiões. Porém, a criação de abelhas lhe trouxe a possibilidade de ter uma renda extra com a produção de mel. “Hoje, com família constituída, sinto orgulho de ter contribuído para o desenvolvimento da atividade”, relata. Grande parte da produção da cooperativa é exportada de forma indireta pela Central de Cooperativas dos Apicultores da Bahia (Cecoapi), que repassa para empresas exportadoras dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Piauí. Por sua vez, essas empresas comercializam para países como Alemanha e Estados Unidos. Na Bahia, a venda ainda acontece de forma reduzida devido a dificuldades de logística. Considerando uma produção média em torno de 200 toneladas por ano, a produção de mel dos apicultores que fazem parte da Cooapit tem um impacto econômico positivo no município. Além disso, há uma significativa contribuição das abelhas com a polinização para a produção de alimentos e a preservação do meio ambiente, através da renovação de sementes. Segundo Franciélio, o Sebrae é um parceiro impulsionador da apicultura desde as primeiras organizações, através da realização de atividades como cursos técnicos, eventos, intercâmbios, cursos preparatórios para comercialização e até apoio na criação da Central de Cooperativas. “Com certeza, teríamos muito mais dificuldades para chegarmos a comercializar nossa própria produção sem o apoio do Sebrae”, reconhece.


SOU MEI

Atualmente a Cooapit conta com 96 cooperados

Isailton Reis, gerente do Sebrae em Feira de Santana, unidade responsável por atender o município de Tucano, destaca que, apesar da pandemia, os produtores têm participado das atividades propostas com interesse de desbravar novos mercados. “Estamos desenvolvendo ações em novos formatos, com capacitações mais técnicas, buscando aprimorar a produtividade do processo de apicultura. Estamos incentivando também a evolução para um novo produto que é a própolis. Um fabrico particular da região que, segundo as primeiras avaliações de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, é um produto característico por conta de uma florada específica da nossa caatinga”, explica Isailton. Horizontes Atualmente, a Cooapit é referência como cooperativa solidária de mel no semiárido baiano. Isso significa que todos os membros da cooperativa contribuem da mesma maneira. Para Franciélio, é sinal ainda de que os objetivos da cooperativa estão sendo alcançados, valorizados e reconhecidos. “Sabemos que, mesmo sem os números precisos, a produção de mel é considerada muito importante por envolver diretamente cerca de 150 famílias e mais outras indiretamente com a prestação de serviços temporários, como mão de obra no campo, produção de colmeias, ferramentas e equipamentos de proteção individual”, detalha o agricultor.

FOTO: BEATRIZ OLIVEIRA

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado (SDR), a Bahia ocupa a primeira posição do ranking de produção de mel do Nordeste e a atividade de apicultura está entre as sete cadeias produtivas prioritárias para o estado.

Após observar a necessidade de profissionalização teórica dos apicultores e técnicos, a Cooapit passou a sediar e a participar do curso EAD de Tecnólogo em Apicultura, fornecido pela Universidade de Taubaté com apoio do Governo do Estado.

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Cintia Ferraz à frente da empresa Dona Santa com a produção dos famosos biscoitos de Conquista

CASE VITÓRIA DA CONQUISTA

SABOR QUE CONQUISTA Tradição do consumo e produção de biscoitos em Vitória da Conquista se tornou marca registrada e tem potencial para ter a IG reconhecida. FOTO: ANDRÉ CALDAS

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al qual a fama do acarajé está para Salvador, o biscoito ou sequilho está para Vitória da Conquista. Os quitutes são presença garantida na mesa do conquistense e não importa a refeição ou a ocasião. Não precisa de motivo especial, é tradição que passa de geração em geração há mais de 100 anos. Cintia Ferraz entende bem o que é preservar esta cultura. “A tradição de produzir biscoitos na nossa família para as festas juninas é algo que perpassa gerações. Por termos fazenda e produzirmos, inicialmente, requeijão e manteiga, as pessoas começaram a pedir os nossos biscoitos. Então, minha mãe pegou suas receitas de família e começou a fazer. Hoje, produzimos 42 tipos de biscoitos diferentes e enviamos para todo país”, conta Cintia.

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Mais do que estar à frente da empresa Dona Santa, junto com a mãe Elizete Vieira, Cintia também está empenhada em fazer do biscoito conquistense uma referência nacional. Por isso, integra e participa da coordenação do Fórum das Empresas de Biscoito de Vitória da Conquista, que dá condições para criar um ambiente favorável entre as empresas com a formação de uma governança para o amadurecimento do grupo. Com isso, se volta a atenção para a constituição futura de uma associação para o segmento, um avanço necessário para a preparação do pleito da Indicação Geográfica (IG) do produto, que já foi considerado viável a partir do diagnóstico feito pelo Sebrae de “Potencial de Indicação Geográfica do Biscoito” para receber o selo de referência do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, realizado em 2019.


“O Sebrae foi o agente fundamental nesse processo de conhecimento dos ganhos com a IG. O biscoito tem que passar de uma commodity para um produto fino, como ele é. Mas, para isso, precisa passar por adequações em embalagens, linha de produção, logística. É um produto de qualidade diferenciada, tem características únicas, mas precisa ser lapidado para levar Conquista a ser reconhecida nacionalmente como referência em produção de biscoito”, destaca Cintia. Com o projeto Cadeia Produtiva de Alimentos e Bebidas – Biscoitos Caseiros de Conquista, o Sebrae, de 2018 a janeiro de 2021, executou ações, paralelamente, em quatro frentes: associativismo; tecnologia, por meio do Programa Sebraetec; Mercado e Gestão, sempre com atenção ao estágio de maturidade das 40 empresas atendidas, através de orientações, consultorias, oficinas, cursos, feiras e seminários.

“O Sebrae continuará apoiando a cadeia por meio da rede de parceiros formada através do projeto, principalmente, em ações que sejam aderentes à promoção e à governança do grupo”, afirma Josinete Viana, gerente do Sebrae em Vitória

Conforme o estudo, o segmento possui margem para expansão, com mais de 260 empresas envolvidas diretamente na cadeia, sendo 68 fabricantes formalizados. Além de Vitória da Conquista, existem fabricantes estabelecidos em outros municípios do território, a exemplo de Condeúba, porém com menor densidade empresarial de fabricantes. “Se for considerado o mercado potencial ainda não explorado, o futuro pleito da IG e a realização de um plano de comunicação coletivo para promoção do biscoito, a economia de Vitória da Conquista poderá ser impactada ainda mais pela iguaria”, avalia Josinete. As ações para aumento da maturidade se mostraram ainda mais relevantes durante a pandemia do coronavírus. Mesmo diante da impossibilidade de realizar boa parte dos eventos presenciais que estavam programados para 2020, o projeto conseguiu promover a Confraria do Biscoito, no Boulevard Shopping, que resultou em uma loja colaborativa no mesmo local. Paralelo à evolução do projeto, ocorreu um avanço na parte de políticas públicas, com a implantação de uma legislação municipal. Em parceria com o poder público, foi instituída a Semana Municipal do Biscoito, através da Lei n°2320/2019, e, agora, o Biscoito de Conquista faz parte do calendário de eventos do município, que contará com diversas atividades, sempre na primeira semana de agosto.

da Conquista Além da importância cultural, o biscoito tem impacto no PIB de Vitória da Conquista. Dados do Estudo de Competitividade do Biscoito, realizado pelo Sebrae, apontam que houve um faturamento de R$ 70 milhões, no ano de 2018. O estudo revela, ainda, que o nível de produção aumenta de acordo com o tamanho e a estrutura da empresa. Uma produção com até 20 funcionários, chegou a registrar uma média de 8 mil kg/ano, por pessoa.

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CASE ILHÉUS

O produtor José Luís Fagundes, representa a fazenda Pequi, referência local em produzir cacau de alta qualidade

AMÊNDOAS DO SUL Identificação Geográfica agrega valor à produção de cacau na região Sul da Bahia e garante qualidade ao cliente final FOTO: MAURÍCIO MARON

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uando as amêndoas de cacau da Fazenda Pequi chegam ao destino final, o consumidor tem uma referência que vai muito além da simples localização, no município de Igrapiúna, Baixo Sul da Bahia. O produto tem o certificado de Indicação Geográfica, o que significa valor agregado que não se refere apenas ao que se pode ver, tocar e saborear. Há todo um processo que garante a procedência do produto, a qualidade, a preservação do meio ambiente, emprego de trabalho digno e seguro.

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O produtor José Luís Fagundes conta que deu os primeiros passos como empreendedor no agronegócio em 2004. “Já em 2005, iniciei os plantios das primeiras áreas de cacau na fazenda, como cultura complementar à seringueira e, posteriormente, a renovação do seringal implantando SAF (Sistema Agroflorestal), plantando bananeira como sombreamento provisório para o plantio do cacau até que a seringueira crescesse e assumisse a função de sombreamento definitivo, conferindo assim um modelo mais sustentável e econômico”. É nesse momento, segundo José Luís, que começa a história da Fazenda Pequi. Antes mesmo de se tornar um produtor, José Luís Fagundes buscava conhecimentos junto ao Sebrae. Ainda na década de 1990 ele participou do Empretec. “Participei de palestras, na maioria delas realizadas em Valença, além de encontros organizados pelo Sebrae em Salvador para empreendedores”.


Ele conta que, já tentando compreender o mercado alimentício, participou de um encontro em Gandu, organizado pelo Sebrae e pelo Senar. “O que posso destacar no antes e depois do Sebrae é a necessidade imperativa de buscar ferramentas profissionais e o desenvolvimento de rede de relacionamento”. Sobre a certificação com a Identificação Geográfica, o produtor revela que, de início, tinha um certo ceticismo com relação à conquista de valor agregado por meio desse processo. “Mas, sabendo de como a credibilidade dessa qualidade é fundamental na criação de relações com o mercado, buscamos dialogar para a IG ser parte da certificação. Após a primeira experiência, vimos seu valor agregado, pois reforça junto ao cliente a nossa imagem de produto de qualidade superior”. José Luís afirma que a credibilidade do seu produto aumentou, assim como a visibilidade pelo mercado, por meio da ferramenta de rastreabilidade do QR Code. O produtor explica que o mercado para oferta de cacau está mais abrangente e, cada dia mais, viabiliza a remuneração por agregação, seja de certificações de sustentabilidade, seja por questões de qualidade. “Atualmente temos acesso direto à indústria moageira situadas no polo Ilhéus e Itabuna, mas temos acessado gradualmente aos mercados de cacau de qualidade, que talvez tenha a maior capacidade de compra atualmente nesse perfil”, afirma. Ele diz que tem desenvolvido trabalhos com clientes dos estados de SP, MG e RJ, além da Bahia, nos últimos dois anos de maneira estável e consistente. “As empresas que adquirem nosso cacau sabem que o cacau da Fazenda Pequi ou ‘cacau de Igrapiúna’ tem qualidade acima da média e que podem direcionar estes para suas linhas mais nobres de chocolate”. Segundo José Luís, o fato de ter conquistado uma boa colocação nos dois últimos concursos de qualidade trouxe segurança para buscar outros mercados, inclusive externo. “Exportamos desde o início de 2020 duas toneladas de cacau fino para um chocolateiro francês”, conclui o produtor.

Associação José Luis é um dos integrantes da Associação Cacau Sul Bahia (ACSB), entidade sem fins lucrativos fundada em abril de 2014, contando com o apoio do Sebrae, e formada por cooperativas, associações e instituições setoriais. A associação representa 3 mil produtores de cacau da região Sul da Bahia e busca promover ações para motivar os associados a buscar o selo distintivo da IG.

Diretor-executivo da associação, Cristiano Santana explica que o Sebrae foi fundamental para a formalização da entidade e possibilitou a montagem de uma rede de cooperação importante para os produtores da região. A gerente regional do Sebrae em Ilhéus, Claudiana Figueiredo, destaca a importância do processo de Identificação Geográfica, que agrega valor às amêndoas da região em um curto espaço de tempo. “Apoiamos o projeto de IG desde o início. Levamos apoio de consultoria, com orientações técnicas, até chegarmos no processo mais mercadológico. Essa referência traz um enorme valor agregado às amêndoas de cacau da nossa região”, conclui a gerente.

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CASE TEIXEIRA DE FREITAS

LEITE NA BACIA Cooperativa apoiada pelo Sebrae, em Itanhém, coleta leite que é comercializado para grande laticínio FOTO: EDELVÁCIO PINHEIRO

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ocalizada em Itanhém, no extremo sul baiano, a Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Itanhém (Coopvale) reúne 102 cooperados na região, considerada a maior bacia leiteira do estado. Nem todos os membros da cooperativa são produtores de leite atualmente, mas a entidade tem como atividade principal a coleta de leite nas fazendas de cooperados e não cooperados. Nos locais já é feita a coleta do leite gelado em caminhão tanque. O produto é trazido para a sede da cooperativa dentro dos padrões exigidos pelo Ministério da Agricultura, estocado e depois levado para a indústria. O diretor presidente da Coopvale, Osvaldo Junior, explica que a cooperativa, hoje, tem uma parceria com o Laticínios Davaca, agroindústria sediada no município de Ibirapuã, que recebe toda a captação. “Com a ajuda do Sebrae, fizemos uma parceria de consultoria para mudança dos padrões de fiscalização. Hoje temos o SIF (Serviço de Inspeção Federal) somente para a comercialização do leite gelado e estamos tentando a mudança para a usina de beneficiamento, que vai permitir à cooperativa produzir queijo, iogurte, bebida láctea, manteiga e também poderemos envasar o leite conhecido como barriga mole (que é embalado em uma sacola)”, explica o produtor.

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A Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Itanhém (Coopvale), presidida por Osvaldo Junior, conta com 120 cooperados

Mas a parceria do Sebrae com a cooperativa não vem de agora. Desde 2009, a Coopvale recebe consultorias nas áreas administrativa, de gestão e também no campo. “Hoje, através de uma parceria também com o Sindicato Rural e com o Sistema Faeb/Senar, temos um trabalho contínuo de melhoramento genético através de animais provenientes de FIV [Fertilização in Vitro]”. Segundo Osvaldo, o programa tem contribuído para o aumento da média do litro de leite nas propriedades, tornando os animais ainda mais produtivos e diferenciados, diminuindo despesas, aumentando a renda e entregando um volume maior para a cooperativa. Ele avalia que o apoio recebido pelo Sebrae contribui para sustentar o sonho de o empreendimento se tornar uma indústria, dando melhores opções para o produtor, e oferecendo capacitação para crescimento da produção, melhoramento genético, aprimoramento da qualidade do leite e administração rural. Gerente regional do Sebrae em Teixeira de Freitas, Alex Brito reforça essa relação estreita da instituição com a Coopvale. Ele destaca o trabalho realizado em toda a região com o FIV. “Através desse trabalho, pelo qual atendemos o universo de 100 a 140 produtores anualmente, o empreendimento também é beneficiado, uma vez que a sua matéria-prima principal é o leite. Nos últimos seis anos, o Sebrae investiu em média R$ 6 milhões no melhoramento genético do rebanho bovino leiteiro do extremo sul da Bahia por meio dessa solução”, reforça o gerente.


Gerenciada pelo casal Roberto Fiuza e Bárbara Batista, a BetoBita Feito à Mão possui um mix com 76 produtos

DIFERENCIAL VEGANO Empresa de Salvador desenvolve cosméticos 100% veganos e conquista consumidores de todo o Brasil FOTO: DARÍO G. NETO

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que começou em um experimento na cozinha de casa se transformou em uma das marcas de cosméticos veganos mais respeitadas do país. A BetoBita Feito à Mão desenvolve produtos comprovadamente veganos: não testados em animais e livres de ingredientes de origem animal. Essa característica, associada à utilização de extratos naturais e fabricação artesanal, conseguiu conquistar o selo Veganismo Brasil, trabalhando nos mesmos padrões do original inglês The Vegan Society Trademark, organização que criou e registrou o termo Veganismo em Birmingham, no Reino Unido. Atualmente, a BetoBita, que é gerenciada pelo casal Roberto Fiuza e Bárbara Batista, possui um mix com 76 produtos e, de acordo com Bárbara, são comercializados por mulheres que complementam a renda e, assim como ela, encontraram novas possibilidades de renda extra, horário flexível, trabalho em casa, independência financeira e uma forma de garantir o sustento das suas famílias. A empresa já utilizou diversas soluções do Sebrae, a exemplo do Sebraetec, com a criação do site, logotipo e registro da marca, além de consultorias para exportação. A BetoBita também participou da Feira Internacional de Beleza Hair Brasil, em São Paulo, e outros eventos ligados ao mercado de beleza em Salvador com o apoio da instituição. “Nossos produtos não são encontrados em farmácias ou lojas de cosméticos. Valorizamos as nossas revendedoras e buscamos oferecer todo o suporte para que elas possam vender cada vez mais, garantindo renda extra e independência financeira”, afirma Bárbara Batista. Aliado a todo o trabalho feito com suas revendedoras, a empresa criou o Instituto BetoBita para treinar todo o público envolvido (distribuidoras, consumidoras e profissionais da beleza), auxiliando no melhor uso dos produtos, que incluem shampoos e condicionadores para todos os tipos de cabelo, além de uma linha para o corpo, com manteigas corporais e formulação para sabonete e hidratante, que estão com a produção suspensa por conta da pandemia. “Chegamos a lançar essa linha para o corpo, mas, com a pandemia, a oferta de insumos ficou escassa. Então decidimos suspender e aguardar tudo isso passar, pois existe uma demanda”, complementa Bárbara.

CASE SALVADOR

Embalagens recicláveis Preocupada com a grande produção de embalagens, que contribui para o acúmulo de 1,3 bilhão de tonelada de lixo no mundo, a empresa tem se destacado por adotar políticas de sustentabilidade que evitem o uso excessivo de recursos não renováveis. Pensando nisso, a BetoBita utiliza embalagens recicláveis, fator que levou a empresa a obter o Selo Eureciclo, iniciativa que busca compensação ambiental através de parcerias com cooperativas de reciclagem que retiram do meio ambiente resíduos, reduzindo assim o impacto ambiental. De acordo com o gerente regional do Sebrae em Salvador, Rogério Teixeira, a entidade tem auxiliado e mostrado aos empresários a importância de adotar ações de sustentabilidade socioambiental para garantir também um melhor posicionamento e seguir as tendências de mercado. “O que sempre buscamos é levar aos empresários aquilo que está sendo experimentado para tornar as micro e pequenas empresas mais competitivas. Quando trazemos a sustentabilidade, estamos falando aos empresários que tem uma fatia de mercado que valoriza como sua empresa trata os recursos naturais. Quando o Sebrae leva esses conceitos, está falando que precisa ter atenção com essas questões, pois existe uma grande quantidade de consumidores que só compra nessa condição ou, na hora que está para decidir entre um e outro produto, ele escolhe com essa condição. Por isso que o Sebrae oferece consultorias relacionadas a essa questão”, afirma. O gerente reforça ainda que as empresas devam explorar esses argumentos de todas as formas para que o consumidor tenha consciência do posicionamento da empresa. “É importante, a empresa explorar esses argumentos na embalagem, no site e nos canais de comunicação. É preciso fazer essa associação para que o consumidor possa perceber e saber o que sua empresa é e acredita. É uma questão que vai muito além da venda. Não se trata de preço, é valor”, completa Rogério.

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