INTOXICAÇÕES POR MEDICAMENTOS: CASUÍSTICA NA BAHIA - 2000 A 2006

Page 1

OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO MEDICAMENTOS: PERFIL DOS CASOS REGISTRADOS PELO CIAVE-BAHIA NO PERÍODO DE 2000 A 2006.

Conceição Filho, J.N.; Hohlenwerger, A.; Barros, M.F.; Silva Neto, N.; Santos, T.K.N.; Santos, S.P.; Santos Filho, M.J.


OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO MEDICAMENTOS: PERFIL DOS CASOS REGISTRADOS PELO CIAVE-BAHIA NO PERÍODO DE 2000 A 2006. ________________________________________________________________ 1 2 2 Jucelino Nery da Conceição Filho ; Ariana Hohlenwerger ; Maria Fernanda Barros ; Naila Silva Neto, Taiana Karla Nascimento Santos2; Soane Pinto dos Santos2; Mário José Santos Filho2

1-Farmacêutico, especialista em Assistência Farmacêutica pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia e Coordenador de Apoio diagnóstico e Terapêutico do Centro de Informações Antiveneno (CIAVE). 2-Acadêmico de Farmácia e estagiário do CIAVE.

RESUMO

As intoxicações medicamentosas são responsáveis pela maioria dos registros contabilizados pelos centros de informações e atendimento toxicológicos no Brasil. Estas ocorrências constituem um grande problema de saúde pública, como conseqüência de diversos fatores como o hábito da automedicação, o grande número de produtos farmacêuticos disponíveis no mercado e a facilidade de obtenção de medicamentos que deveriam ser submetidos a controle especial (Portaria 344/98-MS). Este trabalho tem como objetivos estabelecer o perfil epidemiológico das ocorrências envolvendo medicamentos registrados pelo Centro de Informações Antiveneno da Bahia – CIAVE-BA. Foi realizado um estudo retrospectivo dos casos registrados pelo CIAVE no período de 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2006, a partir das fichas de atendimento e dos bancos de dados informatizados utilizado pelo Centro, levantando-se diferentes variáveis como sexo, faixa etária, tipo de ocorrência, circunstância, fármacos mais freqüentes, município de ocorrência, dentre outras. Foram registrados 9.348 casos envolvendo medicamentos no período estudado, equivalente a 20% do total de casos por diferentes agentes. Quanto às circunstâncias, predominaram os acidentes, principalmente crianças entre 1 a 4 anos de idade, e as tentativas de suicídio, estas responsáveis por 41% dos casos. Os fármacos de ação sobre o sistema nervoso central (SNC) estiveram envolvidos em mais de um terço dos casos. Dentre as drogas de ação sobre o SNC, a de maior ocorrência foi o fenobarbital. Dentre os analgésicos, predominaram a dipirona e o paracetamol. As crianças continuam sendo as maiores vítimas deste tipo de intoxicação, muitas vezes por culpa dos seus responsáveis que mantém os medicamentos ao seu alcance. Medidas simples como adoção de embalagem de medicamentos com sistema de segurança, distribuição controlada de psicofármacos por serviços públicos de saúde para uso em um curto período, campanhas de orientação à população e uma fiscalização mais efetiva sobre o comércio de medicamentos poderiam reduzir os elevados índices de intoxicação por este grupo de produtos.

INTRODUÇÃO As intoxicações medicamentosas são responsáveis pela maioria dos registros contabilizados pelos centros de informações e atendimento toxicológicos no Brasil1, 2, 3, 4 . Estas ocorrências constituem um grande problema de saúde pública, como conseqüência de diversos fatores como o hábito da 2 automedicação , o grande número de produtos farmacêuticos disponíveis no mercado, a não adesão ao uso racional dos medicamentos e a facilidade de obtenção de medicamentos que deveriam ser submetidos a controle especial (Portaria 344/98-MS) 5, 6, 7, 8. O presente trabalho analisa a participação dos medicamentos nas ocorrências envolvendo medicamentos registradas pelo Centro de Informações Antiveneno – CIAVE, no período de 2000 a 2006. METODOLOGIA Foi realizado um estudo retrospectivo dos casos registrados pelo CIAVE no período de 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2006, a partir das fichas de atendimento e dos bancos de dados informatizados utilizado pelo Centro (Access e IPCS/INTOX), levantando-se diferentes variáveis como sexo, faixa etária, tipo de ocorrência, circunstância, fármacos mais freqüentes, município de ocorrência, dentre outras. RESULTADOS E DISCUSSÃO

______________________________________________________________________________ Trabalho com resumo publicado na Revista Brasileira de Toxicologia, vol. 20, suplemento 1, jun, pág. 13, 2007 e texto apresentado na forma de painel, sob nº 23, no âmbito do II Congresso Brasileiro de Toxicologia Clínica / I Congresso da ABRACIT, Vitória-ES, 2007.


Os atendimentos registrados pelo CIAVE no período estudado consistiram, em relação às circunstâncias, em 85% de casos de intoxicação, 5% em exposição, reação adversa e diagnóstico diferencial com 3% cada. Os medicamentos consistiram no segundo maior grupo responsável por intoxicações no Estado da Bahia, correspondendo a 20% (9.348 casos) das 46.127 ocorrências registradas pelo CIAVE nos últimos sete anos, 2000 a 2006, com uma média anual de 1.335 casos. A sua incidência foi um pouco menor que a de animais peçonhentos observada no Estado, mas tem-se elevado ao longo dos últimos anos.

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Acidental Automedicação

1

Uso Terapêut ico

Presc. M éd. Inadequada

Tentat iva de Suicí dio

Tent at iva de Aborto

Erro de Administ ração

Tabela 1. Distribuição dos casos envolvendo medicamentos registrados pelo CIAVE no período de 2000 a 2006, de acordo com a circunstância.

No que diz respeito às causas determinantes (Tabela 1), predominaram as tentativas de suicídio (41%), principalmente entre os jovens de 20 a 29 anos de idade (21,1%), e os acidentes (31,7%), significativamente com crianças entre 1 a 4 anos de idade (26,6%). É sabido que, nesta fase do seu desenvolvimento, as crianças tornam-se mais curiosas e manuseiam os objetos que encontram ao seu redor, muitas vezes o levando à boca, e são nestes momentos que acontecem os acidentes, principalmente em horários próximos às refeições. Não podemos deixar de ressaltar a importância de se analisar a ocorrência das circunstâncias relacionadas ao uso terapêutico destes produtos, como o erro de administração (7%), a automedicação (3%) e a prescrição médica inadequada (0,4%), pois deixam evidente a necessidade de adoção de ações de educação e conscientização social com relação ao uso correto e racional dos medicamentos, inclusive com a participação dos profissionais de saúde. Dentre os casos de erro de administração, registrou-se três eventos de troca de medicamentos em diferentes unidades hospitalares, tendo sido a solução glicerinada a 12% em lugar de solução de ringer com lactato, ambas com embalagens e rótulos semelhantes.

O sexo feminino respondeu por 61,9% do total de casos, com elevada incidência nas tentativas de suicídio, enquanto o masculino foi responsável por 37,1%.

Ignorado; 1% Masculino; 37%

Feminino; 62%

Tabela 2. Distribuição das ocorrências por sexo do paciente. CIAVE-BA, 2000-2006.

______________________________________________________________________________ Trabalho com resumo publicado na Revista Brasileira de Toxicologia, vol. 20, suplemento 1, jun, pág. 13, 2007 e texto apresentado na forma de painel, sob nº 23, no âmbito do II Congresso Brasileiro de Toxicologia Clínica / I Congresso da ABRACIT, Vitória-ES, 2007.


Os medicamentos que predominaram foram aqueles que possuíam em sua fórmula o fenobarbital, presente em 5,1% das ocorrências, o diazepam (3,9%), o bromazepam (3,8%), o haloperidol (3,1%), o clonazepam e o lorazepam (2,9% cada), o ácido acetilsalicílico (2,8%), os benzodiazepínicos não especificados (2,6%), a amitriptilina (2,4%) e o benzoato de benzila (2,3%). CONCLUSÃO As crianças continuam sendo as maiores vítimas deste tipo de intoxicação, muitas vezes por culpa dos seus responsáveis que mantém os medicamentos ao seu alcance. Medidas simples como adoção de embalagem com sistema de segurança, distribuição controlada de psicofármacos por serviços públicos de saúde para uso em um curto período, campanhas de orientação e conscientização à população e profissionais de saúde quanto ao uso racional dos medicamentos podem contribuir de forma significativa para a redução dos elevados índices de intoxicação por este grupo de produtos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Envenenamento doméstico, 2006. http://www.fiocruz.br /sinitox/envenenamento domestico.htm. (acessado em 20/Jun/2007). 2. AMARAL, D.A.; BARCIA, A.S. Intoxicações por medicamentos. In: Oga S, organizador. Fundamentos de toxicologia. São Paulo: Editora Varella, p. 367-79, 2003. 3. ANDRADE FILHO, A.; CAMPOLINA, D.; DIAS, M.B. Toxicologia na prática clínica. Belo Horizonte: Editora Folium; 2001. 4. BOCHNER, R. Perfil das intoxicações em adolescentes no Brasil no período de 1999 a 2001. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(3):587-595, mar, 2006. 5. BORTOLETTO, M.E.; BOCHNER, R. Impacto dos medicamentos nas intoxicações humanas no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 15(4):859-869, out-dez, 1999. 6. ALCÂNTARA, D.A. et al. Intoxicação medicamentosa em criança. Revista Brasileira em promoção da Saúde; 16 (1/2) : 10-16, 2003. 7. ARRAIS, P.S.D. et al. Perfil da automedicação no Brasil. Rev. Saúde Pública., São Paulo, 31(1): 1997. 8. GANDOLFI, E.; ANDRADE, M.G.G. Eventos toxicológicos relacionados a medicamentos no Estado de São Paulo. Rev. Saúde Pública, São Paulo, 40 (6): 2006.

______________________________________________________________________________ Trabalho com resumo publicado na Revista Brasileira de Toxicologia, vol. 20, suplemento 1, jun, pág. 13, 2007 e texto apresentado na forma de painel, sob nº 23, no âmbito do II Congresso Brasileiro de Toxicologia Clínica / I Congresso da ABRACIT, Vitória-ES, 2007.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.