CASUÍSTICA DE ANALGÉSICOS E ANTIINFLAMATÓRIOS REGISTRADA PELO CIAVE-BAHIA - 2000 A 2002

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CASUÍSTICA DE ANALGÉSICOS E ANTIINFLAMATÓRIOS REGISTRADA PELO CIAVE-BAHIA - 2000 A 2002

Conceição Filho, J.N.; Santos, A.S.; Moura, N.S.; Silva, N.M.S.; Jesus, E.C.G.


CASUÍSTICA DE ANALGÉSICOS E ANTIINFLAMATÓRIOS REGISTRADA PELO CIAVE-BAHIA - 2000 A 2002. ________________________________________________________________ Jucelino Nery da Conceição Filho1; Adlani Santos dos Santos2; Naíza Silveira Moura2; Nívia Maria Silveira Silva2; Émerson Celso Gomes Jesus2. 1-Farmacêutico do Centro de Informações Antiveneno (CIAVE). 2-Acadêmico de Farmácia e estagiário do CIAVE.

INTRODUÇÃO Grande parte da população brasileira é adepta à automedicação, onde o paciente decide por conta própria qual o medicamento que utilizará para tratar o seu problema de saúde. Os analgésicos e antiinflamatórios não esteróides (AINE) são alguns dos medicamentos mais utilizados nesta prática, uma vez que são vistos, equivocadamente, como isentos de riscos para a saúde e são também de fácil aquisição, como é o caso dos analgésicos que são classificados como OTCs (“over the counter”) ou de venda livre. As propagandas de medicamentos através da mídia, assim como a desinformação sobre os riscos do seu uso indiscriminado, contribuem de sobremaneira para a automedicação. O uso exagerado de analgésicos, além do risco de levar à cefaléia crônica diária, pode provocar intoxicação. As intoxicações envolvendo medicamentos apresentam uma elevada frequência na Bahia, assim como em todo o Brasil. Este fato se dá em decorrência da facilidade de obtenção, armazenamento inadequado ao alcance das crianças, propiciando acidentes, e de pessoas com alguma instabilidade emocional que apresente predisposição à tentativa de suicídio. Este trabalho tem como objetivo avaliar a causa e a incidência dos casos envolvendo analgésicos e antiinflamatórios não esteróides (AINE) registrados pelo Centro de Informações Antiveneno da Bahia – CIAVE-BA, bem como fornecer subsídios para um melhor conhecimento da participação deste grupo de fármacos.

METODOLOGIA Foi realizado um estudo retrospectivo dos casos registrados pelo CIAVE no período de 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2002, envolvendo medicamentos analgésicos e antiinflamatórios, a partir do banco de dados EPI INFO versão 6.0 e revisão das fichas de atendimento utilizados pelo Centro, coletando-se as variáveis sexo, idade, tipo de ocorrência, circunstância, agentes, número de agentes, fármacos envolvidos e evolução.

RESULTADOS E DISCUSSÃO No período de 2000 a 2001, o Centro de Informações Antiveneno da Bahia registrou 3.704 ocorrências envolvendo medicamentos. Sendo que 403 casos foram decorrentes do uso de analgésicos e AINE, constituindo assim, um percentual de 10,9 do total de registros. Entre os 367 casos de intoxicação (Gráfico 1), a causa principal foi a tentativa de suicídio - 58,8% - (Gráfico 2) com maior incidência no sexo feminino - 87,8% - (Gráfico 3) e nas faixas etárias de 20 a 29 anos (28%) e 15 a 19 anos (15,1%). (Gráficos 4 e 5). A intoxicação acidental (21,3%) demonstrou ser a causa mais freqüente entre as crianças menores de 5 anos, com 79,7% (Gráfico 6). Foram registrados 30 casos (7,4%) de erro de administração. Dentre os analgésicos, predominou o paracetamol (presente em 34,7%dos casos), seguido da dipirona (33,5%) e o ácido acetilsalicílico (14,6%). Em relação aos AINE, o diclofenaco foi o mais utilizado, correspondendo a 25,3% dos casos (Quadro 1). Na maioria das ocorrências (54,6%), fezse uso de mais de um medicamento e em 5,4% estava associada a ingestão de bebida alcoólica. Não houve registro de óbito entre os casos analisados.

Trabalho com resumo publicado na Revista Brasileira de Toxicologia, vol. 16, nº 1 (suplemento), pág. 265, agosto de 2003 e texto apresentado na forma de pôster sob nº 440 no XIII Congresso Brasileiro de Toxicologia, Londrina, Paraná, 31 de agosto a 04 de setembro de 2003.


150 100 50 0 2000

2001

2002

Exposição Intoxicação Reação Adversa Diag. Diferencial Outro Ignorado

Gráfico 1. Distribuição das ocorrências com analgésicos e AINE registradas pelo CIAVE no período de 2000 a 2002 por tipo.

Outra

2 8

Ig norad o Te nt. Aborto

2 237

Ten t. Sui cídi o

15

Auto-medica çã o

30

Erro de Admin istra çã o Presc. Médica Inad eq. U so Terapê utico Acide nta l

3 20 86

Gráfico 2. Número de ocorrências com analgésicos e AINE de acordo com a sua circunstância. CIAVE, 2000 a 2002.

Ignorado 0,2 %

Masculino 24,1%

Fem inino 75,7%

Trabalho com resumo publicado na Revista Brasileira de Toxicologia, vol. 16, nº 1 (suplemento), pág. 265, agosto de 2003 e texto apresentado na forma de pôster sob nº 440 no XIII Congresso Brasileiro de Toxicologia, Londrina, Paraná, 31 de agosto a 04 de setembro de 2003.


Gráfico 1. Distribuição das ocorrências com analgésicos e antiinflamatórios regis tradas pelo CIAVE no período de 2000 a 2002de acordo com o sexo.

Nº de Casos 140 120 100 80 60 40

Ign

80 e +

70-79

60-69

50-59

40-49

30-39

20-29

15-19

10-14

05-09

01-04

0

<1

20

Faixa Etária

Gráfico 4. Distribuição das ocorrências com analgésicos e AINE registradas pelo CIAVE, no período de 2000 a 2002, por faixa etária.

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20%

Ign

80 e +

70-79

60-69

50-59

40-49

30-39

20-29

15-19

10-14

05-09

01-04

0%

<1

10% Ignorado Feminino Masculino

Gráfico 5. Freqüência das ocorrências com AINE e analgésicos registradas pelo CIAVE no período de 2000 a 2002 em relação ao sexo e faixa etária.

Trabalho com resumo publicado na Revista Brasileira de Toxicologia, vol. 16, nº 1 (suplemento), pág. 265, agosto de 2003 e texto apresentado na forma de pôster sob nº 440 no XIII Congresso Brasileiro de Toxicologia, Londrina, Paraná, 31 de agosto a 04 de setembro de 2003.


% Circunstância

100% 90% 80% 70% 60% 50%

Ign

80 e +

70-79

60-69

50-59

40-49

30-39

20-29

15-19

10-14

5-9

1-4

<1

40%

Outra 30% Ignorado 20% Tent. Aborto Tent. Suicídio 10% Auto-medicação 0% Erro de Administração Presc. Médica Inadeq. Uso Terapêutico Acidental

Faixa etária

Gráfico 6. Distribuição das ocorrências envolvendo analgésicos e AINE faixa etária e circunstância. CIAVE, 2000 a 2002.

____________________________________________________________________________________ FREQUÊNCIA DE DROG AS ANALGÉSICAS E ANTIINFLAM ATÓRIAS ____________________________________________________________________________________ Grupo n % Analgésicos paracetamol dipirona ác. acetilsalicílico analg.não especificado

140 135 59 1

34,7 33,5 14,6 0,2

Antiinflamatórios não esteróides (AINE) diclofenaco 102 25,3 benzidamina 13 3,2 piroxicam 12 3,0 fenilbutazona 10 2,5 nimesulida 10 2,5 cetoprofeno 9 2,2 celecoxib 4 1,0 rofecoxib 4 1,0 ibuprofeno 2 0,5 indometacina 2 0,5 loxoprofeno 1 0,2 meloxicam 1 0,2 tenoxicam 1 0,2 AINE não especificado 6 1,5 ____________________________________________________________________________________ Quadro 1. Drogas presentes nas ocorrências atendidas pelo CIAVE no período de 2000 a 2002 envolvendo analgésicos e AINE. Trabalho com resumo publicado na Revista Brasileira de Toxicologia, vol. 16, nº 1 (suplemento), pág. 265, agosto de 2003 e texto apresentado na forma de pôster sob nº 440 no XIII Congresso Brasileiro de Toxicologia, Londrina, Paraná, 31 de agosto a 04 de setembro de 2003.


CONCLUSÃO Os analgésicos e antiinflamatórios são medicamentos adquiridos facilmente no mercado e são utilizados indiscriminadamente. Isto os torna freqüentes nas tentativas de suicídio, muitas vezes associados a outros fármacos. Indubitavelmente, as crianças são as principais vítimas das intoxicações por medicamentos e, considerando que os analgésicos são utilizados indiscriminadamente, fica evidente a necessidade de se desenvolver campanhas de esclarecimento à população quanto à automedicação, administração correta e os riscos que podem advir do seu uso de forma indiscriminada.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 1. ANDRADE FILHO, A. Toxicologia na Prática Clínica. Belo Horizonte: Ed. Folium, p. 28-29, 2001. 2. CONCEIÇÃO FILHO, J. N. et al. Epidemiologia das Intoxicações Medicamentosas em Crianças no Estado da Bahia, Rev. Bras. Tox., 2 (10) Supl.; 73, 1997. 1996. 3. CONCEIÇÃO FILHO, J. N. et al. Estudo Epidemiológico das Intoxicações Medicamentosas Atendidas pelo CIAVE na Emergência do Hospital Geral Roberto Santos, Bahia, 2000. Rev. Bras. Tox., 2 (14) Supl.; 74, 2001. 4. GIOVANNI, G. A Questão dos Remédios np Brasil (Produção e Consumo). São Paulo: Ed. Polis, 1980. 5. LIMA, M. A. & PETROVICK, P. R. Avaliação da Publicidade Visual de Medicamentos em Estabelecimentos Farmacêuticos de Porto Alegre-RS. Rev. Infarma, 1/3 (15): 64-66, 2003. 6. PAULO, L. G. & ZANINI, A. C. Automedicação no Brasil. Rev. Assoc. Méd. Bras., 34: 69-75, 1988. 7. PHARMACIA BRASILEIRA. Cefaléia x Analgésicos. Brasilia: CFF, Ano III, nº 22, set/out 2000. 8. SILVA, M. V. S.; MENDES, I. J. M.; FREITAS, O. O Medicamento, a Auto-medicação e a Farmácia. Rev. Infarma, 3/4 (15): 64-66, 2002.

Trabalho com resumo publicado na Revista Brasileira de Toxicologia, vol. 16, nº 1 (suplemento), pág. 265, agosto de 2003 e texto apresentado na forma de pôster sob nº 440 no XIII Congresso Brasileiro de Toxicologia, Londrina, Paraná, 31 de agosto a 04 de setembro de 2003.


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