Velô #2

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EDIÇÃO #2 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

FÓRUM Como as bicicletas podem melhorar as nossas cidades ENTREVISTA Carlos Gaitán fala sobre o Bicis por La Vida e sobre a Colômbia SUA BIKE Os tipos de bicicletas e como escolher a mais adequada para você

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bicicleta e convivÊncia

Ela está cada vez mais presente, e não é só em número nas ruas. A bicicleta ganha força porque ela representa mais do que um meio de transporte. Representa uma cultura que envolve maneiras de agir e de pensar em favor de cidades mais humanas e mais agradáveis para se viver. Uma cultura ampla, marcada pela convivência, tanto no trânsito quanto nas relações entre as pessoas que circulam diariamente nas cidades, às vezes sem perceber umas às outras. O 3º Fórum Mundial da Bicicleta, realizado em Curitiba em fevereiro, foi a maior celebração de toda essa cultura. Foi unânime descrever o evento em uma só palavra: amor. Amor pelo próximo, pelo coletivo e pelas cidades. Conhecemos pessoas incríveis e engajadas em transformar o mundo para melhor. É uma parte de tudo isso que apresentamos a você nesta Velô. Também contamos histórias de famílias inteiras que optaram pela bike como meio de transporte oficial, de pequenos empreendedores que transformaram a paixão pelas magrelas em oportunidades de negócio e temos o relato da primeira cicloviagem de uma de nossas colaboradoras. Venha dar esse giro com a gente. da redação

CAPA Mona Caron por Douglas Oliveira

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Jornalistas Responsáveis Lina Colnaghi MTB: 15204 Sabrina Silveira MTB: 13629

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Edição #2 Porto Alegre | FEV/MAR | 2014

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nesta velô

18 fórum da bicicleta

14 26 a bike ideal

34 feito à mão

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carlos gaitán

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família na garupa


colaboradores

Lívia Araújo Jornalista e paulista, mora em Porto Alegre há oito anos, cinco dos quais pedalando diariamente. A bicicleta é o seu Lado B que está virando Lado A.

silvia pont Formada em design gráfico e mediadora em museu de arte, há um ano largou tudo para trabalhar com bicicleta. É uma das sócias de um bici café de Porto Alegre.

bruno Posnik

Curitibano e fotógrafo profissional freelancer. Seu foco está na fotografia artística espontânea.

DEB DORNELES Você a encontra fotografando enquanto pedala pelas ruas da Capital. Assina o querido Porto Alegre Cycle Chic.

douglas oliveira Fotógrafo e cicloativista. Administra e contribui com imagens sobre bicicleta e mobilidade urbana para o site cicloativismo.com.

Roberto Rodrigues Jr. Presidente da Associação de Ciclismo do Vale do Sinos (Acivas) e empresário de uma loja de bikes de Novo Hamburgo.

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life style

Carregar os filhos na garupa da bicicleta é a forma que alguns pais encontraram de dar um bom exemplo de mobilidade urbana para as crianças.

tamanho família por Lívia Araújo

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Crédito: Rafael Forte

“É viável mostrar que outro mundo é possível, e que eles não precisam ter medo de tentar”, Luís Patrício.

Para algumas pessoas que adotaram a bicicleta como meio de transporte, o prazer e os benefícios encontrados ao pedalar não podem, nem devem, ficar no plano individual. Muita gente experiente no pedal engaja também a família em um deslocamento mais sustentável e divertido. É assim com a videorrepórter Silvia Ballan e sua filha Nina, de seis anos, que frequenta a garupa da bicicleta da mãe desde 2010. “A bike vira diversão, meio de locomoção, liber-

dade, uma mistura de bons sentimentos e de união. Encontramos na bicicleta a solução para o caos da cidade grande”, explica. Silvia também encontra, nos trajetos percorridos pelas duas, uma oportunidade de educála por meio das expressões cotidianas da vida em sociedade, abundantes em todo o caminho. Carros em cima da faixa de pedestre é um dos maus exemplos vistos pela dupla. “Também mostro para ela que, mesmo estando eventualmente atrasada, não devo correr, pois a pressa não pode justificar desrespeitar as pessoas e colocá-las em risco. A partir desses fatos, acabamos discutindo sobre o que é certo e o que é errado”. Segundo Silvia, isso está ajudando Nina a perceber naturalmente o espaço público e as atitudes de impacto coletivo. “Esses dias ela disse: ‘mãe, nessa calçada em reforma é muito perigoso passar uma pessoa velhinha, ela pode tropeçar’”, conta. A família de Luís Patrício, analista de informática, aderiu à bicicleta com tanta ênfase que a garagem de sua casa, em Curitiba, perdeu o uso. Depois que ele e a esposa Lia venderam o carro, em 2007, o espaço, que antes abrigava o enorme veículo, virou sala de estar. “A economia que obtivemos com a venda foi enorme, e deu o gás que falta para a gente terminar de comprar a nossa casa”, relembra. Os filhos, Ana Maria, que nasceu em 2010, e o pequeno Rafael, que veio em 2012, ainda não sabem andar de bicicleta mas já se beneficiavam do pedal ainda na barriga da mãe, que teve permissão médica para pedalar até quase o final da gravidez. Agora, eles já estão usando uma bici sem pedal para aprender o equilíbrio. E tem mais um a caminho para reforçar a equipe, já que Lia terá bebê em setembro. Atualmente, quando a família sai junta, Luís e Lia se revezam, levando cada um em uma cadeirinha. “Já se a Lia está sozinha, ela prefere usar o trailer, que dese9


Nina, frequenta a garupa da bicicleta da mãe desde 2010. Fotos: Arquivo pessoal

quilibra menos”, explica. Os casos de Silvia Ballan e Luís Patrício expressam as alternativas escolhidas por cidadãos que apostam em outros estilos de vida e modelos de mobilidade. Para eles, e outros pedalantes, colocar os filhos em contato com esses novos hábitos é positivo. “É viável mostrar que outro mundo é possível e que eles não precisam ter medo de tentar. Em geral, a reação das pessoas vem em um sorriso, uma brincadeira, um elogio. Mas, claro, ainda tem gente que acha que somos malucos de andar na rua com as crianças”, pondera Patrício. Para difundir esse exemplo, Patrício lançou em 2013 o livro Minha garagem é uma sala de estar, com informações para quem deseja aderir a um uso mais constante da 10

bicicleta, inclusive em contexto familiar. A dica principal é estabelecer um ritmo pessoal. “Se você não pedala nada, comece indo até a esquina comprar pão. Caso sinta-se à vontade, vá mais longe. Até quem não pedala pode ajudar muitos ciclistas, simplesmente assumindo uma postura de respeito no trânsito”.

Dificuldades As delícias do pedal em família não fazem supor que algumas dificuldades não estejam incluídas no pacote. Além dos riscos habituais do trânsito, um dos principais obstáculos para os ciclistas é a falta de estrutura adequada à adoção de outros modais de transporte. “Aqui em São Paulo eu percorro com a Nina de 10 a 15


quarteirões, mas apenas em uns quatro eu consigo ir pelo asfalto. Mesmo na ciclovia, a falta de rampas de acesso é difícil para quem leva uma criança na garupa”, comenta. Para Luís Patrício, a própria indústria ciclística ainda não está preparada para esse público, ao contrário da Europa, onde existem modelos específicos para o transporte de crianças. “As bicicletas têm que passar por várias adaptações caseiras até ficarem adequadas para usar com crianças”, esclarece. “Uma outra coisa que me impressionou logo que a Ana nasceu, foi o volume do ruído na primeira vez que saímos com ela para o centro da cidade. O barulho do trânsito, sem estar por trás de um parabrisa com o vidro fechado e o som e o ar condicionado ligados, parecia quase insuportável. O plane-

jamento urbano realmente não pensa nas pessoas e no bem-estar”, conclui.

Engenhosidade As adaptações técnicas na bicicleta, conforme apontou Luís Patrício, são necessárias e muitas vezes inevitáveis. Seguindo essa linha, o músico Artur Elias, de Porto Alegre, desenvolveu soluções que em outros países já são comuns — e disponíveis comercialmente. Para isso, ele criou sua própria versão da bakfiets holandesa, que em tradução livre do próprio Artur significa “bici-caixa”. A bakfiets é uma bicicleta de carga completamente integrada ao dia a dia holandês e se tornou popular não pelo transporte de volumes, mas de crianças pequenas. Nela, mães e pais levam a gurizada a todo lugar, 11


mesmo em dias de frio e neve, bastando colocar uma pequena cobertura de lona plástica. Artur começou a usar regularmente a bicicleta há mais ou menos dez anos, quando “era comum as pessoas nos chamarem de loucos”. Com os filhos já em idade escolar, ele construiu, com a ajuda de um tutorial, uma bicicleta long tail — com a traseira estendida — apelidada de “Bicicletona”. No novo veículo, Artur conseguiu acoplar duas cadeirinhas de transporte e, a partir daí, o caminho para a escola, a cerca de 4 km da casa da família, começou a ser feito sobre duas rodas. Foram dois anos de long tail, até que Tuco e Mari, os dois filhos de Artur, foram ficando grandes para as cadeirinhas. A partir daí, a ideia de montar a bakfiets começou a tomar

forma. “Minha preocupação era que a pedalada fosse mais segura contra eventuais desequilíbrios e irregularidades de terreno. Se elas, por exemplo, puderem pegar no sono sem acontecer nada, então posso levá-las a qualquer lugar”, diz Artur. Do início da pesquisa até a bici-caixa ficar pronta para rodar, Artur levou três meses de trabalho que consumiram praticamente todo o período de férias de verão. A estimativa de custo total foi de cerca de R$ 2 mil, incluindo o material do quadro, de aço carbono, além de todas as peças usuais da bike, materiais extras e a mão-de-obra da solda. O sucesso da bakfiets foi medido principalmente com a reação das crianças. Não só os filhos de Artur, mas também seus

Artur adaptou suas bicicletas para carregar Tuco e Mari diariamente na cidade.

Fotos: Arquivo pessoal

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amigos. Todos adoram passear na bici-caixa, que é equipada com almofadas, cinto de segurança, e comporta duas crianças sentadas. “Os coleguinhas que não têm muito a cultura da bike na família ficam impressionados com a popularidade da bakfiets. Minha filha explica que ‘ih, todo dia um monte de gente buzina e acena pra gente’”. Como as crianças continuam crescendo, o plano agora é colocar um motorzinho elétrico para dar assistência nas subidas. No entanto, o mais velho está adquirindo cada vez mais autonomia ao pedalar sozinho. “Acho que a decisão de incluir as crianças nas pedaladas, no fundo, tem o desejo de criar nelas a noção de que pedalar é mais ‘normal’ do que gastar horas e dias dentro de uma gaiola motorizada”, revela.

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guia

A Bike Ideal

Tem detalhes bem pensados para quem usa a bike para deslocamento no dia a dia nas cidades. A urbana tem selim mais largo, guidão alto, tubo baixo e protetor de corrente, que evita prender aquela barra da calça na coroa. Proporciona uma postura confortável, mas são mais pesadas. Algumas também têm paralamas dianteiro e traseiro — muito úteis em dias de chuva.

Blitz/Divulgação

dobrável 14

Caloi/Divulgação

Para andar na cidade, na estrada, para longas ou curtas distâncias. Existem vários tipos de bicicletas para cada finalidade. Conheça algumas delas e identifique qual é a melhor para você.

urbana Uma bicicleta para deslocamento e giros rápidos, não atinge grandes velocidades. Bastante prática, pois você pode interagir com outros meios de transporte. Pode ser levada no ônibus, no trem, no metrô ou no carro, e você pode guardá-la facilmente em um local que não disponibiliza bicicletário — no trabalho, por exemplo. A menor distância entre as rodas faz com que ela seja mais instável que as outras, mas nada que um pouco de prática não resolva. Normalmente tem aro 20.


Eightbike/Divulgação

fixa

Trek/Divulgação

São bikes feitas para velocidade e grandes distâncias. Com pneu mais fino, são ideais para andar no asfalto. Têm um conjunto mais leve e colocam o ciclista em uma postura mais aerodinâmica. É bastante utilizada em competições.

A principal característica desta bike é que ela não tem roda livre. Os pedais se movem o tempo todo e eles mesmos são usados para frear - as rodas da bike travam quando pedaladas para trás. O modelo começou a ser utilizado nos Estados Unidos e na Europa por bike messengers, que precisavam de agilidade e baixo custo de manutenção. Não possuem marchas, têm visual minimalista e são bastante leves. Para quem curte o estilo, mas não se sente seguro sem os freios, há o modelo single speed, com catraca e freio manual.

Speed 15


Sense Electric Bike/Divulgação

elétrica

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Mormaii/Divulgação

É uma bicicleta coringa. Tem quem use para trilha, estrada, asfalto ou deslocamento na cidade. É um modelo pensado especificamente para terrenos acidentados, o que torna a bicicleta resistente a pistas esburacadas.

Mountain Bike

Regulamentadas em dezembro do ano passado pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), as e-bikes sem acelerador deixaram de ser equiparadas a ciclomotores. Elas podem rodar em ciclovias e ciclofaixas e dispensam o emplacamento. Conhecidas como pedelecs, utilizam energia elétrica como assistente aos pedais, ou seja, a força principal deve vir do ciclista e o motor funciona apenas como uma ajuda extra.


Soul Cycles/Divulgação

Híbrida

Specialized/Divulgação

Modelo de bicicleta muito específico para quem faz descidas de montanhas. Não é o tipo de bike para pedalar longas distâncias, pois é bastante pesada — têm de 16 a 20kg — suspensão alta e pneu largo.

Esta bicicleta é uma mistura dos modelos Urbana e Speed. É versátil, atinge boas velocidades e tem roda 700. Pensada para quem quer uma speed sem a aerodiâmica e que pedalar com mais conforto.

Downhill

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Fórum

como a bicicleta pode ajudar as nossas cidades? Não só a mobilidade urbana ganha com o investimento e o incentivo do uso da bike nas cidades. Durante o 3º Fórum Mundial da Bicicleta (FMB), mostrou-se como a saúde, a economia e o meio ambiente também são favorecidos.

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19 Ilustração: Guilherme Caldas / Candyland Comics


Fotos: Douglas Oliveira

Essencialmente criada como meio de transporte, hoje poucos veem a bicicleta como tal. Afastada do uso urbano desde a popularização dos automóveis, ela volta à cena não só como uma das soluções para os principais problemas de mobilidade urbana, como também de saúde, de economia e de sustentabilidade. O conjunto desses benefícios foi um dos principais temas do 3º Fórum Mundial da Bicicleta, realizado em fevereiro em Curitiba, no Paraná. O evento, que recebeu aproximadamente 1,5 mil inscritos de 20 estados e do Distrito Federal e outros 12 países, trouxe especialistas de diferentes áreas e países para quatro dias de palestras e paineis. Entre eles, a cicloativista e autora do livro Bikenomics: How bicycling can save the economy (Bicieconomia: Como a bicicleta pode salvar a economia), Elly Blue, da cidade 20

norte-americana de Portland. Além de ser uma poderosa ferramenta para frear gastos públicos e individuais, Elly acredita que a bicicleta pode ajudar a construir comunidades mais fortes, mais conectadas e mais humanas. “Investimentos para melhorar a circulação de carros são altos e o retorno é muito baixo. Esse gasto só aumenta cada vez mais. Em compensação, o investimento em infraestrutura para bicicletas é baixo e oferece um retorno alto. Mais bicicletas é melhor para todos, até para quem não pedala”, afirma ela. O paulista Daniel Guth, consultor em mobilidade urbana, defende a ideia de economia de rede que a bicicleta gera. “Bicicleta é uma economia de rede por excelência. Não se pode isolar partes da cultura da bicicleta quando se pensa em políticas públicas. Uma segura a outra ou uma pode ser propulsora da


outra”, explica. Guth se refere aos benefícios em cadeia gerados a partir do investimento em bicicletas: “Uma bicicleta mais acessível significa mais pessoas pedalando, que significa maior pressão por infraestrutura adequada, que significa maior geração de empregos na construção desta infraestrutura, que significa comércio mais aquecido pelo aumento de pessoas na rua, que significa menos atropelamentos e mortes no trânsito, que significa menos gastos com saúde pública, que significa mais qualidade de vida”. A melhor forma de incentivo ao uso da bicicleta, segundo eles, é o investimento em infraestrutura adequada e segura para a circulação das magrelas. Zé Lobo, diretor da Transporte Ativo, do Rio de Janeiro, que também palestrou no fórum, destacou: “A bicicleta precisa ser tratada como bicicleta. Não é a bicicleta que precisa se adaptar ao mundo dos carros”.

O arquiteto dinamarquês Lars Gemzoe, reconhecido internacionalmente por seus trabalhos em qualidade de vida nos espaços públicos, também acredita que a bicicleta é uma ferramenta de transformação. Copenhague, capital da Dinamarca, é considerada a cidade onde há mais pessoas utilizando bicicletas como meio de transporte no mundo e é modelo em infraestrutura. Lá, a popularidade da bicicleta evoluiu especialmente nas décadas de 1920 e 1930. Segundo Lars, é preciso investir também nos meios de transporte coletivos, criando maneiras de combinar o uso da bicicleta. A diferença entre cidades onde as pessoas pedalam mais ou menos não está na cultura, na geografia ou no clima. “É preciso ter ação e força de vontade política. As cidades que fazem as coisas corretas ao longo do tempo, são as que possuem mais pessoas pedalando”. 21


Fotos: Bruno Posnik

Menos gastos com saúde Além de promover um exercício físico diário e ajudar a combater problemas como obesidade, a bicicleta pode ajudar a reduzir os níveis de poluição na cidade e, consequentemente, reduzir a ocorrência de doenças causadas por ela. “Segundo dados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), 90% da poluição do ar em São Paulo vem dos carros. Não há como apontar qualquer outro culpado neste processo de piora do ar das nossas cidades a cada ano”, afirma Guth. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os elevados níveis de poluição na cidade de São Paulo são responsáveis pela redução da expectativa de vida em cerca de 1,5 ano. Os três motivos que encabeçam a lista são: câncer de pulmão e vias aéreas su22

periores, infarto agudo do miocárdio e arritmias, e bronquite crônica e asma. O stress causado pelo trânsito e o tempo perdido nos deslocamentos também impactam negativamente a produtividade dos trabalhadores. A Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos, do Governo do Estado de São Paulo, estima que as perdas de produtividade em decorrência da poluição e dos engarrafamentos cheguem a R$ 4,1 bilhões, somente na cidade de São Paulo. Varejo aquecido Investimento em infraestrutura cicloviária, combinada com melhoria no espaço para pedestres, impacta o comércio local, defendem especialistas. Elly relatou a experiência de Portland com a instalação de bicicletários em vagas públicas, antes reservadas


para carros: “Foram retiradas vagas de carros para comportar dez bicicletas cada, em alguns pontos da cidade. No início, os lojistas reclamaram mas, em pouco tempo, o movimento aumentou e comerciantes de outras regiões solicitaram os bicicletários”. Para o arquiteto Lars Gemzoe, em muitas cidades, o preconceito impede as pessoas de pedalar mais. “Ainda existe aquela ideia de que quem pedala não tem dinheiro. E também usam a falta de estrutura, o clima ou a cultura como desculpas para não andar de bicicleta na cidade”. Segundo ele, um dos principais motivos pelo qual o comércio local tem a ganhar com os ciclistas é o fato de que, facilmente, um ciclista vira pedestre e pode empurrar a sua bicicleta pela calçada. Um levantamento feito pelo Departamento de Transportes de Nova York apontou aumento

de mais de 50% nas vendas do varejo nas 8ª e 9ª avenidas após implantação de ciclovias segregadas.

Segurança no trânsito Um importante estudo feito pelo engenheiro Peter Lyndon Jacobsen, em 2003, apontou a corelação entre o uso da bicicleta e o bem-estar, sob o aspecto dos números de fatalidades. Foram analisadas 68 cidades da Califórnia, 47 cidades dinamarquesas, oito países europeus e o Reino Unido. “Onde há mais deslocamentos de bicicleta, maior é a segurança e menores são os números de fatalidades”, afirma Guth. Segundo dados do seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), no Brasil 65 mil pessoas morrem no trânsito por ano. 23


Fotos: Douglas Oliveira

SOBRE O FMB

O Fórum Mundial da Bicicleta nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 2012. A data escolhida, 25 de fevereiro, marcou um ano do atropelamento coletivo de ciclistas que aconteceu na capital gaúcha. A segunda edição em 2013, organizada na mesma cidade, atraiu mais de sete mil pessoas de todo o mundo e também serviu de estímulo à discussão de novas formas de garantir mais estrutura para os ciclistas e mais segurança no trânsito para a população em geral. Organizado pela sociedade civil — sua principal característica — o fórum conta com financiamento coletivo na internet e com dezenas de voluntários. Depois de ter sido realizado em Curitiba, o FMB reafirma sua proposta de evento mundial e terá a quarta edição realizada em Medellín, na Colômbia. 24


Crédito: Dustin Fosnot

Transformação do espaço público através da arte Mona Caron é uma unanimidade quando o assunto é arte em sintonia com os espaços públicos. A artista suíça, que vive e trabalha em São Francisco (EUA), participou do seu segundo Fórum Mundial da Bicicleta e deixou um presente aos moradores de Curitiba. Ela chegou à cidade no dia 5 de fevereiro e pintou um mural na rua São Francisco, onde fica a futura Praça de Bolso do Ciclista, que já está sendo projetada pelos arquitetos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba. Ilustradora e muralista, gosta de pintar realidade e fantasia juntas. “Gosto de fazer as pessoas pararem para observar, contemplar. Eu posso pintar da maneira como a realidade poderia ser”, diz a artista. Com um olhar sensível, ela faz de sua arte uma possibilidade para expor soluções para as cidades, provocar debates, ocupar espaços públicos degradados e repensar o papel das pessoas e da convivência coletiva. “A pergunta que faço é: como queremos nos sentir na cidade que gostamos?”, explica. Seu trabalho de arte urbana representa pinturas botânicas em grande escala, em geral, ervas daninhas. Mona também colabora ocasionalmente com ativistas e comunidades
, criando arte e imagens para ações políticas, sociais e ambientais.

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entrevista

uma vida dedicada à bicicleta

O colombiano Carlos Cadena Gaitán sabe do poder transformador que a bicicleta exerce sobre as cidades. Ele é fundador do laboratório La Ciudad Verde, que integra pessoas e organizações que trabalham para o desenvolvimento sustentável em suas comunidades. Dessa instituição, surgiram importantes iniciativas do ativismo urbano, como o Bicis por La Vida, que rendeu o prêmio Cycling Visionaries, concedido pelo Velo City, ocorrido em Viena este ano. Gaitán foi um dos palestrantes convidados do 3º Fórum Mundial da Bicicleta e está organizando o grupo que realizará a edição 2015, em Medellín.

Crédito: Arquivo Pessoal

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Velô: Qual a importância da bicicleta na construção de cidades mais sustentáveis? Gaitán: Só alcançaremos cidades mais sustentáveis quando mudarmos a forma de entender a nossa interação com os centros urbanos. Devemos estar dispostos a viver com menos, viver mais perto do que precisamos, e, acima de tudo, dirigir menos. Para tanto, o ciclismo — e a caminhada — tornam-se meios fundamentais para a sustentabilidade urbana. Andar de bicicleta é apenas uma extensão da caminhada. Velô: Através do La Ciudad Verde você criou o projeto Bicis por La Vida, que realizou ações em várias cidades em 22 de setembro do ano passado. Quais serão as próximas ações e como as pessoas podem contribuir? Gaitán: Através da nossa instituição La Ciudad Verde, criamos a primeira versão do Bicis por La Vida. Depois do enorme sucesso, decidimos abrir para todo o mundo, permitindo que qualquer pessoa, grupo ou instituição participasse ou liderasse a sua própria atividade, em sua própria cidade. Dessa forma, essa atividade já não mais é nossa, ela pertence a todos os promotores de ciclismo urbano no mundo. Graças ao fato de que, em 2013, o Bicis por La Vida alcançou todos os cinco continentes, este ano deve se tornar uma poderosa força global na luta por melhorias das condições de ciclismo em todas as nossas cidades. Todas as ideias são bem-vindas na conta oficial no Twitter (@bicisporlavida), antes do dia do evento, que ocorre em 22 de setembro, o Dia Mundial sem Carro.

Velô: Medellín será a sede do próximo FMB. Qual a importância desta decisão para o evento? Gaitán: Depois do impressionante sucesso do

fórum em Curitiba, ficou claro que era nossa responsabilidade elevar o nível da discussão ao cenário global. Ficou claro que, como cidadãos independentes, de diferentes lugares do mundo e apaixonados pela bicicleta, temos que conseguir uma absoluta sinergia para impulsionar nossas propostas. Um passo importante em direção à internacionalização do fórum era fundamental. Apresentamos a candidatura de Medellín, já que ela é uma cidade que tem marcado a pauta das discussões no que se refere à transformação urbana em nosso continente. Por mais que ainda nos falte muito para avançar na promoção da bicicleta urbana, somos muitos os cidadãos e coletivos dedicados a atingir este objetivo, sistematicamente, há anos. O fórum de 2015 colocará os olhos ciclistas do mundo em Medellín e nós, a comunidade de ciclistas do fórum, nos consolidaremos como uma potente voz global, que não poderá ser ignorada por ninguém.

“Como cidadãos independentes, de diferentes lugares do mundo e apaixonados pela bicicleta, temos que conseguir uma absoluta sinergia para impulsionar nossas propostas.”

Velô: Bogotá é um dos melhores exemplos de inclusão de bicicletas. A cidade ainda é modelo para os países vizinhos? Gaitán: Bogotá foi, por algum tempo, modelo global para a promoção do ciclismo. Isso aconteceu durante as prefeituras de Enrique Peñalosa e Antanas Mockus. Infeliz27


mente, os líderes que assumiram a cidade nos anos seguintes ignoraram completamente o ciclismo. Recentemente, no entanto, a equipe de promoção do ciclismo do atual prefeito tem avançado nessa questão. No entanto, é claro que todas as cidades da Colômbia e da América Latina podem e devem aprender sobre as estratégias de promoção da bicicleta de Peñalosa e Mockus, em Bogotá. Naquela época, a política pública fez da bicicleta uma prioridade, sem desculpas nem falsas promessas.

“O problema mais comum de mobilidade urbana na América Latina está relacionado a nossa doença cultural mais comum: a indiferença”. Velô: Quais os problemas de mobilidade urbana mais comuns na América Latina? Gaitán: O problema mais comum de mobilidade urbana na América Latina está relacionado a nossa doença cultural mais comum: a indiferença. As pessoas realmente não se preocupam com o bem-estar da sociedade e, raramente, tiram algum tempo para estudar os fatos e pressionar por soluções reais (usando o seu tempo livre!). Nós reclamamos muito, mas cumprimos muito pouco do nosso papel como cidadãos. Por outro lado, os políticos e grandes empresas observam maiores ganhos em continuar a promover as ideias de desenvolvimento centradas no carro. Há muito dinheiro em jogo nesses projetos, e é fácil obter votos propondo mais carros, mais estradas e mais rodovias. 28

Velô: Como os cidadãos podem contribuir na construção de uma nova mobilidade urbana? Gaitán: Vamos lembrar que, em nosso sistema de governo, os políticos e os funcionários públicos são nossos funcionários. Eles estão lá para cuidar de nossas cidades, da nossa qualidade de vida. Eles devem se certificar de defender os interesses de toda a sociedade, antes de os de algumas minorias. No entanto, todos sabemos que raramente cumprimos nossa responsabilidade de pressionar por agendas, ideias, e programas, antes das tomadas de decisões e dos gastos com dinheiro público. Precisamos nos organizar em grupos, estudar os números, os projetos e alternativas, para que possamos pressionar permanentemente por aquilo que achamos que é correto. Precisamos de pessoas honestas, independentes e criativas, que defendam o ciclismo em todas as cidades da América Latina. E esses grupos precisam estar permanentemente em contato. Velô: Existe a possibilidade de o La Ciudad Verde atuar em outros países? Gaitán: Só atuamos em cidades colombianas. No entanto, começamos a colaborar com grupos semelhantes em outros países, como o Generación Respuesta, no México, e o CicloIguaçu, que fez o Bicis por La Vida possível no Brasil. Os nossos amigos da Cidades Sustentáveis, no ​​ Brasil, e Plataforma Urbana, no Chile, estão nos ajudando com o 1ª Prêmio Nacional de Sustentabilidade Urbana, que vamos conceder durante o Fórum Urbano Mundial deste ano. Também estive em Viena, na Áustria, onde estamos começando a organizar um novo evento com o pessoal da Smarter Than Car. A única forma de avançarmos como cidadãos é colaborando ativamente através das fronteiras.


pedal seguro Revisar a bike antes de sair e levar alguns itens fundamentais para a pedalada ajudam você a não ficar na mão.

Verifique se a transmissão tem óleo suficiente: a corrente, as catracas e as coroas devem estar limpas e lubrificadas, para evitar um desgaste dessas peças.

Confira os freios: Ande com a bicicleta acionando e soltando os freios para ver se estão bem ajustados.

Calibre os pneus: se você deixa a bike parada por alguns dias o pneu perde vazão.

Leve com você: Câmaras reserva e jogo de espátulas: pneu furado é uma possibilidade que tem que ser levada em conta sempre. Com as espátulas você consegue retirar o pneu, retirar a câmara furada e substituí-la.

l

Bomba: é o que você vai precisar para encher a câmara até ela ficar firme e voltar a pedalar. l Canivete de ferramentas: com esse conjunto de chaves é possivel dar conta de peças que afrouxam e pequenas regulagens. l

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Oi, verão! Em tempos de horário de verão, rola aquela vontade de ficar na rua até mais tarde. Nada mais gostoso do que pedalar na companhia do sol.

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fotos Deb Dorneles www.portoalegrecyclechic.com

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eu pedalo

velotrip *por Silvia Pont

Em novembro de 2013 fui a São Paulo participar das Fixolimpíadas, evento divertidíssimo focado em bicis fixas. Como em quase todos os eventos de bicicleteiros, rolou hospedagem solidária. Fui muito bem acolhida e fiz amigos incríveis, que estavam planejando uma viagem de bicicleta para o Uruguai, durante a virada do ano. Mantivemos contato e, no dia 26 de dezembro, éramos 17 pessoas e 17 bicicletas cruzando a fronteira. Até agora não sei como conseguimos reunir tanta gente, mas foi incrível. O combinado era que gaúchos e paulistas se encontrassem no Chuí para que a viagem começasse. Fomos de ônibus até lá, com as bicis inquietas no bagageiro. O destino era incerto, a ideia da viagem era conhecer o litoral do Uruguai e parar conforme a vontade ou o cansaço. Nosso primeiro destino foi La Coronilla, uma pedalada tranquila de 30km — saímos depois que o sol já havia aliviado. Nos dividimos em dois pelotões, os mais rápidos e os mais “contemplativos”. Ninguém ficou sozinho durante o trajeto, ferramentas e caramanholas de água eram compartilhadas. É muito bom fazer uma viagem dessas com companhia. O segundo destino foi Punta del Diablo, com uma parada na Fortaleza de Santa Teresa. A previsão era de 20km entre as 32

Crédito: Aline Brandão

duas praias. Porém, como optamos por um caminho alternativo, acabamos girando um pouco mais e conhecendo outras coisas fora da estrada. Isso é uma das várias vantagens do cicloturismo: as rotas inventadas. Nosso destino final foi Barra de Valizas, a cerca de 60km de Punta. Saímos às 6h e chegamos ainda pela manhã, sem sofrer com o


sol forte do meio-dia. Valizas foi, sem dúvida, o ponto alto da viagem. É uma praia linda, que até pouco tempo não tinha energia elétrica. O céu é uma poeira de estrelas! Passamos a virada em Cabo Polônio, cruzando as dunas a pé. Fomos ainda a Águas Dulces conhecer a lagoa, que fica em meio a uma floresta. No Uruguai é tudo muito bonito, as pessoas são amáveis e o clima é incrível. Essa foi a minha primeira viagem de bicicleta. Uma coisa que aprendi é que se deve levar apenas o necessário — e isso é bem menos do que a gente imagina. Água, barrinhas de cereal e roupas leves são boas companhias. Não vá com peso nas costas e procure distribuir o peso entre todos, sem repetir itens. Companheirismo é a palavra. No dia 4 de janeiro, retornei a Porto Alegre, bronzeada, feliz e cheia de histórias boas. A viagem foi carinhosamente apelidada de Velotrip. Alguns ainda seguiram até Punta del Este de bici, e um paulistano segue perpetuando — está em Montevidéu e não tem planos para voltar. *Designer e mediadora em museu de arte, há um ano largou tudo para trabalhar com bicicleta. É uma das sócias em um bici café de Porto Alegre.

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oportunidade

Grupo de pequenos empreendedores de Porto Alegre transformou necessidades pessoais em produtos e acess贸rios para o p煤blico de ciclistas urbanos.

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feito à mão por Sabrina Silveira fotos Victoria Campello

A fisioterapeuta Marisa Dal Pizzol e a jornalista Lívia Araújo tomaram muito banho de chuva pedalando diariamente pelas ruas de Porto Alegre. Quando não optavam por outro meio de transporte, acabavam chegando ao destino molhadas, mesmo tentando se proteger com capas tradicionais. Em 2013, começaram a fazer testes e desenvolver protótipos de capas de chuva que atendessem as suas necessidades em cima da bike. O resultado deu tão certo que a dupla resolveu investir na produção e criar a marca Bikedrops, que teve seu primeiro modelo de capa lançado no 3º Fórum Mundial da Bicicleta (FMB), em Curitiba. Juntas elas formam apenas uma das várias iniciativas que surgiram para atender demandas reais de ciclistas urbanos nos últimos anos na capital gaúcha. “Quando pensamos em levar nossos produtos para o FMB,

percebemos que seríamos mais fortes e ganharíamos mais visibilidade se nos juntássemos em apenas um grupo”, explica Cadu Carvalho, o criador do Porto Alegre Feito à Mão, que reúne oito microempresas. Cadu e a namorada Nídia Marilia começaram a confeccionar bonés de ciclista por acaso. Com talento para a costura, Nídia fez o primeiro a pedido de um amigo. Depois, os pedidos foram chegando. Hoje os dois comandam a LaBuena e já vendem seus bonés em Porto Alegre e São Paulo. A produção é artesanal e cuidadosa. “É tudo feito em casa, com o mesmo carinho de uma avó que costura para os netos, mas com a exigência de uma perfeccionista incurável”, conta Nídia. Ver iniciativas parecidas nascendo e dando certo foi uma da motivações do casal. A demanda por produtos inexistentes no mercado ou disponíveis apenas no exterior 35


é o que motiva a Bikedrops. “O número de pessoas que estão escolhendo a bicicleta como meio de transporte casual ou habitual no Brasil aumenta a cada dia. Como a necessidade é a mãe da inovação, a ideia foi desenvolver uma peça leve, bonita e uma proteção eficaz para os dias molhados em trajetos urbanos”, explica Marisa. A primeira capa, modelo Cherbourg, tem forma de poncho e permite que o ciclista pedale sem molhar tronco e membros, pois a parte da frente da capa pode ser presa no guidão da bicicleta. Aprendendo a costurar Mario Terrazas, criador da CYCO, acredita na vantagem de comprar um produto local e ter um contato maior com quem está produzindo. “Quando você compra de uma pessoa que está perto e você tem um contato maior, é possível dar opinião para a melho-

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ria das peças, fazer trocas, e ainda estimular este mercado. É diferente de você comprar algo que vem da China”, diz ele. Os firma-pés da CYCO já conquistaram vários fixeiros e hoje são entregues em todo o Brasil. A produção é manual, feita por uma única pessoa e utiliza alguns materiais descartados da indústria, como fitas de cinto de segurança automotivos e câmaras de pneus de bicicleta. Além dos firma-pés, a marca também tem hip bags, uma espécie de pochete presa pelo cinto, e porta-travas de cintura. “Tive que aprender a costurar de um dia para o outro”, se orgulha Mario. André Castilho teve ajuda da mãe costureira para aprender a confeccionar as mochilas da Eleven Bags. Cansado de procurar por uma mochila resistente para pedalar para o trabalho, o jovem resolveu criar a sua própria. Em pouco tempo, as mochilas estavam nas costas da maioria dos bike mes-


sengers de uma empresa de Porto Alegre. “Troquei o terno e a gravata pela máquina de costura. A Vélo Courier virou nosso laboratório de testes, onde colocamos nossos produtos a toda prova, desde as piores chuvas até os pacotes mais pesados”, afirma ele. A necessidade dos amigos Roger Almeida Cardoso, Carol Iglessias e Caco De Conti, também integrantes do Porto Alegre Feito à Mão, era por roupas que, além de conforto e funcionalidade, fossem bonitas para quem pedala diariamente. Em junho de 2013 nasceu a Cuore. Atualmente, o grupo desenha e modela as peças e terceiriza o corte e o fechamento. Quadros personalizados Fernando Pavão começou a trabalhar com quadros de bicicleta em 2012. Conheceu Camilo Pacheco, hoje seu sócio, quando ele procurava alguém pra fazer um quadro de

bike fixa. Foi da dificuldade que os dois sentiam em encontrar as peças certas, e no tamanho adequado, que surgiu a Repúbica da Bicicleta. No início, a ideia era conseguir uma bicicleta legal para uso próprio. Com o tempo, perceberam que mais ciclistas almejavam algo diferente. A produção é feita na cidade de Triunfo (RS), e a cada mês recebe investimentos em equipamentos para melhorar a precisão, alinhamento e acabamento dos quadros. Outra iniciativa que também aposta na personalização dos quadros é a Art Bike Bamboo, que transforma bambu em bicicleta de alta performance há sete anos. As bikes são construídas de forma artesanal, mas a técnica e o tratamento do material utilizado garantem a alta resistência, faça chuva ou faça sol. A empresa vende bicicletas completas, quadros e também monta bikes personalizadas sob encomenda. 37


Chris Carlsson em Porto Alegre Um dos fundadores da Massa Crítica veio ao Brasil em fevereiro para o 3º Fórum Mundial da Bicicleta e aproveitou para passar por Porto Alegre. Chris Carlsson está lançando a edição em português do seu livro Nowtopia (Tomo Editorial), que conta histórias de pessoas e iniciativas que acreditam na cooperação e em uma sociedade menos fundamen-

tada nas riquezas materiais. Durante a passagem pela capital gaúcha, o cicloativista promoveu um bate-papo descontraído no Café Bonobo. O público ocupou a calçada e uma vaga destinada a estacionamento da rua, em frente ao local. Morador da cidade americana de São Francisco, Chris é escritor, historiador, fotógrafo e documentarista.

Crédito: Sabrina Silveira

Crédito: Divulgação

Pedal para iniciantes Acontece todas as terças e quintasfeiras, em Porto Alegre, um passeio noturno específico para quem está começando a pedalar. O Pedalight sai às 20h30 da Usina do Gasômetro, e os participantes decidem ali qual será o precurso. O passeio é em ritmo lento, com velocidades entre 12 e 15 km/h. É só chegar e procurar o restante do grupo. 38


Aluguel de bikes pelo mundo O Spinlister é mais do que um aplicativo ou um sistema para alugar bicicletas. A ideia é conectar pessoas e dar utilidade a magrelas que podem estar encostadas em casa, sem uso algum. Funciona assim: você procura bikes disponíveis, escolhe o dia e a data em que precisa dela, escreve uma mensagem para o dono — se houver alguma dúvida — e combina um lugar para buscar a bike. Você também pode alistar a sua. É uma opção prática e divertida para alugar durante viagens, por exemplo. Dá para fazer a busca no site www.spinlister.com ou pelos aplicativos gratuitos, para Android ou iOS.

Reprodução

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bike shop

Lugar de destaque A prateleira Cantareira, da Bikeria, é uma opção para quem procura um suporte prático e elegante para a bicicleta. A fixação é simples, são apenas dois furos na parede e pronto. Suporta até 25 kg. Custa R$ 199,90 mais frete, comprando pelo site: www.bikeria.com.br. Bikeria/Divulgação

Trim - Trim! Para avisar que você está chegando de bike, com estilo. Este modelo retrô só precisa ser encaixado no guidão para começar a usar. Consulte preços e pontos de venda no site: www. nutcasehelmets.com. Nutcase/Divulgação

Reprodução

Economia da bike Escrito pela norte-americana Elly Blue, Bikenomics: How Bicycling Can Save the Economy apresenta uma nova perspectiva sobre os custos dos atuais sistemas de transporte e conta histórias de pessoas, de negócios, de organizações e de cidades que estão investindo no transporte sobre duas rodas. Compre em: www.takingthelane.com/bikenomics

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Quebra-galho Um destes vai ajudar você a fazer ajustes na bike. Inclui seis ferramentas, entre chaves do tipo Allen e Phillips, e pesa 72g. Consulte preços e pontos de venda no site: www.specialized.com.

Specialized/Divulgação

coisa de criança

Porta-livros

As cadeirinhas são indispensáveis para levar os pequenos na bike em segurança. A da foto é traseira, com fixação no bagageiro, própria para crianças até 25 kg. Possui cinto de segurança de três pontos, almofada, apoio para as mãos e talas laterais para proteção das pernas. Consulte preços e pontos de venda no site: www.kalf.com.br.

Para levar a bike à decoração da casa ou do escritório. O aparador de livros é feito em chapa de aço. Custa R$ 28,50 nas lojas e R$ 29,90 comprando pelo site. Consulte mais informações em: www.tokstok.com.br.

Tok Stok/Divulgação

Kalf/Divulgação

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conexão Punta en Bici

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O glamour do desfile de carros de luxo em Punta del Este, no Uruguai, está perdendo cada vez mais espaço para o charme das bicicletas. Sejam urbanas ou esportivas, as magrelas ocupam boa parte das ruas e avenidas movimentadas no verão badalado do balneário uruguaio. Conhecida pelas festas, hoteis e cassinos, Punta se mostra uma praia perfeita para quem gosta de pedalar, curtir

belas paisagens e aproveitar o sol e o mar. Punta del Este é plana e cercada de praias. As principais, praia Brava e praia Mansa, são um convite para quem gosta de pedalar. É possível costear toda a península de bicicleta pela Rambla General José Artigas, extensa avenida à beira mar. Outro passeio agradável é seguir da praia Brava, muito procurada por surfistas e pessoas que curtem o mar agitado, até La Barra, a cerca de 10 km de distância. O trajeto até lá é plano, tem a praia de um lado e mansões cinematográficas de outro. Em La Barra, está um dos cartões postais de Punta: a Puente de la Barra de Maldonado, uma ponte ondulada sobre o Ar-


roio Maldonado. La Barra, morada de pescadores, com menos estrutura, é onde a noite de Punta del Este acontece, com dezenas de barzinhos, boates e lojas. Para quem não teme as subidas, também é possível ir de bike até a Casapueblo, a antiga casa de verão do artista uruguaio Carlos Páez Vilaró, que agora abriga um museu, uma galeria de arte e o Hotel Casapueblo. Apesar de a cidade ser bastante congestionada por carros a qualquer hora do dia, durante a alta temporada, as bicicletas têm passagem livre e são respeitadas pela maioria dos motoristas, que guardam distância e dão passagem aos ciclistas. Não raro se vê famílias inteiras, com crianças, pedalando tranqui-

lamente. Conseguir uma bicicleta em Punta del Este não é difícil. Pode ser alugada em lojas especializadas, hostels e hotéis. Durante o verão também é possível descolar uma bike de graça por meio do projeto Bike Itaú, em alguns pontos do balneário. Além da boa estrutura — apesar de alguns problemas no asfalto, que nem sempre é regular —, Punta oferece uma experiência completa para quem gosta de pedalar, seja para lazer, esporte ou para o transporte diário durante a estadia. Aproveite para fazer paradas, tomar um banho de mar, observar o porto ou mesmo acompanhar o pôr do sol na praia Mansa no final da tarde. 43


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